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Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr-Nb por microscopia eletrônica de transmissão para aplicações nucleares Amanda de Vasconcelos Varela Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira. Orientador(es): Luiz Henrique de Almeida Carla Brandão Woyames Rio de Janeiro Março de 2015

Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

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Caracterização microestrutural de uma liga experimental

Zr-Nb por microscopia eletrônica de transmissão para

aplicações nucleares

Amanda de Vasconcelos Varela

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Materiais da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do título de Engenheira.

Orientador(es): Luiz Henrique de Almeida

Carla Brandão Woyames

Rio de Janeiro

Março de 2015

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CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE UMA LIGA EXPERIMENTAL

Zr-Nb POR MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO PARA

APLICAÇÕES NUCLEARES

Amanda de Vasconcelos Varela

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA DE MATERIAIS DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA DE

MATERIAIS.

Examinado por:

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO de 2015

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Varela, Amanda de Vasconcelos

Caracterização Microestrutural de uma Liga Experimental

Zr-Nb por Microscopia Eletrônica de Transmissão para

Aplicações Nucleares/ Amanda de Vasconcelos Varela. – Rio

de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

IX, 71 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Luiz Henrique de Almeida

Carla Brandão Woyames

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Materiais, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 69 - 71.

1. Ligas Zr-Nb. 2. Reator nuclear. 3. Caracterização

microestrutural 4.Microscopia eletrônica de transmissão

I. Almeida, Luiz Henrique. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de

Materiais. III. Caracterização Microestrutural de uma Liga

Experimental Zr-Nb por Microscopia Eletrônica de

Transmissão para Aplicações Nucleares.

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À minha avó Cirléa Varela e minha pastora Jane Germano, que me fazem tanta falta.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar a Deus sempre, pela vida, pela saúde e a benção de poder

finalizar esta etapa que tanto esperei.

À minha mãe Sonia, minha maior incentivadora em toda a caminhada acadêmica.

Seu apoio, exemplo e participação ativa foram essenciais para minhas conquistas.

Ao meu pai Ruy, por me cobrar disciplina desde pequena para que eu pudesse

alcançar meus objetivos e por me mostrar que não há maior valor que a presença de Deus

em nossas vidas.

Ao meu “pai-drasto” Marco Aurélio, pelo carinho e apoio de anos, e por sua

contribuição valiosa para meu amadurecimento como pessoa, cidadã e estudante.

Ao meu marido Marcelo, por estar ao meu lado desde o início, apoiando minhas

decisões em amor.

À minha avó Maria Lúcia, por ser minha fã número um.

Ao meu professor, chefe e orientador Luiz Henrique de Almeida, pelas diversas

oportunidades de aprendizado que me permitiram evoluir durante a graduação e ajudar a

desenvolver meus objetivos profissionais, pela confiança, incentivo, exemplo e amizade.

Minha formação não seria igual sem tudo isso.

À minha co-orientadora Carla Woyames pela atenção, disponibilidade, dicas e

suporte necessário à realização desse projeto.

Ao professor Leonardo Sales, pelo apoio neste trabalho através de seu tempo,

conhecimento e muita conversa. Não houve uma vez que não pude contar com seu

“socorro”.

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Ao professor Jean Dille (ULB – Bruxelas, Bélgica), pela utilização do MET e ajuda

na interpretação das imagens.

À amiga e madrinha de casamento Gabriella Roza, pois não reconheço essa

faculdade sem ela. Do início ao fim, companheira em todos os sentidos que possa ter a

palavra. Além disso, é um exemplo de dedicação e determinação para mim.

Ao amigo e padrinho de casamento Raphael Gomes, por cada dia que não deixou

passar sem que eu pudesse rir, trazendo nos meus dias mais estressantes os momentos de

alívio. Nossa amizade é algo inexplicavelmente especial para mim.

À coordenadora Renata Simão, que sempre esteve disponível para resolver os

problemas reais e psicológicos dos alunos preocupados, inclusive eu, com muito boa

vontade.

Ao amigo Rodrigo, que participou ativamente dos meus meses mais complicados de

projeto, dando sempre aquele apoio moral e, quando preciso, braçal também.

Aos amigos da Metalmat que me incentivaram e acompanharam em alguns ou todos

os meus anos de graduação, especialmente à Tamirys e Ananda.

Ao corpo docente, aos técnicos e funcionários do DEMM, pelos ensinamentos ou

pela assistência. Especialmente a Sonia Lira, Oswaldo e Nelson.

Por fim, aos familiares que sempre torceram pela minha vitória.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira de Materiais.

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE UMA LIGA EXPERIMENTAL

Zr-Nb POR MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO PARA

APLICAÇÕES NUCLEARES

Amanda de Vasconcelos Varela

Março/2015

Orientadores: Luiz Henrique de Almeida e Carla Brandão Woyames

Curso: Engenharia de Materiais

As ligas de zircônio são largamente utilizadas em reatores nucleares como

materiais constituintes de elementos combustíveis. Essas ligas detém excelentes

propriedades mecânicas a altas temperaturas, boa resistência à corrosão e transparência

ao fluxo de nêutrons, característica importante na eficiência da produção de energia

nuclear. Ligas zircônio-nióbio tem sido estudadas em diferentes composições e condições

de processamento em busca de melhores propriedades.

O objetivo deste trabalho foi caracterizar uma liga experimental contendo nióbio e

pequenas adições de outros elementos após a realização de uma sequência de tratamentos

termomecânicos de forjamento, laminação a quente e a frio. Imagens de microscopias

ótica e de varredura foram obtidas para confirmar o estágio de processamento. Sabendo

que a microestrutura comercial consiste em precipitados esféricos de Nb-β na matriz de

Zr-α, foi empregada a microscopia eletrônica de transmissão para analisar a presença e

distribuição destes precipitados. Adicionalmente, foram realizados ensaios de

microdureza e estimativa de tamanho de grão, comparando-os com a literatura. O

tratamento de recozimento foi aplicado em uma amostra do material, iniciando nova

sequência de resultados para a condição recozida.

Os resultados mostraram que o processamento original é capaz de produzir o

precipitado Nb-β, no entanto, encontra-se distribuído entre os contornos de grãos. A

composição foi, provavelmente, responsável pela produção de grãos ultrafinos, que

apresentaram dureza satisfatória. O tratamento de recozimento causou redução na dureza

e apresentou microestrutura parcialmente recristalizada.

Palavras-chave: zircônio, microestrutura, microscopia eletrônica de transmissão

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Materials Engineer.

MICROSTRUCTURAL CHARACTERIZATION OF AN EXPERIMENTAL Zr-Nb

ALLOY BY TRANSMISSION ELECTRON MICROSCOPY FOR

NUCLEAR APPLICATIONS

Amanda de Vasconcelos Varela

March/2015

Advisors: Luiz Henrique de Almeida e Carla Brandão Woyames

Course: Materials Engineering

Zirconium alloys are widely used in nuclear reactors as part of fuel elements.

These alloys have excellent mechanical properties at high temperatures, good corrosion

resistance and low neutron absorption cross-section, essential for an efficient production

of nuclear energy. Zirconium-niobium alloys have been studied in different compositions

and processing conditions, targeting better properties.

The purpose of this research was to characterize an experimental alloy, with

niobium and other elements addition, after a processing sequence of forging, hot rolling

and cold rolling. Optical and scanning microscope images were acquired to validate the

processing steps. Knowing that the commercial microstructure consists in Nb-β

precipitates within the Zr-α matrix, transmission electron microscopy was performed to

analyze the presence and distribution of those precipitates. Additionally, hardness tests

and grain size estimation were carried out, comparing to those in literature. Annealing

was also performed in a sample, beginning a new sequence of results in the annealed

condition.

The results have shown that the original processing produces Nb-β, however, they

are spread between grain boundaries. The composition of the alloy was, probably,

responsible for producing ultrafine grains, which achieved expected hardness. It was

found that annealing caused decrease in hardness and led to a partially recrystallized

microstructure.

Keywords: zirconium, microstructure, transmission electron microscopy

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Sumário

1. Introdução .................................................................................................................. 1

2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 4

2.1 A energia nuclear .................................................................................................... 4

2.2 Necessidade de criar componentes nacionais .................................................... 8

2.3 Aplicação das ligas de Zr .................................................................................. 13

2.4 Sistemas Zr-Nb ................................................................................................... 14

2.5 Uso da microscopia eletrônica de transmissão ................................................ 21 2.5.1 O equipamento .............................................................................................. 21

2.5.2 Funcionamento básico ................................................................................... 21

2.5.3 Preparação de amostras ................................................................................. 23

2.5.4 Difração ......................................................................................................... 29

2.5.5 EDS ............................................................................................................... 33

2.5.6 Aplicação em ligas Zr-Nb ............................................................................. 34

3. Materiais e métodos ................................................................................................. 40

3.1 Materiais estudados ........................................................................................... 40

3.2 Processamento das amostras ............................................................................ 40

3.3 Microscopia ótica (MO) .................................................................................... 42

3.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) .................................................. 43

3.5 Microscopia eletrônica de transmissão (MET) ............................................... 44

3.6 Dureza ................................................................................................................. 47

3.7 Tamanho de grão ............................................................................................... 48

4 Resultados e Discussão ............................................................................................. 48

4.1 Microscopia ótica ............................................................................................... 48

4.2 Microscopia eletrônica de varredura ............................................................... 50

4.3 Microscopia eletrônica de transmissão ............................................................ 51

4.4 Dureza ................................................................................................................. 61

4.5 Tamanho de grão ............................................................................................... 62

5 Conclusões ................................................................................................................. 66

6 Trabalhos futuros ..................................................................................................... 68

7 Referências ................................................................................................................ 69

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1. Introdução

Pesquisas em tecnologia nuclear são desenvolvidas no Brasil em busca da

complementariedade das matrizes energéticas atuais, termo e hidroelétricas, com o

objetivo de satisfazer uma demanda crescente de energia de maneira favorável, segura e

não poluente. O desenvolvimento destas pesquisas destaca a utilização de ligas de

zircônio no papel de varetas do elemento combustível em reatores do tipo PWR

(Pressurized Water Reactor), como os de Angra I, II e III [1, 2]. O zircônio é transparente

ao fluxo de nêutrons, oferecendo maior eficiência das reações de fissão nuclear que

ocorrem nos reatores. Além disso, suas ligas detém boas propriedades mecânicas e

resistência à corrosão [3]. Com o objetivo de nacionalizar a tecnologia envolvida na

produção de energia nuclear, novas ligas de zircônio tem sido estudadas com a finalidade

de alcançar as propriedades das ligas comerciais existentes, as quais não são produzidas

no país.

