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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO Estudo da Lagoa de Albufeira Carta de diferenças topo-hidrográficas: zonas assoreadas/erodidas Entregável 3.4.1.a Junho 2013

Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Estudo da Lagoa de Albufeira

Carta de diferenças topo-hidrográficas: zonas assoreadas/erodidas

Entregável 3.4.1.a

Junho 2013

Page 2: Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas
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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Este relatório corresponde ao Entregável 3.4.1.a do projeto “Consultoria para a Criação e

Implementação de um Sistema de Monitorização do Litoral abrangido pela área de Jurisdição da

ARH do Tejo”, realizado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), para a

Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. / Administração da Região Hidrográfica do Tejo (APA, I.P.

/ARH do Tejo).

AUTORES

Maria da Conceição Freitas (1), (2)

César Freire de Andrade (1), (2)

Sandra Moreira (1), (2)

Ana Rita Pires (1), (2)

Tiago Silva (1), (2)

Rita Matildes (1), (3)

(1) Departamento de Geologia (FCUL)

(2) Centro de Geologia da Universidade de Lisboa

(3) Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia (FCUL)

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4 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

REGISTO DE ALTERAÇÕES

Nº Ordem Data Designação

1 Junho de 2013 Versão inicial

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Entregável 3.4.1.a 5 Junho de 2013

Componentes do estudo da Lagoa de Albufeira

3 Estudo da Lagoa de Albufeira

3.1 Estudo da dinâmica da barra de maré e das suas relações com a agitação marítima incidente e as marés

3.1.1 Levantamentos topo-hidrográficos da barreira e sistema lagunar em situação de barra fechada

Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar

3.1.2 Levantamentos topo-hidrográficos da área mais próxima do canal de maré após a abertura da barra

Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal

3.1.3 Cartografia das modificações morfológicas da secção da barra de maré

Entregável 3.1.3.a Cartas de diferenças entre levantamentos sucessivos

3.1.4 Avaliação das características e modificações geométricas da secção da barra ao longo da sua existência

Entregável 3.1.4.a Perfis topográficos da secção da barra da Lagoa de Albufeira

3.1.5 Estudo das relações entre morfologia da barra de maré e magnitude do prisma de maré lagunar, e

3.1.6 Caracterização da evolução morfodinâmica da embocadura através de modelação

Entregável 3.1.5.a e 3.16.a Morfodinâmica da embocadura da Lagoa de Albufeira

3.1.7 Caracterização da hidrodinâmica e das trocas entre a laguna e o mar

Entregável 3.1.7.a Caracterização das trocas entre a Lagoa de Albufeira e o mar com o modelo ELCIRC e cálculo dos tempos de residência para várias configurações da embocadura

3.1.8 Medição das correntes de maré na barra

Entregável 3.1.8.a Séries temporais de dados de velocidade de corrente integrada na coluna de água, séries temporais de valores de velocidade de escoamento superficial

3.1.9 Integração dos dados: modelo do comportamento morfodinâmico da barra de maré da Lagoa de Albufeira e estabelecimento das condições favoráveis à abertura da barra de maré

Entregável 3.1.9.a Síntese do comportamento morfodinâmico da barra de maré da Lagoa de Albufeira, incluindo relações empíricas específicas deste sistema e orientações conducentes à maximização da eficácia das trocas de água entre a laguna e o oceano em cada abertura artificial

3.2 Estudo e caracterização da qualidade da água no espaço lagunar baseada em parâmetros físico-químicos e biológicos (macroinvertebrados bentónicos, fitoplâncton, peixes, macrófitas)

3.2.1 Monitorização dos parâmetros físico-químicos in situ e análises laboratoriais

3.2.1.1 Monitorização dos parâmetros físico-químicos in situ

Entregável 3.2.1.1.a Parâmetros físico-químicos medidos in situ na Lagoa de Albufeira

3.2.1.2 Análises laboratoriais

Entregável 3.2.1.2.a Análises laboratoriais da água da Lagoa de Albufeira

3.2.1.3 Monitorização da qualidade da água das ribeiras

Entregável 3.2.1.3.a Qualidade da água das ribeiras afluentes à Lagoa de Albufeira

3.2.2 Monitorização dos parâmetros biológicos

3.2.2.1 Biomonitorização das ribeiras (qualidade da água e grau de stress)

Entregável 3.2.2.1.a Dados de poluentes e parâmetros fisiológicos das ribeiras afluentes à Lagoa de Albufeira

3.2.2.2 Monitorização do fitoplâncton

Entregável 3.2.2.2.a Dados da monitorização do fitoplâncton na Lagoa de Albufeira

3.2.2.3 Monitorização do estado da flora e da vegetação na Lagoa de Albufeira e zona envolvente

Entregável 3.2.2.3 Relatório com o estado da flora e da vegetação na Lagoa de Albufeira e zona envolvente

