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Londrina - Paran 2017
Mestrado Profissional em Exerccio Fsico na Promoo da Sade
CARLOS EDUARDO DE ARAJO
ATIVIDADE FSICA E EXERCCIO FSICO
NA PROMOO DA SADE
CARLOS EDUARDO DE ARAJO
ATIVIDADE FSICA E EXERCCIO FSICO
NA PROMOO DA SADE
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa em Cincias da Sade, Universidade Norte do Paran, Unidade Piza, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre Profissional em Exerccio Fsico na Promoo da Sade. Orientador: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
Londrina - Paran 2017
ATIVIDADE FSICA E EXERCCIO FSICO
NA PROMOO DA SADE
CARLOS EDUARDO DE ARAJO
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa em Cincias da Sade, Universidade Norte do Paran, Unidade Piza, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre Profissional em Exerccio Fsico na Promoo da Sade, conferido e aprovado pela Banca Examinadora:
___________________________________
Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes Universidade Norte do Paran
___________________________________ Prof. Dr. Juliano Casonatto
Universidade Norte do Paran
___________________________________ Prof. Dr. Enio Ricardo Vaz Ronque
(Membro Externo)
___________________________________ Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
Coordenador do Curso
Londrina, 06 de maro de 2017
AUTORIZO A REPRODUO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE
ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Dados Internacionais de catalogao-na-publicao Universidade Norte do Paran
Biblioteca Central
Setor de Tratamento da Informao
Arajo, Carlos Eduardo
M871m Atividade fsica e exerccio fsico na promoo da sade /Carlos Eduardo
Arajo. Londrina: [s.n], 2017
232f.
Dissertao (Mestrado Profissional em Exerccio Fsico na Promoo da
Sade). Universidade Norte do Paran.
Orientador: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
1 - Exerccio Fsico - dissertao de mestrado - UNOPAR 2- Promoo da
sade 3- Atividade fsica 4- Educao Fsica I- Guedes, Dartagnan Pinto; orient.
II- Universidade Norte do Paran.
CDU 796.4
ARAJO, Carlos Eduardo. Atividade Fsica e Exerccio Fsico na Promoo da
Sade. Trabalho de Concluso Final de Curso. Mestrado Profissional em Exerccio Fsico na Promoo da Sade. Centro de Pesquisa em Cincias da Sade. Universidade Norte do Paran, Londrina. 2017.
RESUMO
Objetivo da proposta foi delinear e produzir publicao tcnica com
informaes relacionadas prtica de atividade fsica e exerccio fsico que possa
repercutir especificamente na promoo da sade. Foram compiladas informaes
disponibilizadas na literatura relacionadas ao trinmio atividade fsica, exerccio
fsico e sade em uma publicao que possa servir de referncia para profissionais
que atuam, ou que pretendam atuar, nas diferentes dimenses do campo da sade.
O contedo do material est organizado em cinco itens. Inicialmente so abordadas
aproximaes conceituais, procurando distinguir as trs aes bsicas vinculadas
ao esforo fsico: atividade fsica, exerccio fsico e esporte. Tambm, conceituao
das dimenses de aptido fsica relacionada sade e desmistificar a associao
proveniente de senso comum entre desempenho atltico e promoo da sade. Na
sequncia, so abordadas questes de fisiologia vinculas ao esforo fsico, como
o caso de produo e transferncia de energia para o trabalho biolgico, respostas
e adaptaes diante do esforo fsico e fisiopatologia das disfunes degenerativas.
Depois, trata-se dos benefcios e dos riscos da prtica de atividade fsica e exerccio
fsico associados sade em indivduos assintomticos e sua contribuio para o
controle de grupos especficos de disfunes, como o caso das enfermidades
cardiometablicas, respiratrias, neurais, musculoesquelticas. Segue com uma
abordagem relacionada aos motivos e motivao para adoo de um estilo de vida
fisicamente ativo. O texto concludo com informaes vinculadas ao delineamento
de programas de exerccio fsico direcionados sade, como o caso de tipo de
exerccio fsico, intensidade, volume, intervalo e frequncia. Tambm, princpios
biolgicos, avaliaes prvias e especficas durante a prtica de exerccio fsico. A
expectativa que a publicao tcnica possa oferecer importantes subsdios para
profissionais de diferentes segmentos da rea de sade, contribuindo de forma
significativa para ampliao de novos conhecimentos vinculados prtica de
atividade fsica e exerccio fsico, tornando-se, por sua vez, importante ferramenta
de consulta para atuao profissional.
PALAVRAS-CHAVE: Atuao Profissional, Formao Continuada, Aptido Fsica,
Sade.
ARAJO, Carlos Eduardo. Physical Activity and Exercise in Health Promotion. Completion of Coursework. Professional Masters in Exercise in Health Promotion. Research Center on Health Sciences. Northern Parana University, Londrina. 2017.
ABSTRACT
The objective of the proposal was to design and produce technical publication
with information regarding physical activity and exercise that might impact on health
promotion. In this publication, were gathered together available literature information
related to trinomial physical activity, physical exercise and health, which might be
used as reference to the professionals who work or seek to work in the different
dimensions of the health field. The content of this material is organized among five
items. Firstly, is presented the concepts, which seek to distinguish the three basic
actions linked to physical effort: physical activity, exercise, and sport. Also, is
conceptualized the health-related fitness physical, and presented an idea that seeks
to demystify the relation from the common sense about athletics performance and
health promotion. Secondly, the author approaches physiologic questions related to
physical effort, such as the production and the transference of energy to the
biological work, and also responses and adaptation related to physical effort and
physiopathology of degenerative dysfunctions. Later, is presented the benefits and
risks of physical activity and exercise associated to health in asymptomatic
individuals and its contributions to the control of specific dysfunctions, as is the case
of cardiometabolic, respiratory, neural and musculoskeletal disorders. It follows an
approach related to motives and motivation for the adoption of physically active
lifestyles. The text is concluded with information related to the design of exercise
programs directed to health: type, intensity, volume, interval, and frequency. Also,
biological principles, previous and specific evaluations during exercise. The
expectation is that the technical publication may provide important information to
health professionals, which can contribute significantly for the acquisition of new
knowledge related to the practice of physical activity and exercise, becoming it, in
turn, an important consulting tool to professionals.
Key words: Professional Working, Continuing Education, Physical Fitness, Health
8
Sumrio Apresentao ...................................................................................................
Atividade fsica, exerccio fsico, aptido fsica e sade .................................. Atividade fsica, exerccio fsico e esporte ............................................ Sade, doena e bem-estar ................................................................. Aptido fsica relacionada sade e ao desempenho atltico .............
Dimenso morfolgica ............................................................... Dimenso funcional-motora ....................................................... Dimenso fisiolgica .................................................................. Dimenso comportamental .........................................................
Paradigmas sobre a relao atividade fsica, aptido fsica e sade ... Referncias ...........................................................................................
Aspectos fisiolgicos associados ao esforo fsico ......................................... Produo de energia para contrao muscular ................................... Sistema fosfgeno ..................................................................... Sistema cido ltico ................................................................... Sistema aerbio ......................................................................... Nutrientes para produo de energia .................................................. Utilizao dos substratos energticos durante o esforo fsico ........... Metabolismo dos carboidratos durante o esforo fsico ............. Metabolismo das gorduras durante o esforo fsico ................... Respostas metablicas ao esforo fsico ............................................ Comportamento cardiorrespiratrio no esforo fsico .......................... Dbito cardaco, frequncia cardaca e volume sistlico ........... Resistncia vascular e presso arterial .................................... Extrao de oxignio e ventilao pulmonar ............................ Tecido muscular no esforo fsico ....................................................... Adaptaes fisiolgicas ao esforo fsico ............................................
Referncias ...........................................................................................
Aspectos preventivos e teraputicos da atividade fsica e do exerccio fsico Aes preventivas da atividade fsica e do exerccio fsico ................. Atividade fsica, exerccio fsico e fatores de risco predisponentes s disfunes crnico-degenerativas ............................................ Sexo e idade ............................................................................ Histrico familiar ...................................................................... Lipdios/lipoprotenas plasmticas ........................................... Gordura e peso corporal ........................................................... Tabagismo ................................................................................ Estresse emocional ................................................................... Atividade fsica e exerccio fsico no controle das disfunes crnico-degenerativas .................................................................... Degenerao hipocintica ........................................................ Doenas cardiovasculares ....................................................... Hipertenso ............................................................................... Diabetes mellitus ...................................................................... Sobrepeso e Obesidade ........................................................... Osteoporose .............................................................................
10
12 12 17 24 27 29 31 34 35 39
42 42 43 44 45 46 55 56 59 64 67 68 71 74 76 79 81
83 85
92 93 94 94 95 96 97
100 101 101 104 106 107 110
9
Referncias ...........................................................................................
Motivos e motivao para prtica de exerccio fsico ..................................... Motivos versus motivao ................................................................... Motivao intrnseca e extrnseca ......................................................... Modelos tericos associados motivao .......................................... Instrumentos para identificar motivos e motivao para prtica de exerccio fsico ............................................................................... Motivos para prtica de exerccio fsico em uma populao jovem ..... Perfil de motivao para prtica de exerccio fsico de usurios de Centros de Fitness ...................................................................
