49
Capítulo Trinta e Um (Chapter Thirty-One) Mitos Modernos Sobre Batalhas Espírituais, Parte 2 (Modern Myths About Spiritual Warfare, Part 2) Continuamos este capítulo considerando mais alguns ensinos errados, mas populares a respeito de Satanás e batalhas espirituais. Na conclusão, consideraremos o que as Escrituras realmente dizem a respeito de batalhas espirituais que cada crente deve praticar. Mito n o 5: “ Podemos acabar com fortalezas demoníacas na atmosfera através da batalha espiritual”. (Myth #5: “We can pull down demonic strongholds in the atmosphere through spiritual warfare.”) De acordo com as Escrituras, não há dúvida de que Satanás reina sobre uma hierarquia de espíritos malignos que habitam na atmosfera da Terra e que o ajudam a governar o reino das trevas. Que esses espíritos malignos são “territoriais”, governando sobre certas áreas geográficas, é um conceito também encontrado na Bíblia (veja Dn. 10:13, 20-21; Mc. 5:9-10); como também é bíblico que cristãos têm autoridade para expulsar demônios de outras pessoas e a responsabilidade de resistir ao demônio (veja Mc. 16:17; Tg. 4:7; 1 Pd. 5:8-9). Mas, podem os cristãos derrubar os espíritos malignos que reinam sobre cidades? A resposta é não; e tentar fazer isso é uma perca de tempo. Só porque podemos expulsar demônios de pessoas, não devemos assumir que podemos derrubar os espíritos malignos que reinam sobre cidades. Existem vários exemplos nos evangelhos e no livro de Atos de expulsão de demônios das pessoas, mas você pode pensar em pelo menos um exemplo, nos evangelhos ou no livro de Atos, de alguém ter derrubado um espírito maligno que reinava sobre uma cidade ou região geográfica? Não pode, porque não existem tais exemplos. Você pode pensar em uma instrução em alguma epístola sobre nossa responsabilidade de derrubar espíritos malignos da atmosfera? Não,

Capítulo Trinta e Um (Chapter Thirty-One) Mitos Modernos ... · evangelhos e no livro de Atos de expulsão de demônios das pessoas, mas você pode pensar em pelo menos um exemplo,

Embed Size (px)

Citation preview

Capítulo Trinta e Um (Chapter Thirty-One)

Mitos Modernos Sobre Batalhas Espírituais, Parte 2

(Modern Myths About Spiritual Warfare, Part 2)

Continuamos este capítulo considerando mais alguns ensinos errados, mas populares a

respeito de Satanás e batalhas espirituais. Na conclusão, consideraremos o que as

Escrituras realmente dizem a respeito de batalhas espirituais que cada crente deve

praticar.

Mito no 5: “ Podemos acabar com fortalezas demoníacas na

atmosfera através da batalha espiritual”. (Myth #5: “We can

pull down demonic strongholds in the atmosphere through

spiritual warfare.”)

De acordo com as Escrituras, não há dúvida de que Satanás reina sobre uma hierarquia

de espíritos malignos que habitam na atmosfera da Terra e que o ajudam a governar o

reino das trevas. Que esses espíritos malignos são “territoriais”, governando sobre certas

áreas geográficas, é um conceito também encontrado na Bíblia (veja Dn. 10:13, 20-21;

Mc. 5:9-10); como também é bíblico que cristãos têm autoridade para expulsar demônios

de outras pessoas e a responsabilidade de resistir ao demônio (veja Mc. 16:17; Tg. 4:7; 1

Pd. 5:8-9). Mas, podem os cristãos derrubar os espíritos malignos que reinam sobre

cidades? A resposta é não; e tentar fazer isso é uma perca de tempo.

Só porque podemos expulsar demônios de pessoas, não devemos assumir que podemos

derrubar os espíritos malignos que reinam sobre cidades. Existem vários exemplos nos

evangelhos e no livro de Atos de expulsão de demônios das pessoas, mas você pode

pensar em pelo menos um exemplo, nos evangelhos ou no livro de Atos, de alguém ter

derrubado um espírito maligno que reinava sobre uma cidade ou região geográfica? Não

pode, porque não existem tais exemplos. Você pode pensar em uma instrução em alguma

epístola sobre nossa responsabilidade de derrubar espíritos malignos da atmosfera? Não,

porque não existe. Por esse motivo, não temos base bíblica para crer que podemos ou

devemos nos engajar em “batalhas espirituais” contra espíritos malignos na atmosfera.

Aprofundando Demasiadamente nas Parábolas (Pushing

Parables Too Far)

Encontrar mais sentido na Bíblia do que Deus intencionou é um erro que cristãos

cometem com grande frequência quando leem passagens que contêm linguagem

metafórica. Um exemplo clássico de má interpretação de linguagem metafórica tem como

base as palavras de Paulo sobre “derrubar fortalezas”:

Pois embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões

humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são

poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda

pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo

pensamento, para torná-lo obediente a Cristo. E estaremos prontos para punir

todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês (2

Co. 10:3-6).

Ao invés de dizer “destruímos argumentos”, a versão King James* diz que estamos

“destruindo fortalezas”. Desta única frase metafórica, praticamente uma teologia inteira

foi criada para defender a ideia de fazer “batalhas espirituais” para “destruir fortalezas”

que consistem de espíritos malignos na atmosfera. Mas como a New American Standard

Version* deixa claro, Paulo não está falando de espíritos malignos na atmosfera, mas de

fortalezas de falsas crenças que existem nas mentes das pessoas. Argumentos é o que

Paulo está destruindo, não espíritos malignos nos lugares altos.

Isso fica ainda mais claro quando lemos o contexto. Paulo disse: “Destruímos

argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos

* Nota do tradutor: versões em inglês sem correspondentes em português. *

cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (ênfase adicionada). A batalha

da qual Paulo escreveu simbolicamente é uma batalha contra pensamentos ou ideias que

são contra o verdadeiro conhecimento de Deus.

Usando metáforas militares, Paulo explica que estamos em uma batalha, uma batalha

pelas mentes das pessoas que acreditam nas mentiras de Satanás. Nossa arma principal

nessa batalha é a Verdade, que é o porquê de termos sido enviados ao mundo inteiro para

pregar o evangelho, invadindo o território inimigo com uma mensagem que pode libertar

os cativos. Os fortes que temos destruído foram construídos com tijolos de mentiras

unidos pelo cimento da decepção.

Toda a Armadura de Deus (The Whole Armor of God)

Outra passagem de Paulo que muitas vezes é mal interpretada encontrada-se em

Efésios 6:10-17, onde escreveu sobre nossa responsabilidade de colocar a armadura de

Deus. Mesmo que essa passagem seja definitivamente sobre nossa luta contra o demônio

e espíritos malignos, não há menção de derrubar espíritos malignos que estão sobre as

cidades. Quando estudamos a passagem de perto, torna-se claro que Paulo estava

escrevendo principalmente sobre a responsabilidade de cada indivíduo de resistir ao

esquemas de Satanás em sua vida pessoal aplicando a verdade da Palavra de Deus.

Quando lemos essa passagem em particular, notamos também a linguagem metafórica

evidente. Obviamente, Paulo não falava literalmente sobre uma armadura material que os

cristãos devem vestir. A armadura sobre a qual escreveu é figurativa. Esses pedaços de

armadura representam as várias verdades bíblicas que os cristãos devem usar como

proteção contra o demônio e espíritos malignos. Por saber, crer e agir de acordo com a

Palavra de Deus, os cristãos estão, figurativamente falando, vestidos da armadura de

Deus.

Vamos examinar essa passagem em Efésios versículo por versículo, enquanto nos

perguntamos, o que Paulo realmente queria nos transmitir?

A Fonte de Nossa Força Espiritual (The Source of Our

Spiritual Strength)

Primeiramente, Paulo nos diz: “fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder” (Ef.

6:10). A ênfase está no fato de que não devemos tirar nossa força de nós mesmos, mas de

Deus. Isso se torna mais claro na próxima afirmação de Paulo: “Vistam toda a armadura

de Deus” (Ef. 6:11a). Essa armadura é de Deus, não nossa. Paulo não está dizendo que o

próprio Deus usa armadura, mas que precisamos da armadura que Deus providenciou.

Por que precisamos dessa armadura que Deus providenciou?A resposta é: “para

poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef. 6:11b). Essa armadura é

principalmente para uso defensivo, não ofensivo. Não é para que possamos sair e derrubar

espíritos malignos que estão sobre cidades; é para que possamos ficar firmes contra as

ciladas do Diabo.

Aprendemos que o Diabo tem planos para nos atacar, e a menos que estejamos usando

a armadura que Deus providenciou, estaremos vulneráveis. Note também que a

responsabilidade de colocar a armadura é nossa, não de Deus.

Vamos continuar:

Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e

autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças

espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef. 6:12).

Aqui, torna-se claro como cristal que Paulo não está falando sobre uma batalha física

ou material, mas espiritual. Estamos lutando contra os planos de várias hierarquias de

espíritos malignos os quais foram listados por Paulo. A maioria de leitores assume que

Paulo os listou em ordem de autoridade, de baixo para cima; “poderes” sendo a classe

mais baixa e “forças espirituais do mal nas regiões celestiais” sendo a classe mais alta.

Como podemos lutar contra seres espirituais? Essa pergunta pode ser respondida se

perguntarmos: Como os seres espirituais podem nos atacar? Eles nos atacam

principalmente com tentações, pensamentos, sugestões e ideias que contradizem a

Palavra e a vontade de Deus. Portanto, nossa defesa é saber, crer e obedecer a Palavra de

Deus.

Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau

e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo (Ef. 6:13).

Note mais uma vez que o propósito de Paulo é nos equipar para resistir aos ataques de

Satanás e permanecer. Seu propósito não é nos equipar para atacarmos Satanás e derrubar

espíritos malignos da atmosfera. Paulo nos diz para permanecermos inabaláveis três

vezes. Nossa posição é a defesa, não o ataque.

Verdade — Nossa Defesa Principal (Truth — Our Primary

Defense)

Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade (Ef. 6:14a).

A verdade é o que mantém nossa armadura no lugar. O que é a verdade? Jesus disse ao

Seu Pai: “A tua palavra é a verdade” (Jo. 17:17). Não podemos permanecer firmes contra

Satanás a menos que conheçamos a verdade com a qual podemos combater suas mentiras.

Jesus demonstrou isso maravilhosamente quando foi tentado no deserto e respondia a

todas as sugestões de Satanás com: “Está escrito”.

Paulo continuou:

Vestindo a couraça da justiça (Ef. 4:14b).

Como cristãos, devemos ser familiares com dois tipos de justiça. A primeira,

recebemos como um presente, a justiça de Cristo (veja 2 Co. 5:21). Sua justiça tem sido

implantada naqueles que creem em Jesus, aos que deixaram seus pecados na cruz. Essa

justiça nos libertou dos domínios de Satanás.

Segunda, devemos viver em justiça, obedecendo os mandamentos de Jesus, e isso é

provavelmente o que Paulo tinha em mente a respeito da couraça da justiça. Através da

obediência a Cristo, não damos lugar ao Diabo (veja Ef. 4:26-27).

Pés Firmes nos Sapatos do Evangelho (Firm Footing in

Gospel Shoes)

E tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz (Ef. 6:15).

Conhecer, crer e agir de acordo com a verdade do evangelho nos dá pés firmes para

prevalecermos contra os ataques de Satanás. Os sapatos que os soldados romanos usavam

tinham travas nas solas que lhes davam firmeza no campo de batalha. Quando Jesus é

nosso Senhor, temos pés firmes para prevalecermos contra as mentiras de Satanás.

Além disso, usem o escudo da fé com o qual vocês poderão apagar todas as

setas inflamadas do Maligno (Ef. 6:16).

Note novamente a ênfase de Paulo em nossa postura defensiva. Ele não está falando de

derrubarmos os demônios de sobre as cidades. Está falando sobre o uso da nossa fé na

Palavra de Deus para resistir às mentiras do Diabo. Quando cremos e agimos de acordo

com o que a Palavra de Deus diz, é como ter um escudo que nos protege das mentiras de

Satanás, representadas figuradamente como “setas inflamadas do Maligno”.

Nossa Espada Espiritual — A Palavra de Deus (Our

Spiritual Sword — God’s Word)

Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus

(Ef. 6:17).

A salvação, como a Bíblia a descreve, inclui nossa libertação do cativeiro de Satanás.

Deus nos “resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho

amado” (Cl. 1:13). Saber isso é como ter um capacete que guarda nossas mentes de

acreditar na mentira de Satanás de que ainda estamos em seu domínio. Satanás não é mais

nosso mestre — Jesus é.

