24
CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE UMA INDÚSTRIA DO SETOR DE PRODUÇÃO DE COSMÉTICOS Vanessa Vianna dos Santos Ferraz 1 RESUMO O aumento na produção das indústrias de cosméticos tem contribuído para o desenvolvimento econômico da sociedade, entretanto, ocorre um aumento na geração dos efluentes líquidos. Considerando que as empresas são responsáveis pela disposição dos seus resíduos, o objetivo do presente trabalho foi caracterizar os efluentes líquidos industriais de uma indústria cosmética localizada na região metropolitana de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul. Análises de condutividade, cor, DQO, dureza, fósforo, óleos e graxas, pH, sólidos, surfactantes, temperatura e turbidez foram realizadas em amostras coletadas ao longo de 2 meses. Os principais resultados mostraram ausência de cor, pH na faixa de 4,3 à 10,5, condutividade de 133,8 à 1189 μS.cm -1 , temperatura de 20 à 30 °C, turbidez entre 670 à 11420 NTU, DQO de 4266,1 à 22194,8 mg.L -1 , dureza de 7,3 à 260,3 mg.L -1 , fósforo de 2,64 à 52,4 mg.L -1 , surfactantes de 47,3 à 530,68 mg.L -1 , óleos e graxas de 21 à 482,5 mg.L -1 , sólidos totais de 600 à 16874 mg.L -1 , sólidos suspensos de 150 à 1390 mg.L -1 , sólidos dissolvidos de 20 à 1160 mg.L -1 , sólidos voláteis de 230 à 15689 mg.L -1 e sólidos sedimentáveis de 0 à 300 mg.L -1 . Os resultados possibilitaram o conhecimento dos principais poluentes associados aos efluentes, bem como a necessidade de tratamento dos mesmos. Assim, o presente trabalho contribuiu para uma etapa importante de um estudo científico e tecnológico que será continuado com o setor produtivo, visando uma disposição que atenda os limites de lançamento previstos nas Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011. Palavras-chave: Caracterização de águas e efluentes. Controle da poluição. Resíduos líquidos. 1 INTRODUÇÃO A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 28 de agosto de 2000 a Resolução RDC N° 79, visando compatibilizar os regulamentos nacionais com os 1 Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Lasalle – Unilasalle, matriculado na disciplina de trabalho de conclusão II, sob a orientação da Profa. Dra. Cristiane Oliveira Rodrigues. E-mail: [email protected].

CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE UMA INDÚSTR IA DO

SETOR DE PRODUÇÃO DE COSMÉTICOS

Vanessa Vianna dos Santos Ferraz1

RESUMO

O aumento na produção das indústrias de cosméticos tem contribuído para o desenvolvimento

econômico da sociedade, entretanto, ocorre um aumento na geração dos efluentes líquidos.

Considerando que as empresas são responsáveis pela disposição dos seus resíduos, o objetivo

do presente trabalho foi caracterizar os efluentes líquidos industriais de uma indústria

cosmética localizada na região metropolitana de Porto Alegre no estado do Rio Grande do

Sul. Análises de condutividade, cor, DQO, dureza, fósforo, óleos e graxas, pH, sólidos,

surfactantes, temperatura e turbidez foram realizadas em amostras coletadas ao longo de 2

meses. Os principais resultados mostraram ausência de cor, pH na faixa de 4,3 à 10,5,

condutividade de 133,8 à 1189 µS.cm-1, temperatura de 20 à 30 °C, turbidez entre 670 à

11420 NTU, DQO de 4266,1 à 22194,8 mg.L-1, dureza de 7,3 à 260,3 mg.L-1, fósforo de

2,64 à 52,4 mg.L-1, surfactantes de 47,3 à 530,68 mg.L-1, óleos e graxas de 21 à 482,5 mg.L-1,

sólidos totais de 600 à 16874 mg.L-1, sólidos suspensos de 150 à 1390 mg.L-1, sólidos

dissolvidos de 20 à 1160 mg.L-1, sólidos voláteis de 230 à 15689 mg.L-1 e sólidos

sedimentáveis de 0 à 300 mg.L-1. Os resultados possibilitaram o conhecimento dos principais

poluentes associados aos efluentes, bem como a necessidade de tratamento dos mesmos.

Assim, o presente trabalho contribuiu para uma etapa importante de um estudo científico e

tecnológico que será continuado com o setor produtivo, visando uma disposição que atenda

os limites de lançamento previstos nas Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA

430/2011.

Palavras-chave: Caracterização de águas e efluentes. Controle da poluição. Resíduos líquidos.

1 INTRODUÇÃO

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 28 de agosto de

2000 a Resolução RDC N° 79, visando compatibilizar os regulamentos nacionais com os

1Discente do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Lasalle – Unilasalle, matriculado na disciplina de trabalho de conclusão II, sob a orientação da Profa. Dra. Cristiane Oliveira Rodrigues. E-mail: [email protected].

Page 2: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

instrumentos harmonizados no âmbito Mercosul. Esta Resolução define cosméticos, produtos

de higiene e perfumes como:

Preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. (BRASIL, 2000, p.2).

Entre os diversos insumos utilizados por este setor para a produção dos produtos,

podem-se destacar detergentes, emulsificantes, ésteres de ácidos graxos, polímeros, sais

quaternários de amônio, corantes, pigmentos, solventes orgânicos, álcalis, conservantes,

peróxido de hidrogênio, óleos essenciais e outros. Devido a esta diversidade de matérias-

primas utilizadas, os efluentes gerados podem ter variações significativas para os mesmos

parâmetros conforme cada produto produzido. (ABIHPEC, 2012).

Visto que as indústrias são responsáveis pelas características de seus efluentes lançados

no meio ambiente, e que estes podem causar efeitos tóxicos se lançados sem atender os

padrões estabelecidos nas normas e legislações específicas, o tratamento de efluentes visa

remover poluentes presentes alcançando os limites máximos permitidos para lançamento nas

legislações ambientais. Assim, com o tratamento adequado destes efluentes busca-se a

preservação do meio ambiente, principalmente, dos recursos hídricos. (CAVALCANTI, 2009;

GIORDANO, 1999).

