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Capa Bruno Corrêa Barbosa Leonardo de Oliveira Resende Fábio Prezoto Elesier Lima Gonçalves

Capa - fazendatriqueda.com.br · preocupação coletiva dos organizadores de desfrutamos de um material de relevância acadêmica na área de sustentabilidade e conservação acessível

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Capa

Bruno Corrêa Barbosa

Leonardo de Oliveira Resende

Fábio Prezoto

Elesier Lima Gonçalves

Organizadores:

Bruno Corrêa Barbosa

Leonardo de Oliveira Resende

Fábio Prezoto

Elesier Lima Gonçalves

Tópicos em Sustentabilidade & Conservação

1º edição

Grupo de Trabalho do

Fórum Ambiental e Florestal de Juiz de Fora

Real Consultoria em Negócios Ltda

Juiz de Fora/2017

Tópicos em Sustentabilidade & Conservação

Organizadores Bruno Corrêa Barbosa

Leonardo de Oliveira Resende Fábio Prezoto

Elesier Lima Gonçalves

Diagramação e Editoração Bruno Corrêa Barbosa

Capa Willian Cunha Gomes

willgommes.com

Revisão Elisa Furtado Fernandes Tatiane Tagliatti Maciel

Ficha catalográfica

Livro disponibilizado no site www.fazendatriqueda.com.br *Os autores são responsáveis por todo o conteúdo contido nos respectivos capítulos

Juiz de Fora/2017

824t Tópicos em Sustentabilidade & Conservação /

organizadores: Bruno Corrêa Barbosa ... [et al.]. – Juiz de Fora, MG: Edição dos autores, 2017. 107 p.: il. 21 x 29,7 cm. ISBN: 978-85-92704-01-8 1. Educação ambiental. 2. Sustentabilidade. 3. Recursos naturais. I. Barbosa, Bruno Corrêa.

CDD 570

Sumário

Capítulo 1 - A sabedoria ancestral brasileira e a atual necessidade de sustentabilidade

.............................................................................................................................................................................. 6

Capítulo 2 - Bem-estar animal: um dos critérios da sustentabilidade na pecuária ....... 17

Capítulo 3 - Potencial de geração de energia com o biometano obtido de resíduos

agropecuários .............................................................................................................................................. 47

Capítulo 4 - Análise financeira do sistema silvipastoril na pecuária de corte ................ 58

Capítulo 5 - Soluções sustentáveis para residências rurais: fossa de evapotranspiração

e círculo de bananeiras ............................................................................................................................ 70

Capítulo 6 - Estado de conservação da Serra da Mantiqueira: Ameaças, lacunas, avanços

e perspectivas do conhecimento da flora .......................................................................................... 77

Capítulo 7 - Áreas verdes urbanas e a sua participação na qualidade de vida de humanos

e animais em grandes cidades ............................................................................................................... 87

Capítulo 8 - Modelos para estimar as perdas de solo ............................................................... 95

Palavra dos organizadores

Com o objetivo de consolidar Fórum Ambiental e Florestal de Juiz de Fora e devido à

preocupação coletiva dos organizadores de desfrutamos de um material de relevância acadêmica

na área de sustentabilidade e conservação acessível aos estudantes de todo o Brasil, em 2016

nasceu o projeto que encaminhou com a elaboração de um livro intitulado “Sustentabilidade:

Tópicos da Zona da Mata Mineira”. Posteriormente com feedback positivo que tivemos,

idealizamos escrever um novo livro que contará com uma edição anual, e dividido em capítulos

que abordam conhecimentos apresentados durante todo o evento e ao mesmo tempo uma

síntese do que já se sabe sobre os diversos tópicos no Brasil e discussões internacionais dos

temas.

Após algumas tentativas de organizar os capítulos de forma lógica e conectada resolvemos

apresentar o livro em duas seções. Na primeira são tratados assuntos ligados a conhecimento

tradicional, bem-estar de animais de criação e sustentabilidade. Na segunda seção são abordados

os temas de conservação.

Esperamos que este livro-texto possa continuar sendo um estímulo para muitos

estudantes e profissionais da área. Agradecemos a cada um dos autores que contribuíram para a

realização do livro, dedicando parte de seu tempo, de suas vidas.

Bruno Corrêa Barbosa

Leonardo de Oliveira Resende

Fábio Prezoto

Elesier Lima Gonçalves

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CAPÍTULO 1

A SABEDORIA ANCESTRAL BRASILEIRA E A ATUAL

NECESSIDADE DE SUSTENTABILIDADE

Daniel Sales Pimenta

Departamento de Botânica, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus Universitário,

Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900, Brasil.

Contato: [email protected]

Várias etnias dos povos ancestrais nos ensinam a cultuar a natureza até

espiritualmente. Assim, os antigos nos mostram o caminho para um futuro da humanidade:

sair da pegada econômica da sustentabilidade e mudar a forma de enxergar a vida. Há futuro

se resgatamos o passado. Não temos tempo, como sobrevivência da humanidade, para ficar

maquiando o capitalismo e mantendo essa exploração desconectada dos recursos naturais

do planeta.

O consumo dos recursos naturais está desenfreado ou não? Nosso modelo de

civilização é autosustentável? A globalização leva em conta a diversidade sociocultural do

planeta? Existe risco real para a espécie Homo sapiens no planeta? No Brasil, respeitamos as

diferenças e temos uma identidade?

Este texto foi provocado pelas incessantes arremetidas de nosso capitalismo

ignorante contra os povos originários dessas terras que viemos a denominar Brasil. As terras

indígenas sofrem a ameaça do poder do Agronegócio, da estupidez religiosa preconceituosa

e das mineradoras e, de modo geral, todas as conquistas da Constituição de 1988 relativas

aos povos indígenas vêm sendo desconstruídas pelo pacto capitalista do executivo,

legislativo e judiciário sob o patrocínio do velho modelo subserviente aos EUA. Assistimos

CAPÍTULO 1

7

atônitos ao desmonte de empresas estatais como a Petrobrás e serviços como as

Universidades públicas. Mas os povos indígenas já vivem um drama ainda maior desde 1500

e deles nos vêm ensinamentos: há que resistir, de pé, até o último guerreiro; há que preservar

até a última conexão com os encantados, entoando o canto/reza sagrado; há que preservar

a leveza, até a última criança.

Desenvolvimento do assunto

Sabedoria se acumula na vivência, enquanto conhecimento se acumula em nosso

modelo científico, com formulação de um problema, aleatoriedade e repetição no modelo de

estudo, matemática contra subjetividade e avaliação de aspectos reducionistas para eliminar

fatores não focados na pesquisa. A Universidade surgiu para disseminar o conhecimento e

vai setorizando e especializando as pessoas já que o aprofundamento de conhecimento nas

diversas áreas torna impossível alguém se formar em tudo. A racionalidade impera nesse

baluarte da vanguarda tecnológica e hoje ela dissemina esse reducionismo racional e egóico

do arquétipo do conhecimento acumulado no manto sacralizado do jaleco, parafraseando

Rubem Alves que no livro “Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras” em 1981 já

denunciava ironicamente que, para os cientistas, a imparcialidade e verdade andavam nos

bolsos dos seus jalecos. Disserto que o modelo Cartesiano inaugurado pela publicação do

livro “Discurso do Método” por René Descartes em 1637, contribuiu para a evolução de nossa

civilização quando enfrentou a dominação autoritária da Igreja e sua inquisição absurda com

um conhecimento gerado com auxílio da matemática não subjetiva (1 + 1 = 2, independente

do que a igreja achava sobre isso) e avaliação de aspectos específicos de um problema que

permitissem isolar causas e efeitos. O problema é que hoje percebemos que há mais fatores

a serem considerados do que os traduzidos em números (“um mais um é sempre mais que

dois”, segundo Beto Guedes e Ronaldo Bastos) e a avaliação reducionista causa diversos

efeitos colaterais pela falta de visão holística dos problemas.

Segundo o senso do IBGE de 2010, se autodenominam indígenas 896 mil pessoas que

compõem 305 etnias e 274 línguas diferentes no Brasil. Chamar todos de “índios” é a

preguiça perniciosa e irresponsável do “civilizado”, a começar pelo europeu invasor, que

resume uma diversidade de culturas e diferentes formas de interpretar a vida e vive-la de

diferentes formas e significados.

Mesmo também sendo reducionista sintetizo aqui aspectos relevantes dos indígenas

que de maneira geral reverenciam a natureza e seus elementos, numa postura não

individualizada, mas de grupo orgânico, sacralizando o dia-a-dia. Respeitam os anciões e

CAPÍTULO 1

8

pajés e tentam preservar sua cultura estruturante de toda a aldeia. Se muitos destes

indígenas são hoje interpretados como controversos, estão é tentando sobreviver (são

apenas 0,4% da população brasileira hoje e eram em mesma quantidade que a população

europeia em 1500!).

Não posso dar a chance aos céticos de denunciarem aqui uma postura romântica e de

idealização generalizada dos indígenas, mas posso e devo destacar formas poéticas de

encontro e desfrute da vida em interação sagrada com a natureza da maioria das etnias que

tive o privilégio de conhecer, mesmo que a partir de minha visão forjada nessa mesma

cultura ocidental limitada e preconceituosa.

Nesse sentido, a sustentabilidade racional proposta neste evento (“5° Fórum

Ambiental e Florestal de Juiz de Fora“) deve ser precedida pelo sentimento profundo de

pertencimento à natureza. Esse pertencimento nunca se desvinculou das culturas indígenas,

mas sempre esteve desvinculado da cultura europeia que continua insistindo em nos

comandar, agora liderada por EUA e China. Um exemplo de ação concreta de que esse

pertencimento gera sustentabilidade é o trabalho de reflorestamento e educação ambiental

liderado por Benki Ashaninka no Acre/BR. Mais especificamente a etnia Ashaninka exerce

um papel fundamental em Marechal Thaumaturgo/AC, onde a floresta amazônica se

incrementa e produtos sustentáveis dela são produzidos. Se conectarmos esse trabalho com

os Rios Voadores ou Flutuantes (Nobre, 2014) chegamos à conclusão que é graças aos índios

da Amazônia que pertencendo ao contexto da floresta amazônica temos possibilidades de

vida no Sudeste, onde moramos, e exemplos de convivência harmônica que de fato

conservam a floresta a partir de uma espiritualidade ancestral.

É posto a todo momento e por várias áreas do conhecimento científico que o Homo

sapiens corre eminente perigo e exponencialmente insiste neste modelo perverso de

separação do homem e seu desfrute dilapidador da natureza, como se nós não fôssemos

parte dela e completamente dependentes de suas benesses. Nossa sociedade mundial sofre

uma guinada capitalista e se baseia no egoísmo e individualismo. Em muitos discursos do

passado e ainda atualmente se defende a eugenia, um racismo abominável, e assim ficam

ainda mais distantes flora e fauna em extinção. A ganância dos magnatas mundiais se

globaliza e assistimos ainda perplexos, essa ignorância irresponsável do produtivismo e

dilapidação desenfreada dos recursos naturais desse lindo planeta azul de nosso acolhedor

sistema solar.

Previsões, até mesmo da ciência, dão conta do grave modelo consumista ocidental que

nos conduz a autodestruição. Mas os poderosos seguem em sua estratégia baseando-se numa

CAPÍTULO 1

9

visão científica que afirma que na natureza sempre ocorre a sobrevivência do mais apto. Uma

base forte desse argumento é a “sobrevivência do mais apto” apregoada a Charles Darwin,

mas que foi proposta por Spencer e refutada por Darwin nos últimos escritos, quando

apontou a “sobrevivência do mais gentil” (Seppala, 2013; Music, 2013). Assistimos atônitos

a cultura da sobrevivência individualizada dos mais sagazes e agressivos, articulados numa

rede de competição que utiliza todos os recursos, incluindo os moralmente desprezíveis,

como por exemplo, a espionagem da famigerada CIA americana e a anuência de uma mídia

absurdamente comprometida. No Brasil testemunhamos um golpe impetrado por

denunciados de corrupção que chafurdam na velha máxima do “farinha pouca meu pirão

primeiro”. O perigo vai além, expande-se por todo o planeta e a ganância está generalizada e

em ascensão. Mas a gentileza com a natureza e, portanto, com todos os seres vivos é

apregoada por várias religiões pelo mundo e também pela cultura indígena, que compõe a

sabedoria ancestral brasileira.

Vários povos ancestrais pelo mundo previram e ainda nos avisam do rumo inexorável

de autodestruição. Os Yanomami, que habitam a floresta amazônica entre Brasil e Venezuela,

estão rezando em suas cerimônias para todo o planeta e avisam que a ganância do homem

branco não pode destruir a floresta amazônica sob inexorável desastre de queda do céu

(Kopenawa & Albert, 2015). Os índios Hopi (Arizona, EUA) avisam, insistentemente, que se

o povo branco dominador não diminuir seu ímpeto e não respeitar o povo vermelho que em

ínfima quantidade ainda detém a sabedoria, vamos todos desaparecer. Os índios Kogi da

Colômbia não aguentaram ver o coração da terra, na Sierra Nevada de Santa Marta onde

vivem, mostrar sinais de sofrimento e chamaram um representante do irmão mais novo para

documentar as graves previsões de seus xamãs, representantes dos irmãos mais velhos que

detém a sabedoria e também demonstram que nós, os irmãos mais novos, estamos cegos

com nossos egos embevecidos de nossa capacidade de invencionices tecnológicas.

Documentários da BBC divulgam há alguns anos esse alerta (“O coração da Terra”, 1990;

“Aluna”, 2003).

No Brasil desde 1500 os povos ancestrais são insistentemente até nossos dias

desprezados e massacrados, mas continuam lutando. Nos ensinam que a morrer,

morreremos de pé lutando contra essa interpretação de que o ser humano é naturalmente

competitivo, apresenta genes egoístas e deve sobreviver sendo o mais apto nestes tempos

sombrios. Muitas etnias, inclusive, tem a história oral de que o mundo já se extinguiu algumas

vezes. O céu já caiu para os Yanomami e eles estão agora rezando para que ele não caia de

CAPÍTULO 1

10

novo (Davi Kopenawa e Bruce Albert, “A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami”,

2015).

É uma luta contínua. Nossa civilização é que se desespera com a consequência de

seus/nossos próprios atos. O livro “O ponto de mutação” de Fritjof Capra (1983) discute

nossa agonia civilizatória e possíveis saídas e Sua Santidade, o Dalai Lama, já declarou que

não adianta rezar para um Deus quando o problema foi criado por nossos próprios atos. E os

índios continuam altruisticamente rezando para todo o planeta, conduzindo suas vidas com

valores diferentes dos nossos ou cooptando com nosso modelo e senescendo como cultura

e, aí, perdemos suas rezas a nos favorecer a todos... será que as rezas importam? Até a ciência

já admite que sim... (Moreira-Almeida et al., 2014).

A discussão que questiona essa visão de nossa natureza egoísta já chegou à academia.

Ela também tem tido reforços como Sua Santidade o Dalai Lama, que no livro “O universo em

um átomo: o encontro da ciência com a espiritualidade” (2006) afirma que esta visão

reducionista e radical do gene egoísta, do novo Darwinismo, só enxerga a negatividade de

nossa natureza, mas que não leva em conta o altruísmo e a responsabilidade ética de nossas

descobertas tecnológicas. Elisabet Sahtouris dentre outros autores, incluindo-se aqui Lynn

Margulis que abriu nossa mente para a endosimbiose, afirma que nossa natureza é

colaborativa. Que, biologicamente, comprova-se que os organismos vivos além de

apresentarem autopoiese (a capacidade de se multiplicar e se estabelecer dentre outros

organismos) e Holapatia (sistemas de organização intrínseca e inserida em sistema

organizacional mais abrangente, como células que compõem um órgão, que compõe parte

de um corpo, que se insere em uma comunidade e assim sucessivamente), apresentam um

processo sucessivo de maturação: estabelece-se na unidade, compõe a diversidade com sua

individualidade intrínseca, que leva a uma competição por recursos. Essa competição cria

tensão e conflito com o meio e há aí uma negociação. Terá sobrevivido e, portanto,

solucionado o conflito da competição se tiver passado por processo de COLABORAÇÃO

gerando nova unidade mais complexa. O diagrama de Sahtouris é uma espiral ascendente

em unidades sucessivamente mais complexas, níveis mais elevados de cooperação

(“EarthDance: Living Systems in Evolution”, 2000).

Se não tivéssemos seguido, como civilização, a mentalidade egóica e irresponsável da

dominação mercantilista/capitalista europeia, seriamos hoje mais colaborativos, éticos e

criativos na diversidade. Essa pluralidade gera resiliência para enfrentarmos os desafios de

sobrevivência nos tempos atuais e futuros. A mantermos nossa vida nesse cotidiano de

CAPÍTULO 1

11

produção, subserviência à essa mídia imbecil e positivismo tecnológico mantido pela ciência

arrogante, não duraremos para contar a história.

A Universidade está na vanguarda da ciência e, portanto, é um referencial do

pensamento racional. Por isso mesmo tem de atuar de forma colaborativa focando a

sobrevivência da espécie humana! Mas o condicionamento é de competição, produção de

artigos a serem publicados nos EUA ou Europa, seguindo o padrão estabelecido e sem

esboçarmos resistência ou alternativas ao modelo hegemônico mundial/ocidental. Mas

muitos de nós resistimos e insistimos em criar caminhos alternativos que tragam sabedoria

ao conhecimento.

A UFJF entrou na discussão colaboração x competição e tem ações que interagem com

a sabedoria ancestral brasileira. Ações concretas têm sido tomadas e mesmo sabendo que

não é o suficiente, listo algumas iniciativas::

-Implantamos o “Encontro de Saberes” que em dois semestres letivos atingimos 120

alunos de graduação, 10 de pós-graduação e 50 de extensão. Nestes encontros já trouxemos

convidados ilustres como Ailton Krenak, Álvaro Tukano e Benki Ashaninka. Estes encontros

seguem modelo iniciado na UNB pelo Professor José Jorge de Carvalho do INCTI (mas uma

sala de aula em meio a uma clareira de mata no Jardim Botânico da UFJF já tinha sido cravada

ali antes mesmo da parceria com a UNB). No site da UFJF encontra-se uma mostra de

atividades do Encontro de Saberes na nossa acolhedora sala de aula na floresta.

Figura 1 – Encontro de saberes na sala de aula da floresta. À esquerda Benki Ashaninka e

Naiara Tukano, à direita Ailton Krenak. Fotos Caíque Cahon/UFJF.

Em 2015 a UFJF foi a primeira Universidade Federal a titular um indígena como

Professor Honoris Causa, honraria dada a Ailton Lacerda Krenak, líder indígena que a

décadas defende a sabedoria ancestral brasileira em meio a esse quadro caótico que se

CAPÍTULO 1

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aprofunda em nosso modelo civilizatório ocidental. O discurso do Ailton e do Ministro da

Cultura estão disponibilizados nos sites: https://www.youtube.com/watch?v=4P97_Dn54aA e

https://www.youtube.com/watch?v=9KLZmUDeUUc. Cabe ressaltar que está honraria não

substitui uma titulação de “Notório Saber” a qual não está prevista no Regimento da UFJF,

mas que poderia ser almejada por outras Universidades brasileiras.

Realizamos o Curso de Especialização semipresencial “Cultura e História dos Povos

Indígenas”, no qual fizemos questão de realizar encontros presenciais com a sabedoria

ancestral onde tivemos o privilégio de contar com o apoio de Ailton Krenak, Álvaro Tukano,

Sapaim, Kaká Werá Jecupé, Rodrigo Arareju, dentre outros. Como um Curso à distância

(EAD), não daria certo mesmo vivenciar pajelança pelo computador... o cheiro da fumaça, o

chacoalhar da maraca, o canto sagrado, a roda de mão dadas, dentre muitas questões foram

fundamentais na vivência da sabedoria ancestral, daí a potência que tivemos em nossos

encontros presenciais.

Figura 2 – Ailton Krenak, Sapaim Kamaiura e Álvaro Tukano (da esquerda para direita) na

sala de aula da floresta (Foto arquivo CHPI).

CAPÍTULO 1

13

Implantamos no centro do Campus um Jardim Sensorial que resgata o referencial do

Opy (casa de reza Tupi-Guarani), com reverencia aos quatro elementos (fogo, água, terra e

ar) e respectivos quadrantes (leste, sul, oeste, norte) e onde fizemos questão de referenciar

o canto/reza: “Nhamandú Mirin” (Pequeno Sol), “Tuwixá Nheen” (Grande Espírito), “Ambá

Jekupé” (Morada de Jekupé), “Eru Endy Eté” (Dê-me luz verdadeira), “Xe Reikórapé” (No

caminho de minha vida), “Xe ata Arandúrapé” (Eu vou seguindo no caminho da sabedoria).

Com abertura em abril de 2014 tivemos mais de sete mil visitantes e numa conta tímida, em

torno de 30% dos visitantes se sensibilizaram. Principalmente quando percorrendo as 30

plantas sensoriais por tato e olfato com olhos vendados e descalços (com alteração também

de pisos nos quadrantes). O espaço tem se mostrado terapêutico, trazendo paz e harmonia

ao visitante, e uma vivência marcante em interdependência com os vegetais, portanto,

atuando também em educação ambiental. A experiência vai além e remete o visitante a um

ambiente sagrado (opy). Convido o leitor a vivenciar esta experiência, não dá para teoriza-

la, mesmo assim teimamos na conexão do conhecimento com a sabedoria e concluímos uma

dissertação de mestrado e numa linguagem científica, pretensiosamente discutimos essa

energia de êxtase e contentamento (“Jardim Sensorial da Universidade Federal de Juiz de

Fora, um espaço de terapia e conscientização”. Silvério, 2017).

