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i Caracterização de escórias de incineração de resíduos urbanos e recuperação do vidro Hugo Tiago Antunes Jardim Dissertação para obtenção do Grau de Mestre Engenharia Geológica e de Minas Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa da Cruz Carvalho Júri Presidente: Professor Doutor António Jorge Gonçalves de Sousa Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa da Cruz Carvalho Vogal: Professora Doutora Ana Isabel Espinha da Silveira Dezembro de 2015

Caracterização de escórias de incineração de resíduos ... · iv ABSTRACT Failure to comply with European targets for packaging glass recycling is considered to be a concern

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i

Caracterização de escórias de incineração de resíduos

urbanos e recuperação do vidro

Hugo Tiago Antunes Jardim

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Engenharia Geológica e de Minas

Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa da Cruz Carvalho

Júri

Presidente: Professor Doutor António Jorge Gonçalves de Sousa

Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa da Cruz Carvalho

Vogal: Professora Doutora Ana Isabel Espinha da Silveira

Dezembro de 2015

ii

AGRADECIMENTOS

A todos os que directa ou indirectamente me apoiaram na realização deste trabalho, em especial:

- à Professora Doutora Maria Teresa Carvalho, pela orientação científica, apoio, motivação e

dedicação;

- à Valorsul no papel do Sr. Diogo Vidal, Eng. Patrícia Santos, Sr. Paredes, Sr. Dinis e Gonçalo, pelo

apoio prestado, cortesia e disponibilidade cedida durante as visitas técnicas.

- ao André Vasconcelos e Helga Ferreira, pelo apoio no processamento das amostras e tratamento

estatístico;

- ao Sr. Paulo, pelo apoio no laboratório e conselhos técnicos;

- ao Prof. Doutor. Pedro Pina, pela orientação na temática da análise de imagem;

-os meus pais, irmãos e amigos, que sempre me apoiaram.

Os meus sinceros agradecimentos

iii

RESUMO

O incumprimento das metas europeias para a reciclagem de vidro de embalagem é assumido como

uma preocupação para Portugal. Como tal, a procura por soluções para recuperação de vidro tem

caracter urgente e prioritário. A recuperação de vidro a partir de produtos de incineração de resíduos

urbanos é uma possibilidade, dado que este produto contém vidro e tem como destino finala

deposição em aterro, não sofrendo qualquer valorização

Com esta dissertação pretende-se estudar a viabilidade para recuperar vidro contido nas escórias de

incineração. Como caso de estudo, utilizou-se a instalação de incineração da Valorsul, alimentada por

RU da região de Lisboa.

O estudo iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica, seguida da caraterização das escórias em

granulometria e composição. Este produto tem calibre inferior a cerca de 16 mm, tendo a maioria das

partículas calibre entre 6 e 11 mm. Cerca de metade das amostras recolhidas eram constituídas por

cinzas, que ocorrem na fracção mais fina, 25% por vidro e 15% por pedras. A utilização do

equipamento RecGlass, no processamento das amostras recolhidas, permitiu concluir que é possível

separar fracção significativa do vidro das pedras, principal contaminante

Realizou-se trabalho experimental que incluiu a execução deum plano factorial de experiências, a fim

de identificar quais as variáveis operacionais do RecGlass (inclinação e velocidade da tela, altura de

queda e posição da alimentação) ou interacções entre elas, que mais influência exerciam sobre a

recuperação de vidro e de pedras nos produtos da separação tendo-se obtido uma solução óptima.

Observou-se que as variáveis operacionais que mais influenciaram os resultados do processo foram a

inclinação da tela e a altura de queda. Os valores destas variáveis que conduziram à solução óptima

foram: inclinação 20.3º, altura de queda 16 cm.

Os ensaios de validação da solução de optimização tiveram como resultados médios 56% de

recuperação de vidro e 30% de recuperação de pedras no concentrado de vidro. Os teores nestes

materiais neste produto foram, respectivamente, de 72% e 30%.

Procedeu-se ainda à realização de um estudo de análise de imagem para avaliação da diferença da

forma das partículas de vidro e pedras de forma a inferir a viabilidade de retratamento dos produtos

de separação de forma a ser aumentado a recuperação e o teor em vidro no concentrado de vidro. O

estudo mostrou que ainda que a diferença de circularidade das partículas dos dois materiais não seja

muito elevada, permite antever a possibilidade de melhoria na qualidade do produto (IC de 0.82 e 0.

74).

Palavras Chave: Recuperação de Vidro, RecGlass, Escórias de Incineração, Incineração, Resíduos

Urbanos (RU)

iv

ABSTRACT

Failure to comply with European targets for packaging glass recycling is considered to be a concern for

Portugal. As such, the search for solutions for recovering glass has an urgent priority character. The

glass recovery from municipal waste incineration products is a possibility, as this product contains

glass and its current destination is to be landfilled, not suffering any recovery.

With this dissertation is intended to study the feasibility to recover glass contained in the incineration

slag. As a case study, we used the incineration of Valorsul, fueled by RU of the Lisbon region.

The study began with a literature search, then the characterization of the slag in particle size and

composition. This product has size of less than about 16 mm, with most particles of size between 6

and 11 mm. About half of the collected samples consisted of ashes, occurring in the finer fraction of

25% glass and 15% by stones. The use of RecGlass equipment, processing the samples taken,

concluded that it is possible to separate significant fraction of glass stones, the main contaminant.

Carried out experimental work included the implementation of a factor plan experiments in order to

identify the operational variables from RecGlass (inclination and belt speed, drop height and feeding

position) or interactions between them that had more influence over glass and stones recovery and

product separation yielding an optimal solution. It was observed that the operational variables that

most influenced the results of the process were the screen tilt and height of fall. The values of these

variables that lead to the optimal solution were 20.3º inclination, drop height 16 cm.

Optimization solution validation tests had average results as 56% glass and 30% recovery of stones

recovery in the glass concentrate. The grade of these materials in this product were respectively 72%

and 30%.

An image analysis study was performed to evaluate the difference in the form of glass particles and

stones in order to infer the retreatment feasibility of separation products to increase glass recovery and

content in concentrate. The study showed that even though the roundness of the difference of the two

particulate materials is not very high, allows to foresee the possibility of improvement in product quality

(IC 0.82 and 0. 74).

Keywords: Glass Recovery, RegGlass, Bottom ash, Incineration, Municipal Solid Waste (MSW)

v

ÍNDICE AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................ii

RESUMO .................................................................................................................................................. iii

ABSTRACT ..............................................................................................................................................iv

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................................... 1

1.2 OBJECTIVO E METODOLOGIA .............................................................................................. 3

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ........................................................................................... 4

2 ESTADO DA ARTE ........................................................................................................................... 5

2.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6

2.2 PRODUÇÃO DE RSU EM PORTUGAL ................................................................................... 6

2.3 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO ........................................................................................ 7

2.4 INCINERAÇÃO: MÉTODO DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS ............................................. 9

2.5 INCINERAÇÃO: CONTEXTO PORTUGUÊS ......................................................................... 12

2.6 PRODUTOS DE INCINERAÇÃO ........................................................................................... 14

2.7 RECUPERAÇÃO E RECICLAGEM VIDRO ........................................................................... 16

2.8 POTENCIAL PARA RECUPERAÇÃO DE VIDRO, A PARTIR DE RU .................................. 18

2.9 RECUPERAÇÃO DE VIDRO A PARTIR DE RESÍDUOS INDIFERENCIADOS ................... 20

3 CARACTERIZAÇÃO ....................................................................................................................... 23

DE ESCÓRIAS DE INCINERAÇÃO ....................................................................................................... 23

3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 24

3.2 INSTALAÇÃO DA VALORSUL ............................................................................................... 24

3.3 AMOSTRAGEM A GRANEL .................................................................................................. 27

3.4 RECOLHA DA AMOSTRA DA VALORSUL ........................................................................... 29

3.5 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DA VALORSUL ........................................................... 30

3.6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................. 31

3.7 CONCLUSÃO CAPÍTULO 3 ................................................................................................... 36

4 RECUPERAÇÃO DE VIDRO DE ESCÓRIAS INCINERAÇÃO ...................................................... 37

4.1 Introdução ............................................................................................................................... 38

4.2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA, CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE SEPARAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................................................................. 40

4.3 ENSAIOS PRELIMINARES .................................................................................................... 42

RESULTADOS ................................................................................................................................ 45

4.4 PLANO FACTORIAL DE EXPERIÊNCIAS ............................................................................ 47

RESULTADOS E DISCUSSÃO DO PLANO FACTORIAL ............................................................. 50

ANÁLISE DE VARIÂNCIA ............................................................................................................... 52

vi

.............................................. 53

4.5 OPTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO NO RECGLASS .................................. 57

4.6 VALIDAÇÃO DA SOLUÇÃO DE OPTIMIZAÇÃO .................................................................. 58

4.7 APTIDÃO AO RETRATAMENTO DOS PRODUTOS DE SEPARAÇÃO ............................... 60

4.8 CONCLUSÃO CAPÍTULO 4 ................................................................................................... 63

5 CONCLUSÕES E TRABALHO FUTURO ....................................................................................... 65

5.1 CONCLUSÕES....................................................................................................................... 66

5.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS E TRABALHO FUTURO ......................................................... 67

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 69

ANEXOS ................................................................................................................................................. 73

vii

Lista de Figuras

Figura 1 - Hierarquia de gestão de resíduos de acordo com a legislação europeia ................................ 1

Figura 2 - Modelo de funcionamento de uma instalação de incineração ............................................... 10

Figura 3 - Diagrama funcionamento da Central de Tratamento de Resíduos da Valorsul .................... 11

Figura 4 - Instalação de Incineração Lipor (Fonte: www.Lipor.pt).......................................................... 13

Figura 5 - Instalação de Incineração Valorsul (Fonte: www.valorsul.pt) ................................................ 13

Figura 6 - Instalação de Incineração Valorambiente (Fonte:www.valorambiente.pt) ............................. 13

Figura 7 - Escórias de Incineração, Valorsul .......................................................................................... 14

Figura 8 - Instalação de processamento e descontaminação de vidro (Fonte: http://www.bra.org) ...... 17

Figura 9 - Equipamento RecGlass (Fonte: Belo, 2013) ......................................................................... 20

Figura 10 – Instalação de tratamento e valorização de escórias, e detalhe separador magnético ....... 24

Figura 11 - Pilhas mensais de escórias de incineração (a), com detalhe (b) ........................................ 25

Figura 12 - Diagrama Processamento de Escórias na ITVE, Valorsul (Fonte: Valorsul, 2015) ............. 25

Figura 13 – Sequência da recolha de amostras (a- recolha; b - divisão) ............................................... 29

Figura 14 - Curva cumulativa inferior da distribuição granulométric ...................................................... 31

Figura 15 - Frequência simples, por fracção granulométrica das 4 sub-amostras ................................ 32

Figura 16 - Composição global sub-amostra 1 ....................................................................................... 33

Figura 17 - Caracterização por fracção granulométrica, sub-amostra 1 ................................................ 34

Figura 18 - Distribuição de vidro por fracção granulométrica ................................................................. 35

Figura 19 - Distribuição de pedras por fracção granulométrica ............................................................. 35

Figura 20 - Separador mecânico e crivos, LC – IST .............................................................................. 44

Figura 21 - Separação no equipamento RecGlass: ............................................................................... 44

Figura 22 - Equipamento RecGlass ....................................................................................................... 44

viii

Figura 23 - Recuperação em função de Altura (A), Velocidade (B), Inclinação (C) e Deslocamento

horizontal (D) .......................................................................................................................................... 45

Figura 24 - Esquema do processo, com variáveis operacionais e respostas ........................................ 47

Figura 25 - Probabilidades da distribuição normal dos resíduos, vidro ................................................ 53

Figura 26 - Valores estimados vs resíduos, vidro. ................................................................................. 54

Figura 27 - Resíduos vs ordem dos ensaios, vidro ................................................................................ 54

Figura 28 - Probabilidades da distribuição normal dos resíduos, pedras .............................................. 56

Figura 29 - Valores estimados vs resíduos, pedras ............................................................................... 56

Figura 30 - Resíduos vs ordem dos ensaios, pedras ............................................................................. 56

Figura 31 - Curva de resposta ................................................................................................................ 57

Figura 32 - Digitalização produto rejeitado (pedras e vidro) e concentrado (vidro) ............................... 61

Figura 33 - Diagrama de retratamento do ensaio 12 do plano factorial ................................................. 62

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Metas definidas na Directiva 2004/12/CE para a reciclagem de resíduos de embalagem .... 8

Tabela 2 - Quantidade mínima necessária para cumprimento das metas de reciclagem de resíduos ... 8

Tabela 3 - Resultados dos indicadores referentes a residuos de embalagem e respectivas metas ....... 9

Tabela 4 – Quatidade de produtos obtidos a partir de escórias da Lipor e Valorsul ............................. 15

Tabela 5 - Especificações técnicas para a retoma de resíduos de embalagem de vidro, para a

indústria vidreira e retomadores ( Fonte: Regulamento Nº.1179/2013 da Comissão Europeia e SPV,

2012) ....................................................................................................................................................... 17

Tabela 6 - Caracterização física dos resíduos admitidos na CTRSU no ano 2014 ............................... 18

Tabela 7 - Quantidade de RSU indiferenciados presentes nas instalações da Lipor e Valorsul e vidro

expectável (Fonte: Lipor e Valorsul, 2014) ............................................................................................. 19

Tabela 8 - Quantidades retomadas, metas e índice de cumprimento, para reciclagem de vidro .......... 19

Tabela 9- Variáveis operacionais equipamento RecGlass ..................................................................... 20

Tabela 10 - Parâmetros de cálculo para massa da amostra a colher .................................................... 28

Tabela 11 - Distribuição granulométrica simples e acumulada de quatro sub-amostras representativas

das escórias de incineração, da Valorsul ............................................................................................... 31

Tabela 12 – Distribuição de materiais na sub-amostra1, por fracção granulométrica ........................... 33

Tabela 13 - Composição média alimentação ......................................................................................... 41

Tabela 14 - Matriz Experimental ............................................................................................................. 42

Tabela 15 - Variáveis operacionais manipuladas ................................................................................... 43

Tabela 16 - Recuperação por material no ensaio padrão 1 ................................................................... 45

Tabela 17 - Variáveis consideradas para o plano de experiências e seus domínios experimentais ..... 49

ix

Tabela 18- Recuperação de vidro, ensaio 1 e 2, para cada configuração do plano factorial de

experiências, média global e variância .................................................................................................. 50

Tabela 19 - Recuperação de pedras, ensaio 1 e 2, para cada configuração do plano factorial de

experiências, média global e variância .................................................................................................. 50

Tabela 20 - Coeficientes de correlação de Pearson .............................................................................. 51

Tabela 21 - Efeito, soma dos quadrados e % de contribuição das variáveis manipuladas e suas

interacções ............................................................................................................................................. 52

Tabela 22- ANOVA para a recuperação de vidro, com o modelo seleccionado .................................... 52

Tabela 23 - Valores dos efeitos, soma dos quadrados e % de contribuição das variáveis manipuláveis

e interacções .......................................................................................................................................... 55

Tabela 24 - ANOVA para a recuperação de pedras, com o modelo factorial seleccionado .................. 55

Tabela 25 - Limites, superior e inferior, das variáveis, respostas e objectivo da função ...................... 57

Tabela 26 - Solução de optimização do processo.................................................................................. 57

Tabela 27 - Alimentação original vs alimentação nova, peso e composição ........................................ 58

Tabela 28 - Solução da validação de Recuperação de Vidro, ensaio 1, 2, média e variância .............. 58

Tabela 29 - Solução da validação de Recuperação de Pedras, ensaio 1, 2, média e variância ........... 58

Tabela 30 - Resultados obtidos no processamento com o RecGlass de amostras da Tratolixo e

Valnor, Dias (2013) e presente dissertação ........................................................................................... 59

Tabela 31– Resultados obtidos para os produtos de separação do ensaio 12 do plano factorial ......... 60

Tabela 32- IC e IF para partículas de vidro e pedras do produto concentrado e rejeitado, ensaio 12 do

plano factorial ......................................................................................................................................... 61

Lista de abreviaturas e símbolos

AI – Análise de Imagem

APA – Agência Portuguesa do Ambiente

CDR – Combustível Derivado de Resíduos

CERENA – Centro de Recursos Naturais e Ambiente

CEWEP - Confederation of European Waste-to-Energy Plants

CTRSU - Central de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos

ECAL - Embalagens de cartão para alimentos líquidos

EM - Estados-Membros

GEE - Gases Efeito Estufa

ITVE - Instalação Tratamento e Valorização de Escórias

LC – Laboratório Construção

LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil

REEE – Equipamentos eléctricos e electrónicos

x

RU – Resíduos Urbanos

SGRU - Sistema de Gestão de Resíduos Urbanos

TMB - Tratamento Mecânico e Biológico

TMBr – Rejeitado Pesado do Tratamento Mecânico e Biológico

VLE - Valores Limite Exposição

1

INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A produção generalizada de resíduos é uma realidade global, que acompanha o Homem ao longo da

sua evolução, constituindo –se como uma forma de poluição e representando também uma

importante perda de recursos. Assim, ao nível da hierarquia de gestão de resíduos indiferenciados

atribui-se prioridade total à prevenção e redução da produção de resíduos e consumo de matérias-

primas. Só depois considera a reutilização, a reciclagem, a recuperação, o controlo da poluição e

finalmente a deposição adequada dos resíduos, devendo para a tomada de decisão ter-se em conta

aspectos económicos e sociais. As estratégias de prevenção passam por reduzir na produção de

embalagens, aumentar a durabilidade dos produtos e promover a reutilização generalizada de

materiais e produtos (Dias, 2011).

