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LIMA, M. G. Ações do Meio Ambiente sobre as Estruturas de Concreto. In: ISAIA, Geraldo Cechella. (Ed.). Concreto: Ciência e Tecnologia. São Paulo: IBRACON, vol. 1, capítulo 21, 2011. CAPÍTULO 21 - Ações do Meio Ambiente sobre as Estruturas de Concreto (Resumo do Capítulo) Em geral, os estudos sobre durabilidade das estruturas de concreto levam em consideração aspectos relativos aos constituintes dessa estrutura (agregados, cimento, aço) e de sua mistura (relação água/cimento ou água/aglomerante, uso de aditivos e adições, etc.), ou então à sua construção (condições de cura, por exemplo). Faz-se necessário, para o conhecimento do comportamento da estrutura, conhecer o meio ambiente onde ela está inserida; esse meio pode fazer com que um concreto devidamente especificado e executado tenha sua vida útil reduzida significativamente. 1. Clima e estudos de durabilidade Relacionamento entre a degradação das estruturas com os aspectos relativos ao clima que leva em consideração os parâmetros médios (temperatura e umidade relativa média anual) pouco caracteriza um país com dimensões amplas e sujeito a muitas variações em cada região. 1.1. Classificação do clima Classifica-se o clima em: macroclima, mesoclima e microclima conforme a extensão do ambiente analisado, ver quadro 1 e figura 1. Quadro 1: Dimensões do clima nos estudos de durabilidade Clima Extensão horizontal Extensão vertical Macroclima ou clima regional 1-200 km 1-100 km Mesoclima ou clima local 100 m - 10 km 0,1 m - 1 km Microclima ou clima no entorno da edificação 0,01 m - 100 m 0,01 m - 10 m Fig. 1: Dimensões do clima. Fonte: LIMA, 2011

CAPÍTULO 21 - Ações do Meio Ambiente sobre as Estruturas ... · ... com predominância do clima tropical e ... ambientais sob as quais essa estrutura está exposta são ... tropicais

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LIMA, M. G. Ações do Meio Ambiente sobre as Estruturas de Concreto. In: ISAIA, Geraldo Cechella.

(Ed.). Concreto: Ciência e Tecnologia. São Paulo: IBRACON, vol. 1, capítulo 21, 2011.

CAPÍTULO 21 - Ações do Meio Ambiente sobre as Estruturas de Concreto

(Resumo do Capítulo)

Em geral, os estudos sobre durabilidade das estruturas de concreto levam em consideração aspectos relativos

aos constituintes dessa estrutura (agregados, cimento, aço) e de sua mistura (relação água/cimento ou

água/aglomerante, uso de aditivos e adições, etc.), ou então à sua construção (condições de cura, por

exemplo). Faz-se necessário, para o conhecimento do comportamento da estrutura, conhecer o meio ambiente

onde ela está inserida; esse meio pode fazer com que um concreto devidamente especificado e executado

tenha sua vida útil reduzida significativamente.

1. Clima e estudos de durabilidade

Relacionamento entre a degradação das estruturas com os aspectos relativos ao clima que leva em

consideração os parâmetros médios (temperatura e umidade relativa média anual) pouco caracteriza um país

com dimensões amplas e sujeito a muitas variações em cada região.

1.1. Classificação do clima

Classifica-se o clima em: macroclima, mesoclima e microclima conforme a extensão do ambiente analisado,

ver quadro 1 e figura 1.

Quadro 1: Dimensões do clima nos estudos de durabilidade

Clima Extensão horizontal Extensão vertical Macroclima ou clima regional 1-200 km 1-100 km Mesoclima ou clima local 100 m - 10 km 0,1 m - 1 km Microclima ou clima no entorno da edificação 0,01 m - 100 m 0,01 m - 10 m

Fig. 1: Dimensões do clima.

Fonte: LIMA, 2011

Os poucos estudos desenvolvidos utilizam dados de estações meteorológicas, trabalhando com macroclima

(variáveis de clima em grande escala), por exemplo, temperatura, considerando-se grandes áreas e períodos de

tempo longos. Esse tipo de abordagem leva a modelos pouco precisos.

