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ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 03-2014 – Julho- Setembro-2014 CARRANCA Folclore é o Bicho! 48ª Semana Mineira de Folclore 18 a 22 de agosto de 2014

Carranca 3 2014 - Comissão Mineira de Folclore · Semana Mineira de Folclore como mais uma preparação ... 1918. O país, a Alemanha; o autor, considerado um dos pais da Tradição

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ORGÃO INFORMATIVO DA COMISSÃO MINEIRA DE FOLCLORE – CMFL – 03-2014 – Julho- Setembro-2014

CARRANCA

Folclore é o Bicho!48ª Semana Mineira de Folclore

18 a 22 de agosto de 2014

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Editorial

Somos Sonâmbulos.Sonhei que estavaacordadoAcordei pra verEstava dormindo.

(moda muito tocada nas rádiosmineiras nos anos 60)

Somos todos sonâmbulos. Tomo de empréstimo o título daobra de Arthur Koestler Os sonâmbulos, história das ideiasdo homem sobre o universo. Mais sonâmbulos somos aoescrevermos diariamente nossa história das ideias dos homenssobre nós mesmos.Esta constatação me chega como um clarão em sonho – termopreferido por nosso companheiro Tião Rocha.Constatações de sonâmbulo se afirmam nessas andançasoníricas. Com o desenvolvimento e a ênfase a políticas públicasde “cultura”, surge o nome “cultura popular”. Nas agendasbrotam editais voltados para as “culturas populares”. Nessemeio, um demônio poderoso declara inadequada qualquerreferência à palavra Folclore. Os demônios afirmam em sonho:não adianta ter projetos bons; eles não podem levar o nomedessa palavra execrada: Folclore.A segunda me vem ao insistir num projeto para os estudos doFolclore. Encontrei-me novamente com Talcott Parsonschamando à mesa o espírito de Max Weber. A palavra chavepara Weber responder em espírito foi “Realidades últimas”.Parsons queria mostrar que o Sistema da Ação Social – eudigo, o Sistema das Ciências da Ação Social – sofria duascoações fixas dos ambientes. A primeira do mundo externomaterial, com o qual interagiriam as ciências Econômicas eEcológicas; e a segunda, do mundo das crenças inabaláveisreduzidas a algo como Metafísica. É dessa conversa comParsons que ouço de Crane Brinton: “Quem lê hoje Spencer?É difícil para nós dar conta da magnitude da revolução quearmou no mundo ... Foi o confidente íntimo de um Deusestranho e um tanto insatisfatório, a que chamou princípio daEvolução. Seu Deus o traiu. Superamos, em nossa evoluçãoa Spencer”.Há esperanças nesse mundo de sonâmbulos em que vivemos.A editora da UNESP vem de publicar a última obra de Karl

Popper (2014). O mundo de Parmênides com o subtítulo:“Ensaios sobre o Iluminismo Pré-Socrático”. Eis comoPopper afirma sua própria vida de sonâmbulo (1993) umano anos antes de sonhar definitivamente nos páramosetéreos:

Quando – como estudante, aos 16 anos – lipela primeira vez o maravilhoso poema deParmênides, aprendi a olhar Selene (a Lua) eHélio (o Sol) com novos olhos – os olhosiluminados por sua poesia. (...) Foi, porém, sósetenta anos depois que percebi plenamente osignificado da descoberta de Parmênides (...).Desde então, tenho tentado entender e explicara importância dessa descoberta para o mundode Parmênides, para as Duas Vias, e seuimportante papel na história da ciência e,sobretudo, da epistemologia e da física teórica.

Nessas andanças em torno da mesa dos sonhos, soutentado a convocar Gaston Bachelard; A água e ossonhos; o Ar e os sonhos; A terra e os devaneios davontade; A terra e os devaneios do repouso; Psicanálisedo fogo. Fico somente na vontade. E faço um atalho.Convoco um autor da moda: Zigmunt Bauman.Ensaios sobre o conceito de cultura, publicado emportuguês no ano de 2012. Nessa obra, Bauman retomauma publicação de sua autoria vinda a público no ano de1975. Para justificar a reedição consome mais 81 páginasde Introdução. O que se afirma nelas são palavras fortes.

Dada a velocidade com que os “temasquentes” da moda são substituídos eesquecidos, não se pode saber ao certose as ideias antigas realmenteenvelheceram, sobreviveram ao uso ouforam abandonadas por motivo deobsolescência. (...) Gordon Alport disseuma vez que jamais resolvemosproblema algum, só nos entediamoscom eles. (...)Assim, as ideias devem ser enterradasvivas – muito antes de estarem “bemmortas” -, e sua morte aparente é

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Editorial

apenas um artefato de seudesaparecimento de nosso campo visual.(...) Hoje avançamos não tanto peloaprendizado cumulativo e contínuo, maspor uma mistura de esquecimento elembrança.

No mundo de sonâmbulos das ciências sociais reinam hojedois campos em disputas com seus diabos. O das medidasexatas fincadas em modelos – modelos, repete meu demônio-, e das representações, o mundo das interpretaçõesencenadas.Sou tentado a convocar Clifford Geertz e seus devaneiossobre “O senso comum como um sistema cultural” na obraO saber local. Se a palavra Folclore estivesse em moda, otítulo seria “O senso comum como um sistema do Folclore”.Termos que não assustaram Van Gennep, Sigmund Freud,Durkheim, ou James Geoge Frazer, em suas respectivasépocas. Deixo-os para o leitor em sua mesa.Chamo para conversa Ronald Peacock, A arte do drama,São Paulo: É Realizações, 2011. Enfatizo a descoberta do“senso comum”.

Para termos um ponto de referência,usarei a noção de “realismo ingênuo”,pressupondo um mundo de senso comumem virtude do qual poderemos falar devárias visões ou “interpretações” dascoisas observadas. (...)Esse mundo acordado das percepçãocomum é de certa forma um mundoseguro; é reconfortante sentir que parque,gramados, lago, árvores e casas estãosolidamente ali e não fugirão. (...) Poroutro lado, quando procuramos descobrira aparência “real” das coisas,interrompemos o que estamos fazendopara buscar um objetivo especial. (...) Etal exame pode nos levar, pela análise, àpercepção conceptual e científica, ou,pelas imagens, à precisão estética.(...)

Imagens-cópias científicas, quepertencem como ilustrações a contextosde pensamento e de teoria são dedicadasa “objetos”, enquanto imagens estéticaspreocupam-se com aparências. Não sepode dizer que as duas sejamcompletamente separadas uma da outra(...)

Tudo isto para preparar o leitor para uma conversa sobre“A arte do Drama” e sua relação com a “teoria daimagística”.O Drama está na moda, não se sabe até quando, nem emqual momento será enterrado vivo. Performance é, hoje,linha de pesquisa em universidades nas área de ciênciassociais. No meio de tudo isto, vejo o Folclore, enterradovivo, revolvendo a terra com unhas poderosas para vir àluz do sol, ou aos raios da lua. De preferência de uma luabem cheia para assombrar os crentes nos poderes de Selene.É este o esforço da Comissão Mineira de Folclore paracelebrar, às noites deste mês de agosto de 2014, a 48ªSemana Mineira de Folclore como mais uma preparaçãopara XVII Congresso Brasileiro de Folclore que aconteceráno ano de 2015.

José Moreira de Souza

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Comissão Mineira de Folclore: Política eCiência como VocaçãoNo momento em que a Comissão Mineira de Folclore seprepara para sediar o XVII Congresso Brasileiro de Folclore,uma das conversas importantes é examinar e discutir suamissão. No dia 18 de agosto será aberta a XLVIII – leia-se48ª – Semana Mineira de Folclore. É uma data importantepara celebrar sobrevida. São cinquenta anos quaseininterruptos que os estudiosos do Folclore se reúnem paraconversar sobre os estudos realizados, a maioria das vezessem qualquer recurso para comprar o trabalho essencial,apenas pela paixão de compreender os fundamentos do saberviver em Minas Gerais.Esta 48ª Semana Mineira de Folclore é muito especial. Naúltima semana do mês de outubro de 2015, estudiosos doFolclore de todo o Brasil estarão em Minas Gerais paraapresentar seus estudos e ouvir atentamente comentáriossobre o que aprenderam.Nesse período de preparação, é muito importante reler econversar sobre duas conferências proferidas por Max Weberno ano de 1918, na Universidade de Munique: “A Políticacomo Vocação” e “A Ciência como Vocação”. Os estudosdo Folclore se localizam nessa confluência entre Política eCiência.Em primeiro lugar, vale fixar a data: 1918. O país, a Alemanha;o autor, considerado um dos pais da Tradição Sociológica;1918 é o ano do fim da I Guerra Mundial e primeiro daRevolução Socialista que criou a União Soviética. O momentoé importante para uma análise dos tipos de dominaçãopredominantes no Ocidente: “Tradicional”, “Carismático” e“Legal”.Aqui vale fixar a missão do movimento dos folcloristas e suaintenção política. Enquanto movimento, a intenção é “valorizaro estudo do saber popular” como necessário à compreensãode constituição de Estados Nacionais e sua legitimação.Nisso, inúmeros desafios se explicitam. O primeiro são asforças que mantêm os ditos estados e os estudos quedefendem seus próprios processos de legitimação. No casodo Brasil, as forças que mantêm o Estado, antes deconhecerem o seu “povo”, partem da certeza de que temosum povo errado. Portanto, seu saber deve ser combatido,extinto e substituído por outro tipo. Estudos realizados sobrea permanência das desigualdades, apenas servem para firmaressas convicções, sem se colocar a questão do poder depromoção social a partir da compreensão desse saber viverem condições adversas de dominação.Saber viver como gaúcho, como baiano, como paulista, comogoiano, como mineiro não importa à escolha de legitimaçãoda dominação.Da palestra de Max Weber, fixa-se o exame entre viver dapolítica e viver para a política. Questão que tem a ver com aatividade política ocasional ou como vocação. Sobre issotemos como ponto central:

Há dois modos principais pelos quaisalguém pode fazer da política sua

vocação: viver “para” a política, ou viver“da” política. (...) Quem vive “para” apolítica faz dela a sua vida, num sentidointerior. (...) Quem luta para fazer dapolítica uma fonte de renda permanente,vive “da” política como vocação, ao passoque quem não age assim vive “para” apolítica.

Para nos assustar, Weber afirma com convicção:Todas as lutas partidárias são lutas parao controle de cargos, bem como lutas parametas objetivas.

Após longa análise chega-se à questão da ética na política econclui com duas afirmações peremptórias:

É o meio específico de legitimar a violênciacomo tal, na mão das associaçõeshumanas, que determina a peculiaridadede todos os problemas éticos da política.(...)Somente quem tem a vocação da políticaterá certeza de não desmoronar quandoo mundo, do seu ponto de vista, fordemasiado estúpido ou demasiadomesquinho para o que ele deseja oferecer.Somente quem, frente a tudo isso, podedizer, “Apesar de tudo!” tem vocação paraa política.

Nisso, o movimento dos folcloristas se encontra numa sinucade bicos. Faz a opção por viver “para” a política, mas nãoobtém meios através da política para manter as condiçõesmateriais de subsistência do movimento. Defende o estudodo saber popular contra as teorias que preconizam “a violêncialegitimada” e a burocracia que esconde essa legitimação. Lutapelo reconhecimento do poder do povo sem poder.Há que relembrar o aforismo de Nietzsche muito convenientepara a consciência ética dos estudiosos de Folclore, sobre aTirania da Verdade:

Ou poder se põe do lado da verdade, oua verdade se põe do lado do poder, casocontrário a verdade fracassará sempre!

Eis aí o vínculo entre “política como vocação” e “ciênciacomo vocação”. Vence a Verdade que estiver do lado dosque vivem da política e acreditam poder viver da Ciênciacomo Vocação.Max Weber se debruça sobre esta questão a partir da seguintepergunta:

Quais as perspectivas para o estudanteformado que resolve dedicar-seprofissionalmente à ciência na vidauniversitária?

Para isto, dedica sinteticamente na palestra do assunto quefoi seu objeto de pensamento nos Ensaios Reunidos sobreMetodologia das Ciências Sociais. Examina em primeirolugar as condições externas da vocação: como sãoselecionados os vocacionados; detém-se em seguida para a“vocação íntima”, distinguindo o diletante do especialista.Aprofundado nesse assunto, explicita que a vocação deve

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Notícias & Comentários

aliar “entusiasmo de trabalho” para distinguir, em seguida adiferença e a relação entre ciência e arte. A parte final dapalestra resume sua preocupação recorrente: o problema daneutralidade valorativa nas ciências, Ciência como livre detodas as pressuposições.Cabe, portanto perguntar quem determina as pressuposiçõesda Ciência?Ao relacionar política e ciência, há defesa de uma divisão dotrabalho. As precondições do trabalho científico são funçãoda dominação burocrático legal e o cientista deve se sentirvocacionado para o trabalho sem fazer demagogia, ou seja,sem se imiscuir na utilidade do fazer ciência.No caso dos estudos de Folclore, este é o desafio. Nãoporque tais estudos se distanciem da “objetividade” prescritapelas doutrinas que legitimam a atividade científica, masporque, esses estudos resistem submeter-se à ordem daburocracia; obedecem a imperativos morais que determinamcompreender o saber local sem distanciamento – é o meusaber, eu vivo ou vivi, não me é estranho, eu o compreendosem exigência de vigilância epistemológica.Esta introdução busca um diálogo com os “cientistas porvocação” que escolheram estudar as assim chamadas“Ciências Sociais” – Sociologia, Antropologia, Economia,Ciência Política, História, Comunicação, Educação.Privilegiou-se Weber porque esse autor se insere na tradiçãoda formação dessas ciências.Os cientistas sociais trabalham orientados pelasdeterminações da ordem distante, termo cunhado por HenriLefebvre para contrastar com a ordem próxima, esfera dovivido, da também chamada “vida quotidiana”, “mundo davida” ou contexto empírico onde se encontram os sujeitosencarando e resolvendo problemas emergentes.No caso do estudioso do Folclore, a ordem próxima temprioridade sobre a ordem distante. Tomem-se dois exemplos– o leitor encontrará nas resenhas deste boletim outrassituações.Certa vez, eu fazia entrevistas para uma pesquisa que recebeuo nome de “Pesquisa Socioeconômica Rotinizada”, noformulário de pesquisa perguntava-se sobre moradores dosdomicílios, profissão, ramo de atividade, local de trabalho erendimento de cada um.Pois bem, entrevistei a dona da casa a qual tinha ao lado seufilho com idade aproximada de dez anos. Perguntei: -A pessoa 3 trabalha?Resposta da dona da casa: Não.Aparte da criança: Trabalha, sim mãe. Ele não está fazendoisto e aquilo?Quanto à pessoa 4, fiz a mesma pergunta e recebi e mesmaresposta da entrevistada seguida do aparte do filho de 10anos.Nesse momento, a mãe incomodada, repreendeu a criança:“Cala a boca, menino. Você não sabe que isto é para oGoverno?”Eis a diferença entre ordem próxima e ordem distante. Essasenhora tinha tudo para ser folclorista. Conhecia plenamentea ordem próxima e sabia com essa ordem interessava à

ordem distante. Ao governo interessado em retratar a vidalocal para impor interpretações.Segundo exemplo. Regra geral, em muitos trabalhos deconclusão de curso, os autores elaboram formulários deentrevistas e saem a “campo” com roteiros ou questionários.Os roteiros de entrevistas abertas são o melhor exemplo deliberdade para uma boa conversa com os “primitivos”estudados. Pois bem, como a maioria dos pesquisadores nãoconhece a ordem próxima da qual se aproximam, qualquerresposta é satisfatória e merecerá, posteriormente análise einterpretação segundo modelos prescritos pelos manuais eexperiências dos orientadores.No caso do estudo de Folclore isto faz a maior diferença noque diz respeito à compreensão. Certo companheiro seencantou com a habilidade de um senhor de contar histórias.Passou a visitar sistematicamente o grande narrador;entusiasmou-se tanto que o reconheceu como “profissional”,contador vocacionado, cuidou de remunerá-lo após cada visita.Certa vez, chegou antecipadamente à casa desse novelprofissional e o encontrou preparando-se para a visita. Ocontador, ao se profissionalizar, buscava em livros de contosmais uma história.O estudioso de Folclore não cairia nessa armadilha deconstruir um objeto de pesquisa para entender relaçõesestranhas a ele mesmo. Parte-se da vida cotidiana vivida,sem necessidade de interpretar com recursos externos. Paratal há que viver e não apenas “participar” de relações deuma dada comunidade.Ao examinar o caso brasileiro, merece atenção especial aleitura da obra do professor Fernando Correia Dias:Construção do Sistema Universitário no Brasil. Brasília:CRUB, 1989. Nessa obra fica clara a relação entre “as pré-condições” como determinantes da prática científica.Nesse estudo, Fernando, além de discutir a “política daspesquisas técnico-científicas”, destaca exposição feita pelo,então, reitor da UFMG, professor José Henrique Santos, decuja palestra destaco apenas um dos contrastes entre“Universidade tradicional e Universidade crítica”.