Referncias ...........................................................................................
Delineamento de programas de exerccio fsico direcionados sade ........... Avaliaes para prescrio de exerccio fsico .................................... Exame clnico ........................................................................... Aptido fsica relacionada sade .......................................... Princpios biolgicos associados prtica de exerccio fsico .............. Princpio de sobrecarga, progresso e individualidade ............ Princpio de especificidade ...................................................... Princpio de reversibilidade ...................................................... Componentes de um programa de exerccio fsico .............................. Frequncia ............................................................................... Durao .................................................................................... Intensidade ............................................................................... Estruturao das rotinas de exerccio fsico ......................................... Exerccios cardiorrespiratrios ................................................. Exerccios de fora/resistncia muscular .................................. Exerccios de flexibilidade ........................................................ Custo energtico de exerccios cardiorrespiratrios .................
Referncias ...........................................................................................
Consideraes finais ........................................................................................
113
117 117 119 121
136 143
148 153
158 159 159 162 177 177 178 179 180 180 181 182 184 185 187 189 190 199
201
10
Apresentao
Uma das principais caractersticas de toda vida animal sua capacidade de
realizar movimentos. Apesar de seus estilos variarem de forma bastante acentuada, as
necessidades que levam os animais, desde um simples protozorio monocelular at os
mamferos superiores, a se movimentarem so essencialmente as mesmas.
Todo animal, independentemente de seu tamanho ou complexidade estrutural,
move-se pelo seu meio ambiente na tentativa de encontrar alimento, buscar refgio ou
defender-se dos inimigos. No seria nenhum exagero supor que, para os animais, o
movimento a base de suas vidas. O homo sapiens o exemplo tpico de uma espcie
animal cuja sobrevivncia tem dependido, sobretudo, de sua capacidade para mover-se
da forma mais eficiente possvel.
Durante a maior parte dos aproximadamente dois milhes de anos que se supe a
existncia do homem, este, de forma geral, viveu sob intensa atividade fsica. Sua
alimentao, composta principalmente por animais e vegetais de difcil acesso, sua
proteo contra inimigos naturais como animais selvagens e as adversidades climticas
eram asseguradas graas ao empenho de suas habilidades fsicas. Em suma, para sua
sobrevivncia, diariamente o homem primitivo tinha necessidade de utilizar suas
capacidades e aptido fsica.
Hoje, diferentemente do que ocorriam em tempos idos, as mquinas tm
executado grande parte do trabalho fsico que o homem costumava realizar
manualmente. Na realidade, o homem tpico do sculo XXI desempenha tarefas que
exigem muito pouco esforo fsico. A maioria deles utiliza veculos motorizados em seu
transporte, recorrem a inmeros dispositivos tecnolgicos para desempenhar suas
funes no trabalho e ainda optam por atividades que reduzem ao mnimo o esforo fsico
no preenchimento de seu tempo livre ou dedicado ao lazer. Por consequncia, o homem
moderno, caso deseje, pode levar uma vida totalmente isenta de esforo fsico mais
intenso, o que tem motivado alguns estudiosos a sugerir nova denominao espcie
humana: homo sedentarius.
No se pode negar que a evoluo tecnolgica observada nos ltimos sculos tem
resultado em grande melhoria na qualidade de vida do homem moderno. O maior indcio
desse fato , por exemplo, o progressivo aumento da longevidade da espcie humana.
Os avanos na rea mdica vm contribuindo de forma decisiva para que isso ocorra;
11
entretanto, a maioria desses avanos tem auxiliado, de forma mais acentuada, no
tratamento e na preveno das doenas infecto-contagiosas, mas infelizmente no tm o
mesmo xito na preveno das enfermidades crnico-degenerativas, como o caso das
coronariopatias, da hipertenso, da obesidade, do diabetes, do cncer e de outros males.
Na atualidade, inmeras pesquisas destacam que a maioria da populao de
pases desenvolvidos e/ou em desenvolvimento vem a bito precocemente ou a se
tornarem menos produtivos, no mais em consequncia de doenas infecciosas, como
era o caso de nossos antepassados, mas sim por acidentes provocados pelo prprio
homem ou por contrair alguma enfermidade de carter crnico-degenerativo. Diante
disso, parece irnico admitir que o avano tecnolgico, que tem contribudo de forma
significativa para elevar o padro de vida do homem moderno, ao mesmo tempo vem
acarretando uma srie de riscos para sua sade.
Ao consultar a literatura sero encontradas evidncias cientficas sugerindo que o
estilo de vida inativo ou o sedentarismo provocado pela tecnologia moderna so
contribuintes em potencial para muitas das doenas crnico-degenerativas que podem,
de uma forma ou de outra, afetar diretamente a sade do homem, tornando-o incapaz
para determinadas tarefas de seu cotidiano ou, at mesmo, levando-o a morte de
maneira prematura. Diante dessa perspectiva, fica bastante evidente que, se de um lado
a industrializao e a tecnologia moderna tm contribudo enormemente para o progresso
de nossa civilizao, de outro tem deixado o homem vulnervel a um conjunto de fatores
que colocam em risco o seu estado de sade. Portanto, acredita-se que o grande desafio
para os profissionais da rea consiste em procurar reduzir ao mnimo a predisposio do
homem moderno frente a esses problemas.
No obstante isso, ao admitir a enorme contribuio que a prtica de atividade
fsica e exerccio fsico, estruturados e orientados de forma adequada, podem trazer a
preservao do bom estado de sade, mediante a melhoria da capacidade funcional dos
indivduos, atitude coerente buscar alternativas para efetivamente promover a adoo
de um estilo de vida ativo e saudvel para a nossa populao.
12
ATIVIDADE FSICA, EXERCCIO FSICO, APTIDO
FSICA E SADE
A identificao dos possveis efeitos benficos induzidos pela prtica da atividade
fsica parece ser cada vez mais evidente. Estudos recentes tm procurado oferecer
importantes subsdios quanto s vantagens de ser suficiente e adequadamente ativo, ao
ponto de considerar o comportamento sedentrio e a inatividade fsica como os principais
fatores de risco predisponentes ao surgimento e ao desenvolvimento de inmeras
disfunes crnico-degenerativas [1-7]
.
Em razo das diferentes abordagens oferecidas prtica de atividade fsica
voltada preservao e melhoria da sade, e da constante evoluo observada nos
ltimos anos nesse campo, torna-se conveniente revisar conceitos e pressupostos
aplicados mais recentemente como referncia na proposio de aes direcionadas a
essa finalidade. Assim, nesse primeiro captulo, dever haver uma tentativa de
posicionamento quanto aos modelos conceituais associados ao trinmio atividade fsica,
aptido fsica e sade.
Atividade fsica, exerccio fsico e esporte
A atividade fsica vem sendo definida como qualquer movimento corporal,
produzido pelos msculos esquelticos, que resulta em dispndio energtico maior do
que os nveis de repouso [8]
. Assim, a quantidade de energia necessria para realizar
determinado movimento do corpo dever traduzir o nvel de prtica de atividade fsica
exigido por esse mesmo movimento.
Em aspectos operacionais, a quantidade de energia requerida para atender ao
dispndio energtico induzido pela atividade fsica pode ser estimada em quilojoule (kj) ou
em quilocalorias (kcal). Para efeito de equivalncia de unidade de medida, 1 kj torna-se
igual a 0,239 kcal, ou, de maneira inversa, 1 kcal corresponde a 4,184 kj. As estimativas
em relao ao dispndio energtico com a utilizao da unidade de medida MET tambm
tm sido muito aceitas. A expresso MET, abreviatura em ingls de equivalente
metablico, representa a razo entre a quantidade de energia despendida em kJ ou kcal
da atividade fsica considerada e a energia equivalente situao de repouso.
Convencionalmente, admite-se que o custo energtico em repouso de qualquer indivduo
torna-se igual a 1 MET. Logo, nesse caso, o dispndio energtico da atividade fsica
13
dever ser expresso em mltiplos do equivalente metablico de repouso. Exemplificando:
verifica-se que, ao pedalar em velocidade de deslocamento entre 22 e 25km/h, estima-se
um dispndio energtico equivalente a 10 METs a cada minuto, ou seja, dispndio
energtico dez vezes mais elevado que em situao de repouso [9]
.
O dispndio energtico associado atividade fsica diretamente proporcional
intensidade, durao e frequncia com que se realizam as contraes musculares. No
entanto, alm da quantidade de massa muscular envolvida nos movimentos do corpo, a
quantidade de energia despendida com a prtica de atividade fsica pode variar de
indivduo para indivduo, ou ainda, em razo de variao do peso corporal e do ndice de
aptido fsica de um mesmo indivduo [9]
.
O dispndio energtico equivalente atividade fsica do cotidiano se classifica
basicamente em cinco categorias:
I. Demanda energtica proveniente de deslocamento ativo;
II. Demanda energtica induzida pelas atividades solicitadas no desempenho de uma
ocupao profissional;
III. Demanda energtica necessria realizao das tarefas domsticas;
IV. Demanda energtica voltada a atender s atividades de lazer e de tempo livre; e
V. Demanda energtica induzida pela prtica de esporte e em programas de
condicionamento fsico.
