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Caracterização da carga de treino no Andebol Estudo realizado em equipas masculinas da Liga Portuguesa de Andebol na época 2006/2007
Luís Filipe Martins Paiva da Silva
Porto, 2007
Orientador: Prof. Doutor José Soares
Luís Filipe Martins Paiva da Silva
Caracterização da carga de treino no Andebol Estudo realizado em equipas masculinas da Liga Portuguesa de Andebol na época 2006/2007
Porto, 2007
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento – Andebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Silva, L. (2007). Caracterização da carga de treino no Andebol. Estudo
realizado em equipas masculinas da Liga Portuguesa de Andebol na época
2006/2007. Porto: L. Silva. Dissertação de Licenciatura apresentada à
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: ANDEBOL, ALTO RENDIMENTO, CARGA DE TREINO,
ANÁLISE DE TEMPO E MOVIMENTO.
III
Agradecimentos
Toda a realização do presente estudo, estaria, desde logo, comprometida se
não tivesse a ajuda e apoio de inúmeras pessoas que, de uma forma ou de
outra, me ajudaram a tornar este último passo da minha vida estudantil
possível. Posto isto, não poderia deixar de agradecer:
Ao Professor Doutor José Soares , o meu Orientador, pela presença e
disponibilidade sempre demonstrada. Obrigado pela paciência, incentivo e por
todas as indicações e correcções.
Ao Mestre Irineu Moreira , Professor de Seminário, pela colaboração em toda
a realização deste trabalho e por toda a bibliografia disponibilizada.
Ao meu Pai por tudo o que representa para mim, um exemplo de sucesso
como pessoa e como profissional. Obrigado por todas as correcções, dicas e
ajudas.
Aos Jogadores e Equipas Técnicas dos três clubes colaboradores, por terem
aberto as suas portas, sem complexos, à presença de um “estranho” no
processo de treino.
Á minha Mãe pelo apoio e paciência demonstrado, por me “aturares” quando
as minhas tarefas não tomavam o rumo pretendido… Aos meus Avós por todo
o carinho que têm por mim.
À Inês também pela sua paciência e compreensão, pois este trabalho ocupou
muito do tempo que até então tinha disponível…
IV
Ao Diogo , João (Coelho) e Zé por serem os grandes amigos que ficam desta
vida académica. Por muitos anos que passem, tenho a certeza que contarei
com o vosso apoio para o que for necessário.
A todos os meus Colegas e Amigos que contribuíram para que este trabalho
chegasse a bom porto.
OBRIGADO A TODOS!
V
Índice Geral
Agradecimentos ..................................... ......................................................... III
Índice Geral....................................... ................................................................V
Índice de Figuras.................................. ..........................................................VII
Índice de Quadros .................................. ......................................................... IX
Resumo ............................................. ...............................................................XI
Abstract........................................... ...............................................................XIII
Résumé ............................................. ............................................................. XV
Índice de Abreviaturas............................. ................................................... XVII
I. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
II. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................... 5
1. Caracterização do Jogo de Andebol ........................................................ 7
2. O Processo de treino em Andebol ......................................................... 10
2.1. Exigências do Jogo e Perfil Fisiológico ......................................... 10
2.2. Metodologia de treino – diferentes perspectivas ........................... 11
2.2.1. Resistência.............................................................................. 11
(a) Conceito e suas manifestações .................................................. 11
(b) Métodos de Treino ...................................................................... 16
2.2.2. Velocidade............................................................................... 18
(a) Conceito e suas manifestações .................................................. 18
(b) Métodos de Treino ...................................................................... 22
2.3. Planeamento do Microciclo ........................................................... 23
3. Modelação da Performance nos Jogos Desportivos Colectivos............. 27
3.1. A evolução metodológica nos estudos de Análise de Tempo e
Movimento ............................................................................................... 29
3.1.1. Distância percorrida ................................................................ 29
3.1.2. Categorização das Variáveis................................................... 32
III. METODOLOGIA ......................................................................................... 33
1. Caracterização da Amostra.................................................................... 35
2. Instrumentos utilizados........................................................................... 35
3. Definição das Variáveis.......................................................................... 36
VI
4. Procedimentos Metodológicos ............................................................... 37
5. Procedimentos Estatísticos .................................................................... 38
IV. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 41
1. Análise Descritiva................................................................................... 43
1.1. Análise Descritiva em função do Clube observado ....................... 43
1.1.1. Clube A ................................................................................... 43
1.1.2. Clube B ................................................................................... 44
1.1.3. Clube C ................................................................................... 45
1.2. Análise Descritiva dos dados totais da amostra ............................ 46
2. Análise Comparativa .............................................................................. 47
2.1. Análise Comparativa em função dos treinos observados.............. 48
2.2. Análise Comparativa em função do Posto Específico ................... 49
V. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................. 51
1. Primeiro treino versus Segundo Treino.................................................. 56
2. Primeira linha versus Segunda Linha..................................................... 58
VI. CONCLUSÃO ............................................................................................ 59
1. Propostas para estudos futuros ............................................................. 62
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 63
VIII. ANEXOS .................................................................................................. 71
VII
Índice de Figuras
Figura 1 Factores condicionantes do Jogo de Andebol (Adaptado de
Domínguez Guerra, 2004).................................................................................. 9
Figura 2 Exemplos de Organização de Microciclos em função da intensidade
de cada unidade de treino (adaptado de Bompa, 1999) .................................. 25
Figura 4 Valores obtidos nas diferentes categorias de deslocamento, pela
globalidade da amostra (em percentagem). ..................................................... 47
Figura 5 Valores médios obtidos pela amostra nas diferentes categorias em
cada um dos treinos (valores percentuais)....................................................... 48
Figura 6 Valores médios obtidos pela amostra nas diferentes categorias,
segundo o posto específico que ocupam (em percentagem)........................... 49
IX
Índice de Quadros
Quadro 1 Formas de manifestação da Resistência (Adaptado de Seirul-lo
Vargas, 1993)................................................................................................... 14
Quadro 2 Proposta do desenvolvimento das diferentes manifestações da
Resistência, segundo Seirul-lo Vargas (1993). ................................................ 15
Quadro 3 Exemplos de Organização do Microciclo em função dos conteúdos a
abordar (adaptado de Álvaro Alcalde, 1991). ................................................... 24
Quadro 4 Distância percorrida durante um jogo (em metros) e percentagens do
deslocamento nas diferentes intensidades. ..................................................... 30
Quadro 5 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube A. .. 43
Quadro 6 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta,
do Clube A........................................................................................................ 44
Quadro 7 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube B. .. 44
Quadro 8 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta,
do Clube B........................................................................................................ 45
Quadro 9 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube C. .. 45
Quadro 10 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta,
do Clube C. ...................................................................................................... 46
Quadro 11 Valores de prova das diferentes categorias, em função do treino
observado......................................................................................................... 49
Quadro 12 Valores de prova das diferentes categorias, em função do posto
específico. ........................................................................................................ 50
Quadro 13 Valores percentuais dos deslocamentos dos atletas em situação de
jogo, a diferentes intensidades, em comparação com o presente estudo........ 53
XI
Resumo
O presente estudo tem como principal objectivo a caracterização da
carga de treino em Andebol de alto rendimento em Portugal, ao nível da sua
intensidade e volume. Para a sua concretização recorremos à Análise de
Tempo e Movimento, tendo sido observada a parte fundamental de cada um
dos treinos. Para concretizar esta observação foram estabelecidas as
seguintes seis categorias: “Parado”, “A Passo”, “Corrida Lenta”, “Corrida
Rápida”, “Sprints” e “Duelos”.
A nossa amostra é composta por um total de 12 registos. Estes registos
correspondem a dois treinos de cada um das três equipas analisadas, sendo
que em cada sessão foram observados dois atletas. As equipas analisadas
integraram a Liga Portuguesa de Andebol na época 2006-2007 e na escolha
dos atletas foram tidos em conta dois parâmetros: (1) atletas que integram
regularmente as convocatórias da Selecção Nacional e (2) atletas que, em
situação de ataque, ocupam postos específicos de linhas ofensivas distintas.
Como principais conclusões, podemos afirmar que: (1) a carga de treino
a que os andebolistas estão sujeitos no período competitivo caracteriza-se pelo
predomínio de exercícios realizados a intensidades muito baixas; (2) o tempo
de treino dispendido em exercícios de intensidade elevada ou máxima é muito
reduzido; (3) a grande preocupação dos treinadores relaciona-se, quase em
exclusivo, com o trabalho dos aspectos da táctica colectiva; (4) no núcleo
central do microciclo, de uma forma geral, as intensidades de trabalho são
semelhantes; (5) as tarefas de treino são idênticas, tendo como resultado
intensidades de treino semelhantes, independentemente do posto específico
ocupados pelos atletas (à excepção do guarda-redes).
Palavras-chave: ANDEBOL, ALTO RENDIMENTO, CARGA DE TREINO,
ANÁLISE DE TEMPO E MOVIMENTO.
XIII
Abstract
The main propose of this study is to characterize training load of high
level Handball in Portugal, in terms of its intensity and volume. To achieve this
goal, time-motion analysis was used and the main phase of each training
session recorded. In order to make each observation we established the
following six parameters: “Standing”, “Walking”, “Slow Running”, “Fast
Running”, “Sprinting” and “Static Exertion”.
Our sample consists in a total of twelve records. The three teams
integrated in this study participated in the 2006-2007 Portuguese Handball
League. Two training sessions of each team were recorded and, in each one,
we analysed two players. To select these athletes, two parameters were taken
into account: (1) players that are regularly called to Portugal National Team and
(2) athletes that play in different offensive lines.
The main results have shown that: (1) training load that handball players
are subjected during competitive period assumes, predominantly, very low
intensities; (2) time expended in high or maximum intensity exercises is very
low; (3) coaches’ main concern sticks to, almost exclusively, team tactics’
aspects; (4) different training sessions in week planning have similar intensities;
(5) training tasks are identical, which results in similar training intensities,
regardless the athletes’ position (goalkeeper excluded).
Key-words: HANDBALL, HIGH PERGORMANCE, TRAINING LOAD, TIME-
MOTION ANALYSIS.
XV
Résumé
L’objectif de l´étude qui suit est de caractériser la charge de l’entraîement
au handball de haut rendement, du point de vue de son intensité et de son
volume. Pour le concrétiser, nous avons analysé le Temps et le Mouvement,
d’après l’observation de la partie fondamentale de chacune des séances
d’entraînement. Pour réussir cette observation nous avons établi les six
catégories suivantes: arrêté, au pas, course lente, course rapide, sprints et
duels.
Notre échantillon comprend douze enregistrements en tout. Ces
engistrements se rapportent à deux séances d’entraînement de chacune des
trois equipes analysées, deux joueurs ayant été observés, par séance. Les
equipes analysées ont intégré la Ligue Portugaise de Handball à l’époque
2006-2007. En vue du choix des athlètes on a pris en considération intègrent
deux repères: (1) athlètes qui intégrent régulièrement les convocations de la
Sélection Nationale et (2) athlètes qui, en situation d’attaque, occupent des
postes (ou places) spécifiques de différentes lignes offensives.
Nos conclusions les plus importantes sont: (1) la charge d’entraînement
supportée par les handballeurs en période compétitive est caractérisée par une
prépondérance d’exercices de basse intensité; (2) le temps d’entraînement
dépensé aux exercices d’intensité élevée ou maximale est très réduit; (3) les
entraîneurs portent la plupart de leur attention au travail (ou au
perfectionnement) des aspects de la tactique collective; (4) d’une façon
générale, au noyau central du microcycle les intensités de travail sont
semblables; (5) les taches de l’entraînement étant identiques, il en resulte des
intensités semblables d’entraînement, indépendamment du poste spécifique
occupé par les athlètes (sauf le gardien de but).
Mots-clefs: HANDBALL, HAUT RENDEMENT, CHARGE D’ENTRAINEMENT,
ANALYSE DE TEMPS ET DE MOUVEMENT.
XVII
Índice de Abreviaturas
ATM – Análise de Tempo e Movimento
bpm – Batimentos cardíacos por minuto
JDC – Jogos Desportivos Colectivos
MI – Membros Inferiores
MS – Membros Superiores
VO2max – Volume de Oxigénio máximo
I. INTRODUÇÃO
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 3
Não é suficiente treinar muito, é
fundamental trabalhar com qualidade.
