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CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DE DOIS TIPOS DE SOLO COM GÊNESE A PARTIR DE GRANITO E DE DIABÁSIO NA ILHA DE SANTA CATARINA (SC) Driele de Jesus Carneiro¹ Geovano Pedro Hoffmann² Angela da Veiga Beltrame³ ¹Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected] ²Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected] ³ Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected] INTRODUÇÃO A Pedologia é um ramo da ciência que investiga a origem e a composição dos solos. Nos últimos 50 anos evoluiu rapidamente, estudando os componentes pedológicos, com enfoque sobre os fatores e processos de formação, as características físicas e químicas, além de sua classificação. A relação com a ciência geográfica ocorre no sentido de que o solo é um dos elementos integrantes da paisagem, exigindo o estudo da interação entre os elementos da biosfera, hidrosfera, atmosfera e litosfera para a sua elucidação (LEPSCH, 2002, p. 175 e BELTRAME e VEADO, 2010, p. 41). De acordo com Lepsch (2002, p. 24), à Pedologia interessa o conjunto específico dos horizontes O, A e B, chamado de solum. Para Venturi (2009, p. 86), a caracterização morfológica de tal conjunto envolve a descrição física, cuja prática permite a delimitação de horizontes e o entendimento sobre a sua interação, possibilitando a realização de inferências sobre os fatores e processos pedogenéticos de sua gênese, além dos atuais funcionamentos e de suas relações com a dinâmica evolutiva da paisagem. A área de estudo desta pesquisa (figura 1) compreende dois perfis de solo que estão situados em vertente da bacia do rio Itacorubi, próximo à rodovia Ademar

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DE DOIS … · 2015-01-26 · CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DE DOIS TIPOS DE SOLO COM GÊNESE A PARTIR DE GRANITO

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CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E IDENTIFICAÇÃO DE DOIS TIPOS

DE SOLO COM GÊNESE A PARTIR DE GRANITO E DE DIABÁSIO NA ILHA

DE SANTA CATARINA (SC)

Driele de Jesus Carneiro¹

Geovano Pedro Hoffmann²

Angela da Veiga Beltrame³

¹Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected]

²Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected]

³ Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – [email protected]

INTRODUÇÃO

A Pedologia é um ramo da ciência que investiga a origem e a composição dos

solos. Nos últimos 50 anos evoluiu rapidamente, estudando os componentes

pedológicos, com enfoque sobre os fatores e processos de formação, as características

físicas e químicas, além de sua classificação. A relação com a ciência geográfica ocorre

no sentido de que o solo é um dos elementos integrantes da paisagem, exigindo o estudo

da interação entre os elementos da biosfera, hidrosfera, atmosfera e litosfera para a sua

elucidação (LEPSCH, 2002, p. 175 e BELTRAME e VEADO, 2010, p. 41).

De acordo com Lepsch (2002, p. 24), à Pedologia interessa o conjunto específico

dos horizontes O, A e B, chamado de solum. Para Venturi (2009, p. 86), a

caracterização morfológica de tal conjunto envolve a descrição física, cuja prática

permite a delimitação de horizontes e o entendimento sobre a sua interação,

possibilitando a realização de inferências sobre os fatores e processos pedogenéticos de

sua gênese, além dos atuais funcionamentos e de suas relações com a dinâmica

evolutiva da paisagem.

A área de estudo desta pesquisa (figura 1) compreende dois perfis de solo que

estão situados em vertente da bacia do rio Itacorubi, próximo à rodovia Ademar

Gonzaga, em área destinada à expansão urbana e ainda não ocupada, no Morro da

Lagoa, porção centro-leste da Ilha de Santa Catarina. O perfil de solo gerado a partir do

granito Itacorubi, que será chamado de perfil 1, têm as coordenadas 27º35’65.53”S e

48º29’27.94”O, e o perfil gerado a partir do diabásio, denominado de perfil 2, têm as

coordenadas 27º35’54.89”S e 48º29’29.01”O (IPUF, 2014).

Figura 1: Mapa geológico simplificado da Ilha de Santa Catarina (SC)

Fonte: Tomazzoli e Pellerin (2008, p. 3) e IPUF (2014).

A vertente em que se encontram os dois perfis de solo é do tipo convexa,

dispersora de águas, voltada para a direção norte. É bem drenada e notam-se apenas

ravinas onde houve corte de relevo. Conforme IPUF (2014), no perfil 1, a declividade

média é de 46,6% e a altitude é de 75 metros, situando-se no terço médio da encosta.

