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INPE-12180-TDI/974 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DE JUNÇÕES P-N PBTE PARA APLICAÇÃO EM DETECTORES DE INFRAVERMELHO André Santiago Barros Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelo Dr. Eduardo Abramof, aprovada em 2 de setembro de 2004. INPE São José dos Campos 2005

Caracterização Elétrica de Junções P-n PBTE para ...mtc-m16b.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/jeferson/2004/10.05.14.56/doc/... · dos fotodiodos. A despeito destas ... Diagrama de

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INPE-12180-TDI/974 CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DE JUNÇÕES P-N PBTE PARA

APLICAÇÃO EM DETECTORES DE INFRAVERMELHO

André Santiago Barros

Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pelo Dr. Eduardo

Abramof, aprovada em 2 de setembro de 2004.

INPE São José dos Campos

2005

620.1 BARROS, A. S. Caracterização elétrica de junções P-N PBTE para aplicação em detectores de infravermelho / A. S. Barros. – São José dos Campos: INPE, 2004. 108p. – (INPE-12180-TDI/974). 1.Telureto de chumbo. 2.Epitaxia de feixe molecular. 3.Detector fotovoltaico de infravermelho. 4.Capacitância por tensão. 5.Corrente por tensão. I.Título.

“The outside world is something independent from man, something absolute, and the quest for the laws which apply to this absolute appeared to me as the most sublime

scientific pursuit in life”.

MAX KARL ERNST LUDWIG PLANCK

À minha esposa Priscila e nossos filhos Enzo, Hector e Lincoln,

a meus pais e meus irmãos

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, pela oportunidade de estudos e utilização de suas instalações. Ao Laboratório Associado de Sensores e Materiais (LAS) por ter disponibilizado a infra-estrutura necessária para a execução desta dissertação de mestrado. Aos professores da Área de Concentração em Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores (CMS) do Programa de pós-graduação em engenharia e Tecnologia Espaciais (ETE) pelo conhecimento compartilhado. Ao meu orientador Prof. Dr. Eduardo Abramof, pelo conhecimento passado e pela orientação e apoio na realização deste trabalho. Ao grupo de pesquisas de Tecnologia de Materiais TECMAT, pela atenção dedicada. A meus pais pelo incentivo e pela compreensão. Aos colegas de estudo, por compartilhar das dificuldades e vitórias: Alexandre M.Pires dos Anjos, Yuliya Koldayeva, Úrsula Andréia Mengui, Érica Freire Antunes, Patrícia Guimarães Abramof, Fernando Cruz Barbieri, Irineu Yassuda, Vanderlan Rodrigues dos Anjos. Aos funcionários do LAS pela colaboração: Francisco Augusto Souza Ferreira, Stela Márcia Teixeira, Manuel F. Ribeiro, Augusto C. Conrado, Júlio César Peixoto, Eliana Marques C. Martins. À minha família, pelo amor e compreensão, mesmo nos momentos difíceis.

RESUMO

Este trabalho visa à caracterização elétrica de junções p-n de PbTe para aplicação em detectores fotovoltaicos na faixa do infravermelho médio. Para isto, uma série de junções p-n foi crescida com sucesso por epitaxia de feixe molecular sobre substratos de fluoreto de bário. Nesta série, a concentração de buracos p ficou mantida fixa em 1017 cm-3 e a concentração de elétrons n variou entre 1017 e 1019 cm-3. Um sistema para medidas de corrente por tensão (IxV) e capacitância por tensão (CxV) foi implementado para este estudo com programas de controle desenvolvidos na plataforma Visual Basic. Aproveitando a experiência adquirida, um código fonte em Visual Basic foi também desenvolvido para controlar o sistema de epitaxia de feixe molecular. Diodos na forma de estrutura mesa foram fabricados por técnicas de litografia e montados em um criostato de nitrogênio líquido para a caracterização elétrica e determinação das figuras de mérito (detectividade e reposta espectral). Os resultados obtidos da característica CxV mostraram que para concentração de elétrons n > 1018 cm-3, junções abruptas de um único lado foram formadas. Neste caso, a concentração de buracos p e a largura da região depleção puderam ser determinadas. As características IxV apresentaram formas diferenciadas tanto para o ramo de corrente reversa como o de direta, mesmo para diodos feitos de uma mesma junção. A resistência diferencial incremental, as resistências em série e em paralelo, e o fator de idealidade dos diodos foram obtidos usando a derivada da curva IxV e um programa de simulação desenvolvido para ajustar a curva calculada pela equação de um diodo real aos pontos experimentais. As flutuações observadas tanto para os parâmetros obtidos da característica IxV quanto para os valores de detectividade D* foram atribuídos a problemas durante o processamento dos fotodiodos. A despeito destas flutuações, os valores de ruído e detectividade medidos para os detectores de PbTe puderam ser correlacionados com os parâmetros obtidos da análise da característica IxV. Estes resultados permitem uma previsão das figuras de mérito do detector de PbTe a partir dos dados da curva IxV. Destaca-se, ainda, que os melhores fotodiodos de PbTe fabricados durante este trabalho apresentaram valores de D* na ordem de 1011 cmHz1/2W-1 comparáveis aos de InSb e HgCdTe comerciais e aos de PbTe fabricados sobre silício.

ELECTRICAL CHARACTERIZATION OF PbTe p-n JUNCTIONS FOR APPLICATION IN INFRARED DETECTORS

ABSTRACT

This work reports on the electrical characterization of PbTe p-n junctions for application in photovoltaic detectors in the medium infrared range. For this purpose, a series of p-n junctions, where the hole concentration p was kept at 1017 cm-3 and the electron concentration n varied between 1017 and 1019 cm-3, was successfully grown by molecular beam epitaxy on barium fluoride substrates. A system to measure current versus voltage (IxV) and capacitance versus voltage (CxV) characteristics was employed together with data acquisition and control programs developed in Visual Basic platform. Using this experience, a Visual Basic code to control the molecular beam epitaxial system was also developed. Mesa diodes were fabricated by lithography and mounted in a liquid nitrogen cryostat for the electrical characterization and the determination of figures of merit (detectivity and spectral response). The results obtained by the CxV characteristic showed that for electron concentration n > 1018 cm-3, one-sided abrupt junctions were formed. In this case, the hole concentration and the depletion width could be determined. The IxV characteristic exhibited different forms for both reverse and direct branches, even for diodes fabricated from the same junction. The incremental differential resistance, the series and parallel resistances, the ideality factor of the diodes were obtained by the derivative of the IxV curve and by a simulation program developed to adjust the curve calculated by the equation for a real diode to the experimental data. The fluctuations observed for both the parameters obtained from the IxV curve analysis and detectivity D* values were attributed to problems during the photodiode fabrication processes. Despite of these fluctuations, it was possible to correlate the noise and detectivity values measured for the PbTe detectors to the parameters obtained form the IxV characterization. These results allow the prediction of the detector’s figures of merit from the data obtained from the IxV curves. It is also important to emphasize that the best PbTe photodiodes fabricated during this work showed D* values close to 1011

cmHz1/2W-1, comparable to InSb and HgCdTe commercial detectors and to PbTe photodiodes fabricated on silicon substrates.

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE SÍMBOLOS

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO................................................................................. 27

CAPÍTULO 2 - RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E PROPRIEDADES DOS COMPOSTOS IV-VI ................................................................................................... 29 2.1 Detectores de Radiação Infravermelha..................................................................... 29 2.2 Propriedades dos Compostos Semicondutores do Grupo IV–VI ............................. 34

CAPÍTULO 3 - EPITAXIA DE FEIXE MOLECULAR.......................................... 39 3.1 Descrição da Técnica e do Sistema MBE ................................................................. 39 3.2 Programa de Controle e Aquisição de Dados para o Sistema MBE ......................... 41

CAPÍTULO 4 - TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DAS CAMADAS ........... 45 4.1 Medidas de Espessura............................................................................................... 45 4.2 Efeito Hall e Resistividade ....................................................................................... 47 4.2.1 Descrição do Efeito Hall........................................................................................ 47 4.2.2 Método van der Pauw............................................................................................ 49 4.2.3 Sistema para Medidas de Resistividade e Efeito Hall ........................................... 51

CAPÍTULO 5 - TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DO DISPOSITIVO........ 55 5.1 Medidas de Corrente por Tensão e Capacitância por Tensão .................................. 55 5.2 Medidas das Figuras de Mérito ................................................................................ 62

CAPÍTULO 6 - CRESCIMENTO DAS CAMADAS EPITAXIAIS, JUNÇÕES P-N E FABRICAÇÃO DO DISPOSITIVO ............................................................... 67 6.1 Camadas Epitaxiais de Referência e Junções p-n..................................................... 67 6.2 Fabricação do Dispositivo ........................................................................................ 73

CAPÍTULO 7 - CARACTERIZAÇÃO DO DISPOSITIVO.................................... 79 7.1 – Característica Capacitância por Tensão................................................................. 79 7.2 – Característica Corrente por Tensão ....................................................................... 82 7.3 – Detectividade e Resposta Espectral....................................................................... 92 7.4 – Correlação entre Medidas Elétricas e Ópticas....................................................... 96

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÕES ................................................................................. 99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 101

APÊNDICE A - PUBLICAÇÕES ............................................................................. 105

LISTA DE FIGURAS

2.1 – Transmitância atmosférica na região do infravermelho. ....................................... 29 2.2 – Espectros de emissão de um corpo negro a 300 e a 900K calculados a partir da

lei de Planck. .......................................................................................................... 31 2.3 – Diagrama de energia de uma junção p-n. .............................................................. 32 2.4 – Estrutura cristalina dos sais de chumbo (estrutura do sal de rocha)...................... 35 2.5 – Diagrama de fase temperatura versus composição para o composto Pb1-yTey

(painel esquerdo). Este composto só existe em torno da linha estequiométrica (y = 0,5). O diagrama de fase em torno da região estequiométrica é mostrado em uma escala expandida no painel direito.................................................................. 36

3.1 – Diagrama esquemático do sistema de epitaxia de feixe molecular (MBE) instalado no LAS/INPE para o crescimento de compostos IV-VI: vista de cima mostrando as três câmaras do sistema (à direita), e à esquerda detalhes da câmara principal de crescimento. ........................................................................... 40

3.2 – Formulário do programa de controle e aquisição de dados desenvolvido para o sistema de crescimento epitaxial por feixe molecular. ........................................... 43

4.1 – Espectro de reflexão de um filme de PbTe crescido sobre BaF2 obtido por medidas no FTIR. A espessura do filme é obtida através da separação entre os extremos das franjas de interferência observadas no espectro, conhecendo-se o índice de refração do material. ............................................................................... 46

4.2 – Esquema de uma amostra utilizada para medir o efeito Hall. ............................... 47 4.3 – Desenho da configuração de van der Pauw. .......................................................... 50 4.4 – Diagrama do sistema de medidas de resistividade e efeito Hall............................ 52 4.5 – Fotografia do sistema para medidas de resistividade e efeito Hall instalado no

LAS/INPE............................................................................................................... 53 5.1 – Gabinete com os sistemas de caracterização elétrica corrente por tensão (IxV) e

capacitância por tensão (CxV) e o microcomputador de controle das medidas com interface IEEE-488. ........................................................................................ 55

5.2 – Diagrama de blocos e circuito equivalente de medidas para o sistema IxV. Nesta configuração, a queda de tensão é medida em cima do dispositivo em teste......................................................................................................................... 56

5.3 – Diagrama e circuito de medida do sistema CxV. A tensão é aplicada pela fonte interna do capacímetro e a capacitância e a condutância são obtidas utilizando o sinal alternado de 1MHz......................................................................................... 57

5.4 – Formulário de medida de corrente por tensão (IxV) do programa de controle desenvolvido em Visual Basic................................................................................ 58

5.5 – Formulário de medida de capacitância por tensão (CxV) do programa de controle desenvolvido em Visual Basic.................................................................. 59

5.6 – Curva característica corrente por tensão de um diodo comercial 1N4148 medida no sistema IxV implementado. ............................................................................... 60

5.7 – Curva de tensão por corrente para o diodo 1N4148 polarizado diretamente medida no sistema IxV (painel esquerdo) e, no painel direito, para comparação,

o gráfico retirado do folheto do fabricante. Um desvio máximo de 5% foi observado entre os dois gráficos............................................................................. 61

5.8 – Curva característica CxV para o diodo SKN1204 medida no sistema montado. .. 61 5.9 – Diagrama da montagem para medida de detectividade de um sensor

infravermelho. ........................................................................................................ 62 5.10 – Diagrama da montagem para medidas de resposta espectral relativa para um

sensor infravermelho. ............................................................................................. 65 6.1 – Concentração de portadores a 77K versus fluxo de Te para camadas de PbTe

crescidas a 300oC. A inversão do caráter n para p ocorre por volta de 8x10-9 Torr. ........................................................................................................................ 68

6.2 – Corte transversal da estrutura tipo mesa................................................................ 73 6.3 – Máscara de evaporação de contatos de Au. O desenho da esquerda representa a

máscara utilizada para evaporação de contatos no lado n, e o da direita para evaporação de contatos no lado p. .......................................................................... 74

6.4 – Fotografias do porta amostra com as máscaras para evaporação de contatos de Au montadas. .......................................................................................................... 75

6.5 – Perfil de uma estrutura mesa delineada na junção p-n de PbTe. ........................... 76 6.6 – Criostato de nitrogênio líquido com janela de BaF2 e conector detoronics de 10

pinos. ...................................................................................................................... 76 7.1 – Curvas características CxV e 1/Ce

2xV para os diodos de PbTe fabricados a partir de junções p-n++ (a), p-n+ (b), e p-n (c). Os pontos são dados experimentais e a linha cheia corresponde ao ajuste linear. ................................... 80

7.2 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe fabricados a partir de junções p-n++ (n ~ 1019 cm-3).................................................................... 84

7.3 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe fabricados a partir de junções p-n+ (n ~ 1018 cm-3). .................................................................... 85

7.4 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe fabricados a partir de junções p-n (n ~ 1017 cm-3)....................................................................... 86

7.5 – Circuito equivalente de um diodo real com resistências em série e em paralelo ao diodo ideal. ........................................................................................................ 87

7.6– Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n++ com baixa corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica............. 88

7.7 – Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n+ apresentando alta corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica. .................................................................................................. 89

7.8 – Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n que apresenta baixa corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica. .................................................................................................. 90

7.9 – Espectro de transmissão na região do infravermelho para a janela de BaF2 do criostato e para o substrato clivado de BaF2 utilizado para o crescimento. ........... 94

7.10 – Resposta espectral do detector de junção p-n de PbTe........................................ 95 7.11 – Relação entre o inverso do ruído medido com o pré-amplificador e resistência

paralela para os detectores de PbTe........................................................................ 96 7.12 – Detectividade em função da resistência paralela para os detectores

fotovoltaicos de PbTe. ............................................................................................ 97 7.13 – Detectividade em função do produto R0A para os detectores fotovoltaicos de

PbTe........................................................................................................................ 97

LISTA DE TABELAS

2.1 – Espectro eletromagnético para região do infravermelho....................................... 30 2.2 – Propriedades gerais dos principais compostos IV-VI, BaF2 e Si: energia do gap

(Eg) a 300 e a 77K, constante de rede (a), densidade (ρv), coeficiente de expansão térmico linear (β), massa atômica (M) e temperatura de fusão (TF)....... 35

6.1 – Propriedades elétricas a 300 e 77K das camadas de referência crescidas visando à obtenção do PbTe com caráter p. O fluxo de Te (FTe) controlado pela temperatura da respectiva célula (TTe) e a temperatura do substrato (Tsub) foram os principais parâmetros de crescimento variados durante o procedimento. A temperatura da célula de PbTe ficou fixa em 640oC. ............................................. 71

6.2 – Propriedades elétricas a temperatura ambiente e em nitrogênio líquido das camadas referência de PbTe tipo-n dopadas com bismuto. O fluxo da célula de Bi2Te3 (FBi2Te3) obtido na temperatura TBi2Te3 foi o principal parâmetro variado nesta série. As temperaturas do substrato, da célula de PbTe, e da célula de Te ficaram fixas em 290, 640, e 276oC, respectivamente. .......................................... 72

