CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO
Estudo da Lagoa de Albufeira
Carta de diferenças topo-hidrográficas: zonas assoreadas/erodidas
Entregável 3.4.1.a
Junho 2013
CRIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO NO LITORAL ABRANGIDO PELA ÁREA DE JURISDIÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TEJO
Este relatório corresponde ao Entregável 3.4.1.a do projeto “Consultoria para a Criação e
Implementação de um Sistema de Monitorização do Litoral abrangido pela área de Jurisdição da
ARH do Tejo”, realizado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), para a
Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. / Administração da Região Hidrográfica do Tejo (APA, I.P.
/ARH do Tejo).
AUTORES
Maria da Conceição Freitas (1), (2)
César Freire de Andrade (1), (2)
Sandra Moreira (1), (2)
Ana Rita Pires (1), (2)
Tiago Silva (1), (2)
Rita Matildes (1), (3)
(1) Departamento de Geologia (FCUL)
(2) Centro de Geologia da Universidade de Lisboa
(3) Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia (FCUL)
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4 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
REGISTO DE ALTERAÇÕES
Nº Ordem Data Designação
1 Junho de 2013 Versão inicial
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Entregável 3.4.1.a 5 Junho de 2013
Componentes do estudo da Lagoa de Albufeira
3 Estudo da Lagoa de Albufeira
3.1 Estudo da dinâmica da barra de maré e das suas relações com a agitação marítima incidente e as marés
3.1.1 Levantamentos topo-hidrográficos da barreira e sistema lagunar em situação de barra fechada
Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar
3.1.2 Levantamentos topo-hidrográficos da área mais próxima do canal de maré após a abertura da barra
Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal
3.1.3 Cartografia das modificações morfológicas da secção da barra de maré
Entregável 3.1.3.a Cartas de diferenças entre levantamentos sucessivos
3.1.4 Avaliação das características e modificações geométricas da secção da barra ao longo da sua existência
Entregável 3.1.4.a Perfis topográficos da secção da barra da Lagoa de Albufeira
3.1.5 Estudo das relações entre morfologia da barra de maré e magnitude do prisma de maré lagunar, e
3.1.6 Caracterização da evolução morfodinâmica da embocadura através de modelação
Entregável 3.1.5.a e 3.16.a Morfodinâmica da embocadura da Lagoa de Albufeira
3.1.7 Caracterização da hidrodinâmica e das trocas entre a laguna e o mar
Entregável 3.1.7.a Caracterização das trocas entre a Lagoa de Albufeira e o mar com o modelo ELCIRC e cálculo dos tempos de residência para várias configurações da embocadura
3.1.8 Medição das correntes de maré na barra
Entregável 3.1.8.a Séries temporais de dados de velocidade de corrente integrada na coluna de água, séries temporais de valores de velocidade de escoamento superficial
3.1.9 Integração dos dados: modelo do comportamento morfodinâmico da barra de maré da Lagoa de Albufeira e estabelecimento das condições favoráveis à abertura da barra de maré
Entregável 3.1.9.a Síntese do comportamento morfodinâmico da barra de maré da Lagoa de Albufeira, incluindo relações empíricas específicas deste sistema e orientações conducentes à maximização da eficácia das trocas de água entre a laguna e o oceano em cada abertura artificial
3.2 Estudo e caracterização da qualidade da água no espaço lagunar baseada em parâmetros físico-químicos e biológicos (macroinvertebrados bentónicos, fitoplâncton, peixes, macrófitas)
3.2.1 Monitorização dos parâmetros físico-químicos in situ e análises laboratoriais
3.2.1.1 Monitorização dos parâmetros físico-químicos in situ
Entregável 3.2.1.1.a Parâmetros físico-químicos medidos in situ na Lagoa de Albufeira
3.2.1.2 Análises laboratoriais
Entregável 3.2.1.2.a Análises laboratoriais da água da Lagoa de Albufeira
3.2.1.3 Monitorização da qualidade da água das ribeiras
Entregável 3.2.1.3.a Qualidade da água das ribeiras afluentes à Lagoa de Albufeira
3.2.2 Monitorização dos parâmetros biológicos
3.2.2.1 Biomonitorização das ribeiras (qualidade da água e grau de stress)
Entregável 3.2.2.1.a Dados de poluentes e parâmetros fisiológicos das ribeiras afluentes à Lagoa de Albufeira
3.2.2.2 Monitorização do fitoplâncton
Entregável 3.2.2.2.a Dados da monitorização do fitoplâncton na Lagoa de Albufeira
3.2.2.3 Monitorização do estado da flora e da vegetação na Lagoa de Albufeira e zona envolvente
Entregável 3.2.2.3 Relatório com o estado da flora e da vegetação na Lagoa de Albufeira e zona envolvente
Entregável 3.2.2.3.a Lista das unidades de vegetação representativas da Lagoa de Albufeira e zona envolvente
Entregável 3.2.2.3.b Lista com a composição florística de cada unidade de vegetação