A COPPE/UFRJ iniciou, então, o estudo de uma liga experimental composta

principalmente de zircônio e nióbio. O nióbio é um elemento de liga que melhora

sobretudo as propriedades mecânicas e de corrosão do zircônio [3]. Já a adição de outros

elementos visa melhorar o desempenho e durabilidade do material. Nesse contexto, a

microestrutura, distribuição de fases e textura são importantes para garantir o bom

desempenho da liga em serviço. Estas análises fornecem o conjunto de informações

necessárias à confirmação das propriedades desejadas.

Este trabalho tem por objetivo caracterizar uma liga fundida que passou pelas

etapas de forjamento a 800ºC, laminação a quente a 800ºC até 60% de redução de

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espessura, laminação a frio à temperatura ambiente até 80% de redução. Para isso,

utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de

caracterização, pela obtenção de imagens de campo claro, campo escuro e pela técnica de

difração de elétrons. Além disso, o tamanho de grão também é alvo de estudo, oferecendo

uma análise microestrutural significativa e completa das condições apresentadas pela liga

experimental.

O material foi submetido à microscopia óptica (MO), com a finalidade de realizar

uma caracterização prévia da morfologia da liga. Em seguida, foi realizada a microscopia

eletrônica de varredura (MEV) para obter a micrografia dos grãos necessária à análise

dimensional. O material também foi analisado por MET, visando a identificação das fases

com o auxílio de Espectometria por Dispersão de Energia (EDS). O preparo dessa

amostra foi feito pelo método Focused Ion Beam (FIB). Além disso, um ensaio de

microdureza foi conduzido para avaliar a relação entre o valor de dureza e a condição de

processamento, segundo a literatura. Após essas análises, foi realizado o tratamento

térmico de recozimento à 600ºC por 1 hora em uma nova amostra, iniciando um novo

ciclo de caraterização da liga com o processamento comercial completo.

O material cedido para este projeto mostrou resultados consistentes com a condição

de processamento: a microestrutura apresentou-se alongada na direção de deformação,

que foi constatado pelas técnicas de MO e MEV. Foram observados grãos ultrafinos, com

diâmetro médio bastante inferior ao encontrado na literatura, calculado pelo método dos

interceptos por imagens de MEV. A sequência de tratamentos termomecânicos formou

precipitados de Nb-β na matriz Zr-α, distribuído nos contornos de grão. Este resultado foi

observado por MET, mapeamento por EDS e comprovado por difração de elétrons. O

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ensaio de dureza mostrou valor compatível com a referência de estudo. Para a condição

recozida, MO e ensaio de microdureza foram refeitos e apresentaram resultado

compatível com alguns estudos, em que a liga foi parcialmente recristalizada.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1 A energia nuclear

A crescente demanda energética mundial é consequência do aumento populacional

e industrial dos países. Essa evolução é essencial ao crescimento econômico global e

resulta na necessidade de investir em geração de energia elétrica, como observado no

2014 World Energy Issues Monitor em [4]. No mundo atual, no qual se busca inovação e

modernidade, a eletricidade é a principal fonte de luz, calor e força, como destacado pela

Eletrobras, maior companhia do setor energético da América Latina [5]. No caso do

Brasil, a principal fonte de energia é a indústria hidrelétrica complementada

estrategicamente pelas termoelétricas, de menor escala [5]. É possível afirmar que ambas

são promissoras no território brasileiro em função da viabilidade e disponibilidade de

recursos tanto renováveis (potencial hídrico de rios) como de não-renováveis (carvão,

petróleo e gás natural). Porém, a utilização dessas tecnologias como fonte energética traz

impactos indesejáveis, reforçando o ideal de basear esta produção em energias limpas e

sustentáveis.

A segunda maior usina hidrelétrica do mundo em produtividade está no país, a

usina de Itaipu [6]. A construção desse tipo de usina hidrelétrica causa impactos

ambientais e sociais em sua região, pois provoca a perda de terras produtivas, vegetação e

animais por alagamento, a desapropriação de moradores e intervenção na fauna fluvial, o

que representa um impacto considerável [6]. Inclusive, seu rendimento é dependente de

um fator natural oscilante, o nível de chuvas da região. Quanto à exploração de recursos

não-renováveis que, como o próprio nome diz, são recursos limitados, não é desejável

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colocá-los no papel de fontes principais de energia, uma vez que a formação destes pode

ser bastante demorada. Além disso, a queima de combustíveis fósseis gera poluentes,

como o gás carbônico (CO2), que contribuem para o aquecimento global, efeito estufa,

doenças respiratórias, chuva ácida, etc. A participação do setor energético na emissão de

CO2 é monitorada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anualmente

e uma estimativa ao longo de 20 anos, apresentada abaixo (Fig. 1), fundamenta a

preocupação sobre a questão abordada [7].

Em síntese, para expandir e diversificar a oferta de energia alternativamente aos

grandes impactos sociais, ambientais e à emissão de CO2, usinas nucleares, que são fonte

energética de destaque em países como Estados Unidos e França, são estudadas e

recebem investimentos há décadas no país.

A energia proveniente de usinas nucleares consiste na produção de eletricidade

através de reação em cadeia da fissão nuclear de um átomo instável, que produz calor

para movimentação de turbinas [8]. Dentro do reator nuclear é onde acontece essa reação,

já que armazena os tubos (ou varetas) que contém o combustível, urânio enriquecido em

3,5%. É interessante a constatação do alto poder energético desta modalidade de

Figura 1 - Emissão de CO2 (em milhares de toneladas) por queima de

combustíveis fósseis entre 1990 e 2010, segundo o MCTI [7].

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produção: 1kg de urânio natural pode produzir cerca de 600.000 kwh (por um reator

PWR), enquanto 1kg de carvão pode produzir 3 kwh e 1m3 de gás natural, 6 kwh,

segundo um relatório de energia nuclear do International Nuclear Societies Council [9].

Ainda, relativo ao custo, indústrias nucleares necessitam de alto investimento inicial, no

entanto, o custo com o combustível é baixo, praticamente o oposto às indústrias que

utilizam carvão e gás natural. Outra comparação válida é a emissão de CO2 por kwh de

energia elétrica gerada: 4g da usina nuclear contra 955g da usina a carvão, segundo

SOARES e REIS [10]. Eles também afirmam que “caso todas as usinas de carvão fossem

substituídas por usinas nucleares, deixariam de chegar a atmosfera cerca de 5 bilhões de

toneladas de CO2 por ano”.

A energia nuclear de fins pacíficos tem importantes vantagens como: ser inofensiva

ao ar, não liberar gases estufa, há grande reserva de combustível no Brasil e trazer pouco

impacto ambiental [11]. Entretanto, extensas discussões avaliam os riscos deste

investimento em função das políticas de administração de resíduos radioativos, dos riscos

de acidentes nucleares e elevados custos de implantação e segurança envolvidos [8].

Além disso, a tragédia ocorrida no Japão em 2011, na usina de Fukushima, agitou a

opinião pública e até hoje é alvo de atenção, através do monitoramento disponível

publicamente pelo sítio “Fukushima Update: nuclear news from Japan” [12]. Apesar das

preocupações relevantes, as usinas construídas no Brasil e no mundo passam por rigorosa

fiscalização e detém reatores de elevados níveis de segurança, tanto que a produção total

de energia elétrica no mundo tem recebido expressiva contribuição da energia nuclear nos

últimos 40 anos, como relata a World Nuclear Association da Inglaterra [13]. A Figura 2

representa a produção crescente de energia elétrica a partir de tecnologia nuclear. O país

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que mais contribui para as estatística é a França, seguida da Eslováquia, Bélgica e

Ucrânia. O Brasil está atualmente nos mesmos níveis da China e Índia, contabilizando

cerca de 1% no total de energia nuclear produzida, que é de aproximadamente 15% de

toda a eletricidade do mundo.

No Brasil, especialmente, existe um ponto muito favorável a este desenvolvimento:

a sexta maior reserva de urânio do mundo [14]. Os sítios mineralógicos de urânio estão

ilustrados pela Figura 3. Portanto, além de utilizar um recurso nacional que não tem outro

destino, o país fica livre da oscilação cambial do mercado externo. Por isso, o país buscou

e já alcançou autonomia no ciclo do combustível nuclear, que vai desde a extração do

minério à fabricação das pastilhas de UO2 para montagem dos elementos. Mas não foi

sempre assim: o Brasil começou com um acordo de fornecimento de urânio enriquecido

com os Estados Unidos em 1972 em troca de urânio natural brasileiro [11]. Já entre 1982

e 1999, tinha autonomia em poucas partes do processo de fabricação: a mineração, o

beneficiamento do urânio (o beneficiamento é um processo que engloba a extração,

Figura 2 - Produção de energia nuclear (TWh) de 1971 a 2012 [13].

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purificação e o concentrado de yellowcake, UF6), e a montagem do elemento que vai

dentro do reator, que armazena o combustível. Foi apenas depois de 1999 que a

fabricação de pastilhas de UO2 se tornou brasileira, além da reconversão de UF6 em pó de

dióxido de urânio, que é a etapa pós enriquecimento e pré-montagem [15].

É importante ressaltar que a atividade nuclear no país visa complementariedade e

não prioridade no mercado energético brasileiro.

Figura 3 – Sítios mineralógicos de urânio no Brasil [14].

2.2 Necessidade de criar componentes nacionais

Em 1956 foi criada a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no Brasil,

com sede no Rio de Janeiro, através do decreto 40.110. Sua principal função é “licenciar

e fiscalizar instalações nucleares e radioativas [...] baseados em normas técnicas e

padrões internacionais”, segundo o próprio sítio da comissão. Porém, a evolução da

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energia nuclear no Brasil somente foi acontecer após a compra do primeiro reator nuclear

de Angra I, em razão da concorrência internacional que houve na década de 70.

Em 1971, a CNEN criou a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN),

que logo depois assumiu estudos de implantação de energia nuclear em larga escala [11].