Figura 3 – Jardim sensorial da Universidade Federal de Juiz de Fora. Fotos acervo Jardim

Sensorial

As ações vão se multiplicando. Fractais de amor pelo caminho do coração por muitos

vão reforçando a pegada colaborativa. Mas temos tempo? A destruição de Gaia pela

insensatez e falta de ética de nossa sociedade ainda tem reversão? Se não, morreremos

lutando, em pé, como nos ensinam estes povos ancestrais que no mundo todo humildemente

apontam a sabedoria como resiliência.

CAPÍTULO 1

14

Além do planeta, nossa vida tem um propósito, somos co-criadores do Universo,

afirma Ervin Lazlo, que, em pelo menos dois de seus vários livros (O Campo Akashico, 2008,

e Cosmos, 2011), chama a atenção para o fundamental reencontro com essa sabedoria que a

milênios consegue conectar-se com o sagrado e que vive nessa vibração. Sua obra faz a

conexão entre física quântica, biologia, dentre outras áreas do conhecimento, com o grande

espírito ou campo akashico, que abrange ilimitadamente espaço e tempo e relaciona o

intento à nossa capacidade de livre arbítri. Propõem em linguagem científica que podemos

gerar materialização de energias positivas, modificando nossa existência e foca na

evanescência das partículas sub-atômicas, como a “partícula de Deus”, comprovada a poucos

anos pela revelação do Bóson de Iggs no acelerador de partículas do CERN na Suíça.

Partículas evanescentes que se materializam e voltam a energia e que nos permitem ir

buscar, pelo intento, as energias sagradas que se materializarão em nós. Esse intento pode

ser conduzido em cerimônias ancestrais, como meditação, cerimônia de ayuasca, de rapé,

pelos sonhos e tantas formas que a milênios acompanham a sabedoria humana.

Com os ateus podemos até conciliar com uma existência baseada na ética, mas com os

materialistas gananciosos que criam o preconceito de uma vida emburrecente, não tem como

conviver...eles “precisam” ocupar e explorar todos os espaços do planeta e, infelizmente,

assistimos isso agora no Brasil pelo avanço do agronegócio e mineração na Amazônia, sendo

que a mata atlântica já foi dizimada e o cerrado agoniza. Cabe ressaltar que sustentabilidade

sem pertencimento à natureza é capitalismo maquiado.

Se qualquer ser humano se permitir meditar profundamente vai sentir mais que

entender que o sagrado está dentro de cada um de nós. Muitas sabedorias orientais

milenares também tentam nos ensinar essa verdade. Portanto, a meu ver, a sabedoria

ancestral é fundamental em nossas vidas. Não temos de sobreviver nesse modelo mecânico.

A vida é muito mais que nosso entendimento tão limitado e um pouco de humildade e

serenidade para admitir que estamos em processo de evolução contínua, assim como todo o

universo, é um pensamento lógico e perfeitamente científico.

Se você prefere a meditação, temos, por exemplo, Paramahansa Yogananda a nos

mostrar o caminho pela técnica da Kriya Yoga (Autobiografia de um Yogue, 1951). Se quer

seguir com o auxílio de muitas plantas de poder, temos muitos povos ancestrais a também

nos mostrar o caminho do acolhimento, do respeito, do desapego material, da ética

responsável, enfim, do desapego de uma vida sem presença e agitada, para uma vida serena

e colaborativa com o sagrado dentro e fora do corpo individual.

CAPÍTULO 1

15

A escolha é sua, com seu livre arbítrio, porém não dá para ficar passivo, com esse

capitalismo ativo! E sustentabilidade precisa de alteração da visão de inserção individual no

mundo.

Considerações finais

Biologicamente podemos enxergar a saída colaborativa, mesmo que nos tempos

atuais assistimos perplexos a guinada competitiva, a institucionalização da falta de ética e

consequente e persistente barbárie.

A Universidade tem sua responsabilidade neste enfrentamento e este livro é mais um

grão de areia na construção de uma saída para salvarmos a espécie humana. A espécie que

tem o privilégio de conectar-se com o sagrado e tornar justificável nossa existência.

Nessa interpretação a vida é o desafio de tocarmos o sagrado por nosso intento e,

assim, vencermos o desânimo tão bem retratado na Capela Sistina por Michelangelo.

Nossos irmãos “indígenas” ainda nos acolhem e instigam nossas contradições e

avisam que nossa infantilidade pode comprometer a todos.

Portanto, há futuro se resgatamos o passado. Não podemos viver do passado, mas

aprender e voltar a sentir a verdadeira natureza humana. Como construir um futuro com

base na sabedoria ancestral? A resposta é a construção com o coração a cada dia. Bom

trabalho!

Referências bibliográficas

Alves, R. 1981. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo. Editora

Brasiliense.

Capra, F. 1983. O ponto de mutação. São Paulo. Editora Cultrix.

Descartes, R. 2001. Discurso do Método. Porto Alegre. Editora LP&M.

Kopenawa, D. & Albert, B. 2015. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo.

Editora Companhia das Letras.

Lama, D. 2006. O universo em um átomo: o encontro da ciência com a espiritualidade. Rio de

Janeiro.Editora Ediouro.

Lazlo, E & Currivan, J. Cosmos - Unindo ciência e espiritualidade para um novo entendimento

do universo e de nós mesmos. São Paulo. Editora Cultrix.

Lazlo, E. 2008. O Campo Akashico,uma teoria integral de tudo. São Paulo. Editora Cultrix.

CAPÍTULO 1

16

Moreira-Almeida, A.; Koenig, H.G. & Lucchetti, G. 2014. Clinical implications of spirituality to

mental health: review of evidence and practical guidelines. Revista Brasileira de

Psiquiatria, 36 (2): 176–182.

Music, G. 2013. The good life: Wellbeing and the new science of altruism, selfishness and

immorality. New York, NY: Routledge.

Nobre, A.D. 2014. O Futuro Climático da Amazônia. Relatório de Avaliação Científica. São José

dos Campos, SP. Edição ARA, CCST-INPE e INPA.

Sahtouris, E. 2000. EarthDance: Living Systems in Evolution.

Seppala, E. 2013. The compassionate mind. Observer. 26 (5), 20-25.

Silvério, P.H.B. 2017. Jardim Sensorial da UFJF, um espaço de terapia e conscientização.

Dissertação de Mestrado, PGECOL. UFJF. 79p.

Yogananda, P. Autobiografia de um Yogue. Los Angeles. Editora Self-Realization Fellowship.

17

CAPÍTULO 2

BEM-ESTAR ANIMAL: UM DOS CRITÉRIOS DA

SUSTENTABILIDADE NA PECUÁRIA

Aline Cristina Sant’Anna1,2*

Maria Camila Ceballos Betancourt2

Maria Guilhermina Marçal Pedroza3

Tiago da Silva Valente2,4

1 Departamento de Zoologia, ICB, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG.

2 Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO), Departamento de

Zootecnia, Unesp Campus de Jaboticabal, Jaboticabal, SP.

3 PPG em Comportamento e Biologia Animal, ICB/UFJF, Juiz de Fora, MG.

4 Livestock Gentec, University of Alberta, Edmonton, Canada.

Contato: [email protected]

As práticas da produção sustentável estão focadas em aspectos ambientais,

econômicos e de responsabilidade social, que visam a obtenção de produtos seguros, éticos

e de alta qualidade. Neste contexto, o bem-estar dos animais de fazenda passa a ser incluído

como um dos critérios para promover a sustentabilidade na produção pecuária (McGlone,

2001; Broom, 2010). Além de apresentar influência direta na qualidade intrínseca dos

produtos, como carne, ovos e leite, a condição de bem-estar dos animais e as práticas de

manejo empregadas podem impactar na aceitação de certas marcas ou produtos pela

sociedade. Assim, a qualidade dos produtos de origem animal passa a incluir também

CAPÍTULO 2

18

aspectos éticos relacionados ao modo de produção, como os impactos ao meio ambiente e

bem-estar dos animais.

Segundo Broom (2010), um sistema ou processo pode ser considerado sustentável

quando este é aceitável na atualidade e seus efeitos serão aceitáveis no futuro,

particularmente em relação à disponibilidade de recursos, suas consequências e ações

morais. Por outro lado, um sistema produtivo pode ser considerado insustentável por

diversos motivos, tais como, utilização ineficientemente dos recursos alimentares mundiais,

promoção de efeitos negativos à saúde humana, por colocar em risco o bem-estar dos

animais, por causar prejuízos ambientais e redução da biodiversidade ou por não

proporcionar a conservação dos recursos naturais existentes, e pelo uso de modificações

genéticas inaceitáveis. Em relação aos aspectos econômicos, um sistema pode ser

insustentável se não adotar um ‘modelo de comercialização justo’, no qual os produtores dos

países pobres não são devidamente recompensados, ou por causar danos às comunidades

rurais e povos tradicionais (Broom et al., 2013).

A sustentabilidade das cadeias produtivas também passa pela transparência sobre os

processos e práticas adotados em um de seus elos. Sabe-se que avanços vêm ocorrendo no

desenvolvimento e promoção de boas práticas de manejo e de produção em nosso país, no

entanto, para a construção de uma imagem positiva destas cadeias é necessário realizar

também um trabalho de conscientização da sociedade civil. Sabemos que apenas com

informações transparentes sobre como os produtos de origem animal são obtidos e

processados será possível que se consolide um mercado consumidor consciente dos

impactos de suas práticas de consumo. Nesse capítulo serão apresentadas estratégias de

implementação das boas práticas de bem-estar e sustentabilidade na produção animal, além

de levantar reflexões sobre os seus impactos no modo como os consumidores julgam os

atuais sistemas de criação.

Um breve histórico da ciência do bem-estar animal

O bem-estar animal é considerado um tema complexo e multifacetado, que envolve

dimensões científicas, éticas, econômicas, culturais, sociais, religiosas e políticas (OIE, 2015).

A abordagem científica do bem-estar animal teve suas bases teóricas formuladas

principalmente nas últimas quatro décadas. O marco histórico no seu surgimento como uma

área do conhecimento foi a publicação, em 1965, do que ficou conhecido como Relatório

Brambell, intitulado Report of the Technical Committee to Enquire into the Welfare of Animals

kept under Intensive Livestock Husbandry Systems (Brambell, 1965). Esse documento foi

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resultado dos trabalhos de um comitê de mesmo nome, estabelecido em resposta às

preocupações da opinião pública sobre as condições com que os animais de fazenda eram

mantidos em sistemas intensivos de criação na Grã-Bretanha. O documento apresentou um

diagnóstico das condições de criação, além da definição dos padrões mínimos que deveriam

ser atendidos para um bom bem-estar destes animais.

Em 1976, Barry O. Hughes propôs que bem-estar seria o estado de harmonia do

animal com seu ambiente, apresentando completa saúde física e mental. Embora seja de fácil

compreensão, a aplicação deste conceito se restringe às situações em que o animal está em

boas condições em termos de qualidade de vida. Por sua vez, o conceito proposto mais tarde

por Donald M. Broom (1986) define bem-estar como estado do animal durante as suas

tentativas de se ajustar ao seu ambiente. Este tornou-se amplamente utilizado por incluir

todas as possíveis situações que o animal pode enfrentar em termos de qualidade de vida.

Assim, o bem-estar pode variar de muito bom, quando um indivíduo goza de plena saúde

física e mental, a muito ruim, quando ele está na eminência da morte, por exemplo. Uma das

implicações deste conceito é o fato de que o bem-estar animal pode ser avaliado com a

aplicação de indicadores de bem-estar cientificamente padronizados (Broom, 1991).

De acordo com Fraser (1997) o bem-estar dos animais pode ser considerado à luz de

três principais abordagens, sendo elas ‘a vida natural’, ‘sentimentos ou emoções’ e

‘funcionamento biológico’. Na primeira abordagem, o nível de bem-estar dos animais

depende das oportunidades que estes possuem para expressarem comportamentos naturais

e estarem em ambientes o mais próximo possível do ‘natural’ para a espécie em questão. De

acordo com a abordagem dos sentimentos, o bem-estar é dependente dos estados mentais

que os animais vivenciam, sendo importante as experiências subjetivas como medo,

sofrimento ou prazer (Duncan, 1993, 1996). Por fim, a terceira abordagem tem foco no

funcionamento biológico e considera aspectos relacionados à ausência de doenças,

ferimentos, boa condição nutricional, desempenho reprodutivo e nível de crescimento.

Historicamente, a ciência do bem-estar se fundamentou na formulação de

metodologias e protocolos de avaliação que buscam identificar se os animais estavam livres

de condições ambientais adversas ou emoções negativas, tais como dor, medo e privação de

necessidades fundamentais, dentre elas, alimento, água e contato social. A própria definição

das ‘cinco liberdades’ do bem-estar animal (FAWC, 2009), amplamente disseminadas e

conhecidas nesta área, confirma o fato de que o enfoque é em manter os animais livre de

condições prejudiciais, a saber: i) livre de sede, fome e má-nutrição, ii) livre de dor,

ferimentos e doença, iii) livre de desconforto, iv) livre para expressar comportamentos

CAPÍTULO 2

20

naturais e v) livre de medo e distresse. As ‘cinco liberdades’ foram formuladas como

princípios básicos, atuando como um referencial do que deveria ser disponibilizado aos

animais num dado ambiente de criação.

Em uma iniciativa mais recente, pesquisadores integrantes do Projeto Welfare

Quality® propuseram quatro princípios gerais a fim nortear a avaliação do bem-estar animal.

Segundo eles os animais deveriam dispor de ‘boa alimentação’, ‘bom alojamento’, ‘boa saúde’

e ‘comportamento apropriado’. Associados aos quatro princípios foram estabelecidos 12

critérios de bem-estar animal (Qua. 1), para os quais foram formuladas medidas (ou

indicadores) padronizados que pudessem gerar informações válidas e confiáveis sobre a

condição de bem-estar dos animais com base em cada um dos critérios (Welfare Quality,

2009a,b). Como parte deste projeto foram formulados protocolos de avaliação do bem-estar

dos animais envolvidos nas principais cadeias produtivas (bovinos, suínos e aves). Além

disso, foram propostas estratégias práticas para melhorar o bem-estar dos animais tanto nas

fazendas quanto no manejo pré-abate. Por fim, buscou-se alinhar as demandas dos

consumidores a um sistema de informação transparente sobre a condição de bem-estar e a

qualidade dos produtos de origem animal.

Mais recentemente a ciência do bem-estar vem enfrentando uma mudança de

paradigmas, passando a considerar-se que a qualidade de vida dos animais deva ser avaliada

com base nas experiências vividas por eles, tanto negativas, quanto positivas (Mellor e

Beausoleil, 2015). Assim, para garantir altos níveis de bem-estar é preciso proporcionar aos

animais ausência de experiências negativas, bem como oportunidades de vivenciar

experiências positivas (Mellor, 2016). Segundo o ‘Modelo dos Cinco Domínios’ proposto por

David Mellor, o bem-estar pode ser acessado em domínios físicos (que incluem nutrição,

saúde, ambiente e comportamento) e domínio mental (que inclui os estados mentais, ou seja,

emoções). Segundo este modelo, para que seja possível uma ampla avaliação das condições

de bem-estar, para todos os cinco domínios devem ser incluídos indicadores que consigam

acessar tantas experiências negativas quanto positivas vivenciadas pelo animal.

Por isso, grande esforço dos pesquisadores vem sendo alocado no desenvolvimento

de indicadores positivos de bem-estar (Edgar et al., 2013; Anderson et al., 2015). Assim,

metodologias que incluem testes de viés cognitivo (Mendl et al., 2009) e de comportamento

antecipatório (Wichman et al., 2012) passaram a ganhar importante destaque na ciência do

bem-estar animal na última década.

CAPÍTULO 2

21

Quadro 1 – Esquema de avaliação do bem-estar animal proposto pelo Projeto Welfare

Quality® (Modificado de: Welfare Quality, 2009a,b).

Princípios Critérios Exemplo de Medida

Boa alimentação

1. Ausência de fome

prolongada Escore de condição corporal

2. Ausência de sede

prolongada

Quantidade e qualidade da água disponível aos

animais

Bom alojamento

3. Conforto para

descanso

Escore de higiene, qualidade do material de

cama

4. Conforto térmico Porcentagem de animais ofegantes,

porcentagem de animais com tremor

5. Facilidade de

movimento

Densidade de alojamento (kg / m2 de espaço

disponível), acesso a área externa

Boa saúde

6. Ausência de injúrias Escore de locomoção, ocorrência de ferimentos

e hematomas

7. Ausência de doenças Taxas de mortalidade e de descarte,

prevalência de diarreias

8. Ausência de dor

induzida por manejo

Realização de manejos potencialmente

aversivos tais como, descorna, castração, corte

de cauda e debicagem

Comportamento

apropriado

9. Expressão de

comportamento social

Frequência de comportamentos agonísticos,

frequência de comportamento filiativos

10. Expressão de outros

comportamentos

Expressão de comportamentos anormais (como

estereotipias, automutilação)

11. Boa interação

humano-animal

Registro da adoção (ou não) de boas práticas de

manejo, teste de distância de fuga

12. Estados emocionais

positivos Avaliação qualitativa do comportamento (QBA)

Bem-estar na sociedade contemporânea

É crescente o interesse pela qualidade de vida dos animais em geral, o que vem

ocorrendo graças a mudanças nas relações entre humanos e animais, como também pela

consolidação de visões éticas que conferem a eles valor próprio e, portanto, o entendimento

CAPÍTULO 2

22

de que devem possuir direitos fundamentais. Este é um tema de extrema relevância para

todas as atividades humanas que envolvam o uso de animais, como as atividades esportivas

e a pesquisa científica, com destaque especial para a produção pecuária.

Por essa razão, organizações internacionais que tratam de temas relacionados à

saúde animal e à segurança alimentar, como a OIE (Organização Mundial da Saúde Animal),

a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e a EFSA (European

Food Safety Authority), têm incluído o bem-estar animal como questão prioritária em suas

agendas. Padrões e recomendações internacionais vêm sendo desenvolvidos, visando

garantir condições adequadas de bem-estar aos animais. Da mesma maneira, no âmbito

legal, diversos países vêm formulando leis e normas específicas que visam a proteção animal

e a garantia de que os processos e produtos sejam desenvolvidos respeitando padrões pré-

estabelecidos de manejo, segurança e redução de riscos aos animais e aos trabalhadores.

Neste âmbito, a legislação europeia tem sido referência quanto à proteção animal, como por

exemplo com a Diretiva 1999/74/EC de 19 julho de 1999, que estabeleceu padrões mínimos

para as instalações em granjas de galinhas poedeiras, banindo sistemas de criação em gaiolas

a partir do ano de 2012 (EC, 1999). Embora sua validade seja restrita ao bloco europeu, tais

diretivas vêm produzindo impactos globais positivos em termos de bem-estar animal, parte

deles em função dos princípios de isonomia aplicados ao comércio internacional.

O Brasil figura-se atualmente como um importante produtor e exportador de proteína

animal, colocando a questão do bem-estar em foco para diversos setores da atividade

pecuária. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)

constituiu, em 2008, a Comissão Técnica Permanente de Bem-estar Animal (CTBEA) visando

fomentar a discussão e adequação da legislação brasileira ao conhecimento científico

disponível e às recomendações estabelecidas por acordos internacionais dos quais o Brasil

é signatário. Além disso, a CTBEA tem como objetivo promover o desenvolvimento de boas

práticas de manejo, bem como a capacitação de todas as pessoas envolvidas nos setores

produtivos. As duas mais recentes regulamentações publicadas referem-se ao transporte dos

animais de fazenda, com a Resolução Nº 675/2017 CONTRAN, que ‘dispõe sobre transporte

de animais de produção ou interesse econômico, esporte, lazer e exposição’ (Brasil, 2017) e a

Instrução Normativa n° 12 de 2017 que trata do ‘credenciamento de entidades para

Treinamento em Abate Humanitário’ (Brasil, 2017). Assim, busca-se adequar toda a cadeia

produtiva às novas exigências da sociedade brasileira e dos mercados importadores.

Os movimentos em prol do bem-estar são tanto de caráter legal quanto social, de

modo que as exigências dos consumidores também têm potencial de interferir na maneira

CAPÍTULO 2

23

como os animais são criados. Por essa razão, aprofundar os conhecimentos a respeito dos

fatores que influenciam os padrões de consumo dos produtos de origem animal e seus

impactos para a imagem dos sistemas de produção tem sido o objetivo de diversas pesquisas

no Brasil e no mundo (María, 2006; Spooner et al., 2014; Lemme, 2016; Risius e Hamm,

2017).