1.2. Clima Brasileiro

Brasil localizado ente os trópicos de Câncer e Capricórnio, com predominância do clima tropical e equatorial

onde têm-se temperaturas médias anuais bastante elevadas. Considerando as suas dimensões continentais as

variações de clima e comportamento das variáveis ambientais tornam-se bastante complexas. De acordo com a

classificação de Köppen há 6 grandes regiões climáticas no Brasil onde predominam os climas tropical e

equatorial, ver figura 1.

Fig. 2: Grandes zonas climáticas brasileiras.

Fonte: LIMA, 2011

2. Parâmetros meteoro-químicos

As estruturas de concreto devem ser projetadas e construídas de forma a fornecer, durante a sua vida de

serviço, condições adequadas de uso e de segurança aos que delas se utilizam. Quando se considera a vida de

serviço de uma estrutura de concreto, as condições ambientais sob as quais essa estrutura está exposta são tão

importantes quanto suas propriedades mecânicas.

2.1. Temperatura

Por si só, traz pouca informação sobre a sua influência nos processos de degradação das estruturas. Sabe-se

que, em temperaturas maiores as velocidades de degradação acontecem de forma mais rápida. No entanto, sua

influência é extremamente importante uma vez que a as reações químicas de degradação são aceleradas com o

aumento de temperatura. Isso faz com que os ambientes tropicais sejam mais agressivos que os climas do

norte da Europa, por exemplo. Segundo GEHO-CEB citado por Lima (2011), um aumento 10ºC dobra as

velocidades das reações. A figura 3 apresenta o mapa brasileiro de temperatura média anual.

Fig. 3: Mapa brasileiro de temperatura média anual – período 1961-1990 (normais climatológicas) –

Temperatura média compensada.

Fonte: LIMA, 2011

2.2. Amplitude térmica

As variações térmicas do ambiente exercem influência nos processos físicos e químicos de degradação das

estruturas de concreto. O concreto de cimento Portland apresenta características de resistência que o tornam

mais susceptível à ação da variação de temperatura externa. Essas características são aquelas relativas à baixa

resistência à tração e ao seu tipo de ruptura, quando submetido a esforços de tração, apresentando um

comportamento de ruptura frágil. Essas propriedades estão associadas às características da matriz de cimento

hidratado e à zona de transição. A NBR 6118:2014 sugere consideração de valores entre 10 a 15°C como

amplitudes máximas anuais, acima desses valores deve-se tomar cuidados especiais no dimensionamento. Os

efeitos da variação ou da amplitude térmica interferem nos processos de degradação desde que se relacionam

com os mecanismos de fissuração do concreto. O comportamento estrutural ante diferenciais térmicos

dependo do tamanho das peças, pois se estabelece um gradiente de temperatura entre o concreto e o meio

ambiente. Nos casos correntes, o concreto não responde na mesma velocidade às variações ambientais, de

modo que o efeito sobre a estrutura depende da diferença entre os valores extremos das temperaturas normais

diárias máxima e mínima, e não dos máximos absolutos instantâneos. Geralmente considera-se que a

temperatura do concreto é igual a 2/3 da diferença entre os valores extremos das temperaturas normais diárias

máxima e mínima, em cada lugar. O efeito mais importante das variações térmicas está relacionado com a

contração e retração térmica, representando esforço de tração sobre o concreto, com possibilidade de

fissuração dependendo de sua intensidade. Ao contrário, a dilatação térmica não possui a mesma importância

que a retração, pois introduz esforços de compressão, gerando menores danos, já que a resistência à

compressão do concreto é muito superior à tração. Além da temperatura ambiente, deve-se considerar a ação

do vento e a radiação solar que, conjuntamente, influenciam na variação de temperatura no interior do

concreto. A figura 4 apresenta as amplitudes térmicas mensais médias para as diversas regiões brasileiras.

Fig. 4: Amplitude térmica mensal média registrada no período 1931-1990.

