46
 Carl Rogers - sobre o seu paradigma fenomenológico existencial em psicologia e psicoterapia 2006.  A John Wood,  Amigo querido, bem humora do, despretensioso e lúci do mestre. PREFÁCIO O paradigma desenvolvido por Carl Rogers contribui de um modo rico e singular com a concepção e método do trabalho em psicologia e psicoterapia. Carl Rogers desenvolveu, de um modo ousadamente experimental, um modelo finamente fenomenológico existencial para a vivência psicológica e psicoterápica. No burburinho de história social, científica, epistemológica, de Ontologias em que emerge a sua abordagem, uma série de fatores dificultam uma adequada compreensão de seu modelo. Levando a distorções, ou a vulgarizações empobrecedoras. Dentre estes fatores, a própria precariedade, freqüentemente, da explicitação das bases fenomenológico existenciais do modelo, precariedade da explicitação do nexo fenomenológico existencial de suas concepções e metodologia, e mesmo os naturais equívocos, que a história vai revelando. Junte-se a isto o pouco conhecimento da Fenomenolog ia e de sua história, o pouco conhecimento da filosofia da vida de Nietzsche e de Dilthey, o pouco conhecimento dos esclarecimentos de Buber, no meio da psicologia e da psicoterapia. Estamos, agora, a superar essas limitações Conhecemos cada vez mais sobre cada uma dessas importantes contribuições que contextualizaram o desenvolvimento do paradigma r ogeriano. Nessas condições ressalta a importância, a singularidade, a lógica do paradigma rogeriano. De modo que podemos apreciar a riqueza de sua aplicação como concepção e método de trabalho psicológico e psicoterápico, nas várias áreas de aplicação da psicologia e da psicoterapia. Ao tempo em que podemos apreciar como o paradigma rogeriano contribui, de um modo marcante, para a elucidação, e para a constituição, do sentido conceitual e metodológico específico deste trabalho. O presente livro tematiza os fundamentos e nexos fenomenológico existencia is do paradigma rogeriano. Os dois primeiros capítulos discutem o paradigma rogeriano da perspectiva da Fenomenologia e do Existencialismo; o terceiro capítulo ressalta a característica de vivência fenomenal  pática  como modo privilegiado de ser no âmbito da vivência da metodologia de Carl Rogers; o quarto capítulo discute o caráter não teorético e igualmente não prático do modo de vivência do paradigma rogeriano; o capítulo cinco discute características fundamentais das psicologias e psicoterapias fenomenológico existenciais; e o capítulo seis discute algumas questões da concepção rogeriana que podem ser melhor enfocadas de um ponto de vista fenomenológico existencial. Enseada de Jatiúca, Maceió, Abril 2006. SUMÁRIO PREFÁCIO.. X

Carl Rogers - Sobre o Seu Paradigma Fenomenológico Existencial Em Psicologia e Psicoterapia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Carl Rogers - sobre o seu paradigma fenomenológico existencial em psicologia e Psicoterapia

Citation preview

  • Carl Rogers - sobre o seu paradigma fenomenolgico existencial em psicologia e psicoterapia 2006. A John Wood, Amigo querido, bem humorado, despretensioso e lcido mestre. PREFCIO O paradigma desenvolvido por Carl Rogers contribui de um modo rico e singular com a concepo e mtodo do trabalho em psicologia e psicoterapia. Carl Rogers desenvolveu, de um modo ousadamente experimental, um modelo finamente fenomenolgico existencial para a vivncia psicolgica e psicoterpica. No burburinho de histria social, cientfica, epistemolgica, de Ontologias em que emerge a sua abordagem, uma srie de fatores dificultam uma adequada compreenso de seu modelo. Levando a distores, ou a vulgarizaes empobrecedoras. Dentre estes fatores, a prpria precariedade, freqentemente, da explicitao das bases fenomenolgico existenciais do modelo, precariedade da explicitao do nexo fenomenolgico existencial de suas concepes e metodologia, e mesmo os naturais equvocos, que a histria vai revelando. Junte-se a isto o pouco conhecimento da Fenomenologia e de sua histria, o pouco conhecimento da filosofia da vida de Nietzsche e de Dilthey, o pouco conhecimento dos esclarecimentos de Buber, no meio da psicologia e da psicoterapia. Estamos, agora, a superar essas limitaes Conhecemos cada vez mais sobre cada uma dessas importantes contribuies que contextualizaram o desenvolvimento do paradigma rogeriano. Nessas condies ressalta a importncia, a singularidade, a lgica do paradigma rogeriano. De modo que podemos apreciar a riqueza de sua aplicao como concepo e mtodo de trabalho psicolgico e psicoterpico, nas vrias reas de aplicao da psicologia e da psicoterapia. Ao tempo em que podemos apreciar como o paradigma rogeriano contribui, de um modo marcante, para a elucidao, e para a constituio, do sentido conceitual e metodolgico especfico deste trabalho. O presente livro tematiza os fundamentos e nexos fenomenolgico existenciais do paradigma rogeriano. Os dois primeiros captulos discutem o paradigma rogeriano da perspectiva da Fenomenologia e do Existencialismo; o terceiro captulo ressalta a caracterstica de vivncia fenomenal ptica como modo privilegiado de ser no mbito da vivncia da metodologia de Carl Rogers; o quarto captulo discute o carter no teortico e igualmente no prtico do modo de vivncia do paradigma rogeriano; o captulo cinco discute caractersticas fundamentais das psicologias e psicoterapias fenomenolgico existenciais; e o captulo seis discute algumas questes da concepo rogeriana que podem ser melhor enfocadas de um ponto de vista fenomenolgico existencial. Enseada de Jatica, Macei, Abril 2006. SUMRIO PREFCIO.. X

  • SUMRIO.. XIV INTRODUO.. XVI 1. Carl Rogers. Sobre o sentido da concepo e do logos metdico de seu paradigma em psicologia e psicoterapia I 20 2. Carl Rogers. Sobre o sentido da concepo e do logos metdico de seu paradigma em psicologia e psicoterapia II 38 3. Carl Rogers, o pattico. Empattico, peripattico. 48 4. Nem Teortico, nem Prtico. Muito menos Pragmtico O Paradigma Rogeriano. Fenomenolgico Existencial: Poitico. 62 A. O paradigma rogeriano, nem teortico, nem prtico; nem pragmtico. Fenomenolgico existencial dialgico e poitico. 64 B. Do Pradigma Teortico. 74 C. O prtico e o pragmtico; 79 D. O fenomenolgico existencial poitico. 81 E. Concluso. 83 5. A particularidade da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial 88 a. Ontologia. 92 b. Epistemologia. 94 c. Expressionismo. 97 d. Existencialismo. 101 e. Concepo da abordagem.. 107 f. Metodologia. 108 6. Algumas questes. 124 7. Concluindo. 130 INTRODUO Carl Rogers marcou um lugar fundamental na psicologia e na psicoterapia. A novidade de seu paradigma, no mbito de uma psicologia e de uma psicoterapia fortemente psicanalticas, ou comportamentais --, na Amrica do Norte, e por todo o mundo , fez com que o paradigma de Carl Rogers tivesse forte a marca de sua personalidade. s vezes at, de um modo exagerado e reificadamente personalista.

  • O que no se pode negar a forte marca pessoal de Rogers, de sua inventividade, e em particular de sua ousadia, e incansvel e obstinada disposio experimental na elaborao de seu paradigma. medida que o tempo passa, em particular, empobrece-se a sua concepo e mtodo, se nos restringimos ao personalismo, e reificamos personalisticamente a sua abordagem, sua concepo e mtodo. Isto porque, para alm de sua pessoa, a sua contribuio terica e experimental configura de um modo muito fundamental, e importante, todo o campo de concepo e mtodo, da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial. Este campo -- que tem cada vez mais um irrecusvel e importante lugar no mbito da concepo e mtodo da psicologia e da psicoterapia tem os seus primrdios no pioneirismo de um Ludwig Binswanger, e de um Medard Boss. Demasiadamente tmidos ainda, em termos de concepes e posturas radicalmente fenomenolgicas, empiricamente fenomenolgicas, e fenomenologicamente experimentais. , podemos dizer assim, depois que a Fenomenologia e o Existencialismo, como propostas de psicologia e de psicoterapia, migram para os Estados Unidos, com a decidida mediao de Abrahan Maslow e de Rollo May, que elas comeam a se configurar na concepo e mtodo de um paradigma radicalmente fenomenolgico existencial, emprico e experimental de psicologia e de psicoterapia. Com outra histria, outros pr-textos, um outro dos passageiros fundamentais da constituio deste modelo F. S. Perls, com sua ousada, fenomenolgico existencial, emprica e experimental, Gestalt Terapia. Desde cedo, a inspirao fenomenolgico existencial calou fundo em Rogers. Em particular no meio da cultura da psicologia e da psicoterapia norte americanas, no havia muita clareza quanto ao carter emprico da Fenomenologia que Brentano recuperava de Aristteles. Muito menos da radicalidade da experimentao perspectivativa de Nietzsche, que o Expressionismo europeu decididamente incorporara, marcando profundamente, dentre outros, a Gestalt Terapia. Mas Rogers intuiu o sentido das fontes. Bafejado por Otto Rank nietzscheano, por Buber, e por toda a corrente fenomenolgico existencial da poca, Rogers lanou-se experimentao de sua abordagem no diretiva, centrada no cliente, na pessoa, experiencial; desaguando num modelo de concepo e mtodo de trabalho de grupo, e no modelo de psicoterapia individual, radicalmente empricos fenomenolgico existencialmente, e, especificamente, experimentais, no sentido fenomenolgico existencial. Rogers tinha a obstinao de quem sabia por onde, e para onde, andava, na direo de um paradigma desprovido, em sua vivncia, de fundamentos cientficos, de atividade ou interesse teorticos, de metodologias tecnolgicas, das foras do moralismo, e das demandas utilitrias e pragmatistas da prtica. Um paradigma que se dispunha a propiciar as condies para a fluncia da dimenso poitica da condio humana, no grupo e na relao inter individual, visceralmente aderido vivncia da atualizao inter ativa, empattica, peripattica, da potncia do possvel. Obstinadamente emprico num sentido fenomenolgico existencial, e, igualmente, experimental. Rogers no chega a teorizar cabalmente este carter fenomenolgico existencial de seu modelo. Na verdade lanou mo de concepes que nem sempre podem ser entendidas como fenomenolgico existenciais. Mas experimentou profusamente a perspectiva de um paradigma fenomenolgico existencial emprico e experimental. Como ningum o fez. Com a exceo de