(Mesquita, 1997).
1. Pertinência do problema
No Andebol, o rendimento desportivo caracteriza-se pela interacção
complexa de vários factores, como a táctica, a condição física, a técnica, a
preparação teórica e psicológica (Marques, 1990; Cerzwinski, 1991; Stein e
Federhoff, 1995; García Cuesta, 1998).
O conhecimento aprofundado dos vários indicadores responsáveis pelo
rendimento desportivo, pode, directa ou indirectamente, auxiliar treinadores e
investigadores no desenvolvimento de capacidades específicas e na
construção de programas de treino cada vez mais adequados às
características da modalidade (Bangsbo, 1996; Garganta, 2001). Assim sendo,
impõe-se o estudo da competição tendo em vista um esclarecimento acerca
dos diversos constrangimentos que influenciam a prestação desportiva dos
atletas e equipas. A determinação do Perfil do Deslocamento, através da
Análise de Tempo e Movimento, tem sido uma das metodologias utilizadas
para fornecer indicações relativamente à actividade dos atletas, e desta forma
conhecer melhor as exigências do ponto de vista fisiológico. Os trabalhos
realizados no Andebol acerca desta temática, têm fornecido indicações
relativas às situações de jogo (Borges, 1996; Šibila et al., 2004), mas no
entanto, não se conhecem quaisquer trabalhos realizados a partir da
observação do processo de treino.
Na sequência do que atrás foi exposto, urge avaliar o processo de treino
do ponto de vista da actividade dos jogadores, no sentido de perceber se este
se encontra, realmente adaptado às exigências actuais da modalidade. As
informações obtidas poderão auxiliar os treinadores a optimizar o processo de
treino, rentabilizando os recursos disponíveis, ou caso se justifique, a promover
a introdução de métodos de trabalho alternativos.
INTRODUÇÃO
LUÍS FILIPE SILVA 4
2. Objectivos do trabalho
Atendendo aos pressupostos considerados e tendo em vista o
conhecimento mais aprofundado acerca desta temática, estabelecemos como
objectivo principal do presente trabalho:
- Caracterizar a carga de treino no andebol de alto rendimento, ao
nível da sua intensidade e volume.
A partir do objectivo principal foram estabelecidos os seguintes
objectivos específicos:
- Identificar e caracterizar as diferenças do trabalho desenvolvido
pelos atletas, em função do seu posto específico;
- Identificar e caracterizar as variações da intensidade e volume,
consoante a sessão de treino do núcleo central do microciclo.
3. Estrutura do trabalho
Procurando responder aos objectivos formulados, o presente estudo
será constituído por oito Capítulos.
No Capítulo I, Introdução, será definido o contexto a partir do qual surge
a necessidade de realizar este estudo, bem como, apresentados o objectivo
principal e os específicos. Na Revisão da Literatura, Capítulo II, será efectuada
uma análise à bibliografia existente acerca desta temática e também
apresentados os pressupostos básicos do planeamento a aplicar no treino. No
Capítulo III, será apresentada a Metodologia utilizada, bem como, a
caracterização da amostra estudada.
O Capítulo IV destina-se à Apresentação dos Resultados obtidos a partir
da análise dos registos provenientes das sessões de treino observadas.
Posteriormente, será realizada a Discussão dos Resultados (Capítulo V).
No Capítulo VI serão apresentadas as principais Conclusões do trabalho
e também algumas sugestões para estudos futuros. Para finalizar, no Capítulo
VII será elaborada a lista das Referências Bibliográficas e, no Capítulo VIII,
figurarão os Anexos.
II. REVISÃO DA LITERATURA
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 7
1. Caracterização do Jogo de Andebol
O Andebol, como JDC, possui não só várias características comuns a
este tipo de desportos, mas também uma série de elementos que o diferenciam
e influenciam o seu desenrolar (Sánchez Sánchez, 1991). Em seguida, são
apresentados os diversos pontos propostos pelo autor.
Em primeiro lugar, o terreno de jogo é um rectângulo com 800 m2
(40x20m) que, em termos de área útil de jogo, é reduzido em 159 m2. Esta
redução é causada pela existência de duas áreas restritivas junto de cada
uma das balizas, nas quais apenas o guarda-redes se pode movimentar. Este
elemento é também o principal responsável pela defesa do alvo, uma baliza de
6 m2 (3x2m).
A bola é de dimensões reduzidas, podendo ser manejada apenas com
uma das mãos. Este facto, aliado às dimensões do terreno, permite que o jogo
se desenrole a elevada velocidade, pois é possível, com apenas uma acção de
passe, percorrer todo o comprimento do campo.
Como em muitos outros desportos, o golo é o elemento de pontuação
que decide o vencedor do encontro. Este apenas é válido quando a bola
ultrapassa completamente os limites da baliza.
Outro dos elementos importantes, prende-se com o número de
jogadores que cada equipa apresenta. Cada um dos sete jogadores ocupa
uma posição específica, quer no ataque quer na defesa, dependendo das
características físicas, técnicas e tácticas. O treinador tem à sua disposição
mais sete jogadores (num total de 14 jogadores) que podem ser substituídos
sempre que este o entenda, não sendo necessária a autorização dos árbitros
ou a paragem do tempo de jogo.
Relativamente ao tempo de jogo , a nível regulamentar, o jogo de
andebol tem uma duração de 60 minutos, sendo constituído por duas partes de
30 minutos, separadas por um intervalo de 10 minutos. O cronómetro pára
apenas em situações excepcionais, como por exemplo, em caso de lesão.
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 8
No que se refere à possibilidade de jogar a bola , o regulamento é
muito restrito (em comparação com outras modalidades, como o Futebol ou o
Rugby):
- A acção de drible é limitada (o jogador não pode voltar a driblar após ter
agarrado a bola);
- Apenas pode efectuar três passos com a bola na mão, sendo que esta
acção (permanecer com a bola na mão) não pode ser superior a três
segundos;
- Não é permitido tirar a bola a um adversário quando este a tem
controlada;
- Não é permitido jogar a bola com qualquer parte do corpo abaixo do
joelho.
Por fim, relativamente à conduta para com o adversário , no Andebol é
permitido o contacto físico. Quando as acções do jogador ultrapassam o que é
regulamentar, é aplicada ao atleta uma sanção disciplinar (advertência,
exclusão, desqualificação ou expulsão). No entanto, é de salientar que, muitas
vezes, é difícil distinguir o que é permitido do que não é, pois determinadas
acções comportam uma decisão um pouco subjectiva da parte dos árbitros.
Estas condicionantes implicam, segundo Barbosa (1999), que os
andebolistas possuam uma rápida capacidade de decisão e um domínio dos
principais elementos técnicos.
Segundo Domínguez Guerra (2004), o Andebol é uma modalidade
complexa que está dependente de inúmeros factores e condicionantes,
representados na Figura 1. Este autor refere que a essência do jogo de
Andebol baseia-se no facto de as alterações constantes do carácter do jogo
estarem dependentes das interligações criadas pela cooperação com os
companheiros e a oposição conjunta dos adversários. No entanto, este autor
coloca a condição física como a base de todo o rendimento desportivo.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 9
Figura 1 Factores condicionantes do Jogo de Andebol (Adaptado de Domínguez Guerra, 2004).
Assim, podemos concluir que, o Andebol, como desporto colectivo, está
dependente de inúmeros factores que conferem a este tipo de modalidades
uma grande imprevisibilidade e aleatoriedade. Alguns destes pontos são
comuns aos outros desportos, como por exemplo, a sua estrutura formal e
funcional, ao contrário de outros, que lhe conferem a sua originalidade e
especificidade. A condição física assume um papel muito importante, uma vez
que é considerada como condicionadora de todas as acções realizadas no
âmbito do jogo de Andebol.
ANDEBOL
Aspectos Colectivos
Aspectos Individuais
Acções Coordenadas entre companheiros
Organização Colectiva (Sistemas de Jogo)
Percepção Análise e decisão
Execução
Táctica Colectiva Táctica
Individual
Técnica Táctica
Con
diçã
o F
ísic
a
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 10
2. O Processo de treino em Andebol
2.1. Exigências do Jogo e Perfil Fisiológico
O jogo de Andebol é, cada vez mais, um jogo mais rápido que exige ao
atleta a realização de esforços de natureza claramente intermitente (Cardinale,
2002; Soares, 1988; Solé Fortó, 2005). Esta actividade é caracterizada pela
existência de movimentos de elevada intensidade (com energia fornecida
principalmente pela via anaeróbia) e de baixa intensidade (onde as vias
aeróbias assumem especial importância na recuperação activa).
A grande parte dos momentos decisivos do encontro caracterizam-se
pela sua elevada intensidade e curta duração: remates, passes, fintas,
mudanças de direcção, saltos, sprints. Estes momentos são considerados por
García Cuesta (1991) como as Acções Relevantes do jogo de Andebol. Este
facto poderia levar à conclusão de que seria o regime anaeróbio o mais
importante.
No entanto, um atleta não pode realizar estes elementos apenas uma
vez durante o jogo a esta intensidade. As suas acções têm um carácter
aleatório e repetido no tempo, são realizadas isoladamente ou em conjunto.
Aos jogadores é exigido que realizem estas acções de uma forma segura,
eficaz ao longo de todo encontro, isto é, durante os seus 60 minutos.
Ao longo deste tempo, o atleta percorre distâncias entre os 2000 e os
6000 metros (Borges, 1996; Czerwinski, 1991; Czerwinski, 1993; García
Cuesta, 1983; Jewstushenko, 1990; Konzak e Schacke, 1968; Santos, 1989;
Šibila et al., 2004; Soares, 1988), a diferentes intensidades, o que pressupõe
uma contribuição importante do regime aeróbio.
Alguns autores afirmam que, ao alto nível, a resistência aeróbia assume
um papel determinante (Bompa, 1999; Cardinale, 2002; Czerwinski, 1993;
Domínguez Guerra, 2004; Soares e Rebelo, 1994; Solé Fortó, 2005), pois
possibilita a manutenção de um nível elevado de jogo, uma vez que permite ao
atleta executar as acções decisivas do jogo com a maior intensidade possível
e, nas fases menos intensas, recuperar do esforço realizado (Rebelo, 1993).
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 11
2.2. Metodologia de treino – diferentes perspectiva s
Como vimos anteriormente, alguns autores entendem que a condição
física constitui a base do rendimento desportivo. O desenvolvimento e melhoria
da performance do atleta permitem, a este, o desempenho das várias acções
de jogo de uma forma mais rápida e eficiente.
A Resistência, a Velocidade e a Força assumem um papel muito
importante, no Andebol. Devido ao elevado ritmo de jogo, contacto físico
permanente e execução rápida e explosiva de muitos gestos técnicos,
podemos afirmar que estas três capacidades constituem o núcleo central da
condição física nesta modalidade.
O foco do nosso estudo centrar-se-á na análise dos movimentos
realizados pelo atleta ao longo do treino e nas intensidades a que estes são
efectuados. Desta forma, apenas iremos abordar, de uma forma mais
pormenorizada, a Resistência e a Velocidade.
2.2.1. Resistência
(a) Conceito e suas manifestações
No contexto desportivo, a resistência dispõe de um amplo fundamento
científico devido ao elevado número de estudos desenvolvidos pelas diversas
ciências que estudam o desporto. No entanto, o seu conceito não é universal.
Solé Fortó (2005) apresenta-nos algumas das definições atribuídas à
resistência como qualidade física ao longo dos tempos:
- Bompa (1983): o limite de tempo sobre o qual se pode realizar um
trabalho a uma intensidade determinada;
- Harre (1987): capacidade do desportista para resistir à fadiga;
- Manno (1991): capacidade de resistir à fadiga em trabalhos de duração
prolongada;
- Weineck (1992): capacidade física e psíquica para resistir à fadiga;
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 12
- Martín et al. (2001): capacidade de manter um determinado rendimento
durante o maior período de tempo possível;
- Platonov (2001): capacidade para realizar um exercício de forma eficaz,
superando a fadiga produzida;
- Bompa (2003): tempo durante o qual o sujeito pode efectuar um trabalho
a uma certa intensidade.