Além do mais, devemos pegar a “espada do Espírito” que, como Paulo explica, é uma

figura para a Palavra de Deus. Como já mencionei, Jesus foi o exemplo perfeito de um

guerreiro espiritual que manejou habilmente Sua espada espiritual. Durante Sua tentação

no deserto Ele respondeu cada vez a Satanás, citando diretamente a Palavra de Deus. Da

mesma forma, se formos derrotar o Diabo em um combate espiritual, devemos conhecer e

crer no que Deus disse, se não, sucumbiremos a suas mentiras.

Note também que Jesus usou a “espada do Espírito” defensivamente. Alguns gostam

de ressaltar para os que mantém a postura de que a armadura que Paulo escreveu é

principalmente defensiva, que definitivamente a espada é uma arma ofensiva. Portanto,

com um argumento fraco, tentam justificar sua teoria de que a passagem em Efésios 6:10-

12 é aplicável a nossa suposta responsabilidade de “derrubar fortalezas” de espíritos

malignos nos lugares celestiais.

Obviamente, depois de ler o motivo de Paulo do porquê os cristãos devem vestir a

armadura de Deus (para que possam “ficar firmes contra as ciladas do Diabo”), sabemos

que ele está falando principalmente de um uso defensivo da armadura. Além do mais,

mesmo que pensem em uma espada como uma arma ofensiva, também podemos vê-la

como defensiva, já que protege dos ataques da espada do inimigo e os bloqueia.

Além do mais, devemos ter cuidado para não deformarmos a metáfora, enquanto

tentamos retirar das várias partes da armadura, significados que nem existem. Quando

começamos a discutir sobre a natureza defensiva e ofensiva da espada, tendemos a “ir

longe de mais nas parábolas”, por quanto desmontamos os pedaços de uma simples

metáfora que nunca foi planejada para ser tão dissecada.

Mas Deus não nos Instruiu a “Amarrar o Homem Forte”?

(But Didn’t Jesus Instruct Us to “Bind the Strong Man”?)

Encontramos três vezes nos evangelhos Jesus mencionando “amarrar o homem forte”.

Contudo, em nenhum dos três casos Ele disse aos Seus seguidores que “amarrar o homem

forte” era algo que devessem praticar. Vamos examinar exatamente o que Jesus disse, e

vamos ler dentro do contexto:

E os mestres da lei que haviam descido de Jerusalém diziam: “Ele está com

Belzebu! Pelo príncipe dos demônios é que ele expulsa demônios”. Então

Jesus os chamou e lhes falou por parábolas: “Como pode Satanás expulsar

Satanás?Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir.

Se uma casa estiver dividida contra si mesma, também não poderá subsistir.

E se Satanás se opuser a si mesmo e estiver dividido, não poderá subsistir;

chegou o seu fim. De fato, ninguém pode entrar na casa do homem forte e

levar dali os seus bens, sem que antes o amarre. Só então poderá roubar a

casa dele. Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens

lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca

terá perdão: é culpado de pecado eterno”. Jesus falou isso porque eles

estavam dizendo: “Ele está com um espírito imundo”. (Mc. 3:23-30).

Note que Jesus não estava ensinando Seus seguidores a amarrarem nenhum homem

forte. Ele estava respondendo às críticas dos escribas de Jerusalém com lógica

indiscutível e uma metáfora clara.

Eles O acusaram de expulsar demônios usando poder demoníaco. Ele respondeu

dizendo que Satanás seria insano de trabalhar contra si mesmo. Ninguém pode

inteligentemente argumentar contra isso.

Se não foi o poder de Satanás que Jesus estava usando para expulsar demônios, de

quem era o poder?Tinha que ser um poder maior que o de Satanás. Tinha que ser o poder

de Deus, o poder do Espírito Santo. Portanto, Jesus falou metaforicamente de Satanás,

comparando-o a um homem forte guardando suas posses. O único capaz de tirar as posses

do homem forte seria alguém ainda mais forte, o próprio Deus. Essa foi a verdadeira

explicação de como Ele expulsava demônios.

Essa passagem que menciona o homem forte, assim como as similares encontradas em

Mateus e Lucas, não podem ser usadas para justificar “amarrar o homem forte” sobre

cidades. Adicionalmente, quando examinamos o resto do Novo Testamento, não

encontramos exemplo algum de uma pessoa “amarrando o homem forte” sobre cidades,

ou qualquer instrução para que assim o façam. Portanto, podemos concluir seguramente

que não é bíblico que qualquer cristão tente amarrar e render um suposto “homem forte -

espírito maligno” sobre uma cidade ou área geográfica.

Mas e Sobre “Amarrar no Céus e na Terra”? (What About

“Binding on Earth and in Heaven”?)

Só encontramos duas vezes nos evangelhos as palavras de Jesus: “O que você amarrar

na terra será [ou ‘terá sido’] amarrado nos céus, e o que você liberar na terra será [ou

‘terá sido’] liberado nos céus”*. Ambas estão registradas no evangelho de Mateus.

Jesus estava nos ensinando que podemos e devemos “amarrar” espíritos demoníacos

na atmosfera?

Primeiro, vamos considerar Suas palavras amarrar e liberar. O uso dessas palavras

por Jesus é obviamente figurativo, já que, com certeza, Ele não quis dizer que Seus

seguidores pegariam cordas e literalmente amarrariam algo ou libertariam algo que estava

amarrado com cordas. Então, o que Jesus quis dizer?

Para encontrarmos a resposta devemos olhar ao Seu uso das palavras amarrar e liberar

dentro do contexto do que estava falando naquela hora. Ele estava falando sobre espíritos

malignos? Se sim, podemos concluir que Sua palavra sobre amarrar tem aplicação ao

amarrar de espíritos malignos.

Vamos examinar a primeira passagem em que Jesus menciona amarrar e liberar:

“E vocês?”, perguntou ele [Jesus]. “Quem vocês dizem que eu sou?” Simão

Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus:

“Feliz é você Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne * Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.

ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro,

e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão

vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você amarrar na

terra terá sido amarrado nos céus, e o que você liberar na terra terá sido

liberado nos céus” (Mt. 16:15-19, ênfase adicionada).

Sem dúvida a razão dessa passagem ter sido interpretada de tantas maneiras diferentes

é que ela contém pelo menos cinco expressões metafóricas: (1) “carne ou sangue”, (2)

“pedra”, (3) “portas do Hades”, (4) “chaves do Reino dos céus” e (5) “amarrar/liberar”.

Todas essas expressões são figurativas, ou seja, falam de outra coisa.

Portas do Hades (Hades’ Gates)

Mesmo sem considerar o significado preciso das metáforas, podemos ver que, nessa

passagem, Jesus não estava falando de espíritos malignos. O mais perto que chegou foi

quando mencionou “as portas do Hades”, que são obviamente simbólicas, já que não é

possível que as portas do Hades façam algo para prejudicar a Igreja.

O que “as portas do Hades” representam? Talvez simbolizam o poder de Satanás, e

Jesus quis dizer que o poder de Satanás não impediria que Sua Igreja fosse construída. Ou

talvez, quis dizer que a Igreja que Ele construiria salvaria as pessoas para que não fossem

aprisionadas “atrás” das portas do Hades.

Note que, na verdade, Jesus mencionou duas portas: as portas do Hades e as portas

para o céu, implícitas quando Ele deu a Pedro as “chaves dos céus”. Esse contraste

suporta ainda mais a ideia de que a afirmação de Jesus representa o papel da Igreja de

salvar as pessoas que estão indo para o Hades.

Mesmo que Jesus tenha dito que “todo o poder de Satanás não pararia Sua Igreja”, não

podemos pular para a conclusão que Seus comentários sobre amarrar e liberar são

instruções para o que devemos fazer com espíritos malignos que pairam sobre cidades,

pela simples razão de que não podemos encontrar exemplos nos evangelhos ou em Atos

de alguém amarrando tais espíritos malignos, nem podemos encontrar instruções nas

epístolas para que façamos tal coisa. De qualquer forma que interpretarmos as palavras de

Cristo sobre amarrar e liberar, nossa interpretação deve ser baseada contextualmente com

o resto do Novo Testamento.

Já que não há exemplo bíblico algum, é incrível a frequência com que cristãos dizem

coisas como: “Eu amarro o Diabo no nome de Jesus” ou “Eu libero os anjos sobre aquela

pessoa” e assim por diante. Não encontramos ninguém dizendo tais coisas no Novo

Testamento. A ênfase de Atos e das epístolas não é em falar com o Diabo ou amarrar e

liberar espíritos malignos, mas em pregar o evangelho e orar a Deus. Por exemplo,

quando Paulo estava sendo continuamente atormentado por um mensageiro (literalmente

“anjo”) de Satanás, ele não tentou “amarrá-lo”. Ele orou a Deus sobre isso (veja 2 Co.

12:7-10).

As Chaves para o Céu (The Keys to Heaven)

Vamos olhar mais profundamente o contexto imediato das palavras de Jesus sobre

amarrar e liberar. Note que logo após ter mencionado amarrar e liberar, Jesus disse que

daria a Pedro “as chaves do Reino dos céus”. Pedro nunca recebeu chaves de verdade

para as portas do céu, e portanto, as palavras de Jesus devem ser interpretadas

figuradamente. O que as “chaves”representam? Representam um meio de acessar algo

que está trancado. Quem tem a chave, tem meios que os outros não têm para abrir certas

portas.

Enquanto consideramos o ministério de Pedro como registrado no livro de Atos, o que

ele está fazendo que poderia ser considerado comparável a abrir portas que estão

trancadas a outros?

Acima de tudo, o encontramos proclamando o evangelho; o evangelho que abre as

portas do céu para todos os que creem (e o evangelho que fecha as portas do Hades).

Nesse sentido, todos nós recebemos as chaves para o Reino dos céus, já que somos todos

embaixadores de Cristo. As chaves para o Reino dos céus só podem ser o evangelho de

Jesus Cristo, a mensagem que pode abrir as portas do céu.

E Agora, Amarrar e Liberar (And Now, Binding and

Loosing)

Finalmente, depois de prometer dar a Pedro as chaves para o Reino dos céus, Jesus faz

Sua afirmação sobre amarrar e liberar; Sua quinta expressão figurativa na passagem sob

consideração.

Dentro do contexto das afirmações que já examinamos, o que Jesus quis dizer? Que

ligação há entre: Pedro amarrar e liberar, Jesus construir Sua Igreja, a salvação de pessoas

do Hades e a proclamação do evangelho?

Realmente só há uma possibilidade. Jesus quis dizer: “Estou autorizando você a ser o

representante do céu. Cumpra sua responsabilidade na terra, e o céu irá te apoiar”.

Se um patrão dissesse ao seu vendedor : “O que você fizer na filial em Bangcoc será

feito na matriz”, como o vendedor interpretaria as palavras de seu chefe? Ele entenderia

que estava autorizado a representar sua companhia em Bangcoc. Tudo o que Jesus quis

dizer é que Pedro, na terra, estava autorizado a representar Deus no céu. Essa promessa a

Pedro seria um reforço para a sua confiança quando começasse a proclamar a mensagem

de Deus em Jerusalém sob os olhos críticos dos escribas e fariseus — pessoas que se

consideravam representantes autorizados de Deus e pessoas a quem Pedro antes

reverenciava como tais.

Essa interpretação das palavras de Jesus está em harmonia com Seu segundo uso,

encontrado dois capítulos à frente no evangelho de Mateus:

Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se

ele o ouvir você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo

mais um ou dois outros, de modo que qualquer acusação seja confirmada

pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-los,

conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como

pagão ou publicano. Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês amarrarem na

terra terá sido amarrado no céu, e tudo o que vocês liberarem na terra terá

sido liberado no céu. Também lhes digo que se dois de vocês concordarem

na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por

meu Pai que está nos céus. Pois onde se reunirem dois ou três em meu

nome, ali eu estou no meio deles (Mt. 18:15-20, ênfase adicionada).*

Nessa segunda passagem, não há absolutamente nada dentro do contexto que nos

levaria a crer que Jesus estava falando de amarrar espíritos malignos. Aqui, Cristo falou

sobre amarrar e liberar imediatamente depois de falar sobre disciplina da Igreja.

Isso pareceria indicar que a respeito de amarrar e liberar nessa passagem, Jesus quis

dizer algo como: “Estou dando a você a responsabilidade de determinar quem deve estar

na Igreja e quem não deve. É seu trabalho. Enquanto você cumpre suas

responsabilidades, o céu te apoiará”.