  • Fritz Perls. Um destacado companheiro na empreitada, cheia de alegria, intensidades, pessoas e realizaes. 1. Carl Rogers. Sobre o sentido da concepo e do logos metdico de seu paradigma em psicologia e psicoterapia I O Carl Rogers que encontramos na culminncia de sua obra, e de sua vida, era, de um modo evidente, superlativamente despojado, e despretensioso. De vrias formas. E aqui nos interessa sobretudo no que concerne a sua atividade profissional, a suas concepes e mtodo, e ao sentido ensastico de sua produo escrita. Carl Rogers era, ento, o empirista fenomenolgico existencial por excelncia; na tradio de Brentano. Fenomenolgico existencial, dialgico (Buber), na tradio de Brentano. Mesmo que se pudesse observar a prevalncia de toda uma teorizao, metafsica, e mesmo retrica, da tendncia atualizante, Carl Rogers j tinha ido, experimentalmente, alm; no sentido do logos metdico de um empirismo humanista*, fenemenolgico existencial, dialgico, em psicologia e psicoterapia, no mbito das relaes humanas. Desinvestido de qualquer pressuposto de condio e desempenho tcnicos, na sua atuao. Destitudo de aspiraes cientficas tradicionais. Ou de veleidades prticas, e pragmticas. Destitudo da crena na efetividade do terico e da teorizao, e do moralismo, em particular, ao nvel do existencial. Sua produo escrita, igualmente, perdera, cada vez mais, as veleidades especificamente teorizantes, explicativas, ou cientficas. E, cada vez mais, se configurava como ensastica, brotando naturalmente da experincia existencial, e vivncia fenomenolgico existencial, emprica, e experimental de seu trabalho. Como meio e como via, como jeito de ser, do psiclogo e do psicoterapeuta, do educador, da pessoa -- em processos de co-laborao na potencializao de metamorfoses, e de estilos existenciais de vida[1] --, o sentido do logos metdico de Rogers radicalizou-se, progressiva, e firmemente, numa postura de abertura para, de privilegiamento, e de afirmao experimental, dos momentos de dialgica interhumana (Buber). O sentido do logos metdico de Rogers radicalizou-se numa postura de afirmao experimental da concrescncia fenomenolgico existencial da existncia, na pontualidade de seus desdobramentos. Consistentemente arraigado em pr condies de respeito radical -- pessoal e metodolgico -- pela alteridade, pela diferena, do cliente; e de respeito pela diferena e frescor de sua vivncia emprico fenomenal. Como imprescindveis condies do privilegiamento do encontro, nesta dialgica interhumana. O encontro como vivncia de momentos de um modo de ser generativamente existencial, existenciativo, poitico. O quanto, e o como, nos acostumamos a ver -- na vivncia de sua relao com o cliente, ou com o grupo, guisa de metodologia -- a obstinao mansa e rtmica de Rogers, e de seus colaboradores mais imediatos, no privilegiamento, radical, da mera, nua, crua, e simples, dialgica interhumana. No raro, de um modo exasperante, catico, desconcertante, irritante... Mas paciente, pacientemente elaborado, at que, como dizia Perls, o deserto comeasse a florescer. Ou, como dizia John Wood, at que a orquestra se afinasse, e estivesse em condies para uma performance poitica.

  • Mal entendido, muito mal entendido, foi Carl Rogers, muito freqentemente, em suas concepes e posturas metodolgicas. Mal entendido pelos de fora. E, freqentemente, mal entendido por muitos dos de dentro, que assumiam a incorporao de seu modelo. Estes, muito freqentemente, pelo equvoco banal, e danoso, de confundir, e trocar, por motivos vrios, o simples pelo simplrio. Descurando do elementar, mas to precioso, e sutilmente conquistado, empirismo humanista , fenomenolgico existencial, dialgico, na relao inter humana. Substituindo por atitudes retricas, e estereotipadas, ou meramente manipulativas, a essncia incontornvel de vivncia de incerteza, de vivncia de confirmao da, e de interao com a, diferena do outro; negando-se vivncia de desconcerto, no raro de desconforto, ou de conflito, inerentes vivncia deste empirismo inter humano -- frtil, como tal, germinao da ao, da criao, da existenciao. No muito longe, outros, por captarem o modelo rogeriano em fases primitivas, quando ainda havia uma referncia importante, e mesmo a aspirao de um certo cientificismo. Com surpresa, os vemos hoje em dia tentando interpretar o modelo rogeriano pela via de um cientificismo pseudo cientfico. Inscientes, talvez, do finssimo e precioso trabalho de Rogers na superao no s do cientificismo, mas do prprio paradigma cientfico em psicologia e psicoterapia, em privilgio do que permite, potencializa e engendra o existencial. Perderam o bonde? Mal entendido pelos tcnicos, Carl Rogers. Tcnicos que surpreenderiam, evidente e obviamente, a indigncia de tcnicas, de uma metodologia tcnica, no paradigma rogeriano. Inscientes, certamente, de que Rogers j havia, de h muito, passado pela questo da tcnica ao nvel existencial das relaes inter humanas, e, portanto, ao nvel do mtodo em psicologia e psicoterapia. E compreendido que a existncia, em seu carter fenomenal essencial de atualizao de possveis inditos, essencialmente irrepetveis em sua qualidade e processo, no acessvel efetividade de competncia da tcnica. A existncia, como observou Heidegger[2], resolve-se apenas existencialmente. E Rogers compreendia muito bem, e profundamente, isto. Da mesma forma que entendia a inefetividade, e mesmo o dano, sempre latente, iminente e atual, do abuso da impropriedade de uma abordagem tcnica em questes existenciais. Na verdade, foi esta uma primeira constatao, e uma das primeiras condies de mtodo, dos psicoterapeutas e psiclogos fenomenolgico existenciais. Mal entendido, Rogers, pelos cientficos. Que pertinentemente -- no reconheciam no paradigma rogeriano, e em sua atividade profissional, a aplicao do mtodo cientfico formal. Nem a aplicao tecnolgica, por este paradigma, de um conhecimento elaborado atravs dos procedimentos cientficos consagrados. Nunca entenderam estes, evidentemente, o sentido propriamente fenomenolgico existencial de experimentao. Bem antes dos cientificistas pseudo cientficos em psicologia -- alguns mesmo dos que se dizendo rogerianos, de hoje (pasmem!) --, Rogers entendeu que -- da mesma forma que o paradigma tcnico -- o paradigma cientfico no dava conta do vivido fenomenativo, no qual o possvel possvel. Nem se aplicava , ato-ao ao nvel do existencial. Na medida, em particular, em que o existencial se configura como sendo da ordem do modo humano de ser da ao poitica, e no da ordem do epistemolgico.

  • No porque menos, que o fenomenolgico existencial no da ordem do cientfico. , apenas, porque o cientfico no d conta do existencial, que nem mesmo da ordem da realidade . Quanto mais da ordem da objetividade. Diria pessoa pela boca de uma sua personagem, Estvamos cheias de ser ns. E isso porque sabamos, com toda carne de nossa carne, que no ramos uma realidade.[3] Bem ao gosto de Nietzsche[4], Rogers entendia que o existencial no se conforma ao empistemolgico, e epistemoflico, pressuposto cientfico da busca de verdades. No se conforma s esferas do conhecer, e do conhecimento, e de suas vontades. No por outro motivo que o corao tem razes que a prpria razo desconhece (Pascal); e que seria enloquecedooooooorrrrr se amor tivesse a ver com verdade... (Maffesoli). Mas, mais propriamente, o existencial, experimental, a-ventura-se, de um modo essencial, na incerteza, e na improvisao, da potencia criativa, na possibilidade humanamente ontolgica da criao da realidade e do verdadeiro. Mal entendido pelos moralistas. Especial e inconformadamente destronados. Moralistas que, similar-mente aos cientficos, no encontravam no paradigma rogeriano a preocupao tradicional com a busca da verdade, com uma busca de adequao a verdades, ou a valores preconizados, nem com a transmisso, ou imposio, de verdades estabelecidas. Nem mesmo, inclusive, uma preocupao com o positivismo do real, ou com o princpio de realidade. Os pragmatistas chocavam-se, certamente, com a enorme inutilidade e desperdcio de tempo e de recursos da metodologia vivencial rogeriana. Essencialmente incompatvel com o prtico; em especial, incompatvel com o pragmtico. Sem advertirem-se, certamente, de que, em sua especificidade, a existncia humana -- eminentemente da ordem do modo de ser do poitico -- d-se e desdobra-se, cria-se, engendra-se, resolve-se, ao nvel deste humano modo de ser que no da ordem do modo de ser no qual se do o til e a utilidade. Humano modo de ser, que sem prejuzo do prtico e da prtica, no da ordem do modo de ser no qual se do a prtica, o valor do prtico e da pragmtica. Ainda que deste fenomenolgico existencial poitico modo de ser tudo provenha; e, paradoxalmente, provenham, inclusive, em suas especificidades, todos os teis, e as suas utilidades. Na verdade, como observa Buber[5], com essencial propriedade, o modo humano ontologicamente existencial de ser, no s, no da ordem do til e da utilidade, como no o , igualmente, da ordem do modo de ser no qual vigoram os fins e os meios; no da ordem do modo de ser da arbitrariedade, no da ordem do modo de ser em que vigora a causalidade das causas e dos efeitos, dos meios e dos fins; a sua fatalidade; nem mesmo , como observamos, da ordem do modo de ser que entendemos como realidade, no sentido objetivo do modo de ser no qual vigora o eixo dicotmico das relaes sujeito-objeto... Para os teorticos... Que resolvem o mundo em sua abstrao... Para os tericos, Rogers, a santa incoerncia... Uma verdadeira metamorfose ambulante. Congenitamente ingnuo...

  • De vrios tipos, os tericos, em unssono, e estereotipadamente, balanam, desaprovadoramente, a cabea, diante do paradigma rogeriano. Sem se precatarem de que, fundamentalmente, Rogers compreendera, em sua efetividade, a distino especfica entre teoria e existncia, a distino entre ao e teoria. Rogers intura a distino entre explicao e compreenso, e intura que no existe explicao que possa levar compreenso (Takuan Soho). E estava convencido de que, para lidar efetivamente com a condio humana -- com suas questes, com suas crises, superaes e crescimento; para lidar com a sua efetiva e especfica possibilidade de ao --, imperativo fazer-se ao largo do terico, da teoria e da teorizao, e direcionar-se, decidida e radicalmente, no sentido deste delicioso (cada um sabe a dor e a delcia de ser o que ...), e ontolgico, modo existencial de sermos. Que perfeita aderncia ao, incerteza, e ao devir, fenomenais. E que, especificamente, e por definio, e radicalmente, no da ordem do modo de sermos em que somos tericos e conceituais, explicativos. No que Rogers fosse um anti terico. Nada disso. Rogers tinha uma grande considerao pela teoria e pela teorizao. Est a a sua obra escrita. Mas, ainda que se interconectem, e interajam, cada coisa em seu lugar. Alis, de capital importncia entender que a vivncia emprica , por definio, no teortica; mas que existe uma diferena fundamental entre o empirismo objetivista, tradicional na cultura anglo-sax, e o empirismo fenomenolgico em termos do terico, da teoria e da teorizao: o empirismo objetivista radicalmente contrrio, e avesso, teoria e teorizao. O empirismo fenomenolgico no avesso ao terico, teoria e teorizao. Ou seja, igualmente para o empirismo fenomenolgico, a vivncia emprica caracteristicamente no teorizante, e no se assenta sobre teoria. Mas a teoria pode constituir-se como um outro e relevante momento, a partir da vivncia no terica. Da mesma forma que a teoria pode constituir-se como elemento das condies de sua hermenutica. De modo que, desde Brentano, no h, para o empirismo fenomenolgico, um preconceito e uma averso ao terico, teoria e a teorizao. Eles so possveis e necessrios, desejveis, ainda que sejam estranhos e heterogneos com relao aos momentos particulares da vivncia emprica. Que, fenomenolgica, no comporta a dicotomia do eixo de referncia das relaes de sujeito-objeto. Da mesma forma que, evidentemente, no poderia privilegiar o plo objeto desta relao, constituindo-se no campo da objetividade, como objetivista. O desafio de Rogers era lidar com a potncia humana de superao, e com as dificuldades existenciais neste processo de superao; lidando com clientes de psicoterapia, e de psicologia. Rogers entendeu que a atuao, a efetivao, desta potncia humana de superao se d, especificamente, no mbito do modo de sermos que pr-terico, pr-reflexivo, pr-conceitual. Modo de sermos a que ele, seguindo a Goldstein, denominava de experincia organsmica. Modo de sermos a que Dilthey e Heidegger, guardando as devidas particularidades, chamavam, respectivamente, de vivido e de ser-no-mundo. E como atuao do que ele chamava, e entendia, como tendncia atualizante humana. No mbito prprio da vivncia momentnea deste modo fenomenolgico de sermos, a teoria e a teorizao so suprfluos, de pouca valia, inefetivos, imprprios. Quando no perturbadores, repressivos e danosos. Este modo de sermos demanda outras habilidades, equivalentes s de um danante, ou as de um nadador, ou de um artista, em suas atividades prprias.

