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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
CARACTERIZAÇÃO GEOQUÍMICA DE UM PERFIL
ESTRATIGRÁFICO DO CARVÃO DA
MINA SÃO VICENTE NORTE,
JAZIDA LEÃO-BUTIÁ, FORMAÇÃO RIO BONITO,
BACIA DO PARANÁ, RS.
RICARDO GERMANO ZIMMER
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Química
Profa. Dra. Maria do Carmo Ruaro Peralba
Orientadora
Porto Alegre, agosto/2016.
i
Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes!
Isaac Newton
ii
AGRADECIMENTOS
Ao Deus Triuno, Criador, Salvador e Santificador: por sua graça e misericórdia.
À família, pela compreensão e apoio, sempre presentes e fundamentais em minhas
conquistas.
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ao Instituto de Química pela
oportunidade e condições disponibilizadas.
À Profa. Dra. Maria do Carmo Ruaro Peralba pelo conhecimento, orientação, suporte e
disponibilidade, imprescindíveis para vencer este desafio.
Às colegas e amigas do Laboratório de Química Analítica Ambiental (D-110), em especial
à Márjure pela ajuda e companheirismo.
Ao Prof. Dr. Wolfgang Dieter Kalkreuth e a Caroline do Instituto de Geociências, pela
disponibilização das amostras e apoio.
Às colegas e amigas do Laboratório de Análise de Carvão e Rochas Geradoras de
Petróleo, Simone e Marleny pela inestimável ajuda e companheirismo.
Ao Leandro Soccoloski Putti, pelo início do trabalho, através de seu TCC.
iii
SUMÁRIO
SUMÁRIO ..................................................................................................................................................................... iii
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................................................... v
LISTA DE TABELAS................................................................................................................................................... viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..................................................................................................................... ix
RESUMO ....................................................................................................................................................................... xi
ABSTRACT ................................................................................................................................................................... xii
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 1
1.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................................................. 3
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................. 3
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................................... 4
2.1 CARVÃO ............................................................................................................................................................ 4
2.2 GEOQUÍMICA ORGÂNICA ...........................................................................................................................7
2.2.1 n-Alcanos ...................................................................................................................................................7
2.2.2 Isoprenóides ............................................................................................................................................ 8
2.2.3 Hidrocarbonetos Policíclicos ............................................................................................................. 10
2.2.3.1 Terpanos Tricíclicos ....................................................................................................................... 10
2.2.3.2. Terpanos Tetracíclicos ................................................................................................................ 10
2.2.3.3. Terpanos Pentacíclicos (hopanos) .......................................................................................... 11
2.2.3.4. Esteranos ........................................................................................................................................ 13
2.2.3.4.1 Correlação entre os esteranos regulares C27-C28-C29 ................................................ 15
2.2.3.4.2 Razão Hopanos/Esteranos ................................................................................................. 16
2.2.3.4.3 Razão de isomerização dos homohopanos 22S/(22S+22R); ................................. 17
2.2.3.4.4 Razão de isomerização dos esteranos 20S/(20S+20R) ............................................ 17
2.2.3.4.5 Relação C29 esteranos ββ/(ββ+αα) ................................................................................. 17
2.2.3.4.6 Razão βα-Moretanos/αβ-Hopanos e ββ-Hopanos .................................................. 18
2.2.3.4.7 Relações C27 Ts/Tm .............................................................................................................. 18
2.2.4 Hidrocarbonetos Aromáticos ............................................................................................................ 18
2.2.4.1 Relações dos Metil-Naftalenos ................................................................................................. 19
2.2.4.2 Relações dos Metil-Fenantrenos ............................................................................................. 21
2.3 MINA SÃO VICENTE NORTE, JAZIDA LEÃO-BUTIÁ ............................................................... 212
iv
3.0 PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................................................................. 228
3.1 AMOSTRAS ESTUDADAS ........................................................................................................................... 22
3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS .............................................................................................................. 29
3.2.1 Extração em SoxtecTM e fracionamento das amostras ............................................................. 29
3.2.2 Remoção do enxofre elementar ..................................................................................................... 30
3.2.3 Cromatografia Líquida Preparativa à pressão atmosférica .................................................... 32
3.3 ANÁLISE CROMATOGRÁFICA DAS FRAÇÕES F1 E F2 ..................................................................... 33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 35
4.1 HIDROCARBONETOS N-ALCANOS E ISOPRENÓIDES ..................................................................... 36
4.1.1 Grau de Carbonificação ...................................................................................................................... 36
4.1.2 Paleoambiente deposicional ............................................................................................................. 38
4.1.3 Origem da matéria orgânica ............................................................................................................ 38
4.2 HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS .................................................................................................... 39
4.2.1 Hidrocarbonetos Hopanóides .......................................................................................................... 39
4.2.1.1 Grau de Carbonificação .............................................................................................................. 40
4.2.2 Hidrocarbonetos Esteranos .............................................................................................................. 42
4.2.2.1 Paleoambiente deposicional ..................................................................................................... 43
4.4.2.2 Grau de Carbonificação ............................................................................................................. 44
4.2.2.3 Origem da matéria orgânica .................................................................................................... 45
4.3 HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS .................................................................................................... 45
4.3.1 Grau de Carbonificação ...................................................................................................................... 46
4.3.2 Origem da matéria orgânica ............................................................................................................ 50
4.4 PRINCIPAL CLASSE DE PLANTAS QUE FORMARAM O CARVÃO DA MINA SÃO VICENTE
NORTE, JAZIDA LEÃO-BUTIÁ, RS .................................................................................................................. 50
5 CONCLUSÕES ....................................................................................................................................................... 53
6. TRABALHOS FUTUROS ..................................................................................................................................... 55
7. REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................... 56
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Processo de carbonificação da matéria orgânica10 .......................................................... 4
Figura 2: Estruturas da Clorofila, Fitol, Pristano e Fitano – modificado de da Costa19 e
Streit27 ............................................................................................................................................................................. 9
Figura 3: Estrutura do terpanos tricíclicos6 ........................................................................................ 10
Figura 4: Estrutura do terpano tetracíclico6 ........................................................................................ 11
Figura 5: Provável origem dos terpanos pentacíclicos hopanóides (modificado de
Killops6). ........................................................................................................................................................................ 11
Figura 6: Estrutura dos hopanos com (a) identificação dos anéis e carbonos e (b) dois
exemplos de compostos (Killops6 modificado)............................................................................................... 12
Figura 7: Exemplos das estruturas tridimensionais com configurações estereoquímicas
17(H), 21(H) dos hopanos (Killops6 modificado).............................................................................................. 12
Figura 8: Origem de esteranos a partir da redução de esteróis6 ............................................... 14
Figura 9: Exemplo de estrutura de (a) esteranos regulares e (b) esteranos rearranjados
(diasteranos)6 ............................................................................................................................................................. 14
Figura 10: Configurações estereoquímicas 5α(H),14β(H),17β(H), C-20 para os esteranos
(modificado de Killops6) ......................................................................................................................................... 15
Figura 11: Diagrama ternário da concentração relativa dos esteranos C27, C28 e C29 para
estimar o paleoambiente deposicional e tipos de organismos geradores do carvão34
(modificado de Sarmiento36)................................................................................................................................. 16
Figura 12: Naftaleno e identificação das posições α e β45 ........................................................... 20
Figura 13: Estruturas do 2-metil-fenantreno (a), 3-metil-fenantreno (b), 1-metil-
fenantreno (c) e 9-metil-fenantreno (d)17. ....................................................................................................... 22
Figura 14: Localização da Jazida do Leão-Butiá (modificado de Kalkreuth52). ...................... 23
Figura 15: Carta estratigráfica da Bacia do Paraná, com destaque a formação Rio Bonito
(em amarelo), portadora das camadas de carvão (modificado de Milani55). ...................................... 24
vi
Figura 16: Imagem de satélite da Mina São Vicente do Norte – Lat.: -30°8'10.42", Long.: -
52°1'19.64" (modificado de Google Maps58) ................................................................................................... 25
Figura 17: Perfil Típico da Mina São Vicente Norte, mostrando a Formação Palermo e Rio
Bonito, com a identificação das camadas em estudo5. .............................................................................. 26
Figura 18: Fluxo do processo analítico ............................................................................................... 29
Figura 19: Sistema de extração SoxtecTM 2050 FOSS (manual do fabricante) ....................... 30
Figura 20: Coluna de cobre para remoção de enxofre (o escurecimento decorre da
reação do enxofre presente com o cobre metálico) .................................................................................... 31
Figura 21: Coluna de cromatografia líquida, camadas (de baixo para cima): SiO2 (incolor),
Al2O3 (branca) e Na2SO4 (branca). Camada marrom corresponde a amostra recém depositada
(ainda não iniciado o processo de separação) .............................................................................................. 32
Figura 22: Cromatograma típico da fração F1, no caso da amostra CI, apresentando UCM
(mistura complexa não resolvida, do inglês Unresolved Complex Mixture). ....................................... 35
Figura 23: Fragmentograma (m/z=57) da fração F1 da amostra CI sinal (abundância
relativa) X tempo (min) submetidos às condições cromatográficas conforme item 3.4. ................ 36
Figura 24: Distribuição das camadas da Mina São Vicente do Norte das relações
calculadas: Índice Preferencial de Carbonos (IPC), Razão entre o material Terrígeno e Aquático
(RTA), Razão Pristano/Fitano (Pr/Fi), Razão Fitano/n-C18 (Fi/C18), Razão Pristano/n-C17 (Pr/C17). .. 37
Figura 25: Relação Pr/C17 x Fi/C18 com indicação de condição oxidante, matéria orgânica
terrestre ...................................................................................................................................................................... 38
Figura 26: Fragmentograma íon m/z=191 da fração F1 da amostra CI ................................... 39
Figura 27: Razões 22S/(22S + 22R) para o 17α(H),21β(H)-homohopano (C31) e para o
17α(H),21β(H)-bishomohopano (C32). ................................................................................................................. 41
Figura 28: Fragmentograma do íon de razão m/z 217 da amostra CI com os principais
compostos identificados. ...................................................................................................................................... 42
Figura 29: Diagrama ternário relacionando os constituintes 27S βα 13β(H),17α(H)-
diacolestano (20S), 28S αβ 13β(H),17α(H)-24-metil diacolestano (20S) e 29S βα 13β(H),17α(H)-
24-etil diacolestano (20S) ..................................................................................................................................... 44
vii
Figura 30: Razão (C29 S/(S+R)) para 17α(H)-24-etil-colestano e razão C29αββ/(αββ+ααα)
para o C29 etil colestano (20R)............................................................................................................................. 45
Figura 31: Cromatograma dos metil-naftalenos (mN) identificados através do fragmento
íon com razão m/z=142 relativos à amostra I2-3 ......................................................................................... 46
Figura 32: Cromatograma dos dimetil-naftalenos (dmN) identificados através do
fragmento íon com razão m/z=156 para amostra S1-B ............................................................................. 47
Figura 33: Cromatograma dos trimetil-naftalenos (tmN) identificados através do
fragmento íon com razão m/z=170 para amostra I3-A .............................................................................. 47
Figura 34: Razões dos alquil-naftalenos referente às camadas da Mina São Vicente do
Norte ............................................................................................................................................................................ 48
Figura 35: Fragmentograma dos metil-fenantrenos (mF) com íon de razão m/z=192 para
amostra S2/S3. ......................................................................................................................................................... 49
Figura 36: Razões RmF = 2mF/1mF, ImF(1) = (1,5×(2mF+3mF))/(F+1mF+9mF) e ImF(2) =
(3×(2mF))/(F+1mF+9mF) das frações F2.......................................................................................................... 49
Figura 37: Reteno e prováveis intermediários da diagênese (modificado de Killops6) ...... 50
Figura 38: Parte do fragmentograma da fração F2 da amostra I3-B, onde foram extraídos
os íons com relação carga/massa (m/z) 219 e 234. O pico do componente com íon de m/z 216
coelui com o analito de interesse, mas sua interferência pôde ser eliminada pela subtração de
seu espectro. .............................................................................................................................................................. 51
Figura 39: Cadaleno e o seu possível precursor diagenético (modificado de Killops6) ...... 51
Figura 40: Parte do fragmentograma da fração F2 da amostra S1-A, onde foram
extraídos os íons com relação carga/massa (m/z) 183 e 198. Também indicado o espectro de
massas obtido pelo detector de massas, confirmando a identificação do cadaleno. ...................... 52
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela I: Rank dos carvões, características fisico-químicas e petrográficas do carvão
segundo ASTM6 .......................................................................................................................................................... 6
Tabela II: Análises Imediata e Petrográfica e do Poder Calorífico das amostras da mina
São Vicente do Norte5 ........................................................................................................................................... 27
Tabela III -Identificação das camadas e subdivisões, número da amostra da camada
adotado no laboratório (código Laboratório), profundidade do topo e da base, espessura e
coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator). ............................................................................. 28
Tabela IV – Compostos hopanóides identificados nos fragmentogramas razão
carga/massa (m/z) = 191 ....................................................................................................................................... 40
Tabela V – Esteranos identificados nos fragmentogramas de massa com a razão
m/z=217 ...................................................................................................................................................................... 43
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
°C – Graus Celsius.