Entregável 3.2.2.3.a Lista das unidades de vegetação representativas da Lagoa de Albufeira e zona envolvente

Entregável 3.2.2.3.b Lista com a composição florística de cada unidade de vegetação

Entregável 3.2.2.3.c Lista de espécies da Diretiva Habitat ou por outros motivos relevantes para a conservação

Entregável 3.2.2.3.d Lista anotada das ameaças identificadas para a vegetação da Lagoa de Albufeira e zona

Page 6: Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas

CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

6 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

envolvente

Entregável 3.2.2.3.e Índices QBR

Entregável 3.2.2.3.f Dados e gráficos de síntese de biomassa e parâmetros fisiológicos das macrófitas

3.2.2.4 Caracterização da comunidade bentónica

Entregável 3.2.2.4.a Dados de caracterização da comunidade bentónica

3.2.2.5 Caracterização da comunidade de peixes

Entregável 3.2.2.5.a Dados de caracterização da comunidade de peixes

3.2.3 Integração de toda a informação obtida

Entregável 3.2.3.a Síntese das características físico-químicas do hidrossoma lagunar e das características biológicas do sistema

3.3 Estudo da capacidade de suporte do sistema lagunar face à atividade de miticultura ali instalada

3.3.1 Monitorização da qualidade dos sedimentos do fundo lagunar

Entregável 3.3.1.a Contrastes texturais e composicionais decorrentes da atividade da miticultura e cartografia dos parâmetros analisados

3.3.2 Monitorização do fitoplâncton

Entregável 3.3.2.a Monitorização do fitoplâncton

3.3.3 Monitorização dos invertebrados bentónicos

Entregável 3.3.3.a Avaliação da influência das plataformas de mexilhão na comunidade bentónica

3.3.4 Estudo da componente parasitológica

Entregável 3.3.4.a Relação entre a comunidade de macroparasitas e indicadores parasitológicos, e sua influência no sistema lagunar

3.3.5 Integração da monitorização dos parâmetros físico-químicos do corpo aquoso

Entregável 3.3.5.a Monitorização dos parâmetros físico-químicos do corpo aquoso

3.3.6 Definição da capacidade de carga da Lagoa de Albufeira para a miticultura

Entregável 3.3.6.a Definição da capacidade de carga da Lagoa de Albufeira para a miticultura

3.4 Definição das zonas de dragagem das áreas assoreadas

3.4.1 Comparação de levantamentos topo-hidrográficos

Entregável 3.4.1.a Carta de diferenças topo-hidrográficas: zonas assoreadas/erodidas

3.4.2 Definição da volumetria e da área a dragar

Entregável 3.4.2.a Relatório e mapa de perímetro de manchas de dragagem

3.4.3 Realização de sondagens nas áreas a dragar

Entregável 3.4.3.a Localização e logs das sondagens, boletins dos resultados analíticos e interpretação quanto ao grau de contaminação dos sedimentos

3.4.4 Caracterização e comparação da hidrodinâmica da lagoa em diferentes configurações

Entregável 3.4.4.a Contribuição para a definição das dragagens da embocadura da Lagoa de Albufeira

3.4.5 Estudo de incidências ambientais nos fatores bióticos e abióticos

Entregável 3.4.5.a Estudo de incidências ambientais nos fatores bióticos e abióticos; matrizes de impacto

3.5 Definição dos locais de deposição dos dragados

3.5.1 Avaliação de alternativas para a colocação de dragados de natureza vasosa

Entregável 3.5.1.a Avaliação de alternativas para a colocação de dragados de natureza vasosa; mapas de deposição dos dragados

3.5.2 Avaliação de alternativas para a colocação dos dragados de natureza arenosa

Entregável 3.5.2.a Avaliação de alternativas para a colocação dos dragados de natureza arenosa; mapas de deposição dos dragados

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Entregável 3.4.1.a 7 Junho de 2013

Índice

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 9

2 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 10

3 RESULTADOS ...................................................................................................................................... 11

3.1 Evolução dos depósitos interiores................................................................................................. 11

3.2 Comparação entre levantamentos ................................................................................................ 22

4 CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 27

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 28

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

8 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

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Entregável 3.4.1.a 9 Junho de 2013

1 Introdução

A Lagoa de Albufeira está situada na orla ocidental da Península de Setúbal, no concelho de

Sesimbra, cerca de 20 km a sul de Lisboa. Ocupa atualmente em média uma superfície de

aproximadamente 1.3 km2 e apresenta uma geometria alongada com o eixo maior oblíquo

relativamente à linha de costa, orientado SW-NE; tem um comprimento máximo de 3.5 km e

uma largura máxima de 625 m.

