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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA Dissertação de Mestrado Caracterização Morfodinâmica e Sedimentologia da Plataforma Continental Rasa na APA Estadual dos Recifes de Corais - RN Autor: Jonas Ricardo dos Santos Orientador: Dr. RICARDO FARIAS DO AMARAL (DG/PPGG-UFRN) Dissertação n.° 91/PPGG NATAL, RN Fevereiro, 2010

Caracterização Morfodinâmica e Sedimentologia da ... · análise dos sedimentos verificou-se que os sedimentos da plataforma continental oriental do RN apresenta uma dominância

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEODINÂMICA E GEOFÍSICA

Dissertação de Mestrado

Caracterização Morfodinâmica e Sedimentologia da

Plataforma Continental Rasa na APA Estadual dos

Recifes de Corais - RN

Autor: Jonas Ricardo dos Santos

Orientador: Dr. RICARDO FARIAS DO AMARAL (DG/PPGG-UFRN)

Dissertação n.° 91/PPGG

NATAL, RN

Fevereiro, 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica

Dissertação de Mestrado

Caracterização Morfodinâmica e Sedimentologia da

Plataforma Continental Rasa na APA Estadual dos

Recifes de Corais - RN

Autor: Jonas Ricardo dos Santos

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Terra pelo Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica da UFRN.

Comissão examinadora:

Prof. Dr. Ricardo Farias do Amaral (DG/PPGG-UFRN – Orientador)

Prof. Dr. Francisco Pinheiro Lima Filho (DG/PPGG-UFRN)

Dra. Hortência Maria Barbosa Assis (CPRM)

Prof. Dr. José Gustavo Natorf de Abreu (CTTMar-UNIVALI)

NATAL – RN. Fevereiro de 2010.

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Dedico este trabalho aos meus pais

Oraci e Neiva, aos meus irmãos

Lucas e Tiago e em especial ao meu

filho João Gabriel, que a distância só

fez aumentar o carinho que sinto por

vocês.

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“Dê-me uma amostra do fundo oceânico

e eu lhe contarei sua história”

Figueiredo & Brehme

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AGRADECIMENTOS

A minha família, que apesar da distância, sempre me deram apoio e me

incentivaram em todos os momentos desta etapa.

Ao meu orientador, Dr. Ricardo Farias do Amaral, pela sua amizade e

confiança na realização deste trabalho.

Ao Conselho Nacional de desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq),

pela bolsa de estudos.

Ao Serviço Geológico do Brasil – CPRM que através do projeto Plataforma

Rasa – GranMar financiou os trabalhos de campo e análises de laboratório.

À técnica Fátima Maria B. de Morais (Laboratório de Sedimentologia/UFRN),

pelo apoio na obtenção dos dados laboratório e pelos momentos felizes nas

horas do cafezinho.

À Nilda de Araújo Lima, secretária da Pós-Graduação em Geodinâmica e

Geofísica, pela sua atenção e competência em todas as necessidades que tive.

A todos que fazem parte do Laboratório de Estudos Geoambientais (LEGeo) e

aos que participaram das coletas de campo e das análises de laboratório.

Aos Professores Antonio Henrique da Fontoura Klein e José Gustavo Natorf de

Abreu pela amizade e incentivo e a todos os amigos do Laboratório de

Oceanografia Geológica – LOG/UNIVALI.

Aos professores Narendra, Vanildo, Francisco Oliveira e Marcela pelas

conversas e aprendizados adquiridos.

À minha linda companheira Shirley Oliveira de Brito, pelo apoio, carinho e

paciência durante este período.

Aos companheiros de trabalho Lino Pedro de Araújo Filho, Guilherme Pierri,

Eduardo Vitarelli de Queiroz, Clébia Bezerra da Silva, por todo o apoio.

A todos os meus amigos: Eduardo Lima, Lucyanno Reis, Hanyel, Angelo,

Tatiana Galvão, Ana Cristiane, Karina, um muito obrigado.

Finalmente, a todas as pessoas que me ajudaram, direta ou indiretamente,

mesmo que por um instante, durante esta caminhada.

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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo caracterizar os sedimentos da

plataforma continental rasa e realizar o mapeamento das feições visíveis por

imagens de satélite, utilizando técnicas de sensoriamento remoto,

processamento digital de imagens e análise batimétrica entre Maxaranguape e

Touros – RN. A área de estudo está localizada no segmento de transição entre

a porção oriental e a setentrional da plataforma continental do Estado do Rio

Grande do Norte, Brasil, e está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA)

dos Recifes de Corais. Um total de 1186 amostras de sedimento foram

coletadas usando uma draga do tipo Van Veen e o posicionamento da

embarcação foi realizado com o auxílio de um GPS Garmin 520s. Em

laboratório, as amostras foram tratadas para realizar a análise granulométrica,

concentração do teor de carbonato de cálcio e composição biogênica. Para o

mapeamento das feições foram utilizadas as imagens digitais do Landsat 5-TM

(orbita 214/064 de 07 de agosto de 2005). Foi utilizada a banda 1 (0,45-1,52

µm), sendo realizada a correção geométrica, e posteriormente o ajuste do

histograma, gerando uma melhor visualização das feições de fundo e os

contatos entre os diferentes tipos de fundo. A partir dos resultados obtidos da

análise dos sedimentos verificou-se que os sedimentos da plataforma

continental oriental do RN apresenta uma dominância da fácies carbonática e

de um fundo areno-cascalhoso em função da região ser dominada por

sedimentos biogênicos, que são constituídos principalmente por algas

calcárias. As feições morfológicas de fundo encontradas foram validadas

através de dados batimétricos e amostras de sedimentos analisadas. A partir

dos resultados obtidos uma divisão apropriada para a plataforma em estudo é

sugerida, sendo estas regiões subdividas, em zonas bem caracterizadas: (1)

Zona Túrbida, (2) Zona de Bancos Recifais, (3) Zona de Sedimentos

Carbonáticos Mistos, (4) Zona de Algas Incrustantes, (5) Zona de Alinhamentos

Rochosos, (6) Campo de dunas Submersas e (7) Depósito Areias

Siliciclásticas.

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ABSTRACT

This study had to aimed to characterize the sediments of shallow continental

shelf and realize the mapping of features visible for satellite images by using

remote sensing techniques, digital image processing and analysis of bathymetry

between Maxaranguape and Touros - RN. The study’s area is located in the

continental shallow shelf of Rio Grande do Norte, Brazil, and is part of the

Environmental Protection Area (APA) of Coral Reefs. A total of 1186 sediment

samples were collected using a dredge type van veen and positioning of the

vessel was made out with the aid of a Garmin 520s. The samples were treated

In the laboratory to analyze particle size of the sediment, concentration of

calcium carbonate and biogenic composition. The digital images from the

Landsat-5 TM were used to mapping of features. This stage was used the band

1 (0,45-1,52 µm) where the image were georeferenced, and then adjusting the

histogram, giving a better view of feature bottom and contacts between different

types of bottom. The results obtained from analysis of the sediment showed that

the sediments of the continental shelf east of RN have a dominance of

carbonate facies and a sand-gravelly bottom because the region is dominated

by biogenic sediments, that are made mainly of calcareous algae. The bedform

types identified and morphological features found were validated by bathymetric

data and sediment samples examined. From the results obtained a division for

the shelf under study is suggested, these regions being subdivided, in well

characterized: (1) Turbid Zone, (2) Coral Patch Reefs Zone, (3) Mixed

Sediments Carbonates Zone, ( 4) Algae Fouling Zone, (5) Alignment Rocky

Zone, (6) Sand Waves Field (7) Deposit siliciclastic sands.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... v

RESUMO............................................................................................................ vi

ABSTRACT ....................................................................................................... vii

SUMÁRIO......................................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... x

LISTA DE TABELAS ......................................................................................... xii

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ........................................................................... 1

1.1 OBJETIVOS .......................................................................................... 3

Objetivo Geral ............................................................................................ 3

Objetivos Específicos ................................................................................. 3

1.2 ÁREA DE ESTUDO ............................................................................... 4

1.3 PARÂMETROS OCEANOGRÁFICOS E CLIMATOLOGIA ................... 5

Ondas.... .................................................................................................... 5

Correntes ................................................................................................... 6

Variação de Maré ....................................................................................... 9

Clima..... ................................................................................................... 10

1.4 RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................... 12

CAPITULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 14

2.1 Plataforma Continental do Nordeste .................................................... 14

Morfologia e Batimetria ............................................................................ 14

Fácies Sedimentares ............................................................................... 16

Morfologia e Divisão ................................................................................ 17

Variações no Nível Médio do Mar ............................................................ 18

2.2 Feições da plataforma associada á variação do nível do mar ............. 20

2.3 Sedimentação Marinha ........................................................................ 21

Sedimento MarinhoTerrígeno .................................................................. 21

Sedimento Carbonático ........................................................................... 21

2.4 Distribuição dos Recifes de Corais ...................................................... 24

2.5 Estruturas submersas observáveis por Sensores Remotos ................ 26

2.6 Formas de Fundo ................................................................................ 28

2.7 Recursos Minerais Marinhos ............................................................... 31

CAPÍTULO III – METODOLOGIA ..................................................................... 33

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3.1 Compilação e análise de dados pré-existentes ................................... 33

3.2 Estudo Batimétrico ............................................................................... 33

3.3 Coleta de amostras de sedimentos de fundo ...................................... 34

3.4 Etapas Laboratoriais ............................................................................ 37

Lavagem dos sedimentos ........................................................................ 37

Secagem do sedimento ........................................................................... 37

Separação e Quarteamento ..................................................................... 38

Análise Granulométrica ............................................................................ 38

Análise Química - Teor de Carbonato ...................................................... 39

Análise da composição dos sedimentos .................................................. 40

3.5 Processamento de Imagens de Sensores Remotos ............................ 42

3.6 Integração e Armazenamento de Dados ............................................. 43

3.7 Mapas – Método de Interpolação ........................................................ 43

CAPÍTULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................... 44

4.1 Diâmetro Médio ................................................................................... 44

4.2 Mapa Textural ...................................................................................... 46

4.3 Teor de Carbonato ............................................................................... 49

4.4 Composição dos Sedimentos .............................................................. 52

4.5 Divisão da Plataforma Continental Oriental do RN .............................. 53

4.6 Mapeamento e Zoneamento da Plataforma ........................................ 54

4.6.1 Região Interna ................................................................................. 56

Zona Túrbida ................................................................................. 56

Zona de Bancos Recifais .............................................................. 56

4.6.2 Região Intermediária ....................................................................... 57

Zona de Sedimentos Carbonáticos Mistos .................................... 57

4.6.3 Região Externa ................................................................................ 59

Zona de Algas Incrustantes ........................................................... 59

Zona de Alinhamento Rochoso ..................................................... 59

Campo de dunas submersas......................................................... 60

Depósito de Areias Siliciclásticas .................................................. 62

4.7 Importância Econômica dos Sedimentos ............................................. 64

CAPITULO V – CONCLUSÕES ....................................................................... 65

CAPÍTULO VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 66

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Mapa da localização da área de estudo na plataforma continental do Rio Grande do Norte. .................................................................................... 5

Figura 1.2 – Esquema simplificado da Corrente Sul-Equatorial ao atingir à costa nordestina brasileira e dividindo-se formando a Corrente Norte Brasileira e a Corrente do Brasil. Fonte: Modificado de Peterson & Stramma (1991) e Castro & Miranda (1996). ............................................................................................... 7

Figura 1.3 – Caracterização da velocidade e direção das correntes na plataforma Norte e Nordeste do Brasil no mês de setembro. ............................. 8

Figura 1.4 - Esquema Simplificado da oscilação Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). .......................................................................................... 11

Figura 1.5 – Mapa das bacias hidrográficas e seus principais rios que desembocam no litoral da área de estudo. ...................................................... 13

Figura 2.1 – Mapas batimétricos obtido a partir da carta náutica 803 utilizando métodos de interpolação diferentes (Modificado de Nogueira & Amaral, 2009). ......................................................................................................................... 16

Figura 2.2 - Fatores que determinam a variação relativa do nível do mar (modificado de Moner, 1980)............................................................................ 19

Figura 2.3 - Exemplares de algas calcárias vermelhas (rodolitos) encontrados na área de estudo. ........................................................................................... 23

Figura 2.4 - Alga calcária verde (Halimeda), (a) como formadora de sedimento e (b) na sua forma quando articulada. .............................................................. 24

Figura 2.5 – Mapa dos contornos dos recifes encontrados na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais, destacando os seguintes complexos recifais de Maracajaú, Rio do Fogo e Cioba. ................................................................ 26

Figura 2.6 - Diagrama relacionando as formas dos corpos arenosos com a velocidade de corrente máxima de superfície em cm/s. Modificado de Belderson, et al. 1982. ..................................................................................... 30

Figura 3.1 – Mapa da distribuição dos pontos das amostras de sedimentos coletadas. ......................................................................................................... 35

Figura 3.2 - Embarcação utilizada nos trabalhos de campo. ............................ 35