ASTM - American Society for Testing and Materials
CI – Camada Inferior.
CRM – Companhia Riograndense de Mineração.
d.a.f. – Dry Ash Free; Seco e Livre de Cinzas.
dmN - dimetil-naftaleno.
Ø – diâmetro interno
F1 - fração de hidrocarbonetos alifáticos.
F2 - fração de hidrocarbonetos aromáticos.
F3 - fração de compostos polares.
Fi - fitano.
GC-MS - cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas.
HPA - Hidrocarbonetos Poliaromáticos.
I2-3, I2-2 e I2-1 – Camada inferior 2, com suas subdivisões (3, 2 e 1).
I3-A e I3-B – Camada inferior 3, com suas subdivisões (A e B).
ImF(1) - Índice de metil-fenantrenos 1.
ImF(2) - Índice de metil-fenantrenos 2.
IPC - Índice Preferencial de Carbono.
km – quilômetro.
mF – metil-fenantreno.
mg – miligrama.
μL - microlitro
mL– mililitro.
μm - micrometro
mN - metil-naftaleno.
NIST - National Institute of Standards and Technology
Ph – fitano (phytane)
Pr - pristano.
R0(%) - refletância da vitrinita.
RdmN - Razão de dimetil-naftalenos.
RmF - Razão de metil-fenantrenos.
RmN - Razão de metil-naftalenos.
RTA - Razão entre o material de origem Terrígena e Aquática.
RtmN(1) - Razão de trimetil-naftalenos 1.
RtmN(2) - Razão de trimetil-naftalenos 2.
S1-A, S1-B e S1-C – Camada superior 1, com suas subdivisões (A, B e C).
S2/S3 – Camada superior 2 e 3.
Scan - modo de monitoramento total de íons.
SIM - Selected Ion Monitoring.
TEP - Toneladas Equivalentes de Petróleo.
Tm - 17α(H)-22,29,30-trisnorneohopano.
tmN - trimetil-naftalenos.
Ts - 18α(H)-22,29,30-trisnorneohopano.
UCM - do inglês Unresolved Complex Mixture - mistura complexa não resolvida.
UTM –Universal Transversa de Mercator.
x
CCT - Clean Coal Technologies - Tecnologias limpas de carvão.
HELE - High Efficiency, Low Emisison - Alta eficiência, baixo nível de emissões.
IGCC - Integrated coal Gasification Combined-Cycle – Ciclo de Gaseificação Carvão Integrado e
Combinado.
CCUS - Carbon Capture, Usage and Storage - captura, uso e armazenamento de carbono.
MPa – megapascal, medida de pressão 106 N/m2
ROM - run-of-mine - carvão bruto, obtido diretamente da mina.
xi
RESUMO
Amostras de carvão de um perfil estratigráfico da Mina São Vicente Norte, jazida de
Leão-Butiá, formação Rio Bonito, Bacia do Paraná, Rio Grande do Sul, foram submetidas a
estudo geoquímico orgânico de biomarcadores com o intuito de identificar o grau de
carbonificação, ambiente deposicional e origem de matéria orgânica constituinte do sedimento.
Foram estudadas amostras de seis camadas de carvão e suas subdivisões: camada superior S1
(S1-A, S1-B e S1-C), camada superior S2/S3, camada inferior CI, camada I2 (I2-3, I2-2 e I2-1) e
camada inferior I3 (I3-A e I3-B), as quais foram submetidas à extração com mistura azeotrópica
de diclorometano/metanol em equipamento SoxtecTM. Os extratos livres de S elementar foram
submetidos à cromatografia líquida preparativa, e as frações de hidrocarbonetos alifáticos e
aromáticos, analisadas por cromatografia a gás com detector de massas (GC-MS). As análises
mostraram baixo grau de carbonificação, devido à predominância dos n-alcanos ímpares sobre
os pares e presença marcante dos hopanos ββ com predominância do epímero R sobre o S,
somado às baixas razões dos índices de naftalenos e fenantrenos. Os valores superiores a um
para a razão pristano/fitano, em todas as amostras, indicaram um ambiente deposicional sub-
oxidante, e as correlação das razões Pr/n-C17 x Fi/n-C18 assinalam contribuição de matéria
orgânica majoritariamente terrestre e classificação de querogênio predominantemente do tipo
III. A contribuição majoritária da matéria orgânica terrestre para a formação do carvão também
foi evidenciada pelo perfil de distribuição dos esteranos, com o predomínio dos esteranos C29
sobre os esteranos C27 e C28, bem como a identificação dos compostos reteno e cadaleno,
compostos típicos de vegetais superiores (coníferas), em concordância com os dados da análise
petrográfica. Os dados observados para as amostras de carvão da Mina São Vicente Norte
foram similares às amostras de outras jazidas da mesma formação (Rio Bonito) no Rio Grande
do Sul, como por exemplo, da Jazida de Candiota.
xii
ABSTRACT
Coal samples from a stratigraphic profile of São Vicente Norte Mine, Leão-Butiá Coal Field, Rio
Bonito Formation, Paraná Basin, Rio Grande do Sul, were submitted to a biomarker geochemical
study aiming to identify the degree of carbonification, the depositional environment and the
origin of the organic matter of the sediment. Samples of six coal layers and their subdivisions
have been studied: superior layer S1 (S1-A, S1-B and S1-C), superior layer S2/S3, inferior layer CI,
inferior layer I2 (I2-3, I2-2 and I2-1) and inferior layer I3 (I3-A and I3-B), which were submitted to
SoxhtecTM extraction with dichloromethane/methanol azeotropic mixture. The elemental sulphur
free extracts were submitted to liquid preparative chromatography and the aliphatic and
aromatic hydrocarbons were analyzed by gas chromatography with mass detector (GC-MS). The
analyses showed low degree of carbonification due to the predominance of odd over even n-
alkanes and the striking presence of -hopanes with predominance of R over S epimers added
to the low rates of naphthalene and phenantrene indexes. The values higher than one for the
rate pristane/phytane, in all of the samples, indicate a sub-oxidant deposicional environment
and the correlation of the rates Pr/n-C17 x Ph/n-C18 indicate organic matter contribution, mainly
terrestrial, and predominance of type III kerogen. The predominant contribution of the
terrestrial organic matter for the coal formation was also enhanced by the steranes distribution
profile with the predominance of C29 steranes over C27 and C28 steranes, as well as the
identification of the retene and cadalene, typical compounds of higher plants (conifers)
according to the petrographic data. The data from the São Vicente Norte Mine samples were
similar to that of other coal fields from the same formation (Rio Bonito) located in Rio Grande
do Sul like, for instance, Candiota Coal Field.
1
1 INTRODUÇÃO
O consumo de energia pela humanidade tem se apresentado de forma crescente nos
últimos anos, passando de cerca de oito bilhões de Toneladas Equivalentes de Petróleo (TEP)
em 1990 para pouco mais de treze bilhões TEP em 2015, correspondendo a um crescimento
médio de 200 milhões TEP/ano (ou seja, 2% ao ano)1.
A matriz energética mundial está fortemente baseada em combustíveis fósseis, isto é:
petróleo, gás natural e carvão mineral (86,0% base TEP, em 2015), dos quais o carvão
representa 29,2%1. No Brasil os combustíveis fósseis representam 65,4%, sendo que o carvão
corresponde a somente a 5,9%2. Das reservas brasileiras, o Rio Grande do Sul responde por
89,25%; Santa Catarina, 10,41%; Paraná, 0,32% e São Paulo, 0,02%2.
Considerando que o petróleo é uma riqueza não renovável, com relação de produção
versus consumo em nível mundial para mais 50,7 anos aproximadamente, mantidas as
condições do final de 2015, (no final de 2014 a estimativa era de 52,5 anos) e que, além de seu
uso para fins energéticos, ele também apresenta um uso mais nobre como fonte de matérias-
primas, seria interessante priorizar esse uso mais nobre na indústria petroquímica1.
Para o carvão, a expectativa é que as reservas mundiais comprovadas durem
aproximadamente mais 114 anos, se não houver modificações significativas em relação ao
comportamento observado no final de 20151.
No Brasil, as reservas são constituídas de carvão sub-betuminoso e lignita (não existem reservas
de antracito e betuminoso) e têm uma expectativa de mais de 500 anos, considerando o
mesmo critério (reservas comprovadas versus consumo)2. O consumo por carvão mineral
nacional se distribui em distintos setores, tais como: elétrico (81,1%), papel e celulose (4,9%),
petroquímicos (3,3%), alimentos (2,9%), cerâmico (2,6%), metalurgia e cimento (1,3%) e outros
(2,7%)3. Considerando essas informações, seria interessante considerar o incremento do uso do
carvão na matriz energética brasileira, buscando preservar o petróleo para fins mais nobres e
onde o carvão mineral não apresente condições técnicas de ser empregado.
O carvão se apresenta como uma das formas de produção de energia mais agressivas
ao meio ambiente, da extração até a geração, provocando significativos impactos
2
socioambientais. A ocupação do solo exigida pela exploração das jazidas, por exemplo,
interfere na vida da população, nos recursos hídricos, na flora e fauna local. O efeito mais
severo é o volume de emissão de gases, onde estimativas apontam que o carvão é responsável
por aproximadamente 30% a 35% do total de emissões de CO2, principal agente do efeito
estufa2, bem como do SO2, em função do alto teor de enxofre e, por fim, pela emissão de
particulados e da grande geração de cinzas, decorrente do alto teor de inorgânicos presentes
no carvão brasileiro.
O futuro da utilização do carvão está diretamente atrelado a investimentos em obras de
mitigação e desenvolvimento de tecnologias limpas (Clean Coal Technologies, ou CCT). Para
tanto, se torna necessário o estudo e a caracterização do carvão, buscando identificar a melhor
forma de seu beneficiamento e os recursos técnicos que viabilizem seu uso de forma mais
intensiva, empregando as CCT. Atualmente, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA),
as rotas mais importantes de tecnologias limpas são a combustão pulverizada supercrítica, a
combustão em leito fluidizado, a gaseificação e a combustão em ciclo combinado (Integrated
coal Gasification Combined-Cycle – IGCC)2.
Na combustão pulverizada supercrítica, o carvão é queimado como partículas
pulverizadas, o que aumenta substancialmente a eficiência da combustão e conversão. O
processo de combustão em leito fluidizado permite a redução de enxofre (até 90%) e de
nitrogênio (70%-80%), pelo emprego de partículas calcárias e de temperaturas inferiores ao
processo convencional de pulverização. Já a gaseificação integrada a ciclo combinado consiste
na reação do carvão com vapor de alta temperatura e um oxidante (processo de gaseificação),
o que dá origem a um gás combustível (gás de síntese) de médio poder calorífico. Esse gás
pode ser queimado em turbinas a gás e recuperado por meio de uma turbina a vapor (ciclo
combinado), o que possibilita a remoção de cerca de 95% do enxofre e a captura de 90% do
nitrogênio2.
Usinas energéticas de alta eficiência e baixa emissão (HELE em inglês) movidas a carvão
constituem um primeiro passo fundamental de um longo caminho para emissões quase nulas
de poluentes, com tecnologias de captura de carbono, uso e armazenamento (CCUS)4. As
tecnologias HELE já estão comercialmente disponíveis, podendo reduzir em cerca de 20% as
emissões de gases de efeito estufa, de todo o setor de energia. Aumentando-se a taxa de
eficiência média global das usinas de energia movidas a carvão de 33% para 40%, poder-se-ia
3
reduzir em duas giga toneladas as emissões de CO2. Além da redução de emissões de CO2,
estas plantas de alta eficiência podem reduzir significativamente as emissões de óxidos de
nitrogênio (NOx), dióxido de enxofre (SO2) e particulados4.
A gaseificação também pode ser uma forma de produzir hidrogênio tanto para
consumo automotivo como para células combustíveis de geração de energia. O hidrogênio e
outros gases de carvão podem ser utilizados para alimentar turbinas de geração de energia4.
