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SERVIÇO SOCIAL
_________________________________________________________________
JESSICA CRISTINA PEREIRA TOLEDO
CIDADÃO DA INSEGURIDADE: INCOMPATIBILIDADE ENTRE PROTEÇÃO
SOCIAL E TRABALHO INFORMAL
_________________________________________________________________
TOLEDO-PR
2013
JESSICA CRISTINA PEREIRA TOLEDO
2
CIDADÃO DA INSEGURIDADE: INCOMPATIBILIDADE ENTRE PROTEÇÃO
SOCIAL E TRABALHO INFORMAL
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado ao Curso de Serviço Social,
Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
como requisito parcial à obtenção do grau
de Bacharelado em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Ms. Ester Taube Toretta
TOLEDO-PR
2013
JESSICA CRISTINA PEREIRA TOLEDO
3
CIDADÃO DA INSEGURIDADE: INCOMPATIBILIDADE ENTRE PROTEÇÃO
SOCIAL E TRABALHO INFORMAL
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado ao Curso de Serviço Social,
Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
como requisito parcial à obtenção do grau
de Bacharelado em Serviço Social.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Professora Ms. Ester Taube Toretta
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
________________________________________
Professora Ms. Cristiane Carla Konno
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
________________________________________
Professora Ms. Diuslene Rodrigues Fabris
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Toledo, 14 de novembro de 2013.
4
Dedico este trabalho a Deus, sem Ele não
sou nada, é Ele quem me mantém de pé! A
minha família na pessoa de Aparecido de
Carvalho Toledo e Maria Aparecida
Pereira, por me manter estudando e pelas
horas exaustivas de trabalho para sempre
nos dar o melhor, obrigada. A Letícia
Caroline Pereira Toledo, pelo apoio.
Ao meu namorado Fernando pelo apoio e
por ter me ajudado a não perder esperança
Aos trabalhadores que fizeram parte da
pesquisa, pois sem eles não seria possível
essa construção de conhecimento, pelo
exemplo de superação e crescimento como
futura profissional.
5
AGRADECIMENTOS
Acima de tudo agradeço a Deus, pois o que sou e o que conquistei é graças a Sua força e
proteção. A Ele toda a honra seja dada eternamente, obrigada Senhor!
Aos meus pais por ter me dado à oportunidade única e especial de permanecer somente
estudando e investindo na minha formação. Por isso, Sra. Maria Aparecia Pereira e Sr. Aparecido de
Carvalho Toledo, essa vitória também é vossa. À Letícia Caroline P. Toledo, pela compreensão e
ajuda. À família extensa como um todo, obrigada pela compreensão.
Ao meu namorado Fernando Cristofoli que sempre está ao meu lado e apoiando e me
incentivando, numa partilha de alegrias, tristezas, angustias e felicidade, compreendendo sempre as
ausências inevitáveis e as minhas falhas. Obrigada Fer... Te amo!
Ao Grupo de Oração da minha comunidade, pela compreensão e amparo nos momentos
difíceis e por compreenderem minha ausência. Aos meus amigos que ficaram comigo em cada
situação, pelo braço estendido, pelo ouvido sempre dispostos a ouvir. Sou grata pela confiança que
sempre depositaram em mim.
Às pessoas que marcaram minha trajetória acadêmica, que se tornaram pessoas especiais
para mim e com certeza cresci, aprendi, adquiri muitos saberes por meio delas. E, a vida universitária
seria diferente e, no mínimo, sem graça sem o apoio e a amizade de cada uma, obrigada por tudo,
nunca esquecerei vocês. São elas: Édina Maria da Silva Marcelino, Adriana Isabel Penteado de Sá,
Simone Aparecida de Lima. E aos colegas que comecei a conhecer a pouco tempo, mas que são
pessoas que também marcaram essa trajetória: Suellen Andressa Matte, Daniela Liesenfeld e
Anderson Tosti.
A todos os docentes do curso, pelo conhecimento compartilhado assim como partes
importantes de suas vidas, como experiências, lições de vida e luta. Obrigada por contribuírem com a
minha formação, tanto profissional quanto humana.
A Dalas Cristina Miglioranza do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), por ter
me auxiliado nesse processo em todas as questões, dificuldades, por ter dado a oportunidade do
estágio, e poder compartilhar sua experiência comigo. Pelo aprendizado e pelo conhecimento
adquirido sob sua supervisão. Através do seu compromisso com a profissão, com seu posicionamento
e seu agir ético no exercício profissional é que fez do estágio uma das melhores experiências que já
tive dentro da academia. Sua transparência e dedicação ao Serviço Social me incentiva ainda mais a
acreditar que sempre se pode fazer algo a mais em prol do usuário e me impulsiona a pensar uma
profissão que realmente honra a práxis. Embora com dificuldades externas e internas o projeto
profissional pode ser efetivado, através do comprometimento do profissional.
Às profissionais que trabalham no mesmo setor do HUOP, por ter me auxiliado no que
precisei, pelo carinho e atenção de todas, Sendo elas: Daniela Prochnow Gund, Nelci Maria Vagner,
Neusa Ribeiro Godinho, Neusa Gris Weber. As Assistentes Social mais o meu Muito Obrigado. Não
poderia deixar de agradecer à estagiária do setor do período da tarde, Anne Rosa, pela ajuda e
presença agradável.
À minha orientadora e supervisora acadêmica (que é um ser humano incrível, alegre e
extrovertido), docente Ms. Ester Taube Toretta. Obrigada pelo trabalho desprendido, esforço e
dedicação para que esse conhecimento fosse possível de ser construído, com seu comprometimento e
compromisso. À Cristiane Konno, que também foi minha supervisora de campo. Obrigada por
contribuir com meu processo de formação e por partilhar de suas experiências.
Ao Marcelo, motorista da vã, pela responsabilidade com que dirige seu trabalho. Aos colegas
da vã, pelas risadas e por partilharem um pouco de si.
Aos funcionários desta instituição, pois o trabalho de vocês é imprescindível para que a nossa
formação ocorra plenamente. A todos, meu carinho e admiração. À Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (UNIOESTE), e a todos que mantêm essa instituição funcionando e garantindo uma
educação de qualidade e gratuita.Ao Curso de Serviço Social da referida instituição, por me
proporcionar o conhecimento e o crescimento como pessoa. Em especial aos convidados para fazerem
parte da banca.
6
Apesar De Você (Chico Buarque)
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
[...]
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
[…]
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
[...]
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
[...]
7
TOLEDO, Jessica Cristina Pereira. Cidadão da Inseguridade: Incompatibilidade entre
Proteção Social e Trabalho Informal. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – Campus Toledo – PR, 2013.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) abrange a discussão sobre a seguridade
social e trabalho informa, ainda, que estas são garantidas ao paciente do Hospital
Universitário do Oeste do Paraná. São atendidos pelo “Projeto Ambulatório Interdisciplinar de
Seguimento em Terapia Intensiva” (Ambulatório Pós-UTI). A aproximação com o tema teve
origem no campo de estágio, por meio de contato direto com os pacientes e dos cadastros
realizados pela profissional no campo, onde a pesquisadora realizou seu estágio e
acompanhou vários atendimentos. As discussões sobre a temática trabalho e informalidade
são fundamentais para a compreensão das transformações que ocorrem no sistema capitalista,
que, consequentemente, refletiram e proporcionaram embates na vida do paciente, tanto em
sua condição econômica quanto de direitos. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para
levantamento do material a ser utilizado como referencial, tais como Ivanete Boschetti, Elaine
Rossetti Behring, Elisabete Mota, Manoel Luiz Malaguti, Evaldo Vieira, entre outros autores
de perspectiva crítica. Posteriormente, foi definida a natureza da pesquisa sendo ela
qualitativa, documental e empírica. Pensando na relação entre trabalho informal e a
informalidade do trabalho, sabendo que o paciente só pode ter acesso aos benefícios
previdenciários se for contribuinte do sistema, levantamos o seguinte questão e que é objeto
dessa pesquisa: “Como a condição de trabalhador informal em tratamento médico de alta
complexidade impactam em sua condição socioeconômica e de trabalho?”. O objetivo
norteador foi “Analisar a seguridade do trabalhador informal, paciente do Projeto Pós-UTI do
HUOP”. Neste sentido, os trabalhadores, cidadãos brasileiros incorrem em limitações e
critérios que impactam na sua condição de vida, principalmente em períodos de reabilitação.
Palavras Chave: Seguridade Social, Proteção Social e Trabalho Informal.
8
LISTA DE SIGLAS
CAPs
CNPS
CLT
CF/88
IBGE
IPEA
INSS
IAPs
INPS
LOAS
PRORURAL
RGPS
SUS
UTI
Caixas de Aposentadorias e Pensões
Conselho Nacional de Previdência Social
Consolidação das Leis do Trabalho
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
Instituto Nacional de Seguridade Social
Institutos de Aposentadorias e Pensões
Institutos Nacional de Previdência Social
Lei Orgânica de Assistência Social
Programa Rural
Regime Geral de Previdência Social
Sistema Único de Saúde
Unidade de Terapia Intensiva
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Modalidade de intervenção ............................................................................... 38
QUADRO 2 - Dados Populacionais ......................................................................................... 50
QUADRO 4 - Dificuldades enfrentadas no período de recuperação da sua saúde .................. 59
10
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Distribuição Relativa dos Benefícios Emitidos por Classe .............................. 51
GRÁFICO 2 – Receitas e Benefícios da Previdência............................................................... 51
11
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................. 07
LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................ 08
LISTAS DE QUADROS ......................................................................................................... 09
LISTA DE GRÁFICOS .......................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 NOTAS INTRODUTÓRIAS DO ESTADO DE DIREITO ............................................. 13
1.1 ESTADO BRASILEIRO E SUA RELAÇÃO COM A CLASSE TRABALHADORA:
DIREITOS SOCIAIS E TRABALHISTA DA REPÚBLICA VELHA À VARGAS ............... 22
1.2 ESTADO BRASILEIRO SOB A ÉGIDE NEOLIBERAL: REBATIENTOS NA CLASSE
TRABALHADORA ................................................................................................................. 28
2. A SEGURIDADE SOCIAL E A PROTEÇÃO SOCIAL DA CLASSE
TRABALHADORA ................................................................................................................ 34
2.1 ORIGEM DA SEGURIDADE SOCIAL E OS MOLDES DE PROTEÇÃO SOCIAL ..... 34
2.2 SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E OS DIREITOS DO TRABALHO ................. 39
2.3 A SEGURIDADE PÓS CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ....................................................... 41
3 TRABALHADORES INFORMAIS, CONDIÇÕES DE VIDA E OS MEIOS DE
SOBREVIVÊNCIA: PERSPECTIVAS E ANÁLISE .......................................................... 52
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LÓCUS DA PESQUISA ........................................................ 54
3.2 PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA E A EXPRESSÃO DA QUESTÃO
SOCIAL....................................................................................................................................54
3.3ELEMENTOS DA PROTEÇAO SOCIAL EM TORNO AO SUJEITO DA
PESQUISA................................................................................................................................58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 62
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 66
APÊNDICES ........................................................................................................................... 71
ANEXOS ................................................................................................................................. 78
12
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é uma construção advinda da experiência obtida na disciplina de
Estágio Supervisionado I, através das atividades realizadas no Ambulatório do Hospital
Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). O projeto está direcionado a atender pacientes que
sofreram algum tipo de trauma e permaneceram por um período na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI).
No decorrer da observação participante propiciada pelo estágio, notou-se que alguns
pacientes ficavam vulneráveis por sua condição de trabalho e apresentavam limitações para o
amparo nas políticas de seguridade social, permanecendo à margem dos direitos garantidos
para os demais trabalhadores. Nesse sentido, faz-se necessário conhecer cientificamente a
condição de trabalhador informal em tratamento médico de alta complexidade e os impactos
em sua condição socioeconômica e trabalho.
Dentro do Projeto Pós-UTI, o Serviço Social intervém profissional no atendimento ao
paciente visando a obstruir os limites que fragilizam a plena reabilitação do paciente de ordem
socioeconômica.
A pesquisa e a abordagem serão feitas por meio da temática saúde e seguridade do
trabalhador informal. Os pacientes, apesar de estarem fora setor formal, fazem parte da classe
trabalhadora e estão na informalidade sob a condição de não contribuinte, não estando
assegurados; portanto, estes foram o centro dessa pesquisa. Contudo, outra situação
encontrada é a condição para o trabalho que já era fragilizada e torna-se inapta por causa do
trauma ou sequela, refletindo em sua condição de vida. Assim, indicando uma divergência
entre o discurso dos direitos sociais, saúde e trabalho e a forma como isso rebate na vida do
paciente, bem como de sua família.
Neste intuito, o problema que se apresenta para a pesquisa
demanda da condição de trabalhador informal em tratamento médico de alta complexidade e
como impactam em sua condição socioeconômica e em seu trabalho, um estudo com objetivo
de entender e respaldar a desigualdade de condições e vulnerabilidade dos trabalhadores.
A discussão feita no primeiro capítulo perpassa a concepção de Estado, transcorrendo
da formação do Estado moderno com os autores clássicos até chegar ao neoliberalismo,
sempre reiterando a perspectiva dos direitos, evidenciando à cidadania. Já o segundo capítulo
abordará a construção da proteção social e da seguridade social, eixo fundante deste trabalho
articulado à questão do trabalho informal.
13
1 NOTAS INTRODUTÓRIAS DO ESTADO DE DIREITO
O Estado, desde os autores clássicos que discutem as diversas formas de governo, é
retratado sob um aspecto que BOBBIO (1998) chama de “Concepção negativa de Estado”.
Compreendida como uma maneira de sanar o que é próprio do ser humano, ou seja, a natureza
má, sendo o Estado aparelho de controle extremamente necessário para a que a repressão
continue contra tal condição humana.
Para que exista o Estado, Abreu cita cinco pré-condições que são atribuídas, tais como:
[...] Uma sociedade nacional ordenadas em bases capitalistas, isto é, em que as
principais riquezas sejam produzidas como bens privados dos proprietários dos
meios de produção […]. 2) Um Estado que exerça a sua jurisdição política (por
meio da lei e dos poderes de coerção) sobre o território e a sociedade de uma nação
com a finalidade de garantir esta ordem social, especialmente as suas condições de
existência (capital e trabalho) […]. 3) O desenvolvimento de um forte movimento
ético-político contrário a esta ordem social e política […]. 4) O desenvolvimento de
teorias e estratégias sociopolíticas reformadoras do capitalismo e do Estado. [...] De
um modo geral, a execução destas estratégias exigiam a constituição de uma elite
política profissional, dedicada ao exercício do poder e capaz de organizar o
consenso social e político, isto é, capaz de integrar a maioria das classes subalternas
insurgentes à ordem vigente. Exigiam, também, uma burocracia especializada na
gestão das instituições públicas e privadas que se constituíam para a implementação
destas políticas. 5) A produção de um excedente econômico crescente e que possa
ser socialmente redistribuído sem ameaçar a ordem capitalista. (2000, p.35 -37, grifo
do autor)
A partir da compreensão do que se passou no período do Estado liberal clássico,
entendemos como, e a partir de qual visão, ele se estrutura. Em se tratando de Liberalismo sob
uma visão conservadora, o que este significa? Conforme Stewart (1988), “O liberalismo é
uma doutrina política. [...] voltada para a melhoria das condições materiais do gênero
humano” (p.13).
Os clássicos liberais são: Maquiavel, Thomas Hobbes, Jean Jacques Rousseau e John
Locke. A visão que predominava nessa época era Renascentista, o antropocentrismo, que era a
base, tornava a política secularizada. Em sua obra, Maquiavel defendia o estado como pilar
em que a política se tornava forte. O autor defendia a ideia de que o estado tinha sua própria
razão, que era separada da religião e, consequentemente, da moral.
Como o autor é o precursor do pensamento político moderno, podemos destacar a
primeira fase do estado moderno caracterizado por:
14
[…] uma premissa básica do mundo moderno: a de que ao Estado – que na parábola
de Maquiavel é O Príncipe -, cabe a função de assegurar a convivência entre os
indivíduos. Pois que desiguais e auto referidos, os indivíduos, por si, não engendram
a ordem necessária à própria vida social. (VIANNA, 2008, p.143, grifo do autor).
Maquiavel tinha, portanto, seus estudos pautados nos acontecimentos de sua época,
não visando à realidade que poderia ser construída, mas como tal se coloca no presente,
sempre com o foco na realidade concreta e efetiva das coisas. Com essa linha de raciocínio,
como poderia então ter um reinado com o estabelecimento da ordem, um Estado inerte, como
evitar a variação da estabilidade para o caos? Pensando em uma resposta, acaba por romper-se
o que havia sido refletido por séculos, a ideia da ordem natural, assim como a visão do eterno.
[…] a ordem tem um imperativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o
caos e a barbárie, e, uma vez alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em
germe, o seu trabalho em negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita. [...] Ela é o
resultado de feixes de forças, proveniente das ações concretas dos homens em
sociedade, ainda que nem todas as facetas venham do reino da racionalidade e sejam
de imediato reconhecíveis. [...] constante transmutação e fluxo, que determina seu
curso pelo movimento da realidade, transformará Maquiavel num clássico da
filosofia política[...]. (SADEK, 2002, p.18).
Destaca o poder que todos temos, mas sem a ideia de que ele existe. Mas, para
conhecê-lo, não há como fugir da incerteza, da eventualidade. Ter em mente que nada
permanecerá estável, e que o âmbito da política é constituído por mecanismos variados, aos
quais acabam norteando as vias do privado.
[…] transformam a história numa privilegiada fonte de ensinamentos. Por isso, o
estudo do passado não é um exercício de mera erudição, nem a história um suceder
de eventos em conformidade com os desígnios divinos até que chegue o dia do juízo
final, mas sim um desfile de fatos do quais se deve extrair as causas e os meios
utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana[...].
(SADEK, 2002, p.19).
Thomas Hobbes, por sua vez, defendia os ideais absolutistas, de acordo com Ribeiro
(2002), o estado de natureza serve como conceito para denominar o estado em que o homem
vivia antes de viver em “sociedade”, uma visão do indivíduo visto isoladamente. No período
considerado como estado primitivo, o homem vivia sempre em guerra, um contra o outro,
devido à sua condição humana em que todos visam as suas paixões, vendo o outro como
inimigo. Porém, admite-se que o homem tem uma boa índole, pois, caso contrário, não
15
sobreviveria.