Figura 1 - Hierarquia de gestão de resíduos de acordo com a legislação europeia

(Fonte: Directiva 2008/98/CE)

A política da Comunidade Europeia (CE) e também a legislação nacional transposta das directivas

europeias, apresentam metas de reciclagem de resíduos de embalagem cada vez mais exigentes a

dar cumprimento a esta hierarquia de gestão de resíduos.

No que diz respeito aos resíduos urbanos indiferenciados e para atingir as metas de reciclagem

estabelecidas, Portugal apresenta diversas ferramentas, que na grande parte são as mais comuns e

utilizadas na maioria dos Países, como por exemplo:

Recolha selectiva – conjunto de contentores utilizados para depositar separadamente

materiais como papel / cartão, plástico, embalagens de vidro e pilhas os quais serão encaminhados

2

para reciclagem. A recolha seletiva depende da colaboração e esforço dos intervenientes na

separação de cada uma das embalagens recicláveis;

Valorização de resíduos orgânicos através de compostagem - degradação aeróbia da matéria

orgânica putrescível, processo que reduz o volume dos resíduos e a produção de composto

fertilizante;

Digestão anaeróbia de resíduo orgânico - degradação anaeróbia da matéria orgânica

putrescível, processo que permite a produção de energia sob a forma de biogás e composto

fertilizante;

Produção de combustível derivado de resíduo (CDR) - separação e homogeneização da

fracção com elevado poder calorífico para posterior utilização como combustível, permitindo a

produção de energia e recuperação de material;

Incineração - queima controlada de resíduos, permitindo a redução de volume dos resíduos

indiferenciados, eliminação de elementos patogênicos e produção de energia.

Segundo a APA, estima-se que em 2013 tenham sido encaminhados para aterro e incineração,

respetivamente, cerca de 387081 e 207760 toneladas de resíduos de embalagens, dos quais 5%

(45094 toneladas) em vidro. A deposição destes materiais em aterro sem valorização multimaterial

corresponde a uma perda gravosa de matérias-primas com pontecial de serem valorizadas, obrigando

ao consumo e exploração de novas matérias-primas, limitadas e por vezes escassas no meio

ambiente para satisfação das necessidades globais da sociedade.

Dias (2011) realizou um estudo de recuperação de vidro existente no rejeitado pesado de uma

instalação de tratamento mecânico e biológico (TMB), contudo não existem estudos realizados na

recuperação de vidro contido em escórias de incineração, que é o objectivo a presente dissertação.

3

1.2 OBJECTIVO E METODOLOGIA

A presente dissertação tem como objectivo principal o estudo da possibilidade de recuperação de

vidro contido nas escórias de incineração, que é actualmente enviado para aterro com os

consequentes danos ambientais e desperdício de matérias-primas.

Para tal procede-se à caracterização granulométrica e de composição de um conjunto de amostras

recolhidas nas instalações da Valorsul e à definição de uma solução para recuperação de vidro.

através da separação por forma. Utiliza-se o equipamento RecGlass, já utilizado em estudos

anteriores, para processamento de rejeitado pesado de TMB.

O processamento das amostras é constituído por duas fases: uma primeira com realização de

ensaios preliminares em que se manipula uma varável operacional de cada vex e uma segunda fase

com manipulação das mesmas, enquadrada no plano factorial de experiências, para obter uma

solução de optimização do sistema.

Para atingir o fim proposto, foi definida uma metodologia geral, que se apresenta em seguida:

a) Pesquisa bibliográfica do tema e de tecnologias para separação de vidro;

b) Caracterização da amostra;

c) Selecção do(s) método(s) e do(s) equipamento(s) para a valorização das escórias de

incineração;

d) Definição e execução de um plano experimental;

e) Análise dos resultados obtidos.

4

1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Para além deste capítulo de carácter introdutório onde, entre outros, são definidos os objectivos e

realizada uma introdução do tema desenvolvido, esta dissertação encontra-se organizada em mais

quatro capítulos, num total de cinco:

Capítulo 2 – Estado da Arte

Esta fase inicial do trabalho compreende o conhecimento generalizado da situação actual de gestão

de resíduos em Portugal, destinos preferenciais, taxas de reciclagem, processos de incineração e

produtos, aplicabilidade das escórias de incineração e recuperação e reciclagem de vidro.

Capítulo 3 – Caracterização de Escórias de Incineração

Neste capítulo realiza-se uma descrição sucinta do caso de estudo, o método de amostragem

utilizado, bem como a caracterização realizadas em granulometria e composição das amostras

recolhidas.

Capítulo 4 – Recuperação de Vidro de Escórias de Incineração

Este capítulo inicia-se com a realização de um conjunto de ensaios preliminares no equipamento

RecGlass, para determinação da influência das variáveis operacionais na recuperação das espécies

nos produtos de separação. Procede-se seguidamente com realização de um plano factorial de

experiências, com manipulação das variáveis operacionais seleccionadas na fase anterior, com o

intuito de obter uma solução optimizada do sistema. A solução encontrada é por sua vez testada em

ambiente laboratorial para validação de resultados.

Na sequência dos resultados obtidos ao longo do capítulo é realiza-se uma adaptação prática do

estudo efectuado, ao contexto profissional em que a Valorsul se encontra, a fim de obter benefícios

econômicos adicionais, mediante a recuperação de vidro para a indústria recicladora. Apresenta-se

ainda os resultados de um ensaio de retratamento do produto rejeitado.

Capítulo 5 - Conclusões e Trabalho Futuro

Capítulo de carácter conclusivo sobre o trabalho efectuado e onde se propõe uma possível linha de

desenvolvimento para futuros trabalhos.

5

2 ESTADO DA ARTE

6

2.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo descreve-se a situação actual dos resíduos em Portugal, o enquadramento legislativo

associado aos resíduos de embalagem, as vantagens e desvantagens da utilização do vidro tendo em

conta as suas principais especificações e limitações, e ainda o processo de incineração como

processo de gestão de resíduos, os seus produtos e aplicações. Serão efectuadas referências ao

longo do presente texto a estudos anteriores nos quais são determinadas as quantidades de vidro

ocorrente no rejeitado pesado do tratamento mecânico e biológico (TMBr) realizada com recuperação

de vidro e redução de contaminantes e outros com a utilização de escórias de incineração como fonte

de matéria – prima.

2.2 PRODUÇÃO DE RSU EM PORTUGAL

Os resíduos urbanos (RU) definem – se como “ resíduos provenientes de habitações, ou como outros

resíduos que, pela sua natureza ou composição, sejam semelhantes aos resíduos provenientes de

habitações” (Artigo 3º do Decreto-lei 73/2011, de 17 de Junho). Estes assumem especial relevância

no contexto da gestão global dos resíduos por apresentarem características que os distinguem dos

demais resíduos, quer na sua origem, volume de produção, composição ou modelos de gestão

(PERSU2020, 2014).

Em 2012, a quantidade de resíduos urbanos produzidos em Portugal foi de 4,8 milhões de toneladas,

o equivalente a 15% do total de resíduos gerados. Dos resíduos urbanos produzidos, 12% foram

encaminhados para valorização multimaterial, 16% para valorização orgânica, 18% para valorização

energética e os restantes 54% foram directamente encaminhados para aterro (APA, 2013).

Os resíduos urbanos indiferenciados (objecto da recolha selectiva) são constituídos por vários tipos

de materiais e produtos em fim de vida. Das frações que os compõem os materiais biodegradáveis

assumem especial relevância, integrando os materiais putrescíveis, os resíduos verdes, o

papel/cartão e as embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL) que, no seu conjunto,

representam cerca de 55% em peso dos resíduos urbanos. Os resíduos urbanos, são ainda

constituídos por outro tipo de materiais, como plásticos, têxteis, vidro, metais, compósitos, cerâmicos

e igualmente produtos em fim de vida, colocados individamente nos contentores de resíduos

indiferenciados (e.g. REEE, pilhas e acumuladores, etc.) (PERSU2020, 2014).

Uma parte significativa dos resíduos urbanos, pode ser alvo de reutilização e valorização

material e, como tal, ser devolvida à economia como um recurso secundário. Neste âmbito, incluem-

se as frações dos materiais putrescíveis, verdes, vidro, compósitos, madeira, metais, papel e cartão e

plástico que, em 2012, representaram 73,4% dos resíduos urbanos produzidos em Portugal

(PERSU2020, 2014).

7

2.3 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO

A portaria n.º 187-A/2014, de 17 de Setembro, aprovou o Plano Estratégico para os Resíduos

Urbanos para Portugal Continental, referente ao período 2014-2020 (PERSU2020). Este plano é o

novo instrumento de referência da política nacional para os resíduos urbanos, substituindo o anterior,

o PERSU II.

O PERSU2020 foi precedido de avaliação ambiental e estabelece os objectivos, as metas globais e

específicas por Sistema de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU) bem como as medidas a

implementar no quadro dos resíduos urbanos no período de 2014 a 2020. Adicionalmente, define a

estratégia que suporta a respectiva execução, contribuindo para o cumprimento das metas nacionais

e comunitárias nesta temática, em articulação com o projecto de Plano Nacional de Gestão de

Resíduos (PNGR), documento orientador da política nacional de resíduos para o mesmo período de

referência.

Entre as metas globais a atingir até 2020, assumem particular destaque:

Redução mínima na produção de resíduos por habitante de 10% em peso relativamente ao

valor verificado em 2012;

Redução de 63 para 35% na deposição em aterro dos resíduos urbanos biodegradáveis,

relativamente ao primeiro ano de referência (1995);

Aumento de 24 para 50% da taxa de preparação para reciclagem;

Garantir níveis de recolha selectiva de 47 kg/habitante/ano;

Os princípios gerais estabelecidos para o PERSU2020, são concretizados em objectivos que

fundamentam metas e medidas para os resíduos urbanos no período de 2014 e 2020, onde se

destacam:

A prevenção da produção e perigosidade dos RSU;

O aumento da preparação para reutilização, da reciclagem e da qualidade dos recicláveis;

A redução da deposição em aterro;

A valorização económica com o processamento dos materiais recicláveis e de outros

materiais provenientes dos resíduos urbanos.

A Directiva Quadro de Resíduos (Directiva 2008/98/CE), transposta pelo Decreto-Lei Nº73/2011, de

17 de Junho para a legislação nacional, estabelece uma clara hierarquia para a gestão de resíduos,

definindo qual o tipo de tratamento e destino preferencial de modo a minorar os impactos sobre o

ambiente e saúde humana (EU, 2008).

8

A nível europeu, a gestão de embalagens e resíduos de embalagens define que “qualquer

embalagem ou material de embalagem abrangido pela definição de resíduo adoptada na legislação

em vigor aplicável a esta matéria, excluindo-se os resíduos de produção” é regulamentada

actualmente pela Directiva nº 2004/12/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho de 11 de Fevereiro

(Belo, 2013). Nesta foram revistos os objectivos quantitativos de prevenção, valorização e reciclagem

para os resíduos de embalagens nos Estados-Membros (tabela 1).

Tabela 1 - Metas definidas na Directiva 2004/12/CE para a reciclagem de resíduos de embalagem

Resíduos de Embalagens Meta (%)

Madeira 15.0

Metais 50.0

Papel e Cartão 60.0

Plásticos 22.5

Vidro 60.0

Total 55.0

O Despacho n.º 7111/2015, de 29 de junho, define as metas de retoma para os Sistemas de Gestão

de Resíduos Urbanos (SGRU), no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de

Embalagens (SIGRE), regulado pelo Decreto-Lei n.º 366-A/97, de 20 de dezembro (tabela 2)

Tabela 2 - Quantidade mínima necessária para cumprimento das metas de reciclagem de resíduos

Material Colocação no

Mercado (t)

Metas de

Reciclagem (%)

Quantidade mínima para o

cumprimento das metas (t)

Capitação mínima para o cumprimento

das metas (kg/hab/ano)(1)

Madeira 1 125 15 169 0.02

Metal 41 687 50 20 843 1.99

Papel e

Cartão(2) 139 974 60 83 985

8.03

Plástico(3) 140 921 22.5 35 230 3.37

Vidro 355 172 60 213 103 20.38

Global (4) 680 467 55 374 257 35.79

1- Para transformação dessa quantidade em capitação, foi utilizada a informação do INE referente à população média

residente em Portugal no ano de 2013 (10 457 295 habitantes);

2- Inclui todos os tipos de plástico;

3- A ECAL é contabilizada na meta do papel/cartão;

4- O valor global inclui embalagens de outros materiais que não os identificados no Quadro, pelo que os valores desta

linha não coincidem com a soma dos valores das linhas anteriores.

9

Na tabela 3, são projectados dados referentes ao ano de 2011, evidenciando os valores das metas e

quantias de resíduos de embalagem retomados e o respectivo índice de cumprimento (APA, 2013).

Tabela 3 - Resultados dos indicadores referentes a residuos de embalagem e respectivas metas

(Fonte: APA, 2013)

Tipo de Resíduos Quantia Retomada (t) Meta (t) ID - Índice de Cumprimento (%)

Madeira 4525 211 >100

Metais 19 516 43 138 45

Papel e Cartão 110 308 173 158 64

Plástico 47 933 47 314 >100

Vidro 210 422 227 060 93

Total 392 704 490 881 80

Observa-se que Portugal atingiu em 2014 com sucesso as metas propostas para resíduos do tipo

madeira e plásticos; porém, resíduos do tipo papel e cartão, metais e vidro ficaram aquém das metas

estabelecidas. De notar igualmente, que as metas defenidas no Despacho n.º 7111/2015, de 29 de

Junho serem superiores em quantidade, às definidas em 2011. Este pressuposto obrigará à

realização de um conjunto de medidas adicionais de recuperação de vidro, com o intuito de satisfazer

as metas europeias.

2.4 INCINERAÇÃO: MÉTODO DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS

A gestão de resíduos estabelece, como prioridade a prevenção na produção de resíduos, seguida da

reciclagem, valorização e incineração de resíduos e considera a deposição em aterro uma solução de

último recurso (Decreto-Lei Nº 73/2011, de 17 de Junho), definindo Eliminação como “qualquer

operação que não seja de valorização, ainda que se verifique como consequência secundária a

recuperação de substâncias ou de energia”.

É de salientar o incremento dos custos associados à gestão de resíduos com a deposição de

resíduos em aterro, devido à escassez de espaço disponível, à preocupação em relação à

contaminação de águas subterrâneas, às questões relacionadas com a saúde pública e ainda devido

às medidas bastante restritivas da regulamentação europeia (1999/31/EC). Este conjunto de factores,

torna a opção da incineração bastante atraente, como solução na gestão de resíduos, constituindo-

se assim, à data, como a melhor solução para gestão de resíduos em oposição à deposição em

aterro (Coutinho & Mata, 2003).

10

Figura 2 - Modelo de funcionamento de uma instalação de incineração

(Fonte:Slides Unidade Curricular Gestão Tratamento e Valorização de Resíduos)

O processo de incineração consiste na queima de substâncias (com valorização energética e

eliminação de resíduos), ocorrendo numa área fechada, sob condições controladas (Figura 2).