Fonte: LIMA, 2011

2.3. Chuva, umidade relativa e tempo de superfície úmida:

A maior ou menor incidência de chuvas e a umidade relativa do ambiente comandam a presença e

disponibilidade de água para que as reações de degradação possam acontecer. A disponibilidade de água nos

poros do concreto também está associada com os mecanismos de transporte. Os mecanismos de transporte

regem as trocas com o meio ambiente e a disponibilidade de água livre para participar e propiciar as reações

de degradação. Esses mecanismos de degradação fazem com que a, constantemente, a estrutura troque água e

substâncias com o meio ambiente. A presença de umidade no interior dos pores interfere, por exemplo , na

velocidade de corrosão das armaduras. O processo de corrosão das armaduras é eletroquímico e necessita de

água para que os íons possam se movimentar e gerar correntes de corrosão. A disponibilidade de água nos

pores, nas condições distintas das de imersão, está relacionada com o "tempo de superfície úmida", ou seja, o

tempo em que há presença de água líquida na superfície dos poros ou do concreto.

2.4. Chuva ácida

O ambiente urbano e industrial lança na atmosfera uma série de compostos que, dependendo das condições,

precipitam-se de forma seca ou úmida na superfície das construções. A chuva ácida é resultante da

combinação dos gases presentes na poluição atmosférica com o hidrogênio presente na atmosfera sob a forma

de vapor de água. Juntamente com os gases produzidos por fábricas e motores, são liberados para a atmosfera

óxidos de enxofre, os quais reagem com o vapor de água, produzindo ácido sulfúrico (H2SO4), que é diluído

na água de chuva e dá origem à chuva ácida. A chuva ácida apresenta um pH entre 4,5 e 2,2 (a chuva normal

possui pH de aproximadamente 5; em meio urbano). Por consequência, as águas de chuva ficam carregadas de

compostos agressivos, principalmente ácido sulfúrico, que ao atingir as estruturas de concreto, provocam sua

degradação (principalmente a dissolução da matriz cimentícia), ver figura 5 e quadro 2.

Fig. 5: Aspecto de um concreto que pode ter sido degradado por chuva ácida.

Fonte: LIMA, 2011 (foto de Gibson Rocha Meira, 2001)

Quadro 2: Composição média da chuva ácida no município de São Paulo.

2.5. Vento

A incidência do vento nas edificações é dependente de uma série de fatores, que vão desde aspectos

geográficos até formato da edificação, sua altura e condições do entorno. Em muitas situações, nas grandes

cidades, tem-se a formação de corredores, que aumentam a incidência do vento em algumas estruturas. A

construção de um novo edifício pode altera completamente as condições existentes de incidência de vento.

Com isso, tem-se a alteração também da incidência de chuvas e da deposição de partículas.

2.6. Chuvas dirigidas

O conceito de chuva dirigida está relacionado com a força com que a chuva incide sobre um edifício, em

especial em suas fachadas. Esta força está diretamente relacionada com a velocidade do vento durante o

período de chuva. Depende portanto, da velocidade e direção do vento, do tempo e da quantidade de chuva

incidente. O índice de chuva dirigida é obtido por meio da equação 1 e a seu grau de agressividade pode ser

determinado considerando-se os intervalos apresentados no quadro 3.

𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷 =𝑉𝑉 ∙ 𝑃𝑃1000

𝐸𝐸𝐸𝐸. 1

Sendo que, 𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷 é o índice de chuva dirigida (Driving Rain Index); 𝑉𝑉 representa a velocidade média anual do

vento (m/s) e; 𝑃𝑃 é a precipitação anual total (mm).

Quadro 3: Faixas de agressividade, metodologia de Lacy.