Os factores comuns a estes conceitos são a associação da resistência à
capacidade para suportar a fadiga e a realização de um exercício de elevada
duração. No entanto, esta visão não se aplica na sua plenitude ao Andebol e
demais JDC. Tal facto pode ser explicado devido a serem modalidades em que
os esforços são predominantemente intermitentes, de intensidade elevada,
curta duração, tempos de recuperação indefinidos e em que as decisões
tácticas estão sempre presentes. Como referem Cardinale e Manzi (2006), a
um jogador de andebol não lhe é pedido que corra os 1000 m mais rápido que
qualquer pessoa. O bom jogador tem que ser capaz de jogar de uma forma
rápida (no ataque e na defesa) e ser capaz de tomar as decisões mais
correctas rapidamente, a nível táctico e durante todo o jogo.
Assim, entendemos como mais adequada a definição de Massafret et al.
(1999) citado por Solé Fortó (2005), que define resistência como: a capacidade
para poder suportar as exigências físicas, psicológicas e tácticas estabelecidas
por um determinado sistema de jogo durante todo o encontro e ao longo da
competição.
Segundo o mesmo autor, os principais objectivos do treino da resistência
são:
- Suportar o cansaço, tanto físico como psíquico, durante uma
acção de jogo, um encontro e ao longo da temporada;
- Acelerar o processo de recuperação entre as reduções de ritmo,
micropausas e macropausas de jogo, e entre as unidades de
treino e os diferentes jogos;
- Manter o nível óptimo de rendimento do jogador na execução do
gesto técnico e na tomada de decisão.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 13
Dentro do contexto da teoria do treino, a Resistência é analisada
segundo várias perspectivas, de forma a conseguirmos um conhecimento mais
aprofundado. Por exemplo, alguns autores classificam esta capacidade tendo
em conta o nível de especificidade com a modalidade praticada (Massafret et
al., 1999 cit. por Sole Fórto, 2005; Sole Fortó, 2005). Para estes autores, a
resistência apresenta duas grandes formas de manifestação, Genérica e
Específica .
A Resistência Genérica manifesta-se nas actividades que apresentam
pouca ligação com os gestos técnicos e tomadas de decisão inerentes à
modalidade. Relativamente à estrutura condicional, a capacidade aeróbia é a
mais solicitada, havendo apenas uma pequena percentagem de utilização da
potência aeróbia.
A Resistência Específica , por sua vez, relaciona-se com os elementos
técnicos e conceitos tácticos próprios de cada desporto, trabalhados quer nas
primeiras etapas de formação como nas etapas mais avançadas da formação e
alto rendimento. Dentro desta taxionomia, estabelecem-se diferentes
categorias da resistência específica.
- Resistência Geral (ou Resistência na técnica): engloba
actividades de resistência com elementos técnicos básicos de jogo
(muitas vezes já automatizados) com tomadas de decisão não
específicas. Apresenta como principal objectivo treinar a técnica
em diferentes estados de fadiga. A estrutura condicional
caracteriza-se por potenciar e insistir nas manifestações desta
capacidade mais próprias da modalidade em concreto (onde os
desportos de campo pequeno apresentam intensidades superiores
aos de campo grande);
- Resistência Dirigida (ou Resistência com tomada de decisão):
utiliza elementos técnicos e tomada de decisão específicos do
modelo de jogo da equipa. A estrutura condicional cinge-se às
características físicas do próprio modelo de jogo, combinando-as
de forma interactiva com os diferentes sistemas energéticos;
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 14
- Resistência Específica (ou Resistência de jogo): exercícios de
jogo, real e/ou reduzido.
Por outro lado, Soares (2005) divide esta capacidade do ponto de vista
fisiológico, sendo que considera a resistência como Capacidade ou Potência .
A Capacidade Aeróbia refere-se à aptidão de manter uma elevada produção
de energia durante um tempo prolongado, utilizando como via preferencial a via
oxidativa. A Potência Aeróbia é considerada como sendo a capacidade de
conseguir produzir a maior taxa de energia a partir do sistema oxidativo.
Surge também na literatura a referência à expressão performance
aeróbia (Santos, 1995, cit. por Póvoas, 1997). Para este autor, a performance
aeróbia é determinada tanto pela potência (cujo indicador é o consumo máximo
de oxigénio – VO2 max), como pela capacidade aeróbia (traduzida pelo limiar
aeróbio).
Por sua vez, Seirul-lo Vargas (1993), apresenta uma outra divisão da
Resistência em Capacidade e Potência, bem como as suas formas de
manifestação (Quadro 1).
Quadro 1 Formas de manifestação da Resistência (Adaptado de Seirul-lo Vargas, 1993).
Este autor defende que o primeiro e o último grupo definidos não têm
grande manifestação no Andebol, pelo que, não deverão ser o foco principal do
Condições de Manifestação Potência Capacidade
De 0’’ a 7’’-8’’ Anaeróbia Aláctica
7’’x nº de vezes ou De 7’’ a 15’’
Anaeróbia Aláctica
Entre 15’’ e 45’’ Anaeróbia Láctica
25’’-30’’ ou De 40’’ a 2’
Anaeróbia Láctica
De 2’ a 3’ Aeróbia
3’x nº de vezes ou + de 15’ Aeróbia
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 15
treinador quando efectua o seu planeamento. Num jogo de Andebol, não ocorre
nenhuma situação em que o jogador realiza uma acção a uma intensidade
máxima durante oito segundos e que tenha depois um período de recuperação
completo e, por outro lado, também não há registo de situações em que o
atleta trabalhe a uma intensidade média durante mais de 15 minutos, ou em
repetições de três minutos.
Relativamente ao trabalho a desenvolver, o mesmo autor propõe
diversas formas de trabalho, tendo em conta a intensidade do exercício,
duração do esforço, repetições e tempos de recuperação (Quadro 2).
Quadro 2 Proposta do desenvolvimento das diferentes manifestações da Resistência, segundo Seirul-lo Vargas (1993). Manifestação
da Resistência Intensidade Tempo de execução Repetições Recuperação Observações
Capacidade Anaeróbia Aláctica Máxima 8’’ - 10’’
Em função do período da
época e posto específico
1’ – 1’30’’
Potência Anaeróbia Láctica
Máxima 20’’ – 35’’ 4 - 8 4’ – 5’ (activa)
Alta 1’ – 2’ 2 - 6 Mais de 6’ Durante o Período
Preparatório Capacidade Anaeróbia Láctica
Submáxima 30’’ – 45’’ 3 - 7 Menos de 3’ e
reduzindo gradualmente
Durante o Período
Competitivo
Potência Aeróbia Variável 2’ – 3’ De acordo com o tempo de jogo 30’’ – 1’
Como podemos observar, as intensidades de trabalho propostas são,
quase sempre, elevadas. Apenas a Potência Aeróbia não apresenta uma
velocidade definida, pois, segundo Seirul-lo Vargas (1993), esta capacidade é
desenvolvida através de exercícios mais específicos e semelhantes ao jogo,
sendo que as trajectórias dos deslocamentos e as acções do jogador estarão
muito dependentes da posição específica onde actua e, consequentemente, as
suas intensidades.
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 16
(b) Métodos de Treino
A resistência pode ser trabalhada e desenvolvida através da utilização
de diversos Métodos, entre eles, o Método Contínuo, Método Fraccionado e o
Método de Controlo (Solé Fortó, 2005).
O Método Contínuo apresenta-se na forma de uma única série sem
paragens. Este pode assumir duas vertentes: Armónico, em que o exercício se
realiza a uma intensidade constante ou Variável, em que o esforço assume
intensidades distintas. Dentro deste último, existem dois tipos:
- Variável Progressivo, onde as alterações de intensidade são
definidas previamente e com ritmo progressivo (Ex: 10’ a 150
batimentos cardíacos por minuto – bpm – 10’ a 160 bpm e 10’ a
150 bpm);
- Fartlek, onde as mudanças de ritmo não estão programadas e são
sujeitas às características do meio ambiente (Ex: disníveis).
O Método Fraccionado tem sido o método mais utilizado, nos JDC. Ao
utilizar exercícios intermitentes de alta intensidade, este método assemelha-se
mais às exigências deste tipo de modalidade. Este método caracteriza-se por
dividir o esforço em séries e introduzir um descanso entre as mesmas. Se essa
pausa permitir uma recuperação completa, esta variante denomina-se como
Método de Repetições . Se, pelo contrário, a recuperação for incompleta
estamos perante o Método Intervalado .
No primeiro existem três possibilidades de treino:
- Método de Repetições Curto , para esforços entre os 10 e os 20
segundos;
- Método de Repetições Médio , para repetições entre os 30
segundos e 1 minuto;
- Método de Repetições Longo , para esforços entre 1 e 2 minutos.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 17
O segundo apresenta as seguintes quatro vertentes:
- Método Intervalado Longo , para esforços superiores a 5 minutos;
- Método Intervalado Médio , para repetições entre 1 e 5 minutos;
- Método Intervalado Curto , com durações compreendidas entre 30
segundos e 1 minuto;
- Método Intervalado Muito Curto , para esforços entre 10 e 30
segundos.
Tanto o Método Contínuo como o Método Fraccionado podem ser
complementados com o adjectivo “intensivo” ou “extensivo”. No primeiro caso,
existe uma supremacia da intensidade sobre o volume, invertendo-se esta
tendência no segundo caso. A excepção a esta nomenclatura prende-se com o
Método Fraccionado de Repetições que apenas poderá ser acompanhado pelo
termo “intensivo”.
Na literatura consultada encontramos, também, uma variante do Método
Intervalado, o Método Intermitente , idealizado por Gacon em 1994 (Solé Fortó,
2005). Este método diferencia-se do treino Intervalado na medida em que as
pausas utilizadas são mais curtas e as cargas atingem o Volume de Oxigénio
Máximo (VO2max). Os tempos de esforço situam-se à volta dos 30 segundos,
assumindo a recuperação igual valor.
Ainda dentro do Método Fraccionado, Solé Fortó (2005) propõe outra
variante (o Método Interactivo ) pensada exclusivamente para os desportos
colectivos. Esta vertente procura simular a grande aleatoriedade e
imprevisibilidade dos estímulos no JDC. A sua principal característica consiste
em apresentar as várias componentes que compõem o Método Fraccionado
(duração do exercício, intensidade, tempo de pausa, etc.) de uma forma
variável. Este autor defende que, como em situação de jogo, os esforços e as
pausas tanto podem assumir durações de 5, 10 ou 30 segundos, o trabalho
realizado no treino deve assumir as mesmas características.
Por fim, temos o Método de Competição que procura reproduzir as
características da própria competição e que apresenta como principal objectivo
trabalhar de forma integrada todas as manifestações da Resistência que a
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 18
modalidade requer. Deste método fazem parte os jogos-treino e jogos ou
situações de treino com modificações dos factores de jogo, nomeadamente:
- Introdução do marcador e valorização da eficácia das acções;
- Introdução de situações de jogo condicionadas (últimos minutos
de jogo, resultados equilibrados, situações de
vantagem/desvantagem, etc.).
2.2.2. Velocidade
(a) Conceito e suas manifestações
A trabalho da Velocidade nos JDC teve a sua génese nos estudos
realizados nos Desportos Individuais, da mesma forma que o desenvolvimento
da Resistência. Com a evolução própria da Teoria e Metodologia do Treino,
este processo foi sofrendo sucessivas adaptações, sendo que, no entanto,
algumas características ainda se encontram presentes. Jorge Vizuete (2004)
apresenta-nos diferentes propostas que o conceito de velocidade assumiu ao
longo dos tempos, onde se encontram duas vertentes principais.
Por um lado, encontramos uma vertente mais conotada com o aspecto
condicional:
- Frey (1977): capacidade que permite realizar acções motrizes num
lapso de tempo situado abaixo das condições mínimas
disponíveis;
- Godik e Popov (1983): capacidade para executar um movimento
num espaço de tempo mínimo e com a resistência activa de um
rival;
- Martín Acero (1994): característica que permite mover
rapidamente, livre de sobrecarga, um ou mais elementos do corpo.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 19
Por outro, encontramos autores que entendem a velocidade como uma
capacidade cognito-motora do desportista:
- Benedek e Palfaí (1980): capacidade múltipla, não só composta
pela velocidade de reacção, das corridas rápidas, da velocidade
gestual, mas também determinada pelo rápido conhecimento e
valorização da situação de jogo;
- Harre (1987): capacidade psicofísica que se manifesta por
completo nas acções motrizes, quando o cansaço não limita a sua
expressão máxima;
- Weineck (1994): capacidade psicocognitiva que permite uma
acção rápida em determinada situação de jogo;
- Martín Acero (2000): agrupamento de factores que permite realizar
acções motrizes nas condições dadas, no menor tempo possível e
que permitem garantir antecipação, precisão e/ou aplicação óptima
da força (possibilitando o rendimento desportivo ambicionado).
