Upload
vankhue
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Caracterização Técnica Qualitativa de Nadadores Infantis
Sílvia Manuel Marques Caetano de Sousa
Porto, 2009
Caracterização Técnica Qualitativa de Nadadores Infantis
Orientador: Prof. Doutor Ricardo Fernandes
Sílvia Manuel Marques Caetano de Sousa
Porto, 2009
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento -Natação, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
III
Sousa, S. (2009). Caracterização Técnica Qualitativa de Nadadores Infantis. Porto: S. Sousa. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: Técnica de nado, erros técnicos, avaliação e controlo de treino, nadadores infantis.
IV
Agradecimentos
Com o culminar de toda uma “história” académica, onde certamente foram
vividos os primeiros e tão só suficientes anos de uma vida, gostava de
expressar o meu sentimento de gratidão e quiçá admiração àqueles que, de
uma maneira ou de outra, foram estando presentes ao longo deste percurso.
Assim, desde já agradeço a todos eles a inestimável ajuda.
Para a realização deste trabalho pude ainda contar com a colaboração, ajuda e
incentivo de várias pessoas, às quais gostaria de manifestar a minha gratidão:
Ao Professor Doutor Ricardo Fernandes, pelo seu profissionalismo, pelo seu
conhecimento, pela sua compreensão e disponibilidade com que seguiu este
trabalho.
À Professora Susana Soares, pela ajuda no tratamento de dados e pela
disponibilidade demonstrada durante a realização do trabalho.
À minha família… Aqueles que sempre serão o meu porto mais seguro! Pai,
Mãe, e Meninas. Pelo carinho e amor incondicional, pelo imutável apoio, pela
força incessante, pela presença constante, pelo carácter e educação, por todas
as oportunidades que me proporcionaram ao longo da vida.
Pai, pelo exemplo, pelo rigor, pela exigência. Pelas gargalhadas e
intermináveis brincadeiras! Pelo teu enorme “sentir”, e por seres o nosso Pai!
Mãe, pela dignidade, pelo esforço, pelo respeito, pela luta do dia-a-dia. Pela
preocupação e pelo Equilíbrio! Simplesmente, por seres a minha Mãe. Sara,
por sempre acreditares, pela prontidão, apoio e ajuda, pela disponibilidade,
pelo companheirismo e pelo sorriso contagiante. Por seres a mais velha e a
“despachada”! Pelas caixinhas milagrosas e pelo “primperan”! Salomé, pela
força, pela proximidade e confiança, pela tão característica compreensão e
paciência, pela ajuda e pela sensibilidade. Pelos incessantes e confusos
telefonemas e pela eterna indecisão! Sofia, pela curiosidade e ousadia, pelo
acreditar, pela ajuda, pela força e disponibilidade. Pelas mensagens de
incentivo e pelos beijinhos “anormais”. Mariana, por seres a pequenina, pelas
brincadeiras, pelo sorriso, pela inocência e pela doçura. Pelos infindáveis
abraços e beijinhos, pelas histórias ao adormecer e por seres a “fotocópia”.
V
À Guida, por seres a madrinha, amiga, companheira e “palhaça”. Pelo
constante apoio, pelo carinho, pela sinceridade e frontalidade, pelas eternas
palavras reconfortantes, e por todos os momentos vividos juntas.
À Tarracota, a minha afilhada, pela amizade, pela ajuda incessante, pela
disponibilidade, pelo carinho e pela confiança. Pelas guitarradas e pelas “notas
soltas a bandolins”. Pelos longos passeios e pelos desabafos.
À Té, pela amizade ao longo de todos estes anos, pelo companheirismo, pelo
carinho, pelo acreditar, pelo apoio e pela força. Pelas noites de tuna, pela tua
inconfundível e cómica distracção e por teres sido um dia a “primeirinha
amiga”!
À Desportuna, pelo verdadeiro espírito académico, pelas tantas noites de folia,
pelas guitarradas, jantaradas e festivais. Pelos momentos de descontracção,
pelas inúmeras amizades, pelas inolvidáveis recordações. Por uma paixão só
tão nossa e vivida! Pelo fado… Pelo tão nosso Porto!
À Anabela, pela amizade, pela oportunidade, por acreditar e pela sinceridade.
Pela espera, pela compreensão, pela partilha de conhecimentos e pela paixão
da Natação.
A todos os corajosos que de uma forma subtil e consciente me perguntaram
como estava a correr a monografia, me ouviram, e em várias tentativas
falhadas me perguntaram o que ia fazer, ou para onde ia!
A todos aqueles que de uma forma directa ou indirecta, participaram na
consecução deste estudo, o meu mais profundo agradecimento.
VI
Índice Geral
Agradecimentos ........................................................................................... IV
Índice Geral..................................................................................................VI
Índice Quadros............................................................................................VII
Índice das Figuras.......................................................................................XII
Resumo..................................................................................................... XIV
Abstract..................................................................................................... XVI
Lista de Abreviaturas .............................................................................. XVIII
1. Introdução .................................................................................................. 1
2. Revisão de Literatura ................................................................................. 3
2.1. – Avaliação e Controlo de Treino em Natação Pura Desportiva ............. 3
2.2. – Modelo técnico em Natação Pura Desportiva ...................................... 8
2.3. – Técnica de Mariposa............................................................................ 9
2.4. – Técnica de Costas ............................................................................. 21
2.5. – Técnica de Bruços ............................................................................. 29
2.6. – Técnica de Crol .................................................................................. 39
3 – Objectivos e Hipóteses .......................................................................... 47
3.1 – Objectivo Geral ................................................................................... 47
3.2 – Objectivos Específicos ........................................................................ 47
3.3 – Hipóteses ............................................................................................ 47
4 – Material e Métodos................................................................................. 49
4.1. – Caracterização da Amostra................................................................ 49
4.2. – Procedimentos Metodológicos ........................................................... 52
5 – Apresentação dos Resultados ............................................................... 55
6 – Discussão dos Resultados..................................................................... 65
7 – Conclusões ............................................................................................ 77
8 – Referências Bibliográficas...................................................................... 79
9 – Anexos ................................................................................................... 91
VII
Índice Quadros
Quadro 1. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à posição corporal na técnica de Mariposa. Adaptado de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP …………………………………………………………………………..
12
Quadro 2. Descrição da acção dos MS na técnica de Mariposa na concepção
de alguns autores. ………………………….......................................................
12
Quadro 3. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à entrada na técnica de Mariposa. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ………….
13
Quadro 4. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALE na técnica de Mariposa. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …............
14
Quadro 5. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALI na técnica de Mariposa. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ……........
15
Quadro 6. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à AA na técnica de Mariposa. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …............
16
Quadro 7. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à saída e recuperação dos MS na técnica de Mariposa.
Adaptação de Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I –
Natação, FCDEF-UP ….....................................................................................
18
Quadro 8. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à acção dos MI na técnica de Mariposa. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP ….....................................................................................................
19
Quadro 9. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à respiração na técnica de Mariposa. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….......
21
VIII
Quadro 10. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente a posição corporal na técnica de Costas. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP ………………………………………………………………………….....
22
Quadro 11. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à entrada na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …...........
23
Quadro 12. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à 1ª AD na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …...........
24
Quadro 13. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à 1ª AA na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …............
25
Quadro 14. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à 2ª AD na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …............
25
Quadro 15. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à 2ª AA na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …...........
26
Quadro 16. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à Saída e Recuperação na técnica de Costas. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP ….....................................................................................................
27
Quadro 17. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à acção dos MI na técnica de Costas. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….......
28
Quadro 18. Descrição das acções dos MS na técnica de Bruços na
concepção de alguns autores. …………………….…..........................................
30
IX
Quadro 19. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALE dos MS na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …......
32
Quadro 20. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à AD dos MS na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….......
32
Quadro 21. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALI dos MS na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….......
33
Quadro 22. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à Recuperação dos MS na técnica de Bruços. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP …......................................................................................................
34
Quadro 23. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALE dos MI na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….......
35
Quadro 24. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALI dos MI na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …......
36
Quadro 25. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à Recuperação dos MI na técnica de Bruços. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP ….....................................................................................................
37
Quadro 26. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à respiração na técnica de Bruços. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP … (ver
tipo de letra) ……………………………...............................................................
38
X
Quadro 27. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à posição corporal na técnica de Crol. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP……………………………………………………………………………..
40
Quadro 28. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à entrada dos MS na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …......
41
Quadro 29. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à AD na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea de textos de
apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP ….........................
41
Quadro 30. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à ALI na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea de textos de
apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …...........................
42
Quadro 31. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à AA na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea de textos de
apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …...........................
42
Quadro 32. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à Saída e Recuperação na técnica de Crol. Adaptação de
Colectânea de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação,
FCDEF-UP …...................................................................................................
43
Quadro 33. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à acção dos MI na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea
de textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP …......
44
Quadro 34. Principais erros técnicos e respectivas consequências
relativamente à respiração na técnica de Crol. Adaptação de Colectânea de
textos de apoio à disciplina de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP .............
46
Quadro 35. Valores médios e respectivos desvios padrão, por género, da
idade, do número de anos de prática de Natação, do número de unidades de
treino semanal, do número de treinos a seco, do número de treinos na água,
do peso e da altura ……………………………....................................................
50
XI
Quadro 36. Modelo de progressão do volume da carga do treino (adaptado
de Alves, 1997). A negro encontram-se os valores correspondentes aos
nadadores da presente amostra …..................................................................
51
Quadro 37. Número de nadadores especialistas em cada uma das técnicas
de nado à excepção de Crol. Os resultados são apresentados por subgrupo
sexual e para a totalidade da amostra ...............................................................
51
XII
Índice das Figuras
Figura 1. Percentagem total de erros técnicos encontrados em cada uma das
4 técnicas de nado. Os resultados são apresentados através de valores
médios por subgrupo sexual para a totalidade da amostra ................................
55
Figura 2. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases
e categorias técnicas da Técnica de Mariposa. Os resultados são
apresentados por subgrupo sexual. Legenda: ø e ¥, DES entre categorias
técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a
Posição e Trajectória dos Segmentos ……………………………………………
56
Figura 3. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases
e componentes técnicas da Técnica de Costas. Os resultados são
apresentados por subgrupo sexual. Legenda: * representa uma DES para as
variáveis em causa (p<0.05); ø e ¥, DES entre categorias técnicas; Total PTS
- Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a Posição e Trajectória
dos Segmentos ..................................................................................................
57
Figura 4. Percentuais de ocorrências dos tipos de sincronização entre MS e
Ml e entre MS e MS observados na Técnica de Costas .....................................
58
Figura 5. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases
e componentes técnicas da Técnica de Bruços. Os resultados são
apresentados por subgrupo sexual. Legenda: ø, ¥ e £, DES entre categorias
técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a
Posição e Trajectória dos Segmentos ................................................................
59
Figura 6. Percentuais de ocorrências dos tipos de Variantes e Sincronização
entre MS e MI observados na Técnica de Bruços. Os resultados são
apresentados por subgrupo sexual. Legenda: * representa uma diferença
estatisticamente significativa para as variáveis em causa (p<0.05); ø, ¥ e £,
DES entre categorias técnicas ……………………...............................................
61
XIII
Figura 7. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases
e componentes técnicas da Técnica de Crol. Os resultados são apresentados
por subgrupo sexual. Legenda: ø e ¥, DES entre categorias técnicas; Total
PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos à Posição e
Trajectória dos Segmentos ...…….......................................................................
62
Figura 8. Percentuais de ocorrências dos tipos de sincronização entre MS e
MI e entre MS e MS observados na Técnica de Crol .........................................
63
XIV
Resumo
O presente estudo pretendeu caracterizar tecnicamente o nadador infantil no
que se refere aos seus principais erros técnicos efectuados nas quatro técnicas
utilizadas em Natação Pura Desportiva (Mariposa, Costas, Bruços e Crol).
A amostra foi constituída por 65 nadadores, 33 do género masculino e 32 do
género feminino, pertencentes ao escalão etário Infantil seleccionados para
participar em estágios da Associação de Natação do Norte de Portugal em
conformidade com o Protocolo estabelecido entre essa associação desportiva e
a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
A avaliação técnica dos nadadores consistiu na análise qualitativa do registo
vídeo de imagens subaquáticas, da perspectiva frontal e lateral, tendo sido
baseada em critérios objectivos e subjectivos previamente estabelecidos e
sistematizados em fichas de observação técnica (check-lists) para cada técnica
de nado.
Através dos resultados obtidos podemos mencionar as seguintes conclusões:
(i) os nadadores presentes neste estudo apresentam um intervalo percentual
de ocorrência de erros técnicos elevado, traduzindo uma carência em
programas de treino orientados para a optimização biomecânica do gesto
técnico; (ii) Costas é a técnica de nado em que o percentual de incorrecções
técnicas é superior, embora sem significado estatístico, registando-se uma
tendência superior no género masculino. Por ordem decrescente, seguem-se
as Técnicas de Crol, Mariposa e Bruços; (iii) na Técnica de Bruços, os
parâmetros que aparecem com maior valorização em ambos os géneros
encontram-se inseridos na acção dos membros inferiores, o que comprova o
facto deste gesto técnico ser considerado como o mais difícil e anti-natural,
sendo-lhe atribuído um papel fundamental no que se refere à propulsão e
sincronização global desta técnica de nado.
PALAVRAS-CHAVE: Técnica de nado, erros técnicos, avaliação e controlo
de treino, nadadores infantis.
XV
XVI
Abstract
The objective of the present thesis was to characterize a child swimmer in his
technical errors executed in each of the four swimming techniques used in
competition (Butterfly, Backstroke, Breaststroke and Front Crawl).
The study consists in a sample of 65 children swimmers, 33 males and 32
females, all part of the same swimming level (12-13 years old), chosed to an
internship by the Northern Portugal Swimming Association (ANNP) through the
Protocol signed between this association and the Faculty of Sport of the
University of Porto.
The technical evaluation of the swimmers was done by a qualitative analysis of
the recorded underwater video, filmed frontal and laterally to the swimmer,
always based in subjective and objective criteria priorly set and systemized in
test sheets (check-lists) for technique observation of each swimming style.
By analyzing the results obtained, the report was able to conclude that: (i) in
general, swimmers present an high percentage of technic errors, that show a
lack on specific training orientated to a biometric optimization of the movement
technique; (i) backstroke is the swimming style in which the percentage of
technical incorrections is higher, although without any statistical meaning, being
these more representative on the male gender. The other styles are set in
downward order by Front Crawl, Butterfly Stroke and Breaststroke; (iii) when
analyzing Breaststroke swim, one could conclude that, for both genders, the
parameters that appear to be more significant are part of the Inferior Members
analisys. This helps to prove why this technical movement is considered as the
most difficult and anti-natural, being given to it a major role on propulsion and
global sincronization of this swimming technique.
KEY-WORDS: Swimming technique, technical errors, assessment and monitoring of training, child swimmer
XVII
XVIII
Lista de Abreviaturas
AA - Acção Ascendente
AD - Acção Descendente
ALE – Acção Lateral Exterior
ALI - Acção Lateral Interior
ANNP - Associação de Natação do Norte de Portugal
CT – Controlo de Treino
DES – Diferenças Estatisticamente significativas
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
FPN – Federação Portuguesa de Natação
MS – Membros Superiores
MI – Membros Inferiores
NPD – Natação Pura Desportiva
PTS – Posição e Trajectória dos Segmentos
III
_______________________________________________________________INTRODUÇÃO
1
1. Introdução
Sendo a natação uma modalidade desportiva que se desenvolve no meio
aquático, para que haja evolução dos jovens nadadores, estes terão de passar
por processos de adaptação ao meio aquático e à aprendizagem de técnicas
que lhes permitem deslocar na água o mais rapidamente possível (Toussaint e
Beek, 1991). Assim, a melhoria da técnica e consequentemente a performance
de um nadador, relacionam-se com a diminuição do arrasto hidrodinâmico e
com o aumento da força propulsiva, e a melhoria da eficiência propulsiva é
paralela à melhoria da técnica de acção propulsiva (Troup, 1991)
A técnica, segundo Costill et al. (1992), é considera como sendo, de longe, o
factor mais determinante para obtenção de sucesso em NPD. Na adolescência,
os jovens passam por um desenvolvimento físico e maturacional, por rápidas
alterações corporais que poderão interferir no aprimoramento ou vindo até
destabilizar a técnica de nado adquirida até então. Assim, este período é
caracterizado pela descoordenação de movimentos e alterações da técnica de
nado, facto que vem justificar que o treino da técnica continua a ser
fundamental nestas idades (Couto, 2000).
Hoje em dia, a importância e a utilidade da avaliação, controlo e
aconselhamento do treino e do potencial de rendimento desportivo de
nadadores assume-se como um dado inquestionável. Fernandes (1999), refere
que cada vez mais os seus procedimentos são considerados como parte
integrante do processo de treino. No entanto, no que diz respeito à realidade
desportiva nacional, podemos verificar que, apesar da importância destas
tarefas de avaliação, existe uma reduzida aplicabilidade prática no processo de
treino.
Desta forma, as comunidades técnicas e científica tentam disponibilizar o maior
número de parâmetros objectivos, com os quais se possa observar a evolução
das diferentes capacidades, embora, nem sempre seja possível diferenciar
entre a evolução devida ao treino e a devida ao crescimento. Assim, são
criados testes com o intuito de fornecer informações válidas e precisas acerca
do estado de forma de nadadores e que permitissem, também, um
consequente aconselhamento do treino (Fernandes, 2002).
_______________________________________________________________INTRODUÇÃO
2
Com a realização deste trabalho pretendemos, caracterizar tecnicamente o
nadador infantil no que se refere aos seus principais erros técnicos efectuados
nas quatro técnicas utilizadas em NPD (Mariposa, Costas, Bruços e Crol) e
demonstrar a importância da avaliação qualitativa da técnica de nado.
A avaliação técnica dos nadadores implementada neste estudo consiste na
análise qualitativa do registo vídeo de imagens através de duas perspectivas
(frontal e lateral subaquáticas) que posteriormente é utilizada para assinalar os
erros técnicos em diferentes check-lists, de acordo com cada técnica de nado.
Desta forma podemos diagnosticar algumas características e falhas técnicas
importantes dos nadadores.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
3
2. Revisão de Literatura
2.1. – Avaliação e Controlo de Treino em Natação Pura
Desportiva
Para a obtenção de um maior rendimento desportivo em NPD, isto é, a
capacidade de percorrer uma determinada distancia à maior velocidade
possível, levou a um desenvolvimento de várias ciências aplicadas ao desporto
como a fisiologia, a bioquímica, a psicologia, a cineantropometria, a genética e
a biomecânica. Perante a realidade quotidiana do treinador, é natural que este
tenha dificuldade em lidar com todo um conjunto de tarefas que lhe
proporcionam uma vasta informação momentânea.
Assim, procurando reduzir ao máximo uma consequente margem de erro, é
natural que actualmente se assista a um aumento da importância que a
comunidade técnica e científica tem demonstrado pelo controlo de treino (CT)
(Fernandes et al., 2008).
Todo este processo de avaliação, controlo e aconselhamento do treino e do
potencial de rendimento desportivo de atletas, tem vindo a ser considerado
como um aspecto fundamental na planificação de qualquer modalidade
desportiva (Villanueva, 1994), uma vez que é essencial para que o treinador
possa dirigir correctamente o treino desportivo, considerando e avaliando as
modificações de carácter intelectual, funcional e afectivo do praticante ou da
equipa (Castelo et al., 1996).
No âmbito do processo de treino em NPD podemos facilmente constatar que os
resultados desportivos têm vindo a evoluir, devido, especialmente, ao aumento
do número de horas diárias e de unidades semanais destinadas à preparação
desportiva (Fernandes, 1999). Este apreciável aumento do volume de treino e
esta utilização de grandes cargas de treino não são baseados no conceito de
“quanto mais, melhor”, mas pelo contrário, dependem das características
individuais do organismo de cada nadador, das suas capacidades funcionais e
do seu nível de rendimento (Valdivielso e Feal, 2001).
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
4
Como já mencionamos anteriormente, o CT é uma tarefa fundamental do
processo de treino que permite aos treinadores e equipas técnicas (como é o
caso da NPD) (Fernandes et al., 2003; Cazorla, 1984; Vilas-Boas, 1989b;
Marques, 2000): (i) detectar sujeitos com potencial acrescido estudando as
possibilidades presentes e futuras; (ii) orientar os jovens para as actividades
(ou provas) que melhor se adequam as suas capacidades e potencialidades;
(iii) conhecer o estado actual de treino e desenvolvimento do atleta; (iv) avaliar
os efeitos do treino; (v) conhecer as vantagens e dificuldades do atleta em
relação à referida modalidade; (vi) recolher informações sobre o estado de
saúde do atleta; (vii) objectivar, confirmando, ou não, as impressões
subjectivas resultantes da observação contínua do atleta; (viii) verificar a
adequação do planeamento do treino; (ix) verificar, pontualmente, o melhor ou
pior desenvolvimento de uma capacidade particular; (x) seguir
longitudinalmente os processos ligados ao processo de treino; (xi) detectar
eventuais falhas e insuficiências no processo de treino e validar novos
procedimentos de acordo com vantagens e dificuldades do atleta em relação à
modalidade; (xii) realizar o perfil das principais capacidades do nadador; (xiii)
preparar progressiva, contínua e objectivamente o atleta para o rendimento
máximo; (xiv) prognosticar o desempenho desportivo futuro.