Para o perfil 2, posicionado no terço inferior da vertente, a declividade média está entre

15 e 30%, numa altitude de 33 metros. Em campo, não se observou pedregosidade ao

longo do perfil 1, somente rochosidade na fase de substrato. Já o perfil 2 apresentava

pedregosidade no horizonte C (entre 97 e 116 cm), na forma de seixos e blocos, e

rochosidade com substrato alterado.

A área apresenta dois tipos de formações geológicas. A primeira, e

predominante, é constituída por granito, denominado localmente de granito Itacorubi.

Esta formação está inserida na Suíte Vulcano-Plutônica Cambirela, pertencente ao

embasamento cristalino da região. É uma rocha constituída por monzogranitos e

sienogranitos, de textura equigranular, predominantemente fina. Sua coloração é cinza-

claro, com tons avermelhados e data do ciclo brasiliano pós-tectônico, entre o

proterozoico superior e o eo-paleozoico (CARUSO JR., 1993). De acordo com Bastos

(2004, p. 20), os maciços rochosos da Ilha de Santa Catarina ocupam cerca de 212 km²,

quase a metade (50%) de sua área, sendo o granito a principal expressão geológica.

A outra litologia refere-se ao diabásio, na forma de estrutura de dique, da

formação Serra Geral. Sua origem está associada ao evento subvulcânico do período de

147 a 119 milhões de anos atrás, durante o rifteamento dos continentes africano e sul-

americano, na era Mesozoica. É encontrado com espessuras que variam de alguns

centímetros até uma dezena de metros, geralmente intrusivos nas rochas graníticas

(BASTOS, 2004, p. 22-23). Conforme Tomazzoli e Pellerin (2008, p. 4), o Enxame de

Diques Florianópolis, constituído por formações de diabásio, andesito basáltico e

andesito, é de textura variada, desde afaníticas até pórfiras (mais raras), havendo o

predomínio intergranular fina ou subofítica. A maioria está orientada na direção N10º-

30ºE e, em algumas ocasiões, se intersectam. Os diques de diabásio já identificados

(figura 1) estão concentrados nos maciços rochosos encaixantes do setor centro-norte e

extremo sul da Ilha de Santa Catarina.

Regionalmente, o clima, segundo Thornthwaite, é considerado mesotérmico,

com precipitação distribuída durante todo o ano. Em Florianópolis, devido à sua posição

geográfica, a temperatura média anual é de 20,3ºC enquanto que a precipitação média

anual é de 1405,5 mm (GAPLAN, 1986, p.38), o que favorece o intemperismo das

rochas e a lixiviação do solo. A vegetação original da área, classificada por Bastos

(2004, p. 37), é a Floresta Ombrófila Densa Submontana, do domínio da Mata

Atlântica. Porém, foi suprimida pela atividade agropecuária ao longo do tempo e,

atualmente, é composta por espécies típicas de um processo de sucessão secundária,

incluindo ainda representantes da espécie exótica do gênero Pinus, as quais produzem

material orgânico suficiente para cobrir e ser incorporado aos perfis analisados.

OBJETIVO

O presente trabalho tem por objetivo efetuar a caracterização morfológica de

dois perfis de solo desenvolvidos in situ, um tendo como material de origem o granito

Itacorubi e outro o diabásio. A escolha da área deve-se à proximidade dos dois tipos de

solo, cerca de 234 metros de distância entre um e outro, estarem sob condições

ambientais semelhantes, e, sobretudo, a relevância das duas litologias que são

representativas na Ilha de Santa Catarina.

METODOLOGIA

Inicialmente, houve o planejamento em gabinete dos procedimentos adotados

para a realização do estudo, além de consulta bibliográfica sobre a temática,

especialmente mapas físicos para a identificação das condições ambientais. Foram

também reunidos os materiais e os equipamentos necessários para análise dos perfis de

solo, disponíveis no Laboratório de Pedologia, do Departamento de Geociências, da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A análise do perfil de solo, em campo,

ocorreu em barranco (figura 2), através de sua preparação com enxada, em cerca de 1

metro de largura, até a camada de alterita, cuja profundidade foi medida com o auxílio

da trena. A descrição dos dois perfis seguiu a proposta de Venturi (2009, p.88-98), no

que diz respeito às técnicas de campo em pedologia para a Geografia. As características

estudadas envolveram práticas para a verificação de espessura e transição entre

horizontes, cores, texturas, estrutura e poros. Após a descrição geral do perfil, houve a

coleta das amostras com pá, as quais foram depositadas em sacos plásticos devidamente

identificados e fechados.