A laguna é formada por dois corpos contíguos - a Lagoa Pequena (assim designada na

toponímia local) e o corpo lagunar principal a Lagoa Grande - ambos ligados por um canal

estreito, sinuoso e pouco profundo. A Lagoa Grande é constituída por dois corpos elípticos,

separados por duas cúspides arenosas aproximadamente simétricas, localizadas em margens

opostas, sendo a da margem direita dupla.

A Lagoa de Albufeira está separada do oceano por uma barreira arenosa soldada (na

classificação de Davis e Fitzgerald, 2004) ancorada às praias adjacentes que com ela se

alinham. A barreira apresenta orientação aproximada N-S, um comprimento de 1200 m e

largura variável entre 610 m, a norte, e 430 m, a sul; é constituída por: (1) um cordão litoral

propriamente dito, que engloba a praia formada por areias grosseiras, refletindo um nível

energético elevado (Freitas et al., 1992; Freitas e Andrade, 1994; Freitas, 1995), uma duna

frontal em diferentes estádios de evolução/degradação e depósitos de galgamento ativos; e

(2) por depósitos arenosos interiores (ver Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima

do canal) constituídos por bancos de areia amalgamados, originados pelo galgamento do

cordão litoral em situação de barra fechada e por fragmentos de antigos deltas de enchente,

acumulados em situação de barra aberta; os depósitos interiores, recortados por canais de

maré ativos ou desativados, apresentam uma largura média de 250 m, verificando-se uma

tendência para aumento significativo dessa largura e redução da profundidade, devido à

captura de areias promovida pelos sucessivos episódios de reabertura/fecho da barra de maré

(Freitas e Ferreira, 2004).

Com o intuito de evitar a eutrofização do hidrossoma lagunar, todos os anos se abre

artificialmente uma barra de maré nos meses de março/abril. Atualmente é realizada uma

empreitada de “abertura da lagoa ao mar”, em que se utilizam retroescavadoras e pás

mecânicas para rasgar na barreira um canal de ligação ao mar, de dimensões relativamente

pequenas e cuja cota de rasto é pouco inferior à do espelho de água lagunar. A barra deve

alinhar-se com a zona mais profunda da laguna e localizar-se onde o perfil do sistema praia-

duna seja mais curto, simples e com cotas mais baixas, de modo a facilitar o rompimento. A

localização tem variado ao longo do tempo: os canais desativados localizados a norte são

testemunhos de antigas aberturas e os canais ativos (atuais) posicionam-se a sul.

A ligação ao mar permanece durante um intervalo de tempo variável de poucos dias a vários

meses, dependendo das condições oceanográficas, do estado inicial do corpo aquoso lagunar e

da reorganização morfológica local do sistema barra de maré imediatamente após a operação

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

10 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

de reabertura. A barra fecha naturalmente (barra efémera), e caracteristicamente divaga a

favor da corrente de deriva litoral.

A Lagoa de Albufeira recebe sedimentos:

1. do continente, por via fluvial e através da erosão das margens;

2. do mar, pela barra de maré em situação de barra aberta e por episódios de

galgamento em situação de barra fechada.

Os materiais continentais são constituídos por mistura de areias e vasas, ficando as primeiras

depositadas nas margens lagunares e nos leques aluviais enquanto as segundas viajam para os

depocentros lagunares, quer na Lagoa Pequena, quer na Lagoa Grande. Os materiais marinhos

são constituídos apenas por areias que se depositam na zona da embocadura sob a forma de

deltas de enchente e leques de galgamento.

A Lagoa de Albufeira é o ambiente lagunar mais profundo do litoral português, com

profundidades superiores a 10 m na Lagoa Grande; no entanto, quer a zona da embocadura,

quer a Lagoa Pequena e ainda o canal de comunicação entre esta e a Lagoa Grande são zonas

bastante assoreadas (ver Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar).

O objetivo deste entregável é a caracterização da evolução dos fundos das zonas mais

assoreadas, com base na comparação de levantamentos topo-hidrográficos.

2 Metodologia

No âmbito deste projeto foi efetuado um levantamento topo-hidrográfico de todo o espaço

lagunar em março de 2010 (Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar), incluindo

a Lagoa Pequena e a zona da embocadura. A pesquisa documental efetuada, foi infrutífera na

obtenção de levantamentos anteriores para a zona da Lagoa Pequena. No entanto, para a zona

da embocadura obtiveram-se levantamentos efetuados em 1998, 2002, 2010 e 2011 (ver item

5.2 no Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal); esta área foi novamente

levantada pela equipa no âmbito deste projeto em 21 de março de 2013 (ver item 5.2 no

Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal). O levantamento de 2002 não

tem informação altimétrica abaixo do nível médio do mar (NMM), pelo que os resultados

obtidos da sua comparação com outras representações devem ser interpretados com muita

prudência.

