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Cartilha "Educação não é MERCADORIA!"

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Tubarões do ensino: não passarão! A UNE está do lado dos estudantes para criar condições melhores nas instituições privadas. O objetivo desta cartilha é dar aos estudantes alguns instrumentos para entender a realidade do ensino privado e cobrar os seus direitos diante dos poderosos empresários do ensino privado.

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Editorial ----------------------------------------------------------------------------

EntEnda o quE acontEcEu com o Ensino privado no brasil -----------------

1997: a Educação como comércio -----------------------------------------

nEm tudo o quE vEm dE fora é bom -----------------------------------------------

Educação é sinônimo dE mErcadoria? -----------------------------------

dEsnacionalização Em númEros -----------------------------------------

+qualidadE –mEnsalidadE --------------------------------------------------------

planilha, a caixa prEta das univErsidadEs ------------------------------

inadimplência não é crimE ------------------------------------------------

pl da unE sobrE mEnsalidadEs -------------------------------------------

pEla aprovação do insaEs --------------------------------------------------------

unE na luta: Estatização das univErsidadEs privadas dEscrEdEnciadas --

manual dE sobrEvivência nas instituiçõEs particularEs --------------------

dEmocracia já ---------------------------------------------------------------

avaliação do Ensino ---------------------------------------------------------

prouni: principais dúvidas ---------------------------------------------------------

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ÍNDICE

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Milhões de jovens brasileiros esperam mudar os seus próprios destinos por meio do ensino superior. Entrar para a faculdade é ter acesso ao conhecimento e a chance de transformar a cultura do saber em um futuro melhor para si e para o outro.

Sabemos, contudo, que estudar em uma universidade particular não é nada fácil: trabalhar duro para cobrir as des-pesas, contar em moedas o dinheiro do xerox, dormir em cima dos livros, perder o fim de semana se preparando para trabalhos e provas, dedicar-se ao máximo para não jogar dinheiro fora e aproveitar a chance de crescer e ajudar o desenvolvimento do País.

Em troca, em vez de receberem apoio e respeito das instituições de ensino, muitas vezes os estudantes são vítimas da ganância, de abusos e irregularida-des. É importante entender que a edu-cação é um direito básico, garantido pela Constituição Federal e, portanto,

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não pode ser vendida como um pastel da feira ou um vestido no shopping.

Além de sucateamentos e reajustes abusivos, o ensino superior privado no Brasil tem convivido com des-credenciamento de universidades, descaso da fiscalização do Ministério da Educação, ausência de pesquisa e extensão, falta de democracia, in-timidação do movimento estudantil, cobrança de taxas ilegais e punições aos inadimplentes.

Estamos cercados de tubarões es-trangeiros. Para se ter uma noção, aproximadamente 1.317.000 matrícu-las no ensino superior privado estão nas mãos de apenas quatro grandes grupos internacionais, o que corres-ponde a mais de 25% do número total de estudantes das universidades par-

TUBARÕES DO ENSINO: NÃO PASSARÃO!

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ticulares. Como um carro sem freio, a desnacionalização da educação vai se apropriando velozmente dessa rede.

A UNE está do lado dos estudantes para criar condições melhores nas instituições privadas, sem esquecer que a principal tarefa é a luta pela am-pliação do ensino público, gratuito e de qualidade, passando por uma am-pla reforma universitária, com mais acesso, investimentos e assistência estudantil. O objetivo desta cartilha é dar aos estudantes alguns instrumen-

tos para entender a realidade do en-sino privado e cobrar os seus direitos diante dos poderosos empresários do ensino privado.

Está aberta a temporada de caça aos tubarões do ensino!

Virgínia BarrosPresidenta da UNE

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Abrir uma faculdade, hoje, no Brasil, é sinônimo de bom negócio. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012, 74,6% dos estudantes matriculados no ensino superior brasileiro (ou mais de 5 milhões de pessoas) estão na rede privada.