  • A questo de Rogers, portanto, era a da experimentao, da definio, e desenvolvimento, de uma concepo e de uma metodologia no teorizantes em psicologia e psicoterapia, no trabalho com grupos, e nas reas a que ele posteriormente se dedica. Uma metodologia no teorizante, fenomenolgico existencial emprica, de vivncia, para o cliente, a partir de condies e atuao colaborativa e sinrgica, igualmente fenomenolgico existenciais empricas, por parte do terapeuta, psiclogo, educador. Concepo e metodologia fenomenolgico existenciais empricas, poiticas, mais aparentada do modo artstico de funcionamento, o que quer dizer, no teorizantes, no tcnicas, no moralistas, no cientficas, no prticas. Quanto a sua prpria teorizao, Rogers, assim como Perls, viu-se preso, e desafiado, portanto, na experimentao e na elaborao experimental da teoria e da teorizao, e na elaborao do logos metdico, de uma concepo e metodologia de psicologia e de psicoterapia no mbito da atuao de um modo de ser,. radicalmente no terico e no teorizante. Fenomenolgico, existencial, emprico. Modo de ser prprio da existncia e da existenciao, sua e de seus clientes, e dos participantes dos grupos que facilitava; modo de ser prprio dialgica inter humana, interpessoal, e coletiva. E, coerente, e concernentemente, a sua teorizao vai se tornando cada vez mais despretensiosa, em termos especificamente tericos e explicativos, cada vez mais ensastica, medida que ele mergulha na perplexidade da vivncia de atitudes comensurveis com as qualidades fenomenolgicas, fenomenoativas, do prprio modo de ser da existncia. Atitudes cada vez menos explicativas, e tericas, cada vez mais implicativas e compreensivas. Rogers sempre privilegiou, como atitude metdica, e como proposta de vivncia para o cliente, a experimentao fenomenolgico existencial. A dialgica inter humana entre terapeuta e cliente. A linguagem dialgica inter humana da existncia. Pattica. E, com isso, desdobrou e abriu possibilidades preciosas e muito fecundas para a psicologia, para a psicoterapia, para o trabalho ao nvel do humano. Possibilidades nem sempre compreensveis, em sua essncia e caractersticas prprias, a partir de um ponto de vista terico. Ou de um ponto de vista pragmtico. fundamental considerar deste ponto de vista a obra terica de Rogers. A sua evoluo medida que se desenvolve a sua experimentao, a natureza especificamente no teorizante de seu mtodo, e a prpria perplexidade da experimentao profissional de uma metodologia, que por existencial, era especificamente emprica, no terica, no conceitual. Da o carter essencial e grandemente aberto de sua obra terica. muito importante considerar que a elaborao do paradigma rogeriano, um paradigma no teortico, e, por isso, empirista neste sentido fenomenolgico existencial dialgico --, se d, exatamente, no mbito cultural hegemnico e forte de um empirismo. Mas, especificamente, no mbito do empirismo objetivista, vigente na cultura norte americana e anglo sax. Carl Rogers destaca-se, assim, com a contribuio de uma concepo e mtodo de psicologia e de psicoterapia fenomenolgico existenciais empricos, radicalmente heterogneos com relao ao empirismo objetivista ento predominante. Tudo isto aponta para questes extremamente importantes, que dizem respeito, por exemplo, ao fato de que, ainda que sua teorizao seja importante, o fundamental, em termos da obra de Rogers, no exatamente a sua teorizao, mas a sua metodologia no teorizante. Ou seja, o melhor ponto de vista para a compreenso e a apreciao do paradigma rogeriano no exatamente o ponto de vista de sua teoria. E, neste sentido, importante considerar a insuficincia da teorizao, mesmo a teorizao de Rogers, para captar e expressar teoricamente a especificidade de seu logos metdico. At porque, ao morrer ele apenas iniciara,

  • experimentalmente, a definio de sua concepo e metodologia em termos fenomenolgico existenciais empricos. O mesmo podemos dizer com relao ao ponto de vista cientfico, com relao ao ponto tcnico, com relao ao ponto de vista prtico, e com relao ao ponto de vista pragmtico. Como pontos de vista inespecficos e imprprios para a apreenso e compreenso do existencial, do fenomenolgico existencial emprico, e, portanto, do paradigma rogeriano. Como observamos, longe estamos de dizer que o paradigma rogeriano no teorizvel, ou que a teoria e a teorizao no sejam importantes no seu mbito, ou que no existe, na sua aprendizagem, na sua reproduo, e recriao, uma dimenso terica efetiva. Nada disso. Apenas necessrio colocar as coisas em seus devidos lugares. Em primeiro lugar, afirmar que o ponto de vista terico no o melhor ponto de vista para a compreenso do paradigma rogeriano. Na verdade, o terico um paradigma imprprio. A teoria possvel, sim, inevitvel, necessria, interessante. Mas, quando efetiva, no caso do paradigma rogeriano, trata-se da teorizao de um paradigma cuja vivncia, especificamente no teorizante, qualitativamente descontnua com o terico. Da mesma forma que podemos contemplar e imaginamos a gua da piscina quando dela nos aproximamos. Outra coisa mergulhar na gua, vivenci-la, e nadar, com ela interagir e desfrut-la, das vrias formas possveis. O momentneo mergulho exige, e implica, outras formas de conhecimento e habilidades, que prpria e especificamente no so tericos, ou teoricamente providos. So fenomenais, fenomenolgico existenciais, fenomenativos, pr-conceituais, pr-reflexivos, empricos enfim. interessante observar que Rogers movimentou-se e evoluiu, em termos humanistas, dos contrafortes norte americanos da cincia positivista, e objetivamente empirista -- e do moralismo religioso puritano --, em direo ao existencial, ao emprico fenomenolgico existencial, corpo-ativo. Em sua trajetria, guardava em si, desde o incio, o germe do fenomenolgico, e do empattico. Mas esta trajetria careceu de se configurar como uma imensa atividade de desconstruo. Imensa -- no tanto em quantidade como em qualidade -- atividade de desconstruo em psicologia e psicoterapia do paradigma objetivista, do paradigma tcnico, do paradigma cientfico, do paradigma moralista, do paradigma pragmtico, e do paradigma prtico... De modo que quando Rogers culmina, em seu paradigma, com o privilegiamento da nua dialgica interhumana ou interlgica diahumana -- de sua empattica, um imenso trabalho de desconstruo, de cascavilhamento e de experimentao fenomenolgico existencial j havia sido operado. Creio que podemos dizer que, como no poderia deixar de ser, Rogers deixa a sua teoria bastante inconclusa. Na verdade, o ponto culminante de seu modelo , num certo sentido, em termos tericos, um ponto zero. Ele chega s proximidades do ponto zero de uma teoria do privilegiamento fenomenolgico existencial emprico, nu e cru, da dialgica interhumana, como logos metdico de sua empattica. Podemos ver que, se, por um lado, a sua teoria vai ganhando um carter despretensiosamente ensastico; e mesmo se so eventualmente flagrantes contradies, descontinuidades, com relao a um modelo, a uma ontologia, e mesmo mtodo fenomenolgico existencial ao qual ele vai aderindo de um modo cada vez mais radical; por outro lado, a sua atividade profissional vai ganhando um carter cada vez mais vivencial, cada vez mais emprico e experimental, num

  • sentido genuinamente fenomenolgico e existencial. Carter que Rogers experimentou vivencialmente, de um modo intenso, em vrios contextos, na psicoterapia individual, na vivncia de grupo, na resoluo de conflitos, na pedagogia... Ancorado, certo, eventualmente, na metafsica de uma tendncia atualizante, concebida em bases exorbitantemente biolgicas, e apenas entrevista em seu carter propriamente fenomenolgico existencial de vivncia da dimenso humana do possvel, e de sua possibilitaes. 2. Carl Rogers. Sobre o sentido da concepo e do logos metdico de seu paradigma em psicologia e psicoterapia II Na medida em que consideramos a dimenso existencial humana, as suas crises e questes, e as suas resolues, necessariamente especificamente existenciais, compreendemos que a concepo e a metodologia de Rogers so muito sensveis e refinadas. No podemos nos iludir com o seu despojamento. Sobretudo, apesar de simples o seu mtodo, no podemos cair no equvoco de confundir o simples com o simplrio. A confuso do simples com o simplrio se tornou s vezes quase que epidmica entre os centrados. Isto porque, freqentemente, as fontes da concepo e mtodo, e a prpria concepo e mtodo, de Rogers foram mal compreendidos, ou mesmo desconhecidos. E sua abordagem freqentemente entendida, ironicamente, como o modelo pronto do objetivismo, ou da pragmtica, de uma certa tecnologia da compreenso, adoada de fragmentos aucarados da retrica de uma imprecisa ideologia dita humanista. Como estamos comentando, o despojamento da abordagem de Rogers atualiza um desinvestimento de posturas, de concepes, de mtodos, de epistemologias, de ontologias, incompatveis com o privilegiamento da dimenso do existencial, com o privilegiamento da dialgica fenomenolgico existencial do interhumano; incompatveis com a sua empattica. Foram-se, ento, na vivncia do logos metdico do paradigma rogeriano, como observamos, os procedimentos tcnicos, as pretenses cientficas, o moralismo, o pragmatismo, as reflexes tericas, a teoria e teorizao, e mesmo as condies definidoras especficas de uma prtica. Cascavilhando experimentalmente, Rogers buscou as condies que pudessem garantir o veio rico do privilegiamento da dialgica do interhumano, como concepo e como logos metdico de sua abordagem de psicologia e de psicoterapia. Primeiro a no diretividade, um dos pilares clssicos de seu paradigma, que marca o seu afastamento do paradigma moralista. A no diretividade enriquecida pelas condies teraputicas da compreenso emptica, da considerao positiva incondicional e da genuinidade do terapeuta, na relao com o cliente. O privilgio da experienciao. A empattica -- pattica, peripattica -- do privilegiamento dos momentos prprios de vivncia (pthica) dos desdobramentos da dialgica do interhumano. De fato, Carl Rogers efetivamente experimentava, em um processo vigoroso, os fundamentos da concepo e mtodo de uma psicoterapia, e de uma psicologia, fenomenolgico existencial. Paradoxalmente, o seu despojamento representava, na verdade, uma apurao experimental,