2.7. Poluentes

O dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera é um dos principais fatores desencadeantes do processo de

carbonatação do concreto e da consequente corrosão das armaduras. A carbonatação, ou seja, a reação do CO2

com os compostos hidratados do cimento, principalmente o Ca(OH)2, resulta na formação de carbonato de

cálcio (CaCO3) e água. Portanto, o pH do concreto baixa, alterando as condições de estabilidade da película de

passivação do aço e gerando condições favoráveis para que tenha início a corrosão da armadura. A velocidade

do processo e a profundidade da camada carbonatada são influenciadas pelas condições de exposição da

estrutura (concentração de CO2, umidade relativa do ar e temperatura do ambiente) e as próprias

características do concreto, as quais definem a porosidade, a reserva alcalina e o grau de hidratação do

cimento. A degradação das estruturas de concreto devida à presença de substâncias na atmosfera também

pode estar relacionada com a presença de partículas sólidas, que se depositam na superfície das peças

estruturais e, com a ocorrência de chuvas, criam ambiente propício para a dissolução da matriz, por gerar

produtos ácidos, e/ou para o crescimento de fungos e vegetação.

2.8. Insolação

A insolação (radiações presentes na luz solar), por si só, não afeta as estruturas de concreto; no entanto,

associada com outros agentes como temperatura, umidade, vento, pode interferir, por exemplo, na temperatura

no interior das peças estruturais. Outro aspecto que deve ser considerado diz respeito aos sistema de proteção

das estruturas de concreto (vernizes, silicones, tintas) que sofrem degradação direta com a incidência da

radiação solar. A figura 6 apresenta o mapa brasileiro de insolação anual.

Fig. 6: Mapa brasileiro de insolação anual – número de horas médio no ano, para o período 1961-1990.

Fonte: LIMA, 2011

3. Ambientes em Contato com as Estruturas de Concreto

3.1. Meio ambiente urbano

Causas de degradações: ocorrência de chuvas ácidas, deposição de partículas sólidas e lançamento de

dióxido de carbono na atmosfera. Além desses aspectos, cabe salientar que o meio urbano provoca alterações

no regime de ventos, pela criação de corredores de vento, onde se tem alteração nas características de chuvas

dirigida, em especial nos centros mais densos.

3.1. Meio ambiente marinho

De todos os ambientes é o mais estudado, a presença de agentes agressivos, com velocidade alta de ataque,

justifica essa preferência de estudo. São encontrados vários agentes que atuam negativamente sobre as

estruturas de concreto, reduzindo seu desempenho, e que podem ser agrupados em agentes químicos, agentes

físicos e agentes biológicos. Normalmente a ação desses agentes acontece simultaneamente. Segundo Metha e

Monteiro (1994), no ambiente marinho, a água salgada é o principal agente responsável por processos físicos

e químicos de degradação. Isso se explica pelo fato de que, na água do mar, é possível se encontrarem todos

os elementos naturais conhecidos da tabela periódica, cada um em uma determinada proporção.

3.1.1. Composição da água do mar

Os seis íons mais abundantes da água do mar, que compõem juntos em torno de 99% dos sais do mar, são:

cloreto (Cl-), sódio (Na+), sulfato (SO42-), magnésio (Mg2+), cálcio (Ca2+) e potássio (K+). Já comprovou-se

que embora a quantidade total de sais dissolvidos seja variável, as proporções dos elementos principais são

constantes. A média global de salinidade aceita para todos os oceanos é de 35 partes por mil. A concentração

de sais da água do mar varia segundo a profundidade, a temperatura, a latitude e a proximidade da costa. A

salinidade e a temperatura influenciam diretamente nas características fisico-químicas da água do mar, por

exemplo, alterando a densidade de uma massa d'água que acaba influenciando também na distribuição dos

seres vivos. Um aspecto interessante, quando se estuda o ambiente marinho, diz respeito ao pH da água do

mar; apesar de ser fortemente influenciado pela atividade biológica, nos processos de fotossíntese, respiração

e excreção, não sofre variações significativas. Os oceanos são considerados uma grande "solução tamponada".