Em uma pesquisa de opinião pública realizada no ano de 2008, com um total de 3101

consumidores de diferentes regiões do Brasil (estados de São Paulo, Rio Grande do Sul,

Sergipe e Mato Grosso do Sul), constatou-se que 66% dos respondentes consideravam o

bem-estar dos animais de fazenda um tema muito importante e outros 21% o consideraram

importante (Paranhos da Costa et al., dados não publicados). Pesquisas mais recentes

realizadas por meio de plataformas digitais revelaram que os consumidores declararam

estar dispostos a pagarem mais por carnes provenientes de animais que tiveram boas

condições de bem-estar (Lemme, 2016; Dias et al., 2016). Em uma pesquisa de opinião

realizada com 656 respondentes, de todas as regiões do país, constatou-se que 88,9% deles

estariam dispostos a pagar mais por carne com algum selo de certificação de qualidade da

sua origem quanto ao bem-estar dos animais (Dias et al., 2016). Nesse mesmo levantamento

a frequência com que os entrevistados declararam comer carne esteve relacionada a sua

consciência sobre o modo como os animais são criados nas fazendas, sendo que quanto

maior o nível de consciência declarado, menor a frequência de consumo. Dentre os

entrevistados, 81% declarou comer carne todos os dias ou, no mínimo, todas as semanas

(Dias et al., 2016). De modo semelhante, resultados de outro estudo com 468 respondentes

indicaram que 85,5% deles declararam estar dispostos a pagar mais por uma carne com

certificação de origem e, após assistirem um vídeo sobre práticas de manejo comuns em

fazendas, esse número subiu para 88% (Lemme, 2016). Segundo o autor da pesquisa,

embora os consumidores declarem considerar o tema bem-estar animal como algo muito

importante, estes demonstraram ter poucas e equivocadas informações sobre o modo como

os animais são criados nas fazendas.

De acordo com Broom (2010), poucas pessoas respondem às informações sobre os

problemas de bem-estar dos animais de fazenda aderindo ao vegetarianismo, porém, um

número maior de pessoas modifica seus padrões de consumo após receber informações

sobre este tema. Assim, a opinião dos consumidores está diretamente relacionada à

sustentabilidade das cadeias produtivas, pois pode implicar na aceitação ou não de certos

produtos pelo mercado consumidor. Uma questão fundamental na definição de

sustentabilidade em empreendimentos empresariais vai além dos aspectos ambientais,

CAPÍTULO 2

24

sociais e econômicos, e refere-se as ‘questões materiais’ que, segundo Lemme (2016),

envolvem aspectos relacionados à imagem e reputação dos produtos. Estas implicam

diretamente na licença social da empresa, a qual se refere a aceitação pela sociedade,

refletindo a compatibilidade entre as operações das empresas e os princípios e valores que

regem a vida em sociedade. Nesse contexto, Lemme (2016) inclui o bem-estar animal como

uma questão material no setor de alimentos, por envolver conceitos fortemente arraigados

nas pessoas, como o respeito à vida, o sofrimento e o papel vital do alimento para a saúde e

a manutenção da vida.

Estamos na era da informação e da comunicação, onde a transparência torna-se um

elemento fundamental na definição de sistemas produtivos que sejam sustentáveis. A

repercussão das ações realizadas por empresas ou mesmo estabelecimentos rurais pode

ganhar enormes proporções muito rapidamente, colocando milhares de pessoas em contato

com informações que, dependendo do modo como são veiculadas, podem colocar em risco o

crescimento e até mesmo a manutenção de um empreendimento. A grande facilidade de se

veicular informações (verídicas ou não), somadas ao fato dos consumidores e do público em

geral considerar bem-estar um tema importante, mesmo para aqueles pouco informados

sobre as práticas de criação adotadas nas fazendas, revela uma realidade preocupante. Por

isso, acreditamos que difundir as informações sobre o tema será um aspecto chave para o

desenvolvimento de um mercado consumidor consciente e que considere o bem-estar

animal e a sustentabilidade ao definir seus padrões de consumo.

Em suma, os avanços nos estudos sobre o bem-estar animal somados às exigências do

mercado consumidor, e às demandas por transparência sobre as práticas empregadas nas

cadeias produtivas estabeleceram novos desafios à produção animal. Este cenário tem

impulsionado a melhoria dos sistemas de criação, por meio da adoção das boas práticas de

manejo, baseadas em conceitos de comportamento, bem-estar animal e sustentabilidade.

Segundo Broom e Fraser (2010) a melhoria do bem-estar animal geralmente leva à melhoria

da produção. Porém, para promover essa melhoria, é importante conhecer as necessidades

dos animais aliado ao entendimento do seu comportamento. Desta forma, vêm-se buscando

desenvolver sistemas produtivos que, além de serem sustentáveis ambientalmente,

permitem que o animal tenha as necessidades satisfeitas e consequentemente, consiga

alcançar um bom nível de bem-estar. Discutiremos adiante algumas estratégias que vêm

sendo desenvolvidas visando a melhoria do bem-estar dos animais associada à

sustentabilidade da produção pecuária.

CAPÍTULO 2

25

Bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária

Os modelos de produção animal mudaram substancialmente nas últimas décadas,

acompanhando as transformações sócioeconômicas decorrentes dos processos de

urbanização, industrialização e globalização. A demanda crescente por produtos de origem

animal na alimentação humana levou ao desenvolvimento de sistemas de criação cada vez

mais intensificados, permitindo a obtenção de maior quantidade de alimento por unidade de

área. Estes processos levaram ao desenvolvimento de sistemas que passaram a ser

chamados de ‘produção industrial’ de carne, leite e ovos. Nesses modelos, há um intenso

controle das condições de alojamento, nutrição, rigorosas medidas sanitárias, além da

manutenção dos animais em altas densidades, levando a largas escalas de produção e a altas

demandas por insumos e energia para sua manutenção. Porém, tais sistemas têm sido

amplamente criticados sob o ponto de vista do bem-estar animal, expondo a produção a

questionamentos eticamente importantes em função dos riscos que impõe aos animais

(Godfray e Garnett, 2014).

Os sistemas intensivos de produção pecuária têm sido alvo de inúmeras críticas

relacionadas ao mal uso da terra e degradação ambiental (FAO, 2006a), pela intensificação

massiva da produção, uso de dietas com alto conteúdo de concentrado (Phillips, 2016), pelo

uso indiscriminado de antibióticos (Dawkins, 2017), transporte dos animais por longas

distâncias (Mota-Rojas et al., 2016a), melhoramento genético objetivando apenas o alto

rendimento (Fraser et al., 2013) e pelos manejos potencialmente dolorosos, como descorna,

castração, corte de cauda e debicagem (Mota-Rojas et al., 2016b). Pode-se facilmente notar

que a grande maioria destas críticas está relacionada a aspectos de sustentabilidade e bem-

estar animal.

Em 2008 a FAO promoveu uma reunião de especialistas onde foi enfatizada a

necessidade de se apoiar pesquisas sobre sistemas alternativos de produção, com enfoque

no bem-estar dos animais, principalmente nos países em desenvolvimento (FAO, 2009a).

Segundo eles, o aumento da produção pecuária levanta uma série de questões éticas e,

portanto, a garantia do acesso ao alimento pela população humana deve ser considerada em

conjunto com as preocupações em relação ao bem-estar dos animais e a sustentabilidade

ambiental (FAO, 2009a). Desde então a busca por alternativas para o desenvolvimento

sustentável vem sendo fomentada. Abaixo apresentaremos algumas destas iniciativas, tendo

em mente que existem diversas outras estratégias, também eficientes em nível local e global.

CAPÍTULO 2

26

a) Alternativas para mitigar as emissões de gases do efeito estufa

O Brasil é um país com evidente tradição agrícola. No ano de 2016 a participação do

setor agropecuário no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 23%, representando 48% das

exportações totais do país, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do

Brasil (CNA, 2016). De acordo com dados da FAO (2016), a produção de carne nos países em

desenvolvimento, como o Brasil, tem expectativa de crescimento em torno de 17% em 2024,

em relação a 2015. Esse aumento na produção vem acompanhado do aumento do consumo

de carne bovina, em decorrência da elevação de renda dos consumidores e do aumento

populacional. Diante de tais circunstâncias, surge uma evidente contradição quanto à

pecuária, que vem se mostrando uma atividade econômica e socialmente importante, ao

mesmo tempo que produz severos impactos no meio ambiente, dependendo do modo como

é desenvolvida (FAO, 2006a).

Um destes impactos é a emissão de gases de efeito estufa (GEE), que contribuem para

o aquecimento global. No ano de 2015 gases como o metano (CH4) e óxido nitroso (NO2),

provenientes da atividade pecuária, corresponderam a 69,6%, e 56,2%, respectivamente,

das emissões totais dos dois gases no Brasil (SEEG, 2017). A principal fonte do metano é a

fermentação entérica, responsável por 89,5% das emissões desse gás por toda atividade

agropecuária em 2015, seguida pelo manejo dos dejetos dos animais que contribui com 4,5%

(SEEG, 2017). Diversos fatores contribuem para as altas emissões de GEE pela pecuária

brasileira, dentre eles o tamanho do rebanho nacional, os baixos índices de produtividade, a

idade de abate (entre 3 e 3,5 anos) e a criação extensiva, com pastagens degradadas e de

baixa qualidade, como também pelo desmatamento de áreas naturais, atribuído à atividade

pecuária (Machado et al., 2011).

Para compreender os impactos do manejo dos bovinos sobre as emissões de metano

entérico pelos mesmos é preciso entender aspectos básicos da fisiologia digestiva dos

ruminantes. O rúmen é um ambiente anaeróbico, com pH entre 6,0 e 6,5, colonizado por

microrganismos como bactérias, fungos e protozoários (Aschenbach et al., 2011). Esses

realizam a decomposição de matéria vegetal fibrosa, como celulose e hemicelulose, além do

amido em açúcares que, em seguida, passam pelo processo de fermentação, formando ácidos

graxos voláteis (ácidos acético, propiônico e butírico), os quais são fontes de energia para

ruminantes (Primavesi et al., 2004; Saleem et al., 2013). São formados também dióxido de

carbono e metano, que são excretados, principalmente, através da eructação. A fermentação

envolve um processo de oxidação, gerando co-fatores reduzidos (NADH, NADPH e FADH),

que são então re-oxidados (NAD+, NADP+ e FAD+) por reações de desidrogenação, liberando

CAPÍTULO 2

27

hidrogênio no rúmen (Ribeiro et al., 2015). Esses íons são utilizados pela microbiota ruminal

como fonte de energia para o seu crescimento, entretanto, este fenômeno leva à formação de

metano, representado pela equação química: CO2 + 4 H2 → CH4 + 2 H2O (Machado et al.,

2011).

De acordo com dados do Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de

Mudanças Climáticas (IPCC, 2006), o gás metano tem a capacidade de contribuir para o

aquecimento do planeta 25 vezes mais do que a do gás carbônico, além de ter a vida útil

variando entre 9 e 15 anos. Assim, estima-se que este gás seja responsável por 15% do

aquecimento global (Machado et al., 2011).

Como a taxa de liberação de metano pelos processos metabólicos dos ruminantes

depende da categoria do animal, do nível de consumo alimentar, bem como da

digestibilidade do alimento ingerido, há possibilidades de reduzir a produção de metano,

através de mudanças no processo digestivo dos animais (Rivera et al., 2010). Algumas

estratégias nutricionais vêm sendo investigadas como possíveis alternativas para minimizar

as emissões de GEE, dentre elas o uso de ionóforos nas dietas dos animais, adição de lipídios,

taninos, dentre outros (Mohammed et al., 2004; Shibata e Terada, 2010; Berchielli et al.,

2012).

A intensificação da produção também vem sendo apontada como uma estratégia para

reduzir as emissões de GEE, já que resultados de diversos estudos recentes demonstraram

que sistemas de produção intensivos em confinamento produzem menos emissões de GEE

que sistemas extensivos de produção (em pastagens) (Pelletier et al., 2010; Capper e

Bauman, 2013; de Vries et al., 2015, Ogino et al., 2016), inclusive nas condições brasileiras

de criação (Kamali et al., 2016). As principais razões para isso são a redução na idade de

abate dos animais, abates programados e um período mais curto de manutenção dos animais

no sistema de confinamento, favorecendo a redução da produção de metano por unidade de

produto (O’Hara et al., 2003). Segundo de Vries et al. (2015), as emissões de GEE por unidade

de produto em sistemas de confinamento foram em média 28% (variando entre 4 e 48%)

menores que em sistemas a pasto, o que em parte se deve ao maior ganho de peso dos

animais nesses sistemas, acompanhado pelo menor tempo de terminação e maior peso ao

abate dos animais. As menores emissões para os sistemas de confinamento foram atribuídas

também ao fato de dietas baseadas em grãos gerarem menores taxas de emissão de metano

entérico.

Assim, o uso de concentrados na dieta dos bovinos também é apontado como uma

estratégia para minimizar as emissões de GEE (Berchielli et al., 2012). A substituição dos

CAPÍTULO 2

28

carboidratos fibrosos (volumosos) por carboidratos não fibrosos a base de açúcares e amido

(concentrado), leva a uma alteração na população de microrganismos presentes no rúmen

(Ribeiro et al., 2015). Como consequência ocorre um aumento da ação de bactérias

amilolíticas, resultando em maior produção de propionato e redução de acetato,

ocasionando diminuição da concentração de H2, reduzindo assim, a produção de metano no

rúmen (Machado et al., 2011). Segundo Martin et al. (2009), mesmo que não ocorra uma

redução na produção de acetato, a dieta com concentrado promove queda no pH ruminal,

ocasionando uma limitação no crescimento e/ou atuação de bactérias celulolíticas e

metanogênicas.

No entanto, apesar dos aparentes benefícios dos sistemas de confinamento quanto às

emissões de GEE, entendemos que a intensificação e uso de dietas com altos níveis de

concentrados para a alimentação de ruminantes não são as melhores estratégias visando a

sustentabilidade, principalmente se considerarmos o bem-estar animal como um de seus

critérios essenciais. Diversos são os motivos para isso. Primeiramente, as emissões de CO2 e

óxido nitroso oriundos dos cultivos dos grãos para alimentação animal (colheita,

processamento e transporte) devem ser computados (Machado et al., 2011). Sem mencionar

o aporte de nitrogênio oriundo da adubação nitrogenada, resultando no aparecimento de

nitratos e óxido nitroso, esse último sendo mais maléfico para meio ambiente, por contribuir

250 vezes a mais para o aquecimento global que o CO2 (Melato, 2007). Adicionalmente, deve-

se considerar também o uso de áreas agricultáveis para produção de grãos para alimentação

animal, as quais poderiam ser utilizadas para alimentação humana ou outras finalidades. Por

fim, os sistemas de confinamento, embora produzam menos emissões de GEE por unidade

de produto, podem ser mais prejudiciais quanto a outros tipos de impactos ambientais, como

eutrofização de corpos d’água naturais, emissões de amônia levando a acidificação do solo e

chuva ácida (Ogino et al., 2016), maior consumo de energia e de combustíveis fósseis (Kamali

et al., 2016).

Considerando-se especificamente o bem-estar-animal, o uso de dietas com altas

proporções de concentrados favorece a ocorrência de acidose ruminal (Plaizier et al., 2008;

Ribeiro et al., 2015). Além de ser um sério risco para a saúde e bem-estar dos bovinos, este

distúrbio metabólico leva a perdas produtivas. Em vacas leiteiras, por exemplo, a acidose

subclínica causa redução no consumo de matéria seca, diminuição da porcentagem de

gordura no leite, diarreia, laminite, abcessos de fígado, e redução da longevidade dos animais

(Plaizier et al., 2008). Em bovinos de corte os sistemas intensivos estão relacionados à alta

incidência de problemas respiratórios, caracterizando a ‘doença respiratória bovina’ (Bovine

CAPÍTULO 2

29

Respiratory Disease, BRD) que é a causa de, aproximadamente, 67% das mortes dos animais

em confinamento nos Estados Unidos (Tucker et al., 2015). A BRD causa também redução no

ganho de peso dos animais, piora a qualidade das carcaças, e eleva os custos com tratamentos

veterinários, sendo considerada um dos problemas de saúde com maior impacto econômico

para este setor.

Somado a isso, os sistemas intensivos, em geral, reduzem as oportunidades de

expressão de comportamentos naturais pelos animais de fazenda. O ambiente do

confinamento pode expor os indivíduos a estresse social e estressores físicos, pela reduzida

disponibilidade de espaço e diversos desafios ambientais aos quais os animais podem ser

expostos como formação de lama, poeira, estresse térmico quando mantidos ao ar livre e

sem disponibilidade de sombra, situações comuns em confinamentos de bovinos de corte no

Brasil (Macitelli Benez, 2015).

Assim, o manejo e melhoramento das pastagens podem ser exemplos de alternativas

sustentáveis para produção pecuária, priorizando também aspectos de bem-estar animal. De

acordo com Cottle et al. (2011) e Hook et al. (2010), a produção de metano entérico para

bovinos criados a pasto é fortemente influenciada pelo manejo das pastagens, considerando

a qualidade da forragem, digestibilidade da massa ingerida e nível de consumo dos animais.

No Brasil prevalecem sistemas extensivos, com grande parte das pastagens apresentando

algum grau de degradação, decorrente do manejo inadequado. Além de elevar as emissões

de GEE, esse tipo de produção traz impactos ambientais como erosão dos solos,

assoreamento de rios, perda da capacidade de fixação do nitrogênio no solo (Barcellos et al.,

2008) e problemas de bem-estar dos animais por não terem nutrição nem conforto térmico

adequados.

A mudança desse cenário depende da recuperação de pastagens degradadas, que

pode amenizar os impactos ambientais e ainda prestar os chamados ‘serviços ambientais’,

como o sequestro de carbono. Segundo dados da FAO (2006b), as pastagens apresentam

grande capacidade de sequestrar carbono, podendo atingir 1,7 bilhões de toneladas por ano,

desde que bem manejas. Já florestas tem uma capacidade próxima de 2 bilhões de t de C por

ano, pouco superior as pastagens. De acordo com os autores Zen et al. (2008), a pecuária

brasileira gera em torno de 1 Mg CO2 eq/ha, enquanto o sequestro pode chegar a 0,78Mg CO2

eq/ha. O manejo adequado das pastagens as torna mais produtivas, possibilitando maiores

taxas de ocupação, além de aumentarem o desempenho dos animais, evitando assim a

necessidade de ocupação de novas áreas (Machado et al., 2011).

CAPÍTULO 2

30

b) Sistemas agroecológicos de produção pecuária

Na América Latina os sistemas agroflorestais pecuários (SAFP) têm sido apontados

como uma alternativa sustentável de produção pecuária em pastagens. Com a aplicação dos

princípios agroecológicos, esses sistemas promovem a geração de bens e de serviços

ecossistêmicos, tais como o sequestro de carbono, a reabilitação de solos degradados,

preservação de corpos d’água, proteção do solo, e melhor capacidade para enfrentar as

consequências das mudanças climáticas (Murgueitio et al., 2015). Deve-se considerar

também a apresentação de maior complexidade e variedade de espécies vegetais, assim

como diversificação de produtos como frutos, óleos essenciais e madeira, gerando renda

extra para os produtores.

Os sistemas silvopastoris (SSP) são um tipo de SAFP, com arranjos florestais

compostos, simultaneamente, por plantas lenhosas perenes (árvores ou arbustos), plantas

herbáceas (leguminosas, pastos ou arvenses) e animais domésticos, especialmente bovinos,

equídeos, ovinos e caprinos (Murgueitio et al., 2016). Entre os diversos tipos de SSP,

podemos destacar os sistemas silvopastoris intensivos (SSPi), caracterizados pela interação

de altas densidades de arbustos forrageiros (de 5.000 a mais de 30.000 plantas por hectare)

como Leucena leucocephala ou Tithonia diversifolia, em associação com pastos melhorados e

espécies de árvores madeiráveis, frutíferas ou palmeiras (de 50 até 500 árvores por hectare)

(Tarazona et al., 2013). O SSPi tem sido adotado, principalmente, por produtores de bovinos

de corte em função dos benefícios econômicos, ambientais e sociais, além dos potenciais

efeitos positivos no bem-estar animal (Tarazona et al., 2017).

Os benefícios ambientais e agroecológicos dos SSPi incluem a redução da produção

de GEE em relação aos sistemas convencionais em ‘sol pleno’ (Naranjo et al., 2012; Cuartas

et al., 2014; Rivera et al., 2015), potencial de sequestro de carbono (Naranjo et al., 2012;

Chará et al., 2015), recuperação de solos degradados (Murgueitio et al., 2011), maior

reciclagem de nutrientes dentro do sistema, incremento no acúmulo de matéria orgânica

(Calle et al., 2014), conservação da biodiversidade (Calle e Lopez, 2008; Giraldo et al., 2011;

Rivera et al., 2013), maior retenção de água dentro do sistema (Rueda et al., 2011; Cuartas

et al., 2014), dentre outros benefícios que permitem converter pastagens degradadas em

áreas mais produtivas (Murgueitio et al., 2016; Tarazona et al., 2016).

Com base nas avaliações do bem-estar de animais criados em SSPi foi possível

demonstrar que estes sistemas oferecem aos bovinos múltiplos benefícios (Tarazona et al.,

2017), pela possibilidade dos animais suprirem suas necessidades de ‘boa alimentação’,

devido a um balanço adequado de nutrientes, como energia (oriunda da forragem) e proteína

CAPÍTULO 2

31

(arbustos leguminosos), suplemento mineral e água a vontade (Tarazona et al., 2013; 2017).

Existe também a evidência de que o sistema possibilita boas condições de conforto térmico

aos animais. Ceballos et al. (2011) sugerem que a presença dos arbustos no SSPi é capaz de

gerar um microclima adequado com umidade do ar mais elevada e temperaturas mais

amenas, devido a uma retenção de umidade por parte do estrato intermediário. Além disso,

neste sistema os animais também são beneficiados quanto às condições de saúde, devido a

uma menor carga parasitária proveniente da ruptura dos ciclos de vida dos parasitas, graças

a prática do manejo rotacionado dos pastos e aos metabólitos secundários presentes, por

exemplo, na leucena (Cuartas et al., 2014). A relação humano-animal também é beneficiada,

devido ao frequente contato entre ambos durante a mudança de piquete, possibilitando que

os bovinos associem os tratadores ao reforço positivo, que é a entrada em um novo piquete,

com maior quantidade de forragem e de alta qualidade (Tarazona et al., 2013; 2017).