Segundo Costill (1985), na estruturação de um programa de avaliação devem-
se definir primeiramente os factores essenciais para uma prestação bem
sucedida. Vilas-Boas (1989a) refere que no caso da NPD é importante avaliar
um conjunto de factores determinantes do rendimento competitivo em cada
tarefa motora específica. Como segundo passo, Cazorla (1984) refere a
importância da escolha ou desenvolvimento dos instrumentos de medida
adequados e pertinentes.
Relativamente aos parâmetros em que o CT deverá incidir, Costill (1985) refere
que, não obstante a modalidade a ser estudada, deve-se identificar em primeiro
lugar os factores que são essenciais para uma prestação bem sucedida. Assim,
a análise da tarefa motora e das exigências específicas da NPD é fundamental
por forma a verificar quais os parâmetros que importa avaliar. Segundo Vilas-
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
5
Boas (1989) importa avaliar, no essencial, o nível de desenvolvimento dos
pressupostos de rendimento desportivo da natação em diferentes momentos,
ou seja, avaliar o conjunto dos factores determinantes do rendimento
competitivo em cada tarefa motora específica. Este conjunto de pressupostos
foi bastante discutido na literatura (e.g. Costill em 1985, Vilas-Boas em 1987,
Toussaint em 1992, Cazorla em 1993, Alves em 1995). Desta forma, surge um
modelo dos pressupostos de rendimento em natação que inter-relaciona cinco
factores que, directa ou indirectamente, influenciam o rendimento do nadador.
Estes factores são: (i) Factores Genéticos; (ii) Factores Contextuais; (iii)
Factores Bioenergéticos; (iv) Factores Biomecânicos; (v) Factores Psicológicos.
Segundo Vilas-Boas (1989a), um protocolo de CT deve tentar avaliar cada
factor tão isoladamente quanto possível e, simultaneamente, fazê-lo colocando
em evidência as suas relações de interdependência com os restantes.
Relativamente aos instrumentos de medida utilizados, Sobral e Barreiros
(1980) procuraram uma completa definição de teste, definindo-o como uma
prova bem determinada que permite medir uma característica precisa e
compará-la com os valores obtidos por indivíduos colocados em idêntica
situação. Referiram ainda que estes têm a função de predizer o comportamento
de um indivíduo, o verificar e comparar indivíduos entre si. Para os mesmos
autores, os testes ou qualquer outro instrumento de medida devem dispor de
autenticidade científica, como tal, deverão reunir um certo número de
características/qualidades específicas: (i) validade, é, para todos os autores, a
qualidade fundamental de um teste, sendo considerada como o grau em que
um teste mede aquilo que se propõe medir. Esta qualidade tem sempre
presente duas características: propriedade (grau de concordância entre o que o
teste mede e o que pretende medir) e fidelidade (grau de estabilidade com que
o resultado se repete, ou seja, relacionada com a precisão de constância da
medida); (ii) consistência, sendo um conceito que excede a noção de
fidelidade; (iii) sensibilidade, é a qualidade que permite descriminar os
diferentes indivíduos segundo os seus desempenhos; (iv) economia, referente
às condições concretas do ensino (número máximo de informações com o
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
6
mínimo dispêndio de tempo, material e pessoas envolvidas na sua aplicação);
(v) objectividade, que se relaciona com a garantia de que os resultados de uma
avaliação estão isolados de qualquer interferência da atitude ou apreciação
pessoal do observador; (vi) estandardização, que consiste no estabelecimento
das condições standard de aplicação dos testes; (vii) aferição, que consiste na
transformação inteligível dos resultados obtidos, uma vez que um resultado
isolado não tem muito significado, temos que situá-la para mostrar o seu
verdadeiro valor. Ao contrário dos referidos autores, existem outros como
Cazorla (1984) que apontam apenas três qualidades fundamentais como a
validade, fidelidade e objectividade.
Quanto à selecção e aplicação de provas, testes ou instrumentos de medida
para a avaliação da capacidade de rendimento dos indivíduos, Vilas-Boas
(1990) enumera três critérios a respeitar: (i) permitir a consecução dos
objectivos perseguidos com a avaliação; (ii) devem ser as mais adequadas,
atendendo às suas características enquanto instrumento de medida; (iii)
permitir minimizar o risco associado à testagem, nomeadamente no que diz
respeito à saúde e bem-estar do indivíduo.
Segundo Alves (1996a), a medição dos factores considerados determinantes
para a prestação só faz sentido se forem determinados em condições o mais
semelhante possível às condições da competição. Tanto este autor como Vilas-
Boas (1989a) partilham da mesma opinião, referindo que o nadador deve ser
estudado a nadar e num desempenho que se aproxime o mais possível da
competição, permitindo o aconselhamento do direccionamento do treino e a
prognose da performance.
Gomes Pereira (1986) refere dois tipos de avaliação consoante o momento em
que se situam, ou seja, faz referência a uma primeira avaliação (diagnóstico),
no início da época desportiva, com o objectivo de traçar o perfil da condição
física geral e o estado inicial do nadador, e as restantes avaliações que se
realizam ao longo da época de treino. Estas são denominadas avaliações
sumativas, as quais deverão seguir a mesma metodologia e protocolo que a
avaliação diagnóstico, de forma a permitir observar o desenvolvimento das
capacidades anteriormente mensuradas. Cazorla (1984) refere também que é a
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
7
complementaridade entre estes dois tipos de avaliação que mede a eficácia de
um programa de treino.
De acordo com as particulares do CT mencionadas anteriormente referentes à
orientação, avaliação e preparação desportiva da carreira de um nadador,
surge a necessidade de descrever o processo de treino como uma preparação
desportiva a longo prazo. Assim, esta evolução desportiva torna-se num
processo que deve ser orientado, progressivo e contínuo, de forma a alcançar,
no momento mais adequado, os melhores resultados desportivos (Soares,
1984; Alves, 1997). Hoje em dia, ninguém põe em dúvida que o treino
desportivo é um processo de muitos anos (Manso e tal., 1996), o que significa
que, na realidade, apresentando uma estrutura bem organizada e planificada
durante um período de tempo prolongado, aumenta a eficiência do treino, para
que mais tarde sejam alcançados os melhores resultados possíveis, no
momento óptimo para que tal aconteça (Bompa, 1999; Navarro, 1989; Soares,
1984). Desta forma, as Ciências do Desporto são unânimes em acreditar que o
treino só produz bons resultados quando é encarado como um processo
metódico e de longo prazo. Grosser e tal. (1989) e Gosalvez (1995) afirmam
também que só uma planificação a longo prazo, estruturada cuidadosamente
ao longo de muitos anos, permite a garantia do futuro do nadador, nas suas
variadas vertentes. Oca Gaia (2002) afirma, ainda, que este projecto a longo
prazo, com vista a uma optimização no longo processo de evolução do
nadador, desde o início do treino desportivo até ao alcance do rendimento
máximo, se estrutura em etapas bem diferenciadas que se interligam com os
estádios evolutivos, caracterizando-se por um nível diferenciado de
especificidade de objectivos, conteúdos, métodos, meios e medidas de controlo
e avaliação das diferentes componentes do rendimento desportivo. A vida do
nadador deve estruturar-se em diferentes etapas, desenvolvendo-se nelas, a
preparação e rendimento do nadador através de conteúdos e características de
treino próprias da idade dos nadadores (Couto, 2000).
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
8
2.2. – Modelo técnico em Natação Pura Desportiva
Em NPD, são reconhecidas como técnicas de nado formal, a técnica de Crol, a
técnica de Costas, a técnica de Bruços e a técnica de Mariposa, sendo
classificadas de acordo com: (i) a posição do corpo na água (ventral ou dorsal);
(ii) a acção dos membros superiores (MS) e dos membros inferiores (MI)
(simultâneas ou alternadas) e (iii) o tipo de produção de força propulsiva
gerada pelos MS e pelos MI (contínuas ou descontínuas, isto é, mantendo ao
longo de todo o ciclo gestual a produção de força propulsiva ou, apresentando
um instante passivo sem a aplicação da referida força em determinado
momento do ciclo). As técnicas descontínuas têm normalmente um elevado
gasto energético, enquanto que as técnicas contínuas apresentam um gasto
energético inferior e permitem chegar a velocidades superiores (Lima, 2005).
Segundo Chollet (1997), a modelação da técnica justifica-se enquanto sistema
de simplificação, enquanto representação concreta das leis científicas e como
meio de objectivar a constante das respostas motoras adequadas às tarefas
propostas. Assim, a mesma é vista como um conjunto de procedimentos que
permitem alcançar de modo mais racional e económico possível o objectivo
desse movimento (Alves, 1998). No entanto, não podemos afirmar que existe
um modelo perfeito e completo, uma vez que a sua descrição não permitirá
compreender e traduzir de forma absolutamente fiel a realidade (Chollet, 1997).
Num outro estudo, Sanders (2001) referiu que não é possível definir um
estereótipo de nado perfeito. A técnica de nado mais correcta é aquela que
traduz a melhor adequação mecânica do gesto técnico às características
biofísicas do nadador em particular (Sanders, 2001). A segunda afirmação é
facilmente entendível se considerarmos que as características morfológicas e
funcionais, bem como factores como o nível de condição física (Grosser e
Neumaier, 1986), por exemplo, determinam o desempenho técnico de cada
nadador em particular. Segundo Soares et al. (2001), a primeira afirmação tem
de ser melhor explicitada, pelo facto de a dita inexistência de um modelo
técnico ideal inviabilizar qualquer procedimento de avaliação qualitativa. A
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
9
inexistência de um estereótipo de nado aplicável a todos os nadadores não
significa inexistência de um modelo de referência, um modelo hipotético que
consideramos ser muito próximo do modelo real de nado dos nadadores de
elevado nível desportivo. Quando se realiza uma avaliação qualitativa, cada
nadador, em função das suas características individuais, demonstra um nível
de desempenho que estará mais ou menos próximo deste modelo teórico de
nado. A melhor técnica de cada nadador será, à partida, aquela que mais se
aproxima do padrão ideal, premissa que, todavia, carece de ratificação através
de, por exemplo, uma avaliação comparada de níveis de economia motora
(Soares et al., 2001).
Posto isto, os modelos que seguidamente serão apresentados baseiam-se na
descrição efectuada por Maglischo (1993), Costill et al. (1992) e Chollet (1997),
uma vez que se tratam de obras de referência onde se faz uma abordagem de
fundo da NPD e dos modelos técnicos. Porém, sempre que a sua
particularidade o justificar, não deixaremos de citar outras referências e outros
autores que ao longo dos últimos anos se têm debruçado sobre esta
problemática e têm dado o seu contributo para a clarificação da importância da
técnica. No seguimento da descrição técnica das várias fases, iremos referir-
nos especificamente aos principais erros técnicos e possíveis consequências,
assim como à descrição de algumas acções na concepção de alguns autores
(Quadro 1 até ao Quadro 34).
2.3. – Técnica de Mariposa
Mariposa é uma técnica ventral, simultânea, “simétrica” e descontínua. A
descontinuidade desta técnica (como a técnica de Bruços) existe devido às
acções motoras dos MS e MI cuja aplicação de força propulsiva é feita de
forma descontínua. O momento mais propulsivo da acção dos dois MS e dos
dois MI é coincidente e simultâneo, levando a uma maior variação por ciclo na
velocidade de deslocamento do centro de massa do nadador (Craig e
Pendergast, 1979). Perante estas condições, surge ao nadador a necessidade
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
10
de despender energia suplementar para vencer forças de inércia e, ciclo a
ciclo, reacelerar a massa do nadador e a massa de água que ele transporta
(Holmér, 1974; Vilas-Boas, 1993).
Assim, quando comparada com as restantes técnicas de nado formal, a técnica
de Mariposa é menos económica em termos de eficiência, já que para uma
mesma velocidade horizontal média, o dispêndio energético será superior
(Holmér, 1974; 1983; Vilas-Boas 1993). Posteriormente, Holmér (1983)
verificou que o nível crescente de economia das restantes técnicas era seguido
pela técnica de bruços, costas e crol. Já Barbosa et al. (2006b) verificaram que
a técnica de crol foi a mais económica, seguida respectivamente por costas,
mariposa e bruços. É então evidente que, as técnicas contínuas são mais
económicas que as descontínuas (Vilas-Boas, 1993).
É difícil referirmo-nos a uma posição corporal básica nas técnicas de NPD, no
entanto, esta dificuldade é ainda mais vincada quando tentamos definir uma
posição corporal básica para a técnica de Mariposa, onde o movimento
ondulatório do corpo, impõe uma ininterrupta sucessão de posições corporais
diferenciadas entre si por um conjunto mais vasto de variações posturais. Uma
das referências inequívocas que poderemos fazer a este propósito é que,
tratando-se de uma técnica ventral, a linha de ombros deve-se manter paralela
à superfície média da água. Assim, e de acordo com Costill et al. (1992) e
Maglischo (2003), ao longo do ciclo, devem observar-se três posições
corporais, as quais tem um papel importante na diminuição da intensidade da
força de arrasto hidrodinâmico oposta ao deslocamento do nadador: (i) o corpo
deve estar o mais horizontal possível, com a cabeça em posição natural no
prolongamento do tronco durante as fases mais propulsivas do trajecto motor
dos MS, o que é conseguido pela elevação dos MI durante a ALI e a realização
de uma AD dos MI menos profunda durante a AA dos MS; (ii) o movimento da
anca durante a primeira AD dos MI deve dirigir-se para cima e para a frente,
por forma a alinhar horizontalmente o corpo e (iii) a força da segunda AD dos
MI não deverá ser tão grande que eleve a anca acima da superfície da água,
visto interferir com a recuperação dos MS, nem tão pequena que não permita
manter a anca à superfície da água.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
11
A técnica de Mariposa caracteriza-se ainda por um movimento ondulatório
global do corpo que deve ser tão acentuado quanto o necessário para uma
correcta acção dos MS, dos MI e da respiração, e tão ligeiro quanto possível
para diminuir os desalinhamentos horizontais e consequente aplicação de força
de arrasto hidrodinâmico oposta à direcção do deslocamento. Assim, o
movimento não deve ser exageradamente pronunciado de forma a não
incrementar a área de secção transversal relativamente à direcção do seu
deslocamento e desta forma, aumentando o arrasto hidrodinâmico. Por outro
lado, um movimento ondulatório exagerado provocaria uma acentuação dos
movimentos verticais do centro de gravidade em detrimento do seu
deslocamento horizontal.
Segundo Figueiras (1995), Sanders (1996) e Barbosa et al. (1999), o nadador
desloca as diferentes partes do corpo durante todo o ciclo em movimentos com
componentes verticais, originando um movimento global caracterizado como
“onda”. Assim, Costill et al. (1992), refere que um bom movimento ondulatório
na técnica de Mariposa é caracterizado por: (i) a cabeça imergir quando as
mãos entram na água; (ii) as coxas elevarem-se o suficiente para emergir
durante a primeira AD e (iii) os MI não estarem demasiadamente afundados
quando se completa a segunda AD. Relativamente ao alinhamento lateral, a
técnica de Mariposa não apresenta grandes complicações quando comparada
por exemplo com a técnica de Crol em virtude da acção dos MS em Mariposa
ser simultânea.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
12
Quadro 1: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à posição corporal na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Movimento ondulatório de amplitude exageradag
Acção dos MI profunda; aumento do arrasto hidrodinâmico
Movimento ondulatório de amplitude reduzida
Reduz a propulsão
Ombros e cabeça muito profundos na entrada
Aumento do arrasto hidrodinâmico
Simetria do movimento ondulatório (sem acentuação na zona caudal)
Reduz a propulsão
A acção dos MS na técnica de Mariposa pode compreender diferentes fases de
acordo com os diversos autores descritos no Quadro 2.
Quadro 2: Descrição da acção dos MS na técnica de Mariposa na concepção de alguns autores.
Autores Fases da acção dos MS
Barthels e Adrian (1975) “Agarre”, ALE, ALI, “empurre”, e recuperação dos
MS
Costill et al. (1992) Entrada, “agarre”, ALE, ALI, AA, e saída e
recuperação
Figueiras (1995) ALE, AD, ALI, AA, e saída e recuperação
Vilas-Boas (1996) Entrada, ALE, AD, ALI, AA, e recuperação
Barbosa (2000) Entrada e ALE, ALI, AA, e saída e recuperação
Maglischo (2003) Entrada e extensão, ALE e agarre, ALI, AA, e saída
e recuperação
Com isto, e apesar das várias descrições propostas para a acção dos MS, esta
poderá ser decomposta em dois momentos: o trajecto motor subaquático e, a
saída e recuperação dos MS. Por sua vez, o trajecto motor subaquático poderá
ser dividido em quatro fases: a entrada, a ALE, ALI, AA, Saída e Recuperação.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
13
A entrada na água é caracterizada pelo momento de contacto dos MS com a
água, onde a cabeça se encontra numa posição natural. Maglischo (2003),
descreve que os MS devem entrar em frente ao corpo, no prolongamento da
linha dos ombros, com as superfícies palmares ligeiramente orientadas para
fora e para trás. Barbosa (2000) caracteriza esta fase como um momento do
ciclo que se deve realizar de modo a que a turbulência e o arrasto de onda por
ela provocada sejam mínimas, ao mesmo tempo que as mãos são colocadas
na água de modo a permitir uma execução óptima das acções seguintes. Um
dos critérios para a realização de uma entrada correcta das mãos na água, é a
propulsão gerada pela primeira acção descendente, a qual pode ser utilizada
para compensar o arrasto de onda produzido no momento em que os MS
entram na água (Figueiras, 1995; Barbosa, 2000 e Maglischo, 2003).
Quadro 3: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à entrada na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Entrada precoce Altera a sincronização global da técnica
Pulso flectido Aumento do arrasto de pressão e do arrasto
de onda
Em sequência da entrada e extensão dos MS, os nadadores realizam a ALE
dos MS que será mais ou menos pronunciada em função da amplitude articular
do ombro, e da maior ou menor proximidade do local onde é efectuada a
entrada, no eixo longitudinal. Nesta fase, segundo Costill et al. (1992) e
Maglischo (2003), os nadadores devem efectuar um movimento para fora e
para baixo, num trajecto curvilíneo, até passarem a largura dos ombros.
Maglischo (2003) refere ainda que este momento da acção dos MS caracteriza-
se pelo início de produção de força propulsiva, também conhecido por “agarre”.
Neste movimento, as mãos passam a deslocar-se para fora, para trás e para
baixo. De seguida, apresentarão um ângulo de orientação que varia entre os
135º e os 180º, e um ângulo de ataque entre os 20º e os 45º. Simultaneamente
verifica-se uma flexão gradual dos MS (Barbosa, 2000).
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
14
A ALE é a fase menos propulsiva do trajecto motor subaquático. Assim sendo,
como já foi referido, este deverá ser um movimento suave, apresentando-se
como uma fase preparatória para a adopção de uma posição ideal dos
segmentos propulsivos para a aplicação de força propulsiva nas fases
consequentes do ciclo gestual (Costill et al., 1992 e Maglischo, 2003). Daí que
a velocidade da mão diminuía gradualmente desde a entrada até à ocorrência
do “agarre” (Maglischo, 2003).
Quadro 4: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALE na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Supressão total ou parcial da ALE provocada por uma entrada precoce
Menor força propulsiva efectiva
Cotovelo baixo A água é empurrada para baixo em vez
de para trás, diminuindo a força propulsiva efectiva
Mãos muito profundas Prejudica a propulsão da fase seguinte
Mãos demasiado à superfície Induz a um “agarre” com o cotovelo
caído
Uma vez atingido o ponto mais profundo do trajecto motor, o que coincide com
o final da ALE, inicia-se a ALI. Durante este movimento, as superfícies
palmares orientam-se progressivamente para trás, para cima e para dentro
descrevendo uma trajectória semicircular, até ficarem próximas uma da outra
debaixo do tronco do nadador. Para tal, as mãos que na ALE estavam
orientadas para fora e para baixo, rodam progressivamente para dentro e para
cima através de uma gradual flexão dos MS até o braço e o antebraço
apresentarem um ângulo relativo de aproximadamente 90º mas, mantendo o
cotovelo a um nível relativamente superior ao da mão. Contudo, nem todos os
nadadores de elite culminam a ALI com as mãos juntas debaixo do tronco.