1.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo geral é a caracterização geoquímica orgânica de um perfil estratigráfico de
carvão da mina São Vicente do Norte, jazida Leão-Butiá (Formação Rio Bonito, Bacia do
Paraná)5, RS, através da identificação de biomarcadores geoquímicos6 (fósseis moleculares, que
guardam semelhança com sua molécula precursora, sintetizada por organismos vivos)
presentes no carvão.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos são:
a) Correlacionar os dados geoquímicos obtidos relativos a grau de maturação, ambiente
deposicional , fonte da matéria orgânica precursora do carvão com os dados de análises
petrográficas;
b) Relacionar as informações desta jazida com de outras jazidas pertencentes a mesma
formação Rio Bonito, já avaliadas em outras trabalhos, buscando evidenciar semelhanças e
correlações.
4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CARVÃO
O carvão é uma rocha sedimentar, formado a partir da deposição e compactação
principalmente de detritos de vegetais superiores terrestres em bacias sedimentares,
geralmente em áreas alagadas (pântanos)7. A maioria dos carvões são formados sob condições
não marinhas8,9. Com o passar do tempo ocorre a evolução através de transformações nesta
matéria orgânica, tendo lugar o processo chamado de carbonificação, que é o enriquecimento
do teor de carbono decorrente do soterramento da matéria orgânica, o qual proporciona o
aumento da pressão e da temperatura na ausência de oxigênio7.
A carbonificação é uma transformação físico-química da matéria orgânica não sendo
um processo isolado, mas sim um processo gradual, onde matéria orgânica acumulada e
soterrada passa por transformações, inicialmente bioquímicas e posteriormente geoquímicas
(Figura 1), onde os processos termodinâmicos associados, ou seja, o aumento da pressão e da
temperatura, durante o tempo geológico, vão transformando a matéria orgânica original,
passando pelos estágios de turfa, linhito, carvão sub-betuminoso, carvão betuminoso até
antracito e grafite7.
Figura 1: Processo de carbonificação da matéria orgânica10
5
A carbonificação ocorre em três estágios. O primeiro estágio, denominado de
diagênese, decorre principalmente da ação de microrganismos. Consiste na decomposição
microbiana da matéria orgânica ainda sob a coluna d’água e na interface sedimento-água, sob
condições brandas de temperatura e pressão, ocorrendo a degradação de grande parte da
matéria orgânica original em moléculas simples tal como CO2, N2 e H2O (condições aeróbias),
depois amoníaco (NH3), sulfeto de hidrogénio (H2S) e metano (CH4) (condições anaeróbias).
Como consequência desta decomposição ocorre a formação de produtos desfuncionalizados
que podem revelar informações sobre as condições químicas predominantes na sedimentação,
como por exemplo, pH e condições oxidantes ou redutoras, entre outras. O conteúdo de água
diminui com a profundidade, ocorrendo a compactação do sedimento, levando a uma
policondensação e insolubilização. Os biopolímeros (lignina, carboidratos, proteínas e lipídios)
são convertidos em geopolímeros, materiais macromoleculares chamados ácidos fúlvicos,
ácidos húmicos ou humina dependendo de sua solubilidade em ácidos e bases9.
O segundo estágio, a catagênese, é a continuação do processo de carbonificação e
segue à medida que o material soterrado sofre um aumento da pressão e temperatura.
Conforme a temperatura sobe, a atividade biológica é decrescida e a energia térmica torna-se
suficiente para quebrar ligações químicas, passando as alterações a ocorrer em função da
pressão e energia térmica crescente, influenciadas pela ação catalítica da matriz inorgânica
presente, ocorrendo a formação do querogênio, fração insolúvel da matéria orgânica presente
nas rochas sedimentares. Além do querogênio, também há formação de uma fração dita
solúvel, composta por hidrocarbonetos e não-hidrocarbonetos derivados de biopolímeros
pouco alterados, e denominada de betume. Alteração térmica da matéria orgânica ainda ocorre
sob condições brandas, com temperaturas da ordem de 50 a 150°C6.
O estágio final da carbonificação, a metagênese, acontece quando ocorrem mudanças
mais profundas em virtude das condições envolvidas, ou seja, aumento da pressão em função
do contínuo soterramento da matéria orgânica sedimentar (incrementos da ordem de 10
MPa/km) e do aumento da temperatura, com gradientes da ordem de 30°C/km, atingindo
valores entre 150 e 200°C, podendo em alguns casos atingir valores próximos a 300°C6. Nesta
etapa ocorre um rearranjo residual do querogênio onde os componentes orgânicos irão
transformar-se em metano, dióxido de carbono e a matéria orgânica pode evoluir até grafite11.
6
O grau de carbonificação do carvão, também chamado de rank, é determinado pelas
propriedades físico-químicas do mesmo e determina quais as condições para a sua mineração,
consequentemente o seu uso. A Tabela I apresenta a classificação dos carvões segundo a
American Society for Testing and Materials (ASTM)6.
Tabela I: Rank dos carvões, características físico-químicas e petrográficas do carvão segundo ASTM6
rank do carvão
(ASTM)
Voláteis
(% base seca)
C fixo
(% base seca)
Refletância da
vitrinita (R0(%))
Umidade
(%)
Poder calorífico
(kcal/kg)
Turfa
~63
~37
~0,25
~75
3500
lignito
~53
~47
~0,4
~30
4600 carvão sub-
betuminoso
42–47
53–58
0,5–0,65
~10
6500 carvão betuminoso
de alta volatilidade
31
69
1,1
8600 carvão betuminoso
de média volatilidad
22
78
1,5
carvão betuminoso
de baixa
volatilidade
14
86
1,9
semi-antracito
8
92
2,5
antracito
2
98
meta-antracito
Além da sistemática de classificação definida pela ASTM, foi desenvolvida outra
metodologia pela Comissão Econômica para a Europa das Nações Unidas (CEE-NU)12 para a
classificação, contribuindo para a caracterização de depósitos de carvão, tendo como base o
uso simultâneo das três principais características dos carvões:
rank (grau de carbonificação) – leva em consideração o teor de umidade, o teor de
hidrogênio e o poder refletor aleatório da vitrinita (R0%),
composição petrográfica – análises do grupo maceral (teores de vitrinita, liptinita e
inertinita), suplementadas, se possível, pelo litotipo.
grade (teor de impurezas) – corresponde ao teor de cinzas
Para os carvões brasileiros, conhecidamente caracterizados por seus elevados
conteúdos de minerais (cinzas), a consideração do grade (impurezas) fornece maiores
informações para a aplicação dos mesmos.
7
2.2 GEOQUÍMICA ORGÂNICA
A Geoquímica Orgânica é o estudo da matéria orgânica de sedimentos, com o intuito
de decifrar a química dos compostos de carbono na geosfera, buscando identificar a origem da
matéria orgânica, sua migração, acumulação, estabilidade e mecanismos de transformação
envolvidos no ambiente deposicional13, procurando estabelecer uma relação com os
componentes dos seres vivos originais7,14,15,16.
Visando a esse objetivo, são utilizados os “biomarcadores” ou “marcadores biológicos”:
moléculas complexas contendo carbono, hidrogênio e outros elementos originados de
organismos vivos. Os biomarcadores são encontrados em sedimentos, rochas e óleos,
apresentando pouca ou nenhuma alteração em sua estrutura quando comparado com as
moléculas de origem presentes nos organismos vivos. Eles podem ocorrer livres no betume ou
quimicamente ligados ao querogênio. Sua complexidade pode revelar importantes informações
a respeito de sua origem (Freitas17 apud Peters & Moldowan).
A maturação (carbonificação) é um parâmetro importante para compreender a evolução
da matéria orgânica na bacia sedimentar. Consiste no avanço das transformações sofridas pelo
querogênio sob condições crescentes de soterramento e temperatura, resultando na formação
de hidrocarbonetos mais leves. A maturação pode ser monitorada por indicadores
geoquímicos, conhecidos como parâmetros de maturação térmica9.
Os parâmetros de maturação térmica são fornecidos pela análise de vários
biomarcadores, tais como os hidrocarbonetos n-alcanos, isoprenóides, terpanos tri, tetra e
pentacíclicos, esteranos e hidrocarbonetos aromáticos.
2.2.1 n-Alcanos
Os n-alcanos, são os marcadores biológicos mais comuns devido a sua baixa
sensibilidade relativa a mudanças estruturais durante os processos geológicos6. Apresentam a
série homóloga com fórmula geral CnH2n+2. Podem ser empregados para investigar aspectos
referentes à matéria orgânica, como origem e o grau de evolução térmica.
Os n-alcanos são os compostos mais abundantes entre os hidrocarbonetos biogênicos.
Sua síntese, seja como componentes essenciais ou subprodutos decorrentes de biossíntese,
ocorre em um número limitado de compostos, dentro de uma estreita faixa de pontos de
8
ebulição, com predominância de cadeias com números ímpares de carbono, característica da
biossíntese de ácidos graxos6.
O grau de carbonificação pode ser estimado pelo Índice Preferencial de Carbono (IPC),
que é uma medida do somatório de hidrocarbonetos n-alcanos com número ímpar de átomos
de carbono em relação aos de número par (Equação 1), na faixa de C24 até C34 (derivados das
ceras vegetais de plantas superiores e oriundos de material orgânico terrestre). Este índice
fornece o grau de transformação da matéria orgânica e pode ser utilizado como indicativo do
grau de maturação, pois a matéria orgânica nos estágios iniciais de maturação apresenta altas
concentrações de n-alcanos com número ímpar de átomos de carbono (logo IPC>1). À medida
que o processo de maturação evolui, ocorrem processos reversíveis de interconversão,
reduzindo o teor de n-alcanos com número ímpar de carbonos, fazendo o IPC tender a
unidade com o aumento grau de maturação19,6.
Equação 1 – Índice Preferencial de Carbono6 𝐼𝑃𝐶 =1
2[∑
𝐶2𝑖+1
𝐶2𝑖
16𝑖=12 + ∑
𝐶2𝑖+1
𝐶2𝑖+2
16𝑖=12 ]
Os n-alcanos podem ainda contribuir na pesquisa da origem da matéria orgânica.
Estudos20 indicam que as cadeias carbônicas oriundas de fitoplâncton apresentam cadeias
predominantemente entre n-C15 a n-C21. Já os n-alcanos associados ao metabolismo de plantas
superiores terrestres apresentam uma primazia de compostos com alta massa molecular, com
cadeias que vão de n-C23 a n-C33, referentes às ceras cuticulares do tecido de revestimento21.
Assim a Razão entre o material Terrígeno e Aquático (RTA)22, Equação 2, pode ser um indicativo
da origem da matéria orgânica sedimentar.
Equação 2 - Razão entre o material de origem Terrígena e Aquática (RTA)22
𝑅𝑇𝐴 =𝐶27+𝐶29+𝐶31
𝐶15+𝐶17+𝐶19
Desta forma, se as fontes aquáticas são dominantes a razão terrestre/aquático (RTA)
calculada é menor que um.
2.2.2 Isoprenóides
Os isoprenóides são moléculas formadas pela união de unidades isopreno C5 (com um
grupo metil ligado a cada quatro átomos de carbono da cadeia principal). Dentre os
biomarcadores isoprenóides, o Pristano (C19) e o Fitano (C20) são os mais comumente
estudados6. A diagênese de diversos organismos autotróficos que contenham fitol em sua
9
composição como o fitoplâncton, o zooplâncton e as bactérias, podem gerar estes
isoprenóides23. O fitol (Figura 2), oriundo da cadeia lateral da clorofila, pode passar por reações
de oxidação e descarboxilação gerando o pristano (C19 - 2,6,10,14-tetrametil-pentadecano),
enquanto que, se passar por reações de hidrogenação e desidratação, originará o fitano (C20 -
2,6,10,14-tetrametilhexadecano) 24,25,26.
Figura 2: Estruturas da Clorofila, Fitol, Pristano e Fitano – modificado de da Costa19
e Streit27
Dessa forma, a condição redutora/oxidante do ambiente deposicional pode ser inferida
através da razão pristano/fitano. Essa razão é considerada como sendo o melhor indicador do
tipo de paleoambiente deposicional, uma vez que variações na concentração destes
isoprenóides poderiam indicar flutuações do potencial redox dos ambientes, durante os
estágios iniciais de decomposição da clorofila, sendo utilizada para diferenciar ambientes sub-
óxidos de anóxicos (redutores). As altas razões pristano/fitano indicariam um ambiente sub-
oxidante, derivado de matéria orgânica de fontes terrestre, e as baixas, um ambiente mais
redutor com matéria orgânica derivada predominantemente de fontes marinhas6,28. Assim uma
razão Pr/Fi<1 indicaria condição anóxica.
