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EQUIPES CARTA Nn 3 EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO- 1978

CARTA Nn 3 - ENS · do Hindu D. G. Mukerji, que dá grande relevo ao poder da oração. Eis aqui o ... são também de grandes alegrias. A entre-ajuda conjugal supõe &te conhecimento

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EQUIPES r~OVAS

CARTA Nn 3

EQUIPES DE NOSSA SENHORA

SÃO PAULO- 1978

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Recomendo-te, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições e ações de graças por todos os homens.

S . Paulo (I Timóteo, 2, 1)

Orai também por nós, para que Deus abra uma porta à nossa palavra, a fim de podermos anunciar o mistério de Cristo.

S. Paulo (Colossenses, 4, 3)

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EDITORIAL

DE BRAÇOS ABERTOS

Para os que compreendem a importância da oração, a fim de encorajar.

Para. os que duvidam dela, na. tentativa de os convencer.

Acabo de reler uma página de "Le Vlsage de Mon Frere" do Hindu D. G. Mukerji, que dá grande relevo ao poder da oração. Eis aqui o essencial.

No fim da vida, um santo homem retirou-se para uma. gruta da montanha a fim de melhor encontrar Deus. Os camponeses dos arredores nunca deixavam de lhe mandar frutas e bolos e, por vezes, subiam até junto dele. Os jovens protestavam contra tais generosidades para com um homem :tnútil. Mas os velhos faziam calar esses jovens racionallsta3: "Temos de enviar oferendas a um homem santo, quer ele viva ou não para proveito de alguém. Então a santidade não é a jóia da existência?"

Um dia, passados vinte anos, encontram-no morto, esten­dido à. entrada da gruta.

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Seis semanas depois, cometeu-se um crime horroroso na aldeia e a população ficou transtornada, de desgosto e de med:>. Os anciãos foram jejuar e orar. De repente, um deles gritou: "Descobri o segredo". Perante a população reunida, explicou: "lt verdade que o santo homem, durante todo o tempo em que viveu na gruta, nunca levantou um dedo para nos ajudar, não p:estou socorro aos miseráveis, nem cuidou de algum doente. Mas a virtude provoca a virtude, e a vida produz vida melhor. Tudo corria bem entre nós. Nenhum homem tirou a vida ao seu Irmão enquanto ele viveu. Não vêem a verdade? Nunca. trabalhou para nós mas a sua presença de leão afastava o lobo da desgraça das nossas portas ".

Esta narração lembra, irresistivelmente uma das grandes páginas da Bíblia, no capítu:o do :l!:xodo: "Amalec foi atacar Israel em Refidim. Moués disse a Josué: "Escolhe homens e vai dar combate a Amalec. Estarei amanhã no cimo da colina, com a -vara de Deus na minha mão" . Jo;;:ué cumpriu o que Moisés lhe havia dito, e partiu para travar luta com Amalec, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiam para o cimo da colina. Quando Moisés tinha os braços erguidos , Israel dominava o combate ; e quando deixava cair as mãos, Amalec triunfava. Como os braços de Moisés estivessem já caru:ados, Aarão e Hm

·agarraram uma pedra e colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, enquanto lhe seguravam as mãos, um de um lado , outro do lado contrário. Os seus braços puderam, assim, man­ter-<:e firmes até o pôr do sol. E Josué triunfou de Amalec e do .!:eu povo a fio de espada".

Os soldados de Amalec não compreenderam que força se opunha aos seus impetuosos ataques. O exército dos Hebreus, mal treinado e pouco numeroso, não explicava suficientemente essa resistên cia.. . Não podiam suspeitar que aquele homem, que mal se via lá em cima na colina, ainda mais desarmado que os seus exércitos, era o motivo da sua derrota. Deus estava presente nele po.que orava. E todo o poder divino que dele emanava fortificava os corações dos seus homens e protegia-os como fortaleza invisível e inviolável.

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As duas narrações que acabamos de ler só tomam pleno significado à luz duma página do EVangelho. Noutra colina, outro homem estende também os braços. São sustentados por dois pregos. A Força Divina irradia dele sobre o mundo c nada existe no espaço ou no tempo que esteja fora da sua influência. Fortifica todos que se abrem e se entregam a ela, sustenta-os nos seus combates. age poderosamente neles e através deles, mantém em respeito os demônios e os seus cúmplices.

A oração de Moisés e a própria oração do santo homem da índia são e1icazes porque é do Calvário que lhes chega a força que chamavam sem a conhecerem. A oração dos cristãos é poderosa porque bebe da fonte inesgotável da Energia divina que é o Coração do Crucificado, rezando a sua grande oração de Filho.

HENRI CAFFAREL

"Podes dizer a li mesmo que, cada vez que te encontres com Deus, por mais que le apresses, é Ele que chegará em primeiro lugar".

A. M. BESNARD, o.p .

"t: absurdo rezar de manhã e conduzir-se o resto do dia como um bárbaro".

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APRENDER A AMAR

"0 amor é difícil. O amor de um ser humano por outro é talvez a prova mais difícil para cada um de nós, é o mais alto testemunho de nós pró­prios, a obra suprema de que todas as outras ape­nas são a preparação. lt por isso que os seres jovens, novos em tudo, não sabem ainda amar. Têm de aprender".

Rainer Maria Rilke

Como eco deste texto, eis as reflexões de um membro das equipes sobre a aprendizagem do amor entre os esposos.

A entre-ajuda conjugal é difícil porque requer atitudes que não nos saem naturalmente : um amor profundo pelo ou­tro, por ele mesmo, a vontade de dialogar, de melhor conhecer a sua mulher (o seu marido) e de se lhe dar a conhecer, con­fiança, humildade, paciência, desejo comum de progredir no amor. Em primeiro lugar é preciso um conhecimento mútuo e apesar de todos os nossos esforços este nunca será completo, sabemo-lo bem.