Em uma aplicação mais abrangente, Jesus estava simplesmente dizendo: “Vocês são

representantes autorizados do céu na terra. Vocês têm responsabilidades e enquanto

cumprirem suas responsabilidades na terra, o céu sempre lhes apoiará”.

Amarrar e Liberar no Contexto (Binding and Loosing in

Context)

Essa interpretação se encaixa bem no contexto imediato, assim como no contexto mais

remoto do Novo Testamento.

A respeito do contexto imediato, notamos que, imediatamente depois de Sua afirmação

sobre amarrar e liberar, Jesus disse: “Também lhes digo que se dois de vocês

concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem isso lhes será feito por

meu Pai que está nos céus” (Mt. 18:19, ênfase adicionada).

Aqui está novamente o tema “o que você fizer na terra será apoiado no céu”. Nós, na

terra, estamos autorizados a orar e somos responsáveis por essa tarefa. Quando assim o

fizermos, o céu responderá. As palavras de Jesus, “Também lhes digo…” parecem indicar

que Ele está expandindo Sua afirmação anterior sobre amarrar e liberar.

* Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.

A afirmação final de Jesus nessa passagem: “Pois onde se reunirem dois ou três em

meu nome, ali eu estou no meio deles”, também suporta o tema “o céu lhes apoiará”.

Quando crentes se reúnem em Seu nome, Ele, que mora no céu, aparece.

Mesmo que você discorde completamente da minha interpretação das passagens sob

consideração, você será colocado contra a parede para apresentar um argumento bíblico e

forte provando que Jesus estava falando sobre amarrar e liberar espíritos malignos que

pairam sobre cidades.

O Plano Divino de Deus Inclui Satanás (God’s Divine Plan

Includes Satan)

Satanás e seus anjos são um exército rebelde, mas não um exército que está além do

controle de Deus. Esse exército rebelde foi criado por Deus (mesmo que não fosse

rebelde quando criado). Paulo escreveu:

Pois nele [Cristo] foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as

visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades;

todas as coisas foram criadas por ele e para ele (Cl. 1:16, ênfase adicionada).

Jesus criou todos os espíritos angelicais de todos os postos, incluindo Satanás. Ele

sabia que alguns iriam se rebelar? É claro que sim. Então, por que os criou? Porque usaria

aqueles espíritos rebeldes para ajudá-lo a cumprir Seu plano. Se Ele não tivesse um plano

para eles, simplesmente os teria encarcerado, como sabemos que já fez com alguns anjos

rebeldes (veja 2 Pd. 2:4) e como fará um dia com Satanás (veja Ap. 20:2).

Deus tem motivos para permitir que Satanás e todos os espíritos malignos operem na

terra. Se não tivesse, estariam completamente fora de serviço. Quais são os motivos de

Deus para permitir que Satanás opere na terra?Acho que ninguém entende todos os

motivos; mesmo assim, Deus revelou alguns deles em Sua Palavra.

Primeiro, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra para cumprir Seu

plano de testar os humanos. Satanás é a escolha alternativa para a fidelidade humana.

Percebendo ou não, as pessoas estão sujeitas a Deus ou a Satanás. Deus permitiu que

Satanás tentasse Adão e Eva, duas pessoas que tinham o livre arbítrio dado por Deus,

para testá-los. Todos os que possuem livre arbítrio devem ser testados para que seja

revelado o que realmente está em seus corações: obediência ou desobediência.1

Segundo, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra como um agente de

Sua ira sobre os malfeitores. Já provei isso anteriormente, mostrando vários exemplos

específicos nas Escrituras, onde Deus trouxe julgamento sobre as pessoas que mereciam

através de espíritos malignos. O fato de Deus ter permitido que Satanás reinasse sobre as

pessoas incrédulas do mundo é uma indicação de Sua ira sobre elas. Deus julga grupos de

pessoas corruptas permitindo que humanos perversos reinem sobre elas, assim também

como espíritos malignos, tornando suas vidas ainda mais miseráveis.

Terceiro, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra para glorificar a Si

mesmo. “Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo (1 Jo.

3:8). Cada vez que Deus destrói um dos trabalhos de Satanás, Seu poder e sabedoria são

glorificados.

Jesus é o Cabeça Sobre os Poderes e Principados (Jesus is the

Head Over Principalities and Powers)

Como cristãos, nossa responsabilidade bíblica para lidar com Satanás e espíritos

malignos é dupla: resistir a eles em nossas próprias vidas (Tg. 4:7) e expulsá-los da vida

de quem quer ser liberto (Mc. 16:17). Qualquer cristão que tenha experiência em expulsar

demônios de pessoas sabe que, como regra geral, ele não será capaz de expulsar o

demônio a menos que a pessoa endemoninhada queira ser liberta.2 Deus honra o livre

arbítrio de cada pessoa e se alguém quiser permanecer possesso, Deus não o impedirá.

Esse é outro motivo do porquê não podermos derrubar espíritos territoriais de sobre

áreas geográficas. Aqueles espíritos estão segurando pessoas enlaçadas porque é isso que

1 Esse conceito é discutido de forma mais abrangente em meu livro God’s Tests (Os Testes de Deus), disponíveis para a leitura em inglês em nosse site, www.shepherdserve.org 2 A exceção a essa regra seria nos casos em que as pessoas estão tão controladas por demônios que é impossível comunicarem seu desejo de libertação. Nesses casos, seriam necessários dons especiais do Espírito para trazer libertação, que operam como o Espírito deseja.

elas escolheram. Através da proclamação do evangelho a elas, oferecemos uma escolha.

Se fizerem a escolha certa, o resultado será sua libertação de Satanás e dos espíritos

malignos. Se fizerem a escolha errada, escolhendo não se arrependerem, Deus continuará

permitindo que Satanás os mantenha cativos.

Jesus é mencionado nas Escrituras como “o Cabeça de todo poder e autoridade” (Cl.

2:10). Mesmo que as palavras gregas para poder (arche) e autoridade (exousia) sejam, às

vezes, usadas para descrever líderes políticos humanos, também são usadas no Novo

Testamento como títulos para governadores espirituais demoníacos. A passagem clássica

sobre a luta dos cristãos contra poderes (arche) e autoridades (exousia) em Efésios 6:12 é

um exemplo.

Quando lemos dentro do contexto o que Paulo escreveu sobre Jesus ser o Cabeça de

todo poder e autoridade em Colossenses 2:10, parece claro que está falando de poderes

espirituais. Por exemplo, na mesma passagem, somente quatro versículos depois, Paulo

escreve sobre Jesus: “E, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um

espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz” (Cl. 2:15, ênfase adicionada).

Se Jesus é o Cabeça dos poderes e autoridades espirituais, Ele é soberano sobre eles.

Essa é uma maravilhosa revelação aos cristãos que vivem em culturas pagãs e animistas e

que gastaram parte de suas vidas adorando ídolos com medo dos espíritos malignos que

sabiam, reinavam sobre eles.

O Único Meio de Fuga (The Only Way of Escape)

A única maneira de escapar do cativeiro de espíritos malignos é se arrepender e crer no

evangelho. Esse é o escape que Deus providenciou. Ninguém pode amarrar as forças

demoníacas que pairam sobre cidades e se libertar completamente ou parcialmente. Até

que uma pessoa se arrependa e creia no evangelho, ela permanecerá na ira de Deus (veja

Jo. 3:36), que inclui estar presa por poderes demoníacos.

É por isso que não há mudanças mensuráveis nas cidades onde as grandes conferências

sobre batalhas espirituais acontecem, porque nada aconteceu que tenha realmente afetado

as hierarquias demoníacas que reinam sobre essas áreas. Os cristãos podem gritar com os

poderes e principados dia e noite; podem tentar atormentar o Diabo com o que chamam

de “línguas guerreiras”; podem dizer “eu vos amarro, espíritos malignos de sobre essa

cidade” um milhão de vezes; podem até fazer todas essas coisas de aviões ou do andar

mais alto dos arranhacéus (como alguns fazem); mas a única coisa que provocarão nos

espíritos malignos é fazê-los rir muito dos cristãos tolos.

Vamos prosseguir para o sexto mito moderno sobre batalhas espirituais.

Mito no6: “Batalhas espirituais contra espíritos territoriais

abrem as portas para evangelismo efetivo”. (Myth #6:

“Spiritual warfare against territorial spirits opens the door for

effective evangelism.”)

A motivação de muitos cristãos que estão grandemente envolvidos em batalhas

espirituais contra espíritos territoriais é seu desejo de ver o Reino de Deus crescer. Por

isso devem ser elogiados. Todos os cristãos devem desejar ver mais pessoas escaparem

das garras de Satanás.

Contudo, é importante que usemos os métodos de Deus para construirmos Seu Reino.

Deus sabe o que funciona e o que é perca de tempo. Ele tem nos falado exatamente quais

são nossas responsabilidades a respeito da expansão de Seu Reino. Pensar que podemos

fazer algo que multiplicará a efetividade de nosso evangelismo, algo que não está nas

Escrituras ou que Jesus, Pedro ou Paulo nunca praticaram em seus ministérios, é besteira.

Por que tantos cristãos pensam que batalhas espirituais podem abrir as portas para o

evangelismo efetivo?Sua linha de raciocínio é algo parecido com isso: “Satanás tem

cegado as mentes dos pecadores; portanto, precisamos fazer batalhas espirituais contra

ele para impedir que faça isso. Uma vez que os tapa-olhos sejam retirados, mais pessoas

crerão no evangelho”. Isso é verdade?

Com certeza, não há dúvida de que Satanás tem cegado as mentes dos descrentes.

Paulo escreveu:

Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que

está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes. Para

que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus

(2 Co. 4:3-4).

A questão é, Paulo deu essa informação aos crentes de Corínto com a intenção de

motivá-los a fazerem batalhas espirituais e derrubar espíritos territoriais, para que

pessoas incrédulas se tornassem mais receptivas?

A resposta é não por vários motivos óbvios.

Primeiro, porque Paulo não continuou dizendo: “Portanto coríntios, porque Satanás

tem cegado as mentes dos ímpios, quero que vocês façam batalhas espirituais e derrubem

espíritos territoriais para que os tapa-olhos sejam removidos”. Em vez disso, a próxima

coisa que mencionou foi sua pregação de Cristo, que é a maneira de remover a cegueira

espiritual.

Segundo, em nenhuma de suas cartas Paulo instruiu qualquer crente a se envolver em

derrubar fortalezas de sobre suas cidades para que o evangelismo crescesse.

Terceiro, depois de ler todas as cartas de Paulo sabemos que ele não acreditava que os

tapa-olhos de Satanás eram o motivo principal do porquê os descrentes continuavam a

não crer. Os tapa-olhos de Satanás contribuem, mas não são o único ou principal fator. O

principal fator que mantém as pessoas incrédulas é a dureza de seus corações. Isso é

óbvio pelo simples motivo de que Satanás não é capaz de manter todos cegos. Algumas

pessoas, quando ouvem a verdade, creem e, portanto, rejeitam qualquer mentira em que

acreditavam. Não é que os tapa-olhos de Satanás causam a falta de crença, mas sim a

falta de crença que permite os tapa-olhos de Satanás.

Corações Duros (Callous Hearts)

Em sua carta aos efésios, o apóstolo Paulo explicou exatamente porque os ímpios

permanecem na falta de crença:

Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os

gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão

obscurecidos no entendimento [talvez uma referência aos tapa-olhos de

Satanás] e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão,

devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a

sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda

espécie de impureza (Ef. 4:17-19, ênfase adicionada).

Paulo disse que os incrédulos estão excluídos da vida de Deus “por causa da

ignorância em que estão”. Mas por que são ignorantes?Por que foram “obscurecidos no

entendimento”?A resposta é: “devido ao endurecimento do seu coração”. Eles perderam a

“sensibilidade”. Essa é a razão principal do porquê as pessoas continuarem descrentes.3

Elas são as culpadas. Satanás só fornece as mentiras que querem acreditar.

A parábola de Jesus do semeador e do solo ilustra esse conceito perfeitamente:

O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à

beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram… Este é o

significado da parábola: A semente é a palavra de Deus. As que caíram à

beira do caminho são os que ouvem, e então vem o Diabo e tira a palavra do

seu coração, para que não creiam e não sejam salvos (Lc. 8:5, 11-12).

Note que a semente, que representa o evangelho, caiu na beira da estrada e foi pisada.

Ela não pôde penetrar no solo duro onde as pessoas andavam com frequência. Portanto,

foi fácil para que pássaros, que representam o Diabo, a roubassem.