A Universidade permanece neutra em relação aosproblemas sociais e não os discute.A Universidade se coloca diante dos problemassociais concretos e os discute.

Tratando especificamente da UFMG, em outro estudo,Fernando enfatiza a nossa “tradição ilustrada” na obraUniversidade Federal de Minas Gerais: Projetointelectual e político, editada para comemorar 70 anos daUniversidade – 1997.

Aqui jamais terá entrada a intriga política. Masnão haverá força capaz de estrangular o gritode protesto, quando – seja quem for – investircontra a consciência brasileira. [1927]Uma Universidade, para que receba o nome, temde ser um centro de propagação da cultura, pelaformação de indivíduos aptos para a atividadematerial e mental no ambiente nacional, Não bastaisso: é imprescindível que seja um núcleo

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Obras incorporadas ao acervo do Centro de Celebração de Minas da ComissãoMineira de Folclore – abril a agosto de 2014

permanente elaboração científica (...) Mais: deve seruma instituição nacional e, até certo ponto, local, pararefletir as características do povo que a mantéme para acudir às necessidades peculiares do meioem que trabalha.

O destaque à fala do primeiro reitor, Mendes Pimentel,autoriza Fernando a enumerar quatro características damissão da Universidade em Minas Gerais: centro deFormação Profissional. Elaboração Científica, Fidelidade àCultura Brasileira, e Responsabilidade e compromisso social.Tudo desse belo discurso ficaria apenas nos registroshistóricos se, em meio ao Movimento Modernista, nãobrotasse a bandeira que preceitua:

Ouvir o povo é curso universitário (Câmara Cascudo)Acrescida do

Não vá ensinar folclore ao povo, mas aprender comele.(Oswaldo Rodrigues Cabral)

Contraposto ao que se estuda na Universidade a conclusãoainda hoje, agosto de 2014, é que se estudam os hábitos do“povo” com conclusão antecipada:

Nós temos um povo errado!Estes esclarecimentos têm como objetivo apresentar as obrasencaminhadas recentemente à Comissão Mineira de Folclorepara compor seu acervo. Espera-se com isto fazer ressurgiro Centro de Informações Folclóricas, no qual os estudiosospoderão dialogar com o que há de melhor nos relatos erelatórios do saber viver. Esta é a missão dos estudiosos doFolclore.

José Moreira de Souza

Obras incorporadas ao acervo do Centro de Celebração de Minas da ComissãoMineira de Folclore – abril a agosto de 2014

Comentam-se obras encaminhadas recentemente para compor o acervo da Comissão Mineira de Folclore. A maioria sãodoações. Temos a obrigação de colocá-las disponíveis para consulta com o objetivo de cumprir nossa missão comoCentro de Referência para o estudo do Folclore em Minas Gerais.Um centro de referência se consolida, quando pessoas de diferentes lugares o têm como ponto de acolhida de seusestudos. Pelo que se vê, isto se dá com a Comissão Mineira de Folclore. Contudo, faltam condições materiais, ainda, paraque as obras acolhidas possam ser amplamente consultadas, não apenas como se dá em bibliotecas, mas como oportunidadede diálogo com os autores e seus leitores.

Em Busca da TradiçãoNacional [1947 -1964]. Riode Janeiro: Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular/Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional.2008. [DVD/Livro]

Brasis Revelados: 50 anos doCentro Nacional de Folclore eCultura Popular.Rio de Janeiro:IPHAN/CNFCP, 2008

As duas obras foram encaminhadas para comporem o acervo da Comissão Mineira de Folclore com a seguinte dedicatóriade Antônio Henrique Weitzel: “À Comissão Mineira de Folclore à vista de ter eu recebido dois exemplares. Juiz de Fora, 23/5/14”.Essas obras celebram meio século de fundação da “Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro” nome convertido para“Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular”.A consulta a uma e outra não merece leitura solitária. É oportunidade para uma roda de conversa. Para aguçar a curiosidadesobre a importância de ambas publicações, registram-se as palavras introdutórias de Cláudia Márcia Ferreira, Diretora doCentro Nacional de Folclore e Cultura Popular:

As conquistas desses 50 anos foram muitas, e todas desafiadoras para seu tempo.Da criação da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro em 1958, sob a orientação de RenatoAlmeida, como fruto do grande movimento capitaneado pela Comissão Nacional de Folclore, aosinúmeros congressos de folclore por todo o país, podemos ressaltar o êxito na implantação de umalinha de política pública que, em certa medida, rompia com a ideia de cultura centrada apenas nosvalores e modelos de comportamento europeus. A gestão posterior, de Edison Carneiro, vai consolidar

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Obras incorporadas ao acervo do Centro de Celebração de Minas da ComissãoMineira de Folclore – abril a agosto de 2014

o trabalho de pesquisa, implantariniciativas como a criação da BibliotecaAmadeu Amaral e enfrentar os terrores daditadura.Na década de 1970, com o Museu deFolclore já criado e denominado numajusta homenagem – Edison Carneiro -, aconquista da primeira sede própria, à ruado Catete 179, é um marco deperseverança e dedicação daqueles queatuavam na Campanha , que com visãode futuro e desejo de reconhecimentopara a missão institucional, sob direçãode Bráulio Nascimento, a transformaramno Instituto Nacional do Folclore, naestrutura da Fundação Nacional de Arte– Funarte.

Nem tudo foram flores. A Comissão Nacional, a Campanhade Defesa do Folclore Brasileiro, o Instituto que atravessaram

os anos turbulentos da ditadura, tendo obtido apoio de AmáliaLucy Geisel – “Você não gosta de mim, mas sua filha gosta”,cantou Chico Buarque de Holanda -, viverá turbulênciasmaiores no interior do primeiro presidente eleito diretamentepelo “povo”. A autora afirma com firmeza: “maisrecentemente, podemos ainda destacar, na históriainstitucional, o período desastroso do governo Collor”.Nessas obras há referência a um autor importante: LuizRodolfo Vilhena e sua obra Projeto e Missão. Mas valeacrescentar. Nosso companheiro Oswaldo Giovanini Júniorofereceu contribuição recente para a compreensão domovimento dos folcloristas no Brasil com destaque para Airesda Mata Machado Filho e a Comissão Mineira de Folclore.Sortilégios do Registro: Aires da Mata Machado, osvissungos e os negros do garimpo em Minas Gerais. Estaobra mereceu o prêmio Silvio Romero criado pela Campanhade Defesa do Folclore no ano de 1959. É nosso dever lutarpela sua publicação.

Eu sou o cerrado/Eu souo Rio São Francisco. Ivodas Chagas. Montes Claros,Editora Unimontes, 2014.

Esta obra de Ivo Chagas é a mais recente a contemplarduas realidades do território mineiro e de sua formaçãoespacial: o cerrado e o Rio São Francisco.Sobre o autor. Petrônio Braz sintetiza Ivo das Chagas comestas palavras: “Homem do rio, Ivo das Chagas foi barqueiro,canoeiro, pescador, vapozeiro e plantador de vazante em suasbarrancas”. Com explicação tão lisonjeira certas áreas deleitores acadêmicos descartariam a leitura como registro devivência de capiau. Contudo, exatamente, para seduzir essetipo de leitor preconceituoso, o prefacionador frisa. O autoré “Mestre em Geografia pela Universidade de Bordeaux”.Daí seguem as inúmeras láureas acadêmicas e o percursocomo professor universitário, condecorações e medalhar mil.Tal leitor deverá conceder pelo menos que “Ivo das Chagasé um capiau de elevada ilustração. Um capiau ilustrado”.De capiau ilustrado para capiau ilustrado, o autor convidouDomingos Diniz para apresentá-lo ocupando as duas orelhas– les deux oreilles, ficaria mais bem dito -, de uma obra deverso e reverso.Ao adquirir o livro, o leitor é surpreendido por armadilhas doautor: Quem está de cabeça para baixo? Se for encantadopelo apelo, “Eu sou o Rio São Francisco”, para ler “Eu sou ocerrado”, deverá virar o livro de baixo para cima e o SãoFrancisco fica de cabeça para baixo, de “ponta cabeça”,como dizem os paulistas. Se se encantar com “Eu sou ocerrado”, a situação se inverte. Belas armadilhas metafóricas.

Homem de vivência, certamente, o autor foi se descobrindofolclorista ao longo da vida. A metáfora do médium é a quemelhor se assenta nessa aventura. De tanto viver, de tantose ilustrar para falar do vivido, Ivo descobre que ele e cerrado,ele e o rio são a mesma coisa. Sou o cerrado, sou o rio e oleitor é convidado a ouvir a voz do cerrado, a voz do rio. Ivotorna-se o boneco do ventríloquo. O Rio fala e Ivo abre aboca como se fosse ele a dizer; o cerrado fala e Ivo abre aboca... Rio e Cerrado são o centro da cena, manipulam oboneco e permanecem aparentemente silenciosos.O leitor não pode perder o que se apresenta nas orelhas – lesoreilles -: “Mergulhei de corpo e alma nos originais destelivro que você, leitor, tem em mãos” (...) “O autor é dessesque dominam os muitos caminhos do conhecimento humano.(...) Apaixonadíssimo por música, vejo o livro de Ivo dasChagas como um poema sinfônico, onde se alternam traçospoéticos e dramáticos. A música se faz ouvir, ora suave, mansanas campinas a se perderem de vista. Ora “presto”,“prestíssimo”, vindo dos buritizais das veredas. Ora gravedas matas ciliares e das galerias.”Aqui se revela Domingos Diniz, grande capiau ilustrado.O opção editorial de Ivo é também manifesto de como éimportante retonar ao “povo”, após saraus com brindes ao“Le cerrado Brésilien” – pronuncie-se “lê cerradô brasilian”- e outras aventuras em línguas.A obra esconde a proposta-desafio do autor. Vale a penaestudar nos livros didáticos recheados de sistematizações semapelo ao real, ao vivido? Ouvir o cerrado, escutar o SãoFrancisco é mais do que decorar onde nasceu, quais são seusafluentes da margem esquerda ou da direita, como se configurao cerrado, qual diversidade comporta. É principalmenteconhecer para responder à pergunta; “Quais as relações doshomens comigo” e retomar a pergunta crucial dasustentabilidade: Que cultura é essa que estamos criando comou sem respeito à natureza?

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F l o r e s t a sAnãs do Ser-tão: o cerradona história deMinas Ge-rais. RicardoFerreira Ri-beiro. BeloH o r i z o n t e ,A u t ê n t i c a ,2005.

Sertão, lugar de-sertado: o cerradona cultura de Mi-nas Gerais.Ricardo Ferreira Ri-beiro. Belo Horizon-te, Autêntica, 2006.

Prezado leitor, você já imaginou uma tese de doutorado quepara ser publicada precisou ser apresentada em dois volu-mes ocupando cerca de 400 páginas cada uma? Curiosa-mente, algumas teses que abordam o Sertão têm esse porte.A primeira que me ocorre é Prometeu no Sertão, econo-mia e sociedade na capitania das Minas dos Matos Ge-rais, de João Antônio de Paula. Realmente, o sertão é ummundo. Porém, a tese do professor Ricardo Ferreira Ribeirofoi mais longe. A de João Antônio ocupou cerca de 900 pági-nas e a de Ricardo Ribeiro, 1200.O saber não se mede pelo número de páginas, mas a ampli-tude do tratamento do tema por esses autores é um bomquestionamento à academia quando se contempla oparadigma fordista imposto ao tratamento dos objetos deestudo. Para os trabalhos de conclusão de cursos acadêmi-cos, chamados TCC, recomenda-se 30 páginas. Para asmonografias de lato sensu, até 45; para os mestrados, até90; e para os doutorados, 200 páginas é o limite. Privilegia-se a produtividade. Tempo gasto para leitura pelo professororientador, economia de tratamento do conhecimento da partedo aluno. Há um preceito maroto altamente fordista em tudoisto. “Vá por etapa. Agora é apenas um Trabalho de Conclu-são de Curso”. Deixe o resto para o curso de especializa-ção, de mestrado, de doutorado, de pós-doutorado”. Pensa-mento em linha de montagem.O pobre do orientador quando se depara com um aluno am-bicioso, regra geral, se perde no emaranhado de sua ignorân-cia.Ricardo Ribeiro, certamente, foi um desses alunos. O moçochegou à academia carregado de vivências. A dissertaçãode mestrado em Sociologia – UFMG – já o denuncia:“Campensinato: resistência e mudança – caso dos atingidospor barragens no Vale do Jequitinhonha MG”; porém, é natese “Certão-Serrado”: História Ambiental, Etnoecologianas Relações entre Populações Tradicionais de MinasGerais e o Bioma do Brasil Central que o autor se mostrapleno. Pelo título, o leitor já vive a confusão e os eruditoslogo são tentados a fazer correções no mundo da vida.