Mesmo admitindo a significativa participao de cada uma dessas categorias no
estabelecimento do dispndio energtico/dia, estrategicamente o dispndio energtico
advindo das atividades de lazer e de tempo livre, da prtica de esporte e dos programas
de condicionamento fsico o que permite induzir s maiores variaes energticas no
cotidiano, constituindo-se, portanto, no principal modulador dos nveis de prtica da
atividade fsica.
Por outro lado, comportamento sedentrio refere-se as atividades que so
realizadas na posio deitada ou sentada e que, portanto, no elevam o dispndio
energtico acima dos nveis de repouso. Logo, assistir televiso, usar computador ou
outro equipamento eletrnico de tela, trabalhar ou estudar em posio sentada, entre
outras tarefas, so exemplos de atividades que caracterizam o comportamento
sedentrio. Porm, a simples posio em p, mesmo sem a realizao de alguma tarefa,
deixa de ser considerado comportamento sedentrio, devendo ser diferenciada da
14
realizao de alguma atividade em posio sentada em razo da exigncia de contrao
isomtrica da musculatura para se opor gravidade [10]
.
Neste particular, em aspectos operacionais, conforme disposto na figura 1.1,
comportamento sedentrio a exposio em atividades com dispndio energtico 1,5
MET, enquanto prtica insuficiente de atividade fsica, ou tambm denominada
inatividade fsica, a condio de no cumprimento das diretrizes de sade relacionadas
aos nveis recomendados de prtica de atividade fsica. Em tese, o sono considerado
uma atividade sedentria, considerando que seu dispndio energtico equivalente a 0,9
MET [9]
. Contudo, devido necessidade de recuperao orgnica, o tempo de sono
recomendado para adultos prximo de 7-9 horas a cada 24 horas; logo, este perodo
no deve ser considerado como comportamento sedentrio para estratificao de risco
para a sade.
Figura 1.1 Definio operacional de comportamento sedentrio e de prtica de atividade
fsica.
Levantamentos epidemiolgicos recentes tm demonstrado que tempo mais
elevado despendido em comportamento sedentrio, alm de estar associado s
disfunes cardiometablicas, pode ser considerado importante fator de risco para
mortalidade por todas as causas, independentemente do nvel de prtica de atividade
15
fsica [11-13]
. Ou seja, mesmo o indivduo demonstrando ser suficientemente ativo
fisicamente, essa prtica de atividade fsica pode no compensar os efeitos adversos do
tempo excessivamente prolongado de comportamento sedentrio.
Os mecanismos associados ao comportamento sedentrio responsveis pelos
efeitos deletrios para sade partem da premissa de que a imobilizao proporciona
disparo de respostas estressoras diferentes das observadas em consequncia da prtica
insuficiente de atividade fsica [14-15]
. Neste particular, as agresses para sade so
moduladas no apenas pelo tempo de exposio ao comportamento sedentrio, mas
tambm, ao padro deste comportamento, como o caso da existncia de interrupes e
da durao dos intervalos dessas pausas [16,17]
.
Apesar de apresentar alguns elementos em comum, a expresso exerccio fsico
no deve ser utilizada com conotao idntica a atividade fsica. fato que tanto o
exerccio fsico como a atividade fsica implica na realizao de movimento corporal
produzido pelos msculos esquelticos que levam a determinado dispndio energtico, e,
desde que a intensidade, a durao e a frequncia dos movimentos apresentem algum
progresso, ambos podem demonstrar relaes positivas com a sade. No entanto,
exerccio fsico no sinnimo de atividade fsica. Neste caso, o exerccio fsico
considerado uma subcategoria da atividade fsica.
Por definio, exerccio fsico todo esforo fsico previamente planejado,
estruturado e repetitivo, com maior ou menor demanda de energia, que tem por finalidade
induzir a um melhor funcionamento orgnico, mediante aprimoramento e manuteno de
um ou mais componentes da aptido fsica [8]
. Diante dessa perspectiva, o exerccio fsico
dever apresentar conceito mais restritivo do que a atividade fsica.
A princpio, das cinco categorias de atividade fsica que contribuem para
estabelecer o dispndio energtico/dia, apenas a demanda energtica induzida pelo
envolvimento na prtica de esporte e nos programas de condicionamento fsico pode ser
tida como exerccio fsico. Isso porque todas as atividades voltadas ao condicionamento
fsico e ao aprimoramento da prtica de muitos esportes devem ser previamente
planejadas, estruturadas e, umas mais do que outras, repetitivas, resultando dessa
maneira em modificaes nos componentes da aptido fsica.
No obstante, em determinadas situaes outras categorias de atividade fsica do
cotidiano podem, eventualmente, induzir adaptaes positivas nos ndices de aptido
fsica. No entanto, mesmo assim no devem se constituir como exerccio fsico. o caso
16
de deslocamento ativo, de algumas ocupaes profissionais, de tarefas domsticas
especficas ou de outras atividades do dia-a-dia que, pelo seu envolvimento quanto
demanda energtica, podem repercutir favoravelmente na aptido fsica. Igualmente,
indivduos que tornam seu tempo livre e de lazer mais ativos fisicamente devero usufruir
de vantagens quanto aptido fsica. Contudo, as dificuldades quanto ao seu
planejamento, sua estruturao e repetio as impedem de ser considerado exerccio
fsico. Por conseguinte, faz-se necessria a elaborao do conceito: o exerccio fsico no
o nico mecanismo de promoo da aptido fsica, os hbitos de vida associados
prtica de atividade fsica tambm desempenham importante papel nesse campo.
Dependendo dos objetivos e das caractersticas dos programas de exerccio fsico,
as adaptaes esperadas nos componentes de aptido fsica podem ser analisadas com
base em dois enfoques. O primeiro refere-se aos aspectos relacionados aptido fsica
com inteno de promover adaptaes funcionais que possam garantir melhor eficincia
na realizao de esforo fsico e de prevenir o organismo quanto ao aparecimento de
disfunes orgnicas induzidas pela adoo de um estilo de vida sedentrio. O segundo
relaciona-se aos aspectos de reabilitao teraputica direcionados atenuar distrbios e
incapacidades orgnicas que possam contribuir para o surgimento de morbidades,
promover melhorias de funes afetadas por algum distrbio orgnico e dificultar o
desenvolvimento de novas complicaes em portadores de disfunes crnico-
degenerativas j clinicamente manifestadas na tentativa de reverter o quadro patolgico.
Em razo da grande variedade de significados, definio consensual mais precisa
do termo esporte tem apresentado uma srie de dificuldades. Todavia, mais
recentemente, conceito bastante aceito na rea coloca o esporte como um sistema
ordenado de prticas corporais de relativa complexidade que envolve atividades de
competio institucionalmente regulamentada, que se fundamenta na superao de
competidores ou de marcas/resultados anteriores estabelecidos pelo prprio esportista
[18].
Com isso, a atividade fsica, o exerccio fsico e o esporte demonstram apresentar
conceitos diferentes; no entanto, em alguns momentos se sobrepem entre si. Nos trs
casos existe movimento do corpo produzido pelos msculos esquelticos, resultando,
dessa forma, em dispndio energtico superior aos nveis de repouso e em adaptaes
relativas aptido fsica. Mas, se na preparao para a prtica de esporte (treino
esportivo) torna-se possvel planejar e estruturar previamente o esforo fsico, semelhante
ao que ocorre com o exerccio fsico, no caso de sua prtica em si (competio esportiva)
17
essa situao passa a ser muitas vezes imprevisvel, pela situao de competio e,
portanto, de difcil controle, descaracterizando-se, por sua vez, enquanto exerccio fsico.
A prtica de esporte pode se apresentar de duas maneiras bastante distintas: os
chamados esporte de recreao e esporte de rendimento. Esporte de rendimento
aquele que tem como objetivo principal o alcance de desempenho mximo mediante
estabelecimento de desafios dos prprios limites na busca de vitrias e de recordes e, em
alguns casos, com finalidades econmicas e/ou polticas bastante claras. J esporte de
recreao o que tem como meta primordial a busca de satisfao pessoal e dos
benefcios que a prtica regular de esforo fsico proporciona ao organismo.
Assim, se no esporte de rendimento a prioridade oferecer espetculo que possa
servir como fonte de entretenimento ao pblico interessado nesse tipo de atividade, da a
necessidade de se buscar cada vez melhores resultados, no esporte de recreao a
inteno propiciar entretenimento a quem o pratica; portanto, o nvel de exigncia
estabelecido pelos seus prprios praticantes, independentemente de satisfazer ou no
aos espectadores.