ENTENDA O QUE ACONTECEU COM O ENSINO PRIVADO NO BRASIL

As mudanças na educação superior ganharam força após a redemocra-tização do País, em especial depois da promulgação da Constituição de 1988, que disciplinou o princípio de autonomia universitária, criando um instrumento importante para as ins-tituições privadas, que era a possibi-lidade de não estar sob a guarda do controle do antigo Conselho Federal de Educação (CFE).

Essa prerrogativa permitiu que, entre 1985 e 1996, o número de universida-des privadas mais do que triplicasse (de 20 para 64). À medida que o nú-mero de universidades particulares crescia, ficava evidente a percepção do setor de que instituições maiores e autônomas, com oferta mais diver-sificada de cursos, teriam vantagens competitivas na disputa da “clientela”. Teve início aí o processo de fusão e in-corporação de instituições de ensino a grupos econômicos.

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1997: A EDUCAÇÃO COMO COMÉRCIO

Um marco crucial foi o artigo 1º do Decreto 2.306, de agosto de 1997, du-rante o governo do então presiden-te da República Fernando Henrique Cardoso. De acordo com esse artigo, as entidades mantenedoras podem assumir qualquer forma admitida em direito, de natureza civil e comercial e, quando constituídas como funda-ções, são regidas pelo Código Civil Brasileiro (art. 24). Ou seja, o artigo permite às entidades mantenedoras das instituições de ensino superior alterar seus estatutos, escolhendo assumir natureza civil ou comercial.

Antes desse momento de transfor-mações da legislação da área, que também envolveu a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-

ção (LDB), em 1996, as instituições de ensino superior só podiam existir desprovidas da figura do proprietário, como associações ou fundações. À época, surgiu a possibilidade também de poderem captar recursos abrin-do seu capital na Bolsa de Valores. A partir daí, as universidades passa-ram a ter um caráter explicitamente empresarial, em busca do lucro. Uma das consequências é apontada por um estudo feito pela Federação dos Trabalhadores em Estabelecimen-tos de Ensino do Rio Grande do Sul: entre 1996 e 1997, as mensalidades aumentaram 67,3%, enquanto os sa-lários dos professores e funcionários foram reajustados em 42,3%, sendo que inflação da época atingiu 37,2%.

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A universidade é estratégica para o desenvolvimento do País, e o fortalecimento do seu caráter público, a democratização do seu acesso e a regulamentação por parte do poder público são eixos fundamentais para que a educação superior brasileira possa produzir conhecimento, pesquisa e extensão favoráveis a uma nação soberana.

A lógica do capital vem estimulando o movimento de fusões e a formação de grandes grupos, que passam a domi-nar o mercado do ensino privado como verdadeiros tubarões do ensino. Além de rebaixar a qualidade da educação, esse processo coloca em risco a sobe-rania nacional, na medida em que fun-dos internacionais passam a controlar um setor estratégico para o desenvol-vimento do País.

Os números da fusão Anhanguera/Kro-ton são impressionantes: 959 mil alu-nos em um negócio de R$ 3 bilhões de receita líquida ao ano. O grupo Estácio Investimentos, já calculando a compra da Uniseb, reúne 272 mil alunos e re-ceita anual de R$ 1,38 bilhão. O grupo Laureate, recém-comprador da FMU, conta com 145 mil alunos e faturamen-to de R$ 956 milhões/ano.

Não contentes com todo esse lucro, os grupos economizam, por exem-plo, com a demissão de professores mestres e doutores. Só em São Pau-lo foram mais de 1.500 professores substituídos por graduados e espe-cialistas, com salários inferiores. Também cortam custos com a subs-tituição de laboratórios e bibliotecas por salas de aula, além de superlota-rem as já existentes.

Desde que essa moda pegou, têm-se travado intensos debates, a fim de que uma regulamentação do ensino superior privado iniba a desnaciona-lização da educação. A UNE conde-na a prática e luta por mais rigor do estado na aprovação dessas fusões e aquisições e nos critérios que ga-rantam a qualidade de ensino nes-sas instituições.

NEM TUDO O QUE VEM DE FORA É BOM

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EDUCAÇÃO É SINÔNIMODE MERCADORIA?