Outra informação que os isoprenóides podem proporcionar está relacionada ao grau de
maturação da matéria orgânica, através da relação destes com determinados n-alcanos. Altas
razões pristano/n-C17 e fitano/n-C18 podem indicar matéria orgânica em um estágio imaturo,
10
considerando que os processos geoquímicos sobre a matéria orgânica proporcionariam um
aumento na abundância dos n-alcanos com a carbonificação da matéria orgânica29.
2.2.3 Hidrocarbonetos Policíclicos
2.2.3.1 Terpanos Tricíclicos
A origem dos terpanos tricíclicos de cadeias curtas (C19 a C30) está associada a reações
anaeróbias de algas e bactérias aquáticas, considerados importantes constituintes da
membrana de células de organismos procariontes, evidenciados em rochas sedimentares
marinhas e lacustres, Coimbra25 apud Aquino Neto, 1983.
Os terpanos tricíclicos são hidrocarbonetos saturados, que exibem três anéis e uma
cadeia lateral isoprenóide na posição C-14. Apresentam dois centros quirais no terceiro anel,
nas posições C-13 e C-14, e vários na cadeia lateral isoprenóide, como nas posições C-17 e C-27
(Figura 3), da Costa19 apud Heissler et al.. Possuem séries homólogas que podem variar entre
C19 até C45 e desempenham um importante papel nos estudos geoquímicos de petróleo24. Estes
compostos têm como característica gerar como fragmento principal o íon m/z 191 no espectro
de massas, referente à abertura do terceiro anel, nas ligações C9-C11 e C8-C1424.
Figura 3: Estrutura do terpanos tricíclicos6
A razão dos terpanos tricíclicos/pentacíclicos foi proposta como um parâmetro de
correlação, a qual apresenta valores crescentes em função do aumento da maturação térmica,
Coimbra25 apud Aquino Neto, 1983.
2.2.3.2. Terpanos Tetracíclicos
Os terpanos tetracíclicos (Figura 4) tem sua origem associada à degradação dos
terpanos pentacíclicos. Apresentam séries homólogas menores que as dos tricíclicos, sendo
11
observadas somente variações entre C24-C27. Também podem gerar como fragmento principal
o íon m/z 191 na espectrometria de massas. Podem ser empregados como indicadores da
origem da matéria orgânica sedimentar24, sendo associados à matéria orgânica de origem
terrestre.
Figura 4: Estrutura do terpano tetracíclico6
2.2.3.3. Terpanos Pentacíclicos (hopanos)
Os terpanos pentacíclicos, também conhecidos como hopanos, podem ser derivados de
análogos oxigenados como o C35- bacteriohopanotetrol (Figura 5), precursor encontrado em
diversos microrganismos como bactérias e cianobactérias23.
Figura 5: Provável origem dos terpanos pentacíclicos hopanóides (modificado de Killops6).
Uma série de homólogos de hopanos de C31 a C35, os homohopanos (hopanos com
mais de 30 átomos de carbono são chamados de homohopanos, o prefixo homo se refere à
adição de grupos CH2 à cadeia lateral ligada ao C-21 da molécula do hopano). Os
homohopanos são encontrados em amostras naturais, sintetizados por organismos vivos, e
também em amostras de sedimento recentes (Figura 6). A partir de análises das estruturas
12
tridimensionais da série de homohopanos podem ser obtidas informações sobre a origem
específica e também do grau de maturação da matéria orgânica presente no sedimento31,24,23.
Figura 6: Estrutura dos hopanos com (a) identificação dos anéis e carbonos e
(b) dois exemplos de compostos (Killops6 modificado)
Os homohopanos sintetizados por organismos vivos geralmente são estereoisômeros
do tipo 17β(H),21β(H) e com configuração R no C-22 (configuração 22R). Naturalmente
ocorrem, ao longo do tempo, conversões buscando gerar estruturas termodinamicamente mais
estáveis, com configuração 17α(H), 21β(H) e epímeros 22R e 22S proporcionais, sendo
observados em amostras de sedimentos antigos32. A Figura 7 ilustra as configurações dos
hopanos6,24.
Figura 7: Exemplos das estruturas tridimensionais com configurações estereoquímicas
17(H), 21(H) dos hopanos (Killops6 modificado)
13
Desta forma, a partir da proporção entre os epímeros 22R e 22S da série dos hopanos é
possível estimar a transformação da matéria orgânica. Em sedimentos maduros o índice
hopano, αβ S/(S+R), encontrar-se próximo a 0,50, devido a proporcionalidade gerada entre
estes epímeros 17α(H),βH) 22S e 22R32,33,34, em função do aumento na concentração da
configuração α,β com a maturação do sedimento.
A configuração 17β(H),21α(H) também é chamada de moretano.
Configurações 17α(H),21β(H) e 17β(H),21α(H) de norhopano C29 e hopano C30
geralmente são dominantes em amostras contendo matéria orgânica terrestre, em relação aos
C28 e C29, respectivamente32.
A razão Terpanos Tricíclicos/17α(H)-hopanos aumenta com o aumento da maturação
térmica. Isto ocorre porque mais tricíclicos são liberados do querogênio em altos níveis de
maturação. A origem dos terpanos tricíclicos pode ser o resultado da diagênese de vários
precursores biológicos; logo esta razão pode variar consideravelmente entre óleos de
diferentes rochas geradoras ou diferentes fácies orgânicas da mesma rocha geradora29.
A identificação dos hopanos e moretanos ocorre via espectrometria de massas, através
do íon com a relação carga/massa (m/z) 191, referente a ruptura do anel A e B (ligações entre
os carbonos 9 e 11 e entre os carbonos 8 e 14, no anel C) e do íon com a relação carga/massa
(m/z) 148+R, relativo aos anéis D e E acrescidos da cadeia lateral (R)24 (Figura 6).
Desta forma hopanos com conformação 17α(H),21β(H) apresentam abundância do m/z
191 maior que a abundância do m/z 148+R. Já a conformação 17 β(H), 21β(H) exibe abundância
do m/z 191 menor que a abundância do m/z 148+R. Por fim os 17 β(H),21 α(H) moretanos
mostram abundâncias equivalentes para os íons de m/z 191 e m/z 148+R24.
2.2.3.4. Esteranos
Os esteranos são provenientes da conversão de esterenos, derivados diageneticamente6
da redução de esteróis de organismos eucariontes, principalmente plâncton e vegetais
superiores (Figura 8). Os esteranos de C27 a C29 são os biomarcadores de matéria orgânica
sedimentar com maior complexidade estereoquímica, possuindo assim grande utilidade para a
geoquímica24. Durante a diagênese e maturação, os esteranos são convertidos a estruturas com
14
configurações mais estáveis. As variações de configurações mais significativas ocorrem junto
aos carbonos C-5, C-14, C-17 e C-20.
Figura 8: Origem de esteranos a partir da redução de esteróis6
A família dos esteranos rearranjados, ou diasteranos, também é comumente encontrada
e é aceita a transformação de esteranos regulares para diasteranos, por isomerização ou
rearranjo catalítico. A transformação ocorre com a migração das metilas dos carbonos das
posições C-10 e C-13 para as posições C-5 e C-14 (da Costa19 apud Waples & Machihara, 1991).
Os esteranos estão presentes em menores concentrações que os terpanos24 (Figura 9).
Figura 9: Exemplo de estrutura de (a) esteranos regulares e (b) esteranos rearranjados (diasteranos) 6
Os diasteranos possuem menos variações estruturais que os esteranos, tendo como
principais isômeros os compostos 13β(H),17α(H) e menores quantidades de 13α(H),17β(H),
ambos com quantidades proporcionais de 20R e 20S. A presença de diasteranos é característica
15
de amostras de matéria orgânica maturada, devido a maior estabilidade destes esteranos
rearranjados24.
Os esteranos (Figura 10) inicialmente apresentam misturas de isômeros 5α(H)
(predominante)6 e 5β(H). O aumento da concentração relativa do isômero 5α(H) e a diminuição
do 5β(H) indica maior maturação. Com o aumento da maturidade, ocorrem interconversões
estereoquímicas entre os esteranos, como de 20R para 20S e de 14α(H),17α(H) para
14β(H),17β(H) até que um equilíbrio entre as abundâncias destes estereoisômeros seja
estabelecido32.
Os esteranos geram como fragmento principal o íon m/z 217, referente ao fragmento
contendo os anéis A, B e C, decorrente da ruptura do anel D na ligação entre os carbonos 13 e
17 e na ligação entre os carbonos 14 e 15 (Figura 10)29. Já para a conformação 14β(H) o
fragmento principal o íon m/z 218.
Figura 10: Configurações estereoquímicas 5α(H),14β(H),17β(H), C-20
para os esteranos (modificado de Killops6)
2.2.3.4.1 Correlação entre os esteranos regulares C27-C28-C29
A identificação da origem da matéria orgânica pode ser feita com a quantificação
relativa dos homólogos esteranos mais comuns em rochas e óleos, os esteranos regulares C27,
C28 e C29 e a comparação das distribuições destes esteranos. Apesar da grande combinação de
isômeros teoricamente possíveis, menos de dez estruturas de esteróis de C27 a C29
correspondem a mais de 90% em massa dos esteróis encontrados na natureza34. A
predominância de esteranos C27 caracteriza matéria orgânica de origem principalmente
marinha e esteranos C29 é característica de contribuição predominantemente de vegetais
16
superiores. Os esteranos C28 indicam uma contribuição de algas lacustres. A representação das
concentrações relativas dos esteranos C27, C28 e C29 em um diagrama ternário pode indicar a
origem da matéria orgânica sedimentar (Figura 11)34,35.
Figura 11: Diagrama ternário da concentração relativa dos esteranos C27, C28 e C29 para estimar o
paleoambiente deposicional e tipos de organismos geradores do carvão34
(modificado de Sarmiento36
).
2.2.3.4.2 Razão Hopanos/Esteranos
A razão Hopanos/Esteranos pode indicar a contribuição predominante de organismos
procarióticos (bactérias) ou organismos eucarióticos (algas e plantas superiores), da Costa19
apud Peters et al., 1993. Nessa razão, os esteranos regulares compreendem os compostos C27
5α(H),14α(H),17α(H)-colestano (20S+20R) e o hopano C30 17α,21β(H). Porém essa razão deve ser
utilizada com cautela, pois pode ser afetada pela maturação térmica, da Costa19 apud Peters &
Moldowan, 1993. Em geral, valores baixos (menores ou iguais a quatro) podem significar
deposição de matéria orgânica marinha com maior contribuição de organismos planctônicos
e/ou algas, enquanto altos valores da razão (maior que 7) sugerem deposição de matéria
orgânica terrestre37.
17
2.2.3.4.3 Razão de isomerização dos homohopanos 22S/(22S+22R);
Isomerização no C-22 dos 17α(H)-hopanos C31 a C35 pode ser útil para estimar a
maturação térmica de sedimentos. O precursor biológico possui a configuração 22R que é
gradualmente convertida em uma mistura de diastereoisômeros 22R e 22S. As proporções de
22R e 22S podem ser calculadas para todos ou apenas um homohopano. Porém, os homólogos
C33, C34 e C35 podem apresentar problemas de coeluição39, de modo que os mais utilizados para
calcular essa razão são os homólogos C31 e C32.
A razão 22S/(22S+22R) varia de 0 a 0,6 (valor de equilíbrio 0,57 a 0,62) durante o
processo de maturação térmica32.
Alguns estudos mostram que essa razão pode sofrer interferência de alguns fatores,
como por exemplo, a constituição da bacia sedimentar. Portanto, essa razão deve ser utilizada
com cautela39.
2.2.3.4.4 Razão de isomerização dos esteranos 20S/(20S+20R)
Nos organismos vivos, os precursores esteroidais apresentam somente a configuração R
no C-20. À medida que aumenta a maturação térmica, ocorre a conversão para uma mistura de
configurações R e S. A isomerização no C-20 do C29 5α(H),14α(H),17α(H) aumenta a razão de
zero para aproximadamente 0,5 no equilíbrio32.
Devido à facilidade na análise usando os cromatogramas de massa do íon m/z 217, as
razões de isomerização dos esteranos são calculadas nos compostos C29 (24-etilcolestanos),
visto que os compostos C27 e C28 frequentemente apresentam interferência de coeluição de
picos39.
2.2.3.4.5 Relação C29 esteranos ββ/(ββ+αα)
A isomerização nos C-14 e C-17 nos C29 esteranos regulares 20S e 20R gera um
aumento na razão ββ/(ββ+αα), que varia de valores próximos de zero até 0,7 no equilíbrio,
uma vez que biologicamente é sintetizado somente a forma αα32.