O levantamento de 2013 não incluiu a Lagoa Pequena pois, devido às reduzidas taxas de

sedimentação que caracterizam aquele espaço (cerca de 5 mm/ano - Freitas e Ferreira, 2004),

a sua expressão morfológica seria inferior à incerteza do método. Assim, a área da Lagoa

Pequena não foi objeto de comparação, podendo o levantamento efetuado em 2010 servir de

referência para comparações futuras.

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Entregável 3.4.1.a 11 Junho de 2013

A comparação entre os diferentes Modelos Digitais de Elevação (MDE) foi efetuada em

ambiente ArcGIS, recorrendo à função Minus, que fornece a diferença de cota entre dois MDE.

3 Resultados

3.1 Evolução dos depósitos interiores

De acordo com Ângelo (2001), entre 1990/92 e 1996 a área dos depósitos interiores sofreu um

assoreamento rápido em consequência (1) do rebaixamento do cordão litoral, facilitando a

ocorrência de galgamentos, (2) da entrada da areia, através da barra de maré, acumulada no

delta de enchente, e (3) por transporte eólico, essencialmente após a destruição do coberto

vegetal das dunas da barreira arenosa. Deste modo, em 1996 (Figura 1) a superfície destes

depósitos situava-se 3 a 4 m acima do zero hidrográfico (ZH), dificultando o estabelecimento

de canais entre a laguna e o oceano (Ângelo, 2001).

Figura 1. Excerto do levantamento topo-batimétrico relativo a 1996, reduzido da escala 1:5000, efetuado pela Direção Geral de Portos para o Instituto da Conservação e da Natureza (Ângelo, 2001).

No âmbito do projeto “Recuperação e Valorização da Lagoa de Albufeira” foi definida uma

área, correspondente a uma grande parte dos depósitos interiores, sujeita a rebaixamento de

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

12 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

1 m; foi igualmente projetado um canal de ligação na parte sul do cordão litoral, desde a praia

oceânica até ao fundo lagunar, atravessando a duna frontal e os depósitos interiores, com uma

cota de rasto de 0.5 m (ZH) que deveria ser mantida em cada abertura nos primeiros anos após

a sua criação (Ângelo, 2001). As dragagens efetuadas em 1996 foram responsáveis pela

remoção de 90000 m3 de areias provenientes dos depósitos interiores, que foram depositadas

no cordão litoral para a construção de duna artificial; desde então a entrada de areia para o

interior do espaço lagunar por galgamento do cordão litoral é esporádica e encontra-se

associada apenas a eventos extremos. Contudo, em situação de barra aberta a maré oceânica

propaga-se no interior da laguna, transportando areias a favor da enchente, que se depositam

nas vizinhanças da boca da barra sob a forma de leques de enchente. Os sucessivos episódios

de abertura/fecho da barra e a meandrização dos canais promovem a multiplicação,

justaposição ou erosão destes leques, produzindo a longo prazo uma morfologia complexa da

margem interna do cordão litoral, variável no tempo.

As intervenções, efetuadas desde 1996, conduziram a uma alteração da morfologia da zona

vestibular da Lagoa de Albufeira, principalmente no canal da embocadura e nos depósitos

interiores. Levantamentos topo-batimétricos, efetuados após a abertura da Lagoa de Albufeira

ao mar em 1996 e 1997, mostram que o canal tende a assorear ao longo do tempo, e

evidenciam uma relação entre a diminuição das cotas dos bancos intermareais (e da praia

lagunar) e o assoreamento do canal; e em 1998 foram identificados rebaixamentos

significativos na praia lagunar, em alguns casos superiores a 1 m. Tais observações conduziram

à hipótese de que parte do assoreamento do canal de maré é efetuado pelas areias

provenientes dos bancos lagunares intermareais (Ângelo, 2001).

De modo a compreender como os depósitos interiores evoluíram desde 1998, efetuou-se a

análise dos MDE relativos a 1998, 2002, 2010, 2011 e 2013 relativamente à área definida como

sendo representativa dos depósitos interiores.

Com base na observação do MDE relativo ao ano de 1998 (Figura 2) constata-se que a

superfície dos bancos interiores surge acima do nível médio do mar até 1 m de cota; os

sedimentos depositados a cotas superiores a 1 m estão essencialmente associados a depósitos

marginais, que no limite NW podem alcançar cotas de 2.5 - 3.1 m. Dada a geometria e a

distribuição espacial dos fundos que ocorrem entre 0.0 e 0.5 m, possivelmente estes

correspondem a cicatrizes de antigos canais de maré resultantes da abertura da barra de maré

em anos anteriores. Porém, o canal de maré ativo em 1998 alcançou profundidades máximas

na ordem de 1.5 m; no entanto, junto ao limite sudeste da área em estudo as cotas são

inferiores a -2.0 m.

