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Capítulo Gramática

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Capítulo

Gramática

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Unidade Unidade 43Unidade 2Unidade 1

Parte I – Linguagem: ser no mundo e com o outro

introdução aos estudos sobre a linguagem

Linguagem e comunicação

Linguagem e sentidos

Linguagem e materialidade

Michelangelo. A criação de Adão (detalhe), 1511. Afresco. Capela Sistina, Vaticano.

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A linguagem é tão antiga quanto o ser humano. Por mais que, em um esfor-ço de imaginação, suponha-se um mo-mento em que ela teria sido “inventada”, percebe-se que a criatura ancestral que teria existido antes da linguagem ain-da não era, propriamente, um humano. Não é possível concebê-lo sem pensar em um ser que age no mundo, interage com outros humanos e busca atribuir sentidos ao que vive e experimenta: em outras palavras, não existe humano sem linguagem.

Nesta Parte I, você iniciará os seus es-tudos sobre as linguagens e saberá como a Linguística, ciência que estuda a lingua-gem verbal e as línguas, constituiu-se no início do século XX. Também entenderá por que alguns dos seus postulados iniciais foram questionados e reformulados pelos estudiosos ao longo do tempo. Na sequên-cia, refletirá sobre a dimensão comunica-tiva da linguagem e a maneira como ela produz sentidos. Por fim, colocando-a sob a lente de um microscópio, descobrirá as pequenas partes que a compõem.

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Sinalização na praia de São Sebastião. A placa indica, com uma barra transversal que representa a ideia de proibição, que não se deve tocar nas tartarugas. O produtor desse texto não verbal achou necessário acrescentar uma informação em linguagem verbal: “Respeito”. A sobreposição dos elementos não verbais e verbais é um exemplo de como as diversas linguagens se misturam no dia a dia, produzindo sentidos variados.

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 1Linguagens,linguagem verbal e língua1

2Uma língua, muitas línguas

Introdução aos estudos sobre a linguagem

O ser humano vive imerso em representa-ções, elementos que ele associa entre si, atri-buindo a essa associação um determinado va-lor. Na imagem ao lado, o desenho no interior da placa redonda, a faixa vermelha transversal sobre o desenho e a palavra registrada na placa retangular, logo abaixo, têm diferentes significa-dos e apresentam relações diversas com os ele-mentos aos quais se associam.

Essas representações estão ali com um pro-pósito: induzir alguém a um determinado tipo de ação. As noções de representação e intera-ção, portanto, são fundamentais para compre-ender a maneira como o ser humano produz as diferentes linguagens. Entre elas, a linguagem verbal desempenha uma função preponderante em diversas práticas da vida cotidiana, além de possibilitar o acesso à maior parte das formas de conhecimento que constituem o patrimônio cultural, artístico e científico da humanidade.

Conhecer e investigar as linguagens de forma crítica e reflexiva, especialmente a linguagem verbal, é um modo de ampliar as suas possibili-dades de participação social significativa. Nesta unidade, você iniciará essa investigação.

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Capítulo

neste capítulo

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� Linguagens. � Signos: ícones, índices e símbolos.

� Os estudos sobre a linguagem verbal.

� A língua e a percepção sobre a realidade.

Ao se relacionar com o mundo e com seus pares, o ser humano estabelece associa-ções entre diferentes elementos, muitas vezes sem se dar conta disso. Considere, por exemplo, uma situação em que alguém de sua família prepara um prato especial no dia do seu aniversário. Provavelmente você interpretará essa atitude como um gesto de carinho. Nesse caso, estará associando o elemento “comida” ao elemento “afeto”, uma relação que, à primeira vista, talvez não fosse óbvia.

Além de vivenciar essas associações nas experiências do dia a dia, o ser humano também as investiga em uma perspectiva científica. Nessa investigação, os conceitos que ele formula o ajudam a compreender a si mesmo e suas relações com os outros seres humanos. Neste capítulo, você estudará alguns desses conceitos, conhecendo um pouco mais sobre as reflexões do ser humano a respeito das linguagens.

Linguagens � Leia a tira a seguir, com as personagens Hagar e Eddie Sortudo, para responder às questões.

Linguagens, linguagem verbal e língua

Browne, Dik. Hagar, o Horrível - 1. Porto Alegre: L&PM, 1997. p. 40.

1.  No primeiro quadrinho, em que elemento Eddie se baseou para responder à pergunta de Hagar? Por que você acha que esse elemento lhe chamou a atenção?

2.  No segundo quadrinho, a que fenômeno Hagar associou o elemento identificado por Eddie e por que essa interpretação gera humor?