Figura 3.3 - Embarcação equipada com os equipamentos eletrônicos de medição. ........................................................................................................... 36

Figura 3.4 - Coletor de amostra de fundo tipo Van Veen de aço inoxidável. .... 36

Figura 3.5 - Guincho utilizado para lançamento da draga Van Veen. .............. 36

Figura 3.6 - Processo de separação das amostras (a) e quarteamento das amostras (b). .................................................................................................... 38

Figura 3.7 - Mapa das amostras analisadas de sedimentos biogênicos. ......... 40

Figura 3.8 - Microscópio Digital Portátil Dino-Lite. ............................................ 41

Figura 3.9 - Ambiente SIG utilizado para a contagem dos grãos dos sedimentos. ...................................................................................................... 41

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Figura 4.1 - Mapa da distribuição do diâmetro médio de acordo com Folk & Ward (1957). .................................................................................................... 45

Figura 4.2 - Mapa textural segundo Shepard (1954). ....................................... 48

Figura 4.3 - Mapa da distribuição espacial do teor de carbonato de cálcio. ..... 51

Figura 4.4 – Distribuição do número total de ocorrência da composição do sedimento nas amostras analisadas. ............................................................... 52

Figura 4.5 - Composição do sedimento da fração 1-4mm. A) exemplos de algas calcárias e B) sedimentos siliciclásticos. .......................................................... 53

Figura 4.6 – Divisão da plataforma continental rasa na porção oriental do RN em três regiões: Interna, Central e Externa. ..................................................... 54

Figura 4.7 – Imagem da área de estudo do Landsat TM, banda 1, mostrando os limites das zonas mapeadas: (ZT) Zona Túrbida; (ZBR) Zona de Bancos Recifais; (ZSCM) Zona Sedimentos Carbonáticos Mistos; (ZAI) Zona de Algas Incrustantes; (ZAR) Zona de Alinhamento Rochoso; (CDS) Campo Dunas Submersas; (DAS) Depósito de Areias Siliciclásticas. ..................................... 55

Figura 4.8 – Cobertura do fundo no entorno dos recifes apresentando alta ocorrência de rodolitos, exemplo do recife de Maracajaú. ............................... 57

Figura 4.9 - Material sedimentar encontrado na zona de sedimentos carbonáticos. A) sedimentos carbonáticos mostrando a alta ocorrência da alga Halimedae; B) amostra com algas coralinas tendo como exemplo os rodolitos e algas vermelhas calcárias de formas livres. ..................................................... 58

Figura 4. 10 - Fundo de sedimentos carbonáticos; A) nesta zona podem ser observadas marcas onduladas (sand ribbons); B) intercalação de sedimento cascalhoso nas cavas e material fino nas cristas destas marcas onduladas. .. 58

Figura 4.11 - Alinhamento rochoso típico de um banco de arenito encontrado na área de estudo. ........................................................................................... 60

Figura 4.12 - Sedimentos terrígenos que compõem as dunas submersas. ..... 61

Figura 4.13 - Imagem do Landsat TM, banda 1, ilustrando o campo de dunas submersas e as suas cristas; as flechas indicam o sentido do fluxo preferencial. ......................................................................................................................... 62

Figura 4.14 - Amostra de sedimento coletada no depósito de areias siliciclásticas. .................................................................................................... 63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Características das Marés na Região de Natal. ............................. 9

Tabela 3.1 - Classificação dos sedimentos de acordo com a escala Wentworth (1922). .............................................................................................................. 39

Tabela 3.2 - Classificação dos grãos de sedimentos biogênicos para este estudo. ............................................................................................................. 42

Tabela 4.1 - Tabela comparativa da divisão da plataforma realizada por outros autores. ............................................................................................................ 63

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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

A Plataforma Continental é definida como uma superfície de largura

variável, sub-horizontal, que se estende da face de praia até o limite com o

talude continental, marcado por uma linha ou zona de brusco aumento de

declividade, caracterizado como quebra ou borda da plataforma (Komar, 1976).

Elas representam áreas afetadas pelas oscilações do nível do mar no

Quaternário. Este fato marca a importância desta região submersa no estudo

da evolução litorânea, pois é esperado que, abaixo da atual coluna de água,

possam ser observados testemunhos de feições outrora emersas (Amaral,

2000).

Feições geomorfológicas submersas menores, como cristas de bancos

de arenitos, cordões de areias, lineações dunares, registros de superfícies de

abrasão pretéritas desenvolvidas sobre os sedimentos da Formação Barreiras

e estruturas coralinas, entre outras, podem ser encontradas desde as regiões

mais rasas até os limites da plataforma externa nordestina.

A plataforma continental, ao longo do litoral oriental Potiguar, apresenta

largura variável, mostrando-se mais larga na altura do Cabo Calcanhar,

estreitando-se para sul até defronte a Cidade de Natal e, em seguida, sofrendo

um suave alargamento até a região do Rio Guaju, na fronteira com o Estado da

Paraíba. A linha de quebra desta plataforma se situa normalmente entre as

isóbatas de 60 e 80 m, marcada pelo abrupto aumento da declividade,

verificado com o inicio do talude (França, 1979).

Uma das características marcantes da plataforma continental na Região

Nordeste do Brasil é o predomínio de uma fácie carbonática, notadamente no

setor situado entre Macau, no Rio Grande do Norte, e Maceió, em Alagoas. Os

sedimentos que constituem o substrato desta plataforma exibem um nítido

limite entre as areias quartzosas terrígenas litorâneas e os depósitos

carbonáticos de algas coralinas, identificado pela presença de lithothaminium,

em formas livres e ramificadas (Coutinho & Morais, 1970).

A existência de linhas de arenitos de praia submersas é relatada em

plataformas rasas, em várias partes do mundo. Evidências destas linhas de

arenito submersas já foram documentadas na plataforma nordestina. Vianna &

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Santos, J. R., 2010 2

Solewicz (1988) também descrevem estas linhas, as quais denominaram de

“riscas” (utilizando a nomenclatura local) no litoral em frente à Cidade de

Touros (RN), a 20m de profundidade e a cerca de 20 km da costa.

Este trabalho faz parte do projeto GranMar-RN, que é uma parceria

entre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a UFRN, no qual tem o objetivo

de mapear e avaliar o potencial mineral dos granulados marinhos da plataforma

continental rasa do nordeste. Através deste projeto foi possível desenvolver

todos os levantamentos de campo e as análises de laboratório, obtendo assim

os resultados esperados.

Neste trabalho procurou-se realizar a caracterização das principais

feições submersas, assim como dos sedimentos de fundo, através da análise

de dados pré-existentes, coleta de dados e uso dos produtos de sensores

remotos, para identificar, classificar e mapear as feições submersas presentes

na plataforma continental rasa do RN.

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1.1 OBJETIVOS

Objetivo Geral

Caracterizar os sedimentos superficiais da plataforma continental rasa

oriental e identificar, mapear e analisar as feições submersas na Área de

Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC) e áreas adjacente por

meio de dados pré-existentes, produtos de sensores remotos e coleta de

sedimentos de fundo.

Objetivos Específicos

Processamento e análise de imagens de sensoriamento remoto das

principais feições da APARC e áreas adjacentes.

Análise e interpretação de dados batimétricos e de relevo.

Aquisição, processamento, análise e interpretação de dados dos

sedimentos de fundo.

Zoneamento da área de estudo a partir das análises realizadas.

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1.2 ÁREA DE ESTUDO

A área objeto deste trabalho corresponde ao segmento de transição entre

a porção Oriental e a Setentrional da plataforma continental ao largo do Estado

do Rio Grande do Norte, em frente à linha de costa que vai do Cabo de São

Roque ao Cabo Calcanhar (Fig. 1.1). Corresponde a uma faixa contida entre a

linha de costa (ao oeste) e a isóbata de 30m (ao leste) e limitada ao norte pela

latitude 9443000m (UTM) e ao sul pela latitude 9394000 m (UTM) na zona

25M.

A Área de Proteção Ambiental (APA) dos Recifes de Corais, que faz parte

da área de estudo, corresponde à região marinha que abrange a faixa costeira

dos municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros. A Área de Proteção

Ambiental dos Recifes de Corais (APARC) está inserida na plataforma

continental rasa ao nordeste do estado do RN, onde se destacam os recifes

isolados, alinhamentos rochosos e sedimentos de fundo prioritariamente

carbonáticos.

Criada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através do

Decreto Estadual no. 15.476, de 6 de junho de 2001. Esta região corresponde

a uma das áreas prioritárias no Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima

(Projeto ORLA), SPU/MP e o IDEMA/SUGERCO/MMA, que visa estabelecer

critérios para o uso sustentável de áreas de patrimônio da União.

Em função da importância que esta área representa, está em andamento

o estudo e levantamento de dados, conforme estabelece o Sistema Nacional

de Unidades de Conservação (SNUC), tendo por objetivo realizar o

Zoneamento e o Plano de Manejo da APARC com o objetivo de tornar esta

área uma Unidade de Conservação.

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Santos, J. R., 2010 5

Figura 1.1 – Mapa da localização da área de estudo na plataforma continental do Rio Grande do Norte.

1.3 PARÂMETROS OCEANOGRÁFICOS E CLIMATOLOGIA

Ondas

Não se tem conhecimento sobre medições diretas de longa duração, de

ondas no litoral oriental do estado. Assim, o clima de ondas que afeta o setor

da costa pode ser conseguido a partir de estatísticas sobre ondas publicadas e

do conhecimento dos mecanismos responsáveis pela geração das ondas no

Oceano Atlântico Sul.

Davies (1972) identificou duas regiões no Oceano Atlântico Sul, onde as

ondas são geradas. Destas, apenas uma, o cinturão de ventos alísios, parece

exercer uma influencia significativa no litoral do Nordeste. São ondas com

direção E-SE, alturas médias entre 1 e 1,5m e períodos de 5 a 7 segundos, em

quase todo o ano.

Bittencourt et al. (2002) com o objetivo de determinar o transporte

longitudinal ao longo de um trecho da costa nordeste do Brasil, determinou o

clima de ondas na área a partir de diagramas de refração. Segundo esses

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Santos, J. R., 2010 6

autores o setor onde se enquadra a área de estudo do presente trabalho

apresentou altura significativa de onda de 1,0m para direções de incidência de

N45° (NE), N90° (E) e 1,2m para ondas com direção N135° (SE).

Diniz (2002) caracterizou as ondas incidentes sobre o litoral leste do Rio

Grande do Norte. Segundo este, a faixa costeira oriental potiguar é carente de

medições de ondas de longa duração dispondo em maiores detalhes das

ondas de curto e médio prazo. A caracterização é baseada nas medidas

realizadas no período de 1977 a 1979, instalado a cerca de 5 km da linha de

costa, nas proximidades da cidade de Natal.

A altura significativa apresenta uma distribuição homogênea, em média

com 1,14m, moda de 1,10m e desvio padrão de 0,21m, enquanto o período

médio associado a esta altura significativa apresenta valor mais freqüente de

6,2s, uma média de 6,4s e um desvio padrão de 0,85s.

Ainda segundo Diniz (op cit.), as ondas estão concentradas em apenas

três direções (SE, E, e NE), sobressaindo-se as ondas de SE como aquelas

mais freqüentes e de maior energia. As ondas do tipo vagas, formadas por

influência dos campos de ventos locais, são amplamente dominantes (69,1%

do total), seguidas pelas ondas do tipo marulhos (11,6% do total) formadas em

regiões mais afastadas da costa e de ondas não classificadas através da

metodologia aplicada (19,2% do total). As ondas de S são de pouca relevância

para a costa oriental potiguar, face à sua linha de costa apresentar orientação

geral N-S.

São observadas alternâncias nas condições energéticas ao longo do

ano, com um período de menor energia de dezembro a maio, com alturas entre

0,4 e 2,8m, e outro, de maior energia, entre junho e novembro, com alturas que

chegam a atingir os 4,0m.

Correntes

Na plataforma do Nordeste do Brasil, a circulação oceânica é dominada

pela Corrente Sul-Equatorial que flui de leste para oeste atravessando o

Oceano Atlântico, sendo que nas proximidades do talude continental, a cerca

de 15°S, a corrente se divide, formando duas ramificações (Fig. 1.2) que fluem

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em sentido opostos: Norte Brasileira, deslocando-se para norte e oeste, ao

longo da costa, com velocidades de 1 a 2 nós e a Corrente do Brasil dirigida

para o sul, e velocidade de 0,5 nós (França et al., 1976; Silveira et al., 2009).

Figura 1.2 – Esquema simplificado da Corrente Sul-Equatorial ao atingir à costa nordestina brasileira e dividindo-se formando a Corrente Norte Brasileira e a Corrente do Brasil. Fonte: Modificado de Peterson & Stramma (1991) e Castro & Miranda (1996).

Hazin et al. (2008) utilizando um correntógrafo fundeado a uma

profundidade de 35m, verificou que as velocidades de correntes variaram entre

1,39cm/s e 24,92cm/s, com valor médio de 6,32cm/s. A direção predominante

da corrente nos períodos de maior intensidade foi para noroeste.