Até 2007, quatro grupos privados ti-nham conseguido abrir o respectivo capital no mercado financeiro: Anhan-guera Educacional, Kroton, Estácio Participações e o grupo SEB (Sistema Educacional Brasileiro). O faturamento dos três primeiros é significativo: o da Kroton foi de 91,5 %, quase dobrando a ROL – Receita Operacional Líquida – em relação ao ano anterior; a Anhan-guera manteve níveis de evolução em 2012 em relação ao ano anterior, cres-cendo 30,4%; já a Estácio apresentou crescimento de 20,4%.

Poucos negócios apresentam tais ní-veis anuais de expansão econômica, ainda mais considerando um ano em que o crescimento da economia foi baixo. O problema maior é que a lu-cratividade é baseada na precarização das condições de trabalho de profes-sores e funcionários e na ausência de condições para desenvolvimento de pesquisa, o que, para o movimento estudantil, provoca graves prejuízos na formação dos estudantes.

Os grupos internacionais, como pre-cisam apresentar resultados financei-ros aos seus investidores, optam por uma educação de baixo custo e isso acaba por mercantilizar o ensino su-perior privado, o que traz malefícios diretos à qualidade da formação ofe-recida aos alunos.

Para se ter um exemplo claro, no fim de 2011, a Anhanguera adquiriu toda a estrutura de 13 campi da Universi-dade Bandeirantes (Uniban). Durante a transição, 1.590 professores foram demitidos, cerca de 35% do corpo do-cente. Desses, 80% eram mestres e doutores e tinham os maiores salários. A política de redução de custos não pa-rou por aí. A reestruturação eliminou as aulas presenciais às sextas-feiras, assim como uma disciplina em todos os outros dias. Um ano depois das mudanças, professores denunciavam atrasos salariais e pagamentos de va-lores abaixo do que o combinado.

No mesmo mês em que se reuniram com o sindicato da categoria para dis-cutir o problema, a Anhanguera anun-ciou lucro líquido de R$ 62 milhões. Em agosto de 2013, mais um anúncio de aquisição. As Faculdades Metropolita-nas Unidas (FMU), de São Paulo, foram compradas pelo grupo norte-americano Laureate, que já controlava a Anhembi Morumbi, por R$ 1 bilhão.

A compra é mais um passo na direção de um mercado de ensino superior mais concentrado e com capital mais aberto ao exterior e ao investidor da Bolsa de Valores. Após o grande negócio, os cinco maiores grupos educacionais do Brasil passaram a ter 33,1% do mercado de en-sino superior, um triste recorde histórico.

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DESNACIONALIZAÇÃO EM NÚMEROS

Principais grupos de ensino superior privado do BrasilInstituição Nº de alunos Receira líquida Participação

Kritin/ anhanguera – private equity 959 mil r$ 3 bilhões 16,2%

Estácio – fundo private equity 272 mil r$ 1,38 bilhão 5,3%

unip – capital nacional 238 mil r$ 1,37 bilhão 4,6%

laureate – Eua 145 mil r$ 956 milhões 2,8%

uninove – capital nacional 127 mil r$ 562 milhões 2,5%

unicsul – fundo private equity 47 mil r$ 487 milhões 0,9%

Ânima – br Educacional (private equity) 42 mil r$ 400 milhões 0,8%

Whitney – Eua 37 mil r$ 312 milhões 0,7%

ser Educacional – Eua 49 mil r$ 282 milhões 0,9%

Grupo tiradentes – capital nacional 37 mil r$ 197 milhões 0,7%

devry – Eua 27 mil r$ 180 milhões 0,5%

ibmec – br Educacional (private equity) 9 mil r$ 170 milhões 0,2%

outras instituições 3,3 milhões r$ 956 milhões 63,8%

total do sEtoR PRIVado 5,16 mIlhõEs R$ 18,9 bilhões 100%fonte: hoper Estudos de mercado (dados de 2012)

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Sua mensalidade aumenta todos os anos, mas os livros da biblioteca, o salário dos professores, as instalações, os laboratórios e a infraestrutura permanecem iguais? Ou só pioram?