Tais definições parecem-nos insuficientes. No primeiro caso, esta
capacidade é apenas analisada como sendo apenas dependente de aspectos
condicionais próprios do atleta. O segundo grupo de autores, apresenta uma
visão mais relacionada com os JDC, referindo que esta capacidade deve ser
enquadrada com a situação de jogo e em função da análise dos estímulos
externos. No entanto, um ponto comum destas opiniões, é no que se refere ao
factor tempo. Todas elas indicam que determinada acção deve ser efectuada
no mínimo tempo possível. Mas será mesmo este o tempo desejado, nos JDC?
Jorge Vizuete (2004) apresenta-nos um novo conceito. Para ele, a
velocidade é uma capacidade complexa, derivada de um conjunto de
propriedades funcionais (força e coordenação) que possibilita regular, em
função dos parâmetros temporais existentes, a activação dos processos
cognitivos e funcionais do desportista, para provocar uma resposta motora
óptima.
É uma capacidade complexa pois, para produzir uma acção motora a
determinada velocidade, é necessária a intervenção de diferentes processos,
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 20
isto é, esta acção será determinada pelo nível de actuação dos sistemas
bioenergéticos e do controlo sobre os mesmos.
A velocidade não é considerada como uma capacidade motora básica,
mas sim derivada destas. Esta capacidade não tem um sistema fisiológico
específico, ao contrário do que acontece com a resistência (sistema
energético), força (sistema muscular) e coordenação (sistema neurológico). A
velocidade é o resultado da interacção destes processos.
Permite regular na medida em que permite determinar os níveis
temporais de actuação dos sistemas que produzem a resposta motora (ex.
antecipação).
Por fim, existe a referência a uma resposta motora óptima , que não
pressupõe que a acção seja realizada forçosamente à velocidade máxima. Por
exemplo, numa intercepção de um passe o jogador deve adequar a sua
velocidade relativamente às informações que capta do exterior (velocidade da
bola, posição dos colegas/adversários, etc.).
Nos JDC a velocidade, como capacidade complexa, apresenta várias
manifestações, umas referentes ao momento anterior ao início da acção
(velocidade discriminativa e velocidade de tomada de decisão) e outras
relativas ao início e durante a acção propriamente dita (velocidade inicial e
velocidade de deslocamento).
A primeira, velocidade discriminativa , define a capacidade do atleta de
analisar os estímulos exteriores e está intimamente relacionada com o sistema
nervoso central. Esta análise é muito importante pois funciona como um “filtro”
de informação. O jogo de Andebol apresenta inúmeros estímulos, os quais
necessitam de ser considerados como relevantes ou não-relevantes para a
nossa acção. Em seguida, surge-nos a velocidade de tomada de decisão ,
que se relaciona com a selecção da acção a realizar. Nesta manifestação é
determinante a disponibilidade coordenativa do atleta e a sua experiência
motora.
No momento e durante a realização da acção temos, num primeiro
momento, a manifestação da velocidade inicial (ou velocidade de aceleração).
Esta resposta está profundamente relacionada com a força explosiva. Por fim,
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 21
surge-nos a velocidade de deslocamento , que se refere à capacidade de o
atleta realizar uma trajectória/acção, seja ela cíclica/acíclica ou
global/específica, num tempo óptimo (Jorge Vizuete, 2004).
Opinião semelhante apresenta Álvaro Alcalde (1991), que divide esta
capacidade em velocidade de reacção discriminativa e velocidade de
deslocamento .
De uma forma geral, podemos distinguir dois tipos de treino desta
capacidade: (1) o da velocidade propriamente dita e (2) o da resistência de
velocidade. O primeiro refere-se à capacidade de promover acções motoras o
mais rapidamente possível e o segundo em manter essa rapidez de execução
durante longos períodos de tempo (Soares, 2005).
Segundo Garganta (1999), o treino desta capacidade apresenta os
seguintes objectivos:
- Aumentar a capacidade do jogador para decidir rápida e
eficazmente as acções motoras que deve produzir em resposta
aos estímulos específicos do jogo;
- Aumentar a capacidade para executar rapidamente habilidades
técnicas específicas em contextos que reproduzam a estrutura do
modelo de jogo que se pretende ensinar;
- Desenvolver a capacidade para gerar uma potência elevada nas
acções ou sequências de acções de elevada intensidade: saltos,
sprints, mudanças de direcção, remates, etc.;
- Aumentar a capacidade de produzir, de forma contínua, potência e
energia, no que se refere principalmente à resistência de
velocidade, e incrementar a capacidade de recuperação depois de
um exercício de elevada intensidade.
No entanto, sendo esta uma capacidade derivada, o seu trabalho está
intimamente ligado ao trabalho de outras capacidades, nomeadamente a força
explosiva, isto é, ao desenvolvermos e melhorarmos esta vertente da força,
estamos também a realizar um transfer positivo para o trabalho de velocidade
(Álvaro Alcalde, 1991; Jorge Vizuete, 2004).
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 22
Como verificamos anteriormente no momento em que abordamos a
Resistência, o treino da Velocidade pode também ser distinguido pelos níveis
de aproximação que apresenta com a modalidade abordada: Geral, Dirigido,
Especial e Competitivo (Jorge Vizuete, 2004).
Assim, no primeiro (Nível Geral ), o trabalho centra-se no aspecto
condicional e técnico de habilidades básicas (saltar, correr, rematar), sendo a
base de qualquer modalidade.
No Nível Dirigido , pretendemos melhorar e relacionar a velocidade com
os aspectos coordenativos e cognitivos (tomada de decisão) referentes à
própria modalidade.
Em seguida, surge o Nível Especial que implica um trabalho com todos
os elementos específicos do Andebol, sendo que são desenvolvidos todos os
tipos de velocidade requeridos conjugados com os elementos técnicos,
coordenativos e cognitivos necessários.
Por fim, no Nível Competitivo trabalha-se a competição, isto é, o
método de treino é a competição ou situações simuladas desta, que devem ser
modificadas segundo os nossos interesses.
(b) Métodos de Treino
No desenvolvimento da velocidade são utilizados, predominantemente,
dois métodos: o Método das Repetições e o Método Intervalado (Jorge Vizuete,
2004).
O Método das Repetições é considerado como o método de excelência
da velocidade, já que garante uma recuperação óptima desta capacidade no
final do exercício (Jorge Vizuete, 2004). Como exemplo de exercício,
apresenta-nos sessões de oito repetições de acções de três a cinco segundos
(cerca de 20-30 metros), com recuperações de um minuto e meio.
O Método Intervalado é mais indicado para o trabalho resistência de
velocidade e o que mais se aproxima das necessidades do Andebol. Neste tipo
de trabalho, devemos utilizar períodos de recuperação incompletos e variáveis,
de forma a trabalharmos com mais especificidade.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 23
2.3. Planeamento do Microciclo
A planificação é um processo metodológico de estruturação da dinâmica
das cargas de treino, que procura o rendimento óptimo do desportista (Álvaro
Alcalde, 1991).
Álvaro Alcalde (1991) divide o planeamento anual (Macrociclo) em três
grandes blocos: Período Preparatório, Período Competitivo e Período
Transitório. Os objectivos do desenvolvimento da condição física no período
competitivo são os seguintes:
- Participação na competição semanal no melhor estado de forma
possível;
- Manutenção de bom nível competitivo tanto físico, psíquico e
técnico;
- Manutenção dos níveis de exigência físicos característicos do
Andebol;
- Atingir momentos óptimos em função do nível de dificuldade da
competição.
O microciclo pode assumir durações diversas, variando entre os três ou
quatro dias até um máximo de duas semanas. No entanto, a duração mais
frequente é de sete dias, pois, este período de tempo adapta-se com mais
facilidade ao ritmo geral da vida dos atletas (Castelo et al., 1998). Segundo os
mesmos autores, os microciclos podem ser classificados como Graduais, de
Choque, de Aproximação, de Recuperação ou de Competição. Apenas o último
será abordado neste trabalho, uma vez que é sobre este que vai recair a nossa
atenção.
Em termos de organização do trabalho ao longo do microciclo, a
bibliografia disponível é escassa. Outra dificuldade prende-se com o facto de,
grande parte da restante literatura, organizar o trabalho em duas os mais
sessões diárias. No entanto, poucas são as equipas, no nosso país, que têm
disponibilidade para trabalhar duas vezes por dia ao longo de toda a semana.
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 24
Assim, são apresentadas as vertentes que se podem aproximar mais da
realidade do Andebol português. Álvaro Alcalde (1991) indica-nos duas formas
possíveis de organizar o trabalho das capacidades condicionais e técnico-
-tácticas ao longo da semana, uma que contempla sete sessões de treino e um
jogo e outra que apresenta quatro unidades de treino e um jogo (Quadro 3).
Quadro 3 Exemplos de Organização do Microciclo em função dos conteúdos a abordar (adaptado de Álvaro Alcalde, 1991).
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
Man
hã
F. Explosiva ou F. Mista
F. Específica Técnica
Vel-Multisaltos
Tar
de
Res. Aeróbia Força
Técnica Força Mista
Res. Anaeróbia
Res. Específica
Velocidade Res.
Específica
Preparação para a
Competição Jogo
Descanso
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
Tar
de F. Explosiva
F. Técnica
Res. Aeróbia
F. Técnica
Res. Mista 3x3, 4x4,
6x6
Descanso Velocidade
Res. Mista
Preparação para a
Competição Jogo Descanso
Bompa (1999) e Castelo et. al (1998) propõem uma distribuição da carga
em função da intensidade global do treino (Figura 2). Os autores distinguem os
microciclos pelo número de unidades de treino de elevada intensidade que este
possuí (uma, duas ou três). Além dos microciclos aqui apresentados, os
autores apresentam outras formas de organização. A opção de não as
representar prende-se com o facto de as mesmas não se enquadrarem com o
tema deste trabalho, uma vez que, por exemplo, não apresentam uma
competição semanal.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 25
Figura 2 Exemplos de Organização de Microciclos em função da intensidade de cada unidade de treino (adaptado de Bompa, 1999)
Intensidade (%) 90-100 Alta 80-90 Média 50-80 Baixa 0 Descanso
Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
Intensidade (%) 90-100 Alta 80-90 Média 50-80 Baixa 0 Descanso
Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
Intensidade (%) 90-100 Alta 80-90 Média 50-80 Baixa 0 Descanso
Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
Intensidade (%) 90-100 Alta 80-90 Média 50-80 Baixa 0 Descanso
Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 26
Como podemos verificar, existem diversas formas de conceber e planear
um microciclo. As três primeiras opções referem-se a um microciclo com dois
picos semanais (correspondendo um jogo ao pico do fim-de-semana), ao
contrário da última, que apresenta três picos. O jogo oficial corresponderá a um
dos picos do fim-de-semana (no primeiro, segundo e quarto realizado ao
sábado e, no segundo, realizado ao domingo). De referir, também, que o
terceiro microciclo corresponde a dois jogos consecutivos (sexta e sábado).
Concluindo, ao longo deste capítulo, procuramos perceber quais as
exigências que esta modalidade impõe aos seus praticantes, pois só assim
conseguiremos conceber e planear todo o processo de treino de uma forma
eficaz e objectiva e respeitar um dos principais objectivos do treino que é o da
sua Especificidade.
Em seguida, analisamos os conceitos de Resistência e Velocidade, bem
como as suas distintas manifestações e métodos de trabalho. Pela análise da
bibliografia consultada, percebemos que o método mais indicado para o treino
de Andebol é o Método Fraccionado e que, no desenvolvimento destas
capacidades, o treinador deve privilegiar os exercícios de intensidade elevada.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 27
3. Modelação da Performance nos Jogos Desportivos C olectivos
Uma grande parte dos estudos realizados no âmbito dos JDC centra-se
na modelação da performance. Ao analisar este aspecto, os investigadores
procuram perceber a influência relativa dos diferentes factores no rendimento
dos jogadores e sua interacção (Garganta, 1997). Com o recurso a diversos
meios e métodos, os treinadores e investigadores recorrem à análise de jogo
para dela retirarem informação que permita aumentar o conhecimento acerca
do jogo e melhorar a qualidade da prestação desportiva dos jogadores e das
equipas (Garganta, 2001). O mesmo autor refere que, ao longo dos tempos, a
análise da performance desportiva tem possibilitado:
- Configurar modelos de actividade dos jogadores e das equipas;
- Identificar traços da actividade cuja presença/ausência se
correlaciona com a eficácia de processos e a obtenção de
resultados positivos;
- Promover o desenvolvimento de métodos de treino que garantam
uma maior especificidade e, portanto, superior transferibilidade;
- Indiciar tendências evolutivas das diferentes modalidades
desportivas.