Os gráficos ββ/(ββ+αα) versus 20S/(20S+20R) para os esteranos C29 são eficazes na
caracterização da maturação térmica das rochas geradoras e óleos, sendo muito utilizado no
estudo de sistemas petrolíferos (da Costa19 apud Waples & Machihara, 1991).
18
2.2.3.4.6 Razão βα-Moretanos/αβ-Hopanos e ββ-Hopanos
A configuração biológica 17β(H),21β(H) (ββ) dos hopanóides em organismos é muito
instável e não é encontrada em carvões, a menos que esteja contaminada por matéria orgânica
imatura40.
A razão entre 17β(H),21α(H)-moretanos e seus correspondentes 17α(H),21β(H)-hopanos
decresce com o aumento da maturação de aproximadamente 0,8 em betumes imaturos a
valores da ordem de 0,05 em sedimentos maduros32.
Para esta razão, os compostos C30 são mais utilizados, apesar de essa razão poder ser
calculada utilizando os compostos de C29.
Considerando que a matéria orgânica e o meio deposicional contribuem para este
fenômeno, esta relação deve ser utilizada com cautela, a fim de evitar interpretações
equivocadas40.
2.2.3.4.7 Relações C27 Ts/Tm
Essa razão é muito suscetível à maturidade e à origem, podendo ser um bom indicador
de maturação quando utilizada para avaliar matérias orgânicas de mesma origem39, pois
durante a catagênese, C27 (Tm ou 17α(H)-22,29,30-trisnorhopano) apresenta menor estabilidade
do que o C27 (Ts ou 18α(H)-22,29,30-trisnorneohopano)6, Figura 6. Porém essa razão pode ser
alterada em função do ambiente deposicional.
Há pesquisas que sugerem que valores da razão Ts/Tm são menores em ambientes
hipersalinos e maiores em carbonáticos41, bem como existem evidências de que em matérias
orgânicas de origem terrestre os valores de Tm são maiores e nos óleos de origem lacustre são
baixos. Tais observações vêm se opor a afirmativa de outros autores (da Costa19 apud Seifert &
Moldowan, 1980), que dizem que esta razão só era afetada pela maturação térmica.
2.2.4 Hidrocarbonetos Aromáticos
Os compostos aromáticos são o benzeno e os compostos que se assemelham ao
benzeno em comportamento químico, apresentando nuvens cíclicas de elétrons π
deslocalizados, acima e abaixo do plano da molécula, atendendo a regra de Hückel. Essa
configuração desenvolve um fenômeno chamado de ressonância, proporcionando um aumento
da estabilidade dessas moléculas42.
19
Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos mono, di e tri-metilados apresentam
importância expressiva na geoquímica orgânica, principalmente na avaliação de sedimentos de
avançada maturação térmica43.
A origem dos hidrocarbonetos aromáticos está associada à transformação, chamada de
aromatização, de diversos hidrocarbonetos policíclicos presentes na matéria orgânica
sedimentar que se inicia na diagênese6. Com o aumento da temperatura e pressão devido ao
soterramento contínuo, a aromatização prossegue pelos anéis presentes na molécula,
convertendo inicialmente um anel e se estendendo aos demais durante a catagênese, de forma
que a aromatização dos cicloalcanos é praticamente completa nos carvões húmicos6. Os
hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA), apresentam mais de um anel aromático em sua
molécula, podem ser derivados dos esteróis, resultando em esteranos substituídos, e os
alquilnaftalenos44 podendo ser derivados dos terpenóis.
A distribuição de hidrocarbonetos aromáticos em extratos orgânicos é geralmente
dominada por algumas famílias de hidrocarbonetos, tais como as séries de mono e dimetil-
naftalenos e de mono e dimetil-fenantrenos. As informações que podem ser obtidas a partir do
estudo dos compostos aromáticos apresenta o grande diferencial de poderem ser utilizadas
para matérias orgânicas em estágios avançados de maturação, como o final da catagênese e
início da metagênese, quando outros parâmetros de maturação baseados nos terpanos e
esteranos podem ter suas interpretações comprometidas43.
2.2.4.1 Relações dos Metil-Naftalenos
A distribuição relativa dos derivados do naftaleno, mono, di e trimetilnaftalenos pode
ser utilizada para análise da maturidade de rochas, carvões e petróleo. Há indícios que eles
tenham sido parcialmente derivados de precursores naturais não aromáticos como os sesqui e
triterpenóides45.
A evolução térmica dos metil-naftalenos (mN), dimetil-naftalenos (dmN) e trimetil-
naftalenos (tmN)46 pode ser relacionada às reações de transferência dos grupos metila a
posições termodinamicamente mais estáveis47,48.A identificação destes compostos é feita por
cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG-MS) através da análise dos
fragmentogramas m/z 142 (mN), 156 (dmN) e 170 (tmN). A abundância relativa do naftaleno e
seus alquil-naftalenos variam com o ambiente deposicional45. À medida que ocorre a evolução
20
térmica, acontece o enriquecimento no isômero termodinamicamente mais estável que
corresponde à posição β (Figura 12).
Figura 12: Naftaleno e identificação das posições α e β45
Tem sido desenvolvida uma série de razões que envolvem compostos isômeros de
naftalenos (os mais estáveis no numerador e os menos estáveis no denominador), apresentadas
abaixo.
Equação 3 - Razão de metil-naftalenos49,50 𝛽
α:
𝑅𝑚𝑁 =2𝑚𝑁
1mN
Equação 4 - Razão de dimetil-naftalenos49,50 𝛽𝛽+𝛽𝛽
αα:
𝑅𝑑𝑚𝑁 =2,6𝑑𝑚𝑁 + 2,7𝑑𝑚𝑁
1,5dmN
Equação 5 - Razão de trimetil-naftalenos 1, onde os naftalenos com metilas nas posições α
estão presentes nas matérias orgânicas sedimentares menos maduras45, 46,48. Assim se avalia a
relação 𝛽𝛽𝛽
αβα+ααβ:
𝑅𝑡𝑚𝑁(1) =2,3,6𝑡𝑚𝑁
1,3,5tmN + 1,4,6tmN
Equação 6 - Razão de trimetil-aftalenos 245. Aqui a relação é entre padrões 𝛽𝛽𝛽+𝛼𝛽𝛽
αβα+αββ+ααβ, onde o
isômero 1,2,5 está na matéria orgânica que sofreu menos estresse térmico48,50.
21
𝑅𝑡𝑚𝑁(2) =2,3,6𝑡𝑚𝑁 + 1,3,7𝑡𝑚𝑁
1,3,5tmN + 1,3,6tmN + 1,4,6tmN
2.2.4.2 Relações dos Metil-Fenantrenos
O fenantreno (F), detectado a partir do fragmento m/z 178, e seus quatro derivados
mono-alquilados mF: 3-metil, 2-metil, 9-metil e 1-metil, (m/z = 192), podem ser encontrados em
carvões e óleos, originados principalmente a partir de esteroides e terpenóides43.
As abundâncias relativas do fenantreno e seus isômeros mono-metilados permitem
calcular algumas razões/índices, que podem ser úteis na avaliação do nível de carbonificação da
matéria orgânica sedimentar.
As equações 7, 8 e 9, são índices de razões entre metil-fenantrenos (RmF) e metil-
fenantrenos e fenatreno (ImF(1) e ImF(2)), que auxiliam na determinação do grau de maturação
da matéria orgânica, bem como fornecem informações da origem da mesma.
Esses índices, são influenciados pela origem da matéria orgânica, marinha, lacustre ou
terrestre, visto que a distribuição dos metil-fenantrenos (mF) é dependente da matéria orgânica
de origem. As matérias orgânicas de origem terrestre exibem abundância destacada de 1-mF
(isômero α) e 2-mF (isômero β), ao passo que as de origem marinha apresentam maior
abundância do 9-mF (isômero α) e baixa concentração de 3- e 2-mF (isômero β)43,51.
Equação 7 𝑅𝑚𝐹 =2𝑚𝐹
1𝑚𝐹
Equação 8 𝐼𝑚𝐹(1) =1,5×(2𝑚𝐹+3𝑚𝐹)
(F + 1mF + 9mF)
Equação 9 𝐼𝑚𝐹(2) =3×2𝑚𝐹
(F + 1mF + 9mF)
Índice de metil-fenantrenos – ImF(1) também pode auxiliar na avaliação do estágio de
carbonificação do sedimento. Foi verificado que ocorre um aumento na quantidade relativa de
2- e 3-metil-fenantrenos, em relação aos metil-fenantrenos 1- e 9-, com o aumento da
profundidade e da temperatura, implicando em aumento da maturação. Tal comportamento
22
pode ser devido a maior estabilidade termodinâmica dos 2- e 3-metil-fenantrenos em altas
temperaturas e pelas reações de metilação sofridas pelo fenantreno de predomínio na posição
2, isto é formação do 2-mF. Dessa forma, em amostras termicamente imaturas os isômeros 1-
mF e 9-mF são os mais abundantes43,47. Os compostos substituídos nas posições 2 e 3 são mais
estáveis em função dos ângulos de 60º formados entre suas metilas substituintes e os
hidrogênios vizinhos, que minimizam as repulsões estéreas que instabilizam estruturas
moleculares (Figura 13)6.
Figura 13: Estruturas do 2-metil-fenantreno (a), 3-metil-fenantreno (b),
1-metil-fenantreno (c) e 9-metil-fenantreno (d)17
.
2.3 MINA SÃO VICENTE NORTE, JAZIDA LEÃO-BUTIÁ
A Figura 14 mostra a distribuição das jazidas de carvão no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina52, localizadas na borda sudeste da Bacia do Paraná, com destaque para a área de
estudo, jazida Leão-Butiá.
23
Figura 14: Localização da Jazida do Leão-Butiá (modificado de Kalkreuth52
).
As jazidas do Rio Grande do Sul pertencem à Formação Rio Bonito (Figura 15), que teve
sua gênese durante o Permiano na Bacia do Paraná. Essas jazidas de carvões apresentam rank
variando desde sub-betuminoso (Candiota), até betuminoso alto volátil A e antracito (Santa
Terezinha)53,54.
24
Figura 15: Carta estratigráfica da Bacia do Paraná, com destaque a formação Rio Bonito
(em amarelo), portadora das camadas de carvão (modificado de Milani55
).
O presente estudo foi realizado na Mina São Vicente Norte (Jazida Leão-Butiá, também
chamada de Mina do Leão I,) localizada no Km 18 da BR-290 (Figura 16) no município de Minas
do Leão, RS, a 90 quilômetros de Porto Alegre. Teve sua operação iniciada em 1963, através do
poço P1, com 125 metros de profundidade. A área possui reservas estimadas em seis milhões de
toneladas, passíveis de mineração a céu aberto, conforme a Companhia Riograndense de
Mineração (CRM), que atua desde 2008 no local. Calcula-se uma capacidade de produção
mensal de 30 a 40 mil toneladas de carvão beneficiado, atendendo os mercados no Rio Grande
do Sul, como a Termelétrica São Jerônimo, e Santa Catarina, a Usina Termelétrica Lacerda. A
CRM produz mensalmente cerca de 15 mil toneladas de carvão bruto, obtido diretamente da
mina (ROM), empregando equipamentos tradicionais de terraplanagem em seus trabalhos. O
carvão extraído é transportado até o lavador Eng. Eurico Rômulo Machado, onde sofre um
processo de beneficiamento. Esta planta tem capacidade de beneficiar até 120 t/h de carvão
bruto5,56,57.
25
Figura 16: Imagem de satélite da Mina São Vicente do Norte – Lat.: -30°8'10.42", Long.: -52°1'19.64"
(modificado de Google Maps58
)
A bacia carbonífera Leão-Butiá, apresenta uma área de 1070 km2, com forma alongada
segundo a direção SW-NE. O perfil típico da coluna estratigráfica da Mina São Vicente Norte
está representado na Figura 17.
O carvão da Mina São Vicente do Norte é do tipo betuminoso alto volátil C (Putti5 apud
Muller et al., 1987), com teores de enxofre entre 1 e 5% e de cinzas 56 % em massa, com alguns
setores da jazida apresentando propriedades coqueificantes. A sequência sedimentar que
engloba as camadas de carvão é composta, na base por arenito predominante grosseiro
originado em ambiente meandrante. Em direção ao topo intercalam-se um espesso pacote
pelítico (lacustre), contendo as camadas de carvão de origem palustre. No final do ciclo, passou
a dominar a transgressão marinha (Formação Palermo), que está evidenciada pelo pacote
arenoso sobreposto a toda a sequência (Putti5 apud Piccoli et al., 1986).