O objetivo da parábola é comparar a condição dos corações das pessoas (e sua

receptividade à Palavra de Deus) a vários tipos de solo. Jesus estava explicando por que

algumas pessoas creem e outras não: tudo depende delas.

Como Satanás aparece nessa imagem? Ele só é capaz de roubar a Palavra daqueles que

estão com o coração duro. Os pássaros da parábola só foram uma causa secundária do

porquê as sementes não germinaram. O problema principal era o solo; na verdade, foi a

dureza do solo que tornou possível que os pássaros pegassem as sementes.

Isso também se aplica ao evangelho. O problema real é a dureza dos corações dos

agentes morais. Quando as pessoas rejeitam o evangelho, elas tomam a decisão de

3 A descrição de Paulo dos ímpios em Romanos 1:18-32 também suporta esse mesmo conceito.

continuarem cegas. Elas preferem acreditar em mentiras do que na verdade. Como Jesus

disse: “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as

suas obras eram más” (Jo. 3:19, ênfase adicionada).

A Bíblia não nos leva a acreditar que as pessoas são sinceras e de bom coração e que

certamente acreditariam no evangelho, se Satanás simplesmente parasse de cegá-las. Pelo

contrário, ela nos dá uma imagem bem escura do caráter humano, e Deus cobrará cada

um por suas escolhas pecaminosas. Sentado em Seu trono de julgamento, Ele não aceitará

a desculpa: “o Diabo me fez fazer isso”.

Como Satanás Cega as Mentes das Pessoas (How Satan

Blinds People’s Minds)

Como exatamente Satanás cega as mentes das pessoas?Ele tem algum poder espiritual

místico que derrama sobre a cabeça das pessoas para entorpecer seu entendimento?Um

demônio enfia suas garras em seus cérebros, causando um curto-circuito em seu

pensamento racional?Não, Satanás cega as pessoas fornecendo-lhes mentiras em que

acreditem.

Obviamente, se as pessoas realmente acreditassem na verdade que Jesus é o Filho de

Deus que morreu por seus pecados, se realmente acreditassem que um dia terão que

comparecer diante dEle para prestar contas de suas vidas, então se arrependeriam e se

tornariam seguidoras dEle. Mas não acreditam nessas coisas; porém, acreditam em algo.

Podem acreditar que não há um Deus ou que não há vida após a morte. Podem acreditar

em reencarnação ou que Deus nunca mandaria alguém para o inferno. Podem acreditar

que suas obras as levarão ao céu. Mas não importa no que acreditam, se não for no

evangelho, pode ser resumido em um palavra: mentiras. Elas não acreditam na verdade e,

portanto, Satanás as mantém cegas através de mentiras. Se, contudo, elas se humilharem

e acreditarem na verdade, Satanás não será capaz de cegá-las mais.

As Mentiras das Trevas (The Lies of Darkness)

O reino de Satanás é mencionado nas Escrituras como o “domínio das trevas” (Cl.

1:13). As trevas, é claro, representam a ausência da verdade — a ausência de luz ou

claridade. Quando você está nas trevas, caminha de acordo com a sua imaginação e

normalmente acaba ferido. É assim no reino de trevas de Satanás. Os que estão lá levam

suas vidas de acordo com suas imaginações e estas foram contaminadas pelas mentiras de

Satanás. Estão em trevas espirituais.

Portanto, o reino de Satanás é melhor definido, não como um reino geográfico com

fronteiras definidas, mas como um reino de crença — isto é, de mentiras. O reino das

trevas está localizado no mesmo lugar que o reino de luz. Os que acreditam na verdade

vivem entre os que acreditam em mentiras.4 Nosso trabalho principal é proclamar a

verdade às pessoas que já acreditam em mentiras. Quando alguém crê na verdade,

Satanás perde outro servo, pois não é mais capaz de enganá-lo.

Portanto, libertamos os pecadores das mãos de Satanás, não por “amarrar” os espíritos

que estão sobre eles, mas por proclamar a verdade. Jesus disse: “E conhecerão a verdade,

e a verdade os libertará” (Jo. 8:32, ênfase adicionada). A verdade cura a cegueira

espiritual.

Dentro dessa mesma passagem das Escrituras no evangelho de João, Jesus disse a uma

multidão de ímpios:

Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele.

Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há

verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e

pai da mentira. No entanto, vocês não crêem em mim, porque lhes digo a

verdade (Jo. 8:44-45, ênfase adicionada).

Note o contraste que Jesus fez entre Ele e o Diabo. Ele fala a verdade; Satanás é o

primeiro mentiroso.

Note também que mesmo Jesus tendo falado a Seus ouvintes que tinham como pai o

Diabo, e mesmo tendo exposto Satanás como mentiroso, ainda colocou sobre eles a

4 É claro que em várias regiões geográficas existem porcentagens maiores ou menores de pessoas em um dos reinos.

responsabilidade de crerem na verdade que falava. Não era por culpa do Diabo que eles

estavam cegos — a culpa era deles. Jesus os considerou responsáveis. Satanás ajuda as

pessoas que “amam as trevas” a permanecerem nas trevas fornecendo a elas mentiras nas

quais acreditem. Mas Satanás não pode enganar ninguém que crê na verdade.

Tudo isso sendo verdade, a principal maneira de atrapalharmos o reino das trevas é

espalhando a luz — a verdade da Palavra de Deus. É por isso que Jesus não falou: “Vão a

todo o mundo e amarrem o Diabo”, mas: “Vão a todo o mundo e preguem o evangelho”.

Jesus disse a Paulo que o objetivo de sua pregação seria “abrir-lhes os olhos e convertê-

los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus” (At. 26:18, ênfase

adicionada). Isso deixa claro que as pessoas fogem do domínio de Satanás quando são

expostas à verdade do evangelho e tomam a decisão de saírem das trevas e irem para a

luz, crendo na verdade ao invés de em uma mentira. As únicas fortalezas que estamos

“derrubando” são fortalezas de mentiras construídas nas mentes das pessoas.

Este é o Plano de Deus (This is God’s Plan)

Não se esqueça que foi Deus quem lançou Satanás do céu para a terra. Ele poderia ter

colocado Satanás em qualquer lugar do universo ou tê-lo encarcerado para sempre. Mas

não fez isso. Por quê? Porque Deus queria usar Satanás para alcançar Seu objetivo final

— o objetivo de, um dia, ter uma grande família de agentes morais livres que O amem,

tendo escolhido servi-Lo.

Se Deus queria uma família de filhos que O amassem, duas coisas eram necessárias.

Primeiro, teria que criar pessoas com o livre arbítrio, pois a base do amor é o livre

arbítrio. Robôs e máquinas não podem amar.

Segundo, teria que testá-los em um ambiente onde teriam que enfrentar a escolha de

obedecer ou desobedecer; amá-Lo ou odiá-Lo. Agentes morais livres devem ser testados.

E se haverá um teste de fidelidade, deverá existir uma tentação à infidelidade. Assim,

começamos a entender porque Deus colocou Satanás na terra. Satanás serviria como a

escolha alternativa para a fidelidade humana; sendo-lhe permitido (com algumas

limitações) influenciar qualquer um receptivo às suas mentiras. Todos enfrentariam uma

escolha: Acreditarei em Deus ou em Satanás? Servirei a Deus ou a Satanás? Percebendo

ou não, todos já fizeram uma escolha. Nosso trabalho é encorajar as pessoas que tomaram

a decisão errada a se arrependerem e acreditarem no evangelho, tomando a decisão certa.

Não foi isso o que aconteceu no Jardim do Éden? Deus colocou a árvore do

conhecimento do bem e do mal ali e então proibiu que Adão e Eva comessem dela. Se

Deus não queria que comessem dela, por que a colocou ali? A resposta é que ela servia

como um teste.

Também notamos que Satanás recebeu permissão de Deus para tentar Eva.

Novamente, se a fidelidade precisa ser testada, deve existir a tentação para ser infiel.

Satanás mentiu para Eva e ela acreditou nele; portanto, ao mesmo tempo decidiu não

acreditar no que Deus lhe tinha dito. O resultado? Os primeiros agentes morais revelaram

a deslealdade que estava em seus corações.

De maneira similar, todos os agentes morais livres são testados no decorrer de suas

vidas. Deus se revelou através de Sua criação e, portanto, todos podem ver que existe um

Deus incrível (veja Rm. 1:19-20). Deus deu a cada um de nós uma consciência, e em

nossos corações, distinguímos o errado do certo (veja Rm. 2:14-16). Foi permitido a

Satanás e a seus espíritos malignos que, de maneira limitada, mentissem e tentassem as

pessoas. O resultado é que todos os agentes morais livres são testados.

A triste verdade é que todos os agentes morais livres se rebelaram e “trocaram a

verdade de Deus pela mentira” (Rm. 1:25). Contudo, podemos agradecer a Deus por ter

providenciado para nós um resgate de nossos pecados e uma maneira de nascermos em

Sua família. A morte sacrificial de Jesus é o único caminho e a resposta suficiente para o

nosso problema.

A Decepção de Satanás, Agora e Mais Tarde (Satan’s

Deception, Now and Later)

Então, entendemos pelo menos uma razão do porquê é permitido que o Diabo e seu

exército rebelde trabalhem neste planeta: para enganar aqueles que amam as trevas.

Essa verdade é comprovada quando consideramos que, de acordo com o livro de

Apocalipse, um dia Satanás será preso por um anjo e encarcerado por mil anos. O motivo

desse aprisionamento? “Para assim impedi-lo de enganar as nações” (Ap. 20:3). Durante

esse Milênio, Jesus reinará o mundo pessoalmente de Jerusalém.

Mas depois desse mil anos, Satanás será solto por um curto período de tempo. O

resultado? Ele “sairá para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra”(Ap.

20:8).

Se Deus não quer que Satanás engane as pessoas naquele tempo, por que Ele o

libertará? Especialmente sob a luz de que Deus originalmente encarcerou Satanás “para

impedi-lo de enganar as nações”?

É claro que Deus preferiria que Satanás nunca enganasse alguém. Mas Ele sabe que as

únicas pessoas a quem Satanás pode enganar são aquelas que rejeitam a verdade, e é por

isso que Deus permite que ele opere agora, e permitirá que opere depois. Enquanto

Satanás engana as pessoas, a condição dos corações delas é aparente, e então, Deus pode

separar o “trigo do joio” (veja Mt. 13:24-30).

Isso é exatamente o que acontecerá no fim do Milênio quando Satanás for solto. Ele

enganará todos os que amam as trevas, e então reunirá seus exércitos ao redor de

Jerusalém em uma tentativa de acabar com o reinado de Cristo. Deus saberá exatamente

quem O ama e quem O odeia, e imediatamente mandará fogo do céu que os devorará

(veja Ap. 20:9). Satanás servirá aos propósitos de Deus, assim como faz agora. Por esse

motivo, entre outros, é besteira pensar que podemos “derrubar espíritos territoriais”. Deus

permite que operem, pois tem Seus motivos.

Evangelismo Bíblico (Biblical Evangelism)

O fato é que nem Jesus nem qualquer um dos apóstolos do Novo Testamento

praticaram o tipo de batalha espiritual que alguns dizem ser a chave perdida para o

evangelismo efetivo de hoje. Nunca encontramos Jesus, Pedro, João, Estevão, Filipe ou

Paulo “derrubando fortalezas” ou “amarrando o homem forte” de sobre as cidades onde

pregavam. Ao invés disso, vemos que seguiam o Espírito Santo a respeito de onde

deveriam pregar; encontramos esse homens proclamando o evangelho simples —

chamando as pessoas ao arrependimento e fé em Cristo — e os encontramos

aproveitando os resultados maravilhosos. E nos casos em que pregaram a pessoas não-

receptivas que rejeitaram o evangelho, não os vemos “fazendo batalhas espirituais para

que Satanás não fosse capaz de continuar cegando suas mentes”. Contudo, os

encontramos sacudindo o pó de seus pés, como Jesus mandou e indo para a próxima

cidade (veja Mt. 10:14; At. 13:5).

É incrível que alguém possa dizer que “derrubar fortalezas” e “amarrar o homem

forte” sejam pré-requisitos ao evangelismo com sucesso, quando existem milhares de

exemplos de grandes reavivamentos na história da Igreja onde “batalhas espirituais”

nunca foram praticadas.

“Mas nossas técnicas funcionam!”, alguns dizem. “Desde que começamos a fazer esse

tipo de batalha espiritual, mais pessoas têm sido salvas que antes”.

