21
CAPACIDADE DE USO DOS SOLOS NO PROJETO DE ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE, MUQUI, ESPÍRITO SANTO Lauro Magalhães Fráguas, NEPUT/UFV Viçosa - MG, [email protected] Thiago Dannemann Vargas, NEPUT/UFV UFV Viçosa MG, [email protected] Natália Aragão de Figueredo, NEPUT/UFV UFV Viçosa MG, [email protected] João Luiz Lani, NEPUT/UFV UFV Viçosa MG, [email protected] RESUMO A interpretação da capacidade de uso do solo é uma importante tarefa para a utilização racional desse recurso natural proporcionando melhorias nos sistemas agrícolas do Assentamento Monte Alegre. As classes de capacidade de uso (I a VIII) são baseadas no grau de limitação de uso e as subclasses representam as limitações quanto o uso, adotando medidas ou práticas conservacionistas adequadas. Para tal, através da interpretação do levantamento pedológico, imagens de satélites e ferramentas do SIG co-relacionam os dados físicos e químicos dos solos com os fatores limitantes (fertilidade, processos erosivos) para assim mapear (1:15.000) as classes de capacidade de uso As terras do PA (598,23 ha) encontram-se nas classes III, VII e VIII, usos restritos do solo, sendo necessárias práticas intensivas de conservação. A subclasse III e,s, inclui Latossolo Vermelho- Vermelho e Argissolo Vermelho-Amarelo e ocupa uma área de 319,64 ha. São solos propícios para cultivos com uso de correções e adubações e necessitam de práticas de controle de erosão. A classe III s, inclui o Cambissolo Háplico com uma área de 44,70 hectares. Têm alta fertilidade, mas pouco profundos. São recomendados cultivos anuais de ciclo curto e que se aproveite o período das chuvas. Nos períodos seco pode e devem ser utilizados com pastagem. A classe VIII,é formada pelos Gleissolo Háplico com uma área aproximada de 22,9 ha. O excesso de umidade e a possibilidade de assoreamento são fatores de limitantes. Pequenas áreas de cultivo de arroz e pastagem de braquiária são usos freqüentes nessa área. Cerca de 210,10 ha da área são formados por Afloramentos Rochosos, Neossolo Litólico e formam a classe VII s,a ao lado do Cambissolo Latossólico, que são rasos, declivosos e podem apresentar grande potencial de erosão, iniciando neles as voçorocas. A recomendação é sua utilização como área para preservação da fauna e flora e reserva legal. ABSTRACT The interpretation of the capacity of land use is an important task for the rational use of natural resource systems provide improvements in the agricultural settlement Monte Alegre. The ability to use the classes (I to VIII) are based on the degree of limitation of use and the subclasses are the limitations on the use, adopting appropriate conservation measures and practices. To this end, through the interpretation of pedologic survey, satellite images and GIS tools to co-relate the physical and chemical data of soils with limiting factors (fertility, erosion processes) so as to map (1:15.000) the classes of capacity use. The PA area (598.23 ha) are in classes III, VII and VIII, restricted uses of soil, requiring intensive conservation practices. The subclass III, and s, including Oxisols and Red-Yellow and occupies an area of 319.64 ha. Soils are suitable for cultivation with the use of correction and fertilization practices and need to control erosion. The class III s, includes the Haplic Cambisols with an area of 44.70 hectares. Have high fertility, but little depth. Annual crops are recommended short- cycle and which enjoy the period of rains. In dry periods and can be used for pasture. Class VIII, is formed by Gleissols with an approximate area of 22.9 ha. The excess moisture and the possibility of siltation are limiting factors. Small areas of cultivation of rice and pasture of Brachiaria uses are frequent in this area. Around 210.10 hectares of the area are formed by rocky outcrops, Neosols

CAPACIDADE DE USO DOS SOLOS NO PROJETO DE … · coordenadas 41°23'57'' W e 20°56'52'' S. O acesso ao PA é a partir de ... A letra P simboliza mês com ... que servirão de base

Embed Size (px)

Citation preview

CAPACIDADE DE USO DOS SOLOS NO PROJETO DE ASSENTAMENTO

MONTE ALEGRE, MUQUI, ESPÍRITO SANTO

Lauro Magalhães Fráguas, NEPUT/UFV – Viçosa - MG, [email protected]

Thiago Dannemann Vargas, NEPUT/UFV UFV – Viçosa – MG, [email protected]

Natália Aragão de Figueredo, NEPUT/UFV UFV – Viçosa – MG, [email protected]

João Luiz Lani, NEPUT/UFV UFV – Viçosa – MG, [email protected]

RESUMO

A interpretação da capacidade de uso do solo é uma importante tarefa para a utilização racional desse recurso natural proporcionando melhorias nos sistemas agrícolas do Assentamento Monte Alegre. As classes de capacidade de uso (I a VIII) são baseadas no grau de limitação de uso e as subclasses representam as limitações quanto o uso, adotando medidas ou práticas conservacionistas adequadas.