26
Figura 17: Perfil Típico da Mina São Vicente Norte, mostrando a Formação
Palermo e Rio Bonito, com a identificação das camadas em estudo5.
27
Tabela II - Análises Imediata e Petrográfica e do Poder Calorífico das amostras
da mina São Vicente do Norte5.
Camada Umidade
(%massa)
Cinza
(%massa)
Matéria Volátil
(%massa)
Carbono
Fixo
(%massa)
R0(%)
Poder
Calorífico
(cal/g)
S1-A 10 43,2 21,2 25,6 0,44 3231
S1-B 9,6 50,4 17,7 22,3 0,4 2664
S1-C 8 52,9 18,3 20,8 0,34 2537
S2/S3 10,7 38,7 20,7 29,9 0,45 3515
CI 8,4 45,3 20,7 25,6 0,45 3182
I2-3 7 45,7 19,7 27,6 0,51 3186
I2-2 6,2 58,6 16,8 18,4 0,49 2201
I2-1 9,7 54,2 18,5 17,6 0,44 2448
I3-A 5,7 56,7 18,8 18,8 0,47 2556
I3-B 7,6 45,3 19,7 27,4 0,47 3345
Tabela II apresenta os dados referentes à Análise Imediata (teor de umidade, teor de
cinzas, teor de matéria volátil e teor de carbono fixo), à análise Petrográfica (Refletância da
Vitrinita – R0(%)) e do Poder Calorífico.
O poder calorífico e a Refletância da Vitrinita podem ser empregados para a estimativa
do rank do carvão5.
28
3.0 PARTE EXPERIMENTAL
3.1 AMOSTRAS ESTUDADAS
As amostras foram coletadas conforme o método de amostragem de canal, da base
para o topo, objetivando uma melhor representatividade das camadas, em uma área próximo à
frente de lavra para evitar um carvão muito oxidado5. A Tabela III apresenta as amostras em
estudo (S1-A, S1-B, S1-C, S2/S3, CI, I2-3, I2-2, I2-1, I3-A e I3-B), com as devidas informações em
relação às suas coordenadas, profundidades e espessuras.
Tabela III: Identificação das camadas e subdivisões, número da amostra da camada adotado no
laboratório (código Laboratório), profundidade do topo e da base, espessura e coordenadas
UTM (Universal Transversa de Mercator)5.
Camada código
Laboratório
Topo
(m)
Base
(m)
Espessura
(m)
Coordenadas
UTM
Superior 1
(S1)
S1-A 12-064 15,99 16,49 0,50
401943 m E
6666263 m N S1-B 12-065 16,69 17,07 0,38
S1-C 12-066 17,87 18,44 0,57
Superior 2 (S2) S2/S3 12-056 43,11 46,44 3,33 401279 m E
6665295 m N
Inferior (I) CI 12-052 53,53 54,97 1,44 401872 m E
6666175 m N
Inferior 2
(I2)
I2-3 12-063 63,93 64,03 0,10
401791 m E
6666136 m N I2-2 12-062 64,23 64,42 0,19
I2-1 12-061 65,44 65,9 0,46
Inferior 3 (I3)
I3-A 12-184 67,61 68,56 0,95 401771 mE
6666049 m N I3-B 12-182 68,66 70,00 1,34
29
3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
As amostras uma vez recebidas no Laboratório de Análise de Carvão e Rochas
Geradoras de Petróleo, do Instituto de Geociências da UFRGS foram britadas, quarteadas,
reduzidas em moinho a uma granulometria inferior a 0,25 mm e armazenadas em potes
plásticos para evitar oxidação.
A sequência analítica está indicada na Figura 18.
Figura 18: Fluxo do processo analítico
3.2.1 Extração em SoxtecTM e fracionamento das amostras
As amostras foram secas em estufa a 50°C por cerca de 12h (overnight). Após foram
tomados aproximadamente 25g (balança analítica Shimadzu AUY220) de cada amostra de
carvão e acondicionados em cartuchos (previamente limpos com uma pré-extração com
diclorometano) e colocados no sistema automático de extração SoxtecTM 2050 FOSS (Figura 19),
no qual foi empregada uma mistura azeotrópica de 92 mL de diclorometano (DCM - CH2Cl2 –
Vetec 99,9% - para análise de resíduo de pesticida) e 8 mL de metanol (MeOH – CH3OH – PA
Vetec 99,9%). A programação para extração consistiu em um aquecimento inicial de 60 minutos
com o cartucho imerso no solvente a 125°C, seguido de aquecimento em refluxo por 5 h,
concluindo com 3 minutos para escoamento do solvente do cartucho. Vários artigos recentes
em diversos países têm empregado esta mesma proporção de solventes, alguns empregando
extração via Sohxlet tradicional59,60, outros empregando equipamento para acelerar o processo
de extração61,62, para a separação do betume da rocha original ou residual no estudo de rochas
30
potencialmente geradoras. O extrato (betume) de cada amostra foi transferido para um frasco
âmbar, deixando evaporar o solvente em capela.
Figura 19: Sistema automático de extração SoxtecTM
2050 FOSS (manual do fabricante)
3.2.2 Remoção do enxofre elementar
Primeiramente, realizou-se a remoção de possíveis traços de enxofre elementar
presentes no extrato. Os extratos foram submetidos à cromatografia em coluna, utilizando-se
cobre metálico granulado previamente ativado.
O processo de ativação do cobre consiste em submeter aproximadamente 15 g de
cobre metálico granulado (marca Leco) a ácido clorídrico concentrado (suficiente para cobrir o
metal) sob agitação por 3 minutos em ultrassom. Após descarta-se o ácido e repete-se o
procedimento por mais duas vezes. A seguir, o metal é lavado, sequencialmente, com duas
porções de metanol, duas porções de acetona e diclorometano (DCM), em quantidade
suficiente para cobrir todo o cobre, sempre sob agitação de 3 min em ultrassom. O cobre
devidamente ativado, é adicionado a uma coluna de vidro (1 cm X 20 cm) (Figura 20) e lavado
com 10 mL de DCM. Após, a amostra é dissolvida em diclorometano, é cuidadosamente
adicionada no topo da coluna, com a torneira fechada. Em seguida a amostra é eluída através
da coluna com aproximadamente 20 mL de DCM, o qual é recolhido em um balão. O extrato
livre de enxofre elementar, é então concentrado em rota evaporador e posteriormente
transferido para um vial e seco sob leve fluxo de N2.
31
Todas as amostras apresentaram enxofre elementar, evidenciado pelo escurecimento do
metal, sendo que para algumas amostras foi necessário repetir o processo de remoção do
enxofre para garantir a condição adequada.
Figura 20: Coluna de cobre para remoção de enxofre (o escurecimento
decorre da reação do enxofre presente com o cobre metálico)
32
3.2.3 Cromatografia Líquida Preparativa à pressão atmosférica
Aproximadamente 100 mg do extrato livre de enxofre
elementar foram agregados com cerca de 1 mL de DCM e
1 g de sílica gel (SiO2) em um béquer, misturados até que
todo o extrato fosse adsorvido pela sílica e todo o solvente
evaporado, formando uma mistura seca homogênea de
coloração castanha escura e totalmente livre do solvente.
Observação: não podem ficar resquícios do solvente DCM
na amostra, uma vez que esse interferirá na separação da
amostra na cromatografia líquida preparativa.
A confecção da coluna de cromatografia líquida
preparativa (Figura 21) empregada para separar as frações
de hidrocarbonetos alifáticos (F1), hidrocarbonetos
aromáticos (F2) e compostos polares (F3) foi realizado de
acordo com o método empregado no Laboratório de
Química Analítica e Ambiental do Instituto de Química,
(baseado em método desenvolvido pelo Centro de
Excelência em Geoquímica - CEGEQ - da PETROBRAS7)
descrito na sequência:
A fase estacionária da coluna é preparada como segue:
1 - Introdução de n-hexano até aproximadamente 75%
da altura da coluna de vidro (30 cm, ø = 1,0 cm), com
pequena porção de lã de vidro na base da coluna e com a
torneira fechada;
2 - Adição cuidadosa de ≈1,5 g de sílica gel (SiO2 –
60/200mesh, previamente ativada por 3 horas a 200°C), para
formação da suspensão solvente e sílica, sobre lã de vidro.
Para melhor empacotamento da sílica na coluna, golpear
levemente a parede da coluna, com batedor (cilindro de
papelão);
Figura 21: Coluna de cromatografia
líquida, camadas (de baixo para
cima): SiO2 (incolor), Al2O3 (branca)
e Na2SO4 (branca). Camada
marrom corresponde a amostra
recém depositada (ainda não
iniciado o processo de separação)
33
3 - Incorporação lenta de ≈3,0 g de alumina (Al2O3 - 70/230 mesh, previamente ativada
por 3 horas a 400°C). Empacotar de maneira análoga à adição da sílica;
4 - Adição de ≈0,5 g de sulfato de sódio anidro (Na2SO4 previamente seco por 12 horas
a 400°C) na coluna (para remoção de qualquer umidade presente na amostra), também
empacotando a coluna.
Obs.: manter solvente acima do nível da fase estacionária durante o processo de preparação da
coluna.
A mistura do extrato foi transferida para a coluna de vidro e o processo de separação
das frações da amostra se baseia na mudança de polaridade do eluente, deslocando os
componentes adsorvidos na fase estacionária, conforme segue:
• F1: eluição com 20 mL de n-hexano, para separação de hidrocarbonetos saturados;
• F2: eluição com 20 mL de uma mistura de n-hexano (60%) e tolueno (40%), para separação de
hidrocarbonetos aromáticos;
• F3 : eluir uma terceira fração, F3, empregando uma mistura de 20 mL de tolueno (60%) e
metanol (40%), para separação de compostos polares com grupos funcionais contendo
nitrogênio, enxofre e oxigênio.
Obs.: esta etapa não foi desenvolvida no presente estudo.
Após a coleta de cada fração em balão de fundo redondo, as mesmas foram pré-
concentradas em rota-evaporador à temperatura ambiente, a um volume aproximado de 1 mL,
sendo então transferida para um frasco (vial) com tampa, para as análises cromatográficas.
Todo o material utilizado nas manipulações das amostras foi previamente submetido a
processos de limpeza e descontaminação com diclorometano grau pesticida.
3.3 ANÁLISE CROMATOGRÁFICA DAS FRAÇÕES F1 E F2
As análises das frações F1 e F2 foram realizadas em um cromatógrafo Agilent, modelo
6890 equipado com injetor automático 7683 e detector espectrométrico de massas modelo
MSD 5973N. Foi empregada uma coluna capilar HP5-MS, fase de muito baixa polaridade (5%
fenil e 95% dimetilpolisiloxano) com 30 m de comprimento, diâmetro interno de 0,25 mm e 25
34
μm de espessura de filme, gás de arraste Hélio (99,999%), com fluxo constante de 1 mL/min
controlados pelo software MSD Chem Station (versão E.02.02.1431).
A análise da composição dos extratos foi realizada através do seguinte método: foi
injetado um volume de amostra de 1 μL, com injetor operando a 290°C no modo Splitless. A
programação do forno inicia a 45°C por um minuto, na sequência aquecimento a uma taxa de
6°C/min até 290°C, permanecendo nesta temperatura por 30 minutos. A temperatura
empregada na interface do detector foi de 290°C. O Detector operando com ionização Impacto
Eletrônico (EI) com 70eV de energia, programado para modo de aquisição Scan, na faixa de 45
a 550 de razão massa/carga (m/z). Para identificação dos componentes foi empregado o
programa NIST Mass Spectral Search Program 2.0.
A identificação dos compostos foi realizada pela comparação dos espectros de massas
obtidos com o banco de dados da biblioteca do National Institute of Standards and Technology
(NIST), com os dados descritos na literatura, e no caso dos n-alcanos, comparação com mistura
padrão nC8 – nC32 (Supelco).
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise das amostras foi semi-quantitativa, empregando as áreas obtidas nos
fragmentogramas para as avaliações e cálculos, sem o empregar padrões externos. Não foram
estabelecidas as quantidades absolutas nem a proporção entre frações extraídas (F1 e F2), pois
algumas amostras apresentaram um nível de enxofre elevado, sendo necessário para algumas
amostras repetir o procedimento de remoção deste componente, resultando em tratamento
diferenciado e perdas maiores para algumas amostras.
Os cromatogramas do Total de Íons (Total Ion) - representação gráfica do sinal
(abundância) X tempo de retenção (minutos) - apresentam perfil geral para a Fração F1 de
todas as amostras, indicada na Figura 22, onde se observa a assim chamada mistura complexa
não resolvida (em inglês Unresolved Complex Mixture - UCM) da Fração F1 da amostra CI.