+QUALIDADE -MENSALIDADE

São cobradas taxas abusivas em muitas universidades e a regra, que deveria ser a exceção, são aumentos sem o menor diálogo com a comunidade acadêmica e sem justificativa. Os mesmos problemas de sempre permanecem sem solução.

A legislação relaciona o aumento das mensalidades ao investimento ou ao aumento efetivo das despesas. As mantenedoras, na maioria dos casos, não são transparentes ao apresenta-rem suas planilhas, e argumentam que o aumento dos salários dos pro-

fessores e das despesas são justifica-tivas para os preços abusivos.

As instituições particulares apresentam os reajustes de mensalidades com base em uma estimativa de custos e investi-mentos. Nada garante que esses serão realizados. O próprio cálculo de inves-timentos é bastante questionável, por duas razões: as universidades têm o seu patrimônio acrescido às custas dos estu-dantes e o valor das mensalidades para o ano seguinte é alterado mesmo sem a realização de novos investimentos.

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PLANILHA, A CAIXA PRETA DAS UNIVERSIDADES

Pode-se, sem sombra de dúvida, afir-mar que a planilha de custo é o elemen-to principal da problemática, pois é o instrumento pelo qual as mensalidades são reajustadas. Ela é uma espécie de promessa. A instituição de ensino “pro-mete” investimentos aos estudantes que firmam o contrato de prestação de ser-viços educacionais com ela. O estudante, portanto, aguarda que tais investimentos sejam feitos no correr do ano. Só no final do ano se poderá saber se os investi-mentos prometidos foram feitos ou não.

A universidade só pode aumentar o va-lor das mensalidades uma vez por ano, se comprovar que está repassando o aumento dos gastos em melhorias didático-pedagógicas, segundo a lei 9.780/99 e a medida provisória 2.173.

A instituição é obrigada a abrir a pla-nilha de custos. Se a mensalidade for reajustada acima do que está compro-vado ou se a planilha não for fornecida, as entidades estudantis devem solicitar e brigar pela planilha nas instituições, inclusive de anos anteriores, para po-derem comparar os investimentos.

Caso sintam-se lesados, os pais e os alu-nos devem procurar o Procon ou outros órgãos de defesa do consumidor, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consu-midor (Idec) e as comissões de defesa do consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Podem também entrar na justiça comum por meio de um advoga-do, dizendo que o valor correto é x e não o y que está sendo cobrado – e depositar o valor em juízo até a decisão final.

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PL DA UNE SOBRE MENSALIDADES

A UNE apresentou ao Congresso Nacional, em novembro de 2005, o Projeto de Lei (PL) 6489/06, que visa a implementar medidas de controle e fiscalização dos aumentos das mensalidades nos estabelecimentos de ensino pré-escolar, fundamental, médio e superior.

Dentre alguns pontos do PL da UNE está o condicionamento dos reajustes das mensalidades à discussão com pais e alunos (condicionado à instalação de uma comissão constituída por repre-

INADIMPLÊNCIA NÃO É CRIME

Se as mensalidades aumentam muito, para os estudantes só restam a ina-dimplência, a evasão e a frustração com os cursos de qualidade suspeita. Os índices de inadimplência são altos, chegando a 40% ou 50% em algumas instituições. Muitos alunos foram in-cluídos em listas de maus pagadores do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) nos estados ou simplesmente tiveram que abandonar o curso.

Mas inadimplência não é crime. O não pagamento deriva da falta de condi-ções. O desemprego é alto e os jovens compõem a parcela mais afetada pela

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ausência de trabalho. Entre 18 e 24 anos, o índice de desemprego é de 42%. De acordo com o IBGE, o percentual de eva-são escolar nessa faixa etária é de 67%.

Quanto às punições, é bom ficar aten-to, pois a faculdade não pode aplicar qualquer sanção didático-pedagógica ao aluno inadimplente, como impedir de fazer provas, assistir às aulas, fre-quentar a biblioteca ou qualquer ati-vidade acadêmica. Também não pode expulsá-lo ou impedi-lo de ter acesso às aulas. Contudo, a atual legislação dá à instituição o direito de não aceitar a matrícula no ano posterior.

sentantes das instituições, das entida-des estudantis e do corpo docente) e a proteção ao inadimplente, impedindo o seu desligamento da instituição.