Para tal, através da interpretação do levantamento pedológico, imagens de satélites e ferramentas do SIG co-relacionam os dados físicos e químicos dos solos com os fatores limitantes (fertilidade, processos erosivos) para assim mapear (1:15.000) as classes de capacidade de uso

As terras do PA (598,23 ha) encontram-se nas classes III, VII e VIII, usos restritos do solo, sendo necessárias práticas intensivas de conservação. A subclasse III e,s, inclui Latossolo Vermelho-Vermelho e Argissolo Vermelho-Amarelo e ocupa uma área de 319,64 ha. São solos propícios para cultivos com uso de correções e adubações e necessitam de práticas de controle de erosão. A classe III s, inclui o Cambissolo Háplico com uma área de 44,70 hectares. Têm alta fertilidade, mas pouco profundos. São recomendados cultivos anuais de ciclo curto e que se aproveite o período das chuvas. Nos períodos seco pode e devem ser utilizados com pastagem. A classe VIII,é formada pelos Gleissolo Háplico com uma área aproximada de 22,9 ha. O excesso de umidade e a possibilidade de assoreamento são fatores de limitantes. Pequenas áreas de cultivo de arroz e pastagem de braquiária são usos freqüentes nessa área. Cerca de 210,10 ha da área são formados por Afloramentos Rochosos, Neossolo Litólico e formam a classe VII s,a ao lado do Cambissolo Latossólico, que são rasos, declivosos e podem apresentar grande potencial de erosão, iniciando neles as voçorocas. A recomendação é sua utilização como área para preservação da fauna e flora e reserva legal.

ABSTRACT

The interpretation of the capacity of land use is an important task for the rational use of natural resource systems provide improvements in the agricultural settlement Monte Alegre. The ability to use the classes (I to VIII) are based on the degree of limitation of use and the subclasses are the limitations on the use, adopting appropriate conservation measures and practices.

To this end, through the interpretation of pedologic survey, satellite images and GIS tools to co-relate the physical and chemical data of soils with limiting factors (fertility, erosion processes) so as to map (1:15.000) the classes of capacity use.

The PA area (598.23 ha) are in classes III, VII and VIII, restricted uses of soil, requiring intensive conservation practices. The subclass III, and s, including Oxisols and Red-Yellow and occupies an area of 319.64 ha. Soils are suitable for cultivation with the use of correction and fertilization practices and need to control erosion. The class III s, includes the Haplic Cambisols with an area of 44.70 hectares. Have high fertility, but little depth. Annual crops are recommended short-cycle and which enjoy the period of rains. In dry periods and can be used for pasture. Class VIII, is formed by Gleissols with an approximate area of 22.9 ha. The excess moisture and the possibility of siltation are limiting factors. Small areas of cultivation of rice and pasture of Brachiaria uses are frequent in this area. Around 210.10 hectares of the area are formed by rocky outcrops, Neosols

Litólicos and form the class VII s, next to the Cambisols Oxisols, which are shallow, sloping and may have great potential for erosion, the voçorocas starting them. The recommendation is its use as an area for conservation of fauna and flora and legal reserve.

PALAVRAS CHAVE: Agricultura familiar, uso do solo, planejamento rural

INTRODUÇÃO

O sistema de capacidade de uso é uma classificação técnico-interpretativa, representando um

grupo quantitativo de classes de solos sem considerar a localização ou as características econômicas da

terra. Diversas características e propriedades são sintetizadas, visando à obtenção de classes

homogêneas de terras, com o propósito de definir sua máxima capacidade de uso sem risco de

degradação do solo, especialmente no que diz respeito à erosão acelerada (LEPSCH et al., 1991). A

determinação da capacidade de uso da terra é uma poderosa ferramenta utilizável no seu planejamento

e uso, pois, encerra uma coleção lógica e sistemática de dados e apresenta os resultados de forma

diretamente aplicável ao planejador. Evidentemente, por si só, ela, não fornece todos os elementos

necessários ao planejamento das atividades a serem desenvolvidas, pois há ainda que considerar as

esferas econômicas, políticas e sociais.