Durante a queima, a câmara de combustão do incinerador é alimentada com resíduos e, à medida

que os resíduos são queimados, uma fracção da sua massa é transformada em gases. Estes gases,

podem atingir temperaturas de tal modo elevadas que são quebradas as ligações entre os compostos

orgânicos aí existentes, separando os seus constituintes elementares. Estes elementos combinam –

se com o oxigénio, formando gases bastante estáveis que, por sua vez, são libertados para a

atmosfera após atravessarem os sistemas de despoluição obrigatórios (Coutinho & Mata, 2003).

Todas as instalações de incineração devem ser concebidas, equipadas, construídas e exploradas de

modo a permitir que os gases resultantes do processo de queima dos resíduos urbanos atinjam uma

temperatura de 850ºC durante, pelo menos, dois segundos. Tratando-se de resíduos perigosos, com

um teor em substâncias orgânicas halogenadas, expresso em cloro, superior a 1%, a temperatura

deve ser elevada a um mínimo de 1100ºC. Estes valores de temperatura deverão ser controlados

num ponto próximo da parede interior da câmara de combustão e garantidos mesmo nas condições

mais desfavoráveis (e.g. maior teor em humidade dos resíduos, menor eficiência das câmaras da

combustão, etc.) (Decreto-Lei 85/2005)

Como forma de garantir as especificações, cada linha da instalação da incineração deverá ser

equipada com pelo menos um queimador auxiliar de forma a que sejam garantidas, em qualquer

circunstância as temperaturas obrigatórias. Estes incineradores deverão estar ligados a um sistema

de arranque automático com injetores de gás natural ou outro combustível que cumpram as

especificações obrigatórias e de forma a impedir que desçam a baixo das temperaturas mínimas de

850ºC e 1100ºc, conforme as circunstâncias (APA, 2013).

11

As instalações de incineração deverão estar equipadas com sistemas automáticos que impeçam a

alimentação de resíduos em quaisquer circunstâncias em que a temperatura desejada não seja

atingida, incluindo os momentos de arranque e paragem. A alimentação de resíduos deverá também

ser evitada sempre que seja excedido qualquer dos Valores Limite de Emissão (VLE) para a

atmosfera, devido a perturbações ou avarias dos dispositivos de gases de escape.

O sistema automático deverá ser construído de tal maneira, que não seja possível voltar a verificar-se

a alimentação de resíduos à câmara de combustão, enquanto a temperatura não volte a atingir os

valores mínimos estipulados (APA, 2013).

Sempre que as condições anteriores se verificam, a incineração assume-se como uma solução

particularmente eficaz para a destruição de resíduos urbanos e na redução do seu volume e peso

(cerca de 90% e 70%, respectivamente). É de igual importância a possibilidade de, através do calor

gerado na combustão de resíduos, se poder produzir energia eléctrica ou se produzir combustível

para processos industriais (Figura 3) (Lam et al, 2010).

Figura 3 - Diagrama funcionamento da Central de Tratamento de Resíduos Urbanos da Valorsul

(Fonte: www.valorsul.pt)

12

Tendo em conta a crescente apreensão provocada pelo aumento de instalações de unidades de

incineração na Europa, a UE introduziu em 2000 a Directiva 2000/76/EC, sobre incineração de

resíduos, de forma a proteger os cidadãos e o ambiente do impacte causado pelo aumento do

número de unidades deste tipo. Esta Directiva regulamenta a operação dos incineradores e co-

incineradores de resíduos e limita os valores de emissão de substâncias específicas.

Esta acção legislativa, pretende proteger os diferentes sistemas (ar, solo, águas superficiais e

subterrâneas) e minimizar os riscos para a saúde pública, resultantes da incineração de resíduos;

implementando e mantendo dentro das condições operacionais restritas, os requisitos técnicos e os

valores limite de emissão destas unidades (Coutinho & Mata, 2003).

As principais vantagens da incineração em detrimento da deposição em aterro passam pela

contribuição para a redução da quantidade de GEE emitidos e correspondente redução do passivo

ambiental (Assamoi & Lawryshyn, 2011). Todavia, os custos associados a esta solução de eliminação

são substancialmente maiores. O processo de incineração pressupõe elevados custos de

investimento, bem como custos operacionais elevados associados a transporte, utilização de gás

natural nas caldeiras, manutenção dispendiosa e utilização de mão-de-obra técnica especializada a

fim de garantir as condições de operacionais pressupostas.

2.5 INCINERAÇÃO: CONTEXTO PORTUGUÊS

A incineração de RU em Portugal é uma realidade presente desde o ínicio do século XXI.

Actualmente, encontram - se em funcionamento duas instalações industriais de grande capacidade

sediadas em Lisboa (Valorsul) e Porto (Lipor) e ainda uma de menor dimensão na Madeira

(Valorambiente).

No passado, a adopção deste tipo de solução para eliminação de resíduos esteve sempre envolta em

polémica, provocando exaltações das populações locais e a discussão entre especialistas e

ambientalistas que, com o apoio dos media através da publicação de notícias dissuadoras, impediam

tentativas de construção deste tipo de instalações. Porém, a sensibilização das povoações, as

manifestações de responsabilidade social e corporativa e a dinamização de especialistas nacionais e

internacionais possibilitaram a mudança de mentalidades e a desmistificação de ideias associadas à

incineração, culminando na sua aceitação (Valorsul, 2014).

Incineração na Lipor: A Lipor (Figura 3), sistema intermunicipalizado de gestão de resíduos do

grande Porto, integra 8 municípios – Porto, Espinho, Gondomar, Valongo, Matosinhos, Maia, Vila do

Conde e Póvoa do Varzim - servindo uma população aproximada de 1 milhão de habitantes e

abrangendo uma área de cerca 650 km2. A instalação de incineração entrou em funcionamento em

Janeiro de 2000 e, em 2014 foram incineradas na Lipor 384 mil toneladas de resíduos urbanos

indiferenciados, o que permitiu a produção de 170 GWh de energia eléctrica (Lipor, 2014).

13

Figura 4 - Instalação de Incineração Lipor (Fonte: www.Lipor.pt)

Incineração na Valorsul: A Valorsul (Figura 5) é o sistema de gestão de resíduos da região de

Lisboa. Integra 19 municípios da Grande Lisboa e região Oeste, servindo uma população de 1.2

milhões de habitantes numa área de cerca de 596 km2. A produção de RU é cerca de 750 000

ton/ano. Entrou em funcionamento em Fevereiro de 2000 e em 2014 foram incineradas na Valorsul

562 mil toneladas de resíduos (Valorsul, 2014).

Figura 5 - Instalação de Incineração Valorsul (Fonte: www.valorsul.pt)

Incineração Valorambiente: A Valorambiente (Figura 6) é o sistema de gestão de resíduos da

região autónoma da Madeira. Este sistema integra os 11 municípios deste arquipélago e serve uma

população de 246 mil habitantes, numa área de 741 km2. A produção global de resíduos urbanos é de

173 000 ton/ano. Em 2013, foram incineradas 97 mil toneladas de resíduos (Valorambiente, 2013).

Figura 6 - Instalação de Incineração Valorambiente (Fonte:www.valorambiente.pt)

14

2.6 PRODUTOS DE INCINERAÇÃO

Como qualquer actividade industrial ou processo de tratamento térmico ou físico-químico, o

tratamento de resíduos urbanos por incineração induz um conjunto de impactes ambientais. Os que

mais se destacam e se assumem como mais penalizantes são os produtos secundários produzidos

pela queima dos resíduos na câmara de combustão, nomeadamente as partículas sólidas existentes

nas cinzas volantes (fly ash) e as escórias (bottom ash).

CINZAS VOLANTES

Os gases de exaustão produzidos pelo processo de combustão são primariamente compostos por

dióxido de carbono, oxigénio, azoto e vapor de água. Dependendo da composição dos resíduos,

estes gases podem também conter constituintes indesejáveis, subprodutos do processo de

combustão, como são os gases ácidos (HCl, HF, SO2 e NOx), dioxinas e furanos, partículas

potencialmente contaminadas com metais condensados (Cd, Hg), compostos orgânicos não voláteis

e produtos da combustão incompleta dos resíduos, como por exemplo, o CO (Coutinho, M., 2003).

Os níveis que estes subprodutos podem atingir são variáveis e sempre dependentes do tipo de

tecnologia específica disponível em cada unidade, dependendo igualmente de outros factores

acessórios, como a composição dos resíduos, o tipo de sistema de incineração e de parâmetros de

operação como a temperatura e velocidade dos gases de exaustão (Coutinho, M., 2003).

ESCÓRIAS DE INCINERAÇÃO

As escórias (Figura 3) consistem num material não-combustível, residual do processo de queima dos

resíduos urbanos. O processo de recolha do material acontece no final da linha da instalação de

incineração pelo que o material se apresenta de forma heterogénea em calibre e composição. Os

constituintes deste material inerte são tipicamente pedras, vidro, porcelana, cerâmica, metais ferrosos

e não-ferrosos e as cinzas dos materiais combustíveis.

Figura 7 - Escórias de Incineração, Valorsul

15

Na Europa, em 2009, existiam um total de 449 instalações de incineração, com produção de energia

eléctrica que, para além do calor e energia, produziram cerca de 16 milhões de toneladas de

escórias. Esta quantidade de material produzido, traduz -se num problema de gestão, devido ao

aumento de custos inerentes ao tratamento, dadas as obrigações de tratamento, transporte e

posterior confinamento ou eliminação. Por estas razões, a solução de deposição final em aterro é

normalmente preferida pela grande maioria dos países (CEWEP, 2009).

Porém, na Europa, existe actualmente uma consciencialização diferente, dada a escassez de

depósitos e massas minerais e os objectivos existentes para a reciclagem e valorização de resíduos.

Assim, reconhece-se um grande potencial nas escórias, como fonte secundária de metais e matérias-

primas, incentivando-se a recuperação das mesmas através do seu tratamento. Vários estudos têm

vindo a ser realizados a partir das mesmas com objectivos de valorização das escórias como material

de agregado para construção (Valle-Zermeño, R. Del., et al, 2012). Os resultados têm sido

interessantes apontando para a utilização deste material em barragens de aterro, constituídas por

materiais inertes, dada a baixa concentração em metais pesados e baixas exigências em

propriedades mecânicas.

Em 2012, um estudo efectuado na Suiça, permitiu aferir quantidades expectáveis de ouro e prata

presente nas escórias de incineração (0.4 ± 0.2 mg/kg e 5.3 ± 0.7 mg/kg, respectivamente). Além

disso, a grande maioria de metais preciosos surge associada a ligas metálicas não-ferrosas, sendo

por isso recuperáveis (Morf et al, 2012).

Em Portugal, à semelhança do que ocorre em outros países desenvolvidos que recorrem à

incineração como solução de gestão de resíduos, procede – se à valorização de metais ferrosos e

metais não-ferrosos a partir de escórias de incineração. A tabela 4 resulta de um conjunto de valores

retirados dos relatórios de contas de 2014 da Lipor e Valorsul, expondo as quantidades totais de

escórias produzidas e processadas com respectiva concentração de metais ferrosos e não-ferrosos.

Tabela 4 – Quatidade de produtos obtidos a partir de escórias da Lipor e Valorsul

(Fonte: Valorsul, 2014 e Lipor, 2014)

Empresa Material Quantidade Processada (t)

2012 2013 2014

Lipor Escórias 73620 74812 67465

Metais Ferrosos 5667 5535 4750

ValorSul

Escórias 98595 122852 101428

Metais Ferrosos 2393 2849 2591

Metais Não-Ferrosos 719 980 725

16

Estudos desenvolvidos numa instalação de incineração dinamarquesa apontam para eficiências de

recuperação para metais ferrosos e não-ferrosos de 85 e 61% mediante a utilização de separadores

magnéticos e separadores electromagnéticos por correntes de Foucault. É registado também um

potencial para a recuperação de terras-raras, porém, à data, existe falta de opções tecnológicas para

o desenvolvimento do processo (Allegrini et al, 2014).

Na actualidade, apesar dos estudos desenvolvidos, o destino final dado à fracção não-metálica das

escórias de incineração passa pela deposição em aterro ou utilização do seu material inerte como

cobertura, perdendo assim todo o potencial de valorização dos seus materiais constituintes.

2.7 RECUPERAÇÃO E RECICLAGEM VIDRO

O vidro é um material não-poroso que se obtem a partir da fusão completa de minerais a 1540ºC.

Este material pode resistir até temperaturas de 150ºC sem se deformar, sendo assim quase

infinitamente reciclável. Clarificando a questão, todas as embalagens de vidro, mesmo que

fragmentadas poderão ser transformadas em novos produtos apresentando sempre condições de

segurança para o armazenamento. A recuperação de vidro constitui uma enorme vantagem uma vez

que, no decorrer do processo de reciclagem, não existem alterações à sua qualidade. Deve-se ainda

salientar a importância da reciclagem de vidro para a redução do consumo de matérias-primas e

energia na obtenção de novos produtos.

A produção de vidro ocorre de 2 maneiras: a partir de matérias-primas ou com fundição de casco

como material de substituição. A segunda opção permite uma poupança de energia significativa (1%

por cada 4% de casco usado) e requer menor quantidade de matérias-primas (1 tonelada de casco

em oposição a 1.2 toneladas de novos materiais).

No entanto alguns desafios são apresentados na reciclagem do vidro: a separação dos diferentes

tipos de vidro e a separação dos contaminantes existentes. As duas situações poderão conduzir a um

aumento no consumo energético (no processo de fundição), danos no forno, culminando na produção

de peças de má qualidade) (FEVE, 2012).

A indústria vidreira requer casco “pronto-para-forno” como matéria-prima de substituição na produção

de embalagens de vidro, como fragmentos livres de contaminantes (cerâmicas, porcelana chinesa,

pedras, plásticos ou matéria orgânica). Assim, para o processo de reciclagem ocorrer, existe a

necessidade de aplicar processos de remoção dos contaminantes existentes e ainda de operações

acessórias que garantam a granulometria necessária à eficiência dos equipamentos ópticos usados

na descontaminação do vidro (FEVE, 2012).

17

Na figura 8 são apresentadas as principais operações, usadas na remoção de contaminantes, com

intuito de evitar danos nos equipamentos e garantir qualidade no produto final de vidro (Vidrociclo,

2011):

Recepção do casco nas instalações;

Pré-selecção manual (1);

Classificação granulométrica (1);

Separação magnética (2);

Aspiração dos contaminantes leves (3);

Separação por correntes de Foucault, de elementos métalicos não-magnéticos (3);

Triagem óptica de elementos contaminantes não-transparentes (4);

Controlo de qualidade (5).

Figura 8 - Instalação de processamento e descontaminação de vidro (Fonte: http://www.bra.org)

Em Portugal existe um conjunto de especificações técnicas, fundamentais para a retoma de

resíduos de embalagem de vidro de embalagem provenientes da recolha selectiva com vista à

sua aceitação para posterior reciclagem. Na tabela 5 estão expressas as especificações

determinadas pelo Regulamento N.º1179/2012 da Comissão Europeia, a fim de poder ser

designado como matéria-prima secundária, bem como as especificações da SPV para a retoma

de casco de vidro em Portugal.

Tabela 5 - Especificações técnicas para a retoma de resíduos de embalagem de vidro, para a indústria vidreira e retomadores ( Fonte: Regulamento Nº.1179/2013 da Comissão Europeia e SPV, 2012)

Contaminantes Indústria Vidreira Retomadores de Vidro

Teor (%) Teor (%)

Infusíveis por casco de vidro:

> 1 mm 0,01 -

≤ 1 mm 0,15 -

≤ 40 mm - ≤ 0,05

> 40 mm - ≤ 0,5

Metais Ferrosos 0,005 ≤ 0,75

Metais Não-Ferrosos 0,006 ≤ 0,2

Matéria Orgânica 0,200 ≤ 0,5

18

No que diz respeito aos contaminantes, as limitações de formulação dependem da proveniência pelo

que não são aceites os vidros provenientes de instalações hospitalares, de laboratórios de análises

clínicas ou de qualquer outra instituição do sector da saúde. Para além disso, não são aceites vidros

especiais, nomeadamente vidros aramados, os materiais cerâmicos, os plastificados, os

vitrocerâmicos, os pirex, os que incluam cristais de chumbo, o vidro opala, os vidros corados, os

vidros não-transparentes, os espelhos, as lâmpadas, os ecrâs de TV/PC e ainda os vidros de pára-

brisa. Ainda assim, além dos limites de cada grupo, o teor de outros contaminantes ou produtos

indesejados nunca poderá ser superior a 2% (SPV, 2012).