Outra reivindicação da UNE é que o anúncio do aumento seja divulgado 120 dias antes do encerramento da matrícula (atualmente são 40 dias), acabando com o velho truque das ins-tituições de divulgar os abusos duran-te o período de férias, sem chance de que o aluno planeje sua negociação e até mesmo a sua defesa jurídica.

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PELA APROVAÇÃO DO INSAES

A autarquia em questão é denomina-da INSAES (Instituto Nacional de Su-pervisão e Avaliação da Educação Su-perior). Para a UNE, essa é uma das principais bandeiras na luta pela qua-lidade do ensino privado, pois poderá assegurar a qualidade do ensino su-perior no País e impedir as crescentes mercantilização e desnacionalização.

Como sanção aos infratores da lei, o instituto poderá desativar cursos, re-duzir o número de vagas, suspender a autonomia e aplicar advertências ou multas no valor de R$ 5 mil a R$ 500 mil. Por essas razões, a UNE acredi-ta que o órgão representa uma maior capacidade do Estado em assumir seu papel na garantia da qualidade da

educação, inclusive em instituições que vivem do dinheiro público.

Grande parte das instituições de educação privada conta com o auxí-lio de recursos públicos, por meio de programas como o ProUni e o Fies. No entanto, o setor privado se recu-sa a ser supervisionado e avaliado de acordo com as mesmas exigên-cias aplicadas à educação pública, alegando uma suposta ingerência do Estado.

É preciso, contudo, ficar atento para que essa nova autarquia não seja ab-sorvida pelos interesses dos tubarões de ensino. A UNE continuará na luta pela regulamentação do ensino privado.

Existem algumas medidas que estão sendo tomadas para responder à inaceitável situação da qualidade de ensino nas universidades. Está tramitando na Câmara dos Deputados o PL 4372/2012, encaminhado pelo MEC, que visa a criar uma autarquia federal para autorizar e renovar o reconhecimento de cursos de graduação e sequenciais.

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A proposta da UNE é criar um amparo legal para que a estatização seja regra, a partir do momento em que uma instituição privada entre em colapso. O objetivo é absorver professores, funcionários e alunos na compreensão de que educação é um direito, não uma simples mercadoria.

UNE NA LUTA: ESTATIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PRIVADAS DESCREDENCIADAS

O descredenciamento de duas grandes e tradicionais instituições de ensino do Rio de Janeiro, a Gama Filho e a Uni-versidade da Cidade (UniverCidade), realizado pelo MEC no mês de janeiro de 2014, traz à tona novamente o cená-rio caótico em que se encontra a edu-cação no ensino superior privado no País, responsável por “atender” a mais de 65% dos estudantes brasileiros.

Enfrentar o sucateamento do ensino superior exige clareza da trajetória da educação brasileira e das forças que, hoje, encontram-se em disputa. As lu-tas históricas da União Nacional dos

Estudantes apontam que as políticas educacionais sempre estiveram ligadas a um projeto de nação. Para seguir esse projeto, é necessário regulamentar o ensino privado. O descredenciamento das instituições do Rio de Janeiro foi a resposta amarga à total falta de regula-mentação do ensino privado.

Enquanto isso, outras universidades podem entrar em colapso. Outros so-nhos podem ser interrompidos por fal-ta de estrutura e excesso de descaso. O que fazer diante desse dilema? A UNE defende a estatização das univer-sidades descredenciadas.

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Com base na legislação em vigor, a UNE sintetizou algumas orientações sobre como agir em casos de irregularidades.

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES PARTICULARES

A educação não deveria ser tratada como produto de consumo, mas como essa é a realidade da maioria dos uni-versitários do País, nada mais justo que exigir direitos. O conhecimento da legis-lação pode ser instrumento importante para o estudante. O objetivo, aqui, é aju-dar na luta dentro das escolas particu-lares, nas quais sobram problemas mas quase sempre falta democracia.

Embora os estudantes das institui-ções particulares não contem com o total amparo da legislação que regula a matéria das mensalidades, os seus direitos devem ser exigidos.