No entanto, a Performance é um constructo complexo, uma vez que são
inúmeros os mecanismos que a influenciam, quer de ordem física, como
psicológica ou técnico-táctica. Assim, Ouellet (1987, cit. por Silva, 2000), refere
que a compreensão do jogo nunca será possível de conseguir através da
utilização de um só modelo de análise, visto que a informação recolhida será
sempre selectiva, existindo uma valorização de determinadas variáveis em
detrimento de outras.
Prudente (2006) classificou os estudos de acordo com a respectiva área
de estudo, delimitando seis âmbitos: Psicologia da Desporto, Pedagogia do
Desporto, Fisiologia do Esforço, Teoria e Metodologia do Treino Desportivo,
Cineantropometria e Biomecânica. De referir que o autor definiu outras áreas
que conjugam duas das áreas acima referidas.
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 28
Por outro lado, Silva (2000) propõe a seguinte divisão dos estudos
realizados no Andebol, consoante o seu foco de preocupação. Segundo o
autor, existem dois grandes grupos distintos: Estudos Analíticos, em que os
factores condicionantes são analisados fora da situação de jogo
(caracterização dos atletas com recurso a testes laboratoriais e/ou de terreno);
e os Estudos a partir da análise de jogo e treino, que se dedicam à observação
contextualizada dos factores que contribuem para a performance desportiva.
Dentro deste grupo, foram distinguidos os seguintes subgrupos:
- Estudos centrados na análise técnica;
- Estudos de caracterização da actividade física dos jogadores em
situação de jogo e treino;
- Estudos baseados na análise táctica;
- Estudos baseados na análise dos indicadores de jogo.
A Análise de Tempo e Movimento (ATM) situa-se no segundo ponto e
como será este aspecto que iremos analisar, debruçar-nos-emos sobre este
tema com mais atenção.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 29
3.1. A evolução metodológica nos estudos de Análise de Tempo e Movimento
Os estudos realizados com recurso a este modelo de observação têm
sofrido uma grande evolução nos últimos anos. Na sua fase inicial, estes
estudos eram efectuados no decurso do próprio jogo, após o qual era realizada
uma interpretação de forma subjectiva e impressionista do resultado da
observação (Janeira, 1994). Actualmente, este género de estudos é realizado
através da utilização de câmaras de filmar e computadores com softwares
idealizados especificamente para este tipo de análise. Assim, conseguimos
monitorizar e avaliar o deslocamento do desportista de uma forma mais
rigorosa e fidedigna.
3.1.1. Distância percorrida
A ATM tem sido utilizada fundamentalmente nos JDC para a
determinação da distância total percorrida pelos jogadores ao longo de um
jogo, bem como para a avaliação da distância total percorrida a diferentes
intensidades (Borges, 1996).
Nesta área, o número de estudos realizados no Andebol é escasso
(Quadro 4). De referir que todos os autores consultados apresentam como
objecto de estudo a ATM em situação de competição. A ATM em situação de
treino é também um ponto importante, uma vez que permitirá perceber se o
trabalho desenvolvido se assemelha e prepara o atleta para as exigências
próprias do jogo.
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 30
Quadro 4 Distância percorrida durante um jogo (em metros) e percentagens do deslocamento nas diferentes intensidades (adaptado de Borges, 1996).
Autores Posição Distância Total Passo Lento Médio Rápido
Konzak e Schacke (1968) Média 4152 19% 76% 9%
García Cuesta (1983) Média 3498 80% 14% 6% P. Esq. 3557 P. Direito 4083 L. Esq. 3464 L. Dir. 2857 Pivot 3531
Soares (1988) G.R. 2070 Santos (1989) Média 4365 Jewstushenko (1990) Média 6000 Czerwinski (1991) Central 5433 Laterais 4695 Czerwinski (1993) Central 5531 Extremos 4850
Borges (1996) Média 4499 34% 32% 23% 10% Pivot 4054 34% 34% 22% 10% P. Esq. 4801 35% 28% 24% 13% P. Dir. 4716 33% 31% 23% 13% Central 4454 35% 34% 23% 7% L. Esq. 4301 37% 31% 23% 9% L. Dir. 4670 32% 34% 24% 9% Šibila et al. (2004) 1ª Linha 3432 57% 25% 17%(1)
Pontas 3855 58% 23% 18% Pivot 3234 62% 25% 12% G.R. 1753 86% 11% 2,5%
Como podemos observar no Quadro anterior, a distância total percorrida
apresenta valores muitos díspares (valores entre 2070 e 6000m). Tal facto
pode ser justificado devido a não ter sido utilizada a mesma metodologia nos
diversos estudos. Aliás, apenas no estudo de Borges (1996), Šibila et al. (2004)
e Soares (1988) todos os passos do trabalho estão definidos (metodologia,
amostra e instrumento de observação).
No que se refere às diferentes intensidades de deslocamento, os dados
disponíveis ainda são em menor número. O estudo de Konzak e Schalke
(1) Este autor propõe a divisão dos variáveis em deslocamentos Lentos, Médios, Rápidos e Sprints, pelo que as duas
últimas foram agrupadas numa só, para uma melhor compreensão do Quadro.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 31
(1968), apenas delimita três categorias, sendo que obtiveram os seguintes
resultados: 15% do deslocamento a passo, 76% a uma intensidade média e 9%
com intensidade elevada. Os dados de Borges (1996) estão em consonância
com os de García Cuesta (1983), onde podemos constatar um valor muito
superior nos deslocamentos a baixa intensidade, passo (34%) e corrida lenta
(32%), em detrimento dos deslocamentos de média e alta intensidade, com
valores de 23% e 10%, respectivamente. Apesar da sua similaridade podemos
observar que estes movimentos tiveram uma percentagem superior no estudo
de Borges (1996), 33% face aos 20% do estudo de García Cuesta (1983).
Como podemos verificar, o estudo de Šibila et al. (2004), apresenta
valores particularmente diferentes. Com a evolução natural do jogo e a
alteração de algumas regras no passado recente, nomeadamente a
possibilidade de se realizar uma acção de “Contra-golo” (2), o jogo tem
tendência a aumentar de intensidade. Apesar de os valores dos movimentos a
baixa intensidade assumirem ainda valores superiores, podemos observar que
tem existido uma progressiva redução da diferença destes para os de elevada
intensidade.
Relativamente às diferenças entre postos específicos, Borges (1996, p.
58), refere que “os resultados apontam para uma invariância na distância dos
percursos realizados a diferentes intensidades pelos jogadores das diferentes
posições específicas, bem como para a totalidade da distância percorrida.” Por
outro lado, Šibila et al. (2004), defende que os padrões de deslocamento são
efectivamente diferentes consoante a posição específica que o jogador ocupa.
Estes dados vão de encontro ao sugerido por Czerwinski (1991), que registou
diferenças de cerca de 800m entre os jogadores que actuam na zona central
face aos que actuam nas zonas laterais (5433 e 4695m, respectivamente).
(2) Acção Individual ou colectiva através da qual a equipa tenta marcar golo rapidamente, após um golo do adversário (Gutiérrez Delgado, 2004 )
REVISÃO DA LITERATURA
LUÍS FILIPE SILVA 32
3.1.2. Categorização das Variáveis
No estudo de Borges (1996), a categorização das variáveis foi efectuada
em função da intensidade do deslocamento, de acordo com a definição de
Janeira (1994). Assim, foram delimitadas quatro categorias: a passo (para
deslocamentos até 1m/s), lento (de 1 a 3 m/s), médio (de 3 a 5 m/s) e rápido
(para velocidades superiores a 5 m/s).
Em estudos fora do âmbito do Andebol, outras foram as categorias
utilizadas. Spencer et al. (2004), no seu estudo sobre Hóquei em Campo,
procuraram caracterizar o perfil do jogador e recorreram a cinco variáveis:
parado, a passo, corrida lenta, corrida rápida e sprint. Segundo estes autores,
esta diferenciação era estabelecida pela observação da acção e amplitude dos
movimentos realizados pelos atletas a nível dos Membros Superiores (MS) e
Membros Inferiores (MI).
Por outro lado, Duthie, Pyne e Hooper (2005) realizaram um estudo no
Rugby e estabeleceram as seguintes categorias no que se refere ao
movimento do jogador: parado, a passo, corrida lenta, corrida rápida, sprint e
Static exertion. A distinção das variáveis foi realizada de modo semelhante ao
estudo de Spencer et al. (2004), isto é, tendo especial atenção à amplitude de
movimentos dos membros do atleta.
Esta categorização parece-nos ser mais adequada, pois, não só engloba
todos os movimentos que o atleta realiza no decorrer da sua actividade, como
também diferencia as acções que este possa realizar a intensidade máxima,
apesar de não podermos observar qualquer movimento. À semelhança do que
ocorre no Rugby, no Andebol, também são inúmeras as situações de um contra
um, em que o atleta realiza uma acção de intensidade máxima, podendo, no
entanto, não efectuar qualquer deslocamento. Estes momentos ocorrem quer
esteja em acção defensiva (por exemplo, controlo defensivo) quer em acções
ofensivas (por exemplo, bloqueio). Assim, parece-nos importante que esta
categoria seja incluída na metodologia a utilizar.
III. METODOLOGIA
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 35
1. Caracterização da Amostra
A amostra deste trabalho é constituída por um total de 12 observações.
Para a análise dos indicadores de tempo e movimento foi solicitada a
colaboração de três equipas, tendo sido filmados dois treinos de cada uma,
totalizando um total de seis sessões. De referir que, as três equipas analisadas,
integraram a Liga Portuguesa de Andebol, na época 2006/2007.
Os treinos analisados são os referentes ao núcleo central de um
microciclo padrão de cada uma das equipas, pertencentes ao período
competitivo. Em cada treino foram observados dois atletas. Nesta selecção
foram tidos em conta dois pressupostos: (1) atletas que integram habitualmente
as convocatórias para as Selecções Nacionais e (2) atletas que jogam
predominantemente em linhas ofensivas diferentes (um na primeira linha e
outro na segunda linha).
Os treinos foram filmados entre os meses de Fevereiro e Abril de 2007,
tendo sido realizada a sua análise no mês de Agosto.
2. Instrumentos utilizados
Os instrumentos utilizados na observação e análise das unidades de
treino foram os seguintes:
- Câmara e cassetes de vídeo;
- Computador com leitor de DVD;
- Programa Alma Software para o registo das variáveis em estudo;
- Programa SPSS 14.0 para o tratamento estatístico dos dados;
- Ficha de Observação para o registo de outras informações importantes.
METODOLOGIA
LUÍS FILIPE SILVA 36
3. Definição das Variáveis
O factor discriminatório de cada uma das categorias da variável
observada foi escolhido tendo em conta a intensidade dos deslocamentos
dos atletas em cada momento do treino. Assim sendo, foram estabelecidas seis
categorias: “Parado”, “A Passo”, “Corrida Lenta”, “Corrida Rápida”, “Sprints” e
“Duelos”.
De forma a estabelecer um padrão de observação, as categorias foram
definidas tendo em conta o proposto por Spencer et al. (2004) e Duthie et al.
(2005). Assim, para cada um das categorias foram elaboradas as seguintes
definições:
- Parado: esta categoria caracteriza-se pela ausência de
deslocamento;
- A passo: o atleta movimenta-se sem que haja uma fase aérea em
qualquer momento do ciclo de passada;
- Corrida lenta: movimento do atleta com uma fase aérea
perfeitamente delineada, em que existe uma ligeira elevação do
joelho e balanços reduzidos dos MS;
- Corrida rápida: acção semelhante à corrida lenta, mas com
movimentos mais vigorosos, isto é, maior elevação do joelho e
balanços dos MS mais amplos (incluindo mudanças de direcção);
- Sprints: corrida efectuada à intensidade máxima, com elevação do
joelho até cerca de 90º e com extensão completa da perna no
balanço à frente;
- Duelos: momentos em que atleta, apesar de estar parado ou com
movimento reduzido, está com uma contracção isométrica
elevada/máxima (por exemplo, controlo defensivo).