A aventura seguinte foi de obter recursos para publicação.Seguramente, sem apoio do Ministério do Meio Ambiente, aobra ainda adornaria os relatórios da CAPES. Para edição,o título original da tese recebeu novo nome de batismo man-tendo, contudo a série, volume I e volume II. Apesar disso,os dois volumes podem ser lidos independentemente. De fato,o autor, dedicou à Comissão Mineira de Folclore apenas oprimeiro deles, embora o segundo seja do mais elevado inte-resse para os estudiosos de Folclore.O primeiro volume é, principalmente, de história. O capítuloI de dedica a apresentar o objeto de estudo: “Históriaambiental, Etnoecologia, Cerrado como bioma do Brasil Cen-tral”. O segundo aborda a “Pré-história do Sertão Mineiro”;origens do bioma e presença humana são diretrizes para opercurso histórico. O terceiro capítulo examina historicamenteas culturas aborígenes no cerrado mineiro. O quarto é dedi-cado à presença dos bandeirantes e as trocas com o sabertécnico dos indígenas. O quinto trata da Economia, ouro, gado,engenhos, agricultura, pesca, indústria de tecidos e vestuá-rio. O sexto coloca em relevo as relações de poder, o “go-verno dos arraiais”, as rebeldias, motins, quilombos. Por úl-timo, o sétimo diz do “Progresso rumo ao sertão”. Panta rei,diria o autor, em homenagem a Heráclito: O Sertão interessaa uma nova ordem de estudo e intervenção.O Segundo Volume é um primor de modelo de pesquisa paraos estudiosos de Folclore. Ricardo selecionou quatro comu-nidades a partir do estudo sobre a formação histórica doSertão-Cerrado, ou do certão-serrado; Uma do altoJequitinhonha, outra do Norte de Minas, a terceira do Noro-este e a última do Triângulo Mineiro. À dispersão geográfi-ca aliou-se o critério da diferença de formação: identidadeindígena predominante, identidade camponesa formada porlavradores, vaqueiros, ou artesãos, e comunidades negras.A partir da página 325 o leitor poderá se deliciar com oscuidados do autor para desenvolver o estudo. Apresentaçãodo roteiro de pesquisa, uma sequência de quadros que exi-bem a diversidade das comunidades estudadas e a progra-mação do “Seminário de devolução dos resultados da Pes-quisa de Campo”.

O Sertão Cerrado de Ricardo Ferreira Ribeiro

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Domingos Diniz: Rio Abaixo: vaqueirose mulheres de muque. Belo Horizonte:Mazza, 2014

Meu pai obrigou-me a estudar, já que havia gi-násio na cidade. Encanchei-me na sela da buro-cracia do serviço público. Vadeei veredas,córregos e rios das letras, embora continuassemem meus ouvidos os cantos dos carros de bois edo aboio.Tento nadar no poço-perau da poesia. Tentovencer as águas duras da semântica. Tentofluir na vargem da musicalidade das palavras.Tento pentear os cabelos louros da mãe d’águadas metáforas. Tento deitar-me na rede, nasnoites quentes e sentir a fresca dos hipérbatos.Tento amansar os oximoros como se amansauma potranca xucra. Tenho tutano para tudoassuntar nas ciladas dos ritmos, dasgradações, das aliterações e das imagenspoéticas?

Um texto que já nasceu antológico. Quem não conhece Do-mingos Diniz, depois de ler Rio Abaixo, certamente faráquestão de conhecê-lo pessoalmente, ao vivo e a cores. Maisque isso, ficará aguardando a oportunidade de ser convoca-do para o rolezinho a bordo do Benjamin Guimarães paraviver os tempos de glória da navegação do Rio São Francis-co.Domingos tem uma marca reservada a poucas pessoas; aaparente simplicidade altamente erudita com todas as mar-cas do saber popular. Esse moço caçula, cujos irmãos ultra-passam o centenário, é atual em suas recordações do passa-do. Desse passado que se atualiza brota a atenção para aspérolas da vida cotidiana.Rio Abaixo é modelo disso. A maneira sedutora da escolhade pessoas, cenários e títulos é saborosa. Veja, por exemploo título escolhido para a terceira parte da obra: “Dos altosGerais e das beiradas do São Francisco ecoam os nomes devocês, vaqueiros, assim no cerrado como no céu.” O leitorimediatamente completa: “Um Pai Nosso, uma Ave Maria eum Glória ao Padre. Amém.”A atenção fina para o que faz diferença no cotidiano se des-taca em cada capítulo das três partes em que se divide aobra. Apenas para aguçar a curiosidade do leitor e apressá-lo a adquirir e degustar o livro, apresento pequeno trecho deuma narrativa carregada de beleza com a descoberta de re-finada ironia, ou do “riso aberto, franco e arrazador” a quese refere Baktin. Domingo apresenta a valorosa mulher demuque “Sá Martinha”. Era uma senhora moradora na peri-feria urbana, como existem tantas em todas as povoaçõesdeste nosso Brasil, pátria amada, idolatrada.Agora vamos à narrativa de Domingos sobre as condiçõesde vida na periferia.

Como em todas as outras casas doBarreiro, na de Sá Martinha não haviasanitário. Fazia-se as necessidades no

fundo do quintal,atrás da bananeira

ou na beirada do Corguinho.Então, o Serviço Especial de Saúde Pú-blica (Sesp), do governo federal, resol-veu dotar todas as casas do Barreiro deuma sanitário. Coisa simples. Um biombode cimento pré-fabricado e, no centro, afossa com um assento.Chegaram à casa de Sá Martinha trêsfuncionários do Sesp. Uma visitadorasanitária, uma assistente social e um ter-ceiro, de cuja função não me lembro.Feitos os cumprimentos de praxe, a assis-tente social falou dos objetivos daquelavisita. Seria instalado no quintal da casao sanitário. Sá Martinha ouviu muitoatenta. Deixou que os agentes do gover-no falassem tudo que tinha de falar. Suacasa estava limpinha. O chão varridinho.(...) Uma cruz de palha de coco-babaçubenta no Domingos de Ramos. Uma es-tampa de São José. Um pote de água friano canto da casa. Na cozinha, umas tra-lhas de folha de flandres e o fogão com ofogo apagado. Nem cinza tinha. SáMartinha, com seu jeito gozador, pôs asmãos na cintura e disse com voz bem cla-ra:- Vocês podem voltar e dizer ao seu dou-tor que, em vez de me mandar a casinha,antes tem de mandar o de-comê. Vocêspodem ver ver, o fogo está apagado.Bernardo anda na cumeeira da casa, hámuito tempo – arrematou Sá Martinha.

A fixação desse caso provoca o “riso arrasador”. Domingose Sá Martinha estão juntos e convocam o leitor para, do fun-do do riso, se unir à indignação perante a insanidade, insalu-bridade e irracionalidade da pseudo racionalidade burocráti-ca das políticas públicas. Sá Martinha prega o profundo sa-ber calcado na razão popular. Domingo ouve e prega para omundo.Esta obra será lançada oficialmente no dia 20 de agosto emcerimônia promovida pela Comissão Mineira de Folclore.

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Antônio de Paiva Moura. MédioParaopeba e seu Saber Viver. Bonfim:Prefeitura Municipal, 2014.

Esta obra foi apresentada na página do facebook com essesdizeres: “Antonio De Paiva Moura inaugura a série “Condi-ções do Saber Viver em Minas Gerais” com a obra: MédioParaopeba e seu Saber Viver. Não poderia ser diferente.Moura concebeu e implantou o Centro de Informações Fol-clóricas da Comissão Mineira de Folclore, nos anos 80 doséculo passado, publicou o Dicionário Bibliográfico deAssuntos Mineiros nos anos 90 e criou condições para quea Comissão Mineira de Folclore se tornasse o maior centrode referência à pesquisa sobre o saber viver em Minas Ge-rais.”O leitor merece uma rápida apresentação do programa: “Con-dições do Saber Viver em Minas Gerais”.Trata-se de um programa abrangente para acolher todos osestudos desenvolvidos ou a serem desenvolvidos pelos estu-diosos do Folclore em Minas Gerais, com a ambição de torná-lo um programa em nível nacional.Simplificadamente parte de duas constatações: A primeira éque os moradores em qualquer lugar buscam meios de sub-sistência segundo o modo de desenvolvimento em que estãoinseridos. Esse modo de desenvolvimento é captado tantopelo senso comum – descoberto segundo as coações ou fa-vores do cotidiano -, ou pelas contabilidades públicas, de acor-do com a necessidade de priorizar determinada agenda deação política dos governos e seus grupos de pressão. A se-gunda se define pelos índices abstratos e pouco acessíveis àpopulação em geral e que se constituem em pauta dos agen-tes públicos para justificarem suas ações.Constata-se que sejam os relatórios, sejam os programas definanciamento de pesquisas aplicadas, sejam as pesquisasacadêmicas explicitam de forma manifesta ou velada as con-dições de viver, sem atenção muitas vezes para os processosdesse saber viver. Disso, resultam políticas equivocadas, àsvezes intencionalmente, de promoção do desenvolvimentosocial, como foi exemplificado no comentário anterior sobreRio Abaixo. Sá Donana corrigiu com seu saber que antes dalatrina é necessário o “de comê”.A atenção para a categoria analítica “Exclusão Social” podeexemplificar a ênfase dada ao programa “Condições do Sa-ber Viver”. O cálculo de “esperança de vida”, as “taxas decrescimento vegetativo”, “índices de desigualdade na distri-buição de renda” de uma dada população são recursos paraorientar políticas de desenvolvimento humano. Porém, aspolíticas elaboradas com base nessas constatações nem sem-

pre visam à promoção social. Muitas delas são simplesmen-te mantenedoras de relações de dominação.Exemplo conspícuo. A vacina contra a varíola se desenvol-veu no final do século XVIII. Seu principal objetivo foi o dediminuir a mortalidade da população escrava, sem qualquerpropósito de extinguir a escravidão.O programa “Condições do Saber Viver” parte, portanto,dessas e de outras constatações. O saber viver merece aten-ção a partir do “Saber Local”, do que é vivido no espaço derelações do cotidiano, do qual o estudioso é parte e partici-pante.Sob esse ponto de vista, o roteiro para obtenção do selo Unicefé um bom modelo. Em primeiro lugar, a população moradoradesenvolve e sistematiza seu conhecimento, em seguida es-colhe um símbolo que sintetize esse conhecimento.Antônio de Paiva Moura inaugura essa linha de estudo daComissão Mineira de Folclore com a publicação de MédioParaopeba e seu Saber Viver. Essa obra resulta de pesqui-sa coordenada pelo autor para estudo dos “resíduos da cultu-ra africana no Médio Paraopeba” a partir de 2006 e desen-volvida conforme as condições para desenvolvê-la até al-cançar recursos para sua publicação no presente ano de 2012.A obra se apresenta é três partes: A primeira “Toponímia doMédio Paraopeba” acompanha a formação regional segun-do o desdobramento em territórios municipais, distritais epovoados. De sua leitura, deduz-se a formação das relaçõesde poder e as coações impostas à vida cotidiana.A segunda parte examina a “Formação Étnica” com desta-que para o indígena, a miscigenação, o negro e a mulatização.A terceira e última parte – a mais longa e devotada ao saberviver - leva o nome de “Estrutura Agrária” e se subdivideem cinco seções: Lutas por espaço; Técnicas rudimentares;Aspectos sociais, o Poder do Clero; Historiografia e tradi-ção oral.Há que sublinhar que Antônio de Paiva Moura nasceu naregião retratada na obra. Isto faz a maior diferença. O domí-nio de técnicas da historiografia, da sociologia, da antropolo-gia é precedido pelo saber viver. Moura nasceu em Moeda,no dia 13 de junho de 1939. É Antônio por duas razões, nas-ceu no dia de Santo Antônio e seu pai era proveniente deSanto Antônio da Vargem Alegre. Isto faz uma enorme dife-rença. O saber viver é também seu – dele. Não resulta do“olhar distanciado” para o qual o pesquisador é obrigado ase desdobrar em exercício para alcançar uma interpretaçãopelo menos coerente.

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Antônio de Paiva Moura. Centenário deBelo Horizonte Folclore – TradiçõesPopulares. [Pesquisa de 1995 a 1996 –trabalho inédito. Belo Horizonte: Funsoft/UFMG, 1997. Acompanha CD]

Antônio de Paiva Moura.Vale doJequitinhonha, Museu de Arte Popular.Projeto de Pesquisa- Textos. Rio deJaneiro: Funarte. Belo Horizonte: EscolaGuignard – UEMG, 1987.[ AcompanhaCD]Trata-se de um relatório de pesquisa e de um projeto quepede continuidade sobre os artistas do Vale doJequitinhonha. Foram levantadas informações gerais detodos os municípios e registradas informações dos principaisartesãos de 15 deles.Tanto o projeto, como o relatório se vinculam ao Centrode Informações Folclóricas apoiados na época pela diretorada Funarte, Lélia Coelho Frota e pela Codevale.As informações constantes da publicação uma vezatualizadas deverão subsidiar o programa da ComissãoMineira de Folclore “Condições do Saber Viver em MinasGerais”.

Trata-se de um relatório de pesquisa desenvolvida pelo autore com bibliografia atualizada até 2013. A pesquisa foicontratada pela Funsoft, a qual não cumpriu as cláusulascontratuais. Com isto, Antônio de Paiva Moura a ofereceupara compor o acervo da Comissão Mineira de Folclore.Consta do catálogo: Artesanato, com informação sobre osartesãos, associações de artesãos, feiras e mostras;Religiões, com seus cultos, contexto, forma de organizaçãoe histórico. Comidas típicas com destaque para osestabelecimentos, peculiaridades e receitas. Festas eExibições distribuídas em religiosas e profanas seguidas deinformação quanto a suas características, histórico, ecalendário. Feiras segundo sua função social ecaracterísticas; finalmente a Linguagem, dividida em Poéticae Narrativas incluindo gírias.

Obras de Daniel Lima Magalhães.