Isso se deve às reações ente o dióxido de carbono no ar (CO2), o ácido carbônico (H2CO3) e o carbonato de

cálcio (CaCO3). O gás carbônico, rejeito respiratório e ponto de partida para a fotossíntese, quando

borbulhado em água, sofre dissolução, formando ácido carbônico e, dessa forma, reduzindo o pH. Por sua vez,

o ácido carbônico reage com o carbonato de cálcio, provocando uma elevação do pH, conforme pode ser

observado na reação abaixo:

H2CO3 + CaCO3 ⇔ Ca++ + 2HCO3-

3.1.2. Agressividade do ambiente marinho às estruturas de concreto

A maioria dos estudos nesta área resume-se nos temas de corrosão das armaduras e em outros poucos casos,

ataques por sulfatos. Devido às características de ataque diferenciadas, muitos autores e códigos de

normalização apresentam o ambiente marinho dividido em diferentes zonas: zona de atmosfera marinha, zona

de respingos, zona de variação de maré, zona submersa, ver figura 7. Cada zona apresenta as suas principais

características de degradação.

Fig. 7: Regiões (zonas) de agressividade às estruturas de concreto armado.

Fonte: LIMA, 2011

• Zona de atmosfera marinha: nessa região a estrutura recebe, apesar de não estar em contato com a água

do mar, uma quantidade razoável de sais, capazes de produzir depósitos salinos na superfície, onde se

produzem ciclos de molhagem e secagem. Os ventos podem carregar os sais na forma de partículas

sólidas ou como gotas de solução salina contendo vários outros constituintes. A quantidade de sais

presente vai diminuindo em função da distância do mar, sofrendo influência da velocidade e direção dos

ventos predominantes. O mecanismo principal de degradação dessa zona é a corrosão das armaduras pela

ação dos íons de cloreto. Nos estudos, é apresentado que para distâncias maiores do que 750 m da orla,

tem-se uma redução significativa no ataque provocado pelos íons de cloreto.

• Zona de respingos: É a região onde ocorre a ação direta do mar, devido às ondas e os respingos. Os danos

mais significativos são produzidos por corrosão das armaduras pelos íons de cloreto. A degradação nessa

zona é bastante significativa devido à ocorrência de ciclos de molhagem e secagem, potencializando as

ações dos agentes agressivos presentes.

• Zona de variação de marés: essa região é limitada pelos níveis máximo e mínimo alcançados pelas marés.

Devido a isso, o concreto pode encontrar-se sempre saturado, dependendo das condições climatológicas e

com uma crescente concentração de sais. A degradação acontece devida à ação dos sais agressivos (ataque

químico), corrosão de armaduras (devida à presença de cloretos), ação das ondas e outras substâncias em

suspensão (abrasão) e microorganismos.

• Zona submersa: é a região onde a estrutura de concreto encontra-se permanentemente submersa. A

degradação acontece pela ação de sais agressivos (sulfato e magnésio) e pela ação de microorganismos,

que, em casos extremos, pode gerar a corrosão biológica das armaduras e do concreto.

A agressividade de cada zona possui características próprias que sofrem influência de diferentes fatores, entre

eles a temperatura. A temperatura da água próxima à superfície dos oceanos varia de um mínimo de 2°C

negativos (ponto de congelamento da água do mar) até um máximo de aproximadamente 30°C. A temperatura

diminui rapidamente com o aumento da profundidade e estaciona em valores de 2 a 5°C em profundidades

entre 100 e 1000 metros ou mais. Estudo de Guimarães (2000) apud Lima:

• penetração de cloretos: maior penetração nas regiões com ciclos de molhagem e secagem (zonas de

respingos de marés e de variação de maré).

• carbonatação: pode acontecer apenas na zona névoa ou de atmosfera marinha, sendo insignificante para

as regiões de respingo, variações de maré e submersas.

• sulfatos: o ataque por sulfatos é mais intenso na zona predominantemente de respingos e de variação de

marés, diminuindo a intensidade de ataque com o aumento de cota, ou seja, com a distância em relação ao

nível do mar, e é praticamente desprezível na zona totalmente névoa.

3.1.3. Agentes de degradação presentes no ambiente marinho

• Agentes químicos de degradação: são principalmente sais que se apresentam dissolvidos na água do mar -

cloreto de sódio, cloreto de magnésio, sulfato de magnésio, sulfato de cálcio, cloreto de cálcio, cloreto de

potássio, sulfato de potássio e bicarbonato de cálcio. A agressividade do ambiente marinho às estruturas

de concreto deve, assim, ser dividida em dois aspectos completamente distintos, com características de

ataque relativa à degradação do concreto, pela ação dos sais agressivos; outra pelos processos de corrosão

das armaduras, devida à presença de íons e a alta umidade do ambiente.