Que grande dificuldade sentimos em compreender verda­deiramente o outro e em nos darmos a conhecer, em escutá­-lo, em aprender o fundo do que nos quer comunicar e em nos sabermos exprimir em re:ação a eles! Já todos experi­mentamos estas dificuldades e até estes mal entendidos: um gesto que não foi compreendido. lt por isso que, após nume­rosos anos de casados e de vida em comum, as noosas diferen­tes psicologias nos reservam sempre surpresas. O fundo da nossa .personalidade não consegue nunca comunicar-se total­mente.

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Mas a experiência também nos diz que o diálogo conjugal se pode aprender, se deve exercitar e tornar objeto de e~forço constante. Progredirá na medida em que acreditamos verda­deiramente na sua necessidade e sabendo bem que o conheci­mento mútuo e o diálogo entre marido e mulher, ~e são difíceis, são também de grandes alegrias.

A entre-ajuda conjugal supõe &te conhecimento mútuo mas ultrapassa-o. Com efeito, temos de nos ajudar, marido e mulher, a progredir no amor conjugal para assim progredir­nos no amor de Deus e do próximo; progredir através de esforços e alegrias mas também através das nossas faltas e erros. Aprenderemos em casal a reconhecer os nossos erros, a reconciliarmo-nos, a perdoar e a recomeçar. O nosso amor conjugal d·everá converter-se em caridade conjugal. ~ uma cbra que exige grande fôlego e é então que nos apercebemos da absoluta nec&sidade de reflexão e da oração a dois.

A este nível devemos apoiar-nos na fé em nosso sacra­mento do matrimônio. Se o Senhor está verdadeiramente presente no cent:o do nosm amor conjugal (e Ele prometeu-:) aos que nisso acreditarem), todo o esforço, todas as tentativas, toda a oração em comum darão certamente frutos, mesmo que o esforço seja ingrato, mesmo quando as tentativas e a ora-;ão forem difíceis. Cada um destes esforços torna Deus mais presente, mais ativo no próprio coração do lar.

A entre-ajuda conjugal é mais do que nunca neces~ária no mundo de hoje para que os casais possam ter e assumir plenamente as suas responsabilidades. O Concílio diz-nos que marido e mulher devem, pela qualidade do seu amor conjugal, ser te.<temunhos deste mistério de caridade revelada ao mundo: um sinal de que Deus é amor e de que Deus ama o3 homens. Se o nosso amor conjugal tem a sua origem em Deus, deve falar de Deus. Pensemos que sendo casais cristãos se não dermos testemunho, privamos o mundo de um dos sinais mais expr&sivos da men.sagem cristã.

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A ORAÇÃO DA REUNIÃO

A REUNIAO DE EQUIPE

Todos os meses estudaremos um momento da reunião dando algumas indicações breves neces­sárias a um bom lançamento. Para lhe aprofun­dar o sentido e ajudar a melhorar a sua realiza­ção, terão, mais tarde, à sua disposição, estudos mais completo.>, designadamente números especiais da "Carta das Equipes de Nossa. Senhora".

Se começamos hoje pela oração é porque ela é verdadei­ramente o grande momento da reunião (1) . Se Cristo prome­teu a sua presença aos que estão reunidos em seu nome, pode dizer-se que presente a toda a nossa reunião, Ele realiza a sua mais alta missão entre nós no decorrer da oração. Com Ele exercemos durante a nossa oração de equipe, com toda a humildade e em união com a Igreja, as funções de adora­ção, louvor, súplica, oferenda... Daremos à nossa oração de equipe toda a atenção, toda a boa vontade, e muito provavel­mente a oração de equipe ensinar-nos-á a rezar melhor e fará entrar nas nossas vidas uma oração ao mesmo tempo mais pessoal e mais de "Igreja".

As equipes dão o primeiro passo na oração comum de ma­neiras muito diversas.

(1) Os Estatutos já lhes apresentaram o essencial deste assunto.

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Certos fatores favorecem o bom começo: experiência de verdadeila oração familiar, experiência de oração comum no mesmo desejo de vida espiritual entre todos. Mas acima de tudo. é preciso simplicidade; voltaremos a falar nisso.

O DESENROLAR DA ORAÇAO

Esta exposição é só uma indicação. Cada equipe deve criar o seu estilo próprio (atitudes: sentados, de pé ou de joelhos) e ordenará os diversos momentos da forma mais conveniente para a equipe.

- Leitura do texto da Bíblia (Antigo ou Novo Testamen­to) , dado pela Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora. :F. o verdadeiro começo da oração, em que se escuta a Palavra de Deus.

- Orações pessoais. Cada um dos membros da equipe, que assim o deseje, dirige-se brevemente a Deus, com toüa a libe. dade e simplicidade. Pode ser uma oração de adoração ou de pet"ção, relacionada com o texto lido, mas exprimindo o in ti mo da pessoa.

Jj: muito natural que o Conselheiro Espiritual que, dentro da equipe, "é constituído para interceder a favor dos homens, nas coisas concernentes a Deus" (Heb. 6 1) reuna e resuma a oração de todos, dando-hlles ainda mais elevação e a apre­sente ao Senhor em nome dos casais.

- Pôr em comum das intenções de cada casal e apresen­tação duma ou de várias intenções da Igreja.

- Silêncio. Muitas equipes atribuem lugar importante ao silêncio. Portador de todas as intenções e orações ouvidas, muitas vezes une as almas tanto como as palavras.

- Oração litúrgica. Jj: proposta pela Carta Mensal das Equipes de No&a senhora. A finalidade desta oração litúrgi­ca, extraída das riquezas da Igreja, é dupla; une-nos à grande

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oração da Igreja, àqueles que, todos os dias, em todo o mundo, participam da missa, recitam o oficio, cantam a glória de Deus; inicia-se na Bíblia, donde são tiradas quase todas es~as ora­ções, e na linguagem de que se serve a Igreja para falar com Deus.