2.8 POTENCIAL PARA RECUPERAÇÃO DE VIDRO, A PARTIR DE RU

A tabela 6 expõe a caracterização realizada na central de tratamento de resíduos sólidos urbanos

(CTRSU) da Valorsul, para o ano de 2014, clarificando a distribuição por composição dos materiais

de alimentação da incineradora da empresa. A categoria de “Bio – Resíduos” com grande

percentagem de matéria orgânica assume maiores teores em peso (38.47%), seguido da categoria

“Papel e Cartão” (16.42%) e “Plásticos” (12.03%).

Tabela 6 - Caracterização física dos resíduos admitidos na CTRSU no ano 2014, Fonte: Valorsul

Categorida de Resíduos % em Peso

Bio - Resíduos 38.47

Papel e Cartão 16.42

Plásticos 12.03

Vidro 4.62

Têxteis 3.47

Compósitos 3.03

Metais 1.79

Madeiras 0.48

Resíduos Perigosos 0.12

Outros 1.56

A categoria de resíduos “vidro”, objecto do presente trabalho apresenta grande relevância sendo que

o teor médio de vidro assinalado toma o valor 4.62%.

Na tabela 7 poderá observar-se a análise de dados retirados dos relatórios de contas de 2014 das

empresas Lipor e Valorsul, da quantidade de RSU indiferenciados processados bem como uma

estimativa da quantidade de vidro. Não sendo conhecida a caracterização de RSU da Lipor, calculou-

se a quantidade de vidro com base no teor em vidro da alimentação da CTRSU da Valorsul,

assumindo que ambas as instalações têm o mesmo teor em vidro, referido na tabela 6.

19

Tabela 7 - Quantidade de RSU indiferenciados presentes nas instalações da Lipor e Valorsul e vidro expectável (Fonte: Lipor e Valorsul, 2014)

Resíduos Incinerados (t) Vidro Expectável (t)

Lipor Valorsul Lipor Valorsul

347 173 562 000 16 039 25 964

Total 909 173 42003

Assim é estimado para o ano de 2014 um valor total de 42 003 toneladas de vidro foi depositado em

aterro com a perda do seu valor enquanto material.

A tabela 8 apresenta as conclusões de um estudo realizado por Máximo (2012) com a recuperação

de vidro estimada a partir do rejeitado pesado de TMB e dados da quantidade de vidro reciclado em

2011. São também apresentados os valores das metas de reciclagem de vidro definidos no Despacho

n.º 7111/2015, de 29 de Junho e quantidade de vidro expectável, presente nas escórias de

incineração (ver tabela7). Com recuperação do vidro presente nas escórias e do rejeitadao pesado de

TMB será possível atingir as metas europeias definidas.

Tabela 8 - Quantidades retomadas, metas e índice de cumprimento, para reciclagem de vidro

(Fonte: Máximo et al, 2012)

Tipo de Instalação Quantia Retomada (t) Meta (t) ID - Índice de Cumprimento (%)

Recolha Selectiva 210 422 - -

TMBr 16 772 - -

Escórias de Incineração 42 003 - -

Total 269 197 227 060 >100

20

2.9 RECUPERAÇÃO DE VIDRO A PARTIR DE RESÍDUOS INDIFERENCIADOS

O RecGlas (Dias, 2011) é um equipamento de separação de materiais através da forma das

partículas inspirado na “vanner” que é utilizada no processamento de minérios por via húm ida, para

tratamento de areias com o intuito de separar minerais pesados dos leves de granulometrias finas.

O RecGlass é utilizado na concentração por forma das partículas de vidro e eliminação de pedras, por

via seca, sendo alimentado superiormente por um alimentador vibratório, de um caudal contínuo. A

posição do alimentador a meio da tela sendo possível ajustes horizontais e verticais.

O RecGlass (figura 9) é constituído por uma tela inclinada sem fim que se move no sentido

ascendente com velocidade e inclinação variáveis (variáveis operacionais). As variáveis podem ser

ajustadas de acordo com as características de alimentação, calibre e composição do material. A tela

poderá ainda ser constituída por diferentes materiais de modo a que se obtenha um elevado

coeficiente de atrito entre a tela e as partículas constituintes da alimentação.

Figura 9 - Equipamento RecGlass (Fonte: Belo, 2013)

A tabela 9 mostra as varíaveis tomadas constantes e manipuladas nos ensaios laboratoriais.

Tabela 9- Variáveis operacionais equipamento RecGlass

Variáveis

Operacionais

Constantes

Composição da alimentação

Calibre da alimentação

Velocidade do alimentador

Manipuladas

Altura de queda (Alt - cm)

Ângulo de inclinação da tela (Inc - º)

Velocidade da tela (Vel – cm/s)

Deslocamento Horizontal (Desl - cm)

21

Em 2011, Dias, utilizando uma amostra de rejeitado pesado proveniente da instalação de TMB da

“TRATOLIXO”, realizou ensaios com diferentes condições operacionais (velocidade da tela, caudal da

alimentação, altura e posição horizontal do alimentador e inclinação da tela). O tratamento dos

resultados obtidos permitiu concluir que a velocidade da tela não influencia significativamente a

recuperação de materiais nos produtos de separação e que o aumento da amplitude do movimento

vibratório do alimentador potencia a acumulação de material à saída do alimentador prejudicando

assim a eficiência do processo de separação.

Relativamente à altura do alimentador obteve uma altura de queda 16 cm para o ângulo 21º, 15 cm

para o ângulo de 18º e 14 cm para o ângulo de 16º. Concluiu que se obtem uma maior remoção de

pedras para partículas de menor calibre e que o ângulo de 21º apresenta maior remoção pedras.

Através deste equipamento foi então possível aumentar o teor de vidro de 88.4% para 92.4%, tendo-

se removido 60% das pedras (principal contaminante) (Dias, 2011).

Em 2013, Belo à semelhança de Dias e utilizando um conjunto de amostras de rejeitado pesado

provenientes de 5 instalações diferentes de TMB (AMARSUL, RESISTRELA, SULDOURO, VALNOR

e VALORLIS), realizou ensaios com o intuito de obter um produto concentrado rico em vidro. As

variáveis operacionais utilizadas foram o ângulo de inclinação e o material da superfície da tela. O

RecGlass mostrou eficiência na remoção das pedras independentemente da origem da amostra com

remoção no mínimo aproximadamente de 80% das pedras e recuperação de 85% do vidro (Belo,

2013).

Em 2013, Belo, relativamente a um conjunto de amostras de diferentes instalações de TMB, conclui

igualmente que a recuperação de vidro e pedras é influenciada pelo ângulo de inclinação da tela. À

medida que o ângulo de inclinação aumenta, recuperam-se menores quantidades das duas espécies

no produto concentrado, sendo a diminuição mais acentuada na espécie pedras.

22

23

3 CARACTERIZAÇÃO

DE ESCÓRIAS DE INCINERAÇÃO

24

3.1 INTRODUÇÃO

O capítulo inicia-se com a descrição do caso de estudo Valorsul e da sua instalação de tratamento e

valorização de escórias (ITVE), onde foram recolhidas as amostras utilizadas na realização da

presente dissertação. Apresenta-se igualmente, o diagrama de processamento da ITVE.

Seguidamente introduz-se o tema da amostragem para justificar o método de amostragem e

dimensões da amostra recolhida. Finalmente, apresentam-se as características da amostra em

termos de distribuição granulométrica e composição (Jardim et all, 2015).

3.2 INSTALAÇÃO DA VALORSUL

A Valorsul - Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos das Regiões de Lisboa e do Oeste, S.A. é

a empresa responsável pelo tratamento e valorização de cerca de 950 mil toneladas de resíduos

urbanos produzidos, por ano, em 19 Municípios da Grande Lisboa e da Região Oeste. A sua área de

intervenção corresponde a menos de 4% da área total do país valorizando no entanto, mais de um

quinto de todo o lixo doméstico produzido em Portugal (Valorsul, 2015).

A Valorsul dispõe desde Novembro de 2000 de uma instalação de tratamento e valorização de

escórias (figura 10) inserida na unidade do Aterro Sanitário de Mato da Cruz ocupando uma área de

2.8 hectares com capacidade de 200 000 toneladas por ano. Nesta instalaçefectua-se o processo de

maturação das escórias resultantes da incineração na central de tratamento de RSU e extracção de

metais ferrosos e não-ferrosos. Dados de 2015 sugerem uma recuperação total dos metais ferrosos e

de 70% dos metais não-ferrosos contidos nas escórias (Valorsul, 2015).

Figura 10 – Instalação de tratamento e valorização de escórias, e detalhe separador magnético

As escórias de incineração são transportadas de camião desde a unidade de incineração até ao

aterro sanitário do Mato da Cruz (ASMC) sendo posteriormente dispostas mensalmente, sob a forma

de pilhas para maturação da matéria orgânica remanescente (Figura 11).

25

Figura 11 - Pilhas mensais de escórias de incineração (a), com detalhe (b)

As escórias de incineração são inicialmente despejadas na tremonha que tem um crivo com malha de

250 mm para retirar os materiais mais volumosos com recurso a uma pá carregadora frontal. De

seguida, o material é transportado por uma correia transportadora até um crivo rotativo de malha

variável (10 e 30 mm), onde se procede à separação do material em três fracções de calibre diferente

(+30mm; -30,+10 mm e -10mm). Os produtos gerados de fracções granulométricas superiores

(+30mm e -30,+10 mm) são alvo de uma valorização mediante passagem por separadores

magnéticos e separadores não-magnéticos com posterior encaminhamento dos materiais recolhidos

para reciclagem. Por outro lado, a fracção de granulometria inferior a 10 mm é recolhida e

armazenada em novas pilhas de escórias de incineração, para valorização como material inerte ou

utilização como cobertura.

A figura 12 apresenta o diagrama de funcionamento da ITVE, descrito para processamento das

escórias de incineração e concentração de metais ferrosos e metais não-ferrosos.

Figura 12 - Diagrama Processamento de Escórias na ITVE, Valorsul (Fonte: Valorsul, 2015)

26

A Valorsul obteve acreditação pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) após estudo realizado

pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para utilização do material obtido para

valorização em obras de terraplanagem (aterros e leitos de pavimento) em camadas de sub-base de

estradas e como material de enchimento para a recuperação paisagística de pedreiras ou minas a

céu aberto – cumprimento das normas NP EN 933-11/2011 e NP EN 13242/2002 + A1 – 2010.

Na presente dissertação, o produto alvo de recolha amostral é o produto referido na figura 12 como

produto de “Escórias tratas”, ou seja um produto de calibre inferior a 30 mm. O produto amostrado

está realçado com um círculo, ver figura 12.

27

3.3 AMOSTRAGEM A GRANEL

Amostragem é a operação pela qual se retira uma certa fracção de um dado lote, sendo a amostra

representativa deste, sem lhe alterar as características. Esta fracção destina-se a avaliar uma

propriedade quantitativa ou qualitativa média do lote – volume, massa, teor, humidade, proporção de

certa glasse granulométrica, etc.

Para que uma amostra seja representativa do lote, é exigido que cumpra duas qualidades:

a) Correcção: uma amostra é correcta quando assegura a todos os fragmentos do lote a mesma

probabilidade de serem escolhidos. É assegurada por amostragem sistemática, aleatória

estratificada ou aleatória pura;

b) Justa (ou não enviezada): uma amostra é justa quando a média da distribuição da qualidade

(teor, por ex.), que é uma variável aleatória, é igual ao teor real do lote ( ou tende para ele).

É assegurada por caudal constante (ou homogenização perfeita) e por uma lei aleatória

designação de instantes de amostragem.

Quando uma destas condições não é verificada, introduzem – se erros na amostragem, que poderão

falsear os seus resultados. Estes erros podem ser erros na concepção da amostragem ou na sua

execução (operatórios) (Cortez & Durão, 1982).

A equação 1 representa a expressão da variância do erro de amostragem:

𝝈𝟐 =𝒇𝝆𝒅𝜶

𝟑

𝑴(

𝟏

𝒎𝜶+ 𝒈 − 𝟐) (1)

Sendo:

σ2: variância do erro fundamental cometido na amostragem da fracção granulométrica;

f: parâmetro de forma das partículas;

ρ: densidade (massa volúmica) média das partículas do lote;

dα: calibre médio dos fragmentos da classe;

M: massa da amostra

m: proporção estimada da classe

g: parâmetro relacionado com a distribuição granulométrica

28

A massa da amostra (M) obtem-se através da equação 2 que se obtem a partir da equação 1.

𝑴 = 𝒍𝒇𝒈𝒅𝜶

𝟑𝑪

𝝈𝟐

com

𝑪 = 𝟏−𝒂

𝒂((𝟏 − 𝒂) × 𝝆𝒎 + 𝒂 × 𝝆𝒈) (2)

Em que “a” é o erro admitido para o teor da espécie a amostra.

A tabela 10 expressa os valores dos diferentes parâmetros tomados de acordo com as referências

bibliográficas de Cortez & Durão (1982) e os dados recolhidos por Dias (2011) para a densidade dos

materais da espécie vidro e pedras. Foi admitido um nível de confiança de 95%:

Tabela 10 - Parâmetros de cálculo para massa da amostra a colher

σ2 f g l dα

3 (cm

3)

3.83E-05 0.5 0.25 0.4 1.12

A solução da equação 2 M = 6792 g. Sendo que terão de ser recolhidos no mínimo 6.792 kg de

amostra para se obter o nível de representatividade desejado.

Com o intuito de verificar a existência de variabilidade mensal na composição das escórias de

incineração, duplicou-se a quantidade tida como necessária de se tomar, num total de 14 kg. As

tomas das 4 sub-amostras foram divididas por duas pilhas formadas nos meses de Fevereiro e Março

2015, tendo-se realizado duas tomas de cada uma das pilhas.

29

3.4 RECOLHA DA AMOSTRA DA VALORSUL

O processo de recolha da amostra foi realizado segundo a NP 932 -1/ 2002, para ensaios gerais dos

agregados em linha (método de amostragem), tendo-se procedido com a recolha do material de

escórias de incineração à saída da correia transportadora final da ITVE, antes da queda do material

na pilha (material destinado “Armazenamento”), dado que permite recolher a totalidade das fracções

granulométricas.

A recolha das 4 amostras ocorreu nos dias 27 e 29 de Abril, 2 e 4 de Maio das pilhas referentes aos

meses de Fevereiro 2015 (2 amostras) e Março de 2015 (2 amostras).

A metodologia aplicada inicia-se com a toma de material pela pá carregadora frontal na boca da

correia transportadora, por períodos de 10 segundos, a cada 10 minutos, durante uma hora,

procedendo-se de seguida à recolha da totalidade do material sendo despejado em local cimentado

limpo.

A nova pilha de escórias formada é carregada manualmente com o auxílio de uma pá para um divisor

Jones com o intuito de se obter uma divisão da totalidade da amostra que respeite as suas

características (figura 13).

Em cada uma das recolhas realizadas foi retirado um testemunho, de massa superior a 3 kg para

análise posterior. As quatro recolhas amostrais somam um total de 480 kg de escórias de incineração

tendo – se deixado um testemunho de igual massa nas instalações do Aterro de Mato da Cruz .

Figura 13 – Sequência da recolha de amostras (a- recolha; b - divisão)

30

3.5 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DA VALORSUL

A caracterização foi realizada em termos de distribuição granulométrica e composição. As amostras

caracterizadas foram as sub-amostras referidas anteriormente, provenientes das instalações do aterro

sanitário de Mato da Cruz e processadas no laboratório do CERENA no IST.