Em vista disso, no se pode ignorar a significativa diferena existente entre a
prtica de esportes de rendimento e aquela realizada de forma recreativa. No primeiro
caso, via de regra, por conta da obsesso em alcanar rendimentos progressivamente
mais elevados, em consequncia da sobrecarga de treino a que so submetidos seus
praticantes, pode-se induzir danos irreversveis s diferentes funes orgnicas. No caso
do esporte praticado de forma recreativa, esse bastante desejado e valorizado
enquanto opo de lazer e de prtica de atividade fsica; contudo, muitas vezes, em
razo das menores exigncias quanto aos esforos fsicos realizados pelos seus
praticantes, nem sempre so suficientes para repercutir positivamente quanto s
eventuais modificaes na funo orgnica. Assim, parece correto supor que a prtica de
esporte dever exigir nveis satisfatrios de sade; no entanto, a prtica de esporte no
dever, necessariamente, ser utilizada como recurso de preservao e melhoria da
sade.
Sade, doena e bem-estar
Uma tentativa de definio do que se entende por sade torna-se de fundamental
importncia na medida em que a prtica de atividade fsica, exerccio fsico e esporte
direcionada sua preservao e melhoria necessariamente dever exigir decises e
18
atribuies que nortearo a proposio de seus contedos. Conceitualmente, com
alguma frequncia, o termo sade tem sido caracterizado dentro de uma concepo
bastante simplista e vaga, o que leva, s vezes, a interpretaes arbitrrias e
equivocadas que procuram relacionar sade meramente ausncia de doenas ou de
enfermidades. Provavelmente, esse problema surge em razo da sade no ser algo de
apreenso emprica, ou um fenmeno objetivo e diretamente observvel.
Determinadas aes assumidas por rgos governamentais e da iniciativa privada
refletem claramente a viso deturpada oferecida sade. Por exemplo, companhias de
seguro sade cobrem tratamentos e hospitalizaes de elevado custo financeiro quando
diagnosticado alguma doena em seus segurados; contudo, em contrapartida, no
cobrem exames peridicos de custo significativamente menor direcionados preveno e
deteco precoce de eventuais distrbios orgnicos que possam mais tarde se
transformar em patologias de difcil controle. Muitas vezes, esses distrbios orgnicos se
manifestam por conta de hbitos alimentares incorretos, comportamento sedentrio,
prtica insuficiente de atividade fsica, inadequado controle dos nveis de estresse, uso
abusivo de lcool e de drogas e presena de tabaco. Em vista disso, ao adotar esse
procedimento, levantam-se dvidas se a iniciativa refere-se a seguro sade ou a seguro
doena.
Na verdade, sade se identifica com uma multiplicidade de aspectos do
comportamento humano voltados ao completo bem-estar fsico, mental, social e espiritual
[19]. Dentro dessa concepo, no basta apenas no estar doente para se ter sade,
preciso apresentar evidncias ou atitudes que afastem ao mximo os fatores de risco que
possam precipitar o surgimento das doenas.
Ao admitir que muitos sintomas de algumas doenas so consequncia de
estgios mais avanados de maus hbitos de sade, no se pode considerar, por
exemplo, que indivduos, ao apresentarem quantidades de gordura corporal no
compatveis com os limites admissveis, ou ao adotarem um estilo de vida sedentrio e de
prtica insuficiente de atividade fsica, ou ainda, pertencerem ao grupo dos fumantes,
possam demonstrar estado de sade satisfatrio apenas porque, no momento, no
estariam apresentando nenhum sintoma de qualquer tipo de doena. E aquelas
disfunes crnico-degenerativas que se instalam a longo prazo, as chamadas doenas
silenciosas ou no-comunicveis, como o cncer, a osteoporose, a hipertenso arterial, o
diabetes, a hipercolesterolemia, algumas cardiopatias e o aparecimento de complicaes
19
irreversveis, como se enquadrariam dentro do conceito tradicionalmente empregado para
sade, que a v simplesmente como ausncia de doena?
A par disso, os conceitos elaborados quanto ao que vem a ser sade devem ser
objeto de cuidadosa reflexo para que se possa perceber e atuar de forma coerente a fim
de contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Documento
produzido na Conferncia Internacional sobre Exerccio Fsico, Aptido Fsica e Sade,
com finalidade de estabelecer consenso sobre o atual estado de conhecimento nessa
rea, procurou definir sade como condio humana com dimenses fsica, social e
psicolgica, cada uma caracterizada por um continuum com polos positivos e negativos.
Sade positiva estaria associada capacidade de apreciar a vida e de resistir aos
desafios do cotidiano, enquanto sade negativa estaria associada morbidade e, no
extremo, mortalidade [20]
.
Com essa posio, a dicotomia sade e doena passou a sofrer profundas
alteraes no que se refere ideia tradicional de que basta no estar doente para se ter
sade, apontando para uma viso mais abrangente em que essas duas noes
antagnicas devam ser analisadas como fenmenos de um processo multifatorial e
contnuo.
Nessa perspectiva, fica evidente que o estado de ser saudvel no algo esttico;
pelo contrrio, necessrio adquiri-lo e reconstru-lo de forma individualizada e
constantemente ao longo de toda a vida, oferecendo indcios de que sade tambm de
domnio comportamental, e por sua vez, deva ser tratada no apenas com base em
referenciais de natureza biolgica, mas, sobretudo, em um contexto psico-socio-cultural.
A figura 1.2 procura ilustrar o continuum da sade. Cada indivduo pode estar
posicionado em algum lugar dessa passagem entre os extremos da sade positiva e
negativa. No lado esquerdo do continuum encontra-se o ponto mais elevado da sade
positiva, tal como foi definida pela Organizao Mundial da Sade. No lado direito, a mais
alta manifestao de sade negativa, a morte. Na maioria dos casos, antes da morte vem
a doena, a qual precedida por perodo sustentado de comportamento de alto risco.
20
Figura 1.2 Continuum de sade.
Com base nesse pressuposto, chama-se ateno para a necessidade de se
resgatar o conceito de promoo da sade em dissociao da noo de preveno de
doenas. As estratgias associadas preveno de doenas se baseiam, na maior parte
do tempo, sobre a concepo de risco ou probabilidade de se tornar doente; portanto, as
aes intervencionistas visam grupos restritos. No caso da promoo da sade dever
haver maior preocupao com os mltiplos aspectos relacionados com comportamentos
e estilos de vida, em vista disso, seus programas procuram privilegiar atitudes
pedaggicas que visam adequaes quanto aos hbitos individuais [21]
.
Desse modo, percebe-se que, enquanto a promoo da sade tem maior
expressividade fora da prtica mdica, com elevado impacto educacional, a preveno de
doenas apresenta caractersticas eminentemente mdica; sobretudo, quando indivduos
de alto risco so identificados e colocados sob cuidados preventivos especiais. Portanto,
a efetividade dos programas de promoo da sade baseada em aspectos subjetivos e
de difcil verificao a curto prazo, ao passo que programas de preveno de doenas
podem ser monitorados por uma gama de indicadores clnicos.
Ao longo desse sculo verifica-se que a expectativa de vida aumentou
drasticamente. Em nosso pais estima-se que, em mdia, uma criana ao nascer em 1900
apresentava expectativa de vida de somente 42 anos. Atualmente, uma criana pode
esperar viver por volta de 74 anos [22]
. Muitos fatores associados ao aumento da
longevidade podem ser atribudos aos avanos observados na rea da medicina.
Doenas que em dcadas atrs levavam a morte so facilmente tratadas ou prevenidas
nos dias de hoje. Um bom exemplo disso so as doenas parasitrias e infecto-
21
contagiosas. A descoberta e a produo de novos frmacos, os avanos observados na
construo de novos equipamentos teraputicos e o desenvolvimento de tcnicas
cirrgicas mais eficientes tm oferecido tambm maior sobrevida aos portadores de
neoplasias e doenas associadas aos aparelhos cardiovasculares e respiratrios.
Como resultado de uma maior eficincia no tratamento das doenas, levando as
pessoas a viverem por mais tempo, atualmente esforos devem ser direcionados
aquisio e ao aprimoramento do bem-estar. O bem-estar, termo em ingls wellness,
implica na capacidade individual para viver com alegria e satisfao, e poder oferecer
significativa contribuio sociedade. Seus atributos refletem de que maneira se percebe
a vida, assim como capacidade para desempenhar funes do dia-a-dia de maneira
efetiva. Portanto, bem-estar representa importante componente associado qualidade de
vida, sendo essencial na manuteno da sade positiva [23]
.
Como ilustrado na figura 1.3, sade positiva est associada ausncia de
doenas; portanto, a utilizao de estratgias que procurem afastar os fatores de risco
predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento das disfunes orgnicas so
fundamentais nesse sentido. Entretanto, percepo de bem-estar, com consequente
repercusso na qualidade de vida, torna-se crtico no alcance de nveis mais elevados de
sade positiva.
Figura 1.3 Associao entre sade, doenas, bem-estar e qualidade de vida.
Consistente com a noo de que sade positiva inclui dimenses relacionadas
com o bem-estar, se caracterizando; portanto, como algo alm do que simplesmente
ausncia de doenas, tem-se procurado adotar como principal meta no somente
garantia de maior longevidade, mas sobretudo, aumento na expectativa de vida saudvel.