• Agentes físicos de degradação: movimentação da água (ondas correntes e marés) e ventos. Dentre os

processos de movimentação da água do mar, as ondas e as marés possuem efeitos direto na degradação

das estruturas de concreto. As correntes apresentam uma ação indireta influenciando na concentração dos

compostos químicos e na composição do material carreado em suspensão, os quais poderão ter ação direta

na erosão ou no ataque químico às estruturas. Com efeito da ação das marés, uma estrutura exposta passa

por ciclos de molhagem e secagem, calor e frio. As ondas atuam na degradação das estruturas por meio do

desgaste superficial provocado por seu impacto contínuo. A variação das marés afeta não só a estrutura

exposta ao ar livre, a qual pode receber a água do mar diretamente ou apenas por respingos ou névoa, mas

também as partes das estruturas que estão sujeitas às variações do nível do lençol freático, que possui

características químicas bastante peculiares. O vento tem grande importância como agente de degradação,

pois atua no transporte de íons, seja na forma de partículas sólidas e/ou através de gotas de solução salina,

nos ciclos de molhagem/secagem e, de maneira indireta, na formação de ondas e correntes. O vento age

como catalisador nos ciclos de molhagem/secagem das estruturas, favorecendo a precipitação ou

formação de sais.

• Agentes biológicos: os principais organismos agressores às estruturas de concreto são os organismos

encrustadores que se fixam nas estruturas e causam danos de forma direta, desgastando parte da estrutura,

ou de forma indireta, na produção de resíduos metabólicos, enzimas e ácidos. Organismos como os

moluscos, crustáceos, equinodermos e algas, que são exemplos de encrustadores, afetam positiva e

negativamente as estruturas de concreto. a forma negativa já foi citada - provocam desgaste superficial ou

aumento de peso das estruturas. Afetam positivamente, pelo fato de servirem de anteparo para as ondas,

reduzindo, assim a ação direta destas. Outro exemplo de efeito ambíguo é o das algas, as quais podem ser

consideradas nocivas às estruturas quando observadas como formadoras de compostos sulfurosos, ácido

carbônico e dióxido de carbono. Por outro lado, as algas em zonas submersas podem selar a superfície das

estruturas, melhorando a sua durabilidade.

3.2. Ambiente Marinho Urbano

No ambiente marinho urbano, têm-se, como principal manifestação patológica, a corrosão das armaduras, que

precisa de entendimento quanto aos mecanismos de degradação. em alguns casos, pode-se ter corrosão por

carbonatação; em outros, por presença (penetração) de íons de cloreto. Existe um consenso entre os meios

técnicos e científico de que não se sabe como acontece a degradação (velocidade de ataque e fatores

intervenientes) quando se tem a ação conjunta do CO2 e dos íons de cloreto.

O ambiente marinho urbano apresenta características de agressividade combinando agentes de degradação que

são influenciados por fatores ambientais, como temperatura, chuvas e umidade relativa do ar, entre outros.

3.3. Esgotos e Tubulações

As tubulações de esgoto, quando executadas em concreto, estão sujeitas a condições bastante específicas de

exposição. Neste ambiente, destaca-se a degradação provocada pela ação de composto de enxofre, que atacam

tanto a matriz hidratada de cimento, quanto as armaduras. Somando-se aos compostos naturais do ambiente,

tem-se a ação de inúmeras bactérias, aeróbicas ou anaeróbicas, que podem atacar diretamente o concreto.

A corrosão do concreto acontece principalmente devida à formação de sulfato de cálcio, que provoca uma

série de reações sonde há produtos finais de volume que chega até mil vezes o volume inicial, provocando,

assim, a fissuração e desagregação do concreto de cobrimento, em contato direto com o meio agressivo, ver

figura 8.