Considerando todos os aspectos da importância da utilização do sistema de capacidade de uso

da terra para o planejamento e a necessidade de respaldo técnico para as atividades agrícolas realizadas

na área de estudo, objetiva-se com este trabalho realizar a classificação da capacidade de uso no

Projeto de Assentamento Monte Alegre, em Muqui, Espírito Santo.

METODOLOGIA

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

O PA Monte Alegre se localiza no Sul Capixaba, na mesorregião da Bacia do Itabapoana nas

coordenadas 41°23'57'' W e 20°56'52'' S. O acesso ao PA é a partir de Muqui, sede do município,

chega-se ao assentamento por uma rodovia vicinal, não pavimentada que liga Muqui ao distrito de

Bom Retiro. Possui uma área total de 598,2393 ha e tem capacidade para 56 famílias.

Figura 1. Localização do PA Monte Alegre

A altitude varia entre 80 e 501 m e a região possui altas temperaturas durante todo o ano. Os

maiores índices de precipitação ocorrem nos meses mais quentes (novembro a março), já nos meses

mais frios precipitação é menor, por causa da redução da evaporação.

A caracterização hídrica da região encontra–se no Quadro 1. A letra P simboliza mês com

satisfação parcial dos requerimentos hídricos (evapotranspiração potencial>precipitação= 1/2

evapotranspiração potencial). O período úmido foi definido através do número de meses com

precipitação igual ou maior que a evapotranspiração potencial, e define a duração da estação chuvosa

no ano. Percebe-se que o período de fevereiro a junho assim como o mês de outubro apresentaram

índices de satisfação hídrica parcial. O período mais seco ocorre de julho a setembro. O período seco

permite caracterizar a duração da estação com deficiência marcante de precipitação. Os meses de

novembro a janeiro são os mais úmidos, caracterizando uma concentração de chuvas no verão. Os

índices de umidade no verão, relação precipitação/evapotranspiração, é de 0,85 – 1,21 mm. No inverno

essa relação varia de 0.39-0,44 mm. O excedente hídrico anual é entre 36-185 mm e o déficit hídrico

anual é de 223 a 448 mm.

Quadro 1. Caracterização climática do PA Monte Alegre, Muqui, Espírito Santo

Período úmido (U) Período seco (S)

Excedente hídrico Anual entre 36 -185 mm Déficit hídrico anual entre 223 – 448 mm

Índice de umidade no verão PP/ETP

(dez, jan, fev) (0,85-1,21mm)

Índice de umidade no inverno PP/ETP (jun,jul,ago)

(0,39 - 0,44 mm)

Caracterização hídrica

Janeiro U

Fevereiro P

Março P

Abril P

Maio P

Junho P

Julho S

Agosto S

Setembro S

Novembro U

Dezembro U

Fonte: FEITOZA, 1986.

Quanto a Classificação de Köppen a região apresenta clima tropical, com variações ligadas a

maior ou menor continentalidade e às características topográficas.

A região de Muqui pertence à Província pedogeomorfológica da bacia do rio Itabapoana. Este

tem sua nascente no lado oriental do Maciço do Caparaó a altitudes elevadas (2.890 m – Pico da

Bandeira) e deságua no Oceano Atlântico. Parte de seu curso faz divisa do Estado do Espírito Santo

com o Rio de Janeiro.

O PA Monte Alegre, geomorfologicamente é um vale dissecado (Figura 2), em forma de “V”.

Há trechos fortemente ondulados a montanhosos, com altitudes entre 300-650 m. A área se apresenta

sobre uma falha geológica e com incidências de diversos Afloramentos Rochosos.

Figura 2. Paisagem dissecada, vales em “V” no PA Monte Alegre Muqui, ES.

METODOLOGIA DO SISTEMA DE CAPACIDADE DE USO DOS SOLOS

O sistema de capacidade de uso é uma classificação técnico-interpretativa, representando um

grupo quantitativo de classes de solos sem considerar a localização ou as características econômicas da

terra. Diversas características e propriedades são sintetizadas, visando à obtenção de classes

homogêneas de terras, com o propósito de definir sua máxima capacidade de uso sem risco de

degradação do solo, especialmente no que diz respeito à erosão acelerada (LEPSCH et al., 1991).

O sistema se baseia nas limitações permanentes das terras e é todo voltado para as

possibilidades e limitações à utilização das mesmas. Sendo, portanto, diretamente relacionado á sua

intensidade de uso. É estruturado em categorias hierarquizadas da maneira como mostra o Quadro 2.