EQUIPAMENTO UTILIZADO

De forma a caracterizar as escórias de incineração foram utilizados os seguintes equipamentos:

Divisor Jones;

Crivo mecânico (marca – Fritsh, modelo Analisete)

Malha de crivo do tipo quadrado (Série DIN 4188 com aberturas: 22.4, 16.0, 11.2, 8.0, 5.6,

4.0, 2.8, 2.0, 1.4 e 0.7 mm);

Balança Digital com resolução de 0.1g

Estufa (marca Memmert);

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

O procedimento utilizado neste estudo para a caracterização das escórias de incineração foi o

seguinte:

I. Preparação das amostras. Homogeneização cuidadosa da amostra, para evitar fragmentação

das partículas, por revolvimento com ajuda de uma pá. Nesta etapa a amostra foi pesada e

dividida em fracções menores com o auxílio de um divisor Jones;

II. Secagem da amostra realizada numa estufa a 70ºC por 24 horas para eliminação da

humidade existente;

III. Crivagem das amostras e pesagem das diferentes fracções granulométricas;

IV. Análise granulométrica;

V. Análise de composição, das fracções granulométricas supra 4 mm – A caracterização da

composição é manual nos 9 materiais principais constituintes da amostra (vidro, pedras,

pedras com vidros fundidos, cerâmicos, metais ferrosos, plástico, papel e cartão, outros e

cinzas de incineração).

Foram realizadas análises granulométricas de 4 testemunhos da ITVE. Para avaliar a correcção da

amostragem a caracterização das 4 sub-amostras realizou-se separadamente.

31

3.6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

Os resultados de pesagem das fracções granulométricas podem ser vistos no ANEXO A.

A tabela 11 mostra a distribuição granulométrica simples e cumulativa de cada um das 4 sub-

amostras.

Tabela 11 - Distribuição granulométrica simples e acumulada de quatro sub-amostras representativas das

escórias de incineração, da Valorsul

Fracção

Granulométrica

(mm)

Sub-amostra 1 Sub-amostra 2 Sub-amostra 3 Sub-amostra 4

% em

peso

% passante

acumulada

% em

peso

% passante

acumulada

% em

peso

% passante

acumulada

% em

peso

% passante

acumulada

+22.4 2.00 100.00 0.10 100.00 0.47 100.00 1.03 100.00

-22.4, +16.0 4.47 98.00 1.55 99.90 3.05 99.53 6.51 98.97

-16.0, +11.2 8.35 93.52 5.06 98.35 5.00 96.48 7.78 92.46

-11.2, +8.0 12.69 85.18 10.46 93.28 11.70 91.48 14.35 84.68

-8.0, +5.6 20.79 72.49 19.33 82.82 19.16 79.78 18.53 70.33

-5.6, +4.0 4.13 51.70 7.67 63.48 6.97 60.62 6.34 51.79

-4.0, +2.8 6.05 47.57 8.84 55.81 9.51 53.65 7.56 45.45

-2.8, +1.4 7.62 41.52 9.67 46.97 8.14 44.14 7.92 37.89

-1.4, +0.7 5.14 33.89 5.81 37.30 4.94 36.01 4.81 29.96

-0.7 28.75 28.75 31.49 31.49 31.07 31.07 25.15 25.15

TOTAL 100.00 100.00 100.00 100.00

A figura 14 mostra as curvas cumulativas inferiores e desvio padrão dos diferentes testemunhos das

sub-amostras retiradas da ITVE da Valorsul.

Figura 14 - Curva cumulativa inferior da distribuição granulométric

0

20

40

60

80

100

1,00 10,00% p

assa

nte

acu

mu

lad

a

Calibre das partículas (mm)

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Amostra 4

Desvio Padrão

32

A figura 15 apresenta a frequência simples, para as 4 sub-amostras.

Figura 15 - Frequência simples, por fracção granulométrica das 4 sub-amostras

Da análise das figuras 14 e 15 observa-se que as sub-amostras têm distribuições granulométricas

similares, sendo o desvio padrão relativo muito baixo, inferior a 5%. Mais de 50% das sub-amostras

têm calibre superior a 4mm. As fracções mais frequentadas em cada amostra são a fracção mais fina

(-700 µm) que corresponde a 15% da amostra e a fracção intermédia -8.0, +5.6 mm que concentra

cerca de 20% da amostra.

ANÁLISE DE COMPOSIÇÃO

Na realização da análise de composição categorizou-se os constituintes principais de cada amostra

nos seus 9 componentes - vidro, pedras, pedras com vidros fundidos, cerâmicos, metais ferrosos,

plástico, papel e cartão, outros e cinzas de incineração.

Na figura 16 estão apresentados os resultados da análise de composição da sub-amostra 1 dado que

as 4 sub-amostras apresentam distribuições de composição semelhantes. Os restantes resultados

das análises de composição, são apresentados no ANEXO B.

Nesta análise, a fracção infra 4 mm foi classificada como “cinzas” por ser composta principalmente

por cinzas de incineração dos materiais combustíveis e fragmentos de granulometria reduzida,

dificilmente caracterizáveis visualmente. Na fracção “outros” foram introduzidas todas as partículas

constituídas por componentes distintas às referidas acima (como ossos, elementos têxteis, etc.).

0,00

20,00

40,00

1,00 10,00

% P

eso

Calibre das partículas (mm)

sub-amostra 1

sub-amostra 2

sub-amostra 3

sub-amostra 4

33

.

Figura 16 - Composição global sub-amostra 1

Asub-amostra 1 apresenta teores consideráveis em cinzas (48%), vidro (24%) e pedras (15%) e um

teor relevante em metais ferrosos (4%), para as fracções caracterizadas. Os restantes teores de

cerámicos, papel e cartão, plásticos leves são tidos como baixos. Por comparação com os dados da

tabela 6 verifica-se um aumento significativo do teor em vidro (4.62% para 24%) e pedras (onde a

espécie pedras se inicialmente inclui na fracção “outros” com valor de 1.56%, para 15 % de pedras na

presente caracterização).

A tabela 12 e figura 17 mostram a distribuição dos materiais por fracção granulométrica da sub-

amostra 1, para as fracções de calibre superior a 5.6 mm. Distribuições semelhantes se obtiveram

para as restantes amostras pelo que os respectivos gráficos se encontram no ANEXO B.

Tabela 12 – Distribuição de materiais na sub-amostra1, por fracção granulométrica

Fracção Granulométrica

(mm)

t.Vidro (%)

t.Met.Fer (%)

t.Pedras (%)

t.Vidro/Pedras Fund. (%)

t.Cerâmicos (%)

t.Plásticos Leves (%)

t.Papéis/Cartão (%)

t.Outros (%)

Total (%)

-5.6, +4.0 41,38 11,49 43,68 0 2,87 0 0,57 0 100

-8.0, +5.6 55,47 6,99 35,29 0 1,8 0 0,45 0 100

-11.2, +8.0 52,27 7,36 23,84 10,83 4,75 0 0,94 0 100

-16.0, +11.2 49,52 8,09 12,54 11,13 13,35 1,45 2,6 1,34 100

-22.4, +16.0 4,56 11,16 14,23 30,5 39,35 0 0,2 0 100

+22.4 0 13,04 30,52 17,33 21,93 2,45 12,12 2,61 100

24%

4% 15%

4% 4%

0%

1%

0%

48%

Vidro (g)

Metais Ferrosos (g)

Pedras (g)

Vidro/Pedras Fund. (g)

Cerâmicas (g)

Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g)

Outros (g)

Cinzas (g)

34

Figura 17 - Caracterização por fracção granulométrica, sub-amostra 1

A tabela 12 e figura 17 mostram que o vidro é o principal componente das escórias de incineração em

todas as fracções granulométricas à excepção da mais fina e das duas primeiras. As pedras são o

segundo componente mais frequente, nas fracções mais finas e os cerâmicos nas fracções mais

grosseiras. Os teores dos restantes materiais são pouco significantes à excepção do papel e cartão

que atingem um teor de 12% na fracção mais grosseira.

A interpretação da figura 17 sugere uma distribuição de vidro irregular pelas diferentes fracções

granulométricas com concentração nas fracções -16.0, +4.0. Esta distribuição poderá ser justificada

pela fragmentação do mesmo durante o seu processamento, desde a recolha até ao processamento

na unidade da ITVE.

De salientar igualmente a distribuição uniforme dos metais ferrosos pelas fracções granulométricas

com teor entre 7 e 13 % aproximadamente. A existência de partículas deste material poderá ser

justificada por três motivos: o produto infra 10 mm não é alvo de separação magnética, o calibre das

partículas de metais ferrosos e distância do separador magnético à correia transportadora e à

ineficiência dos separadores.

A figura 18 mostra a distribuição da espécie vidro por fracção granulométrica para as sub-amostras

estudadas, verifica-se uma concentração de vidro nas fracções -8.0,+5.6 e -11.2, +8.0. Mais de 70%

do vidro tem calibre entre 5.6 e 11.2 mm.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

-5.6,+4.0

-8.0,+5.6

-11.2,+8.0

-16.0,+11.2

-22.4,+16.0 +22.4

11,49 6,99 7,36 8,09 11,16 13,04

41,38

55,47 52,27 49,52

4,56 0,00

% e

m P

eso

Fracção granulométrica (mm)

t.Plásticos Leves (%)

t.Papéis/Cartão (%)

t.Outros (%)

t.Met.Fer (%)

t.Cerâmicos (%)

t.Pedras (%)

t.Vidro (%)

35

Figura 18 - Distribuição de vidro por fracção granulométrica

Por outro lado, observando a distribuição de pedras por fracção granulométrica (figura 19),observa-se

que há concentrações maiores de pedras nas fracções granulométricas menores -11.2 Mais de 85%

das pedras têm calibre inferior a 11.2 mm.

Figura 19 - Distribuição de pedras por fracção granulométrica

Em 2011, Dias efectuou um estudo de composição para o rejeitado pesado de TMB, sendo que foi

verificado que o TMBr é constituído em média por 79% de vidro de embalagem, apresentando

também uma alta percentagem de materiais inertes como pedras, vidro não embalagem, cerâmica

(aproximadamente 15 %). Por comparação, o produto escórias de incineração apresenta um teor em

vidro substancialmente inferior (24%) com alta percentagem de materiais inertes, pedras, cerâmicas,

metais ferrosos e cinzas (mais de 70%).

0,85 1,65 3,29 6,99 16,85

6,51 8,06 12,74

27,33

28,37 28,04

33,88

47,88

46,83 45,93

36,11

7,10 16,64 14,68 10,27

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sub-amostra 1 Sub-amostra 2 Sub-amostra 3 Sub-amostra 4

% P

eso

-5.6, +4.0

-8.0, +5.6

-11.2, +8.0

-16.0, +11.2

-22.4, +16.0

+22.4

4,20 0,00 5,27 5,08 4,41

1,48

7,69 4,00 7,13

3,58

8,49 6,62

20,84

15,25

16,22 15,75

50,91

52,86

42,87 49,99

12,52

26,83 19,46 18,55

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Sub-amostra 1 Sub-amostra 2 Sub-amostra 3 Sub-amostra 4

% P

eso

-5.6, +4.0

-8.0, +5.6

-11.2, +8.0

-16.0, +11.2

-22.4, +16.0

+22.4

36

3.7 CONCLUSÃO CAPÍTULO 3

As curvas de cumulativas inferiores da distribuição granulométrica evidenciam uma maior

concentração em peso nas fracções granulométricas -8.0, +5.6 e -11.2, +8.0 para as 4 sub-amostras

recolhidas. Mais de 50% das sub-amostras têm calibre superior a 4mm. As fracções mais

frequentadas em cada amostra são a fracção mais fina (-700 µm) que corresponde a 15% da amostra

e a fracção intermédia -8.0, +5.6 mm que concentra cerca de 20% da amostra.

Os resultados das diferentes análises realizadas expõem um grande potencial de recuperação de

vidro tendo em conta que existe um teor de vidro significativo com maiores concentrações superiores

a 70% do mesmo nas fracções -8.0, +5.6 e -11.2, +8.0. O maior contaminante em peso são as

pedras, que se concentram nas mesmas fracções granulométricas (em cerca de 85%).

Refere-se ainda que não foi verificada uma variabilidade mensal na composição ou granulometria dos

testemunhos recolhidos para os meses de Fevereiro e Março de 2015.

37

4 RECUPERAÇÃO DE VIDRO DE

ESCÓRIAS INCINERAÇÃO

38

4.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo descreve-se o processamento laboratorial das amostras recolhidas. A selecção da

amostra realizou-se através de crivagem nos Laboratórios de Construção (LC -Departamento de Civil,

IST) e a divisão e processamento nos Laboratórios do CERENA (IST). Todos os ensaios

experimentais ocorreram segundo uma ordem aleatória com o propósito de garantir a independência

das observações e respectivos erros.

Os ensaios preliminares realizados iniciaram-se com a realização de um primeiro ensaio com as

quatro variáveis operacionais reguladas segundo o trabalho realizado por Dias(2011) e Belo (2013) a

um valor médio. Nos ensaios posteriores realizou-se com as variáveis reguladas com um valor acima

e abaixo do primeiro ensaio, tendo o procedimento sido repetido três vezes. A partir de agora e, no

presente texto, o ensaio primário será referido como “ensaio padrão”.

O plano factorial de experiências é uma técnica de planeamento de experiências que se define

através de um plano estruturado de ensaios com recurso a um conjunto de critérios estatísticos

devidamente orientados para o objectivo de a determinar (Fisher, 1935). Pretende-se avaliar o efeito

das variáveis operacionais e das suas interacções nos resultados do sistema ou processo.

O tratamento estatístico baseia-se na análise de variância (ANOVA) que permite quantificar o efeito

das variáveis e/ou interacções identificando ainda quais as variáveis que afectam significativamente

as respostas. Por fim, o plano de experiências permite definir a melhor combinação dos níveis das

variáveis que conduzem à optimização dos objectivos pré-estabelecidos (S. I., 2013).

Posteriormente, procedeu-se com a realização de um plano factorial de experiências com avaliação

da variância e contribuição das variáveis operacionais a fim de se determinar uma solução óptima de

recuperação de vidro no equipamento Recglass. No conjunto de ensaios realizados utilizou-se uma

metodologia baseada no procedimento adoptado por Ferreira (2014) na dissertação para a obtenção

do grau de mestre em Engenharia Geológica e de Minas, com o tema “Recuperação de Metais

Provenientes de Resíduos”.

O plano factorial de experiências foi conduzido em 4 fases. Numa primeira fase foi delineadoo plano

factorial de dois níveis. Seguidamente foi aplicado uma metodologia de superfície de resposta com

introdução dos 19 ensaios. As respostas seleccionadas foram a recuperação de vidro e pedras no

produto concentrado, uma vez que se pretende concentrar a espécie vidro e a espécie pedras se

assume como o principal contaminante do produto concentrado.

Foi ainda realizada uma análise estatística (ANOVA - fase3) e foram usados dois modelos

(recuperação de vidro e pedras no produto concentrado) para determinar os parâmetros operacionais

39

associados ao ponto óptimo (definidos como a recuperação máxima de vidro e menor recuperação de

pedras). Por fim realizaram-se dois ensaios de validação da solução de optimização (fase 4).

Após cada ensaio realizado, procedeu-se a uma separação manual dos diferentes materiais

ocorrentes no produto “concentrado” e “rejeitado” (vidros, pedras, metais ferrosos, cerâmicos e

orgânicos). Posteriormente foram calculados o teor (t) e recuperação (η) de cada material

relativamente à sua massa. O teor, expresso em percentagem, é a massa de um dado material

dividido pela massa total do produto.

𝑡𝑒𝑜𝑟 (%) =𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙

𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜

(3)

A recuperação é a percentagem de um dado material contido na alimentação, que é recuperado num

produto – concentrado ou rejeitado.

𝜂(%) =𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑒𝑠𝑝é𝑐𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙

𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑎 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎çã𝑜𝑒𝑠𝑝é𝑐𝑖𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙

(4)

40

4.2 PREPARAÇÃO DA AMOSTRA, CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE

SEPARAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

No seguimento do estudo efectuado no capítulo anterior onde se verificou a inexistência da

variabilidade em composição e granulometria das amostras recolhidas procedeu-se com a fusão das

4 tomas, numa única amostra, a partir deste momento designada como “amostra global”.

Em 2013, Belo estabelece o valor mínimo de 5.6mm e máximo de 11.2 mm como limites de de

aplicabilidade do equipamento RecGlass quando alimentado por amostras de rejeitado pesado de

TMB a fim de garantir uma boa eficiência de separação. No capítulo 3 apurou-se uma maior

concentração de material em peso nas fracções -11.2, +8.0 e -8.0, +5.6 nas quais se verificou

igualmente uma maior concentração na espécie vidro. Como tal foi seleccionada a fracção -11.2, +5.6

mm.

