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Carta dos participantes do Seminário sobre “Pesquisa e a Política de Sementes no Semiárido” para a Comissão Nacional de Combate á Desertificação Nós, representantes de organizações da agricultura familiar de diversas regiões do semiárido brasileiro, pesquisadores/as, professores/as, estudantes, representantes de órgãos públicos, técnicos/as de organizações de assessoria, entre outras representações da sociedade, participantes do Seminário “Pesquisa e a Política de Sementes no Semiárido”, realizada em Lagoa Seca - PB nos dias 30 e 31 de maio de 2012, vimos por meio desta carta apresentar algumas preocupações e propostas no sentido de contribuir para a construção da Política Nacional de Combate à Desertificação, que neste momento é debatida na reunião da Comissão Nacional de Combate a Desertificação. Primeiramente, destacamos a centralidade da biodiversidade do semiárido, sobretudo das sementes crioulas denominadas sementes da paixão na Paraíba, nas lutas por autonomia e liberdade dos agricultores/as, e que são definidoras de suas práticas produtivas e de seus sistemas alimentares. Assim, a Política em discussão deve considerar a importância da gestão do patrimônio genético local como estratégia de combate à desertificação. Pela dinâmica climática da região, com secas agudas em alguns anos, deve-se estimular fortemente as iniciativas da rede de bancos de sementes crioulas/da paixão já constituída. Trata-se de conservar e garantir o uso de sementes adaptadas às condições edafoclimáticas das comunidades, manejadas segundo práticas produtivas eficientes e que vêm sendo historicamente aprimoradas. Com efeito, não podemos repetir os erros recentes do PBSM, que enfatiza o caráter distributivista, baseado em poucas variedades, produzidas fora da região, pouco adaptadas ao ecossistema e aos sistemas de produção da agricultura familiar e que podem levar à dependência de insumos químicos. Tal situação representa enorme desrespeito aos valores e anseios das famílias agricultoras. Em segundo lugar, estamos convictos de que a Política Nacional de Combate à Desertificação deve fortalecer as experiências protagonizadas ao longo das últimas décadas pelos/as agricultores/as e suas organizações na região semiárida do Brasil, criando interfaces com outras políticas públicas, tais como P1MC e P1+2, ações de pesquisa e desenvolvimento baseadas na valorização dos saberes locais, no apoio às iniciativas criativas das comunidades e de suas capacidades de gestão. Lagoa Seca - PB, 31 de maio de 2012.

Carta Politica Comb Desertificacao

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  • Carta dos participantes do Seminrio sobre Pesquisa e a Poltica de Sementes no Semirido para a Comisso Nacional de Combate Desertificao

    Ns, representantes de organizaes da agricultura familiar de diversas regies do semirido brasileiro, pesquisadores/as, professores/as, estudantes, representantes de rgos pblicos, tcnicos/as de organizaes de assessoria, entre outras representaes da sociedade, participantes do Seminrio Pesquisa e a Poltica de Sementes no Semirido, realizada em Lagoa Seca - PB nos dias 30 e 31 de maio de 2012, vimos por meio desta carta apresentar algumas preocupaes e propostas no sentido de contribuir para a construo da Poltica Nacional de Combate Desertificao, que neste momento debatida na reunio da Comisso Nacional de Combate a Desertificao.

    Primeiramente, destacamos a centralidade da biodiversidade do semirido, sobretudo das sementes crioulas denominadas sementes da paixo na Paraba, nas lutas por autonomia e liberdade dos agricultores/as, e que so definidoras de suas prticas produtivas e de seus sistemas alimentares. Assim, a Poltica em discusso deve considerar a importncia da gesto do patrimnio gentico local como estratgia de combate desertificao.

    Pela dinmica climtica da regio, com secas agudas em alguns anos, deve-se estimular fortemente as iniciativas da rede de bancos de sementes crioulas/da paixo j constituda. Trata-se de conservar e garantir o uso de sementes adaptadas s condies edafoclimticas das comunidades, manejadas segundo prticas produtivas eficientes e que vm sendo historicamente aprimoradas. Com efeito, no podemos repetir os erros recentes do PBSM, que enfatiza o carter distributivista, baseado em poucas variedades, produzidas fora da regio, pouco adaptadas ao ecossistema e aos sistemas de produo da agricultura familiar e que podem levar dependncia de insumos qumicos. Tal situao representa enorme desrespeito aos valores e anseios das famlias agricultoras.

    Em segundo lugar, estamos convictos de que a Poltica Nacional de Combate Desertificao deve fortalecer as experincias protagonizadas ao longo das ltimas dcadas pelos/as agricultores/as e suas organizaes na regio semirida do Brasil, criando interfaces com outras polticas pblicas, tais como P1MC e P1+2, aes de pesquisa e desenvolvimento baseadas na valorizao dos saberes locais, no apoio s iniciativas criativas das comunidades e de suas capacidades de gesto.

    Lagoa Seca - PB, 31 de maio de 2012.