6.3 – Dados das junções p-n crescidas para a fabricação dos fotodiodos. A espessura t corresponde às duas camadas (p+n), tp à camada p e tn à camada n. Ref p e Ref n correspondem às camadas utilizadas como referência para o crescimento da junção p-n, enquanto os valores p e n são as concentrações de buracos e elétrons a 77K das respectivas camadas referências. O Tipo é a nomenclatura utilizada para se referir à variação da concentração de elétrons na junção........................... 72

7.1 – Concentração de buracos p e largura da região de depleção w em V = 0 e V = -0,4V, obtidos através da caracterização CxV (* V = -0,2V). ................................. 82

7.2– Dados obtidos da caracterização IxV: resistência incremental diferencial R0, produto resistência incremental vezes a área R0A, fator de idealidade nid, resistência em série Rs e em paralelo Rp ao diodo. ................................................. 91

7.3 – Detectividade D* dos detectores de PbTe medida diretamente e com o pré-amplificador. VS, VN, e VS/VN correspondem à tensão do sinal, do ruído, e à relação sinal-ruído, respectivamente. ..................................................................... 93

LISTA DE SÍMBOLOS

Φ - Fluxo de fótons

ν - Freqüência

η - Eficiência quântica

∆f - Largura de banda do amplificador

∆k - Diferença em número de onda

β - Coeficiente de expansão térmico linear

κ - Constante dielétrica

λ - Comprimento de onda

λmax - Comprimento de onda máximo para emissão de um corpo negro

µ - Mobilidade

π - Número PI

θ - Ângulo de incidência

ρ - Resistividade

ρv - Densidade volumétrica

σ - Constante de Stefan-Boltzmann

ε0 - Permissividade elétrica no vácuo

A - Área do dispositivo

a - Constante de rede

As - Abertura da cavidade do corpo negro

B - Campo magnético

Bz - Campo magnético na direção z

C - Capacitância

c - Velocidade da luz

Ce - Capacitância específica

d - Distância

D - Detectividade

D* - Detectividade normalizada

Dλ* - Detectividade espectral

E - Campo elétrico

e - Carga do elétron

Ec - Energia da banda de condução

Eg - Energia do gap

Ev - Energia da banda de valência

Ey - Campo elétrico na direção y

F - Força

f - Fator de van der Pauw

FBi2Te3 - Fluxo de telureto de bismuto

Fm - Fator de transferência do modulador mecânico

FTe - Fluxo de telúrio

Fy - Força na direção y

G - Condutância

h - Constante de Planck

H - Densidade de potência irradiada

I - Corrente

I0 - Corrente de saturação

Iph - Fotocorrente

J - Densidade de corrente

Jx - Densidade de corrente na direção x

kB - Constante de Boltzmann

L - Distância entre contatos

M - Massa atômica

m - Mínimos ou máximos das franjas de interferência

n - Concentração de elétrons por unidade de volume

nid - Fator de idealidade

nr - Índice de refração

p - Concentração de buracos por unidade de volume

Q - Razão das resistências

R - Resistência

R0 - Resistência diferencial incremental

RH - Coeficiente Hall

RP - Resistência em paralelo

RS - Resistência em série

T - Temperatura em Kelvin

t - Espessura

TBB - Temperatura do corpo negro

TBi2Te3 - Temperatura do telureto de bismuto

TF - Temperatura de fusão

Tsub - Temperatura do substrato

TTe - Temperatura do telúrio

v - Velocidade

V - Tensão

Vb - Potencial da barreira

VN - Tensão de ruído

VS - Tensão de sinal

Vth - Tensão térmica

vx - Velocidade na direção x

vy - Velocidade na direção y

w - Largura da camada de depleção

y - Composição atômica

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

a.m.u. - Atomic Mass Unit

DC - Direct Current

DMM - Digital Multimeter

DUT - Device Under Test

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FCC - Face Centered Cubic

FOV - Field of View

FTIR - Fourier Transformer Infrared

HP - Hewlett Packard

IEEE-488 - Institute of Electrical and Electronics Engineers

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

LAS - Laboratório Associado de Sensores e Materiais

MBE - Molecular Beam Epitaxy

NEP - Noise Equivalent Power

PC - Personal Computer

PCI - Peripheral Component Interconnect

RHEED - Reflection High Energy Electron Diffraction

RS232 - Recommended Standard 232

27

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O telureto de chumbo (PbTe) pertence à família dos compostos semicondutores do

grupo IV-VI, e por possuir uma largura da banda proibida estreita, torna-se interessante

para aplicação em dispositivos operantes no infravermelho termal. Os dispositivos de

infravermelho podem ser aplicados em uma gama muito ampla de situações. Como

exemplo temos o controle de poluentes, sensoriamento remoto, termografia,

diagnósticos médicos, monitoramento de temperatura à distância, além da investigação

de propriedades e fenômenos em diversos ramos da ciência (Hudson, 1969).

O grupo do LAS/INPE tem larga tradição na pesquisa em compostos IV-VI. O trabalho

iniciou-se em 1978 com o crescimento de monocristais da liga telureto de chumbo e

estanho utilizando a técnica Brigdman e vapor-líquido-sólido. As primeiras junções p-n

foram fabricadas por técnicas de difusão (An et al., 1985). Com a implantação de um

sistema para epitaxia a partir da fase líquida em 1984, detectores fotovoltaicos (Ferreira,

1988) e lasers semicondutores (Abramof, 1988) foram fabricados a partir de camadas

epitaxiais crescidas sobre substratos monocristalinos de PbTe. Em 1987, a técnica de

epitaxia de paredes quentes desenvolvida na Universidade de Linz na Áustria (Lopez-

Otero, 1978) foi também implementada no LAS/INPE. Esta técnica permitia um melhor

controle das propriedades elétricas das camadas crescidas e interfaces mais abruptas na

formação da junção p-n (Abramof et al., 1989; Abramof et al., 1990). O grupo liderado

por Hans Zogg do Instituto Federal de Tecnologia (ETH) em Zurique na Suíça passou a

desenvolver arranjos de detectores de compostos IV-VI sobre substratos de silício

usando camadas intermediárias de fluoretos crescidos por epitaxia de feixe molecular,

propiciando um grande avanço na área (Zogg et al., 1989; Zogg et al., 1991; Zogg et al.,

1994; Zogg, 1999). Usando o mesmo procedimento, detectores fotovoltaicos de PbTe

sobre Si foram fabricados pelo nosso grupo usando a técnica de paredes quentes

(Boschetti et al., 1993). Em 1995, um sistema comercial de crescimento de ultra alto

28

vácuo para técnica de epitaxia de feixe molecular foi adquirido da firma francesa Riber

e instalado no LAS/INPE. Esta técnica permite o controle do crescimento ao nível de

uma monocamada atômica tornando também possível o crescimento de estruturas com

multicamadas.

Este trabalho de mestrado visa à caracterização elétrica de junções p-n de PbTe

crescidas por epitaxia de feixe molecular sobre substratos de fluoreto de bário para

aplicação em detectores fotovoltaicos na faixa do infravermelho médio. Para isto, um

sistema automatizado de medidas de corrente por tensão e capacitância por tensão será

implementado. Os diodos tipo mesa serão fabricados por técnicas de litografia. As

características elétricas e as figuras de mérito dos fotodiodos fabricados a partir de

diferentes junções p-n serão estudadas em função da concentração de portadores das

camadas constituintes com o objetivo de otimizar o desempenho do dispositivo.

A dissertação se encontra organizada da seguinte forma. O Capítulo 2 apresenta os

fundamentos da radiação infravermelha, o princípio de funcionamento de um detector

fotovoltaico, e as propriedades gerais dos compostos semicondutores do grupo IV-VI. A

técnica e o sistema de epitaxia por feixe molecular são mostrados em detalhe no

Capítulo 3. O Capítulo 4 descreve as técnicas de caracterização das camadas epitaxiais

incluindo medidas de espessura e medidas de efeito Hall e resistividade. As técnicas de

caracterização elétrica e óptica do dispositivo são mostradas no Capítulo 5, onde o

sistema implementado para medidas de corrente por tensão e capacitância por tensão é

explicado e as medidas das figuras de mérito (detectividade e resposta espectral) do

detector são detalhadas. O Capítulo 6 explica como foram crescidas as junções p-n,

mostrando os parâmetros de crescimento das camadas de referência, e também

apresenta as técnicas de litografia utilizadas na fabricação do dispositivo final. O

Capítulo 7 apresenta os resultados da caracterização dos fotodiodos e mostra a

correlação entre os parâmetros obtidos das características elétricas e as figuras de mérito

do detector. As conclusões do trabalho realizado são finalmente relatadas no Capítulo 8.

29

CAPÍTULO 2

RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E PROPRIEDADES DOS COMPOSTOS

IV-VI

As características do espectro eletromagnético na região do infravermelho, os

fundamentos da radiação de um corpo negro, e o princípio de funcionamento de um

detector fotovoltaico são descritos neste capítulo. As propriedades gerais dos compostos

semicondutores do grupo IV-VI, que são utilizados na fabricação de dispositivos

operantes na região do infravermelho, também são aqui detalhadas.

2.1 Detectores de Radiação Infravermelha

A maior parte dos sistemas de infravermelho é obrigado a enxergar seus alvos através

da atmosfera terrestre. Antes de alcançar o sensor de infravermelho, o fluxo radiante

emitido pelo alvo é seletivamente absorvido por certos gases da atmosfera. Na porção

infravermelha do espectro eletromagnético, o processo de absorção torna-se mais

problemático que o processo de dispersão.

FIGURA 2.1 – Transmitância atmosférica na região do infravermelho.

30

A transmitância espectral medida através de 2 km de atmosfera em caminho horizontal

ao nível do mar é mostrado na Figura 2.1. A molécula responsável por cada banda de

absorção, como vapor de água, dióxido de carbono, ou ozônio, é mostrado na parte

inferior da Figura 2.1 (Hudson, 1969). Percebe-se claramente neste espectro que

existem algumas “janelas”, onde a atmosfera terrestre permite a passagem de grande

parte da radiação infravermelha. De acordo com as janelas atmosféricas existentes, a

região do infravermelho é usualmente dividida conforme mostrado na Tabela 2.1, onde

estão relacionados para cada porção do infravermelho a respectiva faixa de freqüência e

o comprimento de onda.

TABELA 2.1 – Espectro eletromagnético para região do infravermelho.

Freqüência

(THz)

Comprimento de onda

(µm)

Muito Distante (XIR) 0,3 – 20 1000 – 15

Distante (FIR) 20 – 50 15 – 6

Médio (MIR) 50 – 100 6 – 3 Infravermelho

Próximo (NIR) 100 – 400 3 – 0,75

Todo corpo a uma temperatura T>0K emite radiação eletromagnética. O corpo negro é

definido como um corpo capaz de absorver toda a radiação incidente sobre o mesmo. E

como todo bom absorvedor é um bom emissor, o corpo negro é o melhor emissor de

radiação funcionando como padrão de referência.

Durante a realização deste trabalho utilizaremos dois tipos de fonte de infravermelho: o

corpo negro e a fonte glowbar. Torna-se importante então conhecer uma propriedade

térmica do corpo negro, a quantidade de energia emitida em uma determinada

temperatura. De acordo com a lei de Stefan-Boltzmann, a densidade de potência

irradiada por um corpo negro é proporcional à quarta potência de sua temperatura

absoluta, ou seja

4TH σ= (σ = 5,67 x 10-12 Wcm-2K-4), (2.1)

onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann.

31

O comprimento de onda máximo λmax de emissão de um corpo negro a uma determinada

temperatura T segue a lei de deslocamento de Wien dada por

λmax T = 2897,8 µmK. (2.2)

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

900 K

300 K

Hλ (W

cm

-2µm

-1)

Comprimento de onda (µm)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

Hλ (1

0-3 W

cm

-2µm

-1)

FIGURA 2.2 – Espectros de emissão de um corpo negro a 300 e a 900K calculados a

partir da lei de Planck.

A distribuição espectral de um corpo negro só foi completamente compreendida a partir

do formalismo da mecânica quântica. A equação de Planck para a distribuição da

radiação do corpo negro é

=

1

2

5

2

Tkhc

Be

hcHλ

λ

λ

π (2.3)

onde h é a constante de Planck, c a velocidade da luz, e kB a constante de Boltzmann.

A Figura 2.2 mostra a densidade de potência espectral Hλ em função do comprimento

de onda, calculada pela lei de Planck (Equação 2.3) para um corpo negro a 900 e a

300K. Observe que o pico de emissão de um corpo à temperatura ambiente se localiza

32

por volta de 10 µm, enquanto que à temperatura de 900K em 3,2 µm. Estes valores

podem ser facilmente obtidos da lei de Wien na Equação 2.2.

O detector de infravermelho é um dispositivo capaz de converter a radiação

infravermelha incidente em alguma grandeza mensurável (Hudson, 1969). De acordo

com o mecanismo físico envolvido no processo de detecção, temos os detectores

térmicos e os detectores quânticos. Nesse trabalho estudaremos as características dos

detectores quânticos, em especial o detector fotovoltaico, ou também conhecido como

fotodiodo, que transforma a radiação incidente em tensão (ou corrente) elétrica.

FIGURA 2.3 – Diagrama de energia de uma junção p-n.

O fotodiodo consiste em uma junção p-n, onde ocorre a formação de uma zona de

transição entre uma região de material semicondutor cuja condutividade elétrica é

dominada por portadores de carga tipo-n (elétrons) e uma região cuja condutividade é

dominada por portadores de carga tipo-p (buracos), conforme ilustrado na Figura 2.3

Esta zona de transição é conhecida como região de depleção. A largura da região de

depleção w e a simetria dessa região dependem dos processos de fabricação e dos

materiais envolvidos. Se a concentração de portadores, elétrons por exemplo, varia

lentamente ao longo de uma distância w relativamente ampla, entre o valor máximo do

lado n e o mínimo do lado p, a junção é chamada gradual.

33

No outro extremo, quando essa variação é brusca e a região w estreita, tem-se uma

junção abrupta. No caso da concentração de portadores ser muito maior em um dos

lados da junção, a região de depleção localiza-se praticamente no lado de menor

concentração, e assim temos a junção abrupta de um único lado. A região de depleção, é

caracterizada pela existência em seu interior de um forte campo elétrico E. Este campo é

devido à existência de cargas elétricas fixas na rede cristalina, originadas pela depleção

de portadores livres que durante a formação da junção se difundiram para o lado oposto.

No equilíbrio, forma-se uma barreira de potencial, eVB, que impede a difusão

continuada de portadores majoritários de um lado para o outro.

Quando os semicondutores dos dois lados da junção são do mesmo material e a região

de transição de n para p é brusca, tem-se uma homojunção p-n abrupta, cujas

propriedades físicas são mais facilmente estudadas e formam a base de operação de

grande parte dos dispositivos semicondutores.

No grupo de detectores quânticos existe uma interação direta entre os fótons incidentes

e os elétrons do material. Quando a radiação incidente é tal que, a energia do fóton é

igual ou maior que o intervalo de energias proibidas do material (energia do gap,

Eg=Ec-Ev na Figura 2.3), o fóton é absorvido, gerando um par elétron-buraco. Isto

conseqüentemente aumenta a concentração de portadores livres na banda de condução e

valência, respectivamente (Boschetti, 2002).

Os fótons incidentes produzem pares elétron-buraco que são separados pelo campo

elétrico presente na junção, e assim geram uma foto-voltagem. Supondo que um fluxo

Φ de fótons (cm-2s-1) com energia hν > Eg, incida sobre o dispositivo, propiciando as

excitações de pares elétrons-buracos em ambos os lados da junção, os portadores

minoritários foto-estimulados a uma certa distância da junção podem, por difusão,

atingir a zona de depleção sendo acelerados pelo campo elétrico para o outro lado da

junção onde podem se recombinar com as impurezas ionizadas. Desta forma cria-se

uma corrente de portadores minoritários, chamada fotocorrente Iph, dada por

Φ= eAI ph η (2.4)

34

onde η é a eficiência quântica do material e representa a quantidade de portadores

excitados por fóton incidente (o valor de η é sempre menor ou igual à unidade), e é a

carga do elétron e A a área sensível ou área de absorção do dispositivo.

