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CARAPAÇAS DE CHIRONOMIDAE EM UM PERFIL DE SEDIMENTO DA LAGOA CARIOCA, PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MINAS GERAIS) Rafael Pereira Resck Monografia apresentada ao Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Zoologia. Orientador: Ricardo Motta Pinto-Coelho Belo Horizonte Minas Gerais – Brasil Junho – 2005

CARAPAÇAS DE CHIRONOMIDAE EM UM PERFIL DE … · A interpretação destes dados “arquivados” vem se aprimorando a cada dia e, em determinadas situações, pode ser a única maneira

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CARAPAÇAS DE CHIRONOMIDAE EM UM PERFIL DE SEDIMENTO DA LAGOA CARIOCA, PARQUE ESTADUAL

DO RIO DOCE (MINAS GERAIS)

Rafael Pereira Resck

Monografia apresentada ao Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Zoologia.

Orientador: Ricardo Motta Pinto-Coelho

Belo Horizonte Minas Gerais – Brasil

Junho – 2005

ii

Índice Resumo................................................................................................................................ iii

Abstract................................................................................................................................ iii

Agradecimentos................................................................................................................... iv

Introdução............................................................................................................................ 1

Materiais e Métodos .......................................................................................................... 7

Área de Estudo......................................................................................................... 7

Coleta dos Dados..................................................................................................... 9

Análise das Amostras..............................................................................................14

Resultados...........................................................................................................................16

Coleta dos Dados.....................................................................................................16

Análise das Amostras..............................................................................................17

Identificação das Carapaças de Chironomidae........................................................18

Discussão.............................................................................................................................20

Análise das Carapaças Encontradas........................................................................20

Análise da Metodologia Utilizada...........................................................................23

Coleta dos Dados.........................................................................................23

Triagem das Amostras.................................................................................24

Processo de Identificação............................................................................25

Conclusões..........................................................................................................................27

Referências..........................................................................................................................28 Anexo..................................................................................................................................34

iii

Resumo A família Chironomidae (Insecta: Diptera) é um grupo de insetos que ocorre em todas as regiões zoogeográficas do mundo. Os estágios imaturos da grande maioria das espécies ocorrem em corpos de água doce, onde as exúvias, derivadas de suas transições larvais, se acumulam. Grande parte das estruturas corporais é decomposta, exceto a carapaça cefálica, a qual permanece preservada nos sedimentos. Outra característica da família é sua grande utilidade como indicadora de qualidade ambiental em ecossistemas aquáticos. Deste modo, o estudo das carapaças cefálicas de quironomídeos se torna importante por permitir reconstituições de populações passadas e por possibilitar considerações sobre condições paleoambientais dos locais estudados. Neste trabalho foi coletada uma amostra vertical de sedimento da Lagoa Carioca, no Parque Estadual do Rio Doce (MG) com objetivo de verificar a existência de carapaças de espécies de quironomídeos e também de quantificar a sua densidade, em função da profundidade amostrada. A coleta dos sedimentos foi realizada com um amostrador tipo “corer”. Foram encontradas um total de 197 carapaças em uma amostra de sedimento com 27 cm de profundidade. Foram identificados 17 gêneros das subfamílias Chironominae (12) e Tanypodinae (5). Os gêneros mais abundantes foram Larsia (T), Chironomus (C) e Labrundinia (T). Abstract The Chironomidae family (Insecta: Diptera) is an insect group occurring in all zoogeographic regions of the world. The most species immature stages occur in freshwaters where the exuviae derived of their larval transitions accumulation. Several parts of their body structures are decomposed excepted the head capsule which is preserved in sediment. Another family characteristic is their great utility as indicators of environmental quality in aquatic ecosystems. Thus, the chironomids head capsules study began important because permits past populations reconstructions and to make considerations about paleoenvironmental conditions around the study place. In this study, one sediment vertical sample was collected in the Carioca Lake (Rio Doce State Park –MG) to verify the existence of chironomids head capsules and to quantify its density in function of the deepness reached. The sediment sample was collects with a gravity sediment corer. We found 197 head capsules in a sample with 27 cm. Seventeen genera were identified belonging to the subfamilies Chironominae (12) and Tanypodinae (5). The most abundant genera were Larsia, Chironomus and Labrundinia.

iv

Agradecimentos

Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, ao meu pai, mãe e irmão por todo o

incentivo que vêm me dando desde o início deste curso, pela força quando algo se torna

sem perspectivas e principalmente pela confiança depositada em mim em todos os

momentos. Minhas tias queridas e avó por tudo o que representam na minha vida e pelo

interesse nas minhas atividades. Quero agradecer aos colegas de laboratório Thiago, Dinho,

Fabrícia e Maíra pela ótima convivência e ajudas que me deram neste trabalho. À Bárbara

pela valiosa ajuda durante a triagem das amostras. Ao grande amigo José Fernandes pelas

ótimas discussões científicas, dicas e aprendizado durante todo o trabalho. Gostaria muito

de agradecer à Dra. Maria M. Marques, querida amiga que fiz desde o início deste trabalho,

pelas discussões sobre a família Chironomidae, ajuda na coleta e identificação dos

espécimes. Meus agradecimentos também ao professor Dr. Antônio Mozeto (UFSCAR),

pela doação de um livro fundamental para os trabalhos com “corers”. Agradeço a minha

namorada Aninha, pela enorme ajuda na preparação deste documento e principalmente pela

disposição em ficar meses conversando sobre quironomídeos, “corer”, sedimento... Por

fim, queria muito agradecer ao professor Dr. Ricardo Motta Pinto-Coelho pela

oportunidade de realizar este trabalho, para o qual me disponibilizou uma excelente infra-

estrutura e com quem aprendi o que é fazer pesquisa com ética e competência. Meus

sinceros agradecimentos. Agradeço à Fapemig, pois este trabalho não seria possível sem o

apoio desta instituição, por meio do projeto Fapemig/ Rio Doce 5734 (Elaboração de um

Banco de Dados Sobre a Biota Aquática em Minas Gerais – Ênfase no Rio Doce). A todos

que não citei mas que de alguma forma participaram desta pesquisa, muito obrigado!

1

Introdução

O termo “macroinvertebrado aquático” é o nome dado aos invertebrados de água

doce, cujo tamanho pode ser visto a olho nu (Eaton, 2003). A maioria deles pertence aos

filos Arthropoda, Mollusca, Annelida, Nematoda e Platyhelmintes, englobando uma grande

variedade de espécies que são encontradas em quase todos os tipos de habitats de água

doce, sob diferentes condições ambientais (Eaton, 2003). Entre outras características, os

macroinvertebrados aquáticos são de fundamental importância para a dinâmica de

nutrientes, transformação da matéria orgânica e no fluxo de energia (Callisto & Esteves,

1995).