Em 14 de julho de 2002, como se pode observar através da fotografia aérea obtida pelo INAG1,

os bancos internos encontravam-se expostos, posicionando-se a superfície destes acima do

NMM (Figura 3A). Apesar da cota máxima observada na área em estudo ser de 2.7 m, a

1 Ex-Instituto da Água, atual APA, I.P.

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CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

Entregável 3.4.1.a 13 Junho de 2013

superfície dos bancos interiores propriamente ditos não tende a exceder 1 m, estando as cotas

mais elevadas associadas a zonas marginais (Figura 3B e C). Entre estes depósitos arenosos

observam-se as cicatrizes de diversos canais de maré, resultantes do estabelecimento da

ligação entre o corpo lagunar e oceano ao longo dos anos; porém, a inexistência de

informação topográfica abaixo do nível médio do mar não permitiu a estimativa da

profundidade dessas mesmas cicatrizes. Entre as cicatrizes observáveis, as duas que se

posicionam mais a sul estão associadas à abertura da barra de maré no ano em causa,

verificando-se que uma dessas cicatrizes corta parcialmente o cordão litoral a sul da duna

artificial. Imediatamente a norte deste conjunto de cicatrizes existe um outro par de cicatrizes,

que aparentam ser decorrentes de uma abertura da barra de maré anterior a 2002 (e

anteriores à implantação da duna artificial); porém, exibem uma configuração similar às

cicatrizes dos canais de maré que se formaram em 2002. A cicatriz mais a norte, com uma

orientação NW-SE, é visível na fotografia aérea de 1947, 1980, 1986 e 1989 (Figura 4, Figura 5)

e na fotografia aérea oblíqua de 1991 (Figura 6) (e é inclusivamente detetada no MDE

referente a 1998), devendo estar associada a uma abertura da barra de maré no extremo

norte do cordão litoral, que no levantamento de Quintino (1988) é designada como “Boca

Velha” (Figura 1, Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar).

Figura 2. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores em 1998 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea de 1997.

Page 14: Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas

CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO

14 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

Comparando as fotografias oblíquas de 1991, 2003 e 2004 (Figura 6, Figura 7, Figura 8)

constata-se que, mesmo quando o plano lagunar se encontra mais elevado (Figura 7) é

possível identificar a “Boca Velha” e o conjunto de cicatrizes imediatamente a sul, verificando-

se uma localização e configuração distinta da barra de maré entre 1991 e 2003/2004.

Os canais ativos nas fotografias aéreas de 2007 a 2011 (Figura 9, Figura 10, Figura 11, Figura

12, Figura 13) desenvolvem-se ao longo do sector sul dos depósitos interiores e apresentam

uma configuração idêntica, bifurcando ao longo dos depósitos interiores num canal norte e sul,

que se encontram separados pelo delta de enchente, e que se unem junto ao cordão litoral,

atravessando-o como um canal único. Por sua vez, no sector norte as cicatrizes antigas não

aparentam alterações significativas da sua configuração/aspeto.

Figura 3. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2002 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea do mesmo ano.

Page 15: Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas

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Entregável 3.4.1.a 15 Junho de 2013

Figura 4. Cordão litoral e depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em situação de barra aberta

(Fotografia aérea de 1947).

Figura 5. Sobreposição do levantamento topográfico de 2002 à escala 1:2000 com fotografias aéreas de anos anteriores.

Page 16: Carta de diferenças topo -hidrográficas: zonas assoreadas

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16 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

Figura 6. Vista para SE do cordão litoral e depósitos internos da Lagoa da Albufeira a 20 de abril de 1991 (© M.C. Freitas).

No MDE dos depósitos interiores relativo a 2010 (Figura 14), que caracteriza a topografia desta

morfologia em situação de barra fechada, destaca-se então no sector sul da área em estudo a

cicatriz de um canal bifurcado, que se desenvolveu em resultado da abertura da laguna ao mar

em 2009; do ponto de vista altimétrico, posiciona-se entre cotas de -0.5 a 0.5 m, enquanto a

superfície dos bancos arenosos ocorre a cotas predominantemente compreendidas entre 0.5

m e 1 m de cota. Embora de um modo mais ténue, ainda é possível identificar na metade norte

da área correspondente aos depósitos interiores as cicatrizes de antigas aberturas da laguna

ao mar, que eram estabelecidas mais a norte. Cotas superiores a 1 m correspondem

essencialmente ao delta de enchente, que é circunscrito pela cicatriz do canal de maré, e a

zonas marginais que junto ao limite NW, onde se efetua a transição do plano de água/banco

arenoso para a duna artificial implementada sobre o cordão litoral, podem alcançar cotas na

ordem dos 3 m. Embora no MDE construído se observem cotas inferiores a -0.5 m, que podem

alcançar profundidades de 1.5 m abaixo do nível médio do mar, estas não possuem uma

expressão gráfica significativa e inclusive podem resultar de artefactos da construção do

próprio MDE.

