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capa Ano 42 | nº 122 | Mai./Ago. 2019 Missão: viver, partilhar e servir MISSÃO NO MUNDO Comunidade missionária de Moçambique - 4 Comunidade missionária de Santa Cruz-Bolívi - 5 MISSÃO NO BRASIL Comunidade religiosa MSF de Carauari - 6 Comunidade religiosa MSF do Convento-Recife - 7 Comunidade religiosa MSF no Rio Grande do Norte - 8 Comunidade religiosa MSF da Estancia-Recife - 9 Comunidade religiosa MSF de Goiânia - 10 Comunidade religiosa MSF de São Carlos - 11 Comunidade religiosa MSF de Porto Alegre - 12 Comunidade religiosa MSF de Santo Angelo - 13 Comunidade religiosa do Rio de Janeiro - 14 Comunidade religiosa MSF de Passo Fundo - 15 ARTIGOS Mt 10 e 18: uma eclesiologia missionária - 16 Mudança de paradigma! - 18 MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR Características de uma espiritualidade missionária madura - No contexto da conversão de Jonas - 20 Discípulos-missionários, plenos de vida e de alegria - 22 Missão ad gentes: superando modelos - 23 A missão, a partir de “O Pequeno Príncipe” - 24 “De todas as crianças e adolescentes do mundo: sempre amigos!” - 25 Ser Igreja missionária, hoje! - 26 O missionário é um sinal vivo da presença de Deus - 27 TESTEMUNHOS Irmã Dulce: a santa dos pobres! - 28 Um domingo com doce-amargo sabor de missão - 30 AMISAFA/SAV As crianças de Moçambique também têm direito de sonhar! - 31

capa - misafala.org · A Igreja Boliviana é reconhecedora e muito grata pela pre - sença profética e testemunhal de tantos que deram e con-tinuam dando-lhe vida e dinamismo no

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capa

Ano 42 | nº 122 | Mai./Ago. 2019

Missão: viver, partilhar e servir

MISSÃO NO MUNDOComunidade missionária de Moçambique - 4Comunidade missionária de Santa Cruz-Bolívi - 5

MISSÃO NO BRASILComunidade religiosa MSF de Carauari - 6Comunidade religiosa MSF do Convento-Recife - 7Comunidade religiosa MSF no Rio Grande do Norte - 8Comunidade religiosa MSF da Estancia-Recife - 9Comunidade religiosa MSF de Goiânia - 10Comunidade religiosa MSF de São Carlos - 11Comunidade religiosa MSF de Porto Alegre - 12Comunidade religiosa MSF de Santo Angelo - 13Comunidade religiosa do Rio de Janeiro - 14Comunidade religiosa MSF de Passo Fundo - 15

ARTIGOSMt 10 e 18: uma eclesiologia missionária - 16Mudança de paradigma! - 18

MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIRCaracterísticas de uma espiritualidade missionária madura - No contexto da conversão de Jonas - 20Discípulos-missionários, plenos de vida e de alegria - 22Missão ad gentes: superando modelos - 23A missão, a partir de “O Pequeno Príncipe” - 24“De todas as crianças e adolescentes do mundo: sempre amigos!” - 25Ser Igreja missionária, hoje! - 26O missionário é um sinal vivo da presença de Deus - 27

TESTEMUNHOSIrmã Dulce: a santa dos pobres! - 28Um domingo com doce-amargo sabor de missão - 30

AMISAFA/SAVAs crianças de Moçambique também têm direito de sonhar! - 31

Que tal juntar-se aos Missionários da Sagrada Família?!

Por que não? Faça contato conosco!

AMISAFA/SAV - Ação Missionária e Vocacional da Sagrada FamíliaRua da Floresta, 1043 | Caixa Postal 3056 | CEP: 99.051-260

[email protected] | [email protected] | Fone: (54) 3313-2107

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EDITORIAL

Conselho Provincial:

Pe. Itacir Brassiani, msfSuperior Provincial

Pe. Lotário José Niederle, msfVice-Provincial

Pe. Elmar Luiz Sauer, msfSegundo Assistente

Ir. Lauri de Cesare, msfTerceiro Assistente

Revisão de texto: Pe. Lotário Niederle, msf

Editoração: Editora do IFIBE

Instituto Superior de Filosofia Berthier

Projeto gráfico:Diego Ecker

Capa e diagramação: Diego Ecker

Impressão: Gráfica Berthier

Tiragem deste número: 1.600 exemplares

Distribuição gratuita.

Contato e Pedidos:Província dos Missionários da

Sagrada Família (Brasil Meridional)Rua da Floresta, 1043 - Bairro Petrópolis

Cx. Postal 3056 - CEP: 99051-260Passo Fundo - RS - Brasil

Fone: (54) 3313-2107 E-mail: [email protected]

www.misafala.org

BertherianoRevista da Província Brasil Meridional dos Missionários da Sagrada Família

Pe. Itacir Brassiani msfCoordenação Provincial

Passo Fundo, RS

A Igreja católica se prepara para celebrar, no mundo inteiro, um Mês Missio-nário Extraordinário. Mais que um evento, a convocação do Papa Francisco quis provocar, e de fato desencadeou, um processo de dinamização do espírito mis-sionário que brota da alegria do Evangelho e não se detém antes de renovar a pastoral convencional das paróquias e dioceses e de alcançar confins do mundo.

É claro que o projeto de um mês dedicado extraordinariamente às missões não tem um fim em si mesmo, não pode se resumir a um período de 30 dias, nem se circunscrever a simples menções às missões em celebrações e publicações. O evento do Mês Missionário Extraordinário pretende ser um período mais inten-so de reflexões, celebrações e iniciativas que recoloquem como tema primeiro da pauta da Igreja católica uma questão que jamais deve desaparecer do seu horizonte, porque é sua natureza e sua razão de ser: constituir-se em rede de comunidades de discípulos missionários comprometidas com a vivência, o anún-cio e o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo como Boa Notícia aos pobres e oprimidos.

A presente edição da revista Bertheriano quer ser uma pequena contribuição às comunidades e setores pastorais que não querem fechar os ouvidos ao apelo do Papa Francisco, nem fechar os olhos aos imensos desafios da missão ad gen-tes: empenhar a Igreja toda num caminho de saída de posições consolidadas e de zonas de conforto para testemunhar e propor os valores do Evangelho de Jesus Cristo nas fronteiras geográficas e religiosas (onde não é conhecido ou é rejeitado), nas fronteiras culturais (onde são gerados e elaborados o pensamento e os novos estilos de vida) e nas fronteiras sociais (onde a vida é vulnerável e sofre ameaças).

Ao mesmo tempo, através da partilha sobre a vida e a missão das Comunida-des de Missionários da Sagrada Família no Brasil, dos testemunhos e reflexões, e dos roteiros para oração e meditação, desejamos ajudar as comunidades eclesiais e paróquias e refletir sobre si mesmas e suas prioridades pastorais, na perspecti-va de uma verdadeira conversão missionária, caminho de superação da pastoral de manutenção. Não podemos fechar os ouvidos ao apelo provocativo do Papa Francisco: “Cada cristão e cada comunidade discernirá qual é o caminho que o Senhor nos pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e atrever-se a chegar a todas as periferias que necessitam da luz do Evangelho” (Evangelii Gaudium, 20).

No mês em que celebramos também a memória da páscoa do Pe. João Batista Berthier, acolhemos seu legado de missionário incansável e religioso apaixonado pelas missões, e, como se fosse dirigida a nós o que ele, ainda jovem, escreveu a um amigo padre, muito mais maduro que ele: “Como você pode permanecer ab-sorvido por suas tristezas quando há tanto a ser feito ao seu redor? Abra os olhos e veja: os campos estão maduros para a colheita. A messe é grande! Vamos! Seja você também um operário!”

Em outra oportunidade, falando aos seus futuros missionários, o Pe. Berthier ensinava enfaticamente, como se lhes entregasse seu testamento: “É necessário ir ao encontro das pessoas. Elas não virão ao encontro de vocês. É necessário bus-car o povo, e não esperar que ele nos procure. Os pobres, os doentes, os aban-donados: eis o quinhão mais querido do verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.”

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Comunidade missionária de Moçambique 4Pe. Celso Both msf

Comunidade missionária de Santa Cruz-Bolívia 5Equipe editorial da Revista

Comunidade religiosa MSF de Carauari 6Pe. Irineu Paulo Paetzold msf

MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR

TESTEMUNHOS

AMISAFA/SAV

ARTIGOS

MISSÃO NO BRASIL

MISSÃO NO MUNDO

SUMÁRIO

Comunidade religiosa MSF do Convento-Recife 7Pe. Joacir Coelho de Sousa msf

Comunidade religiosa MSF no Rio Grande do Norte 8Pe. Francisco de Assis Mota e Sousa msf

Comunidade religiosa MSF da Estancia-Recife 9Ir. Wanderson Nogueira Alves msf

Comunidade religiosa MSF de Goiânia 10Pe. Leo Fiorin msf

Comunidade religiosa MSF de São Carlos 11Pe. Olmaro Paulo Mass msf

Comunidade religiosa MSF de Porto Alegre 12Pe. Moisés Furmann msf

Comunidade religiosa MSF de Santo Angelo 13Pe. Flávio Inácio Heck msf

Comunidade religiosa do Rio de Janeiro 14Equipe editorial da Revista

Comunidade religiosa MSF de Passo Fundo 15Equipe editorial da Revista

Mt 10 e 18: uma eclesiologia missionária 16Bertilo Brod

Mudança de paradigma! 18Prof. Pe. Maicon Rodrigo Rossetto msf e Prof. Rafael Rossetto

Características de uma espiritualidade missionária madura - No contexto da conversão de Jonas 20

Fr. Ricardo Klock msfDiscípulos-missionários, plenos de vida e de alegria 22

Pe. Marcelo Junior Klein msf Missão ad gentes: superando modelos 23

Pe. Vergílio João Moro msfA missão, a partir de “O Pequeno Príncipe” 24

Fr. Ricardo Klock msf e Rafael Zanetti de Freitas“De todas as crianças e adolescentes do mundo: sempre amigos!” 25

Fr. Igor Pereira dos Santos msfSer Igreja missionária, hoje! 26

Wanderson Roberto Trigueiro da Silva O missionário é um sinal vivo da presença de Deus 27

José Marcos de Souza

Irmã Dulce: a santa dos pobres! 28Pe. Lotário Niederle msf

Um domingo com doce-amargo sabor de missão 30Pe. Itacir Brassiani msf

As crianças de Moçambique também têm direito de sonhar! 31

Coordenação da AMISAFA

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MISSÃO NO MUNDO

Pe. Celso Both msfCoordenador da Comunidade de Mecuburi

Comunidade missionária de Moçambique

A missão MSF em Mecuburi, distrito de Nampula, Mo-çambique iniciou em dezembro de 2007; desde então, já passaram vários missionários por estas terras. Atualmente a Comunidade da missão conta com quatro religiosos e dois leigos: Pe. Celso Both, pároco de Nsa Sra da Assunção de Mecuburi e superior da comunidade missionária; Pe. Pedro Leo Eckert, pároco de Santa Cruz de Muíte, o mais antigo na missão; Pe. Firmino Santana e Sousa, vigário paroquial de ambas paróquias, sendo seu segundo período na missão; Frater Ricardo Klock, formador do Aspirantado e agente de pastoral; Raphael Souza Alves, missionário leigo, na direção da Escola Familiar Rural; Edina Lima Cardoso de Carvalho, missionária leiga, na gestão administrativa da Escola e Pro-jetos sócio-educacionais. Também contamos com a ajuda do Sr. Júlio Nunes de Carvalho Júnior, esposo da missionária Edina; ambos sempre motivados e dispostos para ajudar, muito presentes nas diversas atividades e integrando o co-tidiano da missão.

A Missão em Mecuburi, na arquidiocese de Nampula, possui três frentes de atuação: paróquias, escola e forma-ção. Atendemos à duas paróquias do Distrito de Mecuburi: paróquia Nsa Sra da Assunção, que possui duas regiões pas-torais: Mecuburi (Sede) e Namina, com 150 comunidades; e a paróquia Santa Cruz, que também têm duas regiões pas-torais: Ratane e Milhana, sendo atendidas 130 comunida-des. As atividades realizadas nas paróquias são de formação das lideranças jovens e adultas, bem como a realização dos sacramentos do batismo, primeira eucaristia e matrimônio. Além das atividades pastorais se faz um trabalho semelhan-te ao da Pastoral da Criança, sendo atendidas mais de 90

crianças, mensalmente. A Pastoral da Saúde também está dando seus primeiros passos com atendimentos homeopá-ticos. E o projeto Criança Aprende, no qual são atendidas semanalmente 25 meninas, com aulas de reforço escolar.

A Escola Familiar Rural iniciou as suas atividades no ano de 2012, aonde os alunos saiam com a formação de Técni-cos em Agropecuária, em nível básico. Neste ano, devido a um decreto do governo Moçambicano, a Escola começou as adequações para passar por um processo de elevação de nível, na qual os alunos sairão graduados, não mais com o nível básico, mas com nível médio do Curso Técnico em Agropecuária. É nesta escola que os leigos Edina e Raphael desempenham grande parte dos seus esforços. Entretanto, também ajudam nas formações das lideranças paroquiais e juvenis. No momento, a escola conta com 65 alunos.

Por fim, a Casa de formação, em Mecuburi, teve a sua abertura no ano de 2018, devido ao grande número de vocacionados que tem se apresentado. Atualmente con-tamos com quatro jovens na etapa do Aspirantado, sendo dois de cada paróquia, acima citada, ambas pertencentes à região missionária atendida pelos MSF. Ainda neste semes-tre, deverão ser dados os passos iniciais para a efetivação da Casa de formação em Nampula, visando acolher o nú-mero cada vez maior de vocacionados que têm surgido em toda a região.