Nesse aspecto, percebe-se a efetividade das aes voltadas maior longevidade,
22
contudo, infelizmente, informaes provenientes de pases desenvolvidos mostram que,
em mdia, seus habitantes usufruem no mais do que 84% dos anos de vida de maneira
saudvel [24]
. Os 16% restante so caracterizados por graves comprometimentos nos
componentes de bem-estar. No Brasil, infelizmente no se conhece levantamentos
estatsticos nesse sentido. Ainda, comprometimento no bem-estar parece no ser
problema exclusivo daqueles indivduos com idades mais avanadas. Muitos adultos
jovens apresentam dificuldades em alcanar nveis satisfatrios de bem-estar em
consequncia de disfunes e limitaes orgnicas que podem prejudicar
extraordinariamente a qualidade de vida. Procurar garantir melhor qualidade de vida em
todas as idades to importante quanto aumentar a quantidade de anos vividos. Em
adio ao aumento dos anos de vida, meta fundamental na rea da sade pblica
adicionar vida aos anos vividos.
Para os epidemiologistas quando algum vem a falecer antes dos 65 anos
considera-se morte prematura. Os quatro fatores mais importantes responsveis por
mortes ocorridas prematuramente nas sociedades ocidentais so apresentados na figura
1.4. Aspectos associados biologia humana, os quais inclui predisposio gentica ao
aparecimento e ao desenvolvimento de disfunes orgnicas, respondem por somente
pequena proporo das causas de morte prematura. Adaptaes no meio ambiente e
promoo de melhorias nos sistemas de atendimento mdico podem tambm reduzir
substancialmente a quantidade de morte prematura, contudo parece que a opo mais
interessante na tentativa de minimizar esse problema a promoo de atitudes
direcionadas adoo de um estilo de vida saudvel [25]
.
52%
22%
16%
10%
Servios
de Sade
Biologia Humana
Meio Ambiente
Estilo de Vida
Figura 1.4 Fatores contribuintes de morte prematura.
23
Nesse particular, promoo de estilos de vida saudvel pode resultar em aumento
na sensao de bem-estar, o que crtico no alcance de melhores nveis de sade
positiva. O modelo de bem-estar mais frequentemente sugerido pelos especialistas da
rea assume atributos que agem de forma coordenada e integrada envolvendo
basicamente cinco domnios do comportamento humano: social, emocional, fsico
intelectual e espiritual [23]
.
A princpio, assume-se forte interdependncia entre os cinco domnios, ainda que
possam vir a atuar separadamente. Por exemplo, ao reunir grupo de indivduos para
prtica de exerccio fsico pode-se alcanar notveis benefcios ao bem-estar fsico.
Porm, pode-se simultaneamente vivenciar experincias socialmente enriquecedoras e
intelectualmente estimulantes na medida em que seus integrantes devero apresentar
maior domnio de conhecimento sobre a capacidade funcional do corpo humano. Essas
experincias podem tambm auxiliar na minimizao dos nveis de estresse emocional.
Em cada domnio existe oportunidade do indivduo evoluir, e, por conta da interao entre
os domnios, crescimento em uma rea dever repercutir favoravelmente em outras
reas. Desse modo, equilbrio entre os cinco domnios torna-se importante fator na
tentativa de alcanar elevados nveis de bem-estar.
Domnios especficos associados ao bem-estar esto relacionados ao conceito de
corpo-e-mente. Os atributos vinculados aos domnios social, emocional, intelectual e
espiritual esto estreitamente associados com a mente, ao passo que os atributos
reunidos no domnio fsico esto relacionados fundamentalmente com o corpo.
Entretanto, todos esses atributos se relacionam de tal forma que distrbios ou
perturbaes em um deles podem induzir a disfunes de cunho mental e/ou corporal.
Frequentemente o termo sade psicolgica tem sido empregado para contemplar aqueles
comportamentos de sade que influenciam a mente, enquanto o termo sade fsica
utilizado para expressar comportamentos de sade que influenciam o corpo.
A figura 1.5 procura ilustrar a interao entre corpo-e-mente e possveis fatores
contribuintes na ocorrncia de disfunes fsicas e psicolgicas. Portanto, disfunes de
origem fsica podem induzir a disfunes psicolgicas, e vice-versa. Exemplificando,
perturbaes no domnio fsico, como hbitos inadequados quanto prtica de atividade
fsica e escolha de alimentos, devero contribuir para o desenvolvimento do excesso de
gordura corporal (sade fsica), o que poder contribuir para situaes de baixo
autoconceito e autoestima. De maneira inversa, menor convivncia social poder induzir
ao aparecimento de sintomas depressivos (sade psicolgica), o que dever contribuir
24
para o aparecimento da obesidade por conta da adoo de comportamento sedentrio e
do excessivo consumo de alimentos.
Baixo Auto-conceito
Dis
fun
es P
sic
ol
gic
as
Baixa Auto-estima
Isolamento Social
Estresse Excessivo
Dis
fun
es F
sic
as
Sedentarismo
Dieta Inadequada
Uso de Tabaco
Consumo de lcool
Figura 1.5 Interao entre comportamentos de risco e disfunes fsica e psicolgica.
Aptido fsica relacionada ao desempenho atltico e sade
Embora se possa identificar sua importncia para a prtica de atividade fsica,
definio exata quanto aptido fsica no tem sido aceita universalmente. Aptido fsica,
tambm conhecida como condio fsica, uma traduo de physical fitness na
terminologia anglo-saxo. Tradicionalmente, muitas de suas definies procuram
privilegiar unicamente as capacidades individuais direcionadas prtica de esporte de
rendimento, com a falsa idia de que, para apresentar bom estado de sade e bem-estar,
necessrio demonstrar elevada condio atltica.
Contudo, mais recentemente comeou a surgir uma srie de questionamentos
quanto nfase atltica oferecida aptido fsica, fundamentalmente quanto ausncia
de atributos especficos relacionados de maneira efetiva ao melhor estado de sade.
Assim, nas ltimas dcadas o conceito de aptido fsica passou a apresentar significativa
evoluo, saindo do campo da convenincia, da tradio atltica, do senso comum e da
orientao exclusivamente esportiva, para incorporar princpios norteadores alicerados
em pressupostos desenvolvidos com base em informaes produzidas cientificamente.
A Organizao Mundial da Sade procura fazer referncia aptido fsica como a
capacidade ou o potencial em realizar trabalho muscular de maneira satisfatria [19]
. Por
essa concepo, estar apto fisicamente significa apresentar condio que permita ao
25
indivduo um bom desempenho quando submetido a situaes que envolvam esforo
fsico.
No entanto, mais recentemente, em consequncia de novos achados associados
relao atividade fsica, exerccio fsico e sade vem se tentando reformular o conceito
at ento atribudo aptido fsica. Nesse particular, alguns estudiosos tm procurado
caracterizar a aptido fsica como estado dinmico de energia e vitalidade que permite a
cada indivduo no apenas realizar as tarefas do cotidiano, as ocupaes ativas das
horas de lazer e enfrentar emergncias imprevistas sem fadiga excessiva, mas tambm,
evitar o aparecimento das disfunes hipocinticas, enquanto funcionando no pico da
capacidade intelectual e sentindo alegria de viver [20]
. Por essa definio, pode-se
entender que os ndices de aptido fsica so moduladores dos atributos voltados
capacidade de realizar esforo fsico que venham garantir a sobrevivncia dos indivduos
em boas condies orgnicas e psicolgicas no meio ambiente em que vivem.
Considerando a multidimensionalidade que envolve a atividade fsica em relao
ao esforo fsico e o fato de seus atributos apresentarem diferenas quanto
contribuio que possa oferecer ao desempenho atltico e sade, os componentes da
aptido fsica necessariamente devero ser considerados em duas vertentes: aqueles
voltados aptido fsica relacionada sade e aqueles que se identificam com a aptido
fsica relacionada ao desempenho atltico. Uma clara distino entre as caractersticas
dos componentes direcionados aptido fsica relacionada sade e ao desempenho
atltico poder auxiliar no estabelecimento de metas e estratgias a serem adotadas na
prtica de atividade fsica e exerccio fsico que procuram atender promoo da sade.
Na figura 1.6 so apresentadas descries dos componentes da dimenso funcional-
motora associados aptido fsica relacionada sade e ao desempenho atltico e
respectivas definies.
A aptido fsica relacionada sade abriga aqueles atributos biolgicos que
oferecem alguma proteo ao aparecimento e ao desenvolvimento de distrbios
orgnicos induzidos pelo comportamento sedentrio e pela prtica insuficiente de
atividade fsica. Portanto, tende a ser extremamente sensvel prtica de atividade fsica
e de exerccio fsico. Em contrapartida, a aptido fsica relacionada ao desempenho
atltico inclui aqueles atributos biolgicos necessrios exclusivamente prtica mais
eficiente de esporte [8]
.