A corrosão das armaduras acontece quando se tem a perda do cobrimento protetor e o acesso direto do meio

agressivo. A corrosão acontece em especial pela ação das bactérias (que geram despolarização catódica) e do

cálcio sulfúrico presente no meio que ataca a armadura e, por hidrólise, retorna ao meio para novamente atacar

a armadura, promovendo um processo cíclico.

A degradação provocada pelo meio em questão é de difícil detecção, uma vez que se tem dificuldade de

acesso e inspeções preventivas não são realizadas. Tal degradação encontra difícil solução, uma vez que as

tubulações são dimensionadas para trabalhar com 1/3 da seção cheia, deixando exposto ao meio ambiente

extremamente agressivo o restante da seção.

Existe normalização nacional para tubos destinados a águas pluviais e esgoto. Essas especificações são

apresentadas pela ABNT NBR 8890:2007. De forma resumida, exige-se um concreto com relação

água/cimento máxima de 0,45 (kg/kg) para tubulações de esgoto e 0,50 para tubulações de águas pluviais. O

consumo de cimento deve estar de acordo com a ABNT NBR 12655:2006. A referida norma não faz restrição

ao tipo de cimento a ser utilizado no caso de tubulação para águas pluviais; no entanto, para o caso de

tubulações de esgoto, deixa claro que deve ser especificado um cimento resistente a sulfatos, atendendo às

especificações da ABNT NBR 5737:1992. Restringe também a presença de íons de cloreto no concreto a

15%, determinados de acordo com a ASTM C1218:1999. Quanto ao cobrimento mínimo, especifica que tubos

de diâmetro nominal de até 600 mm, o interno deve ser de pelo menos 20 mm; e o externo de 15 mm. Para

diâmetros superiores, especifica que o cobrimento interno deve ser de pelo menos 30 mm; e o externo de 20

mm.

Fig. 8: Ataque biológico em rede de esgoto sanitário (HELENE, 1986). Em condições anaeróbicas (sem

oxigênio) forma-se o sulfeto de hidrogênio (H2S) resultante da ação bacteriana do esgoto, que por ser volátil,

oxida-se no ambiente aéreo acima do líquido, formando ácido sulfúrico resultando em ataque ácido na parte

superior da tubulação. O resultado desta ação é a corrosão da pasta de cimento e da armadura que podem

desintegrar a parte superior da peça de concreto.

Fonte: ISAIA, 2011

3.4. Meio Ambiente Industrial

As indústrias possuem microclimas bastante peculiares, como exemplo, são citadas as fábricas de papel e

celulose que, com seus tanques de branqueamento, contaminam com cloretos todo o entorno. O ataque neste

caso, é superior ao provocado pela pior condição de exposição ao ambiente marinho. As indústrias também

contribuem para a contaminação do meio ambiente em geral, lançando substâncias como os derivados de

sulfatos, monóxido e dióxido de carbono. Também contribuem para a formação de chuvas ácidas e para a

deposição de partículas (sólidas em suspensão na atmosfera) que formam depósitos que, com a ocorrência de

chuvas, provocam a acidificação na superfície do concreto.

REFERÊNCIA:

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM C1218: Standard test method for water-

soluble chloride in mortar and concrete. West Conshohocken: ASTM, 1999.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5737: Cimentos resistentes a

sulfatos. Rio de Janeiro: ABNT Editora, 1992.

______ NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT Editora,

2014.

______ NBR 8890: Tubo de concreto de seção circular para águas pluviais e esgotos sanitários -

Requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT Editora, 2007.

______ NBR 12655: Concreto de cimento Portland - Preparo, controle e recebimento - Procedimentos.

Rio de Janeiro: ABNT Editora, 2006.

GUIMARÃES, A. T. C. Vida útil de estruturas de concreto armado em ambientes marinhos. São Paulo: USP,

2000. 241 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil, Universidade de São Paulo, 2000).

HELENE, P. Corrosão das Armaduras. São Paulo: Pini, 1986. 47 p.

ISAIA, G. C. A Água no Concreto. In: ISAIA, Geraldo Cechella. (Ed.). Concreto: Ciência e Tecnologia. São

Paulo: IBRACON, vol. 1, capítulo 9, 2011.