Em consequência disso, foi finalmente criada a NUCLEBRAS (Empresas Nucleares

Brasileiras) que assumiu a fabricação de reatores e todo o ciclo do combustível nuclear

buscando a capacitação nacional [11]. Essas duas últimas decidiram então adotar a

estratégia de capacitação por transferência de tecnologia (TT), que tem como objetivo o

desenvolvimento tecnológico e científico a partir de um acordo entre governos ou

instituições que possam avançar e aperfeiçoar uma certa tecnologia. Nesse caso, o Brasil

entrou em acordo com a Alemanha para impulsionar os processos nucleares.

Entre 1976 e 1978, a Marinha se uniu ao Instituto de Pesquisas Energéticas e

Nucleares (IPEN) no desenvolvimento do ciclo do combustível e tecnologia de reatores.

No entanto, os esforços e a TT não tiveram resultados significativos diante de

dificuldades financeiras [11]. Atualmente, a CNEN gerencia o IPEN, localizado na

Universidade de São Paulo (USP), que desenvolve pesquisas relacionadas ao ciclo do

combustível, radioproteção, dosimetria, materiais, reatores, entre outros, com destacada

atuação nessas áreas.

Uma grande motivação da Marinha para a busca por tecnologia própria é o fato de

que, no Brasil, existe um território chamado Amazônia Azul, de cerca de 4.500.000 km2,

onde passam 90% das importações e exportações do país, além de possuir recursos

minerais e a prática de pesca (Fig. 4) [16]. Com o objetivo de defender a integridade do

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território e os interesses marítimos do Brasil, a Marinha do Brasil elaborou a Estratégia

Nacional de Defesa, que incluía compor a força naval por submarinos convencionais e de

propulsão nuclear. Mas isso deveria ser aliado à “capacidade de projetar e de fabricar

submarinos”, o que representa um grande desafio: a complexidade tecnológica para tal

demanda um tempo de fabricação muito alto, superior aos aviões mais modernos [17].

Por isso, o tempo demandado somado à falta de domínio de logística e tecnologia não são

uma combinação muito favorável.

Dentre as principais características de um submarino estão a capacidade de

ocultação, o poder de destruição, a mobilidade tridimensional e uma certa independência

dos problemas ambientais [17]. Sabendo disso, pode-se notar algumas vantagens de se ter

um submarino de propulsão nuclear, pois a energia não depende do ar atmosférico e sim

Figura 4 - Representação da Amazônia Azul

[16].

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de um reator nuclear, o que reduz drasticamente a necessidade de levar o submarino à

superfície; além disso sua mobilidade é maior já que alcança maiores velocidades e

também maiores profundidades, nas águas azuis.

Assim, percebendo a importância do investimento em um submarino de propulsão

nuclear, o Programa Nuclear da Marinha (PNM), criado em 1979, se encarregou do

“desenvolvimento e capacitação tecnológica nacional na produção de combustível

nuclear e no projeto, comissionamento, operação e manutenção de reatores núcleo-

elétricos do tipo PWR” [17]. O projeto que cuida de tudo isso é o PROSUB, que

estabeleceu suas prioridades em: realizar um processo de capacitação nacional por TT,

obter tecnologia sensível, capacitar profissionais brasileiros a projetar e construir nessa

área, empregar novas tecnologias complexas além de nacionalizar equipamentos. Por

nacionalização deve-se entender: fabricar, projetar e desenvolver pesquisas dentro do

país. O índice de participação nacional é esperado em cerca de 95% [17].

A respeito dos reatores nucleares que geram a energia, os escolhidos tanto das

usinas de Angra I, II e III, como do submarino nuclear brasileiro são do tipo PWR

(Pressurized Water Reactor), onde o elemento combustível é formado por varetas que

contém as pastilhas de urânio enriquecido. As Figuras 5 e 6 apresentam um protótipo de

reator de submarino composto por varetas e o modelo alternativo de armazenamento de

combustível por placas. O reator em forma de placas tem vantagens em relação ao

primeiro pois possui melhor resistência a vibração, facilidade de fabricação e

armazenagem compacta [11]. Apesar disso, segundo a Marinha, no Brasil não há

planejamento deste tipo de elemento combustível por falta de tecnologia para tal.

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Figura 5 - Maquete de um reator de varetas para submarino nuclear, apresentado pela Marinha do

Brasil.

Figura 6 - Modelo de armazenamento de combustível em placas. Adaptado de [11].

A fabricação destas varetas em escala industrial também é alvo no Brasil, através do

projeto ZirBrasil, com parceria entre a COPPE, IME, INB e outros, em busca do padrão

de produção de ligas especiais de zircônio de maneira economicamente viável. Até hoje,

todas as ligas de Zr utilizadas nas usinas de Angra são importadas, já que não há

tecnologia disponível. Elas serão abordadas a seguir.

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2.3 Aplicação das ligas de Zr

O reator nuclear mais comumente utilizado nas usinas nucleares, e que opera no

Brasil, é o que utiliza água leve à alta pressão como fonte de resfriamento. O reator do

tipo PWR contém pastilhas do urânio enriquecido dentro de um elemento combustível,

que é formado por um conjunto de varetas alinhadas em feixe, como pode ser observado

pela Figura 7.

Figura 7 - Esquema de um elemento combustível à esquerda e o produzido pela INB para Angra

2, com tecnologia AREVA, à direita [10].

A vareta combustível, que é a primeira barreira contra a saída de material radioativo

para o meio externo, é constituída por ligas de zircônio. O material destinado à essa

função deve possuir propriedades específicas como boa resistências à corrosão e à

fluência, boa resistência mecânica e transparência ao fluxo de nêutrons, responsável por

melhorar o rendimento das reações de fissão [3, 18]. O coeficiente de expansão baixo

também é interessante pois permite a estabilidade dimensional da vareta em altas

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14

temperaturas. O aço inox foi o primeiro revestimento utilizado devido ao custo. Porém, a

descoberta e os testes com ligas de zircônio para esse fim provaram desempenho

superior, principalmente ao apresentar melhores propriedades, tais quais: elasticidade em

resposta à expansão térmica, deformação em fluência, resistência mecânica em pressões

elevadas e a não absorção de nêutrons [19]. Essas ligas apareceram no programa de

propulsão nuclear da Marinha Americana em 1950 e em menos de 20 anos tornaram-se as

principais nesta aplicação.

Os zircaloys são ligas que contém estanho, ferro e cromo como elementos de liga e

quantidade de háfnio controlada. O háfnio é encontrado na natureza junto ao zircônio e

possui justamente a característica menos desejada à aplicação nas varetas combustíveis: a

habilidade de absorver nêutrons [3]. Dentro das ligas comerciais, destacam-se as ligas

Zircaloy-2 e Zircaloy-4, que contém elementos α estabilizadores estanho e oxigênio

(melhoram principalmente as propriedades mecânicas) e β estabilizadores como ferro,

cromo e níquel (melhoram principalmente a resistência a corrosão), além de diferentes

ligas de zircônio e nióbio como a M5® e ZIRLO™.

2.4 Sistemas Zr-Nb

O zircônio é um metal de transição que possui estrutura cristalina hexagonal

compacta (hc) a temperatura ambiente, conhecida como Zr-α. Essa estrutura muda para o

Zr-β, cúbico de corpo centrado (ccc), a 863ºC. Já o nióbio, β estabilizador, tem também

estrutura cristalina ccc.

A adição de elementos de liga ao zircônio melhora a sua resistência a corrosão e

contrapõe o efeito deletério de impurezas como o nitrogênio, oxigênio e carbono. Nesse

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15

contexto, ligas com nióbio foram desenvolvidas para o ganho de propriedades,

principalmente em resistência mecânica e resistência à corrosão [3]. Estas fazem parte

das ligas de zircônio da nova geração, que foram desenvolvidas no intuito de aumentar a

vida útil das mesmas.

As ligas compostas por estes dois elementos, Zr-Nb, são bifásicas α + β [20]. E

como outras ligas de importância industrial, a precipitação de partículas de segunda fase é

o mecanismo principal à melhoria de propriedades.

O diagrama de fases dessa liga pode ser estudado segundo a Figura 8. A partir dele,

destacam-se as composições à baixas temperaturas, com a estrutura de matriz Zr-α e

partículas Nb-β em equilíbrio, e à altas temperaturas, em que há miscibilidade total entre

Zr e Nb na estrutura CCC.

Esse sistema apresenta diversas reações de transformação de fase e a principal delas

é a reação monotetóide a 610ºC. Devido ao grande gap

de miscibilidade da fase β, a taxa desta decomposição de βI para βII dependerá sempre da

temperatura do tratamento térmico [20].

É importante observar e avaliar as transformações, uma vez que na temperatura de

operação (~320ºC) dos reatores o material pode sofrer mudanças microestruturais

indesejáveis.

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16

Essas ligas encontram-se na literatura em diversas composições e diferentes

trabalhos tem sido realizados em busca das melhores propriedades. Alguns deles serão

citados a seguir.

Dentre as ligas Zr-Nb mais comuns está a Zr-2,5%Nb. Estudos apontam que estas

ligas tem resistência à corrosão comparáveis (quando não inferiores) às Zircaloys, mas

uma menor tendência a absorção de hidrogênio e superior resistência mecânica. Por isso,

estas vem substituindo a Zircaloy-4 em ambientes muito abrasivos e até em reatores

PWR, embora sejam mais comumente utilizadas em uma série de reatores do tipo

CANDU em alguns países como Canadá, Índia e Argentina [18].

Figura 8 - Diagrama de fases Zr-Nb [21].

Page 26: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

17

LUO e WEATHERLY [22] estudaram o comportamento das ligas Zr-2,5Nb que

foram resfriadas rapidamente a partir do campo β e envelhecidas abaixo da temperatura

monotetóide, por microscopia eletrônica de transmissão. As ligas foram obtidas de um

tubo de pressão e em seguida trabalhadas a frio para redução de espessura. Para o

tratamento térmico, as tiras de 0,5 mm de espessura foram encapsuladas em tubos de

quartzo para tratamento de homogeneização a 1000ºC por 20 minutos, seguidas de

resfriamento rápido em água. O envelhecimento foi também foi realizado a vácuo por

240 horas a 500ºC ou por 60 horas a 600ºC. Os autores observaram que o envelhecimento

a 500ºC produz uma morfologia de precipitados do tipo agulha, ricos em Nb, chamados

de β2. No entanto, a 600ºC, além destes, foi possível observar a presença de precipitados

grosseiros, ricos em Zr, chamados de β1.