Entregável 3.2.2.3.c Lista de espécies da Diretiva Habitat ou por outros motivos relevantes para a conservação
Entregável 3.2.2.3.d Lista anotada das ameaças identificadas para a vegetação da Lagoa de Albufeira e zona
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6 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
envolvente
Entregável 3.2.2.3.e Índices QBR
Entregável 3.2.2.3.f Dados e gráficos de síntese de biomassa e parâmetros fisiológicos das macrófitas
3.2.2.4 Caracterização da comunidade bentónica
Entregável 3.2.2.4.a Dados de caracterização da comunidade bentónica
3.2.2.5 Caracterização da comunidade de peixes
Entregável 3.2.2.5.a Dados de caracterização da comunidade de peixes
3.2.3 Integração de toda a informação obtida
Entregável 3.2.3.a Síntese das características físico-químicas do hidrossoma lagunar e das características biológicas do sistema
3.3 Estudo da capacidade de suporte do sistema lagunar face à atividade de miticultura ali instalada
3.3.1 Monitorização da qualidade dos sedimentos do fundo lagunar
Entregável 3.3.1.a Contrastes texturais e composicionais decorrentes da atividade da miticultura e cartografia dos parâmetros analisados
3.3.2 Monitorização do fitoplâncton
Entregável 3.3.2.a Monitorização do fitoplâncton
3.3.3 Monitorização dos invertebrados bentónicos
Entregável 3.3.3.a Avaliação da influência das plataformas de mexilhão na comunidade bentónica
3.3.4 Estudo da componente parasitológica
Entregável 3.3.4.a Relação entre a comunidade de macroparasitas e indicadores parasitológicos, e sua influência no sistema lagunar
3.3.5 Integração da monitorização dos parâmetros físico-químicos do corpo aquoso
Entregável 3.3.5.a Monitorização dos parâmetros físico-químicos do corpo aquoso
3.3.6 Definição da capacidade de carga da Lagoa de Albufeira para a miticultura
Entregável 3.3.6.a Definição da capacidade de carga da Lagoa de Albufeira para a miticultura
3.4 Definição das zonas de dragagem das áreas assoreadas
3.4.1 Comparação de levantamentos topo-hidrográficos
Entregável 3.4.1.a Carta de diferenças topo-hidrográficas: zonas assoreadas/erodidas
3.4.2 Definição da volumetria e da área a dragar
Entregável 3.4.2.a Relatório e mapa de perímetro de manchas de dragagem
3.4.3 Realização de sondagens nas áreas a dragar
Entregável 3.4.3.a Localização e logs das sondagens, boletins dos resultados analíticos e interpretação quanto ao grau de contaminação dos sedimentos
3.4.4 Caracterização e comparação da hidrodinâmica da lagoa em diferentes configurações
Entregável 3.4.4.a Contribuição para a definição das dragagens da embocadura da Lagoa de Albufeira
3.4.5 Estudo de incidências ambientais nos fatores bióticos e abióticos
Entregável 3.4.5.a Estudo de incidências ambientais nos fatores bióticos e abióticos; matrizes de impacto
3.5 Definição dos locais de deposição dos dragados
3.5.1 Avaliação de alternativas para a colocação de dragados de natureza vasosa
Entregável 3.5.1.a Avaliação de alternativas para a colocação de dragados de natureza vasosa; mapas de deposição dos dragados
3.5.2 Avaliação de alternativas para a colocação dos dragados de natureza arenosa
Entregável 3.5.2.a Avaliação de alternativas para a colocação dos dragados de natureza arenosa; mapas de deposição dos dragados
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Entregável 3.4.1.a 7 Junho de 2013
Índice
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 9
2 METODOLOGIA .................................................................................................................................. 10
3 RESULTADOS ...................................................................................................................................... 11
3.1 Evolução dos depósitos interiores................................................................................................. 11
3.2 Comparação entre levantamentos ................................................................................................ 22
4 CONCLUSÕES ..................................................................................................................................... 27
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 28
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8 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
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Entregável 3.4.1.a 9 Junho de 2013
1 Introdução
A Lagoa de Albufeira está situada na orla ocidental da Península de Setúbal, no concelho de
Sesimbra, cerca de 20 km a sul de Lisboa. Ocupa atualmente em média uma superfície de
aproximadamente 1.3 km2 e apresenta uma geometria alongada com o eixo maior oblíquo
relativamente à linha de costa, orientado SW-NE; tem um comprimento máximo de 3.5 km e
uma largura máxima de 625 m.