1. São vedadas as sanções didático-pe-dagógicas por inadimplência. A direção da faculdade não pode impedir o aluno de assistir às aulas ou de fazer prova.

2. É permitido ao inadimplente transfe-rir seu curso para outra instituição. A instituição não pode se negar a forne-cer os documentos ao aluno. Porém, de acordo com o sistema vigente, ainda que o estudante peça transferência e continue estudando em outra institui-

ção de ensino, ou que abandone o cur-so, será cobrado, por meio de ação no Judiciário, pois firmou um contrato.

3. As instituições devem apresentar planilhas de custo. A própria legisla-ção vigente estabelece que tal contro-le será feito pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. Devem ser feitas denúncias à Secreta-ria, pedindo que seja feita essa análise sobre os investimentos prometidos.

4. É sempre melhor que o estudante inadimplente tente a sua negociação em bloco, com outros alunos, pelas entidades organizadas ou por comis-sões de estudantes. Individualmente, o estudante fica em uma situação de fragilidade, com pouca capacidade de negociação e pressão.

5. É comum que estudantes firmem o contrato de prestação de serviços edu-cacionais sem sequer lê-lo. É verdade que não poderá discutir suas cláusu-las, mas deverá, sempre, exigir que lhe seja entregue uma cópia. É sempre bom que o contrato seja analisado por

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um advogado, que poderá avaliar quais obrigações assumiu o estudante e se o contrato fere alguma legislação vigente, atitude muito frequente, infelizmente.

6. É comum os contratos fazerem menção ao Regimento Interno das instituições de ensino, inclusive ci-tando que o aluno tem ciência de seu conteúdo. Na realidade, na maioria dos casos, a única cópia disponível está na biblioteca, e não podem ser feitas fotocópias. Exigir uma cópia do regimento e analisá-lo só vai ajudar.

7. A Lei de Diretrizes e Bases da Edu-cação (LDB) garante: “Temos direito a uma educação de qualidade”. A LDB é uma espécie de “constituição da educa-ção” e normatiza o sistema educacional brasileiro. Entre as normas que estabe-lece estão alguns padrões de qualidade que podemos cobrar das universidades. Apesar de a LBD que atualmente está em vigor apresentar muitas falhas e não trazer diversas reivindicações dos setores educacionais, ela permite que os estudantes cobrem das instituições uma mínima qualidade.

A universidade brasileira ainda mantém a mesma estrutura criada pela ditadura militar, com afrontas graves à democra-cia, como o processo de escolha do rei-tor. As particulares, em geral, padecem com processos internos extremamente antidemocráticos. Algumas exigências precisam ser reivindicadas pelos es-tudantes, como eleições diretas para todos os cargos de direção, publicação das planilhas de custo e participação e paridade nos órgãos colegiados.

O aluno tem o direito de saber em que e como está sendo aplicado o dinheiro que gasta mensalmente em seus es-

tudos, e pode exigir melhor resultado caso não esteja satisfeito com a qua-lidade do ensino que recebe em troca.

Da mesma maneira, estudantes, pro-fessores e funcionários têm direito de participar das decisões da instituição. É impossível desenvolver um bom pro-jeto didático-pedagógico sem que haja a participação de todos.

Controlar a sede de dinheiro das mante-nedoras das universidades particulares não é fácil; conseguir a redução das men-salidades, menos ainda. Por isso, é preci-so organizar o movimento de forma que

DEMOCRACIA JÁ!

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AVALIAÇÃO DO ENSINO

sejam valorizadas a unidade das lutas das universidades e as ações conjuntas com outros órgãos, como Procon, seções lo-cais da OAB, Ministério Público, Dieese, Sindicatos dos Professores, enfim, todas as organizações que possam dar orienta-ções e colaborações nessa batalha.

A mobilização das entidades estudan-tis também é fundamental. Por isso, é

imprescindível que haja a liberdade de organização estudantil. Uma importan-te forma de fazer frente aos abusos é construir em Diretório ou Centro Aca-dêmico (DA ou CA), quando não exis-tirem. Grande parte das instituições proíbe, criminaliza ou inibe a cons-trução de entidades estudantis. Isso é uma vergonha! O direito de organização dos estudantes está previsto por lei.