As classes de capacidade de uso (I a VIII) são baseadas no grau de limitação de uso e as subclasses

representam as classes qualificadas em função da natureza da limitação, tornando mais explícitas, as

práticas ou grupos de práticas conservacionistas a serem adotadas. Convencionalmente, as limitações

de uso podem ser de quatro naturezas distintas, representadas por códigos de acordo com o fator

limitante A letra “e” indica limitações pela erosão ou pela presença do risco de ocorrê-la. A letra “s”

está relacionada às restrições relativas ao solo e suas características físico-químicas. O “a” indica

restrições devido ao excesso de água e o “c” está ligado às limitações de natureza climática.

Quadro 2. Classes e subclasses de capacidade de uso estruturado em hierarquias

SISTEMA DE CAPACIDADE DE USO

GRUPO CLASSE DESCRIÇÃO

A

Terras passiveis de utilização com culturas anuais, perenes, pastagens reflorestamento e vida silvestre.

I Terras cultiváveis, aparentemente sem problemas especiais de conservação.

II Terras cultiváveis com problemas simples de conservação manutenção de melhoramento.

III Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação manutenção de melhoramentos.

IV Terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada, com sérios problemas de conservação.

B

Terras impróprias para cultivos intensivos, mas ainda adaptadas para pastagem reflorestamento vida silvestre.

V Terras adaptadas em geral para pastagem e, em alguns casos, para reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de

conservação, são cultiváveis apenas em casos muito especiais.

VI Terras adaptadas em geral para pastagens e reflorestamento, com problemas simples de conservação. São cultiváveis apenas em

casos especiais de algumas culturas permanentes protetoras do solo.

VII Terras adaptadas em geral somente para pastagens ou reflorestamento com problemas complexos de conservação.

C

Terras não adequadas para cultivos anuais, perenes, pastagens ou reflorestamento, porém apropriadas para proteção da flora e fauna silvestre,

recreação ou armazenamento de água.

VIII Terras impróprias para cultura pastagem ou reflorestamento, podendo servir apenas como abrigo e proteção da fauna e flora

silvestre, com o ambiente para recreação, ou para fins de armazenamento de água.

Para a realização do estudo de capacidade de uso como unidade de planejamento, é necessário

recorrer aos estudos de levantamento do solo, que servirão de base para o planejamento da capacidade.

Dessa forma, de posse dos resultados da identificação, classificação e espacialização das classes de

solo em questão, foi realizado o trabalho de distribuição das unidades de capacidade de uso de acordo

com os critérios para cada classe de solo.

Análises físicas e químicas de amostras retiradas de perfis no campo, com a finalidade de

identificar características das unidades de solo, serviram de suporte na distribuição das unidades de

capacidade. Para isso foram coletadas amostras do solo representativas à área, essas amostras foram

destorroadas e secas ao ar, procedendo-se à conferência de textura realizada a campo e cor utilizando-

se a caderneta de Munsell. Uma vez secas ao ar, as amostras de solo foram tamisadas em peneiras com

malhas de 2 mm (ABNT-10) obtendo-se assim a fração terra fina seca ao ar (TFSA) na qual se

procederam às análises químicas de cátions trocáveis (Na+, K+, Ca2+, Mg2+ e Al3+), acidez potencial

(Al³+ + H+), fósforo disponível, carbono orgânico e pH . Com base nos dados analíticos foram

calculados os valores de Soma de Bases (SB), Capacidade de Troca de Cátions (T), Saturação por

Bases (Valor B) e Saturação por Alumínio (m), atributos diagnósticos estes considerados

imprescindíveis para classificar os solos tanto no Sistema Brasileiro (EMBRAPA, 2006), como na

Capacidade de Uso das Terras (LEPSCH, 1991).

Foram utilizadas como base de dados para o estudo, imagens SRTM para a criação de

modelos digitais de elevação através de informações de hidrografia e relevo, aerofotos de 2008

analisadas na escala de 1:10.000, cartas temáticas do IBGE, além de observações e fotos de campo.

Através de análises por geoprocessamento, foi possível gerar mapas dos solos do Assentamento,

criando um mosaico de classes de solo distribuídas pela propriedade. A partir desses, foram gerados

mapas relativos a capacidade de uso, e propostas medidas de adaptação dos usos atuais em relação ao

uso devido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A implantação das culturas agrícolas no PA Monte Alegre priorizou a atividade da cafeicultura,

voltada à comercialização, somada a implantação de lavouras de subsistência, como as de milho e

feijão, dentre outras culturas importantes, como as frutíferas e hortaliças. No PA Monte Alegre grande

parte da produção agrícola está voltada para a subsistência das famílias, o trabalho emprega

equipamentos agrícolas de baixa tecnologia, o uso de insumos agroquímicos abrange 92,3% das

famílias sendo os mais constantes os adubos, os herbicidas e inseticidas.