Alguns aparentam iniciar precocemente a fase seguinte (Costill et al., 1992;
Maglischo, 2003), outros, em vez de executarem apenas uma ALI realizam
duas acções consecutivas (Bachman, 1983), e ainda, alguns cruzam os MS
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
15
debaixo do corpo ao efectuarem a ALI (Crist, 1979). Este facto estará
relacionado com a variedade de trajectos motores subaquáticos que têm vindo
a ser descritos na tentativa de aumentar a eficiência desta técnica de nado e/ou
com estilos pessoais de nado, que mais não são que meras interpretações
pessoais do modelo técnico. Todavia, a descrição inicial tende a ser adoptada
pela maioria dos nadadores.
Costill et al. (1992) e Maglischo (2003), descrevem que a partir do
posicionamento das mãos para trás, observa-se uma aceleração positiva da
velocidade das mãos e que também, todo o movimento de deslocamento do
nadador será realizado com aceleração positiva do MS. A ALI é considerada a
primeira das duas fases mais propulsivas da técnica de Mariposa (Costill et al.,
1992 e Maglischo, 2003).
Quadro 5: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALI na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Orientação das mãos para dentro, antes de passarem pela vertical dos cotovelos
Menor força propulsiva
Colocação dos cotovelos num plano horizontal inferior ao que contém as mãos
Menor força propulsiva
MS muito afastados do eixo longitudinal do corpo Encurta a ALI; reduz a força
propulsiva
Valorização da componente Antero-posterior em detrimento da componente lateral (força de arrasto propulsivo vs força ascensional hidrodinâmica).
A acção seguinte é a AA, e apresenta-se como a segunda fase mais propulsiva
da acção dos MS (Costill et al., 1992 e Maglischo, 2003). Segundo Maglischo
(2003), a AA inicia-se quando as mãos se encontram próximas uma da outra e
debaixo do tronco do nadador. A partir desse momento, verifica-se uma rotação
interna dos MS e as mãos passam a deslocar-se para fora, para trás e para
cima, em direcção à superfície da água. Em simultâneo, ocorre uma extensão
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
16
gradual dos MS mas, sem atingir a extensão total. As superfícies palmares
rodam rapidamente para trás, para fora e para cima até atingirem o nível das
coxas.
Contrariamente à técnica de Crol, o movimento da AA na técnica de Mariposa é
mais orientado par fora, sobretudo no primeiro tempo. Segundo a
fundamentação de Costill et al. (1992) e Maglischo (2003), na técnica de
Mariposa não ocorre uma rotação do corpo sobre o eixo longitudinal, o que faz
com que o percurso lateral da mão entre a vertical do eixo e a posição em que
emergem as mãos junto às coxas, seja superior ao mesmo percurso em Crol.
Por este facto, Maglischo (1993) refere que a AA é susceptível de ser
subdividida em dois tempos. Um primeiro, dominantemente orientado para fora,
que se verifica até que as mãos se encontrem à largura da anca, e um segundo
tempo, dominantemente orientado para cima e que se verifica até à emersão
das mesmas e o início da recuperação aérea.
Apesar de ocorrer uma ligeira desaceleração na transição entre a ALI e a AA
em alguns nadadores, durante esta última fase, ocorre uma aceleração das
mãos até se diminuir a pressão exercida sobre a água pelas superfícies
palmares no fim desta fase e início da saída (Costill et al. (1992) e Maglischo
(1993).
Quadro 6: Principal erro técnico e respectiva consequência relativamente à AA na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erro técnico mais frequente Consequência
Empurrar a água directamente para cima
Perturba o alinhamento horizontal provocando uma menor força propulsiva
efectiva
A saída e recuperação dos MS é caracterizada pela passagem das mãos pelas
coxas e a extensão total dos MS com um movimento rápido para cima.
Segundo Vilas-Boas (1996) este movimento permite uma diminuição da
pressão sobre a água, através da rotação externa dos MS, de forma a orientar
as superfícies palmares para as coxas. Os MS, que durante a AA se
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
17
estenderam progressivamente, após a saída passam a estender-se
rapidamente e dirigem-se sobre a água para cima, para a frente e para fora.
Este movimento será mantido até que os MS se encontrem à frente dos
ombros, dando início a um novo ciclo gestual.
Costill et al. (1992), afirmam que, a recuperação aérea é dividida em duas
fases, sendo que na primeira fase os MS devem estar em extensão completa e,
na segunda fase, devem realizar uma ligeira flexão para que a entrada na água
seja feita com o mínimo de esforço. Por sua vez, Maglischo (2003), refere que
existem nadadores que recuperam os MS em extensão completa, enquanto
outros realizam a recuperação de acordo com a descrição de Costill et al.
(1992). A existência de uma ligeira flexão dos MS tornar-se vantajosa uma vez
que, diminui o momento de inércia dos MS, o que torna a recuperação mais
rápida e diminui o esforço necessário para a sua execução.
Na primeira fase de recuperação, as superfícies palmares devem estar
voltadas para dentro e, na segunda fase, rodam para fora com o intuito de se
colocarem em posição para iniciarem um novo ciclo gestual. Os ombros devem
emergir com altura suficiente, desde que não tão excessiva a ponto de
perturbar o alinhamento horizontal, de forma a permitir uma recuperação mais
alta dos MS e garantir que as mãos não se arrastem pela superfície da água.
Sendo esta uma fase que tem como objectivo a colocação dos MS em posição
para aplicar novamente força propulsiva, os ombros devem estar tão relaxados
quanto possível, usando apenas esforço muscular que permita a sua rotação.
Visto que os dois MS realizam recuperação em simultâneo, esta é a fase em
que o nadador apresenta uma menor velocidade de deslocamento (Maglischo,
2003).
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
18
Quadro 7: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à saída e recuperação dos MS na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Saída com as mãos mal orientadas Aumenta a turbulência; maior arrasto
hidrodinâmico
Extensão insuficiente dos MS Diminui a força propulsiva
Recuperação baixa e/ou lateral Dificulta a recuperação; aumenta o
arrasto de onda
Assimetria espacial dos MS Altera a sincronização
MI fundos (“batimento” fraco) Aumenta o arrasto hidrodinâmico;
dificulta a realização da AA; início da recuperação com a bacia muito baixa
Na técnica de Mariposa, a acção dos MI, designada por “pernada de golfinho”,
é tradicionalmente subdividida em duas fases: a acção descendente e a acção
descendente. Contudo, vários autores destacam a importância propulsiva da
fase de mudança de direcção, pelo que, a acção dos MI de Mariposa pode ser
subdividida em três fases: a acção descendente, a acção ascendente, e a fase
de mudança de direcção.
No que diz respeito à acção descendente, esta inicia após os pés terem
atingido a superfície da água, com os MI ligeiramente flectidos. Segundo Costill
et al. (1992) e Vilas-Boas (2001a), o movimento inicia-se com a flexão da anca,
ao que se segue uma extensão vigorosa para baixo dos MI pelos joelhos,
mantendo os tornozelos em flexão plantar e com os pés em rotação interna. No
início da acção, deve ocorrer uma ligeira flexão dos MI, para posteriormente
permitir uma maior rotação interna dos pés. Assim, Barbosa (2000) refere que
a manutenção dos pés em flexão plantar também é um factor decisivo para
executar uma acção eficiente. Costill et al. (1992), revelam que os nadadores
mariposistas executam extensões tíbio-társicas entre os 70º e os 85º a partir da
vertical, com o intuito de aumentar a superfície propulsiva, visto que esta fase é
caracterizada por alguns autores como predominantemente propulsiva
(Barthels e Adrian, 1971; Costill et al., 1992; Maglischo, 2003).
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
19
Relativamente à acção ascendente, esta inicia-se após a extensão total dos MI
no fim da acção descendente. Vilas-Boas (1996), descreve que durante esta
fase, os músculos extensores do joelho encontram-se relaxados. Assim,
verifica-se uma extensão ao nível da anca com a elevação dos MI até estes
atingirem o alinhamento do corpo. Os pés encontram-se numa posição natural,
os joelhos estão mais próximos entre si do que na acção descendente e em
extensão devido à pressão exercida pela água durante o movimento
ascendente. Segundo Maglischo (2003), esta fase tem uma função
predominantemente equilibradora, já que ao elevar os MI, o nadador promove o
alinhamento entre todos os segmentos corporais. Por outro lado, também
permite colocar os MI em posição de realizar novamente a acção descendente.
Quanto à fase de mudança de direcção, Colwin (1992), Arellano et al. (2006) e
Miwa et al. (2006) mostraram que a ondulação subaquática de um nadador não
se restringe à teoria de produção de forças propulsivas no decurso dos tempos
descendentes e ascendentes dos MI, isto é, em fases de escoamento estável.
Durante as fases de acentuada instabilidade de escoamento, ou seja, nas
fases de mudança súbita de direcção do segmento propulsivo, pode suceder a
produção de vórtices com uma forma de anel, caracterizados por movimentos
de rotação com sentido alternados de um lado e de outro – decorrentes dos
tempos ascendentes e descendentes, os quais por sua vez geram uma
produção de força propulsiva. Assim sendo, para que a força propulsiva seja
superior nesta fase súbita de mudança de direcção, os pés deverão estar em
rotação interna e relaxados (Fernandes et al., 1997).
Quadro 8: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à acção dos MI na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Extensão insuficiente do tornozelo ou ausência de rotação interna do pé
Reduz a propulsão
Acção dos MI muito profunda Aumenta o arrasto hidrodinâmico;
reduz a propulsão
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
20
Relativamente à sincronização dos MS com os MI, estas acções devem ser
coordenadas de forma a permitir uma técnica global eficiente, sendo
caracterizada pela realização de duas acções dos MI por ciclo de MS (Costill et
al., 1992; Colwin, 2002; Maglischo, 2003). De acordo com os mesmos autores
podemos descrever que a primeira AD coincide com a entrada dos MS na água
e prolonga-se durante a ALE, o que permite compensar a desaceleração
provocada pela entrada dos MS. Em seguida, a primeira AA ocorre durante a
ALI dos MS. Este movimento melhora o alinhamento corporal durante esta fase
propulsiva da acção dos MS e recoloca os MI em posição de realizar
novamente a AD (Maglischo, 2003).
A segunda AD ocorre quando os MS estão na fase da AA e termina com o
início da recuperação dos MS, de forma a promover a elevação dos ombros e
facilitando a recuperação aérea. De seguida, a segunda AA será executada
durante a recuperação aérea dos MS, apresentando as mesmas funções que a
primeira AA.
Segundo Costill et al. (1992), Maglischo (1993) e Figueiras (1995), a primeira
AD será mais ampla e propulsiva que a segunda, isto porque a cabeça se
encontra imersa durante esta acção, pelo que o arrasto hidrodinâmico oposto à
direcção do deslocamento do nadador será menor, permitindo que a anca
percorra uma maior distância. Assim sendo, se a primeira AD parece ser mais
ampla que a segunda, obviamente, a primeira AA também será mais ampla que
a segunda (Costill et al., 1992; Maglischo, 2003).
Quanto ao ciclo respiratório na técnica de Mariposa, este é caracterizado por
dois modelos: os ciclos não inspiratórios (as vias respiratórias permanecem
imersas durante a recuperação dos MS) e os ciclos inspiratórios (emersão das
vias respiratórias, com ou sem rotação lateral da cabeça, permitindo a
respiração) (Barbosa et al., 1999). Normalmente aconselham-se os nadadores
a utilizarem um ciclo inspiratório por cada dois ou três ciclos de MS (1:2 e 1:3,
respectivamente), havendo no entanto, nadadores que utilizam com sucesso
uma inspiração por ciclo, especialmente nas provas mais longas (Maglischo,
2003). Apesar de uma frequência tão elevada de inspirações tender a afundar
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
21
mais os MI quando se inspira, alguns nadadores obtêm resultados de
qualidade utilizando este padrão de sincronização do ciclo respiratório com a
acção dos MS. O processo utilizado pela maioria dos nadadores para inspirar
consiste na utilização da técnica de inspiração frontal. Contudo, alguns
nadadores de elite internacional utilizam uma respiração lateral, o que implica
uma rotação sobre o eixo longitudinal (Barbosa, 2000). O movimento da
inspiração coincide com a AA dos MS e com a segunda AD dos MI. Após a
respiração, que acompanha parte da recuperação dos MI, a face deve imergir
novamente antes de terminar a recuperação. A inspiração deverá ser rápida,
forte e activa efectuada predominantemente pela boca. Por sua vez, a
expiração deverá ser progressiva e realizada com as vias respiratórias imersas.
Quadro 9: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à respiração na técnica de Mariposa. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Elevação precoce da cabeça Altera a sincronização e o movimento
ondulatório; provoca maior arrasto hidrodinâmico
Elevação atrasada da cabeça Altera a sincronização e o movimento ondulatório; compromete a ventilação
Emersão exagerada Altera a posição corporal devido ao
afundamento exagerado dos MI; aumenta o arrasto hidrodinâmico
2.4. – Técnica de Costas
Costas é uma técnica dorsal, alternada e “simétrica”, na qual as acções
motoras dos MS e MI tendem a assegurar uma propulsão contínua. Para que o
executante consiga manter uma velocidade estável, é necessária uma força
propulsiva contínua dos MS, uma constante acção propulsiva equilibradora dos
MI e ainda uma correcta sincronização global.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
22
Na técnica de Costas, é frequente a existência de limitações de carácter
anatómico-funcional que conferem aos nadadores trajectos demasiado laterais
em vez de obliquamente descendentes e ascendentes. Estas limitações
derivam da posição dorsal na qual se encontram, criando por sua vez uma
menor eficiência propulsiva da técnica de costas (Lima, 2005).
O corpo do nadador deve estar numa posição horizontal, paralela à superfície
da água. A cabeça deve estar em posição natural, no prolongamento do tronco,
o olhar dirigido para cima e ligeiramente para trás. Deve evitar-se a hiperflexão
da cabeça, que tem como reacção o afundamento da bacia, e portanto, uma
aumento do arrasto. Em relação ao alinhamento lateral, as acções propulsivas
devem ser realizadas próximo do eixo longitudinal do deslocamento, deve
evitar-se o cruzar dos apoios e a recuperação lateral. A melhor forma de
manter um bom alinhamento lateral é rodar o corpo sobre o eixo longitudinal
naturalmente e de forma harmoniosa com os movimentos dos MS.
A rotação do corpo não deve exceder os 45°, e revela-se importante uma vez
que facilita as acções da fase aquática dos MS, a fase de recuperação, a acção
equilibradora dos MI, e ainda na manutenção do alinhamento lateral.
Quadro 10: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente a posição corporal na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Nadar com a cabeça demasiado alta
A bacia tende a baixar provocando desvios no alinhamento horizontal, aumenta o arrasto hidrodinâmico provocado pela forma do corpo
Nadar com a cabeça exageradamente para trás
As pernas aproximam-se demasiado da superfície, interferindo com esta durante
a acção dos MI e provocando maior turbulência; a visibilidade diminui
Bacia não fixa e oscilações longitudinais Desvios no alinhamento e aumento da
resistência frontal
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
23
Na técnica de Costas, a acção dos MS poderá ser dividida em duas fases:
subaquática e aérea. A acção subaquática é composta por uma flexão e
posterior extensão do antebraço sobre o braço, sendo acompanhada da
abdução e de uma rotação exterior do braço. No início da fase de recuperação
aérea, o ombro do nadador em anteposição, e a rotação da cintura escapular
em tomo do eixo longitudinal, permitem a sua saída da água antes do resto do
MS. Durante esta fase, o cotovelo mantém-se em extensão, sofrendo uma
rotação interna completa até ao momento da entrada na água.
A acção dos MS na técnica de Costas pode compreender diferentes fases nas
quais se distinguem as seguintes acções: Entrada, 1º AD, 1º AA, 2º AD, 2º AA,
Saída e Recuperação. Na entrada, o MS deve estar em extensão e em rotação
interna, no prolongamento do ombro. A superfície palmar deve estar orientada
para fora, de modo a que o dedo mínimo seja o primeiro a entrar na água.
Quadro 11: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à entrada na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Entrada do MS muito exterior à linha do ombro
Diminuição do percurso subaquático; menor propulsão
MS cruza a linha média do corpo Perda do alinhamento lateral; maior
arrasto hidrodinâmico
Entrada com a fase dorsal da mão (esmagamento do apoio)
Perda do alinhamento horizontal; maior turbulência; aumento do arrasto de onda
A 1ª AD dá-se após a entrada, com o MS em extensão. A mão roda até
apresentar uma orientação para baixo e para fora, até que o cotovelo se
encontre num plano horizontal superior ao que contem a mão, e o ombro se
mantenha num plano superior em relação ao cotovelo. Este momento é
designado como apoio. Ao longo desta fase, o braço e o antebraço sofrem uma
gradual rotação interna, a orientação da mão muda progressivamente de “para
fora” para “para baixo, para trás e para fora”, e o MS realiza um movimento
circular ate uma profundidade de 45 a 60 cm, com um afastamento lateral que
pode atingir os 60 cm. A flexão do cotovelo é gradual, permitindo o
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
24
afundamento da mão e uma rotação do tronco em torno do seu eixo
longitudinal. A água, ao passar sobre a superfície dorsal da mão, sofre uma
aceleração que resulta num diferencial de pressão entre as suas duas faces,
contribuindo a força resultante para acelerar o deslocamento do nadador. Esta
fase é pouco propulsiva, uma vez que o seu objectivo é colocar o MS em
posição para realizar posteriormente força propulsiva.
Quadro 12: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à 1ª AD na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
“Empurrar” a água directamente para baixo
Perda do alinhamento horizontal levando a que a propulsão tenha por base o arrasto propulsivo
em detrimento da força ascensional
Cotovelo caído Perda da força propulsiva efectiva
Terminada a AD, inicia-se a 1ª AA através de um deslocamento para cima à
custa da flexão progressiva do antebraço sobre o braço (até mais ou menos
90º). A velocidade da mão aumenta progressivamente assim como a
capacidade propulsiva, sendo superiores à da fase anterior.
A palma da mão, que na fase anterior termina virada para baixo, para fora e
para trás, vai rodar de modo a colocar os dedos para fora, ficando a palma da
mão virada para trás, para cima e para dentro. Nesta fase, a mão executa um
movimento semicircular para cima e para dentro através da flexão do cotovelo,
até se encontrar a 15 - 20 cm da superfície da água. O ângulo do antebraço
com o braço deve formar 90°. Ao longo desta fase, a palma da mão roda para
cima e para dentro, com os dedos virados para fora.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
25
Quadro 13: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à 1ª AA na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Má orientação da mão Desalinhamento horizontal, lateral; maior
arrasto hidrodinâmico; menor força propulsiva efectiva
Início precoce da acção Menor força propulsiva efectiva
A 2ª AD tem início no momento em que a mão atinge o ponto mais alto da sua
trajectória subaquática. Neste momento, a mão passa de uma orientação
essencialmente para cima, para uma orientação fundamentalmente para baixo.
Após esta transição, a mão desloca-se para baixo, para dentro e ligeiramente
para trás, continuando a trajectória curvilínea da fase anterior, até o MS estar
completamente estendido e a maior profundidade do que as coxas. A mão
deve estar aproximadamente a 30 cm de profundidade quando esta acção está
a terminar. Alguns nadadores deslocam as mãos para dentro e para trás,
enquanto outros optam por desloca-las para fora e para trás, sendo que esta
última tem como vantagem a realização de outra fase propulsiva (2º Acção
Ascendente). Esta acção é vista como a fase mais propulsiva da técnica de
Costas.
Quadro 14: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à 2ª AD na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Empurrar a água para trás Altera a sincronização; menor força
propulsiva efectiva
Empurrar a água para baixo Perda do alinhamento horizontal
Ângulo de ataque elevado A água é deslocada para baixo, leva à perda
de alinhamento
Segundo Maglischo et al. (2003), alguns nadadores conseguem criar força
propulsiva suficiente para aumentar a velocidade de deslocamento do corpo
durante a elevação do MS, depois de terminada a 2ª AD. Assim, a 2ª AA
aparece numa pequena percentagem de nadadores e é caracterizada por uma
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
26
supinação e dorsiflexão da mão. Para que se verifique esta acção, é
necessário que a palma da mão esteja orientada para cima e para trás, após a
rotação interna do braço, do antebraço e dorsiflexão da mão. Sendo
considerada como a última fase propulsiva, inicia-se no final da 2ª AD, em que
o nadador desloca a mão para cima, para trás e ligeiramente para dentro. A
mão muda de orientação através de uma rotação externa do MS e da extensão
completa do pulso, até atingir a coxa, onde deixa de realizar pressão sobre a
água e prepara a saída.
Visto ser uma acção exequível para apenas alguns nadadores com um dado
perfil anatómico, poderá correr-se o risco de ao tentarmos executar a mesma, o
nadador apenas empurre a água para cima o que provocará alterações no
alinhamento horizontal.
Quadro 15: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à 2ª AA na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Empurrar a água para cima Desalinhamento horizontal; menor propulsão
Ângulo de ataque muito aberto A água é deslocada para cima; menor força
propulsiva efectiva e desalinhamento horizontal
No momento da saída, quando as mãos se aproximam da coxa, os nadadores
devem procurar reduzir a pressão deslocando os MS para fora da água
deixando, desse modo, de gerar força propulsiva. A palma da mão deve estar
virada para dentro durante a saída, para reduzir o arrastamento, e o polegar
deve ser o primeiro dedo a sair. A velocidade diminui durante a saída.