A nível nacional, a Resolução CONAMA 430 de 13 de maio de 2011 dispõe em seu

artigo 16 as condições e padrões de lançamento de efluentes líquidos industriais. (CONAMA,

2011).

No estado do Rio Grande do Sul, a Resolução CONSEMA 128 de 24 de novembro de

2006 define os critérios e padrões de lançamento de efluentes em águas superficiais.

Adicionalmente, a Resolução CONSEMA 129 de 24 de novembro de 2006 dispõe sobre os

critérios e padrões de emissão para toxicidade dos efluentes líquidos lançados em águas

superficiais neste mesmo Estado. (CONSEMA, 2006).

Dentro deste contexto, os principais parâmetros monitorados em efluentes são

temperatura, condutividade, sólidos, matéria orgânica, carboidratos, proteínas, óleos e graxas,

surfactantes, poluentes prioritários segundo EPA, compostos orgânicos voláteis (VOC´s) e

semivoláteis (SVOCs), Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (PAHs), oxigênio dissolvido

(OD), pH, nitrogênio, compostos de enxofre, fenóis, cianetos, fluoretos, demanda bioquímica

de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), carbono orgânico total (COT),

Page 3: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

metais pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados,

sendo as características do resíduo associadas ao processo industrial. (CAVALCANTI, 2009).

Indústrias cosméticas possuem como característica altos valores de DBO e DQO,

concentrações médias de sólidos suspensos totais, baixa à média concentração moderadas de

óleos e graxas, bem como presença de fenóis, alguns íons de metais pesados tais como zinco,

boro e mercúrio e compostos ativos farmacêuticos e de higiene pessoal. (CAVALCANTI,

2009).

A escolha do método mais adequado para tratamento de um efluente deve considerar

vários pontos, destacando-se conhecer a concentração e composição do efluente a ser tratado,

a qualidade final desejada no despejo, a identificação do tipo de processo que gerou o efluente

e os custos de capital necessários. (SCHNEIDER, 2008). Neste sentido, Nunes (2004)

corroborou enfatizando a importância do conhecimento das características do efluente a ser

tratado, sendo este o primeiro passo para iniciar os projetos de estações de tratamento de

efluentes (ETEs) que aplicarão processos físicos, químicos, físico-químicos e/ou biológicos

conforme a caracterização inicial determinada.

No ano de 2010 o Brasil contava com 1659 empresas de higiene pessoal, perfumaria e

cosméticos. Deste total 126 empresas estavam localizadas no estado do Rio Grande do Sul.

Este setor apresentou crescimento econômico significativo, representando uma média de

crescimento acumulado de 222% desde 1994. Este crescimento proporcionou um aumento no

número de empregos, totalizando 4,4 milhões de empregos no setor. (ABIHPEC, 2011).

Dentro deste contexto, o objetivo geral do presente trabalho é caracterizar os efluentes

líquidos industriais gerados por uma indústria cosmética localizada na região metropolitana de

Porto Alegre, visando a identificação dos principais poluentes associados ao processo.

2 EXPERIMENTAL

2.1 Materiais e métodos

2.1.1 Efluente

Os efluentes caracterizados foram provenientes de uma indústria cosmética localizada

na região metropolitana de Porto Alegre, estes se originaram da lavagem dos tanques onde

foram produzidos os cosméticos. A vazão máxima diária de efluente gerado foi de 10 m3.

Page 4: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

2.1.2 Amostragem

Visando uma amostragem representativa do efluente gerado, em cada coleta obteve-se

alíquotas em diferentes profundidades dos tanques, sendo obtida uma amostra composta.

Adicionalmente, no momento da coleta foi verificada a temperatura do efluente, além de

registrar os produtos que haviam sido produzidos referente ao lote de efluente a ser

descartado. O quadro 1 apresenta a data de amostragem de cada amostra coletada, bem como

os produtos produzidos.

Quadro 1 – Classificação das amostras de efluentes estudadas e descrição dos produtos

associados as suas respectivas gerações.

Amostra Data da Coleta Produto Produzido

001 01/04/2013

Bloqueador solar, creme para assaduras,

sabonete líquido, geléia esfoliante, creme para

as mãos, loção hidratante, primer, pasta

esfoliante e manteiga hidratante.

002 03/04/2013 Bloqueador solar, primer, creme para assadura e

manteiga hidratante.

003 08/04/2013 Óleo emulsão, creme para mãos e emulsão.

004 10/04/2013 Desodorante, gel fixador, demaquilante e

sabonete líquido.

005 15/04/2013 Gel anti-séptico, deo colônia, shampoo e serum.

006 17/04/2013

Serum, creme para assadura, deo colônia,

sabonete líquido, loção trifásica e manteiga

hidratante.

007 22/04/2013

Sabonete líquido, loção trifásica, manteiga

hidratante, acetona, gel pós barba, creme para

mãos, deo colônia, loção hidratante, shampoo e

condicionador.

008 29/04/2013

Shampoo, acetona, loção hidratante, deo

colônia, sabonete líquido, loção pós barba, gel

anti-séptico, creme para mãos e água hidratante.

009 06/05/2013 Gel anti-séptico, loção hidratante e emulsão.

Page 5: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

010 14/05/2013 Gel de arnica, bloqueador solar, desodorante,

óleo emulsão e gel anti-séptico.

Fonte: Autoria Própria, 2013.

A preservação das amostras, bem como alíquotas necessárias para realização dos

ensaios, tipo de recipiente e tempo para realização das análises foram conduzidas conforme

metodologias do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.

(APHA,2005).

2.1.3 Caracterização dos efluentes líquidos

A caracterização dos efluentes líquidos foi realizada nas dependências do Laboratório

de Química do Unilasalle, através da determinação dos parâmetros condutividade, cor

(visual), demanda química de oxigênio (DQO), dureza, fósforo total, óleos e graxas, pH,

sólidos, surfactantes, temperatura e turbidez conforme metodologias descritas no Standard

Methods for the Examination of Water and Wastewater. (APHA, 2005).