Figura 7. Fotografia aérea de 2003 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira.

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Entregável 3.4.1.a 17 Junho de 2013

Figura 8. Fotografia aérea de 2004 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Google Earth).

Figura 9. Fotografia aérea de 2007 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Google Earth).

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18 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

Figura 10. Fotografia aérea de 2008 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira

(Fonte: SIARL, 2012).

Figura 11. Fotografia aérea de 2009 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Fonte:

SIARL, 2012).

Figura 12. Fotografia aérea de 15 de dezembro de 2010 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Fonte: SIARL, 2012).

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Entregável 3.4.1.a 19 Junho de 2013

Figura 13. Fotografia aérea de 6 de outubro de 2011 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de

Albufeira (Fonte: SIARL, 2012).

Apesar do MDE da área em estudo relativo a 2011 ser parcial (Figura 15), é possível verificar

que o canal ativo e as cicatrizes de canais pré-existentes ocorrem a cotas entre 0 e 1 m; a cotas

superiores, entre 1 e 2 m, surge a superfície do delta de enchente e da barra arenosa

longilitoral que se formou em resultado da ocorrência de deriva litoral para sul. As zonas

marginais correspondem à faixa compreendida entre 1 e 2, mas que no bordo NW da área em

estudo excedem a cota dos 2 m, devido a representarem uma zona de transição para a área

dunar (artificial e natural).

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20 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

Figura 14. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2010 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a ortofotomapa de 2004.

Figura 15. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2011 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea do mesmo ano.

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Entregável 3.4.1.a 21 Junho de 2013

A 21 de março de 2013, a superfície dos bancos interiores desenvolvia-se essencialmente

desde o nível médio do mar até 1 m cima deste; porém as cotas superiores a 0.5 m

correspondiam essencialmente à transição para zonas marginais e ao topo dos bancos

arenosos, como se pode observar no sector sul da área em estudo e que possivelmente

representa o delta de enchente da barra de maré aberta em 2012 (Figura 16). Ao longo das

margens terrestres NW e NE as cotas excediam os 2 m. As cicatrizes dos canais de maré pré-

existentes também surgem abaixo do nível médio do mar, sendo nítida a cicatriz do canal

bifurcado resultante da última abertura da laguna ao mar, cuja ramificação norte se

encontrava aparentemente mais entalhada, ou menos assoreada, exibindo profundidades que

não tendem a exceder 1 m. A observação de cicatrizes de antigos canais, possivelmente ante-

1998, na zona norte da área correspondente aos depósitos interiores, é dificultada devido ao

potencial assoreamento destas morfologias. O uso de uma escala altimétrica com

espaçamento de 0.5 m, na representação da topografia dos depósitos interiores em 2013,

conduz à obliteração destas cicatrizes mais antigas, só sendo possível diferenciar no extremo

NW da área de estudo uma elipse, com um alongamento NW-SE de ~90 m, correspondente a

uma depressão relativamente rasa (profundidade até 0.5 m) que coincide com a cicatriz da

“Boca Velha”. Contudo, recorrendo a classes altimétricas com menor espaçamento, é possível

delimitar esta característica morfológica, que se desenvolve essencialmente entre -0.7 e 0.3 m,

mas cuja profundidade pode eventualmente alcançar -1.2 m.

Figura 16. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2013 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea de 2011.

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22 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

3.2 Comparação entre levantamentos

Considerando o MDE de 1998 como referência, efetua-se seguidamente a comparação da

superfície topográfica dos depósitos interiores entre este ano e os anos de 2002, 2010, 2011 e

2013.

Em 2002 verifica-se que o canal de ligação ao mar dragado em 1998 se encontrava totalmente

colmatado, tendo a espessura de sedimentos alcançado os 2.5 m na zona de transição para o

fundo lagunar (Figura 17). Apesar de ter ocorrido acreção de uma espessura até 1.5 m de

sedimento nas margens norte e sul da laguna, verifica-se que a margem lagunar do cordão

litoral foi erodida, tendo ocorrido um rebaixamento da sua superfície de até 2 m. Os canais de

maré que se identificam na fotografia aérea de 2002 e respetivo MDE, são responsáveis pela

remoção de pelo menos 1 m de espessura de sedimento; contudo, como não existe

informação relativa à profundidade destes, a erosão que promoveram poderá ter sido mais

acentuada.