No fim da reunião, depois da discussão do tema, recita-se em conjunto a oração das Equipes (0 cântico de Maria ou "Magnificat" ) e a maior parte das vezes, prática muito apre­ciada pelos casais, o assistente termina dando a bênção.

DIFICULDADES

Quantas equipes passam ainda à margem das riquezas espi­ritual.s da oração em comum. ~ sobretudo contra dois obstáculos que lutam: oração pessoal, oração litúrgica.

A or~ pessoal desagrada a muitos: "nós não sabemos rezar", pretendem muitos casals, e um deles reconhece que, a princípio, na sua equipe, cada um se sentia muito mais preo­cupado em saber como aquele que rezava se ia sair, do que disposto à verdadeira oração. Excesso de preocupação com a forma receio de se exprimir mal, de ser ridículo! Como se o valor da oração não estivesse unicamente na sua verdade, n~ sua slnceridade! "Notamos que as orações mais simples, apa­rentemente as mais pobres, são as que mais nos uniram. lEso provinha, sem dúvida alguma, da sua grande simplicidade. Mas no fundo, a grande dificuldade está em que custa multo ser sincero, verdadeiro, em abrir a alma diante dos outros".

~ preciso quebrar este falso pudor que nos prende, e com­preender que a verdadeira caridade nos pede para abrirmos as nossas almas aos outros.

As equipes em que cada um se abriu com simplicidade, sem falro pudor e sem literatura na oração, falam de todo o enriquecimento que a sua oração e a sua amizade tiraram disso.

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Não esqueçamos que a caridade fraterna nos levará a rezar em :voz alta e compreensível para que todos os membros da equipe possam unir-se .sem esforço à oração.

Também a oração litúrgica. nem sempre é compreendida. Parece uma coisa um pouco estranha, uma coisa que foi acres­centada. Contudo, é dela que permite a união da equipe à grande oração litúrgica da Igreja. Para que tome todo o seu valor, sigamos o conselho de Santo Agostinho: "Lancem no coração as palavras que os vossos lábios proferem". Pode ser excelente começo para o diálogo com Deus.

BENEFíCIOS DA ORAÇAO DE EQUIPE

Não se vai para a oração pelo.s benefícios que ela alcança mas para prestar homenagem a Deus. Não é menos perfeito ver os beneficios que através dela Deus nos concede. Não faltam testemunhos.

A o~ cria o clima espiritual da reunião

"Faz-nos entrar num ambiente recolhido, termina com as conversas precedentes e faz-nos refletir, diante de Deus, no..~ problemas que a seguir iremos abordar".

Ensina-nos a rezar

"Verificamos que a oração em família se tornava mais rica por causa da nossa oração na equipe".

Ensina a conhecermo-nos profundamente uns aos outros

Através das intenções postas, através da meditação que um casal faz, sobretudo através da oração espontânea de cada um, nas equipes onde ela é feita com inteira simplicidade, descobrimos o intimo daqueles que nos rodeiam e que muitos anos de relações normais nos deixariam desconhecido.

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"Na nossa última reunião, apercebemo-nos do valor espiri­tual de um casal a respeito do qual nos preocupávamos um pouco. .. Com a sua meditação criaram um ambiente de oração".

Assim a oração é fonte duma verdadeira e profunda amizade entre todos.

DUAS OBSERVAÇõES

- Por que a oração no princípio e não no fim da reunião? Não só para que não seja "despachada" no fim da reunião, mas mbretudo para que se estabeleça, desde o início e durante toda a noite, a "comunhão" em plano verdadeiramente espi­ritual.

- O tom - podia-se dizer o "tonus" - duma oração, como o duma noite ou duma refeição pode depender de um ou dois casais. Daí o importante papel do casal animador e do casal responsável. Se forem afetados, solenes, toda a gente fica constrangida. Se, pelo contrário, forem simples, sorridentes, descontraídos, toda a gente se sente à vontade. Existe uma arte de receber, :válida tanto no plano espiritual como no plano humano.

A vida ensina-nos que ninguém é consolado neste mundo, se antes não consolou oulro; que não recebemos nada, se não começamos por dar: tudo é trocado entre nós. Só Deus dá, só Ele.

GEORGES BERNANOS

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OS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO

O DEVER DE SENTAR-SE

"Praticar mensalmente o dever de sentar-se. :t a. ocasião, para cada casal, de fazer um balanço da própria vida". (Estatutos das E.N.S.). Eis como, em 1946, o Pe. Caffarel apresentava o "Dever de sentar-se".

Cristo, no cap. XIV de S. Lucas, convida os que o ouvem a cumprir o "dever de sentar-se". Hoje, no século das velo­cidades ·Vertiginosas, é oportuno, mais do que nunca, aconse­lhar a prática deste dever desconhecido.

Não creio emitir juízo temerário ao afírmar que os casais mais cristãos, mesmo aqueles que nunca esquecem o dever de se ajoelhar, faltam muitas vezes ao dever de sentar-se.

Antes de empreenderdes a construção do vosso lar, con­frontastes sem dúvida os vo:sos pontos de vista, pesastes os vossos recursos materiais e espirituais, elaborastes um plano. Mas depois que vos entregastes ao trabaliho, não terá havido da vo.:sa parte negligência em vos sentardes juntos para exa­minar a tarefa já realizada, reencontrar o ideal antevisto, con­sultar o Mestre da obra?

