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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS EM ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTAMINADOS PELAS ATIVIDADES DE MINERAÇÃO DE CARVÃO PAULA TRAMONTIM PAVEI CRICIÚMA, 2007.

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS EM ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTAMINADOS PELAS

ATIVIDADES DE MINERAÇÃO DE CARVÃO

PAULA TRAMONTIM PAVEI

CRICIÚMA, 2007.

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CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS EM ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS CONTAMINADOS PELAS

ATIVIDADES MINERAÇÃO DE CARVÃO

Paula Tramontim Pavei

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense para obtenção do Grau de Mestre em Ciências Ambientais. Área de Concentração: Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados Orientador: Prof. Dr. Carlyle Torres Bezerra de Menezes

CRICIÚMA, 2007.

iii

Dedico esta dissertação a minha mãe Lucia, pelas palavras de incentivo e exemplo de sabedoria e força que me transmitiu no período em que podia vê-la; por iluminar meus caminhos quando somente podia senti-la e por me ensinar que tudo pode ser realizado se feito com dedicação e amor.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por ter colocado em meus caminhos pessoas especiais.

Aos Mestres:

Ao Prof. Dr. Carlyle Torres Bezerra de Menezes, pela orientação, dedicação e acima de tudo pela confiança. Mais que Geoquímica Ambiental, ensinou-me preciosas lições de vida e me proporcionou ter acesso a conhecimentos que livro nenhum pode explicar. Como retribuição, só posso pedir que Deus o abençoe.

Ao Prof. Guido Perin, pelo acolhimento em seu laboratório, oportunidades e ensinamentos transmitidos.

A Família:

À minha mãe Lucia, por ser meu anjo na Terra e no Céu.

Ao meu pai Angelo, pelo amor, incentivo e esforços sem medidas para que eu pudesse alcançar meus objetivos.

Aos meus irmãos e cunhadas, Leandro e Daniela; Sandro e Sinara; Mateus e Scheila, pelo compartilhamento e apoio em todos os momentos, difíceis e felizes, desta minha caminhada.

Ao Daniel, pelo amor, carinho, apoio e espera.

Aos Amigos:

Aos colegas, amigos, funcionários e professores da UNESC, pelo auxílio, compreensão, incentivo e companheirismo.

Aos colegas do Laboratório de Ecotoxicologia da Università Car’Foscari di Venezia, pela ajuda nos experimentos e ótima convivência. Em especial a ”due brave ragazze“, Sílvia e Sabrina, com quem tanto aprendi e compartilhei momentos inesquecíveis, que se transformaram em fortes elos de amizades.

Aos amigos da Itália, pela experiência de vida adquirida, pela cultura e conhecimentos compartilhados, em especial a uma grande amiga, Inma, por me mostrar que a felicidade é feita nos pequenos detalhes.

À Deise, Priscila e Marlete, pela amizade que supera distâncias.

Aos apoiadores:

A UNESC por possibilitar a realização do mestrado e a experiência na Itália.

Ao C.O.M.V.E.S.C. – Comitato Associazioni Venete per lo Stato di Santa Catarina, pela concessão da bolsa de estudo italiana.

Ao Projeto Pró-Stricto do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais “Avaliação de contaminantes e tratamento de efluentes associados à mineração do carvão” pelo financiamento das despesas referentes aos trabalhos de campo e de laboratório.

A Università Ca’Foscari di Venezia, pelo acolhimento.

v

RESUMO

Na região sul do estado de Santa Catarina (Brasil) a mineração de carvão é reconhecida como uma das atividades com maior contribuição para a poluição ambiental da região, sobretudo dos seus recursos hídricos. Um dos principais impactos ocasionados por esta atividade está relacionado ao processo de geração de efluentes da drenagem ácida de mina (DAM), que possibilita a lixiviação de metais pesados e a solubilização de possíveis compostos orgânicos presentes tanto no minério, quanto nos rejeitos associados. Em função desta problemática, foram caracterizados e avaliados os possíveis mecanismos de contaminação da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá decorrentes da presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) oriundos de efluentes da mineração de carvão. A metodologia de análise foi realizada por cromatografia gasosa acoplada a espectroscopia de massas (GC/MS), identificando a concentração e distribuição de 16 tipos de HPAs em sedimentos “in natura” e em extratos de carvão, argila e areia, utilizados em testes cinéticos com lisímetros, com vistas a simulação de depósitos de carvão beneficiado e bacias de decantação. Os resultados demonstraram que os sedimentos dos corpos hídricos analisados apresentam concentrações significativas de HPAs, com somatórios entre 110,16 e 534.276,54 ng g-1. A relação proporcional dos tipos de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos identificados no início da bacia hidrográfica e os presentes na foz do rio Araranguá, indicam a migração destes compostos ao longo do sistema hídrico. Compostos como naftaleno, fenantreno e fluoreno que apresentam concentrações elevadas no rio Mãe Luzia após a influência de DAM, na ordem de 533.560,71; 554,68 e 49,01 ng g-1 também são os que apresentam maiores concentrações na foz do rio Araranguá (1.891,03; 355,08 e 65,13 ng g-1 respectivamente). Os dados obtidos sugerem que a origem destes compostos está fortemente relacionada aos processos de mineração de carvão, com base nos resultados observados nos extratos deste minério, onde foi verificada a presença de elevadas concentrações dos 16 tipos de HPAs. Além disso, a confirmação da origem petrogênica dos compostos, tanto nos sedimentos da bacia hidrográfica quanto dos extratos obtidos nos testes cinéticos corroboram com os estudos realizados e indicam que mecanismos de difusão de poluentes estão ocorrendo ao longo da bacia hidrográfica, inclusive no que se refere ao transporte dos compostos para o ambiente estuarino e conseqüentemente para os ecossistemas costeiro e marinho.

Palavras-chave: Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos; Mineração de Carvão; Sedimentos; Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá.

vi

ABSTRACT

In the south of Santa Catarina State (Brazil), coal mining is considered one of the chief causes of environmental pollution, compromising mainly the hydric resources. A major impact of such activity is related to the process of effluent generation due to acid mine drainage (AMD), which enables the lixiviation of heavy metals and the solubilization of possible organic compounds present both in the coal and in the associated waste. For this reason, the possible mechanisms of contamination in the Hydrographic Basin of Rio Araranguá [Araranguá River], which derive from the presence of polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs) brought by coal mining effluents, were characterized and evaluated. The analysis was performed through the gas chromatography-mass spectrometry (GC-MS) method, identifying the concentration and distribution of 16 types of PAHs of in natura sediments and of coal, clay and sand extracts, used in kinetic tests with lysimeters in order to simulate deposits of beneficiated coal and decantation basins. The results demonstrate that the sediments of the hydric bodies analyzed have significant concentration of PAHs, with amounts ranging from 110,16 to 534.276,54 ng g-1. The proportional relation of the kinds of polycyclic aromatic hydrocarbons identified in the upper portion of the hydrographic basin and those found in the estuary of Rio Araranguá points out the migration of such compounds along the hydric system. Compounds such as naphthalene, phenanthren and fluoren which present high concentrations in Rio Mãe Luzia [Mãe Luzia River] after AMD influence, reaching the amounts of 533,560.71; 554.68 and 49.01 ng g-1 respectively, proved to be the ones with the highest concentrations in the estuary of Rio Araranguá (1,891.03; 355.08 e 65.13 ng g-1 respectively) as well. Data obtained suggest that the origin of these compounds is strongly related to the processes of coal mining, with basis on the results observed in the coal extracts, where the presence of high concentrations of the 16 types of PAHs was observed. Also, the confirmation of the petrogenic origin of the compounds, both in the sediments of the hydrographic basin and in the extracts obtained from the kinetic tests, corroborates with the studies performed and indicates that the mechanisms of pollutants diffusion are occurring along the hydrographic basin, with the compounds being transported to the estuarine environment and, consequently, to the coastal and marine ecosystems.

Key words: Polycyclic aromatic hydrocarbons; coal mining; sediments; Hydrographic Basin of Rio Araranguá [Araranguá River].

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estrutura do benzo(a)pireno ............................................................... 20

Figura 2 - Desenho esquemático de um circuito típico de beneficiamento de carvão mineral ....................................................................................................

30

Figura 3 - Localização da área de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá na região sul da Santa Catarina .......................................................

35

Figura 4 - Localização e ilustração em destaque dos pontos de coleta de sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá ........................................

36

Figura 5 - Rio Mãe Luzia sem a influência direta de efluentes da mineração de carvão – município de Treviso/ SC (ponto de coleta da amostra P1) ................

37

Figura 6 - Rio Mãe Luzia após a influência direta de efluentes da mineração de carvão – município de Treviso/ SC (ponto de coleta da amostra P2) ...........

38

Figura 7 - Rio Fiorita – antes do perímetro urbano do município de Siderópolis/ SC (ponto de coleta da amostra P3) ..............................................

38

Figura 8 - Saída da lagoa ácida “Língua do Dragão” – município de Siderópolis/ SC (ponto de coleta da amostra P4) ..............................................

39

Figura 9 - Foz do Rio Araranguá – Comunidade de Ilhas, Araranguá/ SC (ponto de coleta da amostra P5) ........................................................................

39

Figura 10 - Esquema do lisímetro que foi utilizado nos experimentos ............... 44

Figura 11 - Disposição do material filtrante no lisímetro .................................... 45

Figura 12 - Lisímetro 01 - Simulação de Depósito de carvão beneficiado.......... 46

Figura 13 - Lisímetro 02 - Simulação de Bacia de Finos de Decantação........... 46

Figura 14 - Laboratório de Geoquímica Aplicada do IPAT/ UNESC, com a simulação de radiação solar por lâmpadas ultravioletas e ventos .....................

47

Figura 15 - Concentrações totais de HPA (ng . g-1) em sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá (n = 2) ...............................................................

53

Figura 16 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação da origem dos HPAs na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá (SC) .........................................

59

Figura 17 - Distribuição espacial de HPAs de baixa massa molecular (petrogênico) e de alta massa molecular (pirolítico) dos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá ...........................................................................

60

viii

Figura 18 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos superficiais do rio Mãe Luzia sem a influência direta de efluentes da mineração de carvão (P1) ..............................................

61

Figura 19 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos superficiais do rio Mãe Luzia com a influência direta da DAM (P2) .............................................................................................

63

Figura 20 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos do rio Fiorita (P3) .....................................................

64

Figura 21 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos da Lagoa Artificial Língua do Dragão (P4) ...............

66

Figura 22 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos da foz do rio Araranguá (P5) ....................................

68

Figura 23 - Concentrações características de naftaleno em sedimentos da Bacia Hidrográfica Rio Araranguá ......................................................................

69

Figura 24 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) presentes nos estratos do Lisímetro 01 ............................................

72

Figura 25 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) presentes nos estratos do Lisímetro 02 ............................................

74

Figura 26 - Concentrações características de naftaleno presentes nos estratos do Lisímetro 01 e 02 .............................................................................

74

Figura 27 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação das origens dos HPAs nos estratos dos lisímetros de simulação de geração efluentes da mineração ...........................................................................................................

77

Figura 2 - Relação entres os HPAs de baixa massa molecular presentes nos estratos de carvão dos Lisímetros 01 e 02 e nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá ...........................................................................

78

Figura 29 - Relação entres os HPAs de alta massa molecular presentes nos estratos de carvão dos Lisímetro 01 e 02 e nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá ...........................................................................

79

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores típicos de efluentes de Drenagem Ácida de Mina (DAM)..... 7

Tabela 2 - Principais características dos HPAs ................................................. 10

Tabela 3 - Propriedade físico-química dos 16 HPAs presentes da lista USEPA 11

Tabela 4 - Níveis de HPAs encontrados em diversos compartimentos ambientais ..........................................................................................................

13

Tabela 5 - Toxicidade dos HPAs para humanos estabelecidos por órgãos regulamentadores ..............................................................................................

19

Tabela 6 - Concentração de BaP em águas de diferentes origens .................... 21

Tabela 7 - Legislações específicas referentes aos limites de BaP para águas destinadas ao consumo humano .......................................................................

22

Tabela 8 - Razões entre HPAs usadas na interpretação de possíveis origens 24

Tabela 9 - Descrição e georeferenciamento dos pontos de coleta de amostras 33

Tabela 10 - Descrição dos parâmetros físico-químicos analisados e seus respectivos métodos analíticos ..........................................................................

40

Tabela 11 - Valores M / Z para as análises dos 16 compostos na modalidade S.I.M. (Silge lon Monitoring) ...............................................................................

43

Tabela 12 - Características Físico-Químicas da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá (n = 2) ...............................................................................................

50

Tabela 13 - Metais pesados presentes nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá .................................................................................................

51

Tabela 14 - Concentrações médias de HPA (ng . g-1) em sedimentos da bacia hidrográfica do rio Araranguá na região sul do estado de Santa Catarina (n = 2) .................................................................................................................

53

Tabela 15 - Comparação para valores máximos e mínimos entre as concentrações totais de HPAs identificados no presente trabalho e os referenciados na literatura ..................................................................................

55

Tabela 16 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação das origens dos HPAs ..................................................................................................................

57

Tabela 17 - Concentrações totais de HPA (ng . g-1) nos Lisímetros 01 e 02 ..... 71

Tabela 18 - Parâmetros geoquímicos utilizados na avaliação das origens dos HPAs nos testes cinéticos ..................................................................................

76

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

Ant - antraceno

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BaA - benzo(a)antraceno

BaP - benzo(a)pireno

BbF - benzo(b)fluoranteno

BghiP - benzo(g,h,i)perileno

BkF - benzo(k)fluoranteno

CETEM - Centro de Tecnologia Mineral

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

Ch - criseno

DAM - drenagem ácida de mina

ERL - effects range-low

ERM - effects range-median

EU - União Européia

FAD - flotação por ar dissolvido

FATMA - Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina

Fen - fenantreno

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

Fl - fluoranteno

GC-MS - cromatografia gasosa acoplada espectroscopia de massas

GESAMP - Grupo de Especialistas nos Aspectos Científicos da População Marinha

HPAs - hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

xi

IARC - Internacional Agency on Researcher Cancer (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer)

IP - indeno(1,2,3-cd)pireno

IPAT - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas

IQA - índice de qualidade das águas

MCL - maximum contaminat level (nível máximo de concentração)

MS - Ministério da Saúde

NBR - Norma Brasileira

NEP - níveis de efeitos prováveis

NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration

PM - peso molecular

PQT - padrões de qualidade temporários

Py - Pireno

ROM - Run of Mine

SIM - Single of Monitoring

STD - standard

UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense

USEPA - United States Environmental Protective Agency (Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana)

xii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 4

2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 4

2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 4

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 5

3.1 Drenagem ácida de mina – DAM … .............................................................. 5

3.2 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) ........................................... 8

3.2.1 Características geoquímicas ...................................................................... 10

3.2.2 Principais fontes de HPAs .......................................................................... 14

3.2.3 Efeitos da poluição e toxicidade dos HPAs ................................................ 15

3.2.4 Toxicidade ambiental do benzo(a)pireno .................................................... 20

3.2.5 Identificação das origens dos HPAs ........................................................... 22

3.3 O sedimento como compartimento ambiental ............................................... 26

3.4 Histórico da área ............................................................................................ 28

4 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ............................................................ 32

4.1 Definição da área de estudo e amostragem .................................................. 32

4.2 Análises químicas e físico-químicas .............................................................. 40

4.2.1 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – HPAs ........................................ 40

4.3 Testes cinéticos com lisímetros ..................................................................... 43

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 49

5.1 Caracterização da bacia hidrográfica do rio Araranguá ................................. 49

5.1.1 Caracterização da presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) .................................................................................................................

52

5.1.2 Instrumentos para identificação das origens dos HPAs ............................. 56

5.1.2.1 Rio Mãe Luzia sem influência direta da mineração de carvão (P1) ........ 61

5.1.2.2 Rio Mãe Luzia com influência direta da mineração de carvão (P2) ........ 63

5.1.2.3 Rio Fiorita (P3) ........................................................................................ 64

5.1.2.4 Lagoa artificial de drenagem ácida de mina “Língua do Dragão” (P4) .... 65

5.1.2.5 Foz do rio Araranguá (P5) ....................................................................... 67

5.2 Testes cinéticos com lisímetros .................................................................... 70

5.3 Estudo comparativo entre as fontes de HPAs no sedimento “in natura” e nos testes cinéticos .............................................................................................

75

xiii

6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 80

6.1 Sugestões ...................................................................................................... 81

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 83

ANEXO I .............................................................................................................. 90

ANEXO II ............................................................................................................. 96

1 INTRODUÇÃO

No Sul do Estado de Santa Catarina a atividade de mineração de carvão

historicamente foi de extrema relevância para a economia da região, constituindo-

se como base econômica de diversos municípios. Por outro lado, essa atividade

destaca-se como uma das maiores responsáveis pelos danos ambientais causados

na região, com severos impactos em todas as etapas dessa indústria, tanto nas

etapas de lavra, beneficiamento, disposição de resíduos sólidos e efluentes

líquidos, como durante o uso desse combustível fóssil em termoelétricas,

comprometendo a qualidade dos ambientes aquáticos, terrestres e atmosféricos.

O carvão mineral é uma substância sólida, formada pela decomposição

parcial de restos vegetais, com enriquecimento em carbono e litificada em

condições especiais de temperatura e pressão (LEINZ e AMARAL, 1983).

As principais reservas no Brasil são predominantemente do tipo

energético e totalizam 23,5 bilhões de toneladas, das quais 88% estão no Rio

Grande do Sul, 11% em Santa Catarina e 1% no Paraná (SAMPAIO; DA LUZ e

LINS, 2001).

Dentre os processos associados à mineração de carvão o efluente

resultante de reações de oxidação denominado de Drenagem Ácida de Mina

(DAM), constitui-se em uma fonte causadora de severos impactos ao meio

ambiente. A DAM é proveniente de transformações ocorridas no rejeito da

mineração de carvão, onde o sulfeto, oriundo de forma predominante da pirita, é

inicialmente oxidado quimicamente e na seqüência do processo é catalisado por

bactérias, gerando efluentes com elevada acidez, baixo pH, altas concentrações em

metais dissolvidos, tais como, ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn), além de

sulfatos (ALEXANDRE, 1999). Como resultado, tal efluente apresenta também uma

elevada toxicidade para ecossistemas aquáticos, o que implica na necessidade de

uma criteriosa avaliação dos contaminantes presentes, de forma qualitativa e

quantitativa.

No que se refere à qualidade dos ecossistemas aquáticos, um dos

complexos hídricos mais comprometidos pela atividade mineira na região

carbonífera de Santa Catarina, é a Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá. Tendo

aproximadamente 80% dos processos de extração e beneficiamento de carvão

realizados dentro de sua área de drenagem, o volume total de rejeitos dispostos na

2

região perfaz mais de 223 milhões de m3, comprometendo de cerca 2,9 mil

hectares de área (JICA, 1997 apud ANA, 2005).

Em razão dessa problemática ambiental, pesquisadores do Instituto de

Pesquisas Ambientais e Tecnológicas (IPAT) e do Departamento de Engenharia

Ambiental da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), desenvolveram

um sistema em escala piloto para tratamento da DAM, através do processo de

neutralização seguido de flotação por ar dissolvido (FAD), com vistas a redução das

concentrações de metais presentes no efluente, objetivo este atingido por Menezes

e Leal Filho (2004). Porém, em ensaios ecotoxicológicos utilizando o bioindicador

Daphnia magna, realizados com DAM antes e após tratamento, foi constatado que

mesmo em altas diluições esses efluentes apresentam elevada toxicidade

(MENEZES; LATTUADA; PAVEI, 2005).

Diante desta constatação, a hipótese de que compostos orgânicos

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) poderiam estar associados à esses

poluentes motivou a proposição de uma pesquisa de dissertação com esta

temática.

Osborne & Crosby (1987) citam que durante a mineração de carvão e

em processos associados, pode ocorrer o surgimento de tais substâncias,

provenientes da própria composição do carvão ou por meio de sua emissão durante

os processos de coqueificação. Essa possibilidade foi reforçada após estudos

realizados com este efluente e com resíduos sólidos provenientes da atividade de

mineração de carvão, através do método de espectroscopia de massas, onde foram

analisados dezesseis tipos de HPAs em diferentes pontos do processo de

mineração. Os resultados demonstraram concentrações de HPAs variando entre

57,69 �g.L-1 a 0,02 �g.L-1 (PAVEI, 2004; MENEZES; LATTUADA; PAVEI, 2005).

Os HPAs são substâncias que apresentam média persistência no

ambiente e características mutagênicas, teratogênicas e carcinogênicas. Entre eles,

alguns são reconhecidamente prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana,

tais como o benzo(a)pireno (BaP). Além disso, compostos de baixa massa

molecular, como o naftaleno e fenantreno, são considerados extremamente tóxicos

para comunidades aquáticas (FIGUEIREDO,1999).

Dessa forma, este trabalho procurou investigar a presença de poluentes

orgânicos oriundos do carvão mineral, sobretudo, HPAs existentes nos sedimentos

de corpos hídricos pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, avaliando

seu comportamento no meio. A relevância dessa pesquisa justifica-se em função da

3

necessidade de estudos consistentes na região, no que se refere à identificação de

HPAs em meio aquático, especificamente no complexo hídrico do rio Araranguá, e

busca avaliar o comportamento e os mecanismos de difusão destes poluentes, bem

como suas possíveis interações com outros contaminantes.

4

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Identificar os mecanismos de contaminação do meio aquático devido à

presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), oriundos de efluentes da

mineração de carvão da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, avaliando seu

comportamento no meio.

2.2 Objetivos específicos

� Realizar estudos de caracterização química e físico-química para a

identificação de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), em sedimentos

contaminados da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá;

� Identificar as possíveis fontes dr HPAs acumulados nos sedimentos,

usando parâmetros geoquímicos específicos;

� Avaliar em escala de laboratório o comportamento de migração de

HPAs na estrutura carbonosa e a sua concentração em ambientes sem a influência de

outras fontes de contaminação;

� Estudar os mecanismos de dispersão e difusão dos HPAs no meio

aquático e avaliar as possíveis interações com outros poluentes gerados pela

mineração de carvão.

5

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Por ser um componente fundamental à existência da vida no planeta, a

preocupação com a conservação da qualidade da água e dos seus mananciais

tornou-se cada vez maior nos últimos anos, bem como a busca por mecanismos

eficazes na redução dos danos ambientais a esses ecossistemas.

Na região sul do estado de Santa Catarina, a mineração de carvão é tida

como uma das atividades mais impactantes em relação à manutenção da qualidade

do meio ambiente, sobretudo na proteção dos recursos hídricos (ALEXANDRE,

1999; MENEZES; LEAL FILHO, 2004).

Uma das principais causas dos impactos aquáticos ocasionados por

esta atividade está relacionada ao processo de geração de efluentes da drenagem

ácida de mina (DAM), além da degradação do solo e supressão da vegetação,

ocasionando o assoreamento dos corpos d’água e contaminação dos sedimentos.

3.1 Drenagem ácida de mina – DAM

Segundo Mello e Abraão (1998), a pirita (FeS2) é o principal mineral

sulfetado capaz de produzir drenagem ácida de mina (DAM). A DAM é formada a

partir de uma seqüência de mecanismos de oxidação dos sulfetos, na presença do

oxigênio e também como resultado da atividade bacteriana. Tais processos

apresentam fatores limitantes da oxidação química e fatores catalizadores das

reações em função da variação do pH e da presença das bactérias Thiobacillus

ferrooxidans, de acordo com as equações 1, 2 e 3 a seguir:

FeS2(s) + H2O (l) + 7/2 O2(g) � Fe2+(aq) + 2SO4

2-(aq) + 2 H+

(aq) eq. (1)

Fe2+(aq) + 1/4 O2(g) + H+

(aq) � Fe3+ (aq) + 1/2 H2O (l) eq. (2)

2 Fe3+(aq) + FeS2(s) � 3 Fe2+

(aq) + 2 Sº (S) eq. (3)

Nessa etapa do processo, se o pH for maior do que 3,0 a oxidação do

hidróxido férrico (Fe(OH)3) começa a ocorrer. O enxofre elementar (S0), resultante

6

da oxidação da pirita é oxidado pelo íon férrico (Fe3+), como demonstrado na

equação 4:

2 Sº(S) + 12 Fe3+

(aq) + 8 H2O(l) � 12 Fe2+(aq) + 2 SO42-

(aq) + 16 H+(aq) eq. (4)

Uma outra reação que pode ocorrer é quando o enxofre elementar é

oxidado e convertido a sulfato por processos microbianos (equação 5), por meio de

bactérias do tipo Thiobacillus thioxidans:

2 Sº(S) + O2 (g) + 2 H2O � SO42-

(aq) + 4 H+(aq) eq. (5)

O Fe2+ produzido é submetido a uma nova ação microbiana por T.

ferroxidans, de acordo com a equação 2, configurando-se um ciclo onde o Fe3+

resultante da atuação microbiológica reage com a pirita na seguinte reação:

FeS2 (S) + 14 Fe3+(aq) + 8H2O(l) � 15 Fe2+

(aq) + 2 SO42-(aq) + 16H+

(aq) eq. (6)

Este ciclo é mantido constante até que a pirita disponível seja toda

consumida no processo. A oxidação do ferro de ferroso a férrico controla a

produção de acidez na drenagem de minas. Quando o pH da água for superior a

4,5, a oxidação ocorre sem a mediação bacteriana. Na faixa de pH menor de 4,5, a

oxidação química do ferro é extremamente lenta. Nestas condições as bactérias

ferro-oxidantes são responsáveis pela oxidação do Fe+2 a Fe+3.

Devido a essas características, este efluente, oriundo dos processos de

mineração de carvão se torna um grave problema ambiental capaz de comprometer

seriamente a qualidade dos recursos hídricos, conforme mencionado por Sanchez;

Hennies e Menezes (1994) e Alexandre (1999):

� Dois terços dos recursos hídricos da região Sul de SC apresentam

pH bastante ácido, grande aporte de sedimentos, além de altas concentrações de

metais pesados e sulfetos; Em efluentes de DAM, detectou-se a presença de

metais pesados em concentrações acima dos limites recomendados pela legislação

ambiental, tais como: ferro (205 mg . L-1), manganês (22 mg . L-1) e zinco

(7,6 mg . L-1), entre outros de menor abundância;

� Em efluentes de subsolo e drenagem de infiltração de bacias de

7

decantação, encontram-se concentrações de sulfato entre 3600-4500 mg . L-1 e

valores de acidez total na faixa de 1700 a 2810 mg . L-1 de CaCO3. Acidez é

definida como a capacidade quantitativa da água em neutralizar bases, e na

drenagem ácida representa o estado de oxidação da pirita.

Observa-se na Tabela 1 os valores típicos de metais encontrados em

efluente de drenagem ácida de mina em diferentes condições de degradação do

meio.

Tabela 1 - Valores típicos de efluentes de Drenagem Ácida de Mina (DAM).

Parâmetro Efluente (DAM) Referência

pH (25,0 ºC) 3,50

2,70

3,10

(Galatto, 2003)

(Cechinel, 2006)

(Rabello, 2006)

Sulfatos (mg . L-1) 1587

2780

8412

(Galatto, 2003)

(Cechinel, 2006)

(Rabello, 2006)

Ferro total (mg . L-1) 69

176

700

(Galatto, 2003)

(Cechinel, 2006)

(Rabello, 2006)

Manganês (mg . L-1) 7,4

21

47

(Galatto, 2003)

(Cechinel, 2006)

(Rabello, 2006)

Zinco (mg . L-1) 1,6

3,2

5,4

(Galatto, 2003)

(Cechinel, 2006)

(Rabello, 2006)

Fonte: Adaptado de GALATTO (2003), CECHINEL (2006) e RABELLO (2006).

Conforme disposto no Decreto Estadual - nº 14250 de 05 de junho de

1981, os valores máximos permitidos para lançamento de efluentes industriais em

corpos hídricos são na ordem de 15 mg . L-1 de ferro, 1 mg . L-1 de zinco, 1 mg . L-1

de manganês e pH entre 6 e 9 portanto, as concentrações mencionadas

demonstram que o efluente possui valores acima do permitido pela legislação.

A legislação nacional também delimita concentrações destes metais em

rios de Classe II na Resolução CONAMA nº 357 de 2005, onde os valores máximos

8

permitidos são de 0,3 mg . L-1 de ferro, 0,1 mg . L-1 de manganês e 0,18 mg . L-1

para o zinco, ilustrando o grande potencial contaminante destes efluentes.

Ao atingir os mananciais de água como lagos e rios, a drenagem ácida

sem o devido tratamento poderá comprometer seriamente os recursos hídricos,

com potencial para incorporar metais tóxicos à cadeia trófica (SASAKI et al., 2005).

Um dos métodos utilizados para o tratamento da drenagem ácida de

mina é o de Neutralização seguido de Flotação por Ar Dissolvido. Este processo foi

projetado e desenvolvido em escala piloto por pesquisadores da UNESC

(MENEZES; LEAL FILHO, 2004) onde todas as etapas foram superadas e os

resultados esperados com relação à remoção dos principais metais causadores de

poluição hídrica na região foram atingidos.

No entanto, em ensaios ecotoxicológicos realizados com DAM antes e

após tratamento, constatou-se que mesmo em altas diluições há presença de

toxicidade no efluente, o que indica a possível presença de outros compostos não

identificados, além dos metais, que estariam causando esses efeitos nos

bioindicadores utilizados (MENEZES; LATTUADA; PAVEI, 2005).

Várias pesquisas reportam a presença de compostos orgânicos

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em processos associados a

mineração e destilação do carvão (OSBORNE; CROSBY, 1987; MIRANDA;

LOUREIRO; CARDOSO, 1999; CATOGGIO, 2002; SANTOS; AZEVEDO E

ALQUINO NETO, 2004; CARVALHO, 2004; KO et al., 2007).

3.2 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs)

A avaliação da contaminação por Hidrocarbonetos Policíclicos

Aromáticos (HPAs) em meio aquático exige o conhecimento do comportamento

destes poluentes no meio, avaliando, sobretudo as formas de dispersão e

acumulação. Para isto, serão apresentadas algumas características que regulam

sua permanência e toxidez no ambiente.

Os hidrocarbonetos são compostos químicos formados por átomos de

carbono e hidrogênio, presentes na natureza como constituintes da matéria

orgânica de origem animal e vegetal, e como principais componentes dos

combustíveis fósseis (petróleo, gás, natural e carvão) (FIGUEIREDO, 1999;

YUNKER; MACDONALD, 2003). Em função de sua estrutura molecular classificam-

se em três grupos: hidrocarbonetos insaturados, saturados e aromáticos.

9

Os HPAs são constituídos por compostos formados por molécula de 2

(dois) a 6 (seis) anéis aromáticos condensados, sendo conectados por meios de

compartilhamento de um par de carbonos adjacentes. Estas substâncias, bem

como seus derivados nitrados e oxigenados, tem ampla distribuição e são

encontrados como constituintes de misturas complexas em todos os

compartimentos ambientais (NETTO et al., 2000).

Formados a partir da combustão incompleta a diferentes temperaturas,

com fontes naturais e antropogênicas, os HPAs podem ser classificados de acordo

com sua origem como petrogênicos, pirolíticos e biogênicos.

A distinção destes grupos de HPAs são dependentes da temperatura de

formação. Os de origem petrogênica, possuem baixa massa molecular (128,7 –

178,3 g.mol-1), compostos por 2 ou 3 anéis aromáticos, são formados a partir da

maturação lenta de matéria orgânica a baixas temperaturas sob determinadas

condições geoquímicas. Os pirolíticos, origina-se em processos de combustão

incompletos de matéria orgânica a altas temperaturas, produzindo HPAs de alta

massa molecular (202,2 – 278,3 g.mol-1), com 4 a 6 anéis benzênicos. Os de

origem biogênica são formados a partir da combustão da biomassa vegetal,

especialmente em incêndios florestais (BAUMARD et al, 1998; TAM et al., 2000;

SOCLO; GARRIGUES, 2000; VEIGA, 2003).

Com base na massa molecular os HPAs podem ser divididos em dois

grupos: com baixa massa molecular e alta massa molecular, tendo suas principais

características definidas pela United States – Environmental Protection Agency

(US-EPA) e União Européia (EU) conforme Tabela 2.

Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são compostos

químicos apolares com natureza hidrofóbica, o que limita a sua solubilidade em

ambientes aquáticos, favorecendo a tendência de adsorção em partículas sólidas

(materiais em suspensão, tecidos biológicos e sedimentos) com destinação final em

deposição sedimentar, ou de transferência para a atmosfera na fase gasosa (TAM

et al., 2001; CULOTTA et al., 2006).

10

Tabela 2 - Principais características dos HPAs

HIDROCARBONETOS

POLICÍCLICOS AROMÁTICOS

Nº DE

ANÉIS

FÓRMULA

MOLECULAR

MASSA

MOLECULAR

(g.mol-1)

Naftaleno 2 C8H10 128,17

Acenaftileno 3 C12H8 152,20

Acenafteno 3 C12H10 154,21

Fluoreno 3 C13H10 166,20

Fenantreno 3 C14H10 178,20

PE

TRO

NIC

O

Antraceno 3 C14H10 178,20

Fluoranteno 4 C16H10 202,26

Pireno 4 C16H10 202,30

Benzo(a)antraceno 4 C18H12 228,30

Criseno 4 C18H12 228,29

Benzo(b)fluoranteno 5 C20H12 252,30

Benzo(k)fluoranteno 5 C20H12 252,30

Benzo(a)pireno 5 C20H12 252,30

Indeno(1,2,3-cd)pireno 6 C22H12 276,30

Dibenzo(a,h)antraceno 5 C22H14 278,35

PIR

OLÍ

TIC

O

Benzo(g,h,i)perileno 6 C21H16 276,34

Fonte: LEE; YI (1999) apud VEIGA (2003), p. 40.

3.2.1 Características geoquímicas

Os processos de distribuição dos HPAs, sobretudo nos ambientes

aquáticos, são condicionados por diversos processos de natureza física, química e

biológica, que estão relacionadas principalmente as interações entre ar e água,

água e sedimentos e água e biota. Além disso, são importantes parâmetros: massa

molecular, coeficiente de partição octanol-água, coeficiente de partição com

carbono, solubilidade em água, ponto de ebulição. A constante de Henry dos 16

HPAs definidos pela US-EPA e EU como os principais contaminantes policíclicos

aromáticos podem ser utilizados como indicadores destas relações (Tabela 3).

11

Tabela 3 - Propriedade físico-química dos 16 HPAs presentes da lista US-EPA

e EU

Fonte: MAO, 2005, p. 43.

HPA Estrutura PM (g.mol-1)

KOW KOC S (mg.L-1) Peb (°C) KH

(atm m3 .mol-1)

Naftaleno

128,17 3,37 3,11 30 218 nd

Acenaftileno

152,20 4,07 4,07 3,93 265 – 275 1,45 x 10-3

Acenafteno

154,21 3,98 3,66 1,93 96,2 7,91 x 10-5

Fluoreno

166,20 4,18 3,86 1,68 –

1,98

295 1,0 x 10-4

Fenantreno

178,20 4,45 4,15 1,20 340 2,56 x 10-5

Antraceno

178,20 4,45 4,45 7,3 x 10-2 340 – 342 1,77 x 10-5

Fluoranteno

202,26 4,90 4,58 0,20 –

0,26

375 6,5 x 10-6

Pireno

202,30 4,88 4,58 7,7 x 10-2 393 – 404 1,14 x 10-5

Benzo(a)antraceno

228,29 5,61 5,30 1,0 x 10-2 400 – 435 1,0 x 10-6

Criseno

228,30 5,16 5,30 7,6 x 10-3 448 7,05 x 10-6

Benzo(b)fluoranteno

252,30 6,04 5,74 1,2 x 10-3 nd 1,22 x 10-5

Benzo(k)fluoranteno 252,30 6,06 5,74 7,6 x 10-4 311 7,91 x 10-5

Benzo(a)pireno

252,30 6,50 6,74 6,3 x 10-3 311 1,86 x 10-5

Indeno(1,2,3-cd)pireno

276,30 6,58 6,20 6,2 x 10-2 530 6,95 x 10-8

Dibenzo(a,h)antraceno

278,35 6,84 6,52 5,0 x 10-4 nd 7,3 x 10-8

Benzo(ghi)perileno

276,34 6,50 6,20 2,6 x 10-4 550 1,44 x 10-7

12

Observa-se que a volatilidade destes compostos diminui com o aumento

da massa molecular e conforme valores da Constante de Henry, que variam de

1,74 x 10-2 a 1,72 x 10-7 sugere-se que esses compostos são pouco ou mediamente

voláteis.

A solubilidade e a concentração dos HPAs em águas são baixas e

diminuem com o aumento da massa molecular. Os HPAs alquilados possuem,

normalmente, solubilidade inferior a seus homólogos não-alquilados, sendo que a

solubilidade é inversamente proporcional ao grau de alquilação, exemplificado pela

baixa solubilidade do antraceno quando comparada à do fenantreno (VEIGA, 2003).

O coeficiente de partição octanol-água (log Kow) expressa a razão entre

as concentrações das substâncias em octanol e água, este parâmetro pode

predizer a tendência a bioacumulação dos HPAs, ou seja, quantifica a partição dos

compostos entre água e biota. Altos valores deste coeficiente (KOW � 3,5 – 7,1)

indicam alta hidrofobicidade e conseqüentemente grande disposição para adsorção

a matéria orgânica e bioacumulação (WAKEHAM, 1996; YUNKER; MACDONALD,

2003).

A adsorção dos compostos pelo carbono orgânico sedimentar pode ser

aferida pelo coeficiente de partição com o carbono orgânico (log Koc), este

parâmetro pode ser utilizado de forma satisfatória na predição dos mecanismos de

equilíbrio entre fases e de transporte de compostos orgânicos na coluna d’água

(PERIN, 2005). O aumento dos valores deste coeficiente, são diretamente

proporcionais à tendência de acumulação dos HPAs no sedimento.

Com isso, os altos valores de coeficiente de partição octanol-água e de

partição com o carbono orgânico, aliado a baixa solubilidade destes poluentes,

demonstram que os HPAs apresentam grande afinidade aos compostos orgânicos,

e tendem a associarem-se as partículas sólidas, minerais ou pelotas fecais, sendo

posteriormente depositados e acumulados nos sedimentos de fundo dos corpos

hídricos (SOCLO; GARRIGUES, 2000).

Porém, a distribuição de hidrocarbonetos nos sedimentos depende não

apenas de sua taxa de sedimentação, mas também de processos de ressuspensão,

degradação e reciclagem bêntica.

Os mecanismos de degradação de hidrocarbonetos em ambiente

aquáticos baseiam-se em processo químico (hidrólise, reações redox ou oxidação

fotoquímica) e biológicos (biodegradação) ou em uma combinação de ambos

(FIGUEIREDO, 1999). Esses processos podem ocasionar alterações estruturais

13

que modificam a reatividade, distribuição e tempo de residência dos HPAs nos

compartimentos ambientais. Porém a presença de forma disseminada destes

compostos nos sedimentos indica que os fenômenos de acumulação geralmente

dominam os processos de degradação em matrizes sedimentares (NETTO et al.,

2000; READMAN et al., 2002). Isso faz com que estes contaminantes possam

permanecer por longos períodos nos corpos hídricos, estando sujeitos a serem

redissolvidos na fase aquosa, quando o sedimento venha ser revolvido ou com o

aumento da temperatura.

Além de sua presença nos corpos hídricos, os HPAs também estão

presentes na atmosfera, por serem compostos semivoláteis ficam associados tanto

a fase de vapor quanto a fase particulada, e podem ser depositados na superfície

pelo impacto direto entre as partículas e as moléculas gasosas (disposição seca) ou

por precipitação (disposição úmida) (MOTELAY-MASSEI et al., 2003).

Esta característica propicia o transporte deste compostos pelo vento por

longas distâncias, e por serem persistentes no ambiente podem contaminar áreas

remotas por via atmosférica (MAIER; MAIER; LOYD, 2000).

Estando presentes normalmente nos sedimentos e sendo oriundo de

diversas fontes, os HPAs podem ser encontrados em variados compartimentos

ambientais. Na Tabela 4 são apresentados alguns valores de HPAs comumente

encontrados em diferentes matrizes.

Tabela 4 - Níveis de HPAs encontrados em diversos compartimentos

ambientais

Tipo de amostra Concentração

Ar 1,3 a 500 ng/m3

Solo 0,8 ng/kg – 100 mg/kg

Água 2,5 a 500 ng/L

Plantas < 150 µg/kg

Alimentos 0,1 – 20 µg/kg

Fonte: NETTO et al., 2000, p. 766.

As fontes de HPAs podem ser de origem natural ou antropogênica,

porém, aqueles gerados por atividades humanas são mais significativos em termos

de quantidade e impactos gerados.

14

3.2.2 Principais fontes de HPAs

As principais fontes de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em

sedimentos são citadas e identificadas por diversos autores (FIGUEIREDO, 1999;

WOODHEAD; LAW; MATTHIESSEN, 1999; NETTO et al. 2000; SOCLO;

GARRIGUES, 2000; TAM et al., 2001; VEIGA, 2003), sendo divididas em dois

grupos, os de origem natural e os gerados por atividades antropogênicas.

As fontes de ocorrência natural mais expressivas são as atividades

magmáticas em fundo oceânico, diagênese de precursores naturais, síntese por

organismos aquáticos ou terrestres, erosão de sedimentos continentais e

combustão espontânea de biomassa, sendo que estas fontes ocorrem, sobretudo

em ambientes marinhos.

As fontes de origem antropogênicas podem ser identificadas como:

� Queima de carvão, gás natural, derivados de petróleo e madeira para

a geração de energia e aquecimento;

� Combustão de derivados de petróleo para a movimentação de

embarcações, veículos terrestres e aeronaves;

� Atividades industriais que utilizam derivados de combustíveis fósseis

como matéria-prima, especialmente os processos pirolíticos;

� Queimadas intencionais em áreas de cobertura vegetal;

� Efluentes industriais e esgotos urbanos;

� Drenagem fluvial;

� Produção, transporte, estocagem e refino de petróleo;

� Derrames acidentais de óleo envolvendo operações de

abastecimento e lavagem de tanques de navios petroleiros em zonas portuárias.

Nos centros urbanos os lançamentos de esgotos domésticos e

industriais em corpos hídricos merecem destaque dentre as diversas fontes de

hidrocarbonetos (VEIGA, 2003).

Volumes consideráveis de derivados de combustíveis fósseis são

introduzidos constantemente no ambiente pelas descargas dos efluentes industriais

(SOCLO; GARIGUES, 2000), estes por sua vez apresentam variáveis teores de

HPAs antes da combustão. Segundo Simoneit (2002 apud SANTOS; AZEVEDO;

ALQUINO NETO, 2004) o petróleo e seus produtos apresentam menores

concentrações destes poluentes em relação ao carvão.

15

Relatos bibliográficos reportam a presença expressiva de tais compostos

em diferentes matrizes de carvão (MIRANDA; LOUREIRO; CARDOSO, 1999;

SANTOS; AZEVEDO; ALQUINO NETTO, 2004; KO et al., 2007), sendo também

formados durante processos de coqueificação e na destilação do minério

(OSBORNE; CROSBY, 1987; CARVALHO, 2004). Os mesmos autores ainda

afirmam que os moradores de localidades que utilizam este minério como fonte

energética ou processem de alguma forma combustíveis fósseis estariam mais

expostos a estes poluentes.

A contribuição atmosférica também tem extrema relevância na

introdução destes poluentes nos ambientes aquáticos. Os gases provenientes da

exaustão veicular e de outros processos de combustão, comum nos grandes

centros urbanos, são fontes importantes de compostos orgânicos, em especial de

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (VEIGA, 2003).

Netto et al. (2000) afirmam que a exposição humana aos HPAs ocorre

principalmente através da contaminação ambiental, e de maneira geral, tantos

estes compostos quanto seus derivados podem estar associados ao aumento da

incidência de diversos tipos de cânceres no homem.

3.2.3 Efeitos da poluição e toxicidade dos HPAs

Amplamente citados como poluentes atmosféricos (MAIER; MAIER;

LOYD, 2000; BAIRD, 2002; MAO, 2005; LI et al., 2006; KO et al., 2007) os HPAs

estão fortemente ligados a degradação da saúde humana e ambiental. A amplitude

dos efeitos da poluição por hidrocarbonetos está condicionada por alguns fatores:

natureza química e concentração dos compostos presentes no meio; fatores

abióticos, tais como, temperatura, oxigênio dissolvido, concentração de nutrientes

inorgânicos, tipo de substrato; e fatores bióticos em função da presença de

organismos degradadores de hidrocarbonetos.

A poluição por hidrocarbonetos pode gerar situações de elevado impacto

imediato às comunidades biológicas e atividades humanas, tais como no caso dos

derramamentos acidentais de petróleo, ou efeitos subletais na biota causados pela

exposição em longo prazo destes organismos a níveis elevados de concentrações

de hidrocarbonetos, caso típico de áreas sob poluição crônica ocasionada pelo

lançamento de efluentes domésticos e industriais (FIGUEIREDO, 1999; VEIGA,

2003).

16

Os efeitos causados por este tipo de poluição nos ambientes aquáticos

variam desde a morte de organismos (peixes, moluscos, crustáceos, aves

marinhas) até a interferência nas funções celulares e fisiológicas, ocorrência de

danos e lesões em órgão e tecidos internos, alteração dos padrões de reprodução,

ruptura da cadeia alimentar e mudanças nas características populacionais e na

estrutura ecológica das comunidades aquáticas (FIGUEIREDO, 1999).

Além disto, a bioacumulação de hidrocarbonetos pelos organismos

através da bioconcentração (acúmulo de compostos retirados diretamente do meio

externo) e a biomagnificação (através da ingestão de alimentos contaminados)

potencializam efeitos deletérios de determinados HPAs, sobretudo efeitos

carcinogênicos em peixes e moluscos.

Baird (2002) cita um caso específico onde a lixívia dos HPAs procedente

do creosato, substância usada para preservar a madeira submersa das

embarcações de pescaria e de outras peças de madeira, representa uma fonte

significativa de contaminação para crustáceos, tais como as lagostas.

Os hidrocarbonetos poliaromáticos de baixa massa molecular, como o

naftaleno e fenantreno, são considerados os componentes mais tóxicos as

comunidades aquáticas, ocasionando toxicidade aguda. Os de alta massa

molecular são considerados como grandes causadores de efeitos carcinogênicos e

mutagênicos, sendo o benzo(a)pireno o mais potente deles (FIGUEIREDO, 1999).

Além dos efeitos causados nos ambientes aquáticos, os HPAs também

estão relacionados a danos a saúde humana, sendo associados ao aumento da

incidência de diversos tipos de cânceres (INCHEM, 2004).

As exposições a fatores ambientais em conjunção com fatores de

suscetibilidade adquirida são atualmente apontadas como as principais causas na

formação de cânceres em humanos. Os HPAs, de acordo com Netto, et al. (2000)

são apontados como substâncias capazes de reagir diretamente, ou após sofrerem

transformações metabólicas, com o DNA, tornando-se potenciais carcinógenos e

eficientes mutágenos.

Atualmente órgãos de pesquisas nacionais (FIOCRUZ – Fundação

Oswaldo Cruz) e internacionais (IARC – Agência Internacional de Pesquisa sobre o

Câncer) entendem que os HPAs podem ocasionar efeitos genotóxicos,

mutagênicos e carcinogênicos no homem e outras espécies. Esses efeitos são

preocupantes, pois a ubiqüidade dessas substâncias permite que as mesmas

persistam por longos períodos nos meios ambientais (MATHESON et al., 1983).

17

A ligação desta doença à exposição desses poluentes já vem de longa

data. Em 1775, a ocorrência de câncer escrotal em limpadores de chaminés foi

relacionada com a presença de fuligem na rugosidade da pele de seus genitais.

Atualmente, trabalhadores em fornos de coque e plantas de produção de gás

sofrem igualmente níveis mais altos de câncer de pulmão e rins devido à exposição

aos HPAs (BAIRD, 2002).

Netto, et al. (2000) afirmam que essas substâncias constituem um

ameaça potencial para a saúde de toda a população, enfatizando ainda mais os

grupos populacionais que residem ou trabalham diretamente expostos a esses

compostos, já que os mesmos apresentam caráter lipofílico sendo absorvidos pela

pele, por ingestão ou por inalação, sendo rapidamente distribuídos pelo organismo.

A evidência da indução ao câncer para o público em geral, cuja

exposição está em níveis de ordens de grandeza menores que a das pessoas que

se encontram nesses ambientes ocupacionais, é menos nítida, apresentando uma

dificuldade maior em deduzir a influências desses poluentes, a partir de estatísticas

sanitárias.

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) classifica

alguns processos industriais e misturas complexas de acordo com as evidências

epidemiológicas e experimentais como agente carcinogênico, provável

carcinogênico ou possível carcinogênico para humanos. Dentre as atividades

analisadas cita-se a produção de alumínio, coque e eletrodos de carbono, bem

como, a gaseificação do carvão, como empreendimentos sujeitos a geração de

rejeitos com efeitos carcinogênicos para humanos, onde os HPAs são tidos como

os responsáveis por estes danos à saúde.

Na legislação brasileira inexistem regulamentações específicas criadas

pelos órgãos regulamentadores quanto à quantificação em sedimentos das

concentrações de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos que poderiam

comprometer a qualidade ambiental. Em regiões temperadas estas concentrações

são estipuladas por suas respectivas Agências Ambientais (Tabela 5), porém o

clima destes países é distinto do Brasil. Este fato exige cautela nas avaliações

destes critérios, pois segundo Motelay-Mossei, et al. (2003) os processos de

distribuição e concentração dos hidrocarbonetos são dependentes do clima da

região e as condições climáticas brasileiras são distintas daquelas que os valores

limites de toxidez destes compostos foram definidos.

Na Tabela 5 observam-se as concentrações limites de hidrocarbonetos

18

em sedimentos definidos pela NOAA (National Oceanic and Atmospheric

Administration), onde os valores ERL (effects range-low) representam as

concentrações mínimas, nos quais os valores observados abaixo destes ocasionam

raros efeitos biológicos adversos. Nas concentrações superiores aos valores ERM

(effects range-median) observam-se freqüentemente efeitos adversos nos sistemas

biológicos (TAM et al., 2001).

A agência ambiental canadense (Enviromnment Canada, 1998)

estabelece padrões de qualidade temporários (PQT) e níveis de efeitos prováveis

(NEP) para sedimentos. Efeitos biológicos adversos normalmente não são

observados para valores de concentração inferiores ao PQT enquanto são

freqüentes para concentrações maiores que o NEP (VEIGA, 2003).

19

Tabela 5 - Toxicidade dos HPAs para humanos estabelecidos por órgãos

regulamentadores

NOAA, 1993* Environment

Canadá, 1998**

HPAs

RISCO À SAÚDE

ERL

(ng.g-1)

ERM

(ng.g-1)

PQT

(ng.g-1)

NEP

(ng.g-1)

1 Naftaleno Não carcinogênico 160 2.100 34,6 391

2 Acenaftileno - 44 640 5,87 128

3 Acenafteno - 16 500 6,71 88,9

4 Fluoreno Não carcinogênico 19 540 21,2 144

5 Fenantreno Não carcinogênico 240 1.500 86,7 544

6 Antraceno Não carcinogênico 853 1.100 46,9 245

7 Fluoranteno - 600 5.100 113 1.494

8 Pireno Não carcinogênico 665 2.600 153 1.398

9 Benzo (a)

antraceno

Carcinogênico 261 1.600 74,8 693

10 Criseno Fracamente

carcinogênico

384 2.800 108 846

11 Benzo (a)

fluoranteno

Fortemente

carcinogênico

- - - -

12 Benzo (k)

fluoranteno

- - - - -

13 Benzo (a) pireno Fortemente

carcinogênico

430 1.600 88,8 763

14 Indeno (1,2,3-cd)

pireno

Carcinogênico - - - -

15 Dibenzo

(a,h)antraceno

Fortemente

carcinogênico

63,4 260 6,2 135

16 Benzo(g,h,i)perileno Não carcinogênico - - - -

TOTAL HPAs (ng.g-1) 4022 44.792 - -

Fonte: TAM et al., 2001 apud VEIGA, 2003, p. 48.

*NOAA (1993) - ERL: limite inferior (effective range low); ERM: limite médio

(effective range medium).

**Environment Canadá (1998) – PQT: padrões de qualidade temporários; NEP:

níveis de efeitos prováveis.

20

Vários são os tipos de HPAs que causam toxicidade para humanos e

outras espécies, conforme visto anteriormente, porém por ser altamente

carcinogênico, o benzo(a)pireno (BaP) é utilizado normalmente como indicador

dessas substâncias (OSBORNE; CROSBY, 1987).

3.2.4 Toxicidade ambiental do benzo(a)pireno

Um dos hidrocarbonetos mais conhecidos e comuns é o benzo(a)pireno

(BaP), que contém cinco anéis de benzeno condensados. É um subproduto comum

da combustão incompleta de combustíveis fosseis, matéria orgânica e madeira

(BAIRD, 2002). O BaP têm sua estrutura representada na Figura 1.

Figura 1 - Estrutura do benzo(a)pireno (Fonte: LARSEN, 2004)

Este composto demonstra ser pouco solúvel em água, conforme sua

hidrossolubilidade de 4,0 x 10-3 mg . L-1, bem como alto coeficiente de partição

octanol-água (Kow) de 6,5, o que explica seu comportamento em diversas

compartimentos ambientais, conforme listado na Tabela 6, onde são citados os

valores encontrados em diferentes amostras ambientais da hidrosfera.

21

Tabela 6 - Concentração de BaP em águas de diferentes origens

Amostra BaP ( ng/L )

Água potável (FRANÇA) 0,50 a 9

Água potável (EUA) 0,2 a 1,6

Água superficial(FRANÇA) 1,0 a 10

Água superficial(EUA) 0,2

Água da chuva 4 a 8

Água de poço (Reino Unido) 0,2 a 0,6

Água de poço (FRANÇA) 2,0 a 15

Efluente doméstico 38

Urina Humana 1300

Fonte: MENEZES; LATTUADA, 2003, p. 04.

Os dados observados na Tabela 6 demonstram uma efetiva presença

desses poluentes nas diversas esferas ambientais, já que são detectados em

concentrações da ordem de 0,2 a 15 ng . L-1 para águas em geral, 38 ng . L-1 no

efluente doméstico e até 1300 ng . L-1 na urina humana.

De acordo com Netto, et al. (2000, p. 766) “o tempo de meia-vida do

benzo(a)pireno no solo pode variar de 269 dias até 8,2 anos”. Considerado o mais

carcinogênico dos HPAs, é uma substância biocumulativa em organismos que não

conseguem metabolizá-lo, não degradado facilmente no ambiente, estando sujeito

ao transporte aéreo a longa distância. Baird (2002, p. 383) cita que desde “os

últimos 200 anos, já se conhecem casos em que a exposição prolongada em locais

de trabalho em níveis elevados de alcatrão de hulha, cujo principal ingrediente

tóxico é o benzo(a)pireno, tenha induzido o câncer em seres humanos”. Outros

casos em que as pessoas se encontram diretamente expostas a estes ambientes

ocupacionais também apresentam altos índices de ocorrência de câncer.

Em função dos estudos realizados por diferentes organismos

internacionais relacionados à saúde, como por exemplo, o desenvolvido pelo IARC,

além de outras pesquisas onde são indicados a toxicidade dos HPAs ao homem,

foram definidos para estes compostos legislações específicas, conforme exposto na

Tabela 7.

22

Tabela 7 - Legislações específicas referentes aos limites de BaP para águas

destinadas ao consumo humano

Organismo/Legislação Limite Máximo Permitido

CONAMA1/ Resolução nº 357/2005 50 ng . L-1

MS2/ Portaria nº 518/04 700 ng . L-1 (VMP)4

US-EPA3 200 ng . L-1 (MCL)5

Fonte: Da pesquisadora.

1- Conselho Nacional do Meio Ambiente; 2- Ministério da Saúde; 3- Agencia de

Proteção Ambiental Norte-Americana; 4- Valor Máximo Permitido segundo

Ministério da Saúde; 5- Maximum Cantaminat Level.

Tanto órgãos nacionais como internacionais estabelecem limites

bastante baixos para o benzo(a)pireno, sendo a Resolução CONAMA n° 357/ 2005

a que apresenta o menor limite, na ordem de 50 ng . L-1.

A existência de legislações específicas definindo os limites de

concentrações do BaP, bem como as diferentes pesquisas de âmbito nacionais e

internacionais sobre o assunto, demonstram que a presença desses compostos nas

diversas matrizes ambientais são preocupantes, evidenciando a necessidade de

maior compreensão sobre o comportamento desses poluentes nos diversos meios.

Dentro deste contexto, os rios e córregos se tornam uma importante

forma de dispersão deste compostos, onde os hidrocarbonetos associados aos

sedimentos são carreados pelos cursos hídricos superficiais, aportando nos

oceanos e baías elevados volumes destes poluentes.

3.2.5 Identificação das origens dos HPAs

Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) estão presentes em

grande parte dos ambientes e podem ser originados em diferentes fontes, a forma

mais usual para discriminar as origens de tais compostos nos diferentes

compartimentos ambientais, sobretudo nos sedimentos, é através do uso de razões

entre diferentes tipos de HPAs, identificadas por alguns autores (SOCLO;

GARRIGUES, 2000; TAM et al., 2001; YUNKER et al., 2002) e amplamente

utilizadas em pesquisas relacionadas a esta temática (MIRANDA; LOUREIRO;

CARDOSO, 1999; VIEIRA, 2003; SANTOS; AZEEDO; ALQUINO NETO, 2004;

MAO, 2005; WAKEHAM, 2005; KO et al., 2007; LI et al., 2007; MENICONI;

23

MASSONI; FERNANDES, 2007; entre outros).

O uso destes “índices ambientais” permite identificar (considerando os

possíveis erros experimentais), se a contaminação de um sítio é de origem

petrogênica (petróleo cru, decorrentes de acidentes com derramamento de

petróleo, óleo, carvão, etc) ou de origem pirolítica (combustão de matéria orgânica

complexa, como petróleo, óleo, carvão, madeira, etc).

Para exemplificar tal relação podem ser considerados os isômeros –

moléculas com o mesmo número de anéis aromáticos e, portanto, mesma massa

molecular, mas com disposições espaciais diferentes – fenantreno e antraceno.

O antraceno se forma geralmente através da combustão de materiais orgânicos complexos, enquanto o fenantreno está presente no petróleo em quantidades consideráveis, através da razão entre as concentrações destes compostos ([Fen]/[Ant]) em determinado ambiente se pode estimar a origem da contaminação de tal HPA. Se esta relação resulta em [Fen]/[Ant] > 10, a contaminação será relacionada a derramamento de petróleo ou óleo, enquanto se resulta em valor inferior a este, a fonte provável será de origem pirolítica (SICRE et al., 1987 apud MAO, 2005, p. 129).

Além desta relação, muitas outras são utilizadas pela comunidade

científica para determinar a origem da contaminação pelos HPAs (Tabela 8). Essas

razões dão suporte as interpretações dos dados analíticos obtidos.

24

Tabela 8 - Razões entre HPAs usadas na interpretação de possíveis origens

Razões entre HPAs Interpretação da origem

Ant/(Ant + Fen) < 0,1

Ant/(Ant + Fen) > 0,1

Petrogênica: contaminação petroleo 1; 2

Pirolítica 1; 2

Fl/(Fl + Py) > 0,5

0,5> Fl/(Fl + Py) > 0,4

Fl/(Fl + Py) < 0,4

Pirolítica: Combustão de vegetais, madeira e

carvão1; 2

Petrogênica: combustão de petróleo 1; 2

Contaminação por petróleo 1; 2

Fen/ Ant < 10

Fen/ Ant > 10

Pirolítica 3

Petrogênica 3

Fl/ Py < 1

0,9 > Fl/ Py > 0,6

Pirolítica 4

Óleo Combustível 4

BghiP/ IP � 3,5

BghiP/ IP � 1,1

Queima de gasolina 4

Queima de diesel 4

BaA/ BaP � 0,5

BaA/ BaP � 1,1

Queima de gasolina 4

Queima de diesel 4

BaA/ BaA + Ch < 0,2

0,2 > BaA/ BaA + Ch > 0,35

BaA/ BaA + Ch > 0,35

Petrogênica 2

Mistura de fontes 2

Pirolítica 2

IP / IP + BghiP < 0,2

0,2 > IP/ BghiP > 0,5

IP/ BghiP < 0,5

Petrogênica 2

Pirolítica: combustão do petróleo 2

Pirolítica: combustão de carvão, grama, madeira. 2

BbF + BkF/ BaP < 1

BbF + BkF/ BaP > 1

Petrogênica 1

Pirolítica 1

Baixo PM/ Alto PM > 1

Baixo PM/ Alto PM < 1

Petrogênica ou queima artesanal de carvão 3

Pirolítica 3

Fonte:1 SOCLO et al., 2000; 2 YUNKER et al., 2003; 3 SICRE, 1987 apud MAO, 2005, 4 ZHANG J. et al., 2004 Adaptado pela Pesquisadora.

(Ant = Antraceno; Fen = Fenantreno; Fl = Fluoranteno; Py = Pireno; BghiP =

Benzo(ghi)perileno; IP = Indeno (1,2,3-cd) pireno; BaA = Benzo(a)antraceno; BaP =

Banzo(a)pireno; Ch = Criseno; BbF = Benzo(b)fluoranteno; BkF =

Benzo(k)fluoranteno)

Para identificar as razões mais apropriadas para cada tipo de ambiente

é importante considerar os possíveis HPAs presentes, baseando-se nas diferentes

25

fontes (biogênica, pirolítica e petrogênica) observadas na área.

O perileno é largamente encontrado em sedimentos marinhos, lacustres

e em estuários, sendo considerado um dos mais importante HPAs diagenéticos. A

grande abundância de tal composto quando comparada aos demais HPAs pode ser

usada como indicativo de origem natural deste composto. Concentrações de

perileno superiores a 10% do total de isômeros penta-aromáticos indicam uma

provável fonte diagenética e inferiores a 10%, uma provável origem pirolítica deste

composto (BAUMARD et al.,1998; READMAN et al., 2002).

O naftaleno é derivado principalmente de atividades antropogênicas, em

especial relacionado ao aporte de petróleo no ambiente, podendo ser usado como

marcador de origem petrogênica dos HPAs (TAM et al., 2001).

HPAs como o pireno, benzo(a)pireno e criseno tem sido detectados em

amostras de carvão (CHAFFEE et al., 1986 apud MIRANDA; LOUREIRO e

CARDOSO, 1999; SANTOS; AZEVEDO; ALQUINO NETO, 2004). Ainda nestes

extratos são também usualmente presentes alquilados de naftaleno e fenantreno

(VILLLAR; PUTTMANN; WOLF, 1988; MIRANDA; LOUREIRO; CARDOSO, 1999).

Uma outra relação que pode ser usada para identificar as origens de tais

poluentes é através da razão entre os compostos HPAs de baixa e alta massa

molecular, com exceção do perileno. Os HPAs com alta massa molecular (criseno,

benzo(b)fluoranteno, benzi(i,k)fluoranteno, benzo(a)pireno, benzo(e)pireno,

indenzo(1,2,3-cd)pireno, dibenzo(a,h)antraceno) estão relacionados a processos de

origem pirolítica, com combustão de matéria orgânica a altas temperaturas.

Conseqüentemente os HPAs com baixa massa molecular, ou seja, formados por 2 -

3 anéis aromáticos estão diretamente relacionados a fontes de origem petrogênica

(LUO et al., 2005). Este fato ocorre porque as reações de evaporação, dissolução e

biodegradação são mais efetivas sobre os compostos aromáticos de baixa massa

molecular e são usados como índices para avaliar o estado do intemperismo do

petróleo (SOCLO; GARRIGUES, 2000).

Os índices mencionados anteriormente devem sempre ser usado com

cautela, uma vez que na área de estudo pode ocorrer a contribuição de diferentes

poluentes, coexistindo mais de uma fonte de matéria orgânica antropogênica

(petrogênica e pirolítica), o que pode proporcionar interpretações conflitantes.

Nestes casos, para melhor avaliar essas relações, Fang; Lee e Yu (2003) sugerem

o uso das razões entre o �HPAs pirolíticos / �HPAs total e �HPAs petrogênicos /

�HPAs total presente no sedimento.

26

3.3 O sedimento como compartimento ambiental

As substâncias tóxicas estão sujeitas a influências dos fatores

ambientais mesmo antes que exerçam seus efeitos sobre os organismos aquáticos.

Quando compostos orgânicos tóxicos penetram em um sistema aquático, eles são

submetidos a processos naturais responsáveis pela partição e dispersão entre os

diversos componentes do sistema, mediante mecanismos de transporte ou

transformação através de alterações químicas.

Neste caso é oportuno citar o conceito de fugacidade criado por Lewis

em 1901, que define como uma medida termodinâmica correlacionada ao potencial

químico, que caracteriza a tendência de um composto químico específico passar de

um sistema a outro (ATKINS; DE PAULA, 2003; PERIN, 2005), ou seja, se o valor

da fugacidade de um composto na água é menor que no sedimento, a tendência

desse composto é de dissolver-se na água, caso contrário o composto tenderá a

depositar-se e adsorver-se no sedimento.

Este conceito é extremamente útil, para a identificação do

comportamento estático e dinâmico de substâncias tóxicas, não biodegradáveis

e/ou oxidáveis, no ambiente. No contato entre diferentes interfaces, como no

exemplo água e sedimento, uma substância introduzida difundirá suas massas

devido às diferenças de concentrações deste composto nos dois compartimentos. A

energia que potencializa esta repartição está ligada diretamente ao potencial

químico da substância, que pode ser calculada por meio da energia livre de Gibbs,

expressa pela soma das contribuições de todos dos diversos componentes

presentes, em temperatura, pressão e concentração constantes (CASTELLAN,

1986; PERIN, 2005).

Para a análise de sistemas reais, o conceito de potencial químico é

correlacionado ao parâmetro de fugacidade, que indica a tendência relativa das

moléculas se deslocarem de um sistema a outro (ATKINS; DE PAULA, 2003), estes

conceitos são os que regem as interferências e o comportamento dos compostos

tóxicos nos diferentes compostos ambientais, entre eles, na interface água/

sedimento, que estão relacionadas com as avaliações desta pesquisa.

Os sedimentos via de regra são o destino final no qual os poluentes são

depositados, no mínimo, temporariamente. Quando o poluente é persistente,

estável e continuamente introduzido no sistema, este compartimento ambiental

pode atingir níveis de toxicidade preocupantes.

27

A taxa de sedimentação depende da velocidade do fluxo da água, do

tamanho da partícula e de sua densidade, do conteúdo orgânico, além da

profundidade da coluna hídrica (CATOGGIO, 2002). Dentre estes, o tamanho das

partículas e conteúdo orgânico são as características principais que influenciam na

adsorção das substâncias ao material particulado, e conseqüentemente na

tendência de migração do produto químico ao sedimento. Segundo Matsui (2002) a

taxa de adsorção pode ser considerada diretamente proporcional ao conteúdo

orgânico, e inversamente proporcional ao tamanho da partícula.

Também outros fatores ambientais que afetam a disposição dos

poluentes no sedimento são: temperatura, pH, sais dissolvidos e reações redox

ocorridas no meio, além de fatores biológicos e antrópicos (MATSUI, 2002;

JACKSON, 2002). Esses fatores são essenciais para avaliar o destino final das

substâncias tóxicas por meio de estudos sobre os diferentes processos, tais como a

adsorção.

Nos processos de resuspensão das substâncias tóxicas em coluna

hídrica, os principais fatores que afetam os coeficientes de liberação são a

profundidade, o tempo de renovação da água e os processos de transformação,

tais como a degradação microbiana e fotólise, além daqueles relacionados com a

disposição de poluentes, influenciando na renovação da sua disponibilidade para a

biota e que é potencializado pelo regime hídrico dos rios (JACKSON, 2002;

MATSUI, 2002; PERIN, 2005). Diversos poluentes associam-se em larga escala

aos materiais particulados, entre eles, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

(FIGUEIREDO, 1999; TAM et al., 2001).

Dentro deste contexto os rios desempenham importante papel no

transporte destas substâncias quando em solução ou associadas a sólidos em

suspensão e atuam como coletor das descargas de poluentes de suas bacias de

drenagem. Dessa forma, os sedimentos refletem a qualidade das águas de forma

cumulativa e contínua (RODRIGUES FILHO et al., 2002).

As concentrações de metais pesados e compostos orgânicos em

sedimentos pode ser de até 6 vezes maiores que aquelas existentes na água.

Essas substâncias durante o processo de suspensão causam impactos a longo e

curto prazo, como o aumento da turbidez, a redução da penetração da luz,

diminuição da vegetação aquática, deficiência na respiração de peixes e

invertebrados aquáticos e redução da fertilidade (ARAÚJO; ALMEIDA; GUERRA,

2005).

28

Esses reservatórios contaminados afetam diretamente pequenos

organismos que habitam o fundo dos corpos d’água, em ambientes classificados

como bênticos, causando efeitos agudos como a morte e efeitos crônicos, como a

bioacumulação, onde essas toxinas movem-se através da cadeia alimentar,

aumentando a concentração nos organismos predadores, incluindo os seres

humanos, num processo conhecido como biomagnificação, além de outros danos

como a formação de tumores e problemas de reprodução (JACKSON, 2002).

Estudos de caracterização de poluentes nos sedimentos vêm sendo

largamente empregados tanto em análises acerca das concentrações de metais

(BRAKE; CONNORS; ROMBERGER, 2001, RODRIGUES FILHO. et al, 2002),

quanto na identificação de presença e origens de hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos (BAUMARD, et al., 1998; FIGUEIREDO, 1999; WOODHEAD; LAW e

MATTHIESSEN, 1999; SOCLO; GARRIGUES, 2000; TAM, et al., 2001; LI et al.,

2006).

3.4 Histórico da área

A região Sul do Estado de Santa Catarina ocupa uma área de 9.049

km2, compreendendo 39 municípios com uma população estimada de 800 mil

habitantes, sendo que em torno de 500 mil habitantes em áreas urbanas. Nesta

região, a bacia carbonífera ocupa uma área delimitada pelas coordenadas 28°11’ a

29°03’ de latitude sul e 49°10’ a 49°37’ de longitude oeste esta situada a Bacia

Carbonífera Catarinense, apresentando um comprimento aproximado de 95 km e

largura média de 20 km. Esta bacia, até o ano de 2001, possuía uma reserva

estimada, de 3,4 bilhões de toneladas de minério de carvão (CETEM, 2001).

A matéria carbonosa geralmente vem associada a rochas (arenito, siltito,

folhelhos e diamictitos) e minerais como a pirita, por este motivo o carvão lavrado

(ROM – Run of Mine) deve ser submetido a um processo de beneficiamento.

Na região, cada mineradora apresenta particularidades em suas

técnicas de beneficiamento, além de algumas diferenças em termos de tipo de

equipamentos utilizados nos balanços de massa. De acordo com CETEM (2001) e

Sampaio; Da Luz e Lins (2001) o processo principal de separação é o gravimétrico.

Em linhas gerais, o beneficiamento inicia com a alimentação do produto lavrado em

um "scalping" com grelha a 8", a fração passante é britada e o seu produto alimenta

um jigue. Esse processo tem por objetivo a separação do minério de carvão,

29

predominantemente o CE 4500, dos três tipos de rejeitos gerados: R1 - rejeito

piritoso; R2 - rejeito xistoso; R3 - rejeito argiloso. O produto flutuado no jigue é

peneirado a 0,5 mm (28 malhas) e o retido (� 31,5% do ROM) constitui o produto

CE4500, com valores médios de 42% de cinzas, 2% de enxofre, 6% de umidade e

22% de materiais voláteis. O passante (< 0,5 mm) é desaguado e classificado em

hidrociclones. Posteriormente, os produtos finais são concentrados em espirais (�

3,1% do ROM) e em algumas empresas também são utilizadas mesas

concentradoras e células de flotação. O desenho esquemático de um circuito típico

de beneficiamento está apresentado na Figura 2.

Do total de carvão lavrado, cerca de 56,4% é constituído por rejeitos

grosseiros (R1, R2 e R3), sendo os mesmo estocados em pilhas dispostas nos

pátios das minas, nas proximidades de suas instalações. A água e o rejeito dos

ciclones, juntamente com o rejeito das espirais, perfazem 9% do ROM e são

estocados em bacias de decantação, localizadas nas proximidades das áreas de

beneficiamento do minério.

30

Figura 2 - Desenho esquemático de um circuito típico de beneficiamento de carvão mineral FONTE: CETEM, 2001, p. 13.

Em um estudo prévio realizado nos sedimentos de bacia de decantação

dos finos de carvão originados do processo de beneficiamento foi constatado a

presença em altas concentrações dos 16 tipos de HPAs prioritários, com

concentrações oscilando entre 0,33 e 57,69 �g.L-1 (PAVEI, 2004).

No passado, a disposição incorreta destes rejeitos, juntamente com o

problema de inversão de camadas do solo ocasionados pela mineração de carvão a

31

céu aberto, ocasionaram sérios problemas ambientais na região, e foram fatores

importantes para o comprometimento e degradação ambiental das 03 bacias

hidrográficas situadas no Sul do Estado de Santa Catarina (Bacia Hidrográfica do

Rio Araranguá, Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga e Bacia Hidrográfica do Rio

Tubarão), contaminadas pela drenagem ácida de mina (DAM).

Cerca de 80% da produção de carvão da região localiza-se na Bacia

Hidrográfica do Rio Araranguá, de todo seu complexo os corpos hídricos mais

seriamente comprometidos são os rios Mãe Luzia, Fiorita e Sangão, conforme

levantando em estudos de caracterização da qualidade das águas do sistema

hídrico (ALEXANDRE, 2001).

Esses recursos hídricos apresentam baixos valores de pH, elevada

acidez e teores de sulfatos, altas concentrações de metais pesados, tais como

ferro, manganês e zinco, além de altas concentrações de sólidos totais e turbidez, o

que torna suas águas impróprias para o consumo humano e para o

estabelecimento da vida em seu meio. Considerando-se inclusive, que até o

presente tem sido priorizado apenas recuperação de áreas degradadas solo e

substrato, em detrimento dos ecossistemas aquáticos e das calhas dos rios da

região. Além disso, outros corpos hídricos da bacia também são indiretamente

afetados, tal como rio Araranguá após o recebimento de seus afluentes, entre eles

o rio Mãe Luzia.

Desta forma, a Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá pode ser

considerada um grande passivo ambiental, a ser considerado nos projetos de

recuperação ambiental. Para que tais atividades sejam realizadas, ressalta-se a

necessidade da caracterização dos contaminantes presentes nos corpos hídricos e

da identificação de suas formas de difusão e dispersão, com vistas a melhor

definição das técnicas de recuperação ou restauração dos ambientes aquáticos

contaminados.

32

4 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Em linhas gerais, o estudo, interpretação e processamento das

informações geoquímicas que possibilitassem a identificação de compostos

orgânicos presentes na Bacia Hidrográfica do rio Araranguá e suas possíveis fontes

e mecanismos de difusão no meio aquático, compreenderam as seguintes etapas:

i.Delimitação da área de estudo e amostragem de água e sedimentos em

diferentes corpos hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá;

ii.Análises químicas e físico-químicas e caracterização de água e

sedimento;

iii.Simulação da geração de drenagem ácida de mina para avaliação de

real contribuição de HPAs;

iv.Análise e interpretação dos resultados.

4.1 Definição da área de estudo e amostragem

Nos últimos anos muitas pesquisas e investimentos vem sendo

realizados com o objetivo de recuperar as áreas degradadas pela mineração de

carvão, desenvolvendo atividades relacionadas à reconstituição dos solos e

revegetação das áreas impactadas. No entanto, poucos estudos foram realizados

com vistas à recuperação dos ambientes aquáticos contaminados por esta

atividade.

Dentro deste contexto, no presente trabalho, decidiu-se pela execução

de um levantamento geoquímico preliminar de caráter investigativo com vistas a

subsidiar futuras tomadas de decisão com vista a recuperação dos ecossistemas

aquáticos. Neste trabalho, especificamente, foram selecionados quatro corpos

hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá para a identificação das áreas

consideradas impactadas por atividades oriundas do complexo carbonífero da

região sul catarinense e com potencial presença de hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos (HPAs).

Baseados no histórico da poluição de carvão da região carbonífera e em

estudos anteriores (ALEXANDRE; KREBS, 1995; SDMA, 1997; ALEXANDRE,

2001; MENEZES; LEAL FILHO, 2004; PAVEI, 2004), foram estabelecidas 5 (cinco)

estações amostrais situadas em parte da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá

33

(Figuras 3 e 4), definidas de acordo com o grau de comprometimento da qualidade

das águas da bacia e do potencial de contaminação presente nos sedimentos

(Tabela 9).

Tabela 9 - Descrição e georeferenciamento dos pontos de coleta de amostras

Pontos

de

Coleta

Área Descrição da área Longitude

(UTM)

Latitude

(UTM)

P1 Rio Mãe Luzia

Treviso / SC

Ausência de fontes

contaminantes significativas.

650.008 6.849.935

P2 Rio Mãe Luzia

Centro de Treviso /

SC

Apresenta grande aporte de

DAM decorrente de pilhas de

rejeito e beneficiamento do

minério de carvão.

650.820 6.845.923

P3 Rio Fiorita

Siderópolis / SC

Apresenta grande aporte de

DAM decorrente de pilhas de

rejeito e beneficiamento do

minério de carvão, bem como

de afluentes com grandes

descargas deste efluente.

651.080 6.835.708

P4 Saída da Lagoa

Artificial de DAM

“Língua do Dragão”

Siderópolis / SC

Apresenta grande aporte de

DAM decorrente de pilhas de

rejeito e beneficiamento do

minério de carvão.

650.580 6.836.001

P5 Comunidade de

Ilhas Araranguá/SC

Foz da Bacia Hidrográfica do

Rio Araranguá.

662.696 6.800.691

As justificativas para a escolha das áreas de amostragem foram

realizadas de acordo com as características das áreas de entorno e de suas

relativas contribuições no comprometimento da qualidade dos corpos hídricos. As

descrições de cada estação de amostragem são apresentadas a seguir:

P1 – Rio Mãe Luzia sem influência da mineração de carvão: Próximo

à cabeceira do rio Mãe Luzia, “a água é considerada de ótima qualidade segundo

classificação prevista no IQA – índice de Qualidade das Águas de Santa Catarina”

(ALEXANDRE, 2000, p. 84), e apresenta boas condições de uso. Devido a esta

34

classificação o P1 foi selecionado em uma área situada nas proximidades da

nascente do rio, para fins de comparação dos dados analíticos obtidos, diante da

hipótese de não existir nesta área o comprometimento de fontes contaminantes

relacionadas a mineração de carvão e mais especificamente aos HPAs.

P2 – Rio Mãe Luzia após influência da mineração de carvão: A partir

das instalações mineiras na região de Treviso (SC) os efeitos negativos da

exploração de carvão começam a se sobressair no rio Mãe Luzia, tornando as

águas do rio contaminadas por metais, entre eles ferro, manganês, cobre, alumínio,

chumbo, zinco, entre outros. Neste ponto, nas proximidades do centro do município

Treviso (SC), após cerca de 2 km do P1, foram realizadas as coletas referentes ao

P2, antes do aporte de efluentes sanitários urbanos, mas com grande influência de

drenagem ácida de mina decorrentes das atividades de beneficiamento de minas a

céu aberto e subterrâneas e da lixiviação de pilhas de rejeitos situadas nas

proximidades da área.

P3 – Rio Fiorita a montante do ponto de descargas de lagoas

ácidas: O rio Fiorita é um dos afluentes do rio Mãe Luzia e compromete ainda mais

o grau de contaminação de tal corpo hídrico devido ao grande aporte de drenagem

ácida de mina (DAM), sobretudo decorrentes das minerações a céu aberto. Este

grande volume de efluentes da mineração que deságuam no rio Fiorita, além das

formas comuns de geração de drenagem ácida de mina, são oriundos

principalmente da drenagem de lagoas ácidas formadas em antigas cavas de

mineração a céu aberto, preenchidas parcialmente com rejeitos estéreis. A área de

coleta do rio Fiorita situa-se a montante da drenagem das lagoas ácidas formadas

pela mineração de carvão a céu aberto e está localizada no município de

Siderópolis/ SC.

P4 – Saída da lagoa artificial de drenagem ácida de mina “Língua do

Dragão”: Este ponto corresponde ao local de descarga das águas ácidas de

antigas cavas de mina a céu aberto, situada na localidade de Vila Funil, município

de Siderópolis/ SC. O local escolhido para a coleta foi ao lado da estrada pública

municipal. Nesta região situa-se um conjunto de lagoas ácidas formadas nas

antigas cavas de mineração a céu aberto e que contribuem com grande

expressividade na geração de DAM. Tais corpos hídricos drenam suas águas para

uma única lagoa denominada popularmente como “Língua do Dragão”. A área é

considerada bastante crítica e de difícil recuperação devido aos diversos

contribuintes de contaminantes. Além da drenagem oriunda das demais lagoas

35

ácidas, o corpo hídrico ainda recebe aporte de DAM decorrentes do

rebeneficiamento das partículas finas de carvão, drenagens ácidas oriundas das

pilhas de rejeito das proximidades, de minas subterrâneas em atividades e

desativadas e existindo também nas suas proximidades antigas indústrias de

produção de coque, no momento desativadas. A lagoa está situada no município de

Siderópolis e suas águas apresentam elevadas concentrações em metais, na

ordem de 424 mg L-1 de ferro, 144 mg L-1 de alumínio, 28 mg L-1 de manganês, pH

entre 2 e 3, e acidez total de 1.877 mg L-1, concentrações estas que deságuam

diretamente no rio Fiorita, comprometendo ainda mais a qualidade da bacia

hidrográfica do rio Araranguá.

P5 – Foz do rio Araranguá: localizado na comunidade de Ilhas,

município de Araranguá/ SC, esse ponto no rio Araranguá foi selecionado com a

finalidade de verificar a migração de tais poluentes até a foz da bacia, observando

desta forma também as influências de demais fontes contaminantes no estuário

desse rio.

Figura 3 - Localização da área de drenagem da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá na região sul de Santa Catarina Fonte: Da Pesquisadora.

36

Figura 4 - Localização e ilustração em destaque dos pontos de coleta de sedimento da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá Fonte: Da Pesquisadora.

As amostras de água e sedimentos foram coletadas em duas

campanhas (n = 2) nos meses de fevereiro e outubro de 2006, seguindo a

metodologia do Guia de Coleta e Preservação de Amostra de Águas da CETESB –

Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo, procedimento

37

adotado para coleta de amostras realizadas pelo Instituto de Pesquisas Ambientais

e Tecnológicas (IPAT) da UNESC.

Em cada ponto de coleta, nas amostras de água, foram mensurados in

situ os parâmetros físico-químicos;

i. pH, usando-se medidor de pH portátil a 21,6 °C, com precisão de

0,01 e mínimo detectável de 0,1 de unidade de pH;

ii. Condutividade, através do método condutométrico, com valor mínimo

detectável de 0,001 mS cm-1 a 21,6 °C.

Nas Figuras 5 a 9 têm-se as ilustrações dos pontos de coleta de

sedimentos realizados na Bacia Hidrográfico do rio Araranguá.

Figura 5 - Rio Mãe Luzia sem a influência direta de efluentes da mineração de carvão – município de Treviso/ SC (ponto de coleta da amostra P1) Fonte: Da Pesquisadora.

38

Figura 6 - Rio Mãe Luzia após a influência direta de efluentes da mineração de carvão – município de Treviso/ SC (ponto de coleta da amostra P2) Fonte: Da Pesquisadora.

Figura 7 - Rio Fiorita – antes do perímetro urbano do município de Siderópolis/ SC (ponto de coleta da amostra P3) Fonte: Da Pesquisadora.

39

Figura 8 - Saída da Lagoa Ácida “Língua do Dragão” – município de Siderópolis/ SC (ponto de coleta da amostra P4) Fonte: Da Pesquisadora.

Figura 9 - Foz do rio Araranguá - Comunidade de Ilhas, Araranguá/ SC (ponto de coleta de amostra P5) Fonte: Da Pesquisadora.

40

4.2 Análises químicas e físico-químicas

Na aquisição de dados geoquímicos de água e sedimentos da Bacia

Hidrográfica do Rio Araranguá, procederam-se diferentes determinações de caráter

químico e físico-químico, conforme consta na Tabela 10.

Tabela 10 - Descrição dos parâmetros físico-químicos analisados e seus

respectivos métodos analíticos

Parâmetros Físico-Químicos M.D.* Métodos Analíticos

pH (21,6°C) 0,1 Potenciométrico

Condutividade (mS cm-1 à 21,6 °C) 0,001 Condutométrico

Potencial Redox 0,1 Potenciométrico Águ

as

Sólidos Suspensos (mg L-1) 01 Gravimétrico

pH (tal qual) 0,1 Potenciométrico

Condutividade (µS) 0,001 Condutométrico

Potencial Redox (tal qual) 0,1 Potenciométrico

Matéria Orgânica (% - amostras secas a

65 °C) -

Volumétrico -

Walkley-Black Sed

imen

tos

Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos - CG-EM

* Mínimo Detectável Fonte: Da Pesquisadora.

As determinações de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs)

foram realizadas no Laboratório de Ecotoxicologia Aplicada da Università

Ca’Foscari de Venezia - Itália. Os demais procedimentos analíticos foram

analisados no Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas – IPAT da UNESC.

Os procedimentos metodológicos relacionados às técnicas analíticas

para a identificação dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos presentes nos

sedimentos encontram-se descritos a seguir.

4.2.1 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos - HPAs

A determinação quantitativa e qualitativa dos hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos obedeceu à metodologia utilizada pelo Laboratório de

Ecotoxicologia Aplicada da Università Ca’Foscari de Venezia – Itália, por meio da

41

adaptação dos métodos US-EPA 3550b e US-EPA 3620b definido pela

Environmetal Protective Agency, e Martinez et al. (2004).

As amostras de sedimento e das diferentes camadas dos lisímetros uma

vez no laboratório foram homogeneizadas, liofilizadas, submetidas a processo de

extração, purificação, concentração e sucessivamente analisadas por cromatografia

gasosa acoplada à espectroscopia de massas (GC-MS) para determinação da

presença dos compostos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs).

I. Reagentes utilizados:

i. Cobre em pó: ativado com lavagem em HCl e Metanol;

ii. Diclorometano - DCM (SIGMA Aldrich, HPLC grade);

iii. Florisil RS grau de pureza pesticidas 60 – 100 mesh (Carlo Erba,

Itália): ativado em estufa por 08 horas à 210 °C com prévia descontaminação com

Diclorometano;

iv. Hélio extra puro 99,99995 (SIAD, Itália);

v. Hexano (BDH AnalaR, HPLC grade);

vi. Nitrogênio, (SIAD, Itália);

vii. Sulfato de Sódio Anidro: ativado a 210°C por 08 horas;

viii. Tetrahidrofurano - THF (SIGMA Aldrich, HPLC grade).

ix. 16 component PAH’s, PAH-Mix 13 (standard) (Dr. Ehrenstorfer

GmbH, Alemanha);

x. D10 Pirene (standard) (Dr. Ehrenstorfer GmbH, Alemanha);

xi. D12 Benzo(a)antraceno (standard) (Dr. Ehrenstorfer GmbH,

Alemanha).

II. Metodologia de análise:

II.1. Extração: Cerca de 2 gramas de sedimento seco foram pesados,

dispostos em frascos de vidro e adicionados 200 µL de dois standards internos

deuterados (D10 pireno e D12 benzo[a]antraceno), possibilitando a quantificação

em GC-MS; sucessivamente foram acrescidos 30 mL da mistura de diclorometano :

tetrahidrofurano na razão volumétrica 90 : 10; as amostras tratadas foram extraídas

em banho de ultra-som (BRASON 3200) por 20 minutos (metodologia adaptada de

Martinez et al., 2004 e US-EPA 3550b). O procedimento descrito foi repetido por

três vezes, havendo o cuidado de ao fim de cada extração coletar o efluente

42

sobrenadante e conservando o sedimento, ao qual foi acrescentada uma nova

mistura; o extrato coletado foi transferido a balões de rotavapor e concentrados em

volume sobre um leve fluxo de nitrogênio até atingir 1 – 1,5 mL.

II.2. Purificação: Ao extrato obtido após a passagem sobre o fluxo de

nitrogênio foi acrescentado uma alíquota de 50 mL de hexano, a solução foi

sucessivamente filtrada em uma coluna de purificação, formada por 10 g de Florisil

compactada (metodologia adaptada da US-EPA 3620b), 1 g de cobre e cerca de 2

g de sulfato de sódio anidro.

As amostras eluídas em hexano, foram recolhidas em balões e

concentradas (sobre fluxo de nitrogênio) ao volume final de 500 µL, sendo

posteriormente transferidas a pequenos frascos de âmbar e mantidos a 4 °C até o

momento das análises.

II.3. Parâmetros Analíticos – Instrumentais: Os 16 compostos orgânicos

analisados nas matrizes ambientais foram avaliados por cromatografia gasosa

acoplado a espectroscopia de massas (GC-MS), conforme componentes descritos

posteriormente. No primeiro caso foram identificados sobre a base de tempo de

retenção e com a adição de padrões (standard) externos PAH-Mix 13 (Dr.

Ehrenstorfer GmbH) e quantificados através de calibração externa a diferentes

concentrações. As análises de GC-MS em S.I.M (Single lon Monitoring) foram

quantificadas por meio dos fatores de resposta calculada para cada um dos 16

compostos baseados na adição dos dois padrões deuterados (STD - D10 Pireno e

D12 Benzo[a]antraceno).

Descrição dos componentes da instrumentação GC-MS

Gás Cromatógrafo :Trace GC/MS 2000 ThermoFinnigan

Detector MS : Finnigan

Injector : Split/ Splitless, 1 µL,

Gás : Helium 40 Kpa

Coluna : HP5-ms 30m, * 0,25mm * 0,25mm

Voltagem do Detector : 350,0 V

Modalidade de Ionização : Electron Impact (EI+)

GC temperatura da interface : 280°C

Tipo de aquisição : SIM (Singolar Ion Monitoring)

Estação : Xcalibur 1.2

43

Na Tabela 11 observa-se a as relações de massas e tempo de retenção

utilizados nas identificações dos picos dos diferentes tipos de HPAs.

Tabela 11 - Valores M / Z para as análises dos 16 compostos na modalidade

S.I.M. (Silge lon Monitoring)

Grupo Interrupção Tempo Inicial

(min.)

Tempo final

(min.)

M / Z

1 0,200 10:00 17:00 128,00; 129,00

2 0,200 17:00 20:20 151,00; 152,00

3 0,200 20:20 22:00 153,00; 154,00

4 0,200 22:00 26:00 165,00; 166,00

5 0,200 26:00 31:00 176,00; 178,00

6 0,133 31:00 37:00 200,00; 202,00

7 0,133 37:00 42:00 226,10; 228,10

8 0,200 42:00 48:00 252,10; 253,10

9 0,100 48:00 56:00 276,10; 277,10;

278,10; 279,19

Fonte: Da Pesquisadora.

4.3 Testes cinéticos com lisímetros

Os procedimentos de simulação dos mecanismos de geração de

efluente de mineração de carvão, com vistas à verificação da existência de

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos foram realizadas em laboratórios a partir do

uso de lisímetros. Esses procedimentos tiveram como objetivo principal avaliar a

presença de HPAs sem qualquer tipo de influência de outras fontes externas.

Lisímetros são caixas utilizadas para conter pequenos volumes de

amostras de minérios ou rejeitos, que em condições controladas em laboratório,

possam ser submetidas aos efeitos do intemperismo (chuva, calor, insolação,

vento), gerando transformações físico-químicas nestes materiais, as quais estariam

naturalmente ocorrendo no meio (PINTO; NEPOMUCENO, 1998 apud LOPES et

al., 2004).

A metodologia dos ensaios foi definida conforme modelo adotado por

Lopes et al., (2004). O lisímetro utilizado no experimento foi construído com vidro

44

temperado com 6 mm de espessura, dimensões de 0,30 x 0,30 m de base inferior,

topo de 0,40 x 0,40 m e altura de 0,50 m, com saída de água a 1 cm da base

inferior, contendo uma torneira com diâmetro de 3/8 de polegada para a coleta do

efluente percolado (Figura 10). As emendas foram fixadas por silicone com a

finalidade de vedar e impedir possíveis vazamentos.

Figura 10 - Esquema do lisímetro que foi utilizado nos experimentos Fonte: MENDES, 2003, p. 41.

Na base do lisímetro dispôs-se uma camada filtrante, composta de

cascalho e sobreposta por três camadas de areia com granulometrias distintas. A

finalidade das camadas filtrantes é de facilitar o fluxo do lixiviado e

conseqüentemente inibir a passagem de finos de carvão pela torneira coletora. A

estrutura das camadas é apresentada na Figura 11, sendo formada por: pedriscos

de cascalho (2 cm de espessura); areia fina lavada (2 cm de espessura); areia

média lavada (2 cm de espessura); areia grossa lavada (2 cm de espessura), na

ordem da base para o topo.

45

Figura 11 - Disposição do material filtrante no lisímetro Fonte: MENDES, 2003, p. 42.

Sobre o material filtrante foram introduzidas camadas de carvão com

faixas granulométricas distintas, utilizando-se dois lisímetros:

O Lisímetro 01 foi construído de maneira a simular ambientes em

Depósitos de Carvão Beneficiado, ilustrado na Figura 12, foi disposto sobre a

camada filtrante uma lâmina de 5 cm de argila, seguida por uma camada de 20 cm

de carvão mineral beneficiado com granulometria superior a 28 mesh (0,59 mm).

Sobre tal conjunto foi simulado o intemperismo natural, conforme condições

existentes em um depósito de carvão beneficiado, sob os efeitos climáticos

causados pelo sol, chuva e ventos.

O Lisímetro 02 foi construído simulando Bacias de Decantação, sobre o

material filtrante foi disposta uma camada de 5 cm de argila, seguida por uma

camada de finos de minério de carvão beneficiado com 20 cm de espessura, sobre

o conjunto foi adicionada água destilada, até que a mesma atingisse uma lâmina de

10 cm de água, conforme Figura 13.

46

Figura 12 - Lisímetro 01 - Simulação de Depósitos de Carvão Beneficiado Fonte: Da Pesquisadora.

Figura 13 - Lisímetro 02 - Simulação de Bacia de Finos de Decantação Fonte: Da Pesquisadora.

47

O volume de precipitação e a incidência da radiação solar para

simulação do intemperismo natural foram calculados a partir da precipitação média

mensal efetiva e da média diária da radiação solar (MJ/ m2) da região entre os anos

de 1991 e 2003, ambos os dados coletados na Estação Meteorológica de

Urussanga/ SC, conforme metodologia desenvolvida por Mendes (2003).

A simulação da precipitação foi realizada com o uso de mangueiras de

borracha com “chuveirinhos” na extremidade, onde a água utilizada era

previamente deionizada, visando eliminar a influência de íons presentes na água de

captação. O cálculo da precipitação baseou-se no volume efetivo de água que

infiltra no substrato, desconsiderando as águas de escoamento superficial e de

evaporação, conforme trabalhos já realizados por Lopes et al. (2004) em

experimentos realizados no Laboratório de Geoquímica Ambiental do IPAT /

UNESC (Figura 14).

Figura 14 - Laboratório de Geoquímica Aplicada do IPAT/ UNESC, com a simulação de radiação solar por lâmpadas ultravioletas e ventos Fonte: Da Pesquisadora.

A incidência da radiação solar foi realizada através de um par de

lâmpadas ultravioleta de 160 watts cada e outro par de lâmpadas infravermelho de

250 watts cada, sendo posicionados a 50 cm acima dos lisímetros de forma a

48

simular o espectro de ondas eletromagnéticas emitidas pelo sol.

A ação dos ventos foi simulada por meio de um ventilador, adaptado ao

laboratório onde foram executados os testes.

Conforme pesquisa realizada por Mendes (2003) o período de um ano

de simulação, adaptadas a condições específicas de bancada, em tempo real, pode

ser realizado no período de 04 meses. Inicialmente este seria o tempo para a

realização dos procedimentos, porém optou-se pela prolongação do prazo, para

que desta forma fosse possível uma maior caracterização das reações ocorridas

durantes o período experimental. A exposição aos efeitos climáticos de sol, vento e

chuva realizados em laboratório ocorreu durante os meses de maio a setembro de

2006 (Anexo 01), correspondendo a um tempo de simulação de um (1) ano e três

(3) meses.

Ao fim do período de simulação climática, ambos lisímetros foram

desmontados e alíquotas homogeneizadas dos estratos de carvão mineral, argila e

camada filtrante (areia) foram armazenados a temperatura de 4° C, até a realização

dos procedimentos analíticos de quantificação e qualificação de hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos (HPAs).

49

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização da bacia hidrográfica do rio Araranguá

A caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá e sua

avaliação do comportamento dos contaminantes no meio aquático, realizadas

através das análises das amostras de água e sedimento ao longo desse sistema

hídrico, foi desenvolvida por meio da seleção de afluentes representativos,

comprovadamente influenciados pelos processos de degradação ocasionados pela

mineração de carvão.

A caracterização obedeceu ao sentido do fluxo da bacia hidrográfica de

montante a jusante, seguindo a ordem: rio Mãe Luzia, situado no município de

Treviso/ SC, sem influência direta de efluentes da mineração (P1) e com a

influência direta de tal atividade (P2); rio Fiorita no município de Siderópolis/ SC

(P3); lagoa formada em antiga cava de mina a céu aberto, conhecida localmente

por “Língua do Dragão”, também situada no município de Siderópolis/ SC (P4), e

foz do rio Araranguá na comunidade de Ilhas, município de Araranguá/ SC (P5).

A média dos resultados dos parâmetros físico-químicos para a avaliação

geral do grau de comprometimento do meio aquático dos corpos hídricos

selecionados estão descritos na Tabela 12.

50

Tabela 12 - Características Físico-Químicas da Bacia Hidrográfica do rio

Araranguá (n = 2)

P1 P2 P3 P4 P5

pH (21,6°C) 6,8 5,1 4,0 3,4 6,0

Condutividade

(mS . cm-1 à 21,6 °C)

0,04 0,20 0,31 3,28

1,35

Potencial Redox 230,0 281,8 493,3 401,6 272,1 Águ

as

Sólidos Suspensos

(mg . L-1)

3 20 22 88

9

pH (tal qual) 7,0 3,8 5,6 2,9 6,9

Condutividade (µS) 95,8 190,1 845,0 2.640,0 3.130,0

Potencial Redox 365,8 470,7 -51,3 353,7 -220,8

Matéria Orgânica

(% - seco a 65 °C)

2,1 2,2 4,3 6,0

2,2

Sed

imen

tos

Umidade (65 °C) 12,9 15,5 51,9 63,5 68,8

Fonte: Da Pesquisadora.

Analisando o fluxo de montante para jusante dos diversos afluentes da

Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, nos primeiros pontos já se observa a

gravidade dos impactos ocasionados pelas atividades de extração e beneficiamento

do carvão.

No rio Mãe Luzia, um dos principais afluentes do Rio Araranguá, no

ponto de coleta situado a montante da área de influência da mineração (P1), que

apresenta características ecológicas não comprometidas diretamente por fontes

contaminantes relacionadas à mineração de carvão, os resultados das análises

indicaram que neste trecho o rio encontra-se dentro dos limites estabelecidos pela

legislação nacional vigente (Resolução CONAMA nº 357/ 2005) com pH próximo da

neutralidade em água e sedimento, baixa condutividade, quantidade de sólidos

suspensos e potencial redox com valores dentro da normalidade.

Após cerca de 2 km, no mesmo corpo hídrico, porém, sob influência das

atividades de mineração de carvão (P2) verifica-se um decréscimo acentuado no

pH, sobretudo no sedimento, com valores que passam de 7.0 a 3,8. Assim como

aumento da condutividade de 0,04 mS . cm-1 para 0,20 mS . cm-1 nas águas e de

95,8 µS para 190,1 µS nos sedimentos, o que caracteriza a elevação na presença

de íons metálicos.

51

Características similares também se observam nos pontos P3, no rio

Fiorita e P4 na lagoa formada por antiga cava de mina a céu aberto “Língua do

Dragão”, como baixos valores de pH decorrentes da influência da drenagem ácida

de mina (DAM), onde os níveis de pH atingiram até 2,9 no sedimento da Língua do

Dragão e acréscimo significativo de condutividade de até 2.640,0 µS no mesmo

compartimento. Vale salientar, que as águas provenientes da Língua do Dragão

ainda irão influenciar na degradação do rio Fiorita, visto que no ponto de coleta

deste corpo hídrico situa-se antes da drenagem da lagoa.

Destaca-se ainda neste caso uma anomalia em relação aos demais

pontos, com um ambiente redutor no sedimento do rio Fiorita, com Eh

apresentando valor negativo de -51,33 µS. O potencial redox (Eh) do sedimento é

um parâmetro importante para determinar possíveis mecanismos e prever os

comportamentos dos metais pesados em meio aquático (ZOUMIS et al., 2001).

Na foz do rio Araranguá (P5), devido à diluição dos corpos hídricos

contaminados por efluentes da mineração de carvão e pelos sucessivos aportes

dos afluentes e sobretudo, pela influência marinha, o pH eleva-se novamente a 6,0

na água e 6,9 nos sedimentos, ocorrendo um aumento na condutividade dos

sedimentos, que atinge valores de 3.130,00 µS decorrentes do aumento da

presença de sais e íons metálicos dissolvidos, e ainda caracteriza-se por ser um

ambiente extremamente redutor.

Os resultados obtidos demonstram o grau de comprometimento

decorrente, sobretudo, do grande aporte de metais pesados oriundos da drenagem

ácida de mina. Estes resultados podem ser também relacionados com valores

obtidos em pesquisa, realizada com o objetivo de avaliar a presença de metais

pesados nos sedimentos das mesmas áreas analisadas neste estudo, conforme

relatório interno (MENEZES; PAVEI; LATTUADA, 2006), com dados descritos na

Tabela 13.

Tabela 13 - Metais pesados presentes nos sedimentos da Bacia Hidrográfica

do rio Araranguá

Cr Mn Fe Ni Zn Cd Pb P1 (mg kg-1) 0,15 1,10 34,00 8,70 0,59 3,60 51,00 P2 (mg kg-1) 0,05 0,30 61,00 0,73 0,61 3,50 103,00 P3 (mg kg-1) 0,16 0,08 142,00 7,10 0,41 1,80 108,00 P4 (mg kg-1) 0,13 0,18 106,00 7,90 0,94 1,16 53,00 P5 (mg kg-1) 0,09 0,27 68,00 2,00 1,30 nd 66,00 Fonte: MENEZES; PAVEI; LATTUADA, 2006, p. 6.

52

Da mesma forma que os resultados observados nas análises físico-

químicas desta pesquisa, as concentrações de metais pesados obtidas pelo método

de Fluorescência de Raio-X nos sedimentos dos mesmos corpos hídricos da Bacia

Hidrográfica do Rio Araranguá, apresentaram resultados que confirmam a influência

dos efluentes da mineração de carvão na qualidade dos rios avaliados. Verificou-se

uma elevação considerável dos índices de ferro no rio Fiorita e na lagoa “Língua do

Dragão”, com concentrações na ordem de 142 e 106 mg . kg-1 e de chumbo, com

valores que passaram de 51 mg . kg-1 no rio Mãe Luzia antes da influência de DAM

para 103 mg . kg-1 após o aporte destes efluentes.

Por não se constituir no escopo principal deste trabalho, porém,

considerando a gravidade da situação decorrente da contaminação do meio

aquático, em virtude da presença em elevadas concentrações de metais pesados,

sugere-se estudos mais aprofundados para a compreensão dos mecanismos de

difusão e aplicação de técnicas de remediação dos poluentes metálicos, com vistas

a uma efetiva recuperação ou mesmo restauração ambiental do ecossistema

aquático formado pela Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá.

5.1.1 Caracterização da presença de hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos (HPAs)

Os 16 (dezesseis) tipos de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos

(HPAs) selecionados de acordo com a Lista de Poluentes Prioritários definida pela

US-EPA (Environmental Protection Agency- US), foram quantificados e qualificados

através do método de espectroscopia de massas. As concentrações médias totais

de tais poluentes observadas nos sedimentos da bacia hidrográfica do rio

Araranguá, expressas em ng . g-1, estão ilustradas na Figura 15 e listadas na

Tabela 14.

53

110,16 2559,88

175785,91

534276,54

19744,59

0,00

50000,00

100000,00

150000,00

200000,00

250000,00

300000,00

350000,00

400000,00

450000,00

500000,00

550000,00

600000,00

P1 P2 P3 P4 P5

ng g

-1

Figura 15 - Concentrações totais de HPA (ng . g-1) em sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá (n = 2) Fonte: Da Pesquisadora. Tabela 14 - Concentrações médias de HPA (ng . g-1) em sedimentos da bacia

hidrográfica do rio Araranguá na região sul do estado de Santa Catarina

(n = 2)

Fonte: Da Pesquisadora. (n.d: não detectável)

HPAs (ng . g-1) P1 P2 P3 P4 P5

Naftaleno 19.237,86 533.560,71 n.d 174.894,24 1.891,03

Acenaftileno n.d n.d n.d n.d n.d

Acenafteno 125,00 42,10 n.d 210,67 221,70

Fluoreno 8,69 49,01 0,56 37,58 65,13

Fenantreno 220,78 554,68 59,81 448,96 355,08

Antraceno 40,53 25,49 n.d 6,50 9,78

Fluoranteno n.d 25,65 11,72 40,91 12,31

Pireno n.d n.d n.d n.d n.d

Benzo(a)antraceno 63,16 18,90 19,40 93,55 4,85

Criseno 48,56 n.d 18,66 53,51 n.d

Benzo(b)fluoranteno n.d n.d n.d n.d n.d

Benzo(k)fluoranteno n.d n.d n.d n.d n.d

Benzo(a)pireno n.d n.d n.d n.d n.d

Benzo(g,h,i)perileno n.d n.d n.d n.d n.d

Dibenzo(a,h)antraceno n.d n.d n.d n.d n.d

Indeno(1,2,3-cd)pireno n.d n.d n.d n.d n.d

Soma HPAs 19.744,59 534.276,54 110,16 175.785,91 2.559,88

54

As concentrações obtidas apresentam valores variados, com somatório

dos HPAs entre 110,16 e 534.276,54 ng . g-1. O rio Mãe Luzia após a descarga de

efluentes da mineração foi o que apresentou maiores valores (534.276,54 ng . g-1),

seguido da lagoa ácida Língua do Dragão (175.785,91 ng . g-1), rio Mãe Luzia sem

influência direta da mineração de carvão (19.744,59 ng . g-1), foz do rio Araranguá

(2,559,88 ng . g-1) e rio Fiorita (110,16 ng . g-1).

As áreas do rio Mãe Luzia com influência da mineração de carvão

situada no centro do município de Treviso/ SC (P2) e da lagoa Língua do Dragão no

município de Siderópolis/ SC (P4), apresentaram concentrações maiores que as

admitidas pelas agências ambientais citadas na Tabela 05 (NOAA e Environmental

Canada, 1998). Esses resultados corroboram com a literatura no que diz respeito à

possibilidade da presença de HPAs em extratos carboníferos que podem influenciar

no aporte destes contaminantes no ambiente (PERALBA, 1989; TEIXEIRA et al.,

2000; CARVALHO, 2004).

O P1 situado na área do rio Mãe Luzia sem influência direta da atividade

de mineração de carvão e de outras fontes significativas de HPAs, apresentou

concentrações superiores àquelas encontradas no rio Fiorita e na foz do rio

Araranguá.

Dos sedimentos da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá analisados, os

coletados no rio Fiorita foram os que apresentaram menores concentrações de

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (110,16 ng . g-1), tal fato pode estar

relacionado tanto com as condições de fluxo da lâmina d’água, devido à pequena

espessura, proporcionando a fotodecomposição e arraste de sólidos e partículas,

quanto com as alterações das características do corpo hídrico decorrentes dos

desvios de seu curso d’água e alterações das condições de fluxo.

Além disso, o ponto de coleta do rio Fiorita está situado antes do aporte

das águas da lagoa ácida Língua do Dragão, um importante contribuinte da DAM

neste corpo hídrico.

De maneira geral, os hidrocarbonetos com baixa massa molecular foram

aqueles que apresentaram maiores concentrações, sobretudo os compostos

naftaleno, fenantreno e acenafteno.

Estudos comparativos acerca das concentrações de HPAs em meio

aquático (FANG et al., 2003 apud MAO, 2005; LI et al. 2006) estão ilustrados na

Tabela 15, e podem ser tratados como referência.

55

Tabela 15 - Comparação para valores máximos e mínimos entre as

concentrações totais de HPAs identificados no presente trabalho e os

referenciados na literatura

Área de estudo � HPAs (ng . g-1) Referências

Victoria, Hong Kong 1.200 – 14.000 Hong H. et al., 1995a

Sydney, Austrália 100 – 380.000 Mc Cready S. D. J. et al., 2000 a

Baltimore, USA 100 – 36.600 Ashley, J. E Baker, J.E., 1999 a

Richmond, USA 2.902 – 29.590 Pereira W.E. et al., 1996 a

Poole, Inglaterra 624 – 1.694 Woodhead R.J. et al., 1999 a

Port Vendres, França 7.287 Baumard P. et al., 1998 a

Ajaccio, Corsica 20.440 Baumard P. et al., 1998 a

Veneza, Itália 23 – 532 Secco T. Et al., 2005 a

The Pearl River, China 4.892 Mai et al., 2002 c

Gaoping River, Taiwan 139 Doong e Lin, 2004 c

Baia da Guanabara, Brasil 80 – 48.941 Mao A., 2005

Bacia Hidrográfica Rio

Araranguá, Brasil

110,16 –

534.276,54

Pavei, P.T., 2007

Fonte: a em FANG et al. (2003) apud MAO, (2005 a, p. 116); b em LI et al. (2006. p.991).

Comparando-se os dados desta pesquisa com os observados nos

estudos realizados em outras regiões, verificou-se que:

i. Os índices totais de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

verificados nos sedimentos da bacia hidrográfica do rio Araranguá podem ser

consideradas elevadas quando comparados com outros ecossistemas, tanto no que

se refere aos valores máximos, quanto a valores mínimos de concentração;

ii. O rio Mãe Luzia após receber as descargas de efluentes da

mineração e após a lagoa ácida Língua do Dragão apresentam um agravamento do

grau de comprometimento da qualidade ambiental, considerando inclusive

possíveis interações entre os diversos tipos de poluentes identificados.

iii. No rio Fiorita assim como na foz do rio Araranguá foi constatada uma

redução nas concentrações de HPAs.

Considerando os limites estabelecidos pela National Oceanic and

Atmospheric Administration (NOAA) (Tabela 5, p. 19) as concentrações de

naftaleno presentes no rio Mãe Luzia (P1 e P2) e na lagoa Língua do Dragão (P4)

apresentaram valores médios de concentração maiores que os admitidos como

56

ERM (limite médio = effective range médium), respectivamente na ordem de 9, 254

e 83 vezes superior ao limite permitido que é de 2.100 ng . g-1. A concentração de

fenantreno no rio Mãe Luzia após a influência da mineração de carvão também

apresentou valores maiores que o estabelecido pelo mesmo órgão ambiental.

Considerando os padrões de qualidade da Environmental Canadá,

1998 (Tabela 5, p.19) os sedimentos superficiais do rio Mãe Luzia nos dois pontos

de coleta apresentaram concentrações superiores aos estabelecidos como NEP

(níveis de efeitos prováveis) para naftaleno e fenantreno, em até 1300 vezes

superior no caso do naftaleno.

Para as concentrações referentes à lagoa ácida Língua do Dragão e a

foz do rio Araranguá os compostos que tiveram seus limites ultrapassados foram:

naftaleno, acenafteno e fenantreno. Ainda para o ponto P4, referente à lagoa

Língua do Dragão, vale salientar a concentração superiores de benzo(a)antraceno

quando comparada aos valores de PQT (padrões de qualidade temporários)

estabelecido pela mesma agência ambiental, levando-se em consideração o

potencial carcinogênico de tal composto.

O ponto de amostragem situado a montante da lagoa ácida Língua do

Dragão no rio Fiorita apresentou padrões de qualidade em relação às

concentrações de HPAs compatíveis à ausência de riscos para a saúde humana,

no que se refere a tais poluentes, de acordo com as referências disponíveis na

Tabela 5 (p. 19), porém, com as devidas ressalvas em termos das condições de

coleta e lembrando da existência de outros parâmetros com inadequações, entre

eles a presença de elevadas concentrações de metais pesados, pH e acidez.

De acordo com o Grupo de Especialistas nos Aspectos Científicos da

População Marinha (GESAMP), “concentrações de HPAs no sedimento entre 3 e 5

ppm podem causar efeitos biológicos adversos em peixes e seres filtrantes que

vivem em contato direto com o sedimento” (GESAMP, 1993 apud CARVALHO,

2005, p. 446), em todos os cinco pontos analisados da bacia as concentrações

totais de compostos orgânicos presentes ultrapassam tais valores.

5.1.2 Instrumentos para identificação das origens dos HPAs

As ferramentas mais comumente utilizadas para diferenciar as fontes de

hidrocarbonetos em amostras ambientais são as razões HPAs, chamadas de

índices composicionais ou razões diagnósticas.

57

Neste contexto, os compostos com massa molecular 178 e 202 são

comumente usados para distinguir fontes de pirolítica e petrogênica. “Os HPA de

massa molecular 228 e 276 são menos usados com esse propósito e existem

poucas referências quanto à interpretação das razões obtidas com os referidos

compostos” (VEIGA, 2003, p. 130).

Segundo os critérios estabelecidos por YUNKER e colaboradores

(2002), que avaliaram diversas amostras de diferentes fontes petrogênicas e

específicas de combustão (óleo, madeira, gramíneas, carvão) em distintas

amostras ambientais (queima de florestas, fuligem de túneis, fuligem de estradas,

ar urbano), as razões sugeridas para diferenciar as origens dos HPAs como

pirolítcas e petrogênicas são: Antraceno/ (Antraceno + Fenantreno); Fluoranteno/

(Fluoranteno +Pireno); Benzo(a)Antraceno (Benzo(a)Antraceno + Criseno) e

Indeno(1,2,3-cd)pireno / (Indeno(1,2,3-cd)pireno + Benzo(ghi)perileno).

Tais razões foram calculadas para a área estudada, assim como a

relação existente entre o somatório de HPAs de alto e baixa massa molecular

(Tabela 16), com o objetivo de identificar as origens dos compostos

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos obtidos.

Tabela 16 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação das origens dos

HPAs

Ant/

(Ant + Fen)

Fl/

(Fl + Py)

BaA/

(BaA + Ch)

HPA

baixa MM

HPA

alta MM

P1. Rio Mãe Luzia sem influência direta da mineração de carvão

0,15 0,00 0,56 99% 1%

P2. Rio Mãe Luzia com influência direta da mineração de carvão

0,04 1,00 1,00 99% 1%

P3. Rio Fiorita

0,00 1,00 0,51 55% 45%

P4. Lagoa Língua do Dragão

0,01 1,00 0,64 99% 1%

P5. Foz do Rio Araranguá

0,03 1,00 1,00 99% 1%

(Ant = Antraceno; Fen = Fenantreno; Fl = Fluoranteno; Py = Pireno; BaA = Benzo(a)antraceno; Ch = Criseno; MM = Massa Molecular) Fonte: Da Pesquisadora.

58

A relação entre os compostos indeno(1,2,3-cd)pireno e

benzo(ghi)perileno, apesar de ser indicada para a identificação das fontes de HPAs,

não foi desenvolvida nesta pesquisa devido a ausência de concentrações

detectáveis de tais compostos nas análises realizadas, no que se refere ao

ecossistema natural.

Para uma melhor interpretação destes resultados foram confeccionados

diagramas, conforme ilustrado na Figura 16, onde cada quadrante delimitado por

valores explicitados de ordenadas e abscissas está relacionado a uma fonte

específica de HPA antropogênico.

Conforme descritos na Tabela 8 (p. 23), os valores de referência para

cada razão que possibilita diferenciar as fontes dos HPAs são definidos de acordo

com os valores indicativos de:

i.origem petrogênica: Antraceno / Antraceno + Fenenantreno < 0,1;

Fluoranteno/ Fluoranteno + Pireno < 0,4; Benzo(a)antraceno / Benzo(a)antraceno +

Criseno < 0,2.

ii.origem pirolítica: Antraceno / Antraceno + Fenenantreno > 0,1;

Fluoranteno/ Fluoranteno + Pireno > 0,4; Benzo(a)antraceno / Benzo(a)antraceno +

Criseno > 0,35.

59

(Ant = Antraceno; Fen = Fenantreno; Fl = Fluoranteno; Py = Pireno; BaA = Banzo(a)antraceno; Ch = Criseno). Figura 16 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação das origens dos HPAs na Bacia Hidrográfica do rio Araranguá (SC) Fonte: Da Pesquisadora.

Os referidos diagramas exibem um padrão de misturas de fontes para os

compostos orgânicos sedimentares.

Apesar da relação entre BaA/ (BaA +Ch) e Fl/ (Fl + Py) demonstrar uma

predominância de HPAs de origem pirolítica, o diagrama entre as razão Ant/ (Ant +

Fen) e Fl/ (Fl + Py), que são os compostos mais indicados para distinguir as fontes

pirolíticas e petrogênicas (com massas moleculares 178 e 202), apresentam

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fl / (FL + Py)

BaA

/ (B

aA +

Ch)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fl/ (Fl + Py)

Ant

/ (A

nt +

Fen

)

Combustão

Combustão

Petrogênico

Misturas

Petrogênico

Combustão de biomassa e carvão

Petrogênico

60

características conflitantes.

Os valores superiores a 0,4 na razão Fl/ (Fl + Py) indicam que os

compostos estariam relacionados à fonte de combustão de biomassa e carvão

(pirolítica), enquanto que a razão Ant/ (Ant + Fen) apresentou valores inferiores a

0,1, o que indica a origem petrogênica dos HPAs. Conseqüentemente, tais

resultados dificultam em um primeiro momento a diferenciação precisa à cerca dos

aportes de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos presentes na bacia hidrográfica

estudada.

Por outro lado, de acordo com Fang; Lu e Yu (2003) em casos de

interpretações conflitantes, com possibilidade de coexistência de diversas fontes de

matéria orgânica antropogênica, sugere-se que seja determinado a participação

relativa dos compostos petrogênicos e pirolíticos na concentração dos HPAs totais

(Figura 17).

0 20 40 60 80 100

P1

P2

P3

P4

P5

HPA Petrogênico % HPA Pirolítico %

Figura 17 - Distribuição espacial de HPA de baixa massa molecular (petrogênico) e de alta massa molecular (pirolítico) dos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá Fonte: Da Pesquisadora.

Quanto à distribuição destes compostos, observa-se em todas as áreas

analisadas a predominância de HPAs com baixa massa molecular, cuja fonte está

relacionada a presença de compostos de origem petrogênica, enquanto que os

compostos de alta massa molecular representaram 1% da quantidade total de

compostos em 4 áreas analisadas (P1, P2, P4 e P5) e 45% no rio Fiorita (P3).

Considerando a correlação nos processos de formação do petróleo e do

61

carvão, e similaridade da presença dos HPAs nas duas matrizes, pode-se

relacionar a característica petrogênica de tais compostos à presença do carvão e

de seus processos de extração e beneficiamento, desenvolvidos em grande escala

na região.

Para uma melhor análise dos dados obtidos e identificação das origens

de HPAs os pontos de coleta serão analisados separadamente.

5.1.2.1 Rio Mãe Luzia sem influência direta da mineração de carvão (P1)

O ponto de amostragem do rio Mãe Luzia, município de Treviso/ SC,

definida como P1, foi selecionado para representar uma área controle sem a

influência direta da mineração de carvão, com incipiente grau de urbanização e

ausência de instalações industriais de grande porte, porém, os resultados se

mostraram superiores aos das outras áreas consideradas com maior atividade

antrópica, sobretudo do rio Fiorita e da foz do rio Araranguá.

Na Figura 18 observa-se a relação entre os diferentes tipos de HPAs

identificados na área de estudo.

0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1

Figura 18 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos superficiais do rio Mãe Luzia sem a influência direta de efluentes da mineração de carvão (P1) Fonte: Da Pesquisadora.

Devido a elevada concentração de naftaleno em comparação aos

demais HPAs, sua apresentação será realizada em único gráfico no fim da

62

discussão deste capítulo, visando desta forma o não comprometimento da

visualização gráfica dos demais compostos. Tal procedimento também será

adotado na descrição das demais áreas.

O somatório de HPAs neste ponto foi de 19.744,59 ng . g-1, em ordem

decrescente os compostos apresentaram concentrações de 19.237,86 ng . g-1 de

naftaleno; 220,78 ng . g-1 de fenantreno; 125,00 ng . g-1 de acenafteno;

63,16 ng . g-1 de benzo(a)antraceno; 48,56 ng . g-1 de criseno; 40,53 ng . g-1 de

antraceno e 8,69 ng . g-1 de fluoreno.

Segundo Peralba (1989) algumas classes de compostos presentes nos

sedimentos tais como ácidos graxos, esteróides e álcoois por meio da diagênese e

da maturação convertem-se na sua maioria em hidrocarbonetos, apresentando

esqueletos carbônicos semelhantes ao produto natural original, onde tais

compostos têm sido identificados em carvões, petróleo e óleo de xisto.

Ainda segundo a mesma autora, os naftalenos alquilados e fenantreno

são presenças marcantes nos extratos de carvão da região sul do Brasil, desta

forma, devido a localização do corpo hídrico, mesmo sem influência direta de fontes

de contaminação por HPAs, como áreas urbanizadas e industrializadas, tráfego de

veículos e aporte de drenagem ácida de mina, o rio está situado na Bacia

Carbonífera Catarinense, apresentando portanto, características geológicas

particulares que poderiam estar influenciando na presença de tais compostos.

Além disso, a literatura reporta que esses compostos são semivoláteis,

associando-se tanto à fase de vapor quanto à fase particulada, o que propicia seu

transporte pelo vento por longas distâncias (MAIER; MAIER; LOYD, 2000;

MOTELAY-MASSEI et al., 2003).

Até meados da década de 80 era comum na região à ocorrência de

combustão espontânea nos depósitos de rejeitos piritosos, que vinham associados

a quantidades elevadas de carvões, decorrentes de perdas dos processos de

beneficiamento (SANCHEZ; HENNIES; MENEZES, 1994). Tais processos podem

ter contribuído de forma significativa para o aporte de hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos, que podem ter sido transportados pelos ventos e adsorvidos nos

sedimentos dos corpos hídricos próximos a esses depósitos.

Além disso, a existência de coquerias no entorno desativadas

recentemente, também se constitui em consideráveis fontes de aporte de HPAs por

emissão atmosférica, visto que estes compostos apresentam uma longa

permanência em ambientes aquáticos (SOCLO; GARRIGUES, 2000).

63

5.1.2.2 Rio Mãe Luzia com influência direta da mineração de carvão (P2)

O segundo local de amostragem de sedimento da Bacia Hidrográfica do

Rio Araranguá foi realizado no rio Mãe Luzia no município de Treviso/ SC, em local

situado após o aporte de efluentes oriundos da mineração de carvão. Na seleção

deste local buscou-se evitar possíveis influências de outras fontes de contaminação

de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, que poderiam interferir nos resultados

da pesquisa, razão pela qual o ponto escolhido foi locado a montante do perímetro

urbano e após a área sob influência das atividades de mineração de carvão. A

Figura 19 ilustra os resultados obtidos neste ponto de coleta.

0,0 100,0 200,0 300,0 400,0 500,0 600,0

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1

Figura 19 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos superficiais do rio Mãe Luzia com a influência direta da DAM (P2) Fonte: Da Pesquisadora.

A presença de HPAs nesta área foi a mais significativa de toda a bacia

hidrográfica, com concentração total de 534.276,54 ng . g-1. Destes valores a

grande contribuição em termos isolados dos diferentes tipos de compostos é a do

naftaleno com 533.560,71 ng . g-1, seguido do fenantreno com 554, 68 ng . g-1;

fluoreno com 49,01 ng . g-1; acenafteno com 42,10 ng . g-1; fluoranteno com

25,65 ng . g-1; antraceno com 25,4 ng . g-1 e benzo(a)antraceno com 18,90 ng . g-1.

Conforme pesquisas realizadas, os hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos, naftaleno, fenantreno, benzo(a)antraceno, criseno, benzo(a)pireno e

pireno são os encontrados em elevadas concentrações nas áreas impactadas pela

64

atividades de extração e uso do carvão mineral (PERALBA, 1989; MIRANDA;

LOUREIRO; CARDOSO, 1999; FRASSON, 2002; CARVALHO, 2004; SANTOS;

AZEVEDO; ALQUINO NETTO, 2004). Desta forma as concentrações elevadas

encontradas para o naftaleno e fenantreno podem estar relacionadas a tais

matrizes.

Segundo Peralba (1989) trabalhos efetuados utilizando a fração

aromática de extratos de linhito, carvões betuminosos de alto teor de matéria volátil

e antracito, estabeleceram esquemas de reações possíveis para transformações

dos diterpenóides em fenantreno e sugeriram que a abundância relativa

(fenantreno/ diterpano) aumenta com o aumento da carbonificação.

5.1.2.3 Rio Fiorita (P3)

No ponto de amostragem localizado no rio Fiorita, diferentemente do

esperado, as amostras de sedimento analisadas foram as que apresentaram

menores concentrações, mesmo sendo situado em um corpo hídrico com

características similares às áreas onde foram detectados os maiores índices destes

compostos orgânicos (P2 e P4). O somatório de HPAs foi de 109,59 ng . g-1 e suas

relações constam na Figura 20.

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1

Figura 20 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos do rio Fiorita (P3) Fonte: Da Pesquisadora.

65

Dos 16 tipos de HPAs prioritários, somente os compostos fenantreno,

benzo(a)antraceno, criseno, fluoranteno e fluoreno apresentaram concentrações

detectáveis, com valores respectivos: 59,81 ng . g-1; 19,40 ng . g-1; 18,66 ng . g-1;

11,72 ng . g-1; 0,56 ng . g-1.

Devido a suas características lipofílicas, os hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos, uma vez nos corpos hídricos, tendem a adsorverem-se a partículas

sólidas e serem depositados no sedimento, dependendo, no entanto, das

características do rio, tais como altura da lâmina d’água e regimes de turbulência.

Um dos mecanismos de degradação natural dos HPAs é a oxidação

fotoquímica que ocasionam alterações estruturais e influenciam na reatividade,

distribuição e tempo de residência destes compostos nos compartimentos

ambientais (FIGUEIREDO, 1999). Desta forma, a pequena espessura da lâmina

d’água do rio Fiorita no ponto de coleta de sedimentos poderia estar expondo estes

compostos a radiação solar e conseqüentemente reduzindo as concentrações de

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.

Além disso, o rio Fiorita sofreu ao longo dos anos desvios do seu leito

natural em função das atividades de lavra de carvão a céu aberto e subterrâneo,

ocasionando alterações nas suas condições hidrológicas e hidrogeológicas que

podem também ter influenciado na disposição e permanência destes compostos.

5.1.2.4 Lagoa artificial de drenagem ácida de mina “Língua do Dragão”

(P4)

A quarta estação de amostragem de sedimentos da bacia hidrográfica

do rio Araranguá foi selecionada devido ao grande aporte de contaminantes

verificados em trabalhos anteriores (ALEXANDRE, 2001; CETEM, 2001;

MENEZES; LEAL FILHO, 2004). Formada em uma antiga cava de mina de carvão a

céu aberto, a lagoa Língua do Dragão está situada no município de Siderópolis/ SC

e suas águas deságuam no rio Fiorita em um ponto situado após o local de coleta

definido como P3.

Caracterizada por uma elevada concentração de metais pesados devido

ao grande aporte de drenagem ácida de mina que recebe, essa lagoa está situada

numa área crítica, com diversas atividades impactantes em seu entorno, tais como

minas de carvão desativadas e em operação, inclusive com rebeneficiamento das

partículas finas de carvão presentes nos rejeitos dispostos na área, coquerias e

66

minas a céu aberto e de subsolo desativadas recentemente, sendo atividades

consideradas como potenciais fontes de HPAS.

Os sedimentos da lagoa Língua do Dragão apresentaram elevadas

índices de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, conforme ilustrado na Figura 21,

com uma concentração total de 175.785,91 ng . g-1.

0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 350,0 400,0 450,0 500,0

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1

Figura 21 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos da Lagoa Artificial Língua do Dragão (P4) Fonte: Da Pesquisadora.

Dentre os compostos, o mais significativo em termos quantitativos foi o

naftaleno com 174.894,24 ng . g-1, seguido pelo fenantreno com 448,96 ng . g-1,

acenafteno com 210,67 ng . g-1, benzo(a)antraceno com 93,55 ng . g-1, criseno com

53,51 ng . g-1, fluoranteno com 40,91 ng . g-1, fluoreno com 37,58 ng . g-1 e

antraceno com 6,50 ng . g-1.

Dos tipos de HPAs reportados na literatura (PERALBA, 1989; MIRANDA;

LOUREIRO; CARDOSO, 1999; FRASSON, 2002; CARVALHO, 2004; SANTOS;

AZEVEDO; ALQUINO NETTO, 2004) como decorrentes do carvão, os compostos

naftaleno, fenantreno, benzo(a)antraceno e criseno poderiam estar relacionados a

tais fontes.

As atividades de produção do coque, apesar de serem atividades já

desativadas no entorno, durante muitos anos podem ter contribuído para o aporte

destes contaminantes na área, sobretudo por emissão atmosférica de material

particulado. Segundo Carvalho (2004) no processo de coqueificação, onde o carvão

é submetido ao aquecimento em uma atmosfera com pouco oxigênio, há a emissão

67

de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) principalmente na forma gasosa,

mas também na particulada. Os HPAs mais freqüentemente emitidos por estas

fontes são os benzopirenos (incluindo o benzo(a)pireno e benzo(e)pireno),

benzo(a)antraceno, fenantreno e benzofluorantenos (incluindo o

benzo(b)fluoranteno e benzo(k)fluoranteno).

Outras fontes relacionadas à emissão de HPAs podem estar associados

ao material particulado, assim como no P1, pode ter sido oriundos de processos de

combustão espontânea das pilhas de rejeitos piritosos, associados a rejeitos

carbonosos. Esses processos de combustão espontânea ocorreram durante muitos

anos na região, antes de serem tomadas medidas de disposição dos rejeitos

sólidos e recuperação de áreas degradas pela mineração de carvão.

5.1.2.5 Foz do rio Araranguá (P5)

A foz da Bacia Hidrográfica do rio Araranguá está situada na

comunidade de Ilhas, no município de Araranguá, e além dos impactos

ocasionados pela mineração de carvão, apresenta também influência da

agricultura, sobretudo no cultivo de arroz irrigado e grande aporte de efluentes

domésticos e industriais.

Deve-se destacar, no entanto, que mesmo considerando a distância das

possíveis fontes de HPAs decorrentes da atividade de mineração foram

identificados neste ponto os mesmos compostos observados nos demais pontos do

sistema hídrico, inclusive, obedecendo a mesma ordem de variação nas

concentrações, porém, com valores inferiores, conforme observado na Figura 22.

68

0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 350,0 400,0

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1

Figura 22 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) em sedimentos da foz do rio Araranguá (P5) Fonte: Da Pesquisadora.

A área apresentou uma concentração total de 2.559,88 ng . g-1 de

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Em ordem decrescente os compostos

apresentaram valores de 1.891,03 ng . g-1 de naftaleno; 355,08 ng . g-1 de

fenantreno; 221,70 ng . g-1 de acenafteno; 65,13 ng . g-1 de fluoreno; 12,31 ng . g-1

de fluoranteno; 9,78 ng . g-1de antraceno e 4,85 ng . g-1 de benzo(a)antraceno.

Avaliando o processo de migração destes compostos, é interessante

ressaltar que uma das características importantes da maioria dos HPAs é o

decréscimo de sua solubilidade em água com a elevação da salinidade. “Assim,

quando águas fluviais contendo HPAs são misturadas com águas em estuários,

com elevadas concentrações em sais, ocorre à redução na solubilidade e a

adsorção dos HPAs no sedimento” (CARVALHO, 2004, p. 447).

Relacionando os HPAs existentes no início da Bacia Hidrográfica e os

presentes na sua foz, observa-se uma permanência dos mesmos compostos

(naftaleno, fenantreno, acenafteno, fluoreno, fluoranteno, antraceno,

benzo(a)antraceno).

Com exceção do fluoranteno e do benzo(a)antraceno, todos os demais

apresentam baixa massa molecular (entre 128 e 178 g mol-1), além de menores

valores de Koc (3, 37 a 4,45) e maiores índices de solubilidade. Tais características

reportam que, dentro dos 16 tipos de HPAs, os de menor massa molecular

apresentam uma tendência menor de se adsorverem na matéria orgânica, e

69

conseqüentemente na sua deposição nos sedimentos, assim como uma maior

possibilidade de mover-se na coluna d’água.

Além disso, reações de evaporação, dissolução e biodegradação são

mais efetivas sobre compostos aromáticos de baixa massa molecular (SOCLO;

GARIGUES, 2000), ou seja, a degradação destes compostos acontece de forma

mais efetiva.

Tais fenômenos podem explicar o comportamento dos hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos ao longo da bacia hidrográfica do rio Araranguá, assim como

a relação entre as concentrações presentes nas áreas próximas à influência mineira

e na sua foz. Além disso, considerando as interfaces existentes no ambiente

costeiro, os resultados sugerem a possibilidade de migração dos HPAs para o

ecossistema marinho.

Devido às elevadas concentrações de naftaleno presentes em grande

parte dos sedimentos analisados nesta pesquisa, e conseqüente desproporção

quantitativa com relação aos valores dos demais 15 tipos de HPAs, optou-se pela

confecção de um gráfico exclusivo para tal composto (Figura 23). Desta forma, não

seria comprometida a visualização gráfica das concentrações desse composto,

assim como na visualização proporcionalidade de todos os hidrocarbonetos

policíclicos aromáticos avaliados.

0 100000 200000 300000 400000 500000 600000

P1

P2

P3

P4

P5

ng g-1

Figura 23 - Concentrações características de naftaleno em sedimentos da Bacia Hidrográfica rio Araranguá Fonte: Da Pesquisadora.

70

As concentrações de naftaleno variaram de 1.891,03 ng . g-1 na foz do

rio Araranguá até 533.560,71 ng . g-1 no rio Mãe Luzia após o aporte de efluentes

da mineração, decorrentes de processos de extração e beneficiamento do carvão.

A literatura apresenta diferentes fontes originárias de naftaleno, de

origem pirolítica, tais como de emissões veiculares (TAKADA et al., 1991 apud

FIGUEIREDO, 1999), assim como é verificada sua presença de forma expressiva

em extratos de carvão (MIRANDA; LOUREIRO; CARDOSO, 1999; SANTOS,

AZEVEDO; ALQUINO NETTO, 2004).

Vale salientar que o naftaleno, juntamente com o fenantreno, é

considerado um dos componentes mais tóxicos para as comunidades aquáticas,

ocasionando toxicidade aguda (FIGUEIREDO, 1999).

5.2 Testes cinéticos com lisímetros

Os ensaios de laboratório com vistas à avaliação da influência da

mineração de carvão na origem dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, com

ausência de outras fontes antrópicas, foi realizado por meio da utilização de testes

cinéticos com lisímetros. Foram simuladas duas áreas relacionadas ao processo de

beneficiamento da mineração de carvão: Depósito de Carvão Beneficiado

(Lisímetro 01) e Bacia de Decantação (Lisímetro 02).

As concentrações de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, expressas

em ng . g-1, presentes nos estratos de carvão (com granulometria acima de 28

mesh), argila e camada filtrante (areia) no lisímetro do Lisímetro 01 e finos de

carvão (granulometria menor que 28 mesh), argila e camada filtrante (areia) no

Lisímetro 02 estão descritas na Tabela 17.

Os índices de HPAs no experimento que simulou uma área de depósito

de carvão beneficiado apresentou valores mais elevados que os obtidos na

simulação da bacia de decantação.

71

Tabela 17 - Concentrações totais de HPA (ng . g-1) nos Lisímetros 01 e 02

Os somatórios dos 16 tipos de HPAs prioritários nos estratos analisados

no Lisímetro 01 foram de 1.341.580,17 ng . g-1 na camada de carvão,

Lisímetro 01 – Depósito de Carvão

Beneficiado

Lisímetro 02 – Bacia de Decantação

HPAs

(ng . g-1) Carvão Argila Areia Carvão Argila Areia

Naftaleno 1.318.101,86 391.500,51 73.871,53 351.519,31 570.713,13 134.139,83

Acenaftileno 245,55 n.d n.d 69,54 n.d n.d

Acenafteno 4.559,36 159,68 117,74 2.621,52 408,71 115,93

Fluoreno 2.970,48 74,59 n.d 1.835,80 32,10 5,13

Fenantreno 8.173,46 541,65 195,60 5.543,42 310,21 181,91

Antraceno 54,29 11,35 38,84 122,38 75,66 34,49

Fluoranteno 876,62 45,74 19,29 588,31 26,34 3,83

Pireno 1.169,62 91,53 n.d 818,53 n.d 0,00

Benzo(a)

antraceno 485,72 0,00

n.d 509,11

n.d n.d

Criseno 3.285,93 158,53 n.d 2.365,05 n.d 151,22

Benzo(b)

fluoranteno 353,20

n.d

n.d 587,47

n.d

n.d

Benzo(k)

fluoranteno 116,08

n.d

n.d 261,01

n.d

n.d

Benzo(a)

pireno 179,94

n.d

n.d 409,05

n.d

n.d

Benzo(g,h,i)

perileno 142,82

n.d

n.d 104,09

n.d

n.d

Dibenzo(a,h)

antraceno 108,62

n.d n.d

80,36

n.d n.d

Indeno(1,2,3-

cd)pireno 756,62

n.d

n.d 466,98

n.d

n.d

Soma HPAs 1.341.580,17 392.583,57 74.243,85 367.901,94 571.566,15 134.632,34

Fonte: Da Pesquisadora. (n.d: não detectável)

72

392.583,57 ng . g-1 na camada de argila e 74.243,85 ng . g-1 na camada filtrante

formada por areia em três granulometrias diversas e cascalho.

No experimento que simulou uma bacia de decantação de finos de

carvão (Lisímetro 02) os resultados foram de 367.901,94 ng . g-1 de HPAs totais no

estrato de finos de carvão (granulometria inferior a 28 mesh), 571.566,15 ng . g-1

na camada de argila e 134.632,34 ng . g-1 na camada filtrante.

Analisando individualmente os tipos de compostos orgânicos presentes

nas camadas que compuseram os experimentos, os estratos de carvão do lisímetro

do deposito de carvão beneficiado (Lisímetro 01) apresentaram valores

extremamente elevados em todos os 16 tipos de HPAs prioritários, conforme

ilustrado na Figura 24.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 5500 6000 6500 7000 7500 8000 8500

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1Carvão Argila Areia

Figura 24 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) presentes nos estratos do Lisímetro 01 Fonte: Da Pesquisadora.

Devido às altas concentrações do composto naftaleno, os resultados do

mesmo nos diferentes estratos estão apresentados separadamente, conforme

Figura 26, para melhor ilustrar graficamente as diferentes concentrações dos HPAs.

Na ordem decrescente de concentrações, o que apresentou maior valor

no carvão foi o naftaleno com 1.318.101,86 ng . g-1, seguido pelo fenantreno com

8.173,46 ng . g-1, acenafteno com 4.559,36 ng . g-1, criseno 3.285,93 ng . g-1,

fluoreno 2.970,48 ng . g-1, pireno 1.169,62 ng . g-1, fluoranteno 876,63 ng . g-1,

indeno(1,2,3-cd)pireno 756,62 ng . g-1, benzo(a)antraceno 485,72 ng . g-1,

73

benzo(b)fluoranteno 353,20 ng . g-1 , acenaftileno 245,55 ng . g-1, benzo(a)pireno

179,94 ng . g-1, benzo(ghi)perileno 142,82 ng . g-1, benzo(k)fluoranteno

116,08 ng . g-1, dibenzo(a,h)antraceno 108,62 ng . g-1 e antraceno com

54,29 ng . g-1.

Avaliando os demais estratos do lisímetro observa-se que os HPAs que

migraram para as demais camadas foram justamente os que estavam em maiores

concentrações no carvão. Na argila, os compostos mais expressivos em termos de

quantidade foram naftaleno, fenantreno, acenafteno, criseno, pireno, fluoreno e

fluoranteno com concentrações respectivas 391.500,51 ng . g-1, 541,65 ng . g-1,

159,68 ng . g-1, 158,53 ng . g-1, 91,53 ng . g-1, 74,59 ng . g-1, 45,74 ng . g-1 e

11,35 ng . g-1.

Na camada filtrante, formada por areias em diferentes granulometrias e

cascalho, somente os HPAs naftaleno, fenantreno, acenafteno, antraceno e

fluoranteno apresentaram concentrações detectáveis, na ordem 73.871,53 ng . g-1,

195,60 ng . g-1, 117,74 ng . g-1, 38,84 ng . g-1 e 19,29 ng . g-1.

Mesmo considerando as diferenças nas composições químicas e

mineralógicas entre o carvão brasileiro e europeu, é importante referenciar o

trabalho de Shreve e Brink Jr. (1997, p.69) que apresentam o percentual de alguns

constituintes importantes do alcatrão do carvão europeu, entre eles naftaleno 10%,

fenantreno 5%, fluoranteno 3,3%, pireno 2,1%, fluoreno 2,0%, criseno 2,0% e

antraceno 1,8%. Destes, com exceção do antraceno, todos os demais compostos

estão entre os sete HPAs que apresentaram maiores concentrações nos estratos

de carvão do depósito de carvão beneficiado e que migraram para o estrato de

argila e areia durante os experimentos.

No experimento onde foi simulado uma bacia de decantação de

partículas finas e ultrafinas de carvão (Lisímetro 02), o comportamento dos HPAs

foi similar aos observados no Lisímetro 01, conforme ilustrado na Figura 25. No

entanto, a diferença entre os experimentos está na variação das concentrações,

que foram inferiores tanto no somatório dos compostos, quanto na comparação

individual entre grande parte dos 16 tipos de HPAs.

74

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000

Acenaftileno

Acenafteno

Fluoreno

Fenantreno

Antraceno

Fluoranteno

Pireno

Benzo(a)antraceno

Criseno

Benzo(b)fluoranteno

Benzo(k)fluoranteno

Benzo(a)pireno

Benzo(g,h,i)perileno

Dibenzo(a,h)antraceno

Indeno(1,2,3-cd)pireno

ng g-1Carvão Argila Areia

Figura 25 - Concentrações características dos HPAs prioritários (exceção naftaleno) presentes nos estratos do Lisímetro 02 Fonte: Da Pesquisadora.

0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000

Depósito de Carvão Beneficiado

Bacia de Decantação

ng g-1Carvão Argila Areia

Figura 26 - Concentrações características de naftaleno presentes nos estratos do Lisímetro 01 e 02 Fonte: Da Pesquisadora.