A laguna é formada por dois corpos contíguos - a Lagoa Pequena (assim designada na
toponímia local) e o corpo lagunar principal a Lagoa Grande - ambos ligados por um canal
estreito, sinuoso e pouco profundo. A Lagoa Grande é constituída por dois corpos elípticos,
separados por duas cúspides arenosas aproximadamente simétricas, localizadas em margens
opostas, sendo a da margem direita dupla.
A Lagoa de Albufeira está separada do oceano por uma barreira arenosa soldada (na
classificação de Davis e Fitzgerald, 2004) ancorada às praias adjacentes que com ela se
alinham. A barreira apresenta orientação aproximada N-S, um comprimento de 1200 m e
largura variável entre 610 m, a norte, e 430 m, a sul; é constituída por: (1) um cordão litoral
propriamente dito, que engloba a praia formada por areias grosseiras, refletindo um nível
energético elevado (Freitas et al., 1992; Freitas e Andrade, 1994; Freitas, 1995), uma duna
frontal em diferentes estádios de evolução/degradação e depósitos de galgamento ativos; e
(2) por depósitos arenosos interiores (ver Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima
do canal) constituídos por bancos de areia amalgamados, originados pelo galgamento do
cordão litoral em situação de barra fechada e por fragmentos de antigos deltas de enchente,
acumulados em situação de barra aberta; os depósitos interiores, recortados por canais de
maré ativos ou desativados, apresentam uma largura média de 250 m, verificando-se uma
tendência para aumento significativo dessa largura e redução da profundidade, devido à
captura de areias promovida pelos sucessivos episódios de reabertura/fecho da barra de maré
(Freitas e Ferreira, 2004).
Com o intuito de evitar a eutrofização do hidrossoma lagunar, todos os anos se abre
artificialmente uma barra de maré nos meses de março/abril. Atualmente é realizada uma
empreitada de “abertura da lagoa ao mar”, em que se utilizam retroescavadoras e pás
mecânicas para rasgar na barreira um canal de ligação ao mar, de dimensões relativamente
pequenas e cuja cota de rasto é pouco inferior à do espelho de água lagunar. A barra deve
alinhar-se com a zona mais profunda da laguna e localizar-se onde o perfil do sistema praia-
duna seja mais curto, simples e com cotas mais baixas, de modo a facilitar o rompimento. A
localização tem variado ao longo do tempo: os canais desativados localizados a norte são
testemunhos de antigas aberturas e os canais ativos (atuais) posicionam-se a sul.
A ligação ao mar permanece durante um intervalo de tempo variável de poucos dias a vários
meses, dependendo das condições oceanográficas, do estado inicial do corpo aquoso lagunar e
da reorganização morfológica local do sistema barra de maré imediatamente após a operação
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10 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
de reabertura. A barra fecha naturalmente (barra efémera), e caracteristicamente divaga a
favor da corrente de deriva litoral.
A Lagoa de Albufeira recebe sedimentos:
1. do continente, por via fluvial e através da erosão das margens;
2. do mar, pela barra de maré em situação de barra aberta e por episódios de
galgamento em situação de barra fechada.
Os materiais continentais são constituídos por mistura de areias e vasas, ficando as primeiras
depositadas nas margens lagunares e nos leques aluviais enquanto as segundas viajam para os
depocentros lagunares, quer na Lagoa Pequena, quer na Lagoa Grande. Os materiais marinhos
são constituídos apenas por areias que se depositam na zona da embocadura sob a forma de
deltas de enchente e leques de galgamento.
A Lagoa de Albufeira é o ambiente lagunar mais profundo do litoral português, com
profundidades superiores a 10 m na Lagoa Grande; no entanto, quer a zona da embocadura,
quer a Lagoa Pequena e ainda o canal de comunicação entre esta e a Lagoa Grande são zonas
bastante assoreadas (ver Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar).
O objetivo deste entregável é a caracterização da evolução dos fundos das zonas mais
assoreadas, com base na comparação de levantamentos topo-hidrográficos.
2 Metodologia
No âmbito deste projeto foi efetuado um levantamento topo-hidrográfico de todo o espaço
lagunar em março de 2010 (Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar), incluindo
a Lagoa Pequena e a zona da embocadura. A pesquisa documental efetuada, foi infrutífera na
obtenção de levantamentos anteriores para a zona da Lagoa Pequena. No entanto, para a zona
da embocadura obtiveram-se levantamentos efetuados em 1998, 2002, 2010 e 2011 (ver item
5.2 no Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal); esta área foi novamente
levantada pela equipa no âmbito deste projeto em 21 de março de 2013 (ver item 5.2 no
Entregável 3.1.2.a Topo-hidrografia da área próxima do canal). O levantamento de 2002 não
tem informação altimétrica abaixo do nível médio do mar (NMM), pelo que os resultados
obtidos da sua comparação com outras representações devem ser interpretados com muita
prudência.