Figura 22: Cromatograma típico da fração F1, no caso da amostra CI, apresentando UCM (mistura
complexa não resolvida, do inglês Unresolved Complex Mixture).
Em função da complexidade apresentada nos cromatogramas dos extratos foi
necessário filtrar o sinal, extraindo os íons (fragmentos) específicos para os compostos de
interesse. Cada classe de biomarcadores possui pelo menos um fragmento com uma relação
massa/carga adequada, que permite distinguir das demais substâncias que apresentam
resposta no sistema cromatográfico7,24.
36
4.1 HIDROCARBONETOS N-ALCANOS E ISOPRENÓIDES
4.1.1 Grau de Carbonificação
A identificação do n-alcanos e isoprenóides foi realizada através do íon com m/z=57,
íon caraterístico dos mesmos e que apresentou melhor resposta (relação sinal ruído), obtendo-
se o cromatograma (fragmentograma), conforme Figura 23, correspondente à fração F1 da
amostra da Camada Inferior (CI), representativo de todas as amostras.
Figura 23: Fragmentograma (m/z=57) da fração F1 da amostra CI sinal (abundância relativa) X tempo (min),
submetidos às condições cromatográficas conforme item 3.4.
O fragmentograma se mostra unimodal, com predominância dos n-alcanos ímpares
sobre os pares, comportamento este apresentado na fração F1 de todas as amostras analisadas.
As amostras apresentaram n-alcanos na faixa de n-C14 a n-C30, com n-alcano C25 em maior
proporção. Dessa forma, o IPC (Equação 1) foi ajustado empregando somente esta faixa,
conforme equação abaixo.
Equação 1 (ajustada) 𝐼𝑃𝐶 =1
2[∑
𝐶2𝑖+1
𝐶2𝑖
14𝑖=7 + ∑
𝐶2𝑖+1
𝐶2𝑖+2
14𝑖=7 ]
A Figura 24 apresenta a distribuição dos valores do Índice Preferencial de Carbonos
(IPC), a Razão entre o material Terrígeno e Aquático (RTA – Equação 2), a Razão Pristano/Fitano
37
(Pr/Fi), Razão Fitano/n-C18 (Fi/C18), Razão Pristano/n-C17 (Pr/C17) para as amostras em estudo,
conforme distribuição das camadas informadas na literatura5. Tanto o perfil cromatográfico
como os valores de IPC obtidos (maiores que um para todas as amostras), indicam baixo grau
de transformação da matéria orgânica desse carvão.
Não fica caracterizada uma significativa variação do grau de maturação com a
profundidade das amostras, como seria de se esperar. Ainda a relação Pristano/n-C17 (Pr/C17)
maior que um para todas as amostras corrobora com o entendimento de baixo grau de
maturação. Já, a relação Fitano/n-C18 (Fi/C18), apresenta comportamento oposto. Este fato
ocorre devido provavelmente ao favorecimento de formação de pristano, uma vez que
condição sub-oxidante do paleoambiente (item 4.1.2) possa ter interferido neste índice,
diminuindo o teor de fitano presente no carvão, comprometendo sua interpretação. A razão
Fi/C18 menor que um já foi observado em outros estudos17 de carvão.
Figura 24: Distribuição das camadas e profundidade das amostras estudadas, da Mina São Vicente do Norte, e as
relações calculadas: Índice Preferencial de Carbonos (IPC), Razão entre o material Terrígeno e Aquático (RTA), Razão
Pristano/Fitano (Pr/Fi), Razão Fitano/n-C18 (Fi/C18), Razão Pristano/n-C17 (Pr/C17).
38
4.1.2 Paleoambiente deposicional
A razão Pristano/Fitano (Pr/Fi) apresenta valores acima de 5 para todas as amostras,
como pode ser observado na Figura 24, o que caracteriza uma condição do ambiente sub-
oxidante na qual estava inserida a matéria orgânica sedimentar.
4.1.3 Origem da matéria orgânica
Da relação entre os n-alcanos C15, C17 e C19 com os n-alcanos C27, C29 e C31, pode-se
inferir que a origem da matéria orgânica seja predominantemente de origem terrestre,
proveniente de plantas superiores, baseando-se na Razão Terrígeno/Aquático (RTA - Equação
2) maior que um para a maioria das amostras, com exceção de S1-A e S1-C, fato não explicável
até o momento, necessitando de outros estudos para uma explicação plausível.
O diagrama binário da razão Pristano/n-C17 e Fitano/n-C18 (Figura 25) pode apontar
características do meio sedimentar e tipo do querogênio do carvão31. Para as amostras
estudadas, podemos perceber com nitidez a identificação do querogênio do tipo III,
normalmente relacionado à origem terrestre e a condição sub-oxidante paleoambiente
deposicional, em concordância com os índices já analisados.
Figura 25: Relação Pr/C17 x Fi/C18 com indicação de condição oxidante,
matéria orgânica terrestre (modificado de Peter31
)
39
4.2 HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS
4.2.1 Hidrocarbonetos Hopanóides
A identificação dos hidrocarbonetos hopanóides foi realizada através do íon de quebra
característico desses compostos m/z=191, obtendo-se o cromatograma (fragmentograma)
conforme Figura 26, correspondente a fração F1 da amostra CI, sendo o perfil da fração F1 das
demais amostras semelhante.
Figura 26: Fragmentograma íon m/z=191 da fração F1 da amostra CI
A Tabela IV apresenta a identificação dos compostos e seus respectivos íons
moleculares, os quais são empregados para a análise da maturidade da matéria orgânica
sedimentar.
Pode-se verificar (Figura 26) a presença marcante dos hopanóides 17β(H),21β(H), que
são os de menor estabilidade e portanto, indicativos de baixo grau de transformação da
matéria orgânica. Também observa-se a predominância do hopanóide C30 17β(H),21α(H),
comum em matéria orgânica de origem terrestre. Cabe destacar ainda que não foi possível
identificar a presença do hopano Ts que indicaria um estado de evolução térmica mais
adiantado para o carvão. A posição do composto C27 Ts está indicada, mas o mesmo não foi
identificado nas amostras.
40
Tabela IV – Compostos hopanóides identificados nos fragmentogramas
razão carga/massa (m/z) = 191.
Identificação Composto Íon Molecular
Tm 27 αβ 17α(H)-22,29,30-trisnorneohopano 370
27 βα 17β(H),21α(H)-22,29,30-trisnormoretano 370
29 αβ 17α(H),21β(H)-30-norhopano 398
29 Ts 18α(H)-30-norneohopano 398
29 βα 17β(H),21α(H)-30-normoretano 398
30 αβ 17α(H),21β(H)-hopano 412
29 ββ 17β(H),21β(H)-30-norhopano 398
30 βα 17β(H),21α(H)-moretano 412
31S αβ 17α(H),21β(H)-homohopano 22S 426
31R αβ 17α(H),21β(H)-homohopano 22R 426
30 ββ 17β(H),21β(H)-hopano 412
32S αβ 17α(H),21β(H)-bishomohopano 22S 440
32R αβ 17α(H),21β(H)-bishomohopano 22R 440
32 βα 17β(H),21α(H)-bishomomoretano 440
31 ββ 17β(H),21β(H)-homohopano 426
32 ββ 17β(H),21β(H)-bishomohopano 440
33 ββ 17β(H),21β(H)-trishomohopano 454
4.2.1.1 Grau de Carbonificação
Os hopanos decorrentes da síntese nos organismos possuem configuração
17β(H),21β(H) 22R, sendo convertidos em uma mistura 17β(H),21α(H) e 17α(H),21β(H) esta última
com as configurações dos epímeros 22R e 22S. À medida que a matéria orgânica sedimentar
vai avançando a níveis de maturação mais evoluídos, é atingido um equilíbrio termodinâmico
da razão dos hopanos entre os valores 0,57 e 0,62 referente às das configurações 17α(H),21β(H)
41
22R e 17α(H),21β(H) 22S. Os valores encontrados para C31 22S/(22S + 22R) ficaram entre 0,36 e
0,40, enquanto que para C32 22S/(22S + 22R) ficaram entre 0,19 e 0,25 (Figura 27), indicando
que as amostras analisadas representam um carvão com baixo grau de maturação
(carbonificação), reforçando os dados da presença dos ββ nas amostras. Não foi possível fazer
uma correlação entre a tendência dos valores estimados e a profundidade das amostras.
As relações C27 Ts/Tm (item 2.2.3.4.7) não foram calculadas, pois não foi possível
identificar a presença do hopano Ts nos extratos das amostras analisadas.
Figura 27: Razões 22S/(22S + 22R) para o 17α(H),21β(H)-
homohopano (C31) e para o 17α(H),21β(H)-bishomohopano (C32).
42
4.2.2 Hidrocarbonetos Esteranos
A análise dos esteranos foi realizada através do monitoramento do íon m/z=217, íon de
quebra característico de tais compostos. A Figura 28 apresenta o perfil do fragmentograma
obtido para amostra CI, sendo o mesmo similar para as demais amostras em estudo, cuja
identificação dos compostos se encontra na Tabela V. Foram identificados esteranos na faixa de
C27 a C29 e, segundo a Figura 28, verifica-se a predominância dos esteranos C29 sobre os C28 e
C27, indicando a contribuição predominante de vegetais superiores em comparação com outras
fontes. O cromatograma indica também que os teores das configurações βα e αα (referentes ao
C-13 e C-17) são predominantes, característico para carvões com baixo estágio de
carbonificação. Apesar disto não foi possível identificar esteranos 5(β), característicos de
estágios iniciais de carbonificação, possivelmente devido a coeluições com outros
componentes.
Figura 28: Fragmentograma do íon de razão m/z 217 da amostra CI com os principais compostos identificados.
Os esteranos identificados nas amostras de carvão da Mina São Vicente do Norte, suas
massas moleculares e íons de fragmentação característicos estão indicados na Tabela V.
43
Tabela V – Esteranos identificados nos fragmentogramas de massa com a razão m/z=217.
4.2.2.1 Paleoambiente deposicional
Na Figura 29 está indicado o diagrama ternário dos esteranos C27 βα 13β(H),17α(H)-
diacolestano (20S), C28 αβ 13β(H),17α(H)-24-metil diacolestano (20S) e C29 βα 13β(H),17α(H)-24-
etil diacolestano (20S). Para a construção do diagrama foram consideradas as áreas dos picos
de cada um dos três componentes no fragmentograma de cada amostra e ajustadas
proporcionalmente de forma a somarem 100 (processo de normalização), sendo então
indicado, para cada amostra, o ponto correspondente no diagrama (Figura 29).
A partir do diagrama é possível inferir a origem predominante da matéria orgânica
sedimentar.
A disposição de todas as amostras no diagrama sugere que a matéria orgânica
predominante corresponde a vegetais superiores de um ambiente deposicional terrestre,
coerente com as outras informações identificadas nos demais biomarcadores.
Identificação Composto Íon Molecular
27S βα 13β(H),17α(H)- Diacolestano (20S) 372
27R βα 13β(H),17α(H)- Diacolestano (20R) 372
28S αβ 13β(H),17α(H)-24-metil diacolestano (20S) 386
29S βα 13β(H),17α(H)-24-etil diacolestano (20S) 400
29R βα 13β(H),17α(H)-24-etil diacolestano (20R) 400
29S ααα 5α(H), 14α(H), 17α(H)- 24-etil colestano (20S) 400
29R αββ 5α(H), 14β(H), 17β(H)- 24-etil colestano (20R) 400
29S αββ 5α(H), 14β(H), 17β(H)- 24-etil colestano (20S) 400
29R ααα 5α(H), 14α(H), 17α(H)- 24-etil colestano (20R) 400
44
Figura 29: Diagrama ternário relacionando os constituintes 27S βα 13β(H),17α(H)- diacolestano (20S),
28S αβ 13β(H),17α(H)-24-metil diacolestano (20S) e 29S βα 13β(H),17α(H)-24-etil diacolestano (20S)
4.4.2.2 Grau de Carbonificação
A avaliação do grau de maturação da matéria orgânica sedimentar a partir de
hidrocarbonetos esteranos (Tabela V) se baseia no mesmo processo da relação dos isômeros R
e S empregado com os hopanos.
Após a identificação dos compostos de interesse foram calculadas as razões, que estão
representados na Figura 30.
A razão C29 𝛼𝛽𝛽
𝛼𝛼𝛼+𝛼𝛽𝛽 se apresentou abaixo de 0,35 para todas as amostras, muito menor
que o valor de equilíbrio de 0,75 indicado na literatura, sinalizando carvão com baixo grau de
carbonificação.