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Equipe editorial da RevistaPela Comunidade de Santa Cruz/Bolívia

Comunidade missionária de Santa Cruz-Bolívia

Atendendo aos apelos da Igreja Latino-americana, nós Missionários da Sagrada Família, estamos presentes em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, desde abril de 1997. A Comunidade Interprovincial lá constituída, desde a sua ori-gem, nasceu como resposta aos apelos missionários do pró-prio carisma congregacional de “estar mais perto daqueles que estão longe” (cf. At 2,39). Neste relato, após estes anos de presença em terras bolivianas, recordamos com alegria o testemunho missionário de diversos confrades que já pas-saram por esta missão ad gentes. São MSF vindos do Chile, da Argentina, do Brasil e da Espanha, somados a tantos ou-tros missionários e missionárias, leigas e consagradas que ajudam a tecer a rica história desta presença missionária.

A Igreja Boliviana é reconhecedora e muito grata pela pre-sença profética e testemunhal de tantos que deram e con-tinuam dando-lhe vida e dinamismo no anuncio e serviço do Reino. Entretanto, com o passar dos anos a Comunida-de missionária MSF, longe daquilo que sonhou seu projeto inicial, foi encolhendo em número de pessoas, ao invés de

crescer e ampliar seu espaço de atuação. É chegado o mo-mento crucial de colocar esta pequena parcela da missão ao acalento do coração e firmar, juntos, o compromisso de, pela oração e pela ação, manter, por amor à Sagrada Família de Nazaré e no carisma Bertheriano, viva e atuante nossa rica e histórica presença neste chão missionário.

Atualmente vivem e atuam nesta grande missão, quatro missionários: Pe. Milton Sulzbacher e Pe. Donato Durães Vasconcelos, mais recentes na Comunidade missionária; Pe. Luís Lopez e Pe. Loacir Luvizon (hoje superior da Comunida-de religiosa) já contando diversos anos de presença na Bolí-via. Pe. Luís Lopez é da Província espanhola e os demais são da Província Brasil Meridional. Os MSF atendem duas paró-quias: Maria Reina de Las Américas e Nossa Senhora do Ro-sário, ambas na periferia de Santa Cruz de La Sierra. Os mis-sionários coordenam também o Centro de Espiritualidade Nazaré, que serve para hospedagem e Centro de Formação de lideranças de toda a região. Participam na coordenação de diversos projetos, pastorais, movimentos e organizações populares; alguns organismos, inclusive, em âmbito nacio-nal. Os Missionários da Sagrada Família, na Bolívia, assim como tantos outros irmãos nossos, vivem a ministerialida-de da vocação a que foram chamados: servindo a Deus com alegria e fazendo-se próximos dos que estão longe!

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MISSÃO NO BRASIL

Pe. Irineu Paulo Paetzold msfCoordenador da Comunidade de Carauari

Comunidade religiosa MSF de Carauari

Creio que todos nós estamos cientes que o mundo vive uma das grandes crises da história. Mas, como missionários, temos o horizonte de nossos olhos carregado de esperança. Esta convicção, sem dúvida, fez que a Província MSF (Brasil Meridional), buscasse há 20 anos “inserir-se” no interior da Amazônia, mais propriamente na Prelazia de Tefé, nas pa-róquias de Carauari e Itamarati, atendidas até então pelos padres Espiritanos. Neste tempo, vários MSF aqui passaram. Hoje somos quatro missionários: Pe. Francisco Ary Carnaú-ba, vigário paroquial em Carauari; Pe. Valmir Miguel Ma-jolo, administrador paroquial de Carauari; Pe. Irineu Paulo Paetzold, administrador paroquial em Itamarati; Pe. Aniceto Francisco dos Santos, vigário paroquial das duas paróquias para atendimento às comunidades ribeirinhas. A Comuni-dade possui sua residência religiosa em Carauari, sendo que o Pe. Irineu se desloca periodicamente para Itamarati em vista dos trabalhos pastorais e administrativos; já o Pe. Ani-ceto vive boa parte do tempo no barco Moriáh serpentean-do o Rio Juruá em atendimento pastoral flutuante.

Dentro das possibilidades, a Comunidade Missionária procura assumir a missão que lhe é confiada, com todos os desafios que lhe são inerentes. Realmente, os trabalhos jun-to às comunidades ribeirinhas, bem como na cidade, apre-sentam seus desafios próprios da região, como: locomoção (através do rio) e infraestrutura, transporte e precariedade dos barcos, cheias do rio e deslocamentos geográficos, etc. Tudo isso, às vezes, concorre para que o atendimento e pre-sença pastoral não aconteçam conforme o planejado. Outro

desafio na evangelização, consequente aos anteriores, é o deslocamento de muitas pessoas e famílias ribeirinhas para bairros e vilas das cidades, no período das cheias, configu-rando uma realidade pastoral peculiar, nas comunidades eclesiais. Procuramos, pois, “acompanhando o ritmo do povo e do rio”, acentuar mais os trabalhos da pastoral fami-liar e das juventudes, da infância e adolescência missionária (IAM) e da Catequese.

Ao falarmos da nossa experiência missionária na Amazô-nia, nestas águas e nestas terras, destacamos a importância do curso sobre Realidade e Igreja Amazônica, que acontece anualmente em Manaus. Realmente, não podemos assumir trabalhos missionários nesta região sem antes integrar este período de estudos e aprofundamento, pois o mesmo é es-sencial para alavancar uma ação missionária e pastoral pro-dutiva, edificante e inculturada no seio amazônico. Ainda, sobre o Sínodo da Igreja na Amazônia, ouso afirmar: a Espe-rança é um alerta, uma luz, pois é uma faísca que se acen-de e que não permite nenhuma forma de comodismo ante as diferentes situações de vida, desrespeitadas em muitos sentidos no contexto em que estamos. Por isso, ecoa forte o seu lema: “Novos caminhos para a Igreja e para uma eco-logia integral!”.

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Pe. Joacir Coelho de Sousa msfCoordenador da Comunidade do

Convento/Recife

Comunidade religiosa MSF do Convento-Recife

Como sabemos, os Missionários da Sagrada Família che-garam ao Brasil pelo Nordeste, em janeiro de 1911, apor-tando em Recife-PE. Antes de apresentar essa Comunidade Religiosa, em seus atuais membros, gostaria de ressaltar e contextualizar o Convento São José, em Recife. Recorda-mos, que aqui já passaram diversas gerações, as quais dei-xaram uma marca de seu trabalho missionário, pastoral e vocacional, como MSF. Também queremos salientar que o Convento foi a sede provincial, durante mais de 60 anos, da (ex)Província Brasil Setentrional, daí a sua relevância para toda esta região e para a Congregação.

Atualmente a Comunidade Religiosa do Convento - do Barro, como é carinhosamente conhecido - é composta de seis membros. São eles: Pe. Joacir Coelho de Sousa, supe-rior da Comunidade religiosa e vigário; Pe. Irismar Farias de Figueiredo, pároco da paróquia São João Batista e capelão do colégio Imaculada Conceição; Pe. José Élcio Salviano de Araújo, vigário paroquial da Paróquia São João Batista; Pe. Marcelo Junior Klein, pároco da paróquia Imaculada Con-ceição e formador do Postulantado; Ir. Edilson Roque Frey, administrador do Convento e da Sonbape; Pe. Aloysio Rai-

mundo Lunckes, aposentado e residente em Buíque-PE. Ainda, reside na comunidade o Pe. Heribert Stahl, já idoso, no momento necessitando de maiores cuidados de saúde.

Também no Convento funciona a sede da SONBAPE (Sociedade Norte Brasileira de Assistência Pastoral e Edu-cação), entidade civil e jurídica da Região Nordeste. Esta é presidida, atualmente, pela seguinte coordenação: Pe. Iris-mar, Pe. Marconi, Pe. Joacir e Ir. Edilson. Por fim, além dos diversos trabalhos pastorais e missionários aos quais essa Comunidade se dedica, o Convento São José tem um fun-cionamento próprio e interno nos seus trabalhos pastorais e formativos, como: missa dominical com a vizinhança, mis-sas particulares na semana, casamentos e festas de aniver-sário, encontros pastorais e de movimentos que por aqui passam usufruindo desse espaço privilegiado. Igualmente celebram-se dois grandes tríduos, no Convento: de São José (padroeiro) e de Nsa Sra da Salette.

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MISSÃO NO BRASIL

Pe. Francisco de Assis Mota e Sousa msfCoordenador da Comunidade de Natal

Comunidade religiosa MSF no Rio Grande do Norte

Os Missionários da Sagrada Família chegaram à Natal--RN em 1912, sendo carinhosamente recebidos pelo Bispo Diocesano, Dom Joaquim Antônio de Almeida. Logo, foram acolhidos em Goianinha para se recuperarem na casa do Pe, Moisés Ferreira. O Pe. Paulsen escrevia “...o vigário é muito bom e se dedica a nós. O Rio Grande do Norte é muito diferente de Mazagão...”. Após um período de repouso para recuperar o vigor, os Missionários da Sagrada Família se dirigiram para São Gonçalo do Amarante-RN. Já o Pe. Paulsen permaneceu em Natal preparando o Colégio Diocesano. Em São Gonçalo ficaram o Pe. Becholdt e o Ir. Boaventura. A alegria do povo era grande com a chegada dos primeiros MSF; a estes logo se somaram outros.

No dia 1º de março de 1913, no Colégio Diocesano de Na-tal, estiveram reunidos os MSF que formaram a primeira Co-munidade Religiosa oficial (Domus), no Brasil e no continen-te americano. Era composta dos seguintes membros: Pe. Henrique Paulsen, superior e diretor do Colégio; Pe. Emilio Bugard, professor de francês e teologia; Pe. José Scholl, pro-fessor de aritmética e religião; Pe. Luiz Becholdt, professor de dogmática e filosofia; Irmão Ambrósio e Irmão Boaven-tura. Em outubro do mesmo ano chegaram a Natal, vindos de Grave (Holanda), o Pe. André Vanderzel e o Pe. Ferdinand Nolte (com apenas 25 anos). Já em setembro de 1915, o Pe. Paulsen e o Ir. Boaventura se transferem para a nova resi-dência da Ribeira, na Igreja do Bom Jesus das Dores. Nesse período os MSF tinham duas casas, uma na Ribeira e outra em Ceará-Mirim.

Atualmente, a comunidade do Santuário do Lima e de Patu-RN, por decreto do Governo geral, foi incorporada à comunidade religiosa de Natal. Hoje, residem no Santuário Nsa Sra dos Impossíveis: o Pe. Luiz Telmo Feitosa, pároco da paróquia Nsa Sra das Dores e reitor do Santuário do Lima; o Pe. Islan Alves Gonçalves, vigário paroquial e auxiliar no santuário; o Pe. Isidoro Ludwig, confessor e cooperador do santuário do Lima e vigário paroquial de Patu. O Pe. Sós-tenes Tavares Luna, desempenha atividades acadêmicas no Colégio Christus, em Fortaleza-CE, e atende espiritual-mente algumas comunidades e casas religiosas na capital cearense. Ainda, o Pe. Américo Leite de Sá, exclaustrado e que vive em Solidão-PE, onde presta serviços espirituais ao Santuário Nsa Sra de Lourdes.

Natal é a residência (sede) da Comunidade Religiosa. Nesta comunidade vivem e cooperam quatro confrades: Pe. Francisco de Assis Mota de Sousa, pároco da paróquia São Pedro Apóstolo e superior da Comunidade religiosa; Pe. Francisco Carlos de Azevedo, vigário paroquial e cape-lão de dois Colégios (Sagrada Família e Dom Marcolino); Pe. Vicente Laurindo de Araújo, capelão da Policlínica Alecrim e vigário paroquial; e o Pe Raimundo Lopes Ribeiro, prestes a completar 84 anos, ainda atuando como vigário paroquial de São Pedro Apóstolo.

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Ir. Wanderson Nogueira Alves msfPela Comunidade Pe. Berthier,

Estância/Recife

Comunidade religiosa MSF da Estancia-Recife

A Comunidade Religiosa MSF Padre Berthier, tem sua sede canônica situada na Casa do bairro Estância, no su-búrbio da cidade de Recife, em Pernambuco. É formada pe-los confrades Tiaraju Dantas (coordenador local), Heribert Stahl, Pedro Alves Pinto, Marconi Nunes Lira, Iranjunio Leite da Silva, Luiz Alencar Libório, Henrique Schüten, Thiago Batista da Luz, George Lourenço dos Santos e Wanderson Nogueira Alves.

Pe. Tiaraju, coordenador da Comunidade religiosa, auxi-lia pastoralmente na Paróquia de Nsa. Sra. da Conceição, no bairro do Barro, reside na Estancia. Pe. Heribert, aposentado e precisando de maiores cuidados de saúde, vive atualmen-te no Convento do Barro. Pe. Pedro Pinto, também aposen-tado e de frágil saúde, faz caminhadas da terceira idade e convive na Estancia. Pe. Marconi, vigário paroquial na Paró-quia de Nsa. Sra. de Lourdes, em Jaboatão dos Guararapes, reside na Estancia. Pe. Iranjunio é pároco na Paróquia Nsa. Sra. de Lourdes, bairro Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes-PE. Pe. Luiz Libório é professor na Universidade Católica de Per-nambuco, auxilia na formação dos postulantes e celebra aos domingos no Convento. Pe. Thiago Batista administra a Paróquia Nsa. Sra. Rainha da Paz, no município de Cabo de Santo Agostinho-PE, região metropolitana de Recife, e está fazendo um período de experiência diocesana. Pe. Henri-que segue vivendo e prestando serviços, à medida de suas possibilidades (com 89 anos), na cidade e Diocese de Flores-ta-PE. Pe. George Lourenço é pároco na Paróquia Santa Maria Madalena, de União dos Palmares-AL. Irmão Wanderson Alves colaboradora na pastoral paroquial em União dos Palmares

e é semi-liberado da província para Serviço de Animação Vocacional-Missionária, no Nordeste.