A avaliação é um ponto fundamental para a garantia de um desenvolvimento edu-cacional qualitativo e transparente. É por meio da avaliação que a universidade bus-ca formas para se aperfeiçoar e melhorar. A avaliação deve ter como objetivo identifi-car insuficiências, vantagens e definir polí-ticas e metas, servindo, dessa forma, para a tomada de definições nas instituições.

Alguns princípios e características são básicos para termos uma avaliação com as seguintes perspectivas:

– global – avaliando a instituição e todo o sistema privado de ensino, buscando a relação ensino, pesquisa e extensão;

– não deve ter concepção punitiva ou pre-miativa;

– legitimidade política;– ter como objetivo a melhoria da

educação.

Por tudo isso é importante promover o debate entre os alunos, os professores, instituições e o MEC para que, juntos, elaborem uma proposta de avaliação cada vez mais justa. Longe de achar que o Sistema Nacional de Avaliação da Edu-cação Superior (Sinaes) é modelo ideal, a UNE apoiou a sua criação por saber que ele trouxe, a partir de um conceito públi-co de avaliação, novos marcos que rom-peram com a visão privatista e mercado-lógica representada pelo finado Provão.

Um novo cenário ficou claro na propos-ta do Sinaes quando houve a mudança de foco, que deixou de ser o estudante e passou a ser todo o sistema: institui-ção, curso e estudante. Resta aprimo-rar sua aplicação, para que a educação não seja prejudicada por falhas e para que não haja sobrecarga na avaliação discente dos estudantes.

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Quem é prounista deve se orgulhar de poder desenvolver seu potencial, sua criati-vidade e sua dedicação à universidade com um pouco mais de igualdade. Para isso, vale a pena estar atento a todas as regras do ProUni, para evitar qualquer contra-tempo. Se você ainda tem dúvidas sobre algum detalhe do programa, preparamos o seguinte guia de perguntas e respostas.

PROUNI: PRINCIPAIS DÚVIDAS

O Programa Universidade para To-dos (ProUni) alcançou, recentemen-te, a marca de 1 milhão de bolsas em todo o Brasil, oferecendo vagas para estudantes com baixa renda em uni-versidades particulares. Como isso é possível? A lógica é a seguinte: de 1988 até 2004, as universidades par-ticulares tiveram incentivos fiscais do governo, sem apresentar nenhu-ma contrapartida obrigatória. Se qui-sessem oferecer bolsas de estudo, as próprias instituições decidiam a quais alunos iriam atender e os cri-térios utilizados para essas escolhas.

Com o ProUni, o governo federal obri-ga, por meio da lei 11.096/2005, as universidades que desejarem isenção fiscal a oferecerem bolsas para o pro-grama. A seleção dos alunos atendi-dos é feita pelo próprio Ministério da Educação, restringindo o benefício a estudantes com baixa renda e, além

disso, que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas.

No início do projeto, alguns críticos che-garam a questionar a capacidade dos alunos bolsistas e de seu futuro desem-penho acadêmico. No entanto, os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que integra o Sina-es, mostraram, em poucos anos, que os prounistas possuíam rendimento igual ou superior ao dos outros universitários.

1. Quem responde pelo ProUni em minha universidade?

Toda instituição de ensino que partici-pa do programa possui uma Coorde-nação do ProUni. É o local ao qual os bolsistas do programa devem se dirigir para tratar dos procedimentos de roti-na com relação a sua bolsa, obter in-formações e solucionar dúvidas impor-tantes para o seu dia a dia acadêmico.

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2. Preciso renovar minha bolsa todo semestre?

Sim. Lembre-se de que isso é neces-sário mesmo naqueles cursos cujas disciplinas duram um ano, ou que possuem uma outra estrutura de au-las (bimestrais, trimestrais). Todos os bolsistas devem comparecer à Coor-denação do ProUni, a cada semestre, para assinar o Termo de Atualização do Usufruto da Bolsa. Caso a bolsa do ProUni não seja atualizada pelo coordenador, ela ficará automatica-mente suspensa, temporariamente, por ausência de renovação.