A saída pode ser realizada de duas maneiras: em 3 tempos ou 4 tempos. A
saída a 3 tempos é utilizada quando a acção dos MS se divide em 3 tempos
propulsivos (1º AD, 1º AA e 2º AD). No momento da saída, a mão apresenta a
sua superfície palmar orientada para a coxa e a recuperação tem início
subaquático. A saída a 4 tempos apresenta mais um momento propulsivo que a
anterior (2º AA), e no momento da saída a superfície palmar está orientada
para trás, para dentro e para cima, com o pulso em extensão. A recuperação é
aérea.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
27
Depois de deixar a água, o MS realiza recuperação aérea até nova entrada.
Esta é executada com o MS em extensão, no mesmo plano vertical que contém
o ombro. A palma da mão está voltada para o corpo até o MS atingir a vertical,
havendo depois uma rotação interna do ombro. A recuperação deve ser alta e
por cima da cabeça, evitando-se a recuperação baixa e lateral causadora de
desvios no alinhamento lateral.
Quadro 16: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à Saída e Recuperação na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Saída com a palma da mão virada para baixo
Maior arrasto hidrodinâmico
Recuperação baixa e lateral Perturbações do alinhamento lateral; maior
arrasto hidrodinâmico
Flexão do MS Redução da fase subaquática
A acção dos MI realizada em Costas é muito semelhante à realizada na técnica
de Crol. Caracteriza-se por um batimento alternado, em que a acção de um
membro poderá ser analisada em duas fases: Ascendente e Descendente.
A Acção Ascendente inicia-se quando o pé se situa abaixo da bacia no
momento de máxima profundidade do ciclo motor. Partindo de uma ligeira
flexão inicial provocada pela resistência oferecida pela água, o nadador deverá
realizar uma extensão forte e enérgica da perna sobre a coxa, levando o pé à
superfície. A AA termina quando o MI se encontra completamente em
extensão, com o pé em extensão dorsal e rotação interna, e com os dedos à
superfície ou ligeiramente abaixo. Esta fase é provavelmente a mais propulsiva.
Ao terminar a AA, dá-se início a Acção Descendente. Assim, acontece a
extensão da coxa sobre o tronco, levando a mesma a mover-se para baixo,
com o pé em posição natural. A mudança de direcção deve ser tão rápida
quanto possível, de forma a privilegiar a formação de vórtices aumentando
assim a propulsão.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
28
Quadro 17: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à acção dos MI na técnica de Costas. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Acção dos MI muito profunda Maior área de secção transversal; maior
arrasto hidrodinâmico
Acção dos MI com o joelho em extensão e tornozelo rígido
Diminuição da força propulsiva efectiva
Movimento de “pedalagem” Perturba alinhamento horizontal; maior
arrasto hidrodinâmico
A sincronização dos MS é feita da seguinte forma: enquanto um MS realiza a
entrada, o outro deverá estar a terminar a 2º AA. Enquanto um dos MS atinge o
ponto mais alto da recuperação, o outro inicia a 2º AD.
Podem observar-se três tipos de sincronização: (1) Sobreposta, em que a 1º
AD de MS coincide com a entrada do outro; (2) Semi-sobreposta, em que há
uma sobreposição de duas fases propulsivas, a 2º AD com a 1º AD do MS
oposto, sendo comum em 4 tempos propulsivos; e (3) Alternada, já referida
anteriormente visto ser o tipo de sincronização ideal para a técnica de Costas.
Na técnica de Costas, a sincronização dos MS com os MI mais eficaz, é feita
com seis batimentos de MI, por ciclo de MS. Para cada uma das acções
propulsivas do MS corresponde uma AA do batimento dos MI. Contrariamente
às outras técnicas de nado e devido à posição dorsal em que se encontra o
nadador, a respiração é livre uma vez que as vias respiratórias estão emersas.
Assim, o nadador não necessita imergir a face, e inspirar e expirar em tempos
precisos. No entanto, para uma maior eficiência, a respiração deve ser
estabilizada, adquirindo um ritmo coordenado com as acções dos MS. Desta
forma, o nadador deve inspirar durante a recuperação de um dos MS e expirar
na mesma acção do membro contrário.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
29
2.5. – Técnica de Bruços
Bruços é uma técnica ventral, simultânea, “simétrica” e descontínua. Estas
características são comuns à técnica de Mariposa e permitem, como grupo,
distinguir as mesmas das técnicas de Crol e Costas. É a técnica de nado mais
lenta pois, apesar dos nadadores gerarem força durante as fases propulsivas
de cada ciclo de MS, desaceleram grandemente cada vez que recuperam os
MI.
De acordo com Vilas-Boas (1993), desde o aparecimento do bruços formal, a
técnica de bruços não deixou de evoluir. Esta evolução decorreu,
simultaneamente, quer através deste desenvolvimento em alguns detalhes de
execução, mantendo no entanto, as suas características fundamentais, quer
através do aparecimento de novas variantes – as variantes naturais. As
variantes naturais consideradas como formas de interpretação da técnica de
bruços parecem ter-se tomado especialmente notadas após a alteração dos
regulamentos em 1987, que permitiu a imersão da cabeça e a recuperação dos
MS em emersão. Estas novas variantes caracterizam-se, segundo Colman e
Persyn (1991), pela introdução de movimentos ondulatórios do corpo
semelhantes aos realizados na técnica de mariposa.
De acordo com a terminologia usada nos trabalhos de Vilas-Boas (1987, 1988,
1990,1993), pode-se considerar a existência de dois estilos de nado, o Bruços
Formal e o Bruços Natural, podendo-se ainda considerar o Bruços Natural com
recuperação aérea dos MS como uma subvariante do Bruços Natural.
No Bruços Formal, os movimentos propulsivos das mãos são acentuadamente
mais verticais quando comparados com a variante natural, sendo o
deslocamento antero-posterior mais pronunciado. No Bruços Natural, os
movimentos dos MS são mais amplos e predominantemente mais transversais
relativamente à direcção de nado do Bruços Formal, evidenciando
deslocamentos antero-posteriores de menor amplitude (Colman e Persyn,
1991). No Bruços Natural com recuperação aérea dos MS, os movimentos
propulsivos das mãos são menos verticais e acentuadamente mais horizontais
(laterais e antero-posteriores) do que no Bruços Natural, caracterizando-se
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
30
ainda por uma mais reduzida amplitude da componente vertical ascendente da
ALE. Para além disso, este tipo de técnica apresenta deslocamentos das mãos
mais tortuosos do que no Bruços Natural, verificando-se urna maior
aproximação dos segmentos a superfície da água (Vilas-Boas, 1993).
Nas acções segmentares dos MS e MI, existem autores que identificam
diferentes fases encontrando-se também algumas diferenças na terminologia
utilizada.
Quadro 18: Descrição das acções dos MS na técnica de Bruços na concepção de alguns autores.
Autores Fases da acção dos MS Fases da acção dos MI
Costill et al. (1992) e Maglischo (1993)
ALE, ALI e a recuperação
(identifica uma fase de deslize na acção dos MI)
Vilas-Boas (1997) ALE, Acção vertical Descendente, ALI e
recuperação
ALE, ALI e uma fase de recuperação
Alves (1997) ALE, AD, ALI e
recuperação ALE, AD, ALI, deslize e
recuperação
No Bruços Formal, o tronco permanece numa posição tão horizontal e estável
quanto possível durante todo o ciclo gestual. Os ombros mantêm-se dentro de
água, com as ancas perto da superfície e os MI alinhados com o corpo durante
as fases propulsivas das acções dos MS e MI. A cabeça deverá estar debaixo
de água e entre os MS durante a acção propulsiva dos MI para melhorar a
posição hidrodinâmica do corpo.
No Bruços Natural, o corpo assume um movimento ondulatório de orientação
caudal que implica uma maior amplitude de movimentos e acções propulsivas
dominantemente oblíquas e transversais, e que acompanha naturalmente o
desenrolar das diferentes fases do ciclo de nado. É caracterizado pela
elevação acentuada dos ombros (facilitando a respiração), assim como, a
colocação da bacia e das coxas num plano mais profundo. No momento da
inspiração, o tronco assume uma posição inclinada relativamente à direcção de
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
31
nado. Durante a fase de recuperação dos MI, o tronco assume uma posição
também inclinada. As ancas deverão oscilar através de uma acção alternada
do tronco que se move entre as acções dos MS e MI, assumindo uma
trajectória sinusoidal graças à elevação do segmento tronco/cabeça. Este
movimento deverá estar sincronizado com a respiração e deverá ser
acompanhado pela extensão do pescoço e pelo movimento dos MS para
dentro no início da fase de recuperação dos mesmos. O Bruços Natural com
recuperação aérea dos MS apresenta um movimento ondulatório do corpo que
evidencia uma acentuação céfalo-caudal mais pronunciada do que no Bruços
Natural (Vilas-Boas, 1993).
Apesar da diversidade de descrições propostas para a acção dos MS, esta
poderá compreender as seguintes fases: a ALE, a AD, a ALI e a Recuperação.
A ALE apresenta como principal objectivo, a colocação dos MS numa boa
posição para produzirem força propulsiva ao longo das fases seguintes. Esta
acção é dominantemente orientada para fora e possui uma importante
componente vertical ascendente, em particular no Bruços Natural (Costill et al.,
1992).
Após a recuperação, os MS encontram-se numa posição de extensão
completa, com as mãos próximas e os pulsos ligeiramente flectidos. A acção
propulsiva desta fase inicia-se através de um afastamento dos MS, em que as
mãos estão orientadas para fora e para baixo (Bruços Formal) ou para fora,
para cima e depois para baixo (Bruços Natural), descrevendo um trajecto
semicircular. Apesar de estarem quase sempre em extensão, no final desta
fase os MS flectem ligeiramente para prepararem as fases seguintes. As
superfícies palmares realizam um movimento descendente e dirigem-se para
fora, seguindo o seu trajecto perto da superfície da água, de forma a adoptar
uma forma hidrodinâmica com os braços e os antebraços alinhados.
Como foi referido anteriormente, no Bruços Natural, o trajecto motor da fase de
deslocamento para fora dos MS evidencia urna componente vertical
ascendente mais evidente do que no Bruços Formal (Chollet, 1990; Vilas-Boas,
1993). Durante esta fase, o afastamento dos MS é acompanhado por uma
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
32
extensão lombar e pelo início de um deslocamento ascendente com os pés
juntos e em flexão plantar, dando seguimento à elevação da bacia (Costill et
al., 1992).
Quadro 19: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALE dos MS na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Acção muito ampla Menor força propulsiva efectiva; altera a
sincronização
Acção muito curta Menor força propulsiva efectiva;
compromete o cotovelo alto
Empurrar a água para trás Menor força propulsiva efectiva;
compromete o cotovelo alto
Dado por terminado o afastamento dos MS com as mãos separadas entre si
mais ou menos à largura dos ombros, inicia-se a AD. Neste momento, os
antebraços começam a flectir sobre os braços, devendo os cotovelos
permanecerem numa posição elevada. As mãos orientam-se para fora e para
trás.
Quadro 20: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à AD dos MS na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Afastamento insuficiente das mãos Encurtamento da acção dos MS
Afastamento exagerado das mãos Altera a sincronização e provoca menor
propulsão
Empurrar a água para trás Menor força propulsiva efectiva;
compromete o cotovelo alto
A ALI é a acção mais propulsiva dos MS e é uma acção dominantemente
orientada para dentro, incluindo um primeiro tempo que evidencia ainda uma
ligeira componente vertical descendente e um segundo que possui uma
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
33
componente vertical ascendente (Vilas-Boas, 1993). Os MS descrevem um
trajecto para dentro, com uma importante componente vertical ascendente,
durante a qual ocorre uma rotação externa dos braços. Esta permite que os MS
se movam segundo um trajecto semi-circular amplo, onde as superfícies
palmares se vão orientar para fora, para trás, para baixo e para dentro.
Após passarem debaixo dos cotovelos, as mãos continuam a rodar, devendo
permanecer em linha com os antebraços até terminar esta acção. Os cotovelos
seguem as mãos inicialmente para baixo e para dentro e depois para dentro e
para cima. Esta acção é continuada por um movimento de adução dos
antebraços que se completa com a quase junção dos cotovelos à frente do
peito. O deslocamento para trás termina com os cotovelos ligeiramente à frente
do plano transverso que contém os ombros, momento a partir do qual as mãos
se deslocam para dentro e ligeiramente para cima.
No Bruços Natural, esta fase é caracterizada por uma pronunciada adução dos
antebraços o que facilita o movimento de elevação dos ombros que é mantido
ao longo da recuperação até à extensão completa dos MS. Isto faz com que o
trajecto motor seja mais longo e veloz na variante natural comparativamente à
formal (Chollet, 1990).
Quadro 21: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALI dos MS na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Orientar as mãos para dentro antes de passarem pela vertical dos cotovelos
Menor força propulsiva efectiva
Início precoce da recuperação dos MS antes de finalizar a ALI
Menor força propulsiva efectiva
Passar os cotovelos para trás da vertical dos ombros
Altera a sincronização e aumenta o arrasto hidrodinâmico
A recuperação dos MS tem início quando os cotovelos e as mãos (flectidos a
aproximadamente 90º) se encontram quase juntos sob o peito. No final do
deslocamento para dentro das mãos, os cotovelos assumem uma posição mais
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
34
baixa e os antebraços realizam um movimento de rotação externa que conduz
os antebraços para dentro e as mãos para a frente até à extensão completa
dos MS. Durante a recuperação, as mãos assumem juntas uma posição no
prolongamento dos antebraços, de tal forma que se deslocam à frente,
minimizando a intensidade da força de arrasto hidrodinâmico.
Pode realizar-se em imersão completa ou à superfície da água. No Bruços
Natural, a recuperação dos MS é realizada através da sua extensão completa
dirigida para a frente e acentuadamente para baixo quando comparada com o
Bruços Formal (Costill et al., 1992). No Bruços Natural com recuperação aérea
dos MS, a transição da ALI para a recuperação é feita mais cedo e é realizada
de uma forma explosiva, logo que as mãos passam debaixo dos cotovelos.
Quando as mãos se aproximam da superfície, os cotovelos são lançados
rapidamente para a frente dos ombros, e ponta dos dedos rompe então a
superfície da água, sendo seguida pelas mãos e antebraços. Assim, este
trajecto das mãos é realizado á superfície ou ligeiramente acima, quase
horizontal e em sobreposição.
Quadro 22: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à Recuperação dos MS na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
MS ou cotovelos afastados Aumento da área de secção transversal;
maior arrasto hidrodinâmico
Recuperação com demasiada força e velocidade
Aumenta o arrasto de onda
A acção dos MI em Bruços, além da fase de recuperação, compreende durante
o seu trajecto motor duas fases, que são a ALE e a ALI. A ALE, inicia-se no
final da recuperação dos MI, sendo que estes se encontram flectidos pelos
joelhos, com os pés próximos, os joelhos ligeiramente afastados e a anca em
rotação externa. Esta acção tem como objectivo a colocação dos pés numa
boa posição para realizar as acções que se seguem.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
35
Os pés flectem e realizam um movimento circular para fora, para trás e para
baixo, auxiliados pela rotação interna das coxas, colocando-se em eversão e
dorsiflexão de forma a que as superfícies plantares se orientem para fora, para
cima e ligeiramente para trás. Este movimento é acentuado através de uma
ligeira abdução dos MI e de uma ligeira extensão da articulação do joelho. Os
pés deslocam-se ligeiramente para baixo até que se atinja a posição de
afastamento máximo dos mesmos, sendo a distância horizontal que os separa
superior à que separa os joelhos entre si. Estes deverão estar pouco afastados,
sensivelmente à largura dos ombros, com os calcanhares perto da região
glútea.
Quadro 23: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALE dos MI na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Fase muito ampla A água é deslocada para o lado; menor força
propulsiva efectiva; altera a sincronização
Empurrar a água para trás Compromete o cotovelo alto; menor força
propulsiva efectiva
Encurtar a duração desta acção Compromete o cotovelo alto; menor força
propulsiva efectiva
A ALI é a fase mais importante e mais propulsiva dos MI, em que se dá a
extensão completa dos mesmos através de um movimento circular. Os pés
passam progressivamente da posição de eversão para a de inversão, com as
superfícies plantares orientadas para baixo, para dentro e ligeiramente para
trás. Os pés assumem uma posição de forma a que os seus dedos estejam
orientados para baixo, com as superfícies plantares viradas uma para a outra.
Quando ocorre a extensão completa dos MI estes ainda não devem estar em
completa adução. A adução final ocorre com os pés ainda em eversão,
devendo apenas depois ocorrer a extensão dorsal dos pés. Esta fase termina
com a adução completa e vigorosa dos MI, que ocorre simultaneamente à
extensão completa dos joelhos, permanecendo os pés em inversão.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
36
Quando os pés estão quase juntos e a propulsão da ALI está quase completa,
a pressão na água é diminuta e os MI deslocam-se para cima até perto da
superfície, á medida que os pés se vão juntando. Começa então uma fase de
deslize, em que os MI estão completamente estendidos.
Durante a ALI, podemos dizer que a última parte desta acção é menos
propulsiva do que a primeira. Devido ao movimento ondulatório, ocorre na fase
“passiva” da acção dos MI do Bruços Natural uma “pernada adicional”
semelhante ao segundo tempo do ciclo motor dos MI na técnica de Mariposa.
Quadro 24: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALI dos MI na técnica de Bruços.
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Orientar as mãos para dentro antes de passarem a vertical dos cotovelos
Menor força propulsiva efectiva
Passar para a fase de recuperação dos MS antes de finalizar esta fase
Menor força propulsiva efectiva
Passar os cotovelos para trás da vertical dos ombros
Altera a sincronização e aumenta o arrasto hidrodinâmico
Depois de terminada a fase propulsiva dos MS dá-se a recuperação dos MI,
através da progressiva e lenta flexão dos joelhos, associada a uma ligeira
rotação externa da anca. A bacia deve baixar, e as pernas deslocam-se para a
frente mantendo-se atrás das coxas, para diminuir o arrasto provocado pela
forma. Os pés recuperam juntos, enquanto os joelhos se afastam ligeiramente
(não mais do que a largura dos ombros). Os calcanhares são conduzidos para
cima e para a frente até que estejam perto da região glútea com os pés em
flexão plantar, através da flexão da perna sobre a coxa até atingirem
aproximadamente um ângulo de 90°. No final desta fase, os pés começam a
realizar um movimento circular para fora quando se aproximam da região
glútea, de forma a prepararem a fase seguinte.
Segundo Persyn et aI. (1984), no Bruços Formal, a flexão das coxas sobre o
tronco inicia-se quase em simultâneo com o início da flexão da perna sobre a
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
37
coxa, característica que o diferencia da acção dos MI da variante de Bruços
Formal. Já Costill et al. (1992), refere que nesta mesma variante, a
recuperação dos MI parece terminar numa posição de maior afastamento dos
joelhos do que no Bruços natural.
Quadro 25: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à Recuperação dos MI na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
MS afastados (mãos ou cotovelos) Aumento da área de secção transversal;
maior arrasto hidrodinâmico
Recuperação com demasiada força e velocidade
Aumenta o arrasto de onda
Existem três tipos de sincronização entre a acção dos MS e a acção dos MI: a
contínua, a descontinua e a sobreposta. Na contínua, o início da acção dos MS
dá-se imediatamente após o momento em que os MI se juntam (ALI). Este tipo
de coordenação é utilizado sobretudo no Bruços Formal, em que o início da
recuperação dos MS ocorre antes do início da fase propulsiva dos MI e
completa-se ainda no decurso desta. A recuperação dos MI inicia-se na fase
final da acção propulsiva dos MS e termina na fase inicial da recuperação dos
mesmos. O início da fase propulsiva dos MS ocorre ainda antes de concluída a
adução dos MI. Na sincronização descontínua, existe um pequeno intervalo
entre o fim da acção dos MI e o início do movimento dos MS para fora. Assim,
há uma desaceleração desde a fase propulsiva dos MI até à fase propulsiva
dos MS, tendo portanto, uma fase de deslize exagerada. Na sincronização
sobreposta, o início da acção dos MS dá-se antes de ter terminado a acção dos
MI. Este tipo de coordenação é utilizado sobretudo no Bruços Natural, em que
a acção propulsiva dos MI e a finalização da recuperação dos MS são acções
que se desenvolvem simultaneamente.
