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Valença, 22 de maio de 2015 Aos Srs. Vereadores Câmara Municipal Valença - Bahia Prezados Srs. O CODEMA, Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, ciente de que se encontra em tramitação nesta Câmara de Vereadores, o Projeto de Lei Nº 08/2015, enviado pelo Poder Executivo, que declara como área de expansão urbana (189 ha) parte do Distrito do Guaibim, vem a presença de Vossas Excelências, manifestar-se sobre o mesmo. Historicamente o CODEMA vem se posicionando em todos os assuntos a ele afetos de forma responsável, equilibrada e técnica, no sentido de garantir o desenvolvimento de forma sustentável e a qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Em relação ao PL em questão importante destacar os seguintes considerandos: CONSIDERANDO que a área a ser contemplada pela expansão urbana encontra-se inserida em diversas Áreas de Proteção Ambiental, a exemplo de APPs (Áreas de Proteção Permanente), tais como, Mata Atlântica, Restinga e Manguezal, dentre outras; e, (02) duas APAs (Áreas de Proteção Ambiental de Uso Sustentável), uma Municipal, Área de Proteção Ambiental da Planície Costeira do Guaibim, e outra Estadual, Área de Proteção Ambiental do Guaibim, delimitadas pelos Dec. Mun. 5.333/02 e Dec. Est. 1.164/92 respectivamente, contando ambas com Planos de Manejo e zoneamentos próprios, que contemplam restrições para o seu uso e ocupação;

Carta Vereadores e Pública

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Carta Vereadores e Pública

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  • Valena, 22 de maio de 2015

    Aos

    Srs. Vereadores

    Cmara Municipal

    Valena - Bahia

    Prezados Srs.

    O CODEMA, Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente,

    ciente de que se encontra em tramitao nesta Cmara de Vereadores, o

    Projeto de Lei N 08/2015, enviado pelo Poder Executivo, que declara

    como rea de expanso urbana (189 ha) parte do Distrito do Guaibim, vem

    a presena de Vossas Excelncias, manifestar-se sobre o mesmo.

    Historicamente o CODEMA vem se posicionando em todos os

    assuntos a ele afetos de forma responsvel, equilibrada e tcnica, no sentido

    de garantir o desenvolvimento de forma sustentvel e a qualidade de vida

    para as presentes e futuras geraes.

    Em relao ao PL em questo importante destacar os seguintes

    considerandos:

    CONSIDERANDO que a rea a ser contemplada pela expanso

    urbana encontra-se inserida em diversas reas de Proteo Ambiental, a

    exemplo de APPs (reas de Proteo Permanente), tais como, Mata

    Atlntica, Restinga e Manguezal, dentre outras; e, (02) duas APAs (reas

    de Proteo Ambiental de Uso Sustentvel), uma Municipal, rea de

    Proteo Ambiental da Plancie Costeira do Guaibim, e outra Estadual,

    rea de Proteo Ambiental do Guaibim, delimitadas pelos Dec. Mun.

    5.333/02 e Dec. Est. 1.164/92 respectivamente, contando ambas com

    Planos de Manejo e zoneamentos prprios, que contemplam restries para

    o seu uso e ocupao;

  • CONSIDERANDO a Lei Complementar Municipal 01/2013 e a

    dico de seu artigo 80 que determina:

    "A desafetao, a reduo e alterao de limites

    de uma unidade de conservao somente ser

    possvel mediante lei municipal, com parecer

    tcnico da SEMA e apreciao do Conselho

    Gestor ou , na sua ausncia, pelo CODEMA".

    CONSIDERANDO que, simetricamente, o mesmo ocorre com

    relao APA Estadual, por fora da Lei 9.985/00 que prev em seu artigo

    22, 7:

    A desafetao ou reduo dos limites de uma unidade de conservao s pode ser feita

    mediante lei especfica.

    CONSIDERANDO que o Art. 182 da Constituio Federal de

    1988 determina que:

    "A poltica de desenvolvimento urbano, executada

    pelo Poder Pblico municipal, conforme

    diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo

    ordenar o pleno desenvolvimento das funes

    sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus

    habitantes."

    CONSIDERANDO que o Pargrafo nico do Art. 1 da Lei N

    10.257/2001 (Estatuto da Cidade) prev:

    "Para todos os efeitos, esta Lei, denominada

    Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem

    pblica e interesse social que regulam o uso da

    propriedade urbana em prol do bem coletivo, da

    segurana e do bem-estar dos cidados, bem

    como do equilbrio ambiental."