No que diz respeito aos parâmetros do equipamento, o estudo realizado por Dias (2011) concluiu que

existe a altura de queda preferencial (distância entre alimentador e tela) é função do ângulo de

inclinação sendo que uma queda de uma altura demasiado elevada acarreta uma perda considerável

de material por ressalto de partículas. Verificou ainda que o ângulo de inclinação da tela é a variável

independente que mais influencia os resultados.

A crivagem da amostra global foi realizada no Laboratório de Construção, onde as malhas de

crivagem que mais se aproximavam daqueles valores são 10 e 5 mm, foi então efectuada a crivagem

com aqueles crivos e retida para posterior separação a fracção 5-10mm. A amostra global foi dividida

em 32 partes iguais.

Nesta dissertação é assinalável um conjunto de diferenças entre os materiais constituintes da

alimentação de escórias de incineração face aos produtos de TMB utilizados por Dias (2011) e Belo

(2013), ao nível de composição e granulometria. Dado este pressuposto, procedeu-se com uma

alteração no método de classificação dos materiais face ao capítulo 3.

As partículas mistas de vidro fundido com pedras e as partículas de baixa densidade de origem

orgânica (papéis, cartão, plásticos leves, têxteis, etc.) são pouco significativas na amostra global, não

justificando a classificação destas numa classe separada. Assim suprimiram-se as classes

vidro/pedras fundidas, papel e cartão, plásticos leves e outros, introduzindo-se as partículas mistas de

vidro com pedras na classe pedras e fundindo-se as classes de partículas papel e cartão, plásticos

leves e outros em orgânicos. Assim sendo os produtos de separação classificaram-se em: vidro,

pedras, metais ferrosos, cerâmicos e orgânicos.

41

Neste presente capítulo serão apresentados os resultados para todas as classes, contudo somente

serão avaliados as classes referentes ao vidro e pedra, dado que a classe vidro foi definida, como a

classe a se concentrar e a classe vidro apresenta-se como a classe do material contaminante mais

expressiva e para a qual o equipamento RecGlass foi desenvolvido para separar.

A tabela 13 mostra o peso médio e respectiva composição das 32 amostras da fracção 5-10 mm,

divididas a partir da amostra global. As amostras apresentam um teor médio de 54 % em vidro e 26 %

em pedras.

Tabela 13 - Composição média alimentação

Peso (g)

tVidro (%)

tPedras (%)

tMetais Ferrosos

(%)

tcerâmicos (%)

tOrgânicos (%)

Média 1855,10 54% 26% 15% 4% 1%

Desv. Padrão 27,00 5,78% 5,61% 3,86% 1,46% 0,68%

42

4.3 ENSAIOS PRELIMINARES

A escolha dos limites de manipulação de cada uma das variáveis é justificada pelos trabalhos

realizados por Dias (2011) e Belo (2013) com baixos valores de recuperação da espécie de vidro para

inclinações superiores a 25º e elevada concentração de pedras no concentrado para inclinações

inferiores a 18º. A variação do parâmetro altura de queda é justificada com a melhor compreensão

dos possíveis efeitos associados ao fenómeno da queda da partícula e posterior adesão por atrito. A

manipulação do deslocamento na horizontal foi realizada mediante aferição do comprimento total da

correia transportadora com posicionamento do alimentador a meio da mesma, fazendo-o variar num

deslocamento superior e inferior de 5%.

A tabela 14 mostra os valores codificados do conjunto de ensaios realizados em que foram

manipuladas as variáveis com a realização de um ensaio padrão, seguido de ensaios com

manipulação de uma das variáveis (maximização – “+”- e minoração- “-”) com fixação das restantes.

Tabela 14 - Matriz Experimental

Ensaio Alt. (cm) Incl. (º) Vel. (m/s) Desl.

(cm)

1 0 0 0 0

2 + 0 0 0

3 - 0 0 0

4 0 + 0 0

5 0 - 0 0

6 0 0 + 0

7 0 0 - 0

8 0 0 0 +

9 0 0 0 -

43

Os códigos usados na tabela 14 estão definidos na tabela 15.

Tabela 15 - Variáveis operacionais manipuladas

Variável Operacional Intervalo de manipulação

- 0 +

Altura de queda (cm) 16 19 23

inclinação da tela (⁰) 18 22 25

Velocidade da tela

(cm/s) 1.73 2.75 4.97

Deslocamento

Horizontal (cm) -7 0 7

As melhores práticas de experimentação obrigam à repetição de ensaios para determinação da

significância estatística dos resultados obtidos, justificando assim a realização de duas repetições de

cada ensaio preliminar. O Anexo C evidencia o programa experimental sob a forma de tabela,

adoptado para o processamento do material a estudar no equipamento RecGlass.

Como Dias (2011) verificou,o grande problema na recuperação de vidro nas instalações de retoma de

vidro para reciclagem é a eliminação das pedras, já que estas ao contrário das partículas cerâmicas,

não são eficientemente eliminadas pela triagem óptica, principal tecnologia usada na eliminação de

contaminantes infusíveis. O Recglass, pelo contrário, é eficiente na separação das pedras. Pelo que

Dias (2015) conclui que a conjugação destes equipamentos permite obter um produto com elevada

pureza em vidro. Assim, neste trabalho ainda que sejam apresentados os resultados referentes a

todos os materiais ocorrentes no produto a separar, o foco do processamento é a separação das

partículas de vidro das pedras

EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

Crivo mecânico de grande capacidade (marca – LAFERT e modelo – AMME 80Z CA4) (figura

20);

Malhas de crivo (5 e 10 mm);

RecGlass;

Balança Digital com resolução de 0.1g

44

Figura 20 - Separador mecânico e crivos, LC – IST

Cada ensaio consistiu na deposição das amostras no alimentador do equipamento RecGlass (figura

21.A). Após processamento obteve-se no RecGlass um concentrado, produto onde se concentra o

vidro (figura 21.B) e um rejeitado (figura 21.C).

Figura 21 - Separação no equipamento RecGlass:

A) Alimentação B) Concentrado C) Rejeitado

A figura 22 localiza no equipamento Recglass, a alimentação e os produtos concentrado e rejeitado

produzidos.

Figura 22 - Equipamento RecGlass

45

RESULTADOS

A tabela 16 mostra os resultados obtidos no ensaio padrão 1 das recuperações dos diferentes

materiais nos produtos de separação, os restantes resultados de recuperações de vidro e pedras são

apresentadas no Anexo C.

Tabela 16 - Recuperação por material no ensaio padrão 1

Como se pode observar nesta tabela, no ensaio padrão o vidro distribui-se igualmente pelos produtos

de separação. As pelas pelo contrário foram eficientemente divididas, concentrando-se no produto

rejeitado.

Neste subcapítulo e, após tratamento de resultados dos 3 ensaios, apresentam – se graficamente a

média dos resultados obtidos da concentração de cada espécie no concentrado para cada uma das

variações de parâmetros efectuadas (figura 23).

Figura 23 - Recuperação em função de Altura (A), Velocidade (B), Inclinação (C) e Deslocamento

horizontal (D)

Peso (g) Vid (g) R. Vid.(%) Ped.(g) R.Ped(%) Fer. (g) R.Fer.(%) Cer.(g) R.Cer(%) Org.(g) R.Org.(%)

Alimentação 1878,1 940,9 100% 472,2 100% 379,9 100% 64,9 100% 20,1 100%

Concentrado 630,5 432,8 46% 95,3 20% 55,8 15% 35,3 54% 11,3 56%

Rejeitado 1247,6 508,2 54% 376,9 80% 324,1 85% 29,6 46% 8,8 44%

46

Por observação do conjunto de gráficos representados na figura 23, pode-se avaliar o efeito directo

das variáveis operacionais Inclinação, Altura e Deslocamento horizontal na recuperação de vidro e

pedras no produto concentrado.

A variação do parâmetro inclinação, à semelhança dos resultados defendidos por Dias (2011) e Belo

(2013), apresenta-se (para este material e fracção granulométrica) como o parâmetro de maior

relevância na recuperação de vidro e pedras, no produto concentrado. O aumento da inclinação

provoca uma redução na recuperação de vidro e pedras. No que diz respeito aos restantes materiais

há um máximo no caso dos cerâmicos e um mínimo no caso dos orgânicos, salienta-se, contudo, que

estas classes são pouco frequentadas.

A manipulação do parâmetro altura de queda das partículas traduz-se numa variação ligeira da

recuperação das espécies materiais. Com o aumento da altura de queda, as espécies vidro, pedras,

metais ferrosos e cerâmicos evidenciam uma redução ligeira na sua recuperação. Relativamente à

espécie orgânicos apresentam um mínimo com a altura de queda intermédia .

A modificação do parâmetro operacional velocidade da tela transportadora à semelhança dos

resultados obtidos por Dias (2011) e Belo (2013) não demonstra influência sobre a recuperação das

espécies materiais analisadas.

Quanto ao deslocamento horizontal para as espécies vidro, pedras e metais ferrosos é verificado uma

baixa variação de recuperação com manipulação deste parâmetro operacional. Assim, seleccionam-

se exclui-se a variável operacional deslocamento horizontal, seleccionando-se as restantes variáveis

para a fase seguinte.

47

4.4 PLANO FACTORIAL DE EXPERIÊNCIAS

Na figura 24 apresenta-se, esquematicamente, o processo de separação do vidro das pedras pelo

equipamento RecGlass, no qual se identificam as variáveis de entrada, de perturbação e de saída

(respostas) consideradas no processo. No entanto, o efeito das variáveis de perturbação nas

respostas do processo não é incluído no plano de experiências por não serem controlável. Na análise

de variância o efeito das variáveis de perturbação reflecte-se no erro experimental.

Figura 24 - Esquema do processo, com variáveis operacionais e respostas

O desenho de experiências que utiliza todas as combinações possíveis entre os níveis das variáveis

corresponde ao desenho factorial completo (Ferreira, 2014). O plano factorial completo de dois níveis

é de natureza simples (dada a sua baixa complexidade) e robusto em que cada variável de entrada é

regulada num nível superior (codificado como +1) e inferior (codificado como -1). Estes níveis,

superior e inferior, correspondem ao domínio de variação experimental de cada variável de estudo.

O plano factorial completo a dois níveis representa-se por 2k, sendo “2” os níveis de variação para

cada variável e “k” o número de variáveis consideradas produzindo 2k pontos factoriais, o que

corresponde à totalidade das combinações e logo ao número de ensaios a realizar (Fisher, 1935). Por

este facto o método é utilizado apenas no estudo de processos com 4 variáveis no máximo. Nos

processos que envolvem um número superior de variáveis ou em processos industriais são aplicados

outras variantes do desenho factorial de experiências em que o número de ensaios é inferior como

resultado da redução do estudo individual de todas as combinações possíveis (Statsoft, 2013).

O plano de experiências desenvolvido para a presente dissertação foi do tipo 23 correspondendo,

respectivamente, à análise de 3 variáveis num conjunto de 8 combinações. Na tabela 15 é

apresentada a matriz do plano factorial 23 em que os níveis, superior e inferior, estão representados

48

por +1 e -1, respectivamente, e as variáveis identificadas pelas maiúsculas: Alt. - Altura; Inc. -

Inclinação; Desl. - Deslocamento Horizontal.

Para determinar o erro experimental realizaram-se 2 ensaios por combinação totalizando 19 ensaios

(16 associados ao plano factorial, 3 associados a ensaios padrão). Os ensaios foram executados de

forma aleatória procurando assim garantir a independência das observações e dos erros. Na mesma

tabela 16 apresenta-se a ordem de realização dos ensaios.

Tabela 16 - Matriz completa de combinações de um desenho factorial completo 23

Ensaio Ordem Amostra Alt. (cm) Incl. (º) Desl. (cm)

1 13 8 16 18 -7

2 4 14 16 18 -7

3 8 15 16 25 -7

4 9 3 16 25 -7

5 10 9 23 18 -7

6 11 7 23 18 -7

7 5 16 23 25 -7

8 15 2 23 25 -7

9 14 1 16 18 7

10 6 10 16 18 7

11 18 4 16 25 7

12 12 13 16 25 7

13 2 12 23 18 7

14 17 11 23 18 7

15 3 5 23 25 7

16 19 6 23 25 7

17 1 - 19 22 0

18 7 - 19 22 0

19 16 - 19 22 0

Para a análise estatística dos resultados experimentais e modelação por regressão linear foi utilizado

o software Design-Expert 9.0.3, da Stat-Ease Inc. A adequabilidade do modelo de de regressão foi

determinada através da análise de variância (ANOVA) com a avaliação da importância de todos os

termos na equação polinomial dentro do intervalo de confiança de 95%.

A validação dos modelos foi feita por comparação do erro modelado (Lack of fit) com o erro

experimental (Pure error). Foi ainda avaliado o parâmetro R2 ajustado (que mede a variação total do

erro explicada pelo modelo, após o ajuste do número de termos existentes), R2 previsto (que

determina o grau de previsão do modelo para novas observações por remoção sistemática de

observações do sistema de dados, estimando a equação de regressão e determinando o grau de

49

previsão para as remoções observadas), a precisão adequada (mede o sinal do ruído) (Anderson &

Whitcomb, 2005).

Definiu-se que a optimização do equipamento RecGlass passa por maximizar a recuperação de vidro

com a menor recuperação de pedras no produto concentrado. O domínio do plano de experiências

definido a partir dos resultados dos ensaios preliminares é apresentado na tabela 17.

Tabela 17 - Variáveis consideradas para o plano de experiências e seus domínios experimentais

Variável Unidade Min. Padrão Max.

Alt: Altura de queda Centímetros 16 19 23

Inc: Inclinação Graus 18 22 25

Desl: Deslocamento Horizontal Centímetros -7 0 7

EQUIPAMENTO UTILIZADO

Divisor Jones

RecGlass;

Balança Digital com resolução de 0.1g

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

I. Preparação das amostras. Composição de uma amostra global, com fusão das 4 amostras

parciais não utilizadas nos ensaios preliminares

II. Divisão da mesma em 16 partes iguais, recorrendo ao divisor Jones. Os 3 ensaios realizados

nas condições padrão foram realizados na fase preliminar;

III. Elaboração do plano factorial de experiências com matriz e determinação da sequência

aleatória de realização dos ensaios;

IV. Realização dos ensaios, com respectiva análise de composição do concentrado e rejeitado;

50

RESULTADOS E DISCUSSÃO DO PLANO FACTORIAL

As tabelas 18 e 19 mostram as recuperações de vidro e pedras, obtidos nos 2 ensaios realizados nas

mesmas condições. É verificável uma diferença reduzida entre a média das respostas dos ensaios e

a média global.

Tabela 18- Recuperação de vidro, ensaio 1 e 2, para cada configuração do plano factorial de experiências, média global e variância

Combinação Alt. (cm)

Incl. (º)

Sup. (cm)

ηVid (1) (%)

ηVid (2) (%)

η ̅Vid (%) σ2

1 16 18 -7 66 65 66 0,25

2 16 25 -7 17 11 14 9

3 23 18 -7 64 55 60 20,25

4 23 25 -7 11 10 11 0,25

5 16 18 7 66 64 65 1

6 16 25 7 20 23 22 2,25

7 23 18 7 53 55 54 1

8 23 25 7 10 7 9 2,25

Média Global 38 36 37 5

Tabela 19 - Recuperação de pedras, ensaio 1 e 2, para cada configuração do plano factorial de

experiências, média global e variância

Combinação Alt. (cm)

Incl. (º)

Sup. (cm)

ηPed (1) (%)

ηPed (2) (%)

η ̅Ped (%) σ2

1 16 18 -7 30 35 33 6,25

2 16 25 -7 0 0 0 0

3 23 18 -7 20 16 18 4

4 23 25 -7 0 0 0 0

5 16 18 7 39 20 30 90,25

6 16 25 7 0 0 0 0

7 23 18 7 14 15 15 0,25

8 23 25 7 0 0 0 0

Média Global 13 11 12 13

Nos ensaios 3 e 5 obtiveram-se valores anómalos para as recuperações de vidro e pedras

respectivamente, pelo que estes ensaios deveriam ser alvo de um novo ensaio de repetição, a fim de

rectificar o valor obtido para a variância. No entanto, por motivos de constragimentos de tempo não foi

possível a realização de novos ensaios.

Numa primeira fase do estudo dos resultados experimentais do desenho factorial, procedeu-se ao

cálculo do coeficiente de correlação de Pearson entre variáveis independentes e as respostas (Tabela

51

20). O coeficiente de correlação de Pearson mede intensidade da relação linear entre duas variáveis,

o que permite verificar quais as variáveis que apresentam maior correlação com os parâmetros de

resposta. As cores identificam o tipo de correlação (positiva a vermelho e negativa a azul) onde a

intensidade da cor evidencia a magnitude de correlação que é tanto maior quanto mais intensa a cor

se apresenta.

Assim, verifica-se que as correlações mais elevadas em valor absoluto são negativa e correspondem

à relação entre as recuperações de vidro e pedras com a inclinação com valores de -0.962 e -0.834,

respectivamente, ou seja, quanto maior a inclinação menor a recuperação de vidro e pedras no

concentrado.

À medida que se aumenta a inclinação, a componente do peso aumenta de igual modo, atingindo-se,

em determinado ponto, a igualdade entre a componente do peso e a força de atrito estático.

Ultrapassando este limite consequentemente menos partículas ascendem à zona do produto

concentrado.

Tabela 20 - Coeficientes de correlação de Pearson

Ordem Incl. Alt. Desl. ηVid ηPed

Ordem 1.000

Incl. 0.116 1.000

Alt. -0.021 0.000 1.000

Desl. 0.168 0.000 0.000 1.000

ηVid -0.126 -0.962 -0.171 -0.003 1.000 0.905

ηPed -0.078 -0.834 -0.265 -0.058 0.905 1.000

52

ANÁLISE DE VARIÂNCIA

RECUPERAÇÃO DE VIDRO

A tabela 21 mostra o efeito que as variáveis operacionais “altura de queda” (Alt) e a “inclinação da

tela” (lnc) produzem efeitos elevados na resposta (recuperação de vidro) ao apresentarem

percentagens de contribuição superiores ao erro experimental.

Tabela 21 - Efeito, soma dos quadrados e % de contribuição das variáveis manipuladas e suas

interacções

Termo Efeito Soma dos

Quadrados % Contribuição

Inc -46.92 8835.120 92.59

Alt -8.36 280.560 2.94

Desl -0.12 0.063 0.00

AltInc 12.00 0.063 0.00

AltDesl 2.87 33.060 0.35

IncDesl -3.62 52.060 0.55

AltIncDesl -1.12 5.060 0.05

Erro Experimental 80.500 0.84

O resultado da tabela ANOVA para a recuperação de vidro encontra-se na tabela 22 com selecção

das variáveis consideradas significativas e integrando as restantes variáveis e interacções “Lack of

Fit”. Segundo o valor “p”, todas as variáveis são estatisticamente significativas para um nível de

significância de 0.051 : inclinação da tela e altura de queda (Inc e Alt).

Tabela 22- ANOVA para a recuperação de vidro, com o modelo seleccionado

Fonte Soma dos

Quadrados

Graus de

Liberdade

Média dos

Quadrados F

Valor p

Prob > F

Modelo 9115.68 2 4557.84 170.89 <0.0001

Inc 8835.12 1 8835.12 331.26 <0.0002

Alt 280.56 1 280.56 10.52 0.0051

Residual 426.74 16 26.67

Lack of fit 346.24 6 57.71 7.17 0.0036

Erro Experimental 80.5 10 8.05

Total 9542.42 18

1 Neste trabalho os testes de hipóteses foram sempre realizados com um nível de significância de 0.05.

53

O modelo apresenta um valor de F de 170.89 indicando que o modelo é significativo havendo apenas

a probabilidade de 0.01% que um valor de F desta magnitude se deva a ruído. “O Lack of fit” não é

significativo relativamente ao erro experimental.

A equação do modelo de regressão linear da resposta recuperação de vidro, no produto concentrado

é dado por:

𝜼𝑽𝒊𝒅 (%) = 𝟐𝟎𝟔. 𝟑𝟓 − 𝟔. 𝟕𝟎𝑰𝒏𝒄 − 𝟏. 𝟏𝟗𝑨𝒍𝒕

(5)

Na validação do modelo, foram utilizados três gráficos, teste de normalidade dos resíduos (Figura 25),

diagrama de dispersão dos resíduos vs valores estimados (Figura 26) e dos resíduos vs ordem dos

ensaios (Figura 27).

Pela observação dos gráficos conclui-se que todos os pressupostos são satisfeitos uma vez que

nenhuma projecção apresenta um padrão ou uma tendência especial.

Figura 25 - Probabilidades da distribuição normal dos resíduos, vidro

54

Figura 26 - Valores estimados vs resíduos, vidro.

Figura 27 - Resíduos vs ordem dos ensaios, vidro

55

RECUPERAÇÃO DE PEDRAS

Na tabela 23 apresentam-se os valores dos efeitos e suas percentagens de contribuição para cada

variável operacional e interacção. Pela observação, constata-se que o efeito mais elevado

corresponde à inclinação da tela (Inc). Os restantes parâmetro e interacções possuem percentagens

de contribuição valores ao erro experimental.

Tabela 23 - Valores dos efeitos, soma dos quadrados e % de contribuição das variáveis manipuláveis e

interacções

Termo Efeito Soma dos

Quadrados % Contribuição

Inc -23.21 2161.930 69.61

Alt -7.36 217.560 7.00

Desl -1.62 10.560 0.34

AltInc 7.36 217.560 7.00

AltDesl 1.62 10.560 0.34

IncDesl -0.12 0.063 0.00

AltIncDesl 0.12 0.063 0.00

Erro Experimental 274.17 8.83

Seleccionando a variável considerada significativa e integrando as restantes variáveis e interacções

no “Lack of fit”, obtém-se a tabela ANOVA seguinte (tabela 24):

Tabela 24 - ANOVA para a recuperação de pedras, com o modelo factorial seleccionado

Fonte Soma dos

Quadrados

Graus de

Liberdade

Média dos

Quadrados F

Valor p

Prob > F

Modelo 2161.93 1 2161.93 38.93 <0.0001

Alt 2161.93 1 2161.93 38.93 <0.0001

Residual 944.07 17 55.53

Lack of fit 669.90 7 95.7 3.49 0.0366

Erro Experimental 274.17 10 27.42

Total 3106.00 18

O modelo apresenta um valor F de 38.93 indicando que o modelo é significativo existindo apenas a

0.01% de probabilidade que um valor de F desta magnitude se deva a ruído. O Lack of fit não é

significativo relativamente ao erro experimental. A equação do modelo da recuperação de pedras é

dado por:

𝜼𝑷𝒆𝒅 (%) = 𝟖𝟒. 𝟓𝟓 − 𝟑. 𝟑𝟐𝑰𝒏𝒄 (6)

56

Para validar os pressupostos do modelo, os três gráficos, foram analisados, concluindo-se que todos

os pressupostos são satisfeitos já que nenhuma projecção apresenta uma tendência especial que

uma não conformidade dos pressupostos apresentaria (Figura 28, Figura 29 e Figura 30).

Figura 28 - Probabilidades da distribuição normal dos resíduos, pedras

Figura 29 - Valores estimados vs resíduos, pedras

Figura 30 - Resíduos vs ordem dos ensaios, pedras

57

4.5 OPTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO NO RECGLASS

Os modelos empíricos ajustados e utilizados no subcapítulo anterior foram utilizados na optimização

do processo de separação. A opção “optimização numérica” do software Design-Expert 9.0.3. procura

no espaço do desenho de experiências as configurações que melhor cumpram com as metas

estabelecidas com recurso aos dois modelos produzidos na análise de variância.

Foram definidos os objectivos para encontrar a solução pretendida:

Variáveis Inc e Alt : domínio do plano de experiências;

Resposta 1 (recuperação de vidro): maximização;

Resposta 2 (recuperação de pedras): minimização.

Na tabela 25 apresentam-se os limites das variáveis usadas no processo de optimização.

Tabela 25 - Limites, superior e inferior, das variáveis, respostas e objectivo da função

Termo Meta/constrangimento Limite inferior Limite Superior

Inc (º) dentro do domínio 18 25

Alt (cm) dentro do domínio 16 23

ηVid (%) maximizar - -

ηPed (%) minimizar - -

Na tabela 26 é apresentada a solução de optimização numérica que mais se aproxima das metas

definidas.

Tabela 26 - Solução de optimização do processo

Inc (º) Alt (cm) ηVid (%) ηPed(%)

20.31 16 51.07 17.21

Figura 31 - Curva de resposta

58

4.6 VALIDAÇÃO DA SOLUÇÃO DE OPTIMIZAÇÃO

De forma a validar a solução optimal obtida, foram realizados dois ensaios de validação. Nos 19

ensaios realizados do plano factorial de experiências e preliminares utilizou-se o peso total da fracção

granulométrica -10.0, +5.0. Assim para os ensaios de validação procedeu-se à recuperação dos

produtos de separação da amostra 13 utilizada no ensaio 12 do plano factorial por ser a amostra de

maior massa disponível e de composição mais similar à alimentação original. A tabela 27 mostra as

diferenças de peso e composição entre a alimentação original e a nova alimentação utilizada no

ensaio de validação.

Tabela 27 - Alimentação original vs alimentação nova, peso e composição

Peso (g) tVid.(%) tPed.(%) tFer.(%) tCer.(%) tOrg (%)

Alimentação Original 431,4 60 25 11 2 1

Nova Alimentação 361,1 55 30 13 2 0

Os resultados da recuperação da espécie vidro e pedras no produto concentrado são apresentadas

nas tabelas 28 e 29.

Tabela 28 - Solução da validação de Recuperação de Vidro, ensaio 1, 2, média e variância

ηVid (1) (%)

ηVid (2) (%)

η ̅Vid (%) σ2

60 52 56 16

Tabela 29 - Solução da validação de Recuperação de Pedras, ensaio 1, 2, média e variância

ηPed (1) (%)

ηPed (2) (%)

η ̅Ped (%) σ2

37 23 30 49

Os resultados dos ensaios de validação da solução optimal demostram uma melhoria significativa ao

nível de recuperação da espécie vidro face ao que era esperado. Ainda assim, existe um aumento na

recuperação das pedras no produto concentrado. A variância verificada para as recuperações

aumenta significativamente relativamente ao registado nos ensaios anteriores do plano factorial de

experiências. Esta variação da variância poderá ser justificada pela utilização de uma amostra

reconstituída de composição ligeiramente diferente à alimentação original, embora seja inferior à

observada em alguns ensaios do plano factorial (ensaios 4 e 5).

59

A tabela 30 compara os resultados obtidos por Dias (2013), utilizando o rejeitado pesado de TMB,

com os resultados obtidos nos ensaios de validação. É de realçar a diferença na composição e

distribuição granulométrica da alimentação face às amostras estudas por Dias uma vez que o teor de

vidro das escórias de incineração da Valorsul utilizadas na alimentação é significativamente inferior

ao teor de vidro das instalações de TMB da Tratolixo e Valnor. Para além disso, o teor no

contaminante pedras nas escórias de incineração é consideraverlmente superior.

O resultado de recuperação vidro, à semelhança do que acontece para o teor deste material, assume

um valor inferior, ao conseguido por Dias em 2011. No que diz respeito à recuperação do

contaminante pedras existe uma maior recuperação de partículas deste material no produto

concentrado, face ao registado por Dias (2011).

Tabela 30 - Resultados obtidos no processamento com o RecGlass de amostras da Tratolixo e Valnor, Dias (2013) e presente dissertação

Instalação Material

t (%) η(%)

5.0mm Alimentação RecGlass

5.0mm Concentrado RecGlass

5.0mm Concentrado RecGlass

Dias (2011)

TRATOLIXO Vidro 88.4 92.4 68.1

Pedras 5.3 2.6 34.7

VALNOR Vidro 58.5 70.7 76.2

Pedras 17.3 5.1 18.5

VALORSUL

Vidro 54.0 72.0 56.0

Pedras 26.0 19.0 30.0

60

4.7 APTIDÃO AO RETRATAMENTO DOS PRODUTOS DE SEPARAÇÃO

A avaliação dos resultados obtidos é difícil de fazer tendo em consideração a falta de especificações

para produtos de vidro à excepção dos da recolha selectiva. Se comparado o resultado obtido com

estas especificações (ver tabela 5) observa-se que a qualidade obtida no produto concentrado está

muito abaixo das especificações mínimas. Por outro lado, a recuperação de vidro no produto

concentrado é muito baixa, devendo-se ter em conta que os valores foram obtidos após uma única

passagem no equipamento RecGlass.

No entanto, tal como acontece no processamento de minerais é comum o retratamento ou

recirculação de produtos de separação em diagramas que podem atingir grande complexidade. Neste

trabalho pretende-se avaliar também a aptidão ao retratamento dos produtos de separação. Para tal,

realizou-se um ensaio de retratamento do produto rejeitado e estabeleceu-se como objectivo

recuperar mais vidro no concentrado, tendo-se seleccionado as condições operacionais que

conduzem ao maior teor e maior de recuperação de vidro no concentrado. Seleccionou-se o ensaio

que conduziu ao melhor teor e recuperação de vidro no concentrado (ensaio 12 do plano factorial e

tabela 31) e retractou-se o produto rejeitado nas mesmas condições.

Tabela 31– Resultados obtidos para os produtos de separação do ensaio 12 do plano factorial

ηVid (%) tVid (%) ηPed (%) tPed(%)

Concentrado 23 84 0 0

Rejeitado 77 55 100 100

O ensaio 12 do plano factorial foi realizado nas condições operacionais: inclinação a 25º; altura de

queda das partículas de 16 cm e deslocamento horizontal a 7 cm.

O ensaio realizado demonstra o interesse na realização de um estudo completo de desenvolvimento

de diagrama para aumento do teor e recuperação de vidro, uma vez que 77% de vidro é recuperado

pelo produto rejeitado. Para tal, primeiramente avalia-se através de análise de imagem os produtos

de separação de um ensaio.

61

Na figura 32 são apresentados os resultados do processo de digitalização das classes vidro do

produto concentrado e das classes vidro e pedras do produto rejeitado, do ensaio 12 do plano

factorial após processamento no equipamento RecGlass.

Figura 32 - Digitalização produto rejeitado (pedras e vidro) e concentrado (vidro)

As imagens apresentadas expõem um conjunto de diferenças notórias entre a forma das partículas de

vidro e pedras, dos produtos concentrado e rejeitado, respectivamente. No produto rejeitado

encontram – se partículas de forma esférica ou subesférica, da espécie vidro ou pedras. Porém, no

produto concentrando as partículas de forma angular e achatada de vidro, assumem maior

representatividade, não existindo presença de partículas de pedras.

Para a determinação da inluência da forma, foram estudados os índices de circularidade e de forma.

O índice de circularidade (IC) está associado a uma aproximação da forma da partícula a um círculo,

sendo que uma partícula perfeitamente circular possui um IC igual a 1,0 (Lira & Pina, 2009). Esta

propriedade é dada pelo quociente da área pelo perímetro da partícula. O índice de forma (IF) é um

rácio entre os comprimentos do maior e do menor eixo da partícula.

Os resultados relativos ao IC e ao IF dos conjuntos de partículas selecionados são apresentados na

tabela 32.

Tabela 32- IC e IF para partículas de vidro e pedras do produto concentrado e rejeitado, ensaio 12 do plano factorial

Produto Espécie IC IF

Concentrado Vidro 0.74 0.63

Rejeitado Vidro 0.82 0.73

Pedras 0.87 0.77

62

Por interpretação da tabela 32 são assinaláveis as diferenças existentes nos índices de circularidade

e forma dos dois materiais nos 2 produtos. O produto concentrado de vidro regista índices de

circularidade e forma inferiores aos apresentados pelas particulas existentes no rejeitado, verificando

o pressuposto inicial de que as partículas de vidro de formas angulares e achatadas possuiem maior

afinidade com a tela transportadora, ascendendo na mesma. Por outro lado, as partículas esféricas e

subesféricas presentes no produto rejeitado, ao cairem sobre a tela transportadora não conseguem

aderir à mesma, rolando e descendo a tela.