Dados da velocidade das correntes na Área de Proteção Ambiental dos

Recifes de Corais – APARC foram obtidos através da utilização de um

derivador, onde uma vela submersa dava o direcionamento do derivador. Neste

estudo observaram-se as maiores velocidades de corrente (43 cm/s) nas

campanhas mais distais da costa, a profundidades de 15 e 18m. A corrente

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mais próxima da costa e entre os complexos recifais de Maracajaú e Rio do

Fogo, apresentaram velocidades das correntes menores (24 e 23cm/s), nas

profundidades de 10 e 8m, respectivamente. As trajetórias do derivador em

todas as campanhas sofreram influência da variação da maré de sizígia, tendo

maior expressividade esta influência entre os complexos recifais de Maracajaú

e Rio do Fogo (IDEMA, no prelo).

Uma modelagem numérica foi obtida pela NOAA/AOML (Fig. 1.3)

caracterizando as correntes na região norte e nordeste do Brasil.

Figura 1.3 – Caracterização da velocidade e direção das correntes na plataforma Norte e Nordeste do Brasil no mês de setembro. Fonte - (http://www.aoml.noaa.gov/phod/graphics/dacdata/seasonal_brazil.gif).

As correntes costeiras podem ser estimadas indiretamente, a partir do

conhecimento da direção dos ventos superficiais e da observação da

orientação geral e dos indicadores geomorfológicos na linha de costa. Desta

forma, é previsível uma orientação geral da corrente longitudinal no sentido de

Sul para Norte, no litoral oriental do Rio Grande do Norte.

Por outro lado, no litoral norte do estado é observado o desenvolvimento

de uma importante corrente de deriva para oeste. Medições de correntes, ao

largo do delta do Rio Açu, mostraram velocidades em torno de 30 – 40cm/s,

com eventos de 60cm/s (menos de 5%). As direções predominantes obtidas

foram SSW, WSW, NNW, N e NNE (Costa Neto, 1997).

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Santos, J. R., 2010 9

As águas da plataforma continental Nordestina são moderadamente

salinas, concentrações de 36‰ a 37‰, com exceção ao largo e ao sul da foz

do São Francisco, onde a influência da descarga fluvial é evidente (França et

al., 1976).

A temperatura das águas superficiais (TSM) na área de estudo durante

os meses de março e maio de 2009 apresentou uma variação entre 27°e 29°C

(Araújo Filho et al., 2009a). Segundo França et al. (1976) a temperatura

superficial no verão varia de 27 a 29°C, e no inverno varia de 25 a 27°C.

Variação de Maré

A área de estudo possui um regime de maré semidiurna, com uma

amplitude média aproximada de 1,5m, podendo chegar a 2,2m, nas marés de

sizígia, e de acordo com Davies (1972), sendo assim classificada como uma

costa de micro a mesomaré.

Os registros da amplitude de maré para a área em estudo são raros,

limitando-se apenas à região de Natal e, ainda assim, restritos à área do

estuário do rio Potengi. Estudos realizados por Cunha (2004), utilizando-se de

quatro marégrafos instalados no estuário, mostraram que o nível máximo

variou de 2,85 a 2,95m; com nível médio de 1,4m e com nível mínimo entre -

0,05 e -0,25m, identificando a maré local como do tipo mesomaré de regime

semidiurno, com duas preamares e duas baixa-mares (periodicidade em torno

de 12:42 horas); praticamente não sofre influência meteorológica e possui os

valores característicos representados na Tabela 1.1.

Tabela 1.1 - Características das Marés na Região de Natal.

Parâmetros Metros

Amplitude máxima 2,73

Amplitude média de sizígia 2,34

Amplitude mínima 0,50

Amplitude média de quadratura 1,06

Nível máximo 2,87

Nível mínimo - 0,20

Nível médio 1,39

Fonte: Cunha (2004)

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Santos, J. R., 2010 10

Clima

Aspectos Gerais

A área de estudo apresenta um clima do tipo As’ – quente e úmido a

BSh – semi-árido quente segundo a classificação de Köppen (Köppen &

Geiger, 1928). O padrão climático local se deve em grande parte a influência

das massas de ar advindas do Oceano Atlântico e dos ventos alísios de SE

(Silva, 2002).

As variações sazonais que ocorrem no sistema climático da região

Nordeste do Brasil encontram-se associadas a dois sistemas sinópticos

geradores de precipitações sendo eles: Centro de Vorticidade Ciclônica com

tempo variável dentro do período de chuvas e principalmente a Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT), por estar oscilando por toda a faixa dos

trópicos.

As alterações no clima ocasionadas pela Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT) na região Nordeste é ocasionado pela oscilação em ciclos

anuais, que atinge o território potiguar durante os meses de março a maio,

provocando a sua principal e muitas vezes única estação chuvosa, na qual os

ventos atingem sua intensidade mínima anual. No restante do ano, a ZCIT

retorna as latitudes equatoriais, resultando em predomínio do período seco, e a

existência de grandes regiões com clima semi-árido. É nesse período seco

(julho a dezembro) que os ventos da região atingem seu máximo, com

intensidades e constâncias notáveis (Lobo, 1982).

A Figura 1.4 apresenta um esquema simplificado do padrão

climatológico, com relação ao padrão de precipitação, considerando as

variações do posicionamento da ZCIT, dos ventos alísios de nordeste (AAN) e

sudeste (AAS) e da variação da temperatura da superfície do mar (TSM), em

função dos fenômenos El Niño e La Niña.

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Figura 1.4 - Esquema Simplificado da oscilação Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

Fonte de Dados Climatológicos

Os dados referentes à climatologia da área de estudo, foram obtidos

através do site da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte

– EMPARN, considerando uma série histórica de 10 (dez) anos, de 1999 a

2008, e de uma série histórica mais ampla apresentada por Silva (2002).

Precipitação

Na porção oriental do Rio Grande do Norte, a estação chuvosa se

concentra principalmente no período que vai de fevereiro a julho, quando os

totais mensais, em média, variam entre 120 e 230mm. Os meses

compreendidos entre março e agosto apresentam, em média, mais de 15 dias

com chuva. É freqüente ocorrer estações chuvosas, de fevereiro a agosto, com

mais de 20 dias de chuva por mês. Já os meses de outubro, novembro e

dezembro são os mais secos, com médias da precipitação total mensal sempre

abaixo de 40mm.

De acordo com a pluviometria mensal a área apresenta índices de 10 a

20mm (outubro e novembro) e de 150 a 250mm (nos meses de abril a junho).

O período chuvoso na região se estende de março a julho. Já o período seco

(setembro a janeiro) apresenta uma concentração pluviométrica, tanto mínima

quanto máxima, com valores abaixo de 100mm. A região apresenta

concentrações pluviais anuais entre 1.000 e 1.600mm (EMPARN, 2009).

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Temperatura

A variação térmica para a área de estudo varia de 20°C (mínima) até

32°C (máxima) ficando a média no intervalo de 24 a 26°C. Os meses mais frios

são entre abril e julho, e os mais quentes são de janeiro a março. As

temperaturas mais baixas são registradas nos meses de maio a setembro e as

mais elevadas de outubro a abril (EMPARN, op. cit.).

Ventos

Os ventos incidentes apresentam uma velocidade média de 27,4km/h

(ou 7,6m/s), com rajadas de 31,2km/h (ou 8,7m/s), em outubro, e durante os

meses de inverno ou de maior precipitação, rajadas de 23km/h (ou 6,4m/s),

principalmente em março. (EMPARN, op. cit.).

A velocidade média dos ventos à superfície demonstra que a partir do

mês de novembro a velocidade média dos mesmos começa a diminuir,

passando por mínimo entre março e junho, aumentando novamente a partir

daí, atingindo valores máximos entre agosto e outubro. Uma das explicações

para este fato é que nos meses de fevereiro a maio ocorre a estação chuvosa

dessa região, e entre os meses de agosto a outubro, climatologicamente, o

sistema de alta pressão do Atlântico Sul se desloca para posições mais ao

norte, deixando os ventos alísios de sudeste mais intensos nesse período do

ano.

1.4 RECURSOS HÍDRICOS

O litoral oriental do Rio Grande do Norte é recortado por uma série de

canais fluviais, os quais possuem uma orientação geral leste-oeste até a região

de Touros. As bacias hidrográficas dos rios que apresentam maior influência na

área de estudo, de norte para sul são: Boqueirão, Punaú, Maxaranguape,

Ceará-Mirim (Fig. 1.5).

As bacias hidrográficas, presentes na área, têm orientação

aproximadamente leste-oeste, e atravessam desde suas nascentes, os

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terrenos do embasamento cristalino, quando são formadas por rios

principalmente temporários; os sedimentos cenozóicos da Superfície dos

Tabuleiros até, finalmente, atingirem a linha de costa, já como rios perenes,

onde os processos fluviais e marinhos interagem, para a produção da

morfologia litorânea atual (Amaral, 2000).

Figura 1.5 – Mapa das bacias hidrográficas e seus principais rios que desembocam no

litoral da área de estudo.

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CAPITULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Plataforma Continental do Nordeste

Morfologia e Batimetria

O início da coleta de dados batimétricos na plataforma continental

nordestina data de pelo menos da época das grandes navegações, no século

XVI. Branner (1904) fez a batimetria de boa parte da plataforma continental

oriental do Rio Grande do Norte, até as proximidades da cidade do Natal.

Os levantamentos batimétricos anteriores a 1966 deram apenas uma

vaga idéia da forma da margem continental brasileira. Em 1969, Barreto &

Milliman (1969) reuniram dados batimétricos exploratórios da Petrobrás e do

U.S. Hydrographic Office em Relatório Interno da primeira empresa (Coutinho,

1976).

A primeira base de informação sistemática e constante, sobre a

batimetria da plataforma continental do Nordeste do Brasil, foi preparada a

partir dos dados levantados pela Diretoria de Hidrografia e Navegação

(Diretoria de Hidrografia e Navegação, 1971) e publicados nas cartas náuticas,

editadas por aquele órgão. Estas cartas delimitaram a área de plataforma e

apresentaram um grande número de medidas de profundidade. No entanto,

concentram suas medições nas proximidades das zonas portuárias. Algumas

seções batimétricas foram feitas durante a operação Norte/Nordeste 1, pelo

Navio Oceanográfico Almirante Saldanha, entre as cidades de Recife e Cabo

Orange, resultando em uma caracterização geomórfica inicial da plataforma

(Mabesoone & Coutinho, 1970).

O Projeto REMAC, criado em 1972, foi o último grande projeto incluindo

os estudos geológicos e geomorfológicos globais na Margem Continental

Brasileira. Utilizando dados e informações anteriores e os dados relativos ao

Projeto REMAC, uma série de publicações pode ser citada, destacando-se os

trabalhos de Summerhayes et al. (1976) e França et al., (1976).

Também foram individualizados, na plataforma, três níveis principais de

terraços entre 23-40, 50-55, 90-95m (Summerhayes et al., 1976). Os dois

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primeiros são mais comumente encontrados. Eles correspondem,

provavelmente, a níveis de erosão, associados ao nível do mar pretérito

(Coutinho, 1976).

Medidas da declividade média da plataforma tomadas á altura da Ponta

do Calcanhar (1,2m/km), Natal (3m/km) e Guaju (2,4m/km), revelaram uma

plataforma com declividade suave e poucas irregularidades de fundo (França,

1979).

Nos anos 80 e 90, os trabalhos produzidos pela equipe do INPE (por

exemplo, Vianna & Solewicz, 1988; Vianna et al., 1989; Solewicz, 1989; Testa

& Bosence, 1999) introduziram na área o uso de imagens de satélite para a

compreensão de estruturas regionais, seguida de verificação de campo,

através de mergulho autônomo. Posteriormente, Costa Neto (1997) introduz o

uso intensivo de perfis batimétricos na delimitação de feições de fundo.

Amaral (2000) utilizando produtos de sensoriamento remoto, cartografou

a plataforma continental interna entre Baía Formosa e Pirangi, descreveu os

sedimentos de fundo e identificou um importante conjunto de feições

submersas (bancos de arenitos, paleolinhas de praia, bancos de corais, etc.).

Cabral et al. (2003) empregou uma combinação de métodos utilizando

dados de sensoriamento remoto de distintos sensores, dados correntométricos

e sedimentológicos coletadas in situ e modelagem de transporte de

sedimentos, onde pode avaliar a intensa dinâmica na plataforma continental na

região ao largo do cabo calcanhar - RN.

Nogueira e Amaral (2009), com o objetivo de comparar os métodos de

interpolação Topo to raster e Kriging, geraram modelos digitais de terreno -

MDT (Fig. 2.1), para a Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais a

partir de dados batimétricos digitalizados da Carta Náutica 803 – Carta do

Canal de São Roque.

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Figura 2.1 – Mapas batimétricos obtido a partir da carta náutica 803 utilizando métodos de interpolação diferentes (Modificado de Nogueira & Amaral, 2009).

