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Carta de Amor a uma Bolha de Sabão Certa vez, numa das minhas leituras, ouvi o declamar de Álvaro de Campos: “Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são / Ridículas”. A partir de então não pude evitar, engajeime e escrevi para uma bolha de sabão... Quem nunca molhou o detergente para se deslumbrar com as bolhas de sabão? Elas são como bailarinas em dia de espetáculo! Derramadas no palco, elas exibem toda a sua formosura e suavidade. Num movimento cabal, elas parecem desenhar todo o espaço. Para qual lado elas vão agora? Os ares lhes sustentam com tanta facilidade, fazendo com que viagem num caos essencialmente metódico. São tão lindas! Dá vontade de pegar com vontade! Calma, elas dizem! Mas calma também significa calor forte, o que de fato elas querem dizer com uma palavra dessas? Entendêlas seria como um mergulho num devaneio. Fazer o quê!? Elas são mesmo de natureza complexa! Tanto é que se olharmos de frente para elas acontece o vermelho quente, laborioso e estimulante e se olharmos um pouco de lado, elas manifestam o violeta metafísico e cheio de magia. Como que se estivessem colorindo o quadro mais colorido, elas nos mostram o charme do seu amarelo, é impossível atalhar um sorriso. Amarrado pela curiosidade, como toda criança, tentando despistar o olhar... lá está o azul, finalmente, só assim para baixar a pressão arterial! Calma! Mas calma também é calor forte, então troco por acalma. Como uma coisa tão molhada pode ser tão quente (não pense pornografia!)? Para unirse a elas só outras bolhas de mesma espécie. Parecem que estas têm a maldita calma! Chegam de mansinho, algumas vezes por cima, outras vezes por

Carta de Amor a Uma Bolha de Sabão

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Carta poética

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  • Carta de Amor a uma Bolha de Sabo

    Certa vez, numa das minhas leituras, ouvi o declamar de lvaro de Campos: S as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / que so / Ridculas. A partir de ento no pude evitar, engajei-me e escrevi para uma bolha de sabo... Quem nunca molhou o detergente para se deslumbrar com as bolhas de sabo? Elas so como bailarinas em dia de espetculo! Derramadas no palco, elas exibem toda a sua formosura e suavidade. Num movimento cabal, elas parecem desenhar todo o espao. Para qual lado elas vo agora? Os ares lhes sustentam com tanta facilidade, fazendo com que viagem num caos essencialmente metdico. So to lindas! D vontade de pegar com vontade! Calma, elas dizem! Mas calma tambm significa calor forte, o que de fato elas querem dizer com uma palavra dessas? Entend-las seria como um mergulho num devaneio. Fazer o qu!? Elas so mesmo de natureza complexa! Tanto que se olharmos de frente para elas acontece o vermelho quente, laborioso e estimulante e se olharmos um pouco de lado, elas manifestam o violeta metafsico e cheio de magia. Como que se estivessem colorindo o quadro mais colorido, elas nos mostram o charme do seu amarelo, impossvel atalhar um sorriso. Amarrado pela curiosidade, como toda criana, tentando despistar o olhar... l est o azul, finalmente, s assim para baixar a presso arterial! Calma! Mas calma tambm calor forte, ento troco por acalma. Como uma coisa to molhada pode ser to quente (no pense pornografia!)? Para unir-se a elas s outras bolhas de mesma espcie. Parecem que estas tm a maldita calma! Chegam de mansinho, algumas vezes por cima, outras vezes por

  • baixo, e unem-se com grude formando um 8. Oito diz respeito a poder, no sentido de ter faculdade. como no ditado ou oito ou oitenta: ou tudo ou nada! Ento, numa perda de equilbrio acintosa, o 8 deita e o tudo passa ser mais que tudo, (infinito!). Como o espetculo s continua para os que esto atrs das cortinas do teatro, nessa hora que as mesmas se fecham. fatal ficar impressionado como criana que v uma bolha de sabo estourar ou um filme do Van Dame. Por isso escrevo como que num suspiro: Ah... se eu tivesse nascido detergente, seria o heri desta cena!

    MGM. 3/3/MMVI