A Comunidade Religiosa Padre Berthier foi erigida em agosto de 2009 e foi remodelada a partir de março de 2018, quando os membros da então Província Brasil Setentrional foram redistribuídos nas atuais dez Comunidades religiosas que compõem a Província Brasil Meridional. E nessa nova dinâmica, a nossa Comunidade teve estendida a sua dimen-são, com vários membros morando fora da Casa Religiosa (sede) e de Recife. A atual coordenação local, da comuni-dade é: Pe. Tiaraju Dantas, superior, e os Pes. George Lou-renço e Marconi Nunes, conselheiros. A comunidade é bem heterogênea: além de seus membros viverem em 05 mu-nicípios (Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Floresta e União dos Palmares-AL), a nossa faixa etária vai dos 34 (Pe. Thiago) aos 89 anos de idade (Pe. Hen-rique Schuten). Ainda, dos dez membros que compõem a Comunidade religiosa, oito estão em atividades pastorais, religiosas e espirituais, dos quais um tem atividade pre-ponderantemente acadêmica, e dois são aposentados. Por fim, todas as últimas terças-feiras do mês a Comunidade se encontra para uma atividade formativa, cultivo espiritual e convivencia, além de organizar basicamente a vida e dina-mica da mesma.

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MISSÃO NO BRASIL

Comunidade religiosa MSF de Goiânia

Os Missionários da Sagrada Família estão presentes na região do Centro-Oeste brasileiro desde a década de 1980; hoje mais especificamente no Estado de Goiás. Atualmente a comunidade de Goiânia e formada por nove membros, os quais atuam em cinco paróquias, dentro de três dioceses. Na residência de Nossa Senhora das Dores, em Rio Verde está o Padre Enoques Martins da Rocha, acompanhado do vocacionado Wesley Araújo dos Santos; e na residência de São Francisco, também em Rio Verde, estão os Padres Mau-ro Primo Vieira e Vanderlei Souza da Silva. Em Goiânia, na casa de formação COLINA residem o Padre Léo Paulo Fiorin e o Padre Volimar Aimi. Em Caldas Novas, na residência Bom Pastor estão: Padre José André da Costa, Padre João Carlos de Araújo e Padre Paulo Gatelli, com presença constante no Santuário de Nossa Senhora da Salette. Em Guapó, na Arquidiocese de Goiânia, num período de experiência dio-cesana, está o Padre Rogério Lavisch.

Nesta região do cerrado brasileiro partilhamos as alegrias e as lutas, a coragem e a esperança, sempre presentes, do povo goiano que encontra, como expressão de fé numa re-ligiosidade muito forte, a adesão ao santuário do Divino Pai Eterno. A comunidade religiosa dos Missionários da Sagra-da Família, que hoje tem sua sede em Goiânia, está prestes

Pe. Leo Fiorin msfCoordenador da Comunidade de Goiânia

a completar quarenta anos de missão nesta região. Somos agradecidos à Sagrada Família de Nazaré por tantas graças e bênçãos nestes anos todos, muito em especial, pelo tra-balho abnegado de tantos coirmãos MSF que aqui atuaram e lançaram tantas sementes do Reino, ora a frutificar.

Hoje, seguimos desafiados a sermos Igreja em saída, nas provocações do Papa Francisco, com renovado ardor mis-sionário, dando testemunho de discípulos-missionários e religiosos consagrados à Jesus Cristo, na vida fraterna, em comunidade. O cotidiano pastoral de nossas comunida-des eclesiais, movimentos e organizações populares nos confronta constantemente e instiga a sermos presença de esperança profética ante tantos gritos e anseios por mais vida, num contexto sócio-político e econômico de exclusão. A convicção de estarmos realizando nossa vocação missio-nária, pelo chamado que recebemos, nos faz partilhar as alegrias e esperanças que brotam do Evangelho!

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Pe. Olmaro Paulo Mass msfPela Coordenação da Comunidade

de São Carlos

Comunidade religiosa MSF de São Carlos

Os Missionários da Sagrada Família estão presente, no oeste de Santa Catarina, há quase 90 anos. Atualmente atuam nas paróquias de: Maravilha (Padres Pedro Almei-da e Hilário Dewes), Palmitos (Padres Geraldo Tecchio e Armando Grützmann), São Carlos (Padres Elmar Sauer e Matias Schaefer), Saudades (Padre Neiri Segala) e Pinhalzi-nho (Padres Jacinto Birck e Olmaro Mass). A atuação pasto-ral dos MSF se dá na animação das comunidades, tanto do interior quanto da cidade, por meio do acompanhamento às diversas pastorais, das celebrações eucarísticas e sacra-mentais, das visitas aos doentes, bem como pelo trabalho Missionário com as famílias e da AMISAFA (Ação Missionária da Sagrada Família).

Um dos elementos que merece destaque é a celebração dos 60 anos da caminhada da Diocese de Chapecó, que tem uma programação especial para o ano jubilar. Com o lema “Deixemo-nos guiar pela Luz do Senhor” as paróquias es-tão realizando visitas missionárias a todas às famílias, com celebrações especiais nas comunidades visando reavivar o espírito missionário e profético. Outra atividade importan-te é a realização de encontros de formação e celebrações em preparação à 10ª Assembleia Diocesana de Pastoral que será em novembro. O novo plano de pastoral é embasado nos quatro pilares das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil - 2019-2023 (Documento da CNBB 109): da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão.

A Igreja, inspirada nestes pilares, é convidada contem-plar, discernir e deixar-se iluminar pela ação do Espírito Santo para ser mais fiel a Jesus Cristo em sua missão. Como exorta o Papa Francisco: a missão é intrínseca à fé cristã. Por

isso, a comunidade cristã deve expressar sua missionarieda-de e assim “assume os compromissos que colaboram para garantir a dignidade do ser humano e a humanização das relações sociais”. A Igreja precisa empenhar-se na evange-lização e possibilitar aos cristãos o conhecimento da Pala-vra de Deus e um discernimento crítico da realidade. Urge promover o amor fraterno e solidário numa realidade con-turbada pelas novas formas violência, diante do complexo mundo do trabalho, educação, saúde, transporte e do cui-dado com a ‘casa comum’.

Nós, Missionários da Sagrada Família, assumindo o caris-ma “estar mais perto dos que estão longe”, na realidade em que estamos inseridos, vivenciamos com o povo de Deus a própria Missão de Jesus. Na sociedade urbanizada, os desa-fios cambiam e é preciso estar atento às novas realidades e necessidades pastorais. Gratos pelo espírito missionário de tantos padres, irmãs, leigas e leigos engajados conti-nuamos, discípulos-missionários, a contemplar os sinais dos tempos, firmes no anúncio do Evangelho e impulsionando um agir solidário e comprometido com o bem-comum. So-mos gratos aos zeladores e associados da AMISAFA e todas as lideranças de nossas paróquias pela dedicação, empe-nho e zelo; bem como aos nossos missionários que buscam ser presença animadora na vida das comunidades. Deus continue abençoando a todos/as!

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MISSÃO NO BRASIL

Comunidade religiosa MSF de Porto Alegre

A Comunidade religiosa de Porto Alegre e sua história na capital do Rio Grande do Sul, porta de entrada no sul do Brasil, teve seu início a partir de 1922 com a passagem do Padre Trampe, então superior geral dos Missionários da Sagrada Família. Assumiu-se como primeiro posto missio-nário, à época, a Paróquia de Rolante-RS, em contrato assi-nado por Dom João Becker, no dia 20 de novembro de 1922.

A vida desta Comunidade religiosa carrega marcas pro-fundas da história dos Missionários da Sagrada Família, do Brasil Meridional. Nela encontramos, esta que foi citada acima e outras recordadas com os confrades que residem hoje nesta missão: a) A comunidade já acolheu o Juniora-do - estudantes de teologia - tendo um prédio para esta finalidade (posteriormente os estudos teológicos foram transferidos para Santo Ângelo e o prédio vendido); b) O Noviciado também teve sua sede em Porto Alegre por mais de 15 anos, junto à paróquia Imaculado Coração de Maria, posteriormente devolvida para a arquidiocese; c) A primeira comunidade religiosa de inserção popular dos MSF, no sul do Brasil, foi no bairro Nova Gleba, em Porto Alegre. Assim, inúmeros confrades passaram pela Comunidade de Porto Alegre e marcaram com seus dons esta missão.

Atualmente, a Comunidade religiosa é formada por qua-tro confrades MSF que vivem em duas residências paro-quiais distintas. Na paróquia Cristo Redentor, fundada em 1933 e assumida pelos Missionários da Sagrada Família em 1947, tendo como primeiro pároco o Pe Henrique Jolk. Hoje,

residem nesta Casa religiosa o Pe Marcos Bruxel, pároco, e o Ir. Irio Luiz Conti, que atua na assessoria social e como pro-fessor. É uma paróquia estruturalmente bem estabelecida, com caminhada pastoral e lideranças que cultivam a fé em meio à cultura urbana.

Já na paróquia Jesus de Nazaré - Rede de Comunidades (criada em 2001), no bairro Mário Quintana, temos a resi-dência da Comunidade Inserida São José, desde de sua origem. Atualmente os missionários, Pe. Moisés Furmann e Diác. Wilson Jorge Lamps, atuam na coordenação pastoral e espiritual das 07 comunidades eclesiais, nas diferentes vilas que constituem o bairro. A maior parte das pessoas é pro-veniente do interior (agricultores oriundos dos pequenos municípios) e deixaram seu roçado procurando melhores condições de vida na cidade. A cultura é uma mescla entre o presente (cidade) e as raízes no passado (roça); não poucas vezes escuta-se a expressão: “saímos da roça, mas ela não saiu de nós”. Vários confrades e formandos já atuaram nes-ta missão. É, também, local de acolhida aos MSF e amigos que chegam ou partem do sul para outras missões. A todos, nossas sempre boas-vindas a Casa São José!

Pe. Moisés Furmann msfCoordenador da Comunidade

de Porto Alegre

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Pe. Flávio Inácio Heck msfCoordenador da Comunidade

de Santo Ângelo

Comunidade religiosa MSF de Santo Angelo

A Comunidade Religiosa dos Missionários da Sagrada Família, de Santo Ângelo-RS, é formada, atualmente, por sete membros que residem em distintos lugares. Na Casa religiosa da paróquia Sagrada Família vivem os confrades: Pe. Inácio Dalla Nora, pároco, e Pe. Flávio Inácio Heck, vigá-rio paroquial e superior da Comunidade religiosa. Na resi-dência paroquial Santo Antônio, do bairro Pippi, está o Pe. Euclides Benedetti, pároco e vice coordenador da Comuni-dade MSF, em Sto Ângelo. Já os confrades: Pe. Viro Antônio Rauber, vigário paroquial, o Ir. Aloisio Schaefer e o Ir. João Bernardo Schaefer vivem na residência do Santuário Nsa Sra de Fátima, distrito de Buriti, interior de Santo Ângelo, a dez quilômetros de distância da cidade, onde prestam al-guns serviços pastorais e cultivam a terra. Ainda, integra a Comunidade, o Pe. Maicon Rodrigo Rossetto, que atua na docência junto à FASA (Faculdade Santo Angelense) e está vivenciando um ano específico de licença no exercício do ministério.

Os Missionários da Sagrada Família, nesta região, dedi-cam-se às atividades pastorais próprias da organização e caminhada paroquial, incentivados pelas orientações dio-cesanas, em seu plano de pastoral. Além das pastorais con-

vencionais, os MSF dedicam-se especialmente à pastoral fa-miliar, à promoção das vocações e à animação missionária. Um meio especial é a divulgação da AMISAFA - Ação Mis-sionária da Sagrada Família - com um grande número de famílias, na região, que rezam pelas vocações e contribuem generosamente para a manutenção de frentes missionárias em outras regiões do Brasil e do mundo, onde temos atua-ção missionária. Também, junto ao antigo Seminário, atual FASA, permanecem o Santuário de Nsa Sra da Salette e o ‘Campo Santo’ dos MSF, onde estão sepultados a maioria dos missionários que já partiram à Casa do Pai. Anualmente, no segundo Domingo de setembro, segue acontecendo ali a Romaria Penitencial à Mãe de La Salette, com afluência de considerável número de fiéis das paróquias que integram a forania pastoral de Santo Ângelo. A todos e todas que ca-minham conosco, em nossas comunidades, nosso carinho e prece!

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MISSÃO NO BRASIL

Comunidade religiosa do Rio de Janeiro

A Comunidade religiosa dos Missionários da Sagrada Fa-mília que está localizada no Rio de Janeiro, foi criada em 1935, com a missão de atender espiritual e pastoralmente o povo de Deus, da Ilha do Governador e da região do Cais do Porto, na arquidiocese do Rio de Janeiro. Historicamente foram atendidas três paróquias: Nsa Sra da Ajuda e São José Operário, na Ilha, e Sagrada Família, junto ao Cais do Por-to. Atualmente das duas paróquias originárias (São José e Ajuda), da Ilha do Governador, foram desmembradas várias outras, mas nós, Missionários da Sagrada Família, continua-mos na animação pastoral e espiritual das mesmas.

Hoje vivem e atuam na Paróquia São José Operário, no Jardim Guanabara, os missionários: Pe. Olavo Bremm, nasci-do em 26 de junho de 1943, na missão de pároco; e Pe. Liseu Spohr, nascido em 13 de outubro de 1953, que exerce o ofí-cio de vigário paroquial. Esta paróquia se apresenta como um amplo espaço de pastoral, com mais de 20 grupos, mo-vimentos e pastorais que dão vida, dinamismo de fé e ani-mação a uma multidão de pessoas e fiéis, que ativamente participam das comunidades.