Associado a isto Améndola et al. (2016) demonstrou que o comportamento social dos

bovinos mantidos em SSPi também é beneficiado, quando comparado com sistemas

extensivos de produção, pois estes apresentam hierarquia social mais estável e maior

frequência de comportamentos sociais positivos.

Adicionalmente ao bem-estar dos animais, o componente humano também é incluído

no conceito de sustentabilidade. Os SSPi têm potencial de promover melhorias na percepção

de trabalhadores em relação ao seu emprego (Broom et al., 2013). Em um estudo realizado

em Quindio, na Colômbia, produtores de bovinos relataram que os SSPi estavam associados

a questões importantes, tais como, maior iniciativa e curiosidade pelos trabalhadores (21%),

maior preocupação ambiental (29%), além das oportunidades de geração de empregos

rurais e renda (11%), e oportunidades para treinamento e capacitação profissional (11%)

(Calle et al., 2009). Além disso, quanto aos valores pessoais e familiares, foi encontrado que

a implementação dos SSPi trouxe satisfação pelo aprendizado e pela experiência em

participarem de uma pesquisa científica (46%), satisfação espiritual por terem contato com

a natureza (32%), interesse das crianças pelos SSPi (21%), dentre outros fatores que levam

os autores a supor que o sistema promove efeitos positivos a nível social.

Apresentados todos esses benefícios, é possível afirmar que estes tipos de sistemas

são uma boa estratégia para atingir as exigências da sustentabilidade, levando em

consideração todos os agentes do sistema: homens, animais e ambiente (Tarazona et al.,

2016). Uma característica importante dos SSP, é que eles cumprem vários dos critérios

importantes para viabilizar a transição de produção pecuária convencional para produção

pecuária orgânica.

CAPÍTULO 2

32

Segundo a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (IFOAM,

International Federation of Organic Agriculture Movements) a agricultura orgânica é baseada

no conjunto de processos que resultam em agroecossistemas sustentáveis, alimentos

seguros, boa nutrição, bem-estar animal e justiça social (IFOAM, 2012). O conselho da

Europa reconheceu, em 1999, a pecuária orgânica como uma estratégia de integração e

desenvolvimento sustentável na política agrícola comum (EC, 2004). A agricultura orgânica,

em particular, foi desenvolvida como parte de um movimento que incorporou produtores,

fabricantes e consumidores. O movimento orgânico é baseado em regras explícitas, bem

como em princípios e objetivos amplamente formulados para agricultura e manufatura, os

quais estão ligados a valores subjacentes e percepções da relação entre humanos e a

natureza (Alrøe e Kristensen, 2000). A IFOAM define a agricultura orgânica como “sistema

de produção que mantem a saúde dos solos, ecossistemas e pessoas. Baseia-se em processos

ecológicos, biodiversidade e ciclos adaptados às condições locais, ao invés do uso de insumos

com efeitos adversos. A agricultura orgânica combina tradição, inovação e ciência para

beneficiar o ambiente compartilhado e promove relações justas e uma boa qualidade de vida

para todos os envolvidos” (IFOAM, 2012).

Os sistemas orgânicos têm um apelo bastante fundamentado em termos de

sustentabilidade, pois é proibida a utilização de quaisquer tipos de produtos químicos

(pesticidas, herbicidas, fertilizantes, medicamentos, entre outros) evitando a poluição da

água, do solo e do ambiente por resíduos (Escribano, 2016). Adicionalmente, os sistemas

orgânicos têm benefícios ecossistêmicos, devido à diversificação de culturas nos campos e a

utilização de poli cultivos, aumentando a biodiversidade, tanto de micro quanto macro

organismos, assim como a possibilidade de se realizar controle natural de diversas pragas e

parasitas (Sukkel e Hommes, 2009).

Com relação ao bem-estar neste tipo de sistemas, as normas exigem que os animais

tenham as seguintes condições: a possibilidade de se movimentarem e de expressar padrões

normais de comportamento, suficiente alimento, água, ar fresco e luz do dia para satisfazer

as necessidades biológicas, assim como acesso a áreas de descanso, com abrigo e proteção

da radiação solar direta, chuva, barro e ventos possibilitando mitigar os agentes estressores

para os animais (IFOAM, 2012). Além disso, qualquer tipo de mutilação, como descorna,

castração, corte de cauda e debicagem é proibida (IFOAM, 2012), eliminando destes sistemas

a dor provocada por manejos aversivos.

Porém não podemos deixar de comentar que nos sistemas orgânicos podem também

existir alguns riscos em termos de bem-estar, que dependem de um bom manejo sanitário

CAPÍTULO 2

33

para serem minimizados. Segundo a norma orgânica não é permitido o uso de insumos

veterinários convencionais sem que haja um rígido controle e notificação, podendo implicar

em prejuízo para o bem-estar dos animais, especialmente quando estes ficam doentes

(Sutherland et al., 2013). Além do risco do agravamento de problemas de saúde, bem como

exposição a endo e ectoparasitas, há relatos de que nos sistemas onde há acesso à área

externa os animais estão mais sujeitos a ataques de predadores (Hegelund et al., 2006).

c) Melhoramento genético visando bem-estar animal e sustentabilidade

Por fim, iremos tratar de uma última estratégia com potencial para aumento da

eficiência e sustentabilidade da produção animal, que são as ferramentas de melhoramento

genético dos animais. Tradicionalmente, as técnicas de seleção com melhorias nas condições

ambientais, nutricionais e reprodutivas foram utilizadas para aumentar consideravelmente

os índices de produtividade das espécies de interesse econômico (Hume et al., 2011).

Estimativas apontam crescimento em produtividade superior a 85% entre os anos de 1960

e 2008 (Thornton, 2010). Apesar dos avanços produtivos já alcançados pela pecuária

mundial, os estudos apresentados pela FAO (FAO, 2009b) indicam que, para atender o

crescimento populacional e a demanda por produtos de origem animal, será necessário

aumentar os índices produtivos em 70% até o ano de 2050 (Hume et al., 2011). Uma das

estratégias apontadas para isso é o uso de animais adaptados aos sistemas de produção

atuais, exigindo que os programas de melhoramento genético passem a incluir

características relacionadas à saúde e ao bem-estar animal em seus objetivos de seleção

(Fraser et al., 2013). Frente a essa demanda, cunhou-se a expressão ‘programas de

melhoramento genético sustentáveis’ (Gamborg e Sandøe, 2005; Jensen e Andersson, 2005).

Os métodos tradicionais de melhoramento, focados exclusivamente na seleção de

características relacionadas a alta eficiência e produtividade, resultaram em efeitos

colaterais indesejáveis, causando susceptibilidade dos animais a doenças e prejuízos para

seu bem-estar. As espécies destinadas a atividade pecuária enfrentam maiores riscos de

problemas comportamentais, fisiológicos e imunológicos (Rauw et al., 1998). Por exemplo,

vacas leiteiras selecionadas para alta produtividade apresentam elevada demanda

nutricional, com maior risco de estresse metabólico (causando balanço energético negativo

e cetoses) associado a elevada ocorrência de laminite, claudicação, mastite clínica, redução

de fertilidade, com longos intervalos entre partos e maior número de serviços para

concepção, além de longevidade reduzida (Ingvartsen et al., 2003; Oltenacu e Broom, 2010).

Estes efeitos colaterais não comprometem apenas o bem-estar das vacas, mas também a

CAPÍTULO 2

34

sustentabilidade da atividade (Rauw et al., 1998). Em bovinos de corte a seleção direcionada

para elevado ganho de peso, rápido crescimento e alta performance está associada a maior

ocorrência de problemas de cascos e aprumos, os quais levam os animais à claudicação

(Broom et al., 1994).

Para as aves de postura podemos citar como efeitos indesejáveis a maior

susceptibilidade a osteoporose, elevando o risco de fraturas nas galinhas em função do alto

requerimento de cálcio para produção dos ovos (Lay et al., 1992) e a problemas

comportamentais, tais como auto- ou alo-bicagem e canibalismo (Jensen e Andersson, 2005;

Jensen et al., 2008). Por sua vez, os frangos selecionados para crescimento rápido

apresentam elevado apetite, causando problemas metabólicos relacionados às altas taxas

metabólicas, além de maior risco de ascite, elevada taxa de mortalidade por ataques

cardíacos e problemas reprodutivos (Rauw et al., 1998; Fraser et al., 2013). Por fim, em

suínos os efeitos colaterais relacionados à seleção para crescimento rápido, produção de

carne magra e aumento no tamanho das leitegadas resultaram em baixa viabilidade dos

leitões ao nascimento e a problemas comportamentais maternos, associados a alta

reatividade das porcas em relação à prole, com consequente elevação da taxa de mortalidade

pós-parto (Rauw et al., 1998; Canario et al., 2014). Além disso, os suínos apresentam

problemas semelhantes aos dos frangos de corte, com alta susceptibilidade ao estresse e a

ocorrência de ataques cardíacos, problemas nas pernas causados por osteocondrose e

problemas comportamentais, como o ‘canibalismo’ que pode ser caracterizado pela

mordedura de cauda entre os animais do mesmo grupo (Rauw et al., 1998; Breuer et al.,

2005).

Em suma, a seleção tradicional com foco apenas em características produtivas causou

diversos problemas de bem-estar, como consequência do desequilíbrio fisiológico causado

pela seleção genética objetivando alta produtividade, pela incapacidade dos animais em se

adaptarem aos desafios ambientais aos quais estão expostos ou ainda pela incompatibilidade

entre as necessidades individuais e o grau de satisfação psicológica dos mesmos (Rauw,

2016). Para uma pecuária mais ética e sustentável é evidente a necessidade de se associar as

melhorias ambientais reportadas anteriormente nesse capítulo com a melhoria genética dos

animais (Jensen e Andersson, 2005). Para isso, os programas deverão incorporar objetivos

de seleção mais abrangentes, que incluam características de bem-estar animal, tais como

resistência a doenças e parasitas, redução da agressividade intraespecífica e menor

reatividade ao homem (MacArthur et al., 2006; Jensen et al., 2008; Hume et al., 2011; Fraser

et al., 2013).

CAPÍTULO 2

35

Já existem exemplos de como é possível adotar estratégias de melhoramento genético

sustentável, associando alta produtividade com a promoção do bem-estar animal, utilizando

novas ferramentas de genômica funcional. Essas permitem a identificação de QTLs

(Quantitative Trait Loci) e genes que influenciam a expressão das características de

adaptabilidade, saúde e bem-estar animal. Por exemplo, o gene fucosiltranferase (FUT1) tem

um importante papel na capacidade de resistência a Escherichia coli F18, que causa morte

dos leitões após a desmama (Meijerink et al., 2000). Suínos homozigotos para o alelo

recessivo desse gene são totalmente resistentes a E. coli e, por isso, aplicar a seleção para

resistência aumentando a frequência desse alelo na população pode ser uma estratégia para

reduzir a morbidade e mortalidade dos leitões, além de melhorar o crescimento pós-

desmama. Além disso, a seleção para reduzir a frequência do gene halotano em suínos teve

como efeitos positivos a redução da susceptibilidade ao estresse e hipertermia maligna,

caracterizando a síndrome do estresse suíno (PSS, Porcine Stress Syndrome) (Culau et al.,

2002). Esta síndrome leva os animais à morte súbita em situação de estresse agudo, como

por exemplo, mistura de lotes e transporte pré-abate, ou a ocorrência de carnes com

qualidade inferior, conhecida como PSE (do inglês: pale, soft and exsudative).

Em bovinos leiteiros, os estudos têm mostrado que a seleção para melhorar a

capacidade imunológica, resistência a doenças, longevidade, facilidade de parto e fertilidade

tem gerado efeitos positivos, tais como redução da ocorrência de mastites, melhor resposta

do organismo a vacinas e qualidade superior do colostro (Lawrence et al., 2004; Mallard et

al., 2015). Em bovinos de corte, Valente et al. (2016) identificaram genes associados o

temperamento de animais da raça Nelore, mostrando que existe uma base genética para a

expressão da reatividade durante as rotinas de manejo, sendo possível utilizar a seleção para

diminuir a expressão de comportamentos indesejáveis. Além disso, o gene candidato CPE

(carboxipeptidase E) ressalta a relação entre temperamento mais calmo com melhor

crescimento e qualidade de carne e carcaça. Assim, a seleção para características de

temperamento em bovinos de leite e corte tem potencial de promover melhores condições

de bem-estar para os animais e segurança dos trabalhadores (Haskell et al., 2014). Por fim,

a seleção também pode ser utilizada com o objetivo de evitar procedimentos que causem dor

nos bovinos, como por exemplo, a seleção para maior ocorrência de animais mochos (sem

chifres), evitando-se assim a necessidade de descorna (Fraser et al., 2013).

Diversos estudos mostram que é possível promover o melhoramento genético de

bovinos, suínos, aves de corte e postura de maneira sustentável, considerando não apenas

as características que promovam alta eficiência e produtividade, mas adotando objetivos de

CAPÍTULO 2

36

seleção que sejam biologicamente responsáveis. Os resultados positivos irão promover uma

produção animal economicamente sustentável a curto e longo prazo, levando em

consideração aspectos socialmente e ambientalmente responsáveis.

Considerações Finais

É importante ressaltar que, independente do tipo de sistema de produção utilizado,

tanto aspectos positivos quanto negativos poderão afetar o nível de bem-estar dos animais

e a sustentabilidade. A adoção de um tipo de sistema de criação, que possibilite melhores

condições para expressão de comportamentos naturais, por si só não garante altos níveis de

bem-estar aos animais. A inspeção frequente dos animais aliada às boas práticas de manejo

e o cuidado diário da saúde animal são essenciais para garantir boas condições de bem-estar,

independente do tipo de sistema utilizado. Além disso, a adoção de estratégias efetivas para

o manejo do ambiente, associado à aplicação rigorosa das leis ambientais em nosso país são

fundamentais para minimizar os impactos da atividade pecuária.

Os desafios para todos os atores da produção de alimentos será lidar com uma

demanda crescente por produtos de origem animal e a necessidade da adoção de práticas

sustentáveis e eticamente justas. Sabe-se que nenhum tipo de sistema de produção será

capaz de eliminar todos os tipos de impactos ambientais dessa atividade, o que somente

ocorreria com a redução do consumo destes produtos.

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47

CAPÍTULO 3

POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA COM O BIOMETANO

OBTIDO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS

Adriano Henrique Ferrarez

Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Associação Brasileira de Biogás e Metano (ABBM),

Instituto Federal Fluminense, Campus Itaperuna, Rio de Janeiro, Brasil.

Contato: [email protected]

Geração de Hidroeletricidade na Microrregião de Juiz de Fora da Zona da Mata

A Zona da Mata de Minas Gerais possui uma quantidade expressiva de

empreendimentos de geração hidrelétrica na modalidade Pequena Central Hidrelétrica

(PCH). Segundo a Resolução nº 394/1998 da ANEEL, PCH é toda usina hidrelétrica de

pequeno porte cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW e que

possui reservatório com área inferior a 3 km². Os principais argumentos utilizados para

justificar a construção de PCHs são de que as mesmas provocam menor impacto ambiental

do que as grandes usinas hidrelétricas e termelétricas, promovem o progresso e são

portadoras de uma solidariedade universal. A geração hidrelétrica, mesmo por meio de

PCHs, pode alterar significativamente os aspectos físicos, econômicos e sócio espaciais, sem

necessariamente auferir benefícios para a população local. Os municípios recebem o ônus

direto da implantação desses empreendimentos, sem receber necessariamente o bônus ou

contrapartidas da operação (Paula et al., 2013).

A microrregião de Juiz de Fora está dividida em 33 municípios cujos territórios

somam uma área total de 8.923 km². O Quadro 1 mostra as PCHs implantadas na

microrregião de Juiz de Fora.

CAPÍTULO 3

48

Quadro 1 – Pequenas Centrais Hidrelétricas instaladas na microrregião de Juiz de Fora e suas

respectivas potências.

Microrregião Município Potência (kW)

Juiz de Fora

Santos Dumont 1.680

5.400

Santa Rita de Jacutinga 4.440

Juiz de Fora 8.400

4.000

Rio Preto 9.540

Matias Barbosa 4.080

Piau 18.012

Descoberto/Guarani 24.400

Lima Duarte 2.340

Total 82.292

Fonte: (ANEEL, 2014)

Muitos municípios em que estão instaladas as PCHs não possuem características

econômicas ou populacionais de grandes consumidores de energia. O setor da economia que

geralmente apresenta maior demanda de energia é o da indústria.

Para os empreendedores do ramo energético as PCHs são extremamente vantajosas,

pois estão dispensadas de remunerar estados e municípios pelo uso dos recursos hídricos,

somado ao fato de que para empreendimentos anteriores a 2003 não há nem mesmo o

pagamento das taxas pelo uso das redes de transmissão e distribuição do sistema de

eletrificação. Essa rentabilidade é uma das justificativas da proliferação das PCHs pelo país.

Energia e Desenvolvimento

A energia é fator fundamental para qualquer atividade econômica e no decorrer do

século XX observou-se a relação entre o aumento do consumo de energia e o

desenvolvimento econômico (Warr e Ayres, 2010). O atendimento das necessidades

humanas básicas está diretamente relacionado à oferta de energia. A falta de acesso a

serviços energéticos prejudica a saúde, limita as oportunidades para a educação e

compromete o desenvolvimento, impedindo que uma população saia da pobreza. O aumento

CAPÍTULO 3

49

do consumo de energia tem sido relacionado à melhoria do bem-estar das pessoas, tendo

reflexos sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (Ouedraogo, 2013).

Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),

o consumo per capita de energia elétrica no ano de 2011 foi de 8,23 MWh/habitante (IEA,

2014). No Brasil e em Minas Gerais, o consumo per capita de eletricidade no ano de 2011 foi

de 2,48 MWh/habitante e 2,67 MWh/habitante, respectivamente (EPE, 2014; CEMIG, 2012,

Qua. 2).

Quadro 2 – Consumo de energia per capita, ano 2012

Microrregião Consumo de Energia

(MWh/ano)

População

(hab)

Consumo de Energia Elétrica

per capita (MWh/hab)

Juiz de Fora 746.986 738.328 1,01

Fonte: (IBGE, 2014); (CEMIG, 2014); (ENERGISA, 2014).

Cultivos Agrícolas na Microrregião de Juiz de Fora

A agropecuária na região da Zona da Mata de Minas Gerais é tradicional e voltada

majoritariamente para o atendimento do mercado local/regional, com exceção dos

segmentos da cafeicultura, suinocultura e avicultura (Netto e Diniz, 2005). Dentre os cultivos

agrícolas se destacam, além do café, o feijão, o milho e a cana de açúcar (Qua. 3).

Quadro 3 – Área plantada e produção de café, feijão, milho e cana-de-açúcar, ano de 2012

Microrregião

Cultivo

Café Feijão Milho Cana

Área

Plantada

(ha)

Produção

(t)

Área

Plantada

(ha)

Produção

(t)

Área

Plantada

(ha)

Produção

(t)

Área

Plantada

(ha)

Produção

(t)

Juiz de Fora 255 373 3.348 2.196 4.928 16.648 1.488 94.990

Fonte: (IBGE, 2014a).

Suinocultura e Avicultura na Microrregião de Juiz de Fora

A Zona da Mata se destaca como o segundo maior polo de suinocultura do estado de

Minas Gerais com 21,18% do rebanho efetivo, atrás somente da mesorregião do Triângulo

Mineiro e Alto Paranaíba (ABIPECS, 2012). A microrregião de Juiz de Fora possui o terceiro

CAPÍTULO 3

50

maior rebanho efetivo da Zona da Mata com 82.305 cabeças, de acordo com a Pesquisa

Pecuária Municipal do ano de 2012 (IBGE, 2014b). Em relação à avicultura a Zona da Mata é

o quarto maior polo de avicultura de corte de Minas Gerais com 11% do rebanho efetivo do

estado, atrás somente das mesorregiões Central, Triângulo Mineiro e Centro Oeste. A

microrregião de Juiz de Fora possui o quarto maior rebanho efetivo da Zona da Mata com

538.650 cabeças, de acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal do ano de 2012 (IBGE,

2014b).

Impactos Ambientais da Suinocultura e Avicultura

A produção de dejetos oriundos das atividades suinícola e avícola consiste em um

grande problema ambiental que causa danos à saúde humana e animal (ABOUELENIEN, et

al., 2014; RIAÑO e GARCÍA-GONZÁLEZ, 2015). O manejo inadequado desses dejetos provoca

a poluição causando a contaminação dos rios e lençóis de água superficiais que abastecem

tanto o meio rural como o urbano e acarretando desequilíbrios ecológicos, disseminação de

patógenos e contaminação das águas potáveis com amônia, nitratos e outros elementos

tóxicos. Outro tipo de poluição associada a essas atividades é o odor desagradável dos

dejetos. Isto se deve a evaporação dos compostos voláteis, que são prejudiciais ao homem e

animais. Além dos prejuízos à saúde do homem e animais alguns desses gases contribuem

para o aquecimento global (DIESEL, et al. 2002; COOLS et al., 2001; OLIVEIRA, et al., 2003).

O fato da produção de suínos e frangos se concentrar em polos regionais como a Zona da

Mata de Minas Gerais e a falta de recursos dos pequenos produtores para introduzirem

soluções tecnológicas avançadas de preservação do meio ambiente agravam esses impactos

ambientais.