A mão de obra é essencialmente familiar. As culturas mais importantes em termos de área

plantada são respectivamente a do café, milho, feijão, banana e outras frutíferas. As áreas de cultivo no

PA são utilizadas freqüentemente de modo consorciado, isto é, uma mesma área produtiva é utilizada

para o plantio de duas ou mais culturas agrícolas, diversificado as áreas produtivas com culturas

comerciais associadas a culturas voltadas para a subsistência. Quanto à produção animal, é encontrada

no PA Monte Alegre a criação de galináceas, suínos, bovinos e eqüinos, nesta ordem de importância.

Percebe-se que estas atividades são realizadas em todos os tipos de solos indiscriminadamente, sem se

preocupar com as limitações inerentes às características de cada tipo de solo.

As principais classes de solos encontradas no PA Monte Alegre se encontram na Figura 3.

Predomina na área o Latossolo Vermelho-Amarelo 302,14 ha (50,5%) da área. Estes ocorrem nos

terços médio e superior da paisagem e, geralmente, se associam ao Cambissolo Latossólico, com 8,97

ha (1,5%) da área. Nos topos das encostas predominam os Afloramentos Rochosos e os Neossolo

Litólico, bem expressivos nesta área com 202,79 ha (33,9%). O Argissolo Vermelho-Amarelo ocorre

no terço inferior, com uma área de 38,88 ha (6,5%) total do Assentamento. No fundo do vale ocorre o

Gleissolo Háplico com 8,97 ha -1,5% da área total (Quadro 3).

Quadro 3. Distribuição das principais classes de solos no PA Monte Alegre, Muqui, ES

SÍMBOLO CLASSES DE SOLO ÁREA

ha %

LVA Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico A

moderado textura argilosa fase Floresta

subperenifólia relevo montanhoso a forte ondulado

302,14 50,5

AR Afloramento de Rocha 202,79 33,9

CX1

Cambissolo Háplico Tb eutrófico A moderado

textura argilosa fase Floresta subperenifólia

relevo montanhoso forte ondulado

44,86 7,5

PVA Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico A

moderado textura argilosa fase Floresta

subperenifólia relevo montanhoso a forte ondulado

38,88 6,5

GX Gleissolo Háplico Tb distrófico relevo plano 0,59 0,1

CX2 Cambissolo Latossólico 8,97 1,5

TOTAL 598,23 100,0

Figura 3. Distribuição das principais classes de solos identificadas no PA Monte Alegre, Muqui, ES.

O Latossolo Vermelho-Amarelo apresentam textura mais arenosa na parte superficial em razão

da intensa erosão laminar que carrega as partes mais finas (argila) e concentram as mais grosseiras

(areia grossa), geralmente são solos muito porosos (chegando às vezes a ter 70% de poros), pouco

coesos, de altas friabilidade e permeabilidade. A drenagem é classificada como acentuadamente a

moderadamente drenados. Em razão do pisoteio excessivo de animais há em alguns lugares o

selamento superficial o que facilita a erosão laminar. A estrutura é variável ao longo do perfil, mas,

predomina blocos subangulares fracos que se desfazem em granular. São solos de baixa fertilidade

natural, os poucos nutrientes existentes estão ligados a reciclagem dos mesmos pelas plantas. A

dependência de fertilização é intensa. Ou se usa fertilizante ou se busca formas alternativas de uso da

terra. No Assentamento, estes solos ocorrem em relevo intensamente dissecado, forte ondulado a

montanhoso, com topos arredondados, podendo neste caso ocorrer áreas planas nos topos, a maioria

apresenta vertentes convexas e com declives superiores a 20%. Predomina o uso com pastagem de

braquiária, lavouras de café, principalmente o conilon, milho e banana. O plantio está ocorrendo sem

nenhuma proteção do solo o que tem ocasionado erosão laminar severa.

Figura 4. Presença de Latossolo Vermelho-Amarelo com uso de café conilon e pastagem em alto nível

de degradação (solo exposto) no PA Monte Alegre, Muqui, ES.

O Cambissolo Háplico na área de estudo ocorrem em regiões de relevo escarpado,

montanhoso e forte ondulado. Na sua maioria são háplicos e eutróficos e estão associados aos

Afloramentos Rochosos. A presença de colonião nos mesmos é muito freqüente e apresenta algo vigor

vegetativo. Os perfis de Cambissolos encontrados nos Assentamentos apresentam características

eutróficas, principalmente nas bordas dos morros e entre rochas (Figura 5). O uso atual nos

assentamentos é de banana, milho e café conilon além de pastagens.