  • cada vez mais refinada, de condies fenomenolgico existenciais de concepo e de mtodo de psicologia e de psicoterapia. A psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial se afirma e se desdobra, no mbito da cultura brasileira, e mundial, como um interessante recurso de assistncia e trabalho psicolgico e psicoterpico, e de produo cultural. Quer seja ao nvel da psicoterapia, e nas reas do seu desenvolvimento e diferenciao; quer seja ao nvel do trabalho nas vrias reas da psicologia, que se diversificam cada vez mais, e, cada vez mais, ganham em importncia. Como, por, exemplo, no trabalho de desenvolvimento comunitrio, na empresa, na psicologia jurdica, no atendimento psicolgico hospitalar, na mediao e resoluo de conflitos, entre outras... No que podemos entender como Psicologia e Psicoterapia Fenomenolgico existencial -- efetivamente emergente, assim, e florescente em nossos dias, com ricas e importantes possibilidades de fruio e de aplicao --, o trabalho de Carl R Rogers tem um papel inegvel, fundamental, e fundador. Muito importante, pois, atentar para isso, uma vez que seminal e essencial a relao das concepes e mtodo de Carl Rogers com surgimento, desenvolvimento e consolidao de uma concepo e metodologia de psicologia e psicoterapia fenomenolgico existenciais. Coisa efetivamente rara. No podemos, naturalmente, deixar de atentar para a importncia do trabalho pioneiro de um L. Binswanger, ou de um M. Boss. E, a seguir, o trabalho de um A. Maslow, e de um R. May, no desenvolvimento desta perspectiva em psicologia e psicoterapia, inclusive no prprio desenvolvimento e formao de Carl Rogers. Mas coube a Rogers e a F. Perls o momento da experimentao e caracterizao da vivncia de metodologias fidedignamente fenomenolgico existenciais. E, neste sentido, empricas, experimentais, performticas, e poitico-hermenuticas. Durante um certo momento, a teorizao de Rogers, como no poderia deixar de ser, atrelou-se aos vieses das psicologias cientficas e das psicoterapias vigentes no meio cultural norte americano e europeu. Desde muito cedo, no obstante, ntido o movimento de diferenciao do modelo rogeriano com relao ao hegemnico paradigma do empirismo objetivista vigente nos EUA. Creio que, teoricamente, apesar de algumas idas e vindas, Rogers evolui para uma crise conceitual. Crise esta que morre na formulao de condies hermenuticas do empirismo especificamente fenomenolgico existencial e poitico-hermenutico. Que se configurava como caracterstica forte da vivncia de seu mtodo, em particular da sua ltima fase. Creio que, de um modo importante, o trabalho de Rogers, a partir de um certo momento, e em significativas dimenses, deixa de receber simplesmente os influxos da Fenomenologia, do Existencialismo, da psicologia fenomenolgico existencial existente, e passa a contribuir, de um modo significativo, com a constituio e desenvolvimento destes. Em particular, como notrio, e caracterstico, a sua abordagem foi assumindo um verdadeiro e corajoso strip tease fenomenativo existencial da teoria, da prtica teorizante e conceitual -- algo muito pouco visto --, e centrando-se de modo cada vez mais emprico e experimental (num sentido fenomenolgico e existencial) no que podemos entender como o provimento emprico e experimental, por parte do terapeuta, do psiclogo, do facilitador, do pedagogo, de condies hermenuticas experimentais, fenomenolgico existenciais, para que o cliente, o educando, o grupo, o participante do grupo, pudessem efetivamente interpretar num sentido fenomenolgico existencial, especificamente -, a sua vivncia, as suas questes existenciais, as suas possibilidades de ser, as suas possibilitaes, e resolues.

  • Como observamos, no s da teorizao e da conceituao que Rogers vai, fenomenolgico existencial, experimentalmente, abrindo mo, em sua concepo e mtodo. Fenomenolgico existencial, e experimentalmente, Rogers vai superando, progressiva e sucessivamente, em sua experimentao, o paradigma reflexivo em psicologia e psicoterapia, o paradigma tcnico, o paradigma comportamental; vai superando, igual e sucessivamente, o paradigma cientfico, o paradigma moralista, o paradigma prtico e pragmtico. Em privilgio de um paradigma fenomenolgico existencial, de cuja elaborao (e, a, entender o sentido essencial desta palavra) ele contribui decisiva e seminalmente. Um paradigma que podemos dizer fenomenolgico existencial experimental, fenomenolgico existencial emprico, dialgico, fenomenolgico existencial poitico, hermenutico. A importncia das elaboraes de Rogers se do, principalmente e em especial, no ao nvel de sua teorizao, mas, como seria de se esperar em uma abordagem emprica (no teortica), fenomenolgico existencial. Ao nvel de sua resoluta experimentao fenomenolgico existencial de concepes e condies de mtodo. Assim, no se pode apreender o modelo rogeriano meramente a partir da sua teorizao, ou mesmo da sua escrita ensastica. Fenomenolgico existencial empirista, no melhor sentido da tradio de Brentano, no desenvolvimento de sua de sua metodologia que reside a sua especificidade, e a sua riqueza. Na realidade, juntamente com Fritz Perls, Carl Rogers foi, progressivamente, assumindo um inquestionvel papel de liderana no desenvolvimento formulao da psicologia e da psicoterapia fenomenolgico existencial. Pouca gente foi to longe, e, em particular, to fidedignamente, quanto Carl Rogers, neste sentido. Cremos que a histria conceitual e metodolgica da Psicologia Fenomenolgico Existencial centra-se e centrar-se-, cada vez mais, no provimento -- no mbito da relao psicolgica e psicoteraputica -- de condies hermenuticas para o processo hermenutico da interpretao fenomenolgico existencial, emprica e experimental, por parte do cliente. Interpretao da fora -- da posse -- do possvel, constitudo como vivido; e em sua ato ao. Num certo sentido, junto com Perls este com um outro estilo, com uma outra histria, com outros pr-textos e textos mais ou menos tericos --, fortemente bafejados, neste sentido, por Buber, e por Nietzsche, Rogers parece ser um dos propositores maiores destas condies, em psicologia e psicoterapia. De modo que Carl Rogers, e Fritz Perls tm, assim, efetivamente, um lugar bastante diferenciado na gnese, constituio e desdobramentos das concepes e mtodos das Psicologias e Psicoterapias Fenomenolgico existenciais, que emergem e florescem em nossos dias, pejadas de interessantes e ricas possibilidades. importante que se distinga claramente esta contribuio, uma vez que, freqentemente, ela no notada, ou considerada, ou meramente incompreendida. H quem queira diminu-los... Mas olhando bem, no pouco, em especial em termos qualitativos, o que eles conseguiram... Por outro lado, no raro que se fale de um modo retrico em psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial, j que ela est em moda, e pode at ser chique, sem nenhuma referncia a concepo ou mtodo especficos, e sem referncia , ou at negando-se, as importantes e qualitativas contribuies de Rogers e de Perls neste sentido especfico. Quando os mtodos de Rogers e de Perls, amplamente aplicados, apesar de suas limitaes, em particular conceituais, coadunam-se e contribuem, diferenciada e significativamente, com o

  • carter fenomenolgico e existencial, em particular com a perspectiva de um empirismo aportico e experimental, da metodologia em psicologia e psicoterapia. 3. Carl Rogers, o pattico. Empattico, peripattico. Creio que muito necessrio, e at urgente, e fundamental, compreender e definir o sentido do logos metdico do modelo de Carl Rogers como eminentemente pattico. Creio que ele, Carl Rogers, muito apreciaria ser desta forma entendido. Na verdade, creio que, pela compreenso de uma pattica podemos compreender o sentido essencial do logos metdico do modelo de Carl Rogers, esclarec-lo e desdobr-lo. De resto, o que no pouco, estaremos compreendendo iguais qualidades da psicologia e da psicoterapia fenomenolgico existencial. Eu, por certo, no utilizaria termos possivelmente chocantes para o senso comum, se no estivesse convencido do profundo interesse, neste sentido, de sua utilizao. Naturalmente que alguma operao de limpeza e de esclarecimento precisa ser feita, acerca destes termos, antes de prosseguirmos no argumento. Limpeza, certamente. Porque nenhuma palavra, talvez, tenha sido to pesadamente torcida e distorcida, difamada e degradada quanto palavra pathos. Na cultura contempornea, o termo pathos lembra a condio de um rei destronado, em desgraa. Pathos, na verdade, expressa o modo de sermos, no qual vigoram, em seus plenos e efetivos poderes, eminentemente ativos, o afetivo, a emoo, o corpo, o sentido, os sentidos; o vivido, no sentido da vida vivida em sua imediaticidade. Pr-conceitual, pr-reflexiva, no terica, no prtica, no tcnica, no comportamental, poitica. Caracteriza o que Buber chamou de modo de ser eu-tu; a vivncia que Heidegger chamou de ser-no-mundo; a dimenso de ser que Dilthey caracterizou como vivido, vivncia. Ou seja, esse modo de sermos da vida vivida em sua imediaticidade aparescente, existencialmente fenomenal, ativa e criativa, potente de possvel. Modo diverso do modo de sermos no qual vigoram a mediao do conceitual, da teoria, da moral, do cientfico, do tcnico, do prtico, do comportamento, da memria, da histria. Esse modo ptico de sermos. Que, nas suas tonalidades de embriagues, mais se configura como um drible de corpo na conscincia. Do que plena e lcida conscincia. Dionisiacamente, sempre, mais uma tomada de inconscincia, do que uma tomada de conscincia. Este modo de sermos, fundamental, imprescindvel, ontolgico e ontognico. No qual subpercebemos propriamente, vivemos em sua qualidade prpria, o possvel, a possibilidade. E acolhemos e acalentamos a sua potencializao, o seu desdobramento, e ato ao. Este modo de sermos que prerrogativa ontolgica nossa de mergulho no Ser, na potncia, no eterno

  • retorno da fora. Existencialmente, momento de uma ins-pir-ao. Meramente porque nele, e s nele, o possvel, a possibilidade da superao, que qualificam o humano, so possveis e se desdobram. Estas so qualidades do pathos, enquanto modo humano de ser. E o sentido de uma tica, um modo de proceder, que o privilegia. O sentido de uma pathtica. Path tica. Ou seja, de uma tica que privilegia as qualidades de um modo pthico de ser. Pois bem. Na medida em que o corpo foi desqualificado, no decorrer do desenvolvimento socrtico-platnico da civilizao ocidental; na medida em que o possvel e a fora, a potncia, foram abominados, o pathos, que corpo ativo, e morada e agncia do possvel, a dimenso do possvel que constitui o nosso ser, e de sua atualizao, o pathos foi, igual e concomitantemente abominado. A palavra (pathos), o conceito, este modo de sermos, foram virulentamente assacados, massacrados, torcidos e distorcidos, difamados, degenerados... At representarem, e intensa e predominantemente conotarem, o sentido de doena, na concepo de patologia. Ou de doena mental, em sua mais soturna apropriao pelo ressentimento, na expresso psicopatologia*... Foi necessrio o Humanismo da filosofia europia do Sculo XIX, na sua volta ao Renascimento e antiguidade grega; foi necessrio Nietzsche, e a Fenomenologia, para resgatar o sentido e o valor do corpo, do vivido e dos sentidos. Para resgatar o valor do pathos, e de uma path-tica. Para que se pudesse afirmar e resgatar o pathos, o modo de ser da vivncia ptica, como um valor. At que se pudesse entender que este modo ptico de ser faz parte de nosso ser, faz parte de nossa sade, e , no s, a fonte desta sade, como a fonte de nosso ser. Fonte seminal de gerao e regenerao de ns mesmos, e do mundo que nos diz respeito. Aos quais podemos criar e recriar, gerar e regenerar, na medida em que aceitamos e integramos, em que afirmamos, em que vivenciamos na sua propriedade o nosso modo pthico de ser. Que, de resto, s pode ser extinto muito depois que estivermos, ns mesmos, extintos. Isto por um motivo muito simples, e comum a todos ns: somos seres do possvel, e especificamente nesse modo pthico de ser que o possvel possvel, e se desdobra. Na verdade, a restrio, em nossa vida, desse modo pthico, o seu sufocamento, na reiterao excludente dos ditames e limites da hegemonia da conscincia lcida, calculativa, assptica, repetitiva, medocre, obsessiva; a restrio e sufocamento do pthico na hegemonia do limite, do individual e da individualidade, que a base para o que metaforicamente podemos chamar de doena, num sentido existencial, e para todos os distrbios somticos que podem da decorrer. Patticos sempre houve. Aqueles que entendiam a loucura da interdio de nosso modo pthico de ser, imolado no altar da vontade de abstrao, da racionalidade conceitual, da abstrao do corpo e dos sentidos da vida vivida em sua imediaticidade. Vontade que mal se escondia e se esconde como m vontade para com tudo que vivo, e que de vida palpita. Patticos que assumiram uma tica do pathos. Ou seja, um modo de proceder que no exclui a afirmao do pathos, do pthico. Que na verdade o privilegia como modo ontolgico de sermos. Os pr socrticos, que privilegiavam o corpo, o vivido e os sentidos, assumiam uma perspectiva de privilegiamento do pathos. A escola filosfica de Aristteles ficou conhecida como escola dos peripatticos.