É neste contexto que entra a defesa do Estado, para ordenamento social, em que o
indivíduo limita a sua liberdade e a sua segurança para que possa ser representado em todas as
instâncias, e a ele garantir os devidos direitos expressos no contrato baseado no pacto. Dessa
forma, este serve como garantia de se fazer cumprir as leis estabelecidas, gerando o
contratualismo: “[...] reunir nas clareiras das florestas e fazerem um pacto social. [...] o
contrato só é possível quando há noções que nascem de uma longa experiência da vida em
sociedade.” (RIBEIRO, 2002, p.53).
Hobbes, no século XVIII, seguia a mesma linha de pensamento de seus antecessores,
ou seja, não acreditava na transformação do ser humano. Porém, discorre como o estado
deveria agir:
Mas não basta o fundamento jurídico. É preciso que exista um Estado dotado da
espada, armado, para forçar os homens ao respeito. Desta maneira, aliás, a
imaginação será regulada melhor, porque cada um receberá o que o soberano
determinar. [...] Mas o poder de Estado tem que ser pleno. [...] Jean Bodin, no século
XVI, e o primeiro teórico a afirmar que no Estado deve haver um poder soberano,
isto é, um foco de autoridade que possa resolver todas as pendências e arbitrar
qualquer decisão. Hobbes desenvolve essa ideia, e monta um Estado que é condição
para existir a própria sociedade. A sociedade nasce com o Estado. (RIBEIRO, 2002,
p.61-62, grifo do autor)
O autor em questão, possui uma visão ímpar de Estado, que tem por base a relação da
figura do governante e aqueles que são norteados por suas ações coercitivas, assim sendo:
[...]esquema: um governante que fere e, por isso, um súdito que recupera sua
liberdade natural. [...]no Estado absoluto de Hobbes, o indivíduo conserva um
direito à vida talvez sem paralelo em nenhuma outra teoria política moderna. [...]
Estado Hobbesiano continua marcado pelo medo. [...]Hobbes diz: o soberano
governa pelo temor (awe) que inflige a seus súditos. Porque, sem medo, ninguém
abriria mão de toda a liberdade que tem naturalmente; (RIBEIRO, 2002, p.71)
Outro autor clássico é Jean Jacques Rousseau que, de acordo com o autor Nascimento
(2002), pretendia descobrir qual a modalidade de pensamento que norteava e norteia a vida
dos seres humanos. Critica as artes, mas não recusa a ciência, seu ideal sábio está diretamente
ligado ao seu cunho moral. Assim, com o pensamento monárquico ainda em alta e o
mercantilismo, faz parte do grupo dos empiristas assim como Locke. No mesmo período,
16
ocorreu a revolução gloriosa e puritana.
O contrato pode ser resumido como a garantia de direitos para a comunidade no geral,
valendo-se do princípio da igualdade. Ao contrário do que diz Hobbes, Rousseau acredita que
o estado de natureza é o que expressa paz, sendo que o homem em si, é bom, com isso,
modifica sua relação com todos os indivíduos. A visão de homem mal ou ruim, advêm dos
organismos sociais e o governo acaba por ser o deformador da vontade de cada indivíduo.
[...]Os fins da Constituição da comunidade política precisam ser realizados. Donde
há necessidade de se criarem os mecanismos adequados para a realização desses
fins. Essa tarefa caberá ao corpo administrativo do Estado. [...]Mesmo sob regime
monárquico, segundo Rousseau, o povo pode manter-se como soberano, desde que o
monarca se caracterize como funcionário do povo. [...] Ao invés de submeter-se ao
povo, o governo tende a subjugá-lo. (NASCIMENTO, 2002, p.197)
O autor supracitado, chama a atenção também para a representação política, em que
uma vontade não pode ser meramente vontade. Assim, “[...] o corpo soberano que surge após
o contrato é o único a determinar o modo de funcionamento da máquina política, chegando
até mesmo a ponto de poder determinar a forma de distribuição da propriedade como uma da
atribuições da propriedade” (NASCIMENTO, 2002, p.196). Portanto, ninguém deve sair
prejudicado com isso.
[…] O que pretende estabelecer no contrato social são as condições de
possibilidade, de um pacto legítimo, através do qual os homens, depois de terem
perdido sua liberdade natural, ganhem em troca a liberdade civil. [...]No processo de
legitimação do pacto social, o fundamental é a condição de igualdade das partes
contratantes. (NASCIMENTO, 2002, p.195-196).
Neste mesmo período, viveu John Locke, que foi o principal autor no jurisnaturalismo,
ou teoria dos direitos naturais, semelhante ao pensamento de Hobbes. Estão em estado de
natureza, que, por intermédio do contrato social, realizam a passagem para o estado civil. Ele
se opõe à doutrina de Aristóteles, na qual diz respeito ao pensamento que a sociedade precede
ao sujeito. Estabelece que o indivíduo se coloca como anterior ao processo e à sociedade do
Estado. Para ele, os homens viviam em um Estado pré-social e político, dominado pelo estado
de natureza.
O estado de natureza era, segundo Locke, uma situação real e historicamente
17
determinada pela qual passara, ainda que em épocas diversas, a maior parte da
humanidade, e na qual se encontravam ainda alguns povos, como as tribos norte-
americanas. Esse estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano, baseado
na insegurança e na violência, por ser um estado de relativa paz, concórdia e
harmonia. (MELLO, 2002, p.84-85)
Os interesses individuais devem ser levados em conta, uma vez que o absolutismo na
figura do rei representava a vontade da maioria. Fundamenta-se na política liberal, em que os
indivíduos podem expressar sua vontade política. Para ele, o ser que infringir as regras das
leis naturais, como consequência terá o castigo. Acaba por se travar uma guerra em que todos
estão contra todos, entrando, assim, o papel do estado de garantir aos cidadãos a proteção, a
segurança e, sendo ainda, mediador de conflitos.
No que se refere à linearidade de pensamento entre os autores destacados como
clássicos, a cidadania entre eles é um assunto já explorado anteriormente, tendo diversas
concordâncias que os unem na compreensão do tema.
Em Hobbes e Rousseau, embora com distinções nítidas, a primazia foi colocada no
coletivo: aquele colocou-a no Estado, este na comunidade. Locke, ao contrário,
colocou-se no individual. Não era uma preocupação nova; ela já estava presente na
filosofia grega e medieval, mas adquiriu novo enfoque ao ser colocado como questão
do homem com a sociedade em que vive e com seu governo, constituindo-se em
objeto central da cidadania civil. (SOBOTTKA, 1998, p.194-195).
Conforme argumenta Abreu (2000), a construção histórica sobre o Estado reporta que
sua forma mais identificável com o capitalismo, tal qual se apresentava no século XIX, é o
Estado Liberal. Todos os cidadãos são colocados na condição de livre escolha do
desenvolvimento próprio de suas habilidades e competências, para adquirir bens e dispô-los
ao mercado.
Com base no autor, a compreensão do Estado considera que há uma diferença entre
sujeitos, o econômico e o político, sendo que o primeiro é ativo e se relaciona com o privado
através do mercado. Já o segundo, é passivo, tendo autonomia no âmbito público, porém, com
barreiras impostas pelo direito privado. A relação entre o privado e o público possuía grande
notoriedade, que somente quem tinha funções/responsabilidades na esfera privada estavam
habilmente capacitados para trabalhar no setor público.
As lutas de classes ocorriam fortemente e alcançaram seu auge em 1848, estas
perduraram até 1917 com a Revolução Russa. Ainda, modificaram os moldes do que já estava
18
posto como ético-político, visando uma nova ordem societária e política, identificando-se com
valores socialistas, de acordo com Abreu (2000). Tantas foram as jornadas excessivas de
trabalho, como miséria, exclusão de direitos políticos que permearam as relações sociais, que
foi necessário que os capitalistas e o Estado entrassem em negociação.
No século XVIII, com o advento do racionalismo, o entendimento sobre o que é ser
cidadão modifica-se através do entendimento de que por meio de uma política reformadora é
possível a modificação de si mesmo e a realidade que o cerca através da retenção de
conhecimento. “O sonho do progresso e da mudança via o uso da razão, abriu espaço para a
criação dos direitos sociais [...]” (GOHN,2008, p.22)
Abreu (2000) aponta que era necessário, nesse molde, a concessão de direitos, a
criação de uma elite política profissional, ao qual o autor destaca que seria capaz de organizar
uma mediação social e política que fosse eficaz no enquadramento da classe dita subalterna
insurgente ao proposto para a época. Para colocar em prática tais políticas, era preciso ter o
que o autor chama de burocracia1 especializada, que consistia na gestão do público e do
privado.
Conforme Abreu (2000), a Segunda Revolução Industrial datada no final do século
XIX em crise, traz a distribuição do excedente da economia para ser repassada a sociedade,
sem que a ordem do sistema fosse alterada. O capital e a modernização se uniram e essa
parceria junto ao industrial e o rompimento com as fronteiras nacionais, permitiram uma
enorme acumulação.
[…] Entre o final do século XIX e a metade da década de 20, em quase todas as
nações da Europa ocidental, os trabalhadores já haviam conquistado o direito de
votar e de serem votados, sistemas de saúde pública, direitos previdenciários
(seguros contra acidentes, aposentadorias, pensões etc.) [...] e outros direitos sociais.
[...]. (ABREU, 2000, p.37)
De acordo com o autor supracitado, todas as transformações amplificaram a
representatividade de funções econômicas e sociais. Além disso, os proprietários foram
sempre protegidos com o direito à propriedade, bem como as instituições públicas protegeram
os que não a detêm. Os Estados nacionais começam a intervir e a controlar as relações que
permeiam o capital e o trabalho através de leis e instituições públicas que fornecem serviços
1 A Burocracia é o meio para limitar o acesso à direitos, sendo “Fundamentada sob a lógica instrumental de
poder legal[...]. Destaca-se a incapacidade de a administração pública burocrática voltar-se para seus
cidadãos como clientes.” (BATISTA, 1999, p.68-69)
19
sociais.
De acordo com Bobbio (1998), baseado no pensamento de Marx, não há homem bom
ou mau, e sim há a sociedade ruim que através dela surgiu a divisão social do trabalho, tendo
como resultado a divisão de classe que mantém a desigualdade dos que têm a propriedade e
dos que são desprovidos dela. Contudo, está intimamente ligado ao controle intenso para a
manutenção do poder “[…] mas às condições objetivas das relações de produção que deram
origem a uma sociedade de desiguais, que só a força pode manter unida.” (BOBBIO,1998,
p.80).
Na mesma linha de pensamento delineada pelo autor, há o seu destaque à
particularidade do tema das formas de governo que Marx não se deteve ao Estado, tanto que
não foi produzida nenhuma obra escrita especificamente sobre o tema, pois este defendia a
dissolução do Estado como comenta Bobbio (1998).
[...]mesmo em Marx não encontramos uma genuína teoria das formas de governo.
[…] Está claro que Marx também não vê no Estado a finalidade da história: ele
deverá desaparecer, sendo substituído pela sociedade sem Estado, quando não
existirem mais classes antagônicas. (BOBBIO, 1998, p.80)
O Estado, na visão liberal, tem como finalidade guiar o desenvolvimento de uma
nação segundo o formato do modo de produção vigente, conforme Abreu (2000) destaca.
Ainda, atua na contenção de qualquer ação que fuja do controle político e social, como a
organização de lutas que podem desestabilizar sua forma de organização. Essa forma de
governo é baseada na construção que os atores fazem por meio de suas ações, sendo
instituições públicas que regulam recursos econômicos, bem como os interesses de classe.
Os interesses advindos das classes e dos grupos da sociedade são organizados como os
direitos inerentes à cidadania. De acordo com Gohn (2008), o conceito de cidadão surgiu na
Grécia por volta dos século V e VI a. C, sob o modelo dos primeiros moldes da democracia.
No que tange ao pensamento liberal, a cidadania representa uma representação pública dos
sujeitos. Dessa forma, com o advento do surgimento do homem burguês, o ser cidadão
ganhou outra conotação: o de proprietário de uma propriedade privada.
Criam-se os direitos civis para os cidadãos- proprietários, num momento em que as
demandas das classes proprietárias estavam em ascensão contra um Estado
absolutista. Eram direitos individuais que limitavam o poder do Estado sobre o
cidadão, sobre sua vida privada. (GOHN,2008, p.21, grifo nosso)
20
Passando por séculos, a concepção de cidadania ainda é compreendida por alguns
autores como um cidadão que “consome”. As ideias neoliberais irão reforçar este preceito que
impõe barreiras à construção/compreensão do que vem a ser a cidadania. As transmissões da
sociedade contemporânea, marcadas pela passagem do Estado liberal, são caracterizadas por
Soares (2000) por esse ser um período de perdas de direitos, desaparecem conquistas como a
perda da identidade dos direitos sociais.
Dessa maneira, torna-se tão conflitante que “[...] a legislação trabalhista evoluiu para
uma maior mercantilização (e, portanto, desproteção) da força de trabalho[...]”
(SOARES,2000, p.13). No universo do trabalho, “[...] o termo cidadania significa uma
ocupação aceitavelmente remunerada, na forma de emprego ou de outra modalidade. [...]”
(SOBOTTKA, 1998, p.194). O conflito e o embate muito inferior à compreensão universal de
direitos sociais ou do trabalho.
[...] cidadania igualmente vem associada a uma dupla referência: assegurar que
benefícios tidos como de direito sejam mantidos e levar a que outros que não
estejam ainda legalmente definidos passem a sê-lo. (SOBOTTKA, 1998, p.194,
grifo nosso)
O que, de fato, segundo Sobottka (1998), quer dizer cidadania? No entendimento do
autor, no âmbito das relações sociais, ela é a articulação entre as peculiaridades existentes nos
laços estabelecidos com pontos em comum ou pontos divergentes, sendo vistos como uma
forma geral de identidade coletiva e uma forma de emancipação. Ressalta-se que:
O segundo período do capitalismo nos países centrais, o capitalismo organizado,
caracteriza-se pela passagem da cidadania cívica e política para a que foi designado
“cidadania social”, isto é, a conquista de significativos direitos sociais, no domínio
das relações de trabalho, da seguridade social, da saúde, da educação e da habitação
por parte das classes trabalhadoras das sociedades centrais […] em alguns países
periféricos e semi periféricos[...]. (SANTOS,1999, p.243)
A cidadania defendida por gastos requer um Estado colocado por Vieira (1992), forte
na aplicabilidade dos direitos. Este Estado com rumos vem sendo transformado ao longo da
história apresentando diferentes modelos. Contudo, é o Estado de direito que melhor ampara
os direitos sociais, por sua vez, enaltece o reconhecimento da cidadania. Além disso, tem
diversas características e condições para existir, como o Império da Lei, a divisão de poderes,
21
a legalidade da administração, a garantia dos direitos e as liberdades fundamentais, a garantir
a liberdade individual sobre a autoridade reconhecida.
Sob essa mesma ótica, a divisão de poderes torna-se importante para que sejam
mantidas e designadas às funções correspondentes e as atribuições competentes, como, por
exemplo, o poder executivo e o judiciário e a execução das leis formuladas pelo poder
legislativo. Vale ressaltar ainda que os três poderes tem sua paridade no que se refere ao grau
de importância, porém, é inerente à essa condição a independência do poder judiciário, para
que não se desvirtue tornando-se, assim, antipopular. Dessa forma, “Para haver Estado de
Direito, a administração precisa funcionar conforme a Lei e sob o controle judicial.”
(VIEIRA,1992, p.11).
Para Vieira (2006), o Estado e a discussão do político muitas vezes se misturam e
tornam-se um, porém, cabe ressaltar que nem tudo que está na ordem da esfera política será
resumido como uma ação propriamente do Estado. Entretanto, a existência política de um
povo é capaz de moldar o Estado. [...] todo povo manifesta a sua unidade mediante alguma
forma especificamente política. [...] O Estado é, por conseguinte, apenas uma forma política
que assume a unidade de uma comunidade independente, soberana. (VIEIRA,2006, p.46-47).
Vieira (2006), baseado em Schimitt, expõe que esses dois pontos que se tornaram tão
essenciais para o Estado de direito, que é a divisão de poderes e os direitos inerentes às
pessoas; são os chamados fundamentais. Estes passaram a ser elementos chaves no delinear
de uma moderna Constituição. Com esses dois pilares, o autor afirma que não
necessariamente tem-se um Estado de Direito. Todavia, um Estado burguês, impõe uma
norma legal e um conceito sobre a própria lei. Desse modo, ter direito não essencialmente se
pressupõe que haverá justiça, pois, tê-la é aplicar no cotidiano da vida os direitos
fundamentais2.
Segundo o autor, o Estado e a classe dominante não garantem as condições mínimas e
ditas básicas de sobrevivência para que os direitos humanos sejam efetivados. Grande parte
dos governos que são democráticos foram falhos na construção e na aplicação de políticas
públicas, tanto quanto para
[...]debelar a sociedade incivil, o não-Estado de Direito, o arbítrio do Estado (um
2 Direitos Fundamentais - “[...] nasceram objetivando uma não atuação – ou abstenção - estatal, evoluindo,
mais tarde, para uma concepção positiva de exigir-se do Estado uma atuação verdadeiramente afirmativa ou
proativa.” (NETTO, 2013, p.2)
22
Estado não- “usável” para fortalecer o Estado de Direito) e para regular a sociedade
econômica e o mercado para o bem coletivo. (PINHEIRO,1999, p.12-13)
1.1 ESTADO BRASILEIRO E SUA RELAÇÃO COM A CLASSE TRABALHADORA:
DIREITOS SOCIAIS E TRABALHISTAS DA REPÚBLICA VELHA À VARGAS
A partir desta elucidação, volta-se à origem do direito, na perspectiva brasileira, tendo
por marco inicial a república para que a compreensão de que o Estado foi sendo tecido.