O Neossolo Litólico ocorrem em áreas de relevo montanhoso e escarpado, onde a erosão

hídrica foi normalmente mais ativa durante a gênese destes solos. São solos de fertilidade natural

variada e, por serem rasos e pouco intemperizados, sempre guardam afinidade com o material de

origem. A pequena espessura destes solos é talvez, um dos maiores obstáculos ao seu aproveitamento

agrícola, principalmente quando associado ao relevo mais movimentado, agravando mais ainda a

situação de disponibilidade hídrica e da própria sustentação de plantas mais altas. Estão associados aos

Afloramentos Rochosos e devem ser destinados à preservação ambiental.

Figura 5. Paisagem de ocorrência de Afloramento Rochoso associado ao Neossolo Litólico e

Cambissolo Háplico e no primeiro plano colonião (indicador de fertilidade) no PA Monte Alegre,

Muqui, ES.

O Cambissolo Latossólico são assim denominados por apresentarem um horizonte Bw estreito

que não atende aos conceitos dos Latosssolos. Ocorrem nas partes mais íngremes da paisagem e estão

sujeitos a intensa erosão. Possuem um horizonte C muito profundo, cerca de às vezes dezenas de

metros, altos teores de silte e são os mais sujeitos a deslizamentos. Deveria ser evitado o seu uso

agrícola bem como também os cortes das estradas por serem muito propícios ao deslizamento, inicio

de voçorocas e são os grandes produtores de sedimentos que assoream as várzeas. Foram indicados em

razão dos seus altos declives e sua grande erodibilidade a preservação ambiental. São solos que

apresentam fortes limitações ao uso agrícola, tanto pelo acentuado declive quanto por estarem em

áreas em constante processo erosivo. São muito instáveis. No entanto, os produtores utilizam essas

regiões para fins agrícolas, potencializando os problemas ambientais supracitados.

Figura 6. Ambiente de Cambissolo Latossólico, com café em estágio de degradação intenso, início de

voçorocas no PA Monte Alegre, Muqui, ES.

O Argissolo Vermelho-Amarelo são solos desenvolvidos sobre rochas cristalinas Pré-

Cambrianas. Normalmente ocorrem no terço inferior da encosta ou então no fundo dos vales (grotas).

Embora não diferem em muito quanto à fertilidade dos Latossolos, são os mais preferidos pelos

agricultores em razão da maior disponibilidade de água (pedoforma côncavo-côncava) e pela sua

ocorrência predominante no terço inferior. Estes solos ocorrem em relevo ondulado a forte ondulado,

constituído por elevações de topos angulosos, vertentes planas, vale em “V” fechado. Uso atual no

Assentamento é de café conilon, milho, banana e capim colonião (Panicum maximum). No que diz

respeito às formas de uso desses solos, há necessidade de serem corrigidas as suas limitações, quanto à

deficiência de nutrientes, para elevar o nível de fertilidade. Assim como, o emprego de práticas de

manejo que remova o solo ao mínimo possível, a fim de evitar o adensamento ou compactação da

camada superficial, que favorecida pela diferença de textura entre esta e a subsuperficial, acarretara o

arraste das primeiras camadas do solo que são mais arenosas, perdendo-se a matéria orgânica e os

nutrientes essenciais às plantas.

Figura 7. Ambiente de ocorrência de Argissolo Vermelho-Amarelo em áreas de relevo suave ondulado

e uso de café conilon,milho, banana no PA Monte Alegre, Muqui, ES.

O Gleissolo Háplico possuem predominantemente propriedades coloração acinzentada escura

no horizonte superficial, a textura varia de franco-arenosa a areia franca. A estrutura é maciça. A

consistência é usualmente friável quando úmido e não plástico e não pegajoso quando molhado.

Ocorrem nas planícies aluviais de cursos d’água dos rios que drenam essa região. Pelo fato de

sofrerem inundações periódicas, apresentam fortes limitações ao uso agrícola, a não ser para culturas

de ciclo curto adaptadas às condições de elevada umidade. No PA Monte Alegre o uso atual desses

solos é para plantio de arroz, mas na sua maioria são utilizados como pastagem, Cedro Australiano e

taboa (Figura 8). Em algumas áreas estão muito assoreados em razão da intensa erosão a montante.