ROBSON [23], por sua vez, afirma que há dois mecanismos no qual a fase β2 pode

precipitar, a partir da supersaturação de Nb em Zr por resfriamento rápido: nucleação e

crescimento ou transformação de β-Zr retido. O primeiro ocorre pela difusão de Nb da

solução supersaturada dados tempo e temperatura suficientes. O segundo ocorre quando o

resfriamento não é rápido o suficiente para suprimir a transformação de β-Zr em α –Zr e,

por isso, produz Zr-β retido. A decomposição de Zr-β retido em Nb-β pode envolver uma

etapa intermediária, que é a formação de ω, fase metaestável que transforma-se em α e

Zr-β. Seguindo estas considerações, ROBSON [23] modela a precipitação de ligas Zr-Nb

e conclui que ambos os mecanismos competem entre si e a fração de Zr-β retido será o

maior influenciador na cinética de precipitação. Ele afirma que, para as ligas Zr-2,5Nb

sem Zr-β retido, a precipitação mais eficiente deve ocorrer entre 520 e 540ºC. Porém,

Page 27: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

18

acrescenta que para a precipitação entrar em equilíbrio nas condições de operação, levaria

cerca de 100 anos sem a influência de efeitos de radiação.

Outros tipos de liga comercial contém de 0,9 a 1,13% de Nb. As principais são as

ligas Zr-1Nb, como a M5® (Zr-Nb-O), e as Zr-1Nb-1Sn-Fe, como a ZIRLO™. Esta

última é utilizada em Angra I. Apesar da busca por melhor eficiência térmica dos reatores

levar ao desenvolvimento da liga binária, a literatura atribui melhor desempenho à liga

ZIRLO™ quaternária em termos de corrosão e fluência [20].

As ligas com 1% de nióbio são particularmente utilizadas em reatores PWR, sendo

uma das ligas de zircônio modificadas mais recente e amplamente encontrada na

literatura a respeito de seu processamento, desempenho e microestrutura [24, 25, 26].

O processamento das ligas comerciais para reatores envolve essencialmente a fusão

a arco e trabalho a quente, somado a etapas de trabalho a frio e recozimento. Cada passo

envolve taxas, temperaturas e tempos que influenciam na microestrutura final, tornando

fundamental o entendimento dessas etapas. TIAN et al [24] apontaram que ligas de

zircônio recristalizadas eram mais adequadas para aplicações nucleares em função de

melhores resistências à fluência e ao crescimento de grão diante de irradiação. Por isso,

contribuíram com dados relativos à recristalização após o trabalho a frio, responsável

pela microestrutura final da liga Zr-1Nb. NEOGY et al [20] já haviam simulado essa

sequência, porém em poucas condições: duas temperaturas e dois tempos diferentes.

O processamento da liga Zr-1Nb de TIAN et al é apresentado pela Figura 9. Os

autores afirmam que o tratamento a 580ºC por 3h obtém uma microestrutura

completamente recristalizada, que é produzida entre os intervalos de laminação. A

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19

primeira avaliação foi feita por ensaio de dureza Vickers. A aceleração do processo de

recristalização com o aumento da temperatura de recozimento ficou clara, além do efeito

da porcentagem de redução sobre o tempo para recristalizar, uma vez que materiais mais

deformados armazenam maior energia interna e reduzem o tempo para tal. Os resultados

para 30% e 70% de redução é apresentado a seguir (Fig 10).

(a) (b)

Figura 10 - Gráficos dureza x tempo para (a) 50% e (b) 70% de redução, na liga Zr-1Nb [24].

Figura 9 - Rota de processamento da liga Zr-Nb por TIAN et al

[24].

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20

Ao comparar os resultados com o encontrado por NEOGY et al, TIAN et al

concluem que quando a temperatura de recristalização é alta o suficiente, em torno de

600ºC, a quantidade de deformação passa a influenciar cada vez menos. Na segunda

avaliação, dada pela evolução microestrutural por MO e MET, observou-se que, com

50% de redução e tratamento a 600ºC por 30 minutos, obteve-se a microestrutura 100%

recristalizada. Nesse caso, precipitados finos estavam uniformemente distribuídos nos

grãos e a maioria deles era Nb-β. O trabalho afirma, então, que para níveis superiores a

50% de deformação, a 600ºC, o tempo para completa recristalização não é superior a 15

minutos.

No entanto, GUEDES apresenta outra perspectiva, que estuda um grupo de

amostras que sofreram as mesmas etapas deste trabalho (forjamento a 800ºC, laminação a

quente a 800ºC, laminação a frio e recozimento a 600ºC por 1 hora), porém com graus de

redução diferentes [27]. Então conclui que, quanto maior o grau de redução a frio da

amostra, menor sua dureza após o recozimento. Apesar disso, suas amostras não

atingiram a temperatura de recristalização, resultado confirmado por Calorimetria

Diferencial de Varredura (DSC).

Page 30: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

21

2.5 Uso da microscopia eletrônica de transmissão

2.5.1 O equipamento

O microscópio eletrônico de transmissão (MET) consiste de uma coluna de alto

vácuo que contém um canhão de elétrons, um sistema de lentes condensadoras

eletromagnéticas, uma lente objetiva, lentes intermediárias e lente projetora. Todas estas

lentes controlam as operações básicas como foco, intensidade de iluminação e

magnificação. Especificações gerais desta técnicas estão determinadas na tabela 1 abaixo.

2.5.2 Funcionamento básico

O MET é utilizado para obter imagens de alta resolução, podendo chegar entre 0,8 e

2,2 Å [29]. Essa técnica utiliza um feixe de elétrons, produzido por um catodo aquecido

por corrente elétrica, como fonte de emissão. O poder de resolução do microscópio é

Tabela 1 - Dados gerais de um aparelho de MET adaptado de

FARINA [28].

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22

definido pelo comprimento de onda do elétron associado a outros fatores, como o sistema

de lentes e o diâmetro do feixe.

A interação entre um feixe de elétrons de alta intensidade e o material gera uma

vastidão de sinais secundários por espalhamento, que permitem a obtenção de

informações diversas. A interação elétron-amostra é esquematizada na Figura 11. Para

materiais amorfos, é possível identificar a morfologia e a composição química da espécie,

enquanto para materiais cristalinos pode-se observar, além dos anteriores, a estrutura

cristalina, defeitos, natureza de interfaces e a orientação de grãos.

A formação de imagem se dá pelos contrastes observados na intensidade de

absorção de elétrons pelo material e no espalhamento dos elétrons em pequenos ângulos e

por direções cristalinas específicas da amostra. Para tanto, o material deve ter a

propriedade de transparência a elétrons. Além disso, pelo fato de que neste tipo de

microscópio a voltagem de aceleração é elevada (mais comumente 200kV), o feixe pode

ou não atravessar completamente a amostra, produzindo principalmente diferença no

espalhamento dos elétrons. A variação total dos elétrons é captada por detectores.

Figura 11 - Interações elétrons-amostra [30].

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23

Os contrastes de interesse oriundos do espalhamento do feixe incidente são os

contraste de amplitude e de fase. O contraste de amplitude abrange os contrastes massa-

espessura de Z (regiões de maior Z espalham mais e geram maior intensidade) e de

difração (a intensidade do feixe difratado é diferente em cada região), responsáveis pela

formação de imagens de campos claro e escuro, muito comuns em análises por MET.

2.5.3 Preparação de amostras

A preparação de amostras para microscopia eletrônica de transmissão é um

procedimento muito importante, principalmente porque o material precisa estar fino o

suficiente para que seja transparente à elétrons (~100-150 nm de espessura) [31].

Existem diversas técnicas e cada classe de material tem sua própria metodologia.

Alguns exemplos e as opções para ligas de zircônio serão abordadas a seguir.

2.5.3.1 Métodos tradicionais

Os tipos de preparação para MET aplicáveis a lâminas metálicas podem ser

resumidos em [32]:

Polimento eletrolítico

Polimento químico

Métodos mecânicos

o Lixamento

o Tripod

o Dimpling seguido de Ion Milling

Focused Ion Beam (FIB)

Dentre estes, serão descritos o polimento eletrolítico, dimpling, ion milling e FIB.

Page 33: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

24

Na literatura, é bastante comum encontrar o polimento eletrolítico como método de

preparação de ligas de zircônio. Sua utilização normalmente é precedida pelo lixamento

ou polimento mecânico para garantir uma região de área fina relativamente grande. É

possível encontrar diversas condições de operação de polimento eletrolítico para

diferentes composições químicas. LUO e CHAKRAVARTTY [22] utilizaram o duplo

jateamento a -40ºC, com solução de ácido perclórico, butanol e metanol para ligas Zr-

2,5Nb e Zr-1Nb-1Sn-0,1Fe, respectivamente. Já HAYASHI et al [33] usaram solução de

ácido perclórico e etanol à -50ºC para analisar a liga quaternária. A descrição da técnica e

as condições para a liga Zr-1Nb são descritas abaixo.

Polimento eletrolítico por duplo jateamento

O polimento eletrolítico consiste em um dispositivo que irá polir e afinar amostras

por ação eletroquímica [31]. Para as ligas de zircônio é um método bastante adequado,

uma vez que o zircônio risca e oxida facilmente, situações que podem acontecer com

frequência no polimento mecânico.

Se a amostra estiver na forma de chapa ou tubo, primeiro deve-se realizar o corte

da amostra por punção ou eletroerosão na forma de discos de 3 mm de diâmetro. Se a

amostra for uma barra ou lingote, pode ser usinada em forma de cilindro, de onde se

cortam os discos. Em seguida, tais discos terão a espessura reduzida a 100 mm por

lixamento e polimento mecânico convencionais, gerando um tamanho pequeno o

suficiente para submeter a amostra ao afinamento eletrolítico. Finalmente, o equipamento

perfura a amostra, que é desbastada por polimento ao mesmo tempo dos dois lados,

através da corrente que passa por uma solução eletrolítica de temperatura controlada. A

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25

voltagem dessa corrente é escolhida de acordo com o material de trabalho e o eletrólito.

No caso da liga Zr-Nb, é possível trabalhar, por exemplo, em torno de 28-30V, por cerca

de 30s em eletrólito contendo 9% de ácido perclórico e 91% de ácido acético [3]. Quando

a perfuração é finalizada, o procedimento é interrompido em função da passagem de uma

luz infravermelha, que atinge um sensor através do orifício criado. A Figura 12 apresenta

um esquema da célula do equipamento.