  • Normalmente, quando se indaga o que significa termo peripattico, responde-se, apressada e sumariamente, que ele designa o fato de que os filsofos desta escola filosofavam andando. Da, diz-se, este termo como designao (!?). Esta explicao sumria deixa de fora o sentido maior. De que, medida que se caminha, a abstrao mental, a mente reflexiva, conceitual e calculativa, cede progressivamente lugar ao modo de ser de uma vivncia ptica. A mente reflexiva cede lugar a uma acentuao do pathos. De modo que o que os filsofos peri-path-ticos buscavam era esta acentuao do pathos, e a filosofao a partir desta vivncia acentuada do pathos. Patticos, ento, na medida em que assumiam uma tica, um modo de proceder, que privilegiava o pathos, a vivncia phtica, enquanto mtodo de filosofao. Mais que isso, peri path ticos, na medida em que no apenas privilegiavam a vivncia pthica como mtodo, mas assumiam uma atitude ativa de afirmao, e ativo mergulho, no modo ptico de ser como estilo de filosofao. Uma querncia pelo risco e pela tentativa poitica de atualizao de seus possveis. Da tambm o sentido de ex-peri-mentao, num sentido fenomenolgico existencial. Aristteles, seus colegas e discpulos, eram, assim, peripatticos. E propriamente pode-se, assim, dizer que fizeram escola. No s patticos, como peripatticos, o foram tambm, dentre outros, Brentano, Nietzsche, o Expressionismo e os expressionistas, Heidegger... De modo que quando descobriram como mtodo no s a path tica, mas, em especfico, a peri path tica, como modo privilegiado de ser, para o terapeuta e para o cliente, os psicoterapeutas fenomenolgico existenciais, como Carl Rogers e F. Perls, no s no estavam sendo exatamente originais, como estavam em muito boa companhia... Comeou lentamente, com a qualitativa contribuio de C. G. Jung e de Otto Rank, e Sandor Ferenczi, que entenderam que a psicoterapia no tinha a ver com o tecnicismo inerente a um modelo objetivista, o modelo mdico, em particular, que preconizava a interveno de um sujeito, o psicoterapeuta, sobre um objeto, paciente. Evoluiu com as mudanas paradigmticas dos psicoterapeutas fenomenolgico existenciais europeus, como M. Boss e L. Binswanger, e os psicoterapeutas relacionais, que enfatizavam a imediaticidade da relao inter humana como elemento fundamental do processo teraputico. At desaguar nos modelos peripatticos das abordagens de Carl Rogers e de Fritz Perls. Ambos preconizando, e buscando criar condies para o, pattico mergulho ex-peri-mental do cliente, mergulho efetivamente peripattico, como recurso fundamental do logos metdico de seus modelos. Concomitantemente, vale observar que, a preconizao de uma vivncia peripattica para o cliente, a partir dos vetores de sua atualidade e atualizao existenciais (e no de uma experincia moralista, cientfica, tcnica ou teorizante), como recurso fundamental de mtodo psicoteraputico e psicolgico, acompanhada por igual prescrio de disposio metodolgica para o terapeuta. Uma disposio fenomenolgico existencial experimental, peripathtica, como disposio metodolgica hbil a facilitar e a potencializar a vivncia e desdobramento da vivncia do cliente. No podemos dizer que Carl Rogers tivesse, ao tempo de sua morte, uma articulao terica, ou conscincia plenas, do alcance de suas intuies peripatticas. Mas podemos certamente dizer que ele que vai mais longe na preconizao e na prtica da vivncia peripattica como logos metdico de uma abordagem de psicologia e de psicoterapia. Muito particularmente, em especial, porque ningum certamente, como Rogers, percebeu, e amplamente exercitou, de um modo preponderantemente emprico, o poder ptico, o poder de propiciamento periptico do grupo, como ambincia teraputica, de trabalho psicolgico e de

  • crescimento humano. A vivncia do processo grupal, e de seus desdobramentos vivenciais, como ambincia propcia para a vivncia peripattica, e suas implicaes, como modo de ser no mbito dialgico no qual o possvel possvel e se desdobra. Se podemos dizer que Rogers no tinha uma conscincia plena, e, em particular, uma articulao terica cabal, do alcance de suas intuies, no podemos deixar de ressaltar que, desde o incio, suas intuies eram neste sentido distintas. O que se configura muito claramente a partir do momento em que ele passa a falar de empatia em-pathia. E que Empatia, especificamente, significa dentro do pathos. Como formulador de uma abordagem de psicologia e de psicoterapia, Rogers opera um verdadeiro striptease de concepo e mtodo, em direo a uma preconizao da vivncia ptica como ambincia e recurso psicoteraputico. Preconizao amplamente protagonizada experimental e empiricamente por ele prprio, seja ao nvel da vivncia da prtica da psicoterapia individual, seja ao nvel da vivncia grupal. Rogers vai abrindo mo, enquanto psiclogo, enquanto psicoterapeuta, e enquanto facilitador de grupo -- e libertando o cliente --, de uma concepo e de uma prtica tcnicas, de uma concepo e de uma prtica cientficas, de uma concepo e de uma prtica moralistas, de uma concepo e de uma prtica realistas. Como caracterstica de prtica e de concepo de si prprio enquanto psiclogo, psicoterapeuta, e enquanto facilitador de grupo. Rogers vai abrindo mo de um desempenho moralista, de um desempenho tcnico, de um desempenho reflexivo, de um desempenho cientfico, ou cientificamente assentado, e mesmo desempenho prtico, em direo ao privilegiamento de uma vivncia pthica, de uma path-tica, em-pathtica, na verdade peripathtica. Nem teoria nem prtica, na verdade uma poitica. No outro o reconhecimento que ele faz do valor de sade no exerccio da liberdade experiencial, da avaliao organsmica da experincia. De resto j preconizadas por F. Nietzsche. Rogers evoluiu decidida e alegremente no sentido de um modelo que se esmerava em criar condies para que o cliente pudesse dar-se aos influxos de sua experincia organsmica, aos influxos dos poderes de sua atualizao e avaliao organsmicas, no mbito de uma vivncia pthica. Isto o que podemos entender como uma pattica. Peripathtica. O Rogers que encontramos na segunda metade da dcada de setenta, at o final de sua vida, um Rogers imerso no privilegiamento da vivncia peripattica no contexto da vivncia grupal. Evidentemente que existe em Rogers uma considerao substancial sobre o mtodo do terapeuta, sobre o seu modo de ser e de proceder na criao das condies para que a vivncia pthica do cliente possa ser privilegiada. E, na verdade, o que Rogers prope, no essencial, como modo de ser do terapeuta e do facilitador de grupos, o modo de ser da vivncia pthica, emphtica. Rogers prope, em essncia, um terapeuta, um facilitador de grupos, em-pticos. Que privilegiem se situar, nos melhores momentos de vivncia de seu logos metdico, dentro de sua vivncia pthica, como modo de ser do terapeuta e do facilitador de grupo. Modo de ser este que pode potencializar a vivncia pthica do cliente e dos membros do grupo, o modo prprio atualizao de seus possveis. Pattico, Empattico, Peripattico, o modo de ser privilegiado pelo terapeuta e pelo facilitador de grupo que adota o modelo rogeriano, seguindo o carter e o estilo pattico, Empattico e peripattico de seu preconizador. Foi ousado, muito ousado, Carl Rogers, abrindo mo dos sisudos referenciais da cincia de antanho, dos poderes e pseudo poderes que esta faculta, dos poderes que permitem a postura

  • tcnica, a postura teorizante, a postura moralista, e mesmo e em especial, os valores da prtica --, mesmo sem ver claramente o outro lado da travessia. Hoje, podemos claramente entender que a cincia, o cientfico, o tcnico, o terico, o prtico, o moralista, no do conta da laborao ao nvel do existencial, no do conta da existncia, na projetatividade do possvel e da possibilitao a ela imanentes. Numa imagem ainda insuficiente, podemos dizer que a relao da cincia com a existncia anloga ao pegar em ptalas com luvas de siderrgica. O tcnico constitui-se como uma acentuao, ainda, da discrepncia. Na medida em que se configura como aplicao do conhecimento cientfico. Rogers entendeu isto claramente. E, ainda que no o tivesse articulado teoricamente, fez os movimentos decisivos para definir e constituir a prtica da psicologia, da psicoterapia, da facilitao de grupos, no mbito prpria e especificamente da hermenutica fenomenolgico existencial. Diante das insuficincias e inespecificidades da cincia, da tcnica e do moralismo, em relao existncia e ao processo de sua atualizao. Limitaes e insuficincias na articulao terica, ainda que carentes de superao, no impediram Rogers, no obstante, de experimentar amplamente, ao nvel da prtica emprica, o modo de privilegiamento do pathos, a pattica, peripattica, a tica, como modo de procedimento, de uma hermenutica fenomenolgico existencial, no mbito da psicologia, da psicoterapia e da facilitao de grupos. Em particular porque este modo de procedimento o modo prprio e hbil para que experimentalmente se possa engendrar respostas para questes sobre o que que esta pessoa pode? O que que pode este grupo? O que podem os seus participantes? O que posso eu... Na medida em que descobrimos e redescobrimos que ao modo de ser de uma ex peri path tica que o possvel -- que nossa atualidade existencial reivindica, solicita, ou desesperadamente demanda que o possvel efetivamente possvel, e se desdobra. Possibilita-se. Temos a descortinar-se diante de ns os primrdios e toda uma histria possvel, terica e prtica, terica e emprica, poitico emprica, da psicologia, da psicoterapia, e da facilitao de grupos, pertinente a um paradigma peripattico, um paradigma fenomenolgico existencial hermenutico. E temos a saudar, efetivamente, um grande e sincero pioneiro, com suas ousadas experimentaes. O Dr. Carl R. Rogers, um membro distinto da confraria dos patticos, empatticos, peripatticos... 4. Nem Teortico, nem Prtico. Muito menos Pragmtico O Paradigma Rogeriano. Fenomenolgico Existencial: Poitico.