Relativamente à respiração, em cada ciclo de nado há uma acção respiratória
constituída por uma inspiração e por uma expiração. Esta acção deverá ser
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
38
uma parte integrante da técnica, não devendo perturbar a continuidade dos
movimentos. A cabeça começa o seu movimento ascendente em direcção à
superfície da água com a face dirigida para cima e para a frente, quando os MS
começam o seu movimento de deslocamento para fora. Depois da cabeça
alcançar a superfície, o movimento descendente dos MS deverá completar a
sua ascensão auxiliado pelo movimento de extensão cervical de forma a que a
face esteja acima da linha da água quando os MS se dirigem para dentro. A
inspiração é feita quando os MS se dirigem para cima, debaixo do peito e no
início da recuperação dos MS. Em seguida a cabeça deverá baixar à medida
que os MS se dirigem para a frente, retomando a sua posição durante a
recuperação dos MS, iniciando-se a expiração com a face orientada para baixo
e para a frente, formando um ângulo de aproximadamente 45° com a
horizontal.
Enquanto no Bruços Formal a emersão das vias respiratórias aéreas
necessária à inspiração é garantida por uma extensão cervical, no Bruços
Natural a cabeça e o tronco funcionam como um bloco, sendo a emersão das
vias respiratórias consequência da importante emersão dos ombros que
decorre da inclinação do tronco.
Quadro 26: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à respiração na técnica de Bruços. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Inspiração precoce ou tardia Altera a sincronização; maior arrasto
hidrodinâmico
Emergir demasiado a cabeça na inspiração
Altera a sincronização
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
39
2.6. – Técnica de Crol
Crol é uma técnica ventral, alternada e “simétrica” na qual as acções motoras
dos MS e MI tendem a assegurar uma propulsão contínua. Do ponto de vista
mecânico, esta é a técnica mais eficiente (Holmér, 1983) devendo-se ao facto
de ser alternada o que evita grandes oscilações intracíclicas da velocidade, e
ainda devido à posição do corpo que lhe é inerente permitindo trajectos
subaquáticos bem orientados e por sua vez resultantes propulsivas com
direcção muito próxima da linha de deslocamento do corpo (Lima, 2005).
O corpo deve estar o mais horizontal possível, com a cabeça em posição
natural no prolongamento do tronco, tentando oferecer a menor resistência ao
avanço. Em relação ao alinhamento horizontal, o nadador deve manter uma
posição alta na água (importância da acção dos MI), não deve elevar
exageradamente a cabeça e deve reduzir as componentes verticais do trajecto
motor dos MS que poderá acontecer durante a entrada, a Acção Descendente
e a saída. Quanto ao alinhamento lateral, o nadador deve aproximar as acções
propulsivas do eixo longitudinal de deslocamento, não deve cruzar os apoios e
deve evitar a recuperação lateral. O nadador deve ainda fazer rotação do corpo
em torno do eixo longitudinal, o que facilita a aproximação das acções motoras
ao eixo de deslocamento, a recuperação com elevação e flexão dos cotovelos,
a acção equilibradora dos MI, não agravando o arrastamento.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
40
Quadro 27: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à posição corporal na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Nadar numa posição exageradamente alta, com a cabeça muito levantada
Aumenta a resistência frontal, ou seja o arrasto hidrodinâmico provocado pela forma
Acção dos MI muito funda Aumenta a resistência frontal, ou seja o
arrasto provocado pela forma
Rotação longitudinal do corpo exagerada
Aumento da resistência frontal e necessidade de um reequilíbrio em detrimento de uma
acção propulsiva das pernas
Bacia não fixa e oscilações longitudinais
Desvios no alinhamento e aumento da resistência frontal
NA acção dos MS distinguem-se as seguintes acções: Entrada, Acção
Descendente (AD), Acção Lateral Interior (ALI), Acção Ascendente (AA), Saída
e Recuperação. A entrada da mão na água deve ser feita com o MS flectido, no
prolongamento do ombro de forma a provocar a menor turbulência e arrasto de
onda. O MS deve estar em rotação interna, de maneira a que, a palma da mão
esteja orientada para fora. A entrada deve acontecer no espaço entre a
projecção do ombro e o eixo longitudinal. Depois de entrar, acontece o deslize,
em que se dá a extensão do cotovelo em imersão e o adiantamento do ombro
do mesmo lado.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
41
Quadro 28: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à entrada dos MS na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Apoio cruza a linha média do corpo Perda do alinhamento lateral provocando
um aumento do arrasto hidrodinâmico
Esmagamento do apoio Perda do alinhamento horizontal
provocando um maior arrasto hidrodinâmico
Extensão incompleta Diminui o percurso subaquático e altera a
sincronização
Apoio precoce e grande velocidade da mão
A mão fica em profundidade muito rapidamente, prejudicando o alongamento
e o agarre; maior arrasto hidrodinâmico
A AD deve começar no momento em que o MS contrário termina a sua fase
propulsiva. Após o MS terminar o deslize, o pulso flecte, orientando a palma da
mão para fora, para baixo e ligeiramente para trás (ângulo aproximadamente
de 30º a 40º). De seguida a mão move-se para baixo e para trás, relativamente
ao corpo do nadador, descrevendo uma trajectória curvilínea. O cotovelo vai
flectindo gradualmente durante esta fase. Esta é a fase menos propulsiva mas,
é no entanto, muito importante na colocação dos segmentos propulsivos na
posição mais correcta, de forma a executar as acções seguintes com o máximo
de eficiência.
Quadro 29: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à AD na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
“Empurrar” a água directamente para baixo
Perda de alinhamento horizontal
Cotovelo caído O antebraço empurra a água para baixo diminuindo a força propulsiva efectiva
Início imediato do movimento para dentro
Altera a sincronização; induz a iniciar a força propulsiva com o cotovelo caído; menor
propulsão
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
42
A ALI tem início no momento em que o MS atinge o ponto mais profundo da
sua trajectória. Mantendo a sua trajectória circular, a mão desloca-se para
cima, para dentro e para trás, por intermédio da flexão do cotovelo. A
velocidade da mão aumenta progressivamente, aumentando também a
capacidade propulsiva. A palma da mão orienta-se para cima, para dentro e
para trás (ângulo entre 20º a 40º).
Quadro 30: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à ALI na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Má orientação da mão Desalinhamento lateral; maior arrasto
hidrodinâmico, menor propulsão
Início precoce da ALI Menor força propulsiva efectiva
Amplitude exagerada ou insuficiente Altera a sincronização ou desalinhamento
lateral
A AA é a fase mais propulsiva da acção dos MS. Começa no final da ALI e
continua até a mão do nadador se aproximar da coxa, ou seja, da posição de
MS flectido passa para a sua extensão progressiva. A mão é progressivamente
acelerada para fora, para cima e para trás até à superfície da água (ângulo
entre os 30º e 40º). O cotovelo não chega a estender completamente
começando a flectir quando a mão se aproxima do trajecto propulsivo útil. A
aceleração, nesta fase, é muito pronunciada e a velocidade é máxima no final.
A hiperextensão do pulso poderá influenciar o sucesso da AA.
Quadro 31: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à AA na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Empurrar a água para cima Perda do alinhamento horizontal
Empurrar a água directamente para trás
Diminuição da propulsão
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
43
A Saída e Recuperação, é uma acção não propulsiva, tendo como propósito
colocar o MS em posição para executar nova acção dos MS. A superfície
palmar, ao aproximar-se da coxa, roda para dentro de forma descontraída,
possibilitando que a mão se desloque para cima e para fora da água de modo a
evitar a resistência ou turbulência na saída, que deve ser feita com o dedo
mínimo. A recuperação é executada com o MS flectido mantendo o “cotovelo
alto”, e com o antebraço e mãos relaxados. Esta deve passar o mais perto
possível da linha média do corpo, deve ser feita de forma rápida e
descontraída, preparando da melhor maneira a entrada da mão na água. À
medida que se vai aproximando a entrada, a palma da mão que estava virada
para o corpo na primeira metade da recuperação, deve orientar-se para fora. A
rotação do corpo sobre o eixo longitudinal revela-se importante para uma boa
recuperação.
Por vezes é visível uma assimetria na recuperação do lado para o qual o
nadador respira, efectuando-a um pouco mais alta. Assim, a recuperação
poderá apresentar três variantes: (i) cotovelo elevado e flectido, (ii) hand swing,
em que há uma exagerada rotação do corpo sobre o eixo longitudinal e o
ângulo de ataque é muito aberto, e (iii) lateral, em que há um grande momento
de inércia devido ao afastamento do MS em relação ao corpo.
Quadro 32: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à Saída e Recuperação na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Saída com a mão mal orientada Aumento do arrasto hidrodinâmico
Recuperação baixa/lateral Perturbações do alinhamento lateral;
prejudica a rotação longitudinal do corpo
Recuperação com o MS demasiado flectido e com a mão em contacto com a água
Aumento do arrasto hidrodinâmico
Recuperação com o MS estendido Aumenta o momento de inércia sendo
necessário um maior esforço; provoca um desequilíbrio
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
44
A acção dos MI é dividida em três fases: a fase ascendente; a fase
descendente e a mudança de direcção. A fase descendente é provavelmente
mais propulsiva, uma vez que poderá manter um ângulo de ataque que
possibilite o deslocamento da água para trás. Na fase ascendente, os MI
deslocam-se para cima e para a frente, empurrando a água para cima, sendo o
ângulo de ataque do pé muito pequeno para produzir força propulsiva. As fases
de mudança de direcção revelam-se extremamente importantes na produção
de vórtices, contribuindo também para a propulsão.
Na fase descendente, em que o MI parte de uma posição de extensão dorsal
completa, efectua-se uma flexão do joelho (cerca de 30 a 40º com uma
profundidade de aproximadamente 25 cm) seguida de uma forte extensão do
mesmo (cerca de 35 cm de profundidade), causando uma acção de chicotada
da perna e do pé, que se encontra em extensão dorsal e rotação interna.
Na fase ascendente, com o pé em posição natural, o MI é deslocado para cima
em extensão total. A mudança de direcção da fase descendente para a
ascendente deve realizar-se tão rápido quanto possível. Os batimentos não
devem ser nem muito profundos nem muito superficiais sendo que no primeiro
caso, o arrasto é maior e, no segundo caso, a estabilidade do corpo e a força
propulsiva são reduzidas.
Quadro 33: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à acção dos MI na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências negativas
Acção dos MI muito profunda Aumento da área de secção transversal e do
arrasto hidrodinâmico
Acção dos MI com o joelho demasiado flectido
Aumento do arrasto frontal; movimento ascendente pouco eficaz
Tornozelo rígido Menor força propulsiva efectiva
Relativamente à sincronização entre os MS, para que esta seja precisa deverá
existir coerência com a acção dos MI, deve-se procurar facilitar a continuidade
da acção propulsiva, e fornecer o equilíbrio global da técnica.
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
45
Assim numa sincronização perfeita, enquanto um MS entra na água o outro
deverá completar a ALI, o que permitirá a rotação do corpo e o alongamento da
acção dos MS. Por outro lado, após a entrada, o MS não deve iniciar a AD até
que o outro tenha finalizado o AA. Este último aspecto poderá variar entre
nadadores de distância e velocistas, observando-se uma tendência dos
velocistas para o encurtamento da acção dos MS, iniciando quase de imediato
a AD enquanto o outro MS efectua ainda a AA, podendo assim começar a
aplicar força propulsiva com o MS da frente imediatamente após o outro
diminuir a pressão na água.
Podem observar-se três tipos de sincronização: (i) Sobreposta, quando um MS
espera a entrada do outro MS para iniciar o trajecto subaquático, ou seja, em
que a AD de um MS coincide com a entrada do outro; (ii) Semi-sobreposta,
quando a entrada de um MS coincide com o início da ALI; e (iii) Alternada, em
que a entrada de um MS é realizada enquanto o outro executa a AA.
Relativamente à sincronização dos MS com os MI, deve-se referir que o ritmo
da acção dos MI diz respeito ao número batimentos por ciclo de acção dos MS.
Este pode variar de nadador para nadador de acordo com os três tipos de
sincronização: 6 batimentos por ciclo, 2 batimentos por ciclo e 4 batimentos por
ciclo. O mais frequentemente utilizado é 6 Batimentos por ciclo, apresentando
uma simetria perfeita entre as fases propulsivas dos MS e os batimentos de MI.
Favorece a rotação no eixo longitudinal, eliminando problemas de alinhamento
laterais e horizontais. Cada movimento descendente dos MI coincide com uma
fase propulsiva da braçada. A AD está coordenada com a fase descendente do
MI do mesmo lado, a ALI é acompanhada da fase descendente do MI do lado
oposto, e a AA é simultânea à fase descendente do MI do mesmo lado. É
preferencialmente utilizado em velocidade, uma vez que interessa a máxima
potência e força propulsiva.
Quando o nadador realiza 2 Batimentos por ciclo, estes podem ser verticais ou
cruzados. Nos batimentos verticais, cada batimento (AD) inicia-se durante a
ALI do MS do mesmo lado tornando-se assim mais económicos que a
sincronização de 6 batimentos por ciclo. Nos batimentos cruzados, às acções
descendentes juntam-se acções laterais que cruzam os MI, e são batimentos
_____________________________________________________REVISÃO DA LITERATURA
46
muito comuns em nadadores que realizam recuperação lateral dos MS. Cada
fase descendente dos MI acompanha a ALI e a AA dos MS do mesmo lado, o
que requer menos energia, daí ser preferencialmente utilizado pelos nadadores
fundistas. Por último, a sincronização de 4 batimentos por ciclo é idêntico ao de
6 batimentos por ciclo, apresentando no entanto, uma paragem total ou parcial
aquando da inspiração.
Quanto à respiração, os movimentos da cabeça devem estar coordenados com
a rotação do corpo, de forma a reduzir a tendência dos nadadores levantarem a
cabeça para inspirarem. A cabeça roda e flecte ligeiramente no momento em
que o MS do mesmo lado realiza a AA e o MS contrário realiza a entrada. O
retorno deve acontecer na última fase de recuperação do MS do mesmo lado.
A inspiração deve ser forte e rápida, e a expiração deve ocorrer em imersão de
forma progressiva.
A respiração pode ser unilateral, caso o nadador efectue uma inspiração por
um ou mais ciclos de MS (1:2 ou 1:4), ou bilateral, se é realizada uma
inspiração por cada ciclo e meio de MS (1:3). A respiração unilateral, apesar de
possibilitar maior ventilação, não favorece a simetria nem o alinhamento lateral
e apenas possibilita a visibilidade para um dos lados durante a prova. Em
contrapartida, estes aspectos já se verificam na respiração bilateral.
Quadro 34: Principais erros técnicos e respectivas consequências relativamente à respiração na técnica de Crol. Adaptado de Fernandes et al. (2008).
Erros técnicos mais frequentes Consequências
Rotação precoce da cabeça Altera a sincronização
Rotação atrasada da cabeça Altera a sincronização
Elevação exagerada da cabeça Aumento da área de secção transversal e do
arrasto de onda
____________________________________________________OBJECTIVOS E HIPÓTESES
47
3 – Objectivos e Hipóteses
3.1 – Objectivo Geral
O presente estudo tem como objectivo geral caracterizar tecnicamente o
nadador infantil no que se refere aos seus principais erros técnicos efectuados
nas quatro técnicas utilizadas em NPD.
3.2 – Objectivos Específicos
Os objectivos específicos visam:
Verificar se existem diferenças estatisticamente significativas (DES)
relativas ao número de erros técnicos entre géneros em cada técnica de
nado;
Verificar se existe superior incidência de erros técnicos entre técnicas de
nado;
Verificar se existe preferência da sincronização de 6 batimentos de
MI/ciclo de MS e do padrão de sincronização alternado entre MS e MS
na técnica de Crol e Costas nos dois géneros;
Verificar se existe preferência da sincronização contínua entre MS e MI e
da variante formal na técnica de Bruços nos dois géneros;
Verificar se existe uma elevada incidência de erros técnicos na Posição
da Cabeça, na técnica de Mariposa e Bruços em ambos os géneros.
3.3 – Hipóteses
H1 – Não existem DES relativas ao número de erros técnicos entre
géneros em cada técnica de nado, à excepção da Técnica de Costas.
H2 - Existe uma superior percentagem de erros técnicos na Técnica de
Costas no género feminino.
____________________________________________________OBJECTIVOS E HIPÓTESES
48
H3 - Existe uma elevada percentagem de utilização de 6 batimentos de
MI/ciclo de MS, assim como uma sincronização alternada entre MS e MS
nas técnicas de Crol e Costas no género masculino e feminino.
H4 – Existe uma elevada percentagem de utilização da sincronização
contínua entre MS e MI, assim como da variante formal na técnica de
Bruços no género masculino e feminino.
H5 – Existe uma elevada percentagem de erros técnicos na Cabeça na
técnica de Mariposa e Bruços no género feminino.
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
49
4 – Material e Métodos
Neste capítulo, procedemos à apresentação dos aspectos metodológicos
considerados relevantes para a realização deste trabalho.
Assim, após a caracterização da amostra utilizada neste estudo, são
apresentados os instrumentos utilizados e explicada a respectiva forma de
aplicação.
De salientar o facto de que embora todos os nadadores que constituem a
amostra tenham realizado as quatro técnicas de nado, só foram observados e
registados os respectivos erros em duas técnicas: a primeira obrigatoriamente
a técnica de Crol e a segunda a técnica de nado tida como especialidade. Para
aqueles nadadores que apresentaram Crol como a sua especialidade, foi
procurada uma segunda técnica entre Mariposa, Costas ou Bruços.
Relativamente a cada uma das quatro técnicas, iremos referir os seguintes
aspectos: caracterização, posição corporal, acção dos MS, acção dos MI,
sincronização dos MS, sincronização dos MS com os MI, respiração e alguns
dos erros técnicos mais comuns presentes nestes aspectos.
4.1. – Caracterização da Amostra
Neste capítulo pretendemos caracterizar o grupo de nadadores que participou
na parte experimental deste estudo no que se refere ao escalão etário
competitivo a que os mesmos pertencem, aos parâmetros da sua história do
treino: anos de prática, unidades de treino semanais, treino a seco, treino na
água; e ainda relativamente ao peso e à altura.
Assim, a amostra do presente estudo foi constituída por 65 nadadores, 33 do
género masculino e 32 do género feminino, pertencentes ao escalão etário
infantil seleccionados para participar em estágios da ANNP em conformidade
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
50
com o Protocolo estabelecido entre essa associação desportiva e a Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).
Os resultados presentes no Quadro 35, apresentados por género e para a
totalidade da amostra, constituem os valores médios e respectivos desvios-
padrão relativos à idade, aos anos de prática de NPD, ao número de unidades
de treino semanais, ao número de treinos a seco e na água, ao peso e à altura.
Os dados relativos aos parâmetros anteriores foram medidos e recolhidos
através de um questionário individual preenchido pelos nadadores do presente
estudo.
Quadro 35: Valores médios e respectivos desvios padrão, por género, da idade, do número de anos de prática de Natação, do número de unidades de treino semanal, do número de treinos a seco, do número de treinos na água, do peso e da altura.
Idade (anos)
Anos de Prática
Unidades de treino semanais
Treino a seco
(horas)
Treino na água (horas)
Peso (kg) Altura (cm)
Género Masculino
13,2 (±0,7)
4,3 (±1,3)
6,5 (±0,8)
1,7 (±1,7)
10,8 (±1,6)
55,8 (±9,0)
166,8 (±9,5)
Género Feminino
11,9 (±0,7)
4,2 (±1,7)
6,5 (±0,8)
1,9 (±1,4)
11,1 (±2,1)
46,5 (±7,2)
158,3 (±6,5)
MÉDIA 11,8 4,1 6,3 1,8 10,8 46,7 155,6
Analisando o Quadro 35, em conjunto com o modelo de progressão do volume
da carga do treino proposto por Alves (1997) (Quadro 36), podemos constatar
que as médias obtidas para os diferentes géneros apresentam valores muito
próximos dos ideais para o número de unidades de treino semanais.
Apesar de mais velhos e de, aparentemente, evidenciarem níveis de maturação
superiores, os nadadores desta amostra agrupam-se no mesmo escalão etário
competitivo que as nadadoras, facto que justifica as 6 a 7 unidades de treino
semanais.
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
51
Quadro 36: Modelo de progressão do volume da carga do treino (adaptado de Alves, 1997). A negro encontram-se os valores correspondentes aos nadadores da presente amostra.
Idade Sessões/semana Duração da sessão (min) Distância/semana (Km)
8 3 – 4 45 – 60 4 – 12
9 4 60 12
10 4 – 6 75 12 – 20
11 6 90 20 – 30
12 6 120 30
13 7 120 35 – 40
14 8 120 45
15 8 120 40 – 55
16 10 – 11 120 40 – 60
No quadro 37 podemos observar a distribuição dos nadadores no que se refere
à sua técnica de preferência, ou seja, a técnica de nado em que se consideram
especialistas à excepção de Crol. Os dados das diferentes especialidades de
nado estão representados por subgrupo sexual (feminino e masculino) e para a
totalidade da amostra. Como já foi referido anteriormente, apesar de existirem
nadadores especialistas em Crol, estes foram analisados noutra especialidade
diferente de Crol.