Canudos, gaitas & pífanos, as flautas donorte de Minas. Daniel Lima Magalhães. BeloHorizonte: O autor, 2010.Cancioneiro do Jequitinhonha, 160partituras para flauta. Daniel Lima Magalhães.Belo Horizonte: O autor, 2010.Pífanos do Congado. Documentário com osgrupos musicais. [Vídeo Conceição do MatoDentro e Minas Novas] Daniel Lima Magalhães.Belo Horizonte: O autor, 2008.Canudeiros, documentário sobre ostocadores de flauta e as bandas de taquarado Vale do Jequitinhonha. [Vídeo gravado nosmunicípios de Minas Novas, Capelinha eAngelândia] Daniel Lima Magalhães. BeloHorizonte: O autor, 2011.Bandas de taquara e música de pífano emMinas Gerais. [CD gravado nos municípiosde Minas Novas, Capelinha, Angelândia, Serroe Conceição do Mato Dentro] Daniel LimaMagalhães. Belo Horizonte: O autor, 2007

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Obras de Daniel Lima Magalhães.Daniel Lima Magalhães é uma preciosa prenda da Comis-são Mineira de Folclore, encaminhado e recomendado porAntônio de Paiva Moura. Sua obra na área de pesquisa mu-sical é uma preciosidade,Flautas Tradicionais do Vale do Jequitinhonha é otítulo da conversa que se realizará no dia 19 de agosto nosegundo dia da 48ª Semana Mineira de Folclore. Eis, emresumo a trajetória desse estudioso:

A pesquisa sobre flautas tradicionais no nortede Minas Gerais foi iniciada há cerca de 13 anos,com o objetivo de documentar e fomentar as ra-mificações mineiras de tradições musicais secu-lares envolvendo dois tipos de flautas, o pífano ea gaita. Estas tradições são expressõescongêneres às bandas de pífanos do Nordeste doBrasil, mas que apresentam traços singulares,configurando três tipos de formações distintas,em território mineiro: os grupos de pifeiros noAlto Jequitinhonha, ligados ao congado; as ban-das de taquara, na região de Minas Novas; e asfolias de Santos Reis e São Sebastião do BaixoJequitinhonha, que utilizam a gaita. Com apoiodo programa Natura Musical e da Lei Estadualde Incentivo à Cultura de Minas Gerais, a pes-quisa levou 25 oficinas de fabricação de flautasao Vale do Jequitinhonha e produziu dois livros,dois DVDs e um CD, além da dissertação demestrado “Pipiruí e Caixa de Assovio: tocadoresde pífanos e caixas nas festas de reinado”, de-fendida em 2009, na UFMG. Em 2012, veio o re-conhecimento do IPHAN, com o Prêmio RodrigoMelo Franco de Andrade, em nível estadual enacional, na categoria Salvaguarda de Bens deNatureza Imaterial. De acordo com o IPHAN, oprojeto “Flautas tradicionais do Vale doJequitinhonha” é o registro mais completo dacultura tradicional do Vale do Jequitinhonha atéo momento (out/2012).

Esta rápida apresentação do autor me remete para a arte deconstruir objetos com taquara, bambu, canudo de mamão, ou

de mamona. No meio disso, a descoberta da música, junta-mente com o bodoque, o estoque, o canudo para assoprar efazer bolhas de sabão.Na confecção do estoque – istoque – cantávamos em ritmode batuque:

Istoque, isquito.Istoque para matar mosquito!

Na construção da flauta de bambu/taquara/ canudo de ma-mão, exercitávamos o saber total. É o que Daniel percorrena sua obra. Daniel realiza um dos projetos não desenvolvi-dos por Curto Lange, o de percorrer o Jequitinhonha no en-torno de Minas Novas e Capelinha. Daniel teve esse autorcomo indicador de sendas além da convivência; “A estes[conhecimento empíricos] se juntavam os apontamentos ad-quiridos em Cart Lange sobre pífanos em Diamantina e OuroPreto, no período colonial.”Com efeito, obrigo-me a relatar uma cena humilhante porque passei. No ano de 1967, o professor Fernando CorreiaDias sugeriu-me estudar a sobrevivência da atividade musi-cal erudita na região de Diamantina sob patrocínio do Centrode Estudos Mineiros – então órgão suplementar da Reitoriada UFMG. O projeto foi elaborado em 1968 e ampliado paraalcançar os municípios de Minas Novas, Capelinha eItamarandiba, além de Serro e Conceição do Mato Dentro.Nessa oportunidade, Fernando me recomendou procurar tam-bém Afonso Ávila e Hélio Gravatá. Afonso Ávila se entusi-asmou pelo estudo e logo o recomendou a Curt Lange. Con-cluído o relatório de pesquisa em 1971, Curt Lange, em visitaa Belo Horizonte, procurou-me na Reitoria. O, então, Dire-tor Executivo do Conselho de Extensão, ciente da visita, or-denou que todos os arquivos do Centro de Estudos Mineirosfossem trancados para que o ilustre pesquisador não tivesseacesso a eles. Desse modo, conheci o pesquisador que maisimpressionou em minha vida sem condição de atendê-lo. CurtLange havia visitado a Reitoria com o propósito de conseguirlicença para que eu o acompanhasse até Minas Novas como objetivo de compreender a atividade musical na região doJequitinhonha propriamente dito.Daniel realizou esse projeto 30 anos depois.

Os meninos e o boi. Ong Vokuim: Rubim, MinasGerais: coordenação de Alba Valéria FreitasDutra. [Documentário]

Este é um documentário produzido em janeiro de 2014, re-tratando sinteticamente a complexidade do Boi de Janeiroda cidade de Rubim do Vale do Jequitinhonha. Como nãopoderia deixar de ser, conta com a presença de nosso com-panheiro Rubinho do Vale.Para uma compreensão mais ampla, vale a pena ler e con-versar com a obra de Oswaldo Barroso: Teatro como en-cantamento, bois e reisados de caretas. Fortaleza, Arma-zém da Cultura, 2013. Trata-se de tese de doutoramento damais elevada competência.

As festas de reis no Brasil merecem estudo aprofundado. Eo lugar ocupado pelo boi como componente da religiosidadepopular pode ajudar a desvendar inúmeros segredos de nossosaber viver em condições adversas. No documentário deRubim, alguns aspectos merecem destaque. O início dacelebração no cemitério para prosseguir o percurso, o términona igreja. A crítica social na repartição do boi, tal qual otestamento de Judas no sábado das aleluias, o envolvimentodas crianças e finalmente, o inserção da manifestação popularnas políticas de cultura. A certeza da continuidade e o medoda perda.

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Amelina Chaves. A bruxa que não gostava de escola.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, sem data.Amelina Chaves. Mimi, a boneca de pano. MontesClaros: Editora Saramandaia, 2013Amelina Chaves. O menino que sonhava com asestrelas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 2013.

A montesclarense Amelina Chaves já nos brindou com aobra Folclore Quitute e Amor na qual a autora discorresobre a culinária regional temperada por contos e casos.Editada em 2005, mereceu o selo da Unimontes.Viver em Montes Claros é privilégio; pertencer à famíliaChaves é outro privlégio. Montes Claros das Formigas é acapital do Sertão. Como tal, em meados do século XIX, aselites locais buscaram em Diamantina o modelo de vida ur-bana. Música e seresta passaram a animar a cidade. Nofinal do século, ainda no modelo iniciado em Diamantina,Montes Claros cria indústria têxtil e, ao mesmo tempo, omodelo da União Operária – uma associação de ajuda mú-tua para o operariado. Com todas essas sementes, com acriação da Sudene, na segunda metade do século XX a cida-de se industrializa, torna-se polo de desenvolvimento indus-trial casando a pecuária do Sertão, com a tradição têxtil e ocalcário. Frigonorte, Coteminas, Matsulfur. Ao mesmo tem-po, a cidade se torna ponto de pouso para nordestino embusca da prosperidade no “Sul” – leia-se São Paulo e Paraná-, e de permanência para os que procuram emprego. Sur-gem as periferias nas proximidades do aeroporto e da rodo-via, mas ainda nos anos 70 do século passado, Montes Cla-ros torna-se cidade universitária, superando Diamantina –seu modelo. Afinal, Montes Claros ao longo do percurso cri-ara uma elite universitária reconhecida nos Prates, Veloso,Versiani, Versiani dos Anjos, Lafetá, Ribeiro Pires, Ribeiroque se projetaram na vida universitária de Minas – na UFMG– e no Brasil – Darci Ribeiro jamais será esquecido.Amelina Chaves é atenta para a Montes Claros dos coro-néis, seus jagunços, a submissão erotizada das mulheres,enfim o sertão com o governo dos arraiais. Porém, ao sesentir mãe, avó e agora bisavó, Amelina se dedica a contarhistórias para as crianças, com o mesmo fervor com quenarrou e narra a saga dos sertões.

Neste ano, Amelina doou ao acervo da Comissão Mineira deFolclore, três obras recentes, destinadas ao público infantil.A Bruxa que não gostava de escola é uma conclamaçãoàs crianças para os encantos da leitura.A leitura procura seduzir os adultos para converterem seusfilhos. A bruxa incomodava os vizinhos com seu canto:

Ciranda, cirandinha,Vamos todos bagunçarRasgar todos os livrosE à escola não voltar.

A bruxa é amiga do saci, mas os meni-nos da escola zoavam a bruxa dando-lhe lições de civilidade. Esse ideal decivilidade, contudo, não esconde a vi-são crítica da autora de como as rela-ções criam bruxas que desejam, aomesmo tempo que rejeitam o saberescolar, ou o saber veiculado pelosmeios de comunicação.

Sou a bruxa MiquelinaQuero ser muito boazinhaPra brincar com as criançasDe ciranda, cirandinha.

Sou amiga do saciQueria ser de Emília, tambémSou uma pobre bruxinhaVivo no morro sem ninguém.

Esta é uma obra síntese na qual a autora junta os componen-tes do folclore nacional, saci, negrinho do pastoreio, criaçõesde Monteiro Lobato, e o contexto regional de um povoado dosertão, a Vila Morro Alto – seria “Morrinhos”? – Seria aperiferia de Montes Claros? Seriam os povoados dos distri-tos, como São João da Vereda – Rebentão, Miralta, Ermidinha,São Pedro da Garça, Santa Rosa de Lima? Esta obra, se forbem trabalhada pelos professores, pelos pais e educadores,certamente despertará as crianças para belas conversas so-bre os segredos de viver em Montes Claros.Mimi, a boneca de pano é outra obra de leitura agradáveltanto para adultos quanto para crianças. Amelina desenvolveuma proposta didática importantíssima. Seu objetivo, pelo

Obras de Amelina Chaves

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menos interpreto assim, é favorecer o diálogo entre adultose crianças. O adulto deve se perguntar: com eu fui alfabeti-zado? Quais cartilhas me foram impostas como primeira lei-tura? Amelina encerra o conto com esse registro:

“FIM(Qualquer dia – ano de 1950)”

O referente é o Livro de Lili no qual a geração do final doano 40 e início dos 50 foi alfabetizada, pode ser também alição de Mimi, aprendida nos bancos escolares comointerpretação das heroicas professoras dos anos 20:

Mimi era uma gatinha queolhava com tanta atençãopara as letras que pareci-da dizer: Mimi era umagatinha.Amelina detém as chavesdo saber entreter crianças.A criança – Bia – é dona daboneca Mimi. A trama éexcelente. Mimi é umaboneca de pano. Ela sonha

em ser uma Emília, e conversa com Bia coisas que só asduas entendem. A boneca vive nos - e dos - afagos deBia.A mãe, porém, descobre um mundo melhor de brinque-dos para a filha. Há um mundo novo que fabrica bonecasque não desbotam, não envelhecem. Enquanto a meninadorme, a mãe tira-lhe a companheira preferida e atira-a nofundo do baú. A menina se entristece ao perder a compa-nheira. Mimi permanece escondida até que Tininha – adona baratinha – a descobre e sai para pedir socorro. Acasa entra em polvorosa. Um exército de baratas apontapara o que se esconde e Bia reencontra sua bonecaamada.Amelina conclui seu sonho de folclorista:

Com certeza, no futuro, Mimi vai reali-zar seu sonho, de um dia qualquer, notempo e na história de faz de conta, elaestar nas páginas de um livro, desafian-do o luxo das bonecas modernas.

Sonho desnecessário, Mimi já está no livro e aqui neste co-mentário. A ilustração de Alberto Ventura Lima tambémmerece menção pela elevada sensibilidade à criação da au-tora.O menino que sonhava com as estrelas pode ser entendi-do como manifesto dos folcloristas. É a história de um meni-no cheio de perguntas, às quais ninguém responde. Portanto,as pessoas devem se amarrar na pergunta. Coisa incômoda.Nesse mundo em que a ciência quer responder a tudo, pensaeste leitor, não é possível haver perguntas sem resposta.Amelina amarra o tema com alta competência. Em meio àsperguntas sem resposta, Zeca – este é o nome do herói – sepreocupa com as desigualdades e em conversa com a pro-fessora surge uma resposta: “Se pelo menos o presidente dopaís nos desse condições de ensinar e cuidar bem das esco-las, o futuro talvez fosse melhor.”Zeca acredita que o presidente é a solução para todos osmales e parte em direção a Brasília. O menino, andarilho,peregrino sofre, mas caminha sempre para frente. Dorme

em galho de árvore, dome e sonha na porta de igreja, vêbumba-meu-boi, o qual ilumina o sonho do “Bumba-meu-ca-minhão” real que o conduz até Brasília. Nessa cidade, chegaao Palácio da Alvorada, onde é detido pelo corpo fechado dablindagem burocrática. O presidente não aparece para ouviro povo. “Até no reino encantado do faz-de-conta, estamosfracos e esquecidos” – diz-lhe no mesmo sonho a bruxaMiquelina. Sobrou para ele, em meio aos seres lendários, oencontro a kombi do “Assistência ao Menor”. A assistentesocial o consolou com seu carinho e convenceu-o da “impos-

sibilidade de falar com o presiden-te. Falou dos protocolos que en-volviam essas visitas” [O corpofechado de Luís Santiago. VerRevista Comissão Mineira deFolclore. Nº 26] Deu-lhe comi-da, propiciou-lhe um bom banho,ganhou cadernos e lápis para dis-tribuir para os colegas e foi acom-panhado pela assistente até a ci-dade de onde partira para obter aresposta necessária do Presiden-te.

A leitura dessa obra, destinada aos adolescentes, me faz re-gistrar esses trechos da entrevista realizada pela jornalistaHelena Borges com a moça Eliza Sanzi, publicada na edição2332 de 6 de agosto de 2014, na revista Ist É.

Sou contra a democracia? Ao contrário! Querodemocracia, mas uma democracia de verdade, enão essa falsa de hoje.(...)Que democracia é essa que te obriga a votar, mas,na hora de escutar o povo, não escuta? (...)Os políticos têm que ir para a rua. (...) e nãosaem por quê? Medo. De se queimar, de não seeleger, de perder o poder.(...)No cárcere você entende exatamente o poder doEstado. Não tem como reclamar. (...)Como querer que elas lidem com a paz? Se o pró-prio Estado não lida com a paz, tira os direitosdela.

A Comissão Mineira de Folclore enfatiza sua existência esua missão: Nossa obrigação é lembrar aos governos que o“povo” existe não apenas no momento de votar. Opovo detém um saber que merece ser ouvido.Outra Paz é possívelé será a tônica dominante do XVII Congresso Brasi-leiro de Folclore que acontecerá em Belo Horizonte,na última semana do ano de 2015.Amelina tem 17 livros publicados, entre eles a biografia deHermes de Paula, membro da Comissão Mineira de Folcloree tem ainda no prelo Itacambira; na memória do tempo.Vertambém da mesma autora: Jagunços e coronéis; Priapode ébano; João Chaves, eterna lembrança.publicados pelaeditora Cuatiara, de Belo Horizonte.]