O levantamento de 2013 não incluiu a Lagoa Pequena pois, devido às reduzidas taxas de
sedimentação que caracterizam aquele espaço (cerca de 5 mm/ano - Freitas e Ferreira, 2004),
a sua expressão morfológica seria inferior à incerteza do método. Assim, a área da Lagoa
Pequena não foi objeto de comparação, podendo o levantamento efetuado em 2010 servir de
referência para comparações futuras.
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Entregável 3.4.1.a 11 Junho de 2013
A comparação entre os diferentes Modelos Digitais de Elevação (MDE) foi efetuada em
ambiente ArcGIS, recorrendo à função Minus, que fornece a diferença de cota entre dois MDE.
3 Resultados
3.1 Evolução dos depósitos interiores
De acordo com Ângelo (2001), entre 1990/92 e 1996 a área dos depósitos interiores sofreu um
assoreamento rápido em consequência (1) do rebaixamento do cordão litoral, facilitando a
ocorrência de galgamentos, (2) da entrada da areia, através da barra de maré, acumulada no
delta de enchente, e (3) por transporte eólico, essencialmente após a destruição do coberto
vegetal das dunas da barreira arenosa. Deste modo, em 1996 (Figura 1) a superfície destes
depósitos situava-se 3 a 4 m acima do zero hidrográfico (ZH), dificultando o estabelecimento
de canais entre a laguna e o oceano (Ângelo, 2001).
Figura 1. Excerto do levantamento topo-batimétrico relativo a 1996, reduzido da escala 1:5000, efetuado pela Direção Geral de Portos para o Instituto da Conservação e da Natureza (Ângelo, 2001).
No âmbito do projeto “Recuperação e Valorização da Lagoa de Albufeira” foi definida uma
área, correspondente a uma grande parte dos depósitos interiores, sujeita a rebaixamento de
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12 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
1 m; foi igualmente projetado um canal de ligação na parte sul do cordão litoral, desde a praia
oceânica até ao fundo lagunar, atravessando a duna frontal e os depósitos interiores, com uma
cota de rasto de 0.5 m (ZH) que deveria ser mantida em cada abertura nos primeiros anos após
a sua criação (Ângelo, 2001). As dragagens efetuadas em 1996 foram responsáveis pela
remoção de 90000 m3 de areias provenientes dos depósitos interiores, que foram depositadas
no cordão litoral para a construção de duna artificial; desde então a entrada de areia para o
interior do espaço lagunar por galgamento do cordão litoral é esporádica e encontra-se
associada apenas a eventos extremos. Contudo, em situação de barra aberta a maré oceânica
propaga-se no interior da laguna, transportando areias a favor da enchente, que se depositam
nas vizinhanças da boca da barra sob a forma de leques de enchente. Os sucessivos episódios
de abertura/fecho da barra e a meandrização dos canais promovem a multiplicação,
justaposição ou erosão destes leques, produzindo a longo prazo uma morfologia complexa da
margem interna do cordão litoral, variável no tempo.
As intervenções, efetuadas desde 1996, conduziram a uma alteração da morfologia da zona
vestibular da Lagoa de Albufeira, principalmente no canal da embocadura e nos depósitos
interiores. Levantamentos topo-batimétricos, efetuados após a abertura da Lagoa de Albufeira
ao mar em 1996 e 1997, mostram que o canal tende a assorear ao longo do tempo, e
evidenciam uma relação entre a diminuição das cotas dos bancos intermareais (e da praia
lagunar) e o assoreamento do canal; e em 1998 foram identificados rebaixamentos
significativos na praia lagunar, em alguns casos superiores a 1 m. Tais observações conduziram
à hipótese de que parte do assoreamento do canal de maré é efetuado pelas areias
provenientes dos bancos lagunares intermareais (Ângelo, 2001).
De modo a compreender como os depósitos interiores evoluíram desde 1998, efetuou-se a
análise dos MDE relativos a 1998, 2002, 2010, 2011 e 2013 relativamente à área definida como
sendo representativa dos depósitos interiores.
Com base na observação do MDE relativo ao ano de 1998 (Figura 2) constata-se que a
superfície dos bancos interiores surge acima do nível médio do mar até 1 m de cota; os
sedimentos depositados a cotas superiores a 1 m estão essencialmente associados a depósitos
marginais, que no limite NW podem alcançar cotas de 2.5 - 3.1 m. Dada a geometria e a
distribuição espacial dos fundos que ocorrem entre 0.0 e 0.5 m, possivelmente estes
correspondem a cicatrizes de antigos canais de maré resultantes da abertura da barra de maré
em anos anteriores. Porém, o canal de maré ativo em 1998 alcançou profundidades máximas
na ordem de 1.5 m; no entanto, junto ao limite sudeste da área em estudo as cotas são
inferiores a -2.0 m.