Uma alternativa para mitigar os danos ambientais, aumentar a competitividade das

cadeias produtivas e a oferta de energia a nível regional é o aproveitamento energético e a

utilização, como biofertilizante, dos dejetos animais e resíduos de cultivos vegetais. A

codigestão anaeróbia é o processo que permite a conversão de resíduos em biometano,

sendo utilizada em várias partes do mundo na gestão de resíduos agropecuários.

Condomínios de Agroenergia

Os primeiros projetos de condomínios de agroenergia surgiram na Europa no início

de 1980. A central de geração de energia deve estar localizada de forma a beneficiar o maior

número de produtores rurais (RAVEN e GREGERSEN, 2007). Os condomínios de agroenergia

CAPÍTULO 3

51

se definem como a área territorial onde se encontram as cadeias agroenergéticas, dispondo

de tecnologia e organização para produzir e utilizar a energia oriunda da atividade

agropecuária local e regional. Dentre os benefícios dos condomínios de agroenergia se

destacam: (i) segurança alimentar; (ii) desenvolvimento rural; (iii) autosuficiência

energética local; (iv) gestão agropecuária sustentável; (v) conservação da biodiversidade e

mitigação das mudanças climáticas; e (vi) melhoria do abastecimento e segurança energética

(Mangoyana & Smith, 2011; Best, 2003).

Os objetivos deste trabalho foram: (i) estimar os resíduos agropecuários disponíveis

na microrregião de Juiz de Fora; (ii) estimar o potencial de produção de biometano por meio

da codigestão anaeróbia dos resíduos agropecuários disponíveis na microrregião; (iii)

estimar o potencial de geração de energia com o biometano produzido com os resíduos

agropecuários na microrregião; e (iv) avaliar os impactos da energia produzida com os

resíduos agropecuários na matriz energética da microrregião.

Material e Métodos

Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos da literatura científica, relatórios

técnicos e dos órgãos oficiais de estatística brasileiros.

Foi utilizada a ferramenta computacional Sistema de Avaliação do Uso da Digestão

Anaeróbia para o Dimensionamento Energético (SAUDADE) para realizar os seguintes

cálculos: (i) resíduos agropecuários produzidos na microrregião; (ii) biometano produzido

a partir dos resíduos agropecuários; (iii) energia gerada a partir do biometano; (iv) potência

elétrica gerada a partir do biometano; (v) energia elétrica produzida a partir do biometano.

Resultados e Discussão

Produção de Dejetos de Suínos e Frango de Corte na Microrregião de Juiz de Fora

A carga poluidora, em termos de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), dos dejetos

produzidos anualmente pelo rebanho efetivo de suínos da microrregião corresponde

aproximadamente a carga poluidora produzida por uma cidade de 264.000 habitantes. O

total de resíduos produzidos anualmente pelo rebanho efetivo de frango na região

corresponde aos resíduos produzidos por 168 humanos (FLEMING e FORD, 2001; Qua. 4).

CAPÍTULO 3

52

Quadro 4 – Produção de dejetos suínos e de frangos na microrregião de Juiz de Fora

Microrregião Dejetos suínos (t ano-1) Dejetos frango (t ano-1)

Juiz de Fora 215.020,78 1.098,85

Os resíduos vegetais disponíveis respondem por 48,48% do potencial da produção de

biometano na região (bagaço e palha de cana-de-açúcar totalizam 34,98%). Os dejetos de

suínos e de frangos respondem por 39,62% e 11,90%, respectivamente do potencial

energético (Qua. 5).

Quadro 5 – Potencial de produção de biometano e de energia na microrregião de Juiz de Fora

Tipo de Resíduo Produção de Metano

(m3 ano-1)

Potencial de Energia

(TJ ano-1)

Suíno 4.810.380 173

Frango 1.444.568 52

Café 7.618 0,27

Feijão 1.374.273 49

Milho 257.384 9

Bagaço de Cana 1.837.606 66

Palha de Cana 2.408.832 87

Total 12.140.661 436

Potência Elétrica Disponível a Partir do Biometano

A Quadro 6 e Figura 1 a seguir mostram a estimativa da potência elétrica gerada com

o biometano obtido dos resíduos agropecuários nos municípios da microrregião de Juiz de

Fora.

A potência elétrica que pode ser gerada com o biometano dos resíduos agropecuários

da microrregião de Juiz de Fora corresponde a 6,16% da potência elétrica instalada nas

PCH’s da microrregião (Qua. 7). A geração de energia elétrica com o biometano produzido a

partir dos resíduos agropecuários da microrregião de Juiz de Fora é capaz de atender a

4,10% do consumo da microrregião.

CAPÍTULO 3

53

Quadro 6 – Estimativa da potência elétrica gerada a partir dos resíduos agropecuários na

microrregião de Juiz de Fora

Tipo de Resíduo Potência Elétrica (kW)

Suíno 2.037

Frango 585

Café 2

Feijão 557

Milho 88

Bagaço de Cana 778

Palha de Cana 1.020

Total 5.067

Figura 1 – Estimativa da potência elétrica gerada com biometano. Fonte: Elaborada pelo

autor.

CAPÍTULO 3

54

Quadro 7 – Potencial de produção de energia elétrica a partir do biometano de resíduos

agropecuários da microrregião de Juiz de Fora

Microrregião Produção de Energia

Elétrica (MWh ano-1)

% Consumo de energia

elétrica

Juiz de Fora 30.634 4,10

Condomínio de Agroenergia em Juiz de Fora

Foi dimensionado um condomínio de agroenergia para o município de Juiz de Fora

que possui uma população de aproximadamente 560.000 habitantes distribuídos em uma

área de 1.436,85 km2.

Os Quadros 8 e 9 apresentam o número de granjas de frangos e de suínos, suas

respectivas quantidades de animais e produção de dejetos e os resíduos vegetais disponíveis

no município de Juiz de Fora. A Figura 2 apresenta as granjas de frango e de suínos no

Condomínio de Agroenergia dimensionado para o município de Juiz de Fora.

Quadro 8 – Granjas e suas respectivas quantidades de animais e produção de dejetos

Tipo de

Granja

Número de Granjas Quantidade de

animais

Dejetos (t ano-1)

Frangos 3 323.000 4.026

Suínos 7 38.583 100.693

Fonte: (IMA, 2013a).

Quadro 9 – Resíduos de cultivos vegetais disponíveis no município de Juiz de Fora

Município café

(t ano-1)

feijão

(t ano-1)

milho

(t ano-1)

bagaço de

cana (t ano-1)

palha de

cana (t ano-

1)

Juiz de Fora 4,9 187,2 161,9 408,0 595,0

A produção de biometano a partir dos resíduos agropecuários disponíveis no

Condomínio de Agroenergia de Juiz de Fora chega a 3.588.598 m3 ano-1 e a potência elétrica

disponível é da ordem de 1.504 kW.

CAPÍTULO 3

55

Figura 2 – Condomínio de Agroenergia de Juiz de Fora. Fonte: Elaborada pelo autor.

Conclusão

Os resíduos agropecuários disponíveis na microrregião de Juiz de Fora foram

estimados em aproximadamente 3,3 x 105 t ano-1, a gestão adequada dos mesmos é

primordial. A inserção da eletricidade gerada pode evitar a construção de novas PCHs

evitando assim impactos ambientais e sociais. O aumento da oferta de eletricidade pode

representar a melhoria na qualidade de vida das pessoas contribuindo para a elevação do

índice de desenvolvimento humano regional. A geração, transmissão e distribuição de

eletricidade podem representar uma redução na evasão de divisas econômicas, uma vez que

a energia pode ser produzida e consumida in loco não sendo exportada a outras regiões. O

aproveitamento energético dos resíduos agropecuários por meio da codigestão anaeróbia

demandará profissionais capacitados criando postos de trabalho. São necessárias políticas

públicas claras e eficazes de incentivos para que o potencial do biometano se transforme em

capacidade.

CAPÍTULO 3

56

Referências Bibliográficas

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CAPÍTULO 3

57

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manure treatment plant – comparison with conventional storage in anaerobic tanks,

Journal of Cleaner Production, 103: 542-548.

58

CAPÍTULO 4

ANÁLISE FINANCEIRA DO SISTEMA SILVIPASTORIL NA

PECUÁRIA DE CORTE

Leonardo de Oliveira Resende1*

Luís Fernando Guedes Pinto2

Sergio de Zen2

Laury Cullen Junior3

Luiz Felipe Guanaes Rego4

Elida Maia Ramires5

Marcelo Dias Muller6

1 Administrador de Empresas, Doutorando do programa de Geografia da Puc-Rio, Brasil

2 Agrônomo, Doutor pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil.

3 Engenheiro Florestal, Doutora pela University of Kent, U. KENT, Inglaterra.

4 Geógrafo, Doutor pela Universidade de Albert Ludwings de Freiburg, Alemanha.

5 Administradora de Empresas, Mestre pela Universidade de Salamanca, USAL, Espanha.

6 Engenheiro Florestal, Doutor pela Universidade Federal de Viçosa, Brasil.

Contato: [email protected]

Apesar de ser um dos maiores produtores de carne do mundo, o Brasil tem como

líderes de lucratividade os grãos, como a soja e o milho, a cana, as florestas plantadas, entre

outros, sendo que a pecuária de corte ocupa um espaço subutilizado do ponto de vista de seu

potencial (MAPA, 2010 / CEPEA & CNA, 2016).

Dessa forma, a pecuária de corte vem sendo pressionada economicamente e se

deslocando para estados mais ao norte do país, deixando as terras do cerrado brasileiro,

CAPÍTULO 4

59

mais estratégicas do ponto de vista comercial, para atividades do agronegócio mais

lucrativas (Observatório do Clima, 2015).

Ao analisar a situação de forma ampla, levando-se em conta a produtividade média

brasileira, temos, por um lado, sérios problemas relacionados à baixa taxa de lotação de

unidade animal por hectare, fato esse atribuído ao atual estágio de degradação dos solos e

da pastagem. Por outro lado, a baixa qualidade genética dos animais também contribui para

os tímidos indicadores econômicos (Documentos 258, 2006). Para que essas áreas voltem a

produzir com rentabilidade aceitável, é necessário fazer investimento em recuperação da

fertilidade do solo e na genética de animais de alta qualidade e precocidade. Nesse contexto,

ocorre a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) com ganhos

múltiplos (Hudson & Garcia, 2009).

A integração de duas atividades ocupando o mesmo espaço e ao mesmo tempo

aumentam as possibilidades comerciais, a produtividade por hectare e, consequentemente,

as margens de lucro. Através da melhora dos indicadores financeiros, o Sistema Silvipastoril

permite que a atividade da pecuária tenha um ganho significativo de competitividade e faça

frente aos setores mais eficientes nos dias de hoje. Nas últimas décadas, várias alternativas

de produção mais rentáveis que a pecuária se consolidaram no Brasil, podendo ser citadas,

entre elas, a produção de grãos (soja e milho) e a de cana-de-açúcar (Brasil, 2014). Esse fato

pressiona a Pecuária de Corte que, para se sustentar, demanda um crescente por escalas

maiores de produção, ou seja, grande quantidade de terras contínuas.

Para uma adequada comparação do resultado econômico entre produtos, projetos ou

setores produtivos, faz-se necessária a utilização de um conjunto de indicadores de

desempenho, a fim de que eles se complementem e, assim, apresentem um resultado mais

sólido para uma boa tomada de decisão. Segundo Damodaram (2012), nas decisões de

investimento, sempre há várias alternativas, que vão desde a tradicional aplicação na

caderneta de poupança, fundos de investimento, mercado de ações até atividades

produtivas. A pessoa somente investirá em uma atividade produtiva se a rentabilidade do

projeto for superior às outras oportunidades oferecidas pelo mercado (ou superior ao custo

de oportunidade). O custo de oportunidade é a remuneração atingida no mercado com o

mínimo de risco (Gitman, 1997). No caso do Brasil, de maneira geral, os estudos utilizam a

taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), sendo que, de acordo com esse

conceito, o negócio só começa a ser atrativo quando sua rentabilidade supera esse valor.

CAPÍTULO 4

60

A necessidade de evoluir os modelos produtivos da pecuária de corte extensiva

brasileira em busca de uma melhor produtividade e rentabilidade se faz necessária para

obtenção de indicadores financeiros mais compatíveis com a estrutura e o papel central

desse segmento para o agronegócio brasileiro, dado o tamanho do rebanho e sua

importância econômica. Nesse contexto, esta pesquisa teve como objetivo avaliar a real

capacidade que o Sistema Silvipastoril possui para a melhora do desempenho econômico,

em relação à pecuária de corte extensiva convencional tropical, no contexto da área de

Estudo de Caso da Fazenda Triqueda.

Material e Métodos

A Fazenda Triqueda (Fig. 1), está localizada na cidade de Coronel Pacheco, Zona da

Mata do Estado de Minas Gerais, e se dedica à pecuária de corte e de madeira por meio do

Sistema Silvipastoril, ou seja, a integração da pecuária de corte com o plantio de florestas de

eucalipto para serraria.

Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo desta pesquisa, a Fazenda Triqueda.

Caracterização da área do Sistema Silvipastoril

O Sistema Silvipastoril é caracterizado pela presença homogênea de árvores, ficando

o gado e a pastagem submetidos a uma condição de sombreamento parcial com

temperaturas médias menores. Na área de estudo, o Sistema Silvipastoril foi concebido pela

introdução do componente arbóreo de uma forma intencional e homogênea em uma área de

pastagem formada pela forrageira Brachiaria brizantha. Nessa situação, o sistema apresenta

duas possibilidades de exploração econômica, o gado e a madeira.

A espécie de árvore utilizada foi o Eucalyptus urograndis, de origem clonal, com um

espaçamento inicial de 2 x 3 x 15 metros, com 555 mudas por hectare, plantadas em janeiro

de 2007. No ano de 2010, foi realizado um desbaste de 50% do stand inicial de árvores,

CAPÍTULO 4

61

remanescendo, aproximadamente, 250 árvores por hectare; essas serão mantidas até seu

corte final, previsto para a idade de 12 anos.

Nesta pesquisa, foram levantados os custos e as receitas oriundos da implementação

do Sistema Silvipastoril com eucalipto até o final de 12 anos. Ressalta-se que o eucalipto foi

introduzido na pastagem de Brachiaria brizantha já existente e que as operações necessárias

à implantação do sistema foram: despesas com preparo da área para o plantio, aquisição de

insumos, combate à formiga, capinas, adubação e formação de pasto. Na estimativa dos

custos, foram levados em consideração itens como: mão de obra, insumos, horas trabalhadas

de máquinas, transporte, custo da terra, entre outros. Na venda da madeira, foi considerado

que os custos de colheita e transporte ocorrem por conta do comprador.

A introdução do gado no sistema ocorreu 6 meses após o plantio, quando as árvores

atingiram de 3 a 5 metros de altura. A fazenda realiza a atividade exclusiva de cria de

bezerros da raça Brangus, utilizando uma taxa de lotação de 1,5 UA por ha (uma e meia

unidade animal por hectare). Nos custos operacionais referentes à Pecuária de Corte, foram

considerados a mão de obra, o sal mineral, os medicamentos e a manutenção das

benfeitorias.

Caracterização da área do Sistema Convencional ou área testemunha

O Sistema Convencional ocorre, em sua maioria, entre os modelos produtivos

identificados na pecuária extensiva brasileira e se caracteriza pelo fato da pastagem ser o

único elemento de plantio na área explorada comercialmente e, sendo o pastoreio de animais

a única possibilidade de exploração econômica. Nesse sistema, que é caracterizado pela

ausência de árvores, tanto o gado quanto a pastagem são submetidos a uma condição de sol

pleno.

Indicadores de desempenho econômico

Para realizar a análise comparativa do desempenho econômico entre os dois sistemas

produtivos, fez-se necessário tratar as informações de forma homogênea para ambos. Dessa

forma, a metodologia do Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Escola Superior de

Agricultura Luis de Queiroz /Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) – (CEPEA) foi adotada

para avaliar o desempenho econômico dessa pesquisa. O CEPEA realiza pesquisas dos

indicadores econômicos para a pecuária brasileira em diversas regiões, sendo que os

CAPÍTULO 4

62

números obtidos pela Fazenda Modal representam a média de todas as fazendas pesquisadas

em determinada microrregião, segundo um grupo focal de produtores.

A Fazenda Modal de Cria da região de Uberlândia, com pecuária extensiva tradicional,

caracterizada pela ausência de árvores, foi escolhida para a referência comparativa desta

pesquisa por ser a mais próxima e representativa em relação à Fazenda Triqueda.

Os dados primários obtidos na área de Estudo de Caso da Fazenda Triqueda foram

tratados com os parâmetros praticados pelo CEPEA e lançados na Tabela 1.

A Tabela 1 apresenta todos os fluxos de receitas e despesas das atividades. Para a

análise comparativa, foram selecionados três indicadores de desempenho econômico que o

CEPEA utiliza: a Margem Líquida, a Taxa de Remuneração sobre o Capital Investido e o

indicador de Retorno por Real Investido.

Vale observar a importância da utilização de dois ou mais indicadores de desempenho

econômico de forma conjunta, para que eles se complementem e, assim, apresentem um

resultado analítico mais claro e eficiente. Foram utilizados como dados primários a base de

dados históricos da Fazenda Triqueda, tais como o investimento inicial, a produtividade por

hectare, os custos e as receitas; já como dados secundários, a pesquisa utilizou as

informações da FAZENDA MODAL de Cria do CEPEA para a região de Uberlândia.

O cálculo da Margem Líquida foi realizado a partir da seguinte fórmula: Margem

Líquida = RT – COT. Onde RT é a receita total bruta e COT é o custo operacional total (custos

operacionais efetivos e custos de depreciação, conforme tabela 2)

O cálculo da Taxa de Remuneração do Capital Investido foi realizado a partir da

seguinte fórmula: Taxa de Remuneração = ML / Cap. Inv. Onde ML é margem líquida e Cap.

inv. é capital investido ou estoque de capital (custo de remuneração sobre o capital,

conforme Tabela 2)

O cálculo do Retorno por Real Investido foi realizado a partir da seguinte fórmula:

Retorno por Real investido = RT / COT. Onde RT é receita total bruta e COT é o custo

operacional total (custos operacionais efetivos e custos de depreciações, conforme Tabela 2)

Resultados e Discussão

Apresentam-se, a seguir, os resultados da pesquisa, sendo a primeira informação

referente à pecuária de corte extensiva convencional e a segunda, ao Sistema Silvipastoril,

ambas com dimensões de 250 hectares de área total, conforme dados presentes na Tabela 2:

CAPÍTULO 4

63

Margem Líquida (R$ 18.217,47 x R$ 238.726,59); Taxa de Remuneração sobre o Capital

Investido (2,55% x 25,43%); indicador de Retorno por Real Investido (R$ 1,15 x R$ 2,87).

A Margem Líquida, ao observar a Tabela 2, excluída a receita com a venda de madeira,

nota-se que ambos os sistemas de produção possuem números próximos de receita com os

animais, custo operacional e depreciações, considerando que as duas unidades de produção

possuem uma área de 250 hectares, conforme dados presentes na Tabela 3.

Dessa forma, os resultados obtidos reforçam o entendimento de que a introdução do

componente florestal no sistema de produção proporcionou uma melhor distribuição do

custo fixo que antes era destinado somente à produção de carne e passou a ter mais um

produto para diluí-lo e, assim, o Sistema Silvipastoril teve seu resultado financeiro

alavancado.

Nota-se que a taxa de remuneração sobre o capital investido obtida pela pecuária de

corte extensiva tradicional de 2,55% a.a. foi bem inferior ao custo de oportunidade do

investimento. Nesse caso, seria melhor que esse recurso financeiro fosse alocado em outra

oportunidade oferecida pelo mercado, como, por exemplo, a taxa SELIC, pois isso iria

proporcionar menor risco sobre o investimento e na maior lucratividade.

Parte significativa dos 25,43% a.a. de taxa de remuneração do Sistema Silvipastoril se

deve ao direcionamento das árvores para o mercado de serraria e à precocidade que essas

atingem o DAP (diâmetro a altura do peito) superior a 40 cm. Isso faz com que cada árvore

atinja o valor de venda de R$ 200, 00, que representa uma receita bruta total de R$ 40.000,00

por hectare em 12 anos, ou R$ 3.333,33/ha/ano.

Observa-se que o indicador de retorno por real investido, na última linha da Tabela 2,

que, para cada R$ 1,00 investido na pecuária de corte extensiva tradicional, obteve-se um

retorno de R$ 1,15, e, no caso do Sistema Silvipastoril, o retorno obtido foi de R$ 2,87.

Dessa forma, o resultado comparativo para o indicador de Retorno por Real Investido

reforça o resultado dos dois itens anteriores, nos quais a integração da pecuária com a

floresta renovável maximizou todos os indicadores econômicos do negócio. Além do melhor

desempenho econômico, no Sistema Silvipastoril, o fluxo de caixa anual é mantido de forma

semelhante ao da pecuária de corte extensiva tradicional (exceto pelos seis meses iniciais do

plantio das árvores, quando o gado é retirado do pasto), sendo a entrada da receita da

madeira para serraria um fluxo de caixa extra previsto para o 12º (décimo segundo) ano.

CAPÍTULO 4

64

Conclusão

A pesquisa demonstrou que o Sistema Silvipastoril possui a real capacidade de

melhorar o desempenho econômico da pecuária de corte extensiva convencional tropical, no

contexto da área de Estudo de Caso da Fazenda Triqueda, sendo esse sistema produtivo

validado como uma alternativa para o agronegócio brasileiro.