No caso brasileiro, foi a elite conservadora (oligarquia agrária, burocracia estatal e
forças armadas) que implantou esse modelo de Estado, porém, sem a mínima parcela de
contribuição dos cidadãos e suas entidades de classe devido ao controle destas e de proteção
social tidas como burocrático-corporativa.
Alencar (1985) destaca que, no final do século XIX, no Brasil imperavam três
principais aspectos, o federalismo, o presidencialismo e o regime representativo. Porém, isso
não significou, na prática, a ampliação de direitos, pois foi só bem mais tarde com
protagonistas das classes que estes insurgiram.
Ainda que anteriormente já existisse descontentamento e levantes por parte dessas
classes, faltava-lhes força política para alcançar os objetivos propostos, já que até o momento
os protagonistas na ordem do Estado era a burguesia, e, nas mãos desta, concentrava-se o
poder e os privilégios. Sendo os primeiros trabalhadores, ainda em sistema de escravidão,
massacrados por lutarem por seus direitos. Ressalta-se que no início em 1889, havia uma
legislação que amparava os direitos ao trabalho, porém, sem eficácia.
[…] Ela incluía jornada de trabalho de sete horas, descanso semanal, férias anuais,
licença remunerada para tratamento de saúde, aposentadoria, pensão para as viúvas,
estabilidade aos sete anos de trabalho. Naturalmente, a proposta não foi levada a
sério. (CARVALHO, 2008, p.111)
Conforme Alencar (1985), República é, para muitos, nada mais que uma forma de
governo, mas, acima de tudo, é formada para os cidadãos. Tudo que o Estado faz seria
realmente para interesse público, pois o ideário está longe de ser real tanto nesse período
quanto na atualidade. Porém, devemos ressaltar que tal mudança na história brasileira que
deveria ser democrática, na verdade não foi, já que a elite conduzia boa parte da história da
República sem a participação política da classe trabalhadora.
23
De acordo com o referido autor, cada parcela da população, ou classe, tinham suas
expectativas e seus anseios a serem supridos pelo modelo de governo que se colocava, cada
qual puxando para si seus interesses, como, por exemplo, a burguesia que pretendia que seus
interesses comerciais e econômicos fossem atendidos conforme sua necessidade, porém, teria
que passar pelo viés da garantia mínima de direitos e não pelo pleno exercício da democracia
e da cidadania.
Para o autor, o governo que se formava modificava aos poucos os rumos da sociedade
brasileira por possuir formas diferentes de governar e de construir. Mas também regrediam à
medida que fortaleciam a dependência aos países industrializados.
A democracia que se colocava como democrática liberal não era tão democrática. A
política de mandonismo vigorava e o capital de fazendeiros (oligarquias) que possuíam o
poder, dominavam a vida política e pública. Conforme Alencar (1985, p.194) “Nos
municípios dominavam os coronéis: eram proprietários de terras, comerciantes e até
industriais[...]”. Segundo o referido autor, iludem tal qual ocorre nos dias de hoje, uma vez
que, em sua grande maioria, os estadistas só lembram de seus eleitores quando precisam se
reeleger.
Segundo Faleiros (2006, s.p), no governo de Vargas (1930-45, 1950-54) a ideia de
colaboração estava presente sob o aspecto do relacionamento entre patrões e empregados.
Ressalta-se que esse ponto de colaboração não se dá apenas no interior das instituições e do
comando do Estado, mas por meio da construção permanente da política social3 e das
primeiras iniciativas de seguridade à classe trabalhadora.
De acordo com Carvalho (2008), os anos 30 ficaram marcados como um tempo
decisivo de mudanças sociais, com o progresso gradativo no campo dos direitos sociais e
políticos. Como destaque, houve a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio,
assim como a elaboração da Legislação Trabalhista no texto legal conhecido como
Consolidação das Leis do Trabalho (em 1943), ela “teve impacto profundo e prolongado nas
relações entre patrões, empregados e Estado.” (CARVALHO,2008, p.113).
[…] em 1930 dedicou grande atenção ao problema trabalhista e social. Vasta
legislação foi promulgada, culminando na Consolidação das Leis do Trabalho
3 Segundo Silva (2011, p.68), as políticas sociais resultam de relações complexas e conflitantes que se
desenvolvem no contexto da luta de classes em que interesses antagônicos estão em disputa. Assim, possuem
caráter contraditório e atendem a interesses dos trabalhadores, assegurando-lhes ganhos diretos (salários
melhores) e indiretos (benefícios e serviços complementares).
24
(CLT), de 1943. A CLT, introduzida em pleno Estado Novo, teve longa duração:
resistiu à democratização em 1945 foi o grande momento da legislação social.
(CARVALHO,2008, p.110)
Segundo o autor, essa legislação, que é uma das mais importantes para o nosso país,
não foi concebida por meio de uma participação popular efetiva, muito pelo contrário, o
pouco envolvimento popular nesse processo político fez com que ficasse nítida a fragilidade
dos direitos civis.
[…] Esse pecado de origem e a maneira como foram distribuídos os benefícios
sociais tornaram duvidosa sua definição como conquista democrática e
comprometeram em parte sua contribuição para o desenvolvimento de uma
cidadania ativa. (CARVALHO, 2008, p.110)
Esse pensamento voltado aos meios legais para garantir aos trabalhadores o mínimo de
regulamentação e garantias para o seu trabalho, não partiu de uma vertente crítica de
esquerda, mas dos ideais do positivismo brasileiro baseado em Augusto Comte “[...]objetivo
da política moderna era incorporar o proletariado à sociedade por meio de medidas de
proteção ao trabalhador e a sua família.” (CARVALHO,2008, p.111)
Havia, porém, pontos negativos que excluíam partes das categorias importantes da
classe trabalhadora.
[…] ficavam de fora todos os autônomos e todos os trabalhadores (na grande
maioria, trabalhadoras) domésticos. Estes não eram sindicalizados nem se
beneficiavam da política de previdência. Ficavam ainda de fora todos os
trabalhadores rurais, que na época ainda eram maioria. (CARVALHO,2008, p.114).
O autor expõe que essas garantias só eram concedidas a partir de uma política social
baseada no privilégio. Os trabalhadores e seus direitos não eram vistos como parte inerente da
cidadania sendo garantido a todos, mas como uma concessão do governo a determinadas
forças produtivas.
[…] a entrada do Estado como mediador das relações de trabalho equilibrava um
pouco a situação de desigualdade de forças e era favorável aos operários. Apesar de
tudo, porém, não se pode negar que o período de 1930 a 1945 foi a era dos direitos
sociais. (CARVALHO, 2008, p.117-123).
O autor defende a ordem de introdução dos direitos sociais na realidade brasileira da
classe trabalhadora, pois “[...] Os trabalhadores foram incorporados à sociedade por virtude
25
das leis sociais e não de sua ação sindical e política independente”. Tanto que os direitos
políticos chegaram tarde, uma vez que foi instaurado os direitos sociais, explicando, por
exemplo, a criação de leis que manipulavam ou refreavam as manifestações. Os direitos
sociais do trabalho inauguraram a seguridade social brasileira. Construídos na ótica do
trabalho formal categorial, segmentada e mínima moldada à lógica até os dias atuais. As
políticas vinculadas ao trabalho e à seguridade, acerca do seu surgimento trataremos mais
adiante.
Segundo Faleiros (2006), foi o desenvolvimento e o esgotamento que balançaram o
capitalismo com crises financeiras e sociais que os liberais progressistas, para manter a
acumulação da riqueza capitalista, buscaram assegurar as taxas de lucro dos capitalistas. Essa
regulação capitalista foi justificada por Keynes, já que era preciso que houvesse uma
estratégia estatal de sustentação que garantisse o pleno emprego dos fatores de produção e da
mão-de-obra para que a demanda advinda dos serviços prestados fosse mantida, que seria a
capacidade de comprar bens e serviços que se encontram no mercado, com o próprio salário,
uma vez que este seria suficiente.
A alternativa de Keynes era propor um aumento nos gastos públicos para dar emprego
a quem não tinha, e, ainda, auxílios para estimular a demanda. Essas medidas econômicas
foram essenciais para o Estado de Bem-estar. Segundo Faleiros (2004), o Estado do Bem-estar
social é também chamado de Estado providência ou Estado Assistencial, em que compreende
a garantia da oportunidade de acesso gratuito para os cidadãos no que tange aos serviços e
benefícios mínimos a todos.
Na realidade brasileira não houve um estado de bem estar real e a construção das
políticas sociais se deu de forma diferente dos demais países. Behring e Boschetti (2008)
relatam que não tivemos a mesma condição histórica que nos permitiu lutas de classes e dos
movimentos sociais em torno dos direitos sociais.
No caso do Brasil [...]. Pelo lado Social, o país foi pego a meio caminho na sua
tentativa tardia de montagem de um Estado de Bem-Estar Social. Dada a sua massa
gigantesca e pobreza estrutural, praticamente excluída dos benefícios do
desenvolvimento passado, o país é atingido pelos dois lados, o desenvolvido e o
subdesenvolvido. (SOARES,2000, p.35)
De acordo com Soares (2000), nos países em que não se deu o desenvolvimento de um
26
Estado de Bem-Estar Social, o que se colocou enquanto política social foram medidas
negociadas de ajustes no sistema capitalista e mudanças que ocorreram através do meio
econômico. O período ditatorial no Brasil, regido pelo governo militar, foi outro agravante,
pois não possibilitou embates de classe e a expressão política pelos direitos sociais.
Nos casos em que já existiam políticas sociais universais (Previdência Social, Saúde,
Educação Básica), o desmonte dessas políticas agravou consideravelmente as
condições sociais, já de per si precárias, em particular no caso dos países da periferia
capitalista. (SOARES, 2000, p.21)
Em se tratando de América Latina, Pinheiro (2000) pontua que, após o período de
ditadura4, em todo continente, o retorno à democracia trazia consigo grande expectativa de
mudança no tocante à volta do governo civil representar que a proteção dos direitos humanos
obtidos por esse período de transição, seria expandida para todo cidadão, significando
consolidação deste Estado como sendo instrumento efetivo para apropriação dos direitos.
Ainda, de acordo com o autor citado, é um autoritarismo que foi colocado em prática
na sociedade que se correlaciona com as consequências de períodos prolongados de
concentração de renda e de desigualdades, em que a sociedade é “[...] incivil, [...] um não-
Estado de Direito para a maioria avassaladora das não-elites, conjugado com um não-acesso à
justiça;” (PINHEIRO,2000, p.12).
Contudo, a esperança foi frustrada porque as formas como seus governos foram
dirigidos se mantiveram autoritários, o processo de consolidação da democracia articula no
seu entorno sustentáculos, sendo “[...] a sociedade civil, a sociedade política, o Estado de
Direito, o aparato estatal (um Estado 'usável'), a sociedade econômica” (LINZ e STEPAN,
1999 apud PINHEIRO, 2000, p.11).
Nessa mesma linha de pensamento, Soares (2000) estabelece uma crítica ao modelo da
Política Social, referindo-se aos condicionantes históricos da América Latina.
4 De acordo com Netto (2010, p.15/16, grifo nosso), […] trata-se, de fato, de um processo global e unitário –
uma unidade de diversidade, diferenças, tensões, contradições e antagonismos. Nele se imbricam, engrenam e
colidem vetores econômicos, sociais, políticos (e geopolíticos), culturais e ideológicos que configuram um
sentido predominante derivado da imposição, por mecanismos basicamente coercitivos, de uma estratégia de
classe (implicando alianças e dissensões). […] contexto que se transcendia largamente as fronteiras do país,
inscrevendo-se num mosaico internacional em que uma sucessão de golpes de Estado (relativamente
incruentos uns, como no Brasil, sanguinolentos outros, como na Indonésia) era somente o sintoma de um
processo de fundo: movendo-se na moldura de uma substancial alteração na divisão internacional capitalista
do trabalho, os centros imperialistas, sob o hegemonismo norte-americano, patrocinaram, especialmente no
curso dos anos sessenta, uma contrarrevolução preventiva em escala planetária […].
27
O período de implantação[...].O tipo e a intensidade das políticas de ajuste[...].A
estruturação da economia[...].A estruturação do Estado[...].A estruturação anterior
das políticas públicas (âmbito nacional; grau de universalidade no acesso; padrão de
funcionamento; cobertura etc.).[...]o desmonte simultâneo de políticas sociais frágeis
(como alguns programas de assistência social) e de políticas mais estruturadas,
algumas inclusive a caminho de mudanças em direção a uma maior universalização
e justiça social (como, por exemplo[...].(SOARES, 2000, p.31-32).
O autor destaca como alterava o modelo de seguridade social, pois o Sistema Único de
Saúde (SUS) possui caráter universal, o que faz com que este se diferencie dos outros pilares.
A Carta magna de todo país, expressa pela Lei fundamental, abrange todo o território
nacional de forma federada. De acordo com Simões (2008), regulamenta a forma de governo,
como este será regido, todos os limites e garantias de ação dos direitos fundamentais5 do
homem.
Partindo do movimento histórico brasileiro, em 1988 a Constituição Cidadã, que este
ano completa 25 anos, foi promulgada e formulada através princípios e fundamentos
norteados pelo Estado Democrático de Direito. De acordo com seu preâmbulo, possui como
função a implementação dos direitos sociais e individuais e os valores que são agregados a
ela, visando uma sociedade fraterna, plural e sem preconceito que busca meios próprios para
direcionar a nação. No texto integral está a definição do direito social, evidenciando que a
democracia construída está pautada no direito, sendo definido como:
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissociável dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: […] II – a cidadania; III - a dignidade da pessoa
humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; […] Parágrafo
único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição. (Constituição Federal, 1988)
A seguridade foi organizada constitucionalmente e ampliada na perspectiva do direito
social apenas em 1988. O conteúdo exposto neste artigo da Constituição são elementos
necessários para uma seguridade efetiva. Diante do exposto na Constituição Federal,
evidencia-se uma garantia de direitos sociais.
5 Direitos Fundamentais: “[…] nasceram objetivando uma não atuação – ou abstenção – estatal, evoluindo,
mais tarde, para uma concepção positiva de exigir-se do Estado uma atuação verdadeiramente afirmativa ou
proativa.” (NETTO, 2013, p. 2)
28
1.2 ESTADO BRASILEIRO SOB A ÉGIDE NEOLIBERAL: REBATIMENTOS NA
CLASSE TRABALHADORA
Esse momento é conhecido por ter políticas, segundo Soares (2003), de ajuste global
que acontece em um aspecto globalizado, financeiro e produtivo. Essa “doutrina neoliberal”
se envolve no emaranhado global da economia mundial em que predomina políticas
internacionais, sendo o centro do capitalismo. As reformas são características estruturais
marcantes desse modelo, tendo ações direcionadas à desregulação do mercado,
proporcionando uma abertura tanto comercial quanto financeira, visando uma privatização do
setor público e a redução gradativa do Estado, destaca-se, ainda, que “o ajuste neoliberal não
é apenas de natureza econômica: faz parte de uma redefinição global do campo político-
institucional e das relações sociais.” (SOARES, 2003, p.19, grifo do autor).
Acontece, assim, um reordenamento da sociedade capitalista em que a acumulação se
coloca nesse período como um problema que precisa de superação, para isso, são revertidas
ações em medidas estruturais através de resoluções que contenham a crise global desse
modelo social posto.
Trata-se de uma crise global de um modelo social de acumulação, cujas tentativas de
resolução têm produzido transformações estruturais que dão lugar a um modelo
diferente – denominado neoliberal -, que inclui (por definição) a informalidade no
trabalho, o desemprego, o subemprego, a desproteção trabalhista e,
consequentemente, uma “nova” pobreza. […] a reprodução em condições críticas de
grandes parcelas da população faz parte do modelo, não impedindo a reprodução do
capital. Essas condições não são uma manifestação de que o sistema estaria
“funcionando mal”, e sim a conta face do funcionamento correto de um novo
modelo social de acumulação. (SOARES, 2003, p.20, grifo do autor)
Dentro da mesma lógica neoliberal, a intervenção do Estado define as ações que
agiram diretamente sobre a classe trabalhadora, tanto para favorecê-la quanto para determinar
espaços que fragilizam a luta dos trabalhadores.
Dentro do modelo das políticas sociais, de acordo com Montanõ (1997), aparecem
nesse cenário como um meio e forma de garantia de uma hegemonia, por mais que seja
mantida pelas lutas e resultados da classe trabalhadora. São usados na diminuição de conflitos
e é uma mediação feita pelo Estado “[...] concede esses benefícios à população carenciada em
troca de que esta última aceite a legitimidade do primeiro.” (Idem,1997,p.105).
Segundo Netto (2003), é nessa fase que o capitalismo passa pelo monopólio que
29
perdura até os nossos dias. O Estado burguês funcional assim por ele assinalado, tem por
finalidade através de política sociais responder as expressões da “questão social”6.
[…] No domínio da saúde, da habitação, da educação, da renda, do emprego etc., o
foco das políticas sociais recai sempre sobre uma expressão ou expressões da
chamada “questão social”. O Estado apresenta respostas quando os afetos por essas
expressões são capazes de exercer, sobre ele, uma pressão organizada. Não basta que
haja expressões da “questão social” para que haja política social; é preciso que
aqueles afetados pelas suas expressões sejam capazes de mobilização e de
organização para demandar a resposta que o Estado oferece através da política
social. (NETTO, 2003, p.15-16)
Neste segundo capítulo, será abordada a questão conceitual de trabalho e trabalho
informal, bem como o contexto histórico da proteção social e a estruturação da Seguridade
Social Brasileira, suas fragilidades e como ela se organiza.
Na década de 90, o que se discutia era sobre como seria um gerenciamento eficaz para
a máquina do Estatal, as formas de enfrentamento às políticas que se formavam na América
Latina são afetadas, tendo indicadores retardatários ao invés de demonstrar avanços. De
acordo com Soares (2000):
[...] O primeiro é o de que alguns (poucos, mas importantes) avanços sociais obtidos
na América Latina, a partir das políticas de ajuste estrutural adotadas no continente,
correm o risco de desaparecer e/ou sofrer perdas consideráveis do ponto de vista da
proteção social que proporcionavam. O segundo diz respeito ao surgimento de um
quadro social [...] além de incorporar características que seriam típicas do chamado
processo de transição em direção à “modernidade” – desregulamentação do
mercado de trabalho, desemprego, envelhecimento da população e doenças [...]