Para ser utilizado na fabricação de detectores fotovoltaicos para a região do

infravermelho, o material precisa ter a largura do gap estreita, ou seja, entre 0,1 e 0,3

eV. Além disto, as propriedades elétricas deste material precisam ser controladas para se

obter o material do tipo-p ou do tipo-n, e se conseguir formar a junção p-n mostrada na

Figura 2.3. Os compostos semicondutores do grupo IV-VI possuem estas características

e por isto são utilizados para a fabricação de dispositivos operantes na região do

infravermelho termal (3 - 14 µm).

2.2 Propriedades dos Compostos Semicondutores do Grupo IV–VI

Nesta Secção apresentaremos as propriedades estruturais e elétricas dos principais

compostos IV-VI, também conhecidos como sais de chumbo. Fazem parte desta família,

entre outros, o telureto de chumbo (PbTe), o telureto de estanho (SnTe), o seleneto de

chumbo (PbSe), e o sulfeto de chumbo (PbS). Estes compostos se cristalizam na

estrutura cúbica do cloreto de sódio (NaCl), também denominada sal de rocha ou sal de

gema. Esta estrutura é uma rede cúbica de face centrada (FCC) com uma base

constituída de um átomo metálico na posição (0 0 0) e um átomo de calcogênio na

posição (1/2 0 0), como mostrado na Figura 2.4.

Ela pode ser visualizada como a sobreposição de duas redes FCC deslocadas de metade

da aresta do cubo e cada uma formada por átomos de uma única espécie. A célula

unitária contém oito átomos, sendo quatro de cada espécie. A natureza da ligação

química nestes compostos é considerada predominantemente iônica, com forte

contribuição das forças eletrostáticas entre os ânions metálicos (Ex: Pb2+) e os cátions

de calcogênio (Ex: Te2-).

35

FIGURA 2.4 – Estrutura cristalina dos sais de chumbo (estrutura do sal de rocha).

A Tabela 2.2 fornece a constante de rede a (aresta do cubo da célula unitária)

juntamente com outras propriedades importantes, para os principais compostos binários

IV-VI, e também para o fluoreto de bário (BaF2) e o silício (Si), principais substratos

utilizados para o crescimento epitaxial dos sais de chumbo.

TABELA 2.2 – Propriedades gerais dos principais compostos IV-VI, BaF2 e Si: energia do gap (Eg) a 300 e a 77K, constante de rede (a), densidade (ρv), coeficiente de expansão térmico linear (β), massa atômica (M) e temperatura de fusão (TF).

Composto Eg

300K

(eV)

Eg77K

(eV)

a

(Å)

ρv

(gcm-3)

β

(10-6 K-1)

M

(g)

TF

(°C)

PbTe 0,319 0,215 6,462 8,16 19,8 334,80 930

PbSe 0,278 0,176 6,124 8,15 19,4 286,16 1080

PbS 0,410 0,307 5,936 7,61 20,3 239,27 1113

SnTe 0,280 0,210 6,327 6,45 21,0 246,31 806

BaF2 > 8 > 8 6,200 4,83 19,8 175,32 1280

Si 1,120 1,166 5,431 2,328 2,6 28,09 1415

Devido à simetria de inversão da estrutura cúbica do sal de rocha em adição aos

elementos de simetria da estrutura do sulfeto de zinco (ZnS), a estrutura de bandas dos

sais de chumbo (PbTe, PbSe e PbS) apresenta propriedades peculiares e diferentes dos

materiais semicondutores mais conhecidos (Dimmock et al., 1964). Os extremos das

36

bandas (gap direto) ocorrem no ponto L da zona de Brillouin com as superfícies de

energia constante dadas por elipsóides alongados na forma de charutos com o eixo

principal na direção <111>. Assim, uma estrutura de muitos vales é formada, sendo um

vale longitudinal (paralelo à direção <111>) e três outros vales equivalentes chamados

de oblíquos. As bandas de valência e de condução destes compostos são muito

simétricas, sendo praticamente a imagem especular uma da outra, o que determina

massas efetivas semelhantes entre elétrons e buracos. A relação de dispersão de energia-

momento nestas bandas apresenta uma não parabolicidade. Este fato aliado às pequenas

energias do gap resulta em massas efetivas pequenas tanto para elétrons como para

buracos. Outra característica peculiar dos compostos IV-VI, ao contrário dos outros

semicondutores, está no aumento da energia do gap com o aumento da temperatura. O

coeficiente de temperatura da energia do gap (∂Eg/∂T) para o PbTe é aproximadamente

+0,45 meV/K.

FIGURA 2.5 – Diagrama de fase temperatura versus composição para o composto

Pb1-yTey (painel esquerdo). Este composto só existe em torno da linha estequiométrica (y = 0,5). O diagrama de fase em torno da região estequiométrica é mostrado em uma escala expandida no painel direito.

O diagrama de fase temperatura versus composição y para o composto Pb1-yTey é

mostrado na Figura 2.5. A região de composição na qual o PbTe pode existir (região de

solubilidade) é muito estreita e está representada por uma linha sólida em y = 0,5 no

painel esquerdo da Figura 2.5. Este diagrama é típico para todos os sais de chumbo. Esta

37

região de solubilidade na vizinhança da composição estequiométrica é mostrada em

uma escala expandida para o PbTe no painel inferior da Figura 2.5.

Os defeitos pontuais causados por pequenos desvios da estequiometria determinam as

propriedades elétricas nestes compostos. De acordo com o modelo de defeitos (Parada,

1971), vacâncias de metal ou de calcogêneo criam níveis ressonantes na banda de

valência ou de condução como conseqüência da forte perturbação causada no cristal.

Uma vacância de Pb cria dois buracos na banda de valência, levando a um material tipo-

p, e uma vacância de Te cria dois elétrons na banda de condução, formando um material

tipo-n. Os átomos intersticiais também podem ser eletricamente ativos, o Pb intersticial

contribui com buracos e o Te intersticial é normalmente neutro (Heinrich, 1980).

O monitoramento do desvio da estequiometria é, portanto, utilizado para controlar o tipo

e a concentração de portadores nestes materiais. Dopagens intrínsecas da ordem de

1017 cm-3 são naturalmente obtidas, sendo muito difícil obter materiais com níveis de

dopagem menores que 1016 cm-3. Como as propriedades elétricas são determinadas por

níveis ressonantes dentro das bandas, não há o congelamento de portadores a baixas

temperaturas nestes materiais. A concentração de portadores varia muito pouco com a

temperatura. Devido a este fato e à alta constante dielétrica, que blinda o espalhamento

por impurezas ionizadas, altas mobilidades (106 cm2/V s) são observadas para o PbTe a

baixas temperaturas (T ~ 10K) . Um controle da dopagem nestes materiais pode também

ser conseguido utilizando dopantes externos. O bismuto na forma do telureto de bismuto

(Bi2Te3) é usado com sucesso na dopagem do tipo-n, e será muito utilizado neste

trabalho. Para dopantes extrínsecos do tipo-p, utiliza-se o tálio (Tl) ou o bário (Ba).

38

39

CAPÍTULO 3

EPITAXIA DE FEIXE MOLECULAR

As camadas epitaxiais e as junções p-n relativas ao desenvolvimento deste trabalho

foram crescidas pela técnica de epitaxia de feixe molecular (MBE – Molecular Beam

Epitaxy) utilizando o sistema MBE para compostos IV-VI instalado no LAS/INPE.

Todas as camadas e estruturas foram crescidas sobre substratos de BaF2 clivados no

plano (111). A vantagem na utilização do BaF2 está na proximidade entre o seu

parâmetro de rede e o coeficiente de dilatação térmica em relação aos dos compostos

IV-VI (veja Tabela 2.2), além destes substratos serem disponíveis no mercado com uma

razoável qualidade cristalina.

3.1 Descrição da Técnica e do Sistema MBE

O crescimento por epitaxia de feixe molecular é uma avançada técnica de evaporação de

filmes finos em ultra alto vácuo (pressões de fundo da ordem de 10-10 Torr), onde os

elementos constituintes são evaporados de células de efusão altamente estáveis e

depositados ordenadamente (epitaxia) em um substrato cristalino aquecido (Springholz,

1993; Herman et al., 1996). Esta técnica permite um controle preciso da espessura (ao

nível de uma monocamada atômica), da composição atômica, e de outras propriedades

específicas das camadas crescidas. Devido à utilização de obturadores que abrem e

fecham rapidamente a saída das células de efusão, multicamadas de diferentes materiais

podem ser facilmente crescidas utilizando a técnica MBE, permitindo assim o

desenvolvimento de novos materiais. O controle da formação do filme é normalmente

realizado in situ através da técnica de difração de elétrons refletidos de alta energia

(RHEED - Reflection High Energy Electron Diffraction), que permite investigar a

estrutura atômica da superfície e a dinâmica de crescimento das camadas.

O diagrama do sistema MBE Riber 32P instalado no LAS/INPE, que é utilizado para o

crescimento das amostras de semicondutores do grupo IV-VI, está mostrado na Figura

40

3.1. O sistema é constituído de três câmaras: (1) câmara para introdução de substratos e

retirada de amostras (load lock) que opera em alto vácuo (cerca de 10-6 Torr) mantido

por uma bomba turbo-molecular; (2) câmara de preparação de amostras destinada para

limpeza do substrato (pre-baking) e para tratamentos térmicos nas amostras crescidas

sob condições de ultra-alto vácuo conservado por uma bomba iônica; (3) câmara

principal destinada ao crescimento e mantida a uma pressão da ordem de 10-10 Torr

através de um eficiente sistema de bombeamento composto por uma bomba iônica e de

sublimação de titânio, e de um circuito interno refrigerado por nitrogênio líquido

funcionando como armadilha para vapores residuais. Um segundo circuito de nitrogênio

líquido envolve as células de efusão proporcionando uma isolação térmica entre elas.

Este sistema MBE possui ainda os seguintes acessórios: espectrômetro de massa para

análise de gás residual até 200 a.m.u.; sistema para difração de elétrons de alta energia

(RHEED, 12 keV) para análise dos crescimentos, equipada com câmara de vídeo para a

digitalização dos padrões de RHEED para posterior análise; oscilador de quartzo para

monitoramento dos fluxos.

FIGURA 3.1 – Diagrama esquemático do sistema de epitaxia de feixe molecular (MBE)

instalado no LAS/INPE para o crescimento de compostos IV-VI: vista de cima mostrando as três câmaras do sistema (à direita), e à esquerda detalhes da câmara principal de crescimento.

Na técnica RHEED, um feixe de elétrons de alta energia (10 – 50 keV) incide em

ângulo rasante (< 3o) sobre a superfície da amostra e é espalhado sobre uma tela

41

fluorescente de fósforo. Devido a bi-dimensionalidade da superfície, os pontos da rede

recíproca se transformam em bastões, e os padrões RHEED na tela podem ser

entendidos como a interseção destes bastões com a superfície da esfera de Ewald

determinada pelo vetor de onda dos elétrons incidentes. A geometria rasante, a alta

sensibilidade à superfície e a compatibilidade ao ultra-alto vácuo fizeram da técnica

RHEED uma ferramenta indispensável e amplamente utilizada para a investigação in

situ dos processos envolvidos no crescimento epitaxial MBE. Através dos padrões

RHEED obtidos, o modo e a qualidade do crescimento e a reconstrução da superfície

podem ser determinados.

Durante este trabalho de mestrado, as células de efusão do sistema MBE contendo PbTe,

Te e Bi2Te3 foram usadas para o crescimento das camadas de referência e as junções p-n

destinadas à fabricação do fotodiodo detector de infravermelho. O fluxo molecular

oriundo de cada célula de efusão é medido separadamente em um monitor de fluxo tipo

Bayer-Alpert e é utilizado como principal parâmetro de crescimento, juntamente com a

temperatura do substrato. Este monitor de fluxo está localizado no complexo

manipulador de amostras, onde também se encontra o sistema para aquecimento do

substrato que permite atingir temperaturas de até 1000oC. O composto Bi2Te3 é

utilizado para a dopagem extrínseca tipo-n, tornando possível obter camadas com altas

concentrações de elétrons (até 1020 cm-3). As camadas tipo-p foram obtidas através do

controle do desvio da estequiometria variando-se o fluxo de Te adicional.

3.2 Programa de Controle e Aquisição de Dados para o Sistema MBE

A principal contribuição realizada durante este trabalho de mestrado para o sistema

MBE do LAS/INPE foi o desenvolvimento e a implementação de um programa de

controle e aquisição de dados operando em ambiente Windows.

O sistema de crescimento MBE Riber 32P foi adquirido pelo LAS/INPE em 1995

juntamente com um programa de controle desenvolvido pelo fabricante Riber em um

sistema operacional chamado NextStep. Depois de todos estes anos de operação, o

sistema operacional NextStep saiu do mercado e o programa de controle do sistema

MBE se tornou obsoleto. Como não possuíamos o código fonte do programa, o

42

microcomputador para controle do MBE não podia ser trocado, e qualquer manutenção

era complicada e dispendiosa.

Além disto, os controladores de temperatura das células de efusão (marca Eurotherm)

também passaram a apresentar muitos problemas devido ao tempo de uso.

Freqüentemente eles paravam de funcionar, proporcionando um alto custo de

manutenção. O grupo de pesquisa do MBE decidiu enfim substituir esses controladores

por modelos mais robustos e modernos. Controladores de temperatura da marca Watlow

(série 96) foram então adquiridos para substituir os antigos Eurotherm EP9000.

Com a substituição dos controladores de temperatura, o programa de controle da Riber

no sistema NextStep teve que ser abandonado. Utilizando a experiência adquirida no

desenvolvimento dos programas de controle para os sistemas de medidas elétricas

(efeito Hall, corrente e capacitância por tensão), descritos no próximo Capítulo,

decidimos implementar um programa de controle e aquisição de dados para o sistema

MBE desenvolvido para ambiente Windows na plataforma Visual Basic 6.0.

O controle do sistema de crescimento MBE é feito através de duas interfaces seriais

(RS232), uma para controle de abertura e fechamento dos obturadores das células de

efusão e outra para a comunicação com os controladores de temperatura das mesmas. O

primeiro passo foi aprender a comunicar com o controlador dos obturadores e

desenvolver um programa preliminar para controlá-los. O próximo passo consistiu em

aprender a operar e comunicar através da interface serial (RS482/RS232) com os

controladores Watlow utilizando o protocolo MODBUS e desenvolver programas testes.

Depois de ter dominado a comunicação com o controlador dos obturadores e com os

controladores de temperatura, passou-se a desenvolver o programa geral de controle e

aquisição de dados para o nosso sistema MBE. Para se chegar a um programa amigável

aos usuários, os diversos pesquisadores/operadores da máquina foram consultados sobre

as suas necessidades.

O formulário do programa implementado em Visual Basic na sua versão atual é

mostrado na Figura 3.2. O programa permite ler e escrever os parâmetros do controlador

de temperatura de todas as células de efusão instaladas, do manipulador de amostra e do

43

forno da câmara de preparação. A cada controlador é associada uma cor para facilitar a

visualização no formulário. Os obturadores das células de efusão podem ser abertos ou

fechados a qualquer momento, clicando nos botões da coluna Sh do quadro Parameters

Table. A temperatura desejada para cada célula pode ser mudada, escrevendo-se o valor

nas caixas da coluna SetPoint e clicando duas vezes. As temperaturas medidas são

dispostas em tempo real na coluna Measure. A porcentagem da potência máxima que

cada controlador está enviando é mostrada em tempo real na coluna %Power.

FIGURA 3.2 – Formulário do programa de controle e aquisição de dados desenvolvido

para o sistema de crescimento epitaxial por feixe molecular.