3.  O que essa “leitura” que Hagar fez do elemento apontado por Eddie revela a seu respeito? E a respeito do valor social atribuído ao estabelecimento em que eles se encontram?

A tira coloca em destaque uma peculiaridade da relação do ser humano com o mundo que o cerca: o fato de ele estabelecer conexões entre elementos, de tal forma que um deles pode representar (“aparecer no lugar de”) outro.

De imediato, a interpretação de Hagar para a fala de Eddie (“Estou vendo uma nuvem.”) indica uma relação de representação entre dois elementos. Mas ela não é a única presente na tira. O estabelecimento em que Eddie e Hagar se encontram, por exemplo, também é re-presentado, no segundo quadrinho, por uma palavra.

Dá-se o nome de linguagens às formas de interação entre os seres humanos que utilizam sistemas organizados de representações, compostos de recursos gráficos, sonoros, ges-tuais, etc. São exemplos das inúmeras linguagens a música, a pintura, o desenho, a dança, a escultura e a fotografia.

Na tira de Hagar, a ideia de “estabelecimento comercial que fornece bebidas e alimentos para consumo no próprio local” foi representada por duas linguagens: a pictórica (materia-lizada pelo desenho de um bar) e a verbal (materializada pela palavra bar).

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 Signos e linguagem verbalAs unidades de representação que compõem uma lin-

guagem são chamadas de signos. Como elemento que apa-rece no lugar de outro, todo signo tem uma forma (aspecto material) e um significado (ideia ou conceito veiculado).

A palavra bar, a fotografia de um bar ou a planta baixa de um bar são signos que, sob formas variadas, represen-tam o conceito de “bar”.

Um signo que representa um objeto com base na se-melhança física que tem com ele (como é o caso de uma fotografia ou de um desenho) é chamado de ícone.

O elemento observado por Eddie também tornou-se um signo, já que a interpretação de Hagar o associou a ou-tro elemento. Nesse caso, a associação não se dá por seme-lhança física, mas pela experiência, que faz com que os se-res humanos relacionem uma coisa a outra quando há entre elas uma conexão lógica. É o mesmo tipo de relação indicada, por exemplo, no dito popular “Onde há fumaça, há fogo”. O elemento que se torna signo por associação é chamado de índice (a fumaça é o índice do fogo).

Há um terceiro tipo de signo: o símbolo. No código de trânsito, a cor verde significa “Siga!”. O significado atribuído à cor verde, nesse exemplo, é resultado de um acordo entre os mem-bros de determinados grupos; não há conexão natural entre o signo e o seu significado, como a que existe entre uma árvore e a sua representação em um desenho ou entre a fumaça e o fogo. O mesmo acontece com as placas de trânsito em que a letra E cortada por uma barra diagonal significa “Proibido estacionar”. O valor de “proibição” associado a esse signo é produto de uma regra estabelecida socialmente; portanto, poderia estar ligado a outra representação qualquer.

A linguagem verbal conta com unidades particulares de representação: os signos linguísti-cos. Eles também são constituídos por uma forma (a “imagem acústica” mental que temos de um som), denominada significante, e por uma ideia ou conceito associado a ela, o significado. Como a sua relação com o objeto que representa resulta de um acordo social, o signo linguísti-co pode ser considerado um símbolo.

Há uma área do conhecimento que se dedica ao estudo dos signos em geral, sejam eles ver-bais, sejam não verbais: trata-se da Semiologia. Já os signos da linguagem verbal, ou signos lin-guísticos, contam com uma ciência própria: a Linguística.

ANOTE

 A linguagem verbal e as línguasNo dia a dia, as palavras língua e linguagem são usadas com sentidos próximos. Para a Linguística,

há uma diferença entre esses dois conceitos: a maneira particular como a linguagem verbal se reali-za nas situações de interação de cada grupo social constitui uma língua. Os estudos linguísticos ora investigam a linguagem ver-bal de maneira abrangente, ora se debruçam sobre uma língua específica.

> Nas placas afixadas no veículo, vemos exemplos da mesma frase escrita em várias línguas diferentes: espanhol, inglês, alemão, italiano, português e francês.

> O cartunista Caulos aproveitou a barra que representa o conceito de “proibição” nas placas de trânsito para mostrar, de forma expressiva, que a lógica das grandes cidades inverte as relações entre o ser humano e a natureza (nas cidades, as árvores são “proibidas”).

Caulos. Só dói quando eu respiro. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 10.

Quino. Bien, gracias. ¿Y usted? Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 2001. p. 42.

Ícones, índices e símbolos são signos, unidades de representação que compõem as diferen-tes linguagens. A Semiologia é a área do conhecimento que estuda os signos. Os signos linguís-ticos, constituídos por um significante e um significado, são estudados pela Linguística.