Figura 12 – Esquematização do polimento eletrolítico [34].

Métodos Mecânicos

o Dimpling

Funciona baseado na ação mecânica de abrasão e tem como objetivo reduzir o

tempo do afinamento por ion milling, através da redução de espessura do disco em sua

região central [31, 35]. A fricção de um material mais duro que a amostra gera uma

ondulação chamada dimple. O procedimento pode ser feito em um ou nos dois lados do

disco e o equipamento que o realiza chama-se Dimple Grinder. Sua base tem uma

plataforma circular magnética, que gira em velocidade constante, onde a amostra é

fixada. Também há uma roda lixadora fixa que, ao fazer a espécie atingir a profundidade

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26

desejada, é substituída por uma roda de polimento [31]. A profundidade alcançada é

dependente do diâmetro dessa roda, porém acima de um certo valor pode quebrar o

material (que está em forma de disco). A profundidade ideal é 50 μm [31]. O resultado é

uma amostra fina no centro, espessa nas bordas, de bom acabamento, superfície regular e

de mais fácil manuseio [32, 35]. O procedimento é ilustrado na Figura 13 abaixo.

Figura 13 – Esboço dos componentes de um dimpling [32].

o Ion milling

Os discos oriundos do processo de dimpling passam por esse equipamento para

obter regiões transparente à elétrons. Isso é possível através do processo de sputtering em

uma câmara a vácuo: átomos neutros ou íons acelerados de um catodo incidem na

amostra angularmente, de maneira a arrancar átomos de sua superfície. Em consequência,

há uma taxa de remoção do material (μm/h), dependente do ângulo de incidência,

natureza dos íons, da amostra e a corrente do feixe [31]. O porta amostras pode ser

resfriado com nitrogênio para proteger o material da energia resultante dessa interação.

Quando a perfuração é detectada, ao redor do orifício cria-se uma área transparente

aos elétrons. Portanto, o material está pronto para ser observado por MET [36]. A Figura

Page 36: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

27

14 mostra o equipamento da marca GATAN, modelo PIPS, que pode ser encontrado na

COPPE/UFRJ.

Figura 14 – Ion Mill da marca GATAN, modelo PIPS [37].

Focused Ion Beam (FIB)

A tecnologia FIB/MEV dual beam, comercialmente utilizada há cerca de vinte

anos, é empregada para a fabricação e caracterização em diversas áreas, principalmente a

nanotecnologia e a ciência dos materiais [38]. Esse sistema, que combina o Focused Ion

Beam com a Microscopia Eletrônica de Varredura em duas colunas independentes da

mesma máquina, possibilita que uma região seja analisada tanto pelo feixe de elétrons

quanto pelo feixe de íons, resultando em melhor caracterização de morfologia de grãos,

contornos e variações química da espécie, por exemplo. Isso porque combina a alta

resolução resultante do feixe de elétrons do MEV de maneira menos destrutiva que a

obtenção de imagem por FIB que, por sua vez, pode atuar na modificação das espécies

[39]. É ideal para analisar em escala nano e, apesar de ser um instrumento caro e de

limitada disponibilidade, atualmente há uma área de pesquisa bastante ativa que busca

Page 37: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

28

melhorar a performance e campo de aplicação do equipamento [38]. O FIB apresenta

diversas vantagens como a possibilidade de criar seções de materiais e analisá-las, de

modo a visualizar um determinado detalhe desejado na microestrutura, além da

flexibilidade na preparação de amostras para o MET, que será abordada em tópicos

adiante.

O sistema FIB é constituído de uma fonte de íons, um sistema óptico de lentes, o

substrato e uma câmara de vácuo. Ele utiliza um fino feixe de íons que pode operar em

baixa corrente, para formação de imagem, ou em alta para provocar sputtering.

Normalmente, íons de gálio (Ga+) são extraídos de uma fonte de íons de metal líquido

(LMIS) e inseridos em uma espécie de agulha de tungstênio (W) [38]. O líquido molha a

ponta da agulha e, ao ser aplicado um campo de extração (>108V/cm), este migra para um

cone afiado de raio nanométrico representado na Figura 15 abaixo. O uso do Ga+

oferece

vantagens como ter baixo ponto de fusão, próximo à temperatura ambiente, e ser capaz de

focar um diâmetro bem fino [38].

Figura 15 - Ilustração esquemática de um equipamento FIB-

SEM dual beam. A ampliação mostra a interação entre a

amostra e os feixes [38].

Page 38: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

29

2.5.4 Difração

A difração de elétrons no MET traz informações cristalográficas de pequenas áreas

do material através de figuras de difração das imagens analisadas. Essas figuras são

resultado da interferência construtiva entre o feixe de elétrons e os planos atômicos do

material, que fazem parte de uma esfera de reflexão de raio inversamente proporcional ao

comprimento de onda do elétron (Esfera de Ewald). Os padrões de difração (DPs), que

são a base da análise cristalográfica e de caracterização de defeitos, são constituídos por

spots de diferentes intensidades e tamanhos. Cada um representa um ponto do espaço

recíproco, equivalente a um conjunto de planos da rede real hkl. Todos os spots da figura

de difração estão em uma direção comum chamada eixo de zona e são difratados na

condição de Bragg. A Figura 16 mostra o padrão de difração característico de regiões

amorfas, monocristalinas e policristalinas, respectivamente.

(A) Carbono amorfo (B) Monocristal de Al (C) Au policristalino

Figura 16 - DPs para diferentes materiais [29].

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30

A formação da figura de difração é representada esquematicamente por FARINA na

Figura 17 [28]. O procedimento consiste em inserir uma abertura de área selecionada

(SAD) no plano conjugado ao do material (plano imagem), a fim de escolher a região de

interesse na amostra para formar a difração, que será projetada na tela fluorescente. O

feixe direto é sempre bloqueado pois sua intensidade pode danificar a tela ou saturar a

câmera CCD (detector que armazena carga do feixe de elétrons e documenta as

informações através de uma imagem) [29].

Para obter uma figura de difração é preciso, portanto, obter a imagem e selecionar

uma área que contém um artefato ou uma característica de interesse. Os tipos mais

comuns são as imagens de campo claro (bright field) e de campo escuro (dark field),

como destacado anteriormente. Para formar imagens de campo escuro, a abertura da

Figura 17 - Trajeto dos raios para formar a imagem, à esquerda, e para

formar a difração, à direita, no MET [29].

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31

objetiva inserida no plano de difração deve selecionar um feixe difratado e, dessa

maneira, regiões mais densas irão espalhar mais elétrons, surgindo mais escuras [40].

Para formar imagens de campo claro, a abertura deve selecionar o feixe direto, que varia

em intensidade dependendo do ponto da espécie que é iluminada [29]. A ilustração do

trajeto dos raios pode ser observada na figura 18 a seguir.

(a) (b)

Figura 18 – Trajeto dos raios e micrografia que formam uma imagem (a) de campo claro e (b) de

campo escuro de uma liga Zr-Nb [29,20].

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32

Ao obter a imagem da figura de difração, captada pela câmera CCD, podemos obter

diversas informações como: observar se a espécie é mono ou policristalina, identificar

parâmetros de rede e simetria, a morfologia dos grãos, existência de múltiplas fases e

também a distância interplanar “d” dos planos do eixo de zona alinhado com o feixe [29].

A distância entre o feixe direto e um dos spots de difração ou o raio de um anel de

difração, medidos em um DP, é relacionado a um espaçamento interplanar do cristal

conhecido, por exemplo. A indexação, procedimento que descreve as relações anteriores,

é feita através da medida de “d” em várias direções, segundo a ilustração da figura 19 e a

equação 1 ( é o comprimento de onda do elétron, R a distância entre um spot do feixe

direto e um do feixe difratado, L é o comprimento de câmera variável e d é a distância

interplanar calculada).

(Eq. 1)

Figura 19 - Esquematização da relação entre os

spots, o comprimento de câmera e a distância

interplanar [29].

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33

2.5.5 EDS

O EDS (Espectrômetro por Dispersão Energia) é um acessório de microscópios

eletrônicos essencial à caracterização de materiais, pois tem como função identificar

elementos químicos. Isso é possível devido a emissão de raios-X característicos que são

emitidos na interação entre o feixe de elétrons e a amostra em análise. Quando um feixe

de alta energia penetra até uma camada interna de elétrons do material, um elétron é

ejetado deixando um vazio e, consequentemente, um átomo ionizado. Para retornar ao

estado de mais baixa energia ou estado fundamental, um elétron da camada externa

preenche este vazio e, ao fazer esta transição emite raios-X, chamados característicos

(vide ilustração da figura 11). Estes terão a energia característica do átomo para cada

camada excitada. Um detector então capta esse sinal e gera o espectro relativo ao número

de contagens em função da energia (keV) [41]. Assim, a partir da energia característica, o

software faz a identificação dos elementos químicos de uma região pontual. No MET é

mais fácil fazer este reconhecimento, uma vez que ele consegue atingir maiores energias

de excitação e maior resolução espacial. A figura 20 a seguir mostra um espectro de EDS

de partículas ricas em Nb de uma liga Zr-1Nb [3].

Deve-se destacar que, para realizar um mapeamento por EDS no MET, deve-se

utilizar a Scanning Transmission Electron Microscopy (STEM), que combina os

princípios de MEV (ou SEM, em inglês) e MET. O modo STEM leva o microscópio

automaticamente para o modo difração, o feixe passa a ser convergente, dentre outras

peculiaridades. A seleção do sinal de interesse vai formar figuras de campo claro ou

escuro, no entanto, o mais comum é utilizar o high-angle annular dark field (HAADF).

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34

Figura 20 – Espectro de EDS para uma liga de Zr-Nb [3].

2.5.6 Aplicação em ligas Zr-Nb

TEWARI et al [42] pesquisaram sobre as transformações de fase de ligas de

zircônio e, para entender estes resultados, utilizaram o MET como ferramenta. A Figura

21 mostra a micrografia de uma liga Zr-2,5Nb, amostra de um tubo extrudado a quente,

que foi recristalizada. Os grãos α aparecem aproximadamente equiaxiais e fase β fina

entre os grãos α, configuração que combina a alta resistência com boa ductilidade e

tenacidade, essenciais à aplicação em tubos de pressão.