Dentro deste grande grupo está a família Chironomidae (Insecta, Diptera). Os

quironomídeos são os representantes mais diversificados e abundantes entre os

macroinvertebrados bentônicos em ambientes lacustres e fluviais (Nocentini, 1985; Heiri &

Lotter, 2003; Bouchard, 2004). Eles ocorrem em todos os continentes e são encontrados na

grande maioria dos ecossistemas aquáticos continentais, em extremos como nas montanhas

do Nepal, a 5600 metros de altitude, ou no fundo do lago Baikal (Rússia), o mais profundo

do mundo, com cerca de 1000 metros de profundidade (Epler, 2001). Não obstante,

algumas espécies invadiram os oceanos, sendo encontradas ao longo de linhas costeiras no

mundo todo, em profundidades de 30 metros ou superiores (Epler, 2001). Nos ambientes

dulciaquícolas, as larvas colonizam o sedimento e a vegetação subaquática, demonstrando

uma ampla faixa de condições nas quais podem viver, o que reflete a elevada capacidade

adaptativa do grupo (Strixino & Trivinho-Strixino, 1998). Mais de 100 espécies de

quironomídeos podem ser encontradas em um único lago (Nocentini, 1985; Cole, 1994a).

No Brasil, este número pode aumentar consideravelmente (Callisto, com. pes., 2005).

A família Chironomidae pertence à subordem Nematocera, dentro da Ordem Diptera

(Epler, 2001). Atualmente existem cerca de 5.000 espécies de quironomídeos descritas

(Il’yashuk, 2004), dividida em 12 subfamílias, das quais cinco ocorrem no Brasil:

Tanypodinae, Orthocladiinae, Chironominae, Podonominae e Telmatogetoninae

(representante das espécies que colonizaram os oceanos), com cerca de 190 espécies

descritas (Trivinho-Strixino & Strixino, 1999; Roque & Trivinho-Strixino, 2004).

Esta família é considerada um grupo filogenético relativamente primitivo. São

estreitamente relacionados a duas outras famílias, Simuliidae e Ceratopogonidae (Epler,

2

2001) (Figura 1). No entanto sua taxonomia ainda está bastante incompleta. Epler (1988)

comenta que o conhecimento taxonômico de grande parte dos macroinvertebrados

aquáticos ainda está incompleto, principalmente na região neotropical. Callisto et al. (2002)

reporta que aproximadamente 98% das espécies de quironomídeos dos trópicos ainda são

desconhecidas pela ciência.

Das poucas chaves taxonômicas existentes para a família Chironomidae, apenas uma

trata das espécies brasileiras (Trivinho-Strixino & Strixino, 1995), mesmo assim

enfatizando somente um estado do país. A maioria da literatura consiste em descrições de

espécies individuais ou grupos de espécies dentro de gêneros (Eaton, 2003). Em adição,

existem dois sistemas de classificação de quironomídeos, um baseado na fase adulta outro

nos estágios imaturos (Epler, 2001, Eggermont & Verschuren, 2003). Embora os grandes

estudiosos da taxonomia do grupo estejam engajados numa unificação das chaves,

utilizando caracteres da fase adulta e imatura para separar espécies e delimitar gêneros, a

identificação dos espécimes ainda é difícil e a probabilidade de erros é grande (Spies &

Sæther, 2004).

FIGURA 1: Filogenia da família Chironomidae (Ordem Diptera – Subordem Cullicomorpha – Superfamília Chironomoidea). Fonte: Tree of Life Project (http://tolweb.org/tree).

Os quironomídeos são holometábulos, ou seja, possuem ciclo de vida completo com

as fases de ovo, larva, pupa e adulto (Chu, 1949). Após a deposição dos ovos inicia-se o

período larval, com 4 instares, seguido por um curto período de pupa que termina na

emergência do imago (Brodersen & Anderson, 2000) (Figura 2). O adulto vive poucos dias

e não se alimenta, desempenhando funções exclusivamente reprodutivas (Trivinho-Strixino

& Strixino, 1999). A duração dos ciclos de vida pode variar entre dias e anos, dependendo

principalmente da temperatura da água e disponibilidade de alimento (Larocque, 2001). No

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Brasil, as condições climáticas parecem determinar ciclos curtos (Trivinho-Strixino &

Strixino, 1995).

Larvas, pupas e adultos estão diretamente inseridos na cadeia alimentar, geralmente

servindo de alimentos para outros macroinvertebrados, anfíbios, peixes e até aves (Epler,

2001). Embora hábitos predatórios não sejam incomuns, a sua grande maioria pode ser

considerada herbívora-detritiva, permanecendo vinculada ao ciclo de decomposição da

matéria orgânica (Trivinho-Strixino & Strixino, 1995).

FIGURA 2: Ciclo de vida didático da família Chironomidae. Detalhe para a existência de quatro instares. As carapaças do terceiro e quarto instares normalmente permanecem preservadas no sedimento. Modificado de Brodersen & Anderson (2000).

Uma importante característica dos macroinvertebrados aquáticos é sua utilidade no

monitoramento da qualidade das águas (Pennak, 1989; Marques & Barbosa, 2001; Callisto

et al., 2005). Os quironomídeos, em especial, são valiosos indicadores de qualidade de água

em lagos e tradicionalmente têm sido usados como organismos bioindicadores (Fonseca et

al., 2004; Heiri, 2004). Alguns grupos e/ou espécies são conhecidos por habitar somente

águas com boa qualidade ao passo que alguns são considerados extremamente resistentes a

4

ambientes altamente poluídos (Epler, 2001). De um modo geral, o número de espécies da

família Chironomidae diminui com a degradação do ecossistema aquático.

Concomitantemente a isto, a abundância das espécies que toleram este ambiente aumenta

consideravelmente (Eaton, 2003).

No que diz respeito à morfologia cefálica, a grande maioria das larvas de

Chironomidae apresentam cabeça bem desenvolvida, não retrátil, com peças bucais

mastigadoras (Trivinho-Strixino & Strixino, 1995). Em Tanypodinae, a cápsula cefálica

está adaptada para predação de pequenos invertebrados, incluindo outras larvas da mesma

família. Este tipo de organização da cápsula também permite a captura de grandes algas,

como diatomáceas. Em Orthocladiinae e Chironominae a cápsula cefálica possui

adaptações para raspagem do substrato, sob a forma de uma placa denteada (mento)

(Trivinho-Strixino & Strixino, 1995). A Figura 3 ilustra as diferenças entre as carapaças das

subfamílias Chironominae e Tanypodinae.

FIGURA 3: Esquema das carapaças cefálicas de Chironominae (esquerda) e Tanypodinae (direita). Destaque para o mento da subfamília Chironominae e para a longa antena e lígula da subfamília Tanypodinae. Modificado de Trivinho-Strixino & Strixino (1995), (Chironominae) e Epler (2001), (Tanypodinae).

Durante os processos de mudança de instares, as exúvias formadas se acumulam nos

sedimentos dos ecossistemas aquáticos (Il’yashuk, 2004). Todas as partes são decompostas,

exceto a rígida carapaça cefálica de quitina, a qual permanece no sedimento na condição de

subfóssil (Brodersen & Anderson, 2002; Heiri, 2004), condição que as torna uma

importante ferramenta para estudos de paleolimnologia (Walker et al., 1997; Eggermont &

Verschuren, 2003; Lang, 2003). O termo subfóssil, na paleontologia, é designado para

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resquícios de espécimes que viveram do Holoceno (12.000 anos) em diante. Achados

anteriores a esta época são tratados como fósseis (Mendes, 1988).