    Cumpre ressaltar que, diante do exposto acima, o texto do PL N

    08/15 no contempla, nem respeita, os requisitos citados que, por serem de

    ordem pblica, so indisponveis. Continuando:

    CONSIDERANDO que o Estatuto da Cidade prev que, para a

    expanso urbana, o municpio dever elaborar projeto urbanstico

    especfico para esta finalidade, lembrando que a aprovao de projetos de

    parcelamento no novo permetro urbano fica condicionada a existncia dos

    mesmos. (Inciso II e 3 do Art. 42-B)

    CONSIDERANDO o que o Estatuto da Cidade prev, no seu Art.

    42-B, e o PL N 08/15, encontramos diversas lacunas a saber:

  • a) O PL ao tratar de uma expanso urbana, na realidade pretende

    transformar uma rea rural em um novo ncleo urbano, (na

    modalidade Condomnio Fechado, privilegiando exclusivamente o

    interesse privado) ,vez que, no h conexo com o ncleo existente e

    o dito e desconhecido Projeto Turstico.

    b) No Projeto de Lei no existem delimitaes dos trechos com

    restries urbanizao. (Inciso II do Estatuto da Cidade);

    c) No Projeto de Lei no existem definies das diretrizes especficas

    e das reas que so utilizadas para a infraestrutura, sistema virio,

    equipamentos e instalaes pblicas, urbanas e sociais. (Inciso III);

    d) O Projeto de Lei no contempla definio de parmetros de

    parcelamento, uso e ocupao do solo, de modo a promover a

    diversidade de uso e contribuir para a gerao de emprego e

    renda. (Inciso IV);

    e) O Projeto de Lei no contempla a previso de reas para

    habitao de interesse social por meio de demarcao de zonas

    especiais para esta finalidade e outros instrumentos de poltica

    urbana, quando o uso habitacional for permitido. (Inciso V);

    f) O Projeto de Lei no contempla a definio de diretrizes e

    instrumentos especficos para proteo ambiental e do patrimnio

    histrico e cultural. (Inciso VI);

    g) O Projeto de Lei no contempla definio de mecanismo para

    garantir a justa distribuio dos nus e benefcios decorrentes do

    processo de urbanizao do territrio de expanso urbana e a

    recuperao para a coletividade da valorizao imobiliria resultante desta ao do Poder Pblico. (Inciso VII);

    h) O Projeto de Urbanizao de que trata o caput do Art. 42-B do

    Estatuto da Cidade dever ser institudo por Lei Municipal o que

    efetivamente no ocorreu.

    Exatamente porque o Projeto de Lei 08/2015 no traz no seu

    contedo o Projeto Urbanstico exigido pelo Estatuto da Cidade para

    expanso urbana, indispensvel sua avaliao pela Comunidade e pelo

    Poder Legislativo, que as omisses aduzidas esto presentes.

    CONSIDERANDO que a inteligncia do Art. 43 do Estatuto da

    Cidade determina que para garantir a gesto democrtica da cidade, devero ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos:

    1) rgos colegiados da Poltica Urbana Municipal, como o

    Conselho Municipal da Cidade, dentre outros, que no se

    pronunciaram respeito, porque inoperantes e/ou inexistentes;

  • 2) Debates, audincias e consultas pblicas, que deveriam ocorrer no

    mbito do Executivo e do Legislativo que tambm no ocorreram por falta

    de iniciativa dos poderes constitudos.

    Portanto, estamos diante de um Projeto de Lei que visa, como denota

    o seu Art. 4, privilegiar apenas interesses privados em detrimento de todos

    os anteriormente elencados, que so de ordem pblica e,

    consequentemente, indisponveis.

    A inexistncia de um Projeto Urbanstico que deveria acompanhar

    o Projeto de Lei, discriminando as reas de Proteo Permanente e as de

    uso restrito, contempladas nos Planos de Manejo, torna irrelevante o norma

    descrita no Art. 2 do PL.

    de se notar que a preocupao do CODEMA, Conselho

    Municipal de Defesa do Meio Ambiente, de que os requisitos elencados

    sejam contemplados, de modo que, o controle social seja efetivado, que

    seja respeitada a primazia do interesse pblico sobre o privado e que o

    patrimnio ambiental, histrico e cnico sejam preservados para as

    presentes e futuras geraes.

    A aprovao deste PL requer a sua completude, como determina a

    Lei de Regncia (Estatuto da Cidade), para que o Vereador possa balizar a

    sua manifestao com conhecimento de causa.

    Aproveitamos o ensejo para reiterarmos os votos de estima e

    considerao, colocando-nos disposio para quaisquer esclarecimentos.

    Atenciosamente,

    Carlos Eduardo Alves da Rocha Passos

    Presidente do CODEMA

    Com cpias para o Ministrio Pblico, Prefeita Municipal, Base Ambiental

    da Costa do Dend, Secretaria de Administrao, Secretaria de Meio

    Ambiente e Procuradoria Geral do Municpio.