Cap4_Imagens Digitais e Imprensa

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    CAPTULO 4IMAGENS DIGITAIS E IMPRENSA

    O primeiro grande teste para a cmeras digitais utilizadas no fotojornalismo foi a Copa

    do Mundo de Futebol nos EUA em 1994. Todos os principais fabricantes de equipamentos

    aproveitaram o evento para lanar e testar suas mquinas. Entretanto, como ainda eram

    equipamentos pesados e de difcil manuseio, com pouca memria e qualidade final ainda

    reduzida, a impresso deixada pelas cmeras testadas indicava que a fotografia analgica

    (baseada em filmes e papis) ainda manteria a supremacia por muito tempo.

    Figura 01 Peter Turnley (agncia Corbis), Guerra do Golfo (1990)Pela primeira vez, uma guerra pode ser transmitida em tempo real com o auxlio da tecnologia digital etelefones celulares via satlite.

    Mas as cmeras digitais j vinham sendo utilizadas e testadas h um bom tempo. As

    primeiras experincias de utilizao de cmeras digitais em coberturas fotojornalsticas

    ocorreram na primeira Guerra do Golfo (1990), quando tambm se experimentaram

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    dispositivos de transmisso de imagens digitais via satlite, e durante os Jogos Olmpicos de

    Barcelona, em 1992 (ASSOCIATED PRESS, 2003)1.

    Em Barcelona, a inovao tecnolgica na rea da fotografia foi uma troca de guarda

    radical, que causou um grande impacto tecnolgico. No lugar das idolatradas mquinas pretas

    Nikon, at ento soberanas no mercado profissional, desembarcaram as branquinhas da

    Cnon, que saiu na frente com mquinas profissionais de foco automtico e sistemas digitais

    de captura de imagem - o que, para provas de velocidade e cobertura esportiva em geral, era

    uma revoluo. A partir da, fotgrafo olmpico sem uma branquinha passou a ser

    considerado de segunda classe2.

    Em 1996, aAssociated Press (AP) utilizou cmeras digitais da Kodakna cobertura da

    final do SuperBowl (campeonato de futebol americano). Embora ainda desajeitadas, Ascmeras usadas, as NC2000, resultado prtico do consrcio formado pela Kodak,Associated

    Press e ainda pelaNikon e pela Cnon, j indicavam que o futuro seria digital.

    Atualmente os fotojornalistas trabalham com cmeras digitais como a Kodak DCS 760

    que utiliza um sensor de imagens CCD tradicional com uma resoluo de 6 milhes de pixels,

    ou a Kodak DCS Pro 14n que foi lanada em maro de 2003 e utiliza a mais recente

    tecnologia disponvel de sensores CMOS profissionais, apresentando uma resoluo de 13,9

    milhes de pixels no total. Alm disso, com o uso de cartes de memria com maiorcapacidade armazenagem (de at 1GB), o nmero de imagens capturadas sem necessidade de

    descarga bem maior.

    As cmeras digitais j substituem as cmeras convencionais na maioria das redaes,

    apesar do custo ainda ser elevado. A utilizao dos equipamentos digitais de captura e

    1 http://www.ap.org.2 Interessante como os grandes eventos esportivos, especialmente as Olimpadas podem funcionar tambm comomarcos tecnolgicos. Nos Jogos de Moscou (1980), marcados pela ausncia dos Estados Unidos e de outros 64

    pases, uma mquina estranha, do tamanho de uma geladeira pequena, e que somente os franceses sabiam operar,fazia sua estria no Centro de Imprensa. Atendia pelo nome de telefax, reproduzia e transmitia instantaneamentepginas inteiras de texto ou imagem para quem tivesse mquina semelhante na outra ponta. Foi a ltima vez,numa Olimpada, que uma tecnologia nova ficou restrita a meia dzia de usurios. Todos os outros jornalistascontinuaram transmitindo textos por telex e despachando fotos por malote. J em Los Angeles (1984), naquelaque foi a primeira Olimpada informatizada, todos os jornalistas credenciados foram apresentados a terminaisespalhados por toda parte. Eram terminais burros, que apenas davam acesso a um banco de dados comresultados de provas e biografias de atletas, alm de uma senha individual para troca de mensagens com o restoda famlia olmpica. Esse primeiro contato com a vida eletrnica escancarou o abismo entre mundostecnologicamente distantes: boa parte dos jornalistas vindos de pases abaixo da linha do Equador se intimidoucom a ferramenta nova e no a usou. Em Seul (1988) o mapa do analfabetismo digital foi constrangedor.Primeira Olimpada a testar linhas telefnicas dedicadas para transmisso de dados, ela foi coberta por duastribos de jornalistas - a dos datilgrafos, que ainda trabalhavam com papel, mquinas de escrever e

    transmisso por telex, e a dos sem papel, que operavam a sua primeira gerao de computadores pessoaisprimitivos. Dado o estado ainda embrionrio da tecnologia digital, nem sempre os segundos derrotaram osprimeiros em velocidade. Mas ficou claro que era uma revoluo sem volta (Cf.:O Globo, suplemento deInformtica, 24 de abril de 2004).

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    editorao de imagens tem sido facilitada, em grande parte pela substituio gradual dos

    equipamentos de impresso.

    At bem pouco tempo, jornais e revistas utilizavam sistemas onde as imagens deviam

    ser impressas sobre papel, com alta qualidade, e junto com os textos estas eram enviadas para

    as oficinas grficas para montagens de fotolitos3 (filmes) e posteriormente os conjuntos

    (pginas) eram transferidos paras as chapas de impresso (RIBEIRO, 2001)4. Atualmente, a

    grande maioria das empresas utiliza rotativas modernas onde as imagens e textos so (...)

    enviados diretamente dos computadores de editorao para as chapas impressoras, atravs de

    feixes de laser, sem que sejam utilizados os velhos fotolitos. Este processo chamado de CTP

    Computer to Plate (MARSKE, 2000)5.

    Apesar do processo digital para captao e edio das imagens j estar bastanteavanado, ainda existem locais onde o processamento se d de forma convencional, com os

    filmes sendo revelados e ampliados manual ou automaticamente e depois levados para a

    grfica para separao de cores (fotografia em cores) ou, no caso das fotografias em preto-e-

    branco, para a transformao da imagem em retcula de meio-tom utilizando-se um processo

    chamado de PMT6. Tambm so empregados processos mistos, isto , o processo inicia-se

    como analgico, com as imagens capturadas em filme fotogrfico por cmeras convencionais

    e posteriormente, passa-se para o meio digital, com os negativos sendo copiados atravs descanner para negativos.

    4.1. A tecnologia digital nas redaes brasileiras

    No Brasil, as cmeras digitais j esto presentes h muito tempo no dia-a-dia das

    equipes de fotojornalistas dos grandes jornais dirios e revistas semanais de informao. A

    Folha de S. Paulo, por exemplo, vem testando modelos de cmeras digitais desde 1992.