Segundo Brodersen & Anderson (2000), as carapaças preservadas pertencem

principalmente ao terceiro e quarto instares larvais (Figura 2). Além de reconstituir

populações passadas, a “paleofauna” de quironomídeos permite inferências sobre uma série

de condições do ambiente em que as larvas viviam, como o estado trófico do ecossistema

aquático, variações climáticas do ambiente, acidificação e temperatura da água (Walker,

1988; Brodersen & Lindegaard, 1999; Brooks & Birks, 2000; Quinlan & Smol, 2001; Lang,

2003). Permite também uma série de comparações com a fauna atual (Brodersen &

Lindegaard, 1997). A interpretação destes dados “arquivados” vem se aprimorando a cada

dia e, em determinadas situações, pode ser a única maneira de se obter dados de épocas

passadas (Cole, 1994b).

No entanto, a grande maioria dos estudos de paleolimnologia de quironomídeos é

realizada nas regiões temperadas do hemisfério norte, com poucos trabalhos publicados

para a região neotropical, talvez devido à escassez de conhecimento taxonômico do grupo

nesta região (Callisto et al., 2002; Eggermont & Verschuren, 2003).

A região do médio Rio Doce, em Minas Gerais, é conhecida por abrigar uma área de

preservação estadual de Mata Atlântica (Parque Estadual do Rio Doce - PERD)

relativamente grande (aproximadamente 36.000 ha) que engloba um rico e fascinante

complexo lacustre. Muitos estudos foram e estão sendo realizados nesta região, com

enfoque nas mais diversas áreas (CETEC, 1981; Tundisi & Saijo, 1997; Barbosa &

Moreno, 2002).

De fato, estudos na área de limnologia vêm sendo realizados na região do médio Rio

Doce e muito se sabe sobre os processos físicos, químicos e biológicos nas lagoas desta

região, principalmente quando comparados a outros ecossistemas aquáticos brasileiros

(Tundisi & Saijo, 1997). Porém, em se tratando de estudos paleolimnológicos, a quantidade

de informações se torna escassa. De Meis & Tundisi (1986) compilaram alguns estudos e

publicaram um interessante trabalho sobre a evolução dos rios e lagos da região do médio

Rio Doce ao longo do Holoceno. Sifeddine et al. (2004) realizaram uma reconstrução

climática no Lago Dom Helvécio com base na composição de matéria orgânica em um

extrato do sedimento. Neste estudo, verificaram que uma profundidade de 100 centímetros

6

contém sedimentos testemunhos de eventos geológicos ocorridos há aproximadamente

1500 anos.

Entretanto, em relação à investigação de faunas passadas, a região do médio Rio Doce

ainda é um campo muito pouco explorado, com poucos trabalhos publicados, como o

realizado por Dumont & Tundisi (1997), onde foram analisados subfósseis de Cladocera,

Chaoboridae e diatomáceas em quatro lagoas da região. Outro estudo, realizado por

Andrade-Morraye & Rocha (1996), é o mais próximo dos objetivos deste trabalho. Nele

foram analisados subfósseis de quironomídeos nos lagos Dom Helvécio e Jacaré.

A Lagoa Carioca, objeto deste trabalho, embora muito estudada, ainda não possui um

trabalho relativo à paleofauna de quironomídeos presente em seus sedimentos. Deste modo,

este estudo teve como objetivo obter um perfil vertical de sedimento da Lagoa Carioca e

analisar a densidade dos subfósseis de Chironomidae em função da profundidade do

sedimento. Os objetivos específicos foram:

• Avaliar a composição das subfamílias e gêneros nos extratos do sedimento e

verificar se houve predominância de gêneros em diferentes profundidades;

• Relacionar os gêneros encontrados às condições físico-químicas da Lagoa;

• Por se tratar de uma metodologia complexa, este estudo pretende avaliá-la e

propor melhorias, quando necessárias, para os seguintes aspectos: amostragem dos

sedimentos, análise das amostras obtidas e identificação dos espécimes

encontrados.

7

Material e Métodos Área de Estudo

O PERD está localizado entre os paralelos 19º 45’S e 19º 30’S e entre os meridianos

42º 38’W e 48º 28’W, no sudoeste do estado de Minas Gerais, Brasil (Figura 4). O parque

possui uma área total de 35.976,43 hectares que abrange parte dos municípios de Marliéria

(29.956,04 ha ou 83,3% da área total do parque), Timóteo (5.085,26 ha ou 14,1%) e

Dionísio (93,513 ha ou 2,6%), na micro-região mineira do Vale do Aço (Figura 5). Trata-se

do primeiro Parque Estadual criado em Minas Gerais, através do Decreto-Lei nº 1.119, em

14 de Julho de 1944 (IEF, 2001). A altitude de suas terras varia entre 230 e 515 m e a

vegetação predominante é a Floresta Estacional Semidecidual, inserida no bioma Mata

Atlântica (CETEC, 1981).

O clima da região é o úmido-subtropical, com precipitação média de 1500 mm,

distribuídas em uma estação chuvosa muito bem demarcada entre os meses de dezembro e

março. A temperatura média anual oscila entre 20 e 23ºC, com a máxima ocorrendo em

dezembro e a mínima em julho (Tundisi, 1997).

O PERD, além de compreender o maior remanescente de Mata Atlântica de Minas

Gerais, possui um dos três maiores sistemas lacustres do Brasil (Tundisi, 1980).

Aproximadamente 3,500 hectares de sua área total, ou 9,8% da mesma, são preenchidos por

lagos (CETEC, 1981). Segundo Barbosa & Moreno (2002) o complexo lacustre do Vale do

Médio Rio Doce, onde se encontra o PERD, é composto por cerca de 130 lagos, nos mais

variados estágios de evolução. No entanto existem variações sobre o número exato de lagos

que formam este complexo. Tundisi & Musarra (1986) citam aproximadamente 140 lagos,

Latini et al. (2004) indicam categoricamente 142 lagos formando o complexo, 70 à direita e

72 à esquerda do Rio Doce. Por outro lado, De Meis & Tundisi (1986) citam o complexo

lacustre do Vale do Médio Rio Doce como contendo mais de 100 lagos.

O local escolhido para o estudo foi a Lagoa Carioca (19º 45`S; 42º 37`W) (Figura 6).

A escolha desta lagoa levou em conta o fato de já existirem estudos acerca de sua fauna

bentônica (Marques, 2004) e características limnológicas (Tundisi & Saijo, 1997) (e

também por ser uma lagoa totalmente cercada por floresta nativa, além de estar presente em

uma região privada de visitação pública. Em relação às características morfométricas da

8

área de estudo, De Meis & Tundisi (1986) classificam a Lagoa Carioca como uma lagoa

rasa e redonda. Outras características pertinentes à morfometria desta lagoa são

apresentadas na Tabela 1.

