Car�lha explica�va sobre a Medida Provisória nº 983/2020

Marcela Oliveira Assessora jurídica da AC Cer�ficaminas

Entendendo os principais pontos e a importância da ICP-Brasil

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 983, DE 16 DE JUNHO DE 2020

As informações con�das neste material são de caráter mera e exclusivamente informa�vo, não se tratando de qualquer recomendação ou análise. A autora e a CERTIFICAMINAS não se responsabilizam pelas decisões tomadas com base nas informações con�das neste material. É recomendado a leitura cuidadosa da MP 983/2020, antes de qualquer ação.

Coerente com a crescente necessidade de atualização legisla�va no âmbito da iden�ficação do cidadão no meio digital, a MP traz em seu cerne dois grandes pilares: Iden�dade Digital e Desburocra�zação, pautados na segurança e na inclusão.

1.1 Objeto e âmbito de aplicação (Ar�go 1º)

No Ar�go 1º, a MP apresenta qual será a extensão de sua aplicabilidade e quais serão as relações abarcadas por seus efeitos. A�ngindo todos os níveis do Poder Execu�vo, Legisla�vo e Judiciário, ela terá efeitos nas comunicações internas ao Poder Público e também nas relações deste com os cidadãos, empresas e sociedade civil, conforme prevê o especialista em Gestão de

Iden�dade do Cidadão, Cláudio Machado.

A Medida Provisória nº 983, de 16 de junho de 2020, entrou em vigor na data de sua publicação e dispõe sobre as assinaturas eletrônicas em comunicações com entes públicos e em questão de saúde e sobre as licenças de so�wares desenvolvidos por entes públicos.

1. Medida Provisória nº 983/2020

Vejamos alguns dos seus principais pontos:

Todavia, também é específica ao delimitar sua não aplicabilidade no que refere às seguintes esferas: processos judiciais; comunicação entre pessoas naturais ou jurídicas de direito privado; comunicações na qual seja permi�do o anonimato; ou nas que se dispense a iden�ficação do par�cular.

1.2 Classificação das assinaturas eletrônicas e Aceitação de assinaturas eletrônicas pelos entes públicos (Ar�go 2º e 3º)

As regras da MP também não regem a comunicação entre os sistemas de ouvidoria de entes públicos; os programas de assistência a ví�mas e a testemunhas ameaçadas; e nas outras hipóteses em que seja necessário garan�r sigilo da iden�dade do par�cular na atuação perante o ente público.¹

Com a edição da MP 983, criam-se dois novos �pos de assinaturas eletrônicas, a Simples e a Avançada. Estas que sobrevêm e se unem à já norteada assinatura eletrônica via Cer�ficado Digital, no padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), denominada Qualificada, nos termos da MP.

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Neste aspecto, é importante frisar a importância da MP prever esta �pificação e, mais do que isso, prever o alcance de atuação de cada uma delas. Estamos diante de mais um passo no avanço da Iden�dade Digital de cada cidadão, que visa a a�ngir todas as classes e os mais diversos serviços, mas a inclusão e a desburocra�zação sem segurança seriam apenas um desserviço, fonte de fraudes e violações. Adentrando nestes três �pos de assinatura eletrônica podemos observar que estão divididas de acordo com o nível de segurança que será exigido para uma determinada operação. Sendo assim, existe uma gradação no nível de segurança, que passa pela assinatura Simples até a Qualificada, o que é indispensável pela própria garan�a cons�tucional² da inviolabilidade da vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade, pertencente a cada cidadão. Desta forma, na comunicação interna dos órgãos e en�dades da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes e órgãos cons�tucionalmente autônomos dos entes federa�vos, ou na comunicação destes com as pessoas naturais, ou jurídicas de direito privado, cada �po de assinatura terá sua finalidade própria e específica,

¹Fonte: Agência Senado²Fonte: Ar�go 5º da Cons�tuição Federal de 1988

baseada no nível mínimo exigido para a assinatura eletrônica em documentos e transações, observando-se o seguinte:

Base Legal: Ar�gos 2º, I e 3º, I da MP 983.