Enquanto a prtica de algumas modalidades de esporte exige componentes
especficos da aptido fsica relacionada ao desempenho atltico, outras solicitam o
26
envolvimento simultneo de vrios componentes. Assim, em adio aos aspectos
relacionados sade, que so fundamentais na rea esportiva, os componentes
especificamente direcionados aptido fsica relacionada ao desempenho atltico
incluem a agilidade, o equilbrio, a coordenao, a potncia e as velocidades de
deslocamento e de reao. De maneira geral, os componentes da aptido fsica
relacionada exclusivamente ao desempenho atltico apresentam relao bastante
limitada com melhor estado de sade, razo pela qual, em funo do escopo deste
material, optou-se por abordar neste texto to somente os componentes da aptido fsica
relacionada sade.
A importncia relativa de cada um dos componentes voltados aptido fsica
relacionada sade pode variar dependendo do gentipo, da idade e dos hbitos de
vida; no entanto, todos demonstram relao bastante estreita com melhor estado de
sade. Em termos conceituais, entende-se por aptido fsica relacionada sade como a
capacidade de: (a) realizar as atividades do cotidiano com vigor e energia; e (b)
demonstrar traos e capacidades associados a um baixo risco de desenvolvimento
prematuro de distrbios orgnicos induzidos pela falta de atividade fsica [8]
.
Aptido Fsica Componente Definio
Resistncia Cardiorrespiratria
Capacidade do organismo em se adaptar a esforo fsico que exige transporte da massa corporal por perodo de tempo relativamente longo.
Fora Muscular
Capacidade de produzir tenso mxima por grupo muscular especfico.
Relacionada sade
Resistncia Muscular Capacidade do grupo muscular em manter nveis de submximos de trabalho fsico por perodo de tempo elevado.
Flexibilidade Capacidade de amplitude de articulao especfica, ou de grupo de articulaes, quando solicitada na realizao de movimentos.
Agilidade Capacidade de trocar rapidamente posio do corpo
no espao com velocidade e preciso
Equilbrio Capacidade de sustentao esttica ou dinmica do
corpo por determinado perodo de tempo.
Relacionada capacidade atltica Coordenao
Capacidade de utilizao de rgos e sistemas com outros segmentos corporais, permitindo execuo de tarefas motoras com suavidade e preciso.
Potncia Capacidade de conjuno entre fora e velocidade na
27
execuo do trabalho muscular.
Velocidade de Movimento
Capacidade de executar movimentos repetidos na mais alta possvel velocidade individual.
Velocidade de Reao
Capacidade de reagir a estmulos no menor tempo possvel.
Figura 1.6 Descrio dos componentes funcional-motores da aptido fsica.
Dentro dessa concepo, fazem parte da aptido fsica relacionada sade
aqueles componentes que apresentam relao diretamente proporcional ao melhor
estado de sade e, adicionalmente, demonstram adaptaes positivas prtica regular
de atividade fsica e exerccio fsico. Portanto, implica a participao de componentes
voltados s dimenses morfolgicas, funcional-motora, fisiolgica e comportamental.
A dimenso morfolgica rene aqueles componentes que se identificam com a
composio corporal e a distribuio de gordura corporal que apresenta alguma relao
com o melhor estado de sade. A dimenso funcional-motora engloba a funo
cardiorrespiratria, representada pelo consumo de oxignio, e a funo msculo-
esqueltica, que atende aos ndices de fora muscular, resistncia muscular e
flexibilidade. A dimenso fisiolgica, tambm denominada de aptido fisiolgica, inclui
aqueles componentes em que alguns valores clnicos so mais desejveis que outros na
preservao do melhor funcionamento orgnico. Neste caso, os componentes
considerados so a presso arterial, a tolerncia glicose e a sensibilidade insulnica, a
oxidao de substratos, os nveis de lipdios plasmticos e o perfil das lipoprotenas. A
dimenso comportamental refere-se aos componentes relacionados tolerncia ao
estresse figura 1.7.
28
Figura 1.7 Componentes da aptido fsica relacionada sade.
Dimenso morfolgica
Atualmente, existe grande quantidade de evidncias que permitem afirmar que o
excesso de peso corporal, muitas vezes, assume importante papel na variao das
funes metablicas, constituindo-se, portanto, em um dos fatores de risco mais
significativos associado ao aparecimento das doenas crnico-degenerativas. Uma das
implicaes dos efeitos deletrios do excesso de peso corporal na manuteno do melhor
estado de sade a sua associao com uma quantidade tambm mais elevada de
gordura corporal. Pesquisas recentes indicam que maior contedo de gordura corporal,
independentemente do peso corporal, contribui de forma decisiva para o aparecimento de
hipertenso, hiperlipidemia e diabetes, contribuindo para o surgimento de complicaes
metablicas e cardiovasculares [26-28]
.
Por outro lado, to importante quanto o excesso de peso corporal custa de maior
acmulo de gordura o seu dficit. A reduo excessiva de peso corporal pode induzir o
organismo a srias complicaes, notadamente no que se refere produo e
transformao de energia para a manuteno das condies vitais e para a realizao
das tarefas do cotidiano. Ainda, muitas vezes por razes estticas, se provoca
propositadamente redues excessivas de peso corporal mediante dietas hipocalricas
extremamente rigorosas, induzindo a importantes desvios psicolgicos associados ao
comportamento alimentar: anorexia nervosa e bulimia [29]
.
29
O padro de distribuio da gordura corporal tambm apresenta implicaes
bastante interessantes para a sade. Informaes provenientes de estudos recentes tm
apontado o padro de distribuio da gordura corporal como fator de risco mais
importante para condies de morbidade e mortalidade que o prprio maior acmulo de
gordura corporal por si [30,31]
. Esta maior importncia vem sendo atribuda estreita
associao observada entre algumas complicaes metablicas e a maior concentrao
de gordura na regio abdominal, independentemente da idade e da quantidade total de
gordura corporal. Evidncias clnicas e epidemiolgicas demonstram que um padro
centrpeto de distribuio anatmica de gordura corporal caracterizado por risco relativo
duas vezes maior para condies de morbidade e mortalidade que um padro
generalizado [32]
.
Dimenso funcional-motora
A funo cardiorrespiratria definida operacionalmente como a capacidade do
organismo em se adaptar a esforo fsico moderado, envolvendo o transporte da massa
corporal por perodos de tempo relativamente longos [33]
. Portanto, requer participao
bastante significativa dos sistemas cardiovascular e respiratrio para atender demanda
de oxignio atravs da corrente sangunea e manter, de forma eficiente, o trabalho
muscular.
Informaes quanto aos nveis de capacidade aerbia refletem, entre outros
fatores fisiolgicos e metablicos, os aspectos relacionados produo e ao transporte
do oxignio e a sua participao na mobilizao e na utilizao dos substratos
energticos na manuteno do trabalho muscular. Logo, quando o indivduo exposto a
um esforo fsico, os msculos ativos demandam quantidades crescentes de oxignio
para que se possa atender produo de energia necessria s contraes musculares.
Desse modo, os indivduos que apresentam nvel mais elevado de capacidade aerbia
tendem a apresentar maior eficincia nas atividades do cotidiano e a recuperar-se mais
rapidamente aps realizar esforo fsico mais intenso.
Em vista disso, muitas vezes a funo cardiorrespiratria tem sido admitida como
componente de maior relevncia da aptido fsica relacionada sade. Alm do que,
menores nveis de capacidade aerbia podem ser identificados como antecedentes nas
coronariopatias e em outras doenas crnico-degenerativas [34]
.
30
A funo msculo-esqueltica universalmente reconhecida como de grande
importncia na aptido fsica relacionada sade, destacando-se trs componentes de
particular interesse: fora muscular, resistncia muscular e flexibilidade.
Ao definir fora como o nvel de tenso mxima que pode ser produzido por um
grupo muscular especfico, e resistncia muscular como a capacidade desse mesmo
grupo muscular em manter nveis submximos de trabalho muscular por perodo de
tempo mais elevado [33]
, constata-se que esses dois componentes da aptido fsica
devem ser considerados moduladores da eficincia do sistema msculo-esqueltico.
A manuteno de adequados ndices de fora e resistncia muscular torna-se
importante mecanismo da sade funcional, notadamente no que se refere preveno e
ao tratamento de problemas posturais, articulares e de leses msculo-esquelticas [35,36]
.
Debilidades de fora e resistncia apresentadas pelos msculos do tronco so
consideradas indicadores de risco predisponentes as lombalgias, assim como indivduos
que demonstram ndices satisfatrios de fora e resistncia muscular devero estar
menos expostos a fadigas localizadas e a menor aumento da presso arterial quando
submetidos a esforo fsico mais intenso [37]
. ndices adequados de fora e resistncia
muscular desempenham, tambm, importante papel na regulao hormonal e no
metabolismo de alguns substratos, particularmente na sensibilidade insulnica dos tecidos
musculares em intensidades mais elevadas [38,39]
.
Outro componente no menos importante na funo msculo-esqueltica da
aptido fsica relacionada sade a flexibilidade. Conceitualmente, a flexibilidade tida
como a capacidade de amplitude de uma articulao isolada ou de um grupo de
articulaes, quando solicitada na realizao de movimentos [33]
.
Os ndices de flexibilidade resultam da elasticidade demonstrada pelos msculos
associada mobilidade das articulaes. As articulaes se mantm estveis em razo
de ligamentos, tendes e cpsulas existentes nas respectivas estruturas, compostas
fundamentalmente por tecidos conectivos elsticos. Portanto, se todos esses diversos
tecidos conectivos, alm do tecido muscular, apresentarem bom estado de elasticidade,
se conseguir-se- manter ndices satisfatrios de flexibilidade. Por outro lado, a falta de
exerccio fsico adequado poder desencadear processo de enrijecimento desses tecidos,
restringir a amplitude dos movimentos e comprometer os ndices de flexibilidade.
Indivduos que apresentam ndices de flexibilidade satisfatrios tendem a mover-se
com maior facilidade e so menos susceptveis a leses quando submetidos a esforo
31
fsico mais intenso, e geralmente apresentam menor incidncia de problemas na esfera
steo-mio-articular [40]
. Dificuldades de movimentos envolvendo as regies do tronco e do
quadril, em consequncia de menores ndices de flexibilidade nessas regies, tm
demonstrado elevada associao com o aparecimento e ao desenvolvimento de desvios
posturais [41,42]
, e muitas vezes com problemas lombares crnicos irreversveis, levando
ao desconforto, dor, s incapacidades e queda no rendimento das atividades do
cotidiano, o que limita enormemente a qualidade de vida dos indivduos.
Dimenso fisiolgica
A presso arterial resulta da interao do trabalho cardaco mediante ao de
contrao e relaxamento de seus msculos e da propriedade de elasticidade dos vasos
sanguneos, destinados a absorver a fora que o sangue exerce contra suas paredes.
Com isso, os valores de presso arterial demonstram ser importantes indicadores
relacionados eficincia do sistema de bombeamento e circulao do sangue.
Durante ao de contrao (sstole), o ventrculo esquerdo ejeta sangue para
dentro da aorta e suas ramificaes. O pico de presso no interior das artrias o que se
denomina de presso sistlica. Na sequncia, ocorre ao de relaxamento do trabalho
cardaco (distole), mediante a qual o sangue retorna dos pulmes at o trio esquerdo e
deste para o ventrculo esquerdo. Neste perodo, a presso arterial atinge valores mais
baixos, o que se denomina de presso diastlica. Em assim sendo, presso sistlica
oferece indicaes quanto tenso que age contra as paredes arteriais durante a
contrao ventricular. Em contrapartida, presso diastlica proporciona estimativas
quanto resistncia perifrica e facilidade com que o sangue flui das arterolas para o
interior dos capilares.
Em relao hemodinmica, presso arterial mais elevada dever induzir
sobrecarga adicional ao trabalho cardaco, acompanhada de danos irreversveis s
paredes internas das artrias, caracterizando-se, portanto, como um dos fatores de risco
de maior significado relacionado ao surgimento e ao desenvolvimento das doenas
coronarianas aterosclerticas.
Outra condio que demonstra clara relao com melhor estado de sade so os
nveis de lipdios plasmticos. Os lipdios so de grande importncia fisiolgica e devem
ser transportados pelo plasma sanguneo para todo o organismo. Como os lipdios so
insolveis em gua, que o principal ingrediente do sangue, entra em ao um sistema
de transporte constitudo por partculas macromoleculares que lhes servem de veculo.
32
No entanto, essas partculas so compostas no apenas por lipdios como o colesterol,
os fosfolipdios e os triglicerdeos, mas tambm por protenas especiais conhecidas como
apoprotenas. Esse complexo lipdios-protenas chamado de lipoprotenas.
Considerando que os lipdios demonstram ser menos densos que as protenas,
quando as lipoprotenas apresentam maiores quantidades de lipdios, notadamente de
colesterol, em comparao com as protenas, diz-se que as lipoprotenas so de baixa
densidade (low-density lipoproteins ou LDL-C). Por ser o principal transportador de
colesterol na circulao sangunea, responsabilizando-se por cerca de 50-60% do
colesterol armazenado nas clulas, a lipoprotena LDL-C contribui diretamente para as
alteraes nas paredes internas das artrias, podendo levar ao desenvolvimento das
placas aterosclerticas.
De forma antagnica, as lipoprotenas de alta densidade (high-density lipoproteins
ou HDL-C) so as protenas que se apresentam em maiores quantidades em relao aos
lipdios. A principal funo da lipoprotena HDL-C transportar o colesterol dos tecidos e
da corrente sangunea em direo ao fgado para excreo ou sntese em cidos biliares.
Portanto, essa lipoprotena apresenta relao inversa com as doenas das coronrias,
caracterizando-se, at mesmo, como o parmetro lipdico mais poderoso na preveno
das ateroscleroses.
Um terceiro tipo de lipdio sanguneo a lipoprotena de densidade muito baixa
(very low-density lipoproteins ou VLDL-C). Esse complexo tambm apresenta maiores
quantidades de lipdios que de protenas; no entanto, neste caso, os lipdios consistem
basicamente de triglicerdeos em vez de colesterol. Um alto nvel de lipoprotenas do tipo
VLDL-C est intimamente associado aterosclerose progressiva, razo pela qual nveis
mais elevados de triglicerdeos devem ser evitados, mesmo com leituras de lipoprotenas
nos limites desejados.
Em sntese, enquanto a LDL-C favorece a formao de placas gordurosas nas
paredes internas das artrias, induzindo obstruo do fluxo sanguneo, a HDL-C tem a
funo de remoo dos depsitos de lipdios. Desse modo, valores elevados do
componente ligado ao HDL-C so benficos para o melhor estado de sade; ao passo
que maiores quantidades de LDL-C predispe ao desenvolvimento da aterosclerose,
podendo causar problemas cardacos, cerebrais e de irrigao nos membros inferiores.
33
Em vista disso, a melhor opo para se analisar o perfil das lipoprotenas a
aferio da proporo entre o seu nvel total ou o contedo de todas as lipoprotenas
combinadas, e apenas a quantidade de HDL-C.
A intolerncia glicose tambm importante componente da dimenso fisiolgica
da aptido fsica relacionada sade. A expresso mais grave da intolerncia glicose
o diabetes mellitus; no entanto, quadro de hiperglicemia assintomtica j aumenta
significativamente o risco de aparecimento de complicaes cardiovasculares.
O diabetes mellitus constitui-se em um grupo de distrbios metablicos que
apresenta em comum produo inadequada de insulina pelo pncreas. A insulina
responsvel por promover o transporte da glicose atravs da membrana celular para sua
oxidao subsequente. Assim, a insuficincia insulnica tem como consequncia a
dificuldade da clula em utilizar a glicose como fonte de energia, elevando o nvel
circulante desse acar no sangue hiperglicemia.
Com base nos fatores etiolgicos do distrbio, tm sido propostas diferentes
classificaes de diabetes mellitus. A do tipo I, ou insulino-dependente, ocorre quando
nenhuma quantidade de insulina secretada e o indivduo necessita de insulina para
controlar o nvel de glicemia. A do tipo II, ou no-insulino-dependente, caracteriza-se
quando o pncreas pode produzir insulina mas no em quantidades que satisfaa s
necessidades do indivduo.
Apesar da intolerncia glicose estar associada hipertrigliceridemia,
hipertenso, a valores elevados de LDL-C e a valores baixos de HDL-C, os riscos de
desenvolvimento de doenas coronarianas aterosclerticas duas vezes maior nos
homens e trs vezes maior nas mulheres diabticas do que nos indivduos no-
diabticos.
Evidncias mais recentes tm demonstrado tambm que as caractersticas de
oxidao dos substratos energticos, com o indivduo em repouso ou em condies de
esforo fsico, so importante indicadores da eficincia metablica. Do ponto de vista de
promoo da sade, metabolizar maior proporo de lipdios do que de carboidratos, em
diferentes situaes de esforo fsico, a caracterstica metablica desejvel. A
associao entre as caractersticas de oxidao dos substratos energticos e o melhor
estado de sade est na significativa relao observada entre um metabolismo de lipdios
menos eficiente e um maior acmulo de gordura corporal, notadamente nas regies da
cintura e do quadril.
34
Quanto ao papel da prtica de atividade fsica e exerccio fsico na preservao
dos componentes da dimenso fisiolgica da aptido fsica relacionada sade, tem sido
demonstrado que esforo fsico de intensidade moderada e de longa durao pode agir
positivamente na presso arterial [43]
, nos nveis de glicose circulante no sangue e na
produo de insulina [44]
, na maior participao dos lipdios como fonte de energia [45]
e
nos nveis de lipdios plasmticos, mediante reduo na quantidade de lipoprotenas total,
LDL-C e triglicerdios, e concomitante elevao do HDL-C [46]
.
Dimenso comportamental
De conformidade com estudos prospectivos, o nvel de ansiedade e de tenso
demonstrado pelo indivduo pode repercutir favorvel ou desfavoravelmente em seu
estudo de sade. Desse modo, saber conviver com o estresse emocional induzido pelo
cotidiano tambm dever contribuir para se alcanar uma vida mais saudvel.