    3 Diz-se do negativo ou diapositivo fotogrfico utilizado para a gravao da imagem no fotolito ou na chapa. In:http://www.guiadografico.com.br/glossario_e_f.htm#f.4 RIBEIRO, Milton. Planejamento visual grfico. 3a edio. Braslia: Linha Grfica, 2001.5 MARSKE, Sean. Impresin Digital. Conferncia. III Conferncia tcnica y de mercadeo de la PLGA. Orlando(Flrida), 2000. Inhttp://www.artesgraficas.com/pragma/documenta/artesgraficas/secciones/AG/ES/MAIN/IN/CONFERENCIAS/seccion_HTML.jsp.6 PMT a abreviao de photomechanical transfer (transferncia fotomecnica), processo pelo qual uma imagem

    fotogrfica transformada em micro pontos para que os tons de cinza de uma foto PB - ou de cada uma dascores bsicas usadas para imprimir imagens coloridas possam ser impressos em impressoras do tipo rotativa.Os micro pontos so maiores nas reas onde a fotografia mais escura e menores nas zonas mais claras daimagem. In: Pgina do Artista Grfico: http://www.digram.net/pagina4_defin_P.htm.

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    Atualmente, todos os fotgrafos da empresa trabalham com cmeras digitais, a maioria com

    cmeras Kodak/Canon DCS520 (j fora de linha h dois anos).

    O processo de informatizao dos jornais um pouco mais antigo. As primeiras

    redaes informatizadas de jornais brasileiros comearam a ser implantadas a partir de 19857.

    O primeiro jornal a montar uma redao totalmente informatizada, foi o Dirio de Canoas,

    cidade vizinha a Porto Alegre, em 19838.

    Embora inicialmente restrita aos profissionais do texto, essa tecnologia vai acarretar

    profundas alteraes no cotidiano de todos os profissionais envolvidos na produo dos

    jornais. Os jornalistas tiveram que se adaptar a uma nova realidade profissional: a exigncia

    de maior qualificao, a especializao crescente, as modificaes nas condies de trabalho

    e, sobretudo, a intensificao do trabalho (BALDESSAR, 1998, p91)9.A Folha de S. Paulo tambm se informatizou a partir de 1983, como lembra Caio

    Tlio Costa, um dos responsveis pela implantao do processo de informatizao:

    E vieram os terminais de computador. Em pouco tempo, o jornalista teve queaposentar sua mquina de escrever e adaptar-se a um novo estilo. O tecladomacio, as letras surgindo sua frente na tela verde de um aparelho de vdeo.Era abril de 1983, a Folha dava um salto frente dos concorrentes. Uma veztrabalhado o texto, com um simples apertar de tecla, ele vai num impulsopara a mquina fotocopiadora. Ela emite o papel fotogrfico, totalmentefotocomposto. O texto pronto, junto com o ttulo em corpo correto, chega smos do paste-up, que o cola na pgina que segue minutos depois para afotolitografia e em seguida, acoplado rotativa off-set (COSTA, 1983, p23)10.

    Apesar da Folha de S. Paulo ter informatizado sua redao em 1983 e iniciado a

    criao de um banco de dados em 1987, em conjunto com a Editora Abril, somente a partir

    de 1990, com a aquisio de novas impressoras rotativas, que o jornal elimina o paste-up11 e

    7 Neste perodo, os usurios de microcomputadores podiam contar com o Macintosh que derivava de um

    computador chamado LISA, o primeiro a possuir uma interface grfica e com o recm-lanado, IBM PC-AT. OMacintosh, fora criado em 1984 para ser um Lisa para se ter em casa e a Apple obteve um sucesso estrondosocom sua mquina. A IBM lanou o seu IBM PC AT (Advanced Technology) no mesmo ano em que a Applelana o seu Macintosh e, logicamente, a Microsoft lana novas verses de seu MS-DOS, a 3.0 e a 3.1. Baseadoagora no microprocessador de 16 bits reais, o 80286, a IBM conseguiu projetar um microcomputador queoperasse com palavras de 16 bits tanto interna como externamente, sem perder a compatibilidade com osperifricos e circuitos de apoio j existentes. Embora o Mac da Apple fosse muito superior mquinadesenvolvida pela IBM, a possibilidade de produo do projeto da IBM por outros fabricantes foi decisiva para asupremacia de mercado e de tecnologia por esse padro de mquina . No Brasil, a grande maioria das redaes,desde o incio, operam com computadores no padro IBM PC. In:http://www.comp.ufla.br/~monserrat/icc/Historia2.html. Acessado em 12 de setembro de 2004.8 Conforme: http://www.gruposinos.com.br. Acessado em 12 de setembro de 2004.9 BALDESSAR, Maria Jos. A Mudana Anunciada - O Cotidiano dos Jornalistas e a Revoluo

    Informacional. Dissertao de Mestrado. Florianpolis: CFCH, UFSC, 1998.10 COSTA , Caio Tlio. Seminrio de Jornalismo, Folha de S. Paulo, 1986, p.23.11 Paste-Up: um processo manual que consiste no recorte e colagem das matrias (textos fotocompostos efotografias) para serem posteriormente fotografadas. O negativo resultante dessa fotografia o que se conhece

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    imprime maior rapidez ao processo de produo, com o envio das matrias diretamente dos

    computadores de edio para a oficina grfica via sistema de transmisso por microondas.

    O jornal O Globo ser o primeiro jornal carioca a migrar totalmente para a tecnologia

    digital. No caso doJornal do Brasil, como relata Evandro Teixeira (2004)12, nem todos os

    profissionais trabalham com equipamentos digitais. Somente metade das imagens produzidas

    para o jornal so realizadas com equipamento digital.

    A informatizao vai chegar s editorias de fotografia em meados da dcada de 1990,

    quase dez anos aps a substituio das velhas mquinas de escrever. o caso da prpria

    Folha que, aproveitando a experincia com a construo do banco de dados (textos) e o uso

    de cmeras digitais desde 1992, inaugura em 1994, o primeiro banco de imagens digitalizadas

    de um jornal brasileiro, oDigicol.O primeiro grande evento registrado pelos fotgrafos brasileiros com equipamentos

    digitais foi a Copa do Mundo de Futebol realizada na Frana, em 1998. A Folha de S. Paulo

    enviou cinco fotojornalistas equipados exclusivamente com equipamentos digitais (BITTAR,

    2000)13. Muitos profissionais, de outros veculos brasileiros utilizaram apenas em parte os

    equipamentos digitais, pois muitos tiveram problemas para conexo e envio das imagens e

    mesmo de adaptao ao equipamento. Bittar lembra que, para evitar problemas na

    transmisso dos arquivos para a redao no Brasil, a equipe do jornal foi enviada um msantes para a Frana para se adaptar aos equipamentos e estudar as melhores formas de captar

    as imagens e envi-las. Essa equipe foi chefiada pelo fotgrafo Ormuzd Alves, que foi editor -

    assistente de fotografia do jornal at 2003.