Obras de Edméia Faria

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Edméia Faria. Folclore poético em Pompéu. BeloHorizonte: Mazza, 2000.

Edméia Faria.Flores e Amores.2 ed. Belo Horizonte:Miguilim, 2001

Edméia Faria.Todos acordamos um dia. BeloHorizonte: RHJ, 2001.

Edméia Faria.O Segredo da Rainha. 4 ed. BeloHorizonte: Lê, 1998

Edméia da Conceição de Faria Oliveira nasceu em Pompéu,terra da famosa Dona Joaquina, matriarca das tradicionaisfamílias governamentais de Minas Gerais. Sobre esse assunto,afirma Cid Rebelo Horta: “Através de um casamento queveio dar no político do Império Martinho Álvares da SilvaContagem, os Ribeiro [ Ribeiro-Oliveira-Pena] de Entre Rioligam-se ao talvez mais extenso e vetusto tronco familiar dapolítica de Minas: os Rodrigues Velho-Campos, de Pitangui.”(...) Antônio Rodrigues Velho, figura legendária, conhecidatambém pelo nome “Velho da Taipa”, foi um dos primeirosbandeirantes a chegarem a Pitangui”(...) Um neto desse Velhoda Taipa, chamado Inácio de Oliveira Campos, casou-se comJoaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco, filhade um advogado português instalado em Pitangui e parentedos Condes de Valadares.” Eis sucintamente a terra de queEdméia é herdeira e de cuja água bebeu.A autora se orgulha do isolamento de Poméu. “Terra de boi,boteco e butique”, mas é boi que comanda. “O boi veio como paulista Pompeo Taques. Compôs a paisagem com ostropeiros. Com Dona Joaquina, alimentou a Província, a Cortee as tropas de Dom Pedro nas guerras da independência.Ainda hoje, alimenta a economia do município e a tradiçãode seu povo.”Essa tradição é justificada pelo insulamento. Cercada pelosrios São Francisco, Pará, Paraopeba e Rio do Peixe. Limitesideais para o Reinado de Dona Joaquina.Herdeira desse espaço privilegiado para cercar as tradições,Edméia comenta e registra as cantigas – de ninar, de entretercrianças, e as infantis para, em seguida, se dedicar àsparlendas, mnemonias, quadras, advinhas, fábulas, paródias,cantigas de trabalho e de diversão, cantigas religiosas,provérbios, orações, excelências, e epitáfios.No prefácio, enfatiza Domingos Diniz: Edméia o ordenou detal modo que ficou configurado o ciclo da vida do homem. Ogrande mérito de registro do saber local é o de possibilitarestudos comparativos sobre sotaques do que tende a seruniversal.As obras para crianças e jovens são muito apreciadas e jámereceram novas edições. Edmeia é autora premiada no IIIConcurso “Os Melhores Programas de Incentivo à Leitura”promovido pela Biblioteca Nacional. A eficiência dessa autoranesse expediente pode ser testemunhada e comprovada,

durante as atividades da Comissão Mineira de Folclore em2013. Certa manhã, conforme previsto, fomos ter ao CentroCultural Vila Marçola, localizado no Aglomerado da Serra.De lá nos deslocamos para a escola Estadual Hugo Wernek,situada próximo ao Centro Cultural e vizinha do Parque dasMangabeiras. Após inúmeros improvisos – na sala em quese dariam as atividades, os alunos estavam ocupados emexercícios de avaliação pela professora -, enfim, Edméiainiciou a tarefa agendada para o dia. “Como vai dar conta dese comunicar em situação tão adversa?” – Pensei e sofri. –Ela, não. Em dado momento, distribuiu seus livros para osalunos formados em grupo menores. Assisti à festa.Finalizado o encontro, o diretor, as professoras e a supervisoradeclararam entusiasmadas: houve alunos que a gente jájulgava desinteressados e já até havia desistido deles e quese revelaram atentos e criativos. Descobrimos oportunidadepara lhes dar a atenção que merecem.De minha parte, continuo pensando: E se algum órgãogovernamental se dispuser a acolher o projeto de educaçãoda Comissão Mineira de Folclore, dando-lhe condiçõesmateriais para ele deixar de ser apenas demonstração emmomentos esporádicos, movido apenas pela boa vontade?

Congado e Nossa Senhora do Rosário na Cabana do Pai Tomás

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Alfredo Bello.Guarda de Congo São Benedito e Nossa

Senhora do Rosário da Cabana de Belo Horizonte

(MG) São Paulo: Mundo Melhor. Sem data. [CD]

A Cabana do Pai Tomás tem história exemplar na formaçãode Belo Horizonte. Ela surge da promessa não cumprida pelogoverno de implantar a Cidade Operária, após a inauguraçãoda Cidade Industrial de Contagem – “Coronel JuventinoDias”. Com a imigração de diferentes regiões do estado,predominam os procedentes do Vale do Rio Doce. Contudo,a Região Central – Metalúrgica e Vertentes - e da Matatambém acusam cotas signi-ficativas.Belo Horizonte, fundada paraser a cidade síntese de Mi-nas, regra geral, teve seusgovernos desatentos para asperiferias que ensejou. Curi-osamente, a cidade cresceudas periferias para o centro.Essas periferias foram aban-donadas à própria sorte de-pendendo dos efeitos das economias de escala.

Em meio a isso, há quechamar a atenção ao saberviver e o expediente deacomodação ao viver nametrópole. AfredoCamarate registra os pri-meiros conflitos com essaordem no início da constru-ção de Belo Horizonte. Osaber viver em Curral DelRei e a ordem burocrática

do trabalho. Abílio Barreto, ao narrar sua chegada, se depa-ra imediatamente com a Pedreira Prado Lopes.Os operários - ou aspirantes a operários - imigrantes já veemsubmetidos a uma ordem de saber viver segundo os coman-dos de poder local, obedientes às famílias governamentaisque determinaram os governos dos arraiais, das vilas,comarcas e termos.O saber criar vínculos de sociabilidade, de resolver conflitosde vizinhança, ou de festejar relações locais, quase sempreescapou à atenção dos governantes da metrópole. Contudo,existem algumas manifestações de sociabilidade e conflitoque insistiram em permanecer, todas relacionadas à tradiçãode nossa formação urbana. Natal, carnaval, semana santa,São João. Tais relações são determinadas pelo calendárioreligioso, posto que nossa formação foi determinada por umadivisão nítida dos poderes “soberanos”. Ao Estado atribuía-se ao “gládio material” – o dito monopólio do uso da violên-cia -, à Igreja, o “gládio espiritual” – monopólio do empregoda violência simbólica -, e ao mercado – o “gládio das coisasexteriores” – o monopólio das trocas e comando do traba-lho. Competia, portanto, ao Estado expoliar pelas “imposi-

ções” aos particulares obtendodeles os recursos necessários parafazer a guerra; à Igreja promovera doação de “esmolas” para ga-rantir o controle das mentes; e aosparticulares o comando do traba-lho dos pés rapados, dos forros edos escravos. Sábios, os agentesdo Estado incorporam a extração

da chamada “mais valia” obtida pelas “esmolas” aos impos-tos que levam o nome de dízimos; desse modo, o Estadosubmete a aspiração de poder soberano do “gládio espiritu-al” ao “gládio material”.Essas considerações são necessárias para a atenção à di-versidade de festejar a vida local na metrópole, nas periferi-as da metrópole. Cavalhada e tourada aparentemente desa-pareceram da cena urbana, mas foram substituídas por hipó-

dromos e campos de fu-tebol. Esse velho expe-diente de celebrar os con-flitos da vida cotidianaeram encenação daguerra, porém, presépios,folias de reis, entrudocada vez mais com carade carnaval, queima doJudas com seu testamen-to, e festejos juninos per-maneceram a ainda re-

sistem por mais que o Estado de aproxime do “gládio dascoisas exteriores” e despreze seu vínculo original com o“gládio espiritual”.Há, porém, um aspecto que justifica todas essas considera-ções. A perda de importância do controle das mentes pelaIgreja – “gládio espiritual” – ao ser transferida para o “gládiodas coisas exteriores” – o comércio e as relações de traba-lho garantidas pelo Estado -, não abrangeram as mentes dosimigrantes, e, muito mais importante que isto, nem o Estado,nem o Comércio – Mercado – deram conta de abranger ocontrole das mentes em seu cerne da estratificação étnicaque distingue os poderosos, dos pés rapados e dos desclassi-ficados.

Congado e Nossa Senhora do Rosário na Cabana do Pai Tomás

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O saber viver das periferias garante a“paz urbana” no interior das desigual-dades determinadas pelo mercado egarantidas pelo Estado DemocráticoConstitucional. Essa garantia se apre-senta nas festas com componente ét-nico predominante. No caso, as festasde Nossa Senhora do Rosário.

A Cabana do Pai To-más abriga quatroguardas de Congo emsua área de influênciadireta. O poder deconvergência e decriação de espaços decopresença dessasguardas é tão forteque,

uma senhora que compareceu ao levanta-mento dos mastros de São Pedro, NossaSenhora Aparecida, Santa Efigênia e SãoBenedito, no dia 29 de julho, declarou emsua roda. “Eu sou crente, mas não aban-dono Nossa Senhora do Rosário”. Não foia primeira vez que ouvi isto. Em outra opor-tunidade, e em local muito diferente, escu-tei: “Me perdoa, Nossa Senhora do Rosá-rio. Eu não posso te acompanhar. Agora,eu sou crente.” Essa forma de celebrar avida comunitária – há que se compreender– resulta da dominação do Estado Ibérico– cujas elites se deram conta de que a dominação não sepratica pelo uso simples da violência material – uso da força– há que seduzir o vencido para alcançar a “vontade de obe-diência”.Em Da Horda e ao Estado, Eugène Enriquez escolheu comouma das epígrafes a declaração de um general argentino apóso golpe. Ela encerra a missão do Estado sem os componen-tes hegemônicos de controle das mentes:

Mataremos primeiro todos os subversivos, em se-guida aqueles que com eles colaboram; em se-guida, os simpatizantes; em seguida os indiferen-tes, e finalmente, os tímidos.

O Estado comandado pelo Mercado, criador da Sociedadede Mercado, poderia copiar essa mensagem apenas alteran-do, o “mataremos” por “excluiremos” todos os crentes quenão se submetam ao que se possa expressar em mercadoriaou produto.As festas de Nossa Senhora do Rosário da Cabana deveri-am ser a primeiras da lista. Como explicar que em maio hajauma capaz de atrair 20 guardas de Congo, Moçambique eMarujo, para ocuparem as ruas estreitas de uma favela.Como explicar que haja na Cidade Síntese de Minas

logradouros públicos desobedientes ao desenho original deAarão Reis, os quais já definiam caixas menores para asvias suburbanas, mas jamais suspeitavam que os excluídosdo Mercado Imobiliário de espremeriam em becos e lotescom 2, 4 ou 6 metros de testada? E que nessas condiçõeseles ainda conseguiriam reunir algo próximo a mil visitantes,e oferecer-lhes banquetes em meio à festa?Foi isto que realizou Dona Odete, - realizou e realiza anual-mente – no mês de maio. E para não ficar somente numaúnica expressão, no mês de junho e julho, outra guarda – a

do capitão José Francisco Cândidoreúne mais sete guardas movidaspela mesma devoção.OCD doado à Comissão Mineira deFolclore por Dona Odete é um re-gistro do que se comentou. Se oMercado de Belo Horizonte nãoprestou atenção no efeito manifestodesse saber celebrar a vida urbana,o Selo Mundo Melhor de São Paulo,se deu conta de que isto mereceriaregistro para o mundo.Para os que pensam que uma guar-da de Congo, de Moçambique, de

Marujo, de Catopê, e assemelhadas são espetáculo de umdia, há que conviver com elas para compreender seu modode vida. Dona Odete é modelo de “economia criativa”. Con-fecciona rosários, restaura imagens, fabrica sabão e materi-ais de limpeza, acolhe crianças da vizinhança, aconselha paise mães, crê e dança para Nossa Senhora do Rosário.Para os que pensam que nos quilombos seria diferente, valeo depoimento de Darci Ribeiro. Os refugiados abandonavamo mercado, mas levavam consigo a ordem das relações soci-ais.Convido o leitor acadêmico para uma roda de conversa, ten-do como centro o livro de Romeu Sabará que deverá serpublicado ainda neste ano com o título O Drama de umCampesinato Negro no Brasil, tese de doutorado defendi-da na USP em 1997 e fruto de 30 anos de convivência comessa forma de organização social em Minas Gerais. Nessaoportunidade, penso, seria importante incluir conversa sobreFeitores do corpo, missionários da mente: Senhores, Le-trados e o controle dos escravos nas Américas, 1660 –1860. São Paulo: Cia das Letras, 2004.

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O manifesto dos folcloristasAuto da Compadecida – compaixão, empatia esimpatia como categorias da compreensão.

Ariano Suassuna e Aires da Mata Machado Filho.O Brasil, ou pelo menos uma parte desse Brasil, se como-veu diante da notícia de falecimento de Ariano Suassuna. Aimprensa em geral destacou partes de sua mensagem, al-guns sua antimodernidade, outros, a ironia e o sarcasmo,outros ainda, a luta contra o ódio e a vingança, outros, abusca de raízes de nosso saber viver, interpretado na cate-goria abstrata de “cultura”.O estudo de cada matéria publicada por todos os meios decomunicação valeria teses a serem premiadas. A ComissãoMineira de Folclore não poderia se silenciar. Imediatamen-te, nosso jornalista maior, Carlos Felipe, postou no facebooka seguinte mensagem:

DOM QUIXOTE SE CALOU– A morte de Ariano Suassunanão é uma perda apenas paraa literatura. É uma perdaenorme para a cultura popu-lar brasileira, tão vilipendia-da, pisada e oprimida pelaaculturação a que é forçada,a tal ponto que, até para abrire fechar uma Copa do Mun-do – no Brasil – importou-seuma estranha, insípida e“desmilinguida” arte nãobrasileira. A vida toda, Ariano lutou contra isso.Foi xingado de extremista, de xenófobo mas, ele,como cavaleiro andante ( personagem semprepresente em sua obra, mesmo que de modo invi-sível) continuou batendo nas portas dos caste-

los, cantando suas gestas, apresentando seusseres humanos de corpo e alma, tudo misturadocom o lendário, com os mitos e aquela fantásti-

ca imaginação que só povosabe criar. Ele lutou o bomcombate e foi se juntar ago-ra a uma plêiade que já estáno universo além das estrelas.Gente como um Edison Car-neiro, um Sylvio Romero, umMário de Andrade, umRossini Tavares de Lima, SaulAlves Martins, Ayres da MataMachado, João Ribeiro, tan-tos e tantos que não dá paracitar aqui. Certamente que aCompadecida deve estar as-sistindo de camarote este en-contro de parceiros e amigose, claro, Ariano já está con-tando um causo para eles. Afi-

nal de contas, é um último a chegar e os assun-tos ainda estão frescos. Se ele vai ter espaço bomno céu para mais aulas-espetáculos, no Brasilde hoje ele já está fazendo falta. Mas ele fez oqueria e achava que devia fazer. Não fugiu daluta e atacou moinhos de ventos os dragões dainvasão e da perda da cultura brasileira. Espe-ramos que seu exemplo faça surgir mais “Aria-nos” por aqui. Precisamos deles.