Fácies Sedimentares

A plataforma continental nordestina é caracterizada por sua reduzida

largura, pouca profundidade e predominância de sedimentos carbonáticos

(Coutinho, 1981).

Segundo Martins & Coutinho (1981) os mapas sedimentológicos

mostram que a plataforma continental brasileira é formada, em sua maioria, por

depósitos de sedimentos siliciclásticos ou carbonáticos, sendo estes muitas

vezes depósitos de sedimentos relíquias, que, segundo Emery (1968), são

aqueles sedimentos que deixaram de estar em equilíbrio com o ambiente e não

foram cobertos por sedimentos posteriores.

Uma das características primordiais da plataforma continental na região

Nordeste do Brasil é o predomínio de uma fácies carbonática, notadamente no

setor situado entre Macau, no Rio Grande do Norte, e Maceió, em Alagoas. Os

sedimentos que constituem o substrato desta plataforma exibem um nítido

limite entre as areias quartzosas terrígenas litorâneas e os depósitos

carbonáticos de algas coralinas, identificado pela presença de Lithothaminium,

em formas livres e ramificadas, coincidindo aproximadamente com a isóbata de

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20m e se estendendo até a profundidade em torno dos 40m (Coutinho &

Morais, 1970).

São encontradas basicamente três coberturas sedimentares, onde a

delimitação dessas fácies baseia-se principalmente em sua composição como

a porcentagem de componentes bióticos e de carbonato de cálcio (França et al.

1976).

Fácies Terrígenas: A maior parte é constituída por areias quartzosas,

com poucos fragmentos orgânicos. Compõem uma mistura de material

terrígeno e biodetrítico. Subfácies arenosas, lamosas e recifais foram

definidas preliminarmente.

Fácies de Transição: Ocorre onde dois tipos de fácies mostram misturas

em proporções mais ou menos iguais. Por exemplo: areia quartzosa e

material biodetrítico ou de algas.

Fácies de Algas Calcárias: Formada de sedimentos compostos quase

que exclusivamente (> 90%) pelas algas calcárias Litthothamniun,

Lithophyllum e Halimeda.

Morfologia e Divisão

A primeira tentativa de divisão da Plataforma do Nordeste deve-se a

Kempf (1970) que estabeleceu a profundidade de 35-40 m, como sendo o limite

entre as zonas infralitoral e circalitoral.

Kempf et al. (1970) dividiram parte da plataforma pernambucana em:

Zona Litorânea, com recifes como feições topográficas mais proeminentes;

uma zona entre as isóbatas de 10 e 40m, sem acidentes topográficos mais

importantes; uma zona abaixo dos 40m, com uma depressão longitudinal com

profundidades de 70m e pequenas elevações, até a quebra da plataforma, a

70m.

Considerando estas observações, no litoral alagoano, Coutinho (1976)

divide a plataforma do Nordeste nos seguintes trechos:

Plataforma interna, limitada pela isóbata de 20m. Com relevo suave, a

presença de recifes, coberta por areia terrígena e pouco cascalho; os

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componentes bióticos são muito retrabalhados. Dominam associações de

moluscos com ou sem foraminíferos bentônicos e em menor quantidade restos

de equinóides e algas coralináceas ramificadas e incrustantes. Corresponde à

zona de maior sedimentação carbonática e cobre parte dos depósitos relíquias

areno-quartzosos da plataforma pré-Pleistocênica.

Plataforma média, a partir da isóbata de 20m, com teor em carbonato de cálcio

superior a 90%, que marca o aparecimento do gênero Litthothamnium, em

formas livres e ramificadas e que se estende até 40m de profundidade. As

associações carbonáticas não mostram sinais de retrabalhamento; as algas

incrustantes vivas parecem ser mais abundantes.

Plataforma externa, a partir de 40m. É coberta por areias biodetríticas,

cascalhos de algas e lama cinza-azulada. As Halimeda sp. tendem a ser mais

abundantes e o teor em carbonato de cálcio é superior a 75%. As associações

carbonáticas são muito retrabalhadas. São sedimento-relíquias, no sentido de

Emery (1968).

Variações no Nível Médio do Mar

Em períodos de estabilização do nível do mar foram produzidos na

plataforma continental, feições morfo-sedimentares, associadas principalmente

à paleo-sistemas costeiros, evidenciando estas estabilizações, tais como a

preservação de barras arenosas submersas, terraços erosivos e deposicionais

e bancos de arenito.

As principais causas de oscilações no nível médio do mar (NMM) estão

associadas ao congelamento e degelo das calotas polares (Glacioeustasia), a

variação no tamanho da bacia (Tectonoeustasia) e as mudanças na superfície

equipotencial gravitacional (Geoidoeustasia) (Fig. 2.2).

Durante a transgressão marinha, há cerca de 18.000 anos a.p. o nível do

mar se encontrava a pelo menos 110 m abaixo do atual, tornando emersa

quase toda a plataforma continental brasileira. A plataforma exposta era então

recortada pelos cursos fluviais, esculpindo canais até hoje presentes na

topografia da plataforma rasa, transportando sedimento direto para o oceano

profundo (Solewicz, 1989).

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Figura 2.2 - Fatores que determinam a variação relativa do nível do mar (modificado de Moner, 1980).

No período entre 14.000 e 7.000 anos a.p., foi caracterizado pela subida

do nível do mar que se deu de forma relativamente rápida, com interrupções

que representavam períodos de estabilização. Durante esta fase três

estabilizações ficaram bem demarcadas, representadas por registros de

ambientes sedimentares costeiros, correspondente as idades de 16.000,

11.000 e 9.000 anos a.p., relativo às isóbatas atuais de 110, 60 e 20 metros,

respectivamente (Solewicz, op. cit.).

Em torno de 5000 anos a.p., o nível médio do mar chegou ao seu

máximo, atingindo o auge da transgressão. Registros mostram que o nível do

mar esteve entre 2.5 e 4.0 acima do atual (Bezerra et al., 2003; Caldas et al.,

2006). Em seguida, se deu início a uma regressão até o nível do mar atingir

seu estado atual.

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2.2 Feições da plataforma associada á variação do nível do mar

As plataformas continentais são áreas afetadas pelas oscilações do nível

do mar no Quaternário. Este fato marca a importância desta região submersa

no estudo da evolução litorânea, pois é esperado que, abaixo da atual coluna

de água, possam ser observados testemunhos de feições outrora emersas

(Amaral, 2000).

Na plataforma continental nordestina, principalmente no Rio Grande do

Norte, é importante ressaltar a ocorrência de uma estabilização do nível do mar

correlacionada a bancos de arenito ou beach rock na área em estudo, relatada

por diversos autores (Vianna & Solewicz, 1988; Solewicz, 1989; Testa &

Bonsence, 1999; Cabral et al., 2003; Santos et al., 2007; Santos et al., 2009a,

Araujo Filho et al. 2009b).

Testa & Bosence (1999) denominam como zona de sedimentos

litificados, afloramentos submersos de arenitos cimentados por carbonato,

horizontalmente laminados e acamadados; localmente encrustados por algas

coralinas e esponjas, e colonizados por Halimeda e outras algas.

O desenvolvimento dos recifes carbonáticos e formação dos depósitos

sedimentares carbonáticos, iniciou-se após a total submersão da plataforma

continental brasileira, que são encontrados atualmente nas regiões nordeste,

leste e norte do Brasil.

Estes recifes podem ser interpretados como testemunhos de antigas

linhas de costa. O substrato necessário para sua fixação das algas e corais

pode ser um arenito de praia ou arenito ferruginoso da Formação Barreiras.

Nesta base rochosa teriam se estabelecido as primeiras colônias recifais e, à

medida que o nível do mar se elevou, estes corpos estabeleceram a sua

geometria (Amaral, 2002).

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2.3 Sedimentação Marinha

Sedimento MarinhoTerrígeno

Os sedimentos litoclásticos ou granulados marinhos terrígenos são

areias e cascalhos, originados pelo intemperismo e erosão de rochas ígneas,

metamórficas e sedimentares e chegam ao litoral através de agentes

transportadores (rios, geleiras, vento), onde podem ser depositados nos

ambientes litorâneos e marinhos e retrabalhados por ondas e correntes

marinhas.

A maior parte dos depósitos de granulados marinhos terrígenos é

composta principalmente por areias quartzosas, a qual dá origem ao nome

siliciclásticas, pois são compostas predominantemente de SiO2, e

secundariamente por feldspato, zirconita e ilmenita (Silva et al., 2000).

Na plataforma continental, a maior parte dos depósitos de sedimentos

litoclásticos são sedimentos relíquias, de acordo com a definição de Emery

(1952, 1968 apud Dias, 2004) que define como “sedimentos depositados há

muito tempo, em equilíbrio com os ambientes de então, posteriormente, os

ambientes modificaram-se de modo que esses sedimentos deixaram de estar

em equilíbrio apesar de não terem sido cobertos por sedimentos posteriores".

Estas areias foram depositadas na plataforma continental por processos

continentais associados a canais fluviais e geleiras, durante eventos pretéritos

de rebaixamento do nível do mar que ocorreram durante os períodos glaciais

(Silva et al., 2000).

Sedimento Carbonático

A plataforma continental Rio Grande do Norte assim como quase toda a

plataforma continental N-NE Brasileira é caracterizada por uma ativa produção

carbonática, favorecendo o desenvolvimento de um amplo fundo de algas

calcárias, representando, a nível global, a maior extensão coberta por

sedimentos carbonáticos (Dias, 2000).

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Os sedimentos que constituem os depósitos carbonáticos são as algas

coralinas (lithothaminium) em formas livres e ramificadas e as algas calcárias

verdes – Halimedae (Coutinho & Morais,1970; Santos et al. 2009b).

As algas calcárias são compostas basicamente por carbonato de cálcio

e magnésio contendo ainda mais de 20 oligoelementos, presentes em

quantidades variáveis, tais como Fe, Mn, B, Ni, Cu, Zn, Mo, Se e Sr (Dias,

2000).

O sedimento biogênico é produzido localmente, não sofrendo grandes

deslocamentos, sendo assim classificados como autóctones. Em função disso,

análise das características da composição destes sedimentos e o seu grau de

conservação nos mostram a relevância de cada grupo de organismo produtor

do sedimento (Poggio, et al. 2009).

Algas Calcárias Vermelhas

As formas livres (Rodolitos, nódulos e seus fragmentos) crescem sobre

os substratos inconsolidados e são abundantes em regiões com fortes

correntes ou onde as ondas e correntes atuam fazendo com que estas sejam

periodicamente reviradas (Dias, 2000).

Os rodolitos presentes nesta região são algas vermelhas calcárias (Fig.

2.3). Estas algas coralinas precipitam em suas paredes celulares o carbonato

de cálcio e magnésio sob a forma de cristais de calcita. A ocorrência do tipo de

fundo composto por estas algas incrustantes é decorrência do acumulo de talos

ramificados e de formas livres de algas coralinas.

Bioconstruções de algas vermelhas podem ocorrer sob a forma de

substratos crustosos e também como nódulos carbonáticos. Os rodolitos ou

nódulos de algas coralináceas, são formas de crescimento concrecional

compostas predominantemente por crescimento de algas coralináceas

(Bonsence, 1983).

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Santos, J. R., 2010 23

Figura 2.3 - Exemplares de algas calcárias vermelhas (rodolitos) encontrados na área de estudo.

Os rodolitos apresentam três morfologias básicas de crescimento:

Laminar, Ramificado e Colunar. As duas últimas podem ser indicativas do

aumento no regime de energia do ambiente onde foram formadas (Bonsence,

1983).

Algas Calcárias Verdes

As algas verdes calcificadas que são representadas pelos gêneros

Halimeda, Udotea e Penicillius, que são importantes formadoras de sedimentos

biogênicos (Coutinho, 1976).

A Halimedae é um gênero de algas verdes (Fig. 2.4) com talo calcificado

que possui um importante papel ecológico e pode se acumular formando

depósitos de grande potencial econômico como ocorre na plataforma

continental NE do Brasil (Bandera-Pedrosa, et al. 2004).

As Halimeda são limitadas aos trópicos e cujas espécies variam

segundo as condições ecológicas, são importantes formadoras de sedimentos

carbonáticos das plataformas continentais (Coutinho & Morais, 1970; Kempf,

1972), e dependendo da forma de desagregação, as Halimeda podem gerar

sedimentos de diversas texturas, desde cascalhos a lama calcárias.

Estas algas podem se desenvolver em diversos ambientes, desde os

recifes costeiros e de águas agitadas até as lagunas dos atóis. As formas

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Santos, J. R., 2010 24

eretas podem crescer sobre sedimentos inconsolidados, enquanto as formas

prostradas preferem fundos duros (Coutinho, 1981).

Figura 2.4 - Alga calcária verde (Halimeda), (a) como formadora de sedimento e (b) na sua forma quando articulada.

2.4 Distribuição dos Recifes de Corais

Muitas das características e da distribuição geográfica dos recifes de

corais devem-se ao fato dos corais construtores (escleractídeos) viverem

associados com algas, que em função da luz, realizam a fotossíntese e

produzem alimento ao coral.

Para a existência dos corais, as algas necessitam de águas quentes

(mínimo 20°C) e luz, sendo que estes fatores são limitados pela profundidade e

transparência da água. Devido a estes dois fatores, no Brasil não se tem

grandes formações recifais junto ao continente.

No Brasil, os recifes de coral distribuem-se por cerca de 3000 km da

costa nordeste, desde o sul da Bahia até o Maranhão, constituindo os únicos

ecossistemas recifais do Atlântico sul. Os complexos recifais localizados na

área de estudo estão inseridos em um dos cinco grupos de ambientes recifais

existentes no Brasil e representam uma linha extensa elevações de rochas

espaçadas, suportados por uma base arenítica, onde estão inscrustados corais

e algas calcárias em locais concentrados, tendo o coral Siderastrea stellata

como o principal construtor (Maida & Ferreira, 1997).

Na plataforma continental do Rio Grande do Norte verifica-se uma baixa

presença de corais em relação à alta ocorrência de algas calcárias. O

desenvolvimento dos corais ficou restrito aos substratos litificados, que podem

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Santos, J. R., 2010 25

representar antigas linhas de praias ou estruturas de recifes algálicos, sendo

que o crescimento atual dos corais ocorre principalmente no lado externo dos

substratos litificados ou em construções de algas calcárias incrustantes (Manso

et al., 2003).

Os resultados obtidos por Santos et al. (2007) mostram que as feições

predominantes na plataforma interna da região de Touros (recifes de Cioba,

Cação, Rio do Fogo e Maracajaú), no litoral oriental estão representadas por

um complexo de recifes.

Na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais do RN, verifica-se

algumas feições próximas à costa, alongadas em um eixo aproximadamente

paralelo á costa, denominadas de Baixos ou Parrachos (complexos recifais).

Estas são denominadas, de norte para sul, como: Baixo da Cioba, com uma

extensão de cerca de 10 km; Baixo do Cação, com cerca de 9 km; Baixo do Rio

do Fogo, com aproximadamente 12 km e o Baixo de Maracajaú, como cerca de

8 km. A razão comprimento x largura destes corpos é de 3/1 a 4/1 (Amaral,

2002; Amaral, 2005).

Na Figura 2.5 são apresentados os contornos complexo recifais

presentes na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais - APARC.

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Santos, J. R., 2010 26

Figura 2.5 – Mapa dos contornos dos recifes encontrados na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais, destacando os seguintes complexos recifais de Maracajaú, Rio do Fogo e Cioba.

2.5 Estruturas submersas observáveis por Sensores Remotos

Em função da elevação no nível médio do mar, muitas estruturas que no

passado se encontravam expostas, hoje estão submersas e em muitos casos

preservadas, e também algumas foram modificadas pelos processos

subaquáticos que acrescentaram novos aspectos e características às feições

pré-existentes como o desenvolvimento de incrustações carbonáticas, e parte

destas feições podem ser mapeadas através do uso de produtos de sensores

remotos.

Vianna & Solewicz (1988) com base principalmente em imagens de

satélite, identificaram uma série de feições na plataforma rasa na altura da

Cidade de Touros. Um lineamento externo observado foi relacionado, por sua

morfologia, a uma linha de arenito de praia e estaria a aproximadamente 20 m

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Santos, J. R., 2010 27

de profundidade. Mergulhos e análise petrográfica confirmaram a morfologia e

características petrográficas de uma fácies de praia.

Solewicz (1989) utilizando imagens de satélite identificou na plataforma

continental do Rio Grande do Norte, entre outras feições, um campo de dunas

(ondas de areia em correntes unidirecionais) e uma antiga face de praia

contendo um grande recife de arenito a 20m de profundidade.

Santos (1998) utilizando imagens de satélite na plataforma continental

setentrional do Rio Grande do Norte encontrou os seguintes tipos de corpos

arenosos: extensas dunas assimétricas (geradas por correntes unidirecional)

de cerca de 10 m de altura; extensas dunas de areia simétricas (geradas por

maré); complexos ilhas barreiras/cristas de areia de origem desconhecida,

provavelmente geradas por interações entre correntes de maré e ondas;

substratos consolidados, provavelmente associados à corais, algas coralinas e

“beach rock”; “spits” erosivos.

Amaral (2000) interpretou, na plataforma continental ao sul de Natal,

utilizando imagens de satélite, pelo menos oito tipos de fundo, marcados por

texturas e matrizes diferentes. Esta diferenciação é função da natureza do

fundo, da profundidade e do teor de material em suspensão, a qual afeta

diretamente a visibilidade da água. Este autor destacou, igualmente, que a

visibilidade da água é, em geral, pequena próxima à costa, mas se eleva a

partir dos 10m de profundidade e se mantém aproximadamente constante até a

quebra da plataforma.

Santos et al. (2007) utilizaram as técnicas de sensoriamento remoto para

mapear os recifes submersos na costa do Rio Grande do Norte e verificou que

os ambientes recifais ocorrem predominantemente na plataforma da região de

Touros, no litoral oriental do RN, possuem orientação NW-SE e são paralelos a

linha de costa. As construções carbonáticas inorgânicas ocorrem a uma

profundidade média de 25m, ao longo de toda a costa do RN, e são

classificados como bancos de arenito, pois a presença de corais é

inexpressiva.

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Santos, J. R., 2010 28

2.6 Formas de Fundo

Além das estruturas morfológicas associadas à variação do nível do mar,

a dinâmica moderna de sedimentação também pode ser considerada um

agente modificador importante na configuração da topografia da Plataforma

Continental. Em geral, tais feições apresentam um caráter local, refletindo as

condições hidrodinâmicas que atuam na formação das feições.

As correntes oceânicas e de marés devido ao seu potencial são

responsáveis pelo transporte de sedimentos, provocando a deposição ou

erosão do fundo oceânico. Entretanto, as correntes unidirecionais são também

responsáveis por efeitos modeladores das feições submarinas.

O sedimento disponibilizado para a plataforma continental, responde às

condições hidrodinâmicas locais. Em regiões com grande disponibilidade de

material sedimentar, as correntes podem gerar formas de leito como dunas

submersas (sand waves) e bancos arenosos (open shelf ridges), cuja

orientação é ortogonal ao sentido do fluxo (Cabral, et al. 2003). Entretanto, se o

suprimento de sedimento for baixo, a ação das correntes locais tende a

modificar as características texturais e granulométricas do sedimento

(Mahiques et al. 2002).

Para uma melhor compreensão das relações hidráulicas em função da

fisiografia resultante, Belderson et al. (1982) apresentaram um bloco diagrama

(Fig. 2.6), relacionando as diversas formas de feições submarinas com as

velocidades de correntes, mostrando que os tipos de feições e suas formas

(transversais e longitudinais) dependem da velocidade da corrente e do tipo de

sedimento disponível na plataforma. As principais formas de fundo encontradas

são:

Sulcos (Furrows) e Ondas de Cascalho (Gravel Waves): Ocorrem em áreas

que apresentam velocidades de correntes de maré que alcançam 150 cm/s

ou mais, e onde a fonte sedimentar é escassa. Nessas formas de fundo,

características erosionais são dominantes, e sua configuração longitudinal é

relacionada às circulações helicoidais das correntes de maré.

Faixas arenosas (Sand ribbons): São feições longitudinais constituídas

geralmente de sedimento arenoso e formadas pela ação de correntes

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unidirecionais sobre os sedimento, cujas cristas encontram-se dispostas

paralelamente à direção das correntes e espaçadas de 40 a 60 m. Essas

formas de fundo podem atingir até 15 km de comprimento e 200 m de

largura, e fortes correntes associadas a feição de fundo não permitem a

formação de ripples, que são erodidas e seu sedimento é posto de forma

alongada, formando as faixas de areia (Allen, 1970; Belderson, et al., 1982).

Dunas Subaquosas (Sand Waves): Estas podem ser descritas também

como ondas de areia, e são feições de grande escala, transversais ao

sentido da corrente. As pequenas sand waves são caracterizadas por

apresentarem cristas retas e contínuas, produzidas por picos de correntes

relativamente fortes (maiores que 50 cm/s). São formas de fundo baixas,

apresentando, em média, 1.50 m de altura, e espaçamento de 150 a 500 m.

Grandes sand waves são associadas empiricamente a picos de corrente de

maré com velocidade em torno de 75 cm/s, com média de cerca de 60 cm/s.

As grandes dunas submersas, que são assimétricas causadas por correntes

unidirecionais, apresentam em geral faces de avalanche em seu bordo de

sotavento. Elas se distinguem das pequenas sand waves por serem

assimétricas, com a morfodinâmica dependente mais de correntes

unidirecionais do que correntes que se invertem em um ciclo de maré.

Manchas arenosas (Sand Patches): Ocorrem em locais que apresentam

correntes de maré com baixa velocidade, de 25 a 50 cm/s. Estas podem ser

longitudinais ou transversais ao sentido da corrente. Sua largura varia entre

2 a 4 m, tendendo a apresentar formas variadas e distorcidas.

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Figura 2.6 - Diagrama relacionando as formas dos corpos arenosos com a velocidade de corrente máxima de superfície em cm/s. Modificado de Belderson, et al. 1982.

Em alguns casos de feições longitudinais, é difícil de realizar uma

classificação utilizando imagens de satélite. Grandes feições longitudinais

podem ter sido formadas durante a gradativa transgressão da linha de costa

devido ao aumento do nível médio do mar. Entretanto, estas feições

longitudinais podem ser semelhantes aos cordões litorâneos progradantes

(emersos) formados pela regressão da linha de costa devido ao abaixamento

do nível médio do mar (Solewicz, 1989).

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2.7 Recursos Minerais Marinhos

Devido a uma maior demanda de recursos minerais para diversos usos,

favoreceu o desenvolvimento de novas tecnologias e o avanço das pesquisas

em busca de recursos minerais marinhos para então suprir esta necessidade,

sendo que os recursos marinhos são utilizados em diversas áreas do setor

econômico.

Os granulados bioclásticos marinhos, no Brasil, são formados

principalmente por algas calcárias. Apenas as formas livres das algas calcárias,

tais como rodolitos, nódulos, e seus fragmentos, são viáveis para a exploração

econômica, pois constituem depósitos sedimentares inconsolidados, facilmente

coletados através de dragagens. As algas calcárias são compostas

basicamente por carbonato de cálcio e carbonato de magnésio (Dias, 2000).

De modo geral as ocorrências mais contínuas encontram-se na

plataforma média a externa, sendo representados por areias e cascalho

constituídos por algas coralinas ramificadas, maciças ou em concreções,

artículos de halimeda, moluscos, briozoários e foraminíferos bentônicos

(Coutinho, 1992).

Segundo Dias (2000) a existência de amplas ocorrências de algas

calcárias na plataforma continental N-NE Brasileira foi relatada desde a década

de 60. O potencial de exploração econômica dos depósitos destas algas

significativo. A plataforma continental Brasileira representa, a nível global, a

maior extensão coberta por sedimentos carbonáticos.

As algas calcárias podem ser utilizadas em diversas áreas como a

agricultura – sendo a principal fonte de utilização deste recurso, no tratamento

de águas potáveis e industriais, indústrias de cosméticos, implantes em

cirurgias ósseas, nutrição animal (Kempf, 1980; Dias, 2000).

Os granulados marinhos terrígenos são depósitos de areias e cascalhos

encontrados na plataforma e são acumulações similares em origem e

composição aos seus equivalentes continentais, diferenciando apenas pela

presença de sais e sedimentos cabonáticos (Martins & Nunes, 2007).

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A maior parte das dragagens é realizada em profundidades menores do

que 45 metros, e futuramente estes recursos poderão ser extraídos entre 50 a

60 metros (Souza et al. 2009).

O emprego dos granulados marinhos terrígenos silicicláticos são a

construção civil, os programas de recuperação de praias, na indústria química

e de vidro. Depois do óleo e gás, os granulados são os depósitos marinhos

mais extraídos do fundo do oceano (Silva, et al., 2000; Souza, et al., 2009).

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Santos, J. R., 2010 33

CAPÍTULO III – METODOLOGIA

A metodologia de trabalho foi executada em várias etapas, sendo que

inicialmente foi realizada a análise de dados pré-existentes, numa segunda

etapa o planejamento de campo e coleta de amostras em campo realizado com

o auxílio de uma embarcação, posteriormente, os dados obtidos foram

analisados, processados e interpretados em laboratório e escritório.

3.1 Compilação e análise de dados pré-existentes

Compilação e análise de dados e informações (levantamento

bibliográfico) e definição de métodos e técnicas que foram utilizados para

aquisição de dados inéditos. Levantamento de dados pré-existentes em mapas,

cartas náuticas, dados de sedimentos de fundo e da plataforma continental

disponíveis em:

Relatórios;

Teses/Dissertações;

Monografias;

Artigos científicos;

Banco Nacional de Dados Oceanográficos - BNDO.