Já na Paróquia Nossa Senhora da Ajuda, na Freguesia, Ilha do Governador, residem e atuam os missionários: Pe. Celso Sauer, nascido em 07 de março de 1955, na dupla missão de pároco e coordenador da Comunidade Religiosa MSF; e Pe. Jacob Kehl, nascido em 13 de janeiro de 1942,

exercendo o ofício de vigário paroquial, em ambas as pa-róquias, e com atuação de direção espiritual junto ao Movi-mento Matrimonial Mundial (MMM). Junto à paróquia fica o templo mais antigo da Ilha - a “igrejinha da Ajuda” - com mais de 300 anos de história; ali também por muitos anos funcionou uma Escola paroquial, hoje não mais sob nossa direção.

Além de uma diversidade de atividades pastorais e es-pirituais vale destacar que, como MSF, procuramos fazer nas duas Paróquias um constante trabalho de animação missionária. Atividades mais intensas acontecem em todas as celebrações do terceiro final de semana de cada mês, com grande mentalização e motivação específica à partici-pação na Ação Missionária da Sagrada Família (AMISAFA). Igualmente rezamos, em todas as comunidades, a oração em favor das missões e dos missionários que foi criada aqui mesmo, em nossas paróquias. Este é um modo de estar-mos unidos a todos os missionários e missionárias, que co-nosco atuam in gentes e ad gentes, vivendo o espírito de paróquias missionárias conforme pede, com insistência, o Papa Francisco.

Equipe editorial da RevistaPela Comunidade do Rio de Janeiro

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Equipe editorial da RevistaPela Comunidade de Passo Fundo

Comunidade religiosa MSF de Passo Fundo

Os Missionários da Sagrada Família chegaram a Passo Fundo-RS, em janeiro de 1929, para assumirem o atendi-mento religioso e espiritual, junto a este povo. Passados 90 anos de presença, formamos hoje uma Comunidade religio-sa bastante diversificada, que além de diversas paróquias atendeu por várias décadas a capelania do Hospital São Vicente de Paulo. Atualmente estamos na paróquia Santa Teresinha, próxima ao nosso antigo Escolasticado São José, sendo animada pelo Pe. Vergílio Moro (pároco), contando com a ajuda dos padres Claudio Haas e Alcino Maldaner (vigários), sempre que necessário. Próximo à comunidade Cristo Redentor está a Casa de Formação que acolhe nossos Postulantes (vocações adultas), onde o Ir. Moacir Filipin é o formador; além desta missão ele exerce a direção adminis-trativa do IFIBE (Instituto de Filosofia Berthier) e coordena o Projeto Transformação, entidade social de diversas congre-gações religiosas.

Integram, igualmente, a Comunidade religiosa: o Frater Igor Pereira, na coordenação do serviço de animação voca-cional-missionária da Província; o Pe. Itacir Brassiani, nosso superior Provincial; o Ir. Lauri de Cesare, conselheiro pro-vincial e ecônomo; o Pe. Lotário Niederle, vigário provincial e secretário. Estes residem na Casa Provincial e além dos serviços próprios de animação, gestão e administração das diversas instancias da Província, em seus 96 membros, nos diversos lugares onde os MSF, da Província Brasil Meridio-nal atuam, também marcam presença em vários setores da sociedade, da Vida Consagrada e da Igreja, bem como no atendimento espiritual a algumas capelanias de irmãs reli-giosas, em Passo Fundo.

Outro espaço de vivencia comunitária, desta Comunida-de religiosa, é o Lar de Nazaré; uma casa de acolhida e cui-dados aos padres idosos e enfermos. Atualmente estão os seguintes missionários: Pe. Aloísio Selau (91 anos), Pe. Arno Durian (87 anos), Pe. João Sebem (83 anos), Pe. Cláudio Haas (81 anos), Pe. Tarcísio Webber (80 anos). Também, são in-tegrantes da Casa: Pe. Rudi Hippler (83 anos), superior da Comunidade religiosa, em recuperação de processos cirúr-gicos; e Pe. Alcino Maldaner, administrador e coordenador do Lar. Neste espaço igualmente são acolhidos, tempora-riamente, os diversos MSF na missão, que necessitam de algum cuidado de saúde. Ainda, são vinculados à Comuni-dade religiosa de Passo Fundo os MSF que estão em missão na África (Mecuburi): Fr. Ricardo Klock, Pe. Firmino Santana, Pe. Celso Both e Pe. Pedro Eckert. E, soma-se a esta Comuni-dade, Dom Guilherme Werlang, bispo de Lages-SC.

Levando em conta a grande diversidade desta Comu-nidade Religiosa e para melhor viver o legado de nosso fundador, Pe. Berthier: “vivei unidos”, anualmente construí-mos um plano de Ação que ilumina e desafia a nossa ação missionária. São vários projetos, com os devidos objetivos e ações, que nos ajudam a ser presença profética “junto àqueles que estão longe”, conforme nosso carisma (At 2,39). Por isso, somos gratos por contar com as orações e a co-laboração de tantos leigos e leigas que nos ajudam a ser Igreja “em saída”, Igreja verdadeiramente missionária!

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ARTIGOS

Mt 10 e 18: uma eclesiologia missionária

Dois motivos me levam a redigir o presente artigo de Teologia Bíblica. Primeiro: complementar o ensaio anterior da revista Bertheriano sobre “Eclesiologias neotestamen-tárias” (páginas 12 e 13), ali prometido e, segundo, inserir o presente texto na temática sugerida para a edição deste número da revista, com atenção ao MME (Mês Missioná-rio Extraordinário). Espero poder conciliar meu intento com a questão da missão ad Gentes (a partir de Mateus 10) e da conversão missionária da pastoral (segundo Mateus 18). Cabe ao amigo leitor avaliar o acerto ou desacerto deste in-tento

Compreendendo o Evangelho de MateusAntes de expor a visão eclesiológico-missionária dos ca-

pítulos 10 e 18 do Evangelho de Mateus, insisto na impor-tância de observar algumas “dicas” de hermenêutica bíblica referentes a este livro - já colocadas nos ensaios “A Sagra-da Família segundo Mt 1-2” e “Teologia e estrutura de Mt 3-25”, nas edições 117 e 119 de Bertheriano.

Seu autor, um escriba judeu, ali pelos anos 85-90 dC, tal-vez em Antioquia, esmerou-se, estilística e teologicamen-te, em apresentar o Evangelho do Reino dos Céus pregado pelo Nazareno aos judeus da Galileia e da “Casa de Israel” (Mt 10,6), mas proposto a “todos os povos” (Mt 28,19). Na era sub-apostólica (no último quartel do século 1 dC), de-pois da morte dos principais apóstolos, as diferentes comu-nidades de cristãos, com seus problemas específicos, se fo-ram consolidando em torno de tradições apostólicas, nem sempre plenamente coincidentes. A tradição mateana, por exemplo, tematiza a questão da relação entre judeu-cris-tãos e gentio-cristãos, diferentemente da tradição joanina. Além da especificidade teológica (eclesiologia e cristologia) e estrutural de Mateus (utilização da tradição oral, do docu-mento “Q” e alterações ou adições feitas à fonte do texto de Marcos), é importante observar que o termo “igreja” (ekkle-sia, em grego) somente aparece no Evangelho de Mateus (16,18 e 18,17) e está ausente em Mc, Lc e Jo.

Sobre o capítulo 10Para analisar este capítulo do Evangelho de Mateus, re-

ferente ao Sermão da Missão e instrução dos apósto-los, reitero, inicialmente, o que expus no ensaio intitulado “Teologia e estrutura de Mt 3-25”, na edição 119 de Ber-theriano. Isto é: a última perícope de Mateus sobre a missão irrestrita e universal do Evangelho do Reino dos Céus (Mt 28,16-20) serve, também, de chave hermenêutica para uma boa compreensão do capítulo 10, pois, as três afirmações la-pidares ali contidas (confirmação do reinado de Jesus: “toda

a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue” [v. 18b]; evangelização missionária ecumênica: “ide e fazei todas as nações se tornarem discípulos”, [v. 19], e pedagogia da missão: “... ensinando-lhes tudo quanto vos ordenei” [v. 20a]) subjazem também na mensagem de Mt 10.

Para contextualizar, porém, esta mensagem, importa mencionar a perícope imediatamente anterior ao capítulo (Mt 9,36-38), pois, ali se acena diretamente ao campo da missão apostólica, à sua dimensão e escassez de operários: “A messe é grande e os operários são poucos” (Mt 9,37), um dos ditos genuínos de Jesus presentes no documento “Q” (quelle). A eleição dos 12 apóstolos já havia sido feita por Jesus, antes do Sermão da Montanha e após ter orado du-rante a noite para indicar a transcendência desta eleição em prol da implantação do seu Reino na terra. Lc (6,12-16) e Mc (3,14) fornecem detalhes desta eleição, omitidos, aqui, por Mt. Ao chamá-los, investe-os, de imediato, com poderes taumatúrgicos extraordinários para o exercício do ministé-rio apostólico e missionário e que ele mesmo havia pratica-do na vida pública, pelas aldeias e sinagogas.

Imbuídos destes poderes quase divinos, receberão, a seguir, normas concretas para sua missão. Mas, antes, por

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Bertilo BrodTeólogo e Professor emérito

Erechim, RS

que Jesus escolheu 12 apóstolos? Israel se propagou por 12 patriarcas que deram origem às 12 tribos. O novo povo escolhido, a Igreja, haveria de se propagar pelos 12 apósto-los, os novos patriarcas e pais espirituais do Reino fundado por Jesus. A lista que Mateus apresenta nos versículos 2-4, a despeito de pequenas divergências de nomes e de ordem, coincide com as outras listas que aparecem no Novo Testa-mento (Mc 3,16-19; Lc 6,13-16 e At 1,13).

Quais são as normas práticas recomendadas por Jesus para a missão?

Mateus aglutinou, nos versículos 5-15, um conjunto de instruções que certamente foram dadas por Jesus em ou-tras ocasiões, metodologia utilizada também no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Este rol de avisos e recomendações, encontradiços também nos outros sinóticos, mas em passa-gens dispersas, sobretudo em Lucas, se refere certamente a esta primeira missão temporal e local dos apóstolos. Já as outras partes do capítulo dizem respeito à missão universal para os sucessores dos apóstolos na construção do Reino de Deus na história. Seria importante que os missionários de hoje se debruçassem sobre cada um destes 11 versículos (por exemplo, em um retiro...) para adaptá-los à sua prática e vivência pastoral. Campo de atuação, pastoreio das ove-lhas, pregação da penitência para entrar no Reino, não visar lucro material, despojamento no vestir e no calçar, normas de hospitalidade, saudação clássica da paz doméstica e prenúncio da paz messiânica são alguns dos temas que Je-sus recomenda aos 12 apóstolos nesta perícope (versículos 5-15) e destinados à pregação aos judeus.

As instruções seguintes (versículos 16-25) são mais ge-rais e se referem ao anúncio do Reino dos Céus aos gentios, tendo como foco principal as perseguições a que serão sub-metidos os mensageiros do Reino. Os Atos dos Apóstolos comprovam-no à saciedade para a Igreja primitiva e a his-tória posterior da Igreja se caracteriza por um martirológio impressionante. São muito sugestivas as instruções dadas para enfrentar estas perseguições nesta perícope. Também aqui vale o conselho de refletir sobre cada um destes versí-culos, assim como nos seguintes (26-42), nos quais Mateus elabora uma espécie de metodologia da pregação missio-nária, a partir do contexto judaico e gentio da época. Al-gumas orientações podem soar estranhas e exageradas à mentalidade moderna – por exemplo, o sacrifício supremo dos afetos mais arraigados na natureza humana dos versí-culos 35-37. Ressalte-se que os versículos finais (40-42) são dirigidos tanto aos apóstolos missionários enviados por Je-sus como para os discípulos ordenados e aos cristãos leigos em geral, em sua ação missionária.

Em Mateus 18Se no capítulo 10 tivemos o “sermão apostólico-mis-

sionário”, em Mateus 18, lemos o “sermão eclesiológico--comunitário”, uma comunidade etnicamente mista, de

judeus e gentios. Esta comunidade cristã, em fins do século 1, se confrontou com o problema da institucionalização, do poder e da autoridade em seu seio, com seus inerentes perigos de legalismo, autoritarismo e clericalismo. Sendo o único evangelista a utilizar o termo “igreja” e apresentan-do Jesus como fundador do Reino dos Céus já presente no mundo, mas devendo sempre realizar-se até sua plenitude escatológica na Parusia, Mateus, perspicazmente, anteviu a possibilidade de a Igreja se transformar numa entidade regida por princípios sociológicos, numa instituição equi-parada às sociedades culturais estruturadas.

Mateus admite a instituição, a lei e a autoridade, des-de que a voz e a pregação de Jesus não sejam abafadas e mantenham sua normatividade permanente. Esta norma exemplar é explicitada na resposta à pergunta dos discí-pulos sobre quem seja o maior no Reino dos Céus. O sis-tema de valores dos reinos deste mundo não prevalece na Igreja-reino, mas o exemplo da criancinha, não por esta ser romanticamente ingênua, amável e inocente, e sim, por ser indefesa e destituída de poder. Aos olhos de Jesus - e de Mateus - não é o poder e a autoridade, mas a falta de poder e de autoridade que tornam alguém grande no Reino dos Céus. Os primeiros cinco versículos deste capítulo trazem à baila este paradoxo, quase uma anomalia da comunida-de eclesiológica cristã: a mensagem de um Jesus não-ins-titucional pode ser garantida através de uma instituição eclesial! Para ser grande no Reino transcendente de Deus é preciso ser pequeno e o poder instituinte e instituído da autoridade deve ser como o não-poder da criança. Os te-mas do escândalo, (versículos 6-9), mais atual do que nun-ca, da ovelha perdida (versículos 10-14), da reconciliação (versículos 15-18), da oração comunitária (versículos 19-20) e da “não-matematização” do perdão ao irmão (versículos 21-35) constituem normas internas ao regime e governo da “instituição-Igreja”. O Jesus de Mateus definiu como pecado imperdoável a incapacidade de perdoar.