Dessa forma, ao migrar do modelo tradicional de produção do gado de corte, de ciclo

de curto prazo, para o Sistema Silvipastoril, de longo prazo, obtém-se uma melhor

remuneração sobre o capital investido em todos os tamanhos de propriedade. Ao tornar a

rentabilidade da pecuária mais atrativa para os investidores, é possível obter um cenário

mais justo de competição com as outras opções de culturas agrícolas disponíveis.

Além dos benefícios financeiros, no Sistema Silvipastoril, ocorrem interações que

proporcionam um vasto número de serviços ambientais para os produtores e a sociedade.

Esse tipo de sistema multifuncional permite “o manejo integrado dos recursos naturais,

evitando sua degradação, além de recuperar sua capacidade produtiva” (EMBRAPA, 2017).

O fato da Área de Estudo de Caso, a Fazenda Triqueda, localizar-se na paisagem

geográfica denominada “Mares de Morros” reforça a importância do Sistema Silvipastoril

como uma opção viável do ponto de vista econômico mesmo para as terras de topografia

acidentada e, portanto, não mecanizáveis. Vale ressaltar que uma significativa porção de

terras dos quatro estados da região Sudeste do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais

e Espírito Santo) também pertencem aos “Mares de Morros” e se caracterizam pelo

predomínio de uma cadeia de montanhas com elevada declividade e inclinação. Em meados

do século XX, após a mecanização da agricultura e abertura das terras planas no Cerrado

brasileiro, essas terras perderam sua eficiência produtiva e encontram-se em uma longa fase

de degradação ambiental, social e econômica.

No que diz respeito as suas externalidades, o modelo produtivo proposto pode

contribuir para uma distribuição mais racional do espaço geográfico e uso do solo no

agronegócio brasileiro, amenizando a pressão por aberturas de novas áreas produtivas e,

por conseguinte, proporcionar uma relação mais harmônica entre o homem e a natureza,

com a valorização da biodiversidade e dos serviços ambientais.

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CAPÍTULO 4

65

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66

Tabela 1 – Análise comparativa dos indicadores econômicos. Receita Total - RT Pecuária extensiva convencional Pecuária no sistema silvipastoril

Receita venda de animais R$ 138.644,12 R$ 123.100,00

Receita madeira (silvicultura) R$ R$ 243.750,00

Receita total R$138.644,12 R$366.850,00

Custos Operacionais Efetivos- COE

Administrativos, Impostos fixos e energia R$ 5.160,00 R$ 12.000,00

Comercialização (Gastos, Impostos e taxas) R$ 108,84 R$ 116,45

Manutenção - Benfeitorias R$ 291,66 R$ 551,02

Manutenção - Equipamentos R$ 1.066,67 R$ 1.066,67

Manutenção - Utilitários R$ 2.500,00 R$ 2.500,00

Manutenção - Máquinas (Pastagem) R$ 300,00 R$ 300,00

Manutenção - Implementos (Pastagem) R$ 90,00 R$ 90,00

Combustível - Utilitários R$ 6.048,00 R$ 6.048,00

Combustível - Máquinas (Pastagem) R$ 615,60 R$ 615,60

Insumos (Silvicultura) R$ R$ 2.000,00

Mão de obra (Silvicultura) R$ R$ 8.000,00

Mão de obra contratada para manejo do rebanho R$ 27.527,26 R$ 27.527,26

Assistência técnica R$ R$

Medicamento - Antibióticos R$ 333,60 R$ 333,60

Medicamento - Controle Parasitário R$ 839,05 R$ 815,57

Medicamento - Vacinas R$ 1.400,73 R$ 1.359,28

Suplementação Mineral R$ 13.746,85 R$ 9.410,00

Aquisição de animais R$ 2.916,00 R$ 2.916,0

Custos Operacionais Efetivos R$62.944,25 R$75.649,45

67

Custo de Depreciação

Benfeitorias R$ 11.666,40 R$ 18.368,1

Máquinas R$ 1.600,00 R$ 1.600,00

Implementos R$ 4.173,33 R$ 3.426,67

Equipamentos R$ 1.178,33 R$ 1.178,33

Utilitários R$ 3.500,00 R$ 3.500,00

Animais de Serviço R$ 783,33 R$ 783,33

Pró-labore R$ 24.000,00 R$ 13.000,00

Máquinas (Pastagem) R$ 750,00 R$ 625,00

Implementos (Pastagem) R$ 192,00 R$ 160,00

Combustível - Máquinas (Pastagem) R$ 1.539,00 R$ 1.282,50

Insumos (Pastagem) R$ 4.860,00 R$ 5.850,00

Mão de obra (Pastagem) R$ 3.240,00 R$ 2.700,00

Custo de Depreciação Total R$ 57.482,40 R$ 52.474,0

CUSTO OPERACIONAL TOTAL - COT R$120.426,65 R$128.123,41

68

CONTINUAÇÃO TABELA 1...

ESTOQUE DE CAPITAL ou CAPITAL INVESTIDO R$714.106,96 R$939.082,86

Custo de Remuneração Sobre o Capital

Remuneração de Capital - Benfeitorias R$ 17.549,19 R$ 16.181,8

Remuneração de Capital - Máquinas R$ 1.992,00 R$ 1.992,0

Remuneração de Capital - Implementos R$ 2.490,00 R$ 1.792,8

Remuneração de Capital - Equipamentos R$ 871,29 R$ 871,3

Remuneração de Capital - Utilitários R$ 2.697,50 R$ 2.697,5

Remuneração de Capital - Animais R$ 19.676,03 R$ 34.816,9

Remuneração de Capital - Silvicultura R$ R$ 12.450,0

Remuneração de Capital - Pastagem R$ 878,22 R$ 587,5

* Custo de Oportunidade da terra / arrendamento de 5% valor da terra R$ 217.484,10 R$ 130.750,0

Custo sobre o ativo circulante R$ 2.612,19 R$ 3.135,6

Custo de Remuneração Sobre o Capital R$266.250,53 R$205.275,48

CUSTO TOTAL - CT R$386.677,18 R$333.398,89

Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPEA.

69

Tabela 2 – Análise Econômica da Atividade Pecuária.

Análise Econômica da Atividade Pecuária pecuária extensiva

convencional pecuária no sistema silvipastoril

Margem Líquida (ML) = (Receita - COT) Anual R$18.217,47 R$238.726,59

Taxa de Remuneração do Capital (ML/Estoque de Capital) 2,55% 25,43%

Retorno por real investido (Receita / COT) R$ 1,15 R$ 2,87

Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPEA.

Tabela 3 – Análise comparativa do custo e usos das terras.

Custo de Oportunidade da Terra pecuária extensiva

convencional pecuária no sistema silvipastoril

% do custo de oportunidade da terra 5% 5%

Custo da terra em Uberlândia-MG R$17.364,00

Custo da terra em Coronel Pacheco-MG R$10.460,00

Distribuição e Aproveitamento da terra

Área total em ha 250,50 250,00

Área util em ha 233,00 150,00

% de área util 93,01% 60,00%

Área de reserva florestal e APP em ha 15 97

% de reserva florestal e APP em ha 5,99% 38,80%

Área de benfeitorias 2,5 3

Fonte: Resende (2016), com base na metodologia das Fazendas Modais do CEPE

70

CAPÍTULO 5

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA RESIDÊNCIAS RURAIS: FOSSA

DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO E CÍRCULO DE BANANEIRAS

Gilberto Malafaia de Oliveira1*

Jane Terezinha da Costa Pereira Leal2

1 Coordenador Técnico Regional da Unidade Regional da EMATER/MG na área de meio

ambiente.

2 Coordenadora Técnica Estadual da EMATER/MG.

Contato: [email protected]

O objetivo do saneamento básico é garantir a saúde, a segurança e o bem-estar da

população, a partir de medidas que evitem a presença de resíduos, detritos, patógenos,

contaminantes ou outras substâncias tóxicas.

A Lei no. 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (Brasil, 2007), que estabelece diretrizes

nacionais para o saneamento básico, conceitua o saneamento como o conjunto de serviços,

infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento

sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

No caso do esgotamento sanitário focado no meio rural, os serviços prestados a esta

parcela da população apresentam um déficit muito elevado de cobertura. Apenas 5,45% dos

domicílios estão ligados à rede de coleta de esgotos, 4,47% utilizam a fossa séptica ligada a

rede coletora e 28,78% fossa séptica não ligada a rede coletora como solução para o

tratamento dos dejetos. Os demais domicílios (61,27%) depositam os dejetos em fossas

rudimentares, lançam em cursos d´água ou diretamente no solo a céu aberto (PNAD/2015).

Este cenário contribui direta e indiretamente para o surgimento de doenças de transmissão

CAPÍTULO 5

71

hídrica, parasitoses intestinais e diarreias, as quais são responsáveis pela elevação da taxa

de mortalidade infantil.

Esse cenário reflete os potenciais riscos à saúde da população, em especial às crianças,

bem como demonstra a exposição dos mananciais de abastecimento de água aà fontes de

contaminação pontuais e difusas e a provável deterioração do meio ambientais.

Ciente de que o saneamento ambiental nas propriedades rurais é primordial para que

seja realizada a manutenção da saúde da população e da qualidade dos recursos hídricos,

passamos a mostrar uma alternativa para o tratamento do efluente gerado nos vasos

sanitários de tais propriedades: a Fossa de Evapotranspiração.

Fossa de Evapotranspiração

A Fossa de Evapotranspiração é uma tecnologia também conhecida por Tanque de

Evapotranspiração. Daí seu nome popular: Fossa TEvap. É um sistema de tratamento e

reaproveitamento dos esgotos proveniente do vaso sanitário.

É um sistema fechado, onde não há saída de água por meio da infiltração no solo.

Nele ocorre a decomposição da matéria orgânica, mineralização e absorção dos

nutrientes e da água, pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes são absorvidos pelas raízes das

plantas e a água é eliminada por evapotranspiração (plantas e solo). Então não há

escoamento ou infiltração. Dessa forma, não há como poluir o solo e as águas subterrâneas

ou o risco de algum microrganismo patógeno sair do sistema.

Um pré-requisito para o uso da Fossa de Evapotranspiração ou TEvap é a separação

da água servida na casa. Apenas o esgoto dos sanitários deve ir para a fossa TEvap. As demais,

(águas cinzas), provenientes de pias, tanques e chuveiros, devem ir para outro sistema de

tratamento, que pode ser o Círculo de Bananeiras, desde que passe, antes, por uma caixa de

gordura, detalhada ao longo deste material.

A TEvap é um sistema de tratamento criado e amplamente utilizado por

permacultores. Trata-se de uma solução funcionalmente simples, pois suas estruturas são de

fácil construção e manutenção, além de apresentarem baixos custos de implantação.

Trata-se de uma trincheira com as paredes e fundo nivelados, impermeabilizados,

onde não há saída de efluente via infiltração no solo. O preenchimento do tanque aberto no

solo é realizado com materiais de diferentes granulometrias, divididos em camadas. A

primeira camada é composta de entulhos (tijolos, telhas, pedras, etc.), a segunda de brita, a

terceira de areia e a última de solo (Fig. 2).

CAPÍTULO 5

72

Figura 2 – Camadas que compõem a construção do sistema de tratamento TEvap.

Essas camadas são dispostas ao redor da “câmara de fermentação”, que nada mais é

do que um túnel formado por pneus usados, colocados longitudinalmente no meio da

trincheira. Usar pneus de aro 13 ou 14, mas sempre pneus com o mesmo aro.

No interior do tanque, o efluente é recebido na câmara de fermentação. Nela ocorrem

a decomposição anaeróbia da matéria orgânica, a mineralização e a absorção dos nutrientes

e da água pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes deixam o sistema, incorporando-se à

biomassa das plantas.

A água se move por meio de capilaridade, de baixo para cima e, com isso, depois de

separada dos resíduos, percorre pelas camadas de brita, areia e solo, chegando até as raízes

das plantas. A evapotranspiração é realizada pelas plantas e possibilita o tratamento final da

água, que só sairá do sistema em forma de vapor, sem contaminantes. Além disso, as plantas,

principalmente as de folhas largas, como caetés, copo-de-leite, etc., consomem os nutrientes

em seu processo de crescimento, permitindo que o TEvap não encha.

Como a evapotranspiração depende em grande parte da incidência do sol, o Tanque

deve ser orientado, quando possível, no sentido nascente/poente e sem obstáculos, como

árvores altas próximas, tanto para não fazer sombra, como para permitir ventilação.

O dimensionamento do TEvap possui duas medidas que tem que ser observadas: 2

metros de largura e 1 metro de profundidade. O seu comprimento é variável de acordo com

o número de moradores na residência (1 metro por usuário – mas é sempre bom, como

margem de segurança, colocar 1 metro a mais, por exemplo, contando com possíveis

visitantes). Observar também que tanques muito compridos perdem em eficiência do

tratamento, portanto não são indicados tanques maiores que 7,5 metros de comprimento

(Fig. 3A).

CAPÍTULO 5

73

O tanque pode ser construído de diversas maneiras (tijolos, blocos, concreto, etc), no

entanto, visando a economia, o método mais indicado de construção das paredes e do fundo

é o ferrocimento. O ferro-cimento é uma técnica de construção com grade de ferro ou tela de

pinteiro (diâmetro 15 mm) colocada nas paredes e no fundo e coberta com argamassa de

areia e cimento.

Faz-se o chapiscamento da parte interna do tanque e, após a secagem, prende-se a

tela nas paredes e no fundo, usando ganchos formados por vergalhão 3/16” (Fig. 3B e C).

Posteriormente faz-se o reboco (2cm) sobre a tela, com uma argamassa formada por 2 partes

de areia lavada e 1 parte de cimento. Esse reboco deve ficar o mais liso possível para evitar

ao máximo a infiltração de água no solo. Caso o solo não seja muito firme, deve-se concretar

o fundo do tanque (Fig. 3D, E e F).

Após a construção do tanque, com a secagem completa da argamassa e assegurada a

sua impermeabilidade, inicia-se a construção da câmara de fermentação, que será feita com

pneus usados e entulho de obra.

A câmara é composta de um duto de pneus (Fig. 3D), bem apertados entre si, sem

nenhum tipo de rejunte, e de entulho de obras (cacos de tijolos, telhas e pedras), colocados

até a altura dos pneus (até 45 cm) (Fig. 3E). Na falta de entulho, pode ser usada a pedra

marroada. Isto cria um ambiente com espaço livre para a água percolar e beneficia a

proliferação de bactérias, que transformarão os sólidos em moléculas de nutrientes.

É interessante cobrir a câmara com sacos ráfia (Fig. 3F), com o intuito de impedir a

entrada de areia na câmara de fermentação. O tubo de entrada (100 mm de diâmetro) de

esgoto deve ser posicionado para dentro da câmara anaeróbia, penetrando a camada de

pneus.

Após essa etapa termina-se de encher o tanque com os seguintes materiais e na ordem

a seguir: uma camada de brita (10cm), uma camada de areia lavada (10cm) e uma camada

de solo (35cm). Recomenda-se utilizar um solo rico em matéria orgânica na última camada.

Como o tanque não tem tampa, a superfície do solo deve ficar abaulada (mais alta no

centro, acima do nível da borda), com o objetivo de evitar um possível alagamento causado

pelas águas da chuva. E para evitar o escoamento superficial da água da chuva para dentro

do sistema, deve-se construir uma proteção, mais elevada do que o nível do solo, ao redor do

tanque (blocos/troncos de árvores, etc).

E para concluir o TEvap terão que ser plantadas (Fig. 3J), no “canteiro” formado,

algumas espécies de folhas largas (maior área para a evapotranspiração), devendo ser

CAPÍTULO 5

74

ornamentais, como o lírio-do-brejo, copo-de-leite, helicônia (bananeira ornamental), maria-

sem-vergonha, etc.

Figura 3 – Etapas para construção do sistema de tratamento TEvap.

Círculo de Bananeiras

O Círculo de Bananeiras é outra tecnologia social que complementa a fossa TEvap no

tratamento do esgoto da residência. É uma alternativa muito prática, fácil de ser

implementada e muito barata para o tratamento das águas cinzas (provenientes das pias,

chuveiros, tanques, etc.), impedindo que essas águas sejam lançadas diretamente no solo ou

nos cursos d’água, com prejuízos ao meio ambiente.

CAPÍTULO 5

75

Para sua construção, deve-se abrir um buraco circular de 1,4 m de diâmetro e 60 cm

de profundidade, que será preenchida com troncos de madeira pequenos, galhos médios e

finos e palhas (capins, folhas, etc.), devendo formar um monte acima da borda da vala, de

modo que a superfície fique abaulada. As águas cinzas serão direcionadas para dentro da

vala, por meio de um cano de PVC com 100 mm de diâmetro.

Ao redor do buraco, a uma distância de aproximadamente 60 cm, plantam-se de 4 a 6

mudas de bananeiras. As bananeiras evaporam grandes quantidades de água e se adaptam

bem a solos úmidos e ricos em matéria orgânica.

As águas cinzas, antes de serem lançadas no buraco, devem passar por uma caixa de

gordura. Podem-se utilizar caixas de gordura pré-fabricadas ou de PVC, que são facilmente

encontradas no mercado. O objetivo da instalação da caixa de gordura é reter as gorduras,

graxas e óleos contidos nas águas cinzas, formando camadas que devem ser removidas

periodicamente, evitando que estes componentes escoem livremente pela rede e a obstruam.

Além disso, a retenção desse material impedirá que o fundo do buraco seja

impermeabilizado.

O preenchimento do buraco deverá ser feito com troncos de madeira pequenos,

galhos médios e finos, folhas e ou capim seco. Com o passar do tempo, o nível desses

materiais dentro do buraco diminuirá. Deve-se então adicionar mais material ao buraco, de

modo que ele fique sempre cheio e sua superfície abaulada.

Deve-se ter o cuidado, principalmente onde houver crianças e animais, com o

cercamento da área para evitar algum acidente ao pisar nesse material.

Considerações Finais

Essas duas alternativas para o tratamento do esgoto doméstico no meio rural são

classificadas como Tecnologia Social por serem muito práticas, fácil de serem construídas e

muito baratas e, por isso mesmo, acessível à população rural. Como as políticas públicas

direcionadas ao esgotamento sanitário no meio rural são muito deficitárias, essas duas

práticas simples contribuem para a melhoria do meio ambiente e consequentemente da

saúde da população rural.

CAPÍTULO 5

76

Referências Bibliográficas

Leal, J. T. C. P. Círculo de Bananeiras. EMATER-MG. 1. Disponível em: https://goo.gl/c7s7GS.

Acesso em: 07 ago. 2017.

Leal, J. T. C. P. Fossa Tanque de Evapotranspiração: TEVAP. https://goo.gl/Kvkema. Acesso

em: 07 ago. 2017.

Manual de Saneamento: Orientações Técnicas. 3. ed. rev. Brasília, DF: Fundação Nacional de

Saúde 2007. 409 p. Disponível em: https://goo.gl/i17u3L.

Ministério da Saúde - Fundação Nacional da Saúde FUNASA. Disponível em:

https://goo.gl/TY2yeQ

Moises, M.; Kligerman, D. C.; Cohen, S. C.; Monteiro, S. C. F. 2010. A Política Federal de

Saneamento Básico e as Iniciativas de participação, mobilização, controle social,

educação em saúde e ambiental nos programas governamentais de saneamento.

Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2581-2591.

Pereira, A. H. Fossa Ecológica ou Tanque de Evapotranspiração. Emater-MG. Folder.

77

CAPÍTULO 6

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA SERRA DA MANTIQUEIRA:

AMEAÇAS, LACUNAS, AVANÇOS E PERSPECTIVAS DO

CONHECIMENTO DA FLORA

Diego Rafael Gonzaga1*

Luiz Menini Neto2

1 Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de

Janeiro.

2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de

Botânica.

Contato: [email protected]

A Serra da Mantiqueira (SM) vem sendo percorrida por diversos naturalistas em

busca de espécimes de plantas e animais desde que os portos do Brasil foram abertos às

nações amigas em 1808, no século XIX. Cientistas brasileiros e europeus, que se dedicaram

à coletas de plantas, enriqueceram coleções de herbários com espécimes de diferentes

localidades desse complexo montanhoso e descreveram, muitas vezes, a vegetação de

trechos da Serra da Mantiqueira.

Essa região é de grande importância, e reconhecimento pela comunidade científica

desde o século XIX, destacando-se dentre os 52 cientistas viajantes que percorreram a Região

Sudeste do Brasil, e estiveram na Serra da Mantiqueira: Saint-Hilaire, Barbosa Rodrigues,

Langsdorff, Warming, Riedel, Sellow, dentre outros (Urban 1890; Mendes Junior et al. 1991).

A SM é uma cadeia montanhosa que se estende pelos estados do Espírito Santo, Minas

Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e, devido à sua extensão, são reconhecidas duas

CAPÍTULO 6

78

subdivisões: Mantiqueira Meridional ao sul e Setentrional ao norte (Machado-Filho et al.

1983), sendo sua maior porção situada em Minas Gerais (Fig. 1).

Figura 1 – Mapa de localização da Serra da Mantiqueira, Brasil.

Há divergência sobre sua exata delimitação geográfica, sendo sua abrangência ora

mais reduzida, ora mais ampliada (Mello & Mello 1909; Várzea 1942; Machado-Filho et al.