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Ferdinand de SaussureO linguista suíço Ferdinand de

Saussure (1857-1913) elaborou teo- rias sobre a linguagem que se caracterizavam por um enfoque estrutural, ao contrário do enfo-que histórico, comum na época. Essas teorias propiciaram o nas-cimento da Linguística. Seu livro mais conhecido, Curso de linguís-tica geral (1916), foi escrito por dois alunos, com base em anota-ções de seus cursos.

Repertório

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Linguagens, linguagem verbal e língua1

Os estudos sobre a linguagem verbalA linguagem verbal sempre foi objeto de interesse e investigação huma-

na. No início do século XX, graças aos estudos do suíço Ferdinand de Saus-sure, essas investigações constituíram um campo de saber autônomo, com um objeto e um método próprios.

 O surgimento da LinguísticaOs estudos sobre a linguagem verbal realizados ao longo do século XVII

até o século XIX foram determinantes para a constituição da Linguística como ciência. Duas tendências principais podem ser percebidas naqueles estudos: a racionalista, que tomava a linguagem como representação do pensamento, e a comparativa, que postulava a existência de uma única “língua de origem” e buscava reconstituí-la por meio da investigação sobre o “parentesco” entre as línguas existentes.

A língua como sistemaSaussure delimitou um objeto específico de estudo para a Linguística: a

língua. No contexto dos estudos saussureanos, o conceito de língua se re-feria a um sistema de signos linguísticos. Como seu interesse era estudar aquilo que a língua tinha de sistemático, Saussure operou um “recorte” em seu objeto de estudo. De um lado, desconsiderou a realização concreta da língua pelos falantes, isolando apenas o seu funcionamento abstrato. De outro, deixou de lado o viés histórico sobre a língua, vendo-a como uma espécie de “fotografia”, congelada no tempo.

Para Saussure, assim como não haveria uma relação necessária entre o signo linguístico e o seu referente (aquilo que o signo representa), a rela-ção entre significante e significado também seria arbitrária (arbitrário sig-nifica que não há razão específica para algo ser como é). Em outras pala-vras, não há uma razão natural para que o estabelecimento mencionado na página anterior se chame bar e não cadeira ou “dordetilha” (palavra inventa-da); contudo, sendo esse o “combinado” para designar tal estabelecimento, a palavra bar é adotada por todos os falantes de determinado grupo social.

Como consequência desse postulado, na visão de língua proposta por Saussure, o valor de cada signo só existiria por oposição aos demais sig-nos do sistema (por exemplo, a palavra amarelo só poderia ser entendida como o não vermelho, o não branco, o não verde, etc.).

A ampliação do campo de estudos da LinguísticaDevido à sua preocupação em delimitar claramente o campo de estudos

sobre a linguagem verbal e constituir métodos próprios de investigação, Saussure é considerado o “pai” da Linguística moderna. Sua obra é hoje ponto de partida para todos os estudos linguísticos.

Outras tendências, no entanto, foram surgindo com o tempo, especial-mente a partir da segunda metade do século XX. Muitas delas passaram a se dedicar exatamente aos aspectos que Saussure havia excluído do cam-po da Linguística, tais como o uso concreto da língua pelos falantes e a sua transformação ao longo do tempo.

Hoje, sem deixar de lado as contribuições saussureanas, considera-se a visão de língua como sistema insuficiente para dar conta da complexidade e da amplitude do fenômeno da linguagem verbal.

ANOTE

Para Saussure, o objeto da Linguística seria a língua, entendida como um sistema de signos. Essa visão de língua excluiria tanto a sua realização concreta pelos falantes quanto a sua evolução ao longo do tempo.

Sétima arteO escafandro e a borboleta (França, 2007)direção de Julian SchnabelApós sofrer um acidente vascular cerebral, um famoso editor de revistas tem de reaprender a se comunicar usando a única parte de seu corpo que não perdeu os movimentos: o olho esquerdo. Apesar de a capacidade de se expressar estar absolutamente

restrita, sua mente continua funcionando. O filme faz refletir sobre as possibilidades e limitações da fala e da comunicação no contato com o mundo.

Capa do DVD O escafandro e a borboleta.

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Iturrusgarai, Adão. Aline. Folha de S.Paulo, 17 maio 2004.

 Perspectivas de análise da línguaLeia a tira a seguir.

Observe a frase dita pela personagem Otto no segundo quadrinho (“Vê se capricha no sotaque!”). No contexto da tira, a recomendação estava rela-cionada ao objetivo dos amigos: impressionar a namorada fazendo-se pas-sar por “caipiras”. A mesma frase, em outros contextos, poderia ter um significado diferente. Por exemplo, se dirigida ao candidato a uma vaga profissional que exigisse o domínio de uma língua estrangeira, poderia in-dicar um critério importante para a aprovação do candidato.