    Ainda segundo Bittar (2000), embora os reprteres fotogrficos at tentassem se

    utilizar dos equipamentos convencionais, ficou claro que as cmeras digitais eram muito mais

    prticas, permitindo o envio de at 200 imagens por dia. Com o emprego de computadores

    portteis e telefones por satlite, os profissionais podiam enviar as imagens mesmo duranteuma das partidas de futebol, abastecendo a redao com imagens quase que em tempo real.

    Se as imagens fossem feitas em filme fotogrfico para depois serem revelados e

    copiados em papel ou mesmo escaneados para posterior transmisso, o tempo seria muito

    maior. Talvez, como lembra Bittar, s fosse possvel o envio com o auxlio de um

    equipamento de telefoto, de umas 40 ou 50 imagens por dia. Isso caso nada de errado

    como fotolito, que o suporte ptico das informaes que sero transferidas para a chapa, a qual, uma vezinstalada na impressora rotativa, se transforma numa espcie de carimbo que transfere a tinta para o papel.12 TEIXEIRA, Evandro. O Brasil um pas rico em imagens. Papo na Redao. 06/08/2004. Comunique-se.Disponvel em: < http://www.comuniquese.com.br>

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    ocorresse durante a transmisso. As cmeras convencionais so utilizadas hoje como

    equipamentos de reserva, para emprego em caso de pane das cmeras digitais ou em casos

    onde a captao digital para envio imediato inviabilize o emprego desses equipamentos

    (BITTAR, 2000)14.

    O grande problema para a maioria das empresas jornalsticas ainda o alto custo dos

    investimentos necessrios para a substituio dos equipamentos convencionais. Uma cmera

    digital profissional, como as Kodak DCS sries 500 ou 700, custa em torno de 15 mil

    dlares. Um jornal com uma equipe de 20 reprteres fotogrficos, gastar, s com a

    substituio das cmeras, 300 mil dlares. Se agregarmos a isso o custo dos outros

    equipamentos: computadores, objetivas, sistemas de arquivos e transmisso, e softwares de

    tratamento, edio e editorao, esse valor pode facilmente, atingir 1 milho de dlares.No caso das revistas de informao semanal, onde o tempo de produo sempre

    mais dilatado e as fotografias podem ser melhor trabalhadas, a tecnologia digital ainda

    menos empregada. A revista poca, criada pela Editora Globo em 1998, quando as cmeras

    digitais j despontavam no mercado, ainda hoje quase no emprega imagens digitais.

    Quando de sua implantao, os responsveis pela equipe de fotografia preferiram apostar na

    aquisio de equipamentos convencionais (MEDITSCH, apud GIACOMELLI, 2000)15.

    Segundo Meditsch (2000), editor executivo da revista e responsvel pela montagem daequipe de fotografia, essa escolha ocorreu devido a necessidade de obter imagens com alta

    qualidade final pois a revista era impressa em papel de melhor qualidade e gramatura16, o que

    evidenciaria a ainda baixa qualidade dos equipamentos digitais.

    Atualmente, todas as imagens utilizadas pela imprensa passam por algum tipo de

    processamento digital. A grande maioria dos jornais e revistas publicados atualmente so

    produzidos em computadores com o emprego de softwares de editorao de textos e de

    imagens o que, sem dvida, pode ser traduzido em maior eficincia e rapidez na preparaodos layouts das pginas e fechamento das edies dirias. Hoje, tornou-se comum, nas

    grandes cidades brasileiras, a distribuio e venda das edies dominicais ainda no final da

    tarde de sbado.

    13 BITTAR Joo. Fotojornalismo digital e edio. Palestra. II Ciclo de Estudos em Jornalismo. Vitria:FAESA, 2000.14 BITTAR, Joo. Op. Cit., 2000.15 MEDITSCHI, Jorge. Entrevista apud GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digital nofotojornalismo dirio: um estudo de caso. Dissertao de mestrado. Florianpolis: UFSC, 2000.

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    4.2. Alteraes nas rotinas de trabalho

    A partir do final da dcada de 1990, com os softwares de editorao e edio de

    imagens, scanners (digitalizadores) e cmeras digitais, tornando-se comuns nas redaes e

    departamentos de diagramao, percebe-se uma valorizao das equipes de arte em geral. A

    prpria denominao da funo mudou, com o diagramador virando designerou diretor de

    arte e o exerccio dessa funo tambm se alterou, requerendo novas habilidades e

    conhecimentos para o manuseio do aparato tecnolgico.

    Um exemplo dessas transformaes pode ser visto no jornal ValorEconmico, criado em 2000. Fruto da parceria entre as Empresas Folha da

    Manh (Folha de S. Paulo) e Organizaes O Globo ( jornal O Globo/ TVGlobo) para ser o concorrente direto do jornal Gazeta Mercantil, jornaltradicional no mundo dos negcios e com um layout conservador e sem usode fotografias. O Valor Econmico, para fazer frente e buscar insero nomercado, nasce como um design arrojado, com um editor de fotografia quevem do campo das artes (designer) e com todas as imagens j produzidas emmeio digital (BATISTA, 2001)17.

    No entanto, no foram apenas os profissionais ligados edio dos jornais que

    tiveram suas rotinas alteradas. Os reprteres fotogrficos tambm sofreram uma mudana

    radical no dia-a-dia. Para o ex-editor assistente de fotografia da Folha de S. Paulo, Ormuzd

    Alves (2000), responsvel pelo processo de implantao do projeto de imagens digitais no

    jornal, lidar com a imagem digital no significou apenas uma mudana nos equipamentos

    utilizados pelos reprteres fotogrficos. Um novo problema surgiu com grande quantidade de

    imagens produzidas e que precisam ser arquivadas e disponibilizadas aos diversos setores

    envolvidos.

    No caso da Folha, o problema do arquivamento e distribuio das imagens complexo, pois alm da editoria de fotografia e da redao do jornal, as fotosainda tm que estar acessveis Folha Imagem, ao Banco de Dados e ainda

    para os veculos online, como o portal do UOL e a Folha Online. Ou seja, necessrio um sistema eficiente que disponibilize este material para todos ossetores o mais rpido possvel, mas para isso as partes envolvidas tm queandar juntas (ALVES, 2000)18.