A partir da compilação e análise destes dados, foi gerado um banco de

dados georreferenciado e confeccionadas cartas temáticas preliminares.

3.2 Estudo Batimétrico

Um mapa batimétrico foi elaborado com uso dos dados pré-existentes

contidos na carta náutica 803 – Carta do canal de São Roque – disponibilizada

pala Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil. Essa carta

teve sua última atualização em 25/05/2007 e possui exatos 1.293 pontos

cotados, com profundidades que variam de 0,20 até 36,00 metros, distribuídos

aleatoriamente por toda área de estudo.

Os pontos com as suas respectivas profundidades foram inseridos em um

sistema de informação geográfica. Com estes dados, foram realizados testes

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Santos, J. R., 2010 34

de interpolações para selecionar o método que melhor representaria as feições

existentes na área em estudo.

3.3 Coleta de amostras de sedimentos de fundo

Os pontos de coletas de sedimento possuem espaçamento de 1.000

metros e o posicionamento para a coleta das amostras foi realizado com o

auxílio de um GPS (Global Position System), que indicava a exata posição do

ponto de coleta.

Os trabalhos de obtenção das amostras e outros dados foram

executados durante duas etapas, uma realizada no mês de julho de 2008 e

outra entre os meses de janeiro, fevereiro e maio de 2009. Um total de 1.186

amostras de sedimento de fundo foram coletadas apresentando uma

distribuição regular (Fig. 3.1).

Para a obtenção de amostras foi utilizada uma embarcação de pesca do

tipo lagosteira (Fig 3.2), equipada com computador, GPS e ecossonda (Fig.

3.3), guincho e um gerador de energia.

Após o posicionamento junto ao ponto, dava-se início às atividades de

coleta, onde a draga Van Veen de aço inoxidável (Fig. 3.4) era lançada através

de um guincho (Fig. 3.5), controlado por uma pessoa e alimentado pelo

gerador.

Quando verificava-se que a draga chegava ao fundo, esta era recolhida

e o material da draga colocado em uma caixa plástica para, então, ser

armazenado em sacolas plásticas. Enquanto isso, os dados das coordenadas

do ponto amostral eram anotados, assim como os horários iniciais e finais das

coletas e o número de vezes que a draga foi lançada.

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Figura 3.1 – Mapa da distribuição dos pontos das amostras de sedimentos coletadas.

Figura 3.2 - Embarcação utilizada nos trabalhos de campo.

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Figura 3.3 - Embarcação equipada com os equipamentos eletrônicos de medição.

Figura 3.4 - Coletor de amostra de fundo tipo Van Veen de aço inoxidável.

Figura 3.5 - Guincho utilizado para lançamento da draga Van Veen.

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Santos, J. R., 2010 37

3.4 Etapas Laboratoriais

Em laboratório, as amostras foram processadas para se realizar as

seguintes análises: granulometria, teor de carbonato e identificação dos

sedimentos biogênicos.

As análises foram feitas no Laboratório de Sedimentologia –

Departamento de Geologia/UFRN, onde se seguiu o procedimento habitual

aplicado em amostras de sedimento.

A metodologia de análise granulométrica apresentada é baseada no

método descrito por Suguio (1973).

Lavagem dos sedimentos

As amostras de sedimentos que estavam armazenadas em sacos

plásticos foram colocadas em baldes plásticos devidamente identificados. A

seguir, adicionou-se água nos baldes e agitou-se a amostra para dissolver

todos os sais, tendo como finalidade se retirar o excesso dos mesmos do

sedimento. Após a decantação do material em suspensão, a água com os sais

dissolvidos foi retirada através do processo de sifonação. Em alguns casos, se

fez necessário realizar a lavagem do sedimento mais de uma vez.

Para se ter certeza de que todo o sal havia sido removido da amostra,

foram adicionadas algumas gotas de solução de nitrato de prata (AgNO3), na

água de lavagem. Quando observado um precipitado branco, ou caso a água

apresentasse uma cor turva esbranquiçada, o procedimento de lavagem foi

repetido para se dissolver todos os sais da amostra.

Secagem do sedimento

Após a lavagem e remoção dos sais, as amostras foram colocadas em

bandejas plásticas e inseridas para secar em estufa, em chapas quentes ou

mesmo naturalmente. A temperatura de secagem foi de até 60°C, pois uma

temperatura superior poderia modificar a estrutura dos argilo-minerais e

promoveria o endurecimento excessivo do sedimento.

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Santos, J. R., 2010 38

Separação e Quarteamento

As amostras após secas, foram separadas em um processo de divisão

da amostra em peneira de 4mm (Fig. 3.6a), separando a fração da amostra

maior que esse diâmetro, que no caso é representada principalmente por

biodetritos e rodólitos.

O processo de quarteamento (Fig. 3.6b) foi realizado manualmente e

consiste em separar a amostra que passou pela peneira de 4mm em partes

iguais e assim sucessivamente até que se alcance o peso desejado. Este

processo permite também que se tenha uma boa representatividade da

amostra a ser analisada.

Figura 3.6 - Processo de separação das amostras (a) e quarteamento das amostras (b).

Análise Granulométrica

Nesta etapa, as amostras foram peneiradas através do processo de

peneiramento mecânico, onde se separaram as classes arenosas e

cascalhosas.

Para esta análise, foram separadas 100 gramas de cada amostra e

colocadas em um conjunto de onze (11) peneiras com aberturas entre 2.0 a

0.063mm, com intervalos de malha de 0,5 phi(φ) (em milímetro: 2, 1.40, 1,

0.71, 0.5, 0.355, 0.25, 0.18, 0.125, 0.09, 0.063), dispostas em grano-

decrescência, ou seja, as malhas de maior abertura na parte de cima e as de

menor abertura, na parte inferior do conjunto.

a b

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Santos, J. R., 2010 39

Este conjunto de peneiras foi colocado em um agitador mecânico “rot-

up” por um período de 15 minutos para que as partículas passem pelo jogo de

peneiras.

A quantidade de sedimento retido em cada peneira foi pesada e

registrada em uma planilha, que então foram adicionados ao programa

estatístico de análise granulométrica denominado GRADISTAT (Blott & Pye,

2001) que calcula os parâmetros estatísticos de acordo com Folk & Ward

(1957), tais como o tamanho médio, moda, mediana, desvio padrão, assimetria,

curtose, % cascalho, % areia e % lama.

A classificação adotada (Tab. 2.1) para a classificação das amostras de

sedimento analisadas foi a escala de Wentworth (1922).

Tabela 3.1 - Classificação dos sedimentos de acordo com a escala Wentworth (1922).

Intervalo Granulométrico Classificação Wentworth

mm phi

1024 - 256 -10 a -8

Cascalh

o

Matacão

256 - 64 -8 a -6 Bloco

64,00 – 4,00 -6 a -2 Seixo

4,00 – 2,00 -2 a -1 Grânulo

2,00 – 1,00 -1 a 0

Are

ia

Muito Grossa

1,00 – 0,50 0 a 1 Grossa

0,50 – 0,250 1 a 2 Média

0,250 – 0,125 2 a 3 Fina

0,125 – 0,0625 3 a 4 Muito fina

< 0,625 < 4 Silte e Argila

Para a classificação textural segundo Shepard (1954), foi utilizado o

programa SEDCLASS (USGS), seguindo a metodologia apresentada por Pope,

et al. (2003), que através dos percentuais de cascalho, areia, silte e argila,

classificou o sedimento das amostras analisadas.

Análise Química - Teor de Carbonato

O objetivo desta análise é determinar a concentração de carbonatos

totais em sedimentos pela sua eliminação através do tratamento com ácido

clorídrico segundo a metodologia apresentada por Suguio (1973).

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Santos, J. R., 2010 40

Nesta etapa, 10 g de cada amostra foram atacadas com ácido clorídrico

(HCl) diluído a 10%. A reação do ácido clorídrico com os carbonatos

(comumente CaCO3) produz sal (CaCl2), gás carbônico e água. Com a adição

do ácido clorídrico, ocorre a produção de CO2, havendo efervescência,

indicando a eficiência e andamento da análise. Desta forma, considera-se que

a eliminação dos carbonatos esteja concluída quando, não ocorrer mais a

efervescência.

Análise da composição dos sedimentos

O reconhecimento dos organismos e/ou sedimentos foi feito utilizando-

se bases bibliográficas especializadas (Drooger & Kaschieter, 1958 apud

Tinoco, 1989). Esta metodologia permite determinar a abundância relativa dos

grupos taxonômicos presentes nos sedimentos denominados biogênicos

(Tinoco, 1989).

Um total de 80 amostras (Fig. 3.7) foram selecionadas para se avaliar a

composição dos sedimentos biogênicos encontrados na plataforma continental

rasa do Rio Grande do Norte.

Figura 3.7 - Mapa das amostras analisadas de sedimentos biogênicos.

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Santos, J. R., 2010 41

A fração granulométrica entre 1 e 4 mm (areia muito grossa e cascalho

fino) foi selecionada para a análise. Posteriormente os grãos foram

fotografados através de microscópio digital (Fig. 3.8) e definida a dimensão da

fotografia através da calibração da lupa.

Figura 3.8 - Microscópio Digital Portátil Dino-Lite.

Após estes procedimentos a fotografia era lançada em um ambiente

SIG, para a realização da contagem de 50 grãos de cada amostra (Fig. 3.9),

sendo que ao final era gerado um arquivo shapefile de pontos, juntamente com

uma tabela da identificação dos grãos de acordo com a classificação proposta.

Figura 3.9 - Ambiente SIG utilizado para a contagem dos grãos dos sedimentos.

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Santos, J. R., 2010 42

Para a identificação e classificação dos componentes biogênicos das

amostras analisadas foi utilizada uma lista de classes pré-definida (Tab. 3.2),

que foi constituída a partir de dados pretéritos e análises preliminares.

Tabela 3.2 - Classificação dos grãos de sedimentos biogênicos para este estudo.

Número Classe Número Classe

1 Algas Verdes 7 Equinodermatas

2 Algas Vermelhas 8 Esponjas

3 Algas antigas 9 Foraminíferos

4 Artrópodes 10 Moluscos

5 Briozoários 11 tubos de vermes

6 Corais 12 Grãos minerais

13 Outros

3.5 Processamento de Imagens de Sensores Remotos

Inicialmente foi realizado um levantamento de trabalhos desenvolvidos e

dados sobre a área de estudo e de outras áreas similares. Os produtos de

sensores remotos foram submetidos a técnicas de processamento digital de

imagens e demarcação das feições submersas, determinando um zoneamento

regional preliminar, a partir dos resultados dos estudos exploratórios anteriores.

No mapeamento das feições foram utilizadas as imagens digitais do

Landsat 5-TM (órbita 214/064 de 07 de agosto de 2005) disponibilizadas

através do site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. As

imagens foram selecionadas tendo como critério a cobertura mínima de nuvem.

Para o mapeamento foi utilizada a banda 1 (0,45-1,52 m), sendo que

inicialmente foi realizado o pré-processamento, onde as imagens foram

georreferenciadas a partir de uma base cartográfica. Em seguida foram

realizados e testados vários ajustes do histograma, contraste e brilho através

de software específico, que possibilitou uma melhor visualização das feições de

fundo e os contatos entre os diferentes tipos de fundo, permitindo identificá-las,

analisa-las e mapeá-las.

As feições morfológicas de fundo encontradas foram validadas através de

dados batimétricos e sedimentológicos e delimitadas as áreas de ocorrência

destas feições, onde os dados foram integrados e elaborados os mapas das

zonas encontradas.

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Santos, J. R., 2010 43

3.6 Integração e Armazenamento de Dados

Devido ao grande número de informações obtidas e geradas neste

trabalho, a estruturação de um banco de dados é parte essencial no

desenvolvimento da pesquisa.

Após a finalização da obtenção dos dados através dos trabalhos de

campo, laboratório e escritório, foi realizada a integração dos dados obtidos

(sedimentologia, textura, teor de carbonato e composição do sedimento),

estruturação do banco de dados georreferenciados, e a importação e inserção

dos dados em um Sistema de Informações Geográficas (SIG).

3.7 Mapas – Método de Interpolação

Para a construção dos mapas de diâmetro médio, textura e teor de

carbonato de cálcio, inicialmente foram testados diversos métodos de

interpolação, analisando qual destes melhor representou o comportamento da

variável estudada.

Através da análise do resultado dos métodos o método que melhor

representou os resultado foi o Spline, mais especificamente o spline com

barreira (spline with barrier), pois foi considerados na interpolação dos dados

os complexos recifais existentes como sendo barreiras.

Este método utiliza uma expressão polinomial para ajustar uma superfície

analítica que inclua todos os pontos de amostragem disponíveis, tendo como

objetivo a interpolação dos valores para cada célula do grid, gerando uma

superfície na qual a declividade em todos os pontos seja obtida com a

minimização da curvatura total. O resultado dessa interpolação é uma

superfície suavizada (Andriotti, 2005).