A fala de Otto revela a imagem que ele tem de Aline: alguém que se im-pressionaria com certo estilo de roupa e jeito de falar. Também revela algo so-bre ele: a sedução, em seu entendimento, está vinculada à aparência.

Por sua vez, a resposta afirmativa de Pedro (“Só!”) associa-se ao modo de falar de determinado grupo de falantes jovens de ambientes urbanos. Pedro e Otto não são “genuí nos caipiras”, nem conhecem esse grupo. O leitor perce-be isso devido à fala de Pedro no último quadrinho: ao tentar imitar o “sota-que caipira” ele emprega, na verdade, termos associados a grupos de falantes da região Nordeste do Brasil. No contexto da tira, “Só!” é uma forma perfeita-mente adequada de expressar concordância; já na situação de uma entrevista de emprego, por exemplo, soaria excessivamente informal.

Assim como a frase “Vê se capricha no sotaque!” poderia assumir múltiplos significados, dependendo do contexto, a fala de Otto no último quadrinho, em outra situação, também poderia ser compreendida como insinuante. No texto de Adão Iturrusgarai, no entanto, ela provoca riso.

Esse efeito de humor é esperado durante a leitura de uma tira. Nela, não só o conteúdo das falas das personagens, mas também o tipo de letra usado, o for-mato dos balões, as expressões corporais e faciais das personagens, as cores e formas são considerados em conjunto na produção de sentidos.

Se, em vez de apresentada em forma de tira, essa situação fosse encena-da em um seriado de TV, certamente a modulação da voz pelos atores seria fundamental para a produção do efeito de humor.

Essa análise da tira é um pequeno exemplo das muitas perspectivas por meio das quais a língua pode ser observada: os fatores que determinam a produção de sentidos em uma situação de uso; a maneira como os falares refletem ou constituem a identidade dos falantes; os valores sociais que a língua revela ou esconde; as relações que se estabelecem entre os partici-pantes de uma interação; os usos mais ou menos adequados a cada situação ou contexto; os meios e modos como a língua se realiza, entre outros.

Diferentes áreas da Linguística se dedicam a estudar a língua privilegian-do cada uma dessas perspectivas. Para isso, delimitam o seu campo ou ân-gulo de investigação e, naturalmente, deixam de lado outros aspectos.

ANOTE

Aline: jornais, revistas e TVA tira Aline foi criada pelo car-

tunista gaúcho Adão Iturrusgarai (nascido em 1965). É publicada nos jornais Folha de S.Paulo (SP) e O Liberal (PA) e em algumas re-vistas do exterior. Muitas das tiras dessa personagem tematizam o relacionamento entre ela e seus dois namorados, Otto e Pedro.

As aventuras do trio foram adaptadas para a televisão no es-pecial Aline.

Repertório

Capa de Aline: cama, mesa e banho.

Diferentes abordagens sobre a linguagem verbal e as línguas consti-tuem o campo de estudos da Linguística nos dias de hoje, ampliando a vi-são de “língua como sistema” proposta por Ferdinand de Saussure.

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Prática de linguagem

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Linguagens, linguagem verbal e língua1

1.  No depoimento a seguir, publicado na revista Superinteressante, o escritor italiano Umber-to Eco fala sobre o valor simbólico das vestimentas humanas.

Browne, Chris. Hagar, o Horrível. Folha de S.Paulo, 27 jul. 2003.

“[O ser humano] Tinha frio e cobria-se, não há dúvida. Mas também não há dúvida de que, poucos dias depois da invenção do primeiro traje de peles, se terá criado a distinção entre os bons caçadores – munidos das suas peles, conquistadas pelo preço de uma dura luta – e outros, os inaptos, os sem-peles. Não é preciso muita imaginação para enxergar a circunstância social em que os caça-dores envergaram as peles, já não para proteger-se do frio, mas para afirmar que pertenciam à classe dominante”, diz Eco.Citado por Miranda, Celso; Sambugaro, Adriano. E se... Não usássemos roupas? Revista Superinteressante, Abril, ed. 181, p. 40, out. 2002.

a) De acordo com o trecho lido, pode-se afirmar que a pele de animal usada pelos seres humanos nos primórdios da história da humanidade era um signo? Explique.

b) Na sociedade moderna, uma peça do vestuário tem o mesmo valor simbólico que uma pele de animal usada pelos antigos caçadores? Explique sua resposta.

c) Mencione um elemento que não é parte do vestuário e que assume, na sociedade mo-derna, papel semelhante ao que foi apontado para a pele de animal. Justifique.