TABELA 1: Características morfométricas da Lagoa Carioca. Modificado de Tundisi & Musarra (1986). Área (ha) 13,30

Volume (m3 X 104) 71,30

Profundidade Máxima (m) 11,80

Profundidade Média (m) 5,35

Comprimento Máximo (m) 576,3

Largura Máxima (m) 329,8

Perímetro (m) 1.676

FIGURA 4: Localização do PERD no contexto regional brasileiro (esquerda) e no contexto político mineiro (direita). Fonte: IEF – Coordenadoria de monitoramento (www.ief.mg.gov.br).

FIGURA 5: Localização do PERD no contexto político da micro-região do Vale do Aço. Fonte: SOS Mata Atlântica (www.sosmatatlantica.org.br).

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FIGURA 6: Complexo lacustre do PERD com destaque para a Lagoa Carioca (detalhe). Fonte: IEF – Coordenadoria de Monitoramento (www.ief.mg.gov.br). Detalhe modificado de Barbosa et al. (2005).

Coleta dos Dados

A coleta do sedimento ocorreu no dia 18/IV/2005, início do período de seca da região.

Com raras exceções, estudos de paleolimnologia que utilizam espécies da família

Chironomidae como modelo são baseados em uma única amostra de sedimento (Heiri,

2004), devido principalmente ao longo tempo necessário no processo de separação e

identificação dos espécimes (Larocque, 2001). Outro cuidado bastante disseminado nesses

estudos é a necessidade de coletar a amostra no ponto mais profundo do lago, ou próximo a

ele (Walker, 1988; Brodersen & Anderson, 2002; Sporka et al., 2002), pois é comum a

rolagem de sedimento das partes mais rasas para as mais profundas (Heiri, 2004) e, devido

10

a isso, nestes locais, são encontrados remanescentes de espécies de praticamente todos

biótopos do lago (Il’yashuk, 2004).

O ponto amostrado na Lagoa Carioca está localizado a uma profundidade de

aproximadamente 10,5 metros. A localização geográfica exata, em UTM, com Datum

SAD69 e Zona 23, é 749.490 e 781.3677. Este ponto localiza-se na porção sudoeste da

região central da lagoa (Figura 7).

FIGURA 7: Localização aproximada do ponto de coleta plotada em um mapa batimétrico da Lagoa Carioca. A localização deste ponto no mapa foi obtida por meio de comparação do ponto cotado com uma ortofoto da lagoa. Mapa modificado de Tundisi & Musarra (1986).

Os dados foram coletados com um amostrador de sedimento do tipo “corer”, da

marca Hydro-Bios (Figura 8). Trata-se de um modelo portátil, gravitacional, designado para

obtenção de perfis verticais do sedimento (Mudroch & MacKnight, 1994). Este tipo de

amostrador permite coleta com pouca ou quase nenhuma perturbação da seqüência

estratigráfica, inclusive da camada superficial, que tem altos teores de água (Mozeto, 2000).

Cumming et al. (1993) o citam como um rápido, versátil e relativamente barato método de

obter amostras de sedimentos condizentes com a realidade, quando manuseado

corretamente.

O amostrador de sedimento (ou “corer”) consiste em um tubo coletor, de acrílico,

milimetrado, com diâmetro interno de 7,2 cm e comprimento total (equivalente à

profundidade máxima de penetração no sedimento) de 60 cm, além de uma estrutura,

11

construída em aço inoxidável, na qual o tubo coletor se encaixa. O peso total é de

aproximadamente 6 Kg.

O funcionamento do “corer” está baseado em um sistema de válvulas. Esse sistema

permite que a água passe livremente pelo interior do tubo no momento da descida na coluna

d`água, mas impede que o mesmo ocorra no momento da ascensão, quando o sistema é

fechado pela força da água, causando um vácuo em sua parte interna, o qual preserva a

amostra intacta até sua chegada à superfície. Além disto, a porção final do tubo coletor,

responsável pelo início da penetração no sedimento, possui um estreitamento no calibre de

sua parede, com a finalidade de facilitar a penetração do tubo (Figura 8) (Hydro-Bios,

2005).

FIGURA 8: Hydro-Bios “Sediment Corer”. Modificado de Hydro-Bios Sediment Corer Operation Manual (2005).

• Sistema de Válvulas (durante a descida permite livre passagem de água através do “corer” permitindo descida vertical. Durante a subida é fechado pela força da água, criando um vácuo interno que impede a perda do sedimento coletado).

• “Corer” (Local que abriga a válvula e onde é fixado o tubo coletor. Fornece o peso necessário para o tubo penetrar no sedimento).

• Anel de fixação do tubo coletor

• Tubo Coletor

• Estreitamento de ponta do tubo coletor (permite melhor penetração do tubo no sedimento por diminuir o ângulo de entrada e consequentemente a superfície de atrito).

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Além das duas peças descritas, o “Sediment Corer” possui uma série de anéis de

vedação e fixação (“o-rings”), um êmbolo para vedação do segmento final do tubo coletor,

uma tampa de proteção do tubo e um “kit” para extrusão do sedimento, composto por haste

para fixação do tubo em posição vertical e bandeja para fracionamento das amostras

(Figura 9).

FIGURA 9: Hydro-Bios “Sediment Corer” e suas peças: a) Parte superior do “corer” com destaque para as aberturas do sistema de válvulas por onde a água sai após sua passagem pelo interior do “corer”, no momento da descida. b) Tubo coletor milimetrado, com intervalos de 10 em 10 mm. c) Jogo de anéis (“o-rings”) para vedação e fixação das partes do “corer”. d) Êmbolo utilizado na vedação da porção final do tubo coletor e no processo de extrusão da amostra (esquerda) e tampa protetora do tubo, responsável pela vedação da parte superior do mesmo (direita). e) “Kit” de extrusão, composto pelo tripé com haste metálica e êmbolo, onde é encaixado o tubo coletor, na sua porção final, e bandeja, conectável à parte superior do tubo. Foto e montagem: Rafael Resck.

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A coleta foi realizada em um barco de alumínio com motor 8 HP e capacidade para

seis pessoas. Ainda em terra, o amostrador foi montado e minuciosamente checado.

Visando minimizar efeitos indesejados de compactação do sedimento no interior do tubo

coletor, a parte interna do mesmo foi lubrificada com graxa de silicone marca Molykote®.

No local exato da coleta, após marcação do ponto com aparelho GPS, a embarcação foi

ancorada e a profundidade medida, com auxílio de uma corda metrada, para que fosse

calculado o procedimento de uso do amostrador. Em seguida o “corer” foi imerso na água e

lentamente descido até que fosse atingida a profundidade de 2 metros acima do fundo do

lago (Cumming et al, 1993). Neste momento a tensão que prendia a corda foi liberada,

possibilitando ao amostrador descer em queda livre até o sedimento, a uma velocidade

suficiente para penetrá-lo, mas que, ao mesmo tempo, minimizasse ao máximo distúrbios

como mistura ou compactação do sedimento no interior do tubo coletor (Blomqvist, 1985).