Sei quais são as objeções e dificuldades, mas também set que a casa desmorona um dia quando não se vigia a sua es-

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trutura. No lar onde não se conserva um certo tempo para reflexão, freqüentemente vai-se introduzindo insidiooamente a d&ordem material e moral; a rotina apodera-se da oração em comum, das refeições e de todos os ritoo familiares; a educação fica reduzida a reflexos de pais mais ou menos ner­vosos; a união enfraquece. Estas deficiências e muitas. outras observam-se não só nos casais sem formação, naqueles que ignoram os problemas da educação e da espiritualldade con­jugal, mas também, muitas vezes, naqueles que são conside­rados como competência em ciências familiares e o são na realidade .. . teoricamente. Por não tomarem a distância ne­cessária à boa visão, os esposos não vêem o que qualquer visi­tante percebe logo ao transpor a porta da casa: "o deixar correr" - que é comentado pelos amigos, os quais porém não ousam falar disso ao.s interessados, de quem receberiam incom­preensão e susceptibilidade.

Houve casais que compreenderam o perigo; encaram e adotam vários meios para o combater. Um deles dizia-me recentemente, segundo experiência própria, quanto é útil para os esposos deixarem todos os anos os seus filhos e irem re­pousar juntos ou viajam durante uma semana. Mas talvez pensem, ao ler-me. que não é dado a todos ter à sua disposi­ção pessoal, amigos ou parentes a quem possam confiar as crianças. Há, no entanto, outras soluções. Sei de três famí­lias que se associaram para as férias; foram para o mesmo lugar e cada casal pôde ausentar-se durante uma semana, deixando aoo outros dois o cuidado dos filhos.

Para evitar a rotina no lar, há outro recurso a respeito do qual vos quero falar mais demoradamente. Pegai na vossa agenda, e a~sim como apontareis um concerto ou uma visi­ta, marcai um encontro convo.sco mesmos; e que fique bem estipulado que estas duas ou três horas são "tabu". . . diga­mos sagradas (é mais cristão), não admitindo que um motivo que não nos faria anular uma saída ou cancelar um jantar de amigos em vossa casa, seja capaz de vo.s fazer faltar a este encontro que marcastes convosco mesmos.

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Como utilizar estas horas? Em primeiro lugar, fique assen­tado que não tendes pressa. Uma vez que não é costume. Deixai a margem, fazei-vos ao largo. };: absolutamente ne­cessário mudar de ambiente e esquecer as preocupações. Lede juntos um capitulo bem escolhido de um livro posto proposi­tadamente de lado para essa ocasião privilegiada.

Em seguida - ou em primeiro lugar - rezai; que cada qual faça, quanto possível em voz alta, uma oração pessoal e espontânea; essa forma de oração, sem menos.prezar as ou­tras, aproxima milagrosamente os corações. Penetrando assim na paz do Senhor, comunicai um ao outro aqueles pensa­mentos, aquelas queixas, aquelas confidências, que não é fácil e nem sempre recomendável fazer no decurso dos dias ativos e ruidosos, e que, no entanto, seria. perigooo fechar no se­gredo do coração, pois que, bem o sabeis, - há silêncios inf. migos do amor. Faze! uma. excursão às fontes do vosso amor, reconsiderando o ideal entrevisto quando, juntos, iniciastes o caminho com passo decidido. Renova! o vosso fervor. "};: preciso crer naquilo que fazemos e fazê-lo com entusiasmo" Em seguida, voltai para o presente, confrontai ideal e reali­dade ; fazei o exame de con~ciência do vosso lar, tornai as resoluções práticas e oportunas para. curar, consolidar, rejuve­nescer, arejar, abrir o vosso lar. Empregai neste exame lucidez e sinceridade; remontai às causas do mal diagnosticado.

Por que não consagrar também alguns instantes a medi­tar sobre cada. um dos vossos filhos, pedindo ao Senhor que ponha. as suas próprias vistas dentro do vosso coração, .segundo a sua. promessa., a. fim de que possais vê-los e amá-los como Ele próprio e conduzi-los segundo os seus desígnios?

Finalmente e acima de tudo, perguntai a. vós mesmos se Deus é o primeiro a. ser servido na. vossa. casa..

Se sobrar tempo, faze! aquilo que entenderdes, mas peço­vos não voltels às banalidades ou à televisão. Não tendes nada. mais a dizer? Então ficai calados, talvez não seja o momento de menor proveito. Lembrai-vos, com efeito, daquela

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palavra de Maeterlink: "Não nos conhecemos ainda, não ousa­mos ainda estar calados um ao pé do outro".

ll: muito importante escrever um pequeno relatório daquilo que se tiver descoberto, estudado ou decidido no decorrer do encontro, mas Isto poderá ser feito depois, por um dos dois e será lido por ambos, juntos, no próximo encontro.

Isto de que acabo de vos falar não é mais do que um meio de con~ervar jovem e vivo o vosso amor e o vosso lar. Há seguramente muitos outros, mas este, adotado por nume­rosos casais que conheço, já deu provas da sua eficiência .

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OS ESTATUTOS

ECO DA PALAVRA DE DEUS

Só Deus pode apresentar as suas exigências. Tal é o ab~oluto do Criador ; é na sua dependência que a criatura deve viver. Contudo essa criatura consciente que é o homem, continua livre.

Toda e qualquer lei da Igreja ou na Igreja, só pode ser proposta às nossas consciências livres, como eco da Palavra através da qual Deus dá a conhecer as solicitações do Seu Amor. É nesta perspectiva que lhes pedimos para voltarem a ler os Estatutos.

"Eles ambicionam levar até ao fim os compromis­sos do seu batismo ... "Querem viver para Cristo, com Cristo, por Cristo". Entregaram-se a Ele rem condições. Entendem rervi-Lo sem discutir".

"Ignorais que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua Morte? Sepultamo-nos, pois, juntamente com Ele, . por meio do batismo, na morte, para. que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos mediante a glória do Pai, assim camilllhemos, nós também, numa vida nova.. . Mas, se nós morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele. . . (que) vive para Deus. Do

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mesmo modo, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus".

(Rom. 6, 3-4, 8, 10-11)

"Sede, pois emitadores de Deus, como filhos muito amados, e comportai-vos com amor, e exatamente como Cristo, que vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós .. . "

(Ef. 5, 1)

" ... que Cristo habite, pela fé, nos nossos corações, a fim de que tenhais raiz e alicerce na caridade ... "

"Sem Mim, nada podeis fazer". (Ef. 3, 17)

(João 15, 5)

"Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por Mim".

