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CAPA OTAN OUTONO 2001 - NATO · 2 Notícias da OTAN Outono 2001 sumário ... DA ALIANÇA 6 Construir a segurança através da parceria Robert Weaver analisa a evolução das parcerias

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Notícias da OTAN2 Outono 2001

sumário

NA CAPASoldados Aliados e dos Parceirosdesfilam em conjunto

© N

ATO

ACTUALIDADES DA OTAN4Notícias da Aliança

EVOLUÇÃO DAS PARCERIASDA ALIANÇA6Construir a segurança atravésda parceriaRobert Weaver analisa a evoluçãodas parcerias da OTAN.

10Levar a gata-borralheira ao baileRobert E. Hunter examina o poten-cial do Conselho de Parceria Euro--Atlântico.

13Promover a segurança regionalJames Appathurai analisa a formacomo a OTAN promove a cooperaçãoregional em matéria de segurança.

16A Parceria na prática:a experiência da GeórgiaIraki Menagarishvili descreveo relacionamento da Geórgiacom a OTAN.

ENSAIO

18Imaginar a OTAN em 2011Michael Rühle imagina comopoderão ser a Aliança e o ambientede segurança euro-atlântico daqui adez anos.

ARTIGOS EM DESTAQUE

22Controlar a contaminaçãono Cazaquistão

23Facilitar a passagem à vida civil

ENTREVISTA

24Martti Ahtisaari:mediador internacional

Publicada sob a autoridade do Secre-tário-Geral da OTAN, esta revista tempor finalidade contribuir para um debateconstrutivo das questões atlânticas.Portanto, os artigos não representamnecessariamente a opinião oficial ou apolítica dos governos membros ou daOTAN.

DIRECTOR: António Borges de CarvalhoCHEFE DE REDACÇÃO: Christopher BennettADJUNTA DO CHEFE DE REDACÇÃO: Vicki NielsenASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Felicity BreezeMAQUETA: Estúdio Gráfico da OTAN

Editor: Director of Information and PressNATO, 1110 Bruxelas, Bélgica

Impressa em Portugal por Mirandela, S.A.© NATO

[email protected]@hq.nato.int

Os artigos podem ser reproduzidos depois de tersido obtida autorização da Redacção e desde queseja mencionada a sua origem. A reprodução deartigos assinados deve referir o nome do autor.

A Notícias da OTAN é publicada periodicamenteem português, bem como em alemão, (NATOBrief), checo, dinamarquês (NATO Nyt), espanhol(Revista de la OTAN), francês (Revue de l’OTAN),grego (Deltio NATO), holandês (NAVO Kroniek),húngaro (NATO Tükor), inglês (NATO Review),italiano (Rivista della NATO), norueguês (NATONytt), polaco (Przeglad NATO) e turco (NATODergisi). É publicado um número por ano emislandês (NATO Fréttir) e ocasionalmente sãotambém publicados números em russo e ucraniano.

A Notícias da OTAN é também publicada naInternet em www.nato.int/docu/review.htm

Os pedidos referentes a esta revista devem serdirigidos ao

Bureau de l’Information et de la Presse del’OTAN1110 Bruxelas, BélgicaFax: (32-2) 707 1252E-MAIL: [email protected] àComissão Portuguesa de AtlânticoAvenida Infante Santo, 42, 6.º1350-179 LisboaTel.: 21 390 59 57

Nesta publicação, todas as referências à Ex-República Jugoslava da Macedónia são assinaladascom um asterisco (*), a que corresponde a seguintenota de rodapé:A Turquia reconhece a República da Macedóniacom o seu nome constitucional.

OTANOTANNotícias da

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Outono 2001 Notícias da OTAN 3

preâ

mbu

lo Durante a produção deste número da Notícias da OTAN, osEstados Unidos sofreram um devastador ataque terrorista,cujos efeitos foram sentidos no mundo inteiro. A reacção dosaliados da América aos bárbaros ataques de 11 de Setembro foiimediata: solidariedade total com os Estados Unidos numahora difícil. Como sinal profundo desta solidariedade, a 12 deSetembro, os membros da OTAN acordaram em que, se fosseestabelecido que este ataque tinha sido dirigido do estrangeirocontra os Estados Unidos, deveria ser considerado como umaacção coberta pelo Artigo 5 do Tratado de Washington, queestipula que um ataque contra um ou mais dos Aliados deveráser considerado um ataque contra todos.A 2 de Outubro,o go-verno dos Estados Unidos confirmou que os ataques tinhamsido de facto lançados do estrangeiro, por terroristas da organi-zação Al-Qaeda de Osama Ben Laden.

A base essencial da OTAN - o seu alicerce - foi sempreo Artigo 5.º, o compromisso da defesa colectiva. Eviden-temente que este compromisso foi tomado pela primeiravez em 1949, em circunstâncias muito diferentes. Masmantém-se igualmente válido e essencial actualmente, facea esta nova ameaça. Com a sua decisão de invocar o Artigo5, os membros da OTAN demonstraram, mais uma vez,que a Aliança não é apenas conversa fiada. É uma comu-nidade de nações unidas pelos seus valores e plenamentedeterminadas a agir em conjunto para os defender.

A 12 de Setembro, também foi demonstrado que a comu-nidade euro-atlântica é actualmente muito mais vasta do que os19 membros da OTAN.Poucas horas depois da decisão históri-ca da OTAN, os 46 países membros do Conselho de ParceriaEuro-Atlântico - da América do Norte, da Europa e da ÁsiaCentral - publicaram uma declaração em que concordavam queestes actos eram um ataque não apenas contra os EUA mascontra os nossos valores comuns. Nesta declaração do CPEA,os 46 países também se comprometeram a desenvolver todos osesforços necessários para combater o flagelo do terrorismo.

É cedo demais para dizer qual o papel que a OTAN e osseus membros, ou o CPEA, desempenharão na próxima lutainternacional contra o flagelo do terrorismo. Esta luta serálonga e por vezes difícil. Exigirá todos os instrumentos aonosso dispor, políticos, económicos e diplomáticos, bem comomilitares. E necessitará do envolvimento activo da maisalargada possível coligação de países, todos a trabalhar paraobjectivos comuns.A solidariedade e a determinação manifes-tadas em Bruxelas a 12 de Setembro pelo Conselho doAtlântico Norte e pelo CPEA são uma primeira medida vital.Mostram a importância prática das parcerias da OTAN erealçam a oportunidade deste número da Notícias da OTAN.

Lord Robertson

Ano XXXIIOutono 2001

CRÍTICA LITERÁRIA

26A nova questão macedóniaChristopher Bennett passa emrevista as obras recentes sobre a Ex--República Jugoslava da Macedónia.*

ESPECIAL

28Formar uma nova eliteO coronel Ralph D. Thiele descrevecomo o Colégio de Defesada OTAN serve os cidadãosdos países Parceiros.

ASSUNTOS MILITARES

30A realidade da reformaChris Donnely examina a reformadas forças armadas na EuropaCentral e Oriental.

ESTATÍSTICAS

34Despesas da defesa e dimensãodas forças armadas dos paísesda OTAN e dos Parceiros

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O Secretário-Geral da OTAN LordRobertson visitou Berlim, Alemanha, a20 e 21 de Setembro para assistir àConferência de Análise da OTAN, umacontecimento anual para debater ofuturo da Aliança, e reunir-se com oChanceler Gerhard Schröder, o minis-tro dos estrangeiros Joschka Fischer eoutros dirigentes políticos.

Exposição de Armitage

O Secretário de Estado Adjunto dosEUA Richard Armitage visitou aOTAN a 20 de Setembro para expor aLord Robertson e ao Conselho doAtlântico Norte o estado das investi-gações sobre os ataques terroristasde 11 de Setembro.

Força de prosseguimentoA 19 de Setembro, o presidente BorisTrajkovski da Ex-República Jugoslavada Macedónia* pediu à OTAN paraenviar para o seu país uma força deprosseguimento de dimensão reduzidadepois da conclusão da OperaçãoColheita Essencial a 26 de Setembro.

Entre 17 e 22 de Setembro, quatro mem-bros da OTAN e cinco Parceiros partici-param no Cooperative Engagement2001, o primeiro exercício navalOTAN/Parceria para a Paz a ter lugar naEslovénia, em Ankaran, próximo deKoper.

Sete membros da OTAN e três Par-ceiros participaram no CooperativePoseidon, a segunda fase dum exercí-cio sobre a segurança de submarinos,que teve lugar em Bremerhaven,Alemanha, entre 17 e 21 de Setembro.Ao exercício também assistiram obser-vadores de sete países do Diálogo doMediterrâneo.

Militares de 9 países da OTAN e de 13Parceiros tomaram parte no Coope-

rative Key 2001, um exercício de oper-ações de apoio da paz que teve lugar emPlovdiv, Bulgária, entre 11 e 21 deSetembro. Também participaram repre-sentantes do Alto Comissariado da ONUpara os Refugiados e de várias organi-zações não governamentais.

Entre 10 e 21 de Setembro, partici-pantes de 7 membros da OTAN e de13 países Parceiros tomaram parte noCooperative Best Effort 2001 na baseaérea de Zeltweg, Áustria, um exercí-cio destinado a treinar os partici-pantes em técnicas de apoio da paz.

O general alemão Dieter Stöckmannsubstituiu o general do RU Sir RupertSmith como Adjunto do ComandanteSupremo Aliado da Europa numa ceri-mónia no Quartel-General Supremo dasPotências Aliadas na Europa (SHAPE)em Mons, Bélgica, a 17 de Setembro.

Lord Robertson visitou Skopje, na Ex-República Jugoslava da Macedónia*,a 14 de Setembro para consultas como Presidente Boris Trajkovski e o seugoverno e analisar o progresso daOperação Colheita Essencial.

Três minutos de silêncioA 13 de Setembro, o pessoal daOTAN juntou-se a milhões de pessoasde toda a Europa observando trêsminutos de silêncio pelas vítimas dosatentados terroristas de 11 deSetembro e suas famílias.

Numa reunião do Conselho ConjuntoPermanente OTAN-Rússia a 13 deSetembro, a OTAN e a Rússia mani-festaram a sua profunda compaixãopelas vítimas dos ataques terroristasde 11 de Setembro em Nova Iorque eWashington e suas famílias e compro-meteram-se a intensificar a coopera-ção para derrotar o terrorismo.Sentimentos semelhantes foram mani-festados em reuniões extraordinóriasda Comissão OTAN-Ucrânia e doConselho de Parceria Euro-Atlântico.

Novo Embaixador do RUO embaixador Emyr Jones Parry substi-tuiu o embaixador David Manningcomo representante permanente doReino Unido na OTAN a 13 deSetembro. O embaixador Parry, 53 anos,é um diplomata de carreira e foi directorpolítico no Ministério dos NegóciosEstrangeiros e da Comunidade de Julhode 1998 a Agosto de 2001.

Artigo 5.ºA 12 de Setembro, os embaixadoresna OTAN concordaram que, se o ataqueterrorista de 11 de Setembro tivessesido lançado do estrangeiro, seria con-siderado como um ataque a todos osAliados da OTAN, invocando assim oArtigo 5.º do Tratado de Washington, acarta fundadora da OTAN, pela primeiravez na história da Aliança.

A 11 de Setembro, Lord Robertson eo Conselho do Atlântico Norte con-denaram os ataques terroristas a civisinocentes nos Estados Unidos e mani-festaram a sua profunda compaixão esolidariedade ao povo americano.

A 7 de Setembro, Lord Robertson assis-tiu ao último dia dum simpósio de trêsdias em Oslo, Noruega, que se centrounos aspectos tecnológicos, industriais ecientíficos da adaptação ao actual ambi-ente de segurança transformado. Oacontecimento foi acolhido conjunta-mente pelo Comandante SupremoAliado do Atlântico (SACLANT), peloComando Norueguês da Defesa e peloUS Joint Forces Command.

Novo embaixador dos EUA

O embaixador Nicholas Burns substitu-iu o embaixador Alexander Vershbowcomo representante permanente dosEstados Unidos na OTAN a 4 deSetembro. O embaixador Burns, 45anos, foi anteriormente embaixador naGrécia de 1997 a Julho de 2001. Entre

1995 e 1997, foi porta-voz do Depar-tamento de Estado dos EUA.

Um exercício real de voo para treinaras forças aéreas em operaçõesaéreas tácticas, incluindo a elimi-nação das defesas aéreas e dosmeios de guerra electrónica do inimi-go, teve lugar entre 3 e 14 deSetembro a partir da Base Aérea prin-cipal de Ørland, Noruega. O Air Meet2001 envolveu forças aéreas de 13países membros da OTAN e foi con-duzido pelo quartel-general dasAllied Air Forces North, baseado emRamstein, Alemanha.

Lord Robertson reuniu-se com oPresidente Boris Trajkovski, o primeiro-ministro Ljubco Georievski, o ministrodo interior Ljube Boshkovski, o mi-nistro dos estrangeiros Ilinka Mitreva eo ministro da defesa Vlado Bukovskidurante uma visita à Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia* a 29 deAgosto para avaliar os progressos feitospelas tropas da OTAN na recolha dearmas dos rebeldes de etnia albanesa.

Desarmamento dos rebeldes

A Operação Colheita Essencial foilançada a 22 de Agosto, dois mesesdepois de o governo da Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia* ter pedidoa ajuda da OTAN para restabelecer apaz e a estabilidade no seu país. Amissão de 30 dias, que efectivamentecomeçou a 27 de Agosto, era desar-mar os rebeldes de etnia albanesa eenvolveu cerca de 3 500 militares,com apoio logístico.

A situação na Ex-República Jugos-lava da Macedónia* dominou areunião conjunta regular do Conselhodo Atlântico Norte e do ComitéPolítico e de Segurança da UniãoEuropeia realizada em Bruxelas,Bélgica, a 22 de Agosto.

Notícias da OTAN4 Outono 2001

ACTUALIDADES DA OTAN

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O indiciado criminoso de guerraDragan Jokic, um sérvio bósnioimplicado no massacre de Srebrenicade 1995 e em ataques a postos deobservação da ONU, rendeu-se àstropas da SFOR a 15 de Agosto.

O quartel-general da Task ForceHarvest foi destacado para a Ex--República Jugoslava da Macedónia*a 15 de Agosto – dois dias depois daassinatura do acordo dum quadro políti-co para proporcionar reformas internase permitir a entrada no país de tropasdirigidas pela OTAN para desarmar osrebeldes de etnia albanesa – para avaliara situação e preparar o lançamento daOperação Colheita Essencial.

Vidoje Blagojevic, um antigo coman-dante sérvio bósnio acusado de crimesde guerra, foi detido a 10 de Agosto etransferido para o Tribunal Internacionalde Crimes de Guerra na Haia.

Preparativos contrainundaçõesOs trabalhos sobre um projecto pilotopara melhorar a preparação e areacção contra inundações na área dorio Tisza, na Ucrânia, começaram emSetembro. O projecto está a ser desen-volvido no contexto do programa detrabalho OTAN-Ucrânia para 2000.

Lord Robertson juntou-se ao AltoRepresentante da UE para a PolíticaExterna e de Segurança Comum,Javier Solana, e ao Presidente emexercício da OSCE, o ministro dosestrangeiros romeno, Mircea Geoana,em Skopje, Ex-República Jugoslavada Macedónia*, a 26 de Julho paraconversações com responsáveis go-vernamentais e partidos políticos pararevigorar as conversações visando pôrfim a cinco meses de violência.

O primeiro-ministro lituano AlgirdasBrazauskas reuniu-se com LordRobertson na OTAN a 24 de Julho.

A 19 de Julho, o Comité Militar, a

mais alta autoridade militar da OTAN,e o seu presidente, o almirante GuidoVenturoni, visitaram o comandoregional do Sul, Forças Aliadas do Sulda Europa (AFSOUTH), que é respon-sável por todas as operações dirigi-das pela OTAN nos Balcãs.

O Vice-Primeiro-ministro sérvioNebosja Covic e o ministro dos estran-geiros jugoslavo Goran Svilanovicreuniram-se com Lord Robertson ediscursaram no Conselho do AtlânticoNorte a 18 de Julho. Os debates cen-traram-se nos acontecimentos no Sulda Sérvia e no Kosovo.

Novo Secretário-GeralAdjunto da OTAN

O embaixador Alessandro MinutoRizzo substituiu o embaixador SérgioBalanzino como Secretário-GeralAdjunto da OTAN a 16 de Julho. Oembaixador Rizzo é um diplomata decarreira italiano e foi anteriormente orepresentante permanente do seupaís no Comité Político e deSegurança da União Europeia.

Lord Robertson e os 19 Embai-xadores na OTAN visitaram aAlbânia e a Bósnia-Herzegovina a12 e 13 de Julho para debatesalargados com responsáveis gover-namentais.

As questões actuais da segurançaeuro-atlântica foram debatidas numareunião de cinco dias organizadapela Assembleia Parlamentar daOTAN para parlamentares jovens erecentemente eleitos dos países daOTAN e Parceiros, realizada emBruxelas, Bélgica, entre 9 e 13 deJulho.

O Presidente romeno Ion Iliescu e oministro dos estrangeiros MirceaGeoana reuniram-se com LordRobertson a 9 de Julho na OTAN paradebater a situação nos Balcãs e acooperação da Roménia com a OTAN.

A 6 de Julho, no dia seguinte a tersido assinado um cessar-fogo entre ogoverno e os rebeldes de etniaalbanesa na Ex-República Jugoslavada Macedónia*, o ministro dosestrangeiros Ilinka Mitreva veioreunir-se com Lord Robertson naOTAN.

Lord Robertson visitou Kiev, Ucrânia,a 4 e 5 de Julho, onde se reuniu como Presidente Leonid Kuchma, oprimeiro-ministro Anatolyi Kinakh, oministro dos estrangeiros AnatolyiZlenko e o ministro da defesaOlexandr Kuzmuk, bem como outraspersonalidades. Também discursounum simpósio da Parceria para a Pazorganizado pelo SACLANT.

Teve lugar em Mjekës, a Sul da capi-tal Tirana, a 29 de Junho, uma ceri-mónia para assinalar a inauguraçãodum projecto visando a destruição doarsenal albanês de 1,6 milhões deminas anti-pessoal – conforme oexigido pela Convenção de Otavaproibindo o emprego, armazenagem,produção e transferência de minasanti-pessoal. É o primeiro projectode desmilitarização a ser implemen-tado ao abrigo dum Fundo Especialda Parceria para a Paz criado paraeste fim em 2000.

Colheita EssencialA 29 de Junho, o Conselho doAtlântico Norte aprovou a ColheitaEssencial, um plano de operaçõeselaborado pelo SHAPE, para o pos-sível envio de tropas da OTAN para aEx-República Jugoslava da Mace-dónia*, a pedido do governo, paraajudar a desarmar os grupos de etniaalbanesa. O plano deverá ser imple-mentado com a condição de as partesprosseguirem o diálogo político eporem fim às hostilidades.

O Presidente da Moldávia VladimirVoran visitou a OTAN a 28 de Junho,onde se reuniu com Lord Robertsone assinou um acordo que permitiráaos peritos da OTAN proporcionarajuda material e treino para assegurara implementação dum projecto doFundo Especial da Parceria para aPaz visando a destruição segura decombustível de foguetões altamentecorrosivo, bem como de minas ter-

restres anti-pessoal e muniçõesexcedentes.

O Representante Especial da ONUpara o Kosovo Hans Haekkerupexpôs, na OTAN a 26 de Junho, aosembaixadores na OTAN a situação naprovíncia e os preparativos para aspróximas eleições.

O Presidente da Polónia AleksanderKwasniewski visitou o SHAPE emMons, Bélgica, a 21 de Junho, ondese reuniu com o ComandanteSupremo Aliado da Europa, generaldos EUA Joseph W. Ralston.

Visita aos EUADurante uma viagem aos EstadosUnidos de 19 a 22 de Junho, LordRobertson discursou no Conselhopara as Relações Externas deChicago, antes de seguir paraWashington para se reunir com aConselheira da Segurança NacionalCondoleezza Rice, o Secretário deEstado Colin Powell e o Secretárioda Defesa Donald Rumsfeld.Assistiu depois ao seminário anualorganizado pelo SACLANT emNorfolk, Virgínia, que este ano secentrava nas capacidades militaresda OTAN.

Entre 18 e 29 de Junho, 15 países daOTAN tomaram parte no CleanHunter 2001, um exercício real devoo sobre o Norte da Europa e oNorte da França. Este acontecimentoanual envolve o quartel-general dasAllied Air Forces North e os seus cen-tros de operações aéreas combi-nadas subordinados em exercíciosvisando manter a eficácia do planea-mento e condução de operaçõesaéreas reais coordenadas.