Em seguida o “corer” foi içado lentamente e em velocidade constante, para garantir que a

força responsável pelo fechamento da válvula não se alterasse (Hydro-Bios, 2005).

Imediatamente antes do “corer”, contendo a amostra do sedimento, ser retirado

totalmente da água, a parte final do tubo coletor foi vedada com o êmbolo de vedação.

Dados como profundidade de penetração e características gerais do sedimento foram

relatados (Mudroch & MacKnight, 1994). Em seguida tiveram início os processos de

extrusão, fracionamento e fixação da amostra. Todos estes procedimentos foram realizados

in situ seguindo metodologia de Mudroch & MacKnight (1994). Segundo os autores, em

ambientes com sedimentos que não sejam totalmente consolidados, o que é muito comum

em lagos, as amostras devem ser extraídas do tubo coletor o mais rápido possível, a fim de

evitar a mistura das frações no interior do mesmo.

A amostra total do sedimento foi dividida em frações com 3 centímetros de

profundidade cada uma (primeira amostra contendo o extrato 0 a 3 cm, segunda 3 a 6 cm e

assim sucessivamente). Este valor foi determinado arbitrariamente levando-se em

consideração a representatividade deste intervalo. Cada subamostra era transferida para um

frasco de 500 mL, onde era fixada com formaldeído 5% (Eaton, 2003). Para o

fracionamento das amostras foi utilizada uma espátula plástica, um funil e o “kit” de

extrusão de sedimentos que acompanha o equipamento. No mesmo dia as amostras foram

transferidas para o laboratório e acondicionadas em temperatura de 5ºC.

14

Análise das Amostras

A metodologia utilizada nesta fase do trabalho foi adaptada da metodologia descrita

por Walker (1988). Segundo Walker (2000), pequenos lagos tropicais, cercados por

florestas, normalmente contém sedimentos com alto teor de matéria orgânica e que, nestes

locais, 1 mL de sedimento fornece cerca de 50 carapaças de quironomídeos, suficiente para

as análises e inferências. Deste modo, foi analisado 1 mL de sedimento úmido de cada uma

das subamostras do sedimento da Lagoa Carioca.

A extração deste volume foi feita com o auxílio de uma seringa milimetrada de 10 mL

sem agulha. Os volumes retirados eram transferidos para um béquer de 80 mL esterilizado

e imediatamente submetidos ao procedimento descrito por Walker (1988).

Esta metodologia enfatiza um tratamento preliminar dado à amostra, a fim de

diminuir o agrupamento de partículas de matéria orgânica no sedimento, um processo

chamado de desfloculação. Nesta etapa, cada amostra é tratada utilizando 20 mL de solução

KOH 5% a uma temperatura de 50ºC por um período de 15 minutos em estufa. A estufa

utilizada neste processo foi uma Fanem Modelo 002 CB. O uso da temperatura de 50ºC

visou a preservação das carapaças, as quais em temperaturas superiores podem sofrer

clareamento e deformação. Altas concentrações de KOH ou longos períodos de exposição

da amostra nesta solução podem desarticular as carapaças, inviabilizando sua identificação

(Warwick, 1980 in Walker, 2000).

Após este tratamento, cada amostra foi peneirada com objetivo de concentrar a

distribuição das carapaças em uma menor quantidade de sedimento. A espessura dos poros

da malha utilizada foi de 150 µm. No processo de filtragem, foram utilizados dois béqueres

de 80 mL esterilizados e um filtro com a malha especificada (Figura 10a). Após a filtragem,

os resíduos contidos na malha do filtro eram contra-lavados para um terceiro béquer de

80mL e em seguida transferidos para uma cubeta de contagem serpentinada (25 mL). Todo

o procedimento de filtragem foi realizado com água filtrada. Esta cubeta possui 6 calhas

paralelas em um plano horizontal, cada uma com largura de 8 mm (Figura 10b).

15

Figura 10: a) Filtro com malha de 150 µm. b) Cubeta de contagem com sedimento. Foto: Rafael Resck.

Cada amostra, depois de transferida para a cubeta, foi analisada em um microscópio

estereoscópio Leica modelo Wild M3C (6,4 – 40 X), equipada com câmera fotográfica

Altec (Figura 11a). O aumento escolhido foi de 25X. Este aumento proporciona um campo

de visão que cobre toda largura da calha da cubeta. Todas as carapaças encontradas eram

registradas e transferidas, por sucção com auxílio de uma seringa de 1 mL, para tubos de

1,5 mL, onde ficaram armazenadas até o momento da identificação. Não foi estabelecido

um tempo padrão para análise de cada amostra. Todas as calhas foram examinadas até que

não fossem mais encontradas carapaças. Para possibilitar comparações com outros estudos,

foi calculada a equivalência entre mL de sedimento úmido e gramas de peso seco de

sedimento, através de metodologia padrão (secagem de uma quantidade conhecida de

sedimento a 100°C, posteriormente uma queima a 550°C). Deste modo, o número de

carapaças obtidas em 1 mL de sedimento úmido pôde ser estimado em carapaças por grama

de peso seco de sedimento.

A última etapa no processo de contagem e identificação das carapaças de

quironomídeos foi a confecção de lâminas contendo os remanescentes encontrados. As

lâminas montadas eram temporárias e continham carapaças separadas por fração

(correspondente a 3 cm no “corer”). Todos os espécimes, quando possível, foram

identificados até o nível de gênero, através de um microscópio Leica, modelo DMLS, com

aumento entre 40 e 400X. O microscópio encontra-se equipado com câmera fotográfica

CoolSnap-Pro Color, do fabricante Media Cybernetics (Figura 11b), a qual foi utilizada

para registrar as carapaças dos gêneros identificados. O mento ou lígula de cada espécime

foi desenhado para facilitar a identificação dos mesmos. Esta era realizada através de

comparações entre as estruturas citadas, juntamente com mandíbulas e antenas (quando

16

presentes), com uma série de chaves taxonômicas. As medidas da carapaça e de suas

principais estruturas (mentos ou lígulas, mandíbulas e antenas) também eram tomadas e

comparadas aos manuais. As referências taxonômicas utilizadas foram Nocentini (1985);

Trivinho-Strixino & Strixino (1995); Walker (2000) e Epler (2001).

Figura 11: a) Microscópio estereoscópio utilizado para separação das carapaças. b) Microscópio onde os gêneros foram identificados. Foto: Ana Mourão. Resultados Coleta da Amostra

A altura (profundidade) do perfil de sedimento obtida foi de 27 centímetros, dos quais

aproximadamente 2 cm eram compostos pela interface água-sedimento (porção de transição

entre o sedimento e a água). A interface água-sedimento é caracterizada pela presença de

flocos de sedimento ainda inconsolidados em meio à água, logo acima dos sedimentos

consolidados (Mudroch & MacKnight, 1994). Os 33 cm restantes do tubo coletor estavam

tomados somente por água sem sedimento e foram descartados. Analisando o perfil do

tubo, três fases estavam claramente delineadas: o sedimento na porção final, a interface

água-sedimento logo acima e a fase composta somente por água, na porção superior do

mesmo.