(João 6,57> "Com Cristo me encontro crucificado! Já não sou eu que

vivo, é Cristo que vive em mim". <Gál. 2, 19-20)

"Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus". <I. Cor. 3, 22-23)

"Se alguém quer vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-me".

(Lucas 9, 23>

"Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. mas quem perder a sua vida por Minha causa, esse há-de salvá-la".

(Lucas 9, 24> "Felizes daqueles se:r.vos que o Senhor, quando vier, encon­

trar vigilantes". (Lucas 12, 37)

" ... quando tiverdes feito tudo o que se vos mandou, dizei: Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer".

(Lucas 17, 10) "Tudo posso n'Aquele que me dá força".

(Fll. 4, 13)

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"Se o amor de Deus e da Igreja fosse profundo, depressa desapareceria o espírito de independência. O amor, na rea­lidade, aspira à submissão, submissão ativa - que é ofe­renda de si próprio. Estar submetido a Deus e à Igreja, não é assumir uma atitude de escravo mas desposar os pen­samentos e as vontades de Deus e da Igreja; ser submisso é estar ligado - no sentido em que o sacramento está ligado ao cepo. Então a graça circula e os frutos são abundantes e saborosos.

Para alcançar esta submi.ssão profunda é preciso amar, porque é o amor que dá origem à submissão. Mas nem por isso é menos necessário exercitar-se na submi.ssão, mortificar este gosto inveterado da independência que habita em todos nós."

H.CAFFAREL

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Af3· EQUIPES DE NOSSA SENHORA

ELEIÇÃO DO CASAL RESPONSAVEL O QUE 1:: O CASAL DE LIGAÇÃO

Na próxima reunião (ou na seguinte> o Casal-Piloto dei­xará as suas funções junto da equipe. Não foi com documentos, mas através de amigos convictos que travaram conhecimento com o Movimento.

É uma das principais características das Equipes de Noss<~. Senhora esta vida através das relações e da colaboração ae pessoas.

Estão, pois, prontos a viver plenamente a vida de equipe. Têm, portanto, de eleger um dos casais para casal responsável.

O padre que os acompanha também está pronto, sem dúvida, a continuar o caminho com a equipe e a dar-lhe o apoio do seu sacerdócio e da sua vida espiritual. Falaremos na próxima carta do seu papel junto de vocês.

A seguir, vamos apresentar-lhes o casal que será o e!o entre a sua equipe e o Movimento. Também neste caso, é a preocupação dos contatos pessoais que justifica a sua existência e função.

O CASAL DE LIGAÇAO

Para que os Casais de Ligação? Responderemos a esta pergunta com um pouco de história. Assim, veremos que o seu

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papel não foi concebido em abstrato, mas que foi a vida das equipes, o seu desenvolvimento e a expansão do Movimento, que exigiram a sua criação.

A princípio e até 1947, o Padre Caffarel reunia em Paris, todos os meses, no seu pequeno escritório, os poucos respon­sáveis dos grupos que orientava e que se começavam a chamar "os grupos Caffarel". Esta irradiação de vida espiritual atraía cada vez maior número de casais. A expressão "grupos de casais" andava no ar. Tendo-se desenvolvido "os grupos Caffarel" na provinc!a e na Bélgica, o Padre Caffarel encarre­gava alguns responsáveis menos sedentários do que os outros, de seguirem o crescimento destes jovens rebentos afastados. Era o primeiro esboço do "Casal de Ligação".

Em 1947, os ~tatutos são promulgados e as equipes tor­nam-se "Equipes de Nossa Senhora". Concebidos para um grande número de equipes comportando uma e~trutura coe­rente, oo Estatutos instituem um "Movimento" ao mesmo tempo vivo e bem enquadrado. As equipes surgem mais ou menos por toda a parte; é preciso ajudá-las a viver duma. vida espiritual. ll:, pois, a nec&sidade de fazer passar uma corrente de vida do coração a todo o organismo e vice-versa, que leva os obreiros do Movimento a multiplicar os órgãos de transmissão ; Casal de Ligação, Responsáveis de Setor, R&.ponsáveis Regionais. Ao lado dos apontamentos, papéis, avuos ofereceram às equipes homens e mulheres que se ocupa­riam delas com todo o coração. Era preciso que no Movimento tudo se fizesse no calor dos contatos humanos, na amizade fraterna.

Em qualquer movimento, em qualquer organismo social, encontra-se esta dupla corrente de vida de que falamos aci­ma. Mas nas Equipes estamos num movimento de espiri­tualidade : tudo deve ser portador de vida espiritual. Tudo o que se faz em todos os escalões, é com vista ao reino de Deus nos lares, tudo é orientado para tal. Alguns compa­ram o casal de ligação ao engenheiro consultor ou à assis­tente social. J1: verdade, mas com a condição de nunca per-

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der de vista que se trata de trabalhar para uma realização espiritual e com meios espirituais, que a vida a criar, a de­senvolver, tanto no Movimento como em cada equipe, é uma vida de caridade cada vez maior. A Equipe Responsável deve estar profundamente ligada às equipes, porque é a partir das suas necessidades que ela pode fazer avançar o Movimento; é através dos Casais de Ligação que pode conhecê-las.

As equipes têm necessidade também deste contributo de vida que vem do Movimento. Todos sabemos que os "papéis "' não bastam e que as diretrizes ou orientações, lidas rapida­mente, são taml>ém esquecidas depressa. O Casal de Ligação explica, lembra, vela, para que as coisas importantes penetrem na vida da equipe.