Em 14 de julho de 2002, como se pode observar através da fotografia aérea obtida pelo INAG1,
os bancos internos encontravam-se expostos, posicionando-se a superfície destes acima do
NMM (Figura 3A). Apesar da cota máxima observada na área em estudo ser de 2.7 m, a
1 Ex-Instituto da Água, atual APA, I.P.
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Entregável 3.4.1.a 13 Junho de 2013
superfície dos bancos interiores propriamente ditos não tende a exceder 1 m, estando as cotas
mais elevadas associadas a zonas marginais (Figura 3B e C). Entre estes depósitos arenosos
observam-se as cicatrizes de diversos canais de maré, resultantes do estabelecimento da
ligação entre o corpo lagunar e oceano ao longo dos anos; porém, a inexistência de
informação topográfica abaixo do nível médio do mar não permitiu a estimativa da
profundidade dessas mesmas cicatrizes. Entre as cicatrizes observáveis, as duas que se
posicionam mais a sul estão associadas à abertura da barra de maré no ano em causa,
verificando-se que uma dessas cicatrizes corta parcialmente o cordão litoral a sul da duna
artificial. Imediatamente a norte deste conjunto de cicatrizes existe um outro par de cicatrizes,
que aparentam ser decorrentes de uma abertura da barra de maré anterior a 2002 (e
anteriores à implantação da duna artificial); porém, exibem uma configuração similar às
cicatrizes dos canais de maré que se formaram em 2002. A cicatriz mais a norte, com uma
orientação NW-SE, é visível na fotografia aérea de 1947, 1980, 1986 e 1989 (Figura 4, Figura 5)
e na fotografia aérea oblíqua de 1991 (Figura 6) (e é inclusivamente detetada no MDE
referente a 1998), devendo estar associada a uma abertura da barra de maré no extremo
norte do cordão litoral, que no levantamento de Quintino (1988) é designada como “Boca
Velha” (Figura 1, Entregável 3.1.1.a Batimetria de todo o sistema lagunar).
Figura 2. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores em 1998 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea de 1997.
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14 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
Comparando as fotografias oblíquas de 1991, 2003 e 2004 (Figura 6, Figura 7, Figura 8)
constata-se que, mesmo quando o plano lagunar se encontra mais elevado (Figura 7) é
possível identificar a “Boca Velha” e o conjunto de cicatrizes imediatamente a sul, verificando-
se uma localização e configuração distinta da barra de maré entre 1991 e 2003/2004.
Os canais ativos nas fotografias aéreas de 2007 a 2011 (Figura 9, Figura 10, Figura 11, Figura
12, Figura 13) desenvolvem-se ao longo do sector sul dos depósitos interiores e apresentam
uma configuração idêntica, bifurcando ao longo dos depósitos interiores num canal norte e sul,
que se encontram separados pelo delta de enchente, e que se unem junto ao cordão litoral,
atravessando-o como um canal único. Por sua vez, no sector norte as cicatrizes antigas não
aparentam alterações significativas da sua configuração/aspeto.
Figura 3. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2002 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea do mesmo ano.
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Entregável 3.4.1.a 15 Junho de 2013
Figura 4. Cordão litoral e depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em situação de barra aberta
(Fotografia aérea de 1947).
Figura 5. Sobreposição do levantamento topográfico de 2002 à escala 1:2000 com fotografias aéreas de anos anteriores.
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16 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
Figura 6. Vista para SE do cordão litoral e depósitos internos da Lagoa da Albufeira a 20 de abril de 1991 (© M.C. Freitas).
No MDE dos depósitos interiores relativo a 2010 (Figura 14), que caracteriza a topografia desta
morfologia em situação de barra fechada, destaca-se então no sector sul da área em estudo a
cicatriz de um canal bifurcado, que se desenvolveu em resultado da abertura da laguna ao mar
em 2009; do ponto de vista altimétrico, posiciona-se entre cotas de -0.5 a 0.5 m, enquanto a
superfície dos bancos arenosos ocorre a cotas predominantemente compreendidas entre 0.5
m e 1 m de cota. Embora de um modo mais ténue, ainda é possível identificar na metade norte
da área correspondente aos depósitos interiores as cicatrizes de antigas aberturas da laguna
ao mar, que eram estabelecidas mais a norte. Cotas superiores a 1 m correspondem
essencialmente ao delta de enchente, que é circunscrito pela cicatriz do canal de maré, e a
zonas marginais que junto ao limite NW, onde se efetua a transição do plano de água/banco
arenoso para a duna artificial implementada sobre o cordão litoral, podem alcançar cotas na
ordem dos 3 m. Embora no MDE construído se observem cotas inferiores a -0.5 m, que podem
alcançar profundidades de 1.5 m abaixo do nível médio do mar, estas não possuem uma
expressão gráfica significativa e inclusive podem resultar de artefactos da construção do
próprio MDE.