Figura 17. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira de 1998 e 2002 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).

A diferença de cotas que se observa entre a superfície dos depósitos interiores em 2010

comparativamente a 1998, encontra-se maioritariamente compreendida entre -0.5 e 0.5 m

(Figura 18). A ramificação norte do canal de maré foi a principal responsável pelo

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Entregável 3.4.1.a 23 Junho de 2013

rebaixamento da superfície topográfica em 2010. Ao estender-se para oeste, sobrepôs-se à

antiga margem lagunar do cordão litoral e possivelmente promoveu a erosão da reentrância

de areia que se alongava sobre o plano lagunar, gerando diferenças de cota na ordem dos 3 m.

Por sua vez, os processos de acreção encontram-se essencialmente associados à colmatação

do canal de ligação ao mar, embora também se verifiquem em zonas marginais, tendo sido

responsáveis pela acumulação de uma espessura de sedimento até 3.3 m. A espessura máxima

de sedimento acumulado, quer em 2002 quer em 2010, surge na zona de transição entre o

canal de ligação e os fundos lagunares; deste modo, verifica-se que nessa área ocorreu a

deposição de sedimento numa quantidade que permitiu a elevação da superfície topográfica

em ~0.8 m.

Figura 18. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2010 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).

A diferença de cotas entre a superfície dos depósitos interiores em 2011 relativamente a 1998,

também se encontra maioritariamente compreendida entre o intervalo de -0.5 a 0.5m. Em

2011 (Figura 19), no local onde em 1998 se posicionava o canal de ligação entre a laguna e o

oceano ocorreu a acumulação de uma espessura sedimento até ~2.5 m. As manchas mais

significativas de zonas de acumulação de sedimento < 0.5 m encontram-se associadas ao delta

de enchente existente aquando do levantamento aerofotogramétrico de 2011 e a zonas

marginais. As principais manchas indicativas de erosão na superfície dos depósitos interiores

ocorrem na cicatriz designada por “Boca Velha”, o que poderá estar associado a diferenças e a

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24 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

artefactos do método de aquisição de dados altimétricos, e ao longo da margem lagunar do

cordão litoral. Contudo, neste último caso constata-se que a espessura erodida entre 1998 e

2011 é inferior comparativamente ao período 1998-2010, o que se deve à acumulação de uma

língua longilitoral de areia associada à meandrização da barra de maré.

Figura 19. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2011 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).

Entre 1998 e 2013 as áreas correspondentes a acreção encontram-se essencialmente

associados a (Figura 20): (1) zonas marginais, embora tendencialmente as cotas não excedam

1 m; (2) ao canal de ligação dragado em 1998 até profundidades de -1.5, encontrando-se hoje

em dia totalmente colmatado até aproximadamente à cota do nível médio do mar.

Por sua vez, é possível identificar quatro áreas em que ocorreu rebaixamento da superfície: (1)

na zona marginal sul, em que a diferença de cotas não excede -1.5 m; (2) ao longo dos canais

de maré que se formaram e desenvolveram em função da abertura da laguna ao mar no ano

2012, e cujo entalhe relativamente à topografia de 1998 não ultrapassa 1.5 m, uma vez que a

profundidade das cicatrizes desses canais tende a ser ≤1 m; (3) no sector norte da área em

estudo, em que as diferenças de cota na ordem de -1.0 a -0.5 m poderão estar associadas à

remobilização dos sedimentos que constituem os depósitos interiores, de modo a colmatar os

canais de maré que se vão formando em consequência do estabelecimento de uma ligação

entre a laguna e o oceano; e (4) na margem lagunar do cordão litoral, onde o rebaixamento de

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Entregável 3.4.1.a 25 Junho de 2013

cotas máximo é de ~3 m. Nesta última situação, embora a erosão de uma reentrância arenosa

da margem lagunar do cordão litoral que se estendia sobre o plano lagunar já tivesse sido

identificada através da comparação dos MDEs de 1998 e 2010, o posicionamento do canal de

maré observável no MDE de 2013 é em parte coincidente com a localização dessa

protuberância existente em 1998, e a erosão que promoveu enquanto esteve ativo acentuou o

rebaixamento desta área.

Figura 20. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) os depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2013 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).

Em ambiente ArcGIS, recorrendo à ferramenta Cut Fill do 3D Analyst, determinou-se a

diferença volumétrica entre os modelos digitais de elevação (MDE) dos depósitos interiores da

Lagoa de Albufeira, tendo-se utilizado como situação de referência o MDE de 1998 que

abrange uma área de aproximadamente 234000 m2. Testou-se a qualidade dos resultados,

repetindo as comparações e considerando como nulas todas as diferenças de elevações entre

levantamentos sucessivos inferiores a 0.2 m. Obtiveram-se diferenças de 1 a 7 % nos balanços

volumétricos residuais.