Quadro 37. Número de nadadores especialistas em cada uma das técnicas de nado à excepção de Crol. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual e para a totalidade da amostra.
Especialidade Masculinos Femininos Total
Mariposa 16 16 32
Costas 12 12 24
Bruços 5 4 9
Crol 8 12 20
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
52
4.2. – Procedimentos Metodológicos
A avaliação técnica dos nadadores consistiu na análise qualitativa do registo
vídeo de imagens subaquáticas, da perspectiva frontal e lateral, tendo sido
baseada em critérios objectivos e subjectivos previamente estabelecidos e
sistematizados em fichas de observação técnica (check-lists) para cada técnica
de nado.
Cada nadador participante efectuou dois percursos de 25m em cada uma das
quatro técnicas de nado, sendo previamente informado que deveria nadar a
uma intensidade elevada, ainda que não necessariamente no seu máximo.
Especificamente para o nosso estudo, apenas foram analisados os percursos
relativos à técnica de Crol e à especialidade de cada nadador (Costas, Bruços
ou Mariposa).
A recolha das imagens foi realizada utilizando uma câmara vídeo S-VHS JVC
GR-SX1, com cassetes SVHS. Para obter imagens do plano transverso do
nadador colocou-se a câmara numa janela subaquática situada na parede testa
da piscina (perspectiva frontal), tendo a mesma câmara sido, posteriormente,
colocada na parede lateral para registo de imagens relativas ao plano sagital
dos nadadores (perspectiva lateral).
As imagens foram avaliadas segundo uma observação qualitativa, suportada
por critérios retirados de modelos técnicos disponíveis na bibliografia, tendo os
erros de execução técnica sido assinalados em quatro fichas de observação
(uma para cada técnica de nado). As fichas de observação foram elaboradas
tendo por base os modelos técnicos de Chollet (1997), Costill et al. (1992), e
Maglischo (1993). A partir dos modelos técnicos sugeridos pelos autores
referidos, procedemos à decomposição de cada técnica de nado em vários
parâmetros de observação, procurando que as respectivas fichas de
observação fossem rigorosas e pormenorizadas, assim como que respeitassem
as diferenças individuais de cada nadador. As fichas de observação (check-
lists) são apresentadas em Anexo.
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
53
Cada check-list contempla categorias técnicas que, por sua vez, agrupam um
conjunto de itens ou parâmetros técnicos. Assim, em todas as técnicas,
procuramos avaliar o desempenho do nadador relativamente às seguintes
categorias: (i) Equilíbrio (técnicas alternadas), Posição/Movimento do Corpo e
da Bacia (técnica de Bruços) e Movimento Ondulatório (técnica de Mariposa);
(ii) Posição/Trajectória dos segmentos (cabeça, MS e MI) e (iii) Respiração.
Também se procurou diagnosticar algumas características importantes de cada
técnica, como o tipo de Sincronização entre MS e MS (técnicas alternadas),
Sincronização entre MS e MI e a Variante Técnica utilizada.
Desta forma, foi estudada a incidência de erros técnicos em cada estilo de
nado, procurando-se observar uma diferenciação entre técnicas e entre
subgrupos sexuais no que se reporta às várias fases da trajectória subaquática
dos MS e dos MI, assim como as diferentes categorias técnicas já acima
referenciadas (equilíbrio, respiração, sincronização e movimento ondulatório). A
frequência de erros técnicos foi expressa em percentagem do total de itens
técnicos apresentados na check-list.
Mais especificamente, a check-list da técnica de Crol contempla aspectos
relativos à posição do corpo (equilíbrio), à posição e trajectória dos segmentos
(posição da cabeça; postura e acção dos MS - entrada, acção descendente,
acção lateral interior, acção ascendente e saída/recuperação das mãos;
orientação e acção dos MI), à sincronização entre MS e MS, entre MS e MI e à
respiração.
A check-list relativa à técnica de Costas é muito semelhante à de Crol,
diferenciando-se apenas ao nível das fases do trajecto motor subaquático dos
MS. Assim, a ficha contem aspectos relativos à posição do corpo (equilíbrio), à
posição e trajectória dos segmentos (posição da cabeça; postura e acção dos
MS - entrada, 1º acção descendente, 1º acção ascendente, 2º acção
descendente, número de fases propulsivas e saída/recuperação das mãos;
orientação e acção dos Ml), à sincronização entre MS e MS e à sincronização
entre MS e MI.
________________________________________________________MATERIAL E MÉTODOS
54
A check-list da técnica de Bruços permite avaliar os aspectos referentes à
variante de nado utilizada pelo nadador, à posição e movimento do corpo e da
bacia (movimento ondulatório), à posição e trajectória dos segmentos (posição
da cabeça; postura e acção dos MS - entrada, acção lateral exterior, acção
lateral interior e recuperação; acção dos Ml - acção descendente, acção lateral
interior e recuperação), à sincronização (MS e MI) e à respiração.
Por último, a check-list da técnica de Mariposa reporta-se, tal como a de
Bruços, ao movimento ondulatório, à posição e trajectória dos segmentos
(posição da cabeça; postura e acção dos MS - entrada, acção lateral exterior,
acção descendente, acção lateral interior, acção ascendente e recuperação;
acção dos Ml), à sincronização (MS e MI) e à respiração.
Os procedimentos estatísticos utilizados consistiram na análise de frequências
dos erros técnicos observados, na elaboração de valores médios e desvios
padrão (Statview SE + Graphics TM para Macintosh) e comparação de
proporções relativas para grupos independentes através de um Teste Z
(Microstat para PC).
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
55
5 – Apresentação dos Resultados
Os resultados relativos à percentagem total de erros técnicos encontrados em
cada uma das quatro técnicas de nado são apresentados na Figura 1. Os
resultados são apresentados por subgrupo sexual.
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
Mariposa Costas Bruços Crol
Masculino
Feminino
Total
Figura 1. Percentagem total de erros técnicos encontrados em cada uma das 4 técnicas de nado. Os resultados são apresentados através de valores médios por subgrupo sexual para a totalidade da amostra.
Como podemos observar na Figura 1, a incidência de erros técnicos verificada
em cada uma das técnicas de nado varia entre 24% e 55% para o grupo
masculino e entre 28% e 39% para o grupo feminino, não se verificando
diferenças estatisticamente significativas (DES) entre nadadores e nadadoras
em cada técnica.
Em ambos os sexos, podemos verificar uma tendência para uma maior
percentagem de erros na Técnica de Costas, seguida da Técnica de Crol, da
Técnica de Mariposa e da Técnica de Bruços, em ordem decrescente de
ocorrência percentual de incorrecções técnicas.
Err
os
Téc
nic
os
(%)
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
56
Relativamente à totalidade da amostra em cada técnica, os valores variam
entre 26% (Técnica de Bruços) e 47% (Técnica de Costas), e não se verificam
DES entre as quatro técnicas de nado.
Nas Figuras 2, 3, 5 e 7 são apresentados os resultados relativos à
percentagem de erros técnicos observados para as diferentes categorias
técnicas e fases do ciclo gestual de cada uma das quatro técnicas de nado
(Mariposa, Costas, Bruços e Crol, respectivamente). Os resultados são,
também, apresentados por subgrupo sexual. Os resultados relativos à
caracterização das técnicas de nado estudadas no que se refere aos tipos de
sincronização entre MS e Ml, entre MS e MS, assim como as variantes técnicas
utilizadas, estão presentes nas Figuras 4, 6 e 8 (Costas, Bruços e Crol,
respectivamente).
Figura 2. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases e categorias técnicas da Técnica de Mariposa. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual. Legenda: ø e ¥, DES entre categorias técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a Posição e Trajectória dos Segmentos.
Ø ¥
Ø
¥
Posição e Trajectória dos Segmentos
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
57
Como se observa na Figura 2, não existem diferenças entre os dois géneros
nas várias categorias técnicas e fases do ciclo motor subaquático.
Relativamente às DES entre as categorias técnicas, podemos referir que a
componente Movimento Ondulatório apresenta DES em relação à Respiração,
assim como para as restantes componentes que apresentam valores abaixo do
percentil 30, em ambos os sexos, estando representadas na Figura 2 por ø. No
subgrupo feminino existem ainda DES entre as categorias Movimento
Ondulatório e Acção Ascendente dos MS, representadas por ¥ na Figura.
Figura 3. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases e componentes técnicas da Técnica de Costas. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual. Legenda: * representa uma DES para as variáveis em causa (p<0.05); ø e ¥, DES entre categorias técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a Posição e Trajectória dos Segmentos.
Na Figura 3, é possível observar DES entre os dois subgrupos sexuais quando
nos referimos à 1ª Acção Descendente dos MS. No entanto, note-se que para
um p≤0.10 podíamos considerar que tanto a 2ª Acção Descendente dos MS
Posição e Trajectória dos Segmentos
Ø
* Ø ¥
¥
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
58
como os MI apresentavam DES. Relativamente às DES entre categorias
técnicas e fases do trajecto subaquático dos MS, podemos mencionar a sua
existência no que se refere à relação entre a 1ª Acção Descendente dos MS e
a Entrada; a Saída e a 1ª Acção Descendente, em ambos os géneros
(representada na figura por ø e ¥, respectivamente).
Figura 4. Percentuais de ocorrências dos tipos de sincronização entre MS e Ml e entre MS e MS observados na Técnica de Costas.
Na Figura 4 estão presentes os restantes resultados relativos à Técnica de
Costas, onde é possível observar o facto de a grande maioria dos nadadores
da amostra utilizarem um padrão de sincronização de 6 batimentos de Ml por
ciclo de MS (86% no género masculino e 100% no género feminino), e uma
sincronização Alternada entre MS na totalidade da amostra. Assim, através
destas claras preferências, podemos referir a existência de DES entre o padrão
de sincronização de 6 batimentos de MI por ciclo de MS e o de 4 batimentos
por ciclo, e entre a sincronização alternada e a semi-sobreposta e sobreposta,
em ambos os géneros.
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
59
Outro resultado importante, embora não representado graficamente, diz
respeito ao número de fases propulsivas do trajecto dos MS realizadas pelos
nadadores da presente amostra. Assim, foi possível verificar que a totalidade
da amostra apresentou um ciclo de MS com 3 fases propulsivas.
Figura 5. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases e componentes técnicas da Técnica de Bruços. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual. Legenda: ø, ¥ e £, DES entre categorias técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos a Posição e Trajectória dos Segmentos.
Relativamente à Figura 5, não existem diferenças entre os dois géneros nas
várias categorias técnicas e fases do ciclo motor subaquático. No entanto,
note-se que para p≤0.07 podíamos considerar que existem DES na Acção
Lateral Interior dos MS. No que se refere às DES entre categorias técnicas e
fases do trajecto subaquático dos MS e MI, podemos referir que as categorias
Recuperação dos MI e a Respiração, assim como a Recuperação dos MI e a
Cabeça, apresentam DES entre si no género masculino; e no género feminino
existem DES entre as categorias Acção Lateral Interior dos MI e Acção Lateral
Posição e Trajectória dos Segmentos
Ø ¥
Ø ¥
£
£
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
60
Exterior dos MS (representadas na Figura 5 pelos símbolos ø, ¥ e £,
respectivamente).
No que se refere às variantes da Técnica de Bruços utilizadas, na Figura 6
podemos verificar que não existem DES entre os dois géneros. No entanto,
pode-se dizer que se verificou uma tendência do género masculino para a
Variante Formal e do género feminino para a Variante Natural. Em relação aos
restantes nadadores, estes apresentam-se repartidos de igual forma pela
Variante Natural e Natural com recuperação aérea; enquanto as nadadoras
distribuem-se, por ordem decrescente, pela Variante Formal e Natural com
recuperação aérea.
Quanto ao padrão de sincronização entre MS e MI, podemos verificar que
existem DES entre os dois géneros na sincronização sobreposta. No que se
refere às DES entre tipos de sincronização podemos referir que, no género
feminino, a sincronização descontínua apresenta DES face à sincronização
contínua e a sobreposta; e no género masculino a sincronização descontínua
apresenta valores estatisticamente significativos quando comparada com a
contínua, assim como a sobreposta quando comparada com a contínua
(representadas na Figura 6 pelos símbolos ø, ¥ e £, respectivamente). Desta
forma, os nadadores optam pela sincronização descontinua e sobreposta,
enquanto as nadadoras usam preferencialmente a sincronização descontínua
ou a contínua.
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
61
Figura 6. Percentuais de ocorrências dos tipos de Variantes e Sincronização entre MS e MI observados na Técnica de Bruços. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual. Legenda: * representa uma diferença estatisticamente significativa para as variáveis em causa (p<0.05); ø, ¥ e £, DES entre categorias técnicas.
Na Figura 7, não existem diferenças entre os dois géneros nas várias
categorias técnicas e fases do ciclo motor subaquático. Relativamente às DES
entre as categorias técnicas, podemos referir que, no género masculino, a
componente Acção Descendente dos MS apresenta DES em relação à Acção
Ascendente dos MS, assim como para as restantes componentes que
apresentam valores abaixo do percentil 30. Quanto ao género feminino, a
componente Cabeça apresenta DES em relação ao Equilíbrio, assim como
para as restantes componentes que apresentam valores abaixo do percentil 22
(representadas na Figura 7 pelos símbolos ø e ¥, respectivamente).
Ø ¥
Ø ¥ £
* Ø £
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
62
Figura 7. Percentagem de erros técnicos observados para as diferentes fases e componentes técnicas da Técnica de Crol. Os resultados são apresentados por subgrupo sexual. Legenda: ø e ¥, DES entre categorias técnicas; Total PTS - Categoria que abarca todos os parâmetros relativos à Posição e Trajectória dos Segmentos.
Por último, estão presentes na Figura 8 os resultados relativos aos tipos de
sincronização entre MS e Ml e entre MS e MS utilizados pelos nadadores da
presente amostra onde podemos verificar que não existem DES entre os dois
géneros. No entanto, é possível observar uma clara preferência
(estatisticamente significativa) dos nadadores de ambos os géneros pela
utilização de 6 batimentos de Ml por ciclo de MS, em detrimento da realização
de 4 ou 2 batimentos. Quanto à sincronização dos MS, existe também uma
evidente preferência (estatisticamente significativa) quanto à sincronização
Alternada, em ambos os géneros (72% género masculino e 78% género
feminino). Os restantes nadadores da amostra utilizam apenas a sincronização
Semi-sobreposta, não havendo assim, nenhum nadador a usar a sincronização
Sobreposta.
Ø
Ø
¥
¥
Posição e Trajectória dos Segmentos
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
63
Figura 8. Percentuais de ocorrências dos tipos de sincronização entre MS e MI e entre MS e MS observados na Técnica de Crol.
____________________________________________APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
64
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
65
6 – Discussão dos Resultados
Através da observação dos resultados apresentados nas figuras anteriores e
dos dados que sustentam a literatura, pode-se referir que o intervalo percentual
de ocorrência de erros técnicos parece ter elevado valor, tendo em conta o
facto dos sujeitos da amostra serem nadadores de competição e, sobretudo,
fazerem parte de uma selecção regional. Apesar da insuficiência de valores
comparativos existentes na literatura, podemos no entanto, comparar com um
estudo de Soares et al. (1998) cuja amostra foi constituída por 62 nadadores
juvenis (32 género masculino e 33 género feminino) mas que apresenta
diferentes características quanto ao número de unidades de treino semanais (8
a 9 sessões/semana). Neste referido estudo, foi igualmente considerado
elevado o intervalo percentual de erros obtido para a totalidade da amostra.
Outro estudo semelhante elaborado por Fernandes (1999), sendo constituído
por uma amostra mais significativa (101 nadadores do escalão etário pré-júnior:
48 género masculino e 53 género feminino), e de conter características
semelhantes ao estudo de Soares et al. quanto ao número de unidades de
treino semanais (8 sessões/semana), apresentou um inferior intervalo
percentual de erros para a totalidade da respectiva amostra.
Esta avaliação qualitativa da técnica, sendo um instrumento utilizado
comummente no dia a dia do treino, apoia-se apenas na observação simples
dos movimentos dos nadadores assumindo um carácter muitas vezes
subjectivo. Assim, segundo Soares et al. (2001), diferentes avaliadores com
características semelhantes no que respeita a experiencia desportiva,
profissional e formação académica, apresentam resultados razoavelmente
semelhantes quando realizam avaliações qualitativas da técnica de nado
baseadas em registos vídeo e listas de verificação. Entendendo e aceitando a
variabilidade interindividual no desempenho técnico dos nadadores, as
diferenças encontradas entre estes avaliadores serão decorrentes do cunho
pessoal que cada nadador coloca no nado de cada uma das técnicas e da
interpretação que cada um faz do gesto técnico ideal, o que não sendo erro
técnico, afasta o seu desempenho, mais ou menos, do modelo de nado de
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
66
referência. Dizendo isto de forma mais simples, o entendimento do que é o
melhor gesto para cada um dos nadadores pode ser diferente para cada
avaliador, o que justifica as diferenças nos resultados.
Apesar de o modelo técnico de avaliação seguido ter sido idealizado para
nadadores com a sua formação já terminada, com estes resultados podemos
detectar uma elevada semelhança entre os valores percentuais obtidos no
nosso estudo e no estudo de Soares et al. (1998). No entanto, todos poderão
ser explicados pela tradicional tendência de orientação do processo de treino
de uma forma dominantemente condicional e bioenergética e não tanto
vocacionada para a optimização biomecânica do gesto (Vilas-Boas, 1991b).
Segundo Navarro e Arsenio (1999), o treino da técnica estará continuamente
ligado ao rendimento, ocupando um lugar proeminente e diferenciado nas
distintas etapas da evolução desportiva. Outro factor poderá estar relacionado
com as diferentes idades cronológicas e consequentemente com os níveis
maturacionais de cada sujeito visto passarem por idades com um elevado
desenvolvimento físico e psíquico-social.
Na Técnica de Costas verificou-se uma tendência para um maior percentual de
incorrecções técnicas em ambos os géneros. Este mesmo facto sucedeu no
estudo elaborado por Fernandes (1999), onde o mesmo autor referiu que, na
sua opinião, esta superior percentagem de erros era devido ao facto da técnica
de Costas ser a única técnica que não possibilita aos nadadores a observação
das suas acções motoras subaquáticas. No entanto, segundo Colwin (1998),
apesar de os nadadores não conseguirem observar a acção dos seus MS,
conseguem observar e controlar a sua posição corporal. Segundo esta
afirmação, acreditamos que este facto poderá fazer com que se verifique uma
tendência dos nadadores para a realização de um dos erros mais frequentes
na técnica de Costas, isto é, colocação do “queixo ao peito”, que
posteriormente levará à posição “sentado”, ao afundamento da bacia, aos MI
profundos e consequentemente, ao aumento do arrasto hidrodinâmico. A
técnica de Crol apresenta-se como a segunda técnica de nado com uma
tendência para um elevado número de erros, no entanto, é a técnica mais
utilizada no processo de treino e ao longo da preparação dos nadadores
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
67
devendo por isso, na nossa opinião, apresentar um menor percentual de erros
técnicos.
Relativamente a Mariposa, por ser uma técnica simultânea, é geralmente
considerada, como uma técnica de mais difícil execução devido às dificuldades
condicionais que apresenta e ainda às dificuldades relacionadas com a
correcta sincronização das acções dos MS e dos MI (Fernandes, 1999). Assim,
quando comparada com as restantes, apresenta-se como a menos económica
em termos de eficiência, uma vez que para a mesma velocidade horizontal
média, o dispêndio energético é superior, despendendo energia suplementar
para vencer forças de inércia e, ciclo a ciclo, reacelerar a massa do nadador e
a massa de água que ele transporta (Holmér, 1974; Vilas-Boas, 1993).
Quanto à técnica de Bruços, apesar de também apresentar dificuldades ao
nível coordenativo quanto à sincronização temporal das diferentes acções
motoras do MS e dos MI de forma a minimizar as flutuações intracíclicas da
velocidade, foi a técnica onde se observou uma menor tendência para a
incidência percentual de erros técnicos. Assim, por estes motivos, julgamos
que os resultados do presente estudo relativamente às técnicas simultâneas,
poderão ser justificados pela importância que a comunidade técnica revela
nestas técnicas, de forma a optimizar o rendimento do nadador, minimizando o
mais possível os erros e falhas técnicas.
No que se refere à não existência de DES entre as quatro técnicas de nado,
quer no subgrupo masculino quer no subgrupo feminino, acreditamos que o
ensino integrado e progressivo de todas a técnicas influencie estes resultados,
assim como a exercitação diária das mesmas ao longo do processo de treino.
Apesar dos nadadores da amostra não serem nascidos em anos iguais,
pertencem todos ao mesmo escalão etário competitivo, o que significa que
estes não são agrupados de acordo com a idade cronológica. O critério de
agrupamento de jovens nadadores através do seu estatuto maturacional, 13 e
12 anos de idade cronológica (nadadores e nadadoras, respectivamente)
segue a lógica evidenciada por alguns autores (Malina e Bouchard, 1991), os
quais referem que a puberdade ocorre mais cedo dois anos (em média) nas
raparigas do que nos rapazes, tendo sempre em conta que existem excepções
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
68
à regra, pois a variabilidade individual do processo maturacional é ponto
assente (Sobral, 1988; Malina e Bouchard, 1991).