A escolha dos parâmetros levou em consideração o processo produtivo, as legislações

ambientais vigentes, licenças ambientais emitidas para empresas deste segmento e condições

técnicas do laboratório de pesquisa.

A determinação de condutividade foi realizada através da leitura de uma alíquota de 50

mL de amostra em condutivímetro (marca Oakton) previamente calibrado com uma solução

de KCl de condutividade padrão de 1412 µmho.cm-1.

A determinação de cor foi realizada visualmente, pois a Resolução CONSEMA

128/2006 estabelece somente que não deve conferir mudança de cor verdadeira no corpo

receptor; a Resolução CONAMA 430/2011 não estabelece limite para este parâmetro.

A DQO das amostras foi realizada pelo método de refluxo aberto. Neste procedimento,

a amostra foi inicialmente diluída, sendo esta solução transferida para um balão de fundo

chato que também recebeu 1 g de sulfato de mercúrio (HgSO4) para eliminar possíveis

interferentes, 5 mL de reagente H2SO4/ Ag2SO4 misturado sob resfriamento, 25 mL de

K2Cr2O7 0,04167 M. Após a homogeneização desta solução, o balão foi conectado em um

sistema de condensação e 70 mL da solução de H2SO4/Ag2SO4 foram adicionados em porções

pela abertura superior do condensador sob agitação e um refluxo foi aplicado por 2 horas.

Após este período, a solução foi resfriada a temperatura ambiente e recebeu,

aproximadamente, 100 mL de água destilada e 3 gotas de indicador ferroína. Assim, uma

titulação com solução de sulfato de ferro amoniacal (FAS) 0,25M foi realizada até mudança

Page 6: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

de coloração de alaranjado/verde para marrom avermelhado. A DQO, expressa em miligramas

de oxigênio por litro (mgO2.L-1) das amostras foi determinada através da equação 1.

V8000x Mx )V (V

=[DQO]brancoamostra -

(1)

Na equação 1, V Branco refere-se ao volume de FAS gasto para titular o branco; V

Amostra refere-se ao volume de FAS gasto para titular a amostra, M é a concentração (M) do

FAS, V refere-se ao volume de amostra utilizado, 8000 representa o equivalente grama de

oxigênio, expresso em mg, para que os resultados sejam expressos em demanda de oxigênio.

O titulante FAS foi padronizado sempre que as análises foram realizadas contra uma solução

padrão de K2Cr2O7; para tanto, adicionou-se em um erlenmeyer 25 mL de K2Cr2O7, água

destilada até volume aproximado de 100 mL, 30 mL de H2SO4 concentrado sob resfriamento

e 3 gotas de indicador ferroína; a solução foi titulada com FAS. A concentração do FAS foi

determinada através da equação 2.

(mL) titulação na usado FAS Volume0,25x OCrK de Titulada Solução de Volume

=MFAS 722 (2)

A dureza das amostras foi realizada pelo método titulométrico com EDTA, onde uma

alíquota de amostra diluída contendo 1mL de solução tampão e 0,05g de Eriochrome T Preto

foi titulada com uma solução padrão de EDTA 0,01 M até a primeira coloração azul. Em

todas as análises, a amostra foi titulada por um período máximo de 5 minutos, considerando o

tempo da adição da solução tampão. A dureza, expressa em mgCaCO3.L-1 foi determinada

através da equação 3.

amostraV1000x Bx A

=]Dureza[ (3)

Na equação 3, A é o volume, em mL de titulante para a amostra, B é mg de CaCO3

equivalente a 1,00 mL de titulante EDTA e V amostra é o volume de amostra utilizado para

análise.

O fósforo das amostras foi realizado pelo método do ácido ascórbico, neste

procedimento uma alíquota de amostra diluída recebeu 2 gotas de fenolftaleína e 2 mL de

ácido sulfúrico específico para eliminar a coloração rósea, subsequentemente foram

adicionados 1 mL de solução de H2SO4 específico, 0,4 g de (NH4)S2O8 e água destilada até

volume aproximado de 100 mL. As amostras foram digeridas com aquecimento suave até

Page 7: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

atingir volume aproximado de 10 mL. Após digestão a amostra foi resfriada, diluída a

aproximadamente 30 mL e recebeu 1 gota de fenolftaleína para subsequente neutralização

com NaOH. A alíquota foi transferida para um balão de 100 mL avolumado com água

destilada, sendo 50 mL desta solução transferida para um béquer de 250 mL onde foram

adicionados 1 gota de fenolftaleína, H2SO4 5 N gota a gota para eliminar a coloração rósea, 8

mL de reagente combinado (50 mL de solução H2SO4 5 N, 5 mL de solução de antimonil

tartarato de potássio, 15 mL de solução de molibdato de amônio e 30 mL de solução de ácido

ascórbico). A amostra foi submetida a agitação e repouso por um período entre 10 e 30

minutos para desenvolvimento da coloração azul. Após, as soluções foram analisadas em

espectrofotometro de absorbância (modelo SP 1105, marca Bel Photonics), com comprimento

de onda de 880 nm, utilizando uma cubeta de 1 cm de percurso óptico. Previamente às

análises uma curva de calibração foi construída através da diluição de diversos volumes de

uma solução padrão de fosfato a 100 mL, seguindo todos os procedimentos da amostra com

uma alíquota de 50 mL. Um gráfico de absorbância versus mg P.L-1 foi construído e uma

curva de calibração foi traçada através da equação da reta. A concentração de fósforo foi

determinada através da equação 4.

amostra

-1

V Vx P mg.L

=]Fósforo[ (4)

Na equação 4, mg.L-1 P é a concentração de fósforo obtida na curva de calibração, V é o

volume usual da amostra, expresso em mL e V amostra é o volume de amostra empregado em

mL.