Em 2002 (Figura 21, Tabela 1), de modo geral houve uma perda volumétrica de 34900 m3 nos

depósitos interiores da Lagoa de Albufeira; este saldo corresponde a 71900 m3 de erosão

(ocorrida em 74 % da área analisada), o dobro da acumulação (37000 m3, afetando 26 % da

superfície monitorizada) verificada nestes 4 anos. A omissão de informação altimétrica abaixo

do NMM no levantamento de 2002 potencia os resultados obtidos para a erosão e minimiza as

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26 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

acumulações, pelo que o saldo negativo acima referido deve ser encarado com muita

prudência.

Em 2010 (Figura 21, Tabela 1), o balanço volumétrico é agora positivo e totaliza 40900 m3. Este

saldo resulta de erosão de ~32200 m3 (33 % da área) e ganho de ~73100 m3 (67 % da área) em

12 anos.

Dado o MDE de 2011 não abranger toda a área correspondente aos depósitos interiores, só foi

possível estimar a variação volumétrica relativamente a 1998 em 67 % da área. Ocorreram,

neste domínio mais restrito, ganhos de 44000 m3 (em 55 % da área) e perdas de 30400 m3,

contribuindo para ganho volumétrico líquido de 13600 m3 dos depósitos internos (Figura 21,

Tabela 1). A extrapolação linear destes resultados para um domínio semelhante ao dos outros

levantamentos, sugere um balanço de +18000 m3 (40400 m3 removidos e 58500 m3

depositados).

Em 2013 (Figura 21, Tabela 1), o volume de sedimento que se acumulou em 23 % da área

(26400 m3) é quatro vezes inferior ao volume de sedimento erodido (106000 m3, em 77 % da

superfície) indicando uma perda líquida de 79600 m3 relativamente a 1998. A esta variação

corresponde um valor médio de rebaixamento de 34 cm ou seja, uma taxa de rebaixamento

médio de 2 cm/ano.

Figura 21. Variação volumétrica dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira (verde: ganho volumétrico; vermelho: perda volumétrica) em 2002, 2010, 2011 e 2013 comparativamente à situação

de referência (MDE 1998).

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Entregável 3.4.1.a 27 Junho de 2013

Tabela 1. Volume acumulado e erodido, e respetivas áreas, nos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2002, 2010, 2011 e 2013 relativamente a 1998.

2002 - 1998 2010 - 1998 2011 - 1998 2013 - 1998

Volume Área Volume Área Volume Área Volume Área

Acreção 37019 61098 73066 157330 44015 85805 26359 54724

Inalterado 0 433 0 0 0 0 0 0

Erosão -71926 172168 -32165 76857 -30404 71302 -105948 179226

Total -34907 233699 40902 234187 13611 157106 -79589 233951

|Acreção|/|Erosão| 0.5 0.4 2.3 2.0 1.4 1.2 0.2 0.3

4 Conclusões

As variações morfológicas dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira observadas em 2002,

2010, 2011 e 2013 relativamente a 1998 correspondem a perdas e ganhos volumétricos da

ordem de 104 m3. Estas variações não configuram uma tendência persistente, parecendo

associar-se à variabilidade interanual do forçamento oceanográfico. No entanto, as variações

mais intensas ocorreram entre 2010 e 2013, quando a taxa de variação volumétrica anual

rondou os 50000 m3/ano.

Os dados obtidos sugerem que a retenção volumétrica em 2013 é inferior à observada em

1998, cerca de 1 ano após a operação de dragagem de um domínio físico semelhante ao que

aqui se analisou. A esta variação corresponde um valor médio de rebaixamento de 34 cm ou

seja, uma taxa de rebaixamento médio de 2 cm/ano.

As principais variações morfológicas (e volumétricas) associam-se à colmatação de canais

antigos e redefinição de canais novos em consequência da morfodinâmica em situação de

barra aberta.

Os elementos disponíveis não configuram um contexto de assoreamento persistente do

domínio estudado neste intervalo de tempo. A intervenção de dragagem em 1996 pretendeu

rebaixar os fundos de cotas 1 a 2 m NMM para cotas de 0 a 1 m NMM, rebaixamento que

efetivamente aconteceu como se depreende do levantamento de 1998. Em 2013 a cota da

generalidade dos fundos está mais baixa.

Dada a elevada variabilidade do sistema, a pequena magnitude das diferenças encontradas

nos últimos 15 anos e a resolução espacial dos levantamentos existentes, seria de todo

conveniente estender a aquisição de dados topobatimétricos de modo a obter uma base de

dados mais longa.

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28 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013

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