  • Uma das caractersticas mais marcantes e especficas do paradigma rogeriano, do paradigma fenomenolgico existencial, a de que ele no da esfera do prtico, ele no uma prtica. A caracterstica do modo vivencial, fenomenolgico existencial, que o paradigma rogeriano preconiza, como modo privilegiado de vivncia -- para o cliente, e para o desempenho metodolgico do terapeuta, ou psiclogo se descompromete com, e no privilegia, as caractersticas fundamentais do prtico e da prtica.Tais como a ao voluntria, a utilidade, a hegemonia do princpio de sobrevivncia como critrio (mas a superao). O vivencial, fenomenolgico existencial, dialgico e poitico, um modo de sermos no qual do-se, como vivncia, a fora do possvel, e da possibilitao, de sua atualizao. Diferentemente do prtico e da prtica, as caractersticas peculiares do modo fenomenolgico existencial, poitico e dialgico, so a ao espontnea (em contraposio com a ao voluntria, prpria prtica), a vivncia fora do plano da dicotomizao sujeito-objeto; e fora do modo de sermos em que vigora a causalidade, em que vigoram os fins e os meios. So caractersticas definidoras, ainda, do modo fenomenolgico existencial de sermos a vivncia de superao, caracterstica e intrnseca atualizao de possibilidades (em contraposio ao predomnio do princpio de sobrevivncia, adaptao e conservao, caractersticos do prtico e da prtica). Esta caracterstica no prtica do paradigma fenomenolgico existencial rogeriano talvez seja um pouco mais sutil, e at mais desconhecida. Uma vez que mais disseminada a compreenso de que a vivncia do paradigma rogeriano, no da esfera do terico e da teorizao. Automaticamente assume-se, ento, freqentemente, que o paradigma rogeriano seria da esfera da prtica. Com o risco de confundi-lo, como freqentemente ocorre, de um modo articulado teoricamente, ou no, como um modelo pragmtico. A. O paradigma rogeriano, nem teortico, nem prtico; nem pragmtico. Fenomenolgico existencial dialgico e poitico. Fenomenolgico existencial dialgico, poitico, caracteristicamente, o paradigma rogeriano, assim, no teortico, e teorizante em sua vivncia. A Fenomenologia e o Existencialismo privilegiam um modo de vivncia, um modo de conscincia, que no terico, que se caracteriza como conscincia pr-reflexiva, pr-conceitual, pr-terica. especificamente isto que define o empirismo da Fenomenologia, e do existencialismo, da filosofia da vida. O fato de se caracterizarem como abordagens da realidade na prpria vivncia fenomenal, pr-reflexiva, pr terica. E no atravs da mediao do terico, da teoria e do conceitual. Enquanto no teorizantes, no conceituais, as abordagens fenomenolgico existenciais sero sempre, como tais, empiristas. Vale observar, como observamos, que este empirismo , especificamente, um empirismo fenomenolgico existencial, e no o empirismo objetivista, do objetivismo e do pragmatismo.

  • Vivencial, portanto, o paradigma rogeriano no , na sua vivncia, um paradigma de privilgio da experincia abstrativa, no um paradigma de privilgio da abstrao, de privilgio da reflexo, da teorizao. No teortico, assim, o paradigma fenomenolgico existencial rogeriano facilmente concebido, de modo algo automtico, como sendo ento da ordem da prtica, da ordem de um modo prtico de sermos. fundamental para a compreenso do paradigma rogeriano, do paradigma fenomenolgico existencial, compreendermos que, da mesma forma que a sua vivncia no da ordem da teorizao, ela no , igualmente, da ordem da prtica. No da ordem do prtico, no da ordem de uma prtica. O que pode parecer desconcertante, num primeiro momento. Mas, nada mais natural, e especfico ao paradigma fenomenolgico existencial, ao paradigma rogeriano. Certamente que esta caracterstica no estava muito clara nas primeiras fases do modelo rogeriano, nem na sua teorizao. Mas era muito clara nas fases finais, sendo uma caracterstica fundamental do modelo de trabalho com grupos ou do modelo na relao didica da ltima fase de Rogers e companheiros. fundamental assim observarmos que, em se tratando do existencial, do fenomenolgico existencial, e de uma concepo e metodologia para a psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial, Rogers cabalmente entendeu que, se, por um lado, a questo no era da esfera do terico -- j que, como vimos, o fenomenolgico existencial um modo de vivncia anterior, e heterogneo com relao, ao modo teorizante de sermos --, do ponto de vista fenomenolgico existencial, igualmente, a questo de sua concepo e mtodo no era a questo de uma prtica. Ou seja, no era da esfera do modo prtico de sermos. E isto era e fundamental, e fundador, em termos do paradigma rogeriano. Na medida em que, como Rogers e a sua tradio entenderam, a existncia, o fenomenolgico existencial, no so nem da ordem do terico, nem da ordem do prtico, da ordem de uma prtica. So, mais especificamente, da ordem do poitico. No teortico, no prtico, em sua vivncia, o paradigma rogeriano eminente e especificamente poitico. O modo de sermos alternativo a uma teortica no , necessria e simplesmente, o modo prtico de sermos, a prtica. Podemos ser, tambm, e de um modo ontologicamente mais fundamental, de modo fenomenolgico existencial poitico. O modo de fenomenolgico existencial de sermos, no qual, em especial e especificamente, vivenciamos, agenciamos, potencializamos, e consumamos possibilidades. Intuitivamente, isto estava muito claro para Rogers e seus colaboradores, ainda que no tivessem articulado isto terica e filosoficamente. Assim, se, por um lado, a vivncia do paradigma rogeriano, seja em grupo ou na relao didica, no era, e no , uma vivncia de teorizao, uma experincia abstrativa (que abstrai o corpo, o vivido, os sentidos); se no era, e no , assim, uma experincia teorizante, reflexiva, igualmente, no uma experincia orientada para a prtica, uma experincia de natureza prtica. Que, igualmente, se distingue essencial e radicalmente do paradigma fenomenolgico existencial poitico. O paradigma rogeriano no prtico, sua vivncia no da ordem da prtica... Diferente do modo de sermos abstrativo, teorizante, reflexivo; e diferente do modo prtico de sermos, a vivncia do paradigma rogeriano , assim, da ordem do fenomenolgico existencial poitico: o

  • modo de sermos vivencial (esttico) no qual propriamente agenciamos, potencializamos, atualizamos e consumamos possibilidades. Assim que o modo de vivncia, caracteristicamente privilegiado pelo paradigma rogeriano, no se situa no mbito da prtica. No se caracteriza como prtica. E isto um dos seus aspectos mais peculiares e definidores, e um dos aspectos mais peculiares e definidores do paradigma da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial. Coube a Carl Rogers, em particular na ltima fase de sua obra, a partir de 1974, a radicalizao de um paradigma fenomenolgico existencial em psicologia e psicoterapia. Tendo, em particular, o campo experimental de vivncia do modelo fenomenolgico existencial de concepo e de facilitao de grupos. Ainda que explcito (Rogers, Psicoterapia e Relaes Humanas), Carl Rogers no fazia grandes definies tericas, epistemolgicas, ou ontolgicas, com relao natureza fenomenolgico existencial de sua abordagem. Isto decorria certamente da postura tradicionalmente empirista que ele compartilhava com o meio da cultura, da filosofia e da cincia norte americanas. A questo qualitativamente crtica, no obstante, a de que, com a Fenomenologia da tradio de Brentano, qual ele aderiu, o prprio estatuto do empirismo se transforma. O empirismo que Rogers praticava, especificamente, o empirismo fenomenolgico existencial. Enquanto que o empirismo que vigorava na cultura norte americana era um empirismo objetivista. O empirismo , em essncia, uma abordagem da realidade na prpria vivncia da realidade, sem a mediao da teoria. Radicalmente empirista, nesse sentido, segundo a definio de Brentano, a Fenomenologia se distingue, radicalmente, do empirismo objetivista, comum ao meio da cultura, da filosofia e da cincia norte americanas, de que Rogers compartilhava. O empirismo fenomenolgico considera e privilegia o modo fenomenolgico existencial de sermos que se configura fora do modo de sermos no qual vigora a estrutura da relao sujeito-objeto. E que, evidentemente, no assume, nem poderia uma atitude de privilegiamento do objeto. Rogers e colaboradores profundamente entenderam e praticaram os diferenciais do empirismo especificamente fenomenolgico. Ainda que no o tenham especificamente tematizado teoricamente, era evidente a sua adeso a este. A falta de clareza com relao aos dois tipos de empirismo foi, e , motivo de vrios tipos de confuso. Decididamente, no obstante, no era um empirismo de tipo objetivista o que praticavam Rogers e colaboradores. Da ser de grande interesse elucidarmos as caractersticas fundamentais do paradigma fenomenolgico existencial, em sua vivncia emprica, para compreendermos, vivenciarmos e desdobrarmos o paradigma rogeriano em psicologia e psicoterapia. Em, particular, no que concerne a sua caracterstica fenomenolgico existencial poitica. Caracterstica que aparece plenamente no ltimo perodo da obra de Rogers, em especial na concepo, vivncia e metodologia do trabalho com grupos. Na verdade, aparece em toda a concepo e metodologia da abordagem rogeriana, na medida em que o modelo de trabalho com grupos exerce uma influncia qualitativamente decisiva nas reformulaes concepo e metodologia do trabalho ao nvel das relaes didicas, a ponto de John Wood observar que s existia trabalho com grupos na abordagem rogeriana, sendo, especificamente,.o trabalho didico um grupo de duas pessoas.

  • Coerentemente, Carl Rogers adentrou, fenomenolgico, existencial experimentalmente, a esfera do poitico, como modo privilegiado de vivncia e como logos metdico de sua abordagem. A caracterstica poitica do modo fenomenolgico existencial de sermos caracteriza-o como um modo natural e particular de sermos no qual, como vivncia fenomenal, se d a possibilidade, e o seu desdobramento, a sua atualizao. Peculiarmente, dentre outras caractersticas, o modo fenomenolgico existencial poitico de sermos, que permite a vivncia do possvel e de sua atualizao, d-se na esfera da ao espontnea; e no na esfera da ao voluntria, deliberada, intencional, que caracteriza o prtico. Ou seja, a ao, ao nvel do poitico, da vivncia da tenso projetativa do possvel, e da sua possibilitao, de sua ato-ao, , especificamente, espontnea, desproposital. Por outro lado, apesar de ser, assim, o domnio por excelncia da vivncia do possvel, e de sua atualizao, a prpria vivncia poitica no da ordem dos teis e da utilidade. De modo que, ainda que todos os teis e suas utilidades sejam produzidos poiticamente, na vivncia poitica, em si, no vigora a utilidade e a utilizao, e o valor delas; que so, caracteristicamente da ordem da prtica. Esta distino entre terico, prtico e poitico j est presente em Aristteles, em sua distino das trs reas de cincia. O termo poiese consagrou-se na Fisiologia e na Medicina, e na Ontologia, quando falamos, por exemplo, em Fisiologia, da hematopoiese, designando o processo atravs do qual, nas clulas da medula dos ossos largos do corpo, as clulas do sangue so geradas, criadas, produzidas. Poiese tem, assim, este sentido, de gerao, de engendramento, de produo. Em Ontologia podemos falar de ontopoiese. Como o processo no qual, atravs do desdobramento vivencial do possvel, engendramos o prprio ser-no-mundo. O poitico refere-se assim a este modo vivencial de sermos no qual o possvel possvel, e se atualiza, no engendramento de nosso ser-no-mundo, que criao e recriao, e resoluo existenciais. Carl Rogers concentrou-se, progressivamente, na definio, e na criao, das condies para a vivncia fenomenolgico existencial poitica, no encontro didico e no encontro grupal. No desenvolvimento experimental de seu paradigma de trabalho com grupos, estas caractersticas vo sendo progressivamente radicalizadas, at a constituio, em seu paradigma metodolgico, de um privilgio soberano da vivncia inter humana fenomenolgico existencial espontnea e -- fenomenolgico existencial -- experimental, poitica, como elemento central. Ao mesmo tempo em que ele experimenta e busca definir as condies metodolgicas de propiciamento desta vivncia no mbito do processo grupal. Como Vera Cury apontou, as aprendizagens com a experimentao no desenvolvimento do paradigma de trabalho grupal vai ter uma marcante influncia na reelaborao do modelo de trabalho inter individual. importante observar que estas caractersticas do paradigma rogeriano no negam a existncia e a importncia da prpria da esfera da prtica e do prtico, em sua dimenso prpria. A importncia do modo prtico de ser. Apenas no generalizam nem supervalorizam o valor do prtico na condio do humano. No o elegem a condio de critrio. Entendem o modo fenomenolgico existencial humano como nosso modo especificamente ontolgico de sermos, o