Figura 7. Fotografia aérea de 2003 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira.
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Entregável 3.4.1.a 17 Junho de 2013
Figura 8. Fotografia aérea de 2004 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Google Earth).
Figura 9. Fotografia aérea de 2007 com vista para oeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Google Earth).
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18 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
Figura 10. Fotografia aérea de 2008 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira
(Fonte: SIARL, 2012).
Figura 11. Fotografia aérea de 2009 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Fonte:
SIARL, 2012).
Figura 12. Fotografia aérea de 15 de dezembro de 2010 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de Albufeira (Fonte: SIARL, 2012).
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Entregável 3.4.1.a 19 Junho de 2013
Figura 13. Fotografia aérea de 6 de outubro de 2011 com vista para noroeste da zona oeste da Lagoa de
Albufeira (Fonte: SIARL, 2012).
Apesar do MDE da área em estudo relativo a 2011 ser parcial (Figura 15), é possível verificar
que o canal ativo e as cicatrizes de canais pré-existentes ocorrem a cotas entre 0 e 1 m; a cotas
superiores, entre 1 e 2 m, surge a superfície do delta de enchente e da barra arenosa
longilitoral que se formou em resultado da ocorrência de deriva litoral para sul. As zonas
marginais correspondem à faixa compreendida entre 1 e 2, mas que no bordo NW da área em
estudo excedem a cota dos 2 m, devido a representarem uma zona de transição para a área
dunar (artificial e natural).
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Figura 14. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2010 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a ortofotomapa de 2004.
Figura 15. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2011 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea do mesmo ano.
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Entregável 3.4.1.a 21 Junho de 2013
A 21 de março de 2013, a superfície dos bancos interiores desenvolvia-se essencialmente
desde o nível médio do mar até 1 m cima deste; porém as cotas superiores a 0.5 m
correspondiam essencialmente à transição para zonas marginais e ao topo dos bancos
arenosos, como se pode observar no sector sul da área em estudo e que possivelmente
representa o delta de enchente da barra de maré aberta em 2012 (Figura 16). Ao longo das
margens terrestres NW e NE as cotas excediam os 2 m. As cicatrizes dos canais de maré pré-
existentes também surgem abaixo do nível médio do mar, sendo nítida a cicatriz do canal
bifurcado resultante da última abertura da laguna ao mar, cuja ramificação norte se
encontrava aparentemente mais entalhada, ou menos assoreada, exibindo profundidades que
não tendem a exceder 1 m. A observação de cicatrizes de antigos canais, possivelmente ante-
1998, na zona norte da área correspondente aos depósitos interiores, é dificultada devido ao
potencial assoreamento destas morfologias. O uso de uma escala altimétrica com
espaçamento de 0.5 m, na representação da topografia dos depósitos interiores em 2013,
conduz à obliteração destas cicatrizes mais antigas, só sendo possível diferenciar no extremo
NW da área de estudo uma elipse, com um alongamento NW-SE de ~90 m, correspondente a
uma depressão relativamente rasa (profundidade até 0.5 m) que coincide com a cicatriz da
“Boca Velha”. Contudo, recorrendo a classes altimétricas com menor espaçamento, é possível
delimitar esta característica morfológica, que se desenvolve essencialmente entre -0.7 e 0.3 m,
mas cuja profundidade pode eventualmente alcançar -1.2 m.
Figura 16. Informação topográfica relativa aos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2013 (A) e respetivos Modelos Digitais de Elevação (MDE) (B e C), sobre a fotografia aérea de 2011.
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3.2 Comparação entre levantamentos
Considerando o MDE de 1998 como referência, efetua-se seguidamente a comparação da
superfície topográfica dos depósitos interiores entre este ano e os anos de 2002, 2010, 2011 e
2013.
Em 2002 verifica-se que o canal de ligação ao mar dragado em 1998 se encontrava totalmente
colmatado, tendo a espessura de sedimentos alcançado os 2.5 m na zona de transição para o
fundo lagunar (Figura 17). Apesar de ter ocorrido acreção de uma espessura até 1.5 m de
sedimento nas margens norte e sul da laguna, verifica-se que a margem lagunar do cordão
litoral foi erodida, tendo ocorrido um rebaixamento da sua superfície de até 2 m. Os canais de
maré que se identificam na fotografia aérea de 2002 e respetivo MDE, são responsáveis pela
remoção de pelo menos 1 m de espessura de sedimento; contudo, como não existe
informação relativa à profundidade destes, a erosão que promoveram poderá ter sido mais
acentuada.