Figura 2: À esquerda, local do perfil 1(de solo gerado a partir do granito Itacorubi), e à

direita, local do perfil 2 (gerado a partir de diabásio)

Fonte: Os autores.

Para a determinação precisa da granulometria dos horizontes identificados em

campo, seguiu-se a técnica de peneiramento e pipetagem proposta por Suguio (1973), a

fim de auxiliar na interpretação dos dados de campo e dos mecanismos e processos

pedogenéticos atuantes em cada perfil. A pipetagem da fração argila foi baseada em

tabela de tempo de pipetagem em função da temperatura, profundidade de retirada e

diâmetro das partículas, segundo DNAEE (1970) apud Carvalho (2008, p. 215). Ao

todo, foram processadas sete amostras, sendo quatro do perfil 1 e três do perfil 2, sem

incluir o horizonte C pelo princípio de não ser caracterizado como integrante de

interesse para a análise pedológica. A definição de classe textural para cada amostra foi

realizada a partir de software elaborado por Marciano (2003).

RESULTADOS

Os resultados da análise morfológica do perfil 1, realizada em campo, foram

agrupados na tabela 1. A tabela 2 refere-se aos dados obtidos com a análise

granulométrica das amostras coletadas no perfil 1.

Tabela 1: Aspectos morfológicos do perfil 1

Horizonte Profundidade

(cm) Transição entre

horizontes Cor Textura Estrutura Porosidade

A 0-32 Plana/abrupta

-Seco: 10YR 4/2 (Dark Grayish

Brown) -Úmido: 2.5YR 3/2 (Very Dark Grayish

Brown)

-Tipo: arenosa -Sensação:

sedosidade/ alta aspereza

-Tipo: granular -Tamanho: médio -Grau: fraco -Obs: presença de raízes

Muito pequena (menor que 1

mm)

E 32-133 Plana/gradual

-Seco: 5YR 4/4 (Red Dish Brown) -Úmido: 5YR 4/6 (Yellowish Red)

-Tipo: argilosa -Sensação:

pegajosidade/ alta sedosidade

-Tipo: bloco -Tamanho: muito grande -Grau: moderado

Muito pequena (menor que 1

mm)

B1 133-195 Plana/gradual

-Seco: 7.5 YR 4/6 (Strong Brown)

-Úmido: 7.5YR 3/4 (Dark Brown)

-Tipo: argilosa -Sensação:

pejajosidade/ pouca aspereza

-Tipo: bloco -Tamanho: pequeno -Grau: fraco

Muito pequena (menor que 1

mm)

B2 195-235 Plana/clara

-Seco: 2.5YR 4/6 (Dark Red)

-Úmido: 2.5YR 3/6 (Dark Red)

-Tipo: argilosa -Sensação:

pegajosidade/ sedosidade

-Tipo: bloco -Tamanho: pequeno -Grau: fraco

Muito pequena (menor que 1

mm)

C 235-359 Plana/abrupta ------------------- ------------------- ------------------- -------------------

Fonte: Os autores.

Tabela 2: Proporção das frações granulométricas e classes texturais encontradas nas

amostras retiradas do perfil 1

A (%) E (%) B1 (%) B2 (%) Areia muito grossa 7,370 3,092 8,562 7,020

Areia grossa 15,674 10,701 12,574 9,988 Areia média 7,242 6,506 12,196 4,274 Areia fina 7,464 5,426 8,569 4,245

Areia muito fina 15,879 8,081 5,531 5,234 Silte 31,544 55,866 14,441 23,519

Argila 14,595 10,121 37,546 45,616 Classe textural Franco-arenosa Franco-siltosa Argila-arenosa Argila

Fonte: Os autores.

Observou-se que o horizonte O, de dimensão milimétrica, incorpora a matéria

orgânica junto ao horizonte A, de textura arenosa, enriquecendo-o com húmus, cuja

interação favorece a estrutura e porosidade verificada. O horizonte E, pelas suas cores

mais claras, demonstra lixiviação, especialmente de argila, para os horizontes B1 e B2,

retendo o silte em função do tamanho dos poros.