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 37
4. Procedimentos Metodológicos
A nível dos procedimentos metodológicos foram seguidos os vários
passos propostos por Prudente, Garganta e Anguera Arguilaga (2004).
Segundo estes autores, a validação de um Sistema de Observação tem que
passar por vários passos desde a sua primeira concepção, isto é, a definição
dos objectivos do estudo e dos critérios vertebradores do mesmo sistema de
observação até ser considerado, efectivamente, como uma Proposta de
Sistema de Observação.
Assim, numa primeira fase, foram estabelecidos os objectivos do estudo
bem como uma recolha de informação bibliográfica de trabalhos semelhantes
desenvolvidos nesta área de investigação no Andebol e em outras
modalidades.
Em seguida, foi realizado um pré-teste que tinha como principal objectivo
estabelecer a categorização de todas as variáveis, que ocorrem durante a
sessão de treino. Esta acção, segundo Prudente et al. (2004), tem como
principais finalidades:
- Contribuir para delimitar de forma precisa o objecto de estudo;
- Diminuir ou eliminar a possibilidade do sujeito observado modificar
a sua conduta espontânea pelo facto de se sentir observado;
- Aumentar o nível de treino do observador;
- Recolher informação suficiente que permita adoptar, a posteriori e
no início da fase activa ou cientifica da observação, as decisões
mais acertadas.
O primeiro ponto assume especial importância, uma vez que, com a
realização do pré-teste pretendeu-se, não só, verificar se as categorias a
estudar incluem todas as ocorrências do treino, mas também conferir que estas
estão perfeitamente delimitadas e que não existem sobreposições. Isto é, não
só, nenhum acontecimento poderia ser incluído em mais que uma categoria,
como todos os acontecimentos tinham que ser classificáveis pelo nosso
instrumento. Após o pré-teste, os resultados obtidos foram analisados por
METODOLOGIA
LUÍS FILIPE SILVA 38
especialistas da modalidade de forma a considerarmos o nosso Instrumento
como válido.
Como parte do processo preparatório da observação, procedeu-se a
uma primeira análise (com a duração de cerca de uma semana) com o
objectivo de nos familiarizarmos com o programa a utilizar. Nesta fase, foram
utilizados os vídeos referentes à amostra, servindo também este momento para
obter uma primeira noção da dinâmica que caracteriza cada sessão de treino.
Os atletas foram divididos em função do clube que representam e do
posto específico que ocupam em situação de ataque (primeira ou segunda
linha ofensiva), tendo sido atribuída uma letra a cada clube (A, B, C), com as
variantes de A1, B1, C1 para os atletas da primeira linha ofensiva e A2, B2, C2
para os da segunda linha de ataque.
Seguidamente, procedeu-se à observação e registo dos dados, em
função das categorias previamente estabelecidas, tendo sido criado um
documento no programa Microsoft Office Excel 2003TM que reuniu a totalidade
da informação.
Por último, realizou-se uma segunda observação com o objectivo de
garantir a fiabilidade intra-observador. Assim, foram observados 10 minutos de
cada um dos treinos de forma a garantir a consistência dos dados recolhidos.
Para que um estudo seja considerado como fiável, Van der Mars (1989) propõe
que o valor da percentagem da relação de acordos e desacordos seja no
mínimo de 80%, pelo que, o nosso valor (89%) se encontra dentro dos
parâmetros desejados.
5. Procedimentos Estatísticos
As diferentes categorias foram analisadas com o recurso ao programa
informático SPSS 14.0. Num primeiro momento, recorreu-se aos
procedimentos estatísticos de análise descritiva, nomeadamente, média,
mínimo, máximo e percentagens, referentes aos valores registados para cada
categoria.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 39
Num segundo momento efectuou-se a comparação entre os valores
obtidos (1) entre os treinos observados, recorrendo ao T-test de Medidas
Repetidas e (2) entre os postos específicos considerados, com recurso ao T-
test de Medidas Independentes. Nos dois casos foi mantido um nível de
significância de 5%.
METODOLOGIA
LUÍS FILIPE SILVA 40
IV. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 43
Neste Capítulo são apresentados, em dois momentos fundamentais, os
resultados obtidos a partir da observação das sessões de treino. Num primeiro
momento, será realizada uma análise descritiva por clube, discriminando os
valores de perfil de deslocamento por atleta, o tempo de treino e, por fim, uma
análise global da amostra estudada. No segundo momento referido, serão
apresentados os resultados da análise comparativa, em função (1) do treino
observado e (2) do posto específico dos atletas considerados.
Os resultados estão apresentados sob a forma de percentagem, pois, só
assim, é possível realizar uma comparação real entre os diferentes parâmetros,
isto é, em função da equipa que representam e do posto específico que
ocupam. A única excepção refere-se ao tempo total de treino, que é
apresentado em minutos.
1. Análise Descritiva
1.1. Análise Descritiva em função do Clube observad o
1.1.1. Clube A
Nos Quadros seguintes são apresentados os valores dos tempos da
parte fundamental dos treinos (Quadro 5) e os valores percentuais dos perfis
de deslocamento dos atletas observados, em cada treino (Quadro 6).
Quadro 5 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube A.
1º Treino 2º Treino
A1 A2 A1 A2
Tempo de Treino
84'05'' 84'05'' 71'20'' 71'26''
Como podemos observar, na segunda sessão observada, os tempos da
parte fundamental do treino são distintos, ao contrário do verificado no primeiro
treino. Este facto ocorre pois, enquanto o atleta A2 ainda estava a realizar uma
das tarefas propostas, o atleta A1 já a tinha terminado.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 44
Quadro 6 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta, do Clube A.
1º Treino 2º Treino Perfil de Deslocamento A1 A2 A1 A2
Parado 36.23% 42.73% 35.91% 44.94%
A Passo 42.89% 36.70% 48.95% 42.72%
C. Lenta 14.69% 14.34% 10.19% 7.68%
C. Rápida 5.37% 5.12% 4.63% 4.18%
Sprints 0.04% 0.22% 0.16% 0.33%
Duelos 0.77% 0.89% 0.16% 0.16%
Podemos observar no Quadro anterior que, relativamente ao Perfil de
Deslocamento dos atletas nos treinos observados, prevalecem as situações em
que eles se encontram parados ou efectuam os seus deslocamentos a passo
ou em corrida lenta. Os valores obtidos para os “Sprints” e “Duelos” são
residuais.
1.1.2. Clube B
Os Quadros 7 e 8 apresentam os valores relativos aos tempos da parte
fundamental do treino e os valores percentuais dos perfis de deslocamento dos
dois atletas analisados.
Quadro 7 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube B.
1º Treino 2º Treino
B1 B2 B1 B2
Tempo de Treino
63'29'' 63'29'' 93'10'' 93'10''
Como podemos verificar pela análise da Quadro anterior, no Clube B,
não existe qualquer diferença de tempo da parte fundamental, nos dois
momentos observados.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 45
Quadro 8 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta, do Clube B.
1º Treino 2º Treino Perfil de Deslocamento B1 B2 B1 B2
Parado 49.02% 62.98% 43.40% 56.67%
A Passo 34.76% 25.86% 44.94% 33.65%
C. Lenta 11.34% 5.85% 9.19% 6.19%
C. Rápida 3.47% 4.75% 1.81% 3.31%
Sprints 0.08% 0.34% 0.04% 0.00%
Duelos 1.34% 0.21% 0.63% 0.18%
O ponto de destaque deste Quadro refere-se ao tempo que o Atleta B2
despende nos treinos observados na categoria “Parados” (62.98% no primeiro
treino e 56.67% no segundo). De referir também, que o mesmo atleta não
realiza qualquer sprint no segundo treino.
1.1.3. Clube C
À imagem do verificado para os Clubes A e B, apresentam-se os valores
do tempo de treino da parte fundamental e os valores percentuais dos perfis de
deslocamento (Quadros 9 e 10, respectivamente)
Quadro 9 Tempo da parte fundamental das sessões de treino, do Clube C.
1º Treino 2º Treino
C1 C2 C1 C2
Tempo de Treino
54'37'' 54'42'' 63'17'’ 63'29''
Nos treinos observados do Clube C, o atleta da segunda linha ofensiva
apresente um tempo de treino superior ao seu companheiro da primeira linha
nos dois momentos analisados. Como vimos no caso do Clube A, este facto é
explicado por existir um prolongamento na realização das tarefas no caso do
Atleta C2 quando em comparação com o Atleta C1.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 46
Quadro 10 Valores percentuais dos Perfis de Deslocamento por treino e atleta, do Clube C.
1º Treino 2º Treino Perfil de Deslocamento C1 C2 C1 C2
Parado 35.34% 40.68% 52.41% 56.29%
A Passo 43.85% 43.33% 31.21% 31.43%
C. Lenta 12.45% 8.01% 9.45% 7.74%
C. Rápida 6.84% 5.27% 5.37% 2.60%
Sprints 1.16% 1.52% 0.71% 1.21%
Duelos 0.37% 1.19% 0.84% 0.74%
Como verificamos no Quadro acima apresentado, no segundo treino do
Clube C existe um aumento dos valores registados na categoria “Parado” face
ao observado na primeira sessão. Nos dois atletas, este valor corresponde a
mais de metade do tempo da parte fundamental do treino (Atleta C1 com 52.4%
e Atleta C2 com 56.3%), situação que não se verifica no primeiro treino.
1.2. Análise Descritiva dos dados totais da amostra
Neste ponto, são apresentados os valores médios da totalidade da
amostra para os parâmetros considerados: tempo despendido na parte
fundamental das sessões de treino e valores percentuais médios por treino dos
perfis de deslocamento registados.
Em termos médios, a parte fundamental do treino de Andebol tem a
duração de 71’42’’(±13’46’’).
A Figura 4 apresenta graficamente os resultados obtidos, em função dos
distintos perfis de deslocamento considerados, para a totalidade da amostra do
estudo.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 47
46.4%
38.4%
9.8%4.4%
0.5%
0.6%
Parado
A Passo
C. Lenta
C. Rápida
Sprints
Duelos
Figura 3 Valores obtidos nas diferentes categorias de deslocamento, pela globalidade da amostra (em percentagem).
Como podemos constatar, em quase metade do tempo de treino
(46.4%), os atletas não realizam qualquer tipo de deslocamento. Como
segunda categoria mais observada, surge o deslocamento a passo, com um
valor médio de 38.4% por treino. Com valores menos significativos seguem-se
os deslocamentos em “Corrida Lenta” com 9.8%, em “Corrida Rápida” com
4.4% e os “Sprints” e os “Duelos” com um total de 1% (0.4 e 0.6%,
respectivamente).
De forma global, podemos verificar que em 84.7% do tempo destinado à
parte fundamental do treino, são registados movimentos de intensidade baixa
(“Parado” e “A Passo”) e 15.3% em deslocamentos de intensidade moderada,
elevada ou máxima (restantes categorias).
2. Análise Comparativa
As análises comparativas, em função dos treinos considerados (primeiro
vs segundo) e dos postos específicos (primeira linha vs segunda linha), foram
efectuadas, tendo em atenção dois aspectos fundamentais: (1) comparação do
tempo de treino da parte fundamental e (2) comparação dos valores
percentuais dos perfis de deslocamento.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 48
Primeiro Treino
44.5%
37.9%
11.1%5.1%
0.6%
0.8%
48.3%
38.8%
8.4% 3.6%
0.5%
0.4%
Segundo Treino
2.1. Análise Comparativa em função dos treinos obse rvados
Relativamente à duração da parte fundamental dos treinos, verificamos
que o primeiro treino analisado apresenta uma média de 67’25’’(±13’30’’), valor
ligeiramente inferior ao registado no treino seguinte – 75’59’’(±13’47’’).
Na Figura 5 apresentamos os resultados da totalidade da amostra em
função do treino observado.
Figura 4 Valores médios obtidos pela amostra nas diferentes categorias em cada um dos treinos (valores percentuais).