17

A fração consolidada do sedimento apresentava forte coloração marrom em tons

bastante escuros, escurecendo mais na medida em que aumentava a profundidade. A textura

se apresentava bastante lamacenta, com altos teores de água no sedimento, principalmente

nos primeiros centímetros. A compactação do sedimento aumentava com a profundidade.

Não foram registrados organismos, pedras, macrófitas ou algas, visíveis a olho nu, no

momento da retirada do “corer”. Quanto ao odor, observou-se uma forte presença de gás

H2S no sedimento.

Análise das Amostras

A duração aproximada da separação das carapaças do sedimento foi de 3 horas por

fração. Ao todo foram encontradas 197 carapaças cefálicas de quironomídeos, cuja

disposição por frações se encontra na Figura 12. A conversão entre volume de sedimento

úmido para grama de peso seco de sedimento indicou que 1mL de sedimento da Lagoa

Carioca pesa aproximadamente 0,04 gramas, quando retirada toda a água e matéria

orgânica contida no mesmo. A estimativa do número de carapaças em um grama de peso

seco de sedimento pode ser analisada na Figura 13. A Figura 14 ilustra a presença dos

remanescentes no sedimento, durante o procedimento de triagem dos mesmos. O extrato

superficial (interface água-sedimento) foi onde se encontrou o maior número de carapaças

de quironomídeos, representando 18,78 % do total. No restante das frações não houveram

discrepâncias acentuadas entre as distribuições das carapaças.

19

25

22

21

18

17

19

19

37

0 5 10 15 20 25 30 35 40

24-27

21-24

18-21

15-18

12-15

9-12

6-9

3-6

0-3

Prof

. do

Sedi

men

to (c

m)

Número de Carapaças (unidades)

FIGURA 12: Número de carapaças cefálicas de Chironomidae obtidas nos diferentes extratos do sedimento.

18

475

625

550

525

925

450

425

475

475

0 200 400 600 800 1000 1200

24-27

21-24

18-21

15-18

12-15

9-12

6-9

3-6

0-3

Prof

. do

Sedi

men

to (c

m)

Número de Carapaças (unidades)

FIGURA 13: Número de carapaças cefálicas de Chironomidae por grama de peso seco de sedimento.

FIGURA 14: Carapaças cefálicas de Chironomidae no sedimento da Lagoa Carioca. Aumento de 40X. Foto: Rafael Resck.

Identificação das Carapaças de Chironomidae

Do total de 197 carapaças encontradas, 75 foram identificadas até gênero (38% do

total). Observou-se que muitas carapaças foram perdidas ou danificadas durante o processo

de deslocamento entre a cubeta de contagem e o tubo de 1,5 mL. Um número maior ainda

não foi passível de identificação, com segurança, nem a nível de subfamília, devido

principalmente à ausência do mento nestas carapaças, principal estrutura dos subfósseis no

processo de identificação (Larocque, 2001).

No entanto, os espécimes identificados revelaram a presença de 17 gêneros de

Chironomidae, divididos entre as subfamílias Chironominae e Tanypodinae. Não foram

encontrados remanescentes de Orthocladiinae. A Tabela 2 apresenta os gêneros

identificados em cada fração do sedimento. Nela é possível observar que o gênero

19

Chironomus obteve remanescentes em todos os extratos do sedimento. Outros, como

Harnischia e Kiefferulus foram encontrados somente no extrato mais profundo, e

conseqüentemente mais antigo, do sedimento. Todos os extratos tiveram representantes da

subfamília Chironominae, ao passo que a subfamília Tanypodinae foi melhor representada

nos extratos mais profundos, estando presente ininterruptamente somente a partir dos 9

centímetros de profundidade (Figura 15). Em média, Chironominae foi representado por 4,1

gêneros por fração de sedimento, contra 3,5 gêneros de Tanypodinae. Embora

Chironominae possua um total de 12 gêneros identificados, a maior densidade verificada

foi do gênero Larsia, representante da subfamília Tanypodinae, com 13 ocorrências. O

gênero Chironomus foi o que apresentou a segunda maior densidade de espécimes (12

ocorrências) e o gênero Labrundinia, outro representante de Tanypodinae, foi o terceiro,

com 11 registros. O anexo 1 representa a composição atual da família Chironomidae na

Lagoa Carioca, retirada do trabalho realizado por Marques (2004).

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

0-3 3-6 6-99-12

12-15

15-18

18-21

21-24

24-27

Prof. do Sedimento (cm)

Riq

ueza

de

Gên

eros

Chironominae

Tanypodinae

Total

FIGURA 15: Riqueza de gêneros nos diferentes extratos do sedimento.

20

TABELA 2: Abundância (número de carapaças) de Chironomidae encontrada nas diferentes frações da amostra vertical de sedimento da Lagoa Carioca, PERD. (Frações expressas em centímetros de profundidade / NI: não identificado).

0-3 3-6 6-9 9-12 12-15 15-18 18-21 21-24 24-27

Chironominae

Asheum 1 2

Beardius 1

Chironomus 2 1 1 2 1 2 1 1 1

Goeldichironomus 1

Harnischia 1

Kiefferulus 1

Parachironomus 1 2 1 4 1

Polypedilum 1 2

Rheotanytarsus 1 1 1

Stenochironomus 1 1

Tanytarsus 1 1 1

Tribelos 1 1

Chironominae (NI) 1

Tanypodinae

Clinotanypus 1

Djalmabatista 1 2

Ablabesmyia 5 1

Labrundinia 1 1 3 3 3

Larsia 3 2 4 4

Tanypodinae (NI) 1 4 1

TOTAL 9 2 1 5 12 10 17 17 9

Discussão Análise das Carapaças Encontradas

A maior densidade de subfósseis de Chironomidae no extrato superficial do

sedimento da Lagoa Carioca pode ser explicada por algumas hipóteses. A primeira está

relacionada ao deterioramento das carapaças armazenadas no sedimento. Brodersen &

Anderson (2000) relatam a ocorrência deste fenômeno, causado por ação bacteriana ou pelo

impacto sofrido em processos de sedimentação, para carapaças dos dois primeiros instares

21

da larva. Existe a possibilidade de que isto também ocorra nos outros dois instares, à

medida em que vão sendo acumulados no sedimento. A fração superficial, por ser o local

que recebe as carapaças derivadas de ecdises, ou das larvas após sua morte, contém

carapaças recém depositadas, as quais ainda não passaram por estes processos, o que pode

ser um fator determinante para a alta densidade encontrada. No entanto esta hipótese é

pouco provável porque existem estudos com relatos de carapaças encontradas em

profundidades de até 9 metros, em abundâncias bastante consideráveis (Heiri & Lotter,

2003).