Aplicabilidade: Poderá ser admi�da nas interações com ente público que não envolvam informações protegidas por grau de sigilo.

A) Assinatura Eletrônica Simples:

Na prá�ca: A assinatura eletrônica simples é aquela que permite a iden�ficação da pessoa e associá-la a outros dados eletrônicos, por exemplo, um cadastro administra�vo. Ela poderá ser u�lizada em transações de baixo risco e relevância, que não exijam grau de sigilo. Podemos dar como exemplo os sistemas de auten�cação por login/senha, aceite nos termos de consen�mento, requerimento de informações, marcação de perícias, consultas médicas, entre outros.³

Conceito: Aquela que permite iden�ficar o seu signatário e anexa ou associa dados a outros dados em formato eletrônico do signatário.

Fonte: Agência Senado

³Fonte: Claudio Machado, especialista em Gestão da Iden�dade do Cidadão. Consultor independente e pesquisador associado do ITS.

Base Legal: Ar�gos 2º, II e 3º, II da MP 983. B) Assinatura Eletrônica Avançada:

Conceito: Aquela que está associada ao signatário de maneira unívoca. U�liza dados para a criação de assinatura eletrônica cujo signatário pode, com elevado nível de confiança, operar sob o seu controle exclusivo. E, ainda, está relacionada aos dados a ela associados de tal modo que qualquer modificação posterior é detectável.

Na prá�ca: A assinatura eletrônica avançada exige que a iden�ficação do cidadão seja inequívoca, ou seja, aquela que não permite dúvida, engano ou erro. Sendo assim, pode operar em transações que envolvem informações protegidas por grau de sigilo ou elevado nível de segurança como, por exemplo, cons�tuição, alteração e encerramento de empresas, transferência de veículos e multas, acesso a documentos e atualização de cadastros do cidadão no governo.

Aplicabilidade: Poderá ser admi�da nas interações com ente público que não envolvam informações protegidas por grau de sigilo e nas interações com ente público que envolvam informações classificadas ou protegidas por grau de sigilo; e no registro de atos perante juntas comerciais.

Fonte: Agência Senado4

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C) Assinatura Eletrônica Qualificada:

Base Legal: Ar�gos 2º, III e 3º, III da MP 983

Conceito: Aquela que usa cer�ficado digital, nos termos do disposto na Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001. Aplicabilidade: A assinatura eletrônica qualificada será admi�da em qualquer comunicação eletrônica com ente público. Sendo sua u�lização obrigatória nos atos de transferência e de registro de bens imóveis, ressalvado o disposto na alínea “c” do inciso II do § 1º; nos atos norma�vos assinados por chefes de Poder, por Ministros de Estado ou por �tulares de Poder, ou de órgão cons�tucionalmente autônomo de ente federa�vo; e nas demais hipóteses previstas em lei. Na prá�ca: A assinatura eletrônica qualificada é aquela provida por processo de cer�ficação da ICP-Brasil e possui validade ampla e irrestrita para todos os atos e transações com um ente público. Requer uma iden�ficação forte do �tular do elemento criptográfico, requer processos de auditoria, fiscalização e credenciamento para os entes que compõem a infraestrutura, gerando presunção de veracidade do documento eletrônico perante seu signatário. Ademais, usa sistemas criptográficos rígidos e controlados, que garantem que eventuais alterações no documento eletrônico assinado sejam facilmente detectáveis, conforme definição do Diretor-Presidente do ITI, Carlos Fortner.

1.4 Licenciamento dos sistemas de informação e de comunicação (Ar�go 8º)

Segundo a Agência Senado, com a finalidade de acelerar o uso de tecnologia no governo, a MP também define que o código-fonte dos so�wares desenvolvidos pela administração federal, estadual e municipal passam a ser de código aberto.