Outono 2001 Notícias da OTAN 5

Para mais informações,consultar NATO update em: www.nato.int/docu/update/index.htm

ACTUALIDADES DA OTAN

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Notícias da OTAN6 Outono 2001

Além de acolher o CPEA, um fórum multilateral dinâmicopara o debate e desenvolvimento de questões de segurança, aOTAN é o ponto central duma rede de parcerias e programasde segurança interligados. A Aliança está a procurar atravésda Parceria para a Paz ajudar a reforma das forças armadas ea transição democrática em grande parte da antiga Europacomunista. Além disso, foram estabelecidas relações bila-terais especiais com a Rússia e a Ucrânia, os dois maiorespaíses surgidos da desintegração da União Soviética. E estáem curso um diálogo sobre segurança com um número semprecrescente de países da região do Mediterrâneo (ver destaqueda página 9).

Actualmente, 27 Parceiros utilizam esta instituição paraconsultas regulares com os 19 Aliados sobre questõesabrangendo todos os aspectos da segurança e todas as regiõesda área euro-atlântica. Além disso, as forças armadas Aliadase dos Parceiros fazem exercícios e trabalham em conjunto

Robert Weaver trabalha sobre o alargamento da OTAN eassuntos do CPEA na Divisão de Assuntos Políticos da OTAN.

Quando os 46 embaixadores do Conselho de ParceriaEuro-Atlântico (CPEA) se reúnem, têm como certoque poderão debater e discutir as questões de segu-

rança mais prementes do momento num ambiente aberto econstrutivo. Mas, há pouco mais de dez anos, os diplomatasdos países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia – que repre-sentam perto de metade dos actuais membros do CPEA – nempodiam mesmo entrar na sede da OTAN. Se queriam entregaruma mensagem, eram obrigados a deixá-la no portão daentrada. Este contraste mostra bem a evolução da segurançaeuro-atlântica durante a última década e, acima de tudo, amaneira como uma estratégia da Aliança construída em tornode parcerias alterou o ambiente estratégico na área euro-atlân-tica.

Construir a segurança atravésda parceria

Robert Weaver analisa a evolução das parcerias da OTAN dez anosapós a criação do Conselho de Cooperação do Atlântico Norte.

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TAN

Acontecimento histórico: a União Soviética desintegrou-se enquanto decorria a primeira reunião do Conselho de Cooperação do Atlântico Norte emDezembro de 1991

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com regularidade. E cerca de 9 000 militares dos paísesParceiros, incluindo cerca de 4 000 russos, servem ao lado dosseus homólogos da Aliança nas operações de manutenção dapaz dirigidas pela OTAN nos Balcãs.

Quem previsse em 1991 o tipo de evolução da segurançaeuro-atlântica que teve lugar na última década teria, provavel-mente, sido ridicularizado. Na altura, com o fim da GuerraFria, estava mais na moda os analistas preverem a iminenteextinção da OTAN ou, no seguimento do golpe de Moscovode Agosto de 1991, um regresso às atitudes de confrontaçãoque tinham caracterizado a política europeia durante a maiorparte do último meio século. Além disso, relembrando o pas-sado, as coisas poderiam ter corrido muito mal. O facto deisso não ter acontecido é em grande parte devido ao facto deos Aliados terem estendido a “mão da amizade” aos seus anti-gos adversários e é um elogio à estratégia de estabelecimentode parcerias que a OTAN adoptou durante a última década.

No fim da Guerra Fria, a tarefa primária da OTAN era ten-tar ultrapassar os equívocos remanescentes acerca do que aAliança representava e de como funcionava. Era crucialexplicar que a OTAN era uma Aliança defensiva. Em Londres,em Julho de 1990, os dirigentes da OTAN decidiram reduzir opapel das armas nucleares na estratégia militar da Aliançapara um papel de “armas de último recurso”. Esta evoluçãomostrou as boas intenções da OTAN e pretendia contestar opretexto das forças anti-reformistas de Moscovo duma alega-da “ameaça da OTAN” para prejudicar o processo de libera-lização na Europa Central e Oriental. Para além disto, aOTAN precisava de analisar a melhor maneira de estabelecerum relacionamento genuíno em matéria de segurança comestes países, que permitisse à Aliança controlar de forma acti-va a evolução neste domínio. Na Cimeira de Roma da OTANem Novembro de 1991, a Aliança propôs a criação doConselho de Cooperação do Atlântico Norte (CCAN), comofórum para um diálogo estruturado com os países do antigoPacto de Varsóvia.

O CCAN reuniu-se pela primeira vez em Dezembro de1991 com a participação de 16 países da Aliança e 9 paísesParceiros. O ritmo da mudança na Europa era tal na altura quea própria reunião assistiu a um acontecimento diplomáticohistórico. Quando o comunicado final estava a ser acordado, oembaixador soviético pediu que todas as referências à UniãoSoviética fossem eliminadas do texto. A União Soviéticatinha-se desintegrado durante a reunião, o que tinha comoconsequência que, no futuro, ele só poderia representar aFederação Russa. Em Março de 1992, mais dez Estadosrecentemente independentes da antiga União Soviética aderi-ram ao CCAN. A Albânia e a Geórgia tornaram-se membrosem Junho desse ano.

No período imediatamente a seguir à Guerra Fria, as con-sultas no CCAN centraram-se em preocupações de segurançaremanescentes da Guerra Fria, como a retirada das tropas rus-sas dos Estados bálticos. Entretanto, a cooperação políticacentrou-se em questões de segurança e relacionadas com adefesa, incluindo o planeamento da defesa, abordagens con-ceptuais da limitação dos armamentos, relações entre civis e

militares, gestão do tráfego aéreo e conversão das indústria dedefesa, bem como a chamada “Terceira Dimensão” da OTAN,ou sejam os programas científicos e ambientais da Aliança.

O CCAN abriu novos caminhos de muitas maneiras.Contudo, centrou-se no diálogo político multilateral e faltou--lhe a possibilidade de cada Parceiro desenvolver relações decooperação individuais com a OTAN. A Parceria para a Paz,lançada em Janeiro de 1994, destinava-se a preencher estalacuna, oferecendo programas adaptados de cooperação coma OTAN e um relacionamento político reforçado. Isto incluíao direito de cada Parceiro ter consultas com a Aliança se sen-tisse uma ameaça à sua independência política, à sua segu-rança ou à sua integridade territorial. A Parceria centrava-seno desenvolvimento de forças que poderiam operar com as daAliança – primariamente forças militares – e em questõescomo o planeamento civil de emergência. A Parceria para aPaz permitia a cada Parceiro desenvolver o seu relacionamen-to bilateral com a OTAN ao seu próprio ritmo.

Quando o relacionamento político entre Aliados eParceiros se aprofundou, a Parceria para a Paz também pro-porcionou mecanismos pelos quais os Parceiros poderiamtomar parte em operações dirigidas pela OTAN se o dese-jassem. Na prática, isto tem-se traduzido na participação emacções da OTAN nos Balcãs onde, mesmo antes do envio daprimeira missão de manutenção da paz, os Parceiros desem-penharam um papel decisivo.

Durante a guerra da Bósnia, vários países Parceiros aju-daram a Aliança a impor um embargo de armamento contratoda a ex-Jugoslávia, sanções económicas contra a Sérvia e oMontenegro e uma interdição de voos sobre a Bósnia. AAlbânia, por exemplo, permitiu que os navios da OTANusassem as suas águas territoriais para impor o embargo dearmamento e as sanções económicas, e a Hungria, então umParceiro, permitiu que os aviões de detecção longínqua daOTAN usassem o seu espaço aéreo para controlar a zona deexclusão aérea bósnia. Além disso, tropas de 14 paísesParceiros prestaram serviço ao lado das suas homólogas daAliança na Força de Implementação (IFOR), a primeira ope-ração de manutenção da paz dirigida pela OTAN, trazendo umacréscimo às capacidades da força e à legitimidade da missão.

Quando os Parceiros enviaram os seus soldados para o ter-reno e as suas forças operaram sob o comando da OTAN numambiente de alto risco, procuraram naturalmente maiores pos-sibilidades de tomar parte no processo de tomada de decisões,que definia os objectivos e os procedimentos operacionais damissão. Na constituição da IFOR, isto já tinha sido ampla-mente feito numa base ad hoc, pois a missão era uma estreiapara a Aliança. Com os Parceiros a querer mostrar um talempenhamento para ajudar a resolver problemas de segurançafora das suas fronteiras, era necessária uma nova abordagemda parceria.

No seguimento dum discurso visionário do entãoSecretário de Estado dos EUA Warren Christopher emSetembro de 1996, que propunha a criação dum novo fórumde segurança, a OTAN efectuou um exame profundo da sua

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Outono 2001 Notícias da OTAN 7

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estratégia de parceria. Um dos objectivos primários desteprocesso foi garantir aos Parceiros maiores possibilidades departicipação na tomada de decisões em todo o âmbito daParceria. O outro foi aproveitar a oportunidade para centrarainda mais estreitamente a Parceria nas questões opera-cionais. O resultado foi a criação do CPEA e duma ParceriaReforçada e Mais Operacional.

No aspecto das consultas políticas, fazia agora sentidoavançar para além do CCAN e construir um fórum de segu-rança à altura da crescente sofisticação dos relacionamentosestabelecidos através da Parceria para a Paz. Em vez dedefinir os seus membros por quem costumava ser adversárioda OTAN, o novo órgão de cooperação precisava de englobartodos os países euro-atlânticos desejosos de estabelecer umrelacionamento com a OTAN. Este novo órgão poderia incluirpaíses tradicionalmente neutrais, que tinham provado sermembros valiosos da Parceria para a Paz, como a Áustria, aFinlândia e a Suécia, que não eram membros de pleno direitodo CCAN.

Ao ultrapassar o quadro do CCAN, o CPEA representavaum empenhamento por parte da OTAN em envolver osParceiros ainda mais estreitamente no processo de tomada dedecisões da Aliança. Também permitia envolver os Parceirosmais estreitamente nas consultas para o planeamento, exe-cução e supervisão política das que são agora conhecidascomo Operações da PfP dirigidas pela OTAN. Como órgãomultilateral juntando os elementos da Parceria, o CPEA man-teve a ênfase do CCAN nas consultas práticas sobre política erelacionadas com a segurança. Mas alargou o âmbito destasconsultas para incluir a gestão de crises, os problemas regio-nais, as questões de limitação dos armamentos, a proliferaçãodas armas de destruição maciça e o terrorismo internacional,bem como as questões ligadas à defesa, como o planeamentoe os orçamentos da defesa, incluindo a política e a estratégiada defesa. O planeamento civil de emergência e a preparaçãocontra catástrofes, a cooperação em matéria de armamentos eas operações ambientais relacionadas com a defesa consti-tuíam uma lista impressionante.

Além das consultas tradicionais, o CPEA talhou um papelpara si próprio ajudando a tratar de questões importantes quepreocupam quer os membros da OTAN quer os Parceiros.Conseguiu isto aproveitando a flexibilidade permitida por ummínimo de regras institucionais para adoptar abordagens ino-vadoras das questões de segurança. Foram usados, por exem-plo, os grupos de trabalho abertos, permitindo aos paísesdirectamente interessados tomar iniciativas e preparar traba-lho para as sessões plenárias. As consultas sobre o Cáucaso eo Sueste Europeu, por exemplo, beneficiaram com esta abor-dagem. O CPEA também encorajou os seus membros a enca-rar as questões por novos ângulos, em vez de procurar resolverpontos de atrito que se arrastavam, uma abordagem que semostrou frutuosa onde outras organizações têm reconhecida-mente a responsabilidade principal.

Quanto à Parceria Reforçada e Mais Operacional, a suanova orientação baseia-se na experiência ganha durante osprimeiros anos da Parceria para a Paz e nos ensinamentos co-

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Notícias da OTAN8 Outono 2001

lhidos nas operações de manutenção da paz dirigidas pelaOTAN na Bósnia. Entre as medidas tomadas para reforçar emelhorar a Parceria para a tornar mais operacional, três ini-ciativas se destacam. São o Processo de Planeamento eAnálise (PARP), o Conceito das Capacidades Operacionais(OCC) e o Quadro Político-Militar para as Operações da PfPdirigidas pela OTAN.

O PARP estabelece os requisitos de interoperacionalidade ecapacidades que os participantes têm que satisfazer e incluium extenso processo de análise para medir os progressos.Definindo os padrões a atingir, ajuda os Parceiros a desen-volver as capacidades que constituirão a espinha dorsal dosaspectos mais operacionais da Parceria. Com o passar dosanos, os requisitos tornaram-se mais complexos, exigentes eligados às melhorias das capacidades que os Aliados estabele-ceram para si mesmo na Iniciativa das Capacidades deDefesa. Na verdade, cada vez mais o PARP se parece com opróprio processo de planeamento da defesa da Aliança, com adirectiva ministerial para os objectivos do planeamento dadefesa; Objectivos da Parceria semelhantes aos Objectivos deForças da OTAN; e a Avaliação do PARP espelhando aAnálise Anual da Defesa da OTAN.

Ao estudar uma operação real e a utilização de forças dosParceiros, os comandantes da OTAN precisam saber quais asforças disponíveis e as suas capacidades. O OCC foi desen-volvido para tratar destas questões cruciais e visa propor-cionar aos comandantes da OTAN informação fiável acercadas contribuições potenciais dos Parceiros para permitir orápido destacamento duma força adaptada às circunstâncias.Isto completa a avaliação feita pelo PARP e deverá ajudar amelhorar a ef icácia militar das forças avaliadas. Para oscomandantes da OTAN, contribuições dos Parceiros militar-mente mais eficazes melhoram a capacidade da Aliança paramanter operações a longo prazo.

Pôr em prática mecanismos para ajudar a aumentar as con-tribuições dos Parceiros é, evidentemente, apenas parte doproblema. Em primeiro lugar, os Parceiros têm que decidir sequerem que as suas forças sejam envolvidas numa determina-da operação. Isto é a interface crucial entre os elementospráticos e políticos – reunidos pelo CPEA.

Através do CPEA, todos os Parceiros são envolvidos emconsultas sobre as crises emergentes, que podem exigir odestacamento de tropas. Para encorajar os Parceiros a atribuirforças para operações complexas e potencialmente perigosas,a OTAN desenvolveu um mecanismo para assegurar que asconsultas já não sejam efectuadas numa base ad hoc, massejam institucionalizadas de acordo com procedimentos quetêm em conta a importância das contribuições dos Parceiros.Esta iniciativa, o terceiro elemento importante da ParceriaReforçada e Mais Operacional, é conhecida como o QuadroPolítico-Militar para as Operações da PfP dirigidas pelaOTAN.

Quando uma crise em crescimento está a ser debatida,todos os membros do CPEA são envolvidos. Se a OTAN estáconvencida de que pode ser necessário destacar tropas, o

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Conselho do Atlântico Norte, a mais alta instância de tomadade decisões da OTAN, pode aceitar Parceiros que declarem asua intenção de contribuir para a força. Estes Parceiros podementão trocar opiniões com os Aliados e associar-se à primeirafase de planeamento duma operação. Também serão consulta-dos sobre o plano da operação e envolvidos no processo deconstituição da força, quando o comandante estabelece acomposição da força. É nesta fase que o OCC deverá poupartempo e esforço graças a uma maior previsibilidade dacapacidade das forças dos Parceiros que estão disponíveis.

Uma vez aceites as contribuições dos Parceiros, podem terlugar debates sobre a operação entre a OTAN e os Parceiroscontribuintes. Entretanto, o plenário do CPEA ainda estáenvolvido nos debates gerais sobre a operação em causa e ascircunstâncias políticas que a rodeiam. Embora os Parceirosque contribuem com tropas sejam consultados na maiorextensão possível, as decisões f inais ainda têm que sertomadas pela Aliança, de cujos meios tais operações depen-

dem. Este processo de consultas continua durante a operação,garantindo que a voz dos Parceiros é ouvida quando sãotomadas decisões importantes.

A contribuição dos Parceiros para as operações demanutenção da paz não pode ser sobrestimada. Na verdade,pode ser afirmado que o envolvimento da OTAN na pacifi-cação do Kosovo não teria sido possível sem a participaçãodos Parceiros. Os Parceiros não só deram um apoio políticovalioso como também contribuíram com meios essenciaispara a missão utilizados pela OTAN, incluindo a utilização doseu espaço aéreo durante a campanha aérea e bases logísticasvitais para manter as linhas de comunicação da KFOR. Àmedida que se desenvolve o relacionamento entre os Aliadose os Parceiros, é crescentemente possível falar duma comu-nidade de valores partilhados subjacente a estas iniciativaspráticas. Nos dez anos que se passaram desde a criação doCCAN, a Parceria evoluiu, tornando-se um elemento funda-mental da segurança euro-atlântica. �

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Outono 2001 Notícias da OTAN 9

Diálogo do MediterrâneoA OTAN lançou o seu Diálogo do Mediterrâneo em

1994 no reconhecimento de que a segurança e estabili-dade da Europa está estreitamente ligada à doMediterrâneo, escreve Alberto Bin.

Este programa, que inclui a Argélia, o Egipto, Israel,a Jordânia, a Mauritânia, Marrocos e a Tunísia, visa con-tribuir para a segurança e estabilidade regional, melho-rar a compreensão mútua e corrigir percepções erradasacerca da OTAN entre os países do Mediterrâneo.

O Diálogo baseia-se primariamente nas relaçõesbilaterais entre cada país participante e a Aliança.Contudo, também permite reuniões multilaterais numabase caso a caso. Oferece a todos os países do Diálogoa mesma base para debate e actividades conjuntas ecomplementa outras iniciativas internacionais rela-cionadas mas distintas, como as empreendidas pelaUnião Europeia e a Organização para a Segurança eCooperação na Europa.

O Diálogo proporciona o diálogo político e a coope-ração prática com os países participantes. O diálogopolítico consiste em debates políticos bilaterais regu-lares bem como conferências multilaterais a nível deembaixador. Estas constituem uma oportunidade paratroca de opiniões sobre uma gama de questões rele-

Alberto Bin trabalha sobre o Diálogo do Mediterrâneo naDivisão de Assuntos Políticos da OTAN.

vantes para a segurança no Mediterrâneo, bem comosobre o desenvolvimento futuro do Diálogo.

A cooperação prática é organizada através dumPrograma de Trabalho anual e assume várias formas,incluindo convites a responsáveis de países do Diálogopara participar em cursos em escolas da OTAN. Outrasactividades incluem seminários destinados especifica-mente a países do Diálogo, particularmente no domíniodo planeamento civil de emergência, bem como visitasà OTAN de líderes de opinião, académicos, jornalistase parlamentares de países do Diálogo.

A Aliança atribui bolsas de estudo institucionais ainvestigadores da região. Além disso, o Diálogo pro-move a cooperação científ ica através do ProgramaCientífico da OTAN. Em 2000, por exemplo, 108 cien-tistas de países do Diálogo participaram em actividadescientíficas patrocinadas pela OTAN.

O Programa de Trabalho tem também uma dimensãomilitar que inclui convites a países do Diálogo paraobservar exercícios, assistir a seminários e wokshops evisitar organismos militares da OTAN. Em 2000, 104oficiais dos sete países do Diálogo participaram nestasactividades. Além disso, a Força Naval Permanente daOTAN no Mediterrâneo visita portos de países doDiálogo. Por outro lado, três países do Diálogo – oEgipto, a Jordânia e Marrocos – contribuíram com sol-dados da paz para as operações dirigidas pela OTAN naBósnia-Herzegovina. E a Jordânia e Marrocos têm pre-sentemente soldados na Força do Kosovo.

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Notícias da OTAN10 Outono 2001

sobre questões políticas e de segurança” – aqueles Estadosque tinham emergido dos escombros do Pacto de Varsóvia eda União Soviética. Contudo, posteriormente na mesma déca-da, o CCAN pareceu um pouco anacrónico: definido maispelo que os seus membros não pertencentes à Aliança tinhamsido do que por aspirações para o futuro. E o CCAN nãoincluía formalmente a maior parte dos Estados que emergiramda desintegração da Jugoslávia nem os países da Europa neu-trais e não alinhados.

Fazia sentido remodelar o CCAN para arrancar de novo epermitir aos países que não eram nem “ex-comunistas” nem“ex-Pacto de Varsóvia” tornarem-se membros de pleno di-reito. A iniciativa surgiu num discurso do então Secretário deEstado dos EUA Warren Christopher em Estugarda,Alemanha, a 6 de Setembro de 1996. Esta data era a do 50.ºaniversário dum discurso histórico dum dos seus anteces-sores, James Byrnes, que foi apelidado o “discurso da espe-rança” devido à sua visão da Europa e do envolvimento dosEUA após a 2.ª Guerra Mundial. O Secretário de EstadoChristopher optou pelo tema duma Nova ComunidadeAtlântica e quis uma ideia digna de manchete, que o

Robert E. Hunter é conselheiro principal na RandCorporation e foi embaixador dos EUA na OTAN entre1993 e 1998.