    Embora existam diferentes formatos de arquivos de imagens, nem todos so utilizados

    ou se prestam s necessidades do fotojornalismo. As imagens digitais so armazenadas em

    arquivos de bitmaps mapas de bits. Imagens em bitmaps so formadas por pixels e so

    16 Valor que exprime o peso, em gramas, de uma folha com um metro quadrado de um determinado papel.17 BATISTA, Eugnio Svio Lessa. Fotojornalismo digital no Brasil: a imagem na imprensa da era ps-fotogrfica. Dissertao de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.18 ALVES, Ormuzd. Disponvel em http://www.fotosite.com.br.

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    definidas por suas dimenses, bem como pelo nmero de cores incorporadas. Como tais

    imagens s podem ser impressas ou visualizadas no tamanho determinado pelo nmero de

    pixels existentes na imagem, os arquivos tendem a ser muito grandes (NIEDERST, 2002, p.

    231)19.

    Para solucionar esse problema, utilizam-se formatos de bitmaps comprimidos como o

    JPEG (JPG)- Joint Photographic Experts Group. O padro JPEG20 foi adotado para as

    imagens digitais em funo da alta qualidade das imagens geradas e do reduzido tamanho de

    arquivo utilizado. Os jornais empregam este padro para as imagens geradas para as verses

    online (Web) e para disponibilizao na redao e em bancos de pesquisa (arquivos

    secundrios). As imagens originais (arquivos primrios) devem ser arquivadas em formato

    TIFF21. Essa medida, possibilita a utilizao dessas imagens para novas impresses ou parapermitir (re)construes e manipulaes, embora exija sistemas de arquivo muito maiores e

    seguros.

    O processo , na verdade, um pouco mais complexo. Embora o formatoJPEG permita

    imagens de boa resoluo para a visualizao na web ou at mesmo para uma impresso em

    pequeno formato, no o ideal para a captura de imagens de uso profissional na imprensa. A

    compresso doJPEG causa perdas que no podem ser recuperadas.

    Da mesma forma, sucessivos comandos de gravao causam sucessivas perdas. A cadagravao um pouco da imagem perdido definitivamente, e isso um fator muito srio. O

    grau de perda, no entanto, parametrizvel. Isto , possvel sabermos o quando de perda

    teremos em cada cpia da imagem realizada. Quando um programa qualquer nos pergunta em

    que qualidade queremos gravar o arquivo ele est, na realidade, definindo sua taxa de

    compresso. Quanto maior a compresso, menor o espao usado pela foto, maiores as perdas

    e menor a qualidade final. Dessa forma, os fotojornalistas no costumam capturar as imagens

    diretamente emJPEG, a no ser que essas imagens devam ser empregadas exclusivamente na

    19 NIEDERST, Jennifer. Web Design. Rio de Janeiro: Cincia Moderna, 2000, p 231.20 Padro JPEG: muito utilizado na Internet Possui uma compresso no fixa, isto , conforme a variao decores da imagem, poder haver uma variao na compresso ativa desta imagem. Imagens salvas neste formatoperdem qualidade a cada vez que so manipuladas Todo arquivo JPG possui um parmetro de qualidade decompresso, onde quanto maior for, menor qualidade a imagem ter. Normalmente um arquivo em JPG possui 8bits para cada canal RGB, o que significa 24 bits para cada pixel na fotografia, e um mximo de 16 milhes decores na imagem.21 Este formato est relacionado a arquivo maiores e com alta qualidade, em que o arquivo pode ter uma imagemgerada com alta ou baixa qualidade. O ideal, a gerao de arquivos TIFF sem compresso para se escapar de

    possveis problemas de compatibilidade entre sistemas. Cada arquivo com extenso TIFF, pode ser gerado com 8ou 16 bits por canal de cor RGB, onde o usurio obter at 48 bits por pixel de um total de bilhes de cores. Umaimagem gerada no formato TIFF convertida para formato JPG, automaticamente cair para 8 bits e no podevoltar aos 16 bits.

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    web. Como rotina a distribuio da mesma imagem para diferentes mdias, o reprter

    fotogrfico emprega um formato de arquivo chamado deRAW.

    Arquivos RAWso arquivos proprietrios (Adobe) que armazenam os pixels de uma

    imagem exatamente como eles foram capturados pelo sensor digital da mquina. So uma

    espcie de negativo digital. Como no sofrem processamento de nenhuma espcie, no h

    aplicao de sharpening22, contraste, saturao. Nem o balano de branco definido para

    arquivosRAWo que, para muitos, o grande benefcio do formato.

    Os arquivos quando criados neste formato, permitem que se faa pequenos ajustes na

    exposio da imagem, em geral em torno de um ponto de exposio. possvel, com isso,

    recuperar detalhes nas altas ou baixas luzes que seriam perdidos caso a imagem fosse salva

    como JPEG ou TIFF. No entanto, trabalhar com arquivos RAW toma mais tempo e exigemaior ateno por parte do fotgrafo, bem como consome mais espao para arquivo.

    A captura de imagens em arquivosRAW, exige que o fotojornalista, aps a tomada das

    imagens, transfira os arquivos para o computador porttil ou da redao usando algum

    programa capaz de manipular arquivos RAW, e que trate a imagem definindo o balano de

    branco, ajustes de exposio, saturao, contraste e sharpening. Aps essa edio inicial, a

    imagem deve ser salva como TIFF, em 16 bits. Esta ser a imagem original que enviada

    para a redao, para os arquivos de originais e que ser editada para incluso na verso onlineou na verso impressa do jornal.

    Na redao, se for necessrio, a imagem passar por outra edio ou tratamento, com o

    emprego de um programa de edio de imagens como o Adobe Photoshop. Essa cpia,

    manipulada ento salva, ainda em formato TIFFde 16bits, mas com outro nome. A imagem

    ento enviada nesse formato para impresso nas oficinas grficas. feita uma segunda cpia

    emJPEG para uso na web e para o banco de dados.

    O mtodo de trabalho tambm se altera com o emprego da tecnologia digital. O editorde fotografia do jornalDirio Catarinense, Jurandir Silveira (1999), ainda se espanta com a

    velocidade em se alterou a tecnologia. Embora a jornal tivesse adquirido um transmissor de

    fotos via satlite em 1995, menos de quatro anos depois, embora o aparelho funcionasse

    corretamente j no podia mais ser usado. Porque no se fabricam mais e nem existe

    sistemas de recepo para ele. Se antes uma mquina levava 30 anos para virar pea de

    22Sharpening: formatar; modelar, ajustar contorno. Enquadrar.

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    museu, hoje, esse tempo no de mais do que alguns poucos anos (SILVEIRA In REVISTA

    PHOTOS, 1999)23.