Sem dúvida, estes temas de Teologia Bíblica de Ma-teus 10 e 18 merecem uma reflexão continuada, máxime em tempos em que nos defrontamos com dois projetos de Igreja. De um lado, uma “Igreja em saída” e à busca de uma nova inculturação sinodal pan-amazônica e, de outro lado, uma absurda tentativa de restauração ultramontana e triunfalista de Cristandade, expressa em dardos de “dúbia” lançados até por cardeais e bispos togados clericalmente (sem falar do escandaloso abraço de “cristãos” brasileiros, clérigos e leigos, à ideologia e política bolsonarianas!).

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Prof. Rafael RossettoMestrado em Gestão de Políticas Públicas e

Diretor da FASA - Santo Ângelo, RS

Prof. Pe. Maicon Rodrigo Rossetto msfDoutorado em Fil. Política e professor da FASA)

Santo Ângelo, RS

ARTIGOS

Mudança de paradigma!O filósofo grego, pré-socrático, Heráclito, tinha razão.

Sua grande tese foi que “tudo muda”, ou seja, “tudo é mo-vimento”. Tendo essa tese como base, vamos, neste artigo, analisar mudanças de paradigmas adotadas pelo ser huma-no. Para isso, o objetivo principal deste texto é refletir de maneira crítica sobre mudanças pontuais tomadas pelas pessoas nos últimos tempos.

Os tempos mudaram. As pessoas mudaram.Na antropologia medieval, o grande valor era dado à

santificação da alma. Todos lutavam incansavelmente para salvar sua alma. O corpo era exclusivamente uma morada da alma, pois só a alma era valorizada.

Os tempos mudaram. As pessoas mudaram. Tudo mu-dou, inclusive a compreensão que se tinha de corpo e alma. Pois bem: hoje percebe-se que quase não se fala em alma. O corpo é o principal “instrumento da sociedade moderna” e contemporânea. É dele que se fala. É com ele que nos preo-cupamos. É ele que merece ser “santificado” com silicone, anabolizantes, potes enormes de proteínas e suplementos musculares e adorado pelos “deuses” do mercado; santifi-cado pelas redes sociais, pelos seguidores e seguidoras de suas contas particulares, onde os amigos são milhares e as curtidas servem de incentivo, mesmo que sem filtro algum, simplesmente para inflar o ego. Isso tudo porque a sexua-lidade é uma energia desviada para as estratégias do mer-cado e do consumo: acoplada aos produtos do mercado, através da erotização e da fetichização.

Geração em pleno naufrágioO processo da mudança de paradigma traz consigo a

privatização do corpo, dos sentimentos e, principalmente, da mente. Isso se manifesta de modo especial na fácil troca de ideias, efetuadas pela atual “geração coca-cola”. Aqueles projetos de vida pelos quais as gerações anteriores luta-vam, jogamos fora com tantos sonhos, utopias, sacrifícios e ideais. E a imagem altiva de Jesus de Nazaré, de Nossa Senhora (Aparecida, Fátima, Salette), de Ayrton Senna e de Che Guevara que iluminavam os quartos de muitos, foram trocados, pelas figuras do jogador de futebol Neymar, da cantora Anitta ou do pseudo “fenômeno intelectual” Ale-xandre Frota.

A mudança foi tanta que os ideais e costumes da gera-ção passada foram esquecidos. Hoje, detesta-se política, se “queima fumo”, se gasta mais em pílulas de emagrecimento do que em livros e, em termos de academia, só se conhece as de ginástica, onde o culto ao corpo compensa a atrofia do cérebro.

Seria esta uma geração em pleno naufrágio - ou, como predisse Heidegger, caminhando por veredas perdidas -

pois dá mostras que está sem um porto que lhe sirva de horizonte e chegada. Ficam, eticamente, como navios em alto-mar: o importante é garantir, ainda que momentanea-mente, não afundar, bailar sobre as águas, dançar na mais pura liberdade, no vazio... Flutua-se no vazio de qualquer determinação sólida, e pode-se fazer conexões, assumir compromissos, propor pactos experimentais, sem que nada seja definitivo, pois toda experiência é reversível.

O artificial é melhor que o natural?!O vazio confunde a realidade com a imagem, com o si-

mulacro, graças à enorme ajuda da técnica. A fotografia é mais bonita do que a própria cara! A face “produzida” é mais atraente do que o rosto desnudado. O artificial “é me-lhor” do que o natural. O sintético é mais funcional. A atriz famosa - que é inatingível - é mais amável do que a vizinha. Com isso, caem as fronteiras entre a realidade e o mundo da imagem. A palavra é substituída pela imagem e entra--se num mundo mágico e fantástico, onde toda construção virtual é possível. Na verdade, o virtual é mais real do que o próprio real duro, verdadeiro.

Com o vazio de projetos, de lutas, de utopias e estraté-gias para alcançar os valores, os fins para onde indicavam os projetos da Modernidade ficam sem fundamentos éticos. Então, troca-se o ético pelo estético, do corpo.

Resta-nos lançar uma pergunta e uma pista para refletir sobre a ótica que temos hoje em relação ao corpo do ser humano: qual a solução para a desagregação das relações humanas e para a comercialização do sexo e do corpo? Uma das luzes para reavaliar essa problemática é, sem dúvida, iniciar uma nova valorização da educação para as novas ge-rações. Educar é forjar o novo, e o novo que tenha presente que todo ser humano precisa ser sujeito histórico, inego-ciável e irrepetível, não manipulável, e, não um objeto de comércio.

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PRÓXIMOS DAQUELES QUE ESTÃO LONGE

MISSIONÁRIOS DA SAGRADA FAMÍLIA

PROVÍNCIA BRASIL MERIDIONAL

Somos uma Congregação Religiosa Missionária, formada por missionários padres e irmãos, no mundo e para o mundo. Nosso carisma é missionário com ênfase na animação missionária, vocacional e no servi-ço às famílias. A Província do Brasil Meridional atua em várias frentes missionárias: Amazonas, Moçambi-que e Bolívia. Estamos nos meios populares e animamos a Pastoral Paroquial (RS, SC, GO, RJ, AL, PE, RN). Nossa formação inicial acontece em: Goiânia, Passo Fundo, Recife, Santiago no Chile e Belo Horizonte. Temos consciência de que as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos empobrecidos e de todos aqueles que sofrem, continuam nos motivando para sermos próximos daqueles que estão longe.

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MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR

Características de uma espiritualidade missionária madura - No contexto da conversão de Jonas

Jonas foi um profeta que insistentemente fugiu dos de-sígnios de Deus, demonstrando ser uma pessoa egoísta e muito preocupada consigo mesma. Focado em garantir a manutenção de seu credo, Jonas não permitia que outros também pudessem saber das maravilhas que Deus reali-zava. Entretanto, Deus não se resignou às delimitações do profeta e demonstrou que é misericordioso e que sua Pa-lavra deve chegar a todos, até aos inimigos mais perversos - como era o caso dos ninivitas, inimigos do povo de Israel. Nós, como missionários, não podemos ser egoístas, precisa-mos deixar que todos e todas encontrem e se maravilhem com Deus, deixando-nos ser verdadeiros instrumentos de Deus.

Presença de Deus em meio ao mundoDeus sempre esteve presente na vida de Jonas, mesmo

quando ele estava no encontro mais íntimo consigo mes-mo, dentro do ventre do grande peixe. Assim sendo, é ne-cessário que compreendamos que Deus também sempre se encontra ao nosso lado, ao lado de todos, independente-mente do seu credo, da sua orientação sexual, cor ou etnia. Neste sentido, este texto vai nos ajudar a compreender a importância de uma espiritualidade enraizada na missão, que vai ao encontro dos mais necessitados e busca fazer do amor e do diálogo as bases da relação. Para os cristãos, o que proporciona essa relação é o Espírito Santo. Ele é a amizade e o amor, que faz com que nos sintamos unidos com o Pai e o Filho. O Espírito jamais trabalha para si, mas sua missão é impregnar o cristão de sua presença para que ele se abra para a relação com o Pai e o Filho. (CARRARA, 2014 p. 271.).

A ação do Espírito SantoQuando nos deparamos com pessoas que não são cris-

tãs, o Espírito deve continuar agindo em nós, fazendo de nós seres relacionais, pautados pelo amor e comunhão. Não basta simplesmente irmos todos os domingos na Igreja. É necessário que nossa ação seja de coração e com a consciência da responsabilidade de cativar alguém. Não podemos esquecer que as nossas atitudes devem ser para agradar a Deus e não aos homens. Gritar para todo mundo quando fazemos uma boa ação, ou quando estamos rezan-do, será pura hipocrisia, se não deixarmos os outros fazer

seu encontro pessoal com Deus. É que somos aquilo que dentro de nós Deus vê, e não o que aparentamos ser.

A partir do nosso coração que devemos praticar a nossa espiritualidade. Jonas se preocupava em demonstrar aos outros a sua religião e a sua forma de orar e crer; numa es-piritualidade missionária o externo sempre necessita surgir do coração. Somente podemos entregar algo aos demais quando o nosso coração estiver repleto. Desta maneira nos perguntamos o seguinte: se somos cristãos, como pode-mos enjaular Deus dentro de nossos preceitos e con-ceitos? Pois ser cristão é ser universal: tudo que se relaciona com a nossa religião cristã, automaticamente se relaciona com toda a humanidade.

A Palavra deve chegar a todosDe fato, nossa missão primeira, é universal. Devemos

nos direcionar a todos para levar a liberdade da Boa Nova de Deus. Aumentar o número dos cristãos não é o objetivo da espiritualidade missionária, mas, sim, levar o amor e as maravilhas de Deus para os quatro cantos do mundo. Que ecoem as palavras que libertam e que devolvem a digni-dade de ser humano a todos aqueles que, por um motivo ou por outro, a acabaram perdendo - talvez porque lhes foi roubada.

Ao olhar para o profeta Jonas, sente-se a falta dele em ser instrumento de Deus. Incessantemente foge da palavra de Deus e, quando a cumpre, não lhe agradam os resultados; somente quer a destruição daqueles que são contrários aos seus pensamentos. Como cristãos, somos chamados a ser instrumentos divino, a levar o anúncio de Cristo, sua vida

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Fr. Ricardo Klock msfMissionário em Mecuburi e Formador

Nampula, Moçambique

e suas ações àqueles que estão aprisionados pela lei e que se encontram, às vezes, abaixo do jugo que a própria Igreja colocou. Pois, em muitos momentos, só se preocupa com a doutrinação de todos e não se olha para a vivência das comunidades, principalmente para a sua pluralidade. Esta pluralidade é a riqueza da qual a espiritualidade missioná-ria não pode prescindir. Todas as formas de expressão têm algo a contribuir na forma de anunciar a misericórdia de Deus; independente da forma como Ele é denominado ou adorado. Estamos constantemente em contato com essa pluralidade. Surgem conflitos? Sim! Entretanto, até mesmo eles devem ser fonte de crescimento, principalmente do respeito.

Uma Igreja em SaídaUrge a necessidade de sairmos, como papa Francisco

tanto nos interpela: necessita-se de uma “Igreja em saí-da”, que vá às margens da sociedade e das convivências. É necessário desatar os nós, quebrar as correntes que aprisio-nam a nossa espiritualidade simplesmente às doutrinas. É de suma importância não ficarmos somente no ativismo re-ligioso. A espiritualidade missionária requer oração e ação: estes dois elementos devem ser realizados conjuntamente com as pessoas que buscamos libertar.

No tempo em que vivemos há uma lacuna muito gran-de quando nos aproximamos da relação das pessoas com Deus. A sede por esse preenchimento cresce a cada dia, porém, o que é oferecido para saciar essa sede é muito pre-cário. Estamos somente oferecendo um lado: a oração ou a ação. Temos a difícil tarefa de incrementar nosso atuar com o nosso orar - e vice-versa. Surgem cada vez mais correntes de espiritualidade nesse mundo sedento, mas, muitas de-las, mais aprisionam do que libertam, acabam sendo farisai-cas e boicotam a liberdade das pessoas.

Necessitamos incentivar ainda mais os grupos e comu-nidades para que neles exista um trabalho missionário, nos quais a centralidade seja a oração e a caridade, tendo sem-pre presente que existem pessoas que passam por grandes necessidades, sejam espirituais ou materiais. É com todas elas que o missionário deve se preocupar, e a partir disso amadurecer a sua espiritualidade.

Quatro experiências missionáriasNão é um processo fácil o amadurecimento espiritual.

Percebemos isso com a história de Jonas: é uma instabi-lidade constante. Porém, Deus sempre estará presente, impulsionando-nos através do Espírito Santo. Há quatro experiências que os estudiosos nos propõem e que devem ser alcançadas pelo missionário - para que depois ele possa fazer com que outras pessoas cheguem a fazer o mesmo processo, pois um missionário também é um mistagogo, um catequista, que leva aos outros ao encontro com Deus.