A profundidade efetiva dos solos refere-se à profundidade máxima que as raízes penetram

livremente na massa do solo, em número razoável, sem impedimento proporcionando às plantas

suporte físico e condições para absorção de água e nutrientes. O PA Monte Alegre apresenta uma área

de 598,23 ha, sendo que 6,5% da área referem ao Argissolo Vermelho-Amarelo que abrange uma

superfície aproximada de 38,88 ha. Apresenta profundidade efetiva de = 150cm (horizonte A + B) ,

mas, sem limitações físicas para o desenvolvimento do sistema radicular. As áreas com limitação física

para o desenvolvimento radicular por apresentarem solos com profundidade efetiva pequena são os

Gleissolo Háplico, que abrangem cerca de 8,97 ha (1,5%) da área, devido à presença drenagem interna

imperfeita ou mal drenada. Os solos das áreas que ocorrem inundações periódicas, representados pelos

Gleissolos apresentam um grau forte de limitação, em razão da drenagem interna ser imperfeita o que

dificulta o desenvolvimento do sistema radicular das plantas não adaptadas a essas condições. Embora

sejam muito usados na cultura do arroz e em pastagem de braquiária (Brachiaria mutica). E também o

Neossolo Litólico e os Cambissolo Háplico. Estes últimos a maior limitação é a disponibilidade de

água para as plantas.

Figura 8. Ambiente de ocorrência de Gleissolo Háplico no PA Monte Alegre, Muqui, ES.

Na área de estudo, dentre os solos encontrados, predomina na porção superficial (0-20 cm)

textura média, variando de franco arenosa a areia franca. A predominância da fração mais arenosa é

em decorrência da intensa erosão laminar que estão submetidos estes solos e não propriamente do

material de origem ou do processo de translocação de argila (podzolização). Os perfis apresentam no

horizonte subsuperficial textura argilo arenosa. Em certas áreas caracterizam pela mudança textural

abrupta, típica dos Argissolos. Os dados analíticos demonstram claramente os efeitos da erosão

laminar que está ocorrendo em todos os solos das partes inclinadas. Percebe-se que esta havendo uma

arenização da parte superior do solo (horizonte A). Este efeito é comprovado pela concentração de

areia grossa em detrimento das outras frações mais finas (silte e argila). O principio é que a enxurrada,

pela sua energia carrega as frações mais finas e concentra as mais grosseiras. Isto é evidente tanto nos

Argissolos como nos Latossolos. Outro fato, observável são os baixos teores de silte. Isto demonstra

que estes solos não têm nenhuma reserva de nutrientes. Isto é, são extremamente intemperizados e

neste caso dependentes de fertilização.

Na área do PA Monte Alegre, a drenagem no Latossolo Vermelho-Amarelo e no Cambissolo é

acentuadamente a moderadamente drenados. Em razão do pisoteio excessivo há em alguns lugares o

selamento o que facilita a erosão laminar. Os perfis de Argissolo Vermelho-Amarelo apresentam

drenagem variável podendo ser forte a moderadamente drenados. Geralmente essas terras não

apresentam grande limitação quanto ao excesso de água, por serem porosas, friáveis, de textura

argilosa bem estruturada permitindo boa infiltração da água excedente. As áreas de ocorrência dos

Gleissolos apresentam restrições de drenagem interna deficiente, em condições naturais, são mal a

muito mal drenados.

Em relação a fertilidade, há solos extremamente pobres como o Latossolo Vermelho-Amarelo

de ocorrência em todos os Assentamentos da região e por outro lado há pequenas glebas de alta

fertilidade, bem identificadas pelos assentados, que são nichos pedregosos. Um dos solos que se

destaca em termos de fertilidade é o Cambissolo Háplico. Além de apresentarem boa fertilidade esta

ocorre em todo o perfil e foi identificado em campo, a presença abundante de minerais primários. Estes

ambientes pedregosos, no pé dos afloramentos rochosos, são uns dos mais sustentáveis para a

agricultura familiar.

As terras do PA Monte Alegre foram enquadradas nas classes de capacidade de uso III, VII e

VIII, subdivididos em subclasses e unidades de capacidade de uso conforme descritas no Quadro 5 e

apresentadas na Figura 9.

Quadro 5. Distribuição das classes de capacidade de uso das terras do PA Monte Alegre, Muqui,

Espírito Santo

. Classe de capacidade de uso Classe de Solo Área

ha %

III s CX1 44,74 7,48

III e,s LVA, PVA 340,95 56,99

VII s,a CX2, AR 212,01 35,44

VIII GX 0,53 0,09

Total 598,23 100,0

Quadro 6. Legenda de classes de capacidade de uso das terras do PA Monte Alegre, Muqui, Espírito

Santo

Classes de capacidade de uso Descrição Área

ha %

Classe III Terras cultiváveis que requerem medidas intensivas ou complexas para

utilização com culturas anuais com problemas complexos de conservação do

solo

350,28 80,17

Classe VII Terras com severas limitações, cultiváveis em casos especiais com culturas

permanentes e adaptadas em geral para pastagem ou reflorestamento, para os

quais também pode apresentar limitações, com problemas complexos de

conservação de solos.