Aqui vou me deter na peça encenada pela primeira vez, nodia 11 de setembro de 1956, no Teatro Santa Isabel emRecife pelo grupo “Teatro Adolescente”. Essa peça foi no-

vamente encenada em São Paulo, no dia11 de março de 1957, sob direção deHermilo Borba Filho. O mesmo grupo deRecife a encenou, em janeiro de 1957, noRio de Janeiro, merecendo o seguinte co-mentário de Henrique Oscar:O grande acontecimento do PrimeiroFestival de Amadores Nacionais, reali-zado em janeiro de 1957, no Rio de Ja-neiro, por iniciativa da Fundação Bra-sileira de Teatro, foi a representaçãopelo Teatro Adolescente do Recife, soba direção de Clênio Vanderlei, do Autoda Compadecida, de Ariano Suassuna.

Se a interpretação era boa, considerado aquiloque se pode exigir de um grupo amador novo econstituído de elementos jovens, e, portanto,inexperientes, o que, por outro lado, tinha a van-tagem de dar ao espetáculo um tom de simplici-

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dade, de despojamento, de espontaneidade, quecorrespondia ao espírito da peça e se enquadra-va no estilo de apresentação que mais lhe convi-nha.

Henrique Oscar que apresenta o Auto da Compadecidapublicado pela Agir Editora, na série Teatro Moderno, queinclui também O Pagador de Promessas de Dias Gomes,chama atenção do leitor para duas características. A pri-meira; a encenação no Rio de Janeiro, a capital da Cultura,da fixação da ideologia de quem é o Brasil, por um grupointitulado “Teatro Adolescente”. Para esse grupo sobressaio termo inexperiente a que se soma ou agrega a segundacaracterística da peça: simplicidade, despojamento, es-pontaneidade. Eu diria, despreocupação com aperformance.Isto quer dizer que o Auto da Compadecida foi escritopara o povo que dominava o saber representar sem obedi-ência aos preceitos da modernidade teatral. Povo repre-sentando o povo para o povo. Exatamente, por isso, de-fendo que o Auto da Compadecida é manifesto de umfolclorista fundador da Comissão Pernambucana de Fol-clore, conforme informou nosso companheiro JoséFernando, secretário dessa Comissão em Recife.Como manifesto, a peça defende como valor principal dofolclorista ou do estudioso de Folclore a compreensão queresulta da compaixão. As epígrafes selecionadas por Aria-no explicitam o que se afirma. São retiradas do teatro po-pular encenado milhares de vezes como ritual sagrado nosmomentos de festas. O Castigo da Soberba; O Enterrodo Cachorro; e a História do Cavalo que Defecava Di-nheiro.Da primeira temos: “Lá vem a compadecida! / Mulher emtudo se mete!”Isto me lembra o teatro popular conhecido como “Exce-lências/incelença”. Nele se festeja o morto para garantir asalvação da alma que parte. A luta entre Deus e o Diaboexige a mediação de um espírito poderoso capaz de abran-dar a fúria divina.A excelência cantada por minha avó paterna celebravaSantana, São Miguel, a alma do falecido, ou da falecida, eo diabo. :

Santana, ó Santana,Vem valer a quem te chamaVem valer a alma tristeQue, há três dias, chora e clama.

A isto responde o diabo:Alma triste já é minha,Ninguém pode me enganar etc...

No final, vence Santana e o diabo/satanás canta desolado:Vai-te alma triste,

(...)Você se apegou,Com quem pode te valer.

Suassuna em A Compadecida desvela o código de éticanecessário à pesquisa folclórica. Compaixão como catego-ria chave para a compreensão. Não é a simpatia do sersuperior que se encanta com o saber popular julgando-sesuperior a ele. Não é a empatia do entrevistador em “ob-servação participante” ou do entrevistador para extrair oconhecimento que lhe escapa no processo de dominação.Não é a categoria da complacência ou da clemência inven-tada pelo aparato jurídico do Império Romano, para que oEstado tolere em determinados momentos a imprudênciados dominados. Menos ainda, a tolerância pregada por JohnLocke em meio à diversidade que aprofunda oestranhamento. É o saber viver sem distanciamento. Tor-nar-se povo, com suas crenças, seu saber, seu pathos. Sempreocupação com a salvação. Peregrinar.

Isto me faz lembrar a pessoa de Aires da Mata Machado,fundador da Comissão Mineira de Folclore. Em 1963, Airesfez vir à luz Memórias de um Carpinteiro. Ao receber osmanuscritos, antecipou o mau humor diante da “imposiçãoaborrecida” de ler “frases sem começo, nem meio nem fim(...) Ando tão cansado de corrigir provas... Pior ainda, sese tratar de uma enfiada dos chavões descritivos com quetecem as frases bonitas da intolerável literatice.”O mau humor antecipado - de quem não aprendeu a es-crever, ou de quem imita que o sabe - é vencido pela sur-presa:

Alvoroçada surpresa tomou conta demim, logo às primeiras linhas. O homem

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escreve como se falasse. A linguagemdireta não tem arrebiques.(...) LuísGonzaga dos Santos, oficial de carpin-teiro a quem a dureza da lida aposentou,sem leitura de espécie alguma, só com ocurso primário e a escola da vida, reve-lou-se escritor (...)Foi o caso que, certas coisas da vida oatiraram à condição de quase miséria.Para um rancho esburacado, junto aoum cemitério, levou os desgostos de fa-mília que o puseram na pobreza extre-ma, devendo os cabelos da cabeça. Aca-brunhado e só, debaixo de teto alheio,que a caridade lhe dera, começou a pen-sar na vida, a lembrar-se de suas profes-soras e do seu pai, dos bons tempos demenino e de rapaz. (...)Como em tantos outros casos, o sentimen-to de evasão fez do operário um autor.Depois, como não tinha com quem falar,recorreu ao expediente de conversar porescrito. (...) Estamos diante de uma im-periosa vocação.

O depoimento comovido de Aires o conduz a ver publicadaa obra resultante de imperiosa vocação. Aires, o professor

de Filologia se despe do saber da cátedra para compreen-der com compaixão o que faz de alguém autor “sem leiturade espécie alguma” versado na “escola da vida”. Essa aten-ção para quem escreve sem leitura, o acompanhou peloresto da vida. Poucos dias antes de ser colhido pelo aci-dente fatal que o levou à compaixão de Santana, Aires, emsua coluna “Escrever Certo” elogiava a carta de uma em-pregada doméstica pela sua competência comunicativa.Ortografia era pormenor para demarcar superioridade en-tre sábios acadêmicos e o povo rústico.Ariano Suassuna foi povo por onde andou. Ana Ferraz es-creveu em Carta Capital: “Ao tomar posse da cadeiranúmero 32, em agosto de 1999, o acadêmico usou um fardãoconfeccionado pela costureira Edite Minervina e bordadopor Cicy Ferreira, ambas de Recife. O colar depositadoem seu pescoço por Rachel de Queiroz, foi entregue pelarepentista pernambucana Mocinha de Passira, e a espada,cerimoniosamente passada às mãos de Barbosa Lima So-brinho, veio de Mestre Salustiano, um dos mais importan-tes artistas populares do Brasil, nascido na Zona da Mata.Os simbólicos adereços a cingir o cavaleiro da nobre causaforam caprichosamente forjados pelo pernambucano IsaíasLeal”Isto é que é manifestar-se publicamente em defesa do sa-ber popular.

José Moreira de Souza

Relatório de AtividadesPrestação de ContasA atual diretoria foi eleita e empossada no dia 25 de feve-reiro de 2012 com a missão de regularizar a Comissão Mi-neira de Folclore do ponto de vista de registros em Cartórioe dos livros de contabilidade. Para tal, a AFAGO – Associa-ção dos Filhos e Amigos de Gouveia – foi apoio fundamen-tal.Por empenho de seu presidente e de toda a diretoria, a Afa-go ofereceu suas instalações para reuniões, disponibilizou noendereço www.afagouveia.org.br uma seção exclusiva paradivulgação das atividades da Comissão Mineira de Folcloree encontrou no advogado e contabilistas Manoel Luiz Ferreirade Miranda oferta de serviços competentes de consultoriajurídica e serviços contábeis.Há que enfatizar que todos os serviços foram não apenasprestados graciosamente, quanto arcadas despesas desseescritório tais como, custo de certificação digital, aquisição eencadernação de livros, registros dos mesmos em cartório.Não bastasse isto, o doutor Manoel sempre se antecipou emacompanhar cronograma fiscal e orientar os serviços de te-souraria da Comissão Mineira, cuidando até mesmo de indi-

car caminhos para melhor desempenho de nossa associa-ção.Para que esta gestão pudesse cumprir dignamente sua mis-são, o doutor Manoel Luiz, sem nem mesmo ser comunica-do, antecipou orientações para elaboração do RelatórioContábil, como subsídio ao Conselho Fiscal.Tudo isto merece constar em ata como agradecimento eexemplo de apoio à Comissão Mineira de Folclore. Merecelembrar que, no ano de 2011, a Comissão Mineira viveu mo-mentos críticos. Convocada para diversas reuniões em ins-talações da Cidade Administrativa foi informada de que asinstalações do Centro de Tradições Mineiras seriamdesativadas, mas que se garantiriam espaços adequados no“Corredor Cultural da Praça de Liberdade”.Em sequência, a diretoria da Comissão foi comunicada paraacompanhar a retirada de seus pertences das instalaçõeslocalizadas no Anexo à Serraria Souza Pinto. Definiu-se comodata limite após o encerramento das programações de Fol-clore no mês de agosto.Os pertences da Comissão foram recolhidos e encaminha-dos a uma sala do Palacete Dantas, o qual abrigara a Secre-taria de Estado da Cultura, antes de sua transferência para o

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Centro Administrativo do Governo de Minas Gerais; a Co-missão foi intimada a retirá-los, sem indicação de local ade-quado.É importante registrar que, em nenhum momento, houve daparte do governo a denúncia do Convênio por escrito comoprevisto nos termos “Cláusula de recisão”.Diante desses impasses, a diretoria convocou uma AssembleiaExtraordinária no dia 05 de setembro para examinar encami-nhamento mais adequado para todas as dificuldades depara-das. Nessa oportunidade, foi criada uma subcomissão parase reunir permanentemente com o objetivo de regularizar osregistros da Comissão. De reuniões dessa subcomissão re-sultou pedido de audiência com a senhora secretária de esta-do da Cultura a qual verbalmente prometeu espaço no “Mu-seu de Artes Populares “ a ser inaugurado no ano seguintepara atividades da Comissão.Esta diretoria eleita e empossada no dia 25 de fevereiro de2012 com mandato até o dia 22 de agosto de 2014 contoucom a presença da senhora secretária e de seus principaisassessores em cerimônia de apresentação no Palácio dasArtes no dia 5 de março. Nessa oportunidade garantiu-se oemprego das instalações do Museu de Artes, mas insistiu-sena urgência da retirada do acervo da Comissão das depen-dências do Palacete Dantas.Em reuniões acontecidas nas dependências da Secretaria deCultura, a Comissão foi aconselhada a buscar recursos noFundo Estadual de Cultura e nas Leis de Incentivo, enquantobuscasse espaço adequado para guarda de seu acervo –cumpre lembrar que, em outra oportunidade, diante do mes-mo impasse, o Museu Sal Martins encontrou acolhida naPrefeitura Municipal de Vespasiano, bem como parte de seuacervo de obras raras e documentos. Para obter recursos,todos os membros se mobilizaram e foram preenchidos osformulários exigidos pelo Fundo Estadual de Cultura. Deimediato, se percebeu que os formulários tinham como obje-tivo fornecer recursos para “eventos”, “espetáculos” e as-semelhados. Isto ficava nítido no quesito do “público a seratingido”. Resultado: nenhum recurso.Por outro lado, a prometida abertura do Centro de ArtesPopulares, passou a depender de inúmeros rogos,com restri-ção de horário para reuniões. A oferta da Comissão Mineirade dar apoio às atividades do Centro nem sequer foi levadaem consideração e nenhuma resposta foi dada a isso.Enquanto isso, constantes pressões para a retirada do acer-vo das dependências do Palacete. Num dos ultimatos, umaservidora que já assistira despejo semelhante nos anos no-venta do século passado, se solidarizou com a Comissão: “Éa segunda vez que vocês passam pela mesma situação”.Sem outra alternativa, a opção imediata foi encontrar umcômodo para ser alugado a baixo custo para guarda de unspoucos móveis, documentos, livros e registros divervos –esperava-se ainda resposta da análise de captação de recur-sos do Fundo Estadual.Dadas essas pré-condições de funcionamento, a diretoriaempossada se deu conta de que a Comissão deveria, emprimeiro lugar, mostrar sua competência justificada e garan-

tida em 65 anos de existência. Passou a editar com recursospróprios, o Boletim Carranca, a Revista Comissão Mineirade Folclore, obras como a Sombra do Andarilho, Diamantinapassado e presente; desenvolveu relatório de Pesquisa cominformações de atividades sobre foclore em escolas da redeestadual de todo o estado, elaborou catálogo das obraspublicadas pelos membros desde a sua fundação em 1948.Enfim, mostrou que não se pode estudar Minas Gerais semreferência aos que pertenceram ou pertencem à ComissãoMineira de Folclore.Seguindo o exemplo da AFAGO, a Comissão obteve algu-mas parcerias importantes, tais como, patrocínio da 46ª Se-mana Mineira de Folclore pelo SESC Minas, acolhida da Bi-blioteca Pública do Estado para exposição das obras dosfolcloristas e cessão de suas instalações para uma reunião.Acolhida na Escola de Belas Artes da UFMG para um cursona área de Folclore, acolhida nas instalações nobres daFAFICH UFMG para a realização da 47ª Semana Mineirade Folclore, parceria com a Fundação de Cultura do municí-pio de Itabira.Desse esforço resultou o interesse do senhor prefeito de BeloHorizonte o qual determinou que a Fundação Municipal deCultura desse município desse acolhida à Comissão Mineirade Folclore. A partir de fevereiro de 2013, inúmeras reuniõesse fizeram com o objetivo de incluir as atividades da Comis-são Mineira de Folclore no Orçamento Plurianual e tambémpara garantir instalações e condições de funcionamento denossas atividades.No presente ano, a partir do mês de março, os pertences daComissão que estavam recolhidos num cômodo de uma vila– aluguel de baixo custo – puderam, finalmente, ser dispos-tos em sala para atividades. No momento, o Centro CulturalSalgado Filho promove adequação de melhor acessibilidadeao espaço que ocupamos em caráter precário, porém,satisfatório.A atenção do prefeito de Belo Horizonte à Comissão Minei-ra de Folclore – há que sublinhar – se deve ao empenho dosenhor Mauro Werkema, presidente da Belotur, o qual, noano de 2002, assinou o convênio que criou o Centro de Tra-dições Mineiras, na condição de Presidente da FundaçãoPalácio das Artes.