Os parâmetros da malha de controle podem ser modificados e lidos no quadro

EffusionCell. Para acessar cada controlador basta clicar no nome da célula na coluna

Name do quadro Parameters Table. Os seguintes parâmetros podem ser controlados:

banda proporcional (P), tempo integral (I), taxa derivativa (D), o set point máximo e

mínimo, a máxima potência enviada pelo controlador (Pmax). Além disto, pode-se

colocar ou retirar o controlador do modo de auto-sintonia clicando no botão Auto Tune,

44

e programar rampas e patamares para cada célula. Cada mudança realizada é mostrada

no quadro Register List juntamente com o horário exato em que a mudança foi

realizada. No quadro Chart, todas as temperaturas são mostradas no gráfico em função

do tempo, a partir do momento que se inicia o programa. Os valores de temperatura e

tempo das últimas duas horas podem ser armazenados. As curvas podem ser dispostas

com pontos ou linhas, com grade ou sem grade e ampliações no gráfico podem ser

obtidas a qualquer momento. Um programa para crescimento de multicamadas, onde o

tempo e o número de aberturas dos obturadores das células desejadas podem ser

estipulados, também foi desenvolvido. Este programa permite o crescimento de

estruturas mais complexas, que não são objetos de estudo neste trabalho, mas de outros

pesquisadores do grupo.

O desenvolvimento do código fonte em Visual Basic do programa de controle e

aquisição de dados proporciona uma grande autonomia na operação do sistema MBE.

Como se trata de um desenvolvimento próprio, a instalação de novos equipamentos no

MBE fica agora possível de ser realizada, além de permitir atualizações e adaptações no

programa.

45

CAPÍTULO 4

TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DAS CAMADAS

Antes do crescimento das junções p-n para a confecção do dispositivo final é necessário

caracterizar as camadas de referência crescidas no MBE. Neste Capítulo são descritas as

técnicas de medidas de espessura, resistividade e efeito Hall.

4.1 Medidas de Espessura

A espectroscopia de transformada de Fourier no infravermelho é tradicionalmente usada

para a caracterização óptica em compostos IV-VI que possuem a energia do gap

estreita. Os espectros de transmissão e/ou reflexão são normalmente utilizados para a

determinação da espessura e da energia do gap em camadas epitaxiais simples destes

materiais. O valor da espessura das camadas é um parâmetro importante utilizado

durante o cálculo das medidas de resistividade e efeito Hall. Como a amostra tem que

ser processada após a determinação da sua espessura, a técnica de espectroscopia de

Fourier se mostrou vantajosa por ser uma técnica de medida não destrutível.

O espectrofotômetro de transformada de Fourier no infravermelho (Perkin-Elmer -

FTIR 1600) mede em uma faixa espectral entre 4500 e 450 cm-1 e possui o acessório de

refletância especular de ângulo variável. Para todas as medidas de refletância foi

escolhido o ângulo θ = 45º. A Figura 4.1 mostra, como exemplo, o gráfico da refletância

em função do número de onda, medido neste equipamento, para uma camada de PbTe

crescida por MBE sobre BaF2. Observa-se nitidamente no espectro quatro franjas de

interferências bem definidas, mostrando a qualidade óptica das camadas crescidas.

A espessura t do filme é determinada através da separação em número de onda (∆k)

entre m mínimos (ou máximos) das franjas de interferência observadas no espectro de

reflexão, conhecendo-se o índice de refração do material (nr) no comprimento de onda

utilizado na medida.

46

A relação abaixo é então utilizada para determinar a espessura t

θ222 sennk

mtr −∆

= (4.1)

No espectro de reflexão da Figura 4.1, o primeiro mínimo se encontra em 2661cm-1 e o

último mínimo em 636 cm-1, dando um valor ∆k = 2025 cm-1 e m = 4. Como o índice de

refração do PbTe nesta faixa de freqüência é nr = 5,73 e o ângulo de incidência utilizado

foi θ = 45º, obtém-se através da Equação 4.1 uma espessura t de 1,74 µm para esta

camada de PbTe. A espessura de todas as camadas de PbTe crescidas foi determinada

utilizando este procedimento.

4000 3000 2000 10000

20

40

60

80

Ref

lexã

o (%

)

Número de onda (cm-1) FIGURA 4.1 – Espectro de reflexão de um filme de PbTe crescido sobre BaF2 obtido

por medidas no FTIR. A espessura do filme é obtida através da separação entre os extremos das franjas de interferência observadas no espectro, conhecendo-se o índice de refração do material.

Outra técnica utilizada durante deste trabalho para a determinação de espessuras foi a

perfilometria. O perfilômetro é um equipamento de medida que gera um perfil da

superfície da amostra. Uma ponta (stylus) toca a superfície da amostra e corre através de

uma largura pré-definida. Esta ponta está presa a um braço que é conectado a um cristal

piezelétrico. A variação de altura na ponta é medida pela variação do sinal elétrico no

cristal. O equipamento utilizado para esta medida foi o perfilômetro Alpha-Step 500 da

47

Tencor instalado no LAS/INPE. Esta técnica de medida de espessura foi utilizada no

trabalho para verificar a altura final do contato de Au evaporado por feixe de elétrons e

a altura da estrutura mesa formada durante o ataque químico durante o processo de

fabricação do dispositivo que será descrito na Secção 6.2.

4.2 Efeito Hall e Resistividade

As medidas de resistividade e efeito Hall são utilizadas para determinar as propriedades

elétricas dos materiais semicondutores. Através desta medida podemos determinar o

tipo (elétrons ou buracos), a concentração (densidade volumétrica) e a mobilidade dos

portadores de carga majoritários em um semicondutor.

4.2.1 Descrição do Efeito Hall

A força de Lorentz é o principio básico que está por trás do efeito Hall (Kittel, 1976;

Ashcroft et al., 1976). Quando uma partícula carregada se move com uma velocidade v

na presença de um campo magnético externo B, ela sofre uma força

F = e (v × B), (4.2)

onde as letras em negrito representam grandezas vetoriais e e é a carga do elétron.

FIGURA 4.2 – Esquema de uma amostra utilizada para medir o efeito Hall.

Na condição particular em que a corrente flui ao longo do eixo x e o campo magnético é

aplicado na direção z, como mostrado na Figura 4.2, a força resultante será na direção y,

zxy BevFF == (4.3)

Jx

Ey

v

Bz

x

y z

48

Esta força desvia a trajetória dos portadores de carga na direção dada pela regra da mão

direita, como indicado na linha tracejada da Figura 4.2. O fluxo de carga na direção y

(transversal à direção da corrente elétrica e ao campo magnético aplicados) leva a uma

acumulação de carga na face lateral da barra, gerando um campo elétrico Ey. Este

campo, chamado de campo Hall, se contrapõe à força de Lorentz até que se estabeleça o

equilíbrio e a corrente elétrica continue a fluir somente na direção x (vy = 0). Nesta

condição temos

yzx eEBev = (4.4)

ou seja,

zxy BvE = (4.5)

A densidade de corrente na direção x é dada por

nevJ xx −= , (4.6)

onde n é a concentração de portadores de carga por unidade de volume. O coeficiente

Hall (RH) é definido como o valor do campo Hall (Ey) dividido pela densidade de

corrente na direção x (Jx) e a intensidade do campo magnético aplicado (Bz), ou seja,

zx

yH BJ

ER = (4.7)

Utilizando os valores de Jx e Ey dados pelas equações 4.5 e 4.6, obtemos

neRH

1−= (4.8)

Portanto, a concentração de portadores n do material investigado pode ser determinada a

partir dos valores medidos das grandezas envolvidas no experimento Hall (Jx, Bz, Ey). É

importante observar que o sinal do coeficiente Hall traz informação sobre o tipo de

portador majoritário. Desta maneira, a medida Hall nos fornece o tipo (elétrons ou

49

buracos) e a concentração de portadores majoritários do material investigado. A

mobilidade µ dos portadores pode também ser obtida através da seguinte relação

ρµ HR

= , (4.9)

conhecendo-se ou medindo-se a resistividade da amostra

x

x

JE

=ρ (4.10)

A realização da medida de efeito Hall utilizando a configuração da barra Hall, mostrada

na Figura 4.2, é limitada pela precisão na determinação das dimensões da barra (largura,

comprimento, e espessura) e pela dificuldade em fazer os contatos elétricos neste tipo de

geometria. Para realizar esta medida em filmes finos, normalmente, a geometria Hall é

delineada por técnicas de litografia e ataque químico, de forma a propiciar um controle

preciso das dimensões e facilitar a confecção de contatos ôhmicos (ASTM, F76-84). No

entanto, o método de van der Pauw, que foi desenvolvido para amostras laminares de

forma arbitrária, é mais simples e, por isso, comumente utilizado para medidas de

resistividade e efeito Hall em filmes finos.

4.2.2 Método van der Pauw

L.J. van der Pauw propôs um movo método para medida da resistividade e do

coeficiente Hall para amostras laminares com formato arbitrário (van der Pauw, 1958).

Na configuração de van der Pauw, quatro contatos pequenos e ôhmicos são feitos nas

extremidades de uma amostra, conforme desenho da Figura 4.3. Esta amostra pode ter

uma forma arbitrária, mas precisa ter uma espessura t homogênea, ser laminar (t << L,

onde L é qualquer distância entre os contatos), e ter uma superfície simplesmente

conexa, ou seja, não apresentar buracos.

50

FIGURA 4.3 – Desenho da configuração de van der Pauw.

Para a determinação da resistividade, aplica-se corrente elétrica em contatos adjacentes,

mede-se a tensão gerada nos outros dois contatos, e calculam-se as resistências da

seguinte forma:

12

432

→=IV

R , 23

144

→=IV

R , 4

2

RR

Q = (4.11)

A resistividade é então obtida pela fórmula

( )

+

=

22ln42 RRtQf πρ (4.12)

onde t é a espessura da amostra em cm e f(Q) é uma função adimensional (função de

van der Pauw), que depende da geometria da amostra e da disposição dos contatos sobre

a mesma, dada pela razão das resistências Q pela seguinte relação:

=

+−

fehf

QQ

2ln

5,0arccos2ln1

1 (4.13)

Para a medida do coeficiente Hall, aplica-se corrente em contatos opostos e mede-se a

tensão nos outros contatos com e sem (ou invertendo) o campo magnético. Com o

campo (+B),

1

2 4

3

1

2 4

3

51

24

311

→+ =IVR (4.14)

e invertendo o campo (-B),

24

311

→− =IVR (4.15)

O coeficiente Hall é então dado por:

=

−+

210R 11

8

HRR

Bt (4.16)

onde t é a espessura da amostra em cm, B é a intensidade do campo magnético em

Gauss. A mobilidade Hall é então calculada pela Equação 4.9. Normalmente é feita,

tanto para a resistividade quanto para o coeficiente Hall, uma média entre as medidas

nos diversos contatos com a corrente fluindo nos dois sentidos.

Neste trabalho, as medidas das propriedades elétricas das camadas de PbTe foram

realizadas no sistema de resistividade e efeito Hall automático e dependente com a

temperatura instalado no LAS/INPE, conforme descreve a próxima Secção.

4.2.3 Sistema para Medidas de Resistividade e Efeito Hall

Um diagrama do sistema automatizado para medidas de resistividade e efeito Hall que

se encontra atualmente instalado no LAS/INPE é mostrado na Figura 4.4. As medidas

propriamente ditas são feitas através do sistema Hall Keithley 80A. Este sistema

consiste dos equipamentos com interface paralela IEEE-488 que se encontram dentro do

quadrado pontilhado da Figura 4.4.

Uma fonte de corrente programável Keithley modelo 228A é utilizada para fornecer

corrente durante as medidas. A carta de efeito Hall modelo 7065 é alojada dentro do

sistema de chaveamento modelo 7001 e é utilizada para chavear a corrente da fonte para

a amostra e para entregar os sinais de teste da amostra Hall para a instrumentação de

medida. Esta carta contém amplificadores DC sensíveis e todo o chaveamento

52

necessário para se fazer medidas em materiais de alta ou baixa resistividade. As leituras

de tensão são feitas pelo multímetro digital Keithley (DMM 199/1992) e o

picoamperímetro modelo 485 mede a corrente que realmente flui através da amostra.

FIGURA 4.4 – Diagrama do sistema de medidas de resistividade e efeito Hall.

Durante este trabalho, utilizando os recursos de um auxílio FAPESP (Proc. No

00/12529-6), foi implementada uma melhoria neste sistema de medidas Hall. Um novo

criostato de circuito fechado de He (Displex CSA-202, Advanced Research System) foi

comprado para substituir o antigo que já apresentava vários problemas. O novo criostato

é equipado com controlador de temperatura PID com sintonia automática e interface

IEEE-488 (Lakeshore 303 Autotune) que permite realizar medidas entre 10 e 450K. O

criostato possui ainda uma jaqueta de vácuo própria para uso em eletroímã (35mm) que

possibilitou um aumento do campo magnético de 5300 para aproximadamente 7200

Gauss. Uma fonte de potência Walker Scientific (modelo HS-525-4SS, 25A-50V DC)

que fornece corrente para o eletroímã Walker Scientific HV4W foi também adquirida e

instalada. Esta fonte se apresenta equipada com interface IEEE-488, inversão semi-

automática de corrente, saída analógica de 0-10V e controle universal de campo

Controlador de temperatura

Lakeshore 303

Multímetro Digital DMM

199

Picoamperímetro 485

Fonte programável de corrente 228A

Fonte Eletroímã ± B (HS525)

Carta de Efeito Hall 7065

Sistema de chaveamento 7001

PC

IEEE 488

Bomba de vácuo

B B

53

constituído de Gaussmeter, ponta de prova e interface com a fonte de potência. Uma

placa IEEE-488 da Keithley para slot PCI e um novo computador de controle do sistema

Hall também foram instalados.

A Figura 4.5 mostra uma fotografia do sistema de medidas de resistividade e efeito Hall

do LAS/INPE depois de instalados os novos equipamentos. Nesta configuração todos os

equipamentos passaram a possuir interface IEEE-488, facilitando muito a comunicação

com o microcomputador. O programa de controle das medidas Hall foi modificado e

atualizado para a linguagem Visual Basic 6.0. Este programa se apresentou bem

amigável ao usuário, facilitando as medidas de rotina, além das medidas mais

complexas que visam à determinação das propriedades elétricas (resistividade,

concentração de portadores e mobilidade Hall) em função da temperatura.

FIGURA 4.5 – Fotografia do sistema para medidas de resistividade e efeito Hall

instalado no LAS/INPE.

No formulário inicial do programa é necessário inserir o valor da espessura da amostra,

além de escolher se a medida vai ser realizada em temperatura fixa ou dependente da

temperatura. No formulário principal, onde é iniciada a medida e visualizam-se os

resultados, é necessário inserir a corrente de medida desejada, e, caso a medida for

dependente da temperatura, os dados são visualizados em tempo real em gráficos

específicos. O programa possui um formulário para medida da resistividade entre os

54

contatos para observar se existe resistência de contato em algum deles, ou seja, se a

solda de cada contato está bem feita. Outro formulário mede a curva corrente por tensão

entre dois contatos para também observar se o contato está ou não retificando. Caso

necessário, a intensidade do campo magnético do eletroímã também pode ser ajustada.

A amostra pode ser montada na geometria van der Pauw (4 contatos) ou na geometria

Hall (6 ou 8 contatos) no criostato de circuito fechado de He para se fazer medida

dependente com a temperatura (10 a 450K). Para medidas mais rápidas em um

reservatório de nitrogênio líquido que permite medir à temperatura ambiente e a 77K, a

amostra pode ser montada na geometria van der Pauw em um porta-amostra

especialmente confeccionado em placa de circuito impresso.

55

CAPÍTULO 5

TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DO DISPOSITIVO

Os diodos fabricados a partir das junções p-n de PbTe crescidas por MBE serão

caracterizados eletricamente por medidas de corrente por tensão e capacitância por

tensão. A seguir são descritos os sistemas implementados durante este trabalho para

estas medidas, juntamente com os sistemas para medidas das figuras de mérito do

detector, isto é, detectividade e resposta espectral.

5.1 Medidas de Corrente por Tensão e Capacitância por Tensão

Como o principal objetivo deste trabalho de mestrado é relacionar as características

elétricas da junção p-n com o desempenho do diodo fotodetector fabricado, um sistema

para medidas das curvas corrente por tensão (IxV) e capacitância por tensão (CxV) foi

montado e implementado.

FIGURA 5.1 – Gabinete com os sistemas de caracterização elétrica corrente por tensão

(IxV) e capacitância por tensão (CxV) e o microcomputador de controle das medidas com interface IEEE-488.