A análise de óleos e graxas das amostras foi realizada através da extração com hexano.

Inicialmente no frasco de coleta marcou-se com caneta o volume de amostra. A amostra foi

agitada e transferida para um funil de separação. Foram adicionados no frasco âmbar 30 mL

de hexano com subseqüente agitação, posteriormente este foi transferido para o funil de

separação que também foi agitado por 2 minutos, tomando-se o cuidado de abrir a torneira

para sair a pressão. Após este procedimento, a amostra ficou em repouso por um período de

10-15 minutos para separar as fases, quando as fases não separaram, álcool isopropílico foi

adicionado para quebrar a emulsão, quando não foi possível quebrar a emulsão com álcool

isopropílico, a amostra foi centrifugada (centrífuga marca QUIMIS), e retornada ao balão. A

amostra foi recolhida no frasco âmbar, restando no balão somente o hexano. O hexano retido

no funil de separação foi filtrado em um funil de vidro com papel filtro e aproximadamente

10g de sulfato de sódio, posteriormente o conteúdo foi transferido para um balão de fundo

Page 8: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

chato. A extração foi repetida em três etapas consecutivas. Após as extrações o funil foi

lavado com 10 mL de hexano, sendo este transferido para o balão de fundo chato e

encaminhado para secar em estufa por 1 hora em temperatura de 105 °C. O frasco para óleos e

graxas foi avolumado com água até a marcação inicial realizada com caneta para posterior

verificação em proveta do volume de amostra utilizado. O peso final do balão foi determinado

em balança analítica e a concentração de óleos e graxas foi determinada a partir da equação 5.

amostraV B)-(A

=Graxas] e Óleos[ (5)

Na equação 5, A é o peso em mg do balão de fundo chato com amostra, B é o peso em mg do

balão de fundo chato previamente seco em estufa e o volume de amostra em L é referente ao

volume do frasco na marcação realizada antes do início do experimento.

O pH foi realizado através da leitura de uma alíquota de 50 mL de amostra em

pHmetro (modelo DM-22, marca Digimed), previamente calibrado com padrões de valores

conhecidos de 4,01 e 6,82.

Os sólidos analisados foram sólidos totais (ST), sólidos suspensos totais (SST), sólidos

dissolvidos totais (SDT), sólidos voláteis (SV) e sólidos sedimentáveis. Na análise de sólidos

totais uma alíquota de amostra foi pipetada para um prato de evaporação, evaporada em

banho-maria (marca Simis) e seca em estufa a uma temperatura de 105 °C por 1 hora. A

concentração de sólidos totais foi determinada através da equação 6.

amostraV1000x B)-A(

=]ST[ (6)

Na equação 6, A é o peso do prato de evaporação em mg com amostra, B é o peso do prato

de evaporação em mg previamente seco em estufa e Vamostra é o volume de amostra em mL

empregado para análise.

A análise de sólidos suspensos totais foi conduzida através da filtração por sucção de uma

alíquota de amostra, o filtro foi seco em estufa a uma temperatura de 105°C por 1 hora. A

concentração de sólidos suspensos totais foi determinada através da equação 7.

amostraV1000x B)-(A

=]SST[ (7)

Na equação 7, A é o peso do filtro em mg com amostra, B é o peso do filtro em mg

previamente seco em estufa e Vamostra é o volume de amostra em mL empregado para análise.

Page 9: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

A análise de sólidos dissolvidos totais foi conduzida através da transferência da alíquota de

amostra passante pela filtração para um cadinho, evaporação em banho-maria e secagem em

estufa a uma temperatura de 180 °C por 1 hora. A concentração de sólidos dissolvidos totais

foi determinada através da equação 8.

amostraV1000x B)-(A

=]SDT[ (8)

Na equação 8, A é o peso do cadinho com amostra em mg, B é o peso do cadinho em mg

previamente seco em estufa e Vamostra é o volume de amostra em mL empregado para análise.

A determinação de sólidos voláteis foi realizada através da equação 9.

SDT) + (SST - ST =]SV[ (9)

A análise de sólidos sedimentáveis foi realizada através da decantação de 1000 mL de

amostra em Cone Imhoff por 1 hora.

Os surfactantes das amostras foram analisados pelo método azul de metileno. Para um

funil de separação transferiu-se uma alíquota de amostra diluída com subsequente adição de 3

gotas de solução indicadora de fenolftaleína 1% e solução de NaOH 1 N para alcalinizar;

nesta alíquota foram adicionados 10 mL de clorofórmio e 25 mL de reagente de azul de

metileno, o funil foi agitado vigorosamente por 30 segundos, abrindo a torneira do funil

algumas vezes durante a agitação para sair a pressão; após separadas as fases, a amostra foi

agitada lentamente mais uma vez. Posteriormente, a porção de clorofórmio foi escoada para

um segundo funil de separação, sendo a extração repetida mais três vezes através da adição de

10 mL de clorofórmio , combinando todos os extratos no mesmo funil. Após as extrações, 50

mL de solução lavadora de fosfato foram adicionadas aos extratos combinados, o funil sofreu

agitação vigorosa e, após separadas as fases, novamente agitou-se lentamente o funil. O

clorofórmio escoado foi transferido para um balão volumétrico de 100 mL através da filtração

em lã de vidro; a solução lavadora foi extraída mais duas vezes com 10 mL de clorofórmio,

sendo as porções de clorofórmio unificadas ao mesmo balão volumétrico. O funil e a lã de

vidro foram lavados com clorofórmio e unificados ao balão volumétrico que posteriormente

foi avolumado com clorofórmio. As amostras foram analisadas em espectrofotômetro de

absorbância (modelo SP 1105, marca Bel Photonics) com comprimento de onda de 652 nm,

utilizando uma cubeta de 1cm de percurso óptico. Uma curva de calibração foi traçada através

da diluição de diversos volumes da solução padrão a 1000 mL, sendo 100 mL destas soluções

transferidos para um funil de separação seguindo todos os procedimentos da amostra; um

Page 10: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

gráfico absorbância versus mg LAS.L-1 foi construído, e a curva de calibração traçada a

partir da equação da reta. A concentração de surfactantes foi determinada através da equação

10.

amostra

-1

V100x mgLAS.L

=]testanSurfac[ (10)

Na equação 10, mg LAS/L é a concentração obtida de surfactantes na curva de calibração e

Vamostra é o volume da amostra em mL empregado para análise.