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Contudo, do ponto de vista do simbólico, o maior reconheci-mento à Comissão Mineira de Folclore adveio da doação deonze esculturas do acervo do espólio do professor Washing-ton Peluso Albino de Souza, doadas por Anésia Gonzaga.Essa doação realizada, antes de se iniciarem as comemora-ções do bicentenário da morte de Aleijadinho, colocaram aComissão Mineira na vanguarda desse programa, por maisque não tenha ainda sido reconhecida. Junte-se a doação aodoador. Washington foi diretor do Centro de Estudos Minei-ros, na época em que o Centro de Estudos era órgão suple-mentar da Reitoria da UFMG, foi responsável pela criaçãoem Ouro Preto de uma sede do Centro de Estudos, foi dire-tor da Faculdade de Direito da UFMG e membro da Comis-são Mineira de Folclore.Finalmente, cumpre fixar:

1. A atual diretoria foi constituída para criar condiçõesde surgirem novos diretores que garantamlongevidade à Comissão Mineira de Folclore. Estefoi acordo firmado com a Assembleia Geral da Co-missão. Foi definido um mandato de regularização.Ou seja, de fevereiro de 2012 a agosto de 2014.Nesse período cumpriu-se rigorosamente todos osquesitos exigidos pelo Estatuto e Regimento. Reuni-ões mensais da diretoria, reuniões trimestrais daAssembleia. Durante todo esse tempo, mas especi-almente, a partir da Assembleia realizada em dezem-bro de 2013, constou sempre da pauta formação dechapas para concorrerem à eleição de 2014. A par-tir da primeira reunião da Assembleia foi constituídoum grupo, coordenado pela folclorista KátiaCupertino para encaminhar a constituições de Cha-pas. Após repetidas reuniões chegou-se à seguintechapa:

Cédula de Votação para Diretoria da Comissão Mineira

de Folclore

Período 2014 – 2017

CHAPA ÚNICA

PRESIDENTE DE HONRA – Domingos Diniz

PRESIDENTE - José Moreira de Souza

VICEPRESIDENTE – Miriam Stella Blonski

SECRETÁRIO – Juliana Aparecida Garcia Correa

TESOUREIRO – Raimundo Nonato de Miranda Cha-

ves

CONSELHO FISCAL –Antônio de Paiva Moura;.

Edméia da Conceição de Faria de Oliveira, Luiz FernandoVieira Trópia

Cumpre sublinhar que José Moreira de Souza ape-nas aceitou a incumbência de novo mandato, pelainsistência dos membros presentes à reunião daAssembleia do dia 07 de junho de 2014.

2. Por insistência dos membros presentes ao XVI Con-gresso Brasileiro de Folclore realizado no mês deoutubro em Florianópolis, foi apresentada àAssembleia da Comissão Mineira de Folclore, emreunião realizada no dia 23 de novembro de 2013.Ao longo do presente ano, este tema se tornou re-corrente, devendo se constituir em assunto principalda 48ª Semana Mineira de Folclore

Comissão Mineira de folcloreConselho Fiscal

Parecer fiscal 2014.

O Conselho Fiscal da Comissão Mineira deFolclore, no uso de suas atribuições, em reunião no dia09 de agosto de 2014, procedeu exame nas contas dainstituição, no exercício de 2014, Em face doencerramento da gestão 2912 / 2014, o períodoapreciado foi de janeiro a agosto de 2014. O Conselhoaprova sem nenhuma objeção as contas do exercício de2014, apresentadas pela Diretoria nesta data. A campanha para se formar um fundo a serlegado à futura diretoria é providencial porque viabilizauma sucessão com segurança. A formação do referidofundo só foi possível graças às doações de sócios e deterceiros que devotam estima à Comissão Mineira deFolclore. A receita fixa proveniente das anuidades dos

sócios, não foi e não tem sido suficiente para cobrir asdespesas de custeio. Verifica-se que nos exercícios de2012 e 2013 muitos sócios efetivos não quitaram acontribuição anual e que, em 2014, dos 45 membrosativos, apenas 10 quitaram a referida anuidade,gerando um montante de R$ 2.184,00. Comissão devendas de livros, em consignação obteve uma rendaR$ 220,00

Além da escrita contábil é conveniente relataras doações oferecidas à Comissão Mineira deFolclore por seus sócios efetivos e pessoas queestimam e admiram a instituição.

Na condição de editor, redator e distribuidor daRevista da Comissão Mineira de Folclore, JoséMoreira de Souza efetuou doações de seu custográficos, num montante de R$ 4.300,00. Comimpressão do jornal “Carranca”, no valor de R$1.480,00. Adélia Anis Raies de Souza, transferiu aoCentro de Celebrações na nova sede da instituição osseguintes objetos: tecidos para ornamentar a referida

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sala, R$ 150,00; Geladeira usada R$ 200,00; coleção dediscos, tipo vinil, R$ 300,00; manutenção da página daCMFl, no site www.folcoreminas.org.br, R$ 160,00; trêsestantes de aço e dois armários, R$ 980,00, somando R$7.570,00

Postagem das edições da Revista da CMFl e dojornal Carranca, oferecida por Sebastião Rocha, atravésdo CPCD, no valor de R$ 2.250,00.

Doação de Manoel Luiz Ferreira de Miranda,serviços contábeis prestados , no valor de R$ 2.896,00

Nove sócios efetivos da CMFl, prestaram serviçosao projeto de edição da Cartilha de Folclore, a sereditada pelo SESC-MG, no valor de R$ 7.200,00.

Doações de livros à Comissão Mineira de Folclore,aguardando inventário, no valor de R$ 400,00

Elaboração de projeto para a realização em BeloHorizonte, do XVII Congresso Brasileiro de Folclore, R$5.000,00

Participação de membros efetivos em eventoscomo congressos e encontros realizados fora do Estadode Minas Gerais. Despesas de passagens e hospedagens.R$ 1.800,00.

Piloto para desenvolvimento do projeto“Condições do saber viver em Minas Gerais”. R$1.000,00.

Doação de 11 esculturas em madeira pela senhoraAnésia Gonzaga, do acervo do folclorista WashingtonPeluso Albino de Souza, no valor de R$ 27.500,00

Total das doações . R$ 55.116,00Anuidade de sócios “ 2.184,00Comissão venda de livros “ 220,00Total................................................ 57.520,00"Entradas ao patrimônio R$ 29.130,00Patrimônio líquido – banco “ 14.063,97

Belo Horizonte, 16 de agosto de 2014.

Antônio de Paiva Moura

Frei Francisco van der Poel

Agueda Moraes Carvalhaes e Kallás

Relatório de Atividades

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Ainda obras incorporadas ao acervo do Centro de Celebração de Minas daComissão Mineira de Folclore – abril a agosto de 2014

Correspondência recebida de Olegário Alfredo: “É comprazer que envio estes cordéis, com temáticas mineiras, aessa Comissão Mineira de Folclore. Outrora o cordel teveforte expressão em Minas. Uma parte era chegada a Minasvinda do Nordeste, principalmente a Bahia, vindo nos vapores,que é o caso de Pirapora. Outra parte chegava de trem e plarodovia, para Teófilo Otoni, Araçuaí, etc.Este Cordel do Frei Chico é inédito, está para apreciação efuturo lançamento. Um cordial abraço do amigo, OlegárioAlfredo. www.olegario.com.br.”O autor é mineiro de Teófilo Otoni, graduado em Letras pelaPUC Minas, poeta e pesquisador das tradições populares.Já publicou quase uma centena de cordéis.Infelizmente, oCordel do Frei Chico não porderá ser lançado na Semana deFolclore deste ano, devido à ausência do “cordelificado”. MasOlegário foi convidado a apresentar sua obra numa das noitesda programão.

Ainda obras incorporadas ao acervo do Centro de Celebração de Minas daComissão Mineira de Folclore – abril a agosto de 2014

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Vejam tambémwww.cordeldeminas.blogspot.com

Compromissos

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48ª Semana Mineira de FolclorePreparando para o XVIICongresso Brasileiro de

FolcloreAuditório da FundaçãoMunicipal de Cultura –

Rua da Bahia 888. Centro

- Belo Horizonte

Dia 18 de agosto: 19:30 h. Abertura da 48ªSemana Mineira de Folclore –Mesa redonda - ensaiopara a preparação do XVII Congresso Brasileiro deFolclore.Dia 19 de agosto: 19:30 h. - Daniel de LimaMagalhães “Flautas tradicionais do Vale doJequitinhonha”, apresentação da obra que recebeuPrêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN.Dia 20 de agosto: 19:30 h. O Saber Viver e suascondições: Conversa com autores e lançamento dasobras:Médio Paraopeba e seu saber viver de Antônio dePaiva Moura.Rio abaixo: vaqueiros e mulheres de muque deDomingos Diniz.Dia 21 de agosto: 19:30 h. - Congado noOeste de Minas. O fotógrafo Cyro José – coordena-ção de Frei Leonardo Lucas Pereira. Romeu Sabará daSilva, Kátia Cupertino, Juliana Garcia .Dia 22 de agosto: - 18:00 horas –Assembleia Geral Ordinária da Comissão Mineira deFolclore – Prestação de Contas, Eleição da Diretoriapara o período 2014-2017.20:00 horas – Posse da Nova Diretoria, mesa sobreFolclore como objeto de estudo e lançamento doBoletim Carranca edição 3_14. Apresentação do sitewww.folcloreminas.com.brDia 27 de agosto – Centro Cultural Salgado Filho -Rua Nova Ponte 22 - esquina com Carmelita Garcia19:00 horas : Palestra “Oportunidade de fazerfestas”A Comissão Mineira de Folclore dialoga sobre asoportunidades das festas nos bairros comocelebração daidentidade e apresenta o projeto“Cabana e seu saber viver”.

XVII Congresso Brasileiro de FolcloreAnte projeto para discussão

Tema Básico do Congresso – Outra Paz épossível: O Saber Viver e suas condições

Questão: Apenas a tolerância é garantia para umaconvivência pacífica na diversidade?

Introdução.

O XVI Congresso Brasileiro de Folclore realizado na Cidadede Nossa Senhora do Desterro da Ilha de Santa Catarinados Casos Raros alcunhada – atual cidade de Florianópolis, foi aberto com a celebração de seu maior poeta, João Cruze Souza.João Cruz e Souza faleceu no dia 19 de março de 1898 nopovoado de Sítio – Barbacena , Minas Gerais – vítima detuberculose, aos 36 anos de idade. Filho de pai e mãeescravos, retrata a transcendência de sua condição parase comunicar com o mundo, sem desprezo às suas origens.A Comissão Mineira de Folclore é obrigada a venerar essehomem que, segundo Tasso da Silveira “percorreu todoum ciclo de experiências tremendas de sofrimento”.Seleciona-se o soneto “Cavador do Infinito” como sínteseda mensagem que se propõe para o XVII CongressoBrasileiro de Folclore cuja realização está prevista para aúltima semana de outubro de 2015, em Belo Horizonte.

Cavador do InfinitoCom a lâmpada do Sonho desce aflitoE sobe aos mundos mais imponderáveis,Vai abafando as queixas implacáveis,Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo escritoSente em redor nos astros inefáveis.Cava nas fundas eras insondáveis,O Cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava,Mais o Infinito se transforma em lavaE o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada dos sonhoE com seu vulto, pálido e tristonho,Cava os abismos das eternas ânsias!

Compromissos: XVII Congresso Brasileiro de Folclore

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Cruz e Souza não é apenas um filho de escravos a sercelebrado como Negro Herói. É muito mais que isso. Éa encarnação de um dos “mitos do individualismo mo-derno” tal com abordado por Ian Watt. Cruz e Souza éum Robinson Crusoé:“ Cruz e Souza, de fato, aconteceu apenas que, vindopara o Rio já homem feito, após uma peregrinação pelonorte e o sul do país como “ponto” de uma companhiadramática, nesta cidade lutou, casou, teve filhos, viu amulher enlouquecer, sofreu miséria, amargou ultrajese, por fim, entisicou, saindo á última hora para morrersob o benigno céu mineiro; vida esta que se reproduzem milhões de exemplares no seio da população mise-rável do Brasil.” [Tasso da Silveira: introdução às Poe-sias completas de Cruz e Souza.]Robinson Crusoé é um náufrago da “civilização”. Sóisto já basta para fixar o mito. Vítima do naufrágio emsua ilha, descobre o “homem primitivo” – Sexta feira!Watt destaca outros mitos da modernidade – todos elesliterários originados no saber popular.O primeiro deles é o Doutor Fausto; o segundo, DonQuixote; e o terceiro Don Juan. O primeiro celebra omito do saber credenciado pela academia – Fausto éum autodidata que quer se passar por doutor -; o se-gundo, o descrédito em que caiu o heroísmo guerreiro,com a invenção da guerra moderna – Don Quixote éAlonso Quijano - curado de seus delírios tem sua iden-tidade fixada na lápide fria; Don Juan celebra o des-prezo a todos os ritos funerários, a perda total dos im-perativos morais simbolizado pela aceitação de cearcom a Morte.Watt interroga ao leitor, com quais desses mitos esta-ria disposto a conviver? E mostra sua simpatia peloQuixote, o homem que ainda é capaz de sonhar a rea-lidade. Contudo, acredito na existência de outro mitomais terrível de celebração da individualidade, o doMandarim . O poder de um único indivíduo que, ao sim-ples ato de apertar um botão, torna-se capaz de des-truir toda a humanidade.A atenção para esses mitos da modernidade orienta apreparação para o XVII Congresso Brasileiro de Folclo-re: Condições de Saber Viver.Juntamente com a elaboração desses mitos – ditos li-terários – a modernidade criou utopias, “Cidade do Sol”de Campanella , “Utopia” de Thomas Morus, “Emille”de Rousseau; “Walden” de Thoureau; “Walden II” deSkinner, juntamente com a máquina panóptica deJeremias Benthan, e as obras de futurologia, como 1984.O objetivo do congresso é de reunir os estudiosos deFolclore para o exame das encenações da paz e da guer-ra - o conflito com ser inerente ao viver moderno e acelebração do terror - de acordo com a criação do sa-ber popular orientados pela pergunta:

Como se celebra a paz e a guerra no âmbito das repre-sentações coletivas mantidas pelo saber popular culti-vado nas relações pessoais?Propõe-se também um diálogo com a obra de Antôniode Paiva Moura: Violência no mundo, ontem e hoje.[Belo Horizonte: 2010]Vale a pena também, lembrar o Grande Sertão de Gui-marães Rosa e o diálogo com essa obra feito por Helo-isa Vilhena Araújo em O Roteiro de Deus. São Paulo:1996.