Uma segunda possibilidade seria algum artefato metodológico não percebido neste

trabalho que possa ter levado as amostras ao padrão observado. Porém, a grande maioria

dos trabalhos com densidade de quironomídeos encontra este padrão, ou seja, um valor alto

nas frações superficiais, que vai diminuindo com a profundidade (Andrade-Morraye &

Rocha, 1996; Brooks & Birks, 2000; Il’yashuk, 2004).

Uma possibilidade levantada que pode explicar tanto o aumento de carapaças na

fração superficial, como a composição dos gêneros encontrados ao longo do perfil do

sedimento é de que está ocorrendo um processo de eutrofização natural nas águas da Lagoa

Carioca. Conforme descrito nas características do sedimento, ao retirar o “corer” da água,

observou-se um forte odor de gás sulfídrico (H2S), importante indicador de ausência de

oxigênio nas partes mais profundas do lago, resultado da decomposição da matéria orgânica

(Callisto & Esteves, 1998). Estudos ainda não publicados revelam a prevalência de

cianobactérias e redução da diversidade de zooplâncton neste local, ambos considerados

conseqüência deste tipo de efeito (Dr. Ricardo M. Pinto-Coelho, com. pes.).

Um levantamento da ictiofauna da lagoa indicou a presença de pelo menos quatro

espécies invasoras, conhecidas por praticamente eliminar as populações de peixes nativos,

causando um perigoso desequilíbrio na teia alimentar local (Latini et al, 2004). Este

fenômeno pode extinguir uma série de espécies responsáveis pelo consumo de nutrientes

orgânicos, tornando-os excessivos.

Os dados obtidos com Chironomidae também condizem com essa hipótese

relacionada à eutrofização da Lagoa Carioca, por vários motivos. Embora não seja

estatisticamente significante, pois o trabalho foi realizado analisando uma amostra por

fração de sedimento, houve um predomínio da subfamília Chironominae nas frações

22

superficiais, representada por gêneros conhecidamente coletores, como Chironomus,

Polypedilum, Rheotanytarsus e Stenochironomus (Merritt & Cummins, 1996). Este grupo

ecológico é o que melhor se adapta a condições adversas, como a eutrofização. O gênero

Chironomus ainda possui pigmentos semelhantes à hemoglobina e por isso, é

extremamente tolerante à ambientes com baixos teores de oxigênio dissolvido (Callisto &

Esteves, 1998).

Ambientes oligotróficos normalmente possuem uma estrutura populacional de

Chironominae mais ampla, com a presença de indivíduos representantes de uma gama

maior de gêneros e subfamílias, como Tanypodinae, indicadora de ambientes estabilizados

(Merritt & Cummins, 1996).

Este perfil foi observado nos extratos mais profundos do sedimento. Enquanto

Chironominae foi dominante nos extratos superficiais, a partir dos 9 cm de profundidade

houve uma maior participação de gêneros da subfamília Tanypodinae, principalmente

Labrundinia e Larsia, com hábitos alimentares predadores, indicativos de ambientes com

maior riqueza de espécies (Merritt & Cummins, 1996). Deste ponto em diante foram

encontradas as maiores riquezas de gêneros, com representantes das duas subfamílias, em

aparente equilíbrio. Durante a triagem das amostras algumas diatomáceas “pennales”,

indicadoras de águas oligotróficas, foram visualizadas nos extratos mais profundos do

sedimento. A união destes dados fornece fortes indícios de que a Lagoa Carioca possuía

uma biota aquática mais rica e estabilizada do que a observada atualmente.

Os procedimentos de datação para uma amostra de sedimento são de extrema

importância em estudos de reconstruções faunísticas, por permitirem a inferência de uma

data precisa para a amostra em questão. O método que utiliza o Pb210 como marcador é

valioso para estes trabalhos, pelo fato de definir uma precisão de meses para uma amostra.

Neste estudo, estes dados foram estimados com base no trabalho de Sifeddine et al. (2004),

conseqüentemente toda discussão realizada foi focada em um âmbito mais generalizado,

devido à ausência de dados precisos para a Lagoa Carioca.

23

Metodologia Utilizada

Coleta dos Dados

A escolha do amostrador de sedimento levou em consideração sua indicação para

coletas em sedimentos com altos teores de argila, silte e demais sedimentos que não

possuam a característica de ser muito compactado, caso da Lagoa Carioca, e a capacidade

de coletar amostras representativas e com dimensões interessantes para a finalidade deste

projeto. Um estudo paleolimnológico realizado no Lago Dom Helvécio (PERD) indicou

que uma profundidade de 100 cm contém sedimentos testemunhos de eventos geológicos

ocorridos há aproximadamente 1500 anos (Sifeddine et al., 2004), ou seja, para este estudo,

onde não houve intenção em obter testemunhos com datações específicas, e sim realizar a

verificação da existência, densidade e distribuição dos gêneros de Chironomidae em

diferentes profundidades do sedimento, a possibilidade de retirar testemunhos com até 60

cm de profundidade foi satisfatória. Todavia, quando necessárias amostras datadas, este

método de amostragem também é indicado, a menos que a amplitude cronológica almejada

necessite de extratos com valores superiores a 60 centímetros.

Outras características como a facilidade de manejo e transporte até a área de estudo,

além da possibilidade de processar as amostras in situ, mesmo em locais com espaços

reduzidos, caso de embarcações pequenas, como a que foi utilizada, foram fundamentais na

escolha deste amostrador. Além disso, a sua arquitetura foi fundamental para determinar

definitivamente a sua escolha, uma vez que ela corrige os principais artefatos produzidos

em coletas com “corers”, como perda dos sedimentos da camada mais superficial do fundo

do lago, compactação do sedimento no interior do tubo coletor e mistura das frações. Estes

artefatos são frutos de trabalhos científicos que testaram a confiabilidade das amostras

obtidas com estes “testemunhadores” (Blomqvist, 1985; Crusius & Anderson, 1991;

Cumming et al, 1993). A eficácia do “corer” pode ser verificada em campo, uma vez que a

camada mais superficial do sedimento estava bem representada, com a presença de flocos

ainda inconsolidados, e o perfil do sedimento obtido não apresentava os indicativos, citados

na literatura, de compactação ou mistura de frações. Em uma análise final, estes fatos

juntamente com a qualidade da amostra obtida corroboraram o acerto na escolha desta

metodologia para a extrusão de um perfil vertical de sedimento da Lagoa Carioca.

24

Triagem das Amostras

A metodologia aplicada neste trabalho é a mais utilizada em estudos

paleolimnológicos relacionados à subfósseis de Chironomidae em sedimentos que não

sejam extremamente cálcareos, para o qual é aconselhável um tratamento com HCl ou HF

(Il’yashuk, 2004).