Figura 17. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira de 1998 e 2002 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).
A diferença de cotas que se observa entre a superfície dos depósitos interiores em 2010
comparativamente a 1998, encontra-se maioritariamente compreendida entre -0.5 e 0.5 m
(Figura 18). A ramificação norte do canal de maré foi a principal responsável pelo
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rebaixamento da superfície topográfica em 2010. Ao estender-se para oeste, sobrepôs-se à
antiga margem lagunar do cordão litoral e possivelmente promoveu a erosão da reentrância
de areia que se alongava sobre o plano lagunar, gerando diferenças de cota na ordem dos 3 m.
Por sua vez, os processos de acreção encontram-se essencialmente associados à colmatação
do canal de ligação ao mar, embora também se verifiquem em zonas marginais, tendo sido
responsáveis pela acumulação de uma espessura de sedimento até 3.3 m. A espessura máxima
de sedimento acumulado, quer em 2002 quer em 2010, surge na zona de transição entre o
canal de ligação e os fundos lagunares; deste modo, verifica-se que nessa área ocorreu a
deposição de sedimento numa quantidade que permitiu a elevação da superfície topográfica
em ~0.8 m.
Figura 18. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2010 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).
A diferença de cotas entre a superfície dos depósitos interiores em 2011 relativamente a 1998,
também se encontra maioritariamente compreendida entre o intervalo de -0.5 a 0.5m. Em
2011 (Figura 19), no local onde em 1998 se posicionava o canal de ligação entre a laguna e o
oceano ocorreu a acumulação de uma espessura sedimento até ~2.5 m. As manchas mais
significativas de zonas de acumulação de sedimento < 0.5 m encontram-se associadas ao delta
de enchente existente aquando do levantamento aerofotogramétrico de 2011 e a zonas
marginais. As principais manchas indicativas de erosão na superfície dos depósitos interiores
ocorrem na cicatriz designada por “Boca Velha”, o que poderá estar associado a diferenças e a
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24 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
artefactos do método de aquisição de dados altimétricos, e ao longo da margem lagunar do
cordão litoral. Contudo, neste último caso constata-se que a espessura erodida entre 1998 e
2011 é inferior comparativamente ao período 1998-2010, o que se deve à acumulação de uma
língua longilitoral de areia associada à meandrização da barra de maré.
Figura 19. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2011 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).
Entre 1998 e 2013 as áreas correspondentes a acreção encontram-se essencialmente
associados a (Figura 20): (1) zonas marginais, embora tendencialmente as cotas não excedam
1 m; (2) ao canal de ligação dragado em 1998 até profundidades de -1.5, encontrando-se hoje
em dia totalmente colmatado até aproximadamente à cota do nível médio do mar.
Por sua vez, é possível identificar quatro áreas em que ocorreu rebaixamento da superfície: (1)
na zona marginal sul, em que a diferença de cotas não excede -1.5 m; (2) ao longo dos canais
de maré que se formaram e desenvolveram em função da abertura da laguna ao mar no ano
2012, e cujo entalhe relativamente à topografia de 1998 não ultrapassa 1.5 m, uma vez que a
profundidade das cicatrizes desses canais tende a ser ≤1 m; (3) no sector norte da área em
estudo, em que as diferenças de cota na ordem de -1.0 a -0.5 m poderão estar associadas à
remobilização dos sedimentos que constituem os depósitos interiores, de modo a colmatar os
canais de maré que se vão formando em consequência do estabelecimento de uma ligação
entre a laguna e o oceano; e (4) na margem lagunar do cordão litoral, onde o rebaixamento de
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cotas máximo é de ~3 m. Nesta última situação, embora a erosão de uma reentrância arenosa
da margem lagunar do cordão litoral que se estendia sobre o plano lagunar já tivesse sido
identificada através da comparação dos MDEs de 1998 e 2010, o posicionamento do canal de
maré observável no MDE de 2013 é em parte coincidente com a localização dessa
protuberância existente em 1998, e a erosão que promoveu enquanto esteve ativo acentuou o
rebaixamento desta área.
Figura 20. Comparação entre os Modelos Digitais de Elevação (MDE) os depósitos interiores da Lagoa de Albufeira 1998 e 2013 (A e B) e respetivas diferenças altimétricas (C).
Em ambiente ArcGIS, recorrendo à ferramenta Cut Fill do 3D Analyst, determinou-se a
diferença volumétrica entre os modelos digitais de elevação (MDE) dos depósitos interiores da
Lagoa de Albufeira, tendo-se utilizado como situação de referência o MDE de 1998 que
abrange uma área de aproximadamente 234000 m2. Testou-se a qualidade dos resultados,
repetindo as comparações e considerando como nulas todas as diferenças de elevações entre
levantamentos sucessivos inferiores a 0.2 m. Obtiveram-se diferenças de 1 a 7 % nos balanços
volumétricos residuais.