A primeira é a experiência com Deus. O missionário ne-cessita perceber a presença de Deus na criação. Como tam-

bém nos momentos mais silenciosos, quando pensamos que Deus não está conosco, é necessário fazer essa expe-riência de sentir Deus próximo, para que se possa iniciar um diálogo com Ele. A segunda experiência é a do diálogo: é preciso que o missionário reconheça a sua pequenez, mo-mento no qual se deve deixar de lado toda a soberba e to-dos os preconceitos. É pela experiência da alegria e da es-perança que o missionário consegue forças para continuar seu serviço. Por fim a experiência de ser bem-aventurado é saber que a entrega para ser um operário na messe do Se-nhor sempre vale a pena. Por mais que existam dificuldades e até sofrimentos, o misericordioso Deus sempre nos acom-panha, da mesma forma que acompanhou o teimoso Jonas, os marinheiros desesperados e os habitantes arrependidos.

Todas essas experiências que elencamos acima devem ser muito abrangentes, e não ser limitadas somente aos cristãos, ou àqueles que pensam da mesma forma que nós. A experiência com o transcendente pode, e deve ser feita por todos, pois é a própria experiência espiritual que faz o papel de libertar cada mulher e cada homem de suas prisões. Não há como julgar as experiências que cada um tem, pois são pessoais e íntimas. Reconhecer que a espiri-tualidade missionária liberta a todos faz com que a Igreja seja mais aberta e inclusiva. A missionariedade faz com que saíamos ao encontro, e, portanto, é preciso estarmos reple-tos de atenção, de escuta, de amor, de caridade e de per-dão. É preciso tomar cuidado para não separar a nossa ação da nossa oração, ambas caminham juntas e se complemen-tam. Partir em missão e oração, estar ao lado daqueles que são excluídos, daqueles que têm os seus direitos e sua voz arrancados, esse é o papel de cada um de nós. A espirituali-dade missionária nos impulsiona e dá força para fazermos a experiência de Deus e a ajudar que outros a façam também.

Muitas vezes os que são considerados os menos prepa-rados, são os que manifestam as maiores experiências de diálogo com Deus. Os que são excluídos em nossas socieda-des: pobres, mulheres, negros, homossexuais, entre outros grupos, encontram-se nessa liminaridade, entre o desam-paro e o estar livres para o diálogo. Desta forma, encontram se livres para fazer a experiência de encontro com Deus. De-pois, entram num diálogo sincero com Deus, com o grupo em que convivem, pois possuem um elo muito forte. Esta união deve gerar a alegria. Como missionários, devemos fa-zer essa experiência alegre e esperançosa juntamente com esses grupos e assim, finalmente, os excluídos poderão se sentir bem-aventurados - pessoas agraciadas por Deus. É a partir dessas experiências que a espiritualidade missionária leva à inclusão e a liberdade a todos aqueles que, de uma ou outra forma, a perderam ou foi-lhes arrancada.

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Pe. Marcelo Junior Klein msf Administrador Paroquial e Formador

Recife, PE

Discípulos-missionários, plenos de vida e de alegria

Seguir Jesus implica, segundo os evangelhos, em “re-nunciar a si mesmo, tomar a cruz” e colocar-se numa ati-tude de saída, isto é, de anúncio e vivência do Evangelho. Para isso, o próprio Senhor nos chama, instrui e envia para a Messe carente de servidores e, consequentemente, sedenta do amor que é o fruto da vivência da missão.

A missão gera a Igreja e a Igreja existe para a missão (EG 17a, 24,46). Existe para viver o amor, servindo a todos a exemplo do Mestre que, no contexto da última ceia, nos ensinou o que é amar, lavando os pés dos discípulos, dando um exemplo de como devemos viver a missão e, acrescen-tando: “sereis felizes se o colocarem em prática” (Jo 13, 15).

Amor que desafiaDesse chamado brota o amor para a vivência da missão.

Em primeiro lugar, esse amor nos desafia a transformar não as estruturas, mas as pessoas, como aponta a V Conferência de Aparecida, desafiando a Igreja – Povo de Deus - à con-versão pessoal e pastoral, apontando para a necessidade de deixarmos de lado uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária (DA 370). Lembra também a necessidade de transformar os “cristãos tradicio-nais em discípulos missionários”.

O primeiro passo para esse itinerário pastoral é a “forma-ção” desses discípulos missionários para que a Igreja este-ja em “estado permanente de missão”. O próprio Jesus, no evangelho do envio dos 72 discípulos (Lc 10), nos mostra essa pedagogia: Ele chama, forma/instrui e envia para se-rem seus colaboradores na vivência dessa missão.

Os frutos da missãoOs frutos dessa vivência missionária são abundantes. Os

discípulos voltam alegres e satisfeitos com a missão realiza-da. Os resultados desse ministério trazem alegria e credibi-lidade à Igreja: “Nisso conhecerão que sois meus discípulos” (Jo13, 35).

Atualmente, Papa Francisco convida todas as pessoas a serem ousadas na vivência deste chamado e desta missão. Desafia a Igreja a repensar as estruturas, horários e o mé-todo da ação evangelizadora (EG, n. 33). Propõe que viva-mos a missão de maneira simples, acolhedora e samaritana. Anunciando Jesus com a alegria e nunca com cara fúnebre.

Portanto, viver a missão nos faz discípulos missionários plenos de vida e de alegria. Nos dá a firme certeza de estar-mos no caminho certo: o caminho do Mestre que nos dei-xou como grande testamento a vivência do mandamento do amor que nos faz suas testemunhas.

Como já dizia Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos, que nos levam sem-pre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. Façamos essa travessia! Vivamos o amor! Vivamos a Missão!

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MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR

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Pe. Vergílio João Moro msfPároco da Paróquia Santa Teresinha

Passo Fundo, RS

Missão ad gentes: superando modelos

Toda a religião tem uma característica sem a qual ela não se mantém. Ela é nômade, ela é peregrina, ela tem em mira sempre uma nova geografia, como a judaico-cristã, que chama de “Terra Prometida”, ou “Novo céu e Nova Terra”.

Ouso afirmar que não é só o caso das religiões. A mobili-dade é a base do, historicamente, existente. Requer acam-pamentos, tendas e não casas e cidades estabelecidas.

Outra marca das religiões está na sua pretensão univer-salista. Todas querem chegar “até os confins da terra”. Para tanto, terão que estar sempre de prontidão, ou em estado de saída - mesmo porque passam pelo risco de perder o posto ao fixar-se, nesse ou naquele espaço.

Outro ponto que se remete a todas é a questão dos “Agentes Históricos” - necessários à missão. Tirá-los de onde? Como chamá-los? Como enviá-los? Para onde en-viá-los? Por quem são chamados e enviados? A quê e para quem são enviados?

No caso histórico do cristianismo que está na América La-tina, temos que ter em mente, que a cultura ocidental foi o “navio” transportador dos missionários - católicos e outros. Talvez caiba bem o termo “transplante”. O transplante não precisa de acréscimos. Já vem com todos os ingredientes. A modernidade dirá que vem tudo no mesmo pacote. Antes, prefere tomar o espaço do outro. Busca matar os seus ídolos e apagar os seus símbolos.

Porém, os mitos são os que mais resistem à invasão. E é por esse viés que, de tempos em tempos, surgem as insur-reições - como um fogo que, estrategicamente, reascende sob as cinzas amenas.

Vejamos a reestruturação das províncias dos Missio-nários da Sagrada Família, na América Latina: a princípio, viemos no mesmo navio cultural dos impérios ocidentais, pontuados acima. Aqui chegados, a grande maioria de nós, não desembarcamos dos navios europeus.

A unificação em andamento estaria ajudando para trocar de nave? O Mês Missionário Extraordinário (MME), previsto para outubro de 2019 e o Sínodo da Amazônia, programa-do para a “Roma Eterna”, seriam o trampolim para a “Nova Terra e Novo Céu”, sem precisar descarregar as velhas e pe-sadas malas?

Mais um Capítulo Geral MSF a realizar-se, também, na antiga Roma, poderia abrir perspectivas para a missão, toda ela em outros areópagos, que não seja a da conquista, da supremacia cultural ocidental? As inumeráveis missões,

religiosas e outras, estariam focadas na única e definitiva Missão de Cristo, o Missionário do Pai?

As perguntas que surgem, dizem de nossas tantas in-quietações e de nosso permanente peregrinar, saindo do egoísmo, para estar inclusos na grande e única família do Povo de Deus.

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Rafael Zanetti de FreitasBacharelando em Filosofia

Poços de Caldas, MG

Fr. Ricardo Klock msfMissionário em Mecuburi e Formador

Nampula, Moçambique

A missão, a partir de “O Pequeno Príncipe”

Por estes dias, estava relendo uma vez mais o livro O Pequeno Príncipe - tido por muitos, como um livro para crianças. Ah! Se percebessem o que realmente este livro tem a nos ensinar. E foi assim, neste pensamento, que per-cebi que cada planeta que o Pequeno Príncipe visita pode ser o estereótipo de um “ser” missionário - pois em cada planeta só vive uma pessoa. O Pequeno Príncipe visita os planetas: do rei, do vaidoso, do bêbado, do empresário, do acendedor de lampião e, por fim, o do geógrafo. Gostaria muito de contar a história de cada uma dessas persona-gens, porém isso estenderia por demais o meu artigo. Por isso, peço: leiam a história que Saint-Exupéry escreveu.

Diferentes missionáriosNo primeiro planeta, encontramos um velho rei sentado

sobre o seu trono, vestindo sua longa capa e segurando seu cetro. Este rei representa o missionário que crê no seu pró-prio poder, que consegue controlar tudo e a todos ao seu redor. Entretanto, nunca saiu do seu mundo, nunca partiu para “as terras distantes”, alegando problemas de idade, de saúde, de precariedade estrutural. Mas, mesmo assim, crê que consegue manipular a todos. Não podemos ser um missionário assim.

No segundo planeta está o vaidoso, um homem que gosta de aplausos e que o admirem. Um missionário que quer aplausos e holofotes não está realizando o seu traba-lho em amor ao Reino de Deus. Esquece-se por completo que o “missionário do Pai” nunca quis as atenções voltadas para Ele, nem queria se sentar nos primeiros lugares. Entre-tanto há muitos missionários que só estão onde os holofo-tes estão. São colecionadores de “missões”.

O bêbado é o habitante do terceiro planeta. Um homem que bebe por ter vergonha de beber. Assim são muitos missionários que possuem vergonha, medo do desafio de partir em missão. Estão numa contradição muito grande: são missionários, mas não querem ir para a missão! Não po-demos ser “mornos” enquanto a nossa vocação de sermos missionários, devemos ser quentes e calorosos desempe-nhando a nossa missão.

O planeta do empresário que somente vive fazendo coi-sas sérias e administrando os seus bens. Não podemos ir para a missão e aborda-la simplesmente como uma empre-sa que deve ser gerida e dar lucros. A missão é um arriscar tudo, da mesma forma é seguir Jesus, devemos arriscar tudo por Ele. Na missão não há recompensas de bens, entretanto há muito amor, esperanças e trabalho compartilhado com o povo que convivemos. Somente administrar, contanto e

recontando os nossos “lucros”, não permite percebermos a verdadeira riqueza da missão.

Seguir cegamente as regras: eis o problema do acende-dor de lampiões - o habitante do próximo planeta na nossa jornada. Um missionário deve estar disposto a questionar certas estruturas, sejam elas sociais, políticas ou eclesiais. Quem se dispõe a missão deve ajudar a transformar a vida das pessoas para melhor. Mesmo que para isso precise des-cumprir algumas regras vigentes. Torna-se necessário ser um questionador, em alguns pontos até impertinente. Pois como missionários não podemos simplesmente nos preo-cuparmos com a nossa missão. Precisamos olhar o entorno e deixar plantadas as sementes da transformação, mesmo que, para isso, não sigamos estritamente todas as regras.

Chegando quase ao fim de sua jornada, antes de chegar a Terra, o pequeno príncipe chega ao planeta do geógrafo. Um planeta grande, onde somente há uma mesa e um ido-so. Este homem registrava tudo o que os exploradores con-tavam a ele, entretanto, ele não saía de trás de sua mesa. Há muitos missionários assim: querem saber de tudo que passa na missão, mas nunca se desafiam a conhecer as “ter-ras distantes”. Além de buscarem saber tudo sobre a missão pelos missionários, ainda controlam tudo que acontece na missão. Somente são fiscais.

O único exemploPoderia faz inúmeras outras comparações de outros ti-

pos de missionários que existem e que não seguem os pas-sos do “missionário do Pai”: Jesus Cristo. Este é o verdadei-ro e único exemplo que devemos seguir para cumprirmos exemplarmente a nossa missão. É necessário que saiamos detrás das nossas mesas, das nossas secretarias paroquiais e nos lancemos “em águas mais profundas”. Nós mesmos de-vemos nos desafiar e dedicar parte de nossa vida à missão. É uma experiência que todo Missionário da Sagrada Família deveria fazer. Se não o quisermos fazer, por que pertence-mos a uma congregação missionária, fundada para enviar “trabalhadores à messe” nas missões ad gentes?

MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR

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Fr. Igor Pereira dos Santos msfServiço de Animação Vocacional e Missionária

Passo Fundo, RS

“De todas as crianças e adolescentes do mundo: sempre amigos!”

Neste ano, o Papa Francisco instituiu, para outubro, o Mês Missionário Extraordinário. E, por isso, não pode-mos deixar de falar de uma obra missionária que se dedica à evangelização de crianças e adolescentes: a Infância e Adolescência Missionária (IAM). Fundada por Dom Car-los Forbin-Janson, Bispo de Nancy, no dia 19 de maio de 1843, em Paris, na França, recebeu, como primeiro nome, “Santa Infância” - hoje Infância e Adolescência Missionária - porque a característica da Obra seria, justamente, a infância dos países cristãos, ajudando a infância dos países pobres de recursos humanos e pobres por não conhecer a pessoa de Jesus Cristo.

