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Introdução
“A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para
a escola. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares; estas
não podem ser conduzidas a bom termo se as crianças não tiverem tomado
consciência do seu corpo, lateralizar-se, situar-se no espaço, dominar o tempo; se
não tiver adquirido habilidade suficiente e coordenação de seus gestos e
movimentos.” (Le Boulch, 1988).
O treino das Capacidades Coordenativas é fundamental não só a nível desportivo
como no processo educativo da criança. O seu treino é uma forma de qualquer
pessoa optimizar o seu desempenho motor e o seu desempenho cognitivo e com
isso o seu bem-estar, pois, a coordenação está presente em todas as actividades
diárias. As capacidades coordenativas se exploradas e trabalhadas
convenientemente permitem processar informação de forma mais complexa e
especializada melhorando o reportório motor, permitindo uma resposta mais rápida
e com um menor dispêndio energético. Neste contexto surge a Escola através da
Educação Física como espaço privilegiado, para um trabalho variado de
experiências motoras que permitam uma melhoria da coordenação motora e
consequentemente do desenvolvimento global. É neste âmbito, que este trabalho
surge, com o objectivo de ser mais um instrumento de auxílio no conhecimento,
sobre a importância, na infância, do treino das capacidades coordenativas, por
parte de toda a comunidade educativa.
O conceito das capacidades coordenativas
“Coordenação é a interacção harmoniosa e económica do sistema músculo-
esquelético, do sistema nervoso e do sistema nervoso sensorial com o fim de
produzir acções motoras precisas e equilibradas, importância em várias disciplinas
científicas como a aprendizagem motora, o controlo motor e o desenvolvimento
motor”, (Kiphard, 1976). O mesmo autor refere que “a coordenação do movimento,
de acordo com a idade, é a interacção harmoniosa e, na medida do possível,
económica, dos músculos, nervos e órgãos dos sentidos, com o fim de produzir
acções cinéticas precisas e equilibradas e reacções rápidas e adaptadas à
situação”.
Para Meinel (1976), a coordenação é a “capacidade de organizar movimentos
para atingir, um objectivo determinado”, enquanto Frey (1977), citado por Weineck
(1986), realça que a coordenação permite ao atleta dominar acções motoras com
precisão e economia, que podem ser previsíveis (estereótipos) ou imprevisíveis
(adaptação) e aprender relativamente depressa os gestos desportivos.
Na interpretação de Weineck (1986), a coordenação é “ a acção combinada do
sistema nervoso central e da musculatura esquelética, objectivando uma sequência
de movimentos”.
Hirtz (1986), define as capacidades coordenativas como uma classe das
capacidades motoras que em conjunto com as capacidades condicionais e as
habilidades motoras, permitem retirar rendimento do corpo, e que são
determinadas na sua essência através de processos de condução nervosa.
Para Meinel e Schnabel (1987), a coordenação motora é a capacidade de
harmonizar os processos na acção motora em relação ao objectivo que se pretende
atingir. Os mesmos autores entendem que as capacidades coordenativas
possibilitam ao atleta ”dominar, de forma segura e económica, acções motoras em
situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adaptação), como também
aprender movimentos desportivos”.
Segundo Adelino, Vieira e Coelho (2000) a função da coordenação é convergir as
diversas funções orgânicas e psíquicas.
Verifica-se na literatura da especialidade uma diversidade em relação à definição
das capacidades coordenativas, segundo Barbanti (1996), isto deve-se ao facto dos
estudos serem efectuados por especialistas de áreas distintas, defende ainda que
esta definição devia ser uniformizada, com o intuito de possibilitar um melhor
planeamento e consequente operacionalização por parte dos profissionais da área.
Classificação das capacidades coordenativas
Como nos refere Roth (1999), na literatura podem encontrar-se numerosos
estudos sobre as capacidades coordenativas, onde se pode verificar quais os
critérios usados pelos autores para definir as capacidades, como foram
quantificadas e que capacidades coordenativas foram avaliadas: Fleishman e col.
(1954, 1955), Puni (1961), Blume (1978), Roth (1982), Teipel (1982), Hirtz (1985),
Zimermann (1987) e Cumbee (1988).
Em relação às classificações conhecidas os diversos autores recomendam
diferentes sistematizações, uma é a de Schnabel (1974), que sistematiza três
capacidades coordenativas básicas:
1. Capacidade de controlo motor - baseia-se nas componentes de coordenação
da capacidade de diferenciação cinestésica, da capacidade de orientação
espacial e da capacidade de equilíbrio;
2. Capacidade de aprendizagem motora - depende da capacidade de
aprendizagem motora e ainda da capacidade de controlo motor;
3. Capacidade de adaptação e readaptação motoras – são os mecanismos da
apreensão, do tratamento da retenção da informação.