A existência de partículas de maior esfericidade, quando comparadas com o obtido por Dias (2011),

que provoca uma recuperação inferior no equipamento RecGlass poderá ser explicada por dois

motivos: a fusão parcial dos materiais constituintes, no processo de combustão das caldeiras de

incineração; a erosão das partículas por fricção durante o processo de transporte ou processamento

na unidade da ITVE, à semelhança do que acontece, por exemplo, com as partículas de silica

constituintes de uma areia quartzitica numa praia.

Verifica-se na figura 32 que há um conjunto significativo de partículas de vidro com baixa

circularidade no produto rejeitado que poderiam ser recuperadas através de ensaio de retratanento.

Os resultados obtidos no ensaio em processo de retratamento do material rejeitado mostram uma

recuperação de vidro adicional de 7% e teor de 86%, com recuperação nula de pedras, face à nova

alimentação recirculada (figura 33).

Figura 33 - Diagrama de retratamento do ensaio 12 do plano factorial

63

4.8 CONCLUSÃO CAPÍTULO 4

Após realização dos ensaios preliminares com manipulação de parâmetros operacionais é constatável

a correlação existente entre inclinação e recuperação de vidro e pedras no produto concentrado. As

conclusões admissíveis relativas aos parâmetros altura de queda e deslocamento horizontal são de

baixa certeza estatística dada a dispersão constatada no processamento dos resultados laboratoriais.

O parâmetro operacional velocidade da tela não influencia a recuperação de vidro, à semelhança dos

resultados obtidos por Dias (2011) e Belo (2013).

As espécies contaminantes metais ferrosos e cerâmicos apresentam alguma correlação com a

manipulação dos parâmetros operacionais através da variação da altura de queda, inclinação e

deslocamento horizontal. Porém assumem-se algumas dificuldades na obtenção de conclusões

específicas no comportamento das partículas destas espécies, dada a frequência destas classes.

A realização de um plano factorial de experiências, o estudo dos coeficientes de correlação de

Pearson e a análise da variância dos resultados obtidos (ANOVA) permitiram obter uma correcta

percepção da contribuição efectiva de cada uma das variáveis operacionais nos produtos de

resposta, recuperação da espécie vidro e de pedras, o que se mostrou determinante na obtenção de

solução óptima.

Das três variáveis operacionais somente a inclinação da tela no equipamento RecGlass evidencia

uma forte correlação negativa com a recuperação das espécies vidro e pedras. De assinalar

igualmente a correlação negativa entre a altura de queda das partículas com a recuperação em vidro.

Relativamente à variável operacional deslocamento horizontal nada foi possível concluir na gama de

variação dos valores trabalhados.

A validação da solução óptima provou resultados de recuperação mais favoráveis relativamente aos

estimados pelo modelo, apresentando contudo, uma maior recuperação das contaminantes pedras.

De referir ainda que a amostra utilizada para alimentação destes ensaios não apresentava a

composição igual à da alimentação original utilizada para a alimentação dos ensaios do plano factorial

de experiências sendo somente semelhante após reconstituição parcial.

Por fim e por comparação são observáveis diferenças nos valores obtidos na recuperação e teores

face aos registados no trabalho realizado por Dias(2011) com rejeitado pesado de TMB. A

discrepância assinalada pode ser justificada com a diferença em composição e calibre dos materiais

– escórias de incineração e rejeitado pesado de TMB.

64

65

5 CONCLUSÕES E TRABALHO

FUTURO

66

5.1 CONCLUSÕES

Foram caracterizadas 4 sub-amostras de escórias de incineração provenientes da instalação da

Valorsul. Em relação à granulometria, observou-se que as sub-amostras são maioritariamente

compostas por partículas de calibre superior a 5,6 mm. Em termos de composição verificou-se que,

as amostras eram constituídas maioritariamente por cinzas, vidro e pedras, sendo que têm calibre em

5.6-11.2 mm tem os maiores teores da espécie vidro (70%). Observou-se também que as pedras são

os contaminantes mais representativos nas fracções 5.6-11.2 mm 85%, que também apresentam

concentrações superiores nas fracções infra 8.0 mm da sua percentagem em peso.

De referir que o estudo de composição realizado não engloba a presença de metais não-ferrosos

dada a dificuldade de identificação dos metais desta espécie e ao facto de não existir nas instalações

do CERENA um equipamento para sepação dos mesmos. As eventuais partículas existentes foram

classificadas como pertencentes à espécie pedras.

Relativamente ao processamento das escórias de incineração, o equipamento RecGlass mostrou-se

eficiente na recuperação de vidro no produto concentrado (7 a 64%). A realização de ensaios

preliminares para avaliação dos efeitos das variáveis operacionais na recuperação do vidro e pedras

permitiu constatar a existência de uma correlação entre inclinação e recuperação de vidro e pedras

no produto concentrado.

Foi realizado um do plano factorial de experiências que permitiu os modelos que relacionam as

recuperações de vidro e pedras com as condições operacionais do processo. A inclinação da tela

transportadora e altura de queda das partículas permitem descrever a recuperação de vidro. Na

recuperação de pedras reconhece-se somente o efeito da variável inclinação da tela transportadora.

Após a definição dos modelos de regressão linear para cada resposta e com recurso ao software

Design-Expert procurou-se a solução que permite maximizar a recuperação de vidro e minimizar a

recuperação de pedras. Os níveis das variáveis da solução óptima foram: inclinação 20.3º, altura de

queda 16 cm. Os ensaios de validação da solução que conduzem à optimização tiveram como

resultados médios 56% de recuperação de vidro e 30% de recuperação de pedras.

Os melhores resultados obtidos tendo em consideração o teor e recuperação de vidro foram sujeitos a

um processo de retratamento e análise de imagem, revelando uma maior afenidade nas partículas de

menor índice de circularidade na ascensão ao produto concentrado.

67

5.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS E TRABALHO FUTURO

Esta dissertação contribuiu para demonstrar a eficiência do equipamento RecGlass na concentração

de vidro proveniente de escórias de incineração, com vista à recuperação de vidro para a reciclagem

daquele material e para a definição das variáveis operacionais que melhor influenciam a eficiência do

equipamento RecGlass na obtenção de um produto concentrado rico em vidro. Após realização deste

estudo é possível propor-se melhorias na operacionalidade do equipamento com o intuito de gerar

melhores resultados. Sugere-se a introdução de um sistema de aspiração junto à saída do

alimentador vibratório para a remoção da contaminação das partículas leves; um estudo sobre a

necessidade da limpeza da tela, para permitir saber se a sujidade e cinzas afectam o coeficiente de

atrito entre as partículas de vidro e a tela e consequentemente a eficiência do processo.

Ao nível das características da alimentação é necessário avaliar a aplicabilidade ao processamento

da amostra global, na totalidade das fracções granulométricas, para avaliar se nestas condições há

perda na qualidade do produto. Só assim será possível a realização de um estudo custo-benefício

que antecipa o benefício da implementação deste processo a escala industrial a nível de investimento

e operacional.

O produto concentrado final obtido, após processamento, ainda não se encontra de acordo com as

especificações técnicas legais para a sua retoma. Para que este produto possa sucessivamente ser

melhorado deve ser realizado um apuramento para o seu enriquecimento em vidro e/ou que através

de uma triagem por separadores e sensores ópticos para remoção dos contaminantes restantes:

Separador magnético – para remoção das partículas de metais ferrosos de granulometria,

inferior a 10mm, que não são alvo de qualquer separação;

Separador de leves – sistema de sopro ou sucção, para remoção das partículas orgânicas –

papel, cartão, têxteis, plásticos leves, etc.;

Separador óptico – sistema de infravermelhos associados a um sistema de sopro, para

remoção das partículas cerâmicas.

De referir ainda que os resultados apresentados na presente dissertação são provenientes de ensaios

à escala laboratorial realizados com uma massa de amostra manipulada na sua totalidade, devendo

existir, por isso, uma transposição destes ensaios para a escala industrial através de um processo

contínuo. Gostaria ainda de salientar que a gestão da amostra utilizada nesse ensaio não foi linear

acarretando algumas dificuldades (que já foram mencionadas anteriormente ao longo da presente

dissertação) pelo que para a realização óptima dos ensaios deverá ser recolhida uma quantidade de

amostra superior à utilizada. Deverá proceder-se a uma análise da viabilidade técnica e económica

das várias soluções estudadas do ponto de vista técnico, ambiental e financeiro bem como a análise

da viabilidade económico-financeira da industrialização dos processos estudados.

68

69

6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

70

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73

ANEXOS

Anexo A Distribuição Granulométrica Testemunho 1,2,3 e 4

Anexo B Caracterização Testemunhos 2,3 e 4

Anexo C Program experimental preliminar RecGlass e resultados

Anexo D Plano de experiências integral e resultados

74

ANEXO A – Distribuição Granulométrica Testemunho 1,2,3 e 4

Testemunho 1 - Recolhido a 24/04

Granulomentria (mm) Peso (g) Alimentação (%) Alimentação Acum. (%)

+22.4 65.9 2.00 100.00

-22.4, +16.0 147.2 4.47 98.00

-16.0, +11.2 274.6 8.35 93.52

-11.2, +8.0 417.4 12.69 85.18

-8.0, +5.6 684 20.79 72.49

-5.6, +4.0 135.9 4.13 51.70

-4.0, +2.8 199.1 6.05 47.57

-2.8, +2.0 250.8 7.62 41.52

-2.0, +1.4 169.1 5.14 33.89

-1.4, 0.7 541.3 16.45 28.75

-0.7 404.7 12.30 12.30

Total 3290 100.00 12.30

Testemunho 2 – Recolhido a 27/04/2015

Granulomentria (mm) Peso (g) Alimentação (%) Alimentação Acum. (%)

+22.4 3.6 0.10 100.00

-22.4, +16.0 55 1.55 99.90

-16.0, +11.2 179.3 5.06 98.35

-11.2, +8.0 370.5 10.46 93.28

-8.0, +5.6 684.6 19.33 82.82

-5.6, +4.0 271.7 7.67 63.48

-4.0, +2.8 313.2 8.84 55.81

-2.8, +2.0 342.4 9.67 46.97

-2.0, +1.4 205.7 5.81 37.30

-1.4, 0.7 621.6 17.55 31.49

-0.7 493.4 13.93 13.93

Total 3541 100.00 13.93

75

Testemunho 3 - Recolhido a 29/04

Granulomentria (mm) Peso (g) Alimentação (%) Alimentação Acum. (%)

+22.4 15.4 0.47 100.00

-22.4, +16.0 101 3.05 99.53

-16.0, +11.2 165.2 5.00 96.48

-11.2, +8.0 386.9 11.70 91.48

-8.0, +5.6 633.6 19.16 79.78

-5.6, +4.0 230.3 6.97 60.62

-4.0, +2.8 314.3 9.51 53.65

-2.8, +2.0 269.1 8.14 44.14

-2.0, +1.4 163.3 4.94 36.01

-1.4, 0.7 520.7 15.75 31.07

-0.7 506.4 15.32 15.32

Total 3306.2 100.00 15.32

Testemunho 4 - Recolhido a 04/05

Granulomentria (mm) Peso (g) Alimentação (%) Alimentação Acum. (%)

+22.4 42.7 1.03 100.00

-22.4, +16.0 269.7 6.51 98.97

-16.0, +11.2 322.3 7.78 92.46

-11.2, +8.0 594.3 14.35 84.68

-8.0, +5.6 767.6 18.53 70.33

-5.6, +4.0 262.5 6.34 51.79

-4.0, +2.8 313.3 7.56 45.45

-2.8, +2.0 328.2 7.92 37.89

-2.0, +1.4 199.2 4.81 29.96

-1.4, 0.7 552.2 13.33 25.15

-0.7 489.6 11.82 11.82

Total 4141.6 100.00 11.82

76

ANEXO B – Caracterização sub-amostras 2,3 e 4

25%

3% 9%

3% 3%

0% 1%

0%

56%

Sub-amostra 2

Vidro (g) Metais Ferrosos (g) Pedras (g)

Vidro/Pedras Fund. (g) Cerâmicas (g) Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g) Outros (g) Cinzas (g)

29%

3% 8%

2% 4%

0%

0% 0%

54%

Sub-amostra 3

Vidro (g) Metais Ferrosos (g) Pedras (g)

Vidro/Pedras Fund. (g) Cerâmicas (g) Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g) Outros (g) Cinzas (g)

31%

4% 11%

1%

6%

0%

1% 0% 46%

Sub-amostra 4

Vidro (g) Metais Ferrosos (g) Pedras (g)

Vidro/Pedras Fund. (g) Cerâmicas (g) Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g) Outros (g) Cinzas (g)

77

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

-5.6,+4.0

-8.0,+5.6

-11.2,+8.0

-16.0,+11.2

-22.4,+16.0

+22.4

54,32 60,66 68,28

32,47 26,79

0,00

% P

eso

Fracção Granulométrica (mm)

Composição sub-amostra 2, +4.0 mm

Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g)

Outros (g)

Metais Ferrosos (g)

Cerâmicas (g)

Pedras (g)

Vidro (g)

0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,0080,00

-5.6,+4.0

-8.0,+5.6

-11.2,+8.0

-16.0,+11.2

-22.4,+16.0

+22.4

50,42 60,63

73,74

51,17

33,57

0,00

% P

eso

Fracção Granulométrica (mm)

Composição sub-amostra 3, +4.0 mm

Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g)

Outros (g)

Metais Ferrosos (g)

Cerâmicas (g)

Pedras (g)

Vidro (g)

78

0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,00

80,00

-5.6,+4.0

-8.0,+5.6

-11.2,+8.0

-16.0,+11.2

-22.4,+16.0

+22.4

50,42 60,63

73,74

51,17

33,57

0,00

% P

eso

Fracção Granulométrica (mm)

Composição sub-amostra 4, +4.0 mm

Plásticos Leves (g)

Papéis/Cartão (g)

Outros (g)

Metais Ferrosos (g)

Cerâmicas (g)

Pedras (g)

Vidro (g)

79

ANEXO C – Programa experimental preliminar RecGlass e

resultados

Ensaio Ordem Amostra Alt. (cm) Incl. (º) Vel. (m/s) Desl. (cm)

ηVid (%) ηPed (%)

1 3 32 19 22 0.0275 0 46 20

2 16 13 23 22 0.0275 0 39 5

3 22 10 16 22 0.0275 0 50 18

4 18 12 19 25 0.0275 0 14 0

5 7 28 19 18 0.0275 0 52 15

6 15 19 19 22 0.0497 0 37 4

7 26 9 19 22 0.0173 0 51 19

8 25 15 19 22 0.0275 7 44 4

9 21 1 19 22 0.0275 -7 46 10

10 5 24 19 22 0.0275 0 42 13

11 27 6 23 22 0.0275 0 47 14

12 11 29 16 22 0.0275 0 52 16

13 8 23 19 25 0.0275 0 20 1

14 20 5 19 18 0.0275 0 50 16

15 10 20 19 22 0.0497 0 41 12

16 17 18 19 22 0.0173 0 36 7

17 1 31 19 22 0.0275 7 60 24

18 19 11 19 22 0.0275 -7 37 7

19 2 27 19 22 0.0275 0 44 25

20 23 7 23 22 0.0275 0 40 18

21 24 2 16 22 0.0275 0 48 29

22 13 21 19 25 0.0275 0 19 4

23 4 30 19 18 0.0275 0 55 32

25 12 22 19 22 0.0173 0 40 10

26 9 26 19 22 0.0275 7 34 16

27 14 17 19 22 0.0275 -7 44 17

80

ANEXO D – Plano de experiências integral e resultados

Ensaio Ordem Amostra Alt. (cm) Incl. (º) Desl. (cm)

ηVid (%) ηPed (%)

1 13 8 16 18 -7 66 30

2 4 14 16 18 -7 65 35

3 8 15 16 25 -7 17 0

4 9 3 16 25 -7 11 0

5 10 9 23 18 -7 64 20

6 11 7 23 18 -7 55 16

7 5 16 23 25 -7 11 0

8 15 2 23 25 -7 10 0

9 14 1 16 18 7 66 39

10 6 10 16 18 7 64 20

11 18 4 16 25 7 20 0

12 12 13 16 25 7 23 0

13 2 12 23 18 7 53 14

14 17 11 23 18 7 55 15

15 3 5 23 25 7 10 0

16 19 6 23 25 7 7 0

17 1 - 19 22 0 46 20

18 7 - 19 22 0 42 13

19 16 - 19 22 0 44 12