A temperatura foi realizada no momento da amostragem através da medição com

termômetro.

A determinação de turbidez foi realizada através da leitura de uma alíquota de 50 mL

de amostra em turbidímetro (modelo 2100 P, marca Hach) previamente calibrado com

padrões de turbidez conhecida de <0,1 NTU, 20 NTU, 100 NTU e 800 NTU. As amostras que

apresentaram turbidez acima do valor máximo detectável pelo aparelho foram diluídas, sendo

a leitura apresentada pelo aparelho multiplicada pelo fator de diluição da amostra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Amostragem

A amostragem foi um elemento de extrema importância no processo de caracterização

de efluentes. A amostra coletada deve ser representativa do efluente gerado no processo, pois

através dela haverá conclusões analíticas do efluente gerado, viabilizando a elaboração de

projetos de Estações de Tratamento de Efluentes (ETE´s). (CETESB, 2011).

Portanto, informações foram observadas antes da realização da amostragem para que

ocorresse esta representatividade, tais como os parâmetros que foram avaliados, alíquota de

amostra necessária para realização de todas as análises, definição do tipo de amostragem

(simples ou composta), preservação das amostras de acordo com os parâmetros avaliados.

3.2 Parâmetros Caracterizados

3.2.1 Condutividade

Os resultados de condutividade variaram significantemente durante as amostragens em

função do tempo, os resultados das amostras 1 a 10 foram 133,8, 342, 257, 293, 414, 252,

1189, 568, 358 e 219 µS.cm-1, respectivamente. Apesar das Resoluções CONSEMA 128/2006

Page 11: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

e CONAMA 430/2011 não apresentarem padrão de lançamento para este parâmetro e os

resultados não fornecerem informações quantitativas sobre as concentrações de componentes

específicos, seu monitoramento é importante, pois é indicativo de íons em solução na amostra.

Concentrações de condutividade acima de 100 S.cm-1 nas águas são consideradas

insatisfatórias, caracterizando ambientes impactados. (CETESB, 2012). Todas as amostras

caracterizadas não apresentaram condutividade acima de 100 S.cm-1, garantindo que não

haveria uma alteração na qualidade do corpo hídrico. A figura 1 apresenta a variação na

concentração de condutividade nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 1: Condutividade das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.2 Cor

O parâmetro cor visual atendeu aos limites da Resolução CONSEMA 128/2006 em

todas as amostras, esta Resolução estabelece que não deve conferir mudança de coloração

verdadeira no corpo receptor, as amostras caracterizadas não possuem cor verdadeira,

somente cor aparente. A cor verdadeira se diferencia da cor aparente pela turbidez da amostra,

pois a cor aparente considera os materiais em suspensão e a cor verdadeira considera somente

materiais orgânicos e vegetais em estado coloidal. (SAWYER; McCARTY; PARKIN, 2003).

Diferentemente de outros setores, tais como indústria têxtil e indústria de papel e celulose que

lançam efluentes com elevada cor verdadeira, causando assim uma alteração na coloração do

corpo hídrico a grandes distâncias, a indústria de cosméticos se caracteriza por não apresentar

coloração verdadeira, e a coloração aparente resultante da grande concentração de material em

suspensão pode ser eliminada através dos processos de coagulação/floculação.

Page 12: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

3.2.3 Demanda Química de Oxigênio (DQO)

Os resultados de DQO sofreram uma grande variação nas diferentes amostras

caracterizadas. Os resultados das amostras 1 a 10 foram 7558,2, 10077,6, 10056,96, 5312,4,

5871,6, 14611,59, 22194,82, 5254,46, 7546,54 e 4266,14 mgO2.L-1, respectivamente. A DQO

representa a medida indireta de matéria orgânica presente nos efluentes, sendo que o aumento

na concentração da DQO em corpos hídricos está geralmente relacionada à despejos de

efluentes industriais. Este parâmetro é bastante utilizado para verificar a eficiência dos

sistemas de tratamento de efluentes, principalmente os anaeróbios. (CETESB, 2012). Todos

os resultados obtidos estão fora do limite máximo permitido para lançamento na Resolução

CONSEMA 128/2006, que é de 400 mg.L-1 para a faixa de vazão inferior a 20 m3/dia de

efluente. A Resolução CONAMA 430/2011 não dispõe de limite de lançamento para este

parâmetro. A figura 2 apresenta a variação da concentração de DQO nas amostras nos

diferentes dias de coleta.

Figura 2: Demanda química de oxigênio (DQO) das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.4 Dureza

Os resultados obtidos para dureza das amostras 1 a 10 foram 7,3, 15,8, 176,3, 27, 19,5,

115,1, 59,8, 40, 260,25 e 13,61 mg.L-1, respectivamente. As Resoluções CONSEMA

128/2006 e CONAMA 430/2011 não apresentam limite de lançamento para este parâmetro. A

dureza pode causar incrustações nas tubulações; águas muito duras tendem a aumentar o

consumo de detergentes, podendo aumentar assim, a concentração de fósforo e surfactantes.

De acordo com Sawyer, McCarty e Parkin (2003), águas com dureza de até 75 mg.L-1 são

consideradas moles, de 75-150 mg.L-1 moderadamente duras, 150-300 mg.L-1 duras e acima

Page 13: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

de 300 mg.L-1 são muito duras, somente as amostras 3 e 9 são consideradas duras, o que

poderia acarretar problemas no processo se este efluente fosse utilizado como água de reuso.