O horizonte diagnóstico, composto por B1 e B2, é característico de um Bt (B

textural), ou seja, de constituição mineral e subsuperficial que derivou de grande

acumulação ou concentração de argila pelo processo de iluviação, seja pelo material de

origem ou pela infiltração de argila e silte. Além disso, possui mais de 10% da soma das

espessuras dos horizontes sobrejacentes, entre eles um horizonte E, e uma textura muito

argilosa que possibilita o desenvolvimento da estrutura em blocos indo de encontro às

características de solo da EMBRAPA (2006, p. 49-51). O horizonte C ou alterita, com

profundidade entre 235-359cm, não apresenta qualquer tipo de atividade biológica.

A partir dos mecanismos descritos, infere-se que o processo pedogenético que

levou à formação deste solo foi a podzolização, pelo transporte de material coloidal em

solução no solo, tais como argilas, matéria orgânica e/ou óxidos de ferro e alumínio do

horizonte A eluvial, que perde as partículas, para o horizonte B iluvial. De um modo

geral, considera-se que este perfil de solo é profundo (até 235 cm), bem desenvolvido e

maduro, com todos os horizontes presentes, marcantes e de espessuras significativas.

Foi significativo em sua formação o material de origem a partir do granito Itacorubi, as

características da vertente em que está situado, com boa drenagem e vertente voltada

para a direção norte, além do clima mesotérmico, com precipitação bem distribuída

durante o ano.

Portanto, de acordo com a EMPRAPA (2006, p.76-77), este perfil enquadra-se

na classe do ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO (classe do 2º nível categórico).

Entre os critérios para esta classificação, destaca-se a presença do processo de

lixiviação, bem como o solo ser constituído por material mineral, possuindo cores

brunadas e avermelhadas, com textura que varia de arenosa a argilosa no horizonte A e

muito argilosa no horizonte diagnóstico Bt, havendo transição abrupta e gradual entre as

suas camadas. Esta classe era anteriormente classificada como Podzólico. A sua

subordem foi determinada a partir da EMBRAPA (2006, p. 102) como sendo do tipo

vermelho-amarelo, tendo em vista que o B1 apresentava uma matiz 2,5 YR e o B2 uma

matiz de 7,5YR.

Os resultados da análise morfológica do perfil de solo 2 foram agrupados na

tabela 3, sendo que a tabela 4 está relacionada aos dados obtidos com a análise

granulométrica das amostras coletadas.

Tabela 3: Aspectos morfológicos do perfil 2

Horizonte Profundidade (cm)

Transição entre horizontes

Cor Textura Estrutura Porosidade

A 0-41 Plana/abrupta

-Seco: 10YR 4/3 (Brown)

-Úmido: 10YR 4/4 (Dark Yellowish

Brown)

-Tipo: argilosa -Sensação: aspereza/

sedosidade

-Tipo: granular

-Tamanho: grande

-Grau: fraco

Pequena (entre 1 e 2 mm)

B1 41-67 Plana/difusa

-Seco: 7.5YR 4/6 (Strong

Brown) -Úmido: 7.5YR

4/4 (Brown)

-Tipo: Argilosa -Sensação:

pegajosidade/ sedosidade

-Tipo: bloco -Tamanho:

grande -Grau:

moderado

Muito pequena (menor que 1

mm)

B2 67-97 Ondulada/abrupta

-Seco: 2.5YR 4/6 (Dark Red) -Úmido: 5YR 4/6 (Yellowish

-Tipo: média -Sensação: sedosidade

-Tipo: bloco -Tamanho:

médio -Grau:

Muito pequena (menor que 1

mm)

Red) moderado C 97~116 ------------------- ------------------- ------------------- -------------- -------------------

Fonte: Os autores.

Tabela 4: Proporção das frações granulométricas e classes texturais encontradas nas

amostras retiradas do perfil 2

A (%) B1 (%) B2 (%) Areia muito grossa 10,541 0,965 0,057

Areia grossa 15,768 3,071 0,491 Areia média 9,831 1,953 0,652 Areia fina 6,395 0,953 0,803

Areia muito fina 8,721 1,506 2,636 Silte 35,020 44,988 47,567

Argila 13,627 46,447 47,718 Classe textural Franca Argila-siltosa Argila-siltosa

Fonte: Os autores.

No O do perfil 2, há também a transformação da matéria orgânica em húmus e a

sua translocação para o A. Conforme as frações granulométricas, o processo atuante no

perfil é a lixiviação, ainda em condição inicial, com horizonte eluvial ainda não

formado. No B2, há a máxima expressão de cor, estrutura e textura em argila e silte, em

consequência da decomposição do material de origem em partículas finas constituídas

por minerais secundários.