    O prprio Silveira porm, admite que os novos equipamentos aumentaram a

    eficincia e simplificaram o trabalho dos fotojornalistas. Em 1978, para cobrir a Copa do

    Mundo na Argentina, ele recorda que foi preciso transportar para o pas vizinho mais de 100

    quilos de equipamentos s para montar um pequeno laboratrio de fotografia. Para que as

    fotografias pudessem ser reveladas foi preciso levar, alm das cmeras, dois ampliadores,

    produtos qumicos e vrias caixas de papel fotogrfico. E, depois de reveladas, as fotos ainda

    precisavam ser enviadas por telefoto para a redao em Florianpolis, o que demorava quase

    uma hora (SILVEIRA In REVISTA PHOTOS, 1999)24.

    Se antes o fotgrafo ia a campo para cumprir uma pauta com uma cmera, umconjunto de objetivas e muitos rolos de filme, agora, depois de fazer a pauta junto com o

    editor de fotografia, ele parte com uma cmera digital, vrios cartes de memria 25, um

    telefone celular e um notebook ou um palmtop26 equipado com um software de edio de

    imagens e outro para transmisso de dados. Este ltimo, pelo reduzido tamanho e peso, tem se

    tornado a opo ideal (ALVES, 2003)27.

    Aps a captura das imagens, e a transferncia dos arquivos para o notebook ou o

    palmtop, o fotgrafo, segundo Alves (2000), precisa manipula-la minimamente, clareandoou escurecendo e reduzindo o rudo na imagem como uso de um filtro (a imagem digital tem

    um padro de rudo, que parece gro de filme). Depois dessas correes, as fotografias so

    transmitidas via telefone celular utilizando um programa de transmisso de dados, como o

    FTP ( file transfer protocol), que usa a internet ou o Zmodem (que conecta direto dois

    computadores). Atualmente a Folha de S. Paulo conta com um novo padro, que opera numa

    base Unix, que associa as duas formas de envio (FTP e Zmodem) e permite que as imagens

    estejam disponveis imediatamente a todos os setores, via sistema de arquivos de imagens(Digicol). Entretanto,

    23 SILVEIRA, Jurandir. Entrevista concedida revista Photos. maio de 1999. Disponvel em.http://www.photos.com.br.24 Idem.25 Os cartes de memria funcionam como unidades portteis e cambiveis para armazenagem das imagens,funo antes exercida pelos filmes fotogrficos. Embora se diga que os cartes de memria (regravveis) possamser utilizados vrias vezes, na prtica, percebe-se que a vida til desses cartes bem inferior ao especificadopelos fabricantes.26 Palmtops: so equipamentos portteis do tamanho de uma agenda eletrnica grande e permitem uma imensagama de opes tanto em software como em multimdia .27 ALVES, Ormuzd. Palmtop dispensa notebook e envia imagens via celular. Folha de S. Paulo. Caderno deInformtica. 23/04/2003. Disponvel em : http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u12763.shtml .

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    estas imagens no podem ser acessadas livremente por todos os diferentessetores da redao. Aps a chegada das imagens, o editor de fotografia asdistribui entre as diferentes editorias. Dessa forma, imagens de esporte spodem ser visualizadas pela equipe de esportes que no poder, porexemplo, acessar imagens da editoria de poltica (ALVES, 2000)28.

    Outra alterao importante a forma correta de identificao de cada imagem

    produzida. Cada imagem precisa receber uma identificao de acordo com os padres

    estabelecidos peloIPTC International Press Telecommication Council. Alm das legendas,

    dados tcnicos do equipamento, local e sujeitos presentes na imagem, o fotgrafo deve criar

    corretamente palavras-chave para facilitar posteriormente o trabalho de arquivamento e de

    pesquisa.

    No caso da Folha isso facilitado no apenas pelos softwares de aquisio earquivamento de imagens hoje utilizados, mas tambm pelas prpriascmeras digitais que gravam, nos arquivos originais, dados que no podemser alterados, como o nmero de srie da mquina que fez, capturou aimagem, data e tipo de objetiva utilizada. Para questes legais relativas aodireito autoral, essas informaes so muito importantes (ALVES, 2000)29.

    Para Evandro Teixeira (2004), reprter fotogrfico do Jornal do Brasil, os

    equipamentos digitais trazem muitas vantagens para as redaes, especialmente quanto se

    est trabalhando fora da sede do jornal. O ponto negativo que todo mundo se tornou

    fotgrafo e os e-mails das redaes esto cheios de fotografia sem qualidade. Embora sejatotalmente contra seu emprego, Teixeira acha que o emprego das ferramentas de edio,

    como o Photoshop, do uma liberdade de criao e manipulao das imagens sem

    precedentes.

    4.3. As possibilidades da imagem digital

    Para Sousa (2000), a adoo da tecnologia digital pela mdia, especialmente pelos jornais dirios inevitvel e irreversvel. A tecnologia no campo da imagem digital tem

    avanado rapidamente e as vantagens tcnicas e econmicas so maiores do que as possveis

    desvantagens. As novas tecnologias digitais transformam as imagens, antes formadas por

    pontos impressos pela luz sobre uma superfcie, em pulsos eletrnicos. Isso torna possvel

    armazenar as imagens e manipul-las como nunca se pensou30.

    28 ALVES, Ormuzd. Op. Cit. 2000.29 Idem.30 SOUSA, Jorge Pedro. Histria crtica do fotojornalismo ocidental. Chapec: Grifos, 2000. P 212.

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    O editor de fotografia de O Globo, Alexandre Sassaki (2004), acha que a cmera

    digital tambm trouxe uma mudana radical no dia-a-dia dos profissionais.

    Por incrvel que parea, os fotgrafos so unnimes ao declarar que, hoje,

    gastam mais tempo trabalhando numa imagem, j que ela sai da cmeradigital e, na maior parte das vezes, passa por uma maquiagem no AdobePhotoshop, ou em algum outro programa de tratamento de imagens. Hoje,para trabalhar com foto, um bom conhecimento de Photoshop fundamental. Para ele, deve-se pensar a imagem digital como umarevoluo do software. Mais do que nunca, devemos nos aproximar dainformtica e entender a cmera digital como hardware. Daqui para a frenteo que vai definir a fotografia digital no ser mais a quantidade demegapixels de uma cmera (SASSAKI, 2004)31.

    No fotojornalismo, a principal vantagem do emprego da imagem digital a rapidez

    com que as fotos ficam prontas. Aps a captura das imagens, estas podem ser enviadasrapidamente para a redao ou serem armazenadas em discos para posterior tratamento. Se o

    equipamento de captao (cmera) for digital, basta transferir o arquivo da mquina para os

    computadores de edio, na redao. Se a cmera for convencional, revela-se o filme e o

    negativo pode ser escaneado para se transformar em arquivo digital.