A escolha do volume de 1 mL foi considerada satisfatória quando analisado o número

de carapaças obtidas pelo tempo de triagem das mesmas. Realmente, como afirmado por

Walker (2000) para lagos tropicais envoltos por florestas, este volume fornece ao menos 50

carapaças de quironomídeos, suficiente para diversas análises (Larocque, 2001; Quinlan &

Smol, 2001). Aqui, a média de carapaças obtidas por mL de sedimento foi de

aproximadamente 22. Esta subamostragem pode ser atribuída à espessura da malha

utilizada no filtro. Neste estudo foi utilizado filtro com malha de 150 µm. Alguns trabalhos

com subfósseis de quironomídeos utilizam malhas menores, em torno de 100 µm ou até

menores (Il’yashuk, 2004). Estas asseguram a presença de remanescentes de todos os

instares, apesar das carapaças dos dois primeiros serem normalmente degradadas

(Brodersen & Anderson 2000), além de serem impróprias para a identificação de muitas

espécies (Epler, 2001). Como neste trabalho não houve a intenção de realizar reconstruções

de épocas passadas, foi levado em consideração o custo-benefício da utilização de

diferentes malhas, chegando-se a conclusão de que a malha de 150 µm era satisfatória, uma

vez que reteria boa parte das carapaças bem como reduziria o tempo despendido na triagem

das amostras, comparado ao longo tempo necessário para malhas menores. O uso de malhas

menores é aconselhável, principalmente se o trabalho tiver como objetivo principal realizar

inferências paleoambientais.

A hipótese de que carapaças podem não ter sido visualizadas no momento da triagem

do sedimento também é válida. Ao final desta análise, contudo, é possível afirmar que a

Lagoa Carioca possui remanescentes de Chironomidae em seus sedimentos suficientes

estudos de reconstrução paleoambiental.

Deve ser levado em consideração que todo o processo de triagem de remanescentes de

quironomídeos despende uma porção considerável de tempo e dedicação, pois tratam-se de

estruturas micrométricas, raramente milimétricas (Epler, 2001) inseridas no sedimento,

muitas vezes dentro de partículas do mesmo, sendo necessária muita atenção para que não

25

passem desapercebidas. Por isso os pesquisadores da área dedicam vários estudos com

novas metodologias para facilitar sua separação do sedimento (Lang, 2003). Quando

encontradas, inicia-se outra dificuldade, a sua triagem, o que foi confirmado neste trabalho.

Durante a fase de identificação dos espécimes percebeu-se que o processo de sucção das

carapaças, através de uma seringa de 1mL, acarretou em perdas e destruição de exemplares.

Acredita-se que este tenha sido um dos fatores responsáveis pelo número de espécimes

identificados ter ficado consideravelmente abaixo do número de carapaças encontradas.

Diagnosticado o problema, durante o processo de identificação as carapaças foram

manejadas com uma agulha, fixa em haste de madeira, com espessura muito fina, inferior

ao diâmetro interno das carapaças, de modo que pudesse entrar no interior das mesmas e

assim deslocá-las conforme a necessidade. Este método adicional, embora bem mais

trabalhoso, não causou perdas ou deteriorações nos remanescentes, sendo indicado para

processos de triagem de amostras de subfósseis de Chironomidae, independente dos

objetivos do projeto.

Processo de Identificação

Os procedimentos atuais para identificação das espécies da família Chironomidae

normalmente são realizados utilizando-se os estágios larval e adulto. Muitas vezes as pupas

também são incluídas neste procedimento, de modo a reduzir a possibilidade de erro ao

menor nível possível. Epler (2001) descreve a metodologia para criação de larvas

capturadas vivas e obtenção de adultos, uma vez que os mesmos são difíceis de serem

encontrados na natureza e não há como ter certeza na correspondência específica entre

larvas e adultos capturados na mesma região. A escassez de chaves taxonômicas específicas

para regiões tropicais dificulta ainda mais os trabalhos dos pesquisadores desta área (Eaton,

2003).

No caso de subfósseis, as ferramentas tornam-se ainda mais escassas, pois todo o

processo de identificação é realizado com base apenas na carapaça cefálica dos espécimes,

uma vez que salvo raras exceções, somente elas permanecem nos sedimentos. Apesar do

grande trabalho necessário e da possibilidade de erros, o procedimento de desenhar e

fotografar as carapaças, para posterior comparação com chaves taxonômicas possibilitou a

identificação até o nível de gênero na maioria dos casos em que o mento estava presente

26

(Figura 16). Alguns espécimes não puderam ser identificados devido à posição encoberta

ou ausência desta estrutura (Figura 17).

Stenochironomus (desenho) Stenochironomus (foto) Stenochironomus (chave)

FIGURA 16: Desenho do mento de um gênero de Chironominae (esquerda) ao lado da foto em que foi baseado. A figura à direita foi retirada Epler (2001). Desenho e foto: Rafael Resck.

FIGURA 17: Espécime sem lígula. Neste caso foi possível identificar somente até o nível de subfamília (Tanypodinae) devido à presença da antena retrátil característica. Foto: Rafael Resck.

27

Conclusões

A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que os objetivos propostos neste

trabalho foram alcançados. As análises propostas também foram realizadas e a partir delas

hipóteses foram levantadas e discutidas. Este estudo exigiu uma grande dedicação para

cada uma de suas fases: a coleta das amostras, a triagem dos sedimentos, a identificação das

carapaças, análise dos dados e, por fim, a compilação de todas estas informações em um

documento, o qual além de disponibilizar estes dados, também teve como objetivo

descrever detalhadamente cada passo realizado, de modo que eles possam ser repetidos por

qualquer pesquisador que se interesse pelo assunto. A dificuldade em localizar informações

compiladas sobre este tema também foi um incentivo para a escolha de se fazer um

documento que também possuísse um enfoque descritivo.

Um outro ponto que merece consideração diz respeito ao local estudado. Os dados

obtidos neste trabalho demonstram o potencial da Lagoa Carioca para estudos

paleolimnológicos, comprovadamente envolvendo subfósseis de Chironomidae. Estes

estudos possibilitam uma gama muito ampla de inferências, as quais variam de acordo com

as especificidades ecológicas de cada grupo.

Apesar do intenso crescimento observado em outros países, no Brasil o campo da

paleolimnologia ainda é muito pouco explorado. Sedimentos de rios e lagos colecionam

uma quantidade inestimável de informações sobre eventos passados e muitas vezes são o

único meio de obtê-las. São trabalhos difíceis, mas os resultados que proporcionam são

extremamente gratificantes e de grande valia para a ciência.

28

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lagos D. Helvécio e Jacaré - Parque Estadual do Rio Doce (MG). II Encontro Brasileiro Sobre Chironomidae – Livro de Resumos. São Carlos.

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Anexo 1 – Lista Qualitativa de Gêneros Atuais de Chironomidae na Lagoa Carioca – PERD. Modificado de Marques (2004). Chironominae Aedokritus sp.

Chironomus sp.

Goeldichironomus sp.

Manoa sp.

Nimbocera sp.

Parachironomus sp.

Polypedilum sp.

Stenochironomus sp.

Tanytarsus sp.

Tanypodinae Ablabesmyia sp.

Clinotanypus sp.

Coelotanypus sp.

Labrundinia sp.

Larsia sp.

Procladius sp.