1.3 Atuação do ITI junto a entes públicos (Ar�go 5º)

Além as competências previstas em lei, o Ins�tuto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) poderá atuar em a�vidades dos órgãos e en�dades da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes e órgãos cons�tucionalmente autônomos dos entes federa�vos, relacionadas à criptografia, às assinaturas e às iden�ficações eletrônicas e às tecnologias correlatas, inclusive aquelas rela�vas às assinaturas eletrônicas Simples e Avançadas.

Esse modelo permi�rá que, de forma irrestrita, outros órgãos e en�dades de governo possam u�lizar, alterar e distribuir os programas criados com recursos públicos, com exceção daqueles restritos nos termos da Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527, de 2011).

Os sistemas em uso na data de entrada em vigor da Medida Provisória que u�lizem assinaturas eletrônicas que não atendam o disposto no § 1º do art. 3º serão adaptados até 1º de dezembro de 2020.

O disposto na Medida Provisória não estabelece obrigação aos órgãos e en�dades da administração direta, autárquica e fundacional dos Poderes e órgãos cons�tucionalmente autônomos dos entes federa�vos de disponibilizarem mecanismos de comunicação eletrônica em todas as hipóteses de interação com pessoas naturais ou jurídicas.

1.6 Adaptação de sistemas em uso pelo ente público (Ar�go 10º)

2. Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil)

Ins�tuída pela Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, a Infraestrutura de Chaves Pública Brasileira (ICP-Brasil) foi criada para garan�r a auten�cidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que u�lizem cer�ficados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.

1.5 Não obrigatoriedade de uso de sistema eletrônico (Ar�go 9º)

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Neste sen�do, as previsões da MP 983 abriram portas para debates importantes e necessários sobre a palavra-chave que norteia todas e quaisquer estruturas que se fundam no meio digital: SEGURANÇA. Ela que, segundo o dicionário brasileiro, é o estado, qualidade ou condição de quem, ou do que está livre de perigos, incertezas, assegurado de danos e riscos eventuais; situação em que nada há a temer. Assim, não por acaso, a assinatura eletrônica Qualificada é justamente aquela que u�liza o cer�ficado digital, com a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira e que con�nuará a ser admi�da para todas as aplicações digitais, pois confere aos atos pra�cados a máxima segurança e auten�cidade. Além disso, as declarações constantes dos documentos em forma eletrônica, produzidos com a u�lização de processo de cer�ficação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos signatários, sendo a única assinatura eletrônica com esta previsão legal e equivalente ao que preceitua o Ar�go 219 do Código Civil Brasileiro em relação às assinaturas manuscritas.

Fonte: Ar�go 10, §1º da MP 2.200-2/2001

Fato é que a ICP-Brasil sempre manteve, em seu escopo, instrumentos para contornar a insegurança do ambiente virtual, especialmente para assinatura eletrônica e seus efeitos jurídicos. A inteligência do cer�ficado digital sempre foi em prol da inserção de mecanismos de segurança que antecedem a sua emissão e, por consequência, garantem ao �tular a melhor seguridade e experiência. Portanto, a ICP-Brasil é basilar pela sua cri�cidade, q u a l i d a d e d o p r o c e s s o d e i d e n � fi c a ç ã o p e s s o a l e interoperabilidade . Nesta acepção:

A interoperabilidade é a capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem em conjunto (interoperar), de modo a garan�r que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente - Fundação Escola Nacional de Administração Pública.