    Especialmente nos jornais dirios, onde a velocidade item fundamental, com os

    prazos de fechamento cada vez mais apertados, a possibilidade de obter imagens rapidamente

    um fator capaz de fazer a diferena. Alm disso, caso seja preciso a reproduo dessas

    imagens, cada cpia poder ser reproduzida como se fosse um original, pois no h perda de

    qualidade. Como lembra Sousa,

    assim como a fotografia tradicional se diferencia da pintura, a imagemdigital difere da fotografia tradicional quanto realidade fsica. Enquanto afotografia tradicional vive de processos analgicos e contnuos, a imagemdigital uma realidade codificada em um cdigo de zero e um (0/1),subdivida numa grade de clulas, os pixels. A imagem digital pode serrepetida ao infinito sem perda de qualidade, mas tambm fcil erapidamente manipulvel atravs da substituio de dgitos no cdigo binrio

    que a sustenta (SOUSA, 2000)

    32

    .Giacomelli (2000) afirma que uma outra grande vantagem apontada pelos

    fotojornalistas e pelos editores a possibilidade do profissional verificar no ato da captura da

    imagem, atravs da tela de cristal lquido, como ficou a imagem e, se a imagem no ficar boa

    ou o enquadramento no ficou perfeito, o reprter pode eliminar aquele arquivo e repetir a

    tomada, at acertar (GIACOMELLI, 2000, p. 62)33. Se de um lado, isso elimina os

    31 SASSAKI, Alexandre. Mudana de atitude. In: Caderno Especial Fotografia Digital. O Globo. Rio de

    Janeiro: 30 de abril de 2004.32 Idem. P. 214.33 GIACOMELLI, Ivan Luiz. Impacto da fotografia digital no fotojornalismo dirio: um estudo de caso.Dissertao de mestrado. Florianpolis: UFSC, 2000 p.62.

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    problemas que ocorriam anteriormente com os filmes fotogrficos, que precisavam ser

    revelados para se ter certeza do que foi fotografado, por outro, como lembra Kossoy (2004),

    tambm nos leva a um processo de manipulao at ento no imaginado.

    Agora, alm de todos os elementos j conhecidos, que podiam exercer suafora de censura sobre a notcia, o prprio fotgrafo poder, caso no tenhaobtido o resultado desejado, eliminar imediatamente as imagens registradas.O ato de fotografar ser, cada vez, mais um ato seletivo de parte da realidadeem se inscreve o fato presenciado pelo reprter (KOSSOY, 2004)34.

    Rodowick (2003)35, por sua vez, afirma que as distines entre os processos analgico

    e digital, do a este ltimo, uma srie de vantagens importantes capazes de alterarem o

    prprio modo de ver o mundo. A partir das idias e distines feitas entre os dois processos

    por Rodowick, elaboramos o seguinte quadro:PROCESSO ANALGICO PROCESSO DIGITAL

    ! Transcrio analgica em materiaisdiferentes

    ! Converso da informao a uma gradenumrica pr-formatada

    ! Exposio fsica como objetosconcretos

    ! Relacionamentos formais como nmerosabstratos

    ! Apelao perceptual imediata ! Requer uma relao! Informao inseparvel do meio ! A informao independente do meio! A cmera mecanismo fsico ! A cmera uma funo virtual ou simulada! Espao geomtrico euclidiano

    (construtivo)

    ! Espao geomtrico cartesiano(computacional)! Imagem fisicamente manipulada ! Imagem manipulvel numericamente

    ! Transcrio iterada ou impressorepetida

    ! Sadas variveis! Isomorfismo com o que representa ! Transformaes originam impulsos em

    quantificaes heterogneas de suas fontes! Traos concretos dos eventos ! Smbolo abstrato dos nmeros! Criatividade limitada pelo material

    (suporte) fsico! A criatividade limitada apenas pelos limites

    lgicos! As mudanas so irreversveis ! As mudanas so reversveis! As qualidade perceptveis so as

    principais

    ! Pouco relacionamento intuitivo com oobjeto fsico

    ! Armazenagem vulnervel emsuportes fsicos

    ! Os dados permanece intacto independentedo meio de armazenagem

    ! Perda de qualidade na gerao decpias

    ! Cada cpia to boa quanto o original! Voz passiva devido natureza

    substantiva! Interativo devido a sua natureza

    insubstancial e abstrata

    34 KOSSOY, Bris. Mdia: memria, esquecimento e censura. Conferncia (mesa 4) - XXVII Ciclo deEstudos Interdisciplinares da Comunicao. XXVII congresso da Intercom. Poro Alegre: PUCRS, 2004.35 RODOWICK, David. Cinematic to digital culture. London: Centre for Computing in the Humanities (CCH),School of Humanities, King's College, 2003. In: http://www.kcl.ac.uk/humanities/cch/filmstudies/courses/CDC/.

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    ! Retratar ato recursivo ! Conectar no recursivo! Comunicao/ transcrio de sentido

    nico no reversvel! Traar a funo heteromrfico, anlogo ao

    digital! Monolgico ! Dialgico! Meio do representacional ! Meio interativo! Mundos retratados ! Mundos simulados ou realidades virtuais! O real ! O hiper-real! Limite dado pelo tempo histrico ou

    por um espao particular! No limitado pelo tempo universal

    Fonte: Jorge Carlos Felz (2004)

    Para Sousa (2000) a imagem digital oferece mltiplas possibilidades para a

    interveno humana. Para ele, isso decorre da prpria forma como a imagem digital se

    constri. Uma imagem digital pode no apenas ser capturada por uma cmera, mas pode serresultado de escaneamento de uma ou mais imagens. Ela pode ter sua perspectiva alterada

    atravs de mudanas da zona de sombra, ser retocada eletronicamente ou ser sujeita a uma

    mistura de todos esses processos, possuindo ainda assim coerncia interna, um processo que

    poderamos denominar de bricollage eletrnico(SOUSA, 2000, p. 216)36.

    Dessa forma, para o fotojornalismo os problemas que surgem com a utilizao das

    imagens digitais relacionam-se com a forma como a alterao eletrnica das imagens se

    tornou fcil de ser realizada e difcil de ser detectada. Se, como lembra Sousa, num certosentido a fotografia uma forma de manipulao da realidade, as tecnologias da imagem

    digital ampliaram esse fenmeno.

    A tecnologia digital permite, a partir da imagem original, fazer modificaes de toda

    sorte e a qualquer tempo, bem como retornar, se necessrio ao original ou mesmo obter vrias

    verses da imagem primria. No Brasil vrios casos de manipulao foram evidenciados nos

    ltimos anos. A maioria foi feita, segundo os editores dos jornais envolvidos, por questes

    estticas. o caso por exemplo, de uma fotografia do jogador Ronaldo durante a Copa de

    1998, na Frana. A foto foi publicada duas vezes pelo jornal carioca O Dia. S que na

    segunda publicao, no dia 25 de maio de 1998, os editores limparam a imagem, retirando um

    G que aparecia no fundo para, nas palavras deles, permitir melhor leitura da fotografia37.