3. É possível perder minha bolsa?

Sim. Por isso, preste bastante aten-ção às regras que você é obrigado a cumprir durante o programa: apro-veitamento acadêmico mínimo; não ultrapassar o prazo máximo para a conclusão do curso; atendimento a todos os regulamentos internos de cada universidade. Além disso, você perderá sua bolsa automaticamente caso se matricule em alguma outra universidade pública e gratuita ou caso conclua algum outro curso su-perior em qualquer universidade.

4. Qual o aproveitamento acadêmico mínimo para manter minha bolsa?

Para permanecer participando do ProUni, o estudante precisa ser apro-vado, com notas e frequência, em, pelo menos, 75% do total das disciplinas cursadas em cada semestre letivo. Por exemplo, caso você esteja matriculado em 4 disciplinas, precisa ser aprovado em pelo menos 3. Caso esteja cursan-do 5 disciplinas, deverá ser aprovado em 4, e assim por diante.

5. O que é o FIES?

O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a gra-duação de estudantes matriculados em instituições não gratuitas. Podem re-correr ao financiamento os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. Desde 2010, o FIES passou a operar em fluxo contínuo, ou seja, o estudante pode solicitar o financiamento em qualquer período do ano, de acordo com a sua ne-cessidade. As inscrições são feitas pelo Sistema Informatizado do FIES (SisFIES), disponível para acesso no sitehttp://sisfiesportal.mec.gov.br.

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6. O que é a bolsa-permanência?

Trata-se de um benefício financeiro extra concedido pelo governo fede-ral àqueles prounistas que possuem bolsa integral e estudam em cursos com grande carga horária, que os impede de arrumar algum emprego para custear sua permanência, sua alimentação e seu transporte até a universidade. A UNE defende que os requisitos para a bolsa sejam mais simples, maleáveis e condizentes com a realidade de cada estudante, garan-tindo a sua permanência até o fim dos seus estudos. Podem se candidatar à

bolsa permanência alunos de cursos presenciais com no mínimo 6 (seis) semestres de duração e cuja carga horária média seja igual ou superior a 6 (seis) horas diárias de aula, de acor-do com os dados cadastrados pelas instituições de ensino junto ao MEC. A seleção dos bolsistas aptos ao rece-bimento da bolsa-permanência é re-alizada mensalmente, no primeiro dia de cada mês, observado o cálculo da carga horária e a disponibilidade orça-mentária e financeira do Ministério da Educação. Fique ligado nos prazos e em como se inscrever por meio do site http://prouniportal.mec.gov.br

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DIRETORIA EXECUTIVA DA UNEGESTÃO 2013-2015

Presidenta Virgínia Barros

Vice-presidente Mitã Chalfun

1º vice-presidentaKaterine Oliveira

2º vice-presidente Ronald Luis

3º vice-presidenta Danielle Ferreira

Secretária-geral Iara Cassano

1º secretário-geral Everton Sodré (Chacal)

Tesoureiro-geral Bruno Correa

Diretor Políticas Educacionais Juliana Souza

EXPEDIENTE

A Cartilha da campanha sobre universida-des privadas é uma publicação da União Nacional dos Estudantes.

Jornalista responsávelRafael Minoro - CR (DRT/MG 11.287)

Redação e edição Patrícia Blumberg

Colaboração Artênius Daniel, Cristiane Tada e Renata Bars

Projeto gráfico Fields Comunicaçãofieldscomunicacao.com.br youtube.com/uneoficial

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1º Diretor Políticas Educacionais Pedro Paulo Rocha de Araújo

Diretor de Comunicação Thiago José

Dir. Universidades Públicas Mirelly Cardoso

Dir. Relações Internacionais Thauan Fernandes

Diretor de Direitos Humanos Thiago Aguiar

Diretora de Cultura Patrícia de Matos

Diretora de Movimentos Sociais Déborah Costa

Diretor da área de Humanas Ivo Braga

1º Diretor de Universidades PrivadasMateus Weber

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