56

Os equipamentos, já existentes no LAS/INPE, foram montados em um gabinete e

conectados a um computador para controle das medidas através da interface IEEE-488.

A Figura 5.1 mostra uma fotografia do sistema implementado para medidas de curvas

IxV e CxV.

O sistema de medida da curva IxV é constituído de uma fonte de potência Keithley

228A, um multímetro Keithley DMM 199, utilizado como voltímetro, um multímetro

Keithley 2010, utilizado como amperímetro, conectados via cabo IEEE-488 à placa

IEEE-488 instalada no microcomputador de controle.

FIGURA 5.2 – Diagrama de blocos e circuito equivalente de medidas para o sistema IxV. Nesta configuração, a queda de tensão é medida em cima do dispositivo em teste.

A Figura 5.2 mostra o diagrama de blocos do sistema IxV e o respectivo circuito

equivalente de medida. Um cabo especial foi confeccionado de forma a medir a queda

de tensão no dispositivo em teste e a corrente que flui pelo circuito. Este método de

medida é conhecido com quatro pontos. O voltímetro mede a queda de tensão o mais

próximo possível do dispositivo, sendo quase sempre diferente da tensão gerada pela

Fonte de Potência

Keithley 228A

Voltímetro

Keithley 199

Amperímetro

Keithley 2010

Criostato Amostra

PC

IEEE-488

A

V+

-

DUT

57

fonte de potência, e o amperímetro mede a corrente que realmente flui pelo circuito. A

amostra pode ser montada no criostato de circuito fechado de He ou nos criostatos de

nitrogênio líquido existentes no laboratório. O cabo termina em um conector Detoronics

de 10 pinos que foi padronizado para todos os portas-amostra e criostatos do

laboratório.

O diagrama do sistema CxV, junto com uma das possibilidades de circuito de medida do

capacímetro, é mostrado na Figura 5.3. O capacímetro Hewllet-Packard HP4280A tem

uma fonte de polarização interna que pode ser variada durante a medida CxV. A

capacitância e a condutância são medidas através do sinal alternado de 10 ou 30 mV em

uma freqüência de 1MHz. O equipamento mede no máximo uma capacitância de 2nF.

Os cabos coaxiais que ligam à amostra também terminam em um conector Detoronics

de acordo com a padronização.

FIGURA 5.3 – Diagrama e circuito de medida do sistema CxV. A tensão é aplicada pela fonte interna do capacímetro e a capacitância e a condutância são obtidas utilizando o sinal alternado de 1MHz.

Os programas de controle e aquisição de dados das medidas de caracterização elétrica

foram desenvolvidos em plataforma Visual Basic 6.0, procurando fazê-los amigável ao

usuário.

O formulário do programa IxV (corrente por tensão) implementado em Visual Basic na

sua versão atual é mostrado na Figura 5.4. O programa permite inserir no quadro File

A ~

DUT

Capacímetro

HP 4280A (1MHz)

Criostato Amostra

PC

IEEE-488

58

Data os parâmetros iniciais de identificação da medida: o nome do arquivo, a

temperatura e a data da medida. No quadro Measurement Data os parâmetros de tensão

inicial, tensão final, passo da tensão (todos em Volts), tempo de espera em segundos

para iniciar a medida, corrente máxima admitida em ampères, número de médias e

tempo de espera em segundos para cada ponto devem ser preenchidos antes de iniciar a

medida. Pelo quadro Axis Display, o gráfico pode ser visualizado em IxV (corrente por

tensão) ou em VxI (tensão por corrente).

FIGURA 5.4 – Formulário de medida de corrente por tensão (IxV) do programa de

controle desenvolvido em Visual Basic.

Quando o botão de iniciar a medida (Measure) é pressionado, os pontos são mostrados

no gráfico em tempo real, e os valores de corrente e tensão de cada ponto são mostrados

no quadro Data Display. A curva pode ser disposta em linhas, pontos ou pontos e

linhas, e a escala dos eixos do gráfico também podem ser configuradas em linear,

logaritmo no eixo X, logaritmo no eixo Y ou logaritmo nos eixos XY a qualquer

momento da medida. Os botões Pause, Save e Exit são usados respectivamente para

59

interromper a medida, salvar os dados em arquivos ascii e finalizar o programa,

respectivamente.

O formulário do programa capacitância por tensão (CxV) na sua versão atual foi

também implementado em Visual Basic e é mostrado na Figura 5.5. O programa

permite inserir no quadro File Data os parâmetros iniciais de identificação da medida.

Antes de disparar a medida, os parâmetros de tensão inicial, tensão final, passo (todos

em Volts), tempo de espera para iniciar a medida (Hold Time) e tempo de espera para

medida em cada ponto (Step Delay) devem ser preenchidos no quadro Voltage

Parameters

FIGURA 5.5 – Formulário de medida de capacitância por tensão (CxV) do programa de

controle desenvolvido em Visual Basic.

Pode-se configurar o capacímetro para mostrar a capacitância (C), a condutância (G) ou

as duas (C-G) no quadro Function. No quadro Stair Case configura-se a medida para ser

realizada da tensão inicial até a final (Single) ou da tensão inicial até a final retornando

para a tensão inicial no passo desejado (Double). Pelo quadro Axis Display, o gráfico

60

pode ser visualizado em CxV (capacitância por tensão) ou em 1/C2xV (inverso da

capacitância ao quadrado por tensão). O modo de conexão é configurado no quadro

Connection Mode. No quadro Measure Speed a velocidade da medida é configurada, e o

nível do sinal alternado é configurado no quadro Signal Level. O tamanho do cabo

usado na medida é inserido no quadro Cable lenght. A correção do cabo pode ser

ativada ou desativada inicialmente pelo quadro Correction ou, em tempo real, pelos

botões presentes no formulário. O botão Zero Open é utilizado para zerar o capacímetro.

A parte gráfica e o armazenamento dos dados são equivalentes aos descritos para o

formulário IxV.

Com o objetivo de testar e aferir o sistema IxV implementado, a curva característica de

um diodo comercial de silício 1N4148 foi medida e comparada com as curvas

características encontradas no catálogo do fabricante. A Figura 5.6 mostra a curva IxV

medida em nosso sistema para tensões aplicadas entre -0,6 e +0,6 V.

-0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

Diodo 1N4148T = 22 oC

Cor

rent

e (m

A)

Tensão (V) FIGURA 5.6 – Curva característica corrente por tensão de um diodo comercial 1N4148

medida no sistema IxV implementado.

Para se poder comparar a curva medida com a do fabricante, mediu-se cuidadosamente

a curva IxV do diodo para tensões diretas entre +0,25 e +0,55 V. O painel esquerdo da

Figura 5.7 mostra o gráfico da tensão pelo logaritmo da corrente para o diodo 1N4148

medido no nosso sistema, e o painel direito mostra, para comparação, o mesmo gráfico

61

retirado do folheto do fabricante. Um desvio máximo de 5% é observado entre os dois

gráficos.

1 10 100250

300

350

400

450

500

550

1N4148T = 22oC

Tens

ão D

ireta

(mV

)

Corrente Direta (µA) FIGURA 5.7 – Curva de tensão por corrente para o diodo 1N4148 polarizado

diretamente medida no sistema IxV (painel esquerdo) e, no painel direito, para comparação, o gráfico retirado do folheto do fabricante. Um desvio máximo de 5% foi observado entre os dois gráficos.

Para testar o sistema CxV montado, medimos a curva característica de um diodo

retificador SKN1204. Este diodo é para altas tensões e tem uma capacitância

relativamente alta (~ 0,2 nF), mais próxima dos valores que serão medidos para os

diodos de PbTe.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

0,14

0,16

0,18

0,20

0,22

0,24

SKN1204

Cap

acitâ

ncia

(nF)

Tensão Reversa (V) FIGURA 5.8 – Curva característica CxV para o diodo SKN1204 medida no sistema

montado.

62

A Figura 5.8 mostra uma curva de capacitância por tensão deste diodo para tensões

reversas entre 0 e 1V, medida no sistema montado. A curva apresenta o comportamento

esperado, ou seja, a diminuição da capacitância com o aumento da tensão reversa.

5.2 Medidas das Figuras de Mérito

O desempenho de um detector de radiação pode ser avaliado e comparado com sistemas

similares através de suas figuras de mérito. A denominação figura de mérito diz respeito

a um conjunto de parâmetros que devem ser medidos sob condições específicas

previamente convencionadas na literatura da área. (Boschetti et al., 1993; Kruse et al.,

1963; Hudson, 1969).

Estas figuras envolvem a medida dos níveis de sinal e de ruído produzidos pelo sensor,

sob determinadas condições de operação, permitindo a comparação, qualitativa e

quantitativa, entre dispositivos semelhantes. As principais figuras de mérito para

caracterização de um detector infravermelho são a detectividade e a resposta espectral.

FIGURA 5.9 – Diagrama da montagem para medida de detectividade de um sensor infravermelho.

O sistema de medida de detectividade é composto por corpo negro calibrado de

temperatura variável (Infrared Industries IR-461), um amplificador sincronizado

Lock-In (EG&G PARC 124 com pré amplificador diferencial 116) e um modulador

mecânico (Chopper EG&G PARC 192) conforme diagramado na Figura 5.9.

Corpo negro Detector

Amplificador sincronizado (Lock-In)

Referência Sinal

Modulador mecânico

d

63

Medindo-se a tensão de sinal VS produzida pela densidade de potência H indidente no

detector e a tensão de ruído, VN, bloqueando-se a radiação incidente, pode-se calcular a

detectividade D*.

A densidade de potência produzida pelo corpo negro e incidente no sensor é dada pela

Equação 5.1, onde Fm é o fator de transferência do modulador mecânico, ilustrado na

Figura 5.9, As a abertura da cavidade do corpo negro na temperatura TBB e afastado de

uma distância d em cm do sensor e σ é a constante de Stefan-Boltzman.

24

dATFH s

BBm πσ= (5.1)

Para o nosso modulador, o fator Fm relativo ao valor rms do sinal modulado é 0,38.

Uma maneira conveniente de determinar a capacidade de detecção de um detector é

introduzindo o conceito de potência equivalente de ruído (NEP - noise equivalent

power), que determina o fluxo de radiação necessária para gerar um sinal igual ao ruído

no detector, ou seja, o NEP mede a potência de radiação mínima detectável.

Como é difícil medir o sinal quando a razão sinal-ruído é unitária, é costume realizar a

medida em um nível alto de sinal e calcular o NEP de acordo com

( ) S

N

NS VHAV

VVHANEP ==/

(5.2)

onde NEP é calculado em Watts, VS é o valor rms da voltagem do sinal medido no

amplificador sincronizado, e VN é o valor rms da voltagem de ruído do detector.

Entretanto, quando os detectores são comparados em termos de sua habilidade de

detecção, isto é, em termos do mínimo fluxo de radiação detectável, o melhor detector é

aquele que possui o menor NEP. Para que o desempenho do detector seja proporcional à

grandeza medida, foi sugerido que o inverso do NEP fosse usado ao invés do próprio

NEP. Definiu-se assim portanto a detectividade D, dado por:

64

NEPD 1

= (5.3)

onde D é dado em W-1.

Estudos posteriores verificaram que a detectividade variava inversamente com a raiz

quadrada da área do detector e também inversamente com a raiz quadrada da largura da

banda do amplificador, ∆f. Por isso a Equação 5.3 que define detectividade D foi

normalizada:

NEPfA

fADD∆

=∆=* (5.4)

Substituindo a Equação 5.2 em 5.4, temos a Equação 5.5 que representa a detectividade

D*

N

S

VV

Af

HD ∆

=1* (5.5)

onde D* é dada em cmHz1/2W-1, Ad é área do detector medida em cm2 , e ∆f em Hz.

A resposta espectral do detector é a maneira com que a detectividade D* varia com o

comprimento de onda. No caso da densidade de potência incidente sobre o detector (H)

ser discreta, medida em função do comprimento de onda λ, a detectividade passa a

representar a detectividade espectral – Dλ* .

Para medida da resposta espectral relativa o arranjo experimental¸ mostrado na Figura

5.10, é um pouco diferente do arranjo da medida de detectividade. Entre o modulador e

o sensor, são intercalados um monocromador (Oriel) e uma lente para focar a radiação

no detector. Devido ao maior número de componentes e ao aumento do caminho óptico,

a radiação incidente sobre o detector fica bastante atenuada, sendo necessária a

substituição do corpo negro por uma fonte tipo Glowbar (Oriel 6363), mais intensa.

Em essência, a resposta espectral provoca um fluxo radiante em uma estreita banda do

espectro, centrado em um comprimento de onda desejado, e compara a resposta do

65

detector em teste com a do detector de referência, que supõe responder igualmente para

todos comprimentos de onda.

FIGURA 5.10 – Diagrama da montagem para medidas de resposta espectral relativa para um sensor infravermelho.

O monocromador opera com redes de difração adequadas às diferentes faixas de

comprimento de onda. A faixa de comprimento de onda utilizada para o PbTe fica entre

3,5 e 8,2 µm, utilizando uma grade de 150 linhas/mm, e também um filtro passa baixo

de 3,5 µm para o corte dos harmônicos.

Esta medida requer que em primeiro lugar seja levantada a curva de resposta espectral

do sistema fonte-modulador-monocromador-lente, utilizando-se o radiômetro

piroelétrico (Laser Precision RS-5700) calibrado cujo sinal de saída é independente do

comprimento de onda. Em seguida deve-se repetir o mesmo procedimento com o

dispositivo em teste, sendo a resposta relativa dada pela razão entre as duas medidas. O

comprimento de onda onde ocorre o máximo é chamado de comprimento de onda de

pico, sendo onde a detectividade D* atinge o valor máximo.

Durante este trabalho, o programa de controle e aquisição de dados do sistema de

resposta espectral foi também atualizado para a plataforma Visual Basic 6.0. O

programa controla o movimento do motor de passo (step motor) do monocromador por

uma placa serial e armazena os dados do sinal enviados pelo multímetro (Keithley

Fonte Glowbar

Voltímetro Digital

Detector Piroelétrico ou Detector fotovoltaico

Monocromador

Lente Modulador

Referência

PC

66

DMM 199) através da placa IEEE-488. É necessário inserir o comprimento de onda

inicial e final, e o passo (todos em µm) no formulário principal, antes de iniciar a

medida. Os dados de intensidade e comprimento de onda, tanto para o detetector

piroelérico como para o detector em teste, são mostrados em tempo real no gráfico.

Após o término da medida, os dados são salvos em formato ascii para posterior

tratamento. As figuras de mérito dos dispositivos fabricados serão apresentadas no

Capítulo 6.

67

CAPÍTULO 6

CRESCIMENTO DAS CAMADAS EPITAXIAIS, JUNÇÕES P-N E

FABRICAÇÃO DO DISPOSITIVO

Os parâmetros utilizados para o crescimento MBE das camadas de referência e das

junções p-n, os resultados das caracterizações das camadas e o processo de fabricação

do dispositivo através de técnicas de litografia são relatados neste Capítulo.

6.1 Camadas Epitaxiais de Referência e Junções p-n

Um dos objetivos deste trabalho de mestrado é crescer uma série de junções p-n de

PbTe, nas quais a concentração de buracos na camada de PbTe tipo-p é mantida na

ordem de 1017 cm-3, e a concentração de elétrons na camada tipo–n varie entre 1017 e

1019 cm-3.

Para a formação da junção p-n de PbTe durante o crescimento epitaxial, necessita-se

primeiro crescer uma camada de PbTe do tipo-p, e em seguida, uma camada de PbTe do

tipo-n. Portanto, os parâmetros de crescimento para a obtenção dos dois tipos de

camadas têm que ser previamente determinados. Isto foi feito através do crescimento de

camadas de referência para obter os parâmetros ótimos de crescimento no sistema MBE

de cada tipo de camada separadamente.

As camadas referências de PbTe foram caracterizadas eletricamente através do sistema

de medidas de resistividade e efeito Hall, onde se determinou a resistividade, a

concentração e a mobilidade dos portadores de carga na temperatura ambiente e na

temperatura de operação do dispositivo, ou seja, em nitrogênio líquido. Para as medidas

elétricas, um quadrado de aproximadamente 5x5mm2 foi cortado de cada amostra

referência e 4 fios de ouro (diâmetro de 50 µm) foram soldados com índio nas

extremidades, emuma chapa aquecida a 160oC, formando a geometria van der Pauw,

como mostrado no diagrama esquerdo da Figura 4.3.

68

Como descrito na Secção 2.2, o caráter n ou p das camadas de PbTe pode ser controlado

pelo desvio da estequiometria. Vacâncias de Pb (excesso de Te) levam a um material do

tipo-p, enquanto vacâncias de Te (excesso de Pb) formam um material do tipo-n. A

carga sólida de Pb1-yTey para o crescimento no nosso sistema MBE é preparada

propositadamente com um pequeno excesso de Pb (y = 0,495). Desta forma, crescendo-

se PbTe nas temperaturas usuais de crescimento (T~300oC) e sem fluxo adicional de Te,

as camadas de PbTe ficam tipo-n com uma concentração de elétrons na faixa de 1017

cm-3. Para se obter uma camada de PbTe do tipo-p basta aumentar o fluxo adicional de

Te até que aconteça a transição de caráter n para p. O fluxo de Te no qual acontece esta

transição depende basicamente do desvio da estequiometria da carga sólida e da

temperatura do substrato.

10-9 10-81016

1017

1018

n p

Con

cent

raçã

o de

por

tado

res

(cm

-3)

Fluxo de Te(Torr) FIGURA 6.1 – Concentração de portadores a 77K versus fluxo de Te para camadas de

PbTe crescidas a 300oC. A inversão do caráter n para p ocorre por volta de 8x10-9 Torr.

Com o objetivo de determinar as condições de crescimento para se obter uma boa

camada de PbTe tipo-p com concentração de buracos próxima a 1x1017 cm-3, uma série

de camadas de referência foi crescida, aumentando-se principalmente o fluxo de Te

através do aumento da temperatura da respectiva célula. Para este experimento, a

temperatura da célula de PbTe ficou fixa em 640oC, que dá um fluxo de 4x10-7 Torr

levando a uma taxa de crescimento de 0,9 µm/h.

69

A Tabela 6.1 mostra o tipo e a concentração de portadores (n/p), a resistividade (ρ), e a

mobilidade (µ) destas camadas de espessura t, medidas à temperatura ambiente e em

nitrogênio líquido, em função dos parâmetros de crescimento no sistema MBE. A Figura

6.1 mostra a concentração de portadores medida à 77K, para camadas de PbTe crescidas

a uma temperatura de substrato de 300ºC, em função do fluxo da célula de Te. Podemos

observar que a transição do caráter n para p ocorre para um fluxo de Te por volta de

8x10-9 Torr. Depois de encontrada esta região de transição, procurou-se a temperatura

de substrato em torno de 300oC onde a concentração de buracos fosse semelhante a 77 e

300K. Nesta condição, as camadas tipo-p de PbTe apresentam uma maior mobilidade, e

portanto, uma melhor qualidade. A temperatura do substrato escolhida foi de 290oC.

Observando os dados das amostras M997 e M4004 na Tabela 6.1, observamos que para

uma temperatura de substrato fixa em 290oC, fluxos de Te diferentes (5,8x10-9 e

9,6x10-9 Torr, respectivamente) foram necessários para obter a camada tipo-p desejada.

Este fato pode ser explicado por uma variação na estequiometria da carga sólida com o

tempo de uso. Logo, torna-se sempre necessário checar com camadas de referência as

propriedades elétricas do PbTe, principalmente próximo à região de transição n para p.

A Tabela 6.1 mostra também os parâmetros de crescimento necessários para se obter

uma boa camada do tipo-n com concentrações de elétrons em torno de 1017 cm-3, usando

apenas o controle da estequiometria. Porém, para se obter camadas com concentração de

elétrons maiores, torna-se necessário utilizar um dopante extrínseco. O dopante tipo-n

normalmente usado para o PbTe é o bismuto, obtido no MBE através da evaporação de

uma carga sólida de Bi2Te3. Um estudo detalhado da dopagem de camadas de PbTe com

bismuto foi feito anteriormente em nosso sistema MBE (Anjos et al., 2004). Este estudo

permitiu determinar a relação da concentração de elétrons com a temperatura e o fluxo

da célula de Bi2Te3. Utilizando este trabalho como referência, algumas camadas de

PbTe dopadas com bismuto foram crescidas e caracterizadas eletricamente. A Tabela

6.2 mostra as propriedades elétricas destas camadas em função dos parâmetros da célula

de efusão contendo Bi2Te3. As temperaturas do substrato (290oC), da célula de PbTe

(640oC) e da célula de Te (276oC) foram mantidas fixas. Podemos ver nesta Tabela 6.2,

70

que as concentrações de elétrons na ordem de 1017, 1018 e 1019 cm-3, desejadas para a

camada tipo-n que formará a junção, foram obtidas.

A Tabela 6.3 mostra as junções p-n que foram crescidas neste trabalho para a fabricação

dos dispositivos sensores de infravermelho. As amostras utilizadas como referência para

a camada tipo-p (Ref p) e para a camada tipo-n (Ref n) juntamente com as respectivas

concentrações de buracos e elétrons, a espessura t das amostras de junções p-n (camada

p + camada n) medida no FTIR, a espessura tp da camada p e a tn da camada n, são

mostradas na Tabela 6.3. A nomenclatura que usaremos para nos referir a cada tipo de

junção é definida na coluna Tipo, onde p-n, p-n+ e p-n++ referem-se a junções com

concentração de elétrons da ordem de 1017, 1018 e 1019 cm-3, respectivamente.

71

TABELA 6.1 – Propriedades elétricas a 300 e 77K das camadas de referência crescidas visando à obtenção do PbTe com caráter p. O fluxo de Te (FTe) controlado pela temperatura da respectiva célula (TTe) e a temperatura do substrato (Tsub) foram os principais parâmetros de crescimento variados durante o procedimento. A temperatura da célula de PbTe ficou fixa em 640oC.

77 K 300 K

Amostra t

(µm)

Tsub

(ºC)

TTe

(ºC)

FTe

(Torr) Tipo

n/p

(cm-3) ρ

(Ωcm)

µ

(cm2/Vs) Tipo

n/p

(cm-3) ρ

(Ωcm)

µ

(cm2/Vs)

M956 1,9 300 225 3,00x10-10 n 5,70x1016 4,40x10-2 2,50x103 n 1,60x1017 9,80x10-2 4,00x102

M959 1,9 300 250 1,30x10-9 n 4,80x1016 1,20x10-2 1,10x104 n 1,40x1017 8,20x10-2 5,30x102

M4020 2,5 290 250 1,00x10-9 n 9,58x1016 3,39x10-3 1,92x104 n 1,38x1017 5,72x10-2 7,88x102

M975 2,0 300 270 4,10x10-9 n 6,70x1016 6,30x10-3 1,50x104 n 1,40x1017 5,80x10-2 7,40x102 M993 2,0 300 274 5,50x10-9 n 7,00x1016 5,40x10-3 1,65x104 n 1,60x1017 6,00x10-2 6,40x102

M994 1,3 300 276 7,00x10-9 - - - n 2,69x1017 2,87x10-1 8,07x101

M995 2,5 320 280 7,50x10-9 n 6,52x1016 6,06x10-2 1,58x103 n 7,87x1017 1,25x10-1 6,34x101

M961 2,0 300 280 9,40x10-9 p 3,40x1017 8,00x10-3 2,30x103 p 3,70x1018 6,70x10-2 2,50x101

M996 2,8 320 300 2,30x10-8 p 2,09x1017 2,10x10-2 1,43x103 p 2,99x1018 1,05x10-1 2,00x101

M997 2,5 290 276 5,80x10-9 p 2,21x1017 8,73x10-3 3,23x103 p 3,48x1017 8,42x10-2 2,13x102

M4001 3,5 290 276 5,40x10-9 n 4,80x1016 6,64x10-3 1,93x104 n 1,13x1017 7,54x10-2 7,35x102

M4002 2,9 290 276 5,80x10-9 n 2,06x1016 1,74x10-2 1,74x104 n 1,31x1017 1,04x10-1 4,56x102

M4003 1,7 290 280 6,80x10-9 - - - n 3,20x1017 2,46x10-1 7,93x101

M4004 2,1 290 285 9,60x10-9 p 1,81x1017 3,59x10-3 9,60x103 p 1,81x1017 5,92x10-2 5,81x102

71

72

TABELA 6.2 – Propriedades elétricas a temperatura ambiente e em nitrogênio líquido das camadas referência de PbTe tipo-n dopadas com bismuto. O fluxo da célula de Bi2Te3 (FBi2Te3) obtido na temperatura TBi2Te3 foi o principal parâmetro variado nesta série. As temperaturas do substrato, da célula de PbTe, e da célula de Te ficaram fixas em 290, 640, e 276oC, respectivamente.

77 K 300 K

Amostra t

(µm)

TBi2Te3

(ºC)

FBi2Te3

(Torr)

n

(cm-3) ρ

(Ωcm)

µ

(cm2/Vs)

n

(cm-3) ρ

(Ωcm)

µ

(cm2/Vs)

M998 3,3 440 2,0x10-9 3,60x1019 7,22x10-5 2,40x103 3,26x1019 3,39x10-4 2,64x102

M999 2,7 390 1,5x10-10 2,97x1018 2,53x10-3 8,30x102 2,67x1018 9,56x10-3 2,44x102

M4008 1,7 350 - - - - 1,60x1017 1,15x10-1 3,38x102 M4009 1,7 360 3,0x10-11 1,88x1017 3,29x10-3 1,01x104 1,50x1017 7,17x10-2 5,79x102

TABELA 6.3 – Dados das junções p-n crescidas para a fabricação dos fotodiodos. A espessura t corresponde às duas camadas (p+n), tp à camada p e tn à camada n. Ref p e Ref n correspondem às camadas utilizadas como referência para o crescimento da junção p-n, enquanto os valores p e n são as concentrações de buracos e elétrons a 77K das respectivas camadas referências. O Tipo é a nomenclatura utilizada para se referir à variação da concentração de elétrons na junção.

Amostra t

(µm) Ref p

p

(cm-3)

tp

(µm) Ref n

n

(cm-3)

tn

(µm) Tipo

D4005 5,4 M4004 1,81x1017 3,6 M998 3,60x1019 1,8 p-n++

D4007 4,9 M4004 1,81x1017 3,3 M999 2,97x1018 1,6 p-n+

D4010 5,3 M4004 1,81x1017 3,5 M4009 1,88x1017 1,8 p-n

D4012 6,0 M4004 1,81x1017 3,9 M998 3,60x1019 2,1 p-n++

D4022 4,8 M4004 1,81x1017 3,2 M4020 9,58x1016 1,6 p-n

72

73

6.2 Fabricação do Dispositivo

As junções p-n de PbTe crescidas sobre substratos de BaF2 foram processadas por

técnicas de fotolitografia para formar uma estrutura tipo mesa e assim realizar a

caracterização elétrica e óptica do dispositivo detector de infravermelho (Barros et al.,

2003; Barros et al., 2004). A Figura 6.2 mostra um desenho esquemático em corte

transversal do diodo de PbTe com a estrutura mesa almejada. Os processos de

fabricação de máscaras em aço inox, evaporação de contatos de ouro, ataque químico do

PbTe e montagem do diodo são detalhados abaixo.

FIGURA 6.2 – Corte transversal da estrutura tipo mesa.

Inicialmente foram projetadas e fabricadas máscaras para deposição de contatos de ouro

(Au). Estas máscaras foram feitas em folhas de aço inox de espessura de 0,1 mm através

da transferência do padrão desejado, impresso na forma de fotolito para circuito

impresso, para um filme seco na chapa de aço inox. O desenho impresso no fotolito foi

desenvolvido levando em consideração todas etapas de fabricação e montagem do

dispositivo, e a transferência do filme seco para a chapa de aço foi realizada pelo

Circuito Impresso do INPE. Após a transferência e revelação do filme resistente, o

ataque químico foi realizado com solução de ácidos nítrico e clorídrico HNO3:HCl:H2O

na proporção de 1:1:3 aquecida a 55oC para corroer o aço onde não estava protegido, e

por fim formar a máscara com o padrão desejado.

(111) BaF2

n - PbTe

p - PbTe

contatos In-Au

74

A Figura 6.3 mostra o desenho das máscaras para evaporação de contatos de Au numa

escala de 1:0,25. A máscara da esquerda é utilizada para evaporar o filme de Au no lado

n da junção, servindo tanto para máscara protetora contra o ataque químico do PbTe

como para contato metálico, e a da direita é utilizada para evaporar os contatos de Au

no lado p, após delineada a estrutura mesa. Para cada pastilha de 15x15 mm2 são

fabricados 9 detectores, sendo 4 com diâmetro da mesa de 1,0 mm e 5 com diâmetro da

mesa de 0,3 mm. Devido à alta constante dielétrica do PbTe (κ = 400 a 300K) e à

limitação de 2 nF para a capacitância máxima medida no capacímetro HP4280A, o

dispositivo com diâmetro menor foi projetado para realizar a medida de capacitância por

tensão. Deve-se observar que existem quatro pontos mais externos para alinhamento das

máscaras no passo seguinte de fabricação dos detectores. As máscaras fabricadas são

montadas em um porta-amostra específico que permite que a pastilha seja alinhada à

máscara, e depois presa por uma mola para ser colocada na evaporadora para deposição

do filme metálico, como mostrado nas fotografias da Figura 6.4.

FIGURA 6.3 – Máscara de evaporação de contatos de Au. O desenho da esquerda

representa a máscara utilizada para evaporação de contatos no lado n, e o da direita para evaporação de contatos no lado p.

As evaporações de contatos de Au, tanto para o lado p como para o n, foram realizadas

na evaporadora por feixe de elétrons (Edwards Auto 306) com uma pressão na câmara

de 2x10-5 mbar. A espessura e a taxa de deposição do filme de Au foram monitoradas

através do oscilador de quartzo instalado no equipamento. Pelo oscilador de quartzo, a

espessura de todos os filmes de Au foi de 200 nm evaporado a uma taxa de 20 nm/min.

75

Observou-se que a espessura medida no equipamento durante a evaporação não era a

espessura real do contato, medida posteriormente no perfilômetro. A espessura média

dos contatos foi de 170 nm com uma variação ±5 nm.

FIGURA 6.4 – Fotografias do porta amostra com as máscaras para evaporação de

contatos de Au montadas.

Antes de partir para o ataque químico das junções p-n propriamente ditas, vários testes

de ataque em filmes de PbTe com contados de Au evaporados através da máscara

esquerda da Figura 6.2 foram realizados. A solução de bromo e acído bromídrico

Br2:HBr:H2O, na proporção de 1:100:100, foi escolhida para o ataque químico do PbTe.

A altura da mesa foi posteriormente medida no perfilômetro para determinar a taxa de

ataque. Este processo se mostrou ser o mais crítico durante a fabricação dos diodos, pois

a taxa variou significativamente durante os testes realizados. A taxa dependia da

agitação da amostra na solução e no tempo de estocagem da solução. Após vários testes,

a taxa de ataque média determinada para o PbTe nesta concentração de solução foi de

2µm/min.

Após estes testes, a estrutura mesa nas junções p-n foi então delineada pelo ataque

químico do PbTe. A Figura 6.5 mostra, como exemplo, o gráfico de altura versus

largura medido no perfilômetro para uma estrutura mesa. Para esta amostra, a altura da

mesa total foi de 2,17 µm, sendo 0,17 µm relativo ao contato de Au. Podemos observar

que a largura da mesa é de 0,32 mm, ou seja, próximo ao esperado pelo diâmetro do

contato menor (0,30 mm) evaporado pela máscara esquerda da Figura 6.3.

76

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

Altu

ra (µ

m)

Largura (mm)

FIGURA 6.5 – Perfil de uma estrutura mesa delineada na junção p-n de PbTe.

FIGURA 6.6 – Criostato de nitrogênio líquido com janela de BaF2 e conector detoronics

de 10 pinos.

Depois de formada a estrutura mesa, a pastilha é novamente montada no porta-amostra

com a máscara da direita da Figura 6.3, para a evaporação do contato de Au no lado p.

Neste passo de fabricação, o alinhamento da máscara deve ser feito com muito cuidado.

Com o dispositivo enfim pronto, fios de Au de diâmetro de 50 µm são soldados com In

77

nos contatos de Au dos dois lados da junção, com a pastilha sobre uma chapa quente

aquecida até a temperatura de 160oC. A seguir, usando solução de InGa, o dispositivo é

posicionado em um porta-amostra de cobre pelo lado do substrato de BaF2. O porta-

amostra contém um furo central por onde a luz é irradiada, e pads de cerâmica são

usados para conectar os fios do conector do criostato aos fios de Au do diodo.

O porta-amostra é então montado no criostato de nitrogênio líquido, mostrado na Figura

6.6, com uma proteção contra radiação (também resfriada a 77K) que define um ângulo

de visada (FOV – Field of View) de 30o para o detector. O criostato é evacuado através

de um sistema com bomba difusora para atingir uma pressão da ordem de 2x10-6 mbar.

Leva-se de 6 a 8 horas para alcançar esta pressão. A carga de nitrogênio líquido dura

por volta de 2 horas, tempo suficiente para realizar as medidas elétricas e ópticas.

78

79

CAPÍTULO 7

CARACTERIZAÇÃO DO DISPOSITIVO

Neste Capítulo são apresentados os resultados da caracterização dos fotodiodos

detectores de infravermelho utilizando as técnicas descritas no Capítulo 5. Para

diferenciar os diodos de cada junção p-n, os diodos de área menor (diâmetro da mesa

igual a 0,3 mm e área de 7,07x10-4 cm2) foram nomeados com a terminação P e os de

área maior (diâmetro da mesa igual a 1,0 mm e área de 7,85x10-3 cm2) com a

terminação G.

7.1 – Característica Capacitância por Tensão

A curva característica de capacitância por tensão dos diodos fabricados foi medida no

sistema CxV descrito no Capítulo 5. Somente os diodos de área menor foram medidos,

devido à limitação de 2 nF na capacitância máxima possível de ser medida no

capacímetro HP4280A utilizado.

A Figura 7.1 mostra a curva característica CxV medida a 80K para três diodos de PbTe

fabricados a partir de junções p-n++ (com n ~ 1019 cm-3), p-n+ (com n ~ 1018 cm-3), e p-n

(com n ~ 1017 cm-3). As curvas do inverso da capacitância específica ao quadrado versus

a tensão reversa (1/Ce2xV) também são mostradas na Figura 7.1 ao lado do respectivo

gráfico CxV. A capacitância específica Ce é a capacitância dividida pela área do diodo.

Podemos observar que a curva 1/Ce2xV apresenta um comportamento linear para diodos

com junções p-n++ e p-n+. Este fato mostra que, para concentrações de elétrons n

maiores que 1x1018 cm-3, uma junção abrupta de um único lado foi formada, ou seja, a

região de depleção localiza-se praticamente só no lado p da junção. Já no caso da junção

p-n, a curva 1/Ce2xV apresenta-se completamente não linear, indicando que a região de

depleção se encontra nos dois lados da junção.

80

0,0 0,1 0,2 0,3 0,40,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,0 0,1 0,2 0,3 0,40,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

C

apac

itânc

ia (n

F)

Tensão Reversa (V)

PbTe p-n++

D4005PT = 80 K

(a)

Experimento Ajuste linear

1/C

e2 (1012

cm4 /F

2 )

Tensão Reversa (V)

0,2 0,3 0,4 0,5 0,60,75

1,00

1,25

1,50

1,75

0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

0,2

0,4

0,6

0,8(b)

Cap

acitâ

ncia

(nF)

Tensão Reversa (V)

PbTe p-n+

D4007PT = 80 K

1/C

e2 (1012

cm4 /F

2 )

Tensão Reversa (V)

Experimento Ajuste linear

0,0 0,1 0,2 0,3 0,40,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,0 0,1 0,2 0,3 0,40

50

100

150

200

250

(c)

Cap

acitâ

ncia

(nF)

Tensão Reversa (V)

PbTe p-nD4010PT = 80 K

1/C

e2 (1012

cm4 /F

2 )

Tensão Reversa (V)

FIGURA 7.1 – Curvas características CxV e 1/Ce2xV para os diodos de PbTe fabricados

a partir de junções p-n++ (a), p-n+ (b), e p-n (c). Os pontos são dados experimentais e a linha cheia corresponde ao ajuste linear.

81

Para o caso da junção abrupta de um único lado, as equações para a capacitância na

região de depleção tornam-se simples. Para este tipo de junção, a inclinação da curva

1/Ce2xV é dada por (Sze, 1981):

( )peV

Ce

0

2 2/1κε

=∂

∂ , (7.1)

onde e é a carga do elétron (e = 1,60218x10-19 C), κ é a constante dielétrica estática do

semicondutor (κ = 800 para o PbTe a 77K), ε0 é a permissividade elétrica no vácuo (ε0 =

8,85418x10-14 F/cm) e p é a concentração de buracos. A largura da região de depleção

w, para uma determinada tensão V aplicada, pode também ser obtida da característica

CxV através da relação:

)()( 0

VCVw

e

κε= (7.2)

Portanto, para uma junção abrupta de um único lado, confirmada através da linearidade

da curva 1/Ce2xV, pode-se determinar a concentração de buracos e a largura da região de

depleção no lado p, utilizando as equações 7.1 e 7.2.

As linhas sólidas nos gráficos 1/Ce2xV da Figura 7.1 são ajustes lineares feitos aos dados

experimentais. A Tabela 7.1 mostra, para todos os diodos medidos, a inclinação da

curva 1/Ce2xV obtida através da regressão linear e a concentração de buracos calculada

pela Equação 7.1. A largura da região de depleção w sem polarização (V = 0) e para a

tensão reversa V = -0,4V, calculada pela Equação 7.2, também é mostrada na Tabela

7.1.

Como podemos observar na Figura 7.1 e na Tabela 7.1, o diodo fabricado a partir da

junção p-n+ foi o que apresentou a curva 1/Ce2xV mais próxima de uma reta e também o

valor da concentração de buracos mais próximo do medido por efeito Hall na camada

tipo-p de referência (p = 1,8x1017 cm-3, veja Tabela 6.3). A concentração de buracos

obtida para os diodos fabricados a partir de junções p-n++ ficou próximo a 3x1016 cm-3,

um valor menor do que o obtido pelas medidas de efeito Hall. A não-linearidade na

82

curva 1/Ce2xV esperada e observada para os diodos com junção p-n indica que modelos

mais complexos são necessários para extrair os parâmetros da junção através da

característica CxV nestes diodos.

TABELA 7.1 – Concentração de buracos p e largura da região de depleção w em V = 0 e V = -0,4V, obtidos através da caracterização CxV (* V = -0,2V).

Diodo Tipo Inclinação

(cm2F-2V-1)

p

(cm-3)

w (V=0)

(µm)

w (V=-0,4V)

(µm)

D4005P p-n++ 6,1x1012 2,9x1016 0,60 1,25

D4007P p-n+ 1,7x1012 1,1x1017 0,27* 0,48

D4010P p-n não linear - - -

D4012P p-n++ 7,6x1012 2,3x1016 1,93 2,28

D4022P p-n não linear - - -

A largura da região de depleção para os diodos p-n+ e p-n++ ficou com valores da ordem

de 1 µm, exceto para o diodo D4012P, cujo valor ficou em torno de 2 µm. Estes valores

estão em concordância com os obtidos na literatura, onde larguras para a região de

depleção abaixo de 1 µm foram medidas para diodos p-n+ de PbTe crescidos sobre

silício (John et al., 1999).

7.2 – Característica Corrente por Tensão

A característica corrente por tensão para os diodos fabricados foi medida no sistema IxV

implementado durante este trabalho e descrito em detalhe no Capítulo 5. As Figuras 7.2,

7.3, e 7.4 mostram as curvas IxV para os diodos de PbTe feitos a partir de junções p-n++,

p-n+, e p-n, respectivamente. Os gráficos mostram medidas tanto para os diodos de área

menor quanto para os de área maior. Podemos observar que, ao contrário da

característica CxV, as curvas IxV exibiram formatos e valores diferenciados, não

apresentando uniformidade entre os diodos medidos. Pode-se notar que diodos feitos a

partir de uma mesma junção apresentaram formas distintas tanto para o ramo de

corrente reversa quanto para o de corrente direta. Os valores de corrente de fuga nos

diversos diodos apresentaram uma variação significativa.

83

Com o objetivo de se obter informações quantitativas da característica IxV alguns

procedimentos foram seguidos. O primeiro passo foi plotar o gráfico do inverso da

derivada da curva IxV, ou seja, o gráfico de (∂V/∂I)xV. Estas curvas encontram-se ao

lado de cada gráfico IxV nas Figuras 7.2, 7.3, e 7.4. Este procedimento fornece um

parâmetro importante do diodo que é a resistência diferencial incremental dada por:

00

=

∂∂

=VI

VR (7.3)

que ao ser multiplicado pela área do diodo dá o produto R0A.

O próximo passo consistiu em simular a característica IxV medida utilizando as

equações para um diodo. A equação de Schockley para um diodo ideal, como o da

Figura 2.2, é dada por

= 10

thidVnVExpII (7.4)

onde nid é o fator de idealidade do diodo, Vth é a tensão térmica na temperatura de

medida dada por

eTkV B

th = (7.5)

onde kB é a constante de Boltzmann (kB = 8,617x10-5 eV/K) e e é a carga do elétron, e I0

é a corrente de saturação do diodo, que pode ser obtida utilizando o valor medido da

resistência incremental R0 através da seguinte relação

00 R

VnI thid= (7.6)

Para um diodo convencional, quando a corrente de recombinação domina o processo, o

fator de idealidade fica próximo a 2, e quando a corrente de difusão é dominante, o ele

se aproxima de 1. Quando ambas as correntes são comparáveis um valor entre 1 e 2 é

encontrado para o diodo (Sze, 1981).

84

0,0

1,0

2,0

0,2

0,4

0,6

0,8

0,0

2,0

4,0

6,0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

0,0

0,1

0,2

0

20

40

60

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,40,0

0,5

1,0

1,5

2,0

PbTe p-n++

D4005P

R0 = 0,91 kΩ

R0A = 0,64 Ω.cm2

Cor

rent

e (m

A)

PbTe p-n++

D4005G

R0 = 0,57 kΩ

R0A = 4,48 Ω.cm2

δV/

δI (k

Ω)

PbTe p-n++

D4012P

R0 = 45,0 kΩ

R0A = 31,8 Ω.cm2

Tensão (V)

PbTe p-n++

D4012G

R0 = 0,17 kΩ

R0A = 13,5 Ω.cm2

FIGURA 7.2 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe

fabricados a partir de junções p-n++ (n ~ 1019 cm-3).

85

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

-0,5

0,0

0,5

1,0

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,40,2

0,4

0,6

0,8

1,0

PbTe p-n+

D4007P

R0 = 1,81 kΩ

R0A = 1,28 Ω.cm2

Cor

rent

e (m

A)

Tensão (V)

PbTe p-n+

D4007G

R0 = 0,95 kΩ

R0A = 7,43 Ω.cm2 δV/

δI (k

Ω)

FIGURA 7.3 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe

fabricados a partir de junções p-n+ (n ~ 1018 cm-3).

86

0,0

0,2

0,4

0,6

0

10

20

30

40

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

0,0

1,0

2,0

3,0

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4-0,2

0,0

0,2

0,4

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,40,0

1,0

2,0

3,0

4,0

PbTe p-nD4022P

R0 = 6,97 kΩ

R0A = 4,93 Ω.cm2

Cor

rent

e (m

A)

PbTe p-nD4022G

R0 = 1,06 kΩ

R0A = 8,35 Ω.cm2

δV/

δI (k

Ω)

PbTe p-nD4010P

R0 = 0,32 kΩ

R0A = 0,23 Ω.cm2

Tensão (V)

PbTe p-nD4010G

R0 = 2,0 kΩ

R0A = 15,7 Ω.cm2

FIGURA 7.4 – Curvas características IxV e (∂V/∂I)xV para os diodos de PbTe

fabricados a partir de junções p-n (n ~ 1017 cm-3).

87

Os diodos de PbTe se encontram normalmente fora das condições de um diodo ideal,

tanto para o ramo da corrente reversa como para o da direta. Para podermos simular a

curva IxV de um diodo de PbTe, precisa-se utilizar a equação de um diodo real, no qual

considera-se uma resistência em série e uma resistência em paralelo ao diodo ideal,

conforme mostrado no circuito da Figura 7.5.

FIGURA 7.5 – Circuito equivalente de um diodo real com resistências em série e em paralelo ao diodo ideal.

Neste caso, a equação para o diodo real fica na seguinte forma (Veissid et al., 1995)

p

s

thid

s

RIRV

VnIRVExpII −

+

−= 10 (7.7)

onde Rs e Rp são as resistências em série e em paralelo ao diodo ideal, respectivamente.

A Equação 7.7 não possui solução analítica sendo necessário resolvê-la numericamente.

No caso de assumirmos a resistência Rp infinita, o segundo termo da equação desaparece

e ela passa a ter solução analítica ao se isolar o termo relativo à tensão V. Assim

considera-se apenas o efeito da resistência série e o do fator de idealidade.

Para ajustarmos a curva IxV medida à calculada pela Equação 7.7, desenvolvemos um

programa em Matlab, onde nid, Rs e Rp são os principais parâmetros de ajuste. A tensão

térmica Vth é dada pela temperatura de medida (80K), e a resistência incremental R0 é

obtida da curva (∂V/∂I)xV como mostrado na Figura 7.2.

Rs

RpDiodo ideal

88

0,0

0,1

0,2

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

1E-4

1E-3

0,01

0,1

Experimental Schockley nid=2 nid=1,0 Rs=1000 nid=1,0 Rs=1000

Rp=39000

D4012PPbTe p-n++

Cor

rent

e (m

A)

Mód

ulo

da c

orre

nte

(mA)

Tensão (V)

FIGURA 7.6– Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n++ com baixa corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica.

89

-0,5

0,0

0,5

1,0

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

0,01

0,1

1

Experimental Schockley nid=2 nid=2,0 Rs=350 nid=2,0 Rs=350

Rp=950

D4007GPbTe p-n+

Cor

rent

e (m

A)

Mód

ulo

da c

orre

nte

(mA)

Tensão (V)

FIGURA 7.7 – Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n+ apresentando alta corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica.

90

0,0

0,2

0,4

0,6

-0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4

1E-3

0,01

0,1

1

Experimental Schockley nid=2 nid=3,1 Rs=600 nid=3,1 Rs=600

Rp=19000

D4022PPbTe p-n

Cor

rent

e (m

A)

Mód

ulo

da c

orre

nte

(mA)

Tensão (V)

FIGURA 7.8 – Resultado da simulação da característica IxV de um diodo de junção p-n que apresenta baixa corrente de fuga. Os círculos abertos são os pontos experimentais e as linhas correspondem às curvas calculadas. Para melhor visualização, o painel inferior mostra na ordenada o módulo da corrente em escala logarítmica.

91

As Figuras 7.6, 7.7, e 7.8 mostram, como exemplos, o resultado da simulação da

característica IxV de três diodos de PbTe feitos a partir de junções p-n++, p-n+, e p-n,

respectivamente. Nestes gráficos, os círculos abertos são os pontos medidos

experimentalmente. As linhas traço-ponto correspondem ao cálculo feito a partir da

equação do diodo ideal (Equação 7.4) utilizando o fator de idealidade nid = 2. As linhas

tracejadas mostram o cálculo de melhor ajuste considerando apenas a resistência série

Rs e o melhor fator de idealidade. Pode-se notar que esta curva ajusta o ramo direto da

curva IxV. E finalmente, as linhas sólidas correspondem ao melhor ajuste considerando

todos parâmetros (nid, Rs e Rp) na Equação 7.7. Observe que a resistência paralela

influencia principalmente o ramo de corrente reversa da curva IxV. Os painéis inferiores

nas Figuras 7.6, 7.7, e 7.8 mostram, para melhor visualização, a curva do logaritmo do

módulo da corrente versus a tensão aplicada.

TABELA 7.2– Dados obtidos da caracterização IxV: resistência incremental diferencial R0, produto resistência incremental vezes a área R0A, fator de idealidade nid, resistência em série Rs e em paralelo Rp ao diodo.

Diodo Tipo R0

(kΩ)

R0A

(Ωcm2) nid

Rs

(Ω)

Rp

(kΩ)

D4005P p-n++ 0,91 0,64 4,0 140 0,63

D4005G p-n++ 0,57 4,48 4,5 35 0,45

D4012P p-n++ 45,0 31,8 1,0 1000 39,0

D4012G p-n++ 1,72 13,5 4,5 450 1,90

D4007P p-n+ 1,80 1,28 3,6 370 1,30

D4007G p-n+ 0,95 7,43 2,0 350 0,95

D4010P p-n 0,32 0,23 2,0 200 0,70

D4010G p-n 2,00 15,7 1,0 900 3,50

D4022P p-n 6,97 4,93 3,1 600 19,0

D4022G p-n 1,06 8,35 1,0 1100 4,20

D4022P2 p-n 13,4 9,45 0.1 13500 30,0

92

Os parâmetros obtidos da análise da característica IxV, conforme o procedimento

descrito acima, são mostrados na Tabela 7.2 para todos os diodos medidos. Os

resultados desta análise mostram uma grande variação nos parâmetros dos diodos

fabricados. A resistência diferencial incremental variou entre 0,32 e 45 kΩ, a resistência

paralela entre 0,45 e 39 kΩ, e a resistência série entre 35 e 1100 Ω. O alto valor de Rs

encontrado para o diodo D4022P2 se deve à pequena camada p restante após o ataque

químico observada para este diodo. O fator de idealidade ficou entre 1,0 e 4,5 para os

diodos de PbTe caracterizados. Valores de nid maiores do que 2 indicam que

mecanismos mais complexos para a condução de corrente estão presentes no diodo.

Nenhuma correlação pôde ser encontrada entre os parâmetros do diodo obtidos da

análise da característica IxV e a concentração de elétrons na camada n da junção.

Conforme observado diretamente dos gráficos IxV e comentado anteriormente,

variações expressivas entre curvas IxV de diodos da mesma amostra foram observadas.

Acreditamos que estas variações se devem à falhas e não-uniformidade durante o

processamento dos diodos, que serão discutidas na Secção 7.4.

A próxima Secção mostra os resultados da caracterização óptica dos fotodiodos, onde

flutuações nas figuras de mérito dos detectores de infravermelho também foram

observadas.

7.3 – Detectividade e Resposta Espectral

A detectividade dos fotodiodos de PbTe, montados no criostato de nitrogênio líquido

mostrado na Figura 6.6, foi medida utilizando o procedimento e a montagem descritos

no Capítulo 5. Para a medida de detectividade, o corpo negro foi colocado a uma

temperatura TBB = 900K com uma abertura da cavidade AS = 0,785 cm2. O detector foi

posicionado a uma distância d = 25cm e a freqüência do modulador mecânico utilizada

foi de 900 Hz. Nestas condições, como o fator de transferência do modulador é

Fm=0,38, a densidade de potência incidente no detector foi H = 5,65x10-4 Wcm-2,

conforme calculado pela Equação 5.1.

93

TABELA 7.3 – Detectividade D* dos detectores de PbTe medida diretamente e com o pré-amplificador. VS, VN, e VS/VN correspondem à tensão do sinal, do ruído, e à relação sinal-ruído, respectivamente.

Pré-amplificador Direto

Diodo Tipo VS

(mV)

VN

(mV) VS/VN

VS

(mV)

VN

(mV) VS/VN

D*

(cmHz1/2W-1)

D*cor

(cmHz1/2W-1)

D4005P p-n++ 29 1,50x10-2 1933 0,72 3,80x10-4 1895 4,83x108 5,96x108

D4005G p-n++ 145 3,00x10-2 4833 2,7 6,00x10-4 4500 3,62x108 4,47x108

D4012P p-n++ 130 5,00x10-4 260000 5,80 7,50x10-4 7733 6,49x1010 8,01x1010 D4012G p-n++ 290 6,00x10-3 48333 9,80 2,50x10-4 39200 3,62x109 4,47x109

D4007P p-n+ 8 9,00x10-3 889 0,39 5,00x10-4 780 2,22x108 2,74x108

D4007G p-n+ 160 2,50x10-2 6400 3,80 7,50x10-4 5067 4,80x108 5,93x108

D4010P p-n 16 3,50x10-2 457 0,22 6,00x10-4 367 1,14x108 1,41x108

D4010G p-n 400 4,00x10-3 100000 80,00 4,50x10-4 177778 1,33x1010 1,64x1010

D4022P p-n 120 1,60x10-3 75000 2,40 1,00x10-4 24000 1,87x1010 2,31x1010

D4022G p-n 180 1,10x10-2 16364 1,20 1,30x10-3 923 1,23x109 1,52x109

D4022P2 p-n 19 6,00x10-4 31667 3,50 1,50x10-4 23333 7,91x109 9,77x109

93

94

O valor rms da tensão do sinal VS do detector foi medido no amplificador sincronizado

na freqüência do modulador. A tensão rms do ruído VN foi também determinada para

uma radiação de fundo de 300K e um ângulo de visada FOV = 30o, bloqueando-se a

entrada da radiação infravermelha no criostato. Os valores de VS e VN foram

determinados medindo-se diretamente e utilizando o pré-amplificador de entrada do

amplificador Lock-In. O pré-amplificador aumenta a leitura de um fator máximo de 100,

dependendo da relação entre a impedância do dispositivo e a de entrada do pré-

amplificador. A Tabela 7.3 mostra os valores de VS, VN, e da relação sinal-ruído VS / VN,

medidos diretamente e com o pré-amplificador para os diversos diodos fabricados. A

detectividade D*, calculada pela Equação 5.5 utilizando a respectiva área do detector A

e o valor de ∆f = 14Hz para a largura de banda do amplificador, encontra-se disposta na

Tabela 7.3.

2 3 4 5 6 70

20

40

60

80

100

BaF2

Tran

smis

são

(%)

Comprimento de onda (µm)

FIGURA 7.9 – Espectro de transmissão na região do infravermelho para a janela de BaF2 do criostato e para o substrato clivado de BaF2 utilizado para o crescimento.

Para determinar as perdas da radiação incidente na janela de BaF2 do criostato e no

substrato de BaF2 sobre o qual foram crescidos os detectores, o espectro de transmissão

no infravermelho foi medido no espectrofotômetro FTIR e é mostrado na Figura 7.9. A

janela e o substrato de BaF2 transmitem aproximadamente 90% da luz incidente. A

95

coluna na Tabela 7.3 nomeada D*Cor corresponde ao valor da detectividade descontando

as perdas de 19% na janela e no substrato de BaF2.

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

0,0

0,5

1,0

Detector fotovoltaicoPbTe/BaF2T = 80K

Rep

osta

rela

tiva

Comprimento de onda (µm)

FIGURA 7.10 – Resposta espectral do detector de junção p-n de PbTe.

Observando os dados da detectividade da Tabela 7.3, pode-se ver que o valor de D*Cor

variou de 3,6x108 a 6,5x1010, de 2,2x108 a 4,8x108, e de 1,1x108 a 1,9x1010 cmHz1/2W-1,

para detectores de PbTe feitos a partir de junções p-n++, p-n+, e p-n, respectivamente.

Como no caso da característica IxV, uma flutuação significativa nos valores de D* foi

observada entre os diversos fotodiodos. Desta forma, não foi possível determinar uma

correlação entre os valores de detectividade e a concentração de elétrons da camada n da

junção. Razões para as causas destas variações serão discutidas na próxima Secção. É

importante enfatizar que os valores de detectividade D* (na ordem de 1011 cmHz1/2W-1)

medidos para os melhores fotodiodos fabricados durante este trabalho são comparáveis

aos dos detectores comerciais de InSb e HgCdTe com comprimento de onda de corte em

6 µm a 77K (Rogalski, 2002).

A resposta espectral dos diodos fabricados também foi medida conforme procedimento

relatado no Capítulo 5. A Figura 7.10 mostra a resposta típica do fotodiodo de PbTe em

função do comprimento de onda na região do infravermelho. Observe que o

comprimento de onda de corte do detector se localiza em 5,9 µm, correspondendo à

96

energia do gap do PbTe na temperatura de 80K. A queda na resposta observada em

4,3 µm, na região de absorção do gás carbônico, deve-se à diferença de caminho óptico

entre o detector medido e o detector piroelétrico.

7.4 – Correlação entre Medidas Elétricas e Ópticas

Com o objetivo de correlacionar os parâmetros do diodo determinados a partir da

característica IxV com os parâmetros da medida de detectividade, algumas análises

foram realizadas. A Figura 7.11 mostra o inverso da tensão de ruído (VN) medida com o

pré-amplificador em função da resistência paralela Rp obtida através da simulação da

característica IxV. Observa-se claramente uma relação inversa entre VN e Rp, ou seja,

quanto menor a corrente de fuga (maior Rp) menor é o ruído observado no detector.

0 10 20 30 40

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0Fotodiodos PbTeT = 80 K

1 / V

N (

µV -1

)

Resitência paralela (kΩ)

FIGURA 7.11 – Relação entre o inverso do ruído medido com o pré-amplificador e resistência paralela para os detectores de PbTe.

Este fato reflete diretamente na detectividade D* como pode ser confirmado pelo gráfico

da Figura 7.12, onde D* é plotado em função de Rp. Note que para Rp maiores que

10 kΩ, valores de detectividade maiores que 1x1010 cmHz1/2W-1 são obtidos.

97

0 10 20 30 40108

109

1010

1011

Fotodiodos PbTeT = 80 K

D* (

cm H

z1/2 W

-1)

Resistência paralela (kΩ) FIGURA 7.12 – Detectividade em função da resistência paralela para os detectores

fotovoltaicos de PbTe.

0 10 20 30108

109

1010

1011

Fotodiodos PbTeT = 80 K

D* (

cm H

z1/2 W

-1)

Produto R0A (Ω cm2)

FIGURA 7.13 – Detectividade em função do produto R0A para os detectores fotovoltaicos de PbTe.

A Figura 7.13 mostra o valor de D* em função do produto R0A para os fotodiodos de

PbTe fabricados neste trabalho. Com exceção de algumas flutuações, o gráfico mostra a

tendência esperada de aumento da detectividade com o aumento do produto R0A. Pode-

98

se notar que a relação D* ~ (R0A)1/2 não é encontrada neste gráfico. Esta relação é válida

para detectores que apresentam somente o ruído térmico Johnson (Hudson, 1969). Este

fato indica que outras fontes de ruído além do ruído térmico estão presentes nos nossos

detectores. As correntes de fuga superficiais, como demonstrado pela Figura 7.11

devem ser as principais causas do aumento do ruído.

Os melhores valores de R0A obtidos para os detectores de PbTe sobre BaF2 fabricados

neste trabalho são próximos dos valores encontrados na literatura para detectores

fotovoltaicos de PbTe sobre substrato de Si (John et al., 1999; Boschetti et al., 1993). É

importante lembrar que os valores de R0A para diodos de PbTe são normalmente

menores do que os obtidos para fotodiodos de InSb e HgCdTe com comprimento de

onda de corte equivalente, e que apesar disto, valores de detectividade comparáveis são

encontrados (Rogalski, 2002). As deslocações presentes nos sais de chumbo são

responsáveis pelos menores valores de R0A observado para estes materiais. Uma

correlação direta entre R0A e a densidade de deslocações foi observada para fotodiodos

feitos com compostos IV-VI sobre silício (John et al., 1999; Zimin et al., 2002).

As falhas e a não-uniformidade durante o processamento devem ser as principais causas

para as grandes flutuações observadas nos parâmetros obtidos através da curva IxV e

nos valores de detectividade dos diodos fabricados neste trabalho. O controle ruim do

ataque químico produziu mesas com alturas diferentes inclusive para uma mesma

amostra. O processo de solda artesanal dos fios de ouro utilizado na montagem dos

detectores se mostrou ser sempre uma fonte de problemas durante o processamento. Os

degraus de clivagem inerentes ao substrato de BaF2 provocam uma série de dificuldades

na litografia e limitam a uniformidade na fabricação dos dispositivos. Além disto, a falta

de uma camada passivadora na estrutura mesa para evitar as correntes de fuga

superficiais é também um limitante nos nossos fotodiodos.

99

CAPÍTULO 8

CONCLUSÕES

Uma série de junções p-n de PbTe foi crescida com sucesso sobre substratos de BaF2

pela técnica de epitaxia de feixe molecular. O controle da estequiometria através do

ajuste do fluxo de Te foi suficiente para se obter camadas p com boas mobilidades,

enquanto que o bismuto, usado como dopante extrínseco através do fluxo adicional de

Bi2Te3, se mostrou muito eficiente no controle da dopagem tipo-n neste material. A

série de amostras consistiu de junções p-n, p-n+ e p-n++, com a concentração de buracos

p próxima a 1017 cm-3 e a concentração de elétrons na ordem de 1017, 1018 e 1019 cm-3,

respectivamente. Diodos na forma de estrutura mesa foram fabricados por técnicas de

litografia e montados em um criostato de nitrogênio líquido para a caracterização

elétrica e óptica.

Um sistema automatizado para medidas de corrente por tensão e capacitância por tensão

foi completamente implementado para este estudo e os programas de controle e

aquisição de dados foram desenvolvidos na plataforma Visual Basic. Aproveitando esta

experiência, um código fonte em Visual Basic foi também desenvolvido para controlar e

fazer a comunicação com o sistema de crescimento epitaxial MBE instalado no

LAS/INPE, proporcionando uma grande autonomia na operação do sistema. Os

programas do sistema de resistividade e efeito Hall e o de resposta espectral também

foram atualizados.

As análises a partir da característica CxV mostraram que as junções p-n+ e p-n++ (com

n>1018 cm-3) formaram-se abruptas de um único lado, ou seja, com a região de depleção

apenas no lado p da junção. O valor da concentração de buracos p obtidos desta análise

concordou com o valor medido na camada de referência por efeito Hall. Larguras de

depleção da ordem de 1 µm foram calculadas para estas junções. Já as curvas de

1/Ce2xV para as junções p-n (n~1017 cm-3) apresentaram uma alta não-linearidade

indicando que a região de depleção se estende para os dois lados da junção.

100

As curvas IxV apresentaram formas diferenciadas tanto para o ramo de corrente reversa

como o de direta, mesmo para diodos feitos de uma mesma junção. A resistência

incremental R0, o produto R0A, a resistência em série Rs e em paralelo Rp, e o fator de

idealidade nid foram obtidos para todos os diodos usando a derivada da característica

IxV e um programa de simulação desenvolvido em Matlab para ajustar a curva

experimental à calculada pela equação de um diodo real.

Uma grande flutuação foi observada tanto para os parâmetros obtidos da característica

IxV quanto para os valores de detectividade D* medidos para os diversos diodos. Estas

flutuações não permitiram a determinação de uma correlação entre a concentração de

elétrons na camada n da junção e os parâmetros do fotodiodo de PbTe aplicado para a

detecção de infravermelho. As variações encontradas foram atribuídas às falhas e à não-

uniformidade durante o processamento dos fotodiodos. Porém, os parâmetros do diodo

obtidos da caracterização elétrica da junção puderam ser correlacionados com os valores

de ruído e detectividade medidos para os detectores de PbTe. Estes resultados permitem

uma previsão das figuras de mérito do detector de PbTe a partir dos dados obtidos

através da curva IxV.

Ressalta-se que os melhores fotodiodos de PbTe fabricados neste trabalho apresentaram

valores de detectividade (D* ~ 1011 cmHz1/2W-1) comparáveis aos de InSb e HgCdTe

comerciais e aos detectores de PbTe fabricados sobre silício. Espera-se que um

investimento na melhoria do processamento dos detectores de PbTe e o crescimento

sobre substratos de silício devem melhorar a uniformidade dos diodos fabricados.

101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE A- PUBLICAÇÕES

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34, n.2B, p. 641-643, June 2004.