Se isso for verdade, lhe direi porquê. Porque têm havido mais orações de acordo com a

Bíblia e mais evangelismo feitos ao mesmo tempo, ou porque um grupo de pessoas se

tornou repentinamente receptível ao evangelho.

O que você diria se um evangelista lhe dissesse: “Hoje, antes de pregar no culto de

reavivamento, comi três bananas. E quando preguei, dezesseis pessoas foram salvas!

Finalmente encontrei o segredo do evangelismo efetivo! De agora em diante, sempre

comerei três bananas antes de pregar!”?

Com certeza, você diria ao evangelista: “O fato de você ter comido três bananas não

influenciou em nada com o fato das dezesseis pessoas terem sido salvas. A chave para o

seu sucesso é que você pregou o evangelho e havia dezesseis ouvintes receptivos”.

Deus honra Sua Palavra. Se Ele fizer uma promessa e alguém se encaixar naquela

promessa em particular, manterá Sua promessa, mesmo que essa pessoa esteja fazendo

outras coisas não-bíblicas.

Isso se aplica às atuais práticas de batalhas espirituais. Se você começar a evangelizar

e a “amarrar o homem forte” que está sobre sua cidade, certa porcentagem de pessoas

será salva. E se começar a evangelizar sem amarrar o homem forte, a mesma

porcentagem de pessoas será salva.

Como Orar Biblicamente por uma Colheita Espiritual (How

to Pray Scripturally for a Spiritual Harvest)

Como devemos orar por pessoas incrédulas? Primeiro, devemos entender que não há

instrução no Novo Testamento que nos diga como orar para que Deus salve pessoas, nem

há registros dos primeiros cristãos orando dessa forma. A razão é que do ponto de vista

de Deus, Ele já fez todo o necessário para que todos sejam salvos. Ele deseja tanto que

sejam salvos que deu Seu Filho para morrer na cruz.

Mas por que não estão todos salvos ainda? Porque nem todos creem no evangelho. E

por que não creem? Só existem dois motivos: (1) Nunca ouviram o evangelho ou (2)

ouviram o evangelho e o rejeitaram.

É por isso que a maneira bíblica de orar pelos incrédulos é orar para que tenham

oportunidades de ouvir o evangelho. Por exemplo, Jesus nos disse: “A colheita é grande,

mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande

trabalhadores para a sua colheita” (Lc. 10:2, ênfase adicionada). Para que as pessoas

ouçam o evangelho e sejam salvas, alguém precisa pregar a elas. É por isso que devemos

orar para que Deus mande pessoas a elas.

Quando a Igreja primitiva orava a respeito de uma colheita espiritual, oravam:

“Capacita os teus servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua

mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus”

(At. 4:29-10, ênfase adicionada).

Eles estavam pedindo por (1) oportunidades de proclamar o evangelho corajosamente

ou (2) coragem para proclamar o evangelho nas oportunidades que sabiam que teriam.

Também esperavam que Deus confirmasse o evangelho com curas, sinais e maravilhas.

Essas são orações bíblicas, e note que o objetivo era dar às pessoas a oportunidade de

ouvir o evangelho. Deus respondeu às suas orações: “Depois de orarem, tremeu o lugar

em que estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam

corajosamente a palavra de Deus” (At. 4:31).

Como Paulo pensou que os cristãos deveriam orar a respeito de produzir uma colheita

espiritual? Ele os instruiu a pedir a Deus que salvasse mais pessoas? Não, vamos ler o

que ele disse:

Finalmente, irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague

rapidamente e receba a honra merecida, como aconteceu entre vocês (2 Ts. 3:1,

ênfase adicionada).

Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a mensagem a

fim de que, destemidamente, torne conhecido o mistério do evangelho, pelo

qual sou embaixador preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele,

eu fale com coragem, como me cumpre fazer (Ef. 6:19-20, ênfase adicionada).

Agora, se as pessoas serão salvas ou não, depende mais delas que de Deus e, portanto,

nossas orações devem ser para que as pessoas ouçam o evangelho e para que Deus nos

ajude a proclamá-lo. Deus responderá nossas orações, mas isso ainda não garante que

alguém seja salvo, pois Deus dá às pessoas o direito de tomarem suas próprias decisões.

Sua salvação depende de sua resposta ao evangelho.

Mito no7: “Quando um cristão peca, ele abre a porta para

que um demônio entre e more nele”. (Myth #7: “When a

Christian sins, he opens the door for a demon to come and live

in him.”)

É verdade que quando um cristão peca, pode ser porque tenha dado lugar à tentação de

um espírito maligno. Contudo, dar lugar a sugestões de um espírito maligno não significa

que o espírito maligno é capaz de entrar no crente. Como cristãos, quebramos nossa

comunhão com Deus quando pecamos porque O desobedecemos (veja 1 Jo. 1:5-6).

Sentimo-nos culpados; contudo, não quebramos nosso relacionamento com Ele, sendo

que somos Seus filhos.

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados

e nos purificar de toda a injustiça” (1 Jo. 1:9). Então, nossa comunhão com Ele é

restaurada. Note que João não disse que precisamos ser purificados de qualquer demônio

quando somos culpados de algum pecado.

Todos os cristãos enfrentam tentações diárias do mundo, da carne e do Diabo. Paulo

escreveu que realmente temos uma luta contra vários espíritos malignos (veja Ef. 6:12).

Portanto, até certo ponto, todos os cristãos são perturbados por espíritos demoníacos. Isso

é normal, e é nossa responsabilidade resistir ao Diabo e aos demônios pela fé na Palavra

de Deus (veja 1 Pd. 5:8-9). Quando cremos e agimos de acordo com o que Deus disse,

estamos resistindo ao Diabo.

Por exemplo, se Satanás trouxer pensamentos de depressão, devemos pensar em uma

passagem que vai contra a depressão e obedecer a Palavra de Deus de sempre nos

alegrarmos (veja 1 Ts. 5:18). É nossa responsabilidade agir de acordo com a Palavra de

Deus e trocar os pensamentos de Satanás pelos de Deus.

Devemos reconhecer que, como agentes morais livres, podemos pensar no que

quisermos. Se um crente continuamente escolhe ouvir e dar lugar às sugestões de

espíritos malignos, ele com certeza pode abrir sua mente para se tornar oprimido, que é

simplesmente um estado em que se está mais receptivo e mais dominado por

pensamentos errados. Se ele escolher dar ainda mais lugar, pode se tornar obsecado por

certo tipo de pensamento errado, o que é muito raro para um cristão, mas pode acontecer.

Ainda assim, se o cristão desejar ser liberto, tudo o que precisa fazer é decidir pensar e

dar lugar à Palavra de Deus, ou seja, resistir ao Diabo.

Mas ele pode ser possesso? Somente se decidir por vontade própria, sem ser

pressionado, a rejeitar a Cristo e se virar completamente contra Ele. Então, é claro, não

seria mais cristão5 e poderia ser possesso — se se rendesse ainda mais ao espírito

maligno que o oprimia. Mas isso está muito longe de abrir a porta para um espírito

maligno habitar em você através de um pecado cometido.

É um fato que não há sequer um exemplo no Novo Testamento de qualquer cristão

sendo possesso por um demônio. Também não há aviso aos cristãos sobre a perigosa

possibilidade de serem habitados por demônios ou instrução a respeito de como expulsar

demônios de companheiros cristãos.

5 Os que mantêm a posição “uma vez salvo, sempre salvo” com certeza descordarão. Gostaria de encorajá-los a lerem Romanos 11:22; 1 Coríntios 15:1-2; Filipenses 3:18-19; Colossenses 1:21-23 e Hebreus 3:12-14, prestando atenção especial à palavra “se” sempre que aparecer.

A verdade é que, como cristãos, não precisamos expulsar demônios de nós mesmos —

o que precisamos é renovar nossas mentes na Palavra de Deus. Isso é bíblico! Paulo

escreveu:

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação

da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa,

agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12:2).

Uma vez que nossas mentes tenham sido purificadas dos antigos padrões de

pensamento e renovadas com a verdade da Palavra de Deus, ganhamos vitória sobre

hábitos pecaminosos e vivemos de maneira cristã consistente. É a verdade que nos liberta

(veja Jo. 8:32). Somos transformados enquanto renovamos nossas mentes, não enquanto

exorcizamos demônios.

Então, por que existem tantos cristãos que testificam que já tiveram um demônio (ou

mais) expulso deles? Uma possibilidade é terem imaginado que tinham um demônio que

já havia sido retirado. Muitos cristãos são ingênuos e não têm conhecimento da Palavra

de Deus e, portanto, são presas fáceis para os “ministradores de libertação”, que

manipulam psicologicamente as pessoas para pensarem que têm demônios. Uma vez que

as pessoas são convencidas disso, irão cooperar naturalmente com qualquer um que

pareça ser confiante de sua habilidade de expulsar o demônio.

Outra possibilidade real é as pessoas terem sido libertas de demônios por não serem

verdadeiras cristãs. O evangelho moderno, que contrasta completamente o evangelho

bíblico, tem enganado a muitos, fazendo-os pensar que são cristãos, mesmo sendo

indistinguíveis de ímpios e mesmo não tendo Jesus como Senhor. Nas Escrituras, vemos

que quando as pessoas criam no evangelho e renasciam, os demônios que viviam nelas

saíam automaticamente (veja At. 8:5-7). Os demônios não podem possuir as pessoas que

são habitadas pelo Espírito Santo e o Espírito Santo habita nas pessoas que nascem de

novo.

Mito no 8: “Através da história de uma cidade, podemos

determinar quais espíritos demoníacos a dominam e, portanto,

a batalha espiritual e consequentemente o evangelismo serão

mais efetivos”. (Myth 8: “Through studying the history of a

city, we can determine which evil spirits are dominating it, and

thus be more effective in spiritual warfare and ultimately in

evangelization.”)

Esse mito é fundado em várias ideias que não podem ser sustentadas pelas Escrituras.

Uma delas é que espíritos territoriais permanecem por muito tempo. Isto é, os que

viveram em uma região há centenas de anos, supostamente ainda estarão lá. Portanto, se

encontrarmos uma cidade que foi fundada por pessoas ambiciosas, podemos concluir que

existem espíritos de ambição dominando a cidade hoje. Se a cidade foi um dia uma aldeia

indígena, podemos concluir que espíritos de xamanismo e bruxaria dominam a cidade

hoje. E por aí vai.

Mas é verdade que os mesmos poderes e principados malignos que viveram sobre uma

área geográfica há centenas de anos ainda estão lá? Talvez, mas não necessariamente.

Considere a história que lemos anteriormente do décimo capítulo do livro de Daniel. O

anjo sem nome que recebia ajuda de Miguel para lutar contra “o príncipe da Pérsia” disse

a Daniel: “Tenho que voltar para lutar contra o príncipe da Pérsia e, logo que eu for,

chegará o príncipe da Grécia” (Dn. 10:20, ênfase adicionada). A história nos diz que o

Império Persa sucumbiu aos gregos através das conquistas de Alexandre, o Grande.

Mesmo assim, esse anjo sem nome sabia das mudanças correspondentes que

aconteceriam no reino espiritual — o “príncipe da Grécia” estava chegando.

Quando o príncipe da Grécia chegou, ele governou o reino espiritual sobre o Império

Romano, assim como o príncipe da Pérsia governou o reino espiritual sobre o Império

Persa? Essa conclusão parece razoável e, assim, alguns espíritos malignos de alto escalão

mudaram de área geográfica, já que o Império Grego incluía praticamente todo o

território do Império Persa. Quando há mudanças políticas na terra, é possível que haja

mudanças no reino das trevas. Contudo, o fato é que não sabemos, a menos que Deus

revele a nós.

Apesar disso, faz pouca diferença quais espíritos malignos reinam sobre qual região, já

que nada podemos fazer a respeito disso através de “batalha espiritual”, como já provado.

Categorizando demais Espíritos Malignos (Over-

Categorizing Evil Spirits)

Além do mais, é uma mera suposição pensar que existam espíritos governadores

especializados em certos pecados. Todo o conceito de existirem “espíritos de ambição”,

“espíritos de cobiça”, “espíritos religiosos” e assim por diante, não pode ser sustentado

pelas Escrituras, muito menos a ideia de que esses diferentes tipos de espíritos existam e

reinem nas posições mais altas no reino das trevas.

Por mais impressionante que seja, para os que nunca estudaram os quatro evangelhos

de perto, só existem três tipos específicos de demônios que Jesus expulsou: É

mencionado uma vez, um “demônio que era mudo” (Lc. 11:14); outra vez, lemos sobre

um “espírito mudo e surdo” (Mc. 9:25); e mais de uma vez encontramos referência a

“espíritos imundos”, que parece incluir todos os demônios que Jesus expulsou, incluindo

o “surdo e mudo” (veja Mc. 9:25).