A figura 3 apresenta a variação da dureza nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 3: Dureza das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.5 Fósforo Total

O parâmetro fósforo foi determinado a partir da amostra 4, pois o método precisou ser

desenvolvido no laboratório e a curva de calibração construída. Os resultados obtidos para as

amostras 4 a 10 foram 2,64, 8,66, 10,27, 52,42, 35,57, 15,78 e 15,99 mg.L-1 respectivamente.

Elevadas concentrações de fósforo nas águas causam eutrofização e contribuem para a

proliferação de algas e cianobactérias. Este parâmetro é importante no tratamento biológico de

efluentes, pois ele contribui para a proliferação dos microrganismos. (SAWYER; McCARTY;

PARKIN, 2003). Das amostras caracterizadas, somente a amostra 4 apresentou concentração

dentro do limite máximo permitido para lançamento na Resolução CONSEMA 128/2006, que

é de 4 mg.L-1 para faixa de vazão inferior a 100 m3/dia de efluente. A Resolução CONAMA

430/2011 não dispõe de limites de lançamento para este parâmetro. A figura 4 apresenta a

variação da concentração de fósforo nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Page 14: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 4: Fósforo das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.6 Óleos e Graxas

O parâmetro óleos e graxas não foi determinado para as amostras 1, 2 e 4; para as

amostras 1 e 2 a análise foi insatisfatória e não havia alíquota para repetição, gerando

resultados não confiáveis; o frasco da amostra 4 quebrou, impossibilitando a realização da

análise. Os resultados para as demais amostras foram 21, 199, 293, 625, 106,54, 482,53 e

300,75, mg.L-1, respectivamente. Óleos e graxas são prejudiciais no tratamento de água para

abastecimento, além de que sua baixa solubilidade dificulta sua degradação nos processos de

tratamento biológicos. Sua elevada concentração em corpos hídricos acarreta em um aumento

da DBO e DQO, diminuindo assim, a concentração de oxigênio dissolvido e

consequentemente prejudicando o sistema aquático. (CETESB, 2012). Das amostras

caracterizadas, somente a amostra 3 apresentou concentração de óleos e graxas dentro dos

limites máximos permitidos para lançamento nas Resoluções CONSEMA 128 e CONAMA

430, que são de 40 e 70 mg.L-1, respectivamente. A figura 5 apresenta a variação da

concentração de óleos e graxas nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Page 15: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 5: Óleos e graxas das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.7 Potencial Hidrogeniônico (pH)

Os resultados das amostras 1 a 10 foram 5,54, 6,74, 7,25, 4,33, 5,2, 7,17, 10,54, 7,07,

6,2 e 7,01, respectivamente. O pH dos efluentes impacta diretamente nos tratamentos

químicos e biológicos que serão aplicados, portanto deve-se manter a faixa de pH favorável

para cada tratamento. (SAWYER; McCARTY; PARKIN, 2003). Além de sua importância no

tratamento de efluentes, sua interação com o sistema aquático merece destaque, em

determinadas faixas de pH, pode haver precipitação de metais pesados, algumas substâncias

podem ser solubilizadas impactando, assim, diretamente na fisiologia de determinadas

espécies. (CETESB, 2012). Das amostras caracterizadas, as amostras 1, 4, 5 e 7 ficaram fora

da faixa aceitável para lançamento na Resolução CONSEMA 128/2006 que é entre 6 e 9 e

somente as amostras 4 e 7 ficaram fora da faixa aceitável para lançamento na Resolução

CONAMA 430/2011 que é entre 5 e 9. A figura 6 apresenta a variação do pH nas amostras

nos diferentes dias de coleta.

Page 16: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 6: pH das amostras estudadas

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.8 Sólidos

Não foi possível a determinação de sólidos totais, sólidos suspensos totais, sólidos

dissolvidos totais e sólidos voláteis na amostra 3, pois esta não secou em estufa, ocasionando

resultados não confiáveis.

3.2.8.1 Sólidos Totais (ST)

Os resultados das amostras 1 e 2, 4 a 10 foram 13320, 16874, 860, 1280, 1185, 3110,

1575, 1990 e 600 mg.L-1, respectivamente. Elevadas concentrações de sólidos na água podem

causar danos à vida aquática, pois estes podem sedimentar nos leitos dos rios causando a

morte de organismos produtores de alimentos, bem como danificar leitos de desovas de

peixes. (CETESB, 2012). As Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011 não

apresentam limites de lançamento para este parâmetro, mas as concentrações encontradas são

elevadas, o que poderia acarretar uma mudança na qualidade do corpo hídrico se este efluente

bruto fosse lançado sem tratamento. A figura 7 apresenta a variação na concentração de

sólidos totais nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Page 17: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 7: Sólidos totais (ST) das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.8.2 Sólidos Suspensos Totais (SST)

Os resultados das amostras 1 e 2, 4 a 10 foram 648, 331, 230, 200, 340, 970, 150, 1390

e 150 mg.L-1, respectivamente. Elevadas concentrações de sólidos suspensos nas águas podem

ocasionar a formação de flocos, podendo sedimentar no fundo dos corpos hídricos.

(SAWYER; McCARTY; PARKIN, 2003). Das amostras caracterizadas, somente as amostras

8 e 10 apresentaram os resultados dentro do limite máximo permitido para lançamento na

Resolução CONSEMA 128/2006, que é de 180 mg.L-1 para faixa de vazão inferior a 20

m3/dia de efluente. A Resolução CONAMA 430/2011 não dispõe de limite de lançamento

para este parâmetro. A figura 8 apresenta a variação da concentração de sólidos suspensos

totais nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 8: Sólidos suspensos totais (SST) das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

Page 18: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

3.8.2.3 Sólidos Dissolvidos Totais (SDT)

Os resultados das amostras 1 e 2, 4 a 10 foram 954, 854, 400, 510, 610, 1160, 940, 60,

20 mg.L-1, respectivamente. Visto que as Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA

430/2011 não estabelecem limite máximo para descarte deste parâmetro, adotou-se como

padrão o limite da Resolução CONAMA 357/2005 art. 14 que estabelece como padrão de