Além disso, todos conhecemos a nossa fraqueza e como temos necessidade de ser controlados, chamados à ordem, me~mo se tomarmos compromissos. ll: graças ao Casal de Li­gação que este controle do Movimento é vivo e fraterno. Re­cordemos a nós próprios que aceitamos esse controle fraterno, logo de inicio, como um meio eficaz de progresso, e aceitamos que o Casal de Ligação, apoiando-se na nossa l>oa vontade inicial e mais tarde no nosso compromisso, nos acompanhe e 110S estimule; ajudemo-lo a ser exigente.

O cM:al de ligação é, no Movimento, agente de unidade, de caridade; é uma articulação sem a qual a marcha seria r!gida: quanto mais as Equipes tiverem o sentido do Movi­mento, tanto mais terão o sentido do Casal de Ligação.

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O MATRIMôNIO NOS TEXTOS CONCILIARES

"Por fim, pela graça do sacramento do matrimônio, com o qual os cônjuges cristãos significam e participam do mistério de unidade e de amor fecundo entre Cristo e a Igreja (cf. Ef. 5, 32) , ajudam-se mutuamente a conseguir a santidade na vida conjugal e na aceitação e educação dos filhos ( ... ) lt necessário que na famflla, que bem pode chamar-se Igreja doméstica, os pais sejam para os filhos, através da palavra e do exemplo. os primeiros mestres da fé, e fomentem sempre a vor.ação própria de cada um, e com especial cuidado a vocação sagrada".

"Lumen Gentium", nQ 11

Neste particular aparece em grande destaque aquele estado de vida que é santificado por um sacramento especial, isto é, a vida matrimonial e familiar. Af se encontra o terreno para o exercício e a escola por excelência do apostolado do.s leigos, quando a religião cristã penetra toda a organização de vida e cada dia a transforma para melhor. Nela têm os cônjuges a sua vocação própria: serem um para o outro e para os filhos, testemunhos da fé e do amor de Cristo. A família cristã proclama em alta voz tanto as virtudes presentes do Reino de Deus, como a esperança da vida bem-aventurada. Assim o seu exemplo e o seu testemunho acusam o mundo de pecado e iluminam aqueles que procuram a verdade.

"Lumen Gentium", nQ 35

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ll: nece.s.sar10 que os con)uges e os pais cristãos, seguindo os seus próprios caminhos, se ajudem mutuamente a conservar a graça no decorrer de toda a sua vida, numa grande fidelidade de amor, e que eduquem na doutrina cristã e nas virtudes erangélicas a prole que receberam amorosamente de Deus.

"Lumen Gentium", nQ 41

A família recebeu de Deus a missão de ser a célula primeira e vital da sociedade. Cumprirá esta miSSão se, pela mútua piedade dos membros e pela oração dirigida a Deus em comum, se mostrar como santuário familiar da Igreja; se toda a famí­lia participar no culto litúrgico da Igreja; e, finalmente, se a familia praticar ativamente a hospitalidade e promover a justiça e outras boas obras, para serviço de todos os irmãos que sofrem necessidades.

(Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, Cap. III, § 11)

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TESTEMUNHOS

OS ADOLESCENTES NOS INTERROGAM

Acontece, não raro, que entrem para as Equipes casais com 10 a 15 anos de casamento. A eles dirigimos estas páginas, que podem também ser aproveitadas por casais mais jovens.

Uma conferência tinha sido organizada em N. , para a.s religiosas da cidade, na qual um Padre Redentorista devia abordar os problemas da juventude. Para ela foram convidados jovens e casais. Grupos de trabalho reuniram de um lado jovens e religiosas, de outro, casais e religiosas. O diálogo interessou profundamente os jovens, cujos pais eram na maioria membros das Equipes de Nossa Senhora.

Assim é que elaboraram, pouco tempo depoiS, um questio­nário que entregaram aos pais, pedindo-lhes que refletiSsem sobre o assunto e propondo-lhes uma reunião, durante a qual seriam evocadas e discutidas as relações entre pais e filhos.

Em vista do interesse que tal questionário pode ter para os pais, reproduzimo-lo a seguir.

"As relações entre pais e filihos devem conduzir ao diálogo

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1) Confiança recíproca por parte dos pais e dos filhos:

- Depositam confiança nos filhos? - Em que elementos se baseiam para vir a depositar con-

fiança dos filhos? - Que pensam das responsabilidades confiadas aos filhos

ainda bem jovens? - Estão disponíveis para o diálogo com os filhos jovens e

adolescentes? - Não menosprezam os problemas dos filhos mais novos?

Não esqueçam que, da atitude a este respeito, depende a con­fiança que lhe irão depositar quando adolescentes.

2) Desta confiança recíproca. na.sce uma certa liberdade que permite o desabrichar de cada um.

- São de parecer que se colocam ao alcance dos filhos? - Estão de acordo em conceder certa liberdade aos filhos?

a partir de que Idade? - Como consideram o respeito dos filhos para com os pais?

A base do respeito consistiria no receio reciproco? - São favoráveis à. concessão de "mesada" aos jovens?

- Que pensam da Iniciação dos filhos aos problemas ma-teriais da família?

Discutiriam com os filhos a respeito dos grandes proble­mas da vida (trabalho, política, juventude) , ou de questões de ordem cultural <TV, leituras, etc.>?

A reunião teve lugar com 5 casais equipistas, 6 jovens de 15 a 20 anos e um Conselheiro Espiritual. O diálogo realizou-se num clima de grande abertura, simplicidade e confiança, e foi certamente construtivo.

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ESPIRITUALIDADE CONJUGAL

APóSTOLO COMO CASAL PORQUE CASAL

Eis algumas reflexões de Mons. COLOMBO•. '1!: significativo que o autor destas linhas seja, na Itália, o animador dos "Gruppi di Spirltualità. coniugale". A verdadeira vida espiritual irradia.