No que se reporta especificamente à Técnica de Mariposa, aferimos que a
categoria Movimento Ondulatório apresenta uma tendência para uma
percentagem mais elevada de ocorrência de incorrecções técnicas
comparativamente com a categoria Total PTS. Dentro da primeira categoria
referida, a Ondulação Inapropriada (insuficiente) foi o parâmetro técnico que
contribuiu para a sua elevada valorização. Relativamente a esta categoria
técnica, sabemos que o corpo deve estar o mais horizontal possível, com a
cabeça em posição natural no prolongamento do tronco durante as fases mais
propulsivas do trajecto motor dos MS, a anca deve dirigir-se para cima e para a
frente durante a primeira AD dos MI e a força da segunda AD dos MI não
deverá ser tão grande que eleve a anca acima da superfície da água, visto
interferir com a recuperação dos MS, nem tão pequena que não permita manter
a anca à superfície da água (Costill et al., 1992 e Maglischo, 2003). Segundo
os autores, estas características têm um papel importante na diminuição da
intensidade da força de arrasto hidrodinâmico oposta ao deslocamento do
nadador. Dentro da segunda categoria técnica referida, os parâmentros que,
por ordem decrescente, apresentam uma tendência para maior incidência de
erros, são a Acção Lateral Exterior e Acção Descendente, a Acção Lateral
Interior e a Acção Ascendente dos MS. Segundo Costill et al. (1992), estas
duas últimas fases apresentam-se como os pontos críticos da acção propulsiva
da técnica de Mariposa.
Das poucas categorias técnicas em que o subgrupo sexual masculino
apresenta uma tendência para um número de erros superior ao do subgrupo
feminino, podemos referir a Acção Ascendente dos MS e a Acção dos MI. Na
primeira categoria, o parâmetro técnico que contribuiu para a sua elevada
valorização foi o Trajecto Subaquático demasiado curto, o que faz com que os
nadadores não beneficiem correctamente da segunda fase mais propulsiva da
acção dos MS (Costill et al., 1992 e Maglischo, 2003). Segundo Maglischo
(1993), esta fase deve ser inicialmente orientada para fora até que as mãos se
encontrem à largura da anca e posteriormente, orientada para cima até à
emersão das mesmas e o início da recuperação aérea. Quanto à segunda
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
69
categoria, este facto deve-se em grande parte, não à falta de força dos
nadadores mas à amplitude de batimento exagerada e ao trajecto motor
assimétrico efectuado pelos mesmos.
Relativamente à Técnica de Costas, no que se refere ao número de erros
existentes entre géneros, os nadadores apresentam em praticamente todos os
parâmetros (à excepção da entrada dos MS), uma tendência para valores
superiores em relação às nadadoras. Quanto às diferenças entre os dois
subgrupos, estas são estatisticamente significativas na 1ª Acção Descendente
dos MS e apresentam ainda uma tendência bastante elevada na 2ª Acção
Descendente dos MS. Através da observação e recolha dos dados da amostra
acreditamos que as diferenças apresentadas na 1ª Acção Descendente dos
MS se devem ao facto de, grande parte dos nadadores, “empurrarem” a água
directamente para baixo perdendo assim o alinhamento horizontal que por sua
vez leva a que a propulsão tenha por base o arrasto propulsivo em detrimento
da força ascensional; e ainda o cotovelo caído perdendo força propulsiva
efectiva. Apesar de esta fase ser considerada pouco propulsiva, o seu objectivo
é colocar o MS em posição para, posteriormente, realizar força propulsiva.
Quanto à tendência para um elevado número de erros existente entre géneros
na 2ª Acção Descendente dos MS, estes poder-se-ão dever à realização do
trajecto motor com os MS em extensão e com uma dominância antero-posterior
(Maglischo, 1993). Segundo o referido autor, estas faltas são mais notórias nos
nadadores com pouca experiência e com um deficit no suporte muscular, que é
o caso da nossa amostra. Segundo Chollet (1990), estas são as fases mais
propulsivas do trajecto motor dos MS. No estudo realizado por Fernandes
(1999), podemos verificar resultados bastante semelhantes nesta fase do
trajecto motor, à excepção da superior incidência de erros técnicos no género
feminino e inferior no género masculino.
Ainda na técnica de Costas, podemos verificar que o Equilíbrio apresenta uma
tendência para uma percentagem mais elevada de ocorrência de incorrecções
técnicas comparativamente com a categoria Total PTS. Dentro da primeira
categoria referida, a Rotação Longitudinal do Tronco Incorrecta (insuficiente) foi
o parâmetro técnico que contribuiu para a sua elevada valorização.
Relativamente a esta categoria técnica, sabemos que a rotação do corpo não
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
70
deve exceder os 45°, revelando-se importante uma vez que facilita as acções
da fase aquática dos MS, a fase de recuperação, a acção equilibradora dos MI,
e ainda na manutenção do alinhamento lateral. Os inúmeros erros técnicos
observados em Costas podem ser devidos ao elevado número de incorrecções
na Rotação Longitudinal do Tronco e à elevada existência de Desvios Laterais
da Anca causados, nomeadamente, por uma Postura/Orientação Incorrecta da
Mão na entrada (Costill et al., 1992). Outro facto que contribui bastante para o
elevado número de ocorrências de faltas nesta categoria técnica é a dificuldade
em obter uma posição tão horizontal quanto possível, verificando-se algumas
situações de afundamento da bacia (Bacia Muito Baixa) em ambos os géneros,
devido, nomeadamente, ao posicionamento da cabeça em flexão (Maglischo,
1993). Costill et al. (1992) salientam que as dificuldades sentidas pelos
nadadores quando utilizam a Técnica de Costas se resumem em grande parte,
ao facto de terem de se posicionar em decúbito dorsal, o que os força a realizar
acções segmentares laterais dos MS em vez de as realizar sob o corpo.
Relativamente à categoria técnica Total PTS, o parâmetro que aparece com
maior valorização em ambos os géneros é a 1ª Acção Descendente. Esta
valorização deve-se, sobretudo, ao facto dos nadadores realizarem
frequentemente uma 1ª Acção Descendente incompleta. Costill et al. (1992),
faz referência a este erro técnico, dizendo que os nadadores tendem
erradamente, a empurrar a água no sentido antero-posterior imediatamente
após a entrada do MS.
Relativamente ao número de fases propulsivas do trajecto motor subaquático
dos MS, os resultados encontrados na nossa amostra mostram que os
nadadores, ao realizam 3 fases propulsivas, descuram o efeito propulsivo da
última fase ascendente após a 2º AD dos MS. Costill et al. (1992) referem que
nem todos os nadadores realizam este quarto tempo propulsivo e que,
curiosamente, alguns obtêm propulsão durante esta fase sem terem
consciência disso. Por seu lado, Maglischo (1993) realça o facto de um grande
número de nadadores especialistas na Técnica de Costas que utilizam o quarto
tempo propulsivo, possuem uma característica anatómica que lhes traz
vantagem propulsiva, isto é, a hiperextensão do MS decorrente da laxidez da
articulação do cotovelo.
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
71
Relativamente à sincronização entre MS, verificamos que os resultados por nós
encontrados na totalidade da amostra, estão de acordo com Chollet (1997), em
que o autor evidencia que na Técnica de Costas, a única sincronização que se
justifica é a Alternada, enquanto em Crol a sincronização sobreposta e semi-
sobreposta também têm as suas vantagens. Por outro lado, Navarro et al.
(1990) e Colwin (1998) referem que a sincronização semi-sobreposta é a ideal,
pois possibilita a continuidade da acção propulsiva dos MS e, desta forma,
evita que a desaceleração seja maior. Quanto à sincronização dos MS e MI,
Costill et al. (1992) e Maglischo (1993) referem que todos os costistas de nível
mundial, quase sem excepção, utilizam 6 batimentos de Ml por ciclo de MS.
Esta sincronização verificasse, também, na grande maioria dos nadadores
infantis constituintes da nossa amostra.
No que se reporta especificamente à Técnica de Bruços, aferimos que a
categoria Posição/Movimento do corpo e da Bacia apresenta uma tendência
para uma percentagem mais elevada de ocorrência de incorrecções técnicas
comparativamente com a categoria Total PTS. Quanto à primeira categoria
referida, o parâmetro técnico que contribuiu para a sua elevada valorização foi
a Amplitude Incorrecta do Movimento Ondulatório. Relativamente a esta
categoria técnica, sabemos que o movimento ondulatório na técnica de Bruços
varia de acordo com os três tipos de variantes, ou seja, no Bruços Formal, o
tronco deve permanecer numa posição tão horizontal e estável quanto possível
durante todo o ciclo gestual; enquanto no Bruços Natural, o corpo deve assumir
um movimento ondulatório de orientação caudal que implica uma maior
amplitude de movimentos e acções propulsivas dominantemente oblíquas e
transversais e, por fim, no Bruços Natural com recuperação aérea dos MS, o
movimento ondulatório do corpo deve evidenciar uma acentuação céfalo-
caudal mais pronunciada do que no Bruços Natural (Vilas-Boas, 1993).
Relativamente à categoria técnica Total PTS, os parâmetros que aparecem
com maior valorização em ambos os géneros encontram-se inseridos na acção
dos MI, ou seja, por ordem decrescente de número de erros técnicos,
Recuperação, ALI e AD dos MI. Segundo Fernandes (1999), a acção dos Ml é
considerada, de uma forma unânime, como o gesto técnico mais difícil e anti-
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
72
natural desta técnica de nado, assim como lhe é atribuída um papel
fundamental no que se refere à propulsão e sincronização global da técnica.
Estes resultados parecem sugerir que, à semelhança dos obtidos por Soares et
al. (1998) e Fernandes (1999), os treinadores prestam maior atenção a acção
dos MS do que à correcção da acção dos MI.
Assim, sendo a AD e a mudança de orientação dos pés (de rotação externa
para rotação interna) dois momentos bastante propulsivos na acção dos MI,
acreditamos que a fase que se segue (ALI) também deve ser potenciada,
sendo considerada como uma fase muito importante na acção global dos MI.
Posto isto, de acordo com o registo da nossa amostra consideramos que
deverão ser evitados erros técnicos como as Superfícies plantares juntas no
final da ALI e trajectos motores assimétricos. Quanto à Recuperação dos MI e
tendo em conta que é a fase que apresenta um superior número de erros no
presente estudo, deverão ser evitados erros como a Recuperação com flexão
acentuada da anca ou a recuperação com afastamento exagerado dos joelhos,
de forma a torna-la menos resistiva. Algumas das incorrecções técnicas
referidas neste parágrafo poderão ter como explicação uma falta de
flexibilidade em articulações chave do movimento dos Ml (e.g. articulação tibio-
tarsica e articulação do joelho), à semelhança dos resultados obtidos por
Soares et al. (1998) e Fernandes (1999).
Quanto ao número de erros técnicos, além da acção dos MI, gostaríamos ainda
de fazer referência, à elevada tendência apresentada pelo género masculino na
Acção Lateral Interior dos MS, visto ser a acção mais propulsiva dos MS (Vilas-
Boas, 1993). Os parâmetros técnicos que mais contribuiram para estes
resultados foram: Acção Lateral Interior Incompleta e Postura/Orientação
Incorrecta das mãos, o que traduz que os nadadores da nossa amostra não
terminam uma fase do trajecto motor dos MS que possui uma capacidade
excepcionalmente eficaz de produção de força propulsiva (Maglischo, 1993).
Quanto às diferenças entre os dois subgrupos na Acção Lateral Interior dos
MS, estas não são estatisticamente significativas mas apresentam uma
tendência bastante elevada.
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
73
No que se refere ao tipo de Variantes utilizadas no presente estudo, podemos
verificar que foram usadas as três variantes técnicas geralmente utilizadas
pelos nadadores, as quais estão claramente definidas na literatura (cf.
Maglischo, 1993; Vilas-Boas, 1993), ou seja, Bruços Formal, Bruços Natural e
Bruços Natural com recuperação aérea. Quanto à distribuição das variantes da
Técnica de Bruços por género, verificamos a preferência de metade da amostra
do género masculino pela variante Formal, enquanto no género feminino o
mesmo se verifica mas desta vez pela variante Natural. Estes resultados são
semelhantes aos obtidos por Fernandes (1999). Segundo Colman et al. (1992),
o facto das nadadoras apresentarem níveis de flexibilidade superiores na zona
lombar da coluna vertebral poderá ser uma das razoes pelas quais as mesmas
são melhores sucedidas no Bruços natural (o qual apresenta um movimento
ondulatório do corpo bastante acentuado). Corroborando esta afirmação, Vilas-
Boas (1997) sugere também, uma melhor adaptabilidade do Bruços natural às
características corporais femininas. A variante Natural com recuperação aérea,
apesar de pouco frequente e de apresentar deslocamentos das mãos mais
tortuosos do que, por exemplo, o Bruços Natural (Vilas-Boas, 1993), podemos
verificar a utilização da mesma em alguns dos nadadores do nosso estudo.
Relativamente ao tipo de Sincronização entre MS e Ml utilizado nesta técnica,
verificamos que no género masculino as preferências distribuem-se
equitativamente entre a sincronização Descontínua e a sincronização
Sobreposta, não tendo a recuperação contínua obtido a preferência de nenhum
nadador. Quanto ao género feminino, verificamos a preferência de grande parte
da amostra pela sincronização descontínua, e a restante pela sincronização
contínua, visto a sobreposta não ter obtido a preferência de nenhuma
nadadora. Na opinião de Maglischo (1993) e Cruchinho (1997), a Sincronização
Sobreposta é a que deverá ser adoptada de forma a eliminar, ou pelo menos
reduzir, o período de desaceleração entre o final da fase propulsiva da acção
dos Ml e o início da fase propulsiva da acção dos MS.
No que se reporta especificamente à Técnica de Crol, a categoria que se
apresenta mais valorizada em termos de ocorrência de erros técnicos é a Total
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
74
PTS, em relação às outras duas categorias, Equilíbrio e Respiração. Quanto à
primeira categoria referida, os parâmetros técnicos mais valorizados em termos
de ocorrência de erros são a Cabeça, a Acção Descendente dos MS e a
Entrada dos MS. Na Cabeça, o aspecto técnico que contribuiu para a sua
elevada valorização foi a Incorrecta Posição da mesma presente em ambos os
géneros. Na Acção Descendente dos MS, a sua elevada valorização foi
causada por erros técnicos como AD muito curta; Cotovelo baixo, o que faz
com que o antebraço empurre a água directamente para baixo diminuindo a
força propulsiva efectiva e por conseguinte, haja perda de alinhamento
horizontal. Segundo Maglischo et al., 1988, esta fase é considerada como uma
das fases do trajecto subaquático dos MS mais criticas em termos de eficácia
propulsiva. Por outro lado, Costill et al. (1992) referem que a AD não é uma
acção propulsiva, tendo, no entanto, o papel muito importante de preparar o
posicionamento do MS para a acção propulsiva que se lhe segue, a ALI. Na
Entrada dos MS, os aspectos técnicos que contribuiram para a sua elevada
valorização foram a Entrada com o MS em extensão e a Postura/Orientação
incorrecta da mão. Relativamente a esta categoria técnica, sabemos que a
entrada da mão na água deve ser feita com o MS flectido, no prolongamento do
ombro de forma a provocar a menor turbulência e arrasto de onda. Depois de
entrar, acontece o deslize, em que se dá a extensão do cotovelo em imersão e
o adiantamento do ombro do mesmo lado.
Relativamente às diferenças existentes entre categorias técnicas, verificaram-
se DES entre a Acção Descendente e a Acção Ascendente dos MS no género
masculino. No entanto, na AA dos MS podemos observar que as nadadoras
apresentam uma maior ocorrência de erros técnicos do que os nadadores. Este
facto parece ser justificado por uma notória diferença na capacidade de força
muscular, sendo as nadadoras claramente deficitárias neste campo (Maglischo,
1993). Estes resultados também foram observados por Soares et al. (1998) e
Fernandes (1999). Segundo Costill et al. (1992), a AA dos MS é a fase do
trajecto subaquático com maior capacidade propulsiva efectiva, o que implica
que as nadadoras do presente estudo estão a incidir em erros claramente
influenciadores da sua velocidade de nado.
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
75
Em relação à sincronização dos MS e MI, verifica-se uma preferência
(estatisticamente significativa) dos nadadores de ambos os géneros pela
sincronização de 6 batimentos de MI por ciclo de MS, em relação aos 4 e 2
batimentos de MI por ciclo de MS. Segundo Costill et al. (1992), a
sincronização de 2 acções de MI por ciclo de MS é mais utilizada por
nadadores de distância, nomeadamente pelas nadadoras. A justificação da
preferência das nadadoras em oposição à utilização dos 6 batimentos por ciclo
de MS usada mais pelos nadadores, deve-se à facilidade que as primeiras têm
em manter os Ml à superfície devido à sua superior capacidade de flutuação.
Pelo contrário, os nadadores necessitam de ter um ritmo de MI bastante
superior para evitar o afundamento dos mesmos devido ao seu superior peso
especifico relativo. Quanto à sincronização dos MS, os nadadores do presente
estudo optam maioritariamente pela sincronização Alternada, os restantes
optam pela sincronização Semi-sobreposta, visto a Sobreposta não ter obtido a
preferência de nenhum nadador. Estes resultados estão de acordo com a
literatura da especialidade (Chollet, 1990 e Costill et al., 1992).
________________________________________________DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
76
_______________________________________________________________CONCLUSÕES
77
7 – Conclusões
Da análise efectuada sobressaem as seguintes conclusões fundamentais:
1) Os nadadores Infantis estudados apresentam um intervalo percentual de
ocorrência de erros técnicos elevado, traduzindo uma carência em programas
de treino orientados para a optimização biomecânica do gesto técnico.
2) Nas quatro técnicas convencionais de nado, não existem DES relativas ao
número de erros técnicos entre géneros.
3) Existe uma tendência para uma superior percentagem de erros técnicos na
Técnica de Costas no género masculino.
4) A Técnica de Costas apresenta uma tendência para um percentual de
incorrecções técnicas superior em ambos os géneros. Em ordem decrescente
de percentagem de erros técnicos seguem-se-lhe as Técnicas de Crol,
Mariposa e Bruços.
5) A Técnica de Mariposa apresenta um percentual elevado de ocorrência de
erros na categoria técnica Movimento Ondulatório, em ambos os géneros.
6) Na Técnica de Costas existem DES entre os dois géneros quando nos
referimos à 1ª Acção Descendente dos MS. Nesta mesma técnica, a totalidade
da amostra realiza 3 fases propulsivas no trajecto motor subaquático dos MS,
facto que descura o efeito propulsivo da última fase ascendente dos MS.
7) De uma forma geral, os nadadores Infantis, enquanto grupo, tendem a
apresentar falhas técnicas nos pontos críticos do trajecto subaquático, isto é,
nas fases da acção dos MS mais propulsivas ou nas fases que as precedem
(por exemplo, ALI em Mariposa, 1ª AD e 1ª AA em Costas, e AD e ALI em
Crol). A Técnica de Bruços apresenta-se como uma excepção, uma vez que os
erros técnicos se situam, sobretudo, na acção propulsiva dos MI (por exemplo,
ALI e Recuperação).
8) Á semelhança do observado em nadadores de classe mundial, os
nadadores do presente estudo utilizam diferentes variantes da Técnica de
_______________________________________________________________CONCLUSÕES
78
Bruços, preferindo, no entanto, o Bruços Formal (género masculino) e o Bruços
Natural (género feminino). Relativamente ao tipo de Sincronização entre MS e
MI, verificamos uma preferência das nadadoras pela sincronização
Descontínua, enquanto os nadadores apresentam as sincronizações
Descontínua e Sobreposta com valores de preferência equitativos.
9) Na técnica de Crol e Costas, a grande maioria dos nadadores Infantis
optam pela utilização de 6 batimentos de MI/ciclo de MS, assim como uma
sincronização alternada entre MS e MS em ambos os géneros (preferências
estatisticamente significativas).
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
79
8 – Referências Bibliográficas
Alves, F. (1995). Economia de nado e prestação competitiva – determinantes
mecânicas e metabólicas nas técnicas alternadas. Tese de Doutoramento.
Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
Alves, F. (1996). Economia de nado, técnica e desempenho competitivo nas
técnicas alternadas. Natação, V (28): separata.
Alves, F. (1997). O desenvolvimento dos factores de desempenho competitivo
no jovem nadador. 2º Seminário de Natação. Motrijúnior, FMH. Lisboa.
Alves, F. (1998). O modelo biomecânico das técnicas de nado no século XXI:
as técnicas alternadas. In: A. José Silva e J. Campaniço (eds.). Actas do I
Seminário Internacional de Natação, pp. 9-35. Universidade de Trás-dos-
Montes e Alto Douro, Vila Real.