Figura 21 – Seção longitudinal da liga Zr-2,5Nb recristalizada [42].

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35

LUO e WEATHERLY [22] também utilizaram o MET para avaliar

qualitativamente o comportamento da liga Zr-2,5Nb diante de resfriamento rápido a partir

do campo β e envelhecimento abaixo de 610ºC. O envelhecimento a 500ºC por 240h

produziu uma morfologia de precipitados tipo agulha ricos em nióbio β2, enquanto a

600ºC por 60h gerou uma mistura de precipitados β2 e β1 rico em Zr, como mostra a

Figura 22 a seguir. Tais característica não seriam visíveis em outras técnicas de

microscopia.

Ainda, os autores utilizaram os padrões de difração de áreas precipitado/matriz para

medir ângulos de rotação dos precipitados agulha.

NEOGY et al [20] também analisaram micrografias, porém da liga Zr-1Nb em

diferentes condições de tratamento térmico: extrudada a quente; tratada por 0,5h a

1000ºC seguido de resfriamento rápido do campo β e revenida. Em seguida, a liga foi

submetida a laminação a frio e diferentes tempos de recozimento.

(a) (b) Figura 22 – Liga Zr-2,5Nb (a) rica em precipitados β2 produzidos por envelhecimento a 500ºC

por 240h e (b) contendo precipitados β1 e β2 produzidos por envelhecimento a 600ºC por 60h

[22].

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36

A Figura 23 exibe a liga extrudada e laminada a frio e a Figura 24 o resultado do

recozimento a 580ºC por 1 e 4 horas. A temperatura de recozimento abaixo da

temperatura monotetóide de 610ºC, segundo NEOGY, permite que a microestrutura final

tenha a maioria dos precipitados ricos em Nb, atingindo a condição ideal para fins

nucleares, principalmente superior resistência a corrosão.

Figura 24 - Liga Zr-1Nb nas condições (c) recozida a 580ºC por 1h e (d) recozida a 580ºC por 4h

[20].

Figura 23 - Liga Zr-1Nb nas condições (a) extrudada a quente e (b) trabalhada a frio [20].

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37

No mesmo artigo, NEOGY usa a difração de elétrons em ligas que contém outros β

estabilizadores: a liga Zr-1Nb-1Sn-0,1Fe. Essa composição permite que outras fases

precipitem, em função da presença de estanho e ferro. O padrão de difração de uma

região da liga é capaz de dizer onde estão os precipitados e quais são eles, através da

indexação da figura e a posterior consulta a ficha de difração da fase em estudo, onde

comparam-se os índices h k l e as distâncias interplanares correspondentes. A Figura 25

apresenta o padrão de difração referente a uma região precipitada, no qual a indexação

aproximou-se da fase Zr2Fe.

A busca por ligas de zircônio mais resistentes levou STEPANOVA et al [43] a

examinar a formação de grãos ultrafinos (UFG). O método mais utilizado em materiais

metálicos na produção dessa microestrutura é por deformação plástica severa. Porém,

quanto menor o grão, maior a absorção de hidrogênio na microestrutura, que foi avaliada

por MET. A Figura 26 mostra as imagens de campo claro, campo escuro e a difração de

elétrons para a liga comercial na condição (1) hidrogenada a 0,22% seguida de

Figura 25 - Imagens de MET da liga Zr-1Nb-1Sn-0,1Fe revenida: figura de difração indexada à

esquerda e imagem de campo claro da liga com os precipitados à direita [20].

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38

compactação tripla com 70 a 75% de redução, entre 600-700ºC. Já a Figura 27 mostra os

mesmos resultados na condição (2) compactada a temperatura ambiente com 40 a 50% de

redução e recozimento intermediário entre 530-600ºC por 1 hora.

Figura 26 – Micrografias da liga Zr-1Nb na condição (1) de (a) campo claro com o padrão

de difração e (b) campo escuro [43].

Figura 27 - Micrografias da liga Zr-1Nb na condição (2) de (a) campo claro com o padrão

de difração e (b) campo escuro [43].

Na condição (1), foi observado contraste devido a deformação e estrutura típica de

UFG como por exemplo, contornos de grão em desequilíbrio. A difração revelou a

presença de hidretos de zircônio e também foi identificada a presença de Nb-β na matriz

Zr-α por difração de Raios-X. Já na (2), foi encontrada microestrutura menos homogênea,

contornos mais definidos e uma desorientação significativa entre os elementos

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39

observados na difração. Além de Nb-β, foi achado Zr-β na microestrutura por difração de

Raios-X. A presença de hidrogênio não foi citada. Os autores concluíram, somando

resultados de ensaios de tração, que a presença de hidrogênio favorece a resistência por

deformação plástica a baixas temperaturas, apresentando efeito inverso em altas

temperaturas.

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40

Forjamento à 800ºC Laminação a quente

a 800ºC (60% de redução)

Laminação a frio (Tamb até 80% de

redução)

3. Materiais e métodos

3.1 Materiais estudados

O material utilizado neste trabalho foi uma liga experimental de zircônio, produzida

pela COPPE/UFRJ, que contém nióbio como principal elemento de liga. O material foi

fabricado por fusão a arco, a partir de briquetes prensados de zircônio esponja mais

adições. A liga foi estudada na condição recebida e após tratamento de recozimento.

3.2 Processamento das amostras

A Figura 28 apresenta o fluxograma que contém as condições de processamento da

liga. Essas etapas foram realizadas por GUEDES [27], dando origem ao material

disponível para o atual estudo. Os tratamentos termomecânicos tiveram objetivo de

melhorar as propriedades do material pelo controle da microestrutura.

Figura 28 – Fluxograma representativo do processamento da liga Zr-Nb.

Forjamento

O forjamento é um processo de conformação mecânica que usa esforços de

compressão para dar ao material a forma desejada e quebrar a estrutura de fusão [44].

Normalmente é realizado a quente a partir de um material fundido. Neste trabalho, o

forjamento foi feito por marteladas a 800ºC a partir de um lingote fundido de Zr-Nb.

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41

Laminação

A laminação é um dos processos de conformação mecânica mais comuns, que

consiste em modificar a seção transversal de um metal em forma de placa, barra ou

lingote, por sua passagem entre dois cilindros de distância reduzida entre si. Os cilindros

prensam o material, que é submetido a tensões compressivas elevadas e forças de atrito

[45].

A redução inicial das placas forjadas em chapas foi feita por laminação a quente,

realizada à 800ºC em diversos passes, até chegar a 60% de redução total da espessura. É

válido destacar que nesta temperatura há a transformação de Zr-α em Zr-β, segundo o

diagrama de fases Zr-Nb. Em seguida, com o objetivo de melhorar o acabamento e obter

um maior controle dimensional, foi realizada a laminação a frio à temperatura ambiente,

em diversos passes até 80% de redução da espessura.

Recozimento

Adicionalmente, no presente estudo foi feito um recozimento com a finalidade de

aliviar tensões, além de obter valores de dureza antes e depois do tratamento. Esse

tratamento consiste em submeter o material a uma temperatura elevada por certo tempo,

tal que uma ou mais destas etapas possam acontecer: recuperação, recristalização e

crescimento de grão. Como a presença de deformação plástica e segunda fase reduzem a

temperatura de recristalização, a ocorrência de um ou mais fenômenos foi investigada.

Para isso, a amostra foi encapsulada em tubo de quartzo à vácuo e levada ao forno

por 1 hora a 600ºC, com taxa de aquecimento de 30ºC/min. O resfriamento foi ao ar, com

o material ainda dentro do tubo.

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42

3.3 Microscopia ótica (MO)

A microscopia ótica foi empregada como primeira etapa de caracterização da

microestrutura. A amostra, de aproximadamente 1x1 cm, foi lixada com a sequência de

lixas de carbeto de silício de 220, 320, 400, 600, 1200 e 2500 mesh. Em seguida, foi feito

polimento eletrolítico por duplo jateamento por 1 minuto e 20 segundos, a uma tensão de

28 V, em solução de 91% de ácido acético e 9% de ácido perclórico no equipamento

Tenupol-5 da marca Struers. Não foi necessário nenhum tipo de ataque químico para

revelar grãos.

Todas as observações de microscopia óptica foram realizadas no equipamento

LEICA DM/RM, disponível no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais

(DEMM) da UFRJ (Fig. 29).

Figura 29 - Microscópio Ótico

utilizado na análise.

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43

3.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

A microscopia eletrônica de varredura oferece maior poder de resolução que a

técnica anterior e, por isso, foi empregada na análise microestrutural. O microscópio

utilizado foi o equipamento modelo JEOL JSM 6460 LV, localizado no Laboratório de

Microscopia Eletrônica do DEMM da UFRJ (fig 30). As imagens foram obtidas com

sinal de elétrons retroespalhados e voltagem de aceleração de 20 kV. Para identificação

da composição química da amostra, foi utilizada a técnica semi-quantitativa de EDS da

marca NORAN System Six 200, acoplado ao MEV.

Para isso, a amostra foi prepara da mesma maneira que para a microscopia ótica:

por lixamento e polimento eletrolítico.

Figura 30 - MEV utilizado nas análises.

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44

3.5 Microscopia eletrônica de transmissão (MET)

Neste trabalho, o MET foi utilizado para identificar as fases presentes no material.

A distribuição destas fases também é de grande interesse, uma vez que afeta as

propriedades finais da liga, como discutido anteriormente. A análise da composição foi

feita com o auxílio do espectrômetro por dispersão de energia (EDS).

As chapas do material foram cortadas por punção e amostras foram preparadas por

FIB, para serem analisadas em seção longitudinal. Uma fatia fina em forma de retângulo,

visualizada por MEV, foi obtida através do desbaste e corte pelo feixe de íons. A

remoção da amostra foi feita por uma pinça, utilizando uma solda de carbono acoplada no

retângulo. Em seguida, este retângulo foi posicionado em um semicírculo de cobre (porta

amostra) para ser analisado por MET. A Figura 31 apresenta as etapas da preparação por

FIB.

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45

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 31 –Preparação por FIB para MET, que engloba o desbaste inicial (a,b,c), a retirada de uma fração

da amostra (d) e a fixação no porta amostra (e,f).

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46

As análises de MET foram feitas com voltagem de aceleração de 200 kV, nos

equipamentos Titan™ G2 80-200 da COPPE/UFRJ e CM-20 PHILIPS da Universidade

ULB (Bruxelas-Bélgica) (fig. 32).