A primeira constatação a retirar é que o padrão de treino apresentado é
semelhante, visto que a hierarquização das categorias dos Perfis de
Deslocamento considerados é igual. Como comportamento mais representativo
surge a categoria “Parado” com 44.5% no primeiro treino e 48.3% no segundo.
Em seguida, com resultados muito próximos nas duas sessões observadas,
surgem os deslocamentos “A passo” (37.9 e 38.8% respectivamente). O
aumento da percentagem de tempo dispendido no segundo treino nestas duas
variáveis, originou um decréscimo nas restantes. Assim, na categoria “Corrida
Lenta” temos valores de 11.1% e 8.4%, para o primeiro e segundo treinos,
respectivamente. As categorias ”Duelos”, com valores de 0.8 (no primeiro
treino) e 0.6% (no segundo), e “Sprints” (0.6 e 0.4%, respectivamente),
assumem valores muito reduzidos.
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 49
50.7%
35.6%
8.3%4.2%
0.6%
0.6%
42.1%
41.1%
11.2%4.6%
0.7%
0.4%
Primeira Linha Segunda Linha
Para testar estatisticamente as diferenças verificadas nos Perfis de
Deslocamento nos dois momentos observados, recorremos ao T-test de
Medidas Repetidas, cujos resultados se apresentam no Quadro 11.
Quadro 11 Valores de prova das diferentes categorias, em função do treino observado.
Parado A Passo C. Lenta C. Rápida Sprints Duelos p
(α=0.05) 0.409 0.836 0.053 0.03 0.192 0.137
Como podemos verificar, apenas na categoria “Corrida Rápida” existem
diferenças estatisticamente significativas (p ≤ 0.05), ao contrário dos restantes
parâmetros em que o nível de prova é superior ao nível de significância.
2.2. Análise Comparativa em função do Posto Específ ico
O tempo de treino verificado para os jogadores que ocupam lugares na
primeira linha e, comparativamente com jogadores que ocupam postos
específicos na segunda linha é praticamente igual. De facto, verifica-se no total
da amostra uma diferença residual (23 segundos).
Na Figura 6 podemos observar os valores obtidos nos diferentes
comportamentos, pelos atletas pertencentes à primeira e segunda linhas
ofensivas.
Figura 5 Valores médios obtidos pela amostra nas diferentes categorias, segundo o posto específico que ocupam (em percentagem).
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 50
À semelhança das análises anteriores, tanto nos jogadores da primeira
linha ofensiva como nos da segunda, a categoria “Parado” é a que apresenta
um valor mais elevado. Se no caso dos jogadores da primeira linha a diferença
para o parâmetro seguinte é 1% (42.1% relativamente aos 41.1% da categoria
“A Passo”), nos atletas da segunda linha ofensiva a mesma diferença é de
15.1%.
A variável “Corrida Lenta” verifica-se em 11.2% e 8.3% do tempo de
treino, na primeira linha e segunda linha respectivamente. Com valores muito
semelhantes nos dois grupos, surgem os restantes tipos de deslocamento. Em
média, a primeira linha despende 4.6% do tempo de treino em “Corrida
Rápida”, 0.7% em “Duelos” e 0.4% em “Sprint”. Por sua vez, os elementos da
segunda linha ofensiva despendem cerca de 4.2% em “Corrida Rápida” e 0.6%
em cada uma das restantes categorias (“Sprint” e “Duelos”).
O Quadro 12 apresenta os dados obtidos pela realização do T-test de
Medidas Independentes referente.
Quadro 12 Valores de prova das diferentes categorias, em função do posto específico.
Parado A Passo C. Lenta C. Rápida Sprints Duelos p
(α=0.05) 0.102 0.188 0.089 0.663 0.466 0.626
Como podemos observar, em nenhum dos parâmetros analisados, o
valor de prova é inferior ao nível de significância de 5%. Por este facto, as
diferenças entre dos valores obtidos pelos atletas da primeira linha em
comparação com os da segunda não são estatisticamente significativas.
V. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 53
Na revisão da literatura foi feita referência à escassez da bibliografia
disponível sobre este tema em concreto. Aliás, não foi encontrado nenhum
estudo que procurasse analisar o processo de treino relativamente à sua
intensidade. Deste modo, procuraremos, em primeiro lugar, perceber se este
se adequa às exigências impostas pela modalidade. Com este objectivo,
entendemos ser importante fazer uma análise dos resultados obtidos no
presente estudo, comparativamente aos que foram encontrados nos estudos
de ATM mais recentes realizados a partir de observações da competição
(Quadro 13).
Quadro 13 Valores percentuais dos deslocamentos dos atletas em situação de jogo, a diferentes intensidades, em comparação com o presente estudo.
Autores Posição Passo Lento Médio Rápido
Borges (1996) Média 34% 32% 23% 10% Pivot 34% 34% 22% 10% P. Esq. 35% 28% 24% 13% P. Dir. 33% 31% 23% 13% Central 35% 34% 23% 7% L. Esq. 37% 31% 23% 9% L. Dir. 32% 34% 24% 9% Šibila et al. (2004) 1ª Linha 57% 25% 17%
Pontas 58% 23% 18% Pivot 62% 25% 12% GR 86% 11% 2,5%
Com
petiç
ão
Presente Estudo Geral 85%(3) 10% 4% 1% 1ª Linha 83% 11% 5% 1% 2ª Linha 87% 8% 4% 1% T
rein
o
Como se pode verificar pela análise do Quadro anterior, o treino de
Andebol, em termos gerais, apresenta uma intensidade muito baixa. Esse facto
é evidente pois, em quase 85% do tempo de treino, os atletas encontram-se
parados ou efectuam o seu deslocamento a passo (cerca de 60’57’’). Assim,
em termos percentuais, os atletas despendem mais do dobro do tempo nas
(3) Este valor representa o somatório das variáveis “Parado” e “A passo” para que possa ser estabelecida uma melhor comparação com os demais estudos.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 54
duas categorias consideradas em comparação com os resultados obtidos em
situação de jogo (34% no estudo de Borges, 1996).
Por outro lado, podemos constatar que no jogo de Andebol, os
momentos em que os deslocamentos são realizados com intensidades
elevadas (deslocamento médios e rápidos) podem atingir valores
compreendidos entre os 33% (Borges, 1996) e os 40% (Šibila et al., 2004) do
tempo total de jogo. No entanto, nos treinos observados, verificamos que
apenas 6% do tempo total de treino foi despendido em deslocamentos com
estas intensidades. Partindo do pressuposto que o processo de treino deve,
pelo menos, recriar as condições em que decorre a competição, constatamos
que existe um claro deficit de deslocamentos a intensidades mais elevadas.
No que se refere à hierarquização das categorias que consideramos
para caracterizar o Perfil de Deslocamento do jogador de Andebol, verificamos
que os resultados do nosso estudo estão de acordo com as conclusões dos
trabalhos anteriormente referidos. De facto, constatamos que no presente
estudo, à imagem do que sucede com os trabalhos Borges (1996) e Šibila et al.
(2004), existe uma predominância dos deslocamentos de intensidade reduzida,
sobre os de intensidade média e destes sobre de intensidade elevada. No
entanto, os valores percentuais de cada categoria de deslocamento são
substancialmente diferentes.
Decorrente da Revisão da Literatura, é possível afirmar que as
capacidades condicionais e, nomeadamente a Resistência, assumem um papel
determinante para o rendimento desportivo (Rebelo, 1993; Rebelo e Soares,
1994; Seirul-lo Vargas, 1993; Soares, 2005). Consequentemente, o treino desta
capacidade deverá constituir um objectivo do processo de treino (Soares,
2005). Para se obter ganhos significativos ao nível das várias manifestações da
Resistência, a intensidade dos exercícios realizados no treino deve ser, regra
geral, elevada (Seirul-lo Vargas, 1993; Soares, 2005). Atendendo aos
deslocamentos de intensidades elevadas observados nas sessões de treino,
apenas 5% do tempo total, parece-nos que a estimulação a este nível não será
passível de provocar uma melhoria desta capacidade, sobretudo se
atendermos às indicações propostos por Seirul-lo Vargas (1993).
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 55
O facto dos treinos observados apresentarem o Perfil de Deslocamento
referido, pode ser explicado, pelo menos, de duas formas: (1) o processo de
treino não se encontra totalmente adaptado às exigências que a modalidade
requer do ponto de vista da Resistência, ou (2) os objectivos das sessões
observadas passam por outras vertentes que influenciam o rendimento
desportivo, que não o desenvolvimento desta capacidade.
A partir dos treinos observados, admitimos que a grande preocupação
dos treinadores visasse dotar a equipa das soluções tácticas que entenderam
ser necessárias para a competição, colocando em segundo plano o
desenvolvimento dos aspectos físicos. Outro aspecto que poderá ter
contribuído para o Perfil de Deslocamento do treino se apresentar com
intensidades predominantemente baixas, pode também estar relacionado com
o facto dos exercícios realizados se terem desenrolado fundamentalmente
junto da área de baliza. A maior parte dos exercícios realizados terá tido como
objectivo a preparação das equipas nas fases de ataque e defesa em sistema,
pelo que, os atletas viram a sua área de acção confinada apenas a um meio-
campo. Neste contexto, as paragens por parte dos treinadores foram
frequentes que, de uma forma geral, nestes momentos procuraram corrigir o
posicionamento e a tomada de decisão que o atleta deve adoptar em cada
acção de jogo.
Este facto pode, eventualmente, ser explicado pela altura da época em
que decorreu a recolha de dados. Tendo sido efectuada nos meses de
Fevereiro e Abril de 2007, esta observação foi realizada em pleno período
competitivo, coincidindo com as últimas jornadas da Fase Regular da Liga
Portuguesa de Andebol. Nesta fase do calendário competitivo, os resultados
dos jogos assumem uma importância especial, pelo que os exercícios visando
o trabalho da vertente táctica colectiva poderão ter sido considerados como o
meio de treino preferencial para atingir os objectivos desportivos.
No entanto, mesmo na exercitação destes conteúdos deverá ser
considerada a intensidade a que o exercício decorre. Desta forma poderão ser
obtidas vantagens, não só ao nível do trabalho da condição física, mas também
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 56
na criação de condições semelhantes às que ocorrem na competição, onde o
aspecto táctico é determinante.
1. Primeiro treino versus Segundo Treino
Em primeiro lugar, entendemos ser importante situar as unidades de
treino observadas no microciclo semanal. No caso do primeiro treino analisado,
nos clubes A e C, este foi o segundo treino da semana (uma vez que só
efectuaram quatro treinos). No clube B, este foi o terceiro dos cinco treinos
efectuados neste período. O segundo treino, correspondeu à terceira sessão
semanal (nos clubes A e C) e à quarta sessão no clube B.
Verifica-se que a primeira unidade de treino observada nos três clubes
apresenta uma intensidade baixa, estando de acordo com o padrão do Perfil de
Deslocamento da amostra quanto à sua intensidade. Este facto contraria as
indicações descritas na literatura (Bompa, 1999; Castelo et. al, 1998) que
apontam que, neste treino, o nível de intensidade global deve ser médio ou
elevado (acima dos 80%). Em nenhuma das equipas estudadas obtivemos
dados semelhantes a estes, pelo que a estrutura do microciclo contraria as
propostas dos autores consultados. Como aspecto mais relevante, gostaríamos
de realçar que, em cerca de 82% do tempo (55’34’’), os atletas se encontram
parados ou “A Passo”, o que por si só prejudica a intensidade e volume global
deste treino. Os momentos de intensidade média ou elevada foram
esporádicos, resumindo-se, de uma forma geral, a algumas situações de 2x2,
3x3 ou de contra-ataque.
Os três clubes apresentam, na segunda sessão analisada, valores
semelhantes ao primeiro treino, existindo, no entanto, um ligeiro aumento do
tempo despendido em momentos de baixa intensidade (87% do tempo nas
variáveis “Parado” ou “A Passo”, referentes a um total de 66’11’’) e como
consequência uma provável diminuição da intensidade do treino. Os valores de
intensidade propostos por Bompa (1999) e Castelo et. al (1998) apresentam
uma amplitude assinalável para este treino, em função do tipo de microciclo
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 57
adoptado. Para estes autores, a intensidade deste treino pode variar entre os
50 e os 100%.
