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CARACTERÍSTICAS DOS PASSIVOS As definições abordadas na seção anterior ressaltaram que o passivo deve ser registrado desde que haja, no presente, uma obrigação proveniente de um evento passado, podendo ser decorrente da aquisição de bens, serviços ou de fatos contingentes com uma provável probabilidade de ocorrência no futuro. O FASB, em seu pronunciamento SFAC 6, relaciona três características essenciais para os passivos, conforme a abaixo: “1. Contém uma obrigação ou responsabilidade presente com uma ou mais entidades, prevendo liquidação pela transferência futura provável ou pelo uso de ativos numa data especificada ou determinável, na ocorrência de um evento predeterminado, ou assim que seja solicitada. 2. A obrigação ou responsabilidade compromete dada entidade, permitindo-lhe pouca ou nenhuma liberdade para evitar o sacrifício futuro. 3. A transação ou outro evento que obriga a entidade já ocorreu.”10 O IBRACON, em seu pronunciamento IX – Passivo Exigível, também estabelece características para o registro dos passivos, conforme a seguir: “1. Uma obrigação existe no presente em decorrência de transações passadas. 2. A obrigação é passível de mensuração monetária por uma quantia definida ou razoavelmente estimada. 3. O credor e a data em que a obrigação torna-se exigível são conhecidos ou podem ser estimados com razoabilidade.”11 Hendriksen e Van Breda afirmam que se alguma das características mencionadas pelo FASB estiver ausente, um passivo contábil não poderá ser reconhecido.12 Analisando as características mencionadas, observam-se diferenças e igualdades que se complementam, inclusive a observação efetuada por Hendriksen e Van Breda também é válida para as características citadas pelo IBRACON. Para Hendriksen e Van Breda a primeira característica enumerada pelo FASB é uma combinação de obrigação presente, sendo entre entidades e a existência de um evento no qual a obrigação será cumprida. 12 O termo obrigação presente já foi tratado no capítulo anterior e também é mencionado pelo IBRACON.

CARACTERÍSTICAS DOS PASSIVOS

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CARACTERÍSTICAS DOS PASSIVOS

As definições abordadas na seção anterior ressaltaram que o passivo deve ser registrado desde que haja, no presente, uma obrigação proveniente de um evento passado, podendo ser decorrente da aquisição de bens, serviços ou de fatos contingentes com uma provável probabilidade de ocorrência no futuro.

O FASB, em seu pronunciamento SFAC 6, relaciona três características essenciais para os passivos, conforme a abaixo:

“1. Contém uma obrigação ou responsabilidade presente com uma ou mais entidades, prevendo liquidação pela transferência futura provável ou pelo uso de ativos numa data especificada ou determinável, na ocorrência de um evento predeterminado, ou assim que seja solicitada.

2. A obrigação ou responsabilidade compromete dada entidade, permitindo-lhe pouca ou nenhuma liberdade para evitar o sacrifício futuro.

3. A transação ou outro evento que obriga a entidade já ocorreu.”10

O IBRACON, em seu pronunciamento IX – Passivo Exigível, também estabelece características para o registro dos passivos, conforme a seguir:

“1. Uma obrigação existe no presente em decorrência de transações passadas.

2. A obrigação é passível de mensuração monetária por uma quantia definida ou razoavelmente estimada.

3. O credor e a data em que a obrigação torna-se exigível são conhecidos ou podem ser estimados com razoabilidade.”11

Hendriksen e Van Breda afirmam que se alguma das características mencionadas pelo FASB estiver ausente, um passivo contábil não poderá ser reconhecido.12

Analisando as características mencionadas, observam-se diferenças e igualdades que se complementam, inclusive a observação efetuada por Hendriksen e Van Breda também é válida para as características citadas pelo IBRACON.

Para Hendriksen e Van Breda a primeira característica enumerada pelo FASB é uma combinação de obrigação presente, sendo entre entidades e a existência de um evento no qual a obrigação será cumprida. 12

O termo obrigação presente já foi tratado no capítulo anterior e também é mencionado pelo IBRACON.

Embora o conceito de obrigação entre entidades, ou seja, entre pessoas físicas ou jurídicas ser óbvio atualmente, no passado antes do advento do SFAC 6, entidades efetuavam auto-seguro de seus próprios bens como uma forma melhorar o seu patrimônio, creditando-se despesa e criando créditos diferidos.

Outro ponto citado pelo FASB é a existência de um evento no qual a obrigação será cumprida, em outras palavras que uma dívida não pode ser considerada como passivo ao menos que a data de sua extinção possa ser estimada com razoabilidade, conforme menciona a terceira característica do IBRACON que destaca ainda a necessidade de o credor ser razoavelmente identificado.

Em relação a segunda característica do FASB, demonstra-se claramente que as obrigações ou deveres legais, eqüitativos e construtivos terão de ser liquidados e a entidade não deverá evitá-los.

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A terceira característica citada pelo FASB, transação ou outro evento que obriga a entidade já ocorreu, significa dizer que a intenção de comprar um bem não é considerada uma obrigação presente e sim quando há transferência deste.

O IBRACON destaca na segunda característica de passivo a necessidade da mensuração, que será abordada a seguir.

De acordo com o relatado por Hendriksen e Van Breda (1999, p.410), segundo a visãodo FASB, as principais características de passivos são:a) A obrigação deve existir no presente momento, resultante de uma transação ou umevento passado.b) Pode derivar da aquisição de bens ou serviços, de perdas incorridas pelas quais aempresa assume obrigações, ou expectativas de perdas a que a mesma se obrigou.c) As obrigações que dependem exclusivamente de eventos futuros não devem serincluídas como passivo, a não ser que exista uma boa probabilidade de que tais eventosocorrerão, e desde que o fato gerador esteja relacionado, de alguma forma, com o passado ecom o presente.d) Não pode haver nenhuma liberdade para evitar o sacrifício futuro, o que implica emdesembolso futuro provável, embora o valor da obrigação ainda não seja conhecido comcerteza.e) Obrigações eqüitativas ou deveres podem ser incluídos se forem baseados nanecessidade de se efetuarem pagamentos futuros para manter boas relações comerciais ou seestiverem de acordo com as práticas comerciais usuais.f) Normalmente, a exigibilidade requer uma data conhecida para vencimento, ou, emnão a conhecendo no presente, tenha-se a expectativa que este se dará em algum momentoespecífico de tempo.

Conforme definição da ONU, as obrigações (exigibilidades) podem ser divididas emtrês tipos: (a) Legais: são as provenientes de instrumentos de força legal (legislações,penalidades impostas por lei, etc.); (b) não formalizada (construtivas): são aquelas a que aempresa se propõe, espontaneamente, a cumprir e que extrapolam as exigências legai;s e (c)justas (equitable): estas refletem as obrigações que a empresa se vê obrigada a cumprir porfatores éticos e morais, independentemente de lei (CARVALHO, MATOS e MORAES,2000).De acordo com Hendriksen e Breda (1999, p.416), as exigibilidades podem serencerrados pelos seguintes eventos: extinção da dívida: quando ocorre o pagamento;reestruturação de dívidas: quando são perdoadas inteira ou parcialmente pelo credor;desoneração em substância: quando ocorre que o devedor coloca dinheiro ou outros ativos, demaneira irrevogável, num fundo a ser utilizado exclusivamente para cumprir as obrigações depagamento de juros e amortização de certa dívida; desoneração instantânea: ocorre quando aempresa emite títulos de dívida e reserva de dinheiro imediatamente para permitir o resgatedessa dívida na época apropriada.

2.1.1 Reconhecimento e Mensuração dos Passivos

Segundo Niyama e Silva (2008), reconhecer um passivo é incorporar no balanço

patrimonial um determinado item que se enquadra na definição de passivo. Para isso é

necessário satisfazer a definição de passivo e verificar se o item é mensurável em bases

confiáveis. Verifica-se um grau de dificuldade na convergência das informações contábeis,

porque a definição de passivo orientada para o futuro introduz subjetivamente no processo de

reconhecimento e mensuração.

Segundo Hendriksen e Breda (1999, p.447), apud Iudícibus (2004, p.158), “o

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reconhecimento de uma exigibilidade depende do reconhecimento do outro lado da

transação”. Iudicibus (2004, p.158) aborda que “o reconhecimento de uma despesa é o

elemento mais importante para o reconhecimento de um passivo, pois irá afetar o cálculo do

lucro do período”. Nesse sentido, o reconhecimento das despesas afeta o registro de

exigibilidades.

Para Iudicibus (2004), todo passivo representa um compromisso, mas nem todo

compromisso é passivo. Passivo implica o comprometimento da entidade em consumir ativos,

numa data determinada ou determinável, para satisfazê-lo ou para extingui-lo e que provém

de eventos ou transações que já ocorreram, embora o reembolso ocorra somente no futuro.

A mensuração do passivo, conforme Niyama e Silva (2008, p. 151)m “deveria ser feita

pelo valor presente de fluxo de caixa futuro. Entretanto, geralmente o passivo é reconhecido

pelo valor de face da obrigação”. Segundo o autor, esse fato é consequêcia de três motivos:

Data de liquidação: como muitos passivos possuem a data de liquidação

próxima à do enceramento do exercício, a utilização do valor presente não

apresentaria diferença relevante ao valor de face;

Dificuldades no processo de mensuração: no caso, refere-se à taxa que deve ser

utilizada, pois pode ser utilizada a taxa de desconto ou a própria taxa da

obrigação. Contudo, existem passivos que não possuem data certa de

liquidação, o que gera incerteza no valor obtido, como, por exemplo, num

processo judicial;

Conservadorismo: já que, ao se adotar o valor presente, o montante das

obrigações apresentadas no balanço patrimonial é menor quando se compara ao

valor de face.

A existência de incerteza e a dificuldade de mensuração não poderão afetar a

evidenciação dos passivos. A relevância da evidenciação do passivo, por meio de valores

expressos, proverá aos usuários informações consistentes em relação à situação da empresa frente a suas obrigações (NIYAMA e SILVA, 2008).

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O Passivo Circulante é composto por todas as obrigações da companhia que tenham prazo de liquidação inferior a 360 dias, ou inferior ao Ciclo Operacional da Companhia (quando este for maior que 360).

Em geral, classificam-se as contas por ordem decrescente de exigibilidade, partindo de fornecedores e empréstimos até chegar em provisões diversas.

Somente será considerado como passivo circulante a obrigação líquida e certa, ou aquela que se possa estimar valores com razoável certeza.

No Passivo Circulante são lançadas as obrigações de curto prazo. As obrigações de longo prazo são lançadas no grupo do Passivo Exigível a Longo Prazo, e correspondem às obrigações com vencimento além do término do exercício social subseqüente à elaboração das demonstrações