Do ponto de vista do rigor necessário aos estudos comparativos entre os

testes cinéticos em laboratório e a situação real no ambiente natural, deve-se

resguardar as possíveis variações das condições climáticas e de intemperismo do

ambiente natural em relação àqueles controlados artificialmente, tanto nos

resultados obtidos no lisímetro que simulou uma Bacia de Decantação (Lisímetro

02) quanto nos resultados obtidos diretamente do lodo presente em uma bacia de

75

decantação (PAVEI, 2004).

Observa-se que os seis principais HPAs presentes na pesquisa em

ordem de concentrações mais elevadas foram naftaleno, fenantreno, fluoreno,

pireno, fluoranteno e criseno. Tais compostos também apresentaram maior

expressividade nos resultados do Lisímetro 02, com exceção do acenafteno que

apresentou concentração elevada na simulação. Estes dados podem justificar a

eficiência do método utilizado, assim como indicar que não houve degradação ou

perdas dos HPAs principais.

A possibilidade verificada na migração dos compostos orgânicos

presentes no carvão para os estratos de argila e areia indica que os mesmos

mecanismos também possam estar ocorrendo em ambientes naturais, ilustrando a

gravidade da situação ambiental e o risco a que estão expostos os ecossistemas e

a integridade da população humana.

5.3 Estudo comparativo entre as fontes de HPAs no sedimento “in natura” e

nos testes cinéticos

Na diferenciação das origens antrópicas dos HPAs em pirolítica ou

petrogênicas, muitas pesquisas foram realizadas visando a contribuição da queima

do carvão como fonte pirolítica (MIRANDA; LOUREIRO; CARDOSO, 1999; MAIER;

MAIER; LOYD, 2000; KIM; CHON, 2001; SANTOS; AZEVEDO; ALQUINO NETO,

2004), no entanto, poucos estudos mais detalhados correlacionado a presença de

HPAs ao carvão fazem referência ao aporte destes compostos orgânicos ao

ambiente em decorrência às atividades de extração e beneficiamento de tal minério.

O carvão é um combustível fóssil, formado a partir do soterramento e

compactação de uma massa vegetal (vegetais superiores ou algas marinhas) em

ambiente anaeróbico, em bacias originalmente pouco profundas (da ordem de

dezenas a centenas de metros), com condições especiais de pressão e

temperatura (LEINZ; AMARAL, 1983).

Da mesma forma que o carvão, o petróleo é formado a partir de matéria

orgânica (organismos aquáticos) soterrada com sedimentos lacustres e marinhos.

Em ambos os casos o ambiente anaeróbico permite o aprisionamento da

matéria orgânica não oxidada, que sofre transformações com a perda dos

componentes voláteis e concentração em carbono até a constituição dos diversos

componentes, predominantemente por hidrocarbonetos. A grande diferença entre a

formação do carvão mineral e do petróleo é a matéria-prima de origem, ou seja,

76

principalmente material lenhoso para o carvão e algas para o petróleo, o que é

definido justamente pelo ambiente de sedimentação (TEIXEIRA et al., 2000).

Dentro deste contexto, considerando as origens de formação das duas

substâncias, bem como a composição similar em termos de constituintes básicos

em hidrocarbonetos, fontes de carvão sem prévia combustão, podem da mesma

forma que o petróleo indicar origem petrogênica.

Foram utilizados os mesmos parâmetros geoquímicos utilizados nas

análises dos sedimentos da bacia hidrográfica do rio Araranguá na identificação das

origens antrópicas dos HPAs, conforme sugerido por Yunker e Macdonald (2003),

para a avaliação dos estratos que compuseram os lisímetros para a simulação dos

processos de geração de efluentes na mineração de carvão.

Na Tabela 18 ilustra as razões de HPAs calculadas a partir dos valores

obtidos nos testes cinéticos.

Tabela 18 - Parâmetros geoquímicos utilizados na avaliação das origens dos

HPAs nos testes cinéticos

Ant/

(Ant + Fen)

Fl/

(Fl + Py)

BaA/

(BaA + Ch)

HPA

Baixa MM

HPA

alta MM

Depósito de Carvão Beneficiado

Carvão 0,01 0,43 0,13 99% 1%

Argila 0,02 0,33 0,00 99 % 1%

Areia 0,17 1,00 0,00 98% 2%

Bacia de Decantação

Carvão 0,02 0,42 0,18 98% 2%

Argila 0,20 1,00 0,00 99% 1%

Areia 0,16 1,00 0,00 99% 1%

(Ant = Antraceno; Fen = Fenantreno; Fl = Fluoranteno; Py = Pireno; BaA = Benzo(a)antraceno; Ch = Criseno; MM = Massa Molecular) Fonte: Da Pesquisadora.

Com estes resultados foram confeccionados os diagramas, conforme

ilustra a Figura 27. Os valores de referência para cada razão encontram-se na

tabela 08 (p. 23). Conforme mencionados no ítem 5.1.2, são considerados

indicativos de origem petrogênica dos HPAs as seguintes razões: An / An+Fen <

0,1; Fl/Fl+Py < 0,4; BaA / BaA+Ch < 0,2.

77

São característicos de origem pirolítica os seguintes valores: An /

An+Fen > 0,1; Fl/Fl+Py > 0,4; BaA / BaA+Ch > 0,35.

(Ant = Antraceno; Fen = Fenantreno; Fl = Fluoranteno; Py = Pireno; BaA = Banzo(a)antraceno; Ch = Criseno). Figura 27 - Parâmetros geoquímicos usados na avaliação das origens dos HPAs nos estratos dos lisímetros de simulação de geração efluentes da mineração Fonte: Da Pesquisadora.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fl/ (Fl + Py)

Ant

/ (A

nt +

Fen

)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2

Fl / (FL + Py)

BaA

/ (B

aA +

Ch)

Combustão

Petrogênico

Combustão

Misturas

Petrogênico

Petrogênico Combustão de biomassa e carvão

78

Na análise do diagrama das três razões para as amostras dos estratos

dos Lisímetros 01 e 02, verifica-se que as razões entre Ant/ (Ant + Fen) e Fl/ (Fl +

Py); BaA/ (BaA + Ch) e Fl/ (Fl + Py), apresentam a princípio características

conflitantes na identificação das fontes de HPAs. No entanto, na determinação da

composição relativa dos compostos petrogênicos e pirolíticos na concentração total

dos HPAs, ilustrada na Tabela 18, verifica-se que em todos os estratos analisados

há predominância de HPAs de baixa massa molecular, com presença acima de

98%, cuja origem está relacionada a processos petrogênicos.

As Figuras 28 e 29 ilustram esta proporcionalidade entre concentrações

dos diferentes de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos de baixa e alta massa

molecular presentes nos estratos de carvão dos Lisímetros 01 e 02 e dos

sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá.

1

10

100

1000

10000

100000

1000000

10000000

Naftaleno Acenaftileno Acenafteno Fluoreno Fenantreno Antraceno

ng

g-1

P1 P2 P3 P4 P5 Lisímetro 01 Lisímetro 02

Figura 28 - Relação entres os HPAs de baixa massa molecular presentes nos estratos de carvão dos Lisímetros 01 e 02 e nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá Fonte: Da Pesquisadora.

79

1

10

100

1000

10000

Fluoran

teno

Pireno

Benzo

(a)an

trace

no

Crisen

o

Benzo

(b)flu

oranten

o

Benzo

(k)flu

oranten

o

Benzo

(a)pi

reno

Benzo

(g,h,

i)per

ileno

Dibenz

o(a,h

)antra

ceno

Indeno

(1,2,3-

cd)p

ireno

ng

g-1

P1 P2 P3 P4 P5 Lisímetro 01 Lisímetro 02

Figura 29 - Relação entres os HPAs de alta massa molecular presentes nos estratos de carvão dos Lisímetro 01 e 02 e nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá Fonte: Da Pesquisadora.

Tanto para os estratos de carvão quanto para os sedimentos coletados

na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, observou-se que a quantidade total dos

HPAs de baixa massa molecular é superior ao somatório dos HPAs de alta massa

molecular. Desta forma, estes resultados indicam a origem petrogênica dos

compostos.

Em todas as amostras analisadas, o naftaleno e o fenantreno

apresentam maiores concentrações. Resguardando possíveis diferenças em termos

das variações das condições ambientais, os resultados obtidos nos lisímetros dão

suporte e amparam as hipóteses levantadas inicialmente na pesquisa. Da mesma

forma que nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, os estratos de

simulação do depósito de carvão beneficiado e da bacia de decantação

apresentaram proporções similares de HPAs de origens petrogênicas.

80

6 CONCLUSÕES

A partir dos estudos realizados e dos resultados experimentais obtidos,

é possível concluir:

A Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá além da degradação da

qualidade de suas águas pelas atividades de mineração de carvão, os sedimentos

aquáticos ao longo da bacia também se encontram contaminados tanto pelo aporte

de metais pesados, quanto pela presença de hidrocarbonetos policíclicos

aromáticos em concentrações significativas.

Os sedimentos do rio Mãe Luzia após receberem contribuições dos

efluentes oriundos da mineração carvão e da área de descarga da lagoa ácida

denominada “Língua do Dragão”, na localidade da Vila Funil, foram os que

apresentaram maiores concentrações em hidrocarbonetos policíclicos aromáticos,

inclusive acima dos limites estabelecidos pelas agências ambientais internacionais

National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e Environmental Canada.

Quanto à origem dos HPAs presentes nos sedimentos dos corpos

hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, as razões diagnósticas baseadas

em concentrações dos compostos orgânicos apresentaram resultados

preliminarmente conflitantes. No entanto, na análise acerca da participação relativa

dos compostos petrogênicos e pirolíticos nas concentrações dos HPAs totais,

observou-se em todas as áreas analisadas a predominância de HPAs com baixa

massa molecular, cuja origem está relacionada a fontes petrogênicas.

Os sedimentos do rio Mãe Luzia nas proximidades de sua nascente,

mesmo sem influência direta de contaminação por HPAs apresentou níveis

consideráveis de tais compostos, provavelmente devido ao aporte atmosférico de

compostos orgânicos oriundos de coquerias e processos de combustão espontânea

dos rejeitos piritosos e carbonosos dispostos no entorno do local amostrado.

Os sedimentos amostrados no rio Fiorita apresentaram as menores

concentrações de HPAs, mesmo sendo um corpo hídrico com características

81

similares as áreas onde foram detectados os maiores índices destes compostos

orgânicos. Este fato pode estar relacionado com desvios do seu leito natural em

função das atividades de lavra de carvão a céu aberto e subterrâneo, que podem

ter ocasionado alterações nas suas condições hidrológicas e influenciado na

disposição e permanência destes compostos.

Constatou-se uma relação proporcional dos tipos de HPAs identificados

no início da Bacia Hidrográfica e os presentes na sua foz no rio Araranguá, com

predominância dos compostos de menor massa molecular, que apresentam uma

maior solubilidade em comparação aos de maior massa molecular, e

conseqüentemente uma maior possibilidade de mover-se na coluna d’água.

Nos ensaios com a realização de testes cinéticos, sem a influência de

outras fontes antrópicas, observou-se que todos os 16 compostos orgânicos

analisados estão presentes em elevadas concentrações nos estratos de carvão.

Da mesma forma que nos sedimentos da Bacia Hidrográfica do Rio

Araranguá, os estratos que simularam depósito de carvão beneficiado e bacia de

decantação apresentaram proporções similares de HPAs petrogênicos. Assim, o

estudo comparativo das matrizes de formação do carvão e do petróleo, sugere uma

provável origem também petrogênica para os HPAs identificados nos sedimentos

contaminados pela atividade de mineração de carvão.

Nos estratos de argila e areia dos lisímetros, observa-se que os HPAs

que migraram para estas camadas foram justamente os que estavam em maiores

concentrações no carvão. Tais resultados indicaram que esses mecanismos de

migração podem também estar ocorrendo nos ecossistemas naturais, o que

demonstra a gravidade da situação ambiental e o risco a que estão expostos os

ecossistemas regionais e a saúde da população humana.

6.1 Sugestões

Considerando as interfaces existentes no ambiente costeiro, com a

possibilidade de migração dos HPAs entre o ambiente fluvial e marinho, os

resultados apontam para a ocorrência de transferência desse tipo de poluente

82

nesses ecossistemas. Desta forma, sugere-se estudos complementares para a

caracterização do ecossistema marinho diretamente afetado pela difusão de tais

compostos.

Finalmente, os resultados obtidos apontam para a necessidade de incluir

os estudos acerca dos mecanismos de difusão dos HPAs no meio aquático, nos

programas de monitoramento das bacias hidrográficas regionais contaminadas pela

atividade de mineração de carvão.

83

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90

ANEXO I

91

CRONOGRAMA DE SIMULAÇÃO DE GERAÇÃO DE DAM EM LISÍMETROS

Mês Real de Simulação: Maio/ 2006

Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab

JANEIRO Sol: 3 horas

Chuva: 15,22

1

Sol: 9:18

2

Sol: 9:18

Chuva: 3L

3

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

4

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

5

Sol: 9:18

6

8

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

9

Sol: 9:18

Chuva: 3,2L

Esgota

10

Sol: 9:18

Esgota

11

Sol: 7:18

Chuva: 3L

12

Sol: 7:18

13

FEVEREIRO

Sol: 72,8h /mês

Chuva: 15,44L

15

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

16

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

17

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

18

Sol: 7:18

Chuva: 3,4L

Esgota

19

Sol: 7:18

20

MARÇO

Sol: 78,4h /mês

Chuva: 12,82L

22

Sol: 7:50mi

Chuva: 2L

Esgota

23

Sol: 7:50 mi

Chuva: 2L

Esgota

24

Sol: 7:50 min

Chuva: 2L

Esgota

25

Sol: 7:50min

Chuva: 2L

Esgota

26

Sol: 7:50

27

29

Sol: 7:50 m

Chuva: 2L

Esgota

30

Sol: 7:50 mi

Chuva: 2,8L

Esgota

31

Sol: 5:30 mi

Chuva: 1L

Esgota

JANEIRO

Sol: 93 horas Chuva: 15,22L

FEVEREIRO Sol: 72,8h /mês Chuva: 15,44L

MARÇO Sol: 78,4h/mês Chuva: 12,82L

ABRIL Sol: 54,9 horas Chuva: 10,43L

92

Mês Real de Simulação: Junho/ 2006

Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab

ABRIL

Sol: 54,9h/mês

Chuva: 10,43

1

Sol: 5:30 mi

Chuva: 2L

Esgota

2

Sol: 5:30 mi

3

ABRIL

Sol: 54,9h/mês

Chuva: 10,43

5

Sol: 5:30 mi

Chuva: 2L

Esgota

6

Sol: 5:30 mi

Chuva: 2L

Esgota

7

Sol: 5:30 mi

Chuva: 2L

Esgota

8

Sol: 5:30 mi

Chuva: 1,4L

Esgota

9

Sol: 5:30 mi

10

MAIO

Sol: 40,3h/mês

Chuva: 9L

12

Sol: 4h

Chuva: 1L

Esgota

13

Sol: 8h

Chuva: 2L

Esgota

14

Sol: 8h

Chuva: 2L

Esgota

15

Feriado

16

Feriado

17

19

Sol: 4h

Chuva: 2L

Esgota

20

Sol: 4h

Chuva: 2L

Esgota

21

Sol: 4h

Esgota

22

Sol: 3h

Chuva: 2L

Esgota

23

Sol: 3h

24

JUNHO

Sol: 29,1h/mês

Chuva: 8,7L

26

Sol: 3h

Chuva: 2L

Esgota

27

Sol: 3h

Chuva: 2L

Esgota

28

Sol: 3h

Chuva: 1L

Esgota

29

Sol: 3h

Chuva: 1,7L

Esgota

30

Sol: 3h

JUNHO Sol: 29,1h/m Chuva: 8,7L

MAIO Sol: 40,3h/m Chuva: 9L

93

Mês Real de Simulação: Julho/ 2006

Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab

JULHO

Sol: 34,1h/mês

Chuva: 10L

3

Sol: 3h:25min

Chuva: 2L

Esgota

4

Sol: 3h:25min

Chuva: 1L

Esgota

5

Sol: 3h:25min

Chuva: 2L

Esgota

6

Sol: 3h:25min

Chuva: 2L

Esgota

7

Sol: 3h:25min

8

10

Sol: 3h:25min

Chuva: 1L

Esgota

11

Sol: 3h:25min

Chuva: 2L

Esgota

12

Sol: 3h:25min

Esgota

13

Sol: 4h:30min

Chuva: 1L

Esgota

14

Sol: 4h:30min

15

AGOSTO

Sol:45 h/mês

Chuva: 8,5L

17

Sol: 4h:30min

Chuva: 2L

Esgota

18

Sol: 4h:30min

Chuva: 2L

Esgota

19

Sol: 4h:30min

Chuva: 2L

Esgota

20

Sol: 4h:30min

Chuva: 1,5L

Esgota

21

Sol: 4h:30min

22

SETEMBRO

Sol:57,6 h/mês

Chuva: 11L

24

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

25

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

26

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

27

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

28

Sol: 5h:50min

29

SETEMBRO

Sol:57,6 h/mês

Chuva: 11L

31

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

JULHO Sol: 34,1h/mês Chuva: 10L

AGOSTO Sol:45 h/mês Chuva: 8,5L

94

Mês Real de Simulação: Agosto/ 2006

Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab

1

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

2

Sol: 5h:50min

Chuva: 2L

Esgota

3

Sol: 8h

Chuva: 3L

Esgota

4

Sol: 8h

5

OUTUBRO

Sol:80 h/mês

Chuva: 13,2L

7

Sol: 8h

Chuva: 3L

Esgota

8

Sol: 8h

Chuva: 3L

Esgota

9

Sol: 8h

Chuva: 2L

Esgota

10

Sol: 8h

Chuva: 2,2L

Esgota

11

Sol: 8h

12

NOVEMBRO

Sol:90 h/mês

Chuva: 12,2L

14

Sol: 9h

Chuva: 2L

Esgota

15

Sol: 9h

Chuva: 2L

Esgota

16

Sol: 9h

Chuva: 2L

Esgota

17

Sol: 9h

Chuva: 2L

Esgota

18

Sol: 9h

19

21

Sol: 9h

Chuva: 2L

Esgota

22

Sol: 9h

Chuva: 2,2L

Esgota

23

Sol: 9h

Esgota

24

Sol: 9h:45min

Chuva: 3L

Esgota

25

Sol: 9h:45min

26

DEZEMBRO

Sol:97,7 h/mês

Chuva: 13,7L

28

Sol: 9h:45min

Chuva: 3L

Esgota

29

Sol: 9h:45min

Chuva: 3L

Esgota

30

Sol: 9h:45min

Chuva: 2L

Esgota

31

Sol: 9h:45min

Chuva: 2,7L

Esgota

1/ setembro

Sol: 9h:45min

SETEMBRO Sol:57,6 h/mês Chuva: 11L

OUTUBRO Sol:80 h/mês Chuva: 13,2L

NOVEMBRO Sol:90 h/mês Chuva: 12,2L

DEZEMBRO Sol:97,7 h/mês Chuva: 13,7L

95

Mês Real de Simulação: Setembro/ 2006

Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab

JANEIRO Sol: 3 horas

Chuva: 15,22L

4

Sol: 9:18

5

Sol: 9:18

Chuva: 3L

6

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

7

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

8

Sol: 9:18

9

11

Sol: 9:18

Chuva: 3L

Esgota

12

Sol: 9:18

Chuva: 3,2L

Esgota

13

Sol: 9:18

Esgota

14

Sol: 7:18

Chuva: 3L

15

Sol: 7:18

16

FEVEREIRO

Sol: 72,8h /mês

Chuva: 15,44L

18

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

19

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

20

Sol: 7:18

Chuva: 3L

Esgota

21

Sol: 7:18

Chuva: 3,4L

Esgota

22

Sol: 7:18

23

MARÇO

Sol: 78,4h /mês

Chuva: 12,82L

25

Sol: 7:50mi

Chuva: 2L

Esgota

26

Sol: 7:50 mi

Chuva: 2L

Esgota

27

Sol: 7:50 min

Chuva: 2L

Esgota

28

Sol: 7:50min

Chuva: 2L

Esgota

29

Sol: 7:50

30

MARÇO

Sol: 78,4h /mês

Chuva: 12,82L

2/outubro

Sol: 7:50 m

Chuva: 2L

Esgota

3/outubro

Sol: 7:50 mi

Chuva: 2,8L

Esgota

JANEIRO Sol: 93 horas Chuva: 15,22L

FEVEREIRO Sol: 72,8h /mês Chuva: 15,44L

96

ANEXO II

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