O Batismo torna-no.s aptos 9. no.s tornarmos apóstolos de Cristo. A confirmação dá-nos a força e os meio.s indispensáveis para &ta tarefa. Mas é como pe&oas individualmente que somo.s assim lançados na grande corrente missionária da Igreja. Que se passa com o matrimônio? Também nele o sacramento, ou seja. a graça de Cristo, se apodera dum ser para o salvar, o curar e o consagrar. Só que neste caso, esse ser não é já um ser isolado mas um casal, ou seja um com~to de dois seres que se amam. E este casal, tomado pe~o sacramento, habitado por Cristc, torna-se lar. A palavra "lar" vem de lareira, lugar onde se conser:va o fogo. O amor do ca.~al, em toda a sua profundidade humana, é santificado, purificado, assumido pelo Espírito do Amor e de que a Escritura e a liturgia nos dizem ser Fogo.

Basta existir para o fogo Iluminar, aquecer e queimar. O fogo não pode deixar de Irradiar. Ou existe e então comuni-

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ca-se ou já não queima porque deixou de existir. Assim tam­bém o amor dos esposos cristãos desde que receba a consagra­ção do Amor, e se alimenta incessantemente na chama da divina Caridade, começa a luzir "para todos os que estão em casa". Estes esposos podem ou não militar nos diferentes gru­pos aprovados pela Igreja. Antes de tudo o mais, eles são Apóstolos como caral, porque casal. Tal como a luz no castiçal ilumina não só o quarto mas atrai aquele que, lá fora, hesita no meio da noite, assim os esposos que se amam em Cristo não podem deixar indifirentes os que procuram. O que os livros dizem tão mal, proclamam-no eles sem palavras, dia após dia, apenas amando-se. São apóstolos porque são e;:.posos.

l!:: que no matrimônio como aliás os outros sacrame:1tos, não se refere apenas ao bem privado dos contraentes, mas também ao bem sobrenatural de toda a comunidade cristã. Por um lado o matrimônio é fonte permanente de graças para os que o recebem; por outro, através dos esposos, para toda a comunidade. Coloca aquele que o recebe num estado especial de santidade e de irradiação.

O APOSTOLADO CONJUGAL

Em que o apostolado conjugal difere do dos solteiros? Será que essa luz que devem espalhar é doutra natureza ou tem outro brilho?

Pois é bem diferente! Há um apostolado exclusivo d'l estado conjugal. A luz do casal cristão, semelhante aos raios Roentgen, mo.stra certo aspecto das realidades divinas que as outras luzes, que são os outros sacramentos, não podem revelar. l!:: o amor recíproco de Cristo e da Igreja. Há na união sacramental do homem e da mulher qualquer coisa que testemunha a união inefável do Redentor e da humanidade redimida Os espo.~os cristãos devem reviver e revelar ao mundo e.ste mistério. Mistério de intimidade total, onde descobrem que o aD'.or é fonte inesgotável de força e alegria. Mi.stério

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da crucificação e da ressurreição onde experimentam que no amor se pode sofrer, não só um com o outuro, um pelo outro, mas um para o outro. Finalmente, mistério da fecundidade, porque o amor não conhece fronteiras. Quereria gritar a sua. alegria do casal para os filhos e, da familia, aquece todos os que se aproximam dela. O amor conjugal é, assim, a imagem terrena dessa mesma fecundidade de Cristo e da Igreja, que giram sem cessar, por todo o mundo e seja qual for a condição ou meio a que pertencerem, verdadeiros adoradores do Pai e futuros contempladores da sua glória ...

Mas os esposos cristãos não são apenas a Imagem viva do mistério nupcial de Cristo e da Igreja. Não só revelam este mistério mas vivem-no; não só irradiam a luz e o calor desse mistério sobre os que os rodeiam, mas convidando-os e acolhendo-os, partilham com eles essas riquezas de graça. Os esposos não são apenas espelhos, mas fogo. São fogo. Isto para eles significa participar na Imensa missão de Cristo e da Igreja. Isto é evangelizar e salvar o mundo . ..

CARLOS COLOMBO

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CORRESPOND~NCIA

ALERTA QUANTO AO RESPEITO HUMANO

Um casal de ligação escreve à equipe:

"Atenção, por favor. Tenham como norma que as relações em equipe sejam ba~eadas na verdade e na simplicidade. :1!: bem difícil porque no fundo de nós mesmo.s existe um respeito humano terrível, o medo instintivo da opinião dos outros, que r.os leva a querer esconder o que somos na realidade. Receio de parecer ridículo, diferente dos outros ...

A.f:sim, os primeiros contactos numa equipe têm importância capital. Afastem tudo o que seja mundano. Esta palavra tem dois sentidos, e, por is.f:o, torna-se aborrecido usá-la. Muitos só a aplicam em relação a certos meios onde as relações sociais passam à frente de ... muitas coisas. Mas como se hão de chamar às relações humanas um pouco artificiais, onde s.ó aparece o exterior onde se faz tudo para ocultar a sua intimi­dade profunda? Por várias vezes temos ouvido falar deste ou daquele grupo de casais, que deseja entrar para as Equipes e de que um membro fala: "A dificuldade é o grupo ser um pouco mundano"; ou a respeito de certa equipe em dificul­dade: "Nunca quiseram libertar-se do lado mundano nas suas relações". Evitem is.f:o a todo custo. Todo o jogo da vida de equipe pode ajudá-los a tornarem-se verdadeiros, simples, a mostrarem tal e qual são ... desde que o aceitem de boa mente. Devem fazer na oração o esforço bem difícil, de passar da sim­ples intenção um tanto ou quanto imprecisa para a intenção pessoal e desta à oração espontânea, onde deixarão ver um pouco do que são perante Deus".

As equipes onde a amizade não se encontra naquele nível profundo dos seres, não duram muito ou não caminham.

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PARA A PRóXIMA REUNIÃO

TEMA E TROCA DE IDtiAS

A equipe deve reunir-se pelo menos uma vez por mês. Releiam nos Estatutos (págs. 6 a 9) o que foi dito acerca desta reunião mensal. É evidente que as reuniões regulares são indispensáveis para a vida de uma equipe. Os encontros uma vez por mês, ou seja, cerca de dez vezes por ano, descontando as férias, são evidentemente o mínimo.

Se aprenderam bem a importância da equipe (ver C. Mensal nQ 2, pág. 9) , compreendem também, imediatamente, o papel capital que a reunião mensal deve representar na nossa vida. Deverá trazer-nos uma melhor compreen~ão da no&a fé, ajudar-nos a descobrir as exigências práticas das verdades mais bem compreendidas, permitir-nos, graças à ajuda e amizade de todos, fazer pa:sar para a no~sa vida o que formos descobrindo. A reunião deve pois ser tomada muito a sério e desenrolar-se sob o olhar de Deus, o que não impede de ser alegre, des­contrafda e muito fraternal.

Cada casal recebe por sua vez, a menos que haja um impe­dimento sério. Deste modo cada um pode mostrar-se no seu enquadramento familiar, o que ajuda a conhecê-lo melhor.

A reunião começa por uma refeição, depois seguem-se a oração, um momento consagrado à partilha e um tempo de discussão sobre o tema de estudo. O tempo consagrado à dis­cussão do tema será geralmente o mais longo. Mas Isto não deve minimizar o valor da oração e da partilha, que não são menos importantes.

Para que a reunião se desenrole convenientemente, o ho­rário deve ser previsto antecipadamente e ela deve começar à hora marcada, mesmo que não esteja toda a gente. A pontua­lidade é a primeira forma da caridade.

A refeição tomada em comum não deve provocar nenhuma complicação, nem sobretudo nenhuma competição entre as donas

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de casa. Deve ser organizada com a maior simplicidade. Em certas equipes, cada um traz a. sua refeição, ou uma participa­ção na refeição (um "cardápio" único permite pôr tudo em oomum, o que é preferível ao piquenique, em que cada um come o que trouxe).

A preparação da reunião incumbe ao GM:al Responsável. Cabe-lhe repartir as tarefas: direção da oração, direção da discus•ão, etc .... , e depo's assegurar-se de que elas estejam bem entregues. Mas a ação do Casal Responsável sozinho não pode assegurar o êxito e a eficácia das reuniões. ~ preciso que cada. um se empenhe em dar uma contribuição pes~oal importante, não só preparando seriamente o tema estudado meditando antes o tema da oração proposto, mas também recolhendo de uma reunião para outra o que o impressionou ou ajudou, de maneira a fazer aproveitar os outros dlsso.

Outra maneira de preparar a. reunião é cultivar a amizade. Para que a reunião seja útil, é prec~o que cada um se sinta lá à vontade, se exprima livremente, escute com benevolência e simpatia; por outras palavras, que tudo se passe num ambiente de amizade muito viva. Mas para cultivar a amizade são pre­cL•os encontros mais freqüentes do que a reunião mensal de trabalho. Também em muitas equipes novas se realiza, entre duas reuniões de trabalho, uma reunião de amizade: encontros mais livres durante os quais os casais aprendem a conhecer-se melhor. Não e~quecer que as reuniões de amizade também devem ser preparadas, se não se quer vê-las redundar em tagarelice. Também é multo útil, para despertar e intesificar a amizade, promover o encontro de casais dois a dois.

QUESTIONARIO

- Quais os problemas que se apresentam acerca das reu­niões mensais e dos diferentes momentos que a oompóem?

- Com que espírito se deve vir à reunião men~l? Como se devem preparar para essa reunião?

- Acham que é vantajoso fazer reuniões de amizade e encontros, bastantes regulares, de casal com casal?

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ORAÇÃO PARA A REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇÃO

Como equipe de casais, desejamos conhecer melhor o pensamenlo de Deus sobre o malrimônio. A narração da criação do homem no Gênesis é a base de loda a revelação crislã sobre a vocação humana e do casal, e, porlanlo, de loda a procura de espirilualidade conjugal.

Disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelha.nça, e domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, os a.nimais selvagens e todos os répteis que se rojam sobre a terra".

Criou, pois, Deus ao homem qual imagem sua; qual imagem de Deus o criou; homem e mu!iher os criou.

E Deus abençoou-os, dizendo: "Sede fecundos, multiplicai­-vos e enchei a Terra e sujeitai-a, e ma.ndai nos peixes do mar, nas aves do céu e em todos os animais que se movem sobre a Terra".

Disse também Deus: "Eis que Eu vos dou todas as plantas produtoras de sementes que há na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que produz semente: servir­-vos-ão de alimento. E a todos os animais selvagens, a todas as aves do céu e a tudo que que se move sobre a Terra e em que há sop10 de vida dou toda a espécie de ervas por alimento". E assim se fez.

(Gênesis, I-26-30)

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Depois desta leitura, faremos a oração de Tobias e Sara, na noite das suas núpcias. O livro de Tobias é jã antecipadamente, na Bíblia, o livro do casamento cristão.

ORAÇAO LITúRGICA

Bendito sejais, Deus de nossos pais. Seja o teu Nome bendito por todos os séculos dos séculos. Que te bendigam os céus, e todas as criaturas por todos os séculos.

Tu criaste Adão, Tu criaste Eva, sua esposa, para ser seu socorro e seu apoio, e deles nasceu a raça humana. Fostes Tu que disseste: Não é bom que o homem fique só façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele.

E agora, não é o prazer que procuro ao tomar minha irmã, mas de coração sincero é que o faço. Digna-te apiedar-te dela e de mim e nos conduzir juntos até a velihlce.

E disseram juntos: Amém, Amém!

Tobias, 8 5-8 <Versão da Biblia de Jerusalém)

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Movimento de casais por uma espiritualidade

conjugal e familiar

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria das EQUIPES DE NOSSA SENHORA

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