água doce classe 1 a concentração de 500 mg.L-1 para sólidos dissolvidos totais. Das amostras

caracterizadas somente as amostras 4, 9 e 10 ficaram abaixo desta concentração, assegurando

que não haveria alteração no corpo receptor se este efluente bruto fosse lançado. A figura 9

apresenta a variação de sólidos dissolvidos totais nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 9: Sólidos dissolvidos totais (SDT) das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.8.4 Sólidos Voláteis (SV)

Os resultados das amostras 1 e 2, 4 a 10 foram 11718, 15689, 230, 570, 235, 980, 485,

540 e 430 mg.L-1, respectivamente. Os sólidos voláteis são indicativos de compostos

orgânicos presentes nas amostras, entretanto não fornece informações sobre a natureza destes

compostos. (CETESB, 2012). As Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011

não apresentam limites de lançamento para este parâmetro, mas as concentrações elevadas de

sólidos voláteis nas amostras poderiam acarretar uma alteração na qualidade do corpo

receptor se este efluente bruto fosse lançado sem tratamento, devido às elevadas

concentrações encontradas principalmente nas amostras 1 e 2. A figura 10 apresenta a

variação na concentração de sólidos voláteis nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Page 19: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 10: Sólidos voláteis (SV) das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.8.5 Sólidos Sedimentáveis

Com exceção das amostras 2, 7, 9 e 10 que apresentaram concentração de sólidos

sedimentáveis de 0,5, 22, 300 e 0,8 mg.L-1, respectivamente, todas as demais amostras não

apresentaram sólidos sedimentáveis. Das amostras caracterizadas, somente as amostras 7 e 9

apresentaram concentrações de sólidos sedimentáveis acima do limite máximo permitido para

lançamento nas Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011 que é de 1 ml.L-1.

A figura 11 apresenta a variação da concentração de sólidos sedimentáveis nas amostras nos

diferentes dias de coleta.

Figura 11: Sólidos sedimentáveis das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

Page 20: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

3.2.9 Surfactantes

O parâmetro surfactantes foi determinado a partir da amostra 4, pois o método

precisou ser desenvolvido em laboratório e a curva de calibração preparada. Os resultados das

amostras 4 a 10 foram 47,30, 379,68, 195,02, 530,68, 262,95, 74,50 e 88,64 mgMBAS.L-1,

respectivamente. Despejos com concentrações elevadas de surfactantes causam problemas

estéticos relacionados à formação de espumas, além de exercer efeitos tóxicos sobre os

ecossistemas aquáticos e acelerar processos de eutrofização. (CETESB, 2012). Todas as

amostras caracterizadas ficaram fora do limite máximo permitido para lançamento na

Resolução CONSEMA 128/2006, que é de 2,0 mg.L-1. A Resolução CONAMA 430/2011 não

apresenta limite máximo de lançamento para este parâmetro. A Figura 12 apresenta a variação

de surfactantes nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 12: Surfactantes das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.10 Temperatura

A temperatura não foi verificada nas amostras 1, 2, 3, 9 e 10 devido a problemas

operacionais no momento da coleta. Os resultados das demais amostras em ordem cronológica

foram 32, 20, 25, 30 e 23 °C, respectivamente. A temperatura interfere em uma série de

reações químicas, sendo determinante no desenvolvimento do meio aquático, limites de

tolerância térmica superior e inferior e temperaturas ideais para crescimento. (CETESB,

2012). Todas as amostras caracterizadas ficaram dentro da faixa permitida para lançamento

nas Resoluções CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011, que é de 40°C. A figura 13

apresenta a variação da temperatura nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Page 21: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

Figura 13: Temperatura das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

3.2.11 Turbidez

Os resultados das amostras 1 a 10 foram 1895, 1330, 11420, 884, 670, 2190, 1210,

714, 3680 e 763 NTU, respectivamente. A turbidez é causada pelos sólidos em suspensão,

sendo que sua elevada concentração reduz o desenvolvimento de plantas, podendo influenciar

no desenvolvimento das comunidades aquáticas (CETESB, 2012). Visto que as Resoluções

CONSEMA 128/2006 e CONAMA 430/2011 não apresentam limite máximo de lançamento

deste parâmetro, adotou-se como padrão a Resolução CONAMA 357/2005 art. 14 que

estabelece como padrão de qualidade para água classe 1 a concentração de até 40 NTU. Todas

as amostras caracterizadas ficaram acima do padrão de qualidade de água doce, o que poderia

ocasionar uma alteração do corpo hídrico se este efluente bruto for lançado sem tratamento. A

figura 14 apresenta a variação da turbidez nas amostras nos diferentes dias de coleta.

Figura 14: Turbidez das amostras estudadas.

Fonte: Autoria própria, 2013.

Page 22: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

4 CONCLUSÕES

De acordo com os resultados apresentados, foi possível caracterizar diferentes amostras

de efluentes de uma indústria do setor de produção de cosméticos. Os principais parâmetros

avaliados foram condutividade, cor, DQO, dureza, fósforo, óleos e graxas, pH, sólidos,

surfactantes, temperatura e turbidez. Os principais resultados mostraram ausência de cor, pH

na faixa de 4,3 à 10,5, condutividade de 133,8 à 1189 µS.cm-1, temperatura de 20 à 30 °C,

turbidez entre 670 à 11420 NTU, DQO de 4266,1 à 22194,8 mg.L-1, dureza de 7,3 à 260,3

mg.L-1, fósforo de 2,64 à 52,4 mg.L-1, surfactantes de 47,3 à 530,68 mg.L-1, óleos e graxas de

21 à 482,5 mg.L-1, sólidos totais de 600 à 16874 mg.L-1, sólidos suspensos de 150 à 1390

mg.L-1, sólidos dissolvidos de 20 à 1160 mg.L-1, sólidos voláteis de 230 à 15689 mg.L-1 e

sólidos sedimentáveis de 0 à 300 mg.L-1.