2.  Leia ao lado o trecho de um texto jornalístico, publicado em uma revista semanal, so- bre um episódio envolven-do a modelo brasileira Gisele Bündchen.a) A partir da leitura do texto,

que significados diferentes um casaco de pele pode represen-tar atualmente?

b) Pode-se afirmar que a moda constitui uma linguagem, com regras e significados próprios? Explique sua resposta.

Gisele [...] virou uma pedra no sapato dos ecologistas. Isso porque ela aceitou ser garota-propaganda de um fabricante de casacos de pele, a Blackglama. Nas fotos da campanha, que começou a ser veiculada nos Estados Unidos há coisa de vinte dias, Gisele [...] aparece envolta em vistosos casacos e estolas de mink. Foi o estopim para que se decla-rasse uma guerra contra a modelo, que teve seu ápice há duas semanas. Durante a gravação do desfile da grife de lingerie Victoria’s Secret para a rede de televisão americana CBS [...], quatro ativistas da organização Peo-ple for the Ethical Treatment of Animals (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), a Peta, pularam na passarela. Elas carregavam cartazes com a frase “Gisele, a escória da pele” e xingavam a modelo.buChala, Ana Paula; neiva, Paula. O furacão Gisele. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/271102/p_104.html>. Acesso em: 3 maio 2012.

a) Considere a pergunta de Hagar. A fala de Helga no segundo quadrinho responde à ques-tão formulada por ele? Explique sua resposta.

b) Em sua opinião, Helga entendeu a pergunta de Hagar? Em que você se baseou para dar sua resposta?

c) Que aspectos do contexto o leitor precisa considerar para entender o que, de fato, Ha-gar desejava?

3.  Examine a tira a seguir.

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No livro Passaporte, o escritor Fernando Bonassi registra em pequenas crônicas alguns epi-sódios colhidos em viagens ao redor do mundo. Veja o que ele conta a respeito de um conven-to em Minas Gerais.

Cachorros em pele de lobosUma das maiores atrações do Convento do Caraça, em Minas Gerais,

além das três refeições à base de porco, feijão & farinha, é a presença dos lobos-guará. À noite, uma bandeja de carne é colocada na porta da igreja e um padre começa a chamar os lobos pelos nomes que deu. Grande tensão entre os turistas quando aparece um deles, apanha um naco de carne e come-o sob as luzes dos flashes. Não consigo me render ao espetáculo. Pior: parece que posso vê-lo voltar pra sua toca como um maldito palhaço, arrancar sua pele de lobo e voltar à condição natural de vira-lata.Bonassi, Fernando. Passaporte. São Paulo: Cosac Naify, 2001. p. 119.

1.  Os guias turísticos e a publicidade de viagens exercem grande poder de atração ao cons-truir uma imagem para um lugar. Com base no texto, descreva como seria a imagem do Convento do Caraça que o tornou atraente para os turistas.

2.  Quando aparecem os lobos-guará, o narrador afirma: “Não consigo me render ao espetá-culo”. O que ele quer dizer com essa frase?

3.  Explique o título do texto com base na experiência narrada pelo cronista.

Usina literária

4.  Leia o trecho abaixo, publicado em um site de notícias em agosto de 2006.

JINXIANG, China (Reuters) – O tufão Saomai perdeu força e se converteu em depressão tropical depois de deixar quase 300 mortos ou desaparecidos na China, afundar 1 000 barcos pesquei-ros, derrubar milhares de casas e provocar prejuízos de mais de 1 bilhão de dólares.

[...]

O Saomi arrasou o povoado de Jinxiang, em Zhejiang, onde o desabamento de apenas um edifício sob ventos de mais de 200 quilômetros por hora matou 41 pessoas, incluindo oito crianças.

Uma procissão de pessoas vestindo roupas funerárias brancas (o branco é a cor do luto na China) percorreu Jinxiang em meio aos destroços deixados pela passagem do tufão.

[...]blanChard, Ben (Reuters). Vítimas de tufão tentam retomar suas vidas. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2006/08/13/ult729u59589.jhtm>. Acesso em: 3 maio 2012.

a) O texto aponta uma relação entre a cor branca e o luto, na comunidade chinesa. Essa relação tem uma motivação natural? Explique sua resposta.

b) Com base no que você respondeu, classifique o signo em questão.c) Por que o desconhecimento sobre o significado desse signo poderia criar proble-

mas, por exemplo, a um comerciante brasileiro que realiza uma viagem de negócios à China?

d) Dê outros dois exemplos de signos que estabelecem, com o seu referente, o mesmo tipo de relação existente entre a cor branca e o luto na China.