Apesar das dificuldades em delimitar os aspectos emocionais, tendo em vista o
fato dos indivduos em situaes estressantes geralmente adotarem tambm hbitos
menos saudveis em outros aspectos (fumam e bebem mais que o usual, praticam
menos atividade fsica, no se exercitam, exageram na alimentao, fazem uso de
drogas, etc.), bastante ntida a associao entre o maior nvel de estresse e o aumento
do risco de doenas cardacas [47,48]
.
Os mecanismos que envolvem essa relao ainda no foram claramente descritos;
no entanto, especula-se estarem associados ao sistema nervoso simptico e secreo
de catecolaminas. As evidncias indicam que os indivduos que apresentam padro de
comportamento mais exacerbado o que designado por padro de comportamento do
tipo A esto mais sujeitos a elevados nveis de estresse do que os que apresentam
padro de comportamento menos conflitante ou padro de comportamento do tipo B.
Os indivduos portadores de padro de comportamento tipo A se caracterizam por
apresentar traos de personalidade que os tornam excessivamente perfeccionistas,
exigentes e competitivos. Demonstram senso exagerado de premncia de tempo e de
agressividade, levando-os, com frequncia, insatisfao pessoal bastante acentuada.
Esses indivduos parecem estar comprometidos em competir incessantemente consigo
mesmos e com os outros.
Em contrapartida, o padro de comportamento do tipo B, ao contrrio do tipo A,
raramente levado por desejos de obter cada vez mais ou de participar de vrias
atividades ao mesmo tempo. Os indivduos com esse padro de comportamento podem
35
at apresentar pretenses similares aos do tipo A, porm de forma menos obsessiva,
preservando assim seu aspecto emocional.
Com base nesses pressupostos, parece claro que aqueles indivduos que
demonstram traos de personalidade com inclinao para padro de comportamento do
tipo A somente conseguiro minimizar os efeitos dessas caractersticas nos nveis de
estresse mediante mudana voluntria em seus estilos de vida. Nesse particular, estudos
tm mostrado que a prtica de atividade fsica e de exerccio fsico pode agir
positivamente nesse campo. Alm da ao tranquilizante que leva sensao de bem-
estar, o esforo fsico induz o organismo a maior produo dos hormnios conhecidos
como endorfinas, desencadeando reaes bioqumicas que podem diminuir os nveis de
estresse, mantendo-os em nveis satisfatrios [49]
.
Paradigmas sobre as relaes atividade fsica, aptido fsica e sade
Os modelos conceituais ou paradigmas que procuram explicar as relaes
observadas entre atividade fsica, aptido fsica e sade vm sendo objeto de contnuas
revises e transformaes. Nesse particular, atualmente, dois modelos vem se
destacando: (a) o paradigma centrado nos nveis de aptido fsica; e (b) o paradigma
orientado prtica da atividade fsica [20]
.
O paradigma centrado nos nveis de aptido fsica baseia-se no pressuposto de
que o elemento principal nas relaes entre atividade fsica e sade a aptido fsica
figura 1.8. Portanto, esse modelo estabelecido com base nas supostas relaes
lineares que se inicia com a prtica de atividade fsica, cuja repercusso para a sade
modulada mediante os nveis de aptido fsica. O modelo assume que a prtica de
atividade fsica tende a interferir favoravelmente nos nveis de aptido fsica, e, em
consequncia do aumento nos nveis destes, dever haver melhora no estado de sade.
Atividade
FsicaTarefas Domsticas
Ocupao Profissional
Lazer e Tempo Livre
Exerccio Fsico
Esporte
Aptido
FsicaMorfolgica
Funcional-Motora
Fisiolgica
Psicolgica
Sade
Bem-Estar
Morbidade
Mortalidade
Figura 1.8 Paradigma das relaes atividade fsica e sade centrado na aptido fsica.
36
O modelo tambm procura chamar ateno para o fato de que os nveis de prtica
da atividade fsica e o estado de sade esto relacionados aos nveis de aptido fsica de
maneira recproca. Dessa forma, os nveis de aptido fsica dos indivduos influenciam e
so influenciados pelos nveis de prtica de atividade fsica e pelo estado de sade. Ou
seja, quanto maior o nvel de prtica de atividade fsica mais elevado os ndices de
aptido fsica, e na medida que se eleva os ndices de aptido fsica maior dever ser o
nvel de prtica de atividade fsica. No caso da relao aptido fsica e sade, quanto
mais elevado os ndices de aptido fsica melhor dever ser o estado de sade, e vice-
versa, quanto melhor o estado de sade mais elevados devero se apresentar os ndices
de aptido fsica.
Contudo, as fragilidades demonstradas pelo modelo podem suscitar dvidas que,
pelo conhecimento existente na rea, tornam-se de difcil equacionamento. Por exemplo,
todos aqueles indivduos considerados aptos fisicamente apresentam bom estado de
sade? Ou ainda, quais ndices de aptido fsica podem assegurar bom estado de
sade?
Por outro lado, no paradigma orientado prtica de atividade fsica estabelece-se
relaes mais complexas entre os elementos envolvidos figura 1.9. Neste caso,
assume-se que melhores condies de sade no so estabelecidos unicamente por
ndices mais elevados de aptido fsica, sendo que, a relao de seus componentes com
a sade ocorre mediante importante interao com fatores associados ao estilo de vida,
s condies ambientais, aos atributos pessoais e aos aspectos relacionados
hereditariedade que podem afetar a inter-relao entre atividade fsica, aptido fsica e
sade.
37
Figura 1.9 Paradigma das relaes atividade fsica e sade orientado prtica de
atividade fsica.
Por esse modelo, os nveis de prtica de atividade fsica passam a apresentar
duplo impacto sade. Primeiro, mediante esforo fsico que induz adaptaes morfo-
funcionais e fisiolgicas que repercutem favoravelmente os ndices de aptido fsica
relacionada sade; e segundo, por intermdio de esforo fsico que, mesmo induzindo
discretas alteraes nos ndices de aptido fsica, em razo da inter-relao com outros
fatores, tambm favorece melhor estado de sade. Dessa forma, a aptido fsica deixa de
ser elemento central do modelo e o protagonismo tende a se inclinar para os nveis de
prtica de atividade fsica.
Confrontando ambos os modelos, verifica-se que o paradigma centrado nos nveis
de aptido fsica vincula a prtica de atividade fsica na busca constante de ndices mais
elevados de aptido fsica. Portanto, procura adotar perspectiva voltada a esforo fsico
na busca de melhor estado de sade cada vez mais exigentes no que se refere
intensidade, ao volume e frequncia. Em contrapartida, o paradigma orientado prtica
de atividade fsica procura privilegiar esforo fsico mais moderado, em que o importante
no so as solicitaes funcionais e motoras que possam induzir a adaptaes orgnicas
de alto nvel, mas sim, o dispndio de energia associado ao esforo fsico realizado.
Desse modo, o paradigma orientado prtica de atividade fsica alcana
abrangncia de atuao bem mais elevada que o centrado nos nveis de aptido fsica.
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Em vista disso, pode ser considerado por maior quantidade de indivduos, sobretudo por
aqueles at ento sedentrios ou menos capazes fisicamente, ou seja, teoricamente, os
mais necessitados em termos de sade. Recorda-se que, muitas vezes, as diretrizes
preconizadas por parte da literatura, voltada prescrio de esforo fsico direcionado
preservao de melhores ndices de aptido fsica, tornam-se incompatveis para aqueles
indivduos que no so suficientemente condicionados fisicamente [50]
.
Outro argumento que pode favorecer a adoo do modelo orientado prtica de
atividade fsica so evidncias de que uma perspectiva de promoo da sade est mais
em consonncia com a prtica de atividade fsica envolvendo esforos moderados, e de
que as caractersticas quanto quantidade e qualidade do esforo fsico necessrio
para alcanar benefcios sade diferem daqueles que se recomenda para a obteno
de ganhos significativos nos ndices de aptido fsica [51]
. Em outras palavras, os maiores
benefcios sade mediante a prtica de atividade fsica so alcanados quando se
desloca do estgio de inatividade fsica para nveis moderados de prtica de atividade
fsica, ou de baixos para moderados ndices de aptido fsica relacionada sade. No
entanto, os benefcios tendem a estabilizar quando se passa de nveis moderados para
elevados de prtica de atividade fsica, ou de moderados a elevados ndices de aptido
fsica [52]
figura 1.10.
Figura 1.10 Relao entre nveis de prtica da atividade fsica e benefcios para sade.
Em sntese, o paradigma orientado prtica de atividade fsica est mais prximo
de uma viso menos sistematizada e exigente que o centrado na aptido fsica. Deve-se
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levar em conta tambm que, quando o indivduo pratica atividade fsica se v envolvido
em um amplo processo adaptativo com repercusso nos diferentes domnios do
comportamento humano, enquanto no caso da aptido fsica pretende-se alcanar
prioritariamente cada vez melhores resultados ou um produto associado melhor funo
orgnica. Portanto, parece que os benefcios mais significativos sade se encontram no
processo de prtica de atividade fsica, e no, necessariamente, na busca de nveis de
excelncia atltica ou comparando os nveis de aptido fsica com os de outros
indivduos.
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