Quando foi criado em Maio de 1997, o Conselho deParceria Euro-Atlântico (CPEA) era o enteado pobreda OTAN. Não tinha, então como agora, o poder de

decisão do Conselho do Atlântico Norte, que está limitado aos19 Aliados da OTAN. Inicialmente, não tinha nenhum papelna gestão das actividades práticas da Parceria para a Paz, comquem partilha quase os mesmos membros. Mesmo as suasreuniões ministeriais semestrais e as suas cimeiras ocasionaistêm tendência para muitos discursos e pouca substância. Masesta espécie de gata-borralheira é uma instituição que tempotencial para contribuir para a segurança euro-atlânticaduma maneira que nenhuma pode igualar.

O CPEA nasceu quase por acidente. Foi precedido peloConselho de Cooperação do Atlântico Norte (CCAN), criadoem 1991 para trazer para a família mais alargada da OTAN –num “relacionamento institucional de consultas e cooperação

Levar a gata-borralheira ao baileRobert E. Hunter examina o potencial do Conselho de Parceria Euro-Atlântico e

propõe que ele desempenhe um papel mais importante na segurança euro-atlântica.

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Reunião ministerial: o Conselho de Parceria Euro-Atlântico tem potencial para contribuir para a segurança euro-atlântica duma forma que nenhuma outrainstituição pode igualar

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Departamento de Estado rapidamente proporcionou: desig-nadamente, converter o CCAN em algo de novo e chamar-lheConselho de Parceria Atlântico. Os detalhes foram deixadospara mais tarde.

Quando a nova instituição começou a tomar forma, o pre-fixo “Euro-” foi acrescentado ao nome proposto. Tanto osmembros do CCAN como os outros países europeus que per-tenciam à Parceria para a Paz foram convidados a aderir. Eforam debatidas opiniões no seio da Aliança acerca do que onovo CPEA deveria ser e fazer. Os resultados foram acordadosaquando da criação formal do CPEA – a última reunião doCCAN – em Sintra, Portugal, a 30 de Maio de 1997. O CPEAcentrar-se-ia em questões como a gestão de crises, a limitaçãodos armamentos, o terrorismo internacional, o planeamentoda defesa, o planeamento civil de emergência e a preparaçãocontra catástrofes, a cooperação em matéria de armamentos eas operações de apoio da paz. E a OTAN garantiu que o CPEA“proporcionaria o quadro que daria aos países Parceiros, den-tro da máxima extensão possível, possibilidades acrescidas detomada de decisões relativamente às actividades em que par-ticipassem”. Pouco claro, então como agora, é o significadode “dentro da máxima extensão possível”.

Eram objectivos ambiciosos e desde a sua criação o CPEAdecidiu institucionalizar uma vasta gama de reuniões para quefossem implementados. Estas incluíam reuniões mensais dosembaixadores; reuniões semestrais dos ministros dosestrangeiros e da defesa; reuniões ocasionais dos chefes deEstado e de governo; bem como reuniões, chamadas a “16(agora 19) mais um”, dos Aliados com cada um dos Parceiros.Desde então, o CPEA tem procurado participar em diversasáreas, desde identificar maneiras de poder contribuir para a li-mitação das armas portáteis e do armamento ligeiro a organizarexercícios de planeamento civil de emergência com o CentroEuro-Atlântico de Coordenação da Reacção a Catástrofes.

O CPEA poderia, evidentemente, fazer muito mais.Contudo, ainda lhe falta o poder de tomar decisões. Estepoder é ciosamente guardado pelo Conselho do AtlânticoNorte, em larga medida porque os Aliados têm obrigações eresponsabilidades especiais nos termos do Tratado deWashington, a carta fundadora da OTAN, e têm de suportar oencargo de organizar e financiar as actividades do CPEA.Contudo, em 1999, os Aliados começaram a envolver osmembros do CPEA no estudo da forma como os paísesParceiros tomariam parte nas chamadas “operações não doArtigo 5.º”, ou seja, nas operações não relacionadas com adefesa colectiva. O objectivo era envolver os países Parceiros,dentro de certos limites, nas consultas políticas e na tomadade decisões, no planeamento operacional e nos dispositivos decomando para as futuras operações dirigidas pela OTAN emque participassem.

Devido à crescente importância da Parceria para a Paz, istoera um passo natural. Os novos desenvolvimentos incluíamquestões que afectavam os países Parceiros no quadro daIniciativa das Capacidades de Defesa da OTAN; e a criaçãodum Processo de Planeamento e Análise Alargado e Adaptado– em parte para melhorar a interoperacionalidade das forças e

as capacidades – bem como consultas sobre as crises e outrasquestões políticas e relacionadas com a segurança. O Plano deAcção do CPEA para 2000-2002 também cobre consultas ecooperação sobre assuntos regionais, incluindo o SuesteEuropeu e o Cáucaso, bem como questões relacionadas com oPacto de Estabilidade, a iniciativa da UE para desenvolver umquadro internacional abrangente destinado a ajudar a cons-truir a estabilidade a longo prazo no Sueste Europeu.

Apesar destes esforços, o CPEA ainda não atingiu todo oseu potencial. Há duas razões que contribuem para isto.Primeiro, embora muitos países sejam convidados para aderirà Aliança na Cimeira de Praga do próximo ano, alguns can-didatos ficarão de fora. É crucial que o CPEA dê a estes paí-ses a sensação firme de que pertencem à família da OTAN emsentido lato. Segundo, alguns países do CPEA, sobretudo doCáucaso e da Ásia Central, provavelmente nunca aderirão àOTAN. Contudo, o CPEA poderá ajudá-los, também, a ganharmais segurança e confiança.

Dar ao CPEA verdadeiros poderes de tomada de decisões,para além da capacidade de ajudar a formular decisões doConselho do Atlântico Norte, não está presentemente na agen-da da Aliança. Contudo, quando os Parceiros demonstrarem asua capacidade para assumir responsabilidades adicionais,isto deverá ser revisto. Certamente, a maior integração dasactividades dos Parceiros com os Aliados deverá ser o próxi-mo objectivo imediato. Várias possibilidades se destacam:

Gestão de crises: Actualmente, a maior parte das consultassobre crises efectuadas na OTAN estão centralizadas noConselho do Atlântico Norte. Mesmo aqui, a Aliança está emdesvantagem porque não tem a competência dum governosoberano. O papel da OTAN na ajuda à gestão de crises –como a da Ex-República Jugoslava da Macedónia* – é larga-mente limitado a tarefas específicas que os Estados membrosconf iam ao Secretário-Geral. Na Bósnia-Herzegovina(Bósnia) e no Kosovo, por exemplo, a OTAN viu-se obrigadaa agir militarmente, sem ter estado envolvida directamente nadiplomacia que precedeu a sua intervenção. Não se podeesperar que o CPEA venha a ter uma competência que nem oConselho do Atlântico Norte tem, mas é surpreendente queentre os membros do CPEA haja países com muita experiên-cia, bem como proximidade, nas áreas mais polémicas para aOTAN, especialmente nos Balcãs. O CPEA deverá, portanto,evoluir para um fórum primário para planear soluções viáveispara as crises, não apenas um lugar para dar informação dasdeliberações do Conselho do Atlântico Norte.

Os Balcãs: O CPEA já está activo no Sueste Europeu, e emparticular em grande parte da ex-Jugoslávia, que é um desafioespecial para a comunidade internacional. Na Cimeira deWashington de 1999 da Aliança, a OTAN lançou a Iniciativado Sueste Europeu, um pilar da qual é um Grupo de TrabalhoAd hoc, sob os auspícios do CPEA, que promove a coope-ração regional. Numa reunião do CPEA a nível de embai-xadores em Julho de 2000, a Bulgária anunciou a criação doGrupo de Orientação da Cooperação em Matéria deSegurança do Sueste Europeu (SEEGROUP), um fórum emque todos os países da região se podem reunir para troca de

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

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informações e opiniões sobre os projectos e as iniciativas des-tinados a estimular e apoiar a cooperação prática entre osmembros. Desde a mudança do governo de Zagreb no princí-pio de 2000, a Croácia começou a estabelecer pontes com aAliança. Como primeira medida, o país aderiu ao CPEA e àParceria para a Paz em Maio desse ano e participa agora acti-vamente no SEEGROUP. Como o novo governo democráticode Belgrado se abre à OTAN, o CPEA deverá desempenharum papel dominante na ajuda à transição da RepúblicaFederal da Jugoslávia e à sua reintegração na comunidadeinternacional.

Gestão de litígios e conflitos “fora da área”: Muitas outrasáreas de preocupação para os membros da OTAN ou incluemou fazem fronteira com Estados membros do CPEA. Atéagora, o CPEA tinha tido pouca experiência de tentar medi-ar, melhorar ou resolver tensões e conflitos entre os seusmembros no Cáucaso e na Ásia Central. Mas a Aliança – eespecificamente o CPEA – não devem assustar-se com estapossibilidade, nem aceitar que, necessariamente, mecanis-mos ad hoc ou qualquer outro organismo(como a Organização para a Segurança eCooperação na Europa) deverão ter pre-cedência. A liderança será importante.Também o será o desenvolvimento da sen-sação entre os seus membros de que oCPEA pode ter utilidade como instituiçãobásica da segurança europeia, nascida daOTAN, a quem os litígios e crises regionaispodem ser apresentados adequada eproveitosamente. Isto só surgirá com aexperiência, depois de o CPEA ter selec-cionado uma ou mais situações dessas eestabelecido um precedente positivo para oseu papel potencial.

Envolver a Rússia: Nalguns casos, o desenvolvimentodum tal papel de gestão de litígios e conflitos pelo CPEA,entre os seus próprios membros, será mais fácil e produtivo –por exemplo, em apoio ou mesmo substituição do Grupo deMinsk no Nagorno Carabague, uma região disputada entre aArménia e o Azerbaijão – se a Rússia puder ser convencida adesempenhar um papel mais importante. No curto espaço detempo até à Cimeira de Praga, com a perspectiva de os con-vites para aderir à OTAN serem alargados a países da EuropaCentral, a Aliança terá, em qualquer caso, que se aproximar deMoscovo para demonstrar que a OTAN não representa para aRússia um desafio estratégico ou político, nem procura isolá--la. A Rússia decidiu, por enquanto, desempenhar um papelrelativamente passivo no CPEA e na Parceria para a Paz, etem tido relutância em pôr à prova as possibilidades doConselho Conjunto Permanente, o fórum para as consultas e acooperação OTAN-Rússia. A OTAN já está interessada emconvencer a Rússia que tem um lugar válido dentro dum con-ceito alargado da segurança europeia e de que os seus inte-resses básicos na Europa são compatíveis com os da OTAN.Na verdade, se os pensamentos do presidente russo VladimirPutin acerca de a Rússia vir um dia a aderir à OTAN puderemser acalentados, não tanto pela ideia em si mas pelas possibi-lidades mais alargadas que oferecerá, então o CPEA poderá

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Notícias da OTAN12 Outono 2001

tornar-se uma via útil para Moscovo trabalhar com a OTAN.Isto poderá complementar o Conselho Conjunto Permanente,pois dará a Moscovo maior legitimidade do que tem actual-mente para envolver outros países do CPEA, sem provocarreceios de que Moscovo ganhe uma influência excessiva sobreas suas opções estratégicas e políticas. O CPEA poderia por-tanto tornar-se um mecanismo de ajuda para a Rússia aceitaro alargamento da OTAN com a inclusão como membros depaíses próximos das suas fronteiras.

CPEA, PESD e relações UE-OTAN: A OTAN tem vindo aestabelecer um relacionamento com a UE quando esta ins-tituição está a desenvolver uma Política Europeia de Segurançae Defesa (PESD). Este processo está longe de estar concluídoe, na minha opinião, de ser harmonioso. Uma forma de tentarconciliar as divergências é através do alinhamento dos respec-tivos órgãos, especialmente através de reuniões conjuntas doConselho do Atlântico Norte e do novo Comité Político e deSegurança (CPS) da União Europeia aos níveis de embaixa-dores e de ministros. Dado que tanto a União Europeia como a

OTAN estão a admitir como novos mem-bros países da Europa Central e estão tam-bém profundamente envolvidas nestaregião, que ambas estão envolvidas nosBalcãs, que ambas estabeleceram relaçõesespeciais com a Rússia e a Ucrânia e queambas têm interesses no Cáucaso e na ÁsiaCentral, estas reuniões conjuntas deveriamtambém incluir consultas paralelas entre oCPEA e o CPS. Isto também poderia esti-mular a Política Externa e de SegurançaComum da União Europeia a estar maisvirada para o exterior. Em qualquer caso, aUnião Europeia e a OTAN partilham umavasta agenda, apesar de abordarem sob pers-

pectivas diferentes as questões não ligadas à defesa. Noesforço para eliminar as barreiras artificiais que durante tantotempo existiram entre estas duas instituições, o CPEA poderámostrar-se um útil instrumento.

Por fim, é importante recordar que, à medida que a OTANcontinuar a admitir novos membros, o carácter e, em algunsaspectos, o objectivo tanto do CPEA como da Parceria para aPaz mudarão naturalmente. Com a continuação do alargamen-to da OTAN, a relação numérica entre Parceiros e Aliados noCPEA modificar-se-á a favor destes últimos. Os membros nãoAliados do CPEA serão crescentemente dominados pelospaíses a Leste da Turquia. Isto é um forte argumento para oCPEA dar ênfase à resolução de litígios e conflitos, bem comoà coordenação com a União Europeia e outras instituições,para ajudar os países do Cáucaso e da Ásia Central no seudesenvolvimento político e económico, bem como na reformadas suas forças armadas.

Pensando no futuro, a visão duma “Europa unida e livre” sópoderá ser concretizada se a “segurança” for entendida no seusentido mais alargado. O CPEA tem muito a contribuir paraeste objectivo e poderá tornar-se um instrumento político e desegurança eficaz com uma função que ultrapassa muito osseus objectivos originais. �

À medida que a OTANcontinuar a admitirnovos membros, ocarácter e o objectivotanto do CPEA comoda Parceria para a Pazmudarão naturalmente

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Outono 2001 Notícias da OTAN 13

e políticas, cada um dos quais se aplica a uma área ou questãoespecífica – mas que, conjuntamente, formam um todo in-telectualmente coerente. A Aliança procura promover a coope-ração na segurança regional essencialmente nos Balcãs, noCáucaso e nos Estados bálticos, no quadro dos esforços geraisda OTAN para promover a paz e a segurança em toda a áreaeuro-atlântica. A OTAN adopta uma abordagem individualadaptada a cada região, porque cada uma enfrenta os seuspróprios desafios de segurança num contexto geopolíticoúnico e porque cada uma apresenta para a Aliança um inte-resse único em matéria de segurança.

Os Balcãs

O Sueste Europeu tem uma enorme importância geopolíti-ca para a OTAN. O Kosovo, por exemplo, situa-se numa áreaestratégica vital para a Aliança: mesmo por cima de doismembros da OTAN, por baixo de novos membros da EuropaCentral e organicamente ligada à Bósnia-Herzegovina(Bósnia). Instabilidade, conflitos e muitas violações dos direi-tos do homem nesta região têm constituído desafios directosaos interesses da OTAN durante a última década e a Aliançatem sido obrigada a esforçar-se para garantir que estas crisesnão desestabilizem os países vizinhos. Os instrumentos maisconhecidos através dos quais a OTAN promoveu a paz e asegurança nos Balcãs são as operações de manutenção da pazdirigidas pela OTAN na Bósnia e no Kosovo. Mas a Aliançatambém se envolveu num certo número de outros esforçosmilitares e políticos para promover a estabilidade em todo oSueste Europeu, desde a diplomacia preventiva à promoçãoactiva da cooperação regional.

Talvez o exemplo mais notável destes esforços seja aIniciativa do Sueste Europeu da OTAN. Lançada na Cimeirade Washington de 1999 da Aliança para promover a coope-ração regional e a segurança e a estabilidade a longo prazo na

James Appathurai é responsável superior do planeamento na secção deplaneamento da política da Divisão de Assuntos Políticos da OTAN.

No domínio da cooperação euro-atlântica em matériade segurança, certos mecanismos de primeiro planoquase têm o exclusivo da divulgação na imprensa: a

OTAN e a sua Parceria para a Paz, a dimensão de defesa emdesenvolvimento na União Europeia e a Organização para aSegurança e Cooperação na Europa (OSCE). Mas ao ladodestas grandes e bem estabelecidas estruturas, mecanismosregionais mais pequenos e inexperientes estão a dar impor-tantes contribuições para a construção da segurança em áreassensíveis de toda a região euro-atlântica. Estes esforços decooperação a nível mais baixo são um pilar importante naarquitectura de segurança geral e a Aliança está desejosa deajudar o seu desenvolvimento.

A lógica da cooperação regional em matéria de segurança éclara. Reunindo os recursos de maneira adequada, os paísescom as mesmas ideias podem reforçar a sua própria segurançacom mais eficácia. Economicamente, a cooperação permiteeconomias de escala e a aquisição de equipamento que, deoutra forma, seria impossível ser adquirido individualmentepelos países, sobretudo os mais pequenos. Militarmente, acooperação multiplica o potencial das forças armadas de cadaum dos países. Politicamente, a cooperação no domínio dasegurança é a melhor medida para o estabelecimento de con-fiança e segurança, porque exige transparência, coordenaçãoe confiança mútua.

A OTAN constitui um testemunho vivo do êxito desta abor-dagem. O que começou por ser, em 1949, um grupo de paísesdivididos por uma história muito recente – e, não menosimportante, por um oceano – tornou-se a Aliança político-mil-itar mais coesa e eficaz de sempre. E a experiência da OTANdemonstra que a cooperação regional não é uma forma desubstituir outros esforços mas de completá-los. Qualquer paíspode ter muitas associações de segurança, sem que qualquerdelas fique em desvantagem em consequência disso. É o caso,por exemplo, da cooperação entre o Canadá e os EstadosUnidos na Defesa Aerospacial da América do Norte, ou daidentidade de segurança e defesa da União Europeia.

É precisamente porque o potencial da cooperação regionale sub-regional é tão evidente que a Aliança tem dado cres-cente apoio a estes esforços, mesmo entre países que não sãocandidatos à adesão à OTAN. Nem um único documentoaprovado define a razão de ser da cooperação regional e asmodalidades do apoio que a Aliança lhe dará. Em vez disso,esta abordagem é definida através duma série de documentos

Promover a segurança regionalJames Appathurai analisa a forma como a OTAN promove a cooperação regional

em matéria de segurança nos Balcãs, no Cáucaso e nos Estados bálticos.

BÓSNIAHERZEGOVINA

HUNGRIAESLOVÉNIA

CROÁCIA

Sérvia

Mar AdriáticoITÁLIA

ROMÉNIA

BULGÁRIA

EX-REPÚBLICAJUGOSLAVA

DA MACEDÓNIA*

ALBÂNIA

Montenegro

Kosovo

Vojvodina

GRÉCIA

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região, baseou-se nas já muito extensas relações de coope-ração com os Parceiros através do Conselho de ParceriaEuro-Atlântico (CPEA) e da Parceria para a Paz. Também sealargou para incluir países que não pertenciam a estas insti-tuições e programas, a Bósnia e (na altura) a Croácia, e pre-viu o alargamento à República Federal da Jugoslávia. UmGrupo de Trabalho Ad hoc sobre a Cooperação Regional,criado sob os auspícios do CPEA, promove a cooperaçãoregional para estimular e apoiar a cooperação prática entre ospaíses do Sueste Europeu. Os países da região, por exemplo,criaram um Grupo de Orientação da Cooperação em Matériade Segurança no Sueste Europeu (SEEGROUP) emSetembro de 2000, cuja presidência é exercida em rotaçãopelos membros, para apoiar os diversos processos de coope-ração actualmente em curso. As actividades incluem a desmi-nagem, os esforços para controlar as armas portáteis e oarmamento ligeiro, a simulação da gestão de crises e a gestãodo tráfego aéreo.

Em conjunto com outras organizações internacionais, aAliança também está a procurar construir a estabilidaderegional no quadro do Pacto de Estabilidade para o SuesteEuropeu patrocinado pela UE. Desta forma, a OTAN ajudou alançar programas para facilitar a transição para a vida civildos oficiais licenciados (ver artigo da página 23) e outros parao encerramento de bases militares e sua conversão para usoscivis. Outras actividades exigem uma liderança regional. Umbom exemplo é o Documento de Avaliação Comum dosDesafios e Oportunidades da Segurança Regional no SuesteEuropeu (SEECAP). Foi uma ideia da OTAN, que os países daregião, incluindo a República Federal da Jugoslávia, fizeramavançar. O SEECAP enuncia concepções comuns dosdesafios da segurança entre os países signatários e deverá serum primeiro passo vital na construção de relações pacíficasnos Balcãs. Também cria oportunidades para os países parti-cipantes cooperarem no tratamento destes desafios.