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Santos, J. R., 2010 44

CAPÍTULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Diâmetro Médio

Do total de 1.186 amostras coletadas, 456 foram submetidas a análise

granulométrica e 73 amostras foram classificadas como cascalho, pois eram

compostas principalmente por sedimentos com diâmetro maior ou igual a

fração 4mm.

Os sedimentos analisados foram classificados de acordo com Folk &

Ward (1957). Das 456 amostras analisadas 51 foram classificadas como areia

muito grossa (11,2 %), 259 como areia grossa (56,8 %), 117 como areia média

(25,7 %), 22 como areia fina (4,8 %), 5 como areia muito fina (1,1 %) e 2 como

sendo lama (0,4 %).

Analisando os dados encontrados verifica-se uma alta dominância da

areia grossa e também se observa uma baixa concentração de lama na área

de estudo.

Através dos dados do diâmetro médio dos grãos de cada amostra, foi

gerado um mapa da distribuição espacial do diâmetro médio do sedimento em

toda a área de estudo (Fig. 4.1).

Verifica-se que os menores valores do diâmetro médio do sedimento

predominaram principalmente na região entre a costa e os complexos recifais,

tornando os complexos uma barreira e favorecendo a presença de sedimentos

com diâmetros médios menores, enquanto que na região mais afastadas da

costa tem-se uma predominância das areias grossas a muito grossas.

Testa & Bonsence (1999) observaram que os sedimentos tornam-se

gradativamente mais grossos a partir da região onde estão presentes os

complexos recifais, em direção ao oceano. Estes resultados obtidos

apresentam-se em conformidade com os resultados obtidos no presente

trabalho.

Verificou-se que a areia grossa é a classe de tamanho de sedimento

predominante na plataforma da área estudada. Isso provavelmente se deve a

região ser dominada por sedimentos carbonáticos, constituídos principalmente

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Santos, J. R., 2010 45

por algas calcárias vermelhas (Lithothamnium) e algas calcárias verdes

(Halimeda), sendo que estas algas estão em constante crescimento e

fragmentação, favorecendo a formação de um fundo com predomínio das

classes de sedimento com diâmetros maiores (Santos et al., 2009b).

Figura 4.1 - Mapa da distribuição do diâmetro médio de acordo com Folk & Ward (1957).

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Santos, J. R., 2010 46

4.2 Mapa Textural

A propriedade mais ressaltante dos sedimentos é, provavelmente, a

dimensão das partículas que os compõem. Entretanto, uma diferença

significativa não foi encontrada entre a análise do diâmetro médio e a textural

segundo Shepard (1954).

Assim, esta análise textural segundo Shepard (1954) tende a agrupar as

classificações dos sedimentos que são baseados na dimensão das suas

partículas, de forma a integrar estas classes numa única. Esta integração, se

revela uma simplificação que bastante facilita a análise.

Para esta análise foram incluídas 73 amostras compostas por grãos com

diâmetros iguais ou maiores do que a fração cascalho médio (4mm). Estas não

foram peneiradas, mas classificadas visualmente, quanto aos seus

componentes, sendo denominadas como cascalhos.

As amostras analisadas foram classificadas segundo Shepard (1954),

sendo encontradas cinco classes texturais na área amostrada. Das 529

amostras analisadas 227 foram classificadas como areia cascalhosa (42,9 %),

225 como areia (42,5 %), 74 como cascalho (14,0 %), 2 como areia lamosa

(0,38 %) e 1 como lama (0,19 %).

Através dos dados da análise textural, que compara o percentual de

ocorrência entre cascalho, areia e lama de uma amostra, verifica-se que o

fundo marinho na área estudada, é dominado por areias e areias cascalhosas

(Fig. 4.2). Isto corrobora as idéias de França et al. (1976) que descreve que na

plataforma interna (< 20m) predominam as areias constituídas por uma parcela

de cascalho, enquanto que na plataforma média a externa os sedimentos são

geralmente constituídos de uma mistura de areia e cascalho.

No mapa textural pode ser observado algumas zonas dominadas por

areias na porção mais profunda da área de estudo.

As texturas mais finas dos sedimentos (lama e areia lamosa) apenas

foram encontradas na região protegida do recife de Rio do Fogo e nas

proximidades da cidade de Touros, assim como verificado por Testa &

Bonsence (1999). Estes mesmos autores verificaram ainda que os sedimentos

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Santos, J. R., 2010 47

na área de estudo, são caracterizados por cascalhos, areias carbonáticas e

siliciclásticas.

As amostras de cascalho, na fração maior que 4mm, se fizeram

presentes na sua maioria entre a costa e os complexos recifais. No entorno dos

complexos recifais são encontrados as maiores concentrações de rodolitos,

verificado também em outros estudos no parracho de Maracajaú (Lima, 2002;

Queiroz, 2008), sendo que o crescimento e a ocorrência dos rodolitos está

fortemente ligada a hidrodinâmica (Kempf, 1970; Bonsence, 1983; Dias, 2000).

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Santos, J. R., 2010 48

Figura 4.2 - Mapa textural segundo Shepard (1954).

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Santos, J. R., 2010 49

4.3 Teor de Carbonato

A análise do teor de carbonato de cálcio (CaCO3) foi realizada em um

total de 338 amostras, sendo que destas 224 (66,3 %) apresentaram

concentrações de CaCO3 maiores que 80%, e 23 (6,8 %) com concentrações

menores que 20%.

A partir das observações visuais das amostras e dos resultados obtidos

nas análises, observou-se que os sedimentos carbonáticos são dominados por

algas calcárias. Uma forte relação entre algas calcárias e a concentração de

CaCO3, indicam que as algas calcárias são a principal fonte na produção de

sedimentos carbonáticos (Testa & Bonsence, 1999; Queiroz, 2008).

A partir do mapa de isoteores de carbonato de cálcio (Fig. 4.3) é

possível distinguir algumas regiões identificadas através dos produtos de

sensores remotos, tais como: campo de dunas submersas, banco de arenito e

depósito de areias siliciclásticas, como será visto mais adiante.

Atualmente não se verifica um alto potencial de transporte fluvial de

areia para a plataforma e o material proveniente da erosão costeira permanece

na zona litorânea, principalmente nas praias e nas dunas. A baixa

sedimentação terrígena recente torna o material carbonático a fonte primária de

sedimentos modernos para as plataformas (Coutinho, 1981), principalmente na

plataforma continental do Nordeste do Brasil.

A alta concentração de Carbonato de Cálcio, verificado nas amostras

analisadas, evidencia o baixo aporte de sedimentos terrígenos. Na maior parte

da área de estudo verificou-se altas concentrações de CaCO3. Entretanto, foi

encontrada em algumas áreas alta concentração de material siliciclástico,

provavelmente proveniente de ambientes pretéritos quando o nível do mar se

encontrava mais baixo do atual, sendo estes então depósitos de sedimentos

relíquias.

De acordo com Coutinho & Morais (1970) a plataforma continental do

Estado do Rio Grande do Norte apresenta uma predominância de

sedimentação carbonática sobre a terrígena. Como reforçam Santos et al.

(2009b) tal fato se explica pela pequena contribuição continental (rios com

baixa descarga fluvial), em uma plataforma estável, pouco profunda, e com

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Santos, J. R., 2010 50

águas limpas, quentes e moderadamente salinas, favorecendo o

desenvolvimento de organismos produtores de carbonato. O conteúdo biótico

dos sedimentos caracteriza-se por algas calcárias coralinas ramificadas,

responsáveis pelo alto teor de carbonato.

Fazendo uma comparação entre o tamanho dos sedimentos e o teor de

carbonato, sugere-se uma tendência logarítmica onde as menores classes de

sedimento tendem a apresentar um menor teor de carbonato e as maiores

classes de sedimentos apresentaram um maior teor de carbonato. Esta relação

pode ser verificada quando se compara o mapa de diâmetro médio ou textural

e o mapa de teor de carbonato.

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Santos, J. R., 2010 51

Figura 4.3 - Mapa da distribuição espacial do teor de carbonato de cálcio.

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Santos, J. R., 2010 52

4.4 Composição dos Sedimentos

Um total de 80 amostras foram selecionadas, onde um quantitativo de

4.000 grãos de sedimento foram analisados e classificados, verificando-se que

das amostras analisadas, os componentes bióticos prevalecem sobre os

componentes abióticos em 82%.

A distribuição das amostras na área de estudo está localizada

principalmente entre a profundidade de 10 e 30 metros, e alguma

aleatoriamente em profundidades menores que 10 metros.

As principais classes de sedimento encontrado na área de estudo, da

fração analisada, foram as algas verdes (Halimedae) sendo a mais abundante

(57,2%), chegando a apresentar até 90% dos grãos analisados em algumas

amostra, seguido dos grãos minerais (principalmente material siliciclástico),

com 10,8% (Fig. 4.4).

Uma relação inversa entre algas calcárias (Fig. 4.5A) e os grãos

minerais (Fig. 4.5B) foi observado, ou seja, em áreas com maiores

concentrações de grãos minerais tem-se uma menor ocorrência de algas

calcárias de um modo geral.

Os corais foram identificados em apenas 2 amostras, evidenciando a

baixa ocorrência de corais na plataforma continental do RN, assim como em

outros estudo de áreas similares (Manso et al., 2003; Poggio et al., 2009).

Figura 4.4 – Distribuição do número total de ocorrência da composição do sedimento nas amostras analisadas.

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Santos, J. R., 2010 53

Figura 4.5 - Composição do sedimento da fração 1-4mm. A) exemplos de algas calcárias e B) sedimentos siliciclásticos.

4.5 Divisão da Plataforma Continental Oriental do RN

Dois autores sugerem uma divisão da plataforma nordeste do Brasil

(Kempf et al. 1970; Coutinho, 1976). Entretanto, estas divisões não se

enquadram dentro das características da plataforma continental oriental do RN.

Desta forma sugere-se uma atualização das classificações anteriores para a

plataforma em estudo (Fig. 4.6), esta classificação vai até aproximadamente os

trinta metros (30m) de profundidade que foi o limite compreendido neste

estudo. Foram então definidas 3 grandes regiões homólogas:

Região interna: limitada pela isóbata de 10 m profundidade sendo a

região mais próxima a costa; com complexos recifais como feições

topográficas mais relevantes e grande ocorrência de rodolitos próximo

aos recifes; areias terrígenas encontradas apenas próximas a costa e

domínio da sedimentação carbonática cobrindo os depósitos de areias

terrígenas.

Região Intermediária: delimitada entre 10 e 20m de profundidade, sem a

presença de feições topográficas relevantes; teor em carbonato de

cálcio superior a 80%, com a presença do gênero Litthothamnium, em

formas livres e ramificadas e Halimeda, com predomínio de sedimentos

carbonáticos e da fração areia grossa.

Região externa: localizada entre 20 e 30m; com presença um banco de

arenito como importante feição topográfica; ocorrência de sedimentos

A B

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Santos, J. R., 2010 54

relíquias siliciclásticas formando grandes depósitos; apresenta zonas e

feições morfológicas diferentes.

Figura 4.6 – Divisão da plataforma continental rasa na porção oriental do RN em três

regiões: Interna, Central e Externa.

4.6 Mapeamento e Zoneamento da Plataforma

A partir da divisão da plataforma em regiões, foi realizada uma

subdivisão, quando possível, em zonas, de acordo com parâmetros como tipo

de sedimentos de fundo, textura na imagem de satélite e tipo de relevo.

Foram descritas sete zonas morfo-sedimentares (Fig. 4.7) visíveis

através das imagens de satélite analisadas sendo elas: (1) Zona Túrbida; (2)

Zona de Bancos Recifais, localizadas na região interna; (3) Zona Sedimentos

Carbonáticos Mistos, localizada na região intermediária; (4) Zona de Algas

Incrustantes; (5) Zona de Alinhamento Rochoso; (6) Campo Dunas Submersas

e (7) Depósito Areias Siliciclásticas, localizadas na região externa. Assim

temos:

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Santos, J. R., 2010 55

Figura 4.7 – Imagem da área de estudo do Landsat TM, banda 1, mostrando os limites das zonas mapeadas: (ZT) Zona Túrbida; (ZBR) Zona de Bancos Recifais; (ZSCM) Zona Sedimentos Carbonáticos Mistos; (ZAI) Zona de Algas Incrustantes; (ZAR) Zona de Alinhamento Rochoso; (CDS) Campo Dunas Submersas; (DAS) Depósito de Areias Siliciclásticas.

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Santos, J. R., 2010 56

4.6.1 Região Interna

A região interna caracteriza-se pela proximidade da costa e delimitada

pela cota batimétrica de 10m. Esta região é subdividida em duas zonas que

apresentam características distintas sendo elas a Zona Túrbida e a zona de

Bancos Recifais.