Hirtz (1986) subordina às três capacidades básicas cinco capacidades essenciais
de coordenação:
1. Capacidade de orientação espacial - faculdade de se aperceber das
modificações espaciais à medida que elas intervêm na execução dos
movimentos;
2. Capacidade de diferenciação cinestésica - faculdade de controlar as
informações provenientes da musculatura, de apenas reter as mais
importantes e de dosear a força a empregar;
3. Capacidade de reacção - faculdade de analisar rapidamente a situação e de
lhe aplicar a resposta motora mais adequada;
4. Capacidade de ritmo - faculdade de imprimir uma certa cadência à
realização de um movimento ou de “apanhar” essa cadência se ela é dada;
5. Capacidade de equilíbrio - faculdade de manter uma posição, mesmo em
condições difíceis, ou de a recuperar rapidamente se ela é perturbada.
Para Pohlman, citado por Barbanti (1996), as capacidades coordenativas são:
1. Capacidade de diferenciação sensorial - capacidade de diferenciar as
sensações extraídas dos objectos e dos processos através dos nossos órgãos
dos sentidos, face a uma necessidade específica de uma actividade;
2. Capacidade de observação - capacidade de perceber o desenvolvimento de
um movimento próprio ou de outros, assim como os objectos imóveis, com
base em critérios seleccionados;
3. Capacidade de representação - capacidade de mentalizar situações bem
determinadas, processos de movimentos, objectos etc., com base nas
informações disponíveis;
4. Capacidade de antecipação - capacidade de prever o desenvolvimento e o
resultado de uma acção motora ou de uma situação e, a partir desta,
preparar a próxima acção;
5. Capacidade de ritmo - capacidade de articular o desenvolvimento de um
movimento e de agrupar o desenvolvimento temporal e dinâmico que
caracteriza o movimento;
6. Capacidade de coordenação motor - capacidade de assegurar uma
adequada combinação de movimentos que se desenvolvem ao mesmo
tempo ou em sucessão;
7. Capacidade de controlo motor – capacidade de poder responder às
exigências elevadas de precisão de movimentos do ponto de vista espacial,
temporal e dinâmico;
8. Capacidade de reacção motora - capacidade de reagir rápida e
correctamente a determinados estímulos;
9. Capacidade de expressão motora - capacidade de criar os próprios
movimentos, criando uma expressão artística e provocando uma expressão
estética.
Estas capacidades são condicionadas pela capacidade de elaboração das
informações por parte dos analisadores implicados na formação do movimento
(tácteis, cinestésicos, estático-dinâmicos ou vestibulares, visuais e acústicos.
Segundo Meinel e Schnabel (1984), Weineck (1999), podem ser assim classificados:
Analisadores cinestésicos – funcionam através de proprioceptores existentes
nos músculos, tendões, ligamentos e articulações que informam o sistema
nervoso central, através de fibras nervosas, das forças exercidas sobre
estes;
Analisadores tácteis – funcionam através de receptores existentes na pele,
que informam sobre a forma, superfície dos objectos, etc.…;
Analisadores vestibulares – que se situam no ouvido interno, e que informam
sobre as mudanças na direcção, aceleração e velocidade dos movimentos da
cabeça;
Analisadores visuais – que através dos seus receptores informam sobre a
percepção da distância, da relação dos próprios movimentos e os de outras
pessoas.
Analisadores acústicos – estão relacionados com os estímulos que se recebe
através dos sons.
Weineck (1999), subdivide a coordenação em geral e especial, sendo a primeira
aquela que resulta da instrução geral para o movimento em diversas modalidades
desportivas, ou seja, manifesta-se em diversos sectores da vida quotidiana. Já a
coordenação especial é aquela que se forma no contexto de uma modalidade
desportiva específica, ou seja, são movimentos específicos de uma modalidade
desportiva.
O rendimento das capacidades coordenativas depende muito da capacidade
destes analisadores fornecerem informação adequada, para Fonseca (1999), se as
informações sensoriais transmitidas por estes analisadores não forem precisas ao
nível da recepção (input), não serão bem integradas no cérebro e o produto final
(output) em consequência sairá inadequado.
Importância das capacidades coordenativas
O trabalho em conjunto com as capacidades condicionais melhora a realização de
movimentos coordenados ( Meinel e Schnabel, 1984).
“Uma boa disponibilidade para o movimento e um bom desenvolvimento ao nível
das capacidades coordenativas são aspectos significativos e determinantes no
quadro da formação corporal dos atletas.” (Hirtz e Holtz, 1986).
“…as capacidades coordenativas desempenham um papel primordial na
estrutura do movimento com reflexos nas múltiplas aptidões necessárias para
responder às exigências do dia-a-dia, do trabalho e do desporto”. (Hirtz, e Schielke,
1986)
De acordo com Meinel e Schnabel (1987), as capacidades coordenativas são
requisitos fundamentais para o atleta praticar de uma forma óptima uma
determinada modalidade desportiva, diz ainda, que associados a estas estão,
aspectos perceptivos, cognitivos e menemónicos, sublinhando a inter-relação que
existe entre estes elementos.
O desenvolvimento das capacidades coordenativas é imprescindível ao
desenvolvimento das capacidades condicionais (força, velocidade, resistência,
flexibilidade) e vice-versa, como refere Barbanti (1996),
Greco e Benda (1998), afirmam que quer ao longo da vida, quer na iniciação
desportiva, quer no desenvolvimento motor do Homem é imprescindível o trabalho
de coordenação motora. Os mesmos autores referem que desenvolver a
coordenação motora não só é importante na optimização das técnicas desportivas
específicas, mas também no desempenho motor e no bem-estar do indivíduo.