Na China e em alguns outros países asiáticos, o branco é a cor do luto. A fotografia mostra mulheres vestidas de branco em um funeral na Malásia.

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Linguagens, linguagem verbal e língua1

Língua viva a língua e a percepção sobre a realidade

Leia a seguir o trecho de um texto, publicado na revista Época, sobre uma descoberta relativa à língua de um povo da Oceania.

1.  Releia este trecho.

a divulgação científicaTextos como esse publicado na

revista Época são chamados de textos de divulgação científica. São escritos, em geral, por jornalis-tas que oferecem ao público leigo, de forma simplificada e didática, informações estritamente científi-cas, como a da descoberta sobre os berinmos, publicada na revista Nature. A maioria dos grandes jor-nais diários e das revistas sema-nais do Brasil reserva uma ou duas páginas de cada edição para esses textos. Mas há também revistas in-teiramente dedicadas à divulgação científica, como a Superinteressan-te e a Galileu.

Repertório

a) Qual é a primeira hipótese que o leitor é levado a criar sobre a cor das florestas de Papua-Nova Guiné?

b) Essa compreensão é retificada ao final da leitura. O que, exatamente, significa que as florestas são azuis “pelo menos para os berinmos”?

2.  Quando declara que “os berinmos classificam suas cores de modo particular”, quem o texto toma como referência?

3.  O que, possivelmente, motiva os esquimós a terem várias denomina-ções para a cor que chamamos unicamente de branco?

4.  Observe o esquema a seguir.

a) Visualmente, é possível detectar diferenças entre as tonalidades que preenchem os quatro retângulos?

b) Que nome os falantes da língua portuguesa empregam para desig-nar a cor que preenche os quatro espaços?

c) Com base nas respostas anteriores, pode-se afirmar que os falantes do português classificam as cores de modo particular? Justifique.

5.  O título do texto apresenta uma informação coerente com o conteúdo expresso nele? Explique sua resposta.

As florestas de Papua-Nova Guiné, na Oceania, são azuis. Pelo menos para os berinmos [...].

Um povo que não batizou o azul

As florestas de Papua-Nova Guiné, na Oceania, são azuis. Pelo menos para os berinmos, povo primitivo que habita o país. Pesquisadores das universidades de Londres e Surrey, na Inglaterra, descobriram que os be- rinmos classificam suas cores de modo particular. O verde e o azul, por exem-plo, são uma cor só. Eles dão nomes a apenas outras quatro cores, equiva-lentes ao vermelho, amarelo, branco e preto. Por muitos anos, psicólogos e antropólogos discutiram se a lingua-gem humana evoluiu para adequar-se

à forma como vemos o mundo ou se a forma como vemos o mundo depende do modo como usamos a lin-guagem. A descoberta feita em Papua- -Nova Guiné sugere que a classifica-ção das cores pode variar segundo a cultura. Estudos com esquimós che-garam a resultado semelhante. Há vários nomes para o branco, equiva-lentes aos matizes que os esquimós enxergam na neve e no gelo.

Revista Época, São Paulo, Globo, p. 16, 22 mar. 1999.

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6.  O texto apresenta uma indagação comum entre alguns estudiosos da cultura e da linguagem humanas. Qual?

7.  O autor do texto responde à pergunta? Explique.

8.  Levando em conta os conceitos estudados neste capítulo, a que o tex-to se refere ao fazer menção à “linguagem humana”?

9.  Examine este trecho de um texto de divulgação científica.

etnocentrismo

etnocentrismo é o julgamento que se faz sobre uma cultura dife-rente tomando como base de com-paração a sua própria cultura, vista como melhor ou mais importante.

No livro do historiador portu-guês Pero de Magalhães Gânda-vo, publicado em Lisboa em 1576, há um trecho que demonstra ati-tude etnocêntrica na sua descri-ção da língua falada no Brasil no século XVI.

“Alguns vocábulos há nela de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem te-rem além disto conta, nem peso, nem medida.”Gândavo, Pero de Magalhães. História da província Santa Cruz. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980. p. 124.

Repertório

Tribo da Amazônia contradiz noção de que contar é capacidade inata[...]

A língua falada por uma tribo amazônica que não tem palavras para designar números contradiz a noção de que o ato de contar seria inerente à capacidade cognitiva de seres humanos, afirma um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT).

A língua da tribo Pirahã, que vive às margens do rio Maici, em Rondônia, vem sendo estudada há vários anos por suas caracterís-ticas singulares.

No estudo recente, publicado na revista científica Cognition, o pro-fessor Edward Gibson afirma que os Pirahã não têm palavras para expressar o conceito de “um” ou de outros números específicos.

Segundo a pesquisa, a tribo teria apenas expressões para desig-nar quantidades relativas, como “muitas”, “poucas” ou “algumas”.