Por último, quando observamos os resultados obtidos no T-test de
Medidas Repetidas verificamos apenas que existem diferenças
estatisticamente significativas no parâmetro “Corrida Rápida”. Assim, a
diminuição do valor relativo (do primeiro para o segundo treino) dos
deslocamentos desta categoria é significativo a nível estatístico o que poderá
provar, novamente, a ligeira diminuição da intensidade global do treino. No
entanto, registando-se diferenças desta índole apenas numa variável,
concluímos que os dois treinos apresentam características semelhantes ao
nível da sua intensidade.
Como resumo, podemos afirmar que, pela análise dos dois treinos
observados, estes não estão de acordo com as propostas estabelecidas para a
organização do microciclo no Período Competitivo. De facto, Bompa (1999) e
Castelo et. al (1998) propõem cargas de treino diferenciadas ao longo da
semana, situação que não se verifica nos treinos analisados no presente
estudo, onde encontramos uma uniformidade de cargas nos dois treinos. Esta
evidência pode ser explicada pelo facto dos objectivos dos dois treinos serem
semelhantes, procurando privilegiar o trabalho da vertente táctica colectiva, o
que pressupõe, uma preocupação fundamental com a preparação da
competição. Atendendo ao que é proposto por Álvaro Alcalde (1991) para a
organização do microciclo-tipo do Período Competitivo, constata-se que, nos
treinos dos clubes observados parece existir uma preocupação elevada com os
aspectos da preparação da competição. O referido autor, apresenta como
objectivos fundamentais do segundo e terceiro treinos do microciclo, o trabalho
dos aspectos condicionais em simultâneo com questões da técnica-táctica
individual e de grupo. O momento indicado, pelo autor, para o trabalho dos
aspectos mais específicos da preparação da competição surge apenas no final
do microciclo.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
LUÍS FILIPE SILVA 58
2. Primeira linha versus Segunda Linha
Como constatamos anteriormente, as tarefas propostas no treino devem
ser adaptadas às funções e exigências que o jogo impõe a cada um dos seus
intervenientes (Seirul-lo Vargas, 1993). Assim, uma vez que estas são
diferentes mediante o posto específico ocupado, seria de esperar que os
exercícios realizados fossem também ajustados a este facto. Recorrendo à
análise do plano de treino, podemos afirmar que apenas em alguns momentos
do treino do clube C houve distinção nas tarefas propostas, em função do posto
específico. Nos clubes A e B, as tarefas foram sempre comuns a qualquer
jogador com a excepção do Guarda-redes.
Como verificado no Capítulo anterior (Apresentação dos Resultados), os
dados obtidos no T-test de Medidas Independentes mostram que as diferenças
observadas entre estes dois grupos não são estatisticamente significativas.
Podemos assim constatar que, nos treinos observados, à excepção do
clube C não existiu a preocupação de atender à especificidade de cada posto
específico, no que diz respeito às exigências do ponto de vista físico.
Uma vez mais, parece-nos que a semelhança verificada no Perfil de
Deslocamento dos jogadores que ocupam a primeira e segunda linhas deve-se,
provavelmente, aos objectivos dos treinos e aos exercícios realizados para os
alcançar.
VI. CONCLUSÃO
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 61
Decorrente da análise e interpretação dos resultados e atendendo aos
objectivos propostos para o presente estudo, apresentamos o seguinte quadro
de conclusões:
- A carga de treino a que os andebolistas estão sujeitos no período
competitivo caracteriza-se pelo predomínio de exercícios
realizados a intensidades muito baixas;
- O tempo de treino despendido em exercícios de intensidade
elevada ou máxima é muito reduzido;
- No núcleo central do microciclo, de uma forma geral, as
intensidades de trabalho são semelhantes;
- A grande preocupação dos treinadores relaciona-se, quase em
exclusivo, com a preparação da competição fundamentalmente ao
nível do trabalho dos aspectos da táctica colectiva;
- As tarefas de treino são idênticas, tendo como resultado
intensidades de treino semelhantes, independentemente do posto
específico ocupados pelos atletas, excepção feita aos guarda-
redes.
CONCLUSÃO
LUÍS FILIPE SILVA 62
1. Propostas para estudos futuros
- Efectuar um estudo ao longo de um microciclo completo, de forma
a procurar perceber a variação da dinâmica das cargas ao longo
da semana, considerando dois microciclos-tipo de períodos de
planeamento distintos (por exemplo, Período Preparatório e
Competitivo);
- Realizar um estudo longitudinal ao longo de toda uma época
desportiva, de modo a caracterizar a carga de treino nos diferentes
períodos do planeamento;
- Realizar um estudo que avalie as restantes componentes do treino
de Andebol, nomeadamente no que se refere ao desenvolvimento
da Força;
- Efectuar um trabalho semelhante ao do presente estudo,
alargando o número de equipas colaboradoras (todas as equipas
pertencentes à Liga Portuguesa de Andebol e Selecção Nacional);
- Procurar estabelecer uma comparação entre os valores registados
entre o sexo feminino e masculino e/ou diversos escalões de
formação;
- Procurar estabelecer, através da ATM, correlações entre os
valores obtidos no treino e em competição da mesma equipa.
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARACTERIZAÇÃO DA CARGA DE TREINO NO ANDEBOL
LUÍS FILIPE SILVA 65
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LUÍS FILIPE SILVA 70
VIII. ANEXOS
Anexo 1 – Ficha de Observação
Clube Treino Data
Atleta
Exercício Início Fim Conteúdos/Objectivos
1
2
3
4
5
Outras Obs:
Anexo 2 – Dados
1º Treino
1ª Linha 2ª Linha
A1 B1 C1 A2 B2 C2
Parado 30'27'' 36.23% 31'07'' 49.02% 19'18'' 35.34% 35'55'' 42.73% 39'59'' 62.98% 22'15'' 40.68%
Passo 36'03'' 42.89% 22'04'' 34.76% 23'57'' 43.85% 36'03'' 36.70% 16'25'' 25.86% 23'42'' 43.33%
C. Lenta 12'21'' 14.69% 7'12'' 11.34% 6'48'' 12.45% 12'03'' 14.34% 3'43'' 5.85% 4'23'' 8.01%
C. Rápida 4'31'' 5.37% 2'12'' 3.47% 3'44'' 6.84% 4'18'' 5.12% 3'01'' 4.75% 2'53'' 5.27%
Sprints 2'' 0.04% 3'' 0.08% 38'' 1.16% 17'' 0.22% 13'' 0.34% 50'' 1.52%
Duelos 39'' 0.77% 51'' 1.34% 12'' 0.37% 45'' 0.89% 8'' 0.21% 39'' 1.19%
Tempo de treino 84'05'' 63'29'' 54'37'' 84'05'' 63'29'' 54'42''
2º Treino
1ª Linha 2ª Linha
A1 B1 C1 A2 B2 C2
Parado 25'37'' 35.91% 40'26'' 43.40% 22'10'' 52.41% 32'06'' 44.94% 52'48'' 56.67% 35'44'' 56.29%
Passo 35'55'' 48.95% 41'52'' 44.94% 19'45'' 31.21% 30'31'' 42.72% 31'21'' 33.65% 19'57'' 31.43%
C. Lenta 7'11'' 10.19% 8'34'' 9.19% 5'59'' 9.45% 5'29'' 7.68% 5'46'' 6.19% 4'55'' 7.74%
C. Rápida 3'18'' 4.63% 1'41'' 1.81% 3'24'' 5.37% 2'59'' 4.18% 3'05'' 3.31% 1'39'' 2.60%
Sprints 7'' 0.16% 2'' 0.04% 27'' 0.71% 14'' 0.33% 0.00% 46'' 1.21%
Duelos 7'' 0.16% 35'' 0.63% 32'' 0.84% 7'' 0.16% 10'' 0.18% 28'' 0.74%
Tempo de treino 71'20'' 93'10'' 63'17'’ 71'26'' 93'10'' 63'29''
Anexo 3 – Diferenças entre Postos Específicos
Group Statistics
posição N Mean Std. Deviation Std. Error
Mean
1,00 6 42,0517 7,40715 3,02395 parado
2,00 6 50,7150 9,10807 3,71836
1,00 6 41,1000 6,71033 2,73948 passo
2,00 6 35,6150 6,74855 2,75509
1,00 6 11,2183 2,09203 ,85407 clenta
2,00 6 8,3017 3,08928 1,26119
1,00 6 4,5817 1,74719 ,71329 crapida
2,00 6 4,2050 1,06265 ,43383
1,00 6 ,3650 ,46595 ,19022 sprint
2,00 6 ,6033 ,61046 ,24922
1,00 6 ,6850 ,40943 ,16715 duelos
2,00 6 ,5617 ,43934 ,17936
Independent Samples Test
Levene's Test for Equality of Variances t-test for Equality of Means
F Sig. t df Sig. (2-tailed) Mean Difference
Std. Error Difference
95% Confidence Interval of the Difference
Lower Upper Lower Upper Lower Upper Lower Upper Lower
parado Equal variances assumed
1,104 ,318 -1,808 10 ,101 -8,66333 4,79275 -19,34225 2,01558
Equal variances not assumed
-1,808 9,601 ,102 -8,66333 4,79275 -19,40269 2,07602
passo Equal variances assumed
,003 ,956 1,412 10 ,188 5,48500 3,88526 -3,17190 14,14190
Equal variances not assumed 1,412 10,000 ,188 5,48500 3,88526 -3,17194 14,14194
clenta Equal variances assumed
,165 ,693 1,915 10 ,085 2,91667 1,52317 -,47716 6,31050
Equal variances not assumed 1,915 8,789 ,089 2,91667 1,52317 -,54163 6,37496
crapida Equal variances assumed
,931 ,357 ,451 10 ,661 ,37667 ,83485 -1,48350 2,23684
Equal variances not assumed
,451 8,254 ,663 ,37667 ,83485 -1,53825 2,29158
sprint Equal variances assumed ,915 ,361 -,760 10 ,465 -,23833 ,31352 -,93690 ,46024
Equal variances not assumed
-,760 9,350 ,466 -,23833 ,31352 -,94355 ,46688
duelos Equal variances assumed ,468 ,510 ,503 10 ,626 ,12333 ,24517 -,42294 ,66960
Equal variances not assumed
,503 9,951 ,626 ,12333 ,24517 -,42330 ,66997
Anexo 4 – Diferenças entre Sessões de Treino Paired Samples Statistics
Mean N Std. Deviation Std. Error Mean
parado 44,4967 6 10,31469 4,21096 Pair 1
parado2 48,2700 6 8,24130 3,36450
passo 37,8983 6 7,01497 2,86385 Pair 2
passo2 38,8167 6 7,67508 3,13334
clenta 11,1133 6 3,53201 1,44194 Pair 3
clenta2 8,4067 6 1,46755 ,59913
crapida 5,1367 6 1,08638 ,44351 Pair 4
crapida2 3,6500 6 1,32691 ,54171
sprint ,5600 6 ,62392 ,25472 Pair 5
srints2 ,4083 6 ,46987 ,19182
duelos ,7950 6 ,44397 ,18125 Pair 6
duelos2 ,4517 6 ,31928 ,13034
Paired Samples Correlations
N Correlation Sig.
Pair 1 parado & parado2 6 ,406 ,424
Pair 2 passo & passo2 6 ,013 ,981
Pair 3 clenta & clenta2 6 ,746 ,088
Pair 4 crapida & crapida2 6 ,861 ,028
Pair 5 sprint & srints2 6 ,937 ,006
Pair 6 duelos & duelos2 6 ,260 ,618
Paired Differences t df Sig. (2-tailed)
Mean Std. Deviation
Std. Error Mean
95% Confidence Interval of the Difference
Mean Std. Deviation
Std. Error Mean
Lower Upper Lower Upper Lower Upper Lower Upper
Pair 1 parado - parado2 -3,77333 10,25686 4,18734 -14,53725 6,99058 -,901 5 ,409
Pair 2 passo - passo2 -,91833 10,33054 4,21742 -11,75957 9,92290 -,218 5 ,836
Pair 3 clenta - clenta2 2,70667 2,62527 1,07176 -,04839 5,46172 2,525 5 ,053
Pair 4 crapida - crapida2 1,48667 ,67663 ,27623 ,77659 2,19675 5,382 5 ,003
Pair 5 sprint - srints2 ,15167 ,24669 ,10071 -,10722 ,41055 1,506 5 ,192
Pair 6 duelos - duelos2 ,34333 ,47458 ,19375 -,15471 ,84138 1,772 5 ,137