Congresso de Folclore como ConferênciaNacional de Culturas Populares

Na abertura do XVI Congresso Brasileiro de Folclore, osenhor Ministro da Cultura propôs aos congressistas re-presentantes de quase todos os estados do Brasil,que asatividadades dessa importante reunião preparada há maisde dois anos, fosse considerada uma Conferência Espe-cial de Cultura para subsidiar as políticas nacionais nessaárea.É exatamente isso que deve ser cumprido com a pauta bá-sica do XVII Congresso Brasileiro de Folclore que deveráser realizado em Belo Horizonte, na última semana de outu-bro do ano de 2015.Desde já, espera-se que todas as comissões estaduais defolclore estejam mobilizadas para selecionarem os temasde estudo mais relevantes e prementes sobre o Saber Vivere suas condições nos respectivos estados e suas regiões.O Congresso é promovido pela Comissão Nacional deFolclore, em cuja diretoria constam representantes de to-das as regiões do Brasil e coordenado pela Comissão quese propõe a sediá-lo.Compete à Comissão Nacional articular-se com as comis-sões estaduais e aprovar as diretrizes propostas pela co-missão gestão local. Como tal, é competência da Comis-são Nacional ouvir propostas e sugestões de todas as co-missões estaduais e promover encontro de todas elas numaJornada Integrada, na qual os temas e a formação dos gru-pos de trabalho, fóruns e mesas redondas se articulem co-erentemente para cumprir os objetivos de um encontro maioraberto para os estudiosos de todas as áreas de conheci-mento que abordam questões referentes à tradição popu-lar. Não há, portanto, que estranhar presença de teses, eestudos de engenheiros, agrônomos, urbanistas, médicos,aolado de músicos, filósofos, linguistas, literatos, economis-tas, juristas, sociólogos, antropólogos, pedagogos, e tudoque a divisão do trabalho intelectual elevou a profissõesregulamentadas submetidas à tradição ilustrada.Mais uma vez, lembra-se esta afirmação de FernandoCorreia Dias: “Pode-se conceber a instituição universi-tária como um foco do poder, que se insere, por sua

Compromissos: XVII Congresso Brasileiro de Folclore

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vez, na vida política geral de determinada socieda-de.” Esse mesmo autor, no mesmo artigo, se refereà necessidade de “reflexão sobre o destino do povobrasileiro (...) e também sobre como se poder exer-cer (...) a cidadania”, convocando à responsabili-dade cívica os intelectuais. Em seguida, Fernandoconvoca os leitores ao exame da proposta de reto-mar o “tema crucial da cultura no Brasil como pla-taforma para redefinição do projeto brasileiro dedesenvolvimento”.Isto posto, tendo em vista que à Comissão Mineirafoi atribuída a função de vice-presidência da Co-missão Nacional de Folclore, cabe a ela elaborar oprimeiro esboço do Congresso, o qual já foi remeti-do a todos os presidentes das Comissões Estadu-ais e que será objeto de ampla conversa durante a48ª Semana Mineira de Folclore.

Estrutura Básica:1.Conferências- uma na abertura de cada dia

determinando a pauta das Mesas Redon-das e dos Grupos de trabalho.

2.Grupos de Trabalho – desdobramentos detemas a serem discutidos em comunica-ções na parte da manhã e da tarde –10:00 às 12:00 e 14:00 às 18:00

3.Mesas redondas – Reunião diária derelatores de cada grupo de trabalho portemas com exposição e debates parasíntese das discussões do dia.

4.Relatório dos grupos de trabalho na Formade Conferência Nacional de Folclore eCultura Popular Discussão e votação doRelatório Síntese

5.Espetáculos e conversas – noites6.Estrutura Paralela –

a. Cursos de Folclore – professo-res, agentes e animadores cultu-rais

b. Exposições, apresentação devídeos e conversas

c. Visitas orientadas

Algumas propostas para as conferênciasde abertura dos trabalhos diários

Primeiro dia – ManhãConferência 1. 9:00 horas Viver é muito perigoso– Os desafios à Paz nas condições de saber viverSegundo dia – Manhã

Conferência – Qual Diversidade? Os limites para o saberviver

Terceiro dia – ManhãConferência – Corpo fechado e blindagem burocráticanas relações de poder

Quarto dia – ManhãConferência: Festas: encenação da Guerra e a utopia daPaz

Mesas RedondasPrimeiro dia:Mesa redonda 1 – 10:00 horas . Os desdobramentos doestudo do saber viver e suas condições no programa doCongresso – Componentes da Mesa - Um relator de cadaconjunto de grupos temáticos que será moderador dasmesas redondas seguintes. – Exposição sobre a forma-ção dos grupos e o processo de trabalho.

Quarto dia – TardeConsolidação do Sistema de Informações

GRUPOS DE TRABALHO

Questão estruturante: Qual ou quais mitos sustentam e cele-bram a verdade desses ramos de saber?

1. Saber viver e identidade local - toponímia e topofilia.Bairros, pedaços, quarteirões, vilas, favelas. A fixa-ção dos nomes de lugares e sua história. Relações depoder, mando, cooperação e conflitos com outros lu-gares.

2. Saber viver e identidade grupal - Famílias, comunida-des, grupos étnicos ou de procedência, tribos, gruposde interesse, galeras, torcidas organizadas,pertencimentos a igrejas.

3. Saber viver e direito à vida. Saber fazer e aprender asaber fazer. Trabalho, educação, saúde, mobilidade esustentabilidade. [transgressão, agressão, luta, vitó-ria - história natural do mal?] cursos quaisquer quesejam para preparação para tarefas complexas.

4. Saber viver e atribuição de responsabilidade - Poder eNome do Pai, arquétipos, lei, polícia, consciência mo-ral e coação. Como se transmitem valores. Violênciafísica, violência simbólica, afetividade e rejeição. Cul-pa e dever cumprido. Amizade e inimizade. Exemplo:eu acolho e o Estado reprime.

5. Saber viver e representação: Os discursos longos. Ce-lebrações, rituais, encenações, contos, casos.

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6. Saber viver e Lúdica - jogos, brinquedos, brin-cadeiras, chistes, caçoadas, gozações, trotes,sedução, etc.. Noviciado e camarinha nos ri-tos de passagem.

7. Cidadania - estadania e condições daglobalização - Como se reconhece a Humani-dade do outro - o mais humano e o menoshumano. Com quem se pode conversar. Ape-lo para os aparelhos repressivos e o poder depolícia institucionalizado e consuetudinários.Prática de direitos e ciência do Outro. Poder esubmissão.

8. Dádiva, mercado; confiança e fraude. Clien-te, freguês, companheiro, fiel, consumidor,cativo e remido. Rede de relações de solida-riedade.

9. Saber viver e desafios à compreensão na di-versidade. Discursos Breves. Ditos, provérbi-os e preceitos, na tradição oral. Certezasinvencíveis e dialogáveis baseadas na fé, nascrenças e nas imposições de Poder. “Sapos agente engole; jacarés, não.” A Gaia Ciência.

10. Tradição Popular e Tradição Ilustrada.HistóriaOral e Tradição Oral. Doutrinas e ideologias -a tradição ilustrada. Literatura e Oratura.

11. Este é um grupo para sínteses dos demais grupostemáticos e que orientará as mesas redondas.

O Relatório Final deverá conter avaliação e propostas segun-do o seguinte roteiro:Comissões de Folclore e a rede da diversidade. a) O que ascomissões têm estudado, - vertentes das principais ativida-des, projetos e obras desenvolvidas - bases de sustentação econdições de realização e de frustração. b) O que fazem outrosgrupos, ongs, secretarias de cultura, departamentos universi-tários, linhas de pesquisa, forma de incentivo e financiamen-to, condições materiais e mobilização, forma deinstitucionalização - oportunidade de diálogo ou deestranhamento. c) O Sistema Nacional de Cultura e suas arti-culações. Promessas e silêncios. d)Contribuições dos temas abordados no Congresso para acompreensão da Diversidade e suas determinações. [Exem-plo de um problema: Da diversidade fundada na unidade naci-onal à diversidade fundada na diversidade étnica. ]O relatório resulta da atenção aos temas abordados em todosos grupos temáticos.

ALGUNS CONTOS POPULARES DA ZONADA MATA MINEIRA

A porca e os sete leitõesJesus estava andando pelo mundo. Um homem, saben-do que andava por aquelas redondezas um mendigo, es-condeu sua mulher e os sete filhos no assoalho da casapara não dar o de comer para tal mendigo. O mendigo,que era Jesus, bateu na porta desse homem pedindocomida; o homem negou dizendo que sua mulher não seencontrava para fazer comida. Então Jesus disse: “Maso que faz essa porca e seus sete leitõezinhos ali no seuassoalho?”, e quando o homem foi olhar sua mulher ti-nha se transformado em porca e seus filhos em seteleitões. Foi o preço pago pelo pecado.Contado por Dona Carmelita da cidade de Coimbra.

O avental de Santa Luzia*Santa Luzia como era muito boa levava comida para osescravos de seu marido, mas levava escondida em seuavental para que o marido não percebesse. Um dia, le-vando ela a comida escondida, foi surpreendida pelomarido, que perguntava insistentemente o que ela leva-va ali escondido em seu avental; Santa Luzia disse queera ouro, e quando abriu seu avental por milagre eramesmo ouro, o qual a comida tinha se transformado.Contado por Dona Carmelita da cidade de Coimbra.*Idêntica história encontramos em “Vila Rica. Compa-nhia Editora Nacional, São Paulo 1935” de Alcibíades

Delamare em que São Benedito carregando pães no burel paraos mendigos foi intimado a mostrar o que ali carregava e pormilagre os pães se transformaram em rosas, retirando assim aacusação sobre o santo.

O homem que foi salvo por uma aranha**Estava um homem correndo pela estrada fugindo de dois bandi-dos. Mais a frente o homem entrou dentro de uma caverna ecansado, não tendo como mais correr, implorou a Nosso Senhorque mandasse um exército para salvá-lo. De repente uma aranhavivendo na entrada da caverna começou a tecer uma densa teiaaté a chegada dos bandidos. Um dos bandidos já na boca dacaverna retrucou: “Será que aquele homem escondeu aqui den-tro?”. E o outro respondeu: “Não pode ser, olhe como está aentrada da caverna, cheio de teia de aranha. A caverna está aban-donada.”. Foram assim embora. O exército que Nosso Senhormandara era uma simples aranha que salvou a vida do homem.Contado por Dona Noeme de Abreus**Antti Aarne no seu “The types of the Folk-tale” registra o con-to número 967: The man saved by a spider web, completamenteidêntico a esta versão mineira. No Brasil e Portugal este contofigura no ciclo de contos religiosos em que a aranha tampa aentrada da caverna enganando os soldados do rei Herodes pois aSagrada Família descansava no interior da caverna. Por isso aaranha foi abeçoada.

Wallace Ferreira Gomes - Universidade Federal de Viçosa

Por onde andamos

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Festa de São Pedro: abertura da festa de Nossa Senhora do Rosário do guarda de Congo do Capitão José Francisco- dia 29 de junho

Reunião commestres de Congo

e Capoeira -coordenada po

Marco Llobus daFundação

Municiapl deCultura na Cabana

do Pai Tomás.

Dia 18 de junho 2014 -no Centro de Capoeira

do Mestre Buléia.

Reunião na sede da Guarda de Congo do Capitão JoséFrancisco coordenada por Marco Llobus da Fundação

Municipal de Cultura - dia 8 de julho de 2014

Reunião do grupo “Cléo” com Domingos Diniz, coorde-nada por Ricardo Figueiredo - no dia 6 de agosto de

2014

Por onde andamos

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Reunião realizada no dia 16de junho de 2014 no Centro

Cultural Lagoa do Nadopara conversar sobre criaçãodo Centro de Referência da

Cultura Popular

Encontro com os mestres de Belo Horizonte para explicaro Edital o Edital do Primeiro Prêmio “Mestres da Cultura

Popular

Café com Cultura reune a população da Regional Oesteno Centro Cultural Salgado Filho

Mais notíciasConversa com os gerentes dos 16 Centro s

Culturais da Fundação Municipal de BeloHorizonte

Visitas à Secretaria Municipal da Prefeitura deVespasiano.

Conversas com os servidores do Centro CulturalSão Bernardo

Reuniões preparatórias para consolidar acoordenação do XVII Congresso Brasileiro deFolclore

Contatos com o Mosteiro de Macaúbas paraparticipar da comemoração do Tricentenário defundação do Recolhimento de Macaúbas

Coordenação dos trabalhos em parceria com oSESC MG para elaboração de uma Cartilha a serdistribuída para as escolas de Minas Gerais.Textos criados pelos membros da ComissãoMineira de Folclore

Reunião com a Direção do Centro Cultural Lagoado Nado para consolidar a Curadoria daComissão Mineira de Folclore em exposição dearte e artesanato naquele espaço.

NORMAS PARA PUBLICAÇÃOCarranca aceita artigos, notas, comentários, informes emgeral de interesse dos estudiosos de Folclore e da CulturaPopular, desde que encaminhados em meio digital.Formato em Word, fonte arial ou times new roman, corpo12, espaço 1,5. Identificação do autor.As fotos devem ser encaminhadas já escaneadas em formatojpg.

Artigos assinados são de responsabilidade dos autores.

CARRANCA

Órgão Informativo da Comissão Mineira de Folclore – CMFLNúmero 03-14 – Julho - Setembro 2014.Acessível em www.afagouveia.org.br/ComissaoMineiraFolclore.htm

Diretor Responsável – José Moreira de SouzaFotos:Adélia Anis Raies de Sousa, Kátia Cupertino, JoséMoreira de Souza, ,Editoração Gráfica: José Moreira de Souza

Diretoria da CMFL - 2012 - 2014

Presidente: José Moreira de SouzaVice-presidente: Domingos DinizSecretária: Elieth Amélia de SousaTesoureiro: Luiz Fernando Vieira TrópiaConselho Fiscal da CMFLÁgueda Moraes de Carvalhaes e KallásAntônio de Paiva MouraFrei Francisco van der Poel

IMPRESSORemetenteComissão Mineira de FolcloreRua Pires da Mota - 202Bairro Madre Gertrudes

CEP – 30512-760Belo Horizonte - MGE-mail: [email protected]

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Agradecimentos

Site da Comissão Nacional:http://www.comissaonacionaldefolclore.org.brDa Comissão Mineira:www.folcloreminas.org.br paraacompanhar nossas atividades

Para participar ou acompanhar apreparação do XVII Congresso Brasileirode Folclore, há encontros semanais àsterças feiras, das 9:00 às 11:00 horas naFundação Municipal de Cultura - Rua daBahia 888 e, também, no mesmo local, àsquartas feiras de 18:00 às 21:00 horas.