O horizonte diagnóstico é assinalado como B nítico, mineral e subsuperficial, de

textura argilosa, não hidromórfico e com espessura de 30 cm. A estrutura é em blocos e

de grau moderado ou forte, comumente com superfícies reluzentes nos agregados em

razão da cerosidade. Possui transição gradual ou difusa entre os sub-horizontes do B

(EMBRAPA, 2006, p. 55).

Os mecanismos mencionados indicam que o processo pedogenético que levou à

formação deste solo foi a podzolização. Salienta-se que tal processo ocorre de maneira

lenta, dado que este perfil de solo é medianamente profundo (até 97 cm), pouco

desenvolvido e num estágio de evolução intermediário, com a presença apenas dos

horizontes A, B e C, bem definidos e de espessuras variáveis. Foram relevantes como

fatores de formação o material de origem a partir do diabásio, as características da

vertente em que está situado, com boa drenagem, e o clima mesotérmico, com

precipitação regular durante o ano.

Desse modo, é possível inferir que este perfil de solo refere-se a um

NITOSSOLO VERMELHO (classe do 2º nível categórico). Conforme a EMBRAPA

(2006, p. 85), este solo é composto de material mineral, não-hidromórfico e com um

horizonte diagnóstico B nítico. Sobressai o fendilhamento, que é frequente na superfície

exposta, em razão da contração e expansão pela secagem e umedecimento da argila. O

perfil é bem drenado, sem policromia pronunciada e com diferenciação entre os

horizontes pouco marcante, sendo difusa entre os suborizontes do B. Sua subordem foi

atribuída através da EMBRAPA (2006, p. 194) como solo de matiz 2.5YR nos

primeiros 100 cm do horizonte B.

Assim, considera-se que os perfis de solo encontrados na área de estudo, sob

condições ambientais semelhantes, geraram solos distintos, identificados como

argissolo vermelho-amarelo e nitossolo vermelho. Verificou-se que o material de

origem exerce grande influência na formação do solo daquele local, visto que a

constituição mineralógica, decomposição e resistência são diferenciados. Vale ressaltar

que ambos sofreram o processo pedogenético de podzolização, sendo que o primeiro

perfil teve gênese a partir de uma rocha mais antiga, o granito Itacorubi, enquanto que o

segundo, com gênese a partir do diabásio, rocha de idade mais recente em comparação,

se mostrou de evolução intermediária. No contexto da paisagem local, apesar da

atividade agropecuária ter ocorrido na área desde a primeira metade do século passado,

não houve alteração relevante para modificar quaisquer horizontes pedológicos

presentes, os quais ainda se revelavam demarcados naturalmente. A expansão urbana

observada, na forma de loteamento, deve se dirigir sob um planejamento adequado, uma

vez que o argissolo vermelho-amarelo é predominante e tem tendência à processos

erosivos quando submetidos a eventos climáticos associados à ocupação humana. A

proposta deste trabalho foi concluída com êxito, recomendando-se a realização de

análise química e da micromorfologia dos perfis a fim de possibilitar um estudo mais

aprofundado dos tipos de solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2004. 166 p.

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de Janeiro: Interciência, 2008.

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Aerofoto Cruzeiro, 1986. 176p.

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técnico da vegetação brasileira. 2ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.

IPUF - INSTITUTO DE PLANEJAMENTO URBANO DE FLORIANÓPOLIS.

Geoprocessamento Corporativo. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Disponível

em: http://geo.pmf.sc.gov.br/geo_fpolis/. Acesso: 19.fev.2014.

LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de Textos,

2002.

MARCIANO, C. R. Software de identificação da classe textural de solos pelos

triângulos completo e simplificado. Laboratório de Solos/CCTA/UENF, 2003.

Disponível em: <http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCTA/Lsol/?cod_pag=459>. Acesso:

17.fev.2014.

SUGUIO, K. Introdução à sedimentologia. São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1973.

TOMAZZOLI, E. R.; PELLERIN, J. R. G. M. O Enxame de Diques Florianópolis na

Ilha de Santa Catarina (SC): mapa geológico. In: IV Simpósio de Vulcanismo e

Ambientes Associados. Foz do Iguaçu (PR), 2008.

VENTURI, L. A. B. Praticando a Geografia: técnicas de campo e laboratório em

Geografia e análise ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.