Arellano, R., Térres-Nicoli, J. M e Ridondo, J. M. (2006). Fundamental
hydrodynamics of swimming propulsion. Revista Portuguesa de Ciências do
Desporto 6 (Supl. 2): 15-22.
Bachman, J. (1983). Three Butterfly pulls. Swimming Technique. 29(1): 23-25.
Barbosa, T. M. (2000). Análise tridimensional da cinemática da técnica de
Mariposa ao realizarem-se ciclos de inspiração frontal, ciclos de inspiração
lateral e ciclos não inspiratórios. Dissertação apresentada à Faculdade de
Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto para a obtenção de
grau de Mestre em Ciências do Desporto, Porto.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
80
Barbosa, T., Sousa, F., Vilas-Boas, J. P. (1999). Kinematical modifications
induced by the introduction of lateral inspiration in Butterfly stroke. In: Keskinen,
K., Komi, P., Hollander, P (Eds.), Biomechanics and Medicine in swimming VIII.
pp.15-20. Gummerus Printing, Jyvaskyla
Barbosa, T. M., Fernandes, R. J., Keskinen, K. L., Colaço, P., Cardoso, C.,
Silva, J., Vilas-Boas, J. P. (2006). Evaluation of the energy expenditure in
competitive swimming strokes. Int J Sports Med. 27: 894-899.
Barthels, K. M e Adrian, M. J. (1971). Variability in the dolphin kick under four
conditions. In: Lewillie e J. P. Clarys (Eds.), First International Symposium on
“Biomechanics in Swimming, Waterpolo and Diving. pp. 105-118. Université
Libre de Bruxeles, Laboratoire de L’ effort. Bruxelles.
Barthels, K. M. e Adrian, M. J. (1975). Three dimensional spatial hands patterns
of skilled Butterfly swimmers. In: L. Lewillie e J.P. Clarys (eds.). Swimming II,
pp. 154-160. University Park Press, Baltimore.
Bompa, T. (1999). Periodization: Theory and Methodology of Training. Human Kinetics.
Castelo, J.; Barreto, H.; Alves, F.; Mil-Homens, P.; Carvalho, J.; Vieira, J.
(1996). Metodologia do treino desportivo. Edições FMH - Universidade Técnica
de Lisboa. Lisboa
Cazorla, G. (1984). De l’evaluation en activité physique et sportive. Travaux et
recherches en EPS Nº7, Evaluation de la valeur physique. INSEP, Paris.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
81
Cazorla, G. (1993). Tests specifiques d’evaluation du nageur. Association pour
la recherché et l’evaluation en activité physique et en sport, Cestas.
Chollet, D. (1990) Approche scientifique de la notation sportive, pp 123-130
Editions Vigot, Paris.
Chollet, D. (1997). Approche scientifique de la Natation Sportive. Editions Vigot.
Paris.
Colman, V.; Persyn, U. (1991) Diagnosis of the movement and physical
characteristics leading to advice in breaststroke. In: Continental corse in
swimming for coaches, 1- 28, FINA-COI-DSV.
Colwin, C. (1998). The backstroke. Swimming Tech., 34 (4): 5-8.
Colwin, C. M. (1992). Swimming into the 21st century. Leisure Press. Champaign.
Illinois.
Costill, D.L. (1985). The 1985 C.H. Mc Cloy research lecture practical problems
in exercise physiology research. Res. Quart., 56 (4): 378-384.
Costill, D. L.; Maglischo, E. W.; Richardson, A. (1992). Swimming. Blackwell
Scientific Publications, Oxford.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
82
Couto, F. (2000). Caracterização do Treino de Natação do escalão de Infantis
em Portugal. Dissertação de licenciatura. Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto. Porto.
Craig, A. e Pendergast, D. (1979). Relationships of stroke rate, distance per
stroke and velocity in competitive swimming. Medicine and Science in Sport. 11
(3): 278-283.
Crist, J. (1979). An analytical comparison between two types of Butterfly pull
patterns – the crossover and the keyhole. Swimming Technique. 15(4): 110-
117.
Cruchinho, C. (1997). O treino do brucista – uma abordagem prática.
Comunicações apresentadas ao XX Congresso Técnico – Cientifico da
Associação Portuguesa de Técnicos de Natação, Setubal
Cruz, A. (2003). A Economia de nado para nadadores de ambos os géneros e
de nível desportivo diferenciado. Dissertação de licenciatura. Faculdade do
Desporto da Universidade do Porto. Porto.
Duarte, M. (2000). Cinemática Tridimensional dos Membros Inferiores na
Técnica de Crol. Caracterização do padrão de execução motora dos membros
inferiores a níveis distintos de fadiga. Dissertação de licenciatura. Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto. Porto.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
83
Fernandes, R. (1999). Perfil Cineantropométrico, Fisiológico, Técnico e
Psicológico do nadador Pré-júnior. Dissertação apresentada às provas de
mestrado de alto rendimento no âmbito do Mestrado em Ciências do Desporto,
especialidade de treino de alto rendimento desportivo da Faculdade de
Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto.
Fernandes, R. (2002). Exemplificação de um Protocolo de Avaliação e Controlo
de Treino em Nadadores Jovens. 2ª Edições – Piscinas Municipais de Santa
Maria da Feira. FCDEF-UP, Porto.
Fernandes, R.; Santos Silva, J.V.; Vilas-Boas, J.P. (1988). A importância da
avaliação e controlo do treino em Natação. FCDEF-UP.
Fernandes, R., Santos Silva, J. V., Vilas-Boas, J. P. (1997). Natação: Vivências
Específicas e Conhecimentos Teóricos Básicos Colectânea de Textos.
Documento de apoio à disciplina de Estudos Práticos I – Natação. Associação
de Estudantes FCDEF – UP, Porto.
Fernandes, R.; Carmo, C.; Vilas-Boas, J.P. (2002) Textos de apoio à disciplina
de Metodologia I – Natação, FCDEF-UP.
Fernandes, R., Mouroço, P., Querido, A., Silva, J. V. S. (2003).
Operacionalização de um macrociclo de treino para nadadores jovens. Livro de
resumos do 26º Congresso Técnico-Científico da Associação Portuguesa de
Técnicos de Natação. APTN, Estoril.
Fernandes, R., Aleixo, I., Soares, S., Vilas-Boas, J.P. (2008). Anaerobic Critical
Velocity: A New Tool for Young Swimmers Training Advice (chapter 10).
In: N. P. Beaulieu (edt.), Physical Activity and Children: New Research, pp.211-
223. Nova Science Publishers, Inc. New York. ISBN: 978-1-60456-306-1.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
84
Figueiras, T. (1995). Alterações biomecânicas da técnica de Mariposa ao longo
da prova de 200 m: comparação de nadadores infantis e seniores. Dissertação
de Mestrado em Ciências do Desporto na especialidade de Desporto Alto
Rendimento - Natação. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação
Física da Universidade do Porto, Porto.
Gomes Pereira, J. (1986). Relatório de controlo do treino 1985/86. Federação
Portuguesa de Natação, Lisboa.
Gosalvez, M. (1995). Critérios básicos a tener en cuenta en la planificación del
entrenamiento en nadadores jóvenes. In: El entrenamiento en jóvenes
nadadores, pp.118-114. Instituto Vasco de Educación Física, Victoria-Gasteiz.
Grosser e Neumaier (1986). Técnicas de entrenamiento. Barcelona: Ediciones
Martinez Roca S. A..
Grosser, M.; Bruggeman, P.; Zintl, F. (1989). Alto rendimiento deportivo.
Planificación y desarrolo. Ed. Martinéz roca, Barcelona.
Holmér, I. (1974). Propulsive efficiency of breaststroke and Freestyle swimming.
Eur. J. Appl. Physiol., 33 : 95-103.
Holmér, I. (1983). Energetics and Mechanical work swimming. In: A. P.
Hollander, P. A. Huinjing e G. de Gross (eds.), Biomechanics and Medicine in
Swimming, pp. 154-164. Human Kinetics Publischer, Champaign, Illinois.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
85
Lima, A. B. (2005). Conhecimento de resultados e eficiência no treino da
técnica em natação: concepção, desenvolvimento e avaliação de um sistema
de “biofeedback” para o treino da técnica em nadadores. Dissertação de
Doutoramento no ramo das Ciências do Desporto da Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto.
Maglischo, E.W.; (1993). Swimming Even Faster. Mayfield Publishing
Company, Moutain View, Califórnia.
Maglischo, E.W.; (2003). Swimming Even Faster. Mayfield Publishing
Company, Moutainview, Califórnia.
Malina, R. e Bouchard, C. (1991). Growth, maturation and physical activity.
Human Kinetics Books. Champaign, lllinois.
Marques, A. (2000). Modelação do Crescimento do Desempenho na Natação
Pura Desportiva Portuguesa. Um novo instrumento de medida para a avaliação
e formulação de objectivos (sexo masculino). Dissertação de Mestrado em
Ciências do Desporto na especialidade de Desporto para Crianças e Jovens da
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do
Porto. Porto.
.Miwa, T., Matsuuki, K., Shintani, H., Kamata, E. e Nomura, T. (2006). Unsteady
flow measurement of dolphin kicking wake in sagital plane using 2c-PIV.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto 6 (Supl.2): 64-67.
Navarro, F. (1989). Hacia el Domínio de la Natación. El niño y la actividad física
y deportiva. Gymnos Editorial
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
86
Navarro, F. ; Arsénio, O. (1999). La Natación y su Entrenamiento. Técnica,
Planificação y Análisis Pedagógico. Gymnos Editorial
Navarro, F.; Feal, A. (2001). Planificación y control de entrenamiento en
Natación. Editorial Gymnos.
Oliveira, A. (2001). Modelação do crescimento do desempenho na Natação
Pura Desportiva Portuguesa nas provas femininas de técnicas simultâneas.
Dissertação de licenciatura. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Porto.
Persyn. U.; Vervaecke, (1980). Technical evaluation and orientation for skill in
sprinying for competitive swimmers. In: Psichology of motor behavior. Human
Kinetics Publishers. Champaign, Ilinois.
Persyn, U.; Daly, D.; van Tilborgh, L.; Dessein, M.; Verhetsel, D.; Vervaecke, N.
(1984). Evaluation of elite swimmers (video). Institut voor Lichamelijke
Opleiding, Research Unit “Aquatics”. Audiovisuel Dienst, K.U. Leuven, Leuven.
Proença, J. (1985). Controlo do Treino. Necessidade ou emergência? Horizonte
8: 52-54.
Querido, A. (2002). Modelação do crescimento do desempenho na Natação
Pura Desportiva Portuguesa nas provas femininas de técnicas alternadas e
estilos. Dissertação de licenciatura. Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto. Porto.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
87
Rocha, S. (2006). Caracterização do Treino do Escalão de Formação em
Natação. Dissertação de licenciatura. Faculdade de Desporto da Universidade
do Porto. Porto.
Sanders, R. (1996). Some aspects of butterfly technique of New Zeland Pan
Pacific squad swimmers. In: Troup, J. P., Hollander, A. P., Strasse, D., Trappe,
S. W., Cappaert, J. M e Trappe, T. A (Eds.), Biomechanics and Medicine in
Swimming VII. pp.23-28. E & FN Spon. London.
Sanders, R. (2001a). Applying mechanical concepts to improve mid-pool
swimming. XXIV Congresso Técnico – Científico de APTN (Edição em CD
ROM). Rio Maior.
Sanders, R. (2001b). What we can learn and use from the latest swimming
science research on starts and turns. XXIV Congresso Técnico – Científico da
APTN (Edição em CD ROM). Rio Maior.
Santos Silva, J.V. (1998). Critérios de selecção de valores e sua integração na
via competitiva. Acção de formação do Sporting Clube de Braga – Natação:
Actividade Educativa. Braga
Soares, S.; Fernandes, R.; Santos Silva, J.; Vilas-Boas,J.P. (1998). The
importance of the technical evaluation on the training control in swimming –
Subjective analysis of the swimmers from the Swimming Association of the
North of Portugal. IV World Congress of Notational Analysis of Sport. Faculty of
Sport Sciences and Physical Education, University of Porto, Portugal.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
88
Soares, S.; Fernandes, R.; Carmo, C.; Santos Silva, J.; Vilas-Boas,J.P. (2001).
Avaliação qualitativa da técnica em Natação. Apreciação da consistência de
resultados produzidos por avaliadores com experiência e formação similares.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto 1 (3): 22-32.
Sobral, F. (1988). O adolescente atleta. Colecção Horizonte de Cultura Física,
Livros Horizonte, Lisboa.
Sobral, F.; Barreiros, M (1980). Fundamentos e técnicas de avaliação em
educação física. ISEF-UTL, Lisboa.
Troup, J. P. (1991). A descriptive analysis of the undulation breaststroke
technique in swimming. In: International Center of Aquatic Research – Annual
studies by the International Center for Aquatic Research. pp. 17-123. United
States Swimming Press. Colorado Springs.
Toussaint, H.M. (1992). Performance determining factors in front crawl
swimming. In: D. Maclaren, T. Reilly e A. Lees (eds), Biomechanics and
Medicine in Swimming – Swimming science VI, pp. 13-32. E& FN Spon,
London.
Villanueva, L. (1994). El control del entrenaiento-Teoria y prática.
Comunicaciones Técnicas, 6:7-26. Federación Espanõla de Natación.
Vilas-Boas, J.P. (1987). O mecanismo propulsivo em natação, pp. 11-14.
Provas de aptidão pedagógica e capacidade científica. ISEF-UP, Porto.
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
89
Vilas-Boas, J.P. (1989a). Controlo do treino em Natação: considerações gerais,
rigor e operacionalidade dos métodos de avaliação. Comunicação apresentada
às Jornadas Técnicas Galaico-Durienses de Natação. Corunha, Espanha.
Vilas-Boas, J.P. (1989b). Bases do controlo de treino em natação I. Natação.
F.P.N., 4 (1): 29-35.
Vilas-Boas, J.P. (1990). Questões ético-deontológicas da avaliação da
capacidade de rendimento desportivo. In: J. Bento e A. Marques (eds),
Desporto Ética e Sociedade, pp.183- 190. FCDEF-UP, Porto.
Vilas-Boas, J.P. (1991). Avaliação objectiva da técnica em nadadores: um
método de monitorização das variações da velocidade de nado por ciclo
gestual na técnica de bruços. Resumos do I Congresso Ibérico de Técnicos de
Natação e XIV Congresso da Associação Portuguesa de Técnicos de Natação,
Lisboa.
Vilas-Boas, J.P. (1993). Caracterização biofísica de três variantes da técnica de
bruços. FCDEF-UP, Porto.
Vilas-Boas, J.P. e Duarte, J. A. (1994). Factores de eficiência no treino de
nadadores. Comunicações apresentadas no XVI Congresso Técnico-Científico
da Associação Portuguesa de Técnicos de Natação. APTN, Figueira da Foz.
Vilas-Boas (1996). A Biomecânica na formação de competências do treinador.
Comunicações do XIX Congresso Técnico-Científico da Associação
Portuguesa de Técnicos de Natação. Portimão
________________________________________________REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
90
Vilas-Boas, J.P. (1998). A técnica como base da estrutura de formação do
nadador. V Jornadas Técnico-Científicas, Póvoa de Varzim.
Vilas-Boas, J. P. (2001a). O ensino e aprimoramento das técnicas de bruços e
mariposa. In: 1ª Jornada de natação Feira Viva. Sta. Maria da Feira.
Villanueva, L. (1994). El control del entreinamiento: teoria e pratica.
Comunicationes técnicas. Federation Espanhola de Natacion, 6: 7-26.
____________________________________________________________________ANEXOS
91
9 – Anexos
Nadador Data:
Observador: Meios auxiliares: Sim Não Quais?
S N Observações
MOVIMENTO ONDULATÓRIO Ondulação apropriada
POSIÇÃO/TRAJECTÓRIA DOS SEGMENTOS
Cabeça
Incorrecta colocação da cabeça e ombros na entrada
Membros Superiores
Entrada muito lateral
Entrada muito central
Entrada com violência
Postura/orientação incorrecta das mãos
Acções curtas Acção Lateral Exterior Acção Descendente
Cotovelo baixo
Postura/orientação incorrecta das mãos Trajecto motor muito lateral
Incorrecta flexão dos membros superiores
Trajecto motor assimétrico
Postura/orientação incorrecta das mãos
Trajecto subaquático demasiado curto
Recuperação baixa com contacto com a água Recuperação assimétrica
Membros Inferiores
Extensão dorsal insuficiente do pé Joelhos demasiados afastados Amplitude de batimento exagerada
Trajecto motor assimétrico SINCRONIZAÇÃO
Assíncronia entre o 1º tempo descendente de MI e os MS Assíncronia entre o 2º tempo descendente de MI e os MS Um batimento de MI por ciclo de MS
RESPIRAÇÃO Emersão precoce da cabeça Emersão atrasada da cabeça Imersão tardia da cabeça
Nadador Data:
Observador: Meios auxiliares: Sim Não Quais?
S N Observações
EQUILÍBRIO Desvios laterais da anca Bacia muito baixa
Rotação longitudinal do tronco incorrecta POSIÇÃO/TRAJECTÓRIA DOS SEGMENTOS
Cabeça
Incorrecta posição da cabeça
Membros Superiores
Postura/orientação incorrecta da mão Entrada fora do alinhamento longitudinal do ombro
Apoio com o MS flectido
Postura/orientação incorrecta das mãos 1ª Acção Descendente muito curta Cotovelo baixo
Trajecto motor incorrecto
Postura/orientação incorrecta das mãos Ausência/encurtamento da 1ª Acção Ascendente
Trajecto motor incorrecto
Trajectos motores assimétricos
Postura/orientação incorrecta das mãos
Ausência/encurtamento da 1ª Acção Descendente
Número de fases propulsivas: 3 4
Postura/orientação incorrecta das mãos na saída Recuperação baixa e lateral
Membros Inferiores
Postura/orientação incorrecta dos pés Joelhos demasiados flectidos Flexão exagerada da anca Amplitude de batimento incorrecta
SINCRONIZAÇÃO Entre MS e MI: 6 bat. por ciclo 4 bat. por ciclo Entre MS e MS: sobreposta semi-sobreposta alternada
Nadador
Data: Observador:
Meios auxiliares: Sim Não Quais?
Variante: Formal Natural Outra S N Observações
POSIÇÃO/MOVIMENTO DO CORPO E DA BACIA Colocação incorrecta da bacia Amplitude incorrecta do movimento ondulatório
POSIÇÃO/TRAJECTÓRIA DOS SEGMENTOS Cabeça
Incorrecta profundidade da cabeça Incorrecta posição da cabeça
Membros Superiores
Postura/orientação incorrecta das mãos Amplitude incorrecta da Acção Lateral Exterior
Cotovelo baixo
Postura/orientação incorrecta das mãos Mãos passam a vertical dos ombros Acção Lateral Interior incompleta Acção Lateral Interior lenta
Trajectos motores assimétricos
Recuperação com MS afastados Extensão incompleta dos MS
Membros Inferiores
Postura/orientação incorrecta dos pés
Acção descendente pouco profunda
Acção Lateral Interior incompleta Superfícies plantares juntas no final da ALI
Trajecto motor assimétrico
Recuperação com flexão acentuada da anca Recuperação com rotação externa da coxa
SINCRONIZAÇÃO Entre MS e MI: Contínua Descontínua Sobreposta
RESPIRAÇÃO Emersão precoce da cabeça Emersão atrasada da cabeça Imersão tardia da cabeça
Nadador Data:
Observador: Meios auxiliares: Sim Não Quais?
S N Observações
EQUILÍBRIO Desvios laterais da anca Bacia muito baixa Rotação longitudinal do tronco incorrecta
POSIÇÃO/TRAJECTÓRIA DOS SEGMENTOS
Cabeça
Incorrecta posição da cabeça
Membros Superiores
Postura/orientação incorrecta da mão Entrada fora do alinhamento longitudinal do ombro
Entrada com o cotovelo baixo
Entrada com o MS em extensão
Postura/orientação incorrecta das mãos Acção Descendente muito curta Cotovelo baixo
Trajecto motor incorrecto
Início precoce da Acção Lateral Interior Postura/orientação incorrecta das mãos
Trajecto motor incorrecto
Postura/orientação incorrecta das mãos
Encurtamento da Acção Ascendente
Trajectos motores assimétricos
Postura/orientação incorrecta das mãos na saída
Recuperação baixa e lateral
Membros Inferiores
Postura/orientação incorrecta dos pés Joelhos demasiados flectidos Flexão exagerada da anca Amplitude de batimento incorrecta
SINCRONIZAÇÃO Entre MS e MI: 6 bat. por ciclo 4 bat. por ciclo 2 bat. por ciclo 2 bat. cruzados por ciclo Entre MS e MS: sobreposta semi-sobreposta alternada
RESPIRAÇÃO Postura/orientação incorrecta da cabeça na respiração Mas há pouca rotação do corpo Rotação fora do tempo