Segundo Gibson, é comum assumir que contar é uma parte inata da capacidade cognitiva humana, mas “aqui está um grupo que não conta. Eles poderiam aprender, mas não é útil em sua cultura, então eles nunca aprenderam”.Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/educacao/noticias/22452/tribo-da-amazonia-contradiz-nocao-de-que-contar-e-capacidade-inata>. Acesso em: 28 maio 2012.

a) Localize a passagem que revela visão etnocêntrica sobre os Pirahã.

b) A pesquisa revela, de fato, que não é útil aos Pirahã contar ou que não é útil a esse povo empregar termos que designam quantidades específicas? Que passagem comprova sua resposta?

ANOTE

Texto em construção

Com um colega, você vai escrever um resumo sobre os temas estudados neste capítulo, para usá-lo poste-riormente como material de consulta e estudo.

Para a identificação dos grandes tópicos aborda-dos ao longo do capítulo 1 que deverão constar do seu resumo, tome como ponto de partida o item “Neste capítulo” da página 14. Certifique-se de que você com-preendeu os conceitos gerais envolvidos nesses tópicos. Em seguida, procure reduzir o conteúdo do capítulo às ideias fundamentais. Para isso, anote em forma de es-quema as informações que julgar mais relevantes.

Antes de escrever o texto definitivo, troque o seu es-quema com o de uma outra dupla, para comparar as in-

formações selecionadas e registradas. Avalie se vocês deixaram de fora alguma informação importante, ou se incluíram algum dado que pode ser suprimido.

Redija o resumo reconstituindo as principais infor-mações do capítulo na ordem que julgar mais ade-quada. Como o objetivo do resumo é elaboração de material de estudo, você pode incluir exemplos curtos, quando forem importantes na ilustração dos concei-tos. Cuide para que as partes estejam articuladas e não haja saltos de um assunto para o outro.

Após a escrita do texto, troque-o novamente com o de uma dupla. Com base nas observações dos colegas, faça os ajustes que julgar adequados.

Mais do que “representar” uma realidade compreendida e ordenada (como um conjunto de “etiquetas” que se aplicaria sobre objetos e fenô-menos), a língua participa da construção do entendimento humano sobre o mundo, que é diferente para os diversos grupos sociais.

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Linguagens, linguagem verbal e língua1

Em dia com a escrita a ortografia como convenção

A ortografia de uma língua corresponde à maneira correta de grafar as palavras que pertencem ao repertório linguístico dos seus usuários. O critério para o julga-mento sobre o que é “certo” ou “errado”, nesse caso, é bastante claro: a ortografia é uma norma, tem valor de lei, e não admite variações ou opções individuais. Seu ob-jetivo é fixar uma maneira unificada de registrar por escrito as palavras da língua, que na sua realização oral são bastante diversificadas. Por isso mesmo, é importante per-ceber que a ortografia não é uma transcrição dos sons da fala, e sim o resultado de um acordo social que estabeleceu uma forma de grafia autorizada para determinado grupo linguístico. Trata-se, portanto, de uma convenção.

No caso da língua portuguesa, essa unificação só aconteceu na primeira meta-de do século XX, inicialmente em Portugal e depois no Brasil. De lá para cá, a nor-ma ortográfica já passou por algumas modificações, por iniciativa de estudiosos da língua, que identificaram a necessidade de alguns ajustes. Esse tipo de iniciativa cos-tuma despertar reações de desagrado por parte dos usuários, que precisam se acostu-mar à nova forma de grafar determinadas palavras. Independentemente da legitimidade

dessas opiniões, é necessário adequar-se a essas mudanças.

Embora a ortografia de uma lín-gua tenha uma natureza arbitrária, ela carrega muitas informações his-tóricas a respeito do povo que a uti-liza. Além disso, aprender a grafar as palavras segundo essa norma não é uma tarefa puramente reproduti-va, que exige apenas memorização. Mesmo sem se dar conta, o usuário da língua mobiliza conhecimentos linguísticos variados cada vez que precisa grafar uma palavra confor-me a ortografia de sua língua.

O último acordo ortográfico e a acentuação gráficaNo final de 2008, foi regulamentado no Brasil um acordo internacional que unificou a orto-

grafia da língua portuguesa a partir de janeiro de 2009. Isso quer dizer que os países falantes da língua portuguesa passaram a adotar uma grafia comum. Algumas mudanças atingiram o siste-ma de acentuação gráfica da língua. É o que você estudará nesta seção.1.  Os ditongos EU, EI, OI apenas são acentuados em monossílabos tônicos (mói) ou quando fo-

rem tônicos na última sílaba (herói).

a) Qual destas grafias você deve adotar: heróico ou heroico? Por quê?

b) Como seria a frase ao lado se, em vez de um anzol e um anel, houvesse dois?

c) Explique a redação dada à frase na resposta anterior.