    Outros casos, como o que ocorreu no Paran, e discutido intensamente pela Arfoc

    Associao de Fotgrafos Profissionais PR, so evidentes casos de manipulao para

    atenderem s exigncias comerciais ou polticas dos jornais envolvidos.

    36 SOUSA, Jorge Pedro. Op. Cit. 2000, p. 216.37 As imagens podem ser vistas em http://www.arfoc.org.br/.

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    Figura 02: Em 2002 um caso de manipulao de imagens movimentou as redaes paranaenses. A imagem 1, produzida pelo fotgrafo Hederson Silva para o dirio LANCE! do Rio de Janeiro (imagem 2) foi tambmdistribuda para outros jornais, inclusive de Curitiba. O jornal TRIBUNA DO PARAN, ao adquirir afotografia do jornal carioca, substituiu a placa existente no fundo da imagem pois trata-se de publicidade deseu principal concorrente, a GAZETA DO POVO (imagens 3 e 4).

    evidente que o retoque, a alterao, supresso ou incluso de elementos na imagemno algo recente, ou que s se tornou possvel ou corriqueiro com o advento da imagem

    digital. Ao longo da histria, inmeros foram os casos de manipulao. Tambm sempre foi

    prtica comum os procedimentos laboratoriais para publicao de imagens: reduo ou

    aumento de contraste, reenquadramento e semi-mscaras.

    Muitos casos de imagens manipuladas foram descobertos por se tratarem de trucagens

    grosseiras, porque se conhecia o original ou mesmo o contexto da realizao. Entretanto,

    com o emprego dos computadores e dos softwares de edio digital de imagens, as

    possibilidade de se mentir no registro visual crescem assustadoramente.

    Reaves ( 1995)38 afirma, com em uma pesquisa realizada junto aos editores dos

    principais jornais dirios dos EUA, que a tolerncia s manipulaes fotogrficas depende

    muito das categorias em que estas se inscrevem. Os editores e fotojornalistas tendem a no

    aceitarem manipulaes de imagens do tipo spotnews (imagens no planejadas de

    acontecimentos onde o fotgrafo no teve tempo para refletir) e so bastante condescendentes

    com imagens manipuladas se estas forem classificadas como softnews ou photo illustrations

    38 REAVES, Shiela. The vulnerable image: categories of photos as predictor of digital manipulation.Journalism and Mass Communication Quarterly. Vol. 72, n. 3, 706 715.

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    (imagens fotografias altamente conotativas que combinam as possibilidades ilimitadas do

    desenho com o realismo da imagem fotogrfica, como fotografias de comida, moda e

    editoriais) Estas categorias so estabelecidas pelaNational Press Photographers Association

    (NPPA).

    Quanto manipulao de imagens, atualmente existem uma srie de regras para a

    edio de imagens. Criadas em conjunto por associaes de fotgrafos do mundo inteiro e

    empresas de comunicao39, estas diretrizes so uma forma de ajudar editores e reprteres a

    formular polticas para a aplicao tica e objetiva da edio da imagem digital e seus

    procedimentos na fotografia jornalstica:

    Regras e normas ticas para a manipulao e edio de imagens

    Procedimentos de ajuste realsticos:Estes procedimentos de edio sopermitidos em imagens digitais paracompensar limitaes e defeitos inerentesao processo fotogrfico digital, desde quenecessrios

    ! Balano e correo de Cor;! Queimar, ou escurecer parcialmente;! Proteger ou clarear parcialmente;! Retoque de riscos, manchas, p, rudos digitais;! Correo de distoro de lente;! Otimizao de Arquivo;! Ajustes de foco;! Retoque de brilhos ou reflexos;! Clarear ou escurecer globalmente a imagem;! Eliminao de olho vermelho.

    Imagem Jornalstica/Editorial:

    (Procedimentos Permissveis): Osseguintes procedimentos de edio emimagem digital so aceitveis em uso

    jornalstico/editorial, a menos que anatureza da publicao exija que asimagens sejam precisamenterepresentativas do que foi fotografado

    ! Cortes (crop), escurecimento ou suavizao defoco para reduzir/eliminar material suprfluo,preservando o contexto do evento;

    ! Realar uma imagem, ou parte de uma imagem,quando atende um propsito investigativo. O usode tcnicas de realce deve ser descrito nalegenda;

    ! Encobrir a identidade de algum, por exignciaou recomendao legal, feito de forma bvia(venda, pixelizao);

    ! Acrescentar movimento " proporcional "realstico para objetos em movimento40.

    Imagens Jornalsticas/Editoriais:

    (Procedimentos no admissveis). Osseguintes procedimentos de edioimagem digital no so aceitos para uso

    jornalstico/editorial:

    ! Adicionar, remover ou mover objetos de tal ummodo que o contexto do evento seja alterado.

    ! progresso de idade ou regresso (por exemploacrescentando cabelos brancos).

    ! Mudar a expresso facial de uma pessoa, gestos,roupa, partes do corpo ou acessrios pessoais.

    ! Retoques que aumentem ou reduzam a qualidadeou aparncia de um artigo, ou a esttica de umlugar.

    ! Aplicao de movimento para criar uma39 http://www.digitalcustom.com/howto/mediaguidelines.asp.40 Este sub-item gerou uma srie de reclamaes por parte de alguns profissionais, para os quais, nenhummovimento deveria ser acrescentado "fora da imagem da mquina fotogrfica. O mesmo assunto surge comrespeito aplicao de " efeitos " defisheye (olho-de-peixe) isto , o uso de recurso capaz de imitar os efeitos deuma grande angular, e outros efeitos de ps-produo de imagem.

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    impresso enganosa de que o assunto estmovendo a uma velocidade diferente da queestava se movendo durante o evento.

    ! Efetuar ou mudanas de cor de maneira que osefeitos ou mudanas de cor aplicados noaparentem edio digital ou onde parte do eventooriginal seja encoberto.

    ! Uso de qualquer outro procedimento de ediodigital de forma a criar uma impresso enganosado evento, dos participantes ou contexto.

    ! Em fotografia de natureza, deve-se tomarcuidado especial para representar animais eplantas em seu ambiente natural, habitat econtexto (por exemplo: iluminar um fundo paraparecer que um animal noturno diurno).

    ! No aceitvel a manipulao de fotografia denatureza para criar um falso aparecimento deanimais, associando-os com outros animais(inclusive humanos) ou aumentar o nmero deanimais em um grupo.

    ! No admissvel representar um fenmenofabricado como natural (por exemplo adio deuma estrela cadente ou arco-ris).

    ! permissvel o destaque em imagens ou parte deimagens de natureza com a finalidade deinvestigao ou visibilidade , contanto que amanipulao seja incidental, bvia ouespecificamente descrita para o espectador.