45
De forma análoga a relação C29 20𝑆
20𝑆+20𝑅 também ficou bem abaixo do valor de equilíbrio
referenciado (0,52-0,55) reforçando a indicação de matéria orgânica com baixo grau de
maturação.
Figura 30: Razão (C29 S/(S+R)) para 5α(H), 14α(H), 17α(H)- 24-etil colestano
e razão αββ/(αββ+ααα) para o C29 etil colestano (20R)
4.2.2.3 Origem da matéria orgânica
Considerando a Figura 29 (diagrama ternário) é possível inferir a origem como sendo
essencialmente terrestre, com contribuição de vegetais superiores, pois todas as amostras
analisadas ficaram posicionadas próximas ao vértice direito inferior.
4.3 HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS
Os hidrocarbonetos aromáticos se concentram na fração F2, pois são deslocados ao se
empregar uma mistura mais polar na cromatografia líquida.
46
A resposta destes compostos nos cromatogramas é significativamente mais alta que a
dos hidrocarbonetos alifáticos. Enquanto que a abundância máxima obtida para o íon m/z=57
(alcanos Figura 23) foi da ordem de 140 mil, para o íon m/z=178 a abundância máxima chegou
à faixa de um milhão, sugerindo uma maior concentração de biomarcadores aromáticos nos
extratos de carvão.
As informações reveladas pelos derivados alquilados do naftaleno dizem respeito
essencialmente ao grau de maturação (carbonificação) da matéria orgânica sedimentar.
Já o fenantreno e seus derivados alquilados podem também elucidar dados sobre a
origem da matéria orgânica.
4.3.1 Grau de Carbonificação
À medida que a matéria orgânica evolui em sua carbonificação seus componentes
passam por transformações, buscando estruturas termodinamicamente mais estáveis. Assim
para os compostos aromáticos os isômeros com metilas nas posições β são mais evoluídos que
os com metilas nas posições α. A partir destas considerações que são calculadas as razões entre
esses isômeros para estimar o estágio de carbonificação da matéria orgânica.
Para a diferenciação e quantificação dos metil-naftalenos foi empregado o íon com
razão m/z=142 para os metil-naftalenos, característico para estes compostos. A Figura 31
apresenta o fragmentograma típico das amostras em estudo.
Figura 31: Cromatograma dos metil-naftalenos (mN) identificados através do fragmento íon com razão
m/z=142 relativos à amostra I2-3. Este perfil se apresentou na maioria das amostras, mas não para todas
as amostras analisadas
47
Para o monitoramento dos dimetil-naftalenos foi empregado o íon com razão m/z=156,
representativo destes compostos. A Figura 32 apresenta o fragmentograma análogo aos
obtidos com as amostras estudadas.
Figura 32: Cromatograma dos dimetil-naftalenos (dmN) identificados através do fragmento
íon com razão m/z=156 para amostra S1-B
Para a identificação dos trimetil-naftalenos foi empregado o íon com razão m/z 170 que
caracteriza esta classe de compostos, cujo cromatograma da amostra I3-A está representado na
Figura 33 e é similar aos encontrados para as demais amostras.
Figura 33: Cromatograma dos trimetil-naftalenos (tmN) identificados através do
fragmento íon com razão m/z=170 para amostra I3-A
Considerando as relações entre os constituintes aromáticos naftalênicos, como a razão
entre os metil-naftalenos, entre os dimetil-naftalenos e entre os trimetil-naftalenos é possível
inferir o estágio de maturação da matéria orgânica, verificando a conversão dos isômeros para
48
as conformações termodinamicamente mais estáveis. Assim o aumento da maturação da
matéria orgânica nos sedimentos conduz a um enriquecimento dos isômeros com a metila na
posição 2 (β) que é mais estável.
Figura 34: Razões dos alquil-naftalenos referente às camadas da Mina São Vicente do Norte
Ao avaliar os resultados das estimativas das razões dos alquil-naftalenos nas amostras
(Figura 34) verifica-se que os baixos valores sugerem um baixo grau de carbonificação da
matéria orgânica e que não é possível perceber que esta condição varie significativamente com
a profundidade dos sedimentos. Também não é possível perceber nenhum padrão entre a
variação da proporção dos isômeros entre as amostras em função da profundidade.
Para algumas amostras as razões dos alquil-naftalenos não se apresentaram coerentes
com as outras indicações do grau de maturidade da matéria orgânica. Esta discrepância pode
ser atribuída ao fato destes marcadores serem mais apropriados à avaliação de matéria
orgânica em estágios mais avançados de maturação. Estes biomarcadores tem sido
empregados de forma mais intensa para a análise da maturação em amostras de petróleos.
Outra ferramenta para examinar o nível de maturação térmica da matéria orgânica
presente nos sedimentos é a relação entre o fenantreno e seus derivados metilados, cujo perfil
está exemplificado na Figura 35.
49
Figura 35: Fragmentograma dos metil-fenantrenos (mF) com íon de razão m/z=192 para amostra S2/S3.
O Índice de Metil Fenantrenos 1 - ImF(1) - obtido da equação 7 e o Índice de Metil
Fenantrenos 2 - ImF(2) obtido da equação 8 para as amostras das camadas estão apresentados
na Figura 36, correspondendo a valores típicos de sedimentos imaturos, ou seja baixo grau de
carbonificação.
A relação entre o 2-metil-fenantreno (2-mF) e o 1-metil-fenantreno (1-mF) identificada
por RmF, indicada na Figura 36 reforça a percepção do baixo grau de carbonificação das
amostras do carvão em estudo.
Figura 36: Razões RmF = 𝟐𝒎𝑭
𝟏𝒎𝑭, ImF(1) =
𝟏,𝟓×(𝟐𝒎𝑭+𝟑𝒎𝑭)
𝑭+𝟏𝒎𝑭+𝟗𝒎𝑭 e ImF(2) =
𝟑×(𝟐𝒎𝑭)
𝑭+𝟏𝒎𝑭+𝟗𝒎𝑭 das frações F2.
50
4.3.2 Origem da matéria orgânica
Os compostos aromáticos metil-fenantrenos permitem ainda avaliar a origem da
matéria orgânica presente nas rochas sedimentares. A maior contribuição de organismos
planctônicos e/ou algas (deposições de origem marinha) proporciona predominância do
isômero 9-mF e baixa concentração dos isômeros 3-mF e 2-mF. Já a origem terrestre pode
estar associada a uma superioridade dos isômeros 1-mF e 2-mF43.
Avaliando os dados da integração cromatográfica, considerando as áreas dos picos, as
proporções das somas dos isômeros 1-mF e 2-mF representam aproximadamente o dobro da
contribuição do 9-mF, sugerindo a origem terrestre, o que reforça o parecer obtido com os
esteranos.
4.4 PRINCIPAL CLASSE DE PLANTAS QUE FORMARAM O CARVÃO DA MINA SÃO VICENTE NORTE, JAZIDA LEÃO-BUTIÁ, RS
Alguns compostos específicos podem ser muito úteis no auxílio da indicação da origem
da matéria orgânica sedimentar. Assim, alguns biomarcadores, cujas transformações
diagenéticas, como desfuncionalização, como por exemplo, descarboxilação, desidrogenação e
aromatização39, podem subsidiar o estudo e apoiar suas conclusões.
O reteno (Figura 37), como outros diterpenóides, é um biomarcador associado a resinas
e tecidos de vegetais superiores24. Assim, sua identificação na fração F2 (hidrocarbonetos
aromáticos) de todas as amostras analisadas apoia o entendimento de significativa contribuição
de vegetais superiores, mais especificamente das coníferas, na formação da matéria orgânica
sedimentar39, dos carvões da Mina São Vicente do Norte.
Figura 37: Reteno e prováveis intermediários da diagênese (modificado de Killops6)
51
Sua identificação foi possível a partir dos fragmentos massa/carga (m/z) 219 e 234,
confirmado com o espectro do banco de dados do sistema cromatográfico. É possível perceber
na Figura 38 a coeluição com outro constituinte da amostra extraído nesta fração (F2) que
dificulta identificação deste biomarcador no extrato das amostras, comportamento análogo ao
observado em todas as amostras ensaiadas.
Figura 38: Parte do fragmentograma da fração F2 da amostra I3-B, onde foram extraídos os íons com
relação carga/massa (m/z) 219 e 234. O pico do componente com íon de m/z 216 coelui com o analito de
interesse, mas sua interferência pôde ser eliminada pela subtração de seu espectro.
Outro biomarcador que também é um indicador da presença de vegetais superiores na
matéria orgânica sedimentar, é o cadaleno (Figura 39), cuja origem é atribuída ao cadieno24,
composto também identificado em todas as amostras, na fração de aromáticos.
Figura 39: Cadaleno e o seu possível precursor diagenético (modificado de Killops6)
52
Sua identificação foi possível a partir dos fragmentos massa/carga (m/z) 198 e 183,
confirmado com o banco de dados do sistema cromatográfico e com dados de literatura24,
sendo apresentado o cromatograma e espectro pela Figura 40, similar ao obtido em todas as
amostras.
Figura 40: Parte do fragmentograma da fração F2 da amostra S1-A, onde foram extraídos os íons com
relação carga/massa (m/z) 183 e 198. Também indicado o espectro de massas obtido pelo detector de
massas, confirmando a identificação do cadaleno.
53
5 CONCLUSÕES
De acordo com os dados geoquímicos, o baixo grau de carbonificação do carvão da
Mina São Vicente Norte ficou caracterizado pela predominância dos n-alcanos de cadeias
ímpares sobre os pares; pela presença marcante dos hopanóides C29, C30 e C31 de configuração
bb, 22R, menos estáveis, oriundos da biossíntese; pela significativa presença dos esteranos
C29 ααα e pelos baixos valores das razões dos trimetil-naftalenos e dos índices dos metil-
fenantrenos. Cabe ressaltar que as razões dos metil e dimetil-naftalenos não apresentaram a
mesma concordância, e portanto, cuidados devem ser tomados em relação às mesmas. Tais
dados experimentais permitiram a confirmação dos resultados de ensaios químicos e
petrográficos publicados na literatura5, que qualificou o presente carvão, como sub-betuminoso
C e B, pelos baixos valores da refletância da vitrinita (R0(%) de 0,34 a 0,51 - indicativo de baixo
grau de carbonificação). Segundo Silva63, esse carvão se tipifica como um carvão
parabetuminoso (ou de grau médio D) de categoria inferior. Quanto ao ambiente deposicional,
a razão pristano/fitano mostrou característica de um ambiente sub-óxido.
No presente estudo, a contribuição predominantemente terrestre foi evidenciada
através da contribuição majoritária do n-alcano C25 seguido pelo C27, bem como pelo diagrama
ternário de esteranos, com predominância do esterano C29, compostos provindos de
contribuição tipicamente terrestre. Somado a estes compostos, a presença de reteno e
cadaleno em todas as amostras corroboraram para tal afirmação, visto que tais compostos são
marcadores de vegetais superiores (coníferas). Outro fator que evidenciou a contribuição
terrestre foi o diagrama binário fitano/n-C18 versus pristano/n-C17 que mostrou as amostras
estudadas como querogênio predominante tipo III, o qual é majoritariamente formado a partir
de plantas vasculares6. Tais resultados reforçam o indicativo que o estudo geoquímico realizado
para petróleo pode ser aplicado ao carvão, visto que há concordância dos mesmos em relação
aos dados petrográficos e da análise Rock Eval, todos apontando para as características da
matriz carvão.
Foi verificado, que a partir dos dados determinados pela análise dos biomarcadores,
não foi possível evidenciar alguma correlação entre o aumento de profundidade das camadas
54
de carvão e o grau de transformação térmica da matéria orgânica, tal como observado em
trabalhos da literatura47,48. Tal comportamento pode estar associado ao fato de que, as
diferenças entre as profundidades das camadas da mina estudada, não terem sido suficientes
para provocar mudanças perceptíveis quanto ao grau de carbonificação nas amostras
analisadas. A mina São Vicente do Norte apresenta somente 54 m de diferença entre a camada
superior (S1-A) da camada inferior (I3-B), enquanto que a correlação do aumento do grau de
carbonificação com a profundidade foi observada, de forma muito clara, em trabalhos cujas
diferenças de profundidades das amostras foram da ordem de dois a quatro mil metros47,48.
55
6. TRABALHOS FUTUROS
Como possibilidade para trabalhos futuros há espaço para avaliar as Jazidas de Iruí e
Capané no estado do Rio Grande do Sul, para as quais não consta na literatura qualquer dado
geoquímico orgânico. Outra oportunidade a ser avaliada é a análise de compostos sulfurados,
tais como os dibenzotiofenos e seus compostos metilados.
56
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