2.  A primeira vogal tônica dos hiatos OO e EE não é acentuada.

a) Escreva no plural o sujeito das frases abaixo. Faça as adaptações necessárias.I. Ele vê algum sentido nisso?II. Ele relê os capítulos indicados pelo professor.

b) Escreva na primeira pessoa do singular o sujeito das frases a seguir. Faça as adaptações necessárias.I. Eles enjoam em estradas com curvas acentuadas.II. Você não perdoa a ingratidão.

> Peças publicitárias da época em que Brasil e Portugal começavam a estabelecer uma grafia comum. O primeiro anúncio grafa assucar com dois ss e sem o acento agudo na letra u; o segundo dobra a letra l em cabello. Ambas as grafias caíram após o Formulário Ortográfico vigente no Brasil a partir de 1943.

O anel ficou preso no anzol.

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3.  Dos acentos diferenciais obrigatórios, apenas dois permanecem: pôr (verbo) e pôde (pre-térito perfeito do indicativo na terceira pessoa do singular). Indique em seu caderno as frases grafadas de acordo com as novas regras. Reescreva as que precisam ser corrigidas.a) O tempo não pára.b) A Terra é achatada nos polos. c) Faltou energia, e ela não pôde enviar as mensagens pelo correio eletrônico. d) Muitos mamíferos apresentam o corpo coberto por pêlos.e) Com o novo acordo ortográfico, não é preciso pôr acento em determinadas palavras.

4.  Antes do acordo, I e U tônicos que formassem sílaba sozinhos (ou seguidos de S) e estives-sem em hiato com a sílaba anterior eram acentuados. Isso deixou de acontecer em um caso: quando I e U forem tônicos em paroxítonas e formarem hiato com um ditongo anterior.a) Separe as palavras seguintes em sílabas e circule sua sílaba tônica. ciúme – feiura – balaústre – reúno – egoísmo – cafeína – paraíso – sanduícheb) Quanto à posição da sílaba tônica, que classificação recebem as palavras anteriores?c) Por que feiura não recebeu acento?d) Separe as palavras seguintes em sílabas e circule sua sílaba tônica. tuiuiú – teiú – baiuca – boiuna e) Quanto à posição da sílaba tônica, que classificação recebem as palavras anteriores?f) Por que baiuca e boiuna não recebem acento e tuiuiú e teiú recebem?g) Por que Piauí recebe acento e cheiinho não recebe?

5.  O U dos grupos que, qui, gue, gui recebia acento agudo quando era pronunciado e era a vogal tônica (em oposição ao trema usado quando o U era pronunciado, porém não tônico — como em conseqüência). Com o acordo, tanto esse acento quanto o trema deixaram de ser usados.Copie as frases, substituindo o pela forma correta do verbo já empregado na frase.a) Todos acham que é preciso averiguar a veracidade daquelas informações. Por isso querem

que eu pessoalmente no prazo de um mês.b) Na próxima ocasião, outro professor vai arguir os candidatos, porque os que sempre

estão em licença.c) É preciso apaziguar os ânimos. Sugerem que o senador com um discurso extra.d) Não vai mais arguir as testemunhas o juiz que normalmente as .

Embora o U não receba mais o acento, ele continua a ser pronunciado como vogal tônica. O trema só continua sendo usado em nomes próprios estrangeiros e suas variações.

ANOTE

A regra de acentuação para as palavras tem / têm e vem / vêm (e as formas verbais equiva-lentes dos verbos derivados de ter e vir) não mudou com o novo acordo ortográfico.

ANOTE

6.  Leia o título e o primeiro parágrafo de uma notícia e responda às perguntas.

a) Que palavras poderiam substituir web no título da notícia? Cite pelo menos duas.b) Confronte as informações do título da notícia e do primeiro parágrafo. O que cada parte do

texto enfatiza? Que informação ganhou mais destaque no conjunto do texto? Justifique.c) Explique a acentuação da forma verbal têm. Se precisar, consulte uma gramática.

65% dos brasileiros não têm acesso à webReuters

RIO – O número de usuários de internet no Brasil cresceu 75,3 por cento no país entre 2005 e 2008 e boa parte dos novos incluídos na rede pertencia à baixa renda, segundo o IBGE, mas a desigualdade social e educacional ainda prejudica a inclusão digital no Brasil. [...]Disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologia-pessoal/65-dos-brasileiros-nao-tem-acesso-a-web-12122009-5.shl>. Acesso em: 3 maio 2012.

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