Em 2002 (Figura 21, Tabela 1), de modo geral houve uma perda volumétrica de 34900 m3 nos
depósitos interiores da Lagoa de Albufeira; este saldo corresponde a 71900 m3 de erosão
(ocorrida em 74 % da área analisada), o dobro da acumulação (37000 m3, afetando 26 % da
superfície monitorizada) verificada nestes 4 anos. A omissão de informação altimétrica abaixo
do NMM no levantamento de 2002 potencia os resultados obtidos para a erosão e minimiza as
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26 Entregável 3.4.1.a Junho de 2013
acumulações, pelo que o saldo negativo acima referido deve ser encarado com muita
prudência.
Em 2010 (Figura 21, Tabela 1), o balanço volumétrico é agora positivo e totaliza 40900 m3. Este
saldo resulta de erosão de ~32200 m3 (33 % da área) e ganho de ~73100 m3 (67 % da área) em
12 anos.
Dado o MDE de 2011 não abranger toda a área correspondente aos depósitos interiores, só foi
possível estimar a variação volumétrica relativamente a 1998 em 67 % da área. Ocorreram,
neste domínio mais restrito, ganhos de 44000 m3 (em 55 % da área) e perdas de 30400 m3,
contribuindo para ganho volumétrico líquido de 13600 m3 dos depósitos internos (Figura 21,
Tabela 1). A extrapolação linear destes resultados para um domínio semelhante ao dos outros
levantamentos, sugere um balanço de +18000 m3 (40400 m3 removidos e 58500 m3
depositados).
Em 2013 (Figura 21, Tabela 1), o volume de sedimento que se acumulou em 23 % da área
(26400 m3) é quatro vezes inferior ao volume de sedimento erodido (106000 m3, em 77 % da
superfície) indicando uma perda líquida de 79600 m3 relativamente a 1998. A esta variação
corresponde um valor médio de rebaixamento de 34 cm ou seja, uma taxa de rebaixamento
médio de 2 cm/ano.
Figura 21. Variação volumétrica dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira (verde: ganho volumétrico; vermelho: perda volumétrica) em 2002, 2010, 2011 e 2013 comparativamente à situação
de referência (MDE 1998).
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Entregável 3.4.1.a 27 Junho de 2013
Tabela 1. Volume acumulado e erodido, e respetivas áreas, nos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira em 2002, 2010, 2011 e 2013 relativamente a 1998.
2002 - 1998 2010 - 1998 2011 - 1998 2013 - 1998
Volume Área Volume Área Volume Área Volume Área
Acreção 37019 61098 73066 157330 44015 85805 26359 54724
Inalterado 0 433 0 0 0 0 0 0
Erosão -71926 172168 -32165 76857 -30404 71302 -105948 179226
Total -34907 233699 40902 234187 13611 157106 -79589 233951
|Acreção|/|Erosão| 0.5 0.4 2.3 2.0 1.4 1.2 0.2 0.3
4 Conclusões
As variações morfológicas dos depósitos interiores da Lagoa de Albufeira observadas em 2002,
2010, 2011 e 2013 relativamente a 1998 correspondem a perdas e ganhos volumétricos da
ordem de 104 m3. Estas variações não configuram uma tendência persistente, parecendo
associar-se à variabilidade interanual do forçamento oceanográfico. No entanto, as variações
mais intensas ocorreram entre 2010 e 2013, quando a taxa de variação volumétrica anual
rondou os 50000 m3/ano.
Os dados obtidos sugerem que a retenção volumétrica em 2013 é inferior à observada em
1998, cerca de 1 ano após a operação de dragagem de um domínio físico semelhante ao que
aqui se analisou. A esta variação corresponde um valor médio de rebaixamento de 34 cm ou
seja, uma taxa de rebaixamento médio de 2 cm/ano.
As principais variações morfológicas (e volumétricas) associam-se à colmatação de canais
antigos e redefinição de canais novos em consequência da morfodinâmica em situação de
barra aberta.
Os elementos disponíveis não configuram um contexto de assoreamento persistente do
domínio estudado neste intervalo de tempo. A intervenção de dragagem em 1996 pretendeu
rebaixar os fundos de cotas 1 a 2 m NMM para cotas de 0 a 1 m NMM, rebaixamento que
efetivamente aconteceu como se depreende do levantamento de 1998. Em 2013 a cota da
generalidade dos fundos está mais baixa.
Dada a elevada variabilidade do sistema, a pequena magnitude das diferenças encontradas
nos últimos 15 anos e a resolução espacial dos levantamentos existentes, seria de todo
conveniente estender a aquisição de dados topobatimétricos de modo a obter uma base de
dados mais longa.
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