  • modo especificamente existencial, no qual se do a existncia e o processo de sua resoluo; o possvel, a possibilidade, e a sua atualizao. Mais que isto, o paradigma fenomenolgico existencial assume a perspectiva de que, ainda que no sendo da ordem da prtica, ao nvel de sua vivncia fenomenolgico existencial poitica, dialgica, que constitumos a ns mesmos, e ao mundo que nos diz respeito, aos teis e a suas utilidades, como atualizao de possibilidades, como resoluo existencial. Ou seja a esfera da prtica, de sua vitalizao e revitalizao, de sua criao e recriao, depende fundamentalmente da criatividade vivencial do fenomenolgico existencial poitico. De modo que podemos pensar numa eficcia criativa, numa pragmtica, deste modo no pragmtico e fenomenolgico existencial poitico de sermos. B. Do Pradigma Teortico Era eu o poeta estimulado pela filosofia, no o filsofo interessado pela poesia. F. Pessoa. muito importante atentar para o fato de que no se trata, no paradigma dialgico, fenomenolgico existencial poitico, empiricamente fenomenal, de um desapreo pela teoria, pela teorizao, e pelo modo teorizante e teortico de ser. Empirista, significa que o modo de ser privilegiado pelo paradigma fenomenolgico existencial ser sempre no teorizante em sua vivncia. Mas, ainda que o momento de sua vivncia seja, especificamente, assim, no teorizante, e privilegiativo do modo de sermos da vivncia pr reflexiva, pr-teorizante, pr-conceitual, a perspectiva fenomenolgico existencial no desqualifica a importncia do terico e da teorizao, em seu momento prprio. Apenas busca colocar as coisas em seus devidos lugares: a vivncia fenomenal ontologicamente prioritria, na medida em que especificamente ontolgica. Ou seja, o nosso modo prprio de ser em que se constitui o logos, o sentido, a emergncia fenomenal do sentido, que caracteriza o humano, como vivncia do possvel e vivncia de sua atualizao. Modo poitico sermos de gerao de nosso ser-no-mundo. O terico tem a sua diferena e importncia prprias, na perspectiva do paradigma fenomenolgico -- ainda que este seja especificamente empirista, no teorizante, em sua vivncia. Mas o momento da teoria e da teorizao, anteriormente ou posteriormente ao momento da vivncia fenomenal, tem uma importncia prpria, e valorizada em suas caractersticas e poderes prprios. O fenomenologista valoriza a boa teoria e a boa teorizao, e est motivado para estudar toda a teoria efetivamente interessante sobre seus objetos de interesse. Ciente sempre de que o momento hierarquicamente superior o momento no teorizante, emprico, da vivncia fenomenal, dialgica e poitica.

  • Assim que o empirismo fenomenolgico convive de um modo produtivo, sinrgico, com a teoria e com a teorizao interessantes. Isto diferente da postura anti-terica, e anti-teorizante, do empirismo objetivista, radicalmente avesso teoria e a teorizao. Cabe, portanto, uma ateno cuidadosa na distino, neste sentido, e no sentido de suas peculiaridades e diferenas, entre o empirismo fenomenolgico (que se situa e privilegia um modo de vivncia que est fora do modo de ser da relao sujeito objeto; e, muito mais, fora de um modo de ser que, no mbito da relao sujeito objeto, privilegia o plo objeto desta relao), e o empirismo objetivista. Empirismo objetivista que no s privilegia o modo de sermos da relao sujeito-objeto, como privilegia o plo objeto desta relao, e a sua descrio, supostamente objetiva. Ao tempo em que rejeita e afasta-se. de qualquer forma de teoria ou de teorizao. O que no podemos prescindir, de que, fenomenolgico existencial empirista, ainda que conviva com o interesse da teoria e da teorizao, fora de seus momentos especficos, o momento da vivncia fenomenolgico existencial no teorizante. Sua caracterstica a de privilegiar no momento de sua vivncia o modo de sermos da conscincia no teorizante, no reflexiva, no conceitual, pr-conceitual, pr-reflexiva, pr-teorizante. O modo teortico de sermos caracteriza-se pela representao, ou seja a re-apresentao, de algo que se apresenta enquanto vivncia fenomenal. E que, na representao, demanda, prpria e especificamente, o afastamento deste modo de ser da vivncia fenomenal. No seu sentido mais essencial teoria significa viso de um espetculo[6]. Desta forma, a teoria e a teorizao constituem-se, especificamente, como afastamento do modo de ser da vivncia, e articula relaes explicativas de natureza objetiva. Alguns elementos, assim, caracterizam o modo teortico de sermos. Dentre eles: 1. O fato de que, especificamente, o modo teorizante de sermos se configura como um afastamento para com o modo de ser encarnado do vivido fenomenolgico existencial, dialgico e poitico. O modo teortico de sermos um modo de ser abstrativo, contemplativo. No qual o vivido, o corpo e os sentidos, ou seja, o especificamente fenomenolgico e existencial e, vale dizer, o especificamente poitico --, esto especificamente abstrados, em privilgio do abstrato do conceito, e do terico. Desnecessrio mencionar que o modo de ser fenomenolgico existencial especificamente encarnado, pontual e momentaneamente vivido, na vivncia imediata de corpo e sentidos. Intuitivo, no sentido fenomenolgico existencial, no comporta, na pontualidade de sua vivncia, prpria a abstrao, a mediao conceitual. 2. Uma distino essencial e definidora a de que o modo teortico de sermos funda-se na explicao. O vivido fenomenolgico existencial configura-se como, e especificamente , compreenso.

  • O vivido fenomenolgico existencial constitui-se, em especial, como vivncia compreensiva, e desdobramento de possibilidade. Desdobramento este que se constitui como a interpretao, interpretao num sentido especificamente fenomenolgico existencial. O que o constitui como um modo poitico de sermos. 3. O modo teortico de sermos vigora como articulao de relaes explicativas de causa e efeito. Enquanto que o modo de ser fenomenolgico existencial, alm de dar-se, primria e originariamente, como vivncia compreensiva, d-se como vivncia pr-compreensiva de possibilidade, como desdobramento, compreenso e consumao de possibilidade. Processo do qual se exclui no s o modo de ser da explicao, como a articulao explicativa de causas e efeitos. 4. O modo de ser teortico se constitui na experienciao da dicotomizao sujeito-objeto. Enquanto que o modo de ser fenomenolgico existencial dialgico e poitico, ser-no-mundo, no comporta esta dicotomizao sujeito-objeto, ainda que se constitua, na sua momentaneidade, na tenso do mbito dialgico da relao eu-tu. (BUBER,) C. O prtico e o pragmtico; A partir desta constatao de que o modelo fenomenolgico existencial rogeriano no da ordem da prtica, da mesma forma que no da ordem do teortico, interessante observar e compreender algumas caractersticas que constituem o paradigma da prtica, o prtico. Compreender as caractersticas fundamentais do paradigma teortico. E as caractersticas, e diferenciais, com relao a estes dois, do paradigma fenomenolgico existencial, dialgico e poitico. Algumas caractersticas sobressaem no paradigma prtico: 1. O valor prioritrio do til e da utilidade; 2. O valor da utilidade, segundo o princpio de sobrevivncia; 3. O prtico, a prtica, tem com referncia o valor da utilidade em termos de adaptao e do princpio de sobrevivncia; 4. A prtica caracteriza-se pela ao voluntria deliberada. 5. A prtica se d no mbito do modo de sermos da relao sujeito-objeto. 6. A prtica se d no mbito do modo de sermos das relaes de causa e efeito. A prtica exige o carter voluntrio e deliberado da ao. E o critrio de sua avaliao o da utilidade. Em particular, da utilidade para a adaptao e para a sobrevivncia. Uma caracterstica fundamental do paradigma fenomenolgico existencial rogeriano a da entrega

  • espontaneidade, a entrega ao espontnea do vivido; ou seja, a entrega espontaneidade generativa (poitica) do vivido, com sua caracterstica espontaneidade desproposital de vivncia do desdobramento da fora do possvel, e da performao de sua atualizao. De modo que no modo privilegiado por sua vivncia, o que vigora o modo de ser da ao espontnea, e no o modo de ser da ao voluntria e intencional. Na vivncia existencial, no vigoram a utilidade e a utilizao, caractersticas da esfera da prtica. E a prioridade de sua fora consuma-se na superao, e no, simplesmente, no primado da sobrevivncia, da manuteno e da adaptao. As caractersticas do vivencial fenomenolgico existencial, privilegiado pelo paradigma rogeriano, no se enquadram portanto no mbito do prtico, e da prtica. Mas, especificamente, no mbito do poitico. O prtico[7] tem sempre o sentido de uma atividade voluntria que modifica o ambiente, tendo como critrio o primado da utilidade, em particular a utilidade para a sobrevivncia. Na esfera do modo prtico de ser vigoram os teis e as utilidades; e a efetividade da causalidade e dos meios e dos fins. D. O fenomenolgico existencial poitico. Sumariando caractersticas do nosso modo fenomenolgico existencial poitico e dialgico de sermos, cabe dizer, em primeiro lugar, que este o nosso modo onto-lgico de sermos, para uma perspectiva fenomenolgico existencial. Em essncia (que existncia), somos sentido (logos), e ao. Ontologicamente somos logos (sentido); ontologicamente somos onto-lgicos. Sentido e ao, como atualizao sentida, que se d na vivncia do possvel, que prpria ao modo fenomenolgico existencial dialgico e poitico de sermos. O sentido, o logos, que continuamente nos constitui, se nos d como pr-compreenso da fora de possibilidade, como compreenso, e desdobramento desta fora (interpretao fenomenolgico existencial) em criao; ao propriamente dita. Este modo de sermos um modo que, ainda que comporte a dualizao eu-tu, no comporta a dicotomizao sujeito- objeto, prpria de nosso modo acontecido, realizado, ntico, de sermos (Buber,). Neste modo de sermos, a causalidade no vigora. Ele imediatamente vivido e vivncia. Presena que se desdobra, diria Buber. Imediato, no comporta a mediao dos meios e dos fins. Seja dos meios e dos fins tericos, seja a dos meios e dos fins prticos. Ao mesmo tempo, que nada tem do automatismo comportamental. O modo fenomenolgico existencial, enquanto modo de incontornvel atualizao de possibilidade, especificamente o modo de dar-se da ao. Mas em seu mbito, a ao como