(a) (b)

Figura 32 - Modelos (a) Philips e (b) Titan de microscópios de transmissão utilizados nas análises

[46].

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47

3.6 Dureza

Ensaios de dureza podem ser realizados para investigar a influência de tratamentos

termomecânicos nos materiais. Nesse estudo, foi feito o ensaio de microdureza Vickers

com o objetivo de verificar o resultado do processamento.

Para realizar o ensaio, a amostra foi cortada em formato quadrado de

aproximadamente 1x1 cm pela cortadora metalográfica Arotec, desbastada com lixas de

carbeto de silício de 400, 600 e 1200 mesh, em seguida polida com alumina e ácido

oxálico. Foram efetuadas dez impressões na amostra, com espaçamento de 0,5 mm entre

elas. A carga aplicada foi 50g por 30 segundos, no microdurômetro Leitz-Wetzlar do

laboratório de Microscopia Ótica e Análise de Imagens da COPPE/UFRJ (Fig. 33).

Figura 33 – Microdurômetro da COPPE/UFRJ.

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48

3.7 Tamanho de grão

O tamanho de grão é uma característica importante na determinação de diversas

propriedades de materiais metálicos como ductilidade, resistência mecânica e

propriedades em fluência. Por isso, aparece como parâmetro em modelos e teorias de

comportamento de materiais [47].

Para medir o tamanho médio, existem diversos métodos quantitativos. O método

dos interceptos, citado pelo ASTM International (American Society for Testing and

Materials), foi escolhido para estimar o tamanho médio dos grãos no presente estudo.

Para isso, foi utilizado o software Fiji Image J.

4 Resultados e Discussão

4.1 Microscopia ótica

Através da microscopia ótica foi possível observar uma fina microestrutura de grãos

alongados no sentido longitudinal, para a condição laminada a frio. Esse alongamento se

dá na direção de laminação, evidenciando a deformação imposta no processamento. A

Figura 34 apresenta as micrografias obtidas nos aumentos nominais de 200 e 500x. Como

esperado, a microestrutura aparece homogênea, já que apenas uma fase é resolvida em

baixos aumentos.

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49

(a) (b) Figura 34 – Micrografia da liga Zr-Nb por MO, laminada a frionos aumentos nominais (a) 200x e

(b) 500x.

A microscopia ótica também foi utilizada para caracterizar a liga após o tratamento

térmico de recozimento realizado a 600ºC por 1 hora. A Figura 35 mostra a

microestrutura parcialmente recristalizada, com regiões de contornos de grãos definidas

ao lado de ilhas de deformação ainda alongadas da condição anterior.

(a) (b)

Figura 35 - Micrografia da liga Zr-Nb por MO após recozimento nos aumentos nominais (a) 200x

e (b) 500x.

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50

4.2 Microscopia eletrônica de varredura

Os resultados de microscopia eletrônica de varredura, na amostra laminada a frio,

não foram capazes de distinguir as duas fases previstas no diagrama de equilíbrio,

aparentando uma estrutura monofásica. Nesta análise, as amostras permanecem na

condição trabalhadas a frio. As micrografias obtidas assemelharam-se às de microscopia

ótica, porém com melhor resolução e profundidade de campo. As imagens foram

adquiridas nos aumentos nominais 500x e 1000x, mostradas na Figura 36. Os resultados

evidenciam a necessidade do uso da microscopia eletrônica de transmissão para análise

completa da liga em estudo.

(a) (b)

Figura 36 - Micrografia da liga Zr-Nb por MEV, laminada a frio, nos aumentos nominais (a) 500x

e (b)1000x.

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51

4.3 Microscopia eletrônica de transmissão

Para caracterizar a microestrutura, detectar a presença de Nb-β e mostrar a

distribuição dessa fase, foram obtidas, por microscopia eletrônica de transmissão,

imagens de campo claro e campo escuro. As fases foram identificadas por difração de

elétrons. Os ensaios relatados a seguir foram realizados no equipamento CM-20

PHILIPS.

Foi feita difração de elétrons na matriz para confirmar que os tratamentos

termomecânicos geraram a microestrutura esperada, de matriz Zr-α. Para isso, foi

utilizada uma abertura de área selecionada (SAD) pequena, de maneira a observar

somente um grão. Para indexar a difração e, dessa maneira, identificar as fases presentes,

foram utilizados os valores de d(Å) (distância interplanar) medidos entre o spot central e

outras duas direções. Estes valores foram oferecidos pelo próprio software do

microscópio no momento da obtenção das imagens e foram associados a planos da rede

cristalina. Para saber quais os planos eram correspondentes aos d’s medidos, foram

utilizadas listas de espaçamentos interplanares das fases Zr-α, Zr-β e Nb-β. Essas listas

foram geradas pelo software CrystalMaker, a partir de fichas CIF obtidas com a base de

dados do Inorganic Crystal Structure Database (ICSD).

A Figura 37 mostra o campo escuro e a figura de difração correspondente a um grão

daquela região, com os d(Å)’s medidos indicados de 1,89Å e 2,46Å. A Figura 38

identifica os planos associados a esses valores de d, que foram localizados na lista gerada

para o Zr-α [48].

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52

(a) (b)

Figura 37 - (a) Campo escuro de uma região da matriz de Zr, (b) Padrão de difração de um grão,

com as distâncias interplanares destacadas. Os índices do plano e eixo de zona serão apresentados

na figura 40.

Esta verificação pode ser utilizada para afirmar que a matriz é constituída de Zr-α.

Adicionalmente, foram usados dois outros métodos de verificação. A segunda etapa

consistiu em encontrar um padrão de difração de cristais hexagonais compactos (hc),

estrutura cristalina da matriz, que assemelhava-se ao resultado não só em relação aos

valores de d, mas também ao formato do padrão de difração, aos ângulos e os planos do

espaço recíproco representados pelos spots. A Figura 39 ilustra o padrão hc de escolha.

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53

Figura 38 – Planos cristalográficos encontrados para o Zr-α destacados na lista de espaçamentos

interplanares obtida pelo software CrystalMaker [48].

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54

A partir do padrão hc, observou-se que a razão entre d1 e d2 medidos, ou C/A,

equivale a 1,301. Nesse caso, a diferença para 1,299 é muito pequena. O ângulo entre A e

C também foi obtido diretamente no computador, que mediu 88ºC, com apenas dois graus

de diferença para o padrão (aceitável). Mais uma vez, confirmou-se a microestrutura de

matriz Zr-α.

Por fim, comparou-se o d medido ao d teórico calculado para estruturas hexagonais,

segundo a equação 2. Nessa equação, dhkl é o espaçamento interplanar, h,k,l representam

os índices de Miller do plano e “a” e “c” são os parâmetros de rede. Os parâmetros de

rede teóricos do Zr-α são a0=3,23Å e c0=5,15Å [3]. Os planos e ,

observados no modelo, correspondentes a e , geraram d(Å)’s iguais a

2,458Å e 1,894Å. Este resultado confirma que a imagem é corresponde à matriz Zr-α e

que os planos representados pelos spots são os mesmos do padrão hc. Ou seja, pode-se

afirmar que o eixo de zona era A figura de difração indexada é apresentada na

figura 40.

Figura 39 - Modelo de um padrão de difração para

materiais hexagonais [49].

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55

(Eq. 2)

Foi feita também a difração de elétrons em uma região maior, contendo um

contorno de grão, com o objetivo de identificar a Nb-β. A Figura 41 apresenta a imagem

de campo escuro e a respectiva figura de difração realizada com SAD grande. Assim,

mais de um grão foi observado, resultando em uma série de halos que correspondem a

mais de uma fase. É esperado que halos mais espessos sejam relacionados a grãos

pequenos (como as partículas Nb-β) e halos finos a grãos maiores (como a matriz Zr-α).

Medidas de d para seis anéis foram obtidas. Porém, das seis medidas, quatro

assemelhavam-se a Zr-α e a Nb-β ao mesmo tempo segundo a lista de valores de d para

essas fases, tornando a separação das duas impraticável. Para o primeiro e segundo anéis,

marcados na Figura 41 (b), os valores de d medidos foram 2,795Å e 2,440Å,

Figura 40 - Figura de difração da matriz de Zr- α indexada,

referente à figura 37(b).

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56

respectivamente. Novamente, recorreu-se às listas de espaçamento interplanar para as

fases Zr-α, Nb-β e Zr-β, obtidas a partir das fichas CIF.

O primeiro valor de d aparece claramente referente à fase Zr-α, marcado em

vermelho na Figura 42. É interessante notar que o grupo de planos (002), correspondente

à maior intensidade (I/Imax=100%), que esperava-se ser o primeiro anel, não é o exibido

na difração (destacado em azul na Fig. 42). Isso acontece pois, devido a textura resultante

da laminação, os planos paralelos ao plano basal estão na sua maioria perpendiculares ao

feixe de elétrons e, por isso, não aparecem.

(a) (b)

Figura 41 - (a) Imagem de campo escuro da liga Zr-Nb e (b) o padrão de difração relacionado a

uma SAD grande, com as distâncias interplanares medidas em destaque.

Em relação a d2, que aparentava ser referente à fase menor Nb-β pela difração, não

foi possível constatar a existência dessa fase segundo a lista de espaçamentos

interplanares para Nb-β, como mostra a Figura 43. O valor mais próximo seria 2,3414Å,

gerando um resultado inconclusivo. Assim, através da figura de difração de halos, pode-

se indexar a matriz Zr-α, mas não confirmar a presença de Nb-β.

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57

Com o objetivo de confirmar a presença e localização do nióbio, foi realizada uma

nova difração. Para isso, outras regiões ricas em nióbio foram investigadas, usando a

técnica de mapeamento por EDS. A Figura 44 mostra a imagem de STEM da região em

que foi feito o EDS. Este mapeamento revelou a presença de nióbio na região de contorno

de grão, que foi utilizada, portanto, para a difração de elétrons. Em seguida, foi obtida a

imagem de campo escuro e feita a difração com SAD pequena, afim de difratar um único

grão (Figura 45).

Figura 42 – Planos cristalográficos encontrados para o Zr-α na segunda difração, destacados na

lista de espaçamentos interplanares obtida pelo software CrystalMaker [48].