1983). No entanto, há certo consenso de que se encontra inserida na Floresta Atlântica, com

áreas fronteiriças de Cerrado, apresentando diferentes formações vegetacionais, sendo

composta por florestas altimontanas, florestas de araucária, campos de altitude, campos

rupestres e inselbergues (Meireles et al. 2014) (Fig. 2). A Floresta Atlântica, que se estende

na costa brasileira desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, é um domínio

fitogeográfico prioritário para conservação em nível global, por apresentar áreas muito

degradadas com elevada diversidade biológica e endemismo, sendo considerada juntamente

com o Cerrado hotspot mundiais de biodiversidade (Myers et al. 2000; Galindo-Leal &

Câmara 2005).

O termo Mantiqueira parece ter se originado na toponímia geográfica tupi-guarani

com a provável significação de “local de precipitações abundantes” ou “local em que se

originam as águas” (Mendes Junior et al. 1991). Nela encontram-se sete dos dez mais altos

picos do Brasil (IBGE 2010). Os topos mais elevados encontram-se nas bordas do Planalto

CAPÍTULO 6

79

de Campos do Jordão e das serras do Itatiaia e Caparaó (1.700-2.890 m s.m.). Seu ponto

culminante é o Pico da Bandeira (2.892 m s.m.) localizado no Parque Nacional do Caparaó.

Lacunas e avanços

Muitos fragmentos ao longo da Serra da Mantiqueira têm sido objeto de estudo em

tratamentos taxonômicos de diferentes famílias, ou estudos florísticos em trechos

delimitados desse complexo montanhoso (e.g., Brade 1956; Leoni & Tinte 2004; Meireles et

al. 2008; Alves & Kolbek 2009; Forzza et al. 2013; Resende et al. 2013; Salimena et al. 2013;

Alves & Menini Neto 2014; Pompeu et al. 2014; Barbosa et al. 2015; Furtado & Menini Neto

2016; Gonzaga 2016, dentre outros) (Fig. 3), fornecendo subsídios para ampliação do

conhecimento da flora do Brasil (BFG 2015). No entanto, poucos estudos em nível de família

e ou gênero foram realizados até o momento contemplando toda a área da Serra da

Mantiqueira. Pelissari & Romaniuc-Neto (2013) apresentaram o estudo taxonômico do

gênero Ficus L. (Moraceae) e Gonzaga (2016) apresentou dados sobre taxonomia e

biogeografia de Cactaceae. A maioria dos dados de distribuição encontram-se fragmentados

em diversos estudos, sendo necessária a compilação de tais informações para um melhor

panorama do conhecimento da flora e dos padrões de distribuição geográfica ao longo desta

cadeia montanhosa.

Versieux & Wendt (2007) apontam dados de riqueza para as Bromeliaceae de Minas

Gerais, sendo as áreas mais ricas a Cadeia do Espinhaço e a porção sudeste do estado, na

Serra da Mantiqueira. Essa mesma riqueza é apresentada nos estudos de Gonzaga et al. (em

prep.) para as Cactaceae na região da Serra do Brigadeiro e Caparaó, comprovando a

importância florística dessa região. Por apresentar grande extensão, muitos fragmentos não

foram amostrados e carecem de coletas para a documentação da flora, principalmente

aqueles localizados no sul de Minas Gerais.

Conservação e ameaças

A Serra da Mantiqueira é uma área de importância biológica especial, prioritária para

conservação e proteção de mananciais e de espécies endêmicas (Drummond et al. 2005),

existindo diversas Unidades de Conservação (parques, APA’s e RPPN’s), dentre as quais as

mais amplas e importantes são dois parques nacionais (Itatiaia e Caparaó) e seis parques

estaduais (Ibitipoca, Nova Baden, Serra do Brigadeiro, Serra do Papagaio, Pedra Selada e de

Campos do Jordão). Destes, apenas o Parque Estadual do Ibitipoca possui sua flora

CAPÍTULO 6

80

inventariada (Forzza et al. 2013). Além disso, como ação de conservação de parte da Serra

da Mantiqueira que não está inserida nos limites das UCs, foi criado o Corredor Ecológico da

Mantiqueira por iniciativa da ONG Valor Natural, englobando 42 municípios de Minas Gerais,

na Serra da Mantiqueira Meridional. Esse Corredor abriga atualmente cinco UCs, três das

quais de Proteção Integral (Parques Estaduais do Ibitipoca e do Papagaio, o Parque Nacional

do Itatiaia) e as APA’s da Mantiqueira e Fernão Dias e cinco RPPN’s (Costa & Herrmann

2006).

Ao longo do histórico de ocupação a SM vem sofrendo danos, de modo que grande

parte da vegetação original foi substituída por culturas agrícolas e florestais ou atividades

agropecuárias (Mendes Junior et al. 1991; Pelissari & Romaniuc-Neto 2013). Incêndios,

desmatamentos, cultivo em encostas excessivamente íngremes e pastagens extensivas de

baixa produtividade são exemplos de atividades que moldaram a Serra da Mantiqueira nos

últimos dois séculos (Mendes Junior et al. 1991). A perda de áreas florestais por

desmatamento aliado à caça tem levado ao desaparecimento de diversas espécies da fauna e

outras encontram-se em diferentes níveis de ameaça (Mendes Junior et al. 1991). Essa perda

acentuada da biodiversidade justifica a urgência de ampliação do conhecimento da flora das

áreas naturais remanescentes, em diferentes partes da SM, com o propósito de se fornecer

subsídios para ações prioritárias para a conservação de inúmeras espécies raras, endêmicas

e/ou ameaçadas de extinção.

Hueck (1972) já enfatizava a existência de extensos campos abandonados de pecuária

ao longo da rodovia que liga os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, atualmente Via Dutra,

onde houve a destruição de grandes extensões de florestas, sendo grande parte destes

trechos pertencentes ao complexo montanhoso da Mantiqueira. Destacou ainda o excesso de

queimadas que empobreceu o solo proporcionando a redução dessas florestas em função da

diminuição da camada de húmus. As principais causas da drástica redução, particularmente

na região da Serra do Mar e Mantiqueira, foram apontadas por Joly et al. (1991), como sendo

o extrativismo, exploração do pau-brasil e com expansão para outras espécies madeireiras,

além da extração do palmito e xaxim. Desde a expansão de culturas de cana-de-açúcar, café,

cacau e banana, nos séculos XIX e XX, até hoje com pastagens e especulação imobiliária essas

áreas sofrem grave pressão antrópica (Joly et al. 1991), embora ainda restem remanescentes

bem conservados tanto na Serra da Mantiqueira quanto na Serra do Mar, na Região Sudeste

do Brasil.

CAPÍTULO 6

81

Em várias unidades de Conservação é possível observar impactos dentro das UCs e ao

redor. No Parque Nacional do Caparaó as monoculturas de café e eucalipto estão sendo

responsáveis por modelar fortemente a vegetação no entorno da Serra do Caparaó, dentro

desta UC muitos resíduos são deixados pelos visitantes, fato este que impacta fortemente o

ecossistema local. Uma das trilhas que atrai grande número de visitantes no Caparaó, o Pico

da Bandeira na Mantiqueira Setentrional, é possível encontrar resíduos orgânicos, vidros,

plásticos, papéis, e até mesmo calçados deixados ao longo da trilha, além de pichações e

riscos em afloramentos, placas de sinalização e árvores. Fato similar pode ser encontrado

por todo o Parque Estadual do Ibitipoca, uma das UCs mais visitadas da Serra da Mantiqueira.

Na Serra Fina, na Mantiqueira Meridional, o impacto se dá principalmente pela corrida de

aventura que é realizado anualmente nessa localidade, atraindo elevado número de

esportistas o que impacta fortemente essas trilhas, dessa vegetação ainda pouco

documentada para a ciência. As ações antrópicas que causam grande impacto se repetem em

diferentes locais, podendo ser encontradas carvoarias nos arredores do Parque Estadual

Serra do Brigadeiro. Isso sem mencionar o avanço antrópico em áreas que deveriam ser

mantidas de forma intocável em relação a exploração (Fig. 4).

A vasta diversidade de paisagens é favorável às práticas de turismo ecológico, rural e

esportivo, que representa uma atividade com grande potencial econômico para a região,

porém impacta fortemente a biodiversidade, como relatado por Drummond et al. (2005) no

estado de Minas Gerais.

Perspectivas

A orientação e aconselhamento aos produtores rurais, estimulando o reflorestamento

e recomposição florestal, bem como o uso sustentável dos recursos naturais são ações

integrativas para a manutenção dos fragmentos naturais da Serra da Mantiqueira, evitando

avanço da ocupação intensa e desordenada.

Embora a Serra da Mantiqueira apresente grande extensão, uma porcentagem

relativamente pequena se encontra acima de 1000m e parte desta área já foi degradada por

motivos variados, como plantações de pinus e eucalipto, agricultura e pecuária extensiva.

Deste modo, é necessária a escolha de áreas que ainda apresentem vegetação relativamente

conservada para as quais os esforços devem ser direcionados. Assim, áreas fora de unidades

de conservação apresentam potencial para a realização dos estudos, baseando-se em

observação pessoal, comunicação de outros pesquisadores e indicação da literatura,

CAPÍTULO 6

82

sobretudo Drummond et al. (2005), obra responsável por compilar os dados sobre a

biodiversidade em Minas Gerais e indicar áreas prioritárias para a realização de estudos.

Algumas destas áreas podem ser destacadas aqui e merecem atenção dos pesquisadores,

bem como dos órgãos responsáveis pela proteção ambiental, como: a Região de Bom Jardim

de Minas, Serra do Cruz (em Olaria), a Serra do Relógio (em Descoberto), a região de

Barbacena, todas em Minas Gerais, e na Região dos municípios de Resende/Itatiaia/Mauá no

Rio de Janeiro que apresentam grande riqueza e endemismos tanto florístico quanto

faunístico.

Figura 2 – Ambientes ao longo da Serra da Mantiqueira. a. Parque Nacional do Caparaó

(MG/ES); b. Parque Estadual do Ibitipoca (MG); c. Parque Estadual Serra do Papagaio (MG);

d. Serra do Cruz (MG); e. Serra Negra (MG). (Fotos: a-d - L. Menini Neto; e – Pedro Viana).

CAPÍTULO 6

83

Figura 3 – Representantes da flora da Serra da Mantiqueira. a. Langsdorffia hypogaea Mart.

(Balanophoraceae); b. Arthrocereus melanurus Diers et al. subsp. melanurus (Cactaceae); c.

Siphocampylus westinianus (Thunb.) Pohl (Campanulaceae); d. Agarista oleifolia (Cham.)

G.Don (Ericaceae); e. Epidendrum campos-portoi Barberena (Orchidaceae); f. Passiflora

amethystina J.C. Mikan (Passifloraceae). (Fotos: D.R. Gonzaga)

CAPÍTULO 6

84

Figura 4 – Exemplos de ações antrópicas que afetam as Unidades de Conservação na Serra

da Mantiqueira. a. Carvoarias no entorno do Parque Estadual Serra do Brigadeiro; b. Cultivo

de café no entorno do Caparaó capixaba; c. Espécime arbórea fissurada na Serra do Ibitipoca;

d. lixo deixado por visitantes; e. placas de localização riscadas. (Fotos: a,b - D.R. Gonzaga;

c,d,e – S.G. Furtado)

CAPÍTULO 6

85

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87

CAPÍTULO 7

ÁREAS VERDES URBANAS E A SUA PARTICIPAÇÃO NA

QUALIDADE DE VIDA DE HUMANOS E ANIMAIS EM

GRANDES CIDADES

Tatiane Tagliatti Maciel*

Bruno Corrêa Barbosa

Fábio Prezoto

Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica – LABEC, Universidade Federal de

Juiz de Fora. Campus Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-

900, Brasil.

Contato: [email protected]

Áreas verdes urbanas

As áreas verdes urbanas, conhecidas também como ecossistemas emergentes (Novel

Ecosystem), compreendem de nichos construídos, modificados ou manipulados pelos

humanos, ou seja, são locais que foram alterados em estrutura e função pelo homem e nunca

mais conseguirão retornar às suas características originais. No entanto, constituem um

sistema autossustentável com complexas interações inter e intraespecíficas.

Praças, parques, terrenos baldios, hortas e até mesmo cemitérios podem ser

considerados como áreas verdes urbanas. Historicamente, as áreas verdes urbanas foram

implantadas a partir da prática da jardinagem no Egito e cultos religiosos na China, mas foi

na Grécia que elas apresentaram, pela primeira vez, a função pública de passeio e lazer que

conhecemos hoje (Loboda & Angelis, 2005). Já os parques, propriamente ditos, surgiram

primeiro nos países da Europa e por volta do século XVI chegaram à América como uma

CAPÍTULO 7

88

peculiar forma de urbanização e consolidação dos espaços urbanos, estreitando assim as

relações entre o homem e a natureza (Segawa, 1996).

No Brasil, o interesse por áreas verdes surgiu no final do século XVIII, possivelmente

influenciado pela Europa e com objetivos voltados para a conservação e para as

potencialidades econômicas da natureza envoltas na organização de jardins e passeios

públicos aos interesses da coroa portuguesa (Toledo & Santos, 2012), contudo, somente no

final do século XX houve interesse político pela introdução e formação de parques públicos

(Macedo & Sakata 2002). Hoje, a importância dessas áreas já é tão reconhecida que a

presença de espaços livres públicos é obrigatória por lei.

Impactos das áreas verdes no bem-estar da população

Com o crescente aumento da urbanização e expansão das cidades, o verde das

florestas deu lugar ao cinza das construções, e, em meio ao caos dos grandes centros urbanos,

a necessidade da presença de áreas verdes é cada vez maior.

Assim surgiu o paisagismo que, com o objetivo de aliar conservação e contemplação,

tem sido uma ferramenta para aprimorar e projetar as áreas verdes no sentido de deixá-las

mais atrativas para a população e ainda assim exercer suas funções ecológicas.

Um dos recursos mais comuns nessas áreas é a instalação de gramados. Os gramados

conseguem criar uma conexão visual entre todas as formas de vegetação realçando a beleza

natural da paisagem, transmitindo a quem observa a sensação de paz e conforto. Além disso,

desempenham papel de reguladores da temperatura local formando um microclima mais

ameno. O solo coberto com gramado permite ainda uma maior infiltração de água, o que, em

centros urbanos onde o solo é extremamente impermeabilizado por concreto e asfalto, pode

evitar deslizamentos de barrancos, enchentes, entre outros acidentes.

As cercas vivas, por sua vez, amplamente utilizadas em parques públicos, servem

como barreira física para o trânsito de pessoas, animais e veículo; reduz a velocidade dos

ventos e age como um filtro de ar, limitando o transporte de poeira e outras partículas em

suspensão. Além disso, atua também como barreira para a poluição sonora, a qual é

considerada a terceira maior poluição ambiental pela Organização Mundial de Saúde.

Por fim, as árvores ornamentais e frutíferas dão o toque final à paisagem. Com a oferta

de flores e frutos, essas árvores não só encantam nossos olhos com sua beleza natural, como

ainda atraem diversos animais que nos presenteiam com seu canto e sua graça.

CAPÍTULO 7

89

As áreas verdes devem, ainda, ter condições efetivas de implantação de equipamentos

de lazer e recreação. Parques bem equipados e em bom estado de conservação são bem mais

convidativos, o que estimula as pessoas a frequentarem mais esses locais contribuindo,

assim, para a redução da prevalência do sedentarismo auxiliando na promoção da saúde e

bem-estar da população. Barton e Pretty (2010) afirmaram que, apenas cinco minutos de

caminhada em áreas verdes, já é suficiente para melhorar a saúde mental, com benefícios

para o humor e autoestima. Passeios em áreas verdes públicas podem ainda estreitar as

relações familiares e promover interações sociais.

Áreas verdes e a biodiversidade

Nos últimos anos, as áreas verdes urbanas têm recebido ainda grande atenção para a

conservação de animais, já que foram agora reconhecidas como potenciais "Refúgios" da

biodiversidade que busca em fragmentos urbanos recursos para a sua sobrevivência

(Frankie et al., 2009; Ernstson et al., 2010).

Essas áreas podem ser até mesmo mais ricas em espécies do que áreas naturais,

devido a sua complexidade de interações. Em 2015, Maciel e Barbosa tiveram, como um dos

objetivos de seu trabalho, realizar uma análise comparativa detalhada dos estudos

realizados em uma área verde urbana do município de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, com

trabalhos em Unidades de Conservação.

Foram comparados resultados de levantamentos com seis grupos animais, Morcegos,

Primatas, Vespas Sociais, Lepidópteros e Pequenos Mamíferos realizados no Jardim Botânico

da Universidade Federal de Juiz de Fora (JB-UFJF) com trabalhos de Parques Estaduais de

Minas Gerais, para avaliar a importância dos Novel ecosystems para a conservação e

manutenção da biodiversidade.

A riqueza encontrada na fauna de morcegos (Chiroptera) pelo pesquisador Pedro

Henrique Nobre (comunicação pessoal) no JB-UFJF foi de 16 espécies de três famílias, com

destaque para três espécies que foram registradas pela primeira vez no município de Juiz de

Fora. Seus resultados foram comparados aos de Nobre et al. (2013), realizado no Parque

Estadual do Ibitipoca, situado em Lima Duarte, Minas Gerais, que possui uma paisagem

botânica individualizada, composta pela combinação da ocorrência de espécies da Floresta

Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual e o Campo Rupestre. Nesta área foram

encontradas 17 espécies de duas famílias. Comparando-se as riquezas, nota-se que apesar

CAPÍTULO 7

90

da quantidade de espécies ser praticamente a mesma, o JB-UFJF abriga uma família a mais,

apresentando uma maior diversidade.

Ainda no Parque Estadual do Ibitipoca, Nogueira et al. (2010) estudando primatas,

encontraram quatro espécies: Alouatta guariba clamitans Cabrera, 1940, Callicebus

nigrifrons (Spix, 1823), Callithrix penicillata (É. Geoffroy, 1812), Sapajus nigritus (Goldfuss,

1809) resultado similar ao levantamento no JB-UFJF por Vale (2013) que registrou três

espécies: A. g. clamitans, C. penicillatae e C. nigrifrons.

A similaridade das espécies de primatas encontradas nos dois locais evidencia o

potencial ecológico do Jardim Botânico, já que primatas necessitam de alta diversidade de

plantas e pequenos animais, como aves e anuros, para se estabelecerem.

Diferente desses trabalhos, o levantamento de vespas sociais (marimbondos)

realizado no Parque Estadual do Ibitipoca por Clemente (2009), registrou 21 espécies de oito

gêneros, já Barbosa (2015) estudando a diversidade das vespas sociais do JB-UFJF encontrou

38 espécies alocadas em 10 gêneros. Importante destacar ainda que, dos 96 estudos de

diversidade de vespas sociais no Brasil realizados até o final de 2016, somente 11 superam

os resultados encontrados por Barbosa (2015). Para o estado de Minas Gerais, o qual possui

o maior número de estudos de diversidade (n= 27), somente o estudo de Souza et al. (2008)

(sp= 42) que também foi realizado em uma área protegida, supera os resultados que Barbosa

(2015) registrou.

Quanto ao grupo Lepidoptera (borboletas e mariposas), um levantamento de

borboletas frugívoras foi realizado por Gozzi et al. (2012) na Unidade de Conservação do

Refúgio da Vida Silvestre do Rio Pandeiros no município de Januária, Minas Gerais que é

constituído por três áreas adjacentes com diferentes formações vegetais: cerrado, mata ciliar

e mata seca, onde foram encontradas 39 espécies. Já no JB-UFJF, Maciel (2014) registrou 28

espécies de borboletas frugívoras. Essa diferença se deve ao fato desses insetos

apresentarem grande sensibilidade a impactos ambientais com sua riqueza podendo ser de

até 7,6 vezes maior em ambientes não perturbados (Dirzo et al., 2014).

A riqueza de pequenos mamíferos não voadores foi estudada por Melo et al. (2009) no

Parque Estadual do Itacolomi, município de Ouro Preto, inserido em uma região de transição

entre o Cerrado e a Mata Atlântica, onde registraram 14 espécies das famílias Cricetidae e

Didelphidae. No levantamento no JB-UFJF realizado por Delgado (2014), foram registradas

10 espécies pertencentes às mesmas famílias, o que mostra que mesmo com menor

complexidade o JB-UFJF abriga uma satisfatória gama de pequenos mamíferos.

CAPÍTULO 7

91

Áreas verdes urbanas e suas particularidades

As áreas verdes urbanas, por sofrerem diferentes pressões antrópicas, acabam se

desenvolvendo de formas distintas e podem se diferenciar entre si quanto à diversidade e

composição de espécies. Um cemitério, por exemplo, devido à sua estrutura, não apresenta

a mesma complexidade que um parque, apesar dos dois desempenharem funções parecidas.

Outro fator que interfere na estrutura dessas áreas é a origem do fragmento, ou seja, se

regeneraram a partir de solo exposto ou de alguma cobertura vegetal.

Em um estudo realizado na Zona da Mata Mineira, Fonseca (2016), com o objetivo de

caracterizar e comparar a composição de fragmentos florestais, o autor discute que áreas

com menos de 500m de distância entre si já apresentam diferenças em sua estrutura,

sobretudo, em relação à riqueza, diversidade e composição de espécies vegetais.

Perspectivas

Reconhecida a importância das áreas verdes urbanas no bem-estar geral das cidades,

esse conceito está sendo agora incorporado em outras áreas, como é o caso da Arquitetura

sustentável, também denominada de arquitetura verde, arquitetura ecológica ou

ecoarquitetura.