  • atualizao de fora de possibilidade, em sua incerteza, tentatividade, e riscos prprios (experimentao), no , especificamente, a ao voluntria, deliberada e intencional, caracterstica da prtica. A ao, no mbito da vivncia fenomenolgico existencial, , especifica e propriamente, a ao espontnea e experimental (no sentido fenomenolgico existencial). Ou seja a ao propriamente desproposital, tendencialmente desmotivada, ainda que intensamente estsica e esttica, .atualizante de possibilidades, criativa. A ao assim vivida eminentemente inconveniente. Ou seja, no sentido de que no tem convnio, no tem contrato, com o real, com a realidade e com acontecido. Ela no serve adaptao, conservao, sobrevivncia, uma vez que, em sua inconvenincia, ela a prpria fora da superao e de reordenamento. Assim, enquanto a prtica, por exemplo, est fortemente fundada na utilidade, pautada pelo valor desta para a adaptao e sobrevivncia, o fenomenolgico existencial poitico atualiza sempre a superao daquilo que a prtica busca conservar. E. Concluso. Caracteristicamente, pois, o paradigma rogeriano no se define na esfera terica, nem na esfera da prtica. Ou seja, em sua essncia no se trata do investimento em uma atividade de teorizao, por parte do cliente ou do terapeuta, do facilitador; de um empreendimento em que o terico e a teorizao sejam relevantes. Da mesma forma, no se trata de uma atividade prtica. Ou seja, naquilo que lhe mais essencial, o paradigma rogeriano em sua vivncia no guarda o carter de valorizao do modo de sermos que permite til e da utilidade, ou o carter de ao voluntria que caracterizam a prtica. Muito menos est orientado pelos princpios da adaptao, e da sobrevivncia. O modo de vivncia fenomenal que lhe prprio, no se d no eixo da relao de causa e efeito, nem no mbito da realidade da dicotomia sujeito-objeto. O que lhe interessa a espontaneidade generativa do modo de sermos da vivncia do possvel, e de sua possibilitao, como superao. Que no da esfera do modo de sermos que caracteristicamente da ordem da prtica. A vivncia fenomenolgico existencial no da ordem das relaes sujeito-objeto, ou da ordem das relaes de causa e efeito; no da ordem do til e da utilidade, e, ainda que de mbito eminentemente ativo, a ao em seu mbito da ordem da ao espontnea, caracteristicamente desproposital. Em sua atividade, o paradigma rogeriano centra-se, assim, no na contemplao do espetculo do possvel acontecido, objetificado na abstrao da vivncia fsica de sua atualizao. Nem num esforo e desempenho prticos. Centra-se, sim, na prpria vivncia no dicotmica (dicotomia sujeito-objeto) e integrada; vivncia que no se situa no mbito da causalidade das causas e dos efeitos, dos fins e dos meios (Buber); vivncia que se centra na performao, do possvel e de sua possibilitao, em per-feito; de sua atualizao -- como atualizao meramente compreensiva, ou como atualizao objetivativa.

  • a vivncia emptica, (em)pattica, da ao -- como vivncia do possvel, e de sua atualizao -- que caracteriza o paradigma rogeriano. Vivncia, portanto, que no nem da ordem do terico, nem da ordem do prtico. Especificamente vivencial, e poitica. Situando-se fora das pretenses, dos pr requisitos, da teorizao, e da prtica. Longe de dizermos, no obstante, que este paradigma no tem uma eficcia especfica. O que enfatizamos que a sua eficcia mais bsica, mais radical, e abrangente, do que a eficcia do terico, do que a eficcia do prtico, e do que a eficcia do comportamental, ao nvel do existencial. Ou seja: ao nvel da constituio, do prprio engendramento, do sujeito, e do mundo. Engendramentos poiticos, como vividas atualizaes despropositativas de possibilidades. Diferente-mente da prtica, ou mesmo de qualquer pragmtica da ao voluntria, e do princpio de sobrevivncia como prioridade criterial. O mbito do vivencial , especificamente, o mbito propriamente da ao. Ao que engendra o possvel, o novo, e cria. Diferentemente da teorizao, da prtica, ou do comportamental. Com isto, mesmo que a teorizao rogeriana discrepe, eventualmente, com relao a um paradigma fenomenolgico existencial - em particular com relao a uma concepo biologizante da tendncia atualizante, e em termos de uma concepo pobremente fenomenolgica de compreenso -, a vivncia experimental de Rogers evolui a passos largos, e firmes, no sentido de uma metodologia emprica e experimental de uma abordagem fenomenolgico existencial de psicoterapia e de psicologia. E, diga-se de passagem, exceo feita a Fritz Perls, ningum foi fenomenolgico existencial experimentalmente to longe, quantitativa e qualitativamente, quanto Rogers, neste sentido. 5. A particularidade da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial Acredito que para entendermos e adequadamente avaliarmos o carter e a contribuio fenomenolgico existencial do paradigma de Carl Rogers, precisamos de um esboo, mesmo que tentativo, naturalmente, de caractersticas definidoras de uma abordagem fenomenolgico existencial de psicologia e psicoterapia. interessante observar que, nem Husserl, nem Heidegger, nem a fenomenologia da Psicologia da Gestalt (ainda que esta tenha uma contribuio importante, atravs das idias de Max Wertheimer, e de Kurt Goldstein), em Franz Brentano que vamos encontrar as razes seminais da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial, tais como elas aparecem em Rogers (e em Perls). O Brentano em cujas concepes e mtodos, inclusive, vamos encontrar razes seminais das concepes das fenomenologias de Husserl, de Heidegger, da fenomenologia da Psicologia da Gestalt, das idias de Max Wertheimer, e de Kurt Goldstein. Em particular, e muito especialmente, no seu empirismo especificamente fenomenolgico, e no seu mtodo aportico, na sua apor-tica, (derivados estes de Aristteles). Naturalmente, no podemos esquecer, igualmente, as importantes razes da PPFE (psicologia e psicoterapias fenomenolgico existencial) na tradio hermenutica compreensiva da filosofia da

  • vida de Dilthey. E, da, o seu prolongamento na hermenutica existencial de Heidegger; que, ainda que no tenha sido uma influncia direta sobre Rogers ou Perls (indireta, sim, via Medard Boss e Ludwig Binswanger), ajuda substancialmente a esclarecer o carter interpretativo -- hermenutico, no sentido compreensivo, fenomenolgico existencial, e poitico -- da concepo e mtodo da psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial. No podemos esquecer, naturalmente, a influncia de F. Nietzsche como uma raiz seminal. A influncia monumental de sua obra sobre o pensamento ocidental, e, em particular, sobre a intelectualidade e o meio artstico e intelectual alemo e europeu, desde os anos do Sculo XX anteriores segunda guerra mundial, e que o caldo de cultura no qual vicejam o a fenomenologia, o existencialismo, e a psicologia e psicoterapia fenomenolgico existencial. Em especial, a sua influncia na constituio do movimento artstico e cultural do Expressionismo, que tanto determinou e influenciou o desenvolvimento da concepo e mtodo da PPFE (psicologia e psicoterapia fenomenolgico existenciais). Nietzsche tambm chega, de um modo seminal, a estas abordagens, dentre outras influncias, atravs das idias psicoteraputicas de Otto Rank, e das concepes filosficas fenomenolgico existenciais (...) de Martin Buber. Nietzsche exerceu marcante influncia no desenvolvimento das idias de ambos. Nietzsche contribui, decisivamente, com o seu explcito e enftico apartamento do pessimismo que marca a filosofia de Schopenhauer (pessimismo que marcar seminalmente a concepo da Psicanlise). E, atravs de sua compreenso de que a alegria trgica a fora maior da existncia. Especialmente, Nietzsche contribuir com a sua radical postura de afirmao da vida. Com a sua reafirmao do sentido do trgico (a vida merece ser radicalmente afirmada, mesmo quando ela finitude, e mesmo quando ela sofrimento...), condio de potencializao do retorno da vida, condio da alegria, sentido do trgico recuperado aos gregos pr-socrticos. Igualmente, Nietzsche contribuir com o perspectivismo experimental de sua concepo do mundo, da verdade, da existncia. Com a sua particular concepo de experimentao (radicalmente diferente da concepo cientfica de experimentao), num sentido especificamente fenomenolgico existencial, e que caracteriza a sua Gaya Scienza, e que decisivamente marcar as concepes rogerianas (e de Perls). As idias, concepes e posturas de Buber, elas prprias, tiveram uma enorme influncia no desenvolvimento da concepo e mtodo das PPFE. Tiveram uma grande influncia sobre as concepes e mtodo de Rogers, e de Perls. Em particular o esclarecimento de Buber acerca da dimenso ontolgica do eu-tu, e de sua relevncia para a gerao e regenerao da existncia humana; na reverso do decurso das coisas, do decurso do mundo e da vida coisificados, da fatalidade, e processo substrato da criatividade. Podemos, assim, sumariar, tentativa e sucintamente (comentamos em seguida), alguns traos distintivos, e fundamentais, das psicologias e psicoterapias fenomenolgico existenciais, extensi-vamente experimentados por Carl Rogers (e por Perls), na vivncia e elaborao de suas concepes e mtodos. Comentamos a seguir alguns desses aspectos, em termos de: 1. Ontologia;

  • 2. Epistemologia; 3. Concepo da existncia; 4. Concepo da abordagem; 5. Metodologia a. Ontologia No pretendo aqui discorrer filosoficamente sobre Ontologias, ou ser exaustivo acerca da questo ontolgica das PPFE (ainda que esta seja muito importante). Mesmo porque isto estaria fora de minhas condies. O que quero, antes, apontar distines fundamentais, e direes. O que sobressai, num primeiro momento, , seguindo a Nietzsche e a Brentano, uma ruptura e diferenciao radicais com relao perspectiva platnica de ciso do mundo em um mundo das essncias e um mundo sensvel. O mundo das essncias privativo dos desuses e das essncias; o mundo sensvel, simulacro do mundo das essncias em todos os seus aspectos, repetio piorada, pertinente sensibilidade humana. Para Nietzsche e para Brentano, a ciso no faz sentido. O mundo se d exclusivamente na sensibilidade, como fenmeno, como vivncia. Esta perspectiva uma base radical da Fenomenologia da tradio de Brentano, de Nietzsche, e das psicologias e psicoterapias fenomenolgico existenciais. Dada esta perspectiva ontolgica da realidade, constituda sempre e exclusivamente como fenmeno -- perspectiva prpria Fenomenologia da tradio de Brentano, e filosofia da vida de Nietzsche --, no podemos nos enganar com o existncia dos termos fenmeno, e fenomenologia na terminologia das filosofias de Kant, de Hegel e de Schopenhauer. Parafraseando Deleuze, no existe compromisso possvel entre, de um lado, a Fenomenologia da tradio de Brentano e a filosofia da vida de Nietzsche, e, do outro, as filosofias de Kant, Hegel e Schopenhauer. Pelo menos no que concerne perspectiva ontolgica bsica do mundo como cindido em duas dimenses. Um mundo fenomenal, da ordem da conscincia e do sensvel, e um mundo essencial. Este designado por Kant como numeno, mundo em si, coisa em si; designado por Hegel de esprito universal; ou de vontade por Schopenhauer. Em contraposio sempre a uma dimenso fenomenal, consciente, e inacessvel ao mundo essencial. A Fenomenologia, tal como a designamos modernamente, e tal como ela se constitui como raiz das abordagens fenomenolgico existenciais de psicologia e psicoterapia, a Fenomenologia da tradio de Brentano. Que rompendo com a perspectiva desta ciso do mundo em duas dimenses, d origem s fenomenologias de Husserl, de Heidegger, de Sartre, de M. Ponty, a fenomenologia da psicologia da Gestalt, e as psicologias e psicoterapias fenomenolgico existenciais.

  • Esta preciso muito importante. Na medida em que as filosofias de Schopenhauer, de Kant e de Hegel tm uma influncia bsica na constituio de um outro paradigma de psicologia e de psicoterapia, o paradigma psicanaltico, radicalmente diverso, neste sentido, do paradigma fenomenolgico existencial. b. Epistemologia Ao nvel de sua vivncia, o paradigma fenomenolgico existencial no um paradigma epistemolgico, ou seja, um paradigma que privilegie o conhecimento, no sentido da epistemologia formal. No que despreze o conhecimento epistemolgico, mas a sua vivncia caracterstica mais de natureza de um desconhecimento, de uma embriagues; do que da ordem do conhecimento formal, da ordem da lucidez. Como dizia uma colega de Teresina, mais da ordem de uma tomada