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Figura 43 – Plano cristalográfico encontrado para o Nb-β, destacado na lista de espaçamentos

interplanares obtida pelo software CrystalMaker [50].

(a) (b)

Figura 44 – (a) Imagem de STEM e (b) mapeamento de EDS para o Zr e Nb.

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59

(a) (b)

Figura 45 – (a) Imagem de campo escuro com a região da SAD e a (b) difração de elétrons

correspondente.

Esta análise foi conduzida no microscópio de transmissão TITAN e, por isso, os

valores de d(Å) precisaram ser medidos. A figura de difração foi tratada pelo software

CaRIne Crystallography, para realizar as medições dos valores de d e dos ângulos. Os

valores de d encontrados para os dois primeiros halos foram calculados como sendo a

metade da distância entre dois spots opostos do mesmo halo. Os valores medidos foram

1,378Å e 1,639Å. Dessa vez, a busca de um modelo ccc e o uso da equação foram

utilizados como ferramenta de confirmação.

Sabendo que havia Nb-β na região escolhida, buscou-se um padrão de difração de

cristais ccc semelhante ao resultado, seguindo os mesmos critérios da análise anterior. A

Figura 46 apresenta o modelo encontrado.

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60

Figura 46 – Modelo de um padrão de difração para materiais ccc [49].

A partir do padrão ccc, observou-se que a razão entre d1 e d2 medidos, ou A/B,

equivale a 1,189. A diferença de 0,036 é considerada muito pequena. O ângulo entre A e

B medido foi 65,6º. Assim, pode-se confirmar a presença da fase β na região.

Por fim, adicionalmente, comparou-se o d medido ao d teórico, segundo a equação

3. Nessa equação, dhkl é o espaçamento interplanar, h,k,l representam os índices de Miller

do plano e “a” é o parâmetro de rede. Para isso, foram utilizados os parâmetros de rede

teóricos de interesse, no caso as duas fases β. Para o Zr-β, a0=3,57Å e para o Nb-β,

a0=3,30Å [3].

(Eq. 3)

Os planos e geraram d(Å)’s iguais a 1,457Å e 1,785Å para o Zr-β, e

1,347Å e 1,650Å para o Nb-β. Este resultado confirma que a região difratada é composta

de Nb-β e que o mesmo encontra-se distribuído entre os contornos de grão.

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61

4.4 Dureza

O ensaio foi realizado nas condições (a) laminado a frio e (b) após recozimento. O

valor correspondente à dureza Vickers foi definido a partir da média de dureza de dez

impressões, apresentadas nas tabelas 3 e 4. As medições foram retiradas diretamente no

equipamento e relacionadas ao valor de dureza através de uma tabela correspondente à

carga aplicada.

Tabela 3 – Dureza Vickers, amostra de formada a frio.

Medida Dureza (HV)

19,5 244

18,5 271

17,8 293

19,7 239

19,2 251

18,0 286

19,6 241

18,2 280

18,3 277

18,0 286

Média 266,8±20,8

Tabela 4 – Dureza Vickers, amostra recozida.

Medida Dureza (HV)

23,5 168

23,0 175

22,2 188

21,0 210

21,1 208

20,4 223

21,9 193

19,8 236

21,0 210

20,6 218

Média 202,9±21,5

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62

A dureza média encontrada antes do recozimento foi 266,8 ± 20,8 HV. Este valor

foi comparado com o resultado apresentado na dissertação de mestrado de GUEDES, em

que o ensaio de dureza foi realizado no mesmo material de mesmo processamento [27]. A

autora registra uma média de 265,8 ± 1,5 HV, próximo ao resultado encontrado.

GUEDES [27] afirma que suas amostras tiveram queda de dureza após o

recozimento à 600ºC por 1h, saindo de 265,8 ± 1,5, após a laminação a frio, para 191,6 ±

4,1. No presente trabalho, a microdureza encontrada na condição (b) foi de 202,9 ± 21,5.

Considerando sua grande incerteza, pode-se dizer este valor é compatível com o trabalho

anterior.

Apesar da queda, a autora observa através de DSC a inexistência de um pico de

recristalização em seu material, submetido ao mesmo tempo e temperatura deste estudo.

No presente trabalho, o resultado da MO aliado ao ensaio de dureza, também exibiu

microestrutura parcialmente recristalizada. No entanto, não foi realizado ensaio de DSC.

4.5 Tamanho de grão

O cálculo do tamanho de grão foi feito utilizando o método do intercepto linear,

longitudinalmente, com o auxílio do programa de imagens Fiji Image J. O tamanho é

definido a partir da contagem de interseções entre os contornos de grão e os segmentos de

retas paralelas de tamanho conhecido traçados na imagem. Esses segmentos são

aproximadamente perpendiculares à direção de deformação da microestrutura. Assim,

sabendo que cada grão intercepta uma reta duas vezes e que há um comprimento total de

retas, é possível calcular o tamanho médio da seção transversal do grão. Este

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63

procedimento foi realizado quatro vezes em micrografias de MET de mesmo aumento,

com o objetivo de reduzir o erro desta medida.

As imagens da Figura 47 ilustram a metodologia adotada em quatro imagens de

MET de regiões diferentes, com aumento de 91k vezes cada. A tabela 5 apresenta os

valores utilizados no cálculo do tamanho médio do grão. O valor encontrado foi 71,43 ±

2,76 nm (tabela 6).

Tabela 5 - Lista dos dados para cálculo de tamanho médio de grão.

Micrografia Nº de retas

Auxiliares

Comprimento

total (nm) Interceptos Tamanho de grão (nm)

A 4 1947,545 57 68,33

B 4 1757,931 47 74,80

C 4 1662,901 46 72,30

D 4 1687,288 48 70,30

Tabela 6 - Tamanho médio de grão

Tamanho médio de grão

71,43 ± 2,76 nm

0,071±0,003 μm

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64

Figura 47 – Micrografias de MET (a), (b), (c) e (d) da liga Zr-Nb utilizadas para o método dos

interceptos.

STEPANOVA et al [43] calcularam o tamanho médio de grãos da liga comercial

Zr-1Nb pelo método da secante nas duas condições anteriormente citadas: (1)

hidrogenada a 0,22% seguida de deformação a quente a 70-75% de redução e (2)

deformada a temperatura ambiente a 40-50% de redução seguida de recozimento

intermediário. Na condição (1), em que o material também tem a deformação a frio como

(a) (b)

(c) (d)

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65

etapa final de processamento, o tamanho médio determinado foi 0,42 ± 0,1 μm. Já na

condição (2), o tamanho médio foi de 0,45 ± 0,18 μm.

NEOGY et al [26] estimaram o tamanho das fases da liga comercial Zr-1Nb como

recebida em um estudo de formação de hidretos. Nesse caso, um grão típico da fase α

encontrava-se na faixa de 3-5 μm. A tabela 7 resume a comparação entre os dois

trabalhos e o resultado experimental.

Tabela 7 – Tamanho de grão experimental comparado à literatura.

Ligas Zr-1Nb Tamanho de grão (μm)

Experimental 0,071 ± 0,003

STEPANOVA[43]

(1) 0,42 ± 0,1

STEPANOVA[43]

(2) 0,45 ± 0,18

NEOGY[26]

3 – 5

É importante destacar que o termo “liga comercial” pressupõe que, além de passar

pelo processamento descrito no presente estudo, foi realizado recozimento no material,

buscando o alívio de tensões ou a recristalização. Por isso, a diferença na ordem de

grandeza entre o tamanho de grão calculado e os encontrados na literatura é justificável

tanto por este fator quanto, possivelmente, pela presença de outros elementos de liga

existentes no material experimental. Além disso, a temperatura de laminação a quente

pode contribuir para o mesmo efeito.

É possível que o tamanho médio de grão da liga experimental na condição recozida

aproxime-se da literatura. No entanto, acredita-se no refinamento de grão devido à

composição química, que só poderá ser confirmado por nova análise de tamanho de grão

após o tratamento térmico.

Page 75: Caracterização microestrutural de uma liga experimental Zr ... · utilizou-se a microscopia eletrônica de transmissão (MET) como principal forma de caracterização, pela obtenção

66

5 Conclusões

No presente trabalho, uma liga experimental Zr-Nb foi caracterizada por MO,

MEV, MET e ensaio de microdureza na principal condição de processamento,

envolvendo forjamento, laminação a quente e laminação a frio. Em seguida, um

tratamento de recozimento foi realizado, iniciando novos estudos do material sob

processamento comercial.

A partir dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que:

As análises por MO e MEV tiveram contribuições discretas na

caracterização da liga, permitindo a verificação do processamento realizado. A liga

apresentou microestrutura de grãos deformados e alongados.

Foi constatado por MET a decomposição do Zr-β, proveniente dos

tratamentos termomecânicos à 800ºC. Isso significa que foram encontrados

precipitados de Nb-β na matriz Zr-α à temperatura ambiente, seguindo a reação

monotetóide . Através da difração de elétrons, foi

identificada a localização destes, que apresentaram-se principalmente distribuídos

entre os contornos de grão.

O ensaio de microdureza permitiu confirmar a condição de processamento

da amostra estudada, fator importante na condução das análises e interpretação de

resultados. Entre o primeiro e o segundo ensaio, realizado após o recozimento, foi

observado queda de dureza e valores compatíveis com estudos anteriores.

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67

As análises de tamanho de grão por MET revelaram grãos ultrafinos,

possivelmente resultado das adições de elementos de liga. Outras razões seriam a

temperatura de laminação e a ausência de recristalização.

Para analisar comparativamente a liga experimental em relação às ligas comerciais

de maneira apropriada, o material deve passar pelo estágio de recozimento. Como não

houve tempo hábil para caracterizar a liga recozida por MET, não foi possível concluir se

a microestrutura da liga experimental nesta condição apresentaria precipitados esféricos

de Nb-β distribuídos.

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68

6 Trabalhos futuros

Como sugestão de trabalhos futuros, pode-se considerar:

A continuidade da caracterização da liga recozida a 600ºC por 1 hora e por

tempos mais longos por MET, em busca de resultados de morfologia e tamanho de grão.

Utilizar a difração de elétrons para investigar a presença e distribuição de Nb-β ao

fim do processamento comercial, levando em consideração a influência das pequenas

adições de elementos de liga.

Ainda, a análise de textura, introduzida durante as etapas de forjamento e

laminação a quente, em busca do desempenho ótimo em serviço.

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