Zona Túrbida

Esta zona está limitada entre a linha de costa e a zona de bancos

recifais, e apresentam intensa ressuspensão de sedimentos tornando esta

região túrbida. Nesta zona observa-se uma transição entre as areias

terrígenas, com predominância de material siliciclástico, e os sedimentos

carbonáticos.

Os sedimentos nesta zona são mal selecionados, variando desde lama a

cascalhos. Esta zona já foi descrita por Testa & Bonsence (1999) como zona

túrbida sublitorânea, abrangendo também os complexos recifais.

Através da análise batimétrica e da imagem de satélite é possível

reconhecer um canal denominado como canal de São Roque, descrito em carta

náutica e por Lima (2002).

Com base na imagem, analisando-se o sentido de deriva do material

particulado em suspensão, foi possível induzir a presença de correntes próximo

à costa (Fig. 4.7). Percebe-se que o sentido da corrente litorânea seja

preferencialmente SE-NW, limitada entre a linha de costa e cota batimétrica de

-6 m, podendo em alguns pontos atingir profundidades maiores, de acordo com

os dados obtidos por IDEMA (no prelo).

Zona de Bancos Recifais

A zona de bancos recifais também denominados localmente como

Parrachos ou Baixios é composta por três complexos recifais: Maracajaú, Rio

do Fogo e Cioba. Esta zona é limitada entre a zona túrbida e a cota batimétrica

de aproximadamente 10 m de profundidade.

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Santos, J. R., 2010 57

Estes Bancos são um obstáculo à navegação em função da baixa

profundidade local, com exceção do banco recifal de Cioba que apresenta

maiores profundidades. Estes bancos recifais se encontram entre 5 a 7 km da

linha de costa e são bioconstruções dominadas por construções carbonáticas

algálicas coralinas, e orientados na direção NW-SE, paralelos a linha de costa

e apresentam um corpo alongado.

Durante a maré baixa se tornam praticamente emersos e apresentam

uma extensão entre 8 e 12 km (Santos et al., 2007).

Nestes bancos recifais é verificada a presença de corais Siderastrea

stellata e Millepora em associação com algas coralinas (Testa & Bonsence,

1999; Santos et al., 2007). Nas proximidades destes bancos encontram-se

areias carbonáticas e uma maior concentração de rodolitos (Fig. 4.8), assim

como verificado por Lima (2002) e Queiroz (2008).

Figura 4.8 – Cobertura do fundo no entorno dos recifes apresentando alta ocorrência de rodolitos, exemplo do recife de Maracajaú.

4.6.2 Região Intermediária

Zona de Sedimentos Carbonáticos Mistos

Após a zona de bancos recifais, é encontrada uma longa faixa de

sedimentos com alto teor de carbonato, ocorrendo principalmente entre a

profundidade de 10 e 20 m. Os sedimentos são constituídos principalmente por

algas calcárias coralinas de formas livres e Halimeda (Fig. 4.9 A).

O alto teor de carbonato verificado nos sedimentos analisados desta

zona é resultado da grande quantidade de algas calcárias e carapaças de

Foto:Liana Mendes

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Santos, J. R., 2010 58

organismos. Uma característica geral das algas vermelhas coralinas quando

vivas, é apresentar em sua superfície tonalidades avermelhas (Fig. 4.9 B).

Figura 4.9 - Material sedimentar encontrado na zona de sedimentos carbonáticos. A) sedimentos carbonáticos mostrando a alta ocorrência da alga Halimedae; B) amostra com algas coralinas tendo como exemplo os rodolitos e algas vermelhas calcárias de formas livres.

Nesta zona são observadas formas de fundo denominadas como

manchas arenosas ou “sand patches” que são dunas longitudinais

subaquáticas paralelas a linha de costa (Testa & Bonsence, 1999; Cabral,

2003). Estas são compostas por areias e cascalhos bioclásticos, e apresenta

um padrão na distribuição destes sedimentos entre as cristas e cavas destas

dunas, tendo o predomínio de areias mais finas nas cristas e material

cascalhoso (algas coralinas e rodolitos) nas cavas (Fig. 4.10A; Fig. 4.10B).

Figura 4. 10 - Fundo de sedimentos carbonáticos; A) nesta zona podem ser observadas marcas onduladas (sand ribbons); B) intercalação de sedimento cascalhoso nas cavas e material fino nas cristas destas marcas onduladas.

A B

A B

Cava

Crista

± 1m

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Santos, J. R., 2010 59

4.6.3 Região Externa

Zona de Algas Incrustantes

Esta zona apresenta uma forma alongada, localizada principalmente

entre o zona de dunas submersas e a zona de Alinhamento rochoso e com

orientação NW – SE. Tem uma largura máxima de 7 km e um comprimento

aproximado de 37 km, e está presente entre 20 e 22m de profundidade.

Os sedimentos desta zona são dominados por areia cascalhosa e

cascalho. Algumas algas calcárias vermelhas presentes nesta região são

rodolitos. Sendo assim, esta zona de algas incrustantes é decorrência do

acúmulo de talos ramificados e de formas livres de algas coralinas.

A forma de desenvolvimento das algas vermelhas, presentes nesta

região, se dá por incrustações resultantes de laminações superpostas por

sucessivos episódios de crescimento carbonático (Giustina, 2006).

Através da imagens de satélite observou-se uma diferença na textura,

apresentado-se na imagem uma textura mais rugosa, possibilitando identificá-la

e mapeá-la.

Testa & Bonsence (1999) também identificaram esta zona denominando-a

como zona de algas estabilizadas e com um formato de “Y”. Os sedimentos

são dominado por algas coralíneas de formas livres que tem sido estabilizada

pelo seu crescimento.

Zona de Alinhamento Rochoso

Esta zona se apresenta como uma estrutura linear e praticamente

paralela a linha de costa, apresentando orientação NW-SE, localizada na cota

de 22m, e a uma distância da costa entre 23 e 26 km. Apresenta um

comprimento aproximado de 45 km.

Esta estrutura foi relacionada, por sua morfologia, a um banco de arenito

apresentando-se como arenito quartzoso com cimento carbonático (Fig. 4.11).

Esta rocha é constituída por grãos de quartzo, os maiores arredondados e os

menores sub-arredondados, e ausência de conchas e restos de fauna marinha.

(Vianna & Solewicz, 1988).

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Santos, J. R., 2010 60

Este lineamento externo pode ser identificado através da imagem de

satélite, identificada como uma linha contínua onde a textura é mais clara.

A menor profundidade encontrada nesta feição é de aproximadamente 9

m (Araújo Filho, 2009) e sugere ser uma antiga linha de costa formada durante

a estabilização do nível do mar, observadas em várias partes do mundo a

cerca de 9.000 e 7.000 anos a.p.(Solewicz, 1989).

A esta feição foram dadas diversas denominações e descrições: uma

antiga face de praia correspondente a um “Beach Rock” (Vianna & Solewicz,

1988; Solewicz, 1989), uma faixa de bancos areníticos (Santos et al., 2007) ou

simplesmente como sendo sedimentos litificados, sendo descritos como

afloramentos submersos de arenitos cimentados por carbonato, e incrustados

por algas coralinas e esponjas (Testa & Bonsence, 1999).

Figura 4.11 - Alinhamento rochoso típico de um banco de arenito encontrado na área de estudo.

Campo de dunas submersas

Na parte mais externa da área de estudo, as correntes apresentam a

velocidade média de 50 cm/s, podendo alcançar os 75 cm/s na sua porção

nordeste (IDEMA, no prelo). A presença de correntes com estas velocidades e

a disponibilidade de sedimentos terrígenos, favorece a formação de um campo

de dunas submersas.

Este campo de dunas submersas apresenta uma largura de 11 km e um

comprimento de 35 km, estando localizado na porção norte da área de estudo.

Estas são dunas transversais ao sentido do fluxo e são compostas de areias

Foto:Liana Mendes

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Santos, J. R., 2010 61

quartzosas (Fig. 4.12) com menos de 10% de carbonato de cálcio oriundo de

Halimedae e outras algas calcárias de formas livres.

Sobre estas dunas foram observadas marcas onduladas – ripples

(Vianna & Solewicz, 1988, Testa & Bonsence, 1999), formando assim uma

sobreposição de formas de fundo. A migração deste campo de dunas foi

estimado em menos de 10 m/ano (Vianna & Solewicz, 1988; Solewicz, 1989).

Este campo de dunas foi observado nas imagens de satélite (Fig. 4.13),

onde se verificou uma variação na textura da imagem, sendo mais claras as

cristas das dunas e mais escuras as cavas das dunas. Foi constatado que este

campo de dunas se estende até a costa do Estado do Ceará, entretanto,

apresentando espaçamentos maiores entre as dunas (Vianna & Solewicz,

1988).

Figura 4.12 - Sedimentos terrígenos que compõem as dunas submersas.

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Santos, J. R., 2010 62

Figura 4.13 - Imagem do Landsat TM, banda 1, ilustrando o campo de dunas submersas e

as suas cristas; as flechas indicam o sentido do fluxo preferencial.

Depósito de Areias Siliciclásticas

Uma região localizada na porção sudeste da área de estudo se

caracteriza por apresentar areias siliciclásticas (Fig. 4.14), bem selecionada e

teor de carbonato de cálcio inferior a 10%.

Apenas alguns pontos amostrais foram coletados nesta zona,

Entretanto, realizou-se o mapeamento deste depósito utilizando-se imagens de

satélite, determinando a sua extensão através da similaridade da textura na

área onde as amostras de sedimentos foram coletadas.

Sentido Fluxo

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Santos, J. R., 2010 63

Figura 4.14 - Amostra de sedimento coletada no depósito de areias siliciclásticas.

A Tabela 4.1 apresenta uma comparação das propostas de divisão da

plataforma (Coutinho, 1976) assim como um zoneamento realizado na área de

estudo (Testa & Bonsence, 1999). É possível observar uma evolução, assim

como uma atualização das divisões para a plataforma estudada, apresentada

pelo presente trabalho.

Tabela 3.1 - Tabela comparativa da divisão da plataforma realizada por outros autores.

Prof. Coutinho (1976) Testa & Bonsence (1999) Santos (2010)

Plataforma Interna

Zona túrbida sublitorânea Região Interna Zona túrbida

10 Zona de bancos recifais

20 Zona de faixa de areia

Região Intermediária

Zona de sedimentos carbonáticos mistos

Plataforma Média

Zona de algas estabilizadas

Região Externa

Zona de algas incrustantes

Zona de sedimentos litificados Zona de alinhamento rochoso

Zona de dunas subaquosas Campo de dunas submersas

30

Depósitos de areias siliciclásticas

40

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Santos, J. R., 2010 64

4.7 Importância Econômica dos Sedimentos

Através dos resultados obtidos verifica-se que a área em estudo

apresenta importantes reservas de sedimentos carbonáticos e siliciclásticos.

A zona de sedimentos carbonáticos mistos e a zona de algas

incrustantes, assim como algumas áreas adjacentes, representam importantes

fontes de depósitos carbonáticos, sendo que estes podem ser utilizados em

diversos setores econômicos, dependendo da sua composição e de seus

oligoelementos.

O campo de dunas submersas e o depósito de areias siliciclásticas

podem representar uma área prioritária para a extração de sedimentos que

podem ser utilizados em recuperação de praias ou empregados na indústria da

construção.

Porém, novos estudos devem ser realizados para se determinar a

espessura destes depósitos, assim como também dos impactos ambientais que

a exploração deste recurso pode vir a causar no local e áreas adjacentes.

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Santos, J. R., 2010 65

CAPITULO V – CONCLUSÕES

Através da interpretação dos produtos de sensoriamento remoto,

juntamente com dados coletado em campo, foi possível identificar diferentes

feições morfológicas na área de estudo, mostrando-se um método bastante

eficiente e acessível. Porém estas interpretações estão limitadas às regiões

que apresentem baixa concentração de material em suspensão e nas imagens

analisadas, foi possível identificar as feições até aproximadamente os 30 m,

sendo possível observar estas feições em função da alta transparência da

coluna d’água na região.

A plataforma continental estudada apresenta uma dominância da fácies

carbonática e predomínio da fração areno-cascalhosa em função da

composição biogênica, que estão em constante crescimento e fragmentação,

favorecendo a formação de um fundo com predomínio das classes de

sedimento mais grossas.

Os sedimentos carbonáticos (Lithotaminium e Halimedae) e os

sedimentos siliciclásticos foram os principais recursos minerais encontrados.

Estes são recursos minerais marinhos estratégicos de grande importância,

porém não se tem um conhecimento amplo da dimensão destas reservas.

Uma classificação para a plataforma em estudo é sugerida, com a

limitação em torno dos trinta metros (30 m) de profundidade, sendo esta

dividida em três Regiões: Interna, Intermediária e Externa.

Em cada região foram distinguidas zonas que foram mapeadas através

das imagens de satélites, sendo elas: zona túrbida, zona de bancos recifais,

zona sedimentos carbonáticos mistos, zona de algas incrustantes, zona de

alinhamento rochoso, campo de dunas subaquosas e o depósito de areias

siliciclásticas.

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