-, não só não deixa para trás as antigas características sociais e moléstias da nossa
população como, pelo contrário, o que se registra, cada vez com mais intensidade, é
o recrudescimento de antigos problemas em todos os âmbitos – precarização do
trabalho; [...] “(SOARES, 2000, p.47, grifo do autor, grifo nosso)
Em se tratando de Brasil, os números não são convincentes, nem mesmo animadores
quando vistos até a metade da década de 90, pois em relação ao trabalho informal este se
coloca como um dos centros geradores de emprego, tanto que
[...]84% das novas ocupações criadas nesse período corresponderam a atividades
informais. O chamado setor informal, que já era responsável por 51,6% das
6 A expressão surge para dar conta do fenômeno mais evidente da história da Europa Ocidental que
experimentava os impactos da primeira onda industrializante, iniciada na Inglaterra no último quartel dos
século XVIII: trata-se do fenômeno do pauperismo. [...] Foi a partir da perspectiva efetiva de uma versão da
ordem burguesa que o pauperismo designou-se como “questão social”. (NETTO, 2001)
30
ocupações, aumenta sua participação para 56,1%; enquanto o setor formal vê
reduzida sua participação de 48,4% para 43,9%, reduzindo-se o emprego formal
tanto no setor público quanto no privado. (SOARES,2000, p.57)
A tendência de aumento gradativo do trabalho informal é alarmante, em se tratando de
uma década em que o país passava por transformações na sua economia, modificando sua
moeda e com tentativas a diminuir a disparidade da questão da renda. Contudo, vale ressaltar
que Soares (2000) aponta que o trabalho informal cresceu nesse período o equivalente a 62%,
nas áreas metropolitanas, tal resultado é significativo.
[…] o número de pessoas ocupadas sem carteira assinada cresceu 62% entre 1990 e
1999. [...] Essa tendência tende a agravar-se: entre as 217 mil pessoas que entraram
no mercado de trabalho paulista no ano passado, 57% (ou 157.312) estão
trabalhando sem carteira assinada. […] Levando em consideração apenas as seis
principais regiões metropolitanas, o levantamento do IBGE indica que existem 4,4
milhões de pessoas trabalhando sem carteira. Este número é ainda mais assustador
quando são incluídos os 3,8 milhões que, segundo a mesma pesquisa […]
trabalham “por conta própria”. A grande maioria desses “autônomos” também
está na informalidade. (SOARES, 2000, p.67-68, grifo do autor, grifo nosso)
A globalização e o fenômeno de reestruturação produtiva, a insegurança no mercado
de trabalho e desigualdade social, a informalidade crescia no mesmo nível “[...] Assim, foi
reforçada a compreensão de que, ao ocupar um grande contingente de pessoas sem
possibilidades de competir por um 'bom emprego', o setor informal (tanto nas cidades como
no campo), estava desempenhando um papel relevante na geração de renda para uma parcela
expressiva da população[...].” (KREIN e PRONI, 2010, p.12)
A informalidade que se expressa dentro do mundo do trabalho tem aspectos no seu
entorno que tornam difíceis a compreensão ou mesmo a montagem certa de um significado,
um conceito. Já que deve-se considerar primeiramente, de acordo com Malaguti (2000), que
há uma distinção entre informalidade e setor informal. Em segundo lugar é preciso que se
considere que o setor informal é parte constituinte da informalidade, uma vez que não podem
ser vistos separados. O que não pode ocorrer é resumi-lo ao todo já que é criticamente
incorreto por ser ele apenas uma parte.
Para Malaguti (2000), temos diversos tipos de informalidade, sendo não só a condição
de estar desprovido do registro em carteira, mas também os trabalhadores que atuam em
atividades além do vínculo empregatício para aumentar a renda, o trabalhar sem proteção
correndo riscos mesmo sabendo que há uma legislação que o ampara, as horas extras não
31
pagas; tudo isso o autor coloca como forma de ter um trabalho informal dentro do formal.
Nestas 3 situações, a carteira de trabalho assinada nada mais é do que um
“documento de fachada”, com pouca ou nenhuma relação com o quotidiano de
trabalho ou com os direitos dos trabalhadores. Logo, tudo se passa à margem da
legislação trabalhista: na informalidade. (MALAGUTI,2000, p.99-100, grifo do
autor)
Na mesma linha de pensamento, também acontece os casos dos trabalhadores que
trabalham como ambulantes na informalidade, por exemplo, ter alguém (esposa ou esposo)
que tem uma remuneração fixa e registro que o auxilia na compra de sua mercadoria, pode
ser, então, considerado formal, pois há uma formalidade que o sustenta. Contudo, o autor
coloca uma consideração:
[…] contatamos que a informalidade é construída tanto pela empresa/instituição
quanto pelo empregado/ funcionário. [...] Constatamos, também, a dificuldade por
em caracterizar certos processos de trabalho através da dicotomia formal/informal
[…]. (MALAGUTI, 2000, p.101)
Dessa maneira, faz algum sentido, por exemplo, um microempresário ser registrado
formalmente e ter funcionários na informalidade? De acordo com Malaguti (2000) não faz
sentido, pois o que mantém o negócio dele são os trabalhadores formais. Portanto, não é certo
classificá-lo apenas como uma atividade formal, mas que possui as duas classificações.
Os autores Lessa e Tonet (2008), discutem, a partir do pensamento de Marx, que o ato
humano tem por precedente a evolução da sociedade, assim como faz parte o indivíduo no
presente, suas aspirações e projeções para o futuro. Logo, não podemos analisar e entender o
ato humano isolado da história ou fora da sociedade. Por isso, destaca-se que
[...]III) O trabalho é o fundamento do ser social porque, por meio da transformação
da natureza, produz a base material da sociedade. Todo processo histórico de
construção do indivíduo e da sociedade tem, nessa base material, o seu fundamento.
(LESSA e TONET, 2008, p.27).
Dentro dessa mesma linha de pensamento, o materialismo histórico-dialético se coloca
como um meio de entendimento para a base material das ideias na reprodução social.
Para entender como se manifesta o trabalho informal, é necessário compreender o que,
segundo Marx (1980), vem a ser o trabalho. Além do desgaste físico engloba uma análise do
32
processo de trabalho dentro do capitalismo, ao qual tem como fundamento:
[…] o caráter útil do trabalho, resta-lhe apenas ser um dispêndio de força humana de
trabalho. [...] dispêndio humano produtivo de cérebro, músculos, nervos, mãos etc.,
e, desse modo, são ambos trabalho humano. [...] Trabalho humano mede-se pelo
dispêndio da força de trabalho simples, a qual, em média, todo homem comum, sem
educação especial, possui em seu organismo. (MARX,1980, p.51)
Segundo Krein e Proni (2010), no que se refere a essa realidade no final do século XX,
a informalidade era maioria. “Ao mesmo tempo, neste âmbito se concentravam os segmentos
mais vulneráveis da sociedade, em especial aqueles cuja renda familiar está abaixo da linha de
pobreza.” (2010).
Na mesma linha de pensamento, o autor reforça a ideia exposta acima, já que a
demografia tem convergência e paridade com a proporção do percentual da população que
envelhece com o encadeamento na questão de dois pilares da seguridade: a saúde e a
previdência.
O autor reforça, ainda, o que coloca como coação aos que estão no mercado de
trabalho, que é a reserva de jovens, com isso, também destaca o nascimento de crianças
desprovidas das condições básicas de sobrevivência. Além disso, Soares (2000), discute que
“As remunerações médias (salários, aposentadorias e pensões), que representam cerca de
70 % da renda dos domicílios que se situam em torno da linha de pobreza[...].” (SOARES,
2000, p.49, grifo nosso).
Soares (2000) aponta que com o nível de concentração de renda sem indícios de
queda, houve a dificuldade de manter o padrão para que não tivesse piora no quadro de renda
baixo ou médio das famílias. Os salários diminuíram significativamente juntamente com a
questão da pobreza que se colocava sob um novo aspecto.
[...] Os custos do ajuste também são avaliados em termos da redução das
remunerações do trabalho em geral, posto que caem também as receitas daqueles
que trabalham no chamado setor informal, que passam a compartilhar sua renda com
um número maior de ocupados ao atuar como “colchão” do desemprego aberto: o
Prealc estima que a renda dos trabalhadores informais caiu 27 %. (SOARES, 2000,
p.50)
O que o autor dispõe como discussão, ainda sobre o mercado de trabalho, tem dois
aspectos importantes que refletem diretamente no social. A primeira é a perda gradativa e
considerável do assalariamento em relação à produção independente. E o segundo que possui
33
um grau de importância relevante para a construção do pensamento do capítulo seguinte, é o
que Soares(2000) chama a atenção, uma vez que há “[...]redução na proporção de
trabalhadores vinculados à Previdência Social.” (SOARES, 2000, p.53)
O que, dessa forma, acaba se tornando um problema nesse chamado setor formal. De
acordo com Soares (2000), são as diversas formas como ele se apresenta, da relação entre os
países e como eles lidam com a situação em seu território, pois o aumento dos trabalhadores
nessa condição reforça o que a autora chama de “iniquidade social e sanitária” (p.57).
Para atender às novas formas de organização do trabalho, assegurando que o
trabalhador independentemente de pré-requisitos possa acessar o direito, questiona-se até a
universalidade que a seguridade proporciona.
Nada menos do que 52,6% dos brasileiros que praticam alguma atividade
remunerada gravitam em ambientes informais. Em 2002 eram 36,3 milhões de
pessoas, entre 69,1 milhões de trabalhadores que recebiam algum tipo de pagamento.
Do lado dos trabalhadores existe um descasamento entre as contribuições para
a Previdência e os benefícios potenciais que o sistema previdenciário oferece. Menos oxigênio. A informalidade é um problema para o país por várias razões.
Primeiro porque quem trabalha sem registro vive sem qualquer rede de
proteção. Não tem direito a férias, décimo terceiro salário nem Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço. [...] E também porque embora não contribuam, os
trabalhadores informais têm direito a assistência médica e a aposentadoria -
uma despesa que está sendo coberta por um número cada vez menor de
trabalhadores e empresas formais. (OTTONI, 2004, s.p, grifo nosso)
Para Cacciamali (2002 apud KREIN; PRONI, 2010), o mercado de trabalho informal é
expressivo e entendido como lócus da compra e venda de mão-de-obra sem o registro em
carteira e sem vinculação com a seguridade social pública; um trabalho informal à margem
das legislações vigentes ou ao vazio institucional.
34
2 A SEGURIDADE SOCIAL E A PROTEÇÃO SOCIAL DA CLASSE
TRABALHADORA
Ao discorrer sobre a seguridade social, nos defrontamos com diversos conceitos
teóricos que podem elucidar a compreensão de proteção social com base em direitos sociais.
Assim, iniciamos este capítulo enaltecendo que a seguridade social na ordem capitalista é
organizada no seio do Estado, regido por leis cujo trabalho é categoria de acesso.
Portanto, temos um grande “nó”: como discutir a seguridade social brasileira,
universal nos direitos sociais, em um mercado de trabalho fragmentado, precarizado e
informal? Estudar a seguridade a partir de delimitações constitucionais não responde a
cidadania plena. Estas, entre outras reflexões, subsidiaram a construção deste capítulo de
modo a compreender quem protege o trabalhador informal a partir de sua incapacidade ao
trabalho.
Primeiramente, precisamos compreender como se constitui a seguridade e a relação
estabelecida com o trabalho.
2.1 ORIGEM DA SEGURIDADE SOCIAL E OS MOLDES DE PROTEÇÃO SOCIAL
Para entender a seguridade social é necessário que discorra-se acerca da sua origem,
que remonta ao início da proteção social, ou seja, realizar uma breve contextualização. De
acordo com Viana e Levcovitz (2005), o objeto central da proteção social vem ao encontro das
diversas configurações de dependência que advêm de uma condição histórica, que estão
ligadas diretamente à condição do ser humano. Essa ligação traz consigo a ausência da
segurança, que é o ponto de partida da dependência, tendo a proteção social a capacidade de
atender à necessidade individual e coletiva que os indivíduos com graus diversos de tutela
precisam e sustentar os indivíduos mais frágeis.
O autor em questão ressalta que o que é compreendido como dependência pode ser
visto a partir de diversas fases como a infância, maternidade, velhice, assim como a
enfermidade, as carências nutricionais e diversas condicionantes climáticas como as
calamidades, por exemplo, reflete no todo, sendo a família um mecanismo de proteção social.
[…] É uma dependência criada pelo homem, Segundo Titmuss (1986, p.52): uma
dependência que se origina na desigualdade social, nas relações de servidão
impostas pelo grupo dominante (classe, raça, etnia). Assinala-se que mesmo nas
35
épocas mais remotas, foi o processo de diferenciação social e de divisão do trabalho
que impôs a ativação, pelas instituições políticas e religiosas, de formas diversas de
proteção coletiva ou social (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.16)
A partir da discussão de Viana e Levcovitz (2005), é importe expor qual seu
entendimento sobre o conceito de proteção social, sendo:
[…] consiste na ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes à
vida humana e/ou assistir necessidades geradas em diferentes momentos históricos e
relacionadas com múltiplas situações de dependência. (VIANA; LEVCOVITZ,
2005, p.17)
A proteção advém da necessidade de diminuir ou impedir que os riscos sociais aos
quais o ser humano está sujeito, diz respeito ao indivíduo como todo o conjunto da sociedade.
É uma ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes à vida, “resguarda a
sociedade dos efeitos dos riscos clássicos: doença, velhice, invalidez, desemprego e exclusão
(por renda, raça[...]).” (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.17). A proteção social tem origem na
assistência durante o processo de industrialização, primeiramente registrado na Inglaterra e na
Alemanha.
Como a assistência tem sua história vinculada aos primórdios da proteção social
europeia, destacamos que iniciativas como essa foram se desdobrando ao longo da construção
histórica. A lei dos pobres e a lei do mercado surgem junto ao Estado de Direito, assunto
explorado anteriormente. O contexto de livre mercado era predominante, tendo como norte os
princípios da revolução francesa que estavam latentes no campo social, assim como o
pensamento humanista que dentro do seu campo de visão, não seriam mais tolerantes na
questão da marginalização (SCHONS, 2008).
De diversas formas a “Assistência”, como destaca o autor, vai tecendo seu sentido e
incumbência que lhe foram atribuídos em diversos momentos. No século XVIII, as ações de
cunho assistencial surgem por meio da caridade e benesse, atendendo aqueles que estavam
desprovidos de condições mínimas de sobrevivência, sem condições mínimas materiais para
sobreviverem.
A assistência nesse período de Revolução Industrial era vista como uma forma de
estimular a ociosidade, sendo uma ação que permitia o desinteresse pelo trabalho. Para o
completo entendimento do que acontecia nesse período em relação aos problemas sociais
existentes e as iniciativas do Estado para aplacá-las, não perdem de vista a ligação entre a
36
inglesa e, posteriormente, a “economia capitalista de mercado” que se moldava, conforme
explica Schons (2008).
Nesse momento histórico, tido como modernidade, crescem diversas transformações
tanto social como econômica, vale ressaltar, então, o surgimento da classe trabalhadora, para
um entendimento sobre a gênese da Assistência Social a partir da nova Lei dos Pobres, porém,
é necessário saber o que foi a lei que a antecede, chamada de “elisabetana” de 1601. Esta
estabelecia critérios que vinham ao encontro à ajuda prestada aos pobres, em que uma taxa era
paga como benefício “aos que incluíam, em geral e prioritariamente, os velhos, os enfermos e
órfãos” (SCHONS, 2008, p.66). Era feito de forma focalizada, por localidades, de caráter
punitivo a mendicância, a assistência tinha cunho limitado e paroquial.
Conforme Schons (2008), em 1662 foi criado a Act of Settlement, Decreto de
Domínio, impondo as paróquias que assumissem suas respectivas funções sem se livrarem
dos pobres. Após esse decreto, foi criada a Speenhamland Law, chamada de Lei de Assistência
aos pobres na Inglaterra (1795-1834) em uma fase de crise, visava beneficiar aos pobres e à
sua família com abonos e auxílios. Tendo um viés público, os benefícios se mediam por meio
do preço do trigo e a quantidade de filhos, não dependia da condição de estar ou não
trabalhando.
Já no que diz respeito ao capitalismo moderno, a Nova Lei dos Pobres de 1864 vem
extinguir os abonos antes concedidos e a assistência externa. Os pobres devem ser internados
e até o seu conceito é modificado, sendo entendidos não mais como impossibilitados de viver
um repouso tranquilo, mas sim como quem passa necessidades.
A solidariedade institucionalizada atende à necessidade de poder tanto englobar e
limitar a todas as categorias profissionais quanto expandir a cidadania e ainda ser focalizada
em localidades e em meio familiar. Há diferenças entre o novo modelo que está posto de
proteção social e o antigo, tanto que esse último tinha como forma de organização a
articulação de instituições (como, por exemplo, a Igreja), a família, ou seja, todos se moviam
entorno do sistema. Porém, esse meio de articulação durou até o século XIX beirando o início
do XX, devido à iniciativa de intervenção do Estado e das categorias profissionais nessa
questão.
[…] os sistemas de proteção social são formados com base no compartilhamento dos
risco gerados pelas situações de dependência pela sociedade, Mercado e Estado, em
diferentes momentos históricos, conformando, portanto, a própria história da
37
proteção social. (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.18)
De acordo com os autores, o termo em si aborda a intervenção estatal no social, sendo
que podem ser diferenciadas através de grupos de modalidades básicas abrangendo princípios
para um Estado que é social, são:
a) A assistência Social – distribuições de bens e recursos para camadas
específicas da população, de acordo com necessidades tópicas, sendo ações de tipo
focalizado, residuais e eletivas;
b) O seguro Social – distribuição de benefícios a categorias ocupacionais
específicas;
c) A seguridade social - distribuição de benefícios, ações e serviços a todos os
cidadãos de determinada unidade territorial. (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.18)
Nesse mesmo contexto, de acordo com os autores citados, na Alemanha iniciava a
estruturação do pensamento, ações pautadas na igualdade de direito e igual distribuição de
benefícios, sendo um alicerce visando ao avanço econômico e social dos indivíduos. São dois
modelos de política social que alinham as iniciativas de proteção, sendo elas: baseado no
pensamento de Bismarckiano e o modelo inglês Beveridgiano, que compreendem,
respectivamente:
a) a tradição alemã, em que a política social é definida em função da autonomia
do corpo social; as agências organizadoras de base voluntária exercem papel
preponderante e cabe ao Estado normatizar;
b) a corrente inglesa, na qual o Estado tem papel dominante na política social,
com função não só de regular, mas de prover e gerir bens e serviços sociais.
(VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.19)
A base do pensamento bismarckiano baseia-se, de acordo com Marconi e Santos
(2008), a partir das contribuições advindas do social, vistas como seguro social, parecido com
os seguros privados. Assim como estão condicionados a serem um dispositivo de acesso para
os trabalhadores quando estes forem acometidos de risco social que venha a ocasionar a falta
no trabalho. Pois, em se tratando de diretos:
[...]são cobertos, principalmente – e às vezes exclusivamente- os trabalhadores
empregados, pois o acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior e o
montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada. Quanto ao
financiamento, os recursos são provenientes, fundamentalmente, da contribuição
direta dos trabalhadores e dos empregadores, a partir da folha de salários.
(MARCONSIN; SANTOS, 2008, p.181)
38
Já o sistema Beveridge é compreendido como um fator assistencial que permuta entre
os direitos universais, tendo como objetivo manter as condições básicas para sobrevivência,
os chamados mínimos sociais, assim como tem como objetivo a luta contra a pobreza.
Portanto, coloca-se como fundamental “a unificação institucional e a uniformização dos
benefícios. Fundamenta-se, então, no preceito de que proteção social é mais que seguro, é
direito, e sua cobertura deve ser universal” (BOSCHETTI, 2001, p.38 apud MARCONSIN;
SANTOS, 2008, p.181).
De acordo com o modelo exposto, tem-se como característica ser um seguro social que
se coloca frente à questão de direitos com “benefícios cobrem principalmente (e às vezes
exclusivamente) os trabalhadores. O acesso é condicionado à uma contribuição direta anterior
e o montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada.” (BOSCHETTI, 2001,
s.p).
Ambos os modelos possuem sua característica e objetivo específicos, evidenciou-se
essa questão para mostrar que a seguridade brasileira se baseou nos dois para cada uma de
suas partes. Para melhor entendimento, os princípios bismarckianos são aplicados na
previdência e o beveridgiano norteiam o sistema de saúde pública e a assistência social.
O interesse nas características destes modelos é que elas permitem mostrar que todos
os sistemas de seguridade social são constituídos por políticas que incorporam tanto
elementos do seguro, quanto da assistência social. Quanto mais diluídas e mescladas
forem as características indicadas acima, maior a justaposição entre previdência
(seguro) e assistência. (BOSCHETTI, 2001, s.p).
Ainda, de acordo com Viana e Levcovitz (2005), é válida a análise dessas modalidades
que podem indicar uma intervenção estatal junto às formas de prestação em determinada área.
[…] Uma destas formas pode ser dominante para toda a área social, quando os
diversos setores da política social - previdência, atenção sanitária, educação e
assistência – se encontram organizados e oferecidos, exclusivamente, sob uma destas
modalidades, definindo o padrão hegemônico de intervenção pública na área social,
em determinado período histórico. (VIANA; LEVCOVITZ, 2005, p.19)
As modalidades de intervenção são colocadas pelos autores de modo que seja possível
a cobertura oferecida ao trabalhador e entendê-la no sentido amplo ou restrito da proteção.
Como demonstra o quadro de comparação que segue:
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Modalidade de Intervenção
Assistência Seguro Seguridade
Cobertura Marginal Ocupacional Universal
Prestação Ad hoc7 Contributivo/Redistributivo Homogênea de soma
fixa
Financiamento Fiscal Contributivo Fiscal
Fonte: Viana e Levcovitz (2005)
Um elemento muito importante que vai além dessa mistura e em convergência entre a
previdência e assistência que o autor coloca como justaposição, o que vai determinar com que
seja possível garantir o acesso aos direitos é o trabalho. É o que Boschetti (2001) coloca como
chave para inclusão na previdência, o que acaba determinando a natureza e o montante de
direitos reais. Por isso, “[...] Só tem acesso àqueles que, via trabalho, contribuíram
diretamente para a previdência. De forma inversa, as prestações de renda asseguradas pela
assistência são destinadas aos que, por algum tipo de incapacidade (idade e/ou deficiência)
estão impossibilitados de trabalhar e, assim, contribuir para a previdência.” (BOSCHETTI,
2001, s.p)
2.2 SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E OS DIREITOS DO TRABALHO
Parte integrante da história da previdência, de acordo com Schwarzer e Querino
(2002), são as reivindicação da classe trabalhadora brasileira por programas de seguridade
social, e é datada de 1920 à 1940. Eram programas que tinham cunho contributivo individual
em que constava participação do empregadores do Estado como os financiados. As primeiras
manifestações de governos foi o de São Paulo, que reagiu com a cobertura, pois havia
categorias e grupos sociais com poder econômico que apresentavam ameaça. Os grupos que
estavam mais fragilizados, que, por sua vez, são “[...] trabalhadores informais e domésticos,
trabalhadores rurais e a população indigente -, que não possuíam poder político, não foram
efetivamente incluídos na cobertura da seguridade social até o fim da década de 60.”
(SCHWARZER; QUERINO, 2002, p.9)
7 De acordo com Pereira (1988 apud COUTO, 2010, p.166), as pessoas que ficavam de fora da formalidade do
trabalho estava a mercê da “[...] benemerência, a filantropia, a regulação ad hoc, ou seja, caso a caso, operada
por sujeitos institucionais desarticulados e assentada na concessão”.
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É necessário esse resgate histórico para entender-se como o sistema evoluiu. Partindo
das categorias que eram reguladas pelas Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs), passou-
se para os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs em 1960),
A criação das IAPs prosseguiu ao longo da década, ampliando continuamente a rede
de beneficiários. [...]Os recursos [...] provinham do governo, dos patrões e dos
trabalhadores. Os benefícios concedidos variavam muito segundo o IAP. Todos
concediam aposentadoria por invalidez e pensão para dependentes. […] tornou-se
famoso pelos técnicos competentes que formou e que tiveram posteriormente grande
influência na política previdenciária. (CARVALHO, 2008, p.113-114)
Os Institutos Nacionais de Previdência Social (INPS) na década de 1990, surgiram na
mesma época que os ministérios e englobam os pilares da seguridade. Porém, de acordo com
Boschetti (2001), o que se nota é a criação de um único ministério que seria o da seguridade,
mas três em cada um com a sua finalidade e foco, determinando, assim, a independência e a
fragmentação dessas políticas.
O que se coloca como predominante no que se refere à historicidade da previdência na
sua transformação foi a incorporação e a efetivação de benefícios que não são contributivos.
Como se destaca “[...] o PRORURAL que garantia um benefício de ½ salário mínimo as
trabalhadores rurais(1971), e a renda mensal vitalícia aos idosos acima dos 70 anos e as
pessoas portadoras de deficiência pobres que nunca haviam contribuído para a Previdência.”
(BOSCHETTI, 2001, s.p).
Os trabalhadores rurais, segundo os autores Schwartzer e Querino (2002), têm como
conquista um grande salto e avanço na questão dos direitos previdenciários, sendo eles:
[...] Em primeiro lugar, o direito a uma aposentadoria por idade foi estendido ao
cônjuge (o que na prática significava: à mulher), sem importar o fato de que o chefe
de família poderia estar recebendo um benefício da Previdência Social. Essa
mudança nas regras significou uma universalização da cobertura às mulheres
trabalhadoras rurais idosas e uma mudança em seu papel social. O fato representou
uma vitória especial para o movimento social rural das mulheres (ROCHA, 2000
apud SCHWARTZER E QUERINO, 2002, p. 15)
O que deveria ser de cunho redistributivo, que visasse à universalidade de cobertura,
que fosse público com fundamentos na cidadania, teve uma tendência de separar o seguro da
assistência social. Procurando implantar políticas com características específicas que acabam
mais se excluindo do que se complementando, resultando uma seguridade que beira entre o
seguro e a assistência.
41
De acordo com Pereira (1998), anterior ao processo de promulgação da Carta
Constitucional de 1988, foi realizado uma proposta de seguridade efetiva, ampla e que
ultrapassasse a forma de seguro. Feita pelo grupo de trabalho regulamentado a partir do
Decreto nº 92.654 de 15 de maio de 1986, para reestruturação da previdência que contou com
o relatório final intitulado “Rumos da nova Previdência” em que se destacava que deveria ser
garantido a todo cidadão os direitos sociais básicos mesmo não sendo contribuinte.
2.3 A SEGURIDADE PÓS CONSTITUIÇÃO CIDADÃ
A proteção social, na realidade brasileira, não pode ser vista descolada do processo
histórico. Contudo, algumas particularidades do contexto expressão, a lógica do Estado em
atender a seguridade, para fins legais no Brasil a seguridade a partir da Constituição de 1988,
disposto no Art. 194 compreende-se:
[...] um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade
da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e
serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na
prestação dos benefícios e serviços. [...] (BRASIL, 1988, grifo nosso)
Nesse sentido, o tripé da seguridade, que é garantido pela Constituição, conforme já
visto anteriormente, compreende a saúde como sendo um direito fundamental de todo
cidadão. A partir da Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, no Título I que regulamenta o
disposto na carta magna. Das disposições gerais garante:
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover
as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de
garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e
sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às
ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
(BRASIL,1990, grifo nosso)
No que tange à década de 1980, o país passava por um momento delicado de
rompimento dos ideais autoritários e ditatoriais de luta pelo retorno da democracia. Nesse
entorno, um movimento começa a tomar corpo em torno da saúde coletiva. De acordo com
42
Bravo e Matos (2004), o chamado movimento sanitário foi construído ao longo da década
anterior com propostas de fortalecer o setor público em contrapartida ao privado. Cabe
destacar a importância das conferências de Saúde, principalmente uma das mais importantes
nas discussões sobre o financiamento da saúde, descentralização e reforma tributária. Com a
conquista dos sanitaristas e profissionais de saúde, é garantido na Constituição de 1988 o
direito à saúde, sendo um direito universal não contributivo.
A saúde, enquanto direito na seguridade, impõe novas formas de compreender e
atender ao cidadão brasileiro. Decorrente deste processo cabe ressaltar as construções que
fundamentam a humanização da saúde, a ampliação da cobertura, a perspectiva de
integralidade do sujeito, o entendimento enquanto política pública que demanda de
multidisciplinariedade no conhecimento e a intervenção, entre outros princípios, que foram de
fundamental importância para o reconhecimento do usuário do sistema SUS como cidadão de
direito.
De acordo com Toledo e Alexandre (2013), no que se refere à intersetorialidade, esta é
parte constituinte do trabalho multiprofissional no âmbito da saúde, por meio de acesso a
serviços que auxiliam a continuidade ao atendimento integral e democrático dos usuários.
Sendo um meio de interligação entre os serviços, em que os profissionais agem por meio de
diversas políticas sob a condição do usuário, para que possa ser atendido integralmente.
Já no que tange à Assistência Social, cabe ressaltar que as transformações foram de
grande vulto, permitindo estabelecer que a partir da seguridade, incorpora pela primeira vez o
caráter de política pública, capaz de romper com o processo de patrimonialismo na relação na
relação assistência e política de governo.
Entendendo que a Assistência Social neste período, passa a ter uma intencionalidade
pautada nas expressões da questão social, portanto defensora da justiça e de direitos sociais
dos usuários, a partir da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS- Lei nº 8.742) teve um
grande avanço em se tratando de estrutura, organização e aplicação de uma política. É
reconhecida integrante da seguridade não contributiva regulamentada no “Art. 1º A assistência
social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva,
que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de
iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.” da
referida Lei.
A Lei Orgânica de Assistência Social tem alguns objetivos que a regem e que norteiam
43
sua aplicação, são destacados a seguir a partir do art. 2 os incisos que remetem à discussão
deste trabalho de conclusão de curso.
Art. 2 A assistência social tem por objetivos: I - a proteção social, que visa à
garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;[...]d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária; e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de
benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família;
(BRASIL, 1993, grifo nosso).
Os artigos assinalados acima são indicativos de novas formas e reconhecimentos sobre
a condição do cidadão que demanda do serviço de assistência. Como enfatiza Iamamoto “As
expressões de luta de classe se transformam em objetos de assistência social, e os serviços
sociais que são expressão de 'direitos sociais' dos cidadãos, transmutam-se em matéria-prima
da assistência.” (2009,p.93).
A Assistência Social, no conjunto da seguridade social, é reconhecidamente uma
política pública, direito do cidadão ausente de caráter contributivo e prioritariamente
executada pelo Estado.
[...]Assim, parte do valor criado pela classe trabalhadora e apropriado pelo Estado e
pelas classes dominantes é redistribuído à população sob a forma de serviços, entre
os quais os serviços assistenciais, previdenciários ou “sociais”, no sentido mais
amplo. Assim é que tais serviços nada mais são, na sua realidade substancial, do
que uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos trabalhadores e
apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que é devolvido a toda a sociedade (e
em especial aos trabalhadores, que deles mais fazem uso) sob a forma transmutada
de serviços sociais. (IAMAMOTO, 2009, p.92, grifo do autor)
Como último elemento da seguridade, destaca-se neste trabalho o sistema
previdenciário. Como expõe Schwartzer e Querino (2002), este está dentro da lógica do
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), tendo como parte integrante o Regime Geral
de Previdência Social (RGPS). Esse é compreendido como um programa que visa à
seguridade social, que é gerenciado pelo Estado, tendo como base de financiamento as
contribuições salariais e tem uma parte de complementação por meio do Tesouro Nacional.
Essa estrutura conta com o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), ao qual fazem
parte diversos atores sociais envolvidos diretamente com movimentos sociais e representação
dos beneficiários.
44
A partir desse momento, o sistema, como cita Schwartzer e Querino (2002), cobrirá
'quase todos' os indivíduos ligados à previdência. Porém, há condições para ser um 'segurado',
uma básica condição é cobrir “[...] obrigatoriamente todas as pessoas contratadas de acordo
com as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)”. Na Lei essa afirmação está
presente no “Art. 13 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para o
exercício de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que em caráter temporário,
e para o exercício por conta própria de atividade profissional remunerada.” (BRASIL, 1943).
Recorrendo ao texto legal podemos destacar o que de fato se caracteriza como
trabalhador, empregador e o que dispõe sobre a não diferenciação das ocupações
profissionais.
Título I. Art. 1º - Esta Consolidação estatui as normas que regulam as relações
individuais e coletivas de trabalho, nela previstas. [...] Art. 2º - Considera-se
empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. Art. 3º -
Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Parágrafo único
- Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador,
nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual. (BRASIL, 1943)
A Previdência parte da compreensão de trabalho formal e que efetua contribuição.
Assim não perpassa os extenuados debates da categoria dos assistentes sociais que
reconhecem o valor central do trabalho, a ontologia do trabalho e ainda a riqueza socialmente
produzida pelo trabalho. Esta categoria de trabalho amplia a visão de direito para além de
recolhimento compulsório. Deveria ser de caráter universal, em que todos os cidadãos, mesmo
sem contribuição, tivessem acesso à ela. Porém, na Lei, colocam-se restrições de acesso,
mesmo alegando a universalidade, ela é estruturada na contradição, como demonstra os
destaques:
Art. 1º A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus
beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade,
desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e
prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Art. 2ºA
Previdência Social rege-se pelos seguintes princípios e objetivos: I - universalidade
de participação nos planos previdenciários; II - uniformidade e equivalência dos
benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e
distributividade na prestação dos benefícios; IV - cálculo dos benefícios
considerando-se os salários-de-contribuição corrigidos monetariamente; V -
irredutibilidade do valor dos benefícios de forma a preservar-lhes o poder aquisitivo;
VI - valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário-de-contribuição ou
do rendimento do trabalho do segurado não inferior ao do salário mínimo; VII -
45
previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional;
VIII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a
participação do governo e da comunidade, em especial de trabalhadores em
atividade, empregadores e aposentados. (BRASIL, 1991).
Os desafios para universalização da Seguridade Social são diversos; contudo,
inicialmente esbarram na concepção adotada no Brasil. Para alguns autores, o caminho seria
alterar a lógica de seguro.
A autora chama atenção para o que acontece quando para essa lógica do seguro, pois
não tem como mantê-la para todos os trabalhadores, sobretudo, se ele estiver na condição de
desempregado que terá que recorrer ao direito não contributivo. Entretanto, os que não
contribuíram “[...] que não estão inseridos em uma relação de trabalho estável e que não tem
direito ao benefício contributivo, se tornam potenciais demandantes da lógica social, do
benefício não contributivo” (Idem, p.183). Pois,
É preciso, assim, discutir a relação entre trabalho, assistência social e
previdência para entender, inclusive, se o padrão de seguridade instituído em
determinado país é (ou não) capaz de impor limites à desigualdade social no
capitalismo e universalizar seus direitos também para os trabalhadores
desempregados e que não contribuem diretamente com ela. Reconhecer o direito à
assistência social no âmbito da seguridade social não significa defender ou desejar
que essa política seja a referência para assegurar o bem-estar ou satisfazer às
necessidades sociais no capitalismo, pois adotar essa posição seria ter como
horizonte uma sociedade de assistidos. Não é esse o projeto de sociedade e de
direitos que orienta nossa análise. (BOSCHETTI, 2012, p.183-184, grifo nosso)
A autora classifica duas vertentes que insistem em permanecer no espaço da
seguridade, pois são convergentes e divergentes em vários aspectos. Destaca uma delas como:
[…] É a ausência de uma destas lógicas que leva à necessidade e à instauração da
outra lógica. Por exemplo, aqueles trabalhadores que não estão inseridos no mercado
de trabalho, que não tem acesso ao seguro ou à previdência social, acabam caindo
em uma situação de ausência dos direitos derivados do trabalho, muitos deles,
por não terem contribuído para esse sistema, chegam à velhice e não têm direito à
aposentadoria. (BOSCHETTI, 2012, p.182, grifo nosso).