Com foco na sustentabilidade, os profissionais dessa área visam desenvolver

construções civis que, além de valorizar as percepções do homem quanto ao ambiente,

desempenhem, ainda, papel ecológico. A adoção da arquitetura sustentável como padrão de

construção pode levar à ampliação do conforto ambiental e à economia de recursos naturais,

tais como água e energia elétrica.

Edificações que são feitas com materiais recicláveis ou que não geram lixo em seu

processo de construção são apenas alguns exemplos da arquitetura sustentável. Mas o que

realmente chamam atenção e é objeto de desejo de muitos moradores de grandes centros

urbanos são as construções que se integram de fato à natureza. É o caso dos prédios com

grandes jardins verticais em suas fachadas. Essas construções, presentes em sua maioria em

países desenvolvidos, se destacam em meio ao cinza das cidades, atraem grande quantidade

de aves e trazem uma sensação de bem-estar ao serem contempladas. Além disso, os jardins

verticais ajudam a amenizar a temperatura interna do prédio reduzindo drasticamente a

necessidade de sistemas artificiais de arrefecimento, em comparação às construções

tradicionais.

CAPÍTULO 7

92

Uma alternativa mais comumente utilizada, inclusive no Brasil, é a implementação de

telhados verdes. Em Recife, por exemplo, desde 2015 os novos prédios residenciais, com

mais de quatro pavimentos e com área coberta acima de 400 m², são obrigados a ter telhados

verdes. O teto, ou telhado, verde é uma ótima solução para os dias atuais porque, não só

reduz as ilhas de calor nas metrópoles, como também ameniza a temperatura dentro do

prédio. Além disso, o sistema ajuda a prevenir enchentes com a retenção da água de chuva.

Considerações finais

Mesmo com o crescente aumento do interesse nessas áreas verdes urbanas, ainda são

escassos os trabalhos no Brasil, sendo este capítulo de grande importância para a

compreensão do funcionamento dessas áreas no país. Assim, estudos com uma maior

abrangência (tanto em escala espacial quanto temporal), que envolvam os impactos dessas

áreas na biodiversidade e na vida das pessoas, são indispensáveis.

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95

CAPÍTULO 8

MODELOS PARA ESTIMAR AS PERDAS DE SOLO

Anne Caroline Barbosa de Carvalho1*

Celso Bandeira de Melo Ribeiro2

Wadson Sebastião Duarte da Rocha3

1 Doutoranda em Ecologia – PGEcol - Universidade Federal de Juiz de Fora. Campus

Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900, Brasil.

2 Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Universidade Federal de Juiz de

Fora. Campus Universitário, Bairro Martelos, Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP 36036-900,

Brasil.

3 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Gado de Leite

Contato: [email protected]

A erosão é oriunda de fenômenos naturais que agem continuamente na crosta

terrestre, como ocorrência do processo de modificação desta, além de fazer parte do

processo de formação do solo. A ação do homem quebra essa harmonia, por meio da inserção

de práticas que destroem o equilíbrio das condições naturais desse processo, dando origem

à erosão acelerada, que constitui fenômeno de grande importância em razão da rapidez com

que se processa e pelo fato de acarretar prejuízos não só para a exploração agropecuária,

mas também para diversas outras atividades econômicas e ao meio ambiente (Pruski, 2009).

Grandes áreas cultivadas podem se tornar improdutivas ou economicamente

inviáveis, se a erosão não for mantida em valores toleráveis. Considerando o sistema de

manejo a que está submetido, o solo é passível, tanto de degradação quanto de

melhoramento em seu potencial produtivo. Um manejo de solo inadequado pode provocar

perdas de solo e água e consequente perda da sua capacidade produtiva.

CAPÍTULO 8

96

O processo erosivo causado pela água das chuvas tem abrangência em quase toda a

superfície terrestre, em especial nas áreas com clima tropical, onde os totais pluviométricos

são bem mais elevados que em outras regiões do planeta (Guerra et al., 2010). Este é o caso

do Brasil onde, indiscutivelmente, a erosão hídrica é a mais importante, pois as chuvas

concentram-se em certas estações do ano e contribuem para desagregar e transportar o

material erodido com grande facilidade (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).

O processo de erosão hídrica pode ser descrito em três estágios: desprendimento,

transporte e deposição (Amorim, 2004).

A desagregação é a primeira fase do processo erosivo e consiste no desprendimento

das partículas de solo (individual ou agregados). O desprendimento das partículas tem início

com o umedecimento dos agregados, o que reduz suas forças coesivas, enfraquecendo-os e

tornando-os menos resistentes ao desprendimento, que somente ocorre quando as forças

externas, de natureza cisalhante, superam as forças internas (Pruski, 2009). Em condições

agrícolas, os principais agentes externos responsáveis pelo desprendimento dos agregados

são aqueles associados ao impacto das gotas de chuva e ao escoamento superficial.

O transporte, segunda fase do processo erosivo, consiste na transferência das

partículas de solo desagregadas de seu local de origem para outro, seja pelo salpicamento

decorrente do impacto das gotas de chuva, seja pelo escoamento superficial (Pruski, 2009),

considerado o maior agente de transporte das partículas de solo (Bertoni & Lombardi Neto,

2010).

A deposição é a terceira e última fase do processo erosivo, que consiste na deposição

do material que foi desagregado e transportado. Isso ocorre quando a quantidade de

sedimentos contida no escoamento superficial é maior que sua capacidade de transporte

(Pruski, 2009).

Dentre os tipos de erosão hídrica (laminar, em sulcos e voçorocas), a erosão laminar

é considerada um dos principais problemas ambientais percebidos nas bacias hidrográficas

antropizadas e de uso predominantemente agrícola (Baptista, 2003), e se destaca pela

combinação da ação desagregadora do impacto das gotas de chuva (Aragão et al., 2011). Ao

colidirem com a superfície do solo desnudo, as gotas de chuva rompem os agregados

reduzindo-os a partículas menores, passíveis de serem arrastadas pela energia da enxurrada

(Lepsch, 2010).

Além das partículas de solo em suspensão, o escoamento superficial transporta

nutrientes químicos, matéria orgânica, sementes e defensivos agrícolas que além de

CAPÍTULO 8

97

causarem prejuízos diretos à produção agropecuária, provoca a poluição dos mananciais

hídricos (Pruski, 2009). Dessa forma, as perdas por erosão tendem a elevar os custos de

produção, aumentando a necessidade do uso de corretivos e fertilizantes e reduzindo o

rendimento operacional das máquinas agrícolas.

O controle da erosão hídrica torna-se necessário quando a quantidade de solo

removida atinge valores acima de um valor considerado aceitável. Embora o

estabelecimento de tolerância para solos e topografia ser geralmente uma questão de

julgamento coletivo, em que fatores físicos e econômicos são levados em consideração, a

tolerância dessas perdas depende das propriedades do solo, profundidade, topografia e

erosão antecedente (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).

Determinação de perdas de solo por erosão

Os métodos de estudo e de abordagem da pesquisa em erosão variam basicamente

com a natureza do fenômeno a ser estudado e com o objetivo central do estudo, juntamente

com as limitações econômicas e de tempo necessário para a pesquisa, bem como de espaço

físico (Silva et al., 2003).

Segundo Bertoni & Lombardi Neto (2010), os métodos para determinação de perdas

de solo por erosão podem ser agrupados basicamente em: diretos ou indiretos.

Os métodos diretos são todos aqueles que se baseiam na coleta, na medição e na

análise do material erodido, com auxílio de instalações coletoras e medidores especiais.

Ainda de acordo com Bertoni & Lombardi Neto (2010), os métodos diretos de determinação

de perdas de solo se subdividem em: por impacto; por arrastamento superficial e por

percolação.

Os métodos indiretos baseiam-se nos vestígios encontrados nos perfis de solo ou

mesmo nas diferenças encontradas em relação ao solo não erodido. São geralmente mais

imprecisos do que os fundamentados nos estudos do material erodido, além de envolverem

outras variáveis associadas aos processos erosivos. São utilizados basicamente como

métodos auxiliares do estudo erosivo (Baptista, 2003).

Um manejo agrícola efetivo, visando o controle do processo erosivo, requer o

entendimento das relações complexas entre os processos físicos, químicos, hidrológicos e

meteorológicos. Como a análise dessas importantes interações dificilmente pode ser obtida

experimentalmente, a utilização de modelos matemáticos torna-se uma forma prática para

compreender tais interações.

CAPÍTULO 8

98

Os modelos matemáticos vêm sendo amplamente empregados na predição do

processo erosivo, tanto para planejamentos conservacionistas (preventivos) como em seu

controle. A principal vantagem da aplicação de modelos é a possibilidade de estudar vários

cenários, como o pior cenário possível, e diferentes tipos de manejos e práticas

conservacionistas, com baixo custo e de forma rápida (Silva et al., 2003).

Histórico de predição da erosão

As pesquisas realizadas para compreender os processos erosivos eram baseadas no

estudo da erosão laminar e da erosão em sulcos com foco apenas nos processos de

escoamento superficial (Fox & Wilson 2010). Em sua fase inicial, entre 1880 e 1947, os

estudos relacionados à erosão limitavam-se ao entendimento e à descrição qualitativa dos

principais fatores que afetavam o processo erosivo. Trabalhos experimentais desenvolvidos

no Meio Oeste dos Estados Unidos, no período de 1940 a 1954, resultaram na obtenção de

equações de perda de solo que incluíam os efeitos do comprimento e da declividade da

encosta, das características e propriedades do solo, das práticas conservacionistas e das

condições de uso e manejo do solo (Wischmeier & Smith 1978).

Em 1946, um comitê dos Estados Unidos reuniu-se com a finalidade de revisar os

fatores da última equação gerada e os dados existentes no país e, após incluir o fator chuva,

deu origem a uma nova equação de perda de solo conhecida como equação de Musgrave

(1947). Anos mais tarde (1954-1965), num esforço de agências de pesquisa e extensão dos

Estados Unidos para revisão das equações, foi proposto um novo modelo empírico

denominado Equação Universal de Perdas de Solo – USLE (Wischmeier & Smith, 1978).

Esta equação, de base empírica, não leva em consideração, de forma individualizada,

os processos físicos envolvidos na erosão do solo, como o desprendimento e transporte das

partículas do solo. Na USLE são apenas discriminadas as significâncias dos diferentes fatores

que regem o processo erosivo, dentre os quais estão incluídos a precipitação, o comprimento

da encosta, a declividade da encosta, a erodibilidade do solo, o cultivo (uso do solo) e as

práticas agrícolas (Amorim, 2004). A USLE também não considera os processos de deposição

nos sopés das encostas e não incorpora o processo de erosão em voçorocas. Esses fatos são

responsáveis por subestimativas de perda de solo pelo modelo, quando ocorrem processos

como o de voçorocamento em uma região (Valentin, 2008).

Apesar dessas limitações, a USLE é considerada um bom instrumento para previsão

das perdas de solo por erosão laminar, por exigir um número de informações relativamente

CAPÍTULO 8

99

pequeno quando comparado aos modelos mais complexos e por ser uma equação bastante

conhecida e estudada (Amorim et al., 2009).

Após a publicação do Agriculture Handbook 537 (Wischmeier & Smith 1978), outros

modelos foram desenvolvidos a fim de aprimorar a predição da perda de solo e também do

aporte de sedimentos. A crescente demanda dos usuários da USLE por maior flexibilidade na

modelagem de erosão para condições diferentes daquelas que deram origem ao modelo e

que não eram contempladas por sua estrutura, resultou em trabalhos de atualização do

modelo em meados da década de 1980, pelo Serviço de Pesquisas na Agricultura do

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-ARS). Mantendo a mesma

estrutura da USLE, novas pesquisas e análises resultaram na Equação Universal de Perda de

Solo Revisada - RUSLE, aliando o desempenho da USLE para novos e antigos esquemas de

manejo de terras (Cruz, 2003). Além disto, devido à complexidade das equações usadas para

quantificar os fatores da equação principal, foi desenvolvido um programa computacional

para facilitar a estimativa da perda de solo (Amorim, 2004).

A RUSLE apresenta a vantagem de poder estimar as perdas de solo para situações

onde não é possível aplicar a USLE e em locais onde não tenham dados de perda de solo para

a determinação dos componentes do modelo. E pela utilização de um programa

computacional, pode incorporar conceitos de base física para a determinação de alguns de

seus componentes, favorecendo uma reprodução mais real do sistema. Embora tenha sofrido

consideráveis melhorias esta equação também não abrange os processos de deposição, o que

limita sua aplicação para áreas onde o processo de deposição tenha importância expressiva.

A necessidade de se desenvolver uma nova tecnologia para a estimativa das perdas

de solo por erosão surgiu para suplantar o grande número de limitações apresentadas pelos

modelos USLE e RUSLE, principalmente referentes à impossibilidade de aplicação dos

modelos de forma satisfatória em situações fora daquelas nas quais foram desenvolvidos

(Amorim et al., 2009).

Na metade da década de 1980, o USDA iniciou o Water Erosion Prediction Project –

WEPP, visando desenvolver uma nova geração de tecnologias para predição da erosão

hídrica. Esse modelo se baseia nos fundamentos de teorias de infiltração, física do solo,

fitotecnia, hidráulica e mecânica da erosão (Machado et al. 2003). Proporciona várias

vantagens em relação às outras tecnologias de previsão de erosão, pois incorpora conceitos

de erosão entressulcos e nos sulcos. Através do WEPP é possível simular os processos que

ocorrem em determinada área de acordo com o estado atual do solo, cobertura vegetal,

CAPÍTULO 8

100

restos culturais e umidade do solo. Quando ocorre uma chuva, se houver escoamento

superficial, o modelo estima o desprendimento, transporte e a deposição das partículas ao

longo da encosta, porém não contempla a erosão em grandes voçorocas e cursos de águas

perenes (Amorim et al., 2009).

O WEPP é apresentado em três versões básicas: uma versão para vertentes (hillslope

version), uma versão para bacias hidrográficas (watershed version) e uma de quadrícula (grid

version) (Machado et al., 2003).

Apesar de parecer um modelo mais completo, o WEPP apresenta algumas limitações

como o grande número de parâmetros de entrada necessários para a aplicação do modelo;

necessidade de treinamento intensivo de pessoal para efetiva implementação; além de não

poder ser aplicado para predizer a erosão em voçorocas.

De acordo com Amorim (2004), diversos modelos matemáticos vêm sendo

desenvolvidos e aperfeiçoados desde a década de 1950, com intuito de prever a magnitude

das perdas de solo por erosão. Os mais comumente utilizados são a Universal Soil Loss

Equation (USLE), a Revised Universal Soil Loss Equation (RUSLE) e o Water Erosion Prediction

Project (WEPP). Porém cada tipo de modelo serve para um propósito e, dessa forma, não

existe um que possa categoricamente ser indicado como mais apropriado que os demais para

todas as situações.

Equação Universal de Perda de Solo – USLE

A USLE é a equação de estimativa de erosão mais conhecida e aplicada até hoje. Todos

os modelos desenvolvidos após a USLE foram elaborados a partir dela, ou contém variáveis

dessa equação (Seeger et al., 2011). É uma equação empírica utilizada para estimar a erosão

laminar para cada combinação possível entre sistemas de cultivo e práticas

conservacionistas associadas a um tipo de solo específico, condições de chuva e topografia

(Wichmeier & Smith, 1978).

Originalmente, a USLE foi projetada de forma a servir como ferramenta de trabalho

para projetos conservacionistas americanos em que os resultados fossem representados por

um número apenas e pudessem ser calculados a partir de dados meteorológicos, pedológicos

e de parcelas de erosão regional e local, e fosse livre de qualquer base geográfica (Amorim

et al. 2009). Esta equação foi obtida a partir de observações de perda de solo em mais de

10.000 parcelas-padrão com 0,008ha (3,5m de largura e 22,1m de comprimento) e 9% de

CAPÍTULO 8

101

declividade, distribuídas em todas as regiões dos Estados Unidos (Bertoni & Lombardi Neto

2010).

De acordo com Barretto et al. (2008) a pesquisa científica brasileira em erosão

acelerada do solo teve uma formação recente. Apesar dos primeiros trabalhos terem sido

publicados ainda na década de 1940, aproximadamente metade da produção originou-se a

partir da década de 1990. No Brasil, os trabalhos iniciais com a equação de perdas de solo

foram desenvolvidos por Bertoni et al. (1975) utilizando os dados existentes para as

condições do Estado de São Paulo (Bertoni & Lombardi Neto, 2010).

A USLE é expressa pela relação: A = R . K . LS. CP

Onde:

A = perda de solo calculada por unidade de área, t ha-1 ano-1;

R = fator chuva: índice de erosão pela chuva, MJ mm ha-1h-1;

K = fator erodibilidade do solo: intensidade de erosão por unidade de índice de erosão

da chuva, para um solo específico que é mantido continuamente sem cobertura, mas

sofrendo as operações culturais normais, em um declive de 9% e comprimento de rampa de

25m, t ha-1 MJ-1 mm-1;

L = fator comprimento do declive: relação de perdas de solo entre um comprimento

de declive qualquer e um comprimento de rampa de 25m para o mesmo solo e grau de

declive, adimensional;

S = fator grau de declive: relação de perdas de solo entre um declive qualquer e um

declive de 9% para o mesmo solo e comprimento de rampa, adimensional;

C = fator uso e manejo: relação entre perdas de solo de um terreno cultivado em dadas

condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente descoberto,

isto é, nas mesmas condições em que o fator K é avaliado, adimensional;

P = fator prática conservacionista: relação entre as perdas de solo de um terreno

cultivado com determinada prática e as perdas quando se planta morro abaixo,

adimensional.

Aplicações e limitações da USLE

A USLE permite estimar a perda média anual de solos provocada pelas erosões

laminar para as condições em que foram obtidos os valores de seus componentes. Esta

equação foi desenvolvida para as condições existentes nos Estados Unidos, onde há um

expressivo banco de dados o que facilita sua ampla utilização. Devido à base totalmente

CAPÍTULO 8

102

empírica, a sua aplicação em situações diferentes daquelas para as quais foi desenvolvida

requer a realização de pesquisas para obtenção dos componentes do modelo (Amorim et al.,

2009). É preciso que o modelo seja testado, o que pode acarretar em modificações para que

seja aplicado, por exemplo, na região tropical. O ideal é testar o modelo e ao mesmo tempo

promover estudos experimentais, a fim de se ter a veracidade dos resultados (Guerra et al.

2010). Diversos autores como Beutler et al. (2003); Albuquerque (2005); Mendes (2006) e

Amaral (2008) conduziram seus trabalhos em estações experimentais e contribuíram com

dados para o entendimento dos mecanismos dos processos erosivos tropicais.

A criação da equação teve por objetivo inicial fornecer aos técnicos do serviço de

conservação do solo subsídios para planejar o uso do solo de áreas rurais e avaliar se

determinada área cultivada apresentava perdas de solo dentro ou além dos limites

considerados toleráveis para as condições da área, permitindo ainda a avaliação da eficácia

de práticas conservacionistas (Baptista, 2003). A USLE também é aplicada em outros tipos

de uso e ocupação de terras, incluindo áreas de construção urbana e aterros para

construções de estradas (Silva et al., 2003).

É importante salientar que mesmo em ambientes onde há banco de dados suficientes

para a utilização da USLE, seu uso está condicionado a algumas limitações implícitas na

própria concepção e nos fatores do modelo. Isso porque a USLE prevê apenas a erosão média

da vertente, não levando em consideração a forma da vertente, além disso, não permite

quantificar a deposição. Ainda, como é um modelo empírico, pelo menos alguns de seus

componentes como K, C e P têm de ser obtidos experimentalmente, em condições

semelhantes àquelas onde será utilizado (Silva et al., 2003).

Outra grande limitação da USLE refere-se à concepção dos fatores do modelo, os quais

são uma representação média da área em estudo, não levando em consideração a

variabilidade espacial e temporal dos fatores, que, juntamente ao fato da USLE não

considerar o processo de deposição de sedimentos, torna sua aplicação limitada em bacias

hidrográficas (Amorim et al. 2009). Ainda assim, a USLE vem sendo combinada com Sistemas

de Informações Geográficas (SIGs) para estimar a erosão laminar em bacias hidrográficas,

como observado nos trabalhos de Tavares et al. (2003); Costa et al. (2007); Serio et al. (2008)

e Ferreira et al. (2009), pois a utilização desses sistemas permite a realização de uma análise

rápida e dinâmica da área em estudo (Lopes et al., 2011).

CAPÍTULO 8

103

Considerações Finais

A estimativa da erosão é uma informação essencial para a adoção de um programa de

manejo e conservação do solo e útil para prever os impactos antes mesmo de determinada

cultura ou prática agrícola ser implementada.

A modelagem da perda de solo consiste, dessa forma, em uma ferramenta de grande

importância como suporte às tomadas de decisão, uma vez que as alternativas de manejo são

numerosas, geralmente de alto custo, e os resultados de uma prática conservacionista podem

levar algum tempo para exercer influência na erosão.

Cada tipo de modelo serve a um propósito e, por isso, não existe um que possa

categoricamente ser indicado como mais apropriado que os demais para todas as situações.

Apesar de algumas limitações a USLE, quando comparada com outros modelos, é

considerada um bom instrumento para previsão das perdas de solo por erosão laminar, por

exigir um número de informações relativamente pequeno e por ser uma equação

amplamente estudada. Para o caso do Brasil, por exemplo, onde a base de dados e de

informações cartográficas é normalmente escassa, a aplicação de outros modelos para a

previsão de perda de solo poderia se tornar praticamente inviável.

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