O CáucasoNo Cáucaso, onde a OTAN também está a promover a

cooperação regional, o cenário é diferente. Embora haja pro-blemas igualmente difíceis nesta região, o único membro daAliança a sentir directamente os seus efeitos é a Turquia. Alémdisso, há certamente a percepção de que a OTAN como orga-nização tem uma influência limitada na região e de que osseus membros podem contribuir mais utilmente para a sua paze segurança através de medidas bilaterais ou actuando atravésde outras organizações como a OSCE ou as Nações Unidas.

Por todas estas razões, a OTAN adopta uma abordagemmais discreta no Cáucaso. Contudo, mesmo a este nível maisbaixo, a Aliança ainda apoia activamente a cooperação emmatéria de segurança na região como forma de promover atransparência e o estabelecimento de confiança. A via princi-pal para estes esforços da OTAN é o Grupo de Trabalho Adhoc do CPEA sobre as Perspectivas de Cooperação Regionalno Cáucaso. As áreas prioritárias identificadas pelo Grupo deTrabalho para uma cooperação prática regional são asquestões económicas da defesa, o planeamento civil deemergência, a cooperação científica e ambiental e as activi-dades de informação.

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Notícias da OTAN14 Outono 2001

Sob os auspícios do CPEA, teve lugar no Azerbaijão em2000 um seminário sobre a cooperação regional em matériade segurança energética no Cáucaso, que cobriu os aspectosambientais, económicos e de planeamento civil de emergên-cia da segurança energética. Também têm sido realizadosseminários noutros locais da região sobre questões económi-cas da defesa, planeamento civil de emergência, cooperaçãoentre civis e militares, armas portáteis e armamento ligeiro ecooperação científica. Está agora a ser debatida a possibili-dade de outras conferências sobre o terrorismo internacional ea não proliferação das armas de destruição maciça, bem comosobre a gestão de crises e a desminagem. Todos eles sãoesforços valiosos, porque se centram em questões de interesseimediato para a segurança dos países da região.

Deve ser salientado que, quando se trata de promover acooperação no Cáucaso, outros grupos regionais, como aOSCE e o GUUAM, uma organização que inclui a Geórgia, a

Ucrânia, o Usbequistão, o Azerbaijão e a Moldávia, tomam ainiciativa. Mas a OTAN continua a desempenhar um papelimportante, encorajando o desenvolvimento de soluçõescomuns entre países que enfrentam os mesmos desafios.

Os Estados bálticosA terceira região importante em que a OTAN tem interesse

activo em promover a cooperação é a área do mar Báltico. Aocontrário dos Balcãs, onde os desafios são graves e o interesseda OTAN é imediato, ou do Cáucaso, onde os desafios sãoigualmente difíceis mas afectam menos directamente toda aAliança, a região dos Estados bálticos é de importânciageopolítica directa para a Aliança, mas nela a cooperaçãoregional já está a progredir bem e não exige o mesmo nível deapoio da OTAN.

Este êxito local não tem nada de surpreendente pois se trataduma área em que a cooperação regional existe há muitotempo. Quando a Estónia, a Letónia e a Lituânia se tornaramEstados no começo do século XX, procuraram naturalmenteformas mais estreitas de cooperação por razões geográficas,políticas, económicas e militares evidentes. Actualmente, esta

Mar Cáspio

RÚSSIA

MarNegro

GEÓRGIA

AZERBAIJÃO

ARMÉNIA

TURQUIA

IRÃO

AZERBAIJÃO

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cooperação é ainda mais forte – e as razões são óbvias. Dumponto de vista geográfico, estes três países ainda formam umaregião natural. Todos eles são pequenos Estados, com reduzi-da população e economias modestas. Além disso, a suaevolução socio-económica desde os anos 20 tem sido seme-lhante e, presentemente, não há verdadeiras divergênciasentre eles.

Talvez em consequência disto, pode-se dizer que em ne-nhuma parte da Europa a cooperação sub-regional tem sidotão profunda na era pós Guerra Fria como na área do marBáltico. O Conselho dos Estados do Mar Báltico (CBSS)que foi iniciado em 1992 pelos então ministros dosestrangeiros dinamarquês e alemão, é um excelente exemplodum agrupamento regional de sucesso, reunindo 12 paísespara aprofundar a cooperação sobre uma diversidade dequestões. Embora a segurança tradicional não estivesse ini-cialmente na sua agenda, o CBSS promove actualmente a

cooperação sub-regional contra o crime organizado e nabusca e salvamento no mar, incluindo mesmo a utilização deunidades militares.

O CBSS serviu de exemplo para iniciativas semelhantesnoutras partes da Europa, em particular nos Balcãs. Alémdisso, as actividades de cooperação a nível de Estado sãoapoiadas por uma rede bem desenvolvida de organizaçõesespecializadas, bem como por uma teia de cooperação entreprovíncias, cidades e municípios dos países do Báltico. É esteem especial o caso do sector da segurança, onde os trêsEstados partilham o desejo de consolidar a sua independênciae rejeitar qualquer instabilidade vinda do Leste. A cooperaçãotrilateral regular sobre a protecção do espaço aéreo, por exem-plo, levou à recente criação do sistema de vigilância do espaçoaéreo regional (BALTNET), comum aos três países.

Os três países também compreendem que, com os seus li-mitados recursos para a defesa, faz sentido trabalhar em con-junto no seu desenvolvimento. O Grupo de Ajuda para aSegurança no Báltico é um órgão eficaz para a coordenaçãointernacional da ajuda em matéria de segurança às forças de

defesa da Estónia, Letónia e Lituânia. O Colégio de Defesa doBáltico, uma academia militar destinada primariamente a ofi-ciais dos Estados bálticos e que funciona em inglês, é tambémum bom exemplo de cooperação na formação militar.

Os três países bálticos também querem demonstrar que sãobons parceiros europeus, desejosos de contribuir para a segu-rança. O batalhão conjunto de manutenção da paz, BALTBATe a esquadrilha báltica (BALTRON) são exemplos óbvios dacooperação concreta em acção. O BALTBAT já esteve emactividade nas operações de manutenção da paz dirigidas pelaOTAN nos Balcãs.

O apoio da OTAN à participação báltica nas suas operaçõesde manutenção da paz é uma forma de a Aliança e os seusmembros encorajarem a cooperação entre os três países bálti-cos. Estas operações demonstraram que, ao trabalhar em con-junto, os países bálticos podem disputar um combate numacategoria superior à sua e exercer uma influência sobre osacontecimentos euro-atlânticos desproporcionada à suadimensão individual.

A OTAN também está a facilitar esta cooperação atravésdo Plano de Acção para a Adesão e da Parceria para a Paz.Estes dois projectos visam melhorar as capacidades militaresdos países participantes e ambos se centram em particular namelhoria da interoperacionalidade nas operações combi-nadas. São condições essenciais para o aumento da coope-ração regional, que os três países bálticos se esforçam poratingir.

Os membros da Aliança também estão a apoiar a coope-ração regional báltica numa base nacional. A Dinamarca, porexemplo, tem desempenhado um papel fundamental, dandoassistência ao Colégio de Defesa do Báltico e acolhendo sol-dados da paz bálticos em unidades dinamarquesas nos Balcãs.Os Estados Unidos também têm dado um apoio político cru-cial. Isto tem-se manifestado em particular através da suaCarta para o Báltico de 1998, um acordo que, segundo o entãoPresidente dos EUA Bill Clinton, se destina a encorajar umacooperação estreita entre os Estados bálticos e os seus vizi-nhos e a demonstrar “o empenhamento da América em ajudara Estónia, a Letónia e a Lituânia a aprofundar a sua integraçãoe a preparar-se para a adesão à União Europeia e à OTAN”.

A ligação feita pelo Presidente Clinton entre a cooperaçãoregional e a adesão às instituições euro-atlânticas é impor-tante porque é na região do Báltico, em particular, que porvezes se têm levantado preocupações acerca de como o êxitoda cooperação regional poderia enfraquecer o desejo de aderirà OTAN. Longe de ser um impedimento à adesão à Aliança, oêxito da cooperação regional é um poderoso trunfo para oscandidatos a membros. A OTAN é uma organização em que osEstados membros trabalham em conjunto, reúnem recursos edesenvolvem a política através de consensos. O êxito da coope-ração regional não só prepara os candidatos para a adesãocomo também demonstra aos actuais membros que estes paí-ses estão desejosos e aptos a aceitar as condições e métodosde trabalho da Aliança – garantindo, evidentemente, a segu-rança de todos os participantes. �

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Outono 2001 Notícias da OTAN 15

Mar da Noruega

NORUEGA

MarBáltico

SUÉCIA

DINAMARCALITUÂNIA

LETÓNIA

ESTÓNIA

POLÓNIA

FINLÂNDIA

ALEMANHA

Mar doNorte

Kaliningrad

RÚSSIA

BIELORÚSSIA

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Notícias da OTAN16 Outono 2001

progressivamente o seu envolvimento na Parceria para a Paz,tanto quantitativa como qualitativamente, e participa agora emmais de 100 actividades todos os anos.

Este Verão, a Geórgia foi teatro dum acontecimento históri-co ao acolher o primeiro exercício de grande envergadura daParceria para a Paz no Sul do Cáucaso, Cooperative Partner2001. O exercício, que teve lugar no porto de Poti, no marNegro, e à sua volta, e envolveu 4 000 militares de nove paísesda OTAN e de seis Parceiros, visava desenvolver a interopera-cionalidade naval e anfíbia combinada entre os participantes daAliança e dos Parceiros em operações de apoio da paz e deprestação de ajuda humanitária. Foi a actividade de maiorenvergadura em que a Geórgia esteve envolvida com a OTAN.Ajudou a promover a cooperação entre militares das forçasarmadas da Geórgia e dos membros da Aliança. E reflecte umrelacionamento cada vez mais profundo entre a Geórgia e aOTAN.

A Geórgia também tem apoiado consistentemente osesforços da OTAN para pôr fim à violência e construir a esta-bilidade nos Balcãs. De facto, enviámos um pelotão de infan-taria para a Força do Kosovo (KFOR) dirigida pela OTAN, parademonstrar o nosso empenhamento no processo de paz nestaparte da Europa. Além disso, estamos firmemente convencidosde que, como nenhum país se pode isolar da instabilidadenoutro lugar, as ameaças à segurança numa parte da área euro-atlântica são ameaças para toda esta área. Portanto, para cons-truir uma segurança genuína na Europa, cada um deve con-tribuir, de acordo com os seus próprios meios, na erradicaçãode todas as fontes de instabilidade. A Geórgia tem, portanto,desejado vivamente participar nas actividades destinadas amelhorar a segurança em toda a área euro-atlântica e anseia sereventualmente integrada na OTAN.

Tanto a Geórgia como o Cáucaso em geral têm um grandepotencial. A Geórgia está, por exemplo, no centro dos esforçospara construir o Corredor de Transportes Eurasiático – uma viaessencial de comércio Leste-Oeste entre a Ásia e a Europa. Étambém um ponto central natural de transportes para esta revi-talizada “Rota da Seda” que tem três componentes principais: oCorredor de Transportes Europa-Cáucaso-Ásia, um CorredorEstratégico Transcaucasiano de Energia (para transportar osrecursos energéticos do Cáspio para os mercados ocidentais) euma Rede de Telecomunicações Transcaucasiana. Contudo,para estes projectos – que estão a ser apoiados pela UniãoEuropeia e por outros países interessados – se realizarem, seránecessário estabilizar toda a região e criar garantias tangíveispara a paz e para um desenvolvimento sustentável.Irakli Menagarishvili é o ministro dos negócios estrangeiros da Geórgia.

Oobjectivo primordial da política externa da Geórgia éintegrar-se nas estruturas políticas, económicas e desegurança euro-atlânticas para se juntar à comunidade

europeia de países e satisfazer uma aspiração histórica do povoda Geórgia. Desde a desintegração da União Soviética, o meupaís tem procurado construir uma sociedade democrática mo-derna e estabelecer relações mais estreitas e mais profundascom os países e instituições de toda a área euro-atlântica. Aomesmo tempo, a Geórgia e o Cáucaso em geral têm passado pormuita instabilidade e turbulência. O desenvolvimento dum rela-cionamento a longo prazo e mutuamente vantajoso com aAliança tem sido, portanto, uma prioridade nacional na últimadécada, que está a evoluir com vantagem tanto para a Geórgiacomo para a OTAN..

Quando, no princípio dos anos 90, a OTAN abriu os braçospara os antigos membros do Pacto de Varsóvia e os Estadossucessores da União soviética, a Geórgia rapidamente aderiu atodas as novas instituições e programas de segurança. Tornou--se membro do Conselho de Cooperação do Atlântico Norte em1992, assinou o Documento Quadro da Parceria para a Paz em1994 e tornou-se membro fundador do Conselho de ParceriaEuro-Atlântico (CPEA) em 1997. A Geórgia tem aumentado

A Parceria na prática:a experiência da Geórgia

Irakli Menagarishvili descreve o relacionamento da Geórgia com a Aliança e amaneira como está a evoluir, com vantagem tanto para a Geórgia como para a OTAN.

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A posição da Geórgia em relação ao Cáucaso em geral ébaseada nos princípios apresentados pelo Presidente EduardoChevardnaze na sua Iniciativa para um Cáucaso Pacífico de1996 e assinada conjuntamente pelos presidentes da Arménia edo Azerbaijão. Esta iniciativa, que exclui o emprego da força naresolução de litígios, propõe uma fórmula política que visatransformar as confrontações e as crises existentes na região emcooperação e bem-estar geral. A implementação destes princí-pios só será possível com os esforços concertados dos países daregião, dos seus vizinhos e dos outros protagonistas principaisda cena mundial interessados num Cáucaso pacífico e estável.Neste contexto, outras iniciativas – incluindo o proposto Pactode Estabilidade para o Cáucaso – merecem ser atentamenteexaminadas.

Além de desenvolver relações mais estreitas com a OTAN, aGeórgia tem procurado estabelecer ligações com outras organi-zações internacionais e aderir a elas. É membro do Conselho daEuropa, da Organização para a Segurança e Cooperação naEuropa (OSCE) e da Organização Mundial do Comércio e assi-nou um Acordo de Parceria e Cooperação com a UniãoEuropeia em 1996. A Geórgia também é membro da organiza-ção de Cooperação Económica do Mar Negro que procura pro-mover a compreensão mútua, a melhoria do clima político e odesenvolvimento económico na área do mar Negro. E faz parteda GUUAM – Geórgia, Ucrânia, Usbequistão, Azerbaijão eMoldávia – uma organização regional que visa promover abor-dagens comuns dos problemas políticos, económicos, huma-nitários e ecológicos.

As questões de segurança mais prementes da Geórgia sãoos litígios internos com os separatistas da Abkházia e deTskhinvali (anteriormente conhecida por Ossetia do Sul). Aresolução satisfatória destes litígios é uma condição préviaessencial para a criação de condições políticas, sociais eeconómicas estáveis e para o regresso de cerca de 300 000georgianos que foram obrigados a fugir da violência étnica noprincípio dos anos 90. Pretendemos consolidar a nossa inde-pendência esclarecendo os nossos vizinhos de que umaGeórgia independente, próspera, estável e unif icada é domáximo interesse para eles. Isto aplica-se especialmente àFederação Russa, que tem actualmente cerca de 6 000 mili-tares estacionados em solo da Geórgia. A Geórgia pretende aretirada escalonada de todas as tropas russas do territóriogeorgiano e o encerramento das suas bases militares. NaCimeira de Istambul da OSCE em 1999, a Rússia assinou umacordo para este efeito, incluindo um calendário da retiradade duas das quatro bases, que só foi inteiramente aplicadonum caso.

A Geórgia considera o CPEA como uma instituição parti-cularmente importante, capaz de analisar e ajudar a resolvernumerosos problemas de segurança na área euro-atlântica.Como os Parceiros podem propor temas de debates e consultasno CPEA, a Geórgia tem utilizado este fórum para apresentaruma série de questões especialmente preocupantes. Entre elasestão as questões relacionadas com a segurança regional, a re-solução e prevenção de conflitos, e a limitação dos armamentosconvencionais. A Geórgia também tem aproveitado ao máximoo mecanismo do CPEA de realização de reuniões entre os 19

Aliados e cada um dos países Parceiros, as chamadas reuniõesa 19+1, para consultas com a OTAN sobre questões do inte-resse tanto da Geórgia como da Aliança. As primeiras consultaspolíticas entre a Geórgia e a OTAN tiveram lugar na OTAN naPrimavera de 2001 a nível do Secretário-Geral Adjunto para osAssuntos Políticos e do vice-ministro dos negóciosestrangeiros. A utilidade destas reuniões demonstra o potencialdo relacionamento entre a Aliança e um Parceiro, desde quehaja uma vontade genuína de promover a cooperação e a com-preensão.

Nos últimos anos, a Geórgia tem dado importância espe-cial à implementação do seu Programa de Parceria Individualcom a OTAN e à sua participação no Processo dePlaneamento e Análise, a que aderimos em 1999. Até agora,a Geórgia aceitou e procura atingir 29 Objectivos daParceria. Também acolhemos um número signif icativo deactividades do CPEA. Isto inclui um curso regional sobreplaneamento civil de emergência e cooperação civil-militarem Maio de 1997; o primeiro seminário do CPEA sobrecooperação prática em matéria de segurança regional emOutubro de 1998; a reunião do Grupo 9 de ArmamentoTerrestre de países da OTAN e Parceiros em Outubro de1998; outro worshop do CPEA sobre Aspectos Económicosdos Orçamentos da Defesa nas Economias em Transição emJunho de 2000; um Painel de Aconselhamento do ProgramaCientífico da OTAN sobre Ciência e Tecnologia da Vida emMaio de 2001; e uma reunião do Comité Científico da OTANem Outubro de 2001.

A cooperação em matéria de segurança regional no Cáucasoé uma área de actividade do CPEA que a Geórgia tem patroci-nado consistentemente e está ansiosa por fazer avançar paraque tanto a Geórgia como toda a região concretizem o seupotencial. Como o Documento Base do CPEA prevê a possibi-lidade da criação de grupos regionais especiais, a Geórgiapropôs a formação dum grupo de trabalho especializado sobreo Cáucaso. A iniciativa foi apoiada pela Arménia e peloAzerbaijão, bem como por outros membros do CPEA, e levouà criação do Grupo de Trabalho Ad Hoc do CPEA sobre asPerspectivas da Cooperação Regional no Cáucaso. Este Grupode Trabalho reuniu-se formalmente no Outono de 1999 paraexplorar as possibilidades de cooperação prática na região,baseando-se no trabalho já realizado em debates informais em1997. Recomendou um certo número de actividades nasseguintes áreas prioritárias: economia da defesa, planeamentocivil de emergência, cooperação científica e ambiental rela-cionada com a segurança, informação e relações públicas. OGrupo de Trabalho reuniu-se novamente em 2000 para avaliar otrabalho realizado nestas áreas e estudar outras possibilidadesde cooperação.

Durante os últimos dez anos, tanto a Geórgia como a OTANpercorreram um longo caminho. Através do envolvimento noCPEA e alargando as relações bilaterais com os principaismembros da OTAN, a Geórgia pôde aproximar-se politica-mente da Aliança e aderir ao processo da integração euro-atlân-tica. Obviamente, o relacionamento da Geórgia com a OTAN jáfoi muito proveitoso. Contudo, há potencial para uma parceriaainda mais proveitosa. �

EVOLUÇÃO DAS PARCERIAS DA OTAN

Outono 2001 Notícias da OTAN 17

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Notícias da OTAN18 Outono 2001

rança tão propício à evolução como o daactual Europa pós Guerra Fria. Nestecenário fluido, as instituições como aOTAN desempenham um papel essen-cial na orientação da segurança euro-atlântica. Dito de outra maneira, as insti-tuições tornaram-se definidoras deprogramas. Não só possibilitam umaacção colectiva em caso de crise comtambém promovem novas relações desegurança e, assim, tratam de questõesde estabilidade alargada da Europa emesmo de ordem política a longo prazo.

Este exercício de exploração dopotencial da OTAN para determinar oambiente de segurança euro-atlânticoda próxima década prosseguirá em trêsfases. Definirá um cenário favorávelpara 2001; identif icará algumascondições e variáveis importantes queafectam este cenário; e apresentaráalgumas sugestões sobre o que aOTAN deve fazer agora para ajudar aconcretizar este cenário favorável.

Um cenário favorável para 2011Talvez a característica mais óbvia da

“OTAN de 2011” é que será maior.Depois de várias fases de alarga-mento, a Aliança terá passadopara 25 membros ou mais.Portanto, ainda terá mais mem-bros do que uma UniãoEuropeia em alargamento.Mesmo assim, o o número demembros comuns manter-se-á suficiente para permitir queas duas organizações conti-nuem a sua aproximação institu-cional. Os receios de que o processode tomada de decisões da OTAN fiquecomprometido com o aumento donúmero de membros da Aliança ter-se--ão dissipado. O papel político e mili-tar único dos Estados Unidos na segu-rança euro-atlântica manter-se-á e

Michael Rühle é chefe da secção de planea-mento da política e redacção de discursos daDivisão de Assuntos Políticos da OTAN.

continuará a ajudar a garantir uma pre-disposição dos Aliados para procura-rem soluções comuns.