54,44 12,46

Classe VIII Terras impróprias para culturas, pastagens ou reflorestamento, podendo servir

como abrigo de fauna silvestre e, ou, como ambiente fins de armazenamento

de água e, ou, recreação.

32,20 7,37

TOTAL

436,92 100,0

Figura 9. Classes de Capacidade de uso das terras na área do PA Monte Alegre, Muqui, ES.

Na classe III (e,s), estão incluídos o Latossolo Vermelho-Amarelo e Argissolo Vermelho-

Amarelo com uma área aproximada de 340,95 ha (56,99%). Possuem risco severo de erosão por

ocorrerem em áreas de relevo com declive acentuado. Estes solos são propícios para cultivos com uso

de correções e adubações e necessitam de práticas de controle de erosão intensivas.

Na classe III s foram incluídos o Cambissolo Háplico com cerca de 44,74 ha (7,48%).

Apresenta alto potencial de fertilidade devido a presença da rocha próxima a superfície, mas, devido a

sua pouca profundidade apresentam problemas de disponibilidade hídrica. Recomenda-se para o

Assentamento a sua utilização com cultivos anuais de ciclo curto e que se aproveite o período das

chuvas. Nos períodos seco pode e devem ser utilizados com pastagem.

Os Afloramentos Rochosos, Neossolo Litólico e os Cambissolo Latossólico foram incluídos

na classe VII s,a distribuídos em uma área de 210,01 ha (35,44%). Recomenda-se que estes solos

sejam destinados a preservação da fauna e flora e a reserva legal. Os Cambissolos Latossólicos são

solos rasos, declivosos e apresentam alta suscetibilidade a deslizamentos e de erosões, iniciando neles

as voçorocas.

Na classe VIII estão incluídos os Gleissolos Háplicos com uma área aproximada de 0,53 ha

(0,09%). Apresentam como limitações o excesso de umidade como também risco de assoreamento.

Tem sido usado com pequenas áreas de arroz e pastagem de braquiária.

CONCLUSÃO

O sistema de capacidade de uso da terra é uma ferramenta adotada para o planejamento e

manejo do uso da terra nas atividades agrícolas, já que possibilita visualizar a capacidade com que

podemos trabalhar na terra além de evidenciar os fatores limitantes e as atividades conservacionistas

necessárias.

O PA Monte Alegre possui 99,01% de seu território, ou seja, quase a sua totalidade com

suscetibilidade à erosão, com exceção somente da unidade de mapeamento dos Gleissolos. Todas as

unidades em que é possível a prática da agricultura possuem baixa fertilidade e a região de boa

fertilidade não é indicada para a atividade agrícola por estar nas regiões de várzea, próximas aos

corpos d’água.

Desta maneira conclui-se que é fundamental para que o PA Monte Alegre possa maximizar o

seu potencial agrícola sem o comprometimento dos recursos naturais o respeito à capacidade de uso de

cada um dos tipos de solo, além da adoção de práticas conservacionistas principalmente em relação à

fertilidade e à erosão, principais fatores de risco à atividade agrícola na área.

REFERÊNCIAS

AB’SABER, AZIZ NACIB. Os Domínios de Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.

São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 142 p.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Serviço

Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Levantamento de reconhecimento

de solos do Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: 1978. 461p.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.

Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.

LEPSCH, I. F.; JR BELLINAZZI, R.; ESPINDOLA, C.R. Manual para levantamento utilitário do

meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Sociedade Brasileira de

Ciência do Solo. 4a aprox. Campinas, 1991. 175p.

LOPES, O.M.N.; RODRIGUES, T.E.; OLIVEIRA JÚNIOR, R.C. de. Determinação de perdas de

solos, água e nutrientes em Latossolo Amarelo, textura argilosa do Nordeste Paraense.

Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 1999. 36p. (Embrapa Amazônia Oriental. Boletim de

Pesquisa, 19)

MÜNSELL. Soil Color Charts. Maryland, 1994.

RADAMBRASIL - PROJETO RADAMBRASIL. Levantamento de recursos naturais – folha SF.

23/24. Rio de Janeiro/Vitória. Rio de Janeiro: 1983. 780 p.

RESENDE, M.; CURI, N.;REZENDE, S.B. e CORRÊA, G.F. Pedologia: base para distinção de

ambientes. 5. Ed. Lavras: Editora UFLA, 2007. 322 p.

This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.This page will not be added after purchasing Win2PDF.