Sobre o seu fundador O seu fundador, Dom Carlos Forbin-Janson, sempre se

interessou muito pela realidade e evangelização dos povos. Já na adolescência, manteve estreita ligação com os missio-nários da China. Seu desejo era ir à China e ser missioná-rio com os missionários. Tendo em sua posse informações a respeito do sofrimento de milhares de crianças, o bispo teve a inspiração de convocar as crianças católicas para se organizarem com o objetivo de prestar socorro às crianças nas mais tristes situações.

Era preciso fazer alguma coisa: Dom Carlos Forbin-Jan-son resolveu convocar as crianças para socorrer as crianças. Propôs às crianças da França que ajudassem outras crian-ças, recitando uma Ave-Maria por dia e doando um dinhei-ro por mês. Assim surgiu a Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária. Era, sem dúvida, a primeira vez que na história da Igreja se confiava às crianças um papel missionário específico: salvar as crianças inocentes, para fa-zer delas pequenos discípulos missionários.

Embora a Obra tenha nascido para socorrer a triste situa-ção das crianças chinesas, logo ela se orientou para o apos-

tolado universal. Um plano ambicioso, este de pretender prestar todos os socorros materiais, morais, intelectuais e religiosos que requerem as crianças de qualquer lugar, cul-tura, raça e crenças.

Objetivo: Espírito missionário em criançasSua finalidade é suscitar o espírito missionário universal

nas crianças, desenvolvendo-lhes o protagonismo na soli-dariedade e na evangelização e, por meio delas, em todo o Povo de Deus: “Crianças ajudam e evangelizam crianças”. São crianças em favor de outras crianças. Tomando como exemplo a vida de Jesus e de seus discípulos, a Infância Mis-sionária tem em Maria, a mãe de Jesus, uma fiel testemu-nha da autêntica ação evangelizadora. Inspira-se também em São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Je-sus, Padroeiros das Missões. Ambos viveram ardentemen-te o carisma missionário universal, doando suas vidas pelo anúncio do Evangelho.

Esta Pontifícia Obra Missionária, para a evangelização de crianças e adolescentes, é uma grande riqueza para Igreja, pois ajuda a cada pequenino/a a ter um outro olhar sobre a realidade que o cerca, a cultivar uma espiritualidade en-carnada no chão da vida, provocando mudanças na família e na sociedade e celebrando, em grupo, a vida de todas as crianças do mundo inteiro.

Desta forma, a IAM suscita o espírito missionário univer-sal entre as crianças, coopera espiritualmente com orações, sacrifícios e testemunho de vida e Desperta e fortalecer as vocações missionárias, anunciando Jesus Cristo aos que ain-da não o conhecem.

Que Santa Teresinha do Menino Jesus e São Francisco Xa-vier, abençoem cada criança missionária, tornando-as fieis discípulas na causa do Reino de Deus e na evangelização de crianças e adolescentes e, que, juntas possam cantar com alegria: Vida abundante ao mundo ofereço, quero acender a chama do amor. Sou missionária e mesmo pequena, sirvo alegre ao Reino de Deus.

De todas as crianças e adolescentes do mundo: sem-pre amigos!

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Wanderson Roberto Trigueiro da Silva Postulante MSF e Bacharelando em Filosofia

Recife, PE

Ser Igreja missionária, hoje!

Novamente Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu envio vocês”.

(Jo 20,21)

A Igreja alcança sua plenitude em Pentecostes - quando a atividade missionária é instituída permanentemente como mandato do Senhor. É no dia da solenidade de Pentecostes que Cristo diz, no Evangelho segundo São João: “Como o Pai me enviou também eu vos envio”. O verbo, conjugado no passado, indica que Cristo completou a sua missão neste mundo, mas deixa para os seus discípulos a maior respon-sabilidade: a de O imitar, por excelência, e levar a Boa nova do Reino, aos confins do mundo.

Entretanto, a missão nos é imposta não como fardo pesa-do, mas como ato de amor por Ele, o Ressuscitado, que vive e nos garante que ficará conosco e que, apesar de não ser fácil, Ele não nos abandonaria, mas, pelo contrário, enviaria o Paráclito. Neste sentido, o decreto Ad Gentes diz:

“[...] próprio Cristo, que foi enviado a evangelizar os pobres, a Igreja, movida pelo Espírito Santo, deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência,

do serviço e da imolação própria até à morte, morte de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição. Foi assim também que todos os Apóstolos caminharam na esperança comple-tando com muitas tribulações e fadigas o que faltava aos trabalhos de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja.”

Assim, a missão proposta pela Igreja, é levar o Cristo Je-sus ressuscitado aos que não o conhecem e manter viva a fé neste mesmo Cristo. Todo fundamento do cristianismo é imitar o Seu mestre, e imita-lo na sua Humanidade, pois Ele se fez Homem por nós. Isto confirma o evangelista São João: “[...] e o Verbo se fez carne”.

Neste cenário, em toda a Igreja, o sentido missionário é levar o fundamento de tudo, Jesus Cristo. Sem Ele nada pode ser feito. Isto é uma obrigação! Primeiro, conhecer o Senhor, conhecer a Igreja e dar razões à fé que adquire. Como diz Santo Anselmo: “Credo ut Intelligan” - crer para entender. E, assim poderá ser um bom missionário.

Há, também, os carismas. “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem co-mum” (1 Cor 12,7) Cada carisma é um modo de atividades em prol do único Deus e da comunidade eclesial. Deste modo, o quarto capítulo da Ad Gentes nos fala:

“E assim, todos os missionários sacerdotes, irmãos, irmãs, leigos sejam preparados e formados, cada qual segundo a sua condição, de maneira a estarem à altura das exigências do trabalho futuro. Já desde o começo, de tal modo se pro-cesse a sua formação doutrinal, que abranja tanto a univer-salidade da Igreja como a diversidade das nações. [...] como das disciplinas úteis para o conhecimento dos povos, das culturas, das religiões, com vistas não só ao passado, mas também ao tempo presente. Aquele, pois, que é destinado a outra nação, tenha em grande apreço o seu patrimônio, língua e costumes.”

Assim, o caráter missionário é feito com caridade evan-gélica, respeito e consciência de que tudo é para Cristo, em gratuidade, generosidade e amor. Também, o decreto Ad Gentes propõe os dons, os carismas, as formas de expres-são como sendo o conteúdo da missão e concorrendo para a santificação da vida. E deste modo, que ninguém possa ficar excluído da missão.

Conclui-se, portanto, que missão é muito abrangente, árdua e santificadora. É o objetivo da Igreja que busca levar Cristo a todas as criaturas, indistintamente, pois Deus, de variadas formas se revela a todos, tendo-nos como instru-mentos, através da missão recebida do próprio Jesus.

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MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIR

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José Marcos de SouzaMinistro da Eucaristia e membro do CAE

Paróquia Nsa Sra da Conceição - Recife, PE

O missionário é um sinal vivo da presença de Deus

Como um cristão leigo, sinto que desde o batismo somos convocados pelo Espírito Santo a ser um agente transfor-mador e um sinal vivo da presença de Deus nas diversas situações e realidades onde estamos inseridos. Essa trans-formação passa pela família (igreja doméstica) e é no seio dela que a vocação é alimentada.

Família: berço da féMeu nome é José Marcos, tenho 53 anos, sou casado há

29 anos e tenho dois filhos. A minha trajetória como cris-tão começa com a influência dos meus pais que, apesar de pouca leitura, sempre mostraram o caminho de “ser Igreja”, através dos sacramentos. A minha caminhada se intensifica quando eu e minha esposa participamos do Encontro de Casais com Cristo (ECC). Desde então, fomos crescendo espiritualmente na comunidade cristã e através do engaja-mento na Pastoral Familiar, Pastoral do Batismo, palestras em cursos de noivos e crismandos. Há três anos venho tam-bém servindo a Deus, junto com minha esposa, como Mi-nistro Extraordinário da Comunhão (MECE).

Leigos: impulsionados a viver a “Igreja em saída”Acho divino e me encanta saber que a condição batis-

mal, muito bem descrita na “Lumen Gentium” nos garante esta plenitude. O Concílio Vaticano II afirma que os leigos não estão sós e que sua missão não é em vão e, com a publi-cação da encíclica “Evangelii Gaudium”, do papa Francisco, somos impulsionados a viver e a ser uma “Igreja em saída”. Francisco também pede que cada um de nós tenha os olhos direcionados paras as periferias: geográficas e existenciais.

Isso fez com que o nosso olhar mudasse e, assim, fomos sentindo a necessidade de fazermos algo mais para com os nossos irmãos necessitados, através da caridade em gestos concretos, levando a Palavra de Deus e o alimento (pão de cada dia).

Mudança de pensamentoÉ nosso dever de cristãos leigos mostrarmos o rosto do

Cristo ao mundo, sendo essa “Igreja em saída” e cada vez mais se envolvendo em projetos sociais, conforme nos desa-fiava a CNBB no ano dedicado aos leigos/as. Neste período de caminhada em Recife, na paróquia Nossa Senhora da Conceição - que este ano completará 180 anos de história e missão - tenho notado que existe uma mudança no pen-sar de muitos leigos que atuam como lideranças das nossas comunidades: homens e mulheres que procuram vivenciar a Palavra de Deus por um profundo senso de compaixão e sensibilidade com as necessidades do nosso próximo.

Que o espírito da comunhão favoreça o nosso enten-dimento e nos leve a servir como Igreja: “povo de Deus!” E que, além da força das palavras, possamos acreditar no poder das atitudes como nos ensinou Jesus: o Missionário do Pai que, com palavras e gestos, trouxe o Reino de Deus para junto de nós. Sejamos missionários em nossas famílias, comunidades e pastorais. Sejamos essa “Igreja em saída”!

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TESTEMUNHOS

Irmã Dulce: a santa dos pobres!Irmã Dulce - de batismo Maria Rita de Souza Brito Lopes

Pontes - nasceu no dia 26 de maio de 1914, na cidade de Salvador, na Bahia. Foi a segunda filha de Augusto Lopes Pontes, dentista e professor universitário de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito. Maria Rita foi uma menina alegre, gostava de bonecas, de empinar pipa e de futebol; inclusive torcia pelo Esporte Ypiranga, time dos trabalha-dores e dos pobres, da periferia de Salvador. Em 1921, com apenas 7 anos de idade, Maria Rita perdeu a mãe, que só tinha 26 anos. Já em 1922, junto com os irmãos Augusto e Dulcinha, recebeu pela primeira vez o Sacramento da Euca-ristia, na igreja Santo Antônio.

Sua vocação para trabalhar com pessoas carentes e po-bres vem de berço, pelo exemplo do pai. Ela e sua irmã Dul-cinha seguiram este exemplo; ainda menina, já demons-trava um forte senso de justiça e a necessidade de ajudar os mais necessitados. Por volta dos 13 anos, ela passou a acolher moradores de rua, doentes e mendigos, transfor-mando sua casa num centro de atendimento. Esta passou a ser conhecida como a Portaria de São Francisco e ali mesmo começou a manifestar sua vontade de entrar para a Vida Religiosa. No entanto, procurando uma instituição religiosa foi recusada devida sua jovem idade.

Maria Rita continuou os estudos e formou-se professo-ra em fevereiro de 1932. No ano seguinte ela entrou para a Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, no Estado de Sergipe. E já no dia 15 de agosto de 1934, com apenas 20 anos, fez os Votos religiosos e recebeu o nome que a marcou para sempre, Irmã Dulce, em memória à sua querida mãe. Sua primeira missão, como religiosa, foi a de ser professora num colégio da congregação, na capital baiana, realidade que ela conhecia muito bem. Por isso, não se sentia realizada com o trabalho de sala de aula; queria mesmo era estar com os mais pobres.

Assim, em 1935, passou a trabalhar com a vila de Ala-gados, uma comunidade muito pobre que vivia em condi-ções insalubres, sobre palafitas, em Itapagipe, um bairro da cidade. Em seguida ela começa a dar assistência aos ope-rários do bairro, organizando um posto médico. Em 1936, fundou a União Operária São Francisco, a primeira organi-zação de operários da igreja católica do Estado, que mais tarde transformou-se no Círculo Operário da Bahia; o grupo se mantinha com doações e arrecadações em cinemas. No mês de maio de 1939, ela inaugurou o Colégio Santo Antô-

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Pe. Lotário Niederle msfVigário Provincial

Passo Fundo, RS

nio, uma escola sonhada e construída para os operários e seus filhos, os pobres.

Ainda em 1939, Irmã Dulce, vendo o sofrimento de vários doentes que não tinham onde se abrigar, liderou um movi-mento que definiu o rumo de sua vida e suas ações sociais: promoveu a ocupação de cinco casas situadas na Ilha dos Ratos e ali abrigou os doentes, recolhidos das ruas. Logo, porém, foi alvo de repressão e acabou expulsa do local, pela prefeitura. Então, perambulou com seus doentes, por vários anos e locais diferentes e distantes de tudo, até que no ano de 1949, ela conseguiu autorização de sua superiora para ocupar o galinheiro do Convento Santo Antonio, abrigando 70 doentes. Esse gesto, a fez conhecida como a freira que construiu o maior hospital do Estado da Bahia, a partir de um pequeno galinheiro; reconhecido hoje como o principal hospital filantrópico e que atende mais de 3,5 milhões de pessoas por ano pelo SUS.

Dez anos mais tarde, em 1959, foi criada a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Instituição que hoje ocupa uma área de 40 mil metros quadrados e possui 954 leitos hospitalares destinados ao atendimento de pessoas de bai-xa renda. É por meio dos atendimentos do hospital que a memória e o lema da Santa dos Pobres seguem vivos, para além de seus milagres. Ainda, em 1960 ela inaugurou o Al-bergue Santo Antônio. Nos últimos anos, muitas pessoas percebendo o alcance e a profundidade do testemunho abnegado de Irmã Dulce passaram a contribuir com suas obras. Na visita ao Brasil, em 1980, o Papa João Paulo II con-vidou-a para subir ao altar, entregou um terço e lhe disse: “Continue, Irmã Dulce, continue!”. Já em 1988, ela foi indi-cada ao Prêmio Nobel da Paz pelo governo do Brasil, com o apoio da rainha Sílvia, da Suécia.