    Imagens de promoo em publicaesJornalsticas:As seguintes formas de edio digitalso aceitveis (por exemplo em capas depublicao e reas introdutrias de umartigo) at certo ponto, de forma que noenganem sobre os eventos, participantesou contexto

    ! Edio de cor e luz com efeito criativo.! Montagens, justaposies e efeitos de montagem.! Ajustes de foco.! Transformao em retrato (portraitization) de

    uma fotografia no-retrato (isolando e retocandoo assunto contra um fundo).

    ! Retoques de pele e embelezamento de cabelo.! Titulo (ou outro texto) superposto.! Uso de outros procedimentos digitais de edio

    de modo a no enganar sobre os eventos,participantes ou contexto.

    Ainda segundo essas regras, o arquivo original capturado pelo fotgrafo (ou

    digitalizado) deve ser preservado. Todos os arquivos que integrarem uma imagem composta,

    tambm deveriam ser preservados como evidncias da extenso da edio. Alm disso, toda

    publicao deveria designar um ou mais editores para decidir sobre assuntos ticos

    relacionados a imagem digital e procedimentos.

    No caso brasileiro, os controles sobre os processo de manipulao ainda so mais

    frgeis que no exterior. Jornais como O Globo e Folha de S. Paulo, adotam normas internas

    que probem a alterao ou eliminao de contedo total ou parcial de imagens digitais. No

    Manual de Redao da Folha, essa regra aparece de forma tmida: em geral, a Folha no usa

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    montagens fotogrficas, fotos recortadas, invertidas, retocadas, ovais ou redondas (FOLHA

    DE S. PAULO, 1998, p. 144-145)41.

    De qualquer forma, como lembra Sousa (2000), mesmo que se possa distinguir o

    fotojornalismo da ilustrao editorial, a disseminao das tecnologias digitais impede o

    controle institucional sobre a manipulao digital de fotografias, ainda que jornalsticas. At

    mesmo a questo da propriedade intelectual e a questo do controle econmico sobre a

    imagem digital se tornam problemticas, pois no existem negativos (SOUSA, 2000, p.

    216)42.

    4.4. Alteraes conceituais decorrentes da tecnologia digital

    A alteraes decorrentes da utilizao da nova tecnologia digital no afetam apenas as

    estruturas fsicas dos jornais e, em especial, das editorias de fotografia. Os prprios conceitos

    e tcnicas fotojornalsticas acabam, necessariamente, sofrendo revises para se adaptarem

    nova forma de fotografar.

    Muitos conceitos de linguagem atualmente empregados, como os de composio e de

    enquadramento, levam em considerao o formato da imagem obtida com a cmera

    fotogrfica convencional. A cmera digital, com seus minsculos CCDs (ou CMOS), quemuitas vezes no passam de retngulos com 1 (um) cm, aumentam a distncia focal das

    objetivas em cerca de 1,5 vezes em mdia. Dessa forma, uma objetiva de 50mm passa a

    funcionar , de forma, equivalente a uma meia-teleobjetiva de 75mm numa cmera digital de

    35mm43.

    Euclides de Alexandria (365 300AC), matemtico e filsofo de origem grega,

    estabeleceu a teoria da proporo urea, onde dois nmeros (X e Y, por exemplo) esto em

    proporo urea se a razo entre o menor deles sobre o maior for igual ao maior sobre a soma

    dos dois (ou seja, X/Y = Y/X+Y). Esta proporo estabelece um coeficiente ureo, onde se

    pode analisar que, basicamente, tudo que se encontra na natureza est inscrito nesta

    41 FOLHA DE S. PAULO. Novo manual de redao. 8a edio. So Paulo: Folha de S. Paulo, 1998. P 144-145.42 SOUSA, Jorge Pedro. Op. Cit. 2000. P216.43 As objetivas fotogrficas, para cmeras de filme 35mm, so divididas de acordo com as distncias focais. Adistncia focal medida, normalmente entre um dado ponto de foco, existente no interior do conjunto ptico(lente) e a superfcie onde a imagem se forma e fixada (filme). Assim, temos: (a) objetiva normal (50mm):assim chamada por apresentar um ngulo de viso equivalente viso humana (46); (b) objetivas grande-angulares: todas as objetivas com distncias abaixo de 50mm e que proporcionam ngulos de viso maiores do

    que 46. As mais utilizadas so as de 24mm, mas existem objetivas com at 180 de viso (distncia focalaproximada de 10mm) que fornecem imagens bastante distorcidas. So as famosas olhos-de-peixe; (c)teleobjetivas: objetivas cujos ngulos so menores do que 46 (distncias focais maiores do que 50mm). Podemvariar de 75mm at poderosas objetivas de espelho de 5000mm.

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    proporo, seja o corpo humano, uma colmia de abelhas, uma estrela do mar ou uma

    concha (FERRAZ, 2004)44.

    Figura 03: Nos filmes 35mm,

    padro para a maioria dascmeras fotogrficas, osnegativos possuem dimenses de24x 36mm.(proporo urea de 1:5)

    Figura 04: j nas cmerasdigitais, esta proporo de at3:4, o que d uma imagem mais prxima ao quadrado,aproximando a imagem s

    obtidas com cmeras de mdio formato ou visualizadas nosmonitores de TV e computadores.

    Em um filme de 35mm, as dimenses do negativo so de 24 x 36mm e a relao entre

    largura e altura de 1:1,5. Essa proporo uma proporo urea e, apesar de no ser

    fundamental para a fotografia, que possui uma fora tica muito determinante, conforme

    lembra Lima (1988)45, ela d as bases para a composio do espao, uma vez que, ao

    posicionarmos os objetos fotografados pela imagem, fugindo do centro, preciso criar

    simetria (a um objeto de um lado deve haver um correspondente do outro) e essa facilitada

    pela proporo urea do retngulo fotogrfico.

    Em algumas cmeras digitais, essa relao alterada para 3:4. Isto , o

    enquadramento passa de um retngulo ureo, para uma forma quase quadrada. Segundo Lima

    (1988), o quadrado representa a forma geomtrica do equilbrio absoluto, onde a relao

    perfeita dos lados exige uma definio precisa do espao e poucos assuntos se adaptam a esse

    formato. Para Giacomelli (2000) essa transformao do formato parece ter relao direta com

    o fato da imagem digital ter surgido para ser vista na tela de TV, e no monitor do micro, j

    que os primeiros CCDs equipavam cmeras de vdeo (GIACOMELLI, 2000, p. 64)46.

    44 FERRAZ, Henrique. Sistemas de propores matemticas. Revista Eletrnica de Cincias, n. 26, maio de

    2004. So Carlos (SP). Escola de Engenharia, Univ. Federal de So Carlos (UFSC). Disponvel em:http://www.cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_26/proporcao.html.45 LIMA, Ivan. A fotografia a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espao e Tempo, 1988.46 GIACOMELLI, Ivan Luiz. Op. Cit. 2000.