Segundo Couto (2010), ainda há limites e impedimentos que ficam entre a concepção
da assistência e a sua operacionalização junto aos direitos sociais. As dificuldades de
articulação ocorrem devido “[...] às dificuldades de concebê-la como campo do direito e da
política social” (p.60), assim como conceber como política ainda é novo no consciente
46
coletivo brasileiro.
Cabe ressaltar a articulação do trabalho, a relação entre sua transformação nos seus
moldes e a classe dominante que, através da relação de forças, tem feito, por meio de
reformas, com que os direitos sofram constantes atacados. Como destaca Mota, sendo vista a
“[...] reforma como parte dos mecanismos formadores da gestão estatal da força de trabalho,
materializados na intervenção social do Estado.” (1995, p.183, grifo do autor).
Esse pensamento pressupõe que uma ação do governo com esse poder de mando
sobre determinados períodos como os de crise, acaba usando da tática que começa com o
aumento na contribuição para encobrir desfalques, até se for necessário a ampliação ou
impondo limites aos benefícios para manter o controle. Mas, e os trabalhadores? Segundo
Mota (1995), um dos maiores movimentos dos trabalhadores em favor da seguridade
aconteceu em favor da previdência social e da saúde. Eles partiam das reivindicações sobre as
condições postas para o trabalho e o piso salarial. Contudo, não há como destacar que tal
movimento tenha sido regido tendo como objetivo uma 'política global de seguridade', como
destaca a autora.
Esse embate entre as classes, aquela que, segundo Carvalho (2006), faz uma reflexão
sobre as ideias de Antunes, destaca que é a “classe-que-vive-do-trabalho” e a outra é
historicamente a classe hegemônica, que, no caso brasileiro, ainda passa por mudanças para
chegar a essa condição. A tensão entre elas perpassa “[...] entre a ofensiva capitalista e a ação
dos trabalhadores, especialmente a partir do final da última década, deixa explícitas as
inflexões nos discursos e nas práticas de ambas as classes.” (MOTA,1995, p.180-181)
O que Mota (1995) expõe como sendo uma das prioridades que a classe burguesa
coloca para se afirmar como classe e se desenvolver na condição em que se encontra, é uma
reforma que estaria pautada na democracia e precisaria passar por uma reciclagem dos “[…]
aparelhos privados de hegemonia e fazer concessões para a obtenção de consentimentos em
torno de medidas encaminhadoras do seu projeto social.” (Idem, p.182).
Dentro dessa lógica que engloba a correlação de forças, sobre aqueles que estão
vivendo sobre essa “hegemonia” é preciso que haja uma forma de se equilibrar na concessão e
as perdas na economia capitalista. Portanto essa classe, através das várias intervenções que
realiza na sociedade, tem seus interesses atendidos, pretendendo formular e implantar
políticas, abrangendo todas as esferas tanto econômicas quanto financeiras, mesma medida
que “[...] tenta construir um conjunto de novas alianças de classe, seja com uma parte do setor
47
assalariado, seja com a burocracia estatal, seja com os tradicionais setores agrários.” (MOTA,
1995, p.183).
Que os interesses da classe em questão são os mesmos do empresariado do setor
privado, isso a autora não deixa dúvidas. Porém, como isso afeta os direitos da classe
trabalhadora? “[...] os empresários mantiveram uma postura radicalmente contrária à
estabilidade do emprego e à redução da jornada de trabalho” (MOTA, 1995, p.185).
A tensão entre capital e trabalho fica expressa nitidamente nas tentativas do Estado de
mediar a relação entre essas classes antagônicas na esfera do direto e sua ampliação, ou sua
restrição nos temas que tem impacto direto na vida e nas relações de trabalho que envolvem o
lado mais frágil. Já que, no que se refere a previdência e o setor privado, resta a classe que
detêm o capital incentivar o sistema complementar, que acaba minando a possibilidade de
universalização do acesso à previdência e acaba reafirmando a lógica do seguro e reforma.
Por isso, dentro da dinâmica do capital mundial “[…] é possível imprimir uma direção
às relações entre sociedade, Estado e mercado, sob a alegação de reformas e ajustes à nova
dinâmica do capital mundial” (MOTA, 1995, p.191), que tem como base o pensamento
neoliberal sob os nortes do capitalismo. Como consequência dessa dupla imbatível “[...] Seu
eixo fundamental é o desenvolvimento do processo de privatização em sincronia com a
assistencialização da seguridade social. Esse ideal pressupõe duas vertentes, a primeira
defendida pela classe-que-vive-do-trabalho e a outra pelo grande capital.” (Idem, p. 192).
d) A preservação da concepção de seguridade social conforme postulada na
Constituição de 1988, marcada pelo reconhecimento de que a proteção social é
mediada pela ação do Estado, como um direito social que garanta a universalização
do acesso. [...]
e) O desmantelamento da seguridade social pública, por meio da separação das
políticas de previdência, saúde e assistência, que passam a ser agenciadas pelo
mercado, reguladas pelo Estado e tornadas objeto do consumo mercantil de parte dos
trabalhadores assalariados e de assistência social para os pobres. (MOTA, 1995,
p.192, grifo do autor)
A proteção social tem, por finalidade, para os trabalhadores “assegurados” o objetivo
de ser “[...] como um mecanismo capaz de restabelecer a renda perdida pelos trabalhadores
em face do desemprego e/ou da incapacidade temporária ou permanente para o trabalho.”
(SILVA, 2011, p.51). A seguridade dentro da perspectiva do trabalho assalariado coloca-se
como “condição de acesso à proteção social, no capitalismo industrial, sobretudo, no contexto
do fordismo, quando se estruturam os sistemas de proteção social, conformando o Estado
48
social” (Idem, p.51). Não só naquele período tinha-se como princípio o trabalho assalariado
como condição de inclusão no sistema de proteção social, porém, também alimenta a
organização capitalista por meio do controle do capital sobre o trabalho.
[…] Ademais, nunca é demais repetir que, apesar da diminuição quantitativa do
emprego formal, a forma de assalariamento continua predominante no mundo do
trabalho, obscurecida por subterfúgios, como externalização da produção,
terceirização e contratação direta de “autônomos”. (ANTUNES apud CARVALHO,
2006, p.170).
Dentro desse processo, a precarização do trabalho está presente como uma
transformação ocorrida na produção e no capitalismo, “[...] também o incremento do trabalho
precário, temporário, aumento do trabalho feminino, subcontratado e da informalidade”
(ANTUNES apud CARVALHO, 2006, p.155-156).
Muitos autores defendem que, devido a diversas mudanças no capitalismo, o trabalho
perdeu sua centralidade. Porém, Antunes (apud Carvalho, 2006) defende as ideias de Antunes
no tocante a centralidade do trabalho, pois, devido às metamorfoses que o mundo do trabalho
passou o autor“[...] defende a tese da centralidade do trabalho e, no limite, a possibilidade de
emancipação do gênero humano pelo trabalho”. (Idem, p.157-158).
Mas o autor faz uma ressalva sobre o pensar a emancipação “[...] quando o trabalho
concreto deixar de ser subordinado ao trabalho abstrato; isso é provável numa sociedade para
além do capital.” (ANTUNES apud CARVALHO, 2006, p.161). Assim como Antunes afirma
uma emancipação humana através “[...] do e pelo trabalho, posto que, se vivemos numa
sociedade produtora de mercadorias, somente a classe-que-vive-do-trabalho pode se contrapor
à lógica do capital e a sociedade produtora de mercadoria.” (Idem, p.163-164).
Há, na verdade, uma certa tensão entre a representação que o emprego ainda ocupa
na vida as pessoas como elemento estruturador e cheio de sentido para suas vidas e a
quase impossibilidade de construir suas vidas dentro do universo do trabalhador
formal, restando-lhes, portanto, descortinar possibilidades de cumprir com a
imperativa necessidade de manter-se vivo. Dito de outra maneira, é imprescindível
atentarmos para – apesar da fragmentação e da complexificação do mercado de
trabalho -, a existência de um forte processo valorativo sócio moral que, a despeito
das dificuldades, “exige” das pessoas uma inserção efetiva no empregado com
vínculo empregatício formal. (ANTUNES apud CARVALHO, 2006, p.170)
A importância de se pensar a emancipação vai além da discussão da Carta Universal
dos Direitos Humanos8, pois o embate entre a sua efetivação na sua sociedade capitalista
8 Proclama - como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
49
rebate em diversas barreiras. Como explica Batista (2013), não podemos deixar de buscar sua
aplicação no real, mas é preciso ter cautela, pois, ao reafirmar o que ela mantém como defesa,
acabamos insistindo no erro sendo “[...] a ausência de condições mínimas de existência física
e social da humanidade; de requisitos mínimos para o reconhecimento do humano nas
condições de vida, geradas socialmente.” (BATISTA, 2013, p.196). Portanto, procurando
garantir esses direitos do ser humano, pode “manter-se o fosso que aparta a humanidade de
sua dignidade e repor-se a ordem social, na qual o desumano se afunda.” (Idem, p.197), só
ocorre por estar em uma ordem liberal.
O autor Antunes (apud Carvalho 2006), destaca qual a importância do trabalho
informal na vida dos trabalhadores, tendo como finalidade ir além das aparências de
desproteção social, sendo que “[...] são mais do que sinais de que os brasileiros estão
procurando descortinar possibilidades de manter-se vivo.” (Idem, p.170-171). E, ainda
depende da ocupação que se desenvolve nessa condição de informalidade pode estar ligada
diretamente ao núcleo central do capital, portanto, é “[...] uma estratégia de sobrevivência
para quem exerce a atividade na informalidade, bem como forma de aumentar a lucratividade
das empresas.” (Idem, p.171).
Silva (2011) expõe e problematiza: é a condição inegável em que o capitalista
empregador se mantém, o pensamento sobre a informação ou conhecimento sobre o
trabalhador empregado pode ter uma renda sem o trabalho. Essa afirmação põe em
questionamento a não articulação entre as três políticas envolvidas na seguridade social, sendo
a Assistência Social a parte mais latente, pois ser não contributiva e não depender dessa
condição de vínculo empregatício para acessar os benefícios disponíveis, mas se encaixar nos
critérios estabelecidos de renda. Deve ser encarada não como substituto do trabalho, mas
como complementar ao sistema de proteção social. O que se põe como problema, é esta
política ser a última alternativa do cidadão, mas deveria ser vista como uma proteção social
não contributiva inerente à cidadania em defesa dos direitos.
É interessante ressaltar que “[...] o fato de somente os trabalhadores assalariados
poderem ter acesso aos benefícios advindos dos seguros sociais, como mecanismos de
preservação da renda em decorrência de incapacidade temporária ou permanente ao trabalho,
cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino
e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de
caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva,
tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 2000, p.3).
50
funciona como 'sedução' ao trabalho.” (Idem, p.55). Afirmando a condição atual, “No Brasil, a
relação trabalho assalariado formal e proteção social, sendo o primeiro um condicionando da
segunda” (Idem, p. 55), só tendo mudanças a partir da Constituição Federal (CF/1988).
Tendo em vista a condição destacada do trabalhador como cidadão e parte integrante
das ações direcionadas do Estado, a discussão sobre a condição de proteção do trabalhador é
importante, segundo Silva (2011, p.76) “[...] é um fator a ser considerado na análise acerca
das condições para universalização da previdência social.” (Idem, p.76).
Para demonstrar em dados estatísticos o número expressivo de uma população
economicamente ativa de 100.222.603 milhões de pessoas, fazendo um parâmetro com os
trabalhadores que não são formais dentro dessa perspectiva, verifica-se os dados na tabela
abaixo com indicadores. Estão inclusos nos Boletim Estatístico da Previdência Social – BEPS
de agosto deste ano (2013), porém são dados de 2011 sobre esse público.
Fonte: PNAD/IBGE - 2011
Dentro desse mesmo parâmetro de pesquisa e resultados obtidos pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), destaca-se o número de contribuintes em
parâmetro nacional e Estadual (PR) por distribuição de benefícios, assistencial ou
previdenciário.
DISCRIMINAÇÃO TOTAL
População Residente 195.243.800
Urbana 165.872.231
Rural 29.370.569
População Economicamente Ativa 100.222.603
Ocupada 93.493.067
Desocupada 6.729.536
População Não Economicamente Ativa 66.764.296
População Ocupada Segundo Posição no Trabalho Principal:
Total 93.493.067
Empregados 56.939.019
Com carteira de trabalho assinada 36.232.559
Funcionários públicos estatutários e militares 6.690.656
Outros e sem declaração 14.015.804
Trabalhador Doméstico 6.652.938
Com carteira de trabalho assinada 2.038.664
Sem carteira de trabalho assinada e sem declaração 4.614.294
Conta Própria 19.664.887
Empregador 3.175.757
3.860.571
Não remunerados 3.199.895
54.687.194
DADOS POPULACIONAIS - 2011
Trabalhadores na produção para o próprio
consumo e na construção para o próprio uso
Contribuintes para instituto de previdência em
qualquer trabalho
51
Fonte: Boletim Estatístico Regional da Previdência Social – Região Sul, junho/2013
Apesar de parecer que os gráficos apresentam somente a distribuição dos benefícios e
caracterizam por montante quantitativo os excluídos e incluídos do processo, também
evidencia com uma análise criteriosa a distribuição dos recursos por serviços demandados. A
amplitude do benefício ao não contribuinte é apoiada no déficit da previdência. Assim, no
gráfico abaixo analisamos, em relação ao PIB, receita e benefícios. Dessa forma, há evidência
que o montante ampliou o número de beneficiários, cresceu o número de beneficiários, mas
não contemplou a todos. Pois, segundo Boschetti (2001) não existe um déficit na previdência
e sim, um superavit (entra mais dinheiro do que se gasta). A tabela abaixo vem a confirmar o
pensamento da autora.
Receitas e benefícios da previdência, em R$ bilhões e % do PIB
Fonte: STN/Ministério da Fazenda, 2013 / Elaboração: Ministério da Fazenda
52
3 TRABALHADORES INFORMAIS E SEGURIDADE: ANÁLISE DOS DADOS
O presente capítulo aborda a sistematização dos dados da pesquisa de campo e a
análise das particularidades que envolvem o sujeito pesquisado frente ao tema da seguridade.
A aproximação com o objeto de pesquisa se deu a partir da indagação sobre a condição de
vida dos trabalhadores informais e as inquietações que o envolvem; processo presenciado na
experiência obtida por meio da disciplina de Estágio Supervisionado I através das atividades
realizadas no Ambulatório do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). Cabe
destacar que o Serviço Social está inserido na equipe multidisciplinar em diversos setores do
atendimento hospitalar.
O Serviço Social realiza atendimentos aos pacientes e muitos estão na condição da
informalidade, refletindo diretamente na forma de proteção social e assistência. Faz-se
necessário conhecer cientificamente a condição de trabalhador informal em tratamento
médico de alta complexidade e os impactos em sua condição socioeconômica e trabalho.
Condição esta necessária para a fundamentação na ordem da proteção, assistência adotada na
seguridade em contraponto aos direitos sociais.
Para isso, a linha metodológica é posta por Minayo como “o caminho e o instrumental
próprio de abordagem da realidade” (MINAYO, 1994, p.22). A pesquisa, nesse caminho,
responde a necessidade de se pesquisar esse campo do conhecimento e contribuições advindas
dela serão de suma importância para entender a realidade que envolvem os sujeitos das
diversas políticas, em especial os trabalhadores informais para avançar na busca por uma
proteção efetiva e universal. Portanto, é necessário o método investigativo baseado na
pesquisa de campo de natureza descritiva, para comprovar e perceber o exposto. Para Gil
(2009), na pesquisa de campo, a ênfase maior é para a profundidade que leva o pesquisador a
optar pela realização da entrevista.
A pesquisa teve como norte a inquietação da pesquisadora, representada no problema:
O trabalhador informal em tratamento de saúde de alta complexidade possui proteção social
no âmbito da seguridade brasileira? Desta forma, considerou-se como objetivo geral “Como a
condição de trabalhador informal, em tratamento médico de alta complexidade, impactam em
sua condição socioeconômica e de trabalho?”.
53
A hipótese da pesquisadora é de que na recuperação da saúde em tratamentos de alta
complexidade, o trabalhador informal tem a sua condição socioeconômica precária. Como
também que a seguridade social brasileira apresenta limites no que se refere à assistência ao
trabalhador informal em tratamento de alta complexidade.
Para tanto, a pesquisa demandou de abordagem qualitativa, considerando este o
melhor método para apreender a realidade social; ou seja, muito mais que sua expressão
quantitativa, são os condicionantes e variáveis que convergem para manifestação de
determinado fenômeno social. Através do contexto social do sujeito buscou-se identificar a
singularidade, particularidade e totalidade, em torno da seguridade. Ainda no processo de
construção do projeto se estabeleceu uma hipótese e esta, por sua vez, no momento da análise,
será comprovada ou refutada.
Em um primeiro momento e ao longo do processo, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica sobre o tema central, tendo como referência os autores de notório conhecimento
da área, como levantamentos de referências sobre trabalho, informalidade, seguridade e
proteção social, regida sob o acervo crítico. Tendo como base obras de autores reconhecidos,
revistas técnicas, dissertações e teses, bem como a utilização da pesquisa documental que
contou com prontuários dos pacientes e Cadastro de Atendimento Pacientes Pós-UTI
(ANEXO A), sendo utilizada para conhecer o perfil dos pacientes que participaram da
pesquisa. As informações necessárias foram organizadas, processadas e transformadas em
gráficos.
Para a delimitação da amostra do público alvo, foi realizado um levantamento de
dados prévios, em que considerou-se a estimativa de pacientes que retornariam à consulta e a
média de atendimentos por dia da equipe. Portanto, o número estimado serviu para verificar a
viabilidade de aplicação da pesquisa com os pacientes Pós-UTI. Os critérios para a seleção
dos sujeitos da pesquisa foram: Que estivessem em alta hospitalar e inseridos no projeto Pós-
UTI, que possuíssem maioridade, sem distinção de gênero, trabalhadores informais sem
registro de trabalho e vínculo com a Previdência. Ficou estabelecido que o familiar, na função
de cuidador, poderia acompanhar a entrevista contribuindo para esclarecer dados, caso o
sujeito da pesquisa estivesse sem condições plenas; porém sem ser uma nova categoria de
sujeito.