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“A presunção de validade jurídica deve estar adstrita às assinaturas eletrônicas qualificadas, pelo fato de que neste �po de assinatura faz-se coleta biométrica facial, o número de iden�ficação e CPF, e-mail e endereço, além de arquivamento de todas essas informações com o armazenamento das evidências pelo período mínimo de sete anos em banco de dados de dados auditável e rastreável, podendo iden�ficar os signatário, onde ocorreu a realização da entrega desta assinatura, além da iden�ficação com número de serial, de onde extrai-se a autoridade que lhe fez a concessão, a qual é temporalizada e revogável.” “(...) o poder público precisa de ter convicção de que aquele que se relaciona pelos meios eletrônicos de fato é capaz de promover as ações pretendidas me assumir aquelas obrigações, e isto só é possível com a u�lização de uma assinatura eletrônica qualificada, a qual evitará fraudes e a u�lização indevida de ambientes eletrônicos governamentais, de forma que se tenha segurança na relação com o poder público.” Deputado Júlio Cesar Ribeiro.

“Com relação a questão de evitar contatos presenciais, salienta-se que a entrega de assinaturas eletrônicas qualificadas já é feita com esta possibilidade, ou seja, por meio de videoconferência de forma a evitar contatos presenciais, haja vista o previsto na MP 951 de 2020 e regulamentação do comitê gestor da ICP-Brasil na Resolução n.º 170 de 23 de abril de 2020, razão pela qual não há necessidade de subs�tuição desta modalidade de assinatura por outra de menor qualificação enquanto perdurar a pandemia da COVID-19, pois, esta já adequada para que não ocorra tais contatos.” Deputado Hercílio Coelho Diniz Filho

“A assinatura eletrônica qualificada proporciona segurança na transmissão eletrônica de receitas, uma vez que a tecnologia da ICP-Brasil criptografa o seu conteúdo no momento da assinatura, evitando alterações e garan�ndo a autoria, integridade, auten�cidade do documento, além de arquivamento das evidências pelo período mínimo de sete anos em banco de dados auditável e rastreável. Não se garante qualquer dos requisitos de segurança acima explicitados na assinatura eletrônica simples, cons�tuída de login e senha. Mo�vo pelo qual, a assinatura eletrônica qualificada deverá ser iden�ficada no texto legisla�vo.” “(...)Somente a assinatura digital, por meio do uso da criptografia assimétrica, aliado a um cer�ficado digital emi�do por uma Autoridade Cer�ficadora no âmbito de uma Infraestrutura de Chaves Públicas, permite, atualmente, atestar de forma segura a integridade e a auten�cidade de um documento eletrônico assinado. Todas as demais modalidades de assinatura eletrônica, conquanto não sejam juridicamente inválidas, não são capazes, por si só, de assegurar a integridade e a auten�cidade de um.” Deputado Efraim Filho

Mas elas ainda terão de percorrer o caminho da estruturação, para gerar confiança em seu processo e no emissor daquela iden�dade, algo já amplamente consolidado pela assinatura Qualificada.

A �pificação da assinatura eletrônica Simples e Avançada, inegavelmente, é fruto da percepção da necessidade de flexibilizar a comunicação entre o povo e o governo, e surge em um momento de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia da Covid-19, situação que evidenciou, ainda mais, a deficiência na prestação de serviços públicos e afins.

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Entretanto, é necessário um tratamento mais cuidadoso do tema, para que não se banalize o próprio conceito de Iden�dade Digital e se intensifiquem as fraudes por meios eletrônicos. Ao facilitar o atendimento do governo à população por meios digitais, é imprescindível garan�r um nível de segurança que nunca seja aquém da sensibilidade dos próprios dados. Pelo exposto, conclui-se que as informações e os serviços públicos devem ser: acessíveis; simples e plenamente seguros. Com fundamento nestes princípios, caminharemos de forma adequada para um mundo cada vez mais digital.

3. Considerações finais

A MP 983/2020 é asser�va em muitos aspectos, está alinhada com as necessidades atuais e beneficia a população e o poder público. Além disso, a MP em comento inova e abre um leque de possibilidades em um momento crucial, quando é fundamental a economia de tempo e recursos em um país de tradição burocrá�ca.

Sobre a autoraMarcela Oliveira é advogada,pós-graduanda em advocaciaempresarial e assessora jurídicada AC Cer�ficaminas.