Não é possível que o espírito “surdo e mudo” fosse capaz de fazer outra coisa além de

deixar alguém surdo e mudo?Com certeza, sim; pois também fez com que o menino de

Marcos 9 tivesse convulsões horríveis. Portanto, “surdo e mudo” pode não ser uma

referência ao tipo específico que era, mas uma simples referência a como estava

prejudicando certa pessoa. Alguns de nós se tornaram “loucos por categorias” a respeito

de demônios, indo além da revelação bíblica.

Em todo o Velho Testamento, os únicos espíritos específicos que são mencionados, e

talvez considerados espíritos malignos, são: um “espírito mentiroso” (1 Rs. 22:22-23);

um espírito de desorientação (veja Is. 19:14); e um “espírito de prostituição” (Os. 4:12;

5:4). A respeito dos dois primeiros, todos os espíritos malignos podem ser chamados de

espíritos de mentira e de desorientação. A respeito do terceiro, a frase “espírito de

prostituição” não é necessariamente uma referência a um espírito maligno, mas a uma

atitude predominante.6

Em todo o livro de Atos, a única menção de um espírito maligno específico é em Atos

16:16, onde lemos a respeito de uma jovem que tinha um “espírito pelo qual predizia o

futuro”. E em todas as epístolas, o único tipo de espírito maligno específico que é

mencionado é “espírito enganador” (1 Tm. 4:1) que, novamente, pode ser a descrição de

qualquer espírito maligno.

À luz de algumas referências a tipos específicos de demônios na Bíblia, é incrível ler

algumas das listas modernas que contém centenas de vários tipos de demônios que

podem habitar pessoas ou controlar cidades.

Não devemos presumir, portanto, que haja categorização, por pecado específico, de

qualquer nível elevado de espíritos malignos. É uma inferência dizer: “Por haver tantas

apostas naquela cidade, deve haver espíritos de apostas sobre ela”.

Espíritos do Fumo? (Smoking Spirits?)

Pense como alguém pareceria tolo se dissesse: “Deve haver muitos espíritos do fumo

sobre aquela cidade, porque tantas pessoas lá fumam cigarros”. O que esses espíritos do

fumo estavam fazendo antes daquelas cidades existirem? O que eles eram? O que faziam

antes do tabaco ser usado como fumo? A razão de menos pessoas fumarem agora é

porque alguns desses velhos “demônios do fumo” estão morrendo ou mudando para

novos territórios?

É possível ver a tolice de dizer coisas como: “Aquela cidade é controlada pelos

espíritos de cobiça, e é por isso que existem tantos prostíbulos lá”? A verdade é que onde

as pessoas não servem a Cristo, existe um reino de trevas. Muitos espíritos malignos

operam no domínio das trevas que incita seus subordinados a pecar e continuar em sua

rebeldia contra Deus. Esses espíritos tentarão as pessoas em todas as áreas para que

pequem; em alguns lugares, as pessoas cederão mais a um tipo de pecado que a outro.

Sua única esperança é o evangelho, o qual fomos chamados para proclamar. 6 O “espírito de ciúmes” mencionado em Números 5:14-30 e o “espírito altivo”, em Provérbios 16:18 são bons exemplos dessa palavra sendo usada para expressar certo tipo de atitude, e não para se referir a um demônio. Em Números 14:24, lemos que Calebe tinha “outro espírito”, que obviamente se refere à boa atitude de Calebe.

Mesmo que houvesse tipos específicos de espíritos malignos especializados em certos

pecados e que reinavam sobre certas áreas geográficas, tal conhecimento não nos

ajudaria, pois não há nada que possamos fazer para removê-los. Nossa responsabilidade é

orar (de maneira bíblica) pelas pessoas que estão enganadas e lhes anunciar o evangelho.

A única vantagem em saber quais são os pecados predominantes de certa cidade seria

para pregarmos mensagens mais condenadoras aos pecadores que moram lá — nomeando

especificamente os pecados dos quais são culpados diante de Deus. Mas não há

necessidade de pesquisarmos a história de uma cidade para determinar isso. Os pecados

predominantes logo se tornam evidentes.

Por último, não há exemplo no Novo Testamento de alguém fazendo “mapeamento

espiritual” como meio de preparo para batalhas espirituais e evangelismo. Também não

há instruções nas epístolas para que façamos isso. No Novo Testamento, os apóstolos

obedeciam o Espírito Santo a respeito de onde deveriam pregar; proclamavam fielmente

o evangelho, chamavam as pessoas ao arrependimento, e dependiam do Senhor para

confirmar a palavra com sinais. O método deles funcionava bem.

Mito no 9: “Alguns cristãos precisam ser libertos de

maldições familiares e satânicas”. (Myth 9: “Some Christians

need to be set free from generational or satanic curses.”)

Toda a ideia de “maldições familiares” vem de quatro passagens das Escrituras

encontradas no Velho Testamento que dizem, basicamente, a mesma coisa. Elas são

Êxodo 20:5; 34:7; Números 14:18 e Deuteronômio 5:9. Vamos considerar Números

14:18

O Senhor é muito paciente e grande em fidelidade, e perdoa a iniqüidade e a

rebelião, se bem que não deixa o pecado sem punição, e castiga os filhos

pela iniqüidade dos pais até a terceira e quarta geração (ênfase

adicionada).

Como devemos interpretar essa passagem das Escrituras?Significa que Deus porá uma

maldição ou punirá alguém pelos pecados de seus pais, avós, bisavós ou

tataravós?Devemos acreditar que Deus pode perdoar alguém pelos seus pecados, uma vez

que creu em Jesus, mas ainda o castigará pelos pecados de seus tataravós?

Com certeza não; caso contrário, Deus poderia ser acusado justamente de ser

grandemente injusto e hipócrita. Ele mesmo disse que castigar alguém pelos pecados de

seus pais é moralmente errado:

“Contudo, vocês [israelitas] perguntam: ‘Por que o filho não partilha da

culpa de seu pai?’ Uma vez que o filho fez o que é justo e direito e teve o

cuidado de obedecer a todos os meus decretos, com certeza ele viverá.

Aquele que pecar é que morrerá. O filho não levará a culpa do pai, nem o

pai levará a culpa do filho. A justiça do justo lhe será creditada, e a

impiedade do ímpio lhe será cobrada” (Ez. 18:19-20, ênfase adicionada).

Mais adiante, debaixo da Lei de Moisés, Deus ordenou que nem pai nem filho deve

carregar o castigo pelo pecado do outro:

Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos

pais; cada um morrerá pelo seu próprio pecado (Dt. 24:16).

Não há possibilidade que um Deus de amor e justiça possa amaldiçoar ou punir

alguém pelo pecado de seu ancestral.7 Então, o que a Bíblia quer que entendamos quando

diz que Deus “não deixa o pecado sem punição, e castiga os filhos pela iniqüidade dos

pais até a terceira e quarta geração”?

Só pode significar que Deus responsabiliza as pessoas pelos exemplos pecaminosos

que dão aos filhos, e responsabiliza-os parcialmente pelos pecados de seus filhos

7 Isso não quer dizer que crianças não sofram por causa dos pecados de seus pais, pois muitas vezes sofrem. Contudo, quando isso acontece, não quer dizer que Deus as está punindo pelos pecados de seus pais, mas é uma indicação de que as pessoas são tão más que cometem pecados que sabem que fará seus próprios filhos sofrerem. As Escrituras também deixam claro que Deus pode misericordiosamente reter julgamento sobre um indivíduo e que mais tarde a liberará sobre filhos tão merecedores - ou ainda mais. Da mesma forma, Ele pode misericordiosamente reter julgamento sobre uma geração perversa e liberá-la sobre outra ainda mais merecedora (veja Jr. 16:11-12). Isso é muito diferente de punir alguém pelos pecados de seus avós.

cometidos por sua influência. Deus as responsabiliza parcialmente por sua má influência,

pelos pecados de seus tataranetos! Deus é assim. E ninguém pode dizer que Ele é injusto

por fazer isso.

Note que a passagem sob consideração diz que Deus “castiga os filhos pela iniqüidade

dos pais”. É a iniquidade dos pais em seus filhos que está sendo castigada.

Portanto, a ideia de “maldição familiar” é uma superstição, e uma má superstição, já

que faz Deus parecer injusto.

Maldições Satânicas? (Satanic Curses?)

Mas e as “maldições satânicas”?

Em primeiro lugar, a Bíblia nunca diz que Satanás é capaz de “colocar maldições” em

alguém, e também não dá exemplos nos quais o faça. Com certeza, encontramos Satanás

afligindo as pessoas na Bíblia, mas nunca o encontramos “colocando maldições” sobre

uma família que resulte em má sorte sobre eles e sobre as gerações sequentes.

Todos os cristãos são afligidos por Satanás e por espíritos malignos (até certo ponto)

durante toda a vida, mas isso não quer dizer que precisemos “quebrar as maldições

satânicas” que foram passadas para nós através de nossos pais. O que precisamos fazer é

permanecer na Palavra de Deus e resistir ao Diabo pela fé, como somos instruídos pelas

Escrituras (veja 1 Pd. 5:8-9).

Na Bíblia, Deus é quem tem poder para abençoar e amaldiçoar (veja Gn. 3:17; 4:11;

5:29; 8:21; 12:3; Nm. 23:8; Dt. 11:26; 28:20; 29:27; 30:7; 2 Cr. 34:24; Sl. 37:22; Pv.

3:33; 22:14; Lm. 3:65; Ml. 2:2; 4:6). As pessoas podem nos amaldiçoar com sua bocas,

mas suas maldições são inofensivas a nós:

Como o pardal que voa em fuga, e a andorinha que esvoaça veloz, assim a

maldição sem motivo justo não pega (Pv. 26:2).

Balaão estava certo quando, depois de ser contratado por Balaque para amaldiçoar os

filhos de Israel, disse: “Como posso amaldiçoar a quem Deus, não amaldiçoou?Como

posso pronunciar ameaças contra quem o Senhor não quis ameaçar?” (Nm. 23:8).

Alguns crentes se empolgam com a ideia de pessoas amaldiçoando outras, baseadas

nas palavras de Jesus em Marcos 11:23: “Eu lhes asseguro que se alguém disser a este

monte: ‘Levante-se e atire-se ao mar’, e não duvidar em seu coração, mas crer que

acontecerá o que diz, assim lhe será feito”.

Note, contudo, que não há poder em simplesmente falar as palavras, mas em acreditar

de coração nas palavras. De forma alguma uma pessoa pode acreditar que sua maldição

possa prejudicar alguém, pois fé é a certeza (Hb. 11:1), e a fé só vem por ouvir a Palavra

de Deus (veja Rm. 10:17). Uma pessoa pode esperar que sua maldição contra alguém

traga à pessoa amaldiçoada desgraça, mas nunca pode crer nisso, pois Deus não deu uma

promessa que sustente a fé de amaldiçoar as pessoas.

A única exceção a isso seria se Deus desse a alguém o “dom de fé” juntamente com o

“dom de profecia” (dois dos nove dons do Espírito), que seria usado como forma de

abençoar ou amaldiçoar, como vemos que Ele fazia, às vezes, nas vidas de alguns

personagens do Novo Testamento (veja Gn. 27:27-29, 38-41; 49:1-27; Js. 6:26 com 1 Rs.

16:34; Jz. 9:7-20, 57; 2 Rs. 2:23-24). Mesmo nesses casos, as bênçãos ou maldições

vinham de Deus, não de homens. Portanto, a ideia de alguém ser capaz de “amaldiçoar”

outra pessoa é somente uma superstição. É por isso que Jesus não nos instruiu a “quebrar

maldições que foram feitas contra nós”, mas simplesmente a “amaldiçoar aqueles que nos

amaldiçoam”.Não devemos temer as maldições das pessoas. Ter medo das maldições de

alguém é mostrar falta de fé em Deus. Infelizmente, sempre encontro pastores que

parecem ter mais fé no poder de Satanás que no poder de Deus. Mesmo que eu viaje para

diferentes países todos os meses causando muito dano ao reino de Satanás, não tenho o

menor medo dele ou de qualquer maldição que alguém tenha colocado em mim. Não há

razão para temer.

Maldições Ocultas? (Occult Curses?)

É possível ter alguma maldição satânica sobre nós por causa de um envolvimento

oculto no passado?

Não devemos nos esquecer de que quando renascemos, somos libertos do poder de

Satanás e do reino das trevas (veja At. 26:18; Cl. 1:13). Satanás não tem mais poder sobre

nós a menos que o permitamos. Mesmo que a Bíblia indique que os cristãos de Éfeso

eram bastante envolvidos com magia antes de sua conversão (veja At. 19:18-19), não há

menção de Paulo quebrando “maldições satânicas” ou amarrando o poder de Satanás que

os oprimia depois de terem renascido. O motivo é que foram automaticamente libertos do

domínio de Satanás no momento em que creram em Jesus.

Além do mais, quando Paulo escreveu para os cristãos de Éfeso, não deu instruções a

respeito de libertar alguém de maldições satânicas ou familiares. Tudo o que disse foi:

“não dêem lugar ao Diabo” (Ef. 4:27), e “vistam toda a armadura de Deus, para poderem

ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef. 6:11). Essas são responsabilidades de todos

os cristãos.

Mas por que, em alguns casos, os cristãos aparentemente foram ajudados quando

alguém quebrou uma “maldição familiar” ou “satânica” que estava sobre eles?

Provavelmente porque o indivíduo que precisava de ajuda tinha fé que o Diabo fugiria,

uma vez que a “maldição” fosse quebrada. É a fé que faz o Diabo fugir, e todos os

cristãos podem e devem ter fé que, se resistirem ao Diabo, ele fugirá. Contudo, não há

necessidade de chamar um “especialista de libertação” para fazer com que o Diabo fuja.

Finalmente, a Bíblia nos diz que Cristo “se tornou maldição em nosso lugar” e fazendo

isso, “nos redimiu da maldição da Lei” (Gl. 3:13, ênfase adicionada). Todos estávamos

debaixo da maldição de Deus, pois todos pecamos, mas quando Jesus assumiu nosso

castigo, fomos libertos dessa maldição. Glórias a Deus! Não mais amaldiçoados,

podemos nos alegrar, pois agora somos abençoados “com todas as bênçãos espirituais

nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 1:3).

Batalha Espiritual Bíblica (Scriptural Spiritual Warfare)

Falamos de vários mitos modernos a respeito de batalhas espirituais. Mas existe uma

forma de batalha espiritual que seja bíblica?Sim, e esse será nosso foco principal.

Talvez o primeiro fato que precisamos saber sobre batalha espiritual é que ela não

deve ser nosso foco na vida cristã. Devemos estar focados em Cristo, em seguir e

obedecê-Lo, enquanto nos tornamos cada vez mais semelhantes a Ele. Somente uma

pequena porção do Novo Testamento se dirige ao assunto de batalha espiritual, nos

indicando que deve ter um papel pequeno na vida cristã.

O segundo fato que precisamos saber sobre batalhas espirituais é que a Bíblia nos diz o

que precisamos saber. Não precisamos de discernimento especial (ou de um pregador que

diz ter discernimento especial) nas “profundezas de Satanás”. Batalha espiritual bíblica é

simples. As estratégias de Satanás estão claramente reveladas nas Escrituras. Nossas

responsabilidades estão marcadas de forma direta. Uma vez que você conhece e crê no

que Deus disse, tem garantia de ser vitorioso na batalha espiritual.

De Volta ao Início (Back to the Beginning)

Vamos voltar ao livro de Gênesis, onde somos apresentados ao Diabo pela primeira

vez. Nos primeiros capítulos, Satanás aparece na forma de uma serpente. Se houver

alguma dúvida de que essa serpente é o Diabo, Apocalipse 20:2 a retira: “Ele prendeu o

dragão, a antiga serpente, que é o Diabo, Satanás” (ênfase adicionada).

Gênesis 3:1 diz: “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o

Senhor Deus tinha feito”. Quando paramos para pensar em como algumas das criaturas

de Deus são astutas quando competem para sobreviver e buscar sua presa, entendemos o

quanto Satanás deve ser astuto. Por outro lado, ele não é onisciente como Deus, e não

devemos assumir que temos uma desvantagem mental em nossa luta contra ele. Jesus nos

instruiu a sermos “astutos como as serpentes” (Mt. 10:16, ênfase adicionada). Paulo disse

que não era ignorante das estratégias de Satanás (veja 2 Co. 2:11) e que temos a “mente

de Cristo” (1 Co. 2:16).

Satanás lançou seu primeiro dardo de fogo registrado, questionando Eva sobre o que

Deus disse. Sua resposta revelaria se ele teria a chance de enganá-la para que

desobedecesse a Deus. Satanás não tem jeito de enganar ninguém que crê e obedece o

que Deus diz, razão porque toda a estratégia gira ao redor de ideias que contradizem a

Palavra de Deus.

Satanás perguntou a ela: “Foi isso mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum

fruto das árvores do jardim’?” (Gn. 3:1). Quase parece uma pergunta inocente de um

inquiridor casual, mas Satanás sabia exatamente qual era seu objetivo.

Eva respondeu: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não

comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário

vocês morrerão’” (Gn. 3:2-3).

Eva quase acertou. Na verdade, Deus nunca os proibiu de tocar no fruto do

conhecimento do bem e do mal, mas somente os proibiu de comê-lo.

Com certeza, Eva conhecia a verdade o suficiente para reconhecer a mentira da

resposta de Satanás: “Certamente não morrerão!” (Gn. 3:4). Isso, é claro, é uma

contradição óbvia do que Deus disse, e é improvável que Eva teria acreditado sem

hesitação. Então Satanás disfarçou sua mentira com alguma verdade, como normalmente

faz, fazendo mais fácil engoli-la. Ele continuou: “Deus sabe que, no dia em que dele

comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do

mal” (Gn. 3:5).

Na verdade, Satanás disse três verdades depois de ter mentido. Sabemos que depois de

terem comido do fruto proibido, os olhos de Adão e Eva foram abertos (veja Gn. 3:7)

como Satanás disse. Depois, Deus disse que o homem tinha se tornado como Deus e que

tinha vindo a conhecer o bem e o mal (veja Gn. 3:22). Note: Muitas vezes, Satanás

mistura a verdade com o erro para enganar as pessoas.

Note também que Satanás falou mal do caráter de Deus. Deus não queria que Adão e

Eva comessem do fruto proibido para o próprio bem e felicidade deles, mas Satanás fez

parecer que Ele estava mantendo algo bom afastado deles. A maioria das mentiras de

Satanás falam mal a respeito do caráter, vontade e motivos de Deus.

Infelizmente, o primeiro casal da Terra rejeitou a verdade para acreditar em uma

mentira e sofreram as consequências. Mas note todos os elementos de batalha espiritual

em sua história: a única mentira de Satanás estava cercada de verdades. Os humanos

foram confrontados com a escolha de acreditar no que Deus disse ou no que Satanás

dizia. Acreditar na verdade teria sido seu “escudo da verdade”, mas eles nunca o

levantaram.

A Batalha Espiritual de Jesus (Jesus’ Spiritual Warfare)

Quando lemos a respeito do encontro de Jesus com Satanás durante sua tentação no

deserto, vemos rapidamente que Satanás não mudou seus métodos por mais de mil anos.

Seu meio de ataque era desacreditar o que Deus tinha dito, sabendo que o único meio de

derrotar seu inimigo era convencê-Lo a não acreditar na verdade ou desobedecê-La. A

Palavra de Deus está novamente no centro da batalha. Satanás lançava suas mentiras e

Jesus as devolvia com a verdade. Jesus acreditou no que Deus disse e O obedeceu. Isso é

batalha espiritual bíblica.

Jesus foi confrontado da mesma forma que Eva, Adão e o resto de nós. Ele teve que

decidir se ouviria a Deus ou a Satanás. Jesus lutou sua batalha espiritual com a “espada

do Espírito”, a Palavra de Deus. Vamos ver o que podemos aprender com Jesus sobre

batalha espiritual.

Recontando a segunda tentação de Jesus, Mateus nos diz:

Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e

lhe disse: “Se és o Filho de Deus, joga-te daqui para baixo. Pois está escrito:

“‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão,

para que você não tropece em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também

está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’” (Mt. 4:5-7).

Novamente, o assunto central é o que Deus disse. Satanás até citou o salmo 91, mas o

torceu em uma tentativa de fazê-lo significar algo que Deus não intencionou.

Jesus respondeu citando uma passagem que trouxe balanceamento ao entendimento da

promessa de proteção de Deus encontrada no salmo 91. Deus nos protegerá, mas não se

agirmos mal, “colocando-O à prova”, como diz a nota de margem na minha Bíblia.

Por isso, é tão importante que não tiremos os versículos do contexto do resto da Bíblia.

Cada passagem deve ser balanceada com o que o resto das Escrituras dizem.

Torcer as Escrituras é uma das táticas mais comuns de Satanás em batalhas espirituais,

e infelizmente, ele tem se saído muito bem ao usá-la contra muitos cristãos envolvidos no

movimento moderno de batalha espiritual. Um exemplo clássico disso é a frase “derrubar

fortalezas” para sustentar a ideia de derrubar espíritos malignos da atmosfera. Como

mostrei mais cedo, essa frase, quando dentro do contexto, não tem aplicação alguma em

derrubar espíritos malignos da atmosfera. Mesmo assim, o Diabo adoraria que

pensássemos assim, para que perdêssemos nosso tempo gritando com os poderes e

potestades do céu.

No relato de Mateus da terceira tentação de Jesus, lemos:

Depois, o Diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os

reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isso te darei, se te

prostrares e me adorares”. Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está

escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus, e só a ele preste culto’” (Mt. 4:8-10).

Essa foi uma tentação por poder. Se Jesus tivesse adorado Satanás, e se Satanás

tivesse, então, mantido sua promessa, Jesus teria ganhado a segunda posição de comando

sobre o reino das trevas. Ele teria reinado sobre todos os seres humanos incrédulos e

sobre todos os espíritos malignos, tendo autoridade sobre o mundo como somente

Satanás tinha. Só podemos imaginar em nossos pesadelos o que aconteceria se Jesus

tivesse cedido àquela tentação.

Note novamente que Jesus refutou a sugestão de Satanás com a Palavra escrita de

Deus. Jesus superou as três tentações dizendo: “Está escrito”. Nós também devemos

conhecer a Palavra de Deus e crer nEla se quisermos evitar sermos enganados e pegos

nas armadilhas de Satanás. Isso é batalha espiritual.

O Campo de Batalha (The Battle Ground)

Em grande parte, o único poder que Satanás e seus demônios têm é de colocar

pensamentos nas mentes e corações das pessoas (e mesmo isso é limitado por Deus; veja

1 Coríntios 10:13). Com isso em mente, considere as seguintes passagens:

Então perguntou Pedro: “Ananias, como você permitiu que Satanás

enchesse o seu coração, ao ponto de você mentir ao Espírito Santo e

guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade?” (At.

5:3, ênfase adicionada).

Estava sendo servido o jantar, e o Diabo já havia induzido Judas Iscariotes,

filho de Simão, a trair Jesus... (Jo. 13:2, ênfase adicionada).

O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e

seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios (1 Tm. 4:1, ênfase

adicionada).

O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com

astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura

devoção a Cristo (2 Co. 11:3, ênfase adicionada).

Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante

certo tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para

que Satanás não os tente por não terem domínio próprio (1 Co. 7:5, ênfase

adicionada).

Por essa razão, não suportando mais, enviei Timóteo para saber a respeito da

fé que vocês têm, a fim de que o tentador não os seduzisse, tornando inútil o

nosso esforço (1 Ts. 3:5, ênfase adicionada).

O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a

luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (2 Co. 4:4,

ênfase adicionada).

O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou

Satanás que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à

terra (Ap. 12:9, ênfase adicionada).

Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele

foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade

nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da

mentira (Jo. 8:44, ênfase adicionada).

Essas e outras passagens deixam claro que o principal campo das batalhas espirituais

bíblicas é nossa mente e nossos corações. Satanás nos ataca através do pensamento —

sugestões más, ideias erradas, falsas filosofias, tentações, várias mentiras e assim por

diante. Nosso meio de defesa é conhecer a Palavra de Deus, acreditar nEla e agir de

acordo com ela.

É de vital importância que você entenda que nem todos os seus pensamentos originam

necessariamente de você mesmo. Satanás tem muitos porta-vozes que o ajudam a plantar

seus pensamentos nas mentes das pessoas. Ele trabalha para nos influenciar através de

jornais, livros, televisão, revistas, rádio; através de amigos, vizinhos, e até mesmo

pregadores. Mesmo o apóstolo Pedro foi uma vez inconscientemente usado como porta-

voz de Satanás, sugerindo a Jesus que não era da vontade de Deus que Ele morresse (veja

Mt. 16:23).

Mas Satanás e os espíritos malignos também trabalham diretamente na mente humana,

sem qualquer mediador humano, e todos os cristãos se encontrarão, às vezes, sob ataque

direto. É aí que a batalha começa.

Lembro-me de uma querida mulher cristã que uma vez veio a mim confessar um

problema. Disse que sempre que orava, pensamentos blasfemos e palavrões vinham a sua

mente. Ela era uma das mulheres mais doces, gentis, queridas e dedicadas de minha

igreja, mesmo assim, tinha esse problema com pensamentos horríveis.

Expliquei a ela que aqueles pensamentos não originavam de dentro dela, mas que

estava sendo atacada por Satanás, que estava tentando arruinar sua vida de oração. Então

ela me disse que tinha parado de orar todos os dias, pois tinha medo de ter aqueles

pensamentos novamente. Satanás obteve sucesso.

Então eu lhe pedi para recomeçar a orar, e se os pensamentos blasfemos voltassem, ela

deveria refutá-los com a verdade da Palavra de Deus. Se um pensamento lhe viesse

como: “Jesus foi só um... ,” ela deveria dizer: “Não, Jesus foi e é o Filho divino de Deus”.

Se viesse um pensamento que fosse um palavrão, ela o recolocaria com um pensamento

de louvor a Jesus, e assim por diante.

Também lhe disse que, por ter medo de ter pensamentos errados, ela estava, na

verdade, os convidando, já que medo é, de certa forma, o contrário de fé — ou fé no

Diabo. Quando tentamos não pensar em algo devemos nos esforçar para pensar em outra

coisa.

Por exemplo, se eu lhe disser: “Não pense em sua mão direita,” você pensará

imediatamente nela enquanto tenta me obedecer. Quanto mais tentar, mais difícil ficará.

A única forma de não pensar na mão direita é pensar conscientemente em outra coisa, por

exemplo, em seus sapatos. Uma vez que ocupar sua mente com os sapatos, não pensará

mais em sua mão.

Encorajei aquela querida mulher a “não temer”, assim como a Bíblia diz. E sempre que

reconhecesse um pensamento contrário à Palavra de Deus, ela o substituiria por outro

com o qual concordasse.

Estou feliz em dizer que ela seguiu meu conselho e, mesmo tendo sido atacada mais

algumas vezes durante suas orações, ela recebeu a vitória completa sobre seu problema.

Ela triunfou sobre a batalha espiritual.

Também foi interessante descobrir, ao pesquisar várias igrejas, que seu problema era

bem comum. Normalmente, mais da metade dos cristãos que avalio dizem que, em certo

ponto, tiveram pensamentos blasfemos enquanto oravam. Satanás não é muito original.

“Considerem Atentamente o que Vocês estão Ouvindo” (“Take Care What You

Listen To”)

Não podemos impedir que Satanás e espíritos malignos ataquem nossas mentes, mas

não precisamos permitir que seus pensamentos se tornem nossos; isto é, não precisamos

nos ater a ideias e sugestões demoníacas, tomando posse delas. Como foi dito: “Você não

pode impedir que os pássaros voem sobre sua cabeça, mas pode impedi-los de fazer

ninho em seu cabelo”.

Além do mais, devemos ter cuidado para não sujeitarmos nossas mentes a influências

profanas sempre que tivermos o controle. Quando nos sentamos na frente da televisão por

uma hora ou lemos o jornal, estamos dando as boas vindas para sermos influenciados por

pensamentos que podem ser satânicos. Logo após contar a parábola do semeador e dos

solos, Jesus avisou: “Considerem atentamente o que vocês estão ouvindo” (Mc. 4:24).

Jesus sabia os efeitos destrutivos de ouvir mentiras, permitindo que Satanás plante

“sementes” em nossas mentes e corações. Essas sementes podem virar “espinhos” que no

fim sufocarão a Palavra de Deus em nossas vidas (veja Mc. 4:7, 18-18).

Pedro na Batalha Espiritual (Peter on Spiritual Warfare)

O apóstolo Pedro entendia sobre a verdadeira batalha espiritual bíblica. Em lugar

algum de suas epístolas ele instruiu os cristãos a derrubarem poderes e principados de

sobre as cidades. Contudo, ele nos instruiu a resistir aos ataques de Satanás contra nossas

vidas pessoais, e nos disse exatamente como devemos resistir:

Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como

leão, rugindo e procurando a quem possa devorar. Resistam-lhe, permanecendo

firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão

passando pelos mesmos sofrimentos (1 Pd. 5:8-9).

Note primeiro que Pedro indicou nossa posição como de defesa, não de ataque.

Satanás é quem está andando ao redor, não nós. Ele está procurando por nós, não nós por

ele. Nosso trabalho não é atacar, mas resistir.

Em segundo lugar, note que Satanás, como um leão, está procurando alguém para

devorar. Pedro quis dizer que Satanás poderia literalmente comer sua carne como um

leão comeria?Obviamente, não. A única maneira que Satanás poderia devorar um cristão

seria enganando-o; fazendo-o acreditar em uma mentira que destrói sua fé.

Terceiro, note que Pedro nos diz para resistir ao Diabo através de nossa fé. Nossa luta

não é uma batalha física, e não podemos lutar contra Satanás balançando nossos punhos

no ar. Ele nos ataca com mentiras e resistimos a essas mentiras permanecendo firmes em

nossa fé na Palavra de Deus. Novamente, isso é batalha espiritual bíblica.

Os cristãos a quem Pedro estava escrevendo estavam sofrendo grande perseguição e,

portanto, estavam sendo tentados a renunciar sua fé em Cristo. Muitas vezes quando

estamos no meio de circunstâncias adversas é que Satanás nos atacará com dúvidas e

mentiras. Essa é a hora de permanecermos firmes em nossa fé. Esse é o “dia terrível” do

qual Paulo escreveu quando precisamos vestir “toda a armadura de Deus, para” podermos

“ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef. 6:11, ênfase adicionada).

Tiago na Batalha Espiritual (James on Spiritual Warfare)

O apóstolo Tiago também mencionou algo sobre batalha espiritual em sua epístola.

Será que ele disse aos cristãos que suas orações poderiam determinar o resultado das

batalhas angelicais?Não. Ele lhes mandou que derrubassem fortalezas de espíritos de

cobiça, apatia e bebedeira de sobre suas cidades?Não. Mandou que estudassem a história

de suas cidades para que pudessem determinar que tipos de espíritos malignos estão lá

desde o início?Não.

Tiago cria na batalha espiritual bíblica e, portanto, escreveu:

Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês (Tg.

4:7, ênfase adicionada).

Novamente, note que a postura dos cristãos é defensiva — devemos resistir; não

atacar. Quando assim o fazemos, Tiago nos promete que Satanás fugirá. Ele não tem

motivo para permanecer ao redor de um cristão que não será convencido a acreditar em

suas mentiras, seguir suas sugestões ou ceder às suas tentações.

Note também que Tiago nos instruiu a primeiramente nos submetermos a Deus.

Submetemo-nos a Deus aos nos submetermos a Sua Palavra. Nossa resistência ao Diabo é

determinada por nossa submissão à Palavra de Deus.

João na Batalha Espiritual (John on Spiritual Warfare)

O apóstolo João também escreveu sobre batalha espiritual em sua primeira epístola.

Será que ele nos mandou ir aos lugares altos para destruirmos as fortalezas do Diabo?

Não. Mandou que expulsássemos demônios de raiva dos cristãos que, às vezes, ficam

com raiva? Não.

Ao invés disso, João, assim como Pedro e Tiago, só acreditava na batalha espiritual

bíblica e, portanto, suas instruções são as mesmas:

Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver

se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo

mundo. Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito

que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; mas todo

espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do

anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no

mundo. Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está

em vocês é maior do que aquele que está no mundo. Eles vêm do mundo. Por

isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve. Nós viemos de Deus,

e todo aquele que conhece a Deus nos ouve; mas quem não vem de Deus não

nos ouve. Dessa forma reconhecemos o Espírito da verdade e o espírito do erro

(1 Jo. 4:1-6).

Note que todo o discurso de João nesses versículos revolve nas mentiras de Satanás e

na verdade de Deus. Devemos testar os espíritos para ver se são de Deus; e o teste é

baseado na verdade. Espíritos malignos não admitirão que Jesus Cristo veio em carne.

São mentirosos.

João também nos disse que vencemos os espíritos malignos. Isso é, como cidadãos do

reino da luz, não estamos mais debaixo do domínio deles. O maior, Jesus, vive em nós.

As pessoas que têm Cristo morando nelas não devem temer os demônios.

João também disse que o mundo ouve os espíritos malignos, o que indica que eles

devem estar falando. Sabemos que não estão falando audivelmente, mas estão plantando

mentiras nas mentes das pessoas.

Como seguidores de Cristo, não devemos ouvir as mentiras dos espíritos malignos;

João também diz que aqueles que conhecem a Deus nos escutam, pois temos a Verdade;

temos a Palavra de Deus.

Novamente, note que a estratégia de Satanás é persuadir as pessoas a acreditarem em

suas mentiras. Satanás não pode nos derrotar se conhecemos e acreditamos na verdade.

Essa é a batalha espiritual.

A Fé é a Chave (Faith is the Key)

Conhecer a Palavra de Deus não é suficiente para vencer uma batalha espiritual. A

chave é crer verdadeiramente no que Deus disse. Isso se aplica tanto a resistir ao Diabo

quanto a expulsar demônios. Por exemplo, considere novamente um exemplo que vimos

anteriormente, quando Jesus deu aos doze discípulos “autoridade para expulsar espíritos

imundos” (Mt. 10:1). Sete capítulos depois, os encontramos impossibilitados de expulsar

um demônio de um garoto epilético.8 Quando Jesus soube de seu fracasso, lamentou:

“Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês?Até quando

terei que suportá-los?” (Mt. 17:17, ênfase adicionada).

Foi a incredulidade deles que Jesus reprovou. Mais tarde, quando Seus discípulos o

interrogaram sobre por que não conseguiram expulsar o demônio, Ele respondeu:

“Porque a fé que vocês têm é pequena” (Mt. 17:20). Portanto, vemos que a autoridade

para expulsar demônios não funcionou longe da fé.

Nosso êxito em expulsar demônios e resistir ao Diabo depende de nossa fé na Palavra

de Deus. Se realmente acreditamos no que Deus disse, nossa palavras e ações estarão de

acordo. Os cães seguem as pessoas que correm deles e o mesmo acontece com o Diabo.

Se você correr, ele o seguirá; contudo, se permanecer em sua fé, ele fugirá de você (veja

Tg. 4:7).

Sem dúvida, a falta de fé dos apóstolos teria sido evidente a qualquer observador,

enquanto tentavam e não conseguiam libertar aquele menino de um demônio. Se aquele

demônio para Jesus fez o mesmo show que havia feito para os discípulos, lançando o

menino em “convulsão” (Lc. 9:42) e fazendo-o espumar pela boca (veja Mc. 9:20), é

8 Devemos ter muito cuidado para não assumir que toda epilepsia é causada por um epírito maligno.

possível que a fé dos discípulos tenha virado medo. Talvez tenham ficado paralisados

perante o que presenciaram.

Contudo, aquele que tem fé não é movido pelo que vê, mas somente pelo que Deus

diz. “Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (2 Co. 5:7, ênfase adicionada). Deus

não pode mentir (veja Tt. 1:2); então, mesmo que pareça que as circunstâncias

contradizem o que Deus disse, devemos permanecer na fé.

Note que Jesus libertou o menino em apenas alguns segundos. Ele fez isso através da

fé. Ele não perdeu tempo conduzindo uma “seção de libertação”. Os que têm fé em sua

autoridade dada por Deus não precisam gastar horas para expulsar um demônio.

Além do mais, não há registro que Jesus tenha gritado com o demônio; os que têm fé

não precisam gritar. Jesus também não mandou repetidamente que o demônio saísse; uma

vez foi o suficiente. Uma segunda vez teria sido uma confissão de dúvida.

Resumindo (In Summary)

O discipulador ensina batalha espiritual bíblica através de seu exemplo e de suas

palavras, para que seus discípulos sejam capazes de permanecer contra as artimanhas de

Satanás e andar em obediência aos mandamentos de Cristo. Ele não leva seus discípulos a

seguirem “ventos de doutrina” atuais que promovem métodos não-bíblicos de batalha

espiritual, sabendo que aqueles que praticam tais métodos têm o foco errado e estão, na

verdade, sendo enganados por Satanás, a quem pensam confrontar vitoriosamente.