O prazo para a coleta de dados ficou estabelecido de junho a agosto de 2013. Contudo,
houve a prorrogação de prazo para setembro devido à demora do Comitê de Ética de Pesquisa
54
em retornar a autorização (Parecer de Aprovação – ANEXO A). Assim, a coleta teve início
perante a apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – APÊNDICE
A). Cabe ressaltar que, visando primar pela amostra, a pesquisadora se deslocou até a casa de
dois (02) sujeitos, para realizar a coleta de dados, sob livre consentimento do pesquisado e /ou
familiar.
A coleta foi direcionada por um questionário, estruturado (Instrumental APÊDICE B),
cujas respostas foram catalogadas, transferidas para tabelas e gráficos e serão apresentadas
adiante. O questionário foi construído alinhado ao objetivo geral e um dos objetivos
secundários: “Identificar e analisar a condição sócio econômica e profissional do paciente do
projeto pós-UTI, no período em recuperação da saúde”. Para preservar a identidade do sujeito
as respostas foram organizadas por código numérico, adotado de 001 a 005. Na sequência, o
leitor poderá acompanhar os resultados.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO LÓCUS DA PESQUISA
A presente pesquisa foi realizada no Hospital Regional de Cascavel. O HUOP faz
parte de uma região disponibilizando seus serviços a aproximadamente 02 milhões de
habitantes. Sua estrutura é diferenciada, sendo contabilizada com195 leitos distribuídos em
diversas especialidades, destacando 30 leitos para UTI - Unidade de Terapia Intensiva. Tem
como um dos objetivos de “Avaliar o estado geral de saúde do paciente e qualidade de vida
após alta da UTI”, prestar serviço em saúde, humanizado, gratuito e de qualidade aos usuários
e sua família. Para isso, conta com uma equipe qualificada para o atendimento aos pacientes
de cuidados intensivos e uma equipe multidisciplinar para um atendimento integral. A
pesquisa será efetivada no setor de alta complexidade, UTI, através do projeto “Ambulatório
Interdisciplinar de Seguimento em Terapia Intensiva”. O projeto contempla ações de
acompanhamento à saúde após a alta hospitalar.
3.2 PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA E A EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL
Os pacientes que participaram da pesquisa são moradores da Região Oeste do Paraná,
sendo 04 pacientes de Cascavel e um de Guaraniaçu. Com relação ao gênero, são 04 são
55
homens e uma mulher, com idades entre 18 a 75 anos9. As profissões variam entre servente de
pedreiro, trabalhador rural, pintor, caixa. Os sujeitos não possuem carteira de trabalho
assinada, portanto, são trabalhadores informais e se classificaram como autônomos (Ver em
apêndices em Gráfico 03).
No que tange à contribuição previdenciária, (04) quatro pesquisados nunca recolheram
os encargos sociais previdenciários e (01) um efetuou o recolhimento, como autônomo, por
dois anos, o que lhe assegurou o auxílio doença. Se ele recebe o benefício, porque incluí-lo
como um dos sujeitos de pesquisa? Justamente para contrapor a realidade que se colocou
enquanto pesquisa, pois de um lado está o trabalhador informal que segundo ele só contribuiu
“por ver pessoas se afastando, se machucando que tive consciência” (sujeito 003). A sua
capacidade teleológica é capaz de projetá-lo a noção do risco que ele corre sem a sua
“condição de segurado”. Porém, o que o difere dos demais? Somente a contribuição, pois é
trabalhador como os outros trabalhadores, continua na mesma condição de trabalho, tem seus
direitos limitados, a critérios e prazos.
A renda dos sujeitos apresentou variação. Há trabalhador que se declara autônomo e
trabalha por dia com uma remuneração fixa ou variante, outros trabalham como assalariado
com renda fixa, porém, de maneira informal, subcontratado. Esta disparidade não favoreceu a
identificação da renda per capta contando com a renda dos pacientes, mas, com a renda geral
e a ajuda de parentes, chegou-se à uma média per capta (Ver em apêndices Gráfico 04).
Vale destacar que a lógica do trabalho aos quais esses sujeitos estão envolvidos,
perpassa a condição de que o capitalismo tem, atualmente, na sua relação com a produção, o
trabalho precário. Como destaca Antunes, a ideia de subcontratação, o trabalho temporário
(por dia) e a informalidade, está diretamente ligada à situação do ser autônomo, também se
mostra como uma estratégia do capital para manter-se como sistema (produção e reprodução).
Porém, camufla a real condição do trabalhador que tem formas de exploração que o
envolvem, dando a ele uma falsa liberdade, como acontece com os autônomos.
Destarte, estão todos na condição assalariada, mas com um agravante, enquanto
autônomos arcam com a contribuição e todos os ônus que são gerados para realizar o trabalho,
no qual o comprador de sua força de trabalho não possui custo fixo e responsabilidade de
responder a um direito.
9 Dados retirados da pesquisa de campo, por meio dos prontuários dos pacientes e cadastro do serviço social Pós-
UTI (ANEXO B).
56
O problema de não se ter renda fixa e vínculo com a previdência é a ausência da
proteção, pois o trabalhador fica inapto e incapacitado para o trabalho durante um período
para a recuperação de sua saúde. Dessa forma, como explica Antunes (2006), a classe que
vive do trabalho não tem outro meio de sobreviver sem que seja pela venda do trabalho. Neste
sentido, uma parcela de cidadãos brasileiros não estão amparados nas políticas de seguridade
social, a margem dos direitos sociais, visto que se efetivam na medida em que prova o seu
trabalho com contribuição direta ao sistema previdenciário. A circulação de valor ou o
trabalho socialmente produzido não constituiu a lógica da proteção. Chama-se a atenção do
leitor para a necessidade de retornar a história da constituição da seguridade na relação com o
trabalho discorrida no capítulo anterior.
Portanto, é preciso analisar que, como afirma Antunes (2006), quando se reporta ao
trabalhador informal é preciso ter cautela ao condená-lo por ser informal, mas apreender o que
está escondido por trás de sua realidade. Nesse período de reabilitação, a tabela abaixo
demonstra a fragilidade desses trabalhadores, pois não tendo condições de trabalhar se
encontram sem meios de prover necessidades básicas e contam com a ajuda de familiares para
subexistir (Ver em apêndices Gráfico 05).
Como grande parte dos trabalhadores informais pesquisados não possuem renda
advinda dos benefícios, somando a questão das dificuldades no tratamento de saúde e a
incapacidade para o trabalho, temos um problema a ser resolvido, pois como nos disse uma
das cuidadoras durante a pesquisa: “Complicou tudo, se tivesse carteira assinada receberia
no mesmo mês que internou” (Cód. 005).
A questão de se ter ou não carteira de trabalho, simplesmente não responde a questão
desse escrito. Já que sabemos que a lógica do capital se organiza para manter alguns
indivíduos na condição de reserva ou preconizados, porque seu sistema não permite o pleno
emprego, como ressalta Antunes. Sabendo disso, a possibilidade da carteira de trabalho, ou
seja, o trabalho formal, ser a resposta salvadora da questão está longe de ser possível ou
plausível. Mas é certo que, de acordo com os pensamentos de Malaguti (2000), não tem como
separar o que é formal e informal, devido à ligação e a mistura dos dois atualmente.
Tudo seria mais fácil se eles tivessem carteira assinada, contribuindo com o INSS todo
mês como autônomo ou a empresa onde trabalham, certo? Errado. Explico porque não é só a
questão contributiva, pois se fosse, os problemas seriam todos resolvidos. Para entendermos a
complexidade dos casos é preciso se ater a alguns dados expressivos.
57
O contraste entre os resultados dos grupos de empregados com e sem carteira
assinada molda a evolução do grau de informalidade. O nível de informalidade
médio da população ocupada em 2012 ficou em 34%, o que representa uma queda
de 1 p.p.10 em relação a 2011. O gráfico 6 apresenta a evolução mensal desse
indicador nos últimos anos. Vale destacar a semelhança com o que foi mostrado para
a taxa de desemprego. Em particular, nota-se, por um lado, uma tendência contínua
de queda desse indicador, mas, por outro, uma significativa aproximação dos valores
mensais de 2012 e 2011, nos últimos meses do ano. No mês de dezembro de 2012, a
taxa de informalidade chegou a 34%, contra 34,4% em dezembro de 2011. Talvez, a
maior pressão relatada pelo lado da oferta no fim de 2012 tenha comprometido a
geração dos novos postos formais em relação aos informais, a despeito de não ter
afetado a geração total de postos de trabalho. (IPARDES, 2013, p.13-14)
Tanto que a pesquisa demostrou isso, devido à impossibilidade do trabalho os
pacientes tiveram que depender, como já citado, de parentes para conseguirem se manter, por
isso temos evidenciado essa ligação, de que nesse momento o trabalhador formal subsidiou
trabalhadores informais, por serem, nesse período, dependentes de terceiros (Ver em
apêndices Gráfico 06).
Dentro dessa perspectiva de renda, a indagação que foi latente era saber qual a média
de salário ou a remuneração que esses pacientes recebiam. O resultado dentre os pesquisados
foi de 0 a 1e 1/2 salário mínimo, para sustentar, em um desses casos, uma família de 6
pessoas. No tocante ao tripé da seguridade social, mesmo sendo atendido pela política do Sus,
03 pacientes que correspondem a 60% dos pesquisados, não se encaixam nos benefícios
disponíveis na assistência social, como o BPC. Já que, é válido considerar que ainda que a
assistência possua critérios explícitos e que se voltem a determinadas vulnerabilidades e
pobreza extrema, deixando de abranger as eventualidades que possam ocorrer com o
trabalhador, como no caso dos pesquisados, a invalidez ou período temporário sem trabalho a
recuperação.
Contudo, resta saber quantas pessoas vivem com os pacientes para sobreviverem com
tal montante de renda. Obtivemos como resultado: 3 pacientes vivem com mais um familiar
em casa e 02 pacientes que vivem com mais 04 ou 06 pessoas em casa.
Dentre os pesquisados, um paciente não precisou de cuidador, 02 (dois) tinham suporte
da mãe e 02 (dois) do cônjuge. São os suportes dos pacientes em todas as situações, desde
realizar higiene, remédio, locomoção até suporte emocional, pois cuidam deles o dia todo
durante esse período de recuperação. Vale destacar que desse suporte alguns pacientes não
10 Um (01) Ponto Percentual
58
necessitam mais, como é o caso de 01 deles. Dos 3 que permanecem em cuidados médicos e
do cuidador, 02 pacientes estão acamados e precisam de maiores cuidados e atenção por parte
dos cuidadores . Com relação ao vínculo com o cuidador familiar, destaca-se que 40% dos
pacientes são cuidados pela esposa e 40% pela mãe, sendo que 20% não precisaram de
cuidador.
Trazendo esses dados para a vida dos pacientes, a condição de cada um não suporta o
fato de não se ter renda, pois alguns cuidadores que, ao mesmo tempo em que precisam cuidar
deles, não podem trabalhar para suprir as necessidades deste e de sua família. É um dilema
bem visível na tabela abaixo. Portanto, há na rede da família nuclear e extensa que a
assistência se organiza e, portanto, em relações de solidariedade e não de direito social (Ver
em apêndices Gráfico 07).
Mas, enquanto isso acontece, quem arca com as despesas do trabalhador? Foi então
dirigida a seguinte pergunta a todos “O fato de não ser contribuinte do INSS o que implicou
na sua vida neste período? A resposta de um dos entrevistados expressa como a questão social
se mostra latente na vida dos pacientes, e é visível na realidade de cada um que gera algumas
respostas emocionais devido à desproteção geral e vulnerabilidade em que se encontram. Pois,
segundo um dos entrevistados toda a situação gerou: “Revolta, nervosismo (Código de
Identificação 004)”.
O familiar do paciente destacou que não teve amparo algum legal, mesmo trabalhando
a vida toda como trabalhador rural. O que se coloca como empecilho ao direito para esse
paciente é também a burocracia que envolve a comprovação de trabalho, pois mesmo tendo
todas as notas corretas não conseguiu acessar ao benefício que lhe era devido. Se a
informalidade é um meio de sobrevivência, o que foi constatado que foi alarmante, não foi só
uma cuidadora, mas três que estiveram e dois que estiveram e estão no percentual de 40 %
dos cuidadores familiares na condição de ter que recorrer ao trabalho informal para poder ter
uma renda e cuidar, assim, do paciente. Mesmo sabendo que não há nada que a ampare se
acaso acontecer algum acidente enquanto trabalha.
3.3 ELEMENTOS DA PROTEÇAO SOCIAL EM TORNO AO SUJEITO DA PESQUISA
Nas palavras dos entrevistados podemos notar nitidamente que as dificuldades vão
59
além do que está posto no cotidiano de cada sujeito. Mas são conjuntos de fatores que não
aparecem a priori na seguridade.
A estrutura capitalista não atende às perspectivas de emancipação ou condição plena
de emprego e nem proporcionar um trabalho que possa propiciar essa emancipação do
humano genérico. Para tanto, destacamos a seguir, as dificuldades enfrentadas ao longo do
período de recuperação alguns aspectos que dificultaram o processo. Como demonstra a
quadro abaixo (Ver em apêndices gráfico 08).
Dificuldades enfrentadas no período de recuperação da sua saúde
Código 001 e 003 - Sair de Casa, não podia sair, andar, ficou mais limitado ao lar, locomoção
Código 001, 002 e 004- Organização, Remédios, Cuidados, Financeiro (sem Renda), Ter que Trabalhar
Código 005 - Cuidador fica o tempo todo com o familiar, auxílio de parentes nos cuidados
Fonte: Dados de pesquisa - coletados de junho a setembro/2013
No que se refere aos benefícios tão requisitados nesse momento pelos pacientes, como
uma necessidade primordial são os benefícios Assistenciais e Previdenciários que não
requerem contribuição. Contudo, ressaltamos a seguinte condição: sem se encaixar nos
critérios não há como acessar esse benefício (Ver em apêndices Gráfico 09).
Como é o caso do benefício Assistencial, o Benefício de Prestação Continuada (BPC),
ao qual o trabalhador precisa ter sua renda dividida pelas pessoas que moram com ele, ter ¼
de salário mínimo per capta. Constatou-se que 60% pacientes não se encaixam nos critérios
que são primordiais para o acesso ao benefício. Embora precisem muito dele, ficam excluídos
de qualquer medida de proteção.
Para o Serviço social, a intervenção da profissão se pauta no que está disponível em
políticas públicas, uma vez que os critérios não correspondem às necessidades sociais dos
sujeitos, as intervenções tornam-se frágeis, pois não abarcam o conjunto necessário para que o
indivíduo retome a sua vida em plenitude. O profissional se vê sem alternativas, amarrado a
60
uma estrutura que há no Estado e as políticas que são praticamente inexistentes para atender a
condição particular dessa parcela da classe trabalhadora.
Abreu destaca que o Estado tem necessariamente que seguir alguns princípios para que
ele cumpra plenamente com suas funções, em que uma delas é o estabelecimento da Lei e da
Ordem Social, política e do excedente produzido. Entretanto, em Maquiavel, podemos ver que
o Estado era a base da sociedade, que não é influenciado pela moral. O que chama a atenção é
que essa moral existe porque cada pessoa tem uma moral que a norteia, assim como aquelas
que governam esse aparelho de controle (ordenamento social, segundo Thomas Hobbes), pois
se existe essa moral, que tipo de moral é essa? Pois as decisões são tomadas por quem detêm
o poder, como destaca Vieira(2006), que afirma que o Estado social só existe na representação
de sujeitos políticos, ou mesmo como destaca Marx (1980) que o Estado é burguês, sendo
assim, não atende a todos.
Mas o princípio que na carta Constitucional está como um norte a ser seguido e todas
as ações estão baseados segundo o Estado democrático de direito, se desviando as vezes para
princípios capitalistas que em nada tem ligação com o que está no texto legal. Esses ideais
culminam em Rousseau, que discorre sobre o contrato social, ao qual o Estado rege as ações
em sociedade por meio do contrato social, que tem como prerrogativa a garantia de direitos
baseados na igualdade.
Primeiro apontamos aproximações com um dos erros na construção da seguridade
social brasileira, sendo que antes da Constituição de 1988, quando era realizada a Comissão
que foi montada justamente para discutir os novos rumos da previdência, um dos tópicos de
discussão e proposta de mudança foi a tentativa de instaurar uma seguridade baseada no
sistema Beveridge, que priorizaria a universalidade. O fato de não permanecer como um
ministério unificado e não seguir o modelo universal e sim o Bismarkiano, faz com que siga a
lógica do seguro social, tornando a previdência um dos pilares de exclusão do trabalhador
informal. Mas vale destacar, como cita Boschetti (2001), que a Assistência Social e a saúde
andam na contramão dessa afirmação.
O processo do direito social no Brasil constituiu-se com fragilidades e lacunas no qual
a seguridade faz parte e reflete inclusive no modo que o trabalhador se vê enquanto sujeito de
direito. A partir da pesquisa evidenciou-se que os pacientes só tem a informação desse direito
no geral, de que ele existe, mas quando perguntado quais são os específicos no momento do
tratamento de saúde alguns não sabiam responder, a questão piora, portanto, quando
61
perguntamos sobre os direitos previdenciários. Ficou evidente que a informação sobre
contribuição, direito do autônomo, benefícios assistenciais, eles tinham uma noção mínima,
porém não sabem quem procurar e como acessar. Alguns entrevistados manifestaram a
iniciativa de contratar advogado particular para fazer seus direitos serem efetivados, por
também não confiarem nos órgãos competentes. Para que uma informação possa levar o ser
social a uma mudança relativa no seu cotidiano e fazer valer seus direitos, é preciso que esse
aprendizado se torne conhecimento, caso contrário, quando precisar terá apenas uma
informação.