Weineck (1999) afirma que “as capacidades de coordenação são a base de uma
boa coordenação sensório-motora; quanto mais elevado for seu nível mais depressa
e mais seguramente poderão se aprender movimentos novos ou difíceis”.
Segundo, Fonseca (1999), o cérebro deve integrar toda a informação dos seus
analisadores, porque sem essa interacção dinâmica, o cérebro não funciona de
forma adequada, fazendo com que a aprendizagem seja difícil e desmotivante. O
trabalho de forma sistemática das áreas de integração táctilo-quinestésica, visual e
auditiva, possibilita um aumento do seu repertório motor, o processamento de
informação de forma mais complexa e especializada, permitindo uma economia de
esforço, uma maior adaptação quando há modificações do ambiente ou de
situações.
Quando e como desenvolver as capacidades coordenativas
Weineck (1986), Hirtz e Schielke (1986), afirmam que é necessário respeitar a
idade sensível a estas capacidades para que se obtenham bons resultados, é
consensual a ideia que é durante a infância até a puberdade o período propício,
para que exista sucesso, pois, ocorre uma rápida maturação do sistema nervoso
central.
Greco e Benda (1998), complementam esta ideia quando dizem que é nos
primeiro anos de vida que o desenvolvimento da coordenação motora se inicia e
existirão melhorias no seu desenvolvimento se estimulado desde a infância, ideia
esta, reforçada por Fonseca (1999), se o cérebro durante o período pré-escolar
trabalhar bem e de forma sistémica as várias áreas de integração táctilo-
quinestésica, visual e auditiva vão poder processar informação de forma mais
complexa e especializada.
Segundo Barbanti (1979), Weineck (1999), devem realizar-se algumas tarefas
para que exista um aperfeiçoamento coordenativo na educação física e no desporto
de jovens, tais como:
Aperfeiçoar e utilizar as várias formas de base de motricidade (marchar,
correr, saltar, balançar, trepar, lançar, apanhar, etc.) e garantir o
enriquecimento sistemático de experiências motoras;
Aperfeiçoar as capacidades coordenativas fundamentais (capacidade de
diferenciação cinestésica, capacidade de orientação espacial, capacidade de
equilíbrio, capacidade de reacção, capacidade de ritmo);
Garantir uma racional aquisição e consolidação das técnicas desportivas
através de uma ligação sistemática do aperfeiçoamento das capacidades
coordenativas com o processo de aprendizagem motora;
Combinar de forma óptima o aperfeiçoamento das capacidades condicionais
e coordenativas.
Bibliografia
Adelino, J., Vieira, J., Coelho, O. (2000): Treino de Jovens o que todos
precisam de saber!: Lisboa: M.J.D./C.E.F.D.
Barbanti, V. (1996): Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo:
CLR Balieiro.
Fonseca, V., (1999): Perturbações do Desenvolvimento e da Aprendizagem.
Tendências Filogenéticas e Ontogenéticas: Lisboa: fMH edições.
Greco, P. J., Benda, R. N. (1998): Iniciação Esportiva Universal: da
aprendizagem motora ao treinamento técnico. V. 1. Belo Horizonte: Editora
UFMG.
Hirtz, P., (1986): Rendimento desportivo e capacidades coordenativas:
Horizonte III (13).
Hirtz, P., Holtz, D., (1986): Como Aperfeiçoar as Capacidades Coordenativas.
Exemplos Práticos: Horizonte III (17).
Hirtz, P., Schielke, E., (1986): O Desenvolvimento das Capacidades
Coordenativas nas Crianças, nos Adolescentes e nos Jovens Adultos:
Horizonte III (15).
Le Boulch, J. (1988): O Desenvolvimento Psicomotor – do Nascimento até aos
6 anos: Rio de Janeiro: Editora Artes Médicas.
Kiphard, E. J. (1976): Insuficiências de movimiento y de coordinación en la
edad de la escuela primaria: Buenos Aires: Kapeluscz.
Meinel, K. (1976): Motricidade II. O desenvolvimento motor do ser humano.
Ao Livro Técnico: Rio de Janeiro.
Meinel, K., Schnabel, G. (1984): Motricidade I. Teoria da Motricidade
Esportiva Sob o Aspecto Pedagógico. Ao Livro Técnico: Rio de Janeiro.
Meinel, K., Schnabel, G. (1987) Teoria del Movimiento: 7. ed. Buenos Aires:
Stadium.
Roth, K. (1999): De lo fácil a lo difícil. Gradualmente: aspectos teóricos,
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Stadium.
Weineck, J.(1986): Manual do Treino Desportivo: 2. ed. São Paulo. Ed.
Manole.
Weineck, J.(1999): Treinamento Ideal: São Paulo. Ed. Manole.
BIBLIOGRAFIA: http://www.efdeportes.com/efd132/treino-das-capacidades-coordenativas.htm