A ambição da União Europeiade desenvolver uma PolíticaEuropeia de Segurança e Defesa(PESD) ter-se-á manifestadonum papel militar europeuainda mais forte nos Balcãs,bem como em iniciativas

de políticaexterna mais coe-rentes em relação ao Cáucaso,ao Próximo Oriente e ao Norte deÁfrica. Sobretudo em consequência daracionalização dos procedimentos deaquisição e da reunião de meios mi-

Em 1984, um célebre investigadornorueguês de estudos sobre apaz apresentou uma lista dos

Estados da Europa que consideravamais seguros. A sua escolha da Suíçacomo número um foi pouco surpreen-dente. Pelo contrário, a sua escolha dosegundo e do terceiro pareceu estranhamesmo na altura: Albânia e Jugoslávia.O seu raciocínio era tão simples comopreocupante. Como a OTAN e o Pactode Varsóvia iriam sem dúvida entrarem guerra entre si, os países mais afas-tados dos “blocos militares” teriam ofuturo mais risonho.

Pode ser tentador subestimar estainfeliz análise como um “fruto daépoca” do princípio dos anos 90.Contudo, previsões terríveis acerca dofuturo da OTAN dif icilmente acer-taram melhor do que as previsões acer-ca dos Balcãs. Embora a actual pri-mazia dada pela OTAN à segurançaeuro-atlântica possa sugerir o con-trário, apenas há uma década atrás ofuturo da Aliança parecia sombrio. Naverdade, no princípio dos anos 90,mesmo os “atlantistas” mais f irmestinham dúvidas acerca do futuro dumaorganização cuja missão parecia terchegado ao fim. Se nessa altura tivessesido previsto que, em 1999, a OTANacolheria três antigos membros doPacto de Varsóvia e conduziria umaoperação aérea prolongada nos Balcãs,a reacção provável teria sido aincredulidade ou mesmo o escárnio.

A especulação sobre o futuro continuaa ser uma iniciativa arriscada mas que é,apesar de tudo, útil. Mesmo que nemtodas as previsões se concretizem, opróprio exercício da previsão ajuda a con-centrar o espírito sobre as questões essen-ciais. Obriga a pensar acerca dum “futuropreferido”, dos meios necessários paraatingir este resultado e das variáveis quepoderão interferir.

Esta abordagem parece particular-mente adequada num ambiente de segu-

Imaginar a OTAN em 2011Michael Rühle contempla a sua bola de cristal e imagina como poderão ser a

Aliança e o ambiente de segurança euro-atlântico daqui a dez anos.

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litares europeus, os países da UE terãofeito um certo progresso no sentido damelhoria das suas capacidades de defe-sa. Contudo, continuarão as deficiên-cias em capacidades críticas para osconflitos de grande intensidade, tor-nando necessário manter ligaçõesestreitas entre a União Europeia e aOTAN.

O relacionamento UE-OTAN terásido signif icativa-

mente alargado paraalém da PESD de

forma a incluirconsultas re-

g u l a r e ssobre o

Sueste

Europeu, o Medi-terrâneo, a Rússia, o terro-

rismo e particularmente a pre-venção de crises. Serão realizadasregularmente reuniões ministeriaisUE-OTAN, sublinhando o desejo daEuropa e da América do Norte de man-ter a coerência das instituições e daspolíticas.

A OTAN ainda terá tropas desta-cadas nos Balcãs, mas a dimensão dapresença militar da Aliança terá sidomuitíssimo reduzida, em consequên-cia dos progressos políticos eeconómicos da região. A Bósnia--Herzegovina e a Jugoslávia terão hámuito aderido à Parceria para a Paz eambas serão candidatos formais àadesão à OTAN.

Com os riscos de proliferação comum significado cada vez mais profun-do, os Aliados da OTAN terão esta-belecido uma política coordenada deprevenção do alastramento das armasde destruição maciça através de meiosdiplomáticos e económicos. OsEstados Unidos terão instalado umadefesa rudimentar contra mísseisestratégicos. Vários Aliados europeusterão equipado as suas forças armadascom sistemas de defesa contra mísseistácticos. Esta nova relação entre a dis-suasão e a defesa também estará reflec-tida na estratégia militar da OTAN,

que conterá elementos de contra-proliferação e uma maior ênfase

na defesa activa e na luta contrao terrorismo.

O Conselho de ParceriaEuro-Atlântico (CPEA)terá desenvolvido li-gações formais com aOrganização para aSegurança e Coope-ração na Europa eter-se-á tornado umórgão orientador

para a ajuda à escalaeuropeia em caso de

catástrofe. As trocasde informações sobre o

terrorismo ter-se-ãointensif icado. O CPEA

também terá adquirido umpapel importante como auxiliador

da cooperação regional no Cáucaso ena Ásia Central, onde servirá dequadro para o tratamento de questõescomo o controlo das fronteiras e asegurança no domínio da energia.

A Parceria para a Paz ter-se-á desen-volvido mais como elemento central dacooperação militar pan-europeia e,juntamente com o CPEA, servirá comoforma de manter os Parceiros, espe-cialmente os restantes membros da UE

Outono 2001 Notícias da OTAN 19

não membros da OTAN, estreitamenteassociados à OTAN. A Parceria cobrirátoda a gama de cooperação militarentre os países da OTAN e Parceiros,incluindo o planeamento da defesa e areforma da defesa. Dará uma ênfasemaior à cooperação regional e à pre-venção de crises, por exemplo, atravésde programas de cooperação emmatéria de segurança, medidas para oestabelecimento de confiança, destaca-mentos preventivos e mecanismos deconsulta.

Embora as repetidas aberturas rus-sas para aderir à Aliança ainda nãotenham dado frutos, o relacionamentoOTAN-Rússia terá melhorado signi-ficativamente e assemelhar-se-á a umestatuto de quase-associação. No con-texto da adesão dos Estados bálticos àOTAN, terá sido encontrada umasolução satisfatória para Kaliningrad,o enclave russo entre a Lituânia e aPolónia. O diálogo ter-se-á alargadode forma a cobrir toda a gama dequestões especif icadas no ActoFundador OTAN-Rússia de 1997,como a não proliferação, a reforma dadefesa e o planeamento civil deemergência. O relacionamento tam-bém incluirá uma autêntica coope-ração militar para além dos Balcãs,entre outros casos no quadro dumabrigada experimental conjunta demanutenção da paz OTAN-Rússia.Também incluirá a cooperação emmatéria de armamentos, por exemplono domínio da defesa contra mísseistácticos.

As relações da OTAN com asNações Unidas ter-se-ão consolidadotanto formal como conceptualmente.Formalmente, um gabinete de ligaçãopermanente na sede da ONU subli-nhará o papel da OTAN como umainstituição central na gestão de criseseuropeias. Conceptualmente, a expe-riência da OTAN nos Balcãs consti-tuirá uma parte importante da reformapelas Nações Unidas da sua própriaabordagem da manutenção da paz.

O aumento da importância estraté-gica da região Sul do Mediterrâneoterá elevado o Diálogo do Medi-terrâneo do seu papel de enteado dasactividades de abertura da OTAN. Teráevoluído de forma semelhante à

ENSAIO

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Parceria para a Paz, com uma impor-tante cooperação militar, sobretudo nodomínio da gestão de crises, e umaforte ênfase na não proliferação. Comoreflexo da crescente importância daregião Ásia-Pacífico, as conferênciassemestrais Japão-OTAN terão sidosubstituídas por um mais alargadoDiálogo Ásia-OTAN, tendo comomodelo o Diálogo do Mediterrâneo.

Isto representa, sem dúvida, umcenário mais favorável, com a OTAN adesempenhar um papel importante,embora não excepcional, na execuçãoda mudança. A principal diferençaentre 2011 e 2001 será o facto de asrelações ad hoc entre instituiçõesimportantes, que nasceram por neces-sidade nos Balcãs, se terem transfor-mado em sólidas relações formais,facilitando uma abordagem abrangenteda gestão de crises e, espera-se, da pre-venção de crises. Ao reajustamentointerno pós Guerra Fria da OTAN, quefoi em grande parte concluído no finaldos anos 90, terão sido acrescidos maisalguns mecanismos, de acordo com osnovos desaf ios que terão surgidodepois de 2000.

Condições essenciaisSeria analiticamente questionável

na melhor das hipóteses e completa-mente inútil no pior dos casos esboçarum cenário favorável do futuro semdiscutir pelo menos as condições maisimportantes para a sua realização. Naverdade, as condições que precisam deser satisfeitas para que o cenáriofavorável se concretize dizem tantosobre o caminho a seguir como opróprio cenário.

É evidente que a evolução positivada Rússia será uma condição decisivapara um cenário favorável. Se a experi-ência democrática da Rússia fracassar,ou se a própria condição de Estado daRússia for posta em risco pela frag-mentação política e económica, atingiro futuro preferido esboçado acimaparecerá impossível. É certo que umaRússia em decadência não precisanecessariamente de provocar umanova Guerra Fria. Contudo, umaRússia dominada pela crise comprom-eteria gravemente o desenvolvimentode todas as instituições euro-atlânti-cas.

Outra condição é a coerência dosprocessos de alargamento da UniãoEuropeia e da OTAN, os principaisprotagonistas institucionais da Europa.Se o alargamento de uma ou das duasinstituições parasse e as diferenças dasua composição aumentassem, ashipóteses de desenvolver políticascoerentes e eficazes – cujo potencialtem sido recentemente demonstradonos Balcãs – diminuiriam novamente.

O desenvolvimento satisfatórioduma Política Europeia de Segurançae Defesa é outra variável importante.Se a PESD se mantiver dentro da suaactual filosofia “atlantista”, poderá sa-tisfazer pelo menos algumas dasexigências de partilha de encargos for-muladas pelos Estados Unidos. Pelocontrário, se a PESD se tornar umaforma de auto-af irmação da UE oumesmo uma contrapartida para o unila-terismo dos Estados Unidos, tornar-se--á mais um risco do que um trunfo paraas relações transatlânticas.

A continuação do interesse dosEUA pela Europa também será crucial.Se o interesse dos EUA pela segurançaeuropeia se mantiver elevado, poderãoser efectuados, sem destruir a estruturatransatlântica, possíveis ajustamentosno relacionamento transatlântico, taiscomo um papel mais forte da UE emmatéria de segurança ou uma ênfasemaior dos EUA em relação à Ásia.Contudo, se o interesse dos EUA pelaEuropa diminuir – devido a uma dete-rioração das relações transatlânticas oua outros interesses mundiais prementesdos Estados Unidos – a OTAN ficaráprivada da liderança de que necessitapara funcionar como signif icativoagente de mudança.

Fazer face à evolução da tecnologiamilitar será outra condição para umcenário favorável. A defesa antimíssil,por exemplo, poderá contribuir muitopara assegurar uma protecção contra odesafio da proliferação – e deverá por-tanto ser uma parte integrante da“OTAN de 2011”. Contudo, se for malgerida politicamente, também poderáprovocar um afastamento entre aEuropa e os Estados Unidos. Umaumento do desfasamento tecnológicotransatlântico diminuirá a importânciados Aliados europeus aos olhos dos

Notícias da OTAN20 Outono 2001

Estados Unidos e alimentará o debatesobre a partilha de encargos. Tambémpoderá reforçar as tendências unilate-ralistas nos Estados Unidos, o que, porsua vez, levaria a um aumento doressentimento na Europa.

Recursos suficientes são outracondição para um cenário optimistaem 2011. Destinar fundos insuf i-cientes à defesa restringirá os papeispotenciais em matéria de segurança daUnião Europeia e da OTAN e impediráo cenário favorável. No contexto dumdebate mais aceso da partilha de encar-gos, não financiar adequadamente pro-gramas como o Grande Objectivo daUnião Europeia ou a Iniciativa dasCapacidades de Defesa da OTANpoderá ter ramificações políticas muitopara além do valor militar imediatodestes programas. Na mesma ordem deideias, a consolidação da indústria dedefesa europeia e/ou políticas restriti-vas dos EUA sobre a cooperação entreas indústrias de defesa poderão levar auma “Fortaleza Europa” e uma “For-taleza América”, o que prejudi-caria gravemente as relações transa-tlânticas.

Por fim, há a evolução dos riscos eameaças na Europa e à sua volta. Estaé, evidentemente, a variável maisimportante com as consequênciaspotencialmente de maior alcance,como foi demonstrado pelos ataquesterroristas sobre Nova Iorque eWashington a 11 de Setembro.Admitindo que a evolução da segu-rança na Europa e à sua volta conti-nua a ser essencialmente favorável,alguns isolacionistas dos EUA , bemcomo alguns “euróf ilos”, poderãosentir-se tentados a considerar que oenvolvimento militar dos EUA naEuropa já não é necessário. Contudo,não devemos concluir disto que aOTAN só pode desenvolver-se numambiente instável, nem que issoaconteça necessariamente. Odesacordo entre os Aliados quanto àforma de enfrentar outra guerra nosBalcãs, por exemplo, poderia mesmoprovocar realinhamentos estratégicosentre os Aliados e enfraquecer aOTAN. É claro que construir a segu-rança europeia por meios pacíf icoscontinua a ser a opção preferida daOTAN.

ENSAIO

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O que deve fazer a OTANagora para que o cenáriofavorável se concretize

Continuar: A actual arquitectura desegurança europeia está longe de serperfeita, mas tem uma forte dinâmicade cooperação que contém muitosdesincentivos contra acções mal inten-cionadas ou a prossecução irrespon-sável de interesses nacionais. Pelo con-trário, se a OTAN desaparecesse,alguns países receariam ser margina-lizados. Isto poderia levar a umaexagerada sensação de insegurança emtoda a Europa e a políticas que inverte-riam a evolução positiva que se temverificado no continente durante a últi-ma década. Embora o quadro da OTANtenha claras limitações, não há nenhu-ma alternativa institucional viável paraele num futuro previsível.

Manter o rumo: Quer se trate daquestão do alargamento da OTAN, doenvolvimento da Rússia, da PESD oudos Balcãs, não há actualmente nenhu-ma necessidade de qualquer mudançaradical de política. Na verdade, como oleitor conhecedor da OTAN já terá pen-sado, se a actual agenda da Aliançafosse totalmente implementada, poderialevar essencialmente ao cenáriofavorável acima esboçado, com mais oumenos uma ou duas novas iniciativas.Pelo contrário, uma reviravolta em qual-quer destas questões simplesmente iriareabrir conflitos dos meados dos anos90. A OTAN continuará a desenvolvernovos mecanismos para enfrentar umcenário de segurança em mudança, semdeixar de intensificar os seus esforçosde coordenação da luta contra o terro-rismo internacional, mas os parâmetrosbásicos já estão definidos.

Preocupar-se com o fundamental:As insinuações histéricas no actualdebate transatlântico podem por vezessugerir que não é assim, mas um divór-cio transatlântico devido a “divergên-cias irrreconciliáveis” sobre o efeito deestufa e os alimentos geneticamentemodif icados não está iminente. Umsimples olhar para os fundamentos dasegurança transatlântica basta para pôras coisas na perspectiva correcta.Demonstram, por exemplo, que osEstados Unidos não recusarão aoseuropeus uma política de segurançadistinta, assim como a Europa não

imporá aos Estados Unidos uma políti-ca de vulnerabilidade estratégica opon-do-se ao desenvolvimento duma defesaantimíssil. Também indicam que aOTAN fez dos Balcãs um caso irrever-sivelmente seu – e que ceder à tentaçãodum rompimento iria apenas relançar odesacordo transatlântico verificado naprimeira metade dos anos 90. Por fim,mostram que a Europa e a América doNorte partilham muitos outros inte-resses estratégicos, tais como a pre-venção da proliferação, a luta contra oterrorismo e a manutenção de merca-dos livres. Perseguir estes interessesexigirá a continuação da cooperaçãotransatlântica. Como foi confirmadopela decisão da Aliança de invocar ocompromisso da defesa colectiva emresposta aos ataques terroristas sobreNova Iorque e Washington, a OTAN édemasiado valiosa estrategicamentepara permitirmos que possa ser preju-dicada por querelas sobre questões tác-ticas.

O tema implícito deste artigo é que aOTAN está a mudar. Comparada com aAliança actual, a “OTAN de 2011” serámaior, um pouco mais “europeia” etalvez um pouco mais "meridional" nassuas opções estratégicas. Além disso, aevolução da Aliança será crescente-mente dependente de acontecimentosexternos, nos Balcãs, na UniãoEuropeia, no Mediterrâneo e naRússia. Contudo, nenhuma destasmudanças retirará à “OTAN de 2011”as características fundamentais que atornaram valiosa e duradoura, espe-cialmente a sua forte dimensãotransatlântica e a sua competência mi-litar única. Marlene Dietrich disse umavez que: “A maior parte das mulheresdecidem mudar um homem e, depoisde o terem mudado, já não gostamdele”. Pelo contrário, apesar dasmuitas mudanças, a “OTAN de 2011”deverá continuar a ser uma Aliança deque os Aliados e os Parceiros aindagostam e que muito aprovam.

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Este ensaio baseia-se numa palestra dedivulgação que Michael Rühle faz re-gularmente na Escola OTAN deOberammergau, Alemanha. O autorquer agradecer a Rad van den Akker,James Appathurai e Nick Williams osseus comentários e sugestões. �

Outono 2001 Notícias da OTAN 21

ENSAIO

A conferênciasobre a parceria

A OTAN organizou uma confe-rência internacional para assinalar odécimo aniversário da criação doConselho de Cooperação do AtlânticoNorte e comemorar uma década derelações cada vez mais estreitas entreos membros da Aliança e os Parceiros.

Esta conferência, intitulada DezAnos de Parceria e Cooperação,teve lugar na sexta-feira 26 deOutubro na sede da OTAN e a elaassistiram participantes dos 46membros do Conselho de ParceriaEuro-Atlântico (CPEA).

Além de analisar os acontecimen-tos principais da formação da estraté-gia de Parceria da OTAN e de avaliaros resultados até agora obtidos, aconferência examinou a evoluçãofutura das relações entre os membrosda Aliança e os Parceiros e estudou aforma como o CPEA se poderádesenvolver nos próximos anos.

O Secretário-Geral da OTANLord Robertson utilizou o aconteci-mento para fazer o seu principal dis-curso do ano sobre a parceria e acooperação. Este discurso e os deoutros oradores programáticosforam transmitidos em directo noWeb site da OTAN.

O Gabinete de Informação eImprensa da OTAN também publicouum folheto especial de 20 páginasrelacionado com a conferência. Inti-tulado Partnership in Action, evoca onascimento e o desenvolvimento daideia da Parceria e examina a formacomo a Parceria funciona na prática.

Mais informação sobre aconferência, a transmissão e

o folheto Partnership in Action podeser encontrada desde já no Web siteda OTAN em: www.NATO.int

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Notícias da OTAN22 Outono 2001

ARTIGOS EM DESTAQUE

Entre 1949 e 1989, um total de456 ensaios nucleares foramrealizados em Semipalatinsk,

Cazaquistão, o antigo campo deensaios principal da União Soviética,antes de ser encerrado por decreto pre-sidencial em 1991. Durante o resto dadécada, apesar dos receios acerca donível de radioactividade e do impactopotencial na população, na flora e nafauna locais, o campo manteve-selargamente sem controlo. Agora, contu-do, os cientistas começaram a medir e aestudar sistematicamente a contami-nação do campo, no quadro dum pro-jecto patrocinado pela OTAN.

O projecto Semipalatinsk, realizadoconjuntamente por cientistas doCazaquistão e do Reino Unido, visaexaminar os níveis de contaminaçãoem cerca de 600 dos 22 000quilómetros quadrados docampo de ensaios, uma áreacom cerca do tamanho doPaís de Gales. Reúne cientis-tas da Middlesex Universityde Londres e os seus homólo-gos da Universidade nacionalcazaquistanesa Al-Farabi deAlmaty, do Instituto de Segu-rança Nuclear e Ecologia deKurchatov e do Instituto deFísica Nuclear de Almaty.Também é dada a ajuda deperitos do University Collegede Dublin, Irlanda.

O envolvimento da OTANno projecto segue-se a umasérie de testes efectuados pelaAgência Internacional deEnergia Atómica (AIEA) em 1997, queconfirmaram que o campo de ensaiosrepresentava um “grave risco para asaúde de algumas pessoas e grupospopulacionais”. A AIEA recomendouque o controlo continuasse e uma re-solução da ONU de Dezembro de 1997exortou uma acção colectiva interna-cional para “f inanciar uma soluçãoviável para os problemas ecológicos do

campo de ensaios de Semipalatinsk”.Após uma conferência de doadores emTóquio em 1998, a OTAN decidiufinanciar um estudo de três anos, quecomeçou em 1999, no montante de20,5 milhões BEF (cerca de 500 000USD).

Nicholas Priest, professor de toxi-cologia ambiental na MiddlesexUniversity, e Mukhambetcali Burkit-bayev, professor de química inorgânicana Universidade nacional cazaquis-tanesa Al-Farabi, são os co-directoresdo projecto. Escolheram para estudo azona de 600 quilómetros quadradosporque tinha água doce, energia eléc-trica, fora anteriormente usada paraprodução de pasto e forragem, e eravizinha da vila de Sarzhal, que temcerca de 2 000 habitantes. “Antes de a

OTAN financiar a nossa investigação,o controlo dos níveis de radioactivi-dade e de contaminação era efectuadonuma base limitada e ad hoc”, disse oProfessor Priest.

A área de estudo é especialmentesignificativa porque esteve no centroda explosão duma bomba de hidro-génio ao nível do solo. Fica próxima

dos montes Degelen, onde foram efec-tuados 239 ensaios nucleares subterrâ-neos, e foi o local de duas experiênciassobre as possibilidades de abrir canaise desviar rios usando explosivosnucleares. Fica também perto de outraárea de ensaios chamada Balapan,onde foram efectuadas mais de 100explosões nucleares em poços verticaissubterrâneos.

O projecto Semipalatinsk procuramedir os níveis de contaminação emtoda a área de 600 quilómetros quadra-dos, identificando as terras imediata-mente adequadas para povoamentohumano, as terras que poderão serpovoadas com um reduzido trabalho delimpeza, e as terras que deverão ser per-manentemente interditadas. Alémdisso, as consequências das duas expe-riências relativas à abertura de canais eao desvio de rios estão a ser estudadas.Três universitários cazaquistanesesestão também a examinar, respectiva-mente, os níveis de plutónio das pes-soas que vivem próximo do campo deensaios, os níveis de plutónio da água eos riscos de contaminação das áreas

adjacentes via plutónioaerotransportado. Os resul-tados dos vários estudos sãoimediatamente integradosnum segundo projecto sobrea utilização das terras finan-ciado pelo Departamentopara o DesenvolvimentoInternacional do ReinoUnido.

O projecto Semipalatinské um dos maiores dos 97 pro-jectos actualmente apoiadospelo programa OTAN daCiência para a Paz. Este pro-grama, que foi criado em1997 e tem actualmente umorçamento anual de mais de 5milhões USD, baseia-se noprincípio de que a ciência e a

tecnologia são cruciais para a segu-rança das nações. Todos os projectosde investigação científica financiadospela OTAN exigem a cooperação entrecientistas de países membros da OTANe de países Parceiros. Em 2000, umconvite para propostas deu origem acerca de 850 pedidos, dos quais serãoeventualmente apoiados uns 45 a 50novos projectos. �

CONTROLARA CONTAMINAÇÃONO CAZAQUISTÃO

Controlando a radioactividade

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ARTIGOS EM DESTAQUE

Outono 2001 Notícias da OTAN 23

Um programa inovador patroci-nado pela OTAN está a ajudaros oficiais búlgaros e romenos

recentemente licenciados, ou a sê-lobrevemente, a encontrar emprego ereorganizar a sua vida fora das forçasarmadas e será em breve alargado àCroácia e, possivelmente, à Albânia.

O programa, que foi elaborado noquadro do pacto de Estabilidade para oSueste Europeu patrocinado pela UE,reúne instituições e organizações quetradicionalmente não têm trabalhadoem conjunto, como a OTAN e o BancoMundial, para ajudar a resolver difíceisproblemas sociais e contribuir para ainstauração duma estabilidade a longoprazo no Sueste Europeu. Ao todo,cerca de 60 000 oficiais – 20 000 emcada um dos três países, Bulgária,Roménia e Croácia – serão benef i-ciários e milhares mais poderão bene-ficiar se o programa for alargado a ou-tros países da região.

“Tanto a OTAN como o BancoMundial estão a fazer o que cada umadas organizações sabe fazer melhor”diz Chuck Parker, coordenador daIniciativa do Sueste Europeu daOTAN. “A OTAN está a ajudar os paí-ses Parceiros a reduzir a dimensão dassuas forças armadas e o BancoMundial está a emprestar parte do di-nheiro necessário para f inanciar areforma e ajudar os militares a pas-sarem a civis”.

Parker, um antigo coronel doExército dos EUA, ajudou a conceber edesenvolver o programa juntamentecom colegas do Banco Mundial. doPacto de Estabilidade e dos ministériosrelevantes da Bulgária e da Roménia.“A OTAN e o Banco Mundial não for-mam um par natural, mas puderamjuntar-se devido ao quadro propor-cionado pelo Pacto de Estabilidade e asinergia resultante está agora a darresultados que podem ser entendidospelo homem da rua”, diz ele.

Depois dos debates iniciais nosmeses que se seguiram à criação doPacto de Estabilidade em Julho de1999, a OTAN enviou equipas, comperitos holandeses, alemães, francesese americanos, à Bulgária e à Roménia,em Fevereiro e Março de 2000, paraajudar a elaborar os programas respec-tivos. Esta ajuda, combinada com ocontrolo de acompanhamento daOTAN, ajudou a convencer o BancoMundial a fazer o necessário financia-mento do empréstimo.

A Roménia pediu um empréstimode 500 000 USD ao Banco Mundialpara arrancar com o seu programa emMarço deste ano e está actualmente anegociar um outro empréstimo de 3milhões USD. O programa romeno,que foi concebido em moldes seme-

lhantes a um esquema de ajuda exis-tente destinado a mineiros desempre-gados, é gerido pelo ministério dadefesa. Reúne vários departamentos eórgãos governamentais e funcionanuma base itinerante, visitando basesmilitares, aconselhando os oficiais aserem licenciados em breve para osajudar a ultrapassar o choque daredundância e informando-os sobre assuas opções na vida civil. Em

Setembro, já tinham utilizado o pro-grama cerca de 2 000 antigos militares.

A Bulgária decidiu não aceitar oempréstimo oferecido pelo BancoMundial e, em vez disso, apelou aof inanciamento por doadores. Emresposta, o Reino Unido doou com-putadores e a Holanda, a Noruega e oOpen Society Institute, a fundação ca-ritativa do bilionário filantropo GeorgeSoros, contribuíram com perto de 500000 USD para o programa arrancar.Tem f inanciamento até ao f inal de2001, a Holanda concordou em finan-ciar um dos quatro centros regionaisdurante o ano de 2002 e o programaestá à espera de donativos adicionaispara o próximo ano.

O programa búlgaro é um poucodiferente do romeno. É gerido por umaorganização não governamental, oCentro de Recursos ONG, que é dirigi-do por um coronel búlgaro reformado,e criou quatro centros regionais. AtéJulho deste ano, cerca de 2 500 ofi-ciais, dum total de cerca de 3 000 ofi-ciais licenciados, tinham contactadoum destes centros. Alguns receberamapoio inicial e depois foram à procurade emprego por si próprios. Cerca de1 000 inscreveram-se formalmente epediram que o programa encontrasseemprego para eles. Destes, 200 encon-traram emprego e entre 400 e 600 estãoa seguir indicações ou a preparar-separa entrevistas organizadas pelo pro-grama.

Como os programas búlgaro eromeno começaram a ter resultados,tanto a Albânia como a Croácia mani-festaram interesse em lançar iniciativassemelhantes. Enviados croatas visi-taram a Roménia para ver a formacomo o programa estava a funcionaraqui e ter uma ideia do trabalho depreparação envolvido. Em Março de2001, foi enviada à Croácia umaequipa da OTAN para dar aconselha-mento sobre os passos seguintes.

Os programas búlgaro e romenofazem parte da iniciativa do SuesteEuropeu da OTAN, uma iniciativalançada em 1999 no seguimento dacampanha aérea do Kosovo para con-tribuir para a construção da estabili-dade no Sueste Europeu. �

À procura de novas carreiras

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FACILITARA PASSAGEMÀ VIDA CIVIL

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NO: O Conselho de Parceria Euro-Atlântico tornou-se um fórum dediálogo importante sobre os assun-tos de segurança. Como vê a evo-lução desta instituição nos próximosanos?MA: O CPEA constitui um fórummuito útil para as consultas e diálo-go políticos a alto nível entre osParceiros e os Aliados. Depois doataque terrorista nos EstadosUnidos, vejo ainda maiores possi-bilidades de cooperação no CPEA.Isto depende muito de como a si-tuação é tratada, mas vejo grandespossibilidades de cooperação trans-atlântica entre os Estados Unidos, aEuropa e a Rússia no quadro doCPEA.

NO: Tanto a OTAN como a UniãoEuropeia estão actualmente a pensarna sua expansão. Que problemaspotenciais prevê?

MA: O alargamento da OTAN, do ponto de vista organiza-cional, é uma tarefa mais fácil. Quanto à União Europeia,é óbvio que temos que examinar quer os processos detomada de decisões quer as próprias instituições.Preconizei o alargamento da União Europeia durantemuitos anos e, portanto, vejo mais possibilidades queproblemas. Também sou solidário com os países quequerem aderir à OTAN. Acima de tudo, querem assegurarum clima pacíf ico em que possam ser desenvolvidos astradições democráticas, o respeito pelos direitos dohomem e o primado do direito. O desafio, tanto para osactuais membros como para os países candidatos, é uti-lizar os próximos anos para assegurar que o processotenha êxito.

Notícias da OTAN24 Outono 2001

Notícias da OTAN: Na última déca-da, o ambiente de segurança euro-atlântico mudou até f icar quaseirreconhecível. Quais são actualmenteas maiores ameaças à segurança?Martti Ahtisaari: No seguimento dostrágicos ataques em Nova Iorque eWashington, a ameaça do terrorismoe a luta contra ele está obviamente naagenda de todos. De facto, isto é umbom exemplo de como as novasameaças à segurança podem afectargravemente o que ainda é um sistemade segurança largamente centrado noEstado. Muitas das mais gravesameaças actuais são à escala mundial.Além do terrorismo, incluem a cor-rupção, o crime organizado, o tráficode droga e a proliferação das armasportáteis. Por outro lado, a maiorparte dos actuais conflitos armadosnão são entre Estados mas no interiordos Estados, envolvendo violaçõessistemáticas dos direitos do homem edo direito internacional humanitário. As suas característicastípicas incluem o colapso das estruturas do Estado e a mobi-lização política das populações baseada na identidade étnica ereligiosa. Os meios tradicionais de gestão dos litígios interna-cionais não funcionam nestas circunstâncias.

NO: Que mais pode ser feito para reforçar a segurança na áreaeuro-atlântica?MA: No seu conjunto, estas ameaças são tais que é extrema-mente difícil os governos encontrarem respostas eficazes.Obviamente, estes problemas não podem ser resolvidos semuma cooperação internacional eficaz. Portanto, é crucial,acima de tudo, melhorar a forma como cooperamos e tro-camos informações.

Martti Ahtisaari:mediador internacional

Em Junho de 1999, enquanto Presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari convenceuo então Presidente da Jugoslávia Slobodan Milosevic a aceitar as condições daOTAN para pôr fim à campanha aérea do Kosovo. Após ter terminado o seumandato, em 2000, presidiu a diversas organizações de prevenção de conflitos,foi inspector independente dos depósitos de armas do IRA na Irlanda do Nortee fundou uma associação encarregada de facilitar o seu trabalho internacional.

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NO: Tem um conhecimento profundo do papel de Milosevicnas guerras da desintegração da Jugoslávia. Como é que ummediador negoceia com alguém da sua índole?MA: Encontrei o Sr. Milosevic pela primeira vez quando eu erapresidente do grupo de trabalho sobre a Bósnia-Herzegovina naConferência Internacional sobre a ex-Jugoslávia em Genebra.Trabalhei aí desde Agosto de 1992 até Outubro de 1993. Mas seolhar para a minha carreira, verificará que quase todos os meusinterlocutores têm sido personalidades bastante difíceis. NaÁfrica do Sul antes de ter lugar a democratização, por exemplo,tive que negociar com pessoas que não eram particularmenteacessíveis. Isto foi uma boa experiência para lidar com o Sr.Milosevic. Mas é importante recordar que VictorChernomyrdin e eu não estávamos a negociar com o Sr.Milosevic. Estávamos simplesmente a apresentar uma propostaque facilitaria o fim do bombardeamento, desde que compro-metesse o governo jugoslavo a respeitar certos princípios.

NO: Que importância terá o julgamento de Slobodan Milosevic?MA: O Sr. Milosevic sabia antes de irmos para Belgrado quetinha sido acusado. Contudo, estou convencido de que ele nuncapensou, na altura, que iria para a Haia. Na verdade, este assuntonunca foi levantado durante as nossas discussões. Penso que,duma maneira geral, é importante que todos os dirigentes políti-cos estejam cientes de que não podem escapar à justiça, se secomportarem mal na medida em que aconteceu neste caso.Talvez seja a melhor forma de diplomacia preventiva.

NO: Os vários processos de paz dos Balcãs estão a avançar oudeverá a comunidade internacional mudar de linha de acção?MA: Sempre olhei para os Balcãs à luz do que aprendemos noresto da Europa. Veja, por exemplo, o processo de reunificação daAlemanha. Na altura da reunificação, os meus amigos alemãesdisseram que o processo levaria uma geração. Contudo, encontreirecentemente pessoas que se dedicam aí a estas questões que dis-seram que deveremos esperar que o processo demore duas gera-ções. Isto não é apenas uma questão de soluções administrativas,é também um processo mental e psicológico. Se vai demorar umaou duas gerações na Alemanha, certamente demorará mais nosBalcãs. Enquanto a comunidade internacional estiver preparadapara se comprometer a estar lá durante 10 ou 20 anos, poderemosfixar objectivos de implementação a curto prazo e fazer avançar oprocesso. Contudo, o desafio é enorme. Sondagens recentesmostraram que cerca de 62% dos bósnios entre os 14 e os 30 anosquerem abandonar o país. Obviamente, há ainda muito trabalho afazer. Dito isto, também realizámos e aprendemos muito. Estamosa começar a criar instituições que funcionam. As eleições têmlugar com regularidade. As pessoas estão a aprender a respeitar osprocessos democráticos. E a população local está a começar a diri-gir instituições essenciais. Isto é muito melhor do que ter a comu-nidade internacional a dirigir o processo e os locais a criticar o queestamos a fazer.

NO: A comunidade internacional investiu muitos biliões dedólares na ex-Jugoslávia durante a última década. Há maneirasmais eficazes e oportunas de gerir o conflito ou de lhe pôr fimque preconize?MA: Uma das lições da experiência da comunidade interna-cional nos Balcãs é a importância de criar um quadro concep-tual para executar e analisar todas as acções e políticas. Nafalta dum quadro intelectual, arriscamo-nos a simplesmentedesperdiçar o nosso dinheiro. É, portanto, extremamenteimportante financiar alguns dos grupos de reflexão que sededicam a estas questões na Europa. No último ano e meio, lialguns estudos muito interessantes efectuados no quadro daIniciativa da Estabilidade Europeia, com a qual, como presi-dente do Instituto Leste-Oeste, colaborei num projecto deavaliação dos programas do Pacto de Estabilidade. É impor-tante tornar estes estudos acessíveis a um público muito maisvasto.

NO: Desde o f im do seu mandato, tem trabalhado emnumerosas iniciativas para melhorar as respostas inter-nacionais às crises. Quais são e como poderão contri-buir?MA: Lancei três actividades através da minha associação, aIniciativa para a Gestão de Crises. Em primeiro lugar, estou aprocurar melhorar a utilização das tecnologias da informaçãona gestão de crises. Tendo dirigido uma missão internacionalcomplexa na Namíbia de 1989 a 1990, estou ciente de comoteria sido útil se tivesse podido congregar toda a operaçãocom o tipo de tecnologia que não estava disponível na altura.Na verdade, quando dirigente duma administração nasNações Unidas, reformei a maneira como as tecnologias dainformação estavam a ser utilizadas. A tecnologia torna pos-sível reunir as pessoas facilmente, partilhar informações epoupar tempo e dinheiro. Em segundo lugar, estou a procurarmelhorar as respostas civis às crises. Se compararmos apreparação dos militares para as tarefas de gestão de crisescom a dos civis, a diferença é enorme. Os militares têmesquemas de treino bem definidos e ninguém é enviado parauma missão de manutenção da paz sem treino prévio. Omesmo não se pode dizer em relação aos civis. Na UniãoEuropeia precisamos de criar um grupo de civis com treinoespecializado para operações de gestão de crises. Deveráhaver um treino comum para todos e programas mais adapta-dos para as diversas profissões. Se puder ser criado um pro-grama destes, ficaremos melhor preparados para enfrentar ascrises. Em terceiro lugar, tenho promovido a ideia dum portalna Internet para reunir analistas, decisores, jornalistas e ou-tras partes interessadas na gestão de crises para lhes propor-cionar os instrumentos necessários para produzir, disseminare acumular os conhecimentos relacionados. Espero que umtal portal possa também ser utilizado como um fórum dedebate activo. �

Outono 2001 Notícias da OTAN 25

ENTREVISTA

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Notícias da OTAN26 Outono 2001

pacíf ica do Exército Popular Jugoslavo do seu território.Sobreviveu a um embargo económico limitado, à grande quan-tidade de sanções internacionais contra a Sérvia e oMontenegro e à perda dos seus mercados noutros pontos daantiga Jugoslávia. E aderiu a uma grande quantidade de organi-zações e programas internacionais, incluindo a Parceria para aPaz e o Plano de Acção para a Adesão da OTAN, para reforçarao máximo a sua segurança. Em consequência, ao contrário deoutras partes da antiga Jugoslávia, cujo sofrimento durante aúltima década inspirou uma vasta literatura, a Ex-RepúblicaJugoslava da Macedónia* não foi alvo dum exame minucioso.Na verdade, apenas três livros (em língua inglesa) apareceramsobre ela nos últimos anos.

O melhor é sem dúvida Who are the Macedonians? (Hurst &Co, 2000) de Hugh Poulton. É uma história abrangente masconcisa da Macedónia e dos seus povos no sentido mais lato,que deverá ser lida por quem esteja interessado em resolver outentar resolver a actual crise na Ex-República Jugoslava daMacedónia*. Poulton é um escritor prolífico sobre os proble-mas dos Balcãs e das minorias que se tem dedicado a estesassuntos como investigador da Amnistia Internacional, doArtigo 19 e do Grupo dos Direitos das Minorias. Além de terpublicado várias obras originais nos últimos anos, ainda temestado à frente duma banda de rock chamada Walking Wounded,de que muitas canções têm sido inspiradas pela última décadade conflitos nos Balcãs.

Who are the Macedonians? reconstitui a história dosnumerosos povos que habitam ou habitaram a Macedóniageográfica desde a antiguidade até aos nossos dias. Nesta obra,analisa a formação das identidades nacionais modernas e, emparticular, o chamado sistema millet, o sistema pelo qual osotomanos eram governados no quadro da sua comunidade reli-giosa, ou millet. Isto é significativo porque foi o sistema milletque permitiu que as terras otomanas se tornassem tão etnica-mente mistas e que é responsável pela actual ligação entrereligião e etnia.

Poulton analisa as reivindicações territoriais convergentesdos vários povos que viviam na Macedónia geográfica quandoainda fazia parte do Império Otomano e as acções de cada umdeles quando estava em posição de fazer valer estas reivindi-cações. Numa breve mas profunda análise, esclarece como osEstados-nações que emergiram da desintegração do ImpérioOtomano foram em grande parte produtos da limpeza étnica,das perseguições e da repressão. Também examina a triste-mente célebre Organização Revolucionária Interna Macedónia(VMRO), cujas actividades terroristas no período entre guerras

Christopher Bennet é o Chefe de Redacção da Notícias da OTAN e oautor de Yugoslavia’s Bloody Collapse (New York University Press).

Em 1991, quando a federação jugoslava se estava a des-fazer, dois dos dirigentes das suas repúblicas desen-volveram uma acção de retaguarda para a manter unida

– Alija Izetbegovic e Kiro Gligorov, presidentes da Bósnia--Herzegovina (Bósnia) e da República Jugoslava da Macedónia,respectivamente. Ambos receavam que as consequências dumadesintegração da Jugoslávia fossem enormes nas suas repúbli-cas. Assim, a 3 de Junho de 1991, apresentaram ao resto da fe-deração o seu modelo de compromisso para as relações entre asrepúblicas. Lamentavelmente, nada resultou desta corajosa ini-ciativa de última hora e, menos de um mês depois, rebentou aguerra. Dez meses depois, a Bósnia estava envolvida num con-flito, o que confirmou os enormes receios de Izetbegovic. Aocontrário, apesar dos inúmeros prognósticos desfavoráveis, aEx-República Jugoslava da Macedónia* conseguiu evitar umacarnificina e violência semelhantes durante quase dez anos.

O facto de o novo país se ter revelado tão estável surpreen-deu muitos analistas. Na altura da desintegração da Jugoslávia,era pobre, etnicamente dividido, militarmente fraco, sem aces-so ao mar e rodeado por vizinhos historicamente agressivos. Noinício do século XX, a questão macedónia tinha preocupado asGrandes Potências da Europa, cujos esforços diplomáticos nãoconseguiram evitar um conflito sangrento. No decurso dasGuerras Balcânicas que se seguiram, cuja dimensão e selvajariahorrorizaram os observadores da época, a Macedónia geográfi-ca – uma área limitada a Norte pelas montanhas Skopska CrnaGora e Shar Planina, a Leste pelas montanhas Rila e Rhodope,a Sul pela costa do Egeu em torno de Tessalónica, o MonteOlimpo e as montanhas Pindus e a Oeste pelos lagos Ohrid ePrespa – foi arrancada ao domínio otomano e dividida em trêspartes, entre a Bulgária, a Grécia e a Sérvia. Além disso, noperíodo entre guerras, os terroristas macedónios estiveramactivos bastante para além dos Balcãs. Na verdade, mesmo nofinal do século XX, o novo Estado suscitava ainda muita con-trovérsia acerca das suas fronteiras e da sua língua, história,bandeira e mesmo nome. Se um país esteve alguma vez em viade desintegração, este era certamente o caso.

Talvez seja inevitável que as profecias mais desfavoráveistenham dominado e continuem a dominar as análises dos mediaacerca da Ex-República Jugoslava da Macedónia*. Afinal, asprevisões da sobrevivência pacífica dum país dificilmente têminteresse noticioso. Mas, durante a maior parte dos anos 90, onovo Estado resistiu aos prognósticos. Negociou a retirada

A nova questão macedóniaChristopher Bennet passa em revista as obras recentes sobre a última parte da

antiga Jugoslávia a sucumbir à violência étnica

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reflectiam a frustração nacional criada pela ausência dumEstado eslavo macedónio e se estendiam bastante para além dosBalcãs. Em capítulos posteriores, Poulton analisa a evolução daidentidade nacional eslava macedónia na Jugoslávia de Tito, acriação dum Estado independente no seguimento da desinte-gração da Jugoslávia e as relações entre os eslavos macedóniose a etnia albanesa. Salienta que, ao contrário da Bósnia, haviapouquíssima mistura entre grupos étnicos. Cita mesmo umasondagem de 1974 que mostra que 95% dos chefes de famíliatanto eslavos macedónios como de etnia albanesa e 84% dos deetnia turca não permitiriam que os seus filhos casassem comuma rapariga de nacionalidade diferente, e que em relação àsfilhas as percentagens ainda eram maiores.

A desconfiança mútua e a animosidade entre os eslavosmacedónios e a etnia albanesa são anteriores à criação dumEstado independente. De facto, Poulton descreve as medidas“neo-malthusianas” tomadas nos anos 80 visando restringir ataxa de natalidade da etnia albanesa. Isto incluía a obrigação deas famílias pagarem a assistência médica de qual-quer filho acima do número ideal de dois e a retira-da do abono de família dos filhos a mais.Em 1989, a constituição foialterada de forma que a repúblicapassou a ser def inida com um“Estado-nação do povo mace-dónio” em vez da fórmula anteriorque a definia como “um Estado dopovo macedónio e das minoriasalbanesa e turca”. Esta mudançareflectiu a crescente preocupação dasautoridades eslavas macedónias faceao nacionalismo albanês e à possíveldesintegração da Jugoslávia. Contudo,inevitavelmente, um nacionalismo eslavo macedónio maisagressivo criou, por sua vez, uma reacção semelhante da etniaalbanesa. Em 1991, a etnia albanesa boicotou o referendo sobrea independência da república e, em 1992, realizou a sua própriasondagem sobre a autonomia. Desde então, as questões dossímbolos nacionais e dos direitos das minorias têm-se mantidosalientes na vida política e voltaram a estar em primeiro planono seguimento da campanha do Kosovo da OTAN.

Poulton também contribuiu para The New MACEDONIANQUESTION (Palgrave, 2001), uma colectânea de ensaios orga-nizada por James Pettifer. O seu capítulo, Non-AlbanianMuslim Minorities in Macedonia, é tão esclarecedor como oseu livro e fala dos macedónios eslavos muçulmanos, variada-mente referidos como torbesi, pomaks, gorans e poturs, turcos,roma e, espantosamente, “egípcios”, pois muitos roma optarampor se declarar egípcios em recenseamentos recentes, devido àconotação desfavorável ligada ao nome roma.

The New MACEDONIAN QUESTION comporta uma vastagama de contribuições, incluindo trabalhos de autores albane-ses, búlgaros, gregos, eslavos macedónios, russos e sérvios,bem como de analistas europeus ocidentais dos Balcãs. Isto é,ao mesmo tempo, a sua força e a sua fraqueza pois, apesar de

vários capítulos excelentes, o livro é extremamente desigual.Além disso, uma decisão deliberada de permitir a cada escritorusar a sua terminologia e o seu estilo pessoal deixa o leitor con-fuso. Além do capítulo de Poulton, duas contribuições dePettifer – os capítulos intitulados The new MacedonianQuestion e The Albanians in western Macedonia after FYROM– merecem certamente ser lidas. O mesmo acontece com oprimeiro capítulo pela falecida Elizabeth Barker e inicialmentepublicado em 1949 que, segundo Pettifer, “traduz a opiniãotradicional pró grega do Foreign Office britânico”. Também ocapítulo de Evangelos Kofos, Greek policy considerations overFYROM independence and recognition, é particularmente pro-fundo. Contudo, duma maneira geral, The New MACEDONIANQUESTION é decepcionante porque não corresponde ao seutítulo e alonga-se no que a maior parte das pessoas consideraráser uma questão macedónia mais antiga.

Pelo contrário, Making Peace Prevail: Preventing ViolentConflict in Macedonia (Syracuse University Press, 2000) de

Alice Ackermann centra-se no passado muito recente.Dito isto, um crítico severo poderia pô-lo de lado.

O segundo capítulo, sobre adiplomacia preventiva, é comoque uma crítica literária redigidapara uma tese de doutoramento.Uma análise dos “êxitos” e “fra-cassos” da diplomacia preventiva,que compara as reacções interna-cionais aos litígios entre a Hungria ea Eslováquia e entre a Estónia e aRússia com as reacções interna-cionais ao conflito Hutu-Tutsi noRuanda e às guerras da desintegraçãojugoslava, parece ser uma comparação

entre maçãs e laranjas. E a análise da desintegração jugoslava,que se apropria excessivamente dos escritos controversos deSusan Woodward e contém vários erros factuais (menores), éfraca. Apesar disto, quem quiser compreender o actual conflitodeverá ler este livro.

A força do bem intencionado livro de Ackermann reside nainvestigação original que efectuou das tentativas interna-cionais para deter o conflito. Isto inclui análises das activi-dades do Grupo de Trabalho sobre as Comunidades e MinoriasÉtnicas e Nacionais da Conferência Internacional sobre a ex--Jugoslávia, da Organização para a Segurança e Cooperaçãona Europa e do seu alto-comissário para as minorias nacionais,da Força de Destacamento Preventiva das Nações Unidas, edas actividades de certas organizações não governamentais,incluindo a Busca de Acção Comum e o Projecto de Resoluçãode Conflitos Étnicos. O que se torna muitíssimo claro é que otrabalho esforçado e não enaltecido de várias organizações epessoas, tratando de questões basicamente idênticas às quedominam a agenda actual, contribuiu para a sobrevivência dojovem país nos primeiros anos. Os macedónios de todas as ori-gens étnicas devem desejar que os actuais mediadores interna-cionais tenham tanta paciência, tacto e êxito como os seusantecessores. �

CRÍTICA LITERÁRIA

Outono 2001 Notícias da OTAN 27

Publicações oportunas

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Notícias da OTAN28 Outono 2001

Estudo. Todos os anos,quatro bolseiros – doisde países da Parceriapara a Paz e dois doDiálogo do Mediterrâ-neo – são patrocinadospara efectuar no Colé-gio de Defesa a suaprópria investigaçãorelacionada com a segu-rança.

Os cursos do Colégiode Defesa não se cen-tram na táctica ou nastécnicas operacionaismas em questões políti-co-militares interna-cionais a nível estraté-gico. Além disso, todosos cursos proporcionamum fórum para troca deinformações, estabele-cimento de consensos emelhoria da compreen-são e da cooperaçãoentre os países daAliança e os Parceiros.

Com os membros dos cursos oriundos de cerca de 50 paísese com pessoal e um corpo docente multinacionais, o Colégiode Defesa é uma instituição verdadeiramente multinacional,que promove um ponto de vista da Aliança – e não um pontode vista nacional. O objectivo não é ensinar mas propor-cionar um ambiente de estudo para alargar os horizontes dosalunos para que os membros dos cursos vejam por sipróprios que o consenso e a união são possíveis mesmo entrepessoas com os antecedentes mais variados. O Colégio deDefesa proporciona uma oportunidade de estudo excep-cional, mas cabe aos membros dos cursos tirar dela o maiorproveito.

Os cursos tendem a criar o seu próprio espírito de equipaque, por sua vez, se desenvolve numa útil rede de contactosentre os membros do curso dos países da OTAN e dosParceiros. Este espírito de corpo ajuda a ultrapassar barreirasque possam ter existido anteriormente bem como a reforçar aconfiança entre os respectivos países. O espírito de consensopenetra na vida quotidiana dos membros do curso. Alémdisso, como todos os debates têm lugar numa base nãoimputável, os participantes podem falar aberta e livremente.

O coronel Ralph Thiele é Chefe de Gabinete no Colégio deDefesa da OTAN.

Cinquenta anosdepois de oprimeiro Coman-

dante Supremo Aliadoda OTAN, o generalDwight D. Eisenhower,ter fundado o Colégio deDefesa da OTAN, arazão de ser por trás dasua criação, designada-mente a necessidade deformar pessoas capazesde se adaptar a um novoambiente de segurança,continua tão válidacomo dantes. Com o fimda Guerra Fria, aextinção do Pacto deVarsóvia e a emergênciade novas, multifacetadase imprevisíveis ameaçasà segurança, a OTANconseguiu tornar-se apedra angular da segu-rança euro-atlântica.Mas a necessidade depessoas capazes de ino-var, pensar diferente-mente e propor soluções criativas nunca foi tão grande.

Quando países que foram inimigos durante mais de 40 anosse tornaram Parceiros, o Colégio de Defesa acompanhou amudança e evoluiu de maneira a satisfazer as necessidades dassuas instituições militares assim como as dos membros daAliança. Crescentemente, o Colégio de Defesa abriu as suasportas a altos representantes dos países da Parceria para a Paze do Diálogo do Mediterrâneo, convidando-os a participar emtoda a gama das suas actividades pedagógicas, juntamentecom os seus homólogos da OTAN. Na verdade, há já váriosanos que o Colégio de Defesa realiza praticamente todos osseus cursos – curso Integrado PfP/OSCE, curso para oficiaisgenerais da OTAN, curso para oficiais de reserva da OTAN, ecurso de nível superior – no quadro da Parceria para a Paz. Étambém o caso das suas actividades, incluindo a Conferênciados Comandantes, o co-patrocínio de SemináriosInternacionais de Investigação e o Programa de Bolsas de

Formar uma nova elite

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Construídas de propósito: o Colégio de Defesa da OTAN mudou-se para novasinstalações no Outono de 1999

O coronel Ralph D. Thiele assinala o 50.º aniversário do Colégio de Defesa daOTAN descrevendo a forma como a instituição alargou os seus cursos e actividades

aos cidadãos dos países Parceiros.

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Os membros dos cursos de postos diferentes e de todas asarmas e de todos os departamentos diplomáticos e governa-mentais aprendem a compreender-se uns aos outros. O tempoe o esforço que investem no estabelecimento de confiança eamizade com os seus homólogos são bem recompensados.Desenvolvem e melhoram o seu sentido de solidariedade,cooperação e compreensão com os seus colegas de curso.Também se apercebem de que é possível ter uma troca deideias aberta e chegar a um consenso de grupo, sem sacrificara sua identidade pessoal ou nacional. Para além do programaacadémico, criam-se laços profundos entre os membros docurso e as respectivas famílias em resultado do extenso ladosocial e cultural da vida em Roma.

No Outono de 1999, o Colégio de Defesa mudou-se para novasinstalações construídas especialmente para o efeito, para quepossa responder adequadamente às necessidades das geraçõesfuturas. As estruturas e processos orgânicos foram racionalizadose adaptados. Na parte académica, nos últimos anos o Colégio deDefesa tem-se centrado em quatro áreas. Estas são a adaptação docurrículo às tarefas de segurança fundamentais enunciadas nonovo Conceito Estratégico da OTAN; a utilização das novas insta-lações para formar mais pessoas dos países da OTAN, da Parceriapara a Paz e do Diálogo do Mediterrâneo, bem como para assumirnovas actividades; conseguir melhores oradores; e desenvolver arecentemente criada capacidade para actividades relacionadascom a investigação. Como a própria OTAN, o Colégio de Defesatem agora capacidade para responder à evolução radical do am-biente de segurança e para assumir novas tarefas adequadas àssuas novas missões e Parceiros.

Desde Abril de 2000, o Colégio de Defesa apoia oConsórcio de Academias de Defesa e Institutos de Estudos deSegurança da Parceria para a Paz, um grupo que ajuda a forjarnovas parcerias entre academias e profissionais, estudantes e

peritos de defesa nos países Parceiros e da OTAN. Destaforma, o Colégio de Defesa actua como ponto focal doConsórcio no seio da OTAN. Também participa como mem-bro de pleno direito no grupo de trabalho do secretariado deorientação, harmonizando as actividades da Conferência dosComandantes com as do Consórcio e participando em certosgrupos de trabalho do Consórcio, particularmente quando édebatida a formação a nível estratégico.

No princípio deste ano, o Colégio de Defesa patrocinouuma semana internacional na Academia Nacional de Defesada Ucrânia. Desta forma, foi possível oferecer aos estudantesucranianos uma introdução académica à segurança euro--atlântica única e qualitativamente diferente. A julgar pelassuas reacções, particularmente nos debates em pequenos gru-pos, parece que a iniciativa foi muitíssimo apreciada. Esteacontecimento foi importante não apenas em si mesmo, mastambém como elemento dum processo mais vasto para ajudara transformar a formação militar da Ucrânia e pode servir deprecedente para actividades semelhantes noutros locais.

Quando o Colégio de Defesa comemora o seu 50.º aniver-sário, neste Outono, continua empenhado em desempenhar opapel educativo previsto pelo seu fundador, como no passado,continuará a pôr ao serviço dos países da Aliança e dosParceiros homens e mulheres com coragem para enfrentar osdesafios da segurança do século XXI e cuja mentalidade estápreparada para o fazer eficazmente. �

ESPECIAL

Outono 2001 Notícias da OTAN 29

Mais informação sobre o Colégio de Defesa da OTAN eos seus cursos pode ser encontrada em www.ndc.int.

Mais informação sobre o Consórcio das Academias deDefesa e Institutos de Estudos de Segurança da Parceria

para a Paz pode ser encontrada em www.pfpconsortium.org.

Como o Colégio de Defesa, a Escola da OTAN (SHAPE)em Oberammergau, Alemanha, adaptou as suas admis-sões e currículos na última década para atender ao cres-cente número de estudantes dos países Parceiros. Em2000, 5 818 estudantes de 47 países frequentaram cursose assistiram a conferências na escola, dos quais somente4 722 eram de países membros da Aliança.

Os estudantes dos países que participam activamentena Parceria para a Paz e no Diálogo do Mediterrâneopodem obter uma perspectiva do funcionamento daOTAN e frequentam cursos incluindo assuntos tão diver-sos como a gestão de crises, a gestão de recursos, oplaneamento civil de emergência e a cooperação entrecivis e militares. Organizações como o ComitéInternacional da Cruz Vermelha e o Alto Comissariadoda ONU para os Refugiados também enviam regular-mente estudantes e conferencistas.

Escola da OTAN (SHAPE)Como a OTAN se tem envolvido crescentemente na

manutenção da paz, a escola tem apoiado as opera-ções militares em curso e organizado cursos para aju-dar os processos de paz. Desta forma, os coman-dantes e pessoal com experiência no terreno podemtransmitir os ensinamentos colhidos aos participantesdos cursos. Além disso, foi organizado um cursosobre a cooperação em matéria de segurança especi-f icamente para pessoal militar e civil da Bósnia-Herzegovina, visando estabelecer a confiança e insti-lar um espírito de abertura e cooperação entre osparticipantes.

Oberammergau também acolhe um certo número desimpósios e conferências da OTAN. O mais significativoé o Simpósio anual de Planeamento da Defesa para quetêm sido convidados representantes dos Parceiros desde1999.

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Notícias da OTAN30 Outono 2001

verno, que não foram substituídos por quaisquer mecanismoscorrespondentes de controlo democrático. Em todos os países,os novos governos não tinham competência militar nemmecanismos civis adequados quer para definir uma políticamilitar quer para dirigir os assuntos militares e o desenvolvi-mento das suas forças armadas. Onde havia mecanismos, eleseram incipientes e serviam apenas para pouco mais do queestabelecer limites financeiros cada vez mais reduzidos paraas despesas da defesa. Em muitos países, as lutas internas pelopoder fizeram com que o controlo das forças armadas fosseou dividido entre muitos ministérios e organismos, incluindoalguns que não teriam normalmente esperado ter qualquerresponsabilidade sobre as tropas, ou passado dum ramo paraoutro do executivo, tal como do governo para o presidente, ouvice-versa. Em alguns países, os políticos procuraram servir--se directamente dos militares na luta pelo poder. Isto aindareduziu mais o controlo político efectivo sobre as forçasarmadas.

Na segunda fase do processo assistiu-se a uma união dosresponsáveis das forças armadas para proteger e preservar osseus sistemas militares, esforçando-se por manter tanto quan-

Chris Donnely é conselheiro especial da OTAN para os assun-tos da Europa Central e Oriental.

Durante os últimos dez anos, as forças armadas detodos os países da Europa Central e Oriental têmsofrido uma transformação e uma redução profundas.

Resultante do fim da Guerra Fria e da mudança da naturezadas ameaças à segurança nacional, trata-se dum processo emevolução. Os países da Europa Central e Oriental são dife-rentes em termos de dimensão, capacidade económica, situa-ção geostratégica e natureza do seu relacionamento com aUnião Europeia e a OTAN. Contudo, apesar das correspon-dentes diferenças em dimensão e composição das suas forçasarmadas, a reforma militar tem seguido um caminho notavel-mente semelhante em todos eles.

A primeira fase foi caracterizada por uma perda de razão deser e de ideologia, e por maciças reduções de forças resul-tantes da mudança das condições geostratégicas, económicase políticas. Isto foi acompanhado por um desaparecimentodos mecanismos de controlo do Partido Comunista e do go-

A realidade da reformaChris Donnely examina as razões por que a reforma das forças armadas se tem

mostrado tão difícil na Europa Central e Oriental.

Reviravolta: a reforma das forças armadas seguiu um modelo extraordinariamente semelhante em toda a Europa Central e Oriental

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to possível as antigas estruturas e infra-estruturas. Isto foiinfluenciado por um conjunto de razões em que os interessesestabelecidos desempenharam sem dúvida um papel impor-tante. Mas a convicção sincera, baseada no patriotismo enuma forte crença na validade do sistema anterior, reforçadapela falta de competência e conhecimentos dos novos gover-nos, foi o factor principal. Isto foi exacerbado pelo facto deaos militares não terem sido apresentadas opiniões profissio-nais alternativas e pelas qualidades de coesão naturais detodos os sistemas militares eficazes.

Os efeitos fizeram-se rapidamente sentir. Tentar manteruma estrutura maciça mas obsoleta numa época de rápidamudança social e declínio económico revelou-se desastroso.À medida que os países da Europa Central e Orientalevoluíam penosamente no sentido duma verdadeira economiade dinheiro à vista, os recursos para as forças armadascomeçaram a faltar. Na maior parte dos países, isto não setornou imediatamente óbvio porque a instituição militar tinhasido tradicionalmente capaz de se servir de recursos em espé-cie em vez de dinheiro e tinha os seus próprios meios de asse-gurar receitas e bens de consumo. A exploração destas viaspermitiu ao essencial da instituição militar sobreviver, apesarda falta de financiamento do Estado.

Depois de mais de quatro e, nalguns casos, de sete décadasde economia dirigida, em todos os países da Europa Central eOriental havia falta de contabilistas com a formaçãonecessária e de procedimentos de contabilidade eficazes.Além disso, nem o sistema policial nem o judiciário estavampreparados para f iscalizar e controlar as irregularidadesfinanceiras. Era este em especial o caso das instituições dadefesa, onde a necessidade de segredo militar mais impedia atransparência. Em consequência, o sector da defesa na EuropaCentral e Oriental demorou a montar sistemas orçamentaisadequados e, assim, a corrupção tornou-se endémica nalgunscasos. A venda ou distribuição não controlada de material deguerra, a falta de directrizes referentes aos oficiais que seserviam do seu cargo e das forças sob o seu comando para finspessoais, a contratação de soldados pelos oficiais, o rouboconstante e outras práticas corruptas – todas altamente preju-diciais para a disciplina militar – proliferaram. Isto levou a umrápido declínio dos níveis de treino e, depois, do nível de vida,tanto para os conscritos como para os oficiais e os sargentosmais antigos cujo posto ou cargo não lhes permitia o acesso arecursos comerciáveis, ou – caso da maioria– que simples-mente eram honestos.

Na terceira fase, o sistema de aquisições soçobrou. Asindústrias de defesa, privadas dum mercado interno imposto,tentaram geralmente evitar a restruturação e a reorientação,refugiando-se na ilusão de que as vendas de armas para oestrangeiro as salvariam. Na prática, em consequência da cor-rupção, da falta de vontade para se reformarem e duma faltade conhecimento das realidades da economia de mercado, asindústrias de defesa da Europa Central e Oriental perderam oque poderia ter sido para elas, no princípio dos anos 90, umaoportunidade de se apoderarem duma parte do mercadomundial. Perdida esta possibilidade de exportação e com ocolapso da procura interna, as indústrias de defesa viraram-se

para os governos para as ajudarem. Absorveram maciços sub-sídios do Estado mas utilizaram o dinheiro para manter umgrande número de trabalhadores inactivos com salários desubsistência, em vez de se restruturarem. A longo prazo, ne-nhum país pode manter a qualidade e a relação custo-benefí-cios que tornam as exportações atractivas sem a segurançadum mercado interno sólido. A possibilidade de recorrer àsvastas reservas de investigação científica fundamental bemcomo à investigação e desenvolvimento militar existente per-mitiu às indústrias sobreviver na sua forma obsoleta e evitaruma penosa reforma. Mas estas reservas estão a chegar ao fime as indústrias de defesa da Europa Central e Oriental queainda não se restruturaram arriscam-se a um colapso quasetotal. A reforma agora será bastante mais difícil e penosa doque se tivesse sido efectuada há dez anos.

Em quase todos os países, o impacto destes numerososproblemas foi sentido primeiro pelos conscritos, cujo treino enível de vida se desintegraram. A recusa da instituição militar,em alguns países, em evoluir com a sociedade civil fez comque os jovens já não quisessem prestar serviço militar e com aderrocada do sistema estabelecido eles já não podiam serobrigados a fazê-lo. O sistema da conscrição universal desin-tegrou-se rapidamente e, com ele, todo o treino militar prévionas escolas secundárias e universidades. Em consequência, sóuma fracção dos grupos etários apropriados servirá nas forçasarmadas. A isenção legal, a ineficácia do recrutamento e osuborno farão com que os com melhores condições e melhorformação nunca terão que prestar serviço militar.

Com a desintegração do serviço efectivo normal, o con-ceito duma “nação socialista em armas” morreu. Além disso,não poderia ser recuperado porque a base social de que ema-nara e dependera tinha desaparecido para sempre. Em retros-pectiva, parece evidente. Mas, na altura, na primeira metadedos anos 90, isto não foi valorizado pelos decisores formadosnum sistema muito diferente, por isso o declínio continuou. Aquebra no número e qualidade dos conscritos, o problemaendémico dos maus tratos infligidos aos conscritos pelos sol-dados mais antigos e pelos oficiais, o declínio catastrófico dotreino e o consequente colapso do prestígio das forçasarmadas teve um efeito desastroso sobre os jovens oficiais,muitos dos quais se demitiram. Entretanto, os padrões deadmissão para as escolas de formação de oficiais baixaram.Além disso, muitos cadetes, tendo recebido uma boa for-mação técnica, decidiram não ingressar nas forças armadas esaíram após a conclusão do curso ou pouco antes. Isto com-pletou a auto-destruição do antigo sistema.

As forças armadas da União Soviética e do Pacto deVarsóvia, funcionando segundo um modelo soviético comum,tinham dependido dos jovens oficiais para a condução detodas as tarefas subalternas de treino o comando a nível deunidade que, na maior parte dos exércitos ocidentais, sãoefectuadas em unidades de formação de recrutas ou por sar-gentos profissionais com muito tempo de serviço. A falta dejovens oficiais traduziu-se numa aceleração da espiral conti-nuamente decrescente do treino. Tinha-se criado um círculovicioso. Os padrões de treino baixaram. O equipamento ava-riou-se e não foi substituído. O mau tratamento dos soldados

ASSUNTOS MILITARES

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Notícias da OTAN32 Outono 2001

méticas mas o essencial, a reforma fundamental, foi de factoadiado e a situação agravou-se. Na verdade, a reforma tornou--se mais difícil porque o dinheiro fortaleceu a resistência.

O "factor OTAN" desempenhou um papel importante noprocesso em muitos países da Europa Central e Oriental.Nalguns países, interessados em aderir à OTAN, os respon-sáveis militares têm, de vez em quando, proposto a aquisiçãode equipamento desnecessário e muitas vezes inacessívelargumentando que: "Será necessário para entrarmos para aOTAN". Numa altura em que os dirigentes políticos e o seupessoal civil, bem como os parlamentares e os jornalistas, nãoconhecem suficientemente as questões militares, este argu-mento poderá parecer convincente. Além disso, os fabricantesde armas ocidentais divulgam muitas vezes a mesma ideia.Noutros países, os governos usaram algumas vezes as“exigências” da OTAN como desculpa para incitar a reformada defesa porque lhes faltava a confiança em si próprios paraabordar esta questão usando toda a sua autoridade. Ambas asabordagens têm prejudicado as relações entre civis e militarese diminuído a confiança do público.

Na Rússia, o “factor OTAN” tem sidousado de maneira diferente. A manutençãoda percepção duma ameaça militar daOTAN tem servido para justificar a preser-vação de grande parte da antiga infra-estrutura militar. Isto, por sua vez, desvioua atenção e dinheiro da verdadeira reformada defesa.

O elemento final do “factor OTAN” temsido a presteza com que tanto os governoscomo as forças armadas da Europa Centrale Oriental têm procurado modelos ociden-tais para a organização e a reforma da defe-sa. Todos os membros da OTAN têm sis-

temas militares diferentes, enquanto que os países da EuropaCentral e Oriental têm condições muito diferentes para areforma da defesa ou para a reconstrução das suas forças. Ospaíses da Europa Central e Oriental têm por isso achadoexcepcionalmente difícil avaliar quais os modelos de sucesso,determinar quais os elementos que são relevantes para o seupróprio desenvolvimento e encontrar aconselhamento fiável eimparcial. Os governos e os militares passaram do extremo derejeitar qualquer influência ocidental para o de se preci-pitarem no acolhimento de ideias ocidentais, como a profis-sionalização, sem compreenderem bem o que ela envolve – ouos seus custos.

Muitos esforços de reforma a partir da base fracassaram.Numa primeira fase, os partidários da reforma esperavam queos jovens oficiais seriam capazes de rejuvenescer o sistema etrazer ideias novas a partir da base. Na verdade, esta abor-dagem teve alguns êxitos transitórios. Contudo, no fim, houvedemasiadamente poucos jovens oficiais motivados para criaruma dinâmica suf iciente para fazer arrancar a reforma.Fracassaram porque não conseguiram vencer a inércia dasestruturas intermédias ou porque a sua acção foi pervertidapor superiores que viam neles uma ameaça.

ASSUNTOS MILITARES

aumentou. O distanciamento entre o comando e o soldadocresceu. O recrutamento de jovens oficiais tornou-se maisdifícil. O moral decaiu e, com ele, o respeito do público. Oresultado foi um declinar da competência, acompanhado dumconstante êxodo de pessoal do comando e administrativo, poisos oficiais abandonavam os seus cargos a todos os níveis e aestrutura das forças desmoronava-se. Quando este processofoi também acompanhado de acções militares, como a queafectou o Exército Russo na primeira Guerra da Chechénia, osresultados da decadência tornaram-se imediatamente visíveis.

Quando os exércitos foram reduzidos, os seus corpos deoficiais tornaram-se excessivos no topo e isto criou em simesmo um obstáculo à reforma. Mas as medidas para reduzirdrasticamente o número de oficiais também tiveram um efeitonegativo. A ideia do governo de demitir os oficiais mais anti-gos considerados desnecessários sem agradecimentos, sempensões nem segurança social adequadas e com pouca possi-bilidade de ingressar numa nova carreira levou os que não ti-nham qualificações para outro emprego a fazer todo o possívelpara se manterem nas forças armadas. Também desmoralizouos oficiais subalternos e dissuadiu muitosjovens de seguirem uma carreira militar.

A deterioração das forças armadas nãoteve lugar com o mesmo ritmo em todos ospaíses e esse ritmo foi diferente mesmo den-tro das forças armadas do mesmo país. Emgeral, os problemas têm sido mais graves naRússia e em alguns novos países da antigaUnião Soviética do que na maior parte dospaíses da Europa Central. Mas muitasexperiências são comuns à maior parte dospaíses. Os sucessivos ministros e chefes deestado-maior da defesa tentaramracionalizar o que restava das suas forças etiveram êxito em graus diferentes. Emunidades e forças com comandantes excepcionais, a competên-cia e as capacidades de combate mantiveram-se. Concentrandoos esforços e os recursos num pequeno número de unidades –regimentos, esquadrilhas ou navios – algumas delas forammantidas com um nível razoável de prontidão militar.

Mas, no conjunto, o declínio prosseguiu. Em consequência,durante os anos 90, nenhuma das forças armadas dos paísesda antiga União Soviética ou dos seus antigos aliados daEuropa Central e Oriental conseguiu reconstruir um sistemamilitar eficaz e sustentável segundo critérios modernos. Defacto, na maior parte dos países da Europa Central e Oriental,foi atingida uma situação tão calamitosa que as forçasarmadas ficaram desesperadas. As suas dificuldades eramóbvias e a única maneira que viam para prosseguir a reformaera conseguir uma maior ajuda financeira do Estado.

Um programa completo de reforma das forças armadas édispendioso. Contudo, a experiência da Europa Central eOriental tem mostrado que, quando foi posto dinheiro à dis-posição das instituições da defesa antes da reforma, houvetendência para ser gasto não na reforma mas para manter oanterior sistema em vida assistida. Foram feitas melhorias cos-

As reformas estão a serestimuladas pelacompreensão de que, secontinuassem a seradiadas, o processoainda seria mais difícilno futuro

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Outono 2001 Notícias da OTAN 33

Passou-se o mesmo com os oficiais enviados para treino eformação no estrangeiro, mais frequentemente para o Canadá,França, Reino Unido e Estados Unidos. Esperava-se que aoregressarem incutiriam novas ideias nos seus sistemas militares.Contudo, na prática, isto mostrou ser uma falsa esperança pois,na maior parte das vezes, a instituição militar cerrou fileiras parase proteger. Nalguns países da Europa Central, mesmo até 2000.todos os oficiais que tinham sido enviados ao estrangeiro paracursos de treino foram, após o seu regresso, demitidos, baixadosde posto ou colocados numa situação sem futuro num qualquerlugar remoto. Num outro país, embora todos os oficiais generaistenham recebido treino no estrangeiro, a sua orientação foi igno-rada pelo conjunto dos coronéis seus subordinados, queobstruíram a implementação das ordens superiores. “O controlodemocrático das forças armadas” é normalmente consideradoque significa que os generais devem obedecer aos políticos. Maso controlo democrático também pode fracassar se os coronéisnão obedecem aos generais.

Uma outra deficiência comum tem sido a incapacidade dosministérios da defesa da Europa Central e Oriental para imple-mentar um sistema orçamental e de planeamento eficaz. Isto éextremamente difícil porque exige a mudança da mentalidadeda organização militar. As forças armadas têm tradicional-mente desejado manter o sistema existente, embora moderni-zando o armamento e melhorando as condições dos soldados.Em consequência, têm procurado os recursos para esta abor-dagem recusando aceitar a realidade económica que tornainjustificáveis as despesas excessivas com a defesa e que asmudanças sociais e económicas exigem uma reforma. Asforças armadas ocidentais, pelo contrário, abordam a questãodo planeamento da defesa a partir do orçamento, determinan-do o que esse dinheiro poderá comprar e estabelecendo priori-dades com base na avaliação das ameaças do momento.

Ligada a esta deficiência comum está a quase total ausênciadum sistema honesto e aberto de avaliação das aptidões e qualifi-cações dos oficiais. Na falta dum tal sistema, é quase impos-sível desenvolver um processo adequado de promoção e colo-cação. Sem isto, os ministros da defesa nunca serão capazes deinstitucionalizar a reforma porque não serão capazes de identi-ficar os oficiais com as qualidades necessárias para criar umnovo tipo de forças armadas, ou de os nomear para cargos ondepossam transformar as palavras em actos.

ASSUNTOS MILITARES

O PROGRAMA CIENTÍFICO DA OTAN“Juntar os cientistas para o progresso e para a paz”

O Programa Científico da OTAN apoia projectos de colaboração entre cientistasde países Aliados e Parceiros. O programa — que não está ligado à defesa —

visa estimular a cooperação entre cientistas de meios diferentes,para criar ligações duradouras entre os investigadores e facilitar a evolução das

comunidades científicas dos países Parceiros

Detalhes completos no Web site da OTAN: http://www.nato.int/science

Muita atenção tem sido dada em todos os países da EuropaCentral e Oriental à questão do controlo democrático das forçasarmadas. Mas um aspecto do controlo democrático frequente-mente esquecido é a questão de saber se o governo é realmentecompetente para decidir sobre uma política de defesa e para aimplementar e para dirigir o processo da reforma militar. Isto éuma deficiência comum, frequentemente com consequênciasdesastrosas. De facto, os países da Europa Central e Orientalainda não foram capazes de desenvolver o conjunto de peritoscivis competentes em questões de defesa que é necessário paraassegurar o equilíbrio e formular um aconselhamento impar-cial. A frequente mudança de governos na Europa Central eOriental contribuiu para esta falta de competência. Quando osgovernos confiam nos militares para o aconselhamento sobre asquestões de defesa, são as forças armadas, e não o governo,quem efectivamente decide a política. Este estado de coisasainda persiste em alguns países da Europa Central e Oriental,apesar da existência no papel – e na lei – do que, de outra forma,seriam os mecanismos adequados para o controlo democrático.

Nos últimos anos, a situação tem, apesar de tudo, começa-do a mudar em alguns países da Europa Central e Oriental. Odeclínio foi parado e as perspectivas de criação dum novo tipode forças armadas parecem boas. Países que reconheceram anatureza fundamental dos seus problemas preparam-se agorapara tomar uma resolução, acabar com os elementos remanes-centes do antigo sistema e reconstruir de novo. Mas isto não éassim em toda a parte. Nalguns países, como a Rússia, osproblemas fundamentais ainda não foram encarados.

Nos países da Europa Central e Oriental onde a reforma seenraizou e pode agora desenvolver-se, o processo tem sidodirigido por alguns oficiais superiores com visão, coragem,determinação e conhecimentos técnicos. Têm sido capazes deincitar os seus subordinados a segui-los e de recorrer a peritosestrangeiros para os ajudar. Além disso, também têm tido afelicidade de dispor dum forte apoio político para os protegere encorajar, e de organizar campanhas de informação públicapara assegurar o apoio popular. Os processos de reformaagora em curso em vários países da Europa Central e Orientaldemorarão muito tempo a chegar ao fim. Mas estão a serestimulados pela crescente compreensão de que, se conti-nuassem a ser adiados, a reforma ainda seria mais difícil nofuturo. �

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Notícias da OTAN34 Outono 2001

ESTATÍSTICAS

Países da OTAN

Bélgica

Canadá

República Checa1

Dinamarca

França

Alemanha

Grécia

Hungria1

Islândia

Itália

Luxemburgo

Holanda

Noruega

Polónia1

Portugal

Espanha

Turquia

Reino Unido

Estados Unidos

Países Parceiros2

Albânia

Arménia

Áustria

Azerbaijão

Bielorússia

Bulgária

Croácia

Estónia

Finlândia

Geórgia

Irlanda

Cazaquistão

Rep. Quirguistão

Letónia

Lituânia

Moldávia

Roménia

Rússia

Eslováquia

Eslovénia

Suécia

Suiça

Tajiquistão

Turquemenistão

Ucrânia

Usbequistão

1994 1999

1.7 1.5

1.7 1.2

2.6 2.3

1.9 1.6

3.3 2.7

2.0 1.6

5.7 5.0

1.6 1.6

n.a. n.a.

2.1 2.0

1.2 0.8

2.1 1.8

3.1 2.2

2.5 2.1

2.6 2.2

1.6 1.3

3.2 5.5

3.4 2.6

4.3 3.1

2.7 3.6

3.1 8.6

0.9 0.8

8.7 4.4

2.2 5.0

2.5 3.3

10.2 4.1

3.8 1.5

2.0 1.4

2.4 2.4

1.2 0.9

3.5 3.5

1.4 4.5

3.8 1.0

3.9 1.0

3.8 0.5

2.9 1.8

9.6 5.1

2.5 1.9

2.1 1.8

2.5 2.3

1.6 1.3

4.0 7.6

2.2 2.0

1.1 3.3

2.1 2.9

2.4 3.9

63.041.8

78.160.6

92.958.2

27.024.3

409.6317.3

367.3332.8

159.3165.6

74.543.4

322.3265.5

0.80.8

70.956.4

33.530.7

283.6240.7

50.749.7

206.5186.5

503.8639.0

254.3212.4

1650.51371.5

73.054.0

32.753.451.3

40.556.0

69.992.5

80.9101.9

80.8105.0

61.02.54.8

31.231.7

10.226.3

13.011.5

40.065.8

12.09.2

2.65.78.912.1

11.110.7

230.5207.0

1714.01004.1

47.044.9

8.19.6

64.053.1

29.827.7

3.09.010.416.0

28.019.0

517.0311.4

45.074.0

As estatísticas acima são de The Military Balance 1995/96 e de The Military Balance 2000-2001, publicados pelo International Institute of StrategicStudies baseado em Londres.

Efectivos das forças armadas (milhares)Despesas da defesa

em % do PIB

Despesas da defesa e dimensão das forçasarmadas dos países da OTAN e dos Parceiros

(1) Aderiu à OTAN em 1999 (2) Membros do Conselho de Parceria Euro-Atlântico (CPEA)

1994

1999

n.a.

Ex-República Jugoslavada Macedónia*

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NATO 2000CD-Rom que traça a evolução da Aliança e descrevea adaptação que sofreu para enfrentar os desafios dasegurança do século XXI

NATO in the 21st centuryFolheto de introdução à Aliança com uma visão geral

da sua história, política e actividades

KOSOVO - ONE YEAR ON - Achievement and ChallengeRelatório do Secretário-Geral da OTAN Lord Robertson

The NATO HandbookUm guia geral dos objectivos e actividades daOTAN, da sua política e estruturas actuais,Incluindo uma cronologia da história da Aliança

NATO Topics Apresentação visual da Aliança indicando as grandes etapas daevolução da OTAN e as principais questões da sua actual agenda(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/topics/2000/home)

NATO and Russia: Partners in PeacekeepingFolheto informativo descrevendo a cooperação prática no

terreno entre os soldados da paz russos e da OTANnos Balcãs

The Reader’s Guide to the Washington Summit Compilação de todos os textos e declarações oficiais

publicadas na Cimeira da OTAN de Washington em Abril de1999, incluindo informação de apoio sobre os programas e

actividades da Aliança

NATO UpdateFolha de informação semanal que cobre resumidamente

as actividades e acontecimentos da OTAN,dando uma visão geral das iniciativas da Aliança.

(apenas edição electrónica: www.nato.int/docu/update/index)

TODAS AS PUBLICAÇÕES EXISTEM EM INGLÊS E FRANCÊS E MUITAS DELAS NOUTRAS LÍNGUAS

Todas as informações e pedidos devem serdirigidos a:Office of Information and Press - Distribution UnitBld Leopold III - 1110 BRUSSELSTel: 00-32-2 707 5009Fax : 00-32-2 707 12 52E-mail: [email protected]

Versões electrónicas destas publicações existem noweb site da OTAN em www.nato.int

O web site também publica declarações oficiais, comunica-dos à imprensa e discursos e outras informações sobre asestruturas, política e actividades da Aliança, oferecendotambém vários serviços on-line.

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