Em de outubro de 1991, o Papa João Paulo II, em sua se-gunda visita ao Brasil, quebrou os protocolos e foi visitar a Irmã Dulce, no Hospital Santo Antônio, ministrando-lhe a santa unção; ela estava acamada, já bastante doente. E fa-leceu em 13 de março de 1992, pouco antes de completar 78 anos. Nos últimos 30 anos de sua vida, ela tinha 70% da capacidade respiratória comprometida e a saúde bastante debilitada, mas continuava seu trabalho com os pobres. O povo de Deus chorou a despedida do Anjo Bom da Bahia, como era conhecida. O velório aconteceu na Igreja Nossa Senhora da Conceição e uma multidão incontável compa-receu à sua despedida. Todos choravam e queriam prestar sua última homenagem àquela que dera sua vida pelos doentes e pelos mais pobres, tocando o coração do mun-do. E, em diversos meios sua fama de santidade passou a ser divulgada, sendo inclusive aclamada como a “Teresa de Calcutá do Brasil”.

O processo de canonização de Irmã Dulce começou no ano 2000. Suas virtudes heroicas foram reconhecidas em abril de 2009, recebendo o título de Venerável. O primeiro milagre foi confirmado em 2010: a recuperação de Cláudia Cristina dos Santos que estava com hemorragia já mais de 18 horas; os médicos não tinham mais esperança, então um

padre veio rezar pela sua vida por intercessão de Irmã Dul-ce e logo o sangramento foi controlado. A Igreja declarou-a Beata no dia 22 de março de 2011, pelo Papa Bento XVI, fi-xando o dia 13 de agosto para celebrar a festa de Irmã Dul-ce dos Pobres. O segundo milagre veio em 2014: o maestro Maurício Moreira não enxergava há mais de 10 anos e numa noite de desespero, sofrendo de dor devido uma infecção, pediu que Irmã Dulce o aliviasse; no dia seguinte, o ho-mem tinha melhorado e voltara a enxergar.

O Vaticano reconheceu a veracidade dos acontecimen-tos, cientificamente inexplicáveis, e confirmou o processo de canonização. Assim, Irmã Dulce torna-se a primeira mu-lher brasileira a ser declarada Santa e a cerimônia de sua Canonização está prevista para o dia 13 de outubro deste ano, em Roma. Na presença do Papa Francisco, Irmã Dulce passará a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres. Outra celebração acontecerá no dia 20 de outubro, em Salvador, na Fonte Nova, para os seus fiéis. Todavia, muito antes de ser reconhecida como Bem-aventurada, Maria Rita de Sou-za Brito Lopes Pontes ou simplesmente Irmã Dulce, já era conhecida nas ruas da capital baiana por sua dedicação aos mais pobres e doentes. Resiliente, dedicada, subversi-va e teimosa, a Santa Dulce dos Pobres deixou um legado que vai muito além da fé. Após quase três décadas de sua partida, continua sendo referência de acolhida, empatia e inspiração para muita gente!

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Pe. Itacir Brassiani msfTeólogo e Superior Provincial

Passo Fundo, RS

Um domingo com doce-amargo sabor de missão

O texto do Evangelho proposto para o domingo, 3 de setembro de 2017, era o que podemos chamar da crise de fé de Pedro. Após professar a fé em Jesus, o Cristo e filho de Deus vivo, e ter sido elogiado por sua sabedoria, Pedro se põe à frente de Jesus, querendo impedi-lo de seguir o caminho que o Pai havia traçado: não a carreira sacerdotal e o sucesso, mas o caminho profético da denúncia, do en-frentamento e do dom de si, até o fim. A Palavra de Jesus é clara: o verdadeiro discípulo se coloca atrás dele, e não à frente. Ele é o caminho, por mais heterodoxo que às vezes pareça ser.

Ruminando essa provocativa notícia de Jesus Cristo, des-pertei às 04h30 e, depois de um café frugal, acompanhei o Pe. Pedro Léo Eckert msf na visita e celebração às comuni-dades da zona de Malina, setor Milhana A, paroquia Santa Cruz de Muíte, diocese de Nampula, Moçambique. A via-gem durou mais de três horas. Passamos por vários povoa-dos, com suas casas típicas de palha e barro, atravessamos regiões quase desérticas, por onde perambulam misérias que ferem como se fossem espinhos que penetram nossa carne.

A novidade de JesusO povo esperava, em grande número, à sombra dos ca-

jueiros. Quando avistaram o velho e conhecido Land Rover, um dos poucos veículos em condições de enfrentar incólu-me os caminhos - ou descaminhos - do sertão moçambi-cano fizeram fila e abriram caminho para nos acolher com seus cantos, sempre acompanhados por tambores. Uma acolhida masculina, pois, nestas terras e culturas, a mulher vem sempre depois, atrás e abaixo... A evangelização deve ser inculturada, mas precisa, também, no tempo oportuno, introduzir a novidade de Jesus!

Como é costume nestas terras de opressão explícita e continuada, e de pecado introjetado, a celebração começa com as confissões individuais. Neste momento, o imenso muro étnico que separa o missionário estrangeiro e o fiel nativo se mostra na barreira linguística. Como escutar e orientar o fiel que vive sua fé, carrega suas dores e confessa seus pecados na língua macua se o missionário fala portu-guês? Que Jesus revele sua inesgotável misericórdia na es-cuta atenta e nas palavras de apoio, benção e perdão de um ministro limitado e também pecador.

Pe. Pedro presidiu a missa, seguindo o ritual na língua macua, com a ajuda de um “ancião” (ministro leigo), natu-ralmente mais habilitado nas nuances da língua. Fez a ho-

milia em português, traduzida pelo ancião, a seu modo e no seu próprio horizonte religioso. Na missão, é assim mesmo. A fé que o povo mantém e que mantém o povo é aquela que os líderes leigos cultivam e transmitem. Por isso, uma das principais estratégias da missão deve ser a formação contínua e profunda dos verdadeiros sujeitos da Igreja, as lideranças leigas.

A realidade da missãoNo final da missa, o coirmão pediu gentilmente que eu

falasse. Até então, eu ficara calado. Comecei dizendo que não havia falado porque sou surdo e mudo. Foi uma brin-cadeira, mas também uma metáfora da realidade: o mis-sionário e, mais ainda, o visitante, além de ser hóspede, é e permanece sempre um pouco surdo, pois não consegue entender a língua e a cultura, e mudo, porque não sabe se comunicar adequadamente. Talvez seja essa a maior dor do/a missionário/a: por mais que se esforce e se entregue, generosamente, permanecerá sempre estrangeiro/a e es-tranho/a, uma espécie de bárbaro diante do povo nativo.

No final, em meio a danças e cantos, a comunidade ex-pressou sua gratidão, como é costume, entregando aos missionários dois pequenos frangos e um enorme cacho de bananas. Em seguida, depois de algumas brincadeiras com as crianças e conversas com os adultos, serviram a tradicional xima (feita de água e farinha de milho branco), frango assado, fígado de porco e cabrito cozido, que come-mos usando as mãos como talheres. Estava gostoso e nos alimentou para a viagem de volta, por estradas arenosas, poeirentas, cheias de buracos e enormes pedras.

Assim, ainda mais dura e mais bela, é a vida dos missio-nários/as nessas terras: mais de 07 horas de viagem, em meio a incontáveis riscos, para uma celebração! Mas, para celebrar e se encontrar, há gente que caminha muito mais, sob um sol escaldante e enfrentando, entre outros, o risco de serpentes. E, além de não receber frangos nem bananas, também volta para sua casa sem xima, sem frango assado ou cabrito cozido. Que, naquilo que depender de nós, essa gente nunca volte sem a alegria do Evangelho, sem a certe-za do amor e da misericórdia de Jesus Cristo.

TESTEMUNHOS

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AMISAFA – REFLEXÃO MISSIONÁRIA

AMISAFA/SAV - Ação Missionária e Vocacional da Sagrada FamíliaRua da Floresta, 1043 | Caixa Postal 3056 | CEP: 99.051-260

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Coordenação da AMISAFATexto de Pe. Celso Both msf

Mecubúri/Nampula, Moçambique

As crianças de Moçambique também têm direito de sonhar!

“O Reino de Deus é das crianças!” (Mt 19,14)

Amar, salvar e cuidar de nossas crianças! Com este desejo evangélico, a Conferência dos Bispos de Moçambique con-voca a todos os batizados/as, homens e mulheres de boa vontade, para refletir o tema da II Semana Nacional de Fé e Compromisso Social, realizada nos dias 21 a 28 de julho de 2019.

Realidade em MoçambiqueQuem vive nesta terra percebe o grande número de

crianças que estão por todos os lados: campos, povoados, vilas ou cidades. Por todo lugar que se anda, elas são mui-tas... e muitas mesmo. Mas como estes seres tão inocentes e indefesos vivem em Moçambique?

De acordo com a UNICEF, em 2019, a desnutrição em Moçambique continua alta. Uma em cada duas crianças com menos de 5 anos sofre perturbações mentais devido a uma nutrição deficiente.

O trabalho infantil é outra realidade que sacrifica a criança moçambicana. Em Moçambique, cerca de 22,2% das crianças entre 5 e 14 anos encontram-se no mercado de trabalho antes da idade mínima de admissão para o empre-go. Cerca de um milhão de crianças moçambicanas estão envolvidas nas piores formas de trabalho infantil (trabalhos que, pela sua natureza ou circunstância em que se realiza, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a mo-ral das crianças, deixá-las expostas ao perigo das ruas das grandes cidades, muitas vezes, numa idade muito precoce).

Casamentos prematuros e gravidez precoce tam-bém afligem o mundo das crianças. Os dados mais recentes indicam que Moçambique é o 10º país do mundo com uma prevalência de casamentos prematuros mais elevada (14% das mulheres entre 20 e 24 anos casaram-se antes dos 15 anos e 48% casaram-se antes dos 18 anos). Os casamentos prematuros constituem uma violação dos direitos humanos e têm como consequências: a perpetuação da pobreza, vio-lência contra o gênero, problemas de saúde reprodutiva e perda de oportunidades por parte das crianças do sexo fe-minino e mulheres.

Preocupante também é a realidade escolar. O nível de ensino aprendizagem, bem como o estado deplorável em que se encontram a maioria das escolas, faz perceber que o processo de educação pouco contribui para o desenvol-

vimento das crianças moçambicanas. Grande número das crianças com dez anos de escolarização apresentam enor-mes dificuldades para ler e escrever.

A venda e desaparecimento de crianças é assustador. O tráfico de pessoas, órgãos e partes do corpo humano é uma realidade cruel em Moçambique, um país vulnerável à mercantilização de pessoas, seja como fonte, trânsito ou pais de destino.

Missões: em busca de esperançaOs missionários que estão nesta terra - ou aqueles que

pensam um dia contribuir na evangelização seja em Mo-çambique ou em outros países africanos - devem ter um cuidado especial com este enorme contingente de crianças. A proteção de menores é assunto sério.

A tutela de menores tem sido uma preocupação cons-tante da Igreja. O papa Francisco está pedindo, suplicando e ordenando a toda a Igreja a não poupar esforços na preven-ção de abusos, na proteção das crianças e no acompanha-mento das vítimas com uma seriedade impecável.

Fica aqui o grito de socorro das crianças moçambicanas: “Eu tenho direito de pôr um chapéu, camisa, saia e sapato; tenho direito de comer por dia: mata-bicho (café da ma-nhã), almoço e jantar; eu tenho direito de ter nome; tenho direito de ter documento; tenho direito de estudar; tenho direito de aprender”. (Canção encenada pelas 25 crianças do projeto “Criança Aprende”, projeto coordenado pelos MSF de Mecubúri, Moçambique).(*Os dados citados foram extraídos do documento-base da Conferência dos Bispos de Moçambique para a II Semana Nacional de Fé e Compromis-so Social - 21 a 28 de julho de 2019).

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Ano 42 | nº 122 | Mai./Ago. 2019

Missão: viver, partilhar e servir

MISSÃO NO MUNDOComunidade missionária de Moçambique - 4Comunidade missionária de Santa Cruz-Bolívi - 5

MISSÃO NO BRASILComunidade religiosa MSF de Carauari - 6Comunidade religiosa MSF do Convento-Recife - 7Comunidade religiosa MSF no Rio Grande do Norte - 8Comunidade religiosa MSF da Estancia-Recife - 9Comunidade religiosa MSF de Goiânia - 10Comunidade religiosa MSF de São Carlos - 11Comunidade religiosa MSF de Porto Alegre - 12Comunidade religiosa MSF de Santo Angelo - 13Comunidade religiosa do Rio de Janeiro - 14Comunidade religiosa MSF de Passo Fundo - 15

ARTIGOSMt 10 e 18: uma eclesiologia missionária - 16Mudança de paradigma! - 18

MISSÃO: VIVER, PARTILHAR E SERVIRCaracterísticas de uma espiritualidade missionária madura - No contexto da conversão de Jonas - 20Discípulos-missionários, plenos de vida e de alegria - 22Missão ad gentes: superando modelos - 23A missão, a partir de “O Pequeno Príncipe” - 24“De todas as crianças e adolescentes do mundo: sempre amigos!” - 25Ser Igreja missionária, hoje! - 26O missionário é um sinal vivo da presença de Deus - 27

TESTEMUNHOSIrmã Dulce: a santa dos pobres! - 28Um domingo com doce-amargo sabor de missão - 30

AMISAFA/SAVAs crianças de Moçambique também têm direito de sonhar! - 31

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