Estes dados demonstraram a necessidade de tratamento dos efluentes gerados pela

indústria, uma vez que estes não podem ser lançados em corpos hídricos sem tratamento por

não atenderem aos limites de lançamento previstos nas Resoluções CONSEMA 128/2006 e

CONAMA 430/2011. A grande variação nos resultados era esperada em virtude da

diversidade de produtos produzidos pela empresa e insumos envolvidos no processo, além de

confirmar a necessidade de caracterizar o maior número de amostras possíveis para ter

representatividade da pior situação que os efluentes gerados pela empresa podem ter de

acordo com o processo produtivo envolvido.

Dentro deste contexto, o presente estudo apresentou grande contribuição para o

desenvolvimento e continuidade de estudos em uma nova fase de desenvolvimento para a

aplicação de técnicas de remoção dos poluentes via processos de agregação (coagulação-

floculação).

ABSTRACT

Increasing on the production of cosmetics industries has contributed to the economic

development of society; however there is an increase on the production of wastewaters.

Considering that all companies are responsible for the disposal of their waste, the purpose of

this study was to characterize the industrial wastewaters of a cosmetics industry located in the

metropolitan area of Porto Alegre in Rio Grande do Sul. Analysis of conductivity, colour,

COD, hardness, phosphorus, oils and greases, pH, solids, surfactants, temperature and

turbidity were performed on samples collected during 2 months. The results showed lack of

colour, in the range of pH 4.3 to 10.5, conductivity from 133.8 to 1189 µS.cm-1, temperature

Page 23: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

from 20 to 30°C, turbidity between 670 to 11420 NTU, COD from 4266.1 to 22194.8 mg.L-1,

hardness from 7.3 to 260.3 mg.L-1, phosphorus from 2.64 to 52.4 mg.L-1, from 47.3 to 530.68

of surfactants, oils and greases from 21 to 482.5 mg.L-1, total solids of 600 to 16874 mg.L-1,

suspended solids of 150 to 1390 mg.L-1, dissolved solids 20 to 1160 mg.L-1, volatile solids

from 230 to 15689 mg.L-1 and sedimentary solids from 0 to 300 mg.L-1. The results certified

the knowledge of the major pollutants associated with the wastewaters, as well as the

necessity of treatment. Therefore, this study contributed to an important stage of a science and

technology study that will be monitored by the production sector, targeting a provision which

meets the limits of the effluents discharge ruled by CONSEMA 128/2006 and CONAMA

430/2011.

Key-words: Classification of water and Wastewaters. Pollution control. Wastewaters.

REFERÊNCIAS

ABIHPEC, Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Guia Técnico Ambiental da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – Por uma Produção mais Limpa, 2005. Disponível em: <http://www.abihpec.org.br/2012/07/guia-tecnico-ambiental/>. Acesso em: 28 de março de 2013.

ABIHPEC. Associação Brasileira da Indústia de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. In: SEMINÁRIO DE COSMÉTICOS,1., 2011, São Paulo. Anais eletrônicos... São Paulo: ABIHPEC, 2011. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/f569ef804822feed95bed754098589a5/2_Palestra.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 5 mai. 2013.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 79, de 28 de agosto de 2000.

CAVALCANTI, José Eduardo W. de A.Manual de Tratamento de Efluentes Industriais. São Paulo: Engenho Editora Técnica Ltda, 2009. 453 p.

CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras: Água, Sedimentos, Comunidades Aquáticas e Efluentes Líquidos. São Paulo, 2011. 326 p. Disponível em: < http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/laboratorios/publicacoes/guia-nacional-coleta-2012.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2013.

CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Qualidade das águas superficiais no estado de São Paulo 2012 . São Paulo : CETESB, 2013. 370 p. : il. color. - - (Série Relatórios / CETESB, ISSN 0103-4103). Disponível em:< http://www.cetesb.sp.gov.br/agua/aguas-superficiais/35-publica>. Acesso em: 20 mai. 2013.

Page 24: CARACTERIZAÇÃO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE … pesados, entre outros. Entretanto, ocorre uma grande diversidade de efluentes gerados, sendo as características do resíduo associadas

CLESCERI, Lenore S. (Ed.). Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 21th ed. Washington, D.C.: American Public Health Association, 2005. 1 v.

CONAMA. Resolução N°430, de 13 de Maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução n° 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA.

CONSEMA. Resolução N° 128, de 24 de novembro de 2006. Dispõe sobre a fixação de Padrões de Emissões de Efluentes Líquidos para fontes de emissão que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul.

CONSEMA. Resolução N° 129, de 24 de novembro de 2006. Define sobre a definição de Critérios e Padrões de Emissão para Toxicidade de Efluentes Líquidos lançados em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul.

GIORDANO, Gandhi. Tratamento e Controle de Efluentes Industriais. Apostila. Disponível em: http://www.cepuerj.uerj.br/insc_online/itaguai_2011/edital/superior/biologo/Apostila%20-%20Tratamento%20de%20efluentes%20industriais.pdf. Acesso em: 27 de junho de 2012.

NUNES, José Alves. Tratamento Físico-Químico de Águas Residuárias Industriais. 4. ed. Aracaju: J. Andrade Ltda, 2004. 298 p.

SAWYER, Clair N; McCARTY, Perry L.; PARKIN, Gene F. Chemistry for Environmental Engineering and Science. 5th ed. New York: McGraw-Hill, 2003. xvi, 752 p.

SCHNEIDER, Ismael Luís. Modo Alternativo de Tratamento de Efluentes com Presença de Cianeto. 2008. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Química Industrial). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Cristiane pelo apoio, ética e confiança depositada durante a

execução das práticas laboratoriais e elaboração do artigo científico, as técnicas do Instituto

de Química do Unilasalle Daniele Wieliczko e Daniela Oliveira dos Santos, bem como aos

alunos Juliano Dorneles e Aline Stieler pelo apoio na execução das análises e a indústria que

subsidiou as amostras para o presente estudo.