62
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente Trabalho de Conclusão de Curso estabeleceu leituras que foram
fundamentais para ampliar a perspectiva em torno do tema trabalhado. A pesquisa de campo
selou a relação teoria e prática em que identificou-se singularidades da vida dos sujeitos da
pesquisa e usuários das políticas desnaturalizando a condição de vida e trabalho.
O debate que circundou este trabalho científico perpassou o trabalho informal e a
seguridade social, neste sentido, possibilitou a afirmativa de que esses dois eixos andam em
caminhos opostos. Porém, vale ressaltar que a seguridade precisa ser considerada uma
conquista advinda de enfrentamentos e embates que a classe trabalhadora teve que enfrentar
para alcançar seu direito. Portanto, o posicionamento da autora converge para o sentido de
que a seguridade é contraditória e que compreende muitas fragilidades.
Contudo, não é com reformas que irão resolver o problema, mas reformulando o modo
como essa política está articulada, pois precisa atender tanto na questão da sobrevivência
quanto na necessidade humana para com trabalho, ou seja, que se efetivem políticas advindas
das necessidades do trabalho e não para o trabalho. É nítida essa afirmação, quando se analisa
o trabalho, que é capaz de desenvolver as potencialidades presentes no ser social, mas essas
particularidades dentro do modo de produção capitalista são refreadas por seus limites aos
quais norteiam as ações do Estado sob seus cidadãos e nas relações estabelecidas no público e
no privado, consequentemente reflete em todo o conjunto da sociedade.
O que é importante considerar sobre a informalidade é a maneira como é discutida e
articulada, como sendo um ramo diferenciado das relações de trabalho. Tanto que se tem
erroneamente a visão de que o trabalhador informal é o grande problema para os demais, pois
na visão de alguns autores, é apenas a mão-de-obra barata que está precária, em todos os
sentidos e ser um dos reflexos das transformações na ordem do capital.
Entretanto, não é essa a intenção desse trabalho, e sim de descortinar, ainda que
brevemente, essa visão minimalista de que para resolver o problema do trabalhador informal,
basta inclui-lo nas relações de trabalho formal (carteira assinada e vínculo empregatício) que
está resolvido o problema que o envolve. Se fosse tão simples, esses trabalhadores desde o
63
início de suas atividades laborais já estariam contribuindo com o sistema previdenciário e
seriam um trabalhador “formal”, pois haveria trabalho para todos. Como a estrutura capitalista
não tem como oferecer aos seus contemporâneos essa condição de trabalho pleno, a discursiva
liberal de se encaixar simplesmente no sistema não é passível de sucesso.
Todavia, é preciso ressaltar que não é só a informalidade que fragiliza o indivíduo
durante o tratamento médico de alta complexidade, ressalta-se algumas: as condições postas
para sua reabilitação, a dificuldade de manter a renda familiar, a impossibilidade de retorno ao
trabalho, a dificuldade de acesso a benefícios e a ausência do direito ao suporte
previdenciário, a vulnerabilidade social em que os pacientes permanecem muitas vezes devido
à ausência de renda, os que não têm nenhum auxílio do Estado ou algo que os possibilite
cuidar exclusivamente dos pacientes.
Neste sentido, é o Estado o único capaz de criar, efetivar e ampliar políticas públicas e
setoriais que venham a dar suporte ao trabalhador, independentemente de sua categoria formal
ou informal, seus serviços e ações ultrapassam os limites de instituições e medidas paliativas.
Já que infere no modo das condições objetivas da vida dos cidadãos.
Porém, para que haja uma seguridade social realmente implantada não excludente e
universal, como se efetiva no SUS (um direito inalienável e independente da condição de
trabalho), é preciso que o Estado brasileiro se constitua de fato em um Estado social, atuando
sob as expressões da questão social. Embate este a ser posicionado pelo movimento da classe
trabalhadora; portanto, reconhecendo que o direito não se constitui no formato do trabalho
formal ou informal e sim na contribuição social que a população economicamente ativa e
produtiva gera a produção das riquezas.
Embora sendo trabalhador informal, não deixa de cumprir com seus compromissos,
não para de pagar os impostos e continua a fazer a economia crescer. Enquanto cidadão de
direitos, o trabalhador informal precisa ser reconhecido enquanto parte integrante da classe
trabalhadora, que pagou o ônus da modernidade, da reestruturação produtiva da produção
internacionalizada da divisão internacional do trabalho. Condição esta que amplia a visão de
classe trabalhadora e não culpa alguns sujeitos.
Porém, este sujeito trabalhador há de conhecer seu direito e entender a ordem do
Estado como forma de enfrentamento e constituição de uma seguridade que o assegure.
64
Contudo, no decorrer da investigação científica constatou-se que eles possuem a informação
do direito, mas desconhecem como acessá-lo. Os trâmites burocráticos institucionais do
Estado estão organizados para reduzir a demanda para além dos critérios excludentes. A
fragmentação das políticas setoriais geram transtornos ao encaminhamento profissional, como
para a compreensão do cidadão que tem na sua condição de tratamento de saúde o momento
presente; mas, para o Estado, são partes dissociadas da vida de um sujeito regida por
diferentes instancias e políticas. Nesse sentido, um mesmo sujeito é e não é cidadão, possui e
não possui benefícios sociais que o amparam na sua condição peculiar.
Outro dado revelador da condição precária foi identificado a partir dos cuidadores
familiares que, para manter a renda da família, se inserem também em trabalho informal,
alternando o cuidado com a possibilidade de obtenção de recursos, gerando um novo ciclo de
informalidade e vulnerabilidade. Entretanto, a pesquisa não se esgotou, devido aos inúmeros
questionamentos que ainda precisam ser aprofundados e servirão para pesquisas futuras.
Pensar neste tema da Seguridade e Inseguridade é compreender que urge mudar o
sistema previdenciário, ampliar a assistência e integrar as políticas do tripé da seguridade.
Mas, na ordem do Estado burguês, a preocupação precípua é com os recursos financeiros em
detrimento ao humano. Principalmente no que tange à seguridade brasileira que está amparada
em contribuição restrita e fracionada por políticas que a compõem. Como não é objeto tratar
do financiamento, apenas sinalizamos que o discurso da previdência não é suficiente para
responder a divisão estabelecida para um mesmo cidadão, o que é respondido no Estado de
direito liberal, nos mínimos sociais, no estímulo ao mercado privado na produção de bens e
mercadorias sociais como em uma rede familiar e comunitária solidária.
Para finalizar, retorna-se a indagação motivacional deste trabalho: Se o trabalhador
informal é um cidadão de direitos como todos nós somos, qual sua condição de vida, trabalho
e de seguridade social em meio a sua exclusão de proteção social, gerada por sua condição
precarizada e trabalho informal, considerando que esse sujeito passou por tratamento
intensivo e passa atualmente pelo período de reabilitação?
E, para esta pesquisa conclui-se que com as intensas investidas contra os direitos
previstos pela constituição (CF/88) ao longo das décadas, a autora Boschetti (2001) chama a
atenção que esse ataque é o início da fragilidade presente no sistema e faz parte do desmonte
65
dos direitos. Como a referida autora discute, é valida a compreensão de que não podemos
reduzir a seguridade somente a uma política, geralmente a previdenciária, como é costume ser
feito, pois cada parte constituinte do tripé tem igual importância, porém, é valido ressaltar
que a previdência é a sua parte mais frágil, sendo necessário maior aprofundamento nas
discussões e pesquisas que são feitas nessa área. Para que essa vulnerabilidade possa se tornar
relíquia, tornando-se, em algum momento, parte do passado, para que se possa avançar, com o
intuito para melhor atender a classe trabalhadora em suas necessidades.
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SOARES, Laura Tavares. Os Custos Sociais do Ajuste neoliberal na América Latina. São
Paulo: Cortez, 2000. (Coleção Questões da Nossa Época, v.78).
_______. Laura Tavares. O Desastre Social. In: SADER, Emir. Os porquês da desordem
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SOBOTTKA, Emil A. Movimentos Sociais e Cidadania no Brasil hoje. Revista Veritas.
PUCRS: Porto Alegre, v.43, n. especial, dez. 1998, p.191-203.
STEWART Junior, Donald. O que é o liberalismo?.Castelo, Rio de Janeiro: Instituto
Liberal/Sindicato Nacional dos Escritores de Livros,1988.
VIANA, Ana Luiza d’Ávila; LEVCOVITZ, Eduardo. Proteção Social: Introduzindo o Debate
In: Proteção Social Dilemas e Desafios. VIANA, Ana Luzia d’Ávila; ELIAS, Paulo Eduardo
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VIANNA, Maria Lúcia Teixeira Werneck. Reforma do Estado e Políica Social: notas à
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VIEIRA, Evaldo. Democracia e política social. São Paulo: Cortez, 1992. (Coleção polêmicas
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VIEIRA, Luiz Vicente. A Democracia Com Pés de Barro: o diagnóstico de uma crise que
mina as estruturas do Estado de direito. Recife: Ed. Universitária da UF, 2006.120p.
71
APÊNDICES
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................... 72
APÊNDICE B – Instrumental Aplicado na Pesquisa .......................................................... 73
APÊNDICE C – Tabelas de 03 a 09 ...................................................................................... 75
72
APÊNDICE A
73
APÊNDICE B
Pesquisa: Levantamento de dados dos pacientes do Ambulatório do Projeto Pós-UTI do HUOP para análise, integração e base do Trabalho de Conclusão de Curso de Serviço Social da Unioeste/Toledo.
Questionário – Coleta de dados do usuário
Nome/Paciente:___________________________________ Código de Identificação:_____
Idade:________ Gênero:__________ Profissão atual:_____________________________
01.Dados Trabalhistas
( ) Desempregado(a)
( ) Autônomo(a)
( ) Trabalhador s/ Carteira Assinada
( ) Trabalhador por contrato.
Tem renda fixa?
( ) Sim. Quantos salários? __________________
( ) Não. Quanto recebe? R$_________________
( ) Qual é a renda da família? R$_____________
02.Processo de reabilitação
Está afastado do trabalho?
( ) Sim ( ) Não
Há quanto tempo? _________________________
Voltou a exercer a mesma função?
( )sim ( ) não
03.Seguridade
( ) Encontra- se em Auxílio-doença? Porque não? __________________________________
( ) BPC ( ) Aposentadoria Por Invalidez
( ) Não recebe nenhum benefício
Desde quando recebe o benefício? ______________
3.1Assistência Social
Frequenta CRAS (Centro de Referência em Assistência Social)? Recebe algum auxílio?
( ) Possui Cad único
( ) Não recebe auxílio.
( ) Sim, recebe auxílio ( ) Luz Fraterna ( ) Cesta básica ( ) Bolsa
Família
( ) Outros:___________________________
04.Estrutura Familiar
Quanto a residência:
( ) Casa própria ( ) Alugada ( ) Cedida
74
4.1 Morava sozinho? Porque teve que mudar de domicílio? ____________________________________________
5. Quais foram as dificuldades enfrentadas período de recuperação da sua saúde?
__________________________________________________________________________
06.Após internamento o que mudou na organização da família?
( )Financeiro
( )Trabalho
( )Cuidado/tratamento
( )Adaptações necessárias. Quais? _______________________________________________
Que tipo de auxilio recebeu que foi fundamental na sua recuperação?
( ) Emocional
( ) Financeiro
( ) Mobilidade
( ) Outro. Qual? _____________________________________________________________
Quem amparou suas necessidades no período de reabilitação?
( ) Vizinhos
( ) Familiares
( ) Políticos
( ) Serviços públicos (CRAS, hospital, prefeitura, OAB)
( ) Outro __________________________________
Houve busca por recursos/serviços públicos neste período do tratamento?
O que? ____________________________________________________________________
O fato de não ser contribuinte do INSS o que implicou na sua vida neste período?
__________________________________________________________________________
Que proteção ou amparo deveria ter um trabalhador que se encontra em tratamento e afastado
do trabalho?
07.O que mudou na sua vida com relação ao trabalho?
R:_______________________________________________________________________
08.Ficou com alguma sequela? ( ) Sim ( ) não ( ) não tem certeza
A sequela dificultará o retorno a vida anterior ao acidente?
( ) Sim, de que forma:__________________________________________ ( )Não
E ao trabalho? ___________________________________________________________
09.Encaminhamentos do Serviço Social
O que a Assistente social orientou?
Foi informado sobre seus direitos e recursos para este momento?
Encaminhou para algum serviço público?
( ) Sim, quais?_________________________________________________ ( ) Não
Parentesco Gênero Idade Escolaridade Trabalho Renda
75
APENDICÊ C
Gráfico 03 – Vínculo Trabalhista
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
Gráfico 04 – Renda Per Capta (Paciente + Familiares)
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
Gráfico 05 – Percentual de Trabalhadores com Renda
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Trabalhador s/
Carteira
Assinada
(Trabalha por dia)
Autônomo Trabalhador c/
Carteira
Assinada
254,00 reais per capta (4 pessoas)
169,50 reais per capta (6 pessoas)
339,00 reais per capta (2 pessoas)
678,00 reais per capta (2 pessoas)
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Sem renda Renda Fixa
0%
20%
40%
60%
80%
100%
76
Gráfico 6 – Pessoas que Mantém a Renda Familiar no Período de Recuperação
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
Gráfico 7 – Porcentagem de Cuidadores Familiares Sem Emprego Formal
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
Gráfico 8 – Escala em % das Principais Adaptações Necessárias
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Cuidador sem
Emprego
Cuidador com
Emprego
Sem Cuidador
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Financeiro
Trabalho
Cuidado/tratame
nto
Adaptações
necessárias.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1 pessoa
2 pessoas
77
Gráfico 9 – Principal Fonte de Amparo
Fonte: Dados coletados da pesquisa, 2013.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Vizinhos
Familiares
Políticos
Serviços
públicos
78
ANEXOS
ANEXO A – Parecer 085/2013 CEP- Comitê de Ética em Pesquisa .................................. 79
ANEXO B – Instrumental do Serviço Social – Projeto Pós-UTI: Cadastro dos Pacientes
(HUOP) .................................................................................................................................... 80
79
ANEXO A
80
ANEXO B
1- IDENTIFICAÇÃO Nome:_____________________________________________________________________ Idade:______________________
Período de internamento: de_____/_____/_____ a _____/_____/_____
Motivo/diagnóstico:___________________Profissão:_______________Religião:__________________________________
2-DOCUMENTAÇÃO ( )Certidão de nascimento( )Certidão de casamento ( )RG( ) CPF ( )Título de eleitor ( ) Cartão SUS ( ) Carteira de trabalho 3- COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Identificação do integrante da
família
Grau de parentesco
Idade
Sexo
Posição no mercado de
trabalho
Renda mensal
4-ESCOLARIDADE ( ) Analfabeto ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo O período na UTI prejudicou o andamento dos estudos? ( ) Não ( ) Sim 5-SITUAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO ( )Assalariado com carteira assinada ( )Autônomo com previdência social ( ) Trabalhador rural ( )Assalariado sem carteira assinada ( ) Autônomo sem previdência social ( )Aposentado ( )Desempregado ( ) Pensionista ( )Estudante ( )Outro, qual:________________ 6- QUAIS BENEFÍCIOS SOCIAIS RECEBE: ( ) Passe- livre ( )BPC ( )Auxílio- doença ( ) Bolsa família ( ) Leite das Crianças ( ) Agente Jovem ( ) PETI ( ) Luz para Todos ( ) Tarifa social da água ( ) Participa de outro programa social, qual:____________________________( ) Não recebe nenhum tipo de benefício 7- RECEBE AUXÍLIO DOENÇA? ( ) Sim, período (início e término):________________________________________________________________________
( ) Não, motivo:_______________________________________________________________________________________
8- VOLTOU PARA MESMA FUNÇÃO APÓS O PERÍODO DE INTERNAMENTO NA UTI? ( ) Sim , função que exerce: _______________________________________________ ( ) Não, de qual para qual função foi transferido:____________________________________ 9- ORGANIZAÇÃO FAMILIAR: após o internamento, mudou algo na organização familiar?
( ) Não ( ) Sim,
especifique:_____________________________________________________________________________
10- CONVÍVIO SOCIAL E COMUNITÁRIO APÓS INTERNAMENTO:
81
( ) Está mais limitado, não sai praticamente de casa ( ) Não trouxe alterações substanciais ( ) Possui mais convívio social e comunitário Quais atividades que
participa:_______________________________________________________________________________
11- O PACIENTE APRESENTA SEQUELAS: ( ) Não ( ) Sim, especifique:_______________________________________________________________ 12- CASO O PACIENTE APRESENTE SEQUELAS, QUAIS AS NECESSIDADES DE ATENDIMENTO:
Atendimento especializado:
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
13- ESTÁ SENDO ACOMPANHADO POR QUAIS SERVIÇOS: ( ) Centro de Reabilitação UNIOESTE ( ) Centro de Reabilitação FAG ( ) CRE ( ) Ambulatório HUOP ( ) PAID ( ) UBS ( ) Secretaria de Saúde de origem ( ) Outros, quais:_________________________________________________ 14- O PACIENTE POSSUI: ( ) Cadeira de rodas ( ) Cadeira de banho ( ) Andador ( ) Muletas ( ) Prótese ( ) Não possui necessidade de órteses e próteses. Forma de acesso: ( ) Empréstimo ( ) Aquisição particular ( ) Fornecido por serviço público, qual:___________________________________ 15-CONDIÇÕES DE MORADIA Tipo de domicílio ( )Casa ( )Apartamento ( ) Outro, qual:__________________________________________________ Número de cômodos:______________________________ Situação do domicílio: ( )Próprio ( )Alugado, valor:______________________ ( )Cedido ( )Arrendado ( )Invadido ( )Financiado, valor:____________( )Outro, qual:________________________________________ Tipo de construção ( )Alvenaria ( )Madeira ( )Material aproveitado ( )Outro, qual:____________________________ 16- AVALIAÇÃO DO ATENDIMENTO PRESTADO PELO HUOP
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
17- SUGESTÕES DE MELHORIAS DO ATENDIMENTO
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
Informações prestadas por:_______________________________________________________________
Cadastro preenchido por:_______________________________________________________________