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VITRINE TECNOLÓGICA DE AGROECOLOGIA SHOW RURAL 2015

Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

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Agroecologia 2015

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Page 1: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

VITRINE TECNOLÓGICA DE AGROECOLOGIA

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Page 2: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

3CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Coopavel :: COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL

Embrapa :: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA

Emater :: INSTITUTO PARANAENSE DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL

Iapar :: INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ

Itaipu Binacional :: USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU

CPRA :: CENTRO PARANAENSE DE REFERÊNCIA EM AGROECOLOGIA

Capa :: CENTRO DE APOIO AO PEQUENO AGRICULTOR / NÚCLEO MARECHAL C. RONDON

Biolabore :: COOPERATIVA DE TRABALHO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA DO PARANÁ

Unioeste :: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

Adeop :: AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO EXTREMO OESTE DO PARANÁ

UFPR :: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Adelar Soares de Oliveira | BiolaboreAdriana Benetton | UFPR Alberto Feiden | EmbrapaAna Simone Richter | CPRAAndré Eduardo Borges | AdeopArnold Barbosa de Oliveira | EmbrapaAurélio Vinícius Borsato | EmbrapaBruno Paduan | AdeopCátia Cristina Rommel | IaparClaudine Dinali Santos Seixas | EmbrapaDaniel José de Souza Mol | BiolaboreDaniela Cristiane Zigiotto | BiolaboreDaniele Patricia Gentelini | BiolaboreDanielli Toebe | AdeopDari Vargas | BiolaboreDirk Claudio Ahrens | IaparDjulio Henrique Rodrigues | AdeopDouglas Fernando Kunz | BiolaboreEdimar Silveira da Silva | CapaEtiene Leite Junior | IaparEverton Ulkoski | BiolaboreFabiano de Castro Leite | UFPRFernanda Soares | UFPRFrederico Olivieri Lisita | EmbrapaGedervam Cardoso Dal Sotto | BiolaboreIlzo Artur Moreira Risso | EmbrapaIves Clayton G. dos Reis Goulart | EmbrapaIvone Janete Gutz de Castro Leite | UFPRJorge Luiz Knebel | Coopavel

José Augusto Kolling | BiolaboreLeandro Tonin | AdeopLincoln Villi Gerke | AdeopLiziane Kadine Pires | Itaipu BinacionalLorivan Webber | Itaipu BinacionalMarcelo Rohde | CapaMárcia Vargas Toledo | EmaterMárcio Miranda | CPRAMarco Antônio Bilo Vieira | Capa Marco Antonio Nogueira | EmbrapaMaria Izabel Radomski | EmbrapaMaristela Perera Carvalho Zanão | IaparMichelle Pires Cubilla Perez | Itaipu BinacionalNelson Rogério Bueno da Silva | Emater Nilo Deliberali | EmaterPatrícia Aparecida Favorito | CapaPaulo Coan Bussolo | BiolaborePaulo Henrique Lizarelli | EmaterReinaldo Santos Shimabuku Jr | Itaipu BinacionalRonaldo Antônio Fochesato | EmaterRonaldo Juliano Pavlak | Itaipu BinacionalSidnei Francisco Müller | CapaSimone Grisa | IaparThaís Fernanda de S. Monteiro | CapaValcir Inácio Wilhelm | CPRAValdeilson Ferreira de Almeida | CapaVanda Pietrowski | UnioesteVanice Marli Fülber | Capa/BiolaboreVilmar V. Saar | Capa

INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS

EQUIPE ORGANIZADORA

Page 3: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

4 5CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Os princípios da Agroecologia em 2.250 m² | 6Histórico da vitrine tecnológica de Agroecologia | 7Adubos verdes e consórcios | 8Agrofloresta | 10Apicultura | 12Bioconstruções | 13Fruticultura ecológica | 17Olericultura como alternativa de renda para agricultura familiar ecológica | 18Pastoreio Racional Voisin (PRV) | 19Plantas medicinais | 20Manejo do habitat na conservação dos agentes de controle biológico | 22

Cultivares de soja para sistemas de base ecológica | 23Armadilha para captura de percevejos em soja | 24Milho QPM (alta qualidade proteica) | 24Fixação biológica de nitrogênio (FBN) – uso de inoculantes | 25Homeopatia e Agroecologia | 25Compostagem e vermicompostagem | 26Como controlar pragas e doenças em sistemas agroecológicos? | 28Irrigação com sistemas adaptados de baixo custo | 30Sorgo Sacarino, alternativa na produção de energia e alimentação animal | 33Suplementação alimentar proteica de bovinos de leite em períodos de escassez (seca ou frio) | 35Como transformar uma propriedade convencional em agroecológica? | 37

SUMÁRIO

Page 4: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

Os princípios da Agroecologia em 2.250 m²

Histórico da vitrine tecnológica de Agroecologia

A Agroecologia é uma ciência, que con-siste na aplicação de conceitos e princípios ecológicos para o desenho e o manejo de agroecossistemas sustentáveis. Está base-ada na interação dos aspectos ambientais, sociais e econômicos, tendo as proprieda-des agrícolas, o funcionamento da Nature-za como modelo, que por isso não utilizam agrotóxicos e adubos químicos solúveis.

Ao preservar as diversas espécies de insetos nativos, a fauna do solo; ao pro-mover a interação planta-animal-ambiente, também se cria condições para que o solo produza por muitas gerações. Concomitan-temente, o mercado de grãos, leite, carne, hortaliças, frutas, plantas medicinais e con-dimentos orgânicos vêm conquistando cada vez mais consumidores.

Demonstramos em nossa unidade di-dática de 2.250 m²: a importância do auto-consumo; a geração de renda; os animais no

Em 2003, a Embrapa iniciou essa ativi-dade com o cultivo de soja no sistema or-gânico. Dois anos depois, foram cultivadas parcelas, com várias espécies tradicionais na região, dentre elas o milho, a soja, o fei-jão, o arroz e culturas potenciais.

Em 2006, o projeto foi ampliado para os moldes de uma propriedade agrícola fa-miliar diversificada, com casa, pastagens, grãos, frutíferas e horta, trazendo a visão sistêmica da unidade.

Em 2007, ampliou-se com os cultivos de inverno no sistema orgânico, participando do Encontro Técnico de Inverno. Assim, a área passou a ser cultivada o ano todo, tal qual uma propriedade rural.

Em 2009, com aumento da área de plan-tio, consolidamos o espaço da Agroecologia no SHOW RURAL COOPAVEL. A cada ano mais instituições vêm se juntando à propos-

pasto mais sadios e rentáveis; a redução da dependência externa de insumos; o melhor aproveitamento da água da chuva e o uso de materiais alternativos em construções, como o bambu.

Na Agroecologia, a melhor tecnologia é aquela que está calçada nos pilares da sus-tentabilidade, com retorno econômico, que promova o equilíbrio ambiental e a justiça social, com respeito aos conhecimentos lo-cais e tradicionais.

A Agroecologia também resgata valo-res: a qualidade de vida e a saúde da famí-lia, a vida em comunidade e a saúde dos consumidores.

A crise do modelo de agricultura con-vencional, seus altos custos e o surgimento de novas pragas e doenças, justificam uma proposta agroecológica para a agricultura paranaense.

ta e várias iniciativas vêm se consolidando, de forma a servir como um exercício de con-versão, passando pela redução de insumos, substituição e finalmente o redesenho da propriedade, com respeito ao dinamismo do processo como um todo.

Hoje a Vitrine conta com 11 entidades empenhadas na sua organização: EMBRA-PA, IAPAR, CPRA, ITAIPU, COOPAVEL, EMATER, BIOLABORE, CAPA, ADEOP, UNIOESTE e UFPR, as quais exercitam com esta experiência a interistitucionalida-de multidisciplinar e o pluralismo com res-peito nas relações humanas e profissionais, também princípios da Agroecologia.

Essa unidade mostra que a agricultu-ra pode trilhar caminhos diversos, usando conceitos científicos avançados, aliados a técnicas acessíveis aos agricultores.

7CARTILHA DE AGROECOLOGIACARTILHA DE AGROECOLOGIA6

Page 5: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

8 9CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Adubos verdes e consórcios

O que são adubos verdes?

São plantas de cultivo de verão ou de inverno utilizadas para a melhoria da qua-lidade física e química do solo fornecendo nutrientes, principalmente o nitrogênio (N) para as plantas, além de servirem para co-bertura do solo.

Quais são as vantagens da utilização dos adubos verdes?

Trazem grandes benefícios aos solos e sistemas agrícolas em geral: proteção do solo contra erosão; elevação da taxa de infil-tração e aumento da capacidade de retenção de água; recuperação da estrutura do solo; adição de matéria orgânica; aumento da ca-pacidade de troca de cátions; promoção do

Dirk Claudio Ahrens (Iapar) | [email protected] • Flávia Comiran (Iapar) | [email protected]átia Cristina Rommel (Iapar) | [email protected]

aumento de nitrogênio; controle de nematoi-des; aumento e diversificação da população de microrganismos do solo, incremento da capacidade de reciclagem e mobilização de nutrientes perdidos ou pouco solúveis em camadas mais profundas do solo.

Quais características desejáveis dos adubos verdes?

As espécies eleitas para serem utiliza-das como adubos verdes devem ter prefe-rencialmente as seguintes características: fácil estabelecimento no campo, crescimen-to rápido, tolerância ao corte, alta capacida-de de rebrota, alta produção de massa vege-tal, fixação biológica do N, fácil obtenção de sementes e facilidade de manejo.

plantas tiverem uma altura de 80-100 cm (maior brotamento e uniformização da florada), com ciclo de 210-240 dias, produtividade de sementes 0,7-1,5 t/ha. É possível produzir sementes em regiões mais frias, se não ocorrerem geadas precoces.

:: Crotalária spectábilis (Crotalaria spectabilis)

Planta tropical a subtropical, podendo atingir de 60-150 cm de altura, com crescimento vegetativo mais lento. Tolera solos mais pobres em fósforo, com semeadura de setembro-dezembro a uma densidade de 15 kg/ha. Manejar a cobertura aos 110-140 dias da emergência. É bastante efetivo no controle de nematoides e vem sendo utiliza-da como um repelente natural contra o mosquito transmissor da Dengue. Para produção de se-mentes usar 8-10 kg/ha, com ciclo de 180-200 dias e produtividade de 0,6-0,8 t/ha de sementes. É possível produzir sementes em regiões mais frias, se não ocorrerem geadas precoces.

:: Guandu anão IAPAR 43 - Aratã (Cajanus cajan)

Planta tropical a subtropical é uma arbustiva anu-al de dias longos. Além de produção de cobertu-ra, sua massa é rica em proteínas, e seus grãos também podem ser utilizados para alimentação humana e animal. Necessidade de 50 kg/ha de sementes para produção de biomassa, sendo manejada para alimentação animal de 20-40 cm de altura e para cobertura verde aos 140-180 dias pós-emergência. Para produção de sementes uti-

:: Mucuna anã (Mucuna deeringeriana)

Planta de clima tropical a subtropical, de hábito determinado, pode ser intercalada entre linhas de espécies comerciais perenes. Tolera solos po-bres, mas é mais exigente que a mucuna cinza e a mucuna preta. Produz de 2-4 t/ha de massa seca. Semeadura: densidade de 80 a 100 kg/ha na primavera/verão devendo ser manejada no florescimento (800-100 dias após a emergência) com rolo-faca ou roçadeira. Ciclo de 150 dias pós-florescimento para produção de sementes.

:: Crotalária juncea (Crotalaria juncea)

Planta tropical a subtropical, rica em fibras, de rápido crescimento inicial, efeito alelopático, po-dendo atingir 2-3m de altura. Controla alguns ne-matoides, semeadura de outubro-dezembro com densidade de 40 kg/ha, sendo manejada como cobertura aos 110-140 dias. Pode ser utilizada na alimentação animal, a partir de cortes aos 70 dias pós-emergência. A produção de massa seca pode variar de 7-15 t/ha. Para produção de sementes usar de 20-30 kg/ha, fazendo um corte quando as

Algumas espécies de adubos verdes de verão

liza-se 50 kg/ha, com produção variável entre 1-2 t/ha. Com florescimento e maturação das semen-tes de forma irregular faz-se a colheita com 50% das plantas maduras. Não é possível produzir se-mentes em regiões mais frias.

:: Feijão de porco (Canavalia ensiformis)

Originária de regiões tropicais, porte ereto, hábito determina do podendo atingir de 60-120 cm de altura. Adapta-se bem em solos de baixa fertili-dade em fósforo. Planta rústica, mas de semen-tes grandes (100 sementes = 130-150 gramas). Manejo aos 120-150 dias no início da formação de vagens, supressor do crescimento da tiririca, suscetível à presença de nematoides. O ciclo da cultura para produção de sementes varia de 180-200 dias, produzindo 0,8-1,2 t/ha. Nas regiões mais frias produz sementes em solos de menor fertilidade (encurtamento do ciclo).

Mais informações:

CALEGARI, A. Leguminosas para adubação verde de verão no Paraná. Circular 80, maio 1995. IAPAR. http://books.google.com.br/books/about/Leguminosas_para_aduba%C3%A7%-C3%A3o_verde_de_ver.html?id=gQxjAAA-AMAAJ&redir_esc=y

BARNI, N. A; FREITAS, J. M. de O.; MATZE-NAUER, R.; TOMAZZI, D. J.; ZANOTELLI, V.; ARGENTA, G.; SECHIN, J.; TIMM, P. J.; DIDO-NE, I. A.; HILEBRAND, G.; BUENO, A. C.; RIBEI-RO, S. de S. Plantas recicladoras de nutrientes e de proteção do solo, para uso em sistemas equilibrados de produção agrícola. Porto Ale-gre: Fepagro, 2003. 84 p. (Boletim Fepagro, 12).

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10 11CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

O que é um consórcio de plantas?

Consórcios ou policultivos consis-tem no plantio de mais de uma cultura, na mesma área, ao mesmo tempo, com espécies que não competem entre si, or-ganizadas ou não em fileiras. Podem ser empregados com adubos verdes, grãos, hortaliças, frutíferas.

Consórcio de Hortaliças.

Para que serve o consórcio?

A finalidade do uso de consórcios é ter rendas periódicas, maximização do uso do solo e da água, da cobertura do solo e do uso da mão de obra, bem como proporcio-nar condições desfavoráveis à presença de pragas e doenças nos cultivos, pela diver-sidade de espécies. Assim, cultivando-se, por exemplo, o milho, o feijão, o arroz e o quiabo há um melhor aproveitamento dos espaços em uma propriedade, havendo in-teração positiva entre elas.

O que vem a ser cultivo em faixas?

É uma evolução do uso dos consórcios, para facilitar a semeadura e colheita mecâ-nica, sendo o cultivo em faixas de espécies diferentes, como o milho e a soja.

Agrofloresta Maria Izabel Radomski (Embrapa Florestas) | [email protected]

Numa linguagem simples, a Agroflo-resta é a integração de árvores, plantas e animais em sistemas conservacionistas, re-nováveis e produtivos. A agrofloresta pode ser considerada mais um meio, do que uma simples tecnologia acabada. A flexibilida-de do sistema agroflorestal é uma de suas vantagens, ou seja, é possível montar dife-rentes arranjos com árvores, lavouras e ani-mais de acordo com os objetivos do agricul-tor, os recursos disponíveis (terra, capital e mão de obra), e as demandas do mercado.

Os sistemas agroflorestais também po-

dem ser mais ou menos complexos (diversi-ficados), tanto no espaço quanto no tempo. Existem sistemas mais simples como os sistemas agrossilvipastoris, que integram árvores, lavouras de verão, pastagem de inverno e gado; e os sistemas silvipastoris que associam árvores, pastagem perene e gado. E sistemas mais complexos, como os sistemas agroflorestais multiestrata, que visam o arranjo de espécies alimentícias e arbóreas cultivadas ou regeneradas natu-ralmente de modo a “imitar” os diferentes estratos de uma floresta.

Por que Agrofloresta?

Os sistemas agroflorestais utilizam o máximo da terra. Cada parte da terra é con-siderada aproveitável para as plantas que são utilizadas. Ênfase é dada para as es-pécies perenes, lavouras de múltiplos usos que são plantadas uma vez, mas benefi-ciam por um longo período de tempo. Além disso, os sistemas agroflorestais são utiliza-dos para aproveitar as interações benéficas das plantas cultivadas, e para reduzir inte-rações não favoráveis. Eles são usados para reduzir os riscos associados à agricultura de pequena ou larga escala, e para aumen-tar a sua sustentabilidade.

Os sistemas agroflorestais oferecem os múltiplos benefícios das árvores: conser-var o solo, aumentar a fertilidade por meio da fixação de nitrogênio, ou pela retirada de minerais de camadas profundas do solo e sua colocação na superfície através da serapilheira, fornecer sombra para os ani-mais, produzir madeira, alimentos e com-bustível.

A agrofloresta não é um sistema de receitas prontas para a venda, é um siste-ma para manejo dos recursos agrícolas, da terra, para benefício do proprietário e, em longo prazo, para o bem-estar de toda a so-ciedade. Embora o sistema seja apropriado para toda a terra, ele é especialmente impor-tante no caso de propriedades com declivi-dades acentuadas onde a agricultura leva a

rápidas perdas de solo. Um sistema agroflo-restal pode, enfim, ser pensado como parte de um sistema maior que é a propriedade, e que contém muitos outros subsistemas que juntos definem um caminho mais sustentá-vel para a vida no meio rural.

Vantagens da Agrofloresta

:: Segurança alimentar para a família e ren-da para o produtor;

:: Produção diversificada – redução de risco;:: Baixa ocorrência de pragas e doenças;:: Aumento da fertilidade do solo;:: Alta produtividade por área ocupada;:: Uso de mão de obra familiar;:: Baixa necessidade de insumos externos;:: Espaço de convivência.

SAF com frutíferas.

Sistema silvipastoril.

Quintal Agroflorestal.

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12 13CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Não há como resistir ao fascínio das abelhas. Com o seu modelo de socialização, onde cada qual possui uma função bem de-finida, executada sempre em benefício do bem-estar da coletividade, nos dão um belo exemplo de convivência.

As pesquisas científicas fazem-nos acreditar que a abelha melífera existe há no mínimo quarenta e dois milhões de anos. É importante lembrar que a abelha melífera, não tem mudado sua vida e sua formação biológica, enquanto outras espécies vivas têm mudado consideravelmente.

O que são

São construções que utilizam como base os materiais naturais e trazem na sua essência a ideia da sustentabilidade, ao uti-lizar de modo racional os recursos naturais. Algumas técnicas, conceitos e materiais uti-lizados são os tijolos de adobe, taipa leve, taipa de pilão, cob, super adobe, fardo de palha, tijolos de solocimento, cisterna de ferrocimento para captação de água da chu-va, aquecimento de água com energia solar,

A importância da abelha para o mun-do das plantas é enorme e assim podemos imaginar o milagre da natureza. Não apenas as flores das plantas úteis são fecundadas por 80% das abelhas melíferas, mas tam-bém muitas outras.

Além das abelhas nos fornecerem mel, pólen, própolis, cera, geleia real e apitoxina (líquido da guilhada), todos os produtos de grande valor para o homem, também são responsáveis pela polinização das flores ga-rantindo maior quantidade e qualidade dos frutos, perpetuando espécies.

Nilo Deliberali (Emater) | [email protected] Valcir Inácio Wilhelm (CPRA) | [email protected]

Apicultura Bioconstruções

Apicultor manejando Colmeia. Abelha carregada de pólen.

Referindo-nos ao mel – produto produ-zido em maior quantidade pelas abelhas – não se pode classificá-lo como um produto na moda. Os Egípcios foram os pioneiros nesse tipo de criação. Na Grécia Antiga, o mel colhido nas montanhas do Hymeto era conhecido como “manjar dos deuses”. A literatura internacional registra perto de 10 mil obras que usam como tema a abelha.

Há relatos que para produzir um quilo de mel as abelhas necessitam visitar quatro milhões de flores, percorrendo 40 mil quilô-metros (o equivalente a uma volta ao redor

do planeta Terra). Isso se a pastagem melí-fera for encontrada a 500 metros da colmeia.

Nos países desenvolvidos, atribui-se 20 vezes mais valor ao trabalho de polinização que as abelhas fazem, do que a produção de mel, pólen, própolis, etc.

Acrescenta-se a isso, a informação de que somente para o consumo próprio, uma família normal de abelhas, consome 90 qui-los de mel e 30 quilos de pólen, tamanha a dimensão dos condicionantes ambientais e agroecológicos, que o desenvolvimento da apicultura merece.

telhado vivo, banheiro seco, bambu, pedra, madeira e rebocos naturais.

As tecnologias são simples, podendo ser desenvolvidas para a aplicação popular tanto no meio rural quanto urbano, mas to-talmente viáveis para a arquitetura conven-cional.

A proposta das construções ecológicas vai ao encontro da preocupação ambiental que não se resume a preservação de recur-sos e ambientes naturais, tampouco só a produção agrícola com base ecológica.

Construção em bambu.

Abrigo de animais/CPRA.

Por que das bioconstruções

Um ponto fundamental dessas técnicas é a preferência pela utilização de materiais disponíveis no local como, por exemplo, a terra, reduzindo gastos com transporte, fabricação e construindo habitações com baixo custo as quais, ao contrário das ha-bitações comuns, oferece ótimo conforto térmico, sendo esta uma das principais vantagens. Além disso, reduzimos signi-ficativamente ou até mesmo evitamos a agressão ao ambiente, com a aplicação de técnicas comprovadas da arquitetura mun-dial, muitas delas com séculos de história e experiência.

A indústria da construção é uma das grandes responsáveis pela poluição e pelo consumo excessivo dos recursos não re-nováveis do planeta, motivo pelo qual um conjunto de entidades governamentais e não governamentais parceiros neste even-to trabalham com a proposta de incluir as bioconstruções e o uso de energias reno-váveis nas propriedades rurais, buscan-do o bem estar, o resgate do trabalho em

mutirão e a sustentabilidade do agricultor familiar.

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14 15CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Cisterna de Ferro-Cimento

Desenho esquemático de captação, condução e armazenamento de água.

Cisterna de Ferrocimento.

As cisternas são estruturas com a fun-ção de armazenar água e nesse caso cons-truídas com a técnica de ferrocimento, que é resistente, econômica e de fácil construção e reparo.

O uso sustentável da água consiste em estabelecer o máximo de elementos da cap-tação, armazenamento e reciclagem em uma propriedade. A instalação de calhas nos te-lhados das construções para a captação das águas das chuvas e o seu armazenamento em cisternas ameniza os problemas nos pe-ríodos de escassez. Também é uma ótima forma de economizar água potável ou trata-da, que tem custo e é muitas vezes desperdi-çada e usada sem critério nos sanitários, na lavação de calçadas e veículos, etc.

Em uma chuva de 100 mm numa casa com 100 m² de telhado, dá para captar e ar-mazenar 10 mil litros de água (10 m³).

Para construir uma cisterna os materiais necessários são: malha de ferro de 14 cm x 14 cm x 4,2 mm, tela de viveiro (pinteiro), arame recozido, cimento, areia, brita 1, regis-tro de PVC 50 mm, joelho de PVC 50 mm, tubo de PVC 50 mm, tubo de PVC 100 mm e as calhas e conexões para o telhado.

Passo a passo da construção da cisterna

1º Dia – Fazer um contrapiso, com argamas-sa traço 3:3:1 (areia/brita/cimento), com 4 cm de espessura. Depois amarrar a tela de viveiro na malha de ferro que será a parede, no tamanho (diâmetro) que for a cisterna. Montar o cilindro (gaiola) da cisterna em cima da malha do piso.

Construção 1º dia (Vitrine de Agroecologia).

2º Dia – Sobre a armação começa a aplica-ção da argamassa que deve ter o traço 2:1 (areia/cimento) para a parede, e 3:1 (areia/cimento) para o piso e a tampa. Uma pessoa deve ficar por dentro aparando com uma

Construção 2ºdia.

placa a colocação da argamassa, que é apli-cada de baixo para cima e em faixas.

3º Dia – Estando a massa seca, inicia-se o enchimento da cisterna com água, pois, ela vai calcificar nos pontos mais frágeis, tor-nando-a impermeável.

Dica – Para a construção de uma cisterna é importante que a argamassa da parede seja feita toda no mesmo dia, portanto, faça um mutirão para realizar esse serviço. Antes de fazer a sua, o ideal é participar de alguma oficina prática, para aprender todas as dicas.

Aproveitamento da Energia Solar

Por ser abundante na maior parte do planeta, principalmente nas regiões tro-picais como o Brasil, estar disponível nos locais mais remotos ou de difícil acesso,

sua produção não poluir o ambiente, entre outras vantagens, a energia solar está en-tre as mais importantes opções de energia alternativa renovável que dispomos e cada vez mais sendo utilizada, seja de forma di-reta ou indireta.

O aproveitamento de forma direta é pos-sível para secagem de cereais, desidratação de vegetais (plantas medicinais), desinfecção de água e solo, aquecimento de água, etc.

Esquentar água para as mais diversas finalidades necessita de alguma fonte de energia, sendo as mais comuns a elétrica e o fogo. A obtenção de ambas gera enormes impactos sobre o ambiente, ao passo que a energia solar é limpa e gratuita.

A ideia do aquecedor solar de água confeccionado com materiais recicláveis é uma alternativa que beneficia diretamente a pessoa que adota essa prática, pela eco-nomia em dinheiro, mas, muito importante também pela atitude de reciclar, sem qual-quer processo industrial, 60 garrafas PET (2 litros) e 50 embalagens longa vida (1 litro), o que beneficia toda a população através da preservação do ambiente.

Mais informações:

Manual prático para construção e instalação do aquecedor solar:www.meioambiente.pr.gov.br/arquivos/File/cors/Kit_res_17_aquecedor_solar.pdf

Uso Sustentável do Bambu – Estufa Ecológica

O uso do bambu em bioconstruções, em especial na estrutura de estufas ou cul-tivos protegidos, é muito interessante sob o ponto de vista econômico, porém a sua uti-lização nas propriedades deve ser ampliada pela visão da Agroecologia, que não se atem apenas na viabilidade econômica de uma atividade. Com o enfoque agroecológico desenvolvemos agricultura sem nos esque-cermos das questões ambientais e sociais

Painel demonstrativo na Vitrine de Agroecologia.

Painel sobre telhado.

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16 17CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

na construção de processos de desenvol-vimento rural sustentável, onde o bambu, considerada “a planta dos mil usos” encai-xa-se bem. O bambu é uma matéria prima facilmente acessível aos agricultores e é um recurso natural renovável, de alta rusticida-de e crescimento rápido, adaptando-se per-feitamente ao conceito do desenvolvimento de “tecnologias sociais”.

A estufa construída e em produção na Vitrine Tecnológica de Agroecologia no Show Rural Coopavel é só um exemplo das possibilidades de utilização do bambu em bioconstruções. Para um bom começo, o primeiro passo é cortar o bambu na época mais adequada, que é nos meses de maio a agosto, observando que os colmos estejam maduros, ou seja, com mais de três anos. Para aumentar ainda mais a durabilidade do bambu, realizar o tratamento das peças, preferencialmente com produtos naturais, fogo ou água, deixando secar na sombra e

Imagem interna de estufa com estrutura em bambu, modelo CPRA.

Imagem externa de estufa com estrutura em bambu, modelo CPRA.

Bambusa oldhami, entouceirante.

Evitar apoiar direto no chão.

Varas finas para os arcos.Figueira em frutificação. Frutos de framboesa.

em pé, para que as varas não se contraiam após a construção, enfraquecendo toda a estrutura. Outro detalhe importante é man-ter o bambu, preferencialmente, sem conta-to com o chão, apoiando em outra madei-ra, ou realizar um tratamento adequado na base, para aumentar a sua durabilidade. Os pés-direitos podem ser feitos com bambus de espessura maior, ou mesmo com bam-bus finos unidos em três peças ou mais. Já os arcos devem ser feitos com as espécies mais finas, de preferência das espécies alas-

trantes, que tem os entrenós mais curtos e por isso, maior resistência ao quebramento no momento de curvá-los.

A construção de uma estufa de bambu não é difícil, mas, por ser um material que normalmente não temos muita prática em utilizá-lo, alguns detalhes são importantes. Então, converse com o técnico do Instituto EMATER para organizar uma oficina em

sua região, que o Centro de Agroecologia-CPRA terá prazer em realizá-la.

A fruticultura é uma atividade de gran-de importância na Agroecologia, graças as seguintes características: possibilita ao agri-cultor um grande rendimento por área, e por se tratar na maioria dos casos, de culturas perenes, utilizam relativamente pouca mão de obra, variando de acordo com a espécie; apre-senta possibilidade do comércio dos frutos in natura, ou a transformação em sucos, doces, geleias, licores, entre outros, o que agrega valor a produção e garante renda ao produtor

Ronaldo Juliano Pavlak (Itaipu Binacional) | [email protected]

Fruticultura Ecológica

durante o ano todo, além disso, as frutas são importantes fontes de proteínas, sais mine-rais, vitaminas e fibras, indispensáveis para o funcionamento do organismo humano.

Essas características da fruticultura a tornam uma atividade estratégica. A implan-tação de pomares domésticos ou comerciais, é uma excelente alternativa para a manuten-ção de agricultores familiares no campo, bem como para a complementação nutricional das famílias rurais.

Mais informações:

Cartilha Estufa Ecológica com o passo a passo para construí-la: w w w. c p ra . p r . g o v. b r /a r q u i v o s / F i l e / CartilhaCPRAEstufaEcológica.pdf

No espaço reservado à fruticultura na Vitrine Tecnológica de Agroecologia (VTA), é apresentado um pomar com algumas das frutíferas possíveis de cultivo na região Oeste do Paraná: figo (Ficus carica L.), amora pre-ta (Rubus sp.), framboesa (Rubus ideaus L.), acerola (Malpighia punicifolia L.) e goiaba

(Psidium guajava L.), tradicionalmente cul-tivadas, com orientações de cultivo, trans-formação e comercialização conhecidos, e outras frutíferas nativas, pouco exploradas comercialmente, porém com grande poten-cial na região tais como, pitanga (Eugenia uniflora L.) e guabiroba (Campomanesia xan-

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18 19CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

thocarpa O.Berg). A VTA tem como objetivo demostrar a fruticultura como alternativa de incremento na alimentação e fonte de renda

aos agricultores, também em técnicas de manejo e condução das mesmas em sistema de produção de base ecológica.

A olericultura é a área da horticultura que engloba a produção de culturas folho-sas, raízes, frutos diversos e partes comes-tíveis. A atividade, além de colaborar na economia familiar, pode ser encarada como alternativa de renda na propriedade, sendo capaz de proporcionar boa qualidade de vida e renda bruta alta, porém requer mão de

Márcia Vargas Toledo (Emater) | [email protected] Francisco Müller (Capa) | [email protected]

Olericultura como alternativa de renda para agricultura familiar ecológica

obra qualificada. A crescente demanda por produtos de melhor qualidade vem afetando a forma de produção e comercialização das hortaliças, o avanço nas agriculturas de ba-ses ecológicas tem colaborado na discussão de formas de produção mais sustentáveis, em consonância com o ambiente, economi-camente viáveis e socialmente justas.

É recomendado o maior número possível de espécies, a escolha dessas tem papel fun-damental, pois quanto maior a diversidade, tanto mais o sistema tenderá para o equilí-brio, e dessa forma menores problemas com pragas e doenças. Devem-se levar em con-sideração os possíveis arranjos, respeitando as espécies conhecidas como “amigas” e as que não convivem em harmonia entre si. É importante ainda incluir espécies floríferas que atraiam insetos polinizadores e que atraiam espécies que favoreçam o controle biológico natural, como plantas da família

das Asteraceae (girassol, flor de mel, marga-ridas) e Apiaceae (coentro, anis, funcho).

Horta em sistema de Mandala.

A capacidade de um sistema agroecoló-gico de se manter ao longo do tempo, depen-de das práticas e processos utilizados, onde o acréscimo da biodiversidade e da bioce-nose estão entre os principais itens a serem observados como estratégia de manutenção desse sistema ao longo do tempo.

Na atividade leiteira, o princípio expos-to é de igual importância. Quanto maior o número de espécies vegetais, macro e micro-organismos, maior a capacidade do sistema

Daniel José de Souza Mol (Biolabore) | [email protected]

Pastoreio Racional Voisin (PRV)

leite de se sustentar, tanto na manutenção e produção dos animais, quanto na manuten-ção da fertilidade e condições ambientais.

Se a situação da cadeia produtiva do leite e da carne for analisada, chegar-se-á a conclusão que apenas sobreviverão os produtores que tiverem baixo custo de pro-dução, com produtividade ótima. A máxima eficiência será alcançada apenas pelos bons produtores de forragem, que a fornecem di-reto aos animais, respeitando seu bem estar.

Mais informações:

Informações importantes quanto à implantação, condução e manejo de frutíferas, bem como receitas e sugestões de tratamentos alternativos.

• Circular Técnica 64: Cultivo Orgânico de Fruteiras Tropicais – Manejo do Solo e da Cultura:www.cnpmf.embrapa.br/publicacoes/circulares/circular_64.pdf

• Circular Técnica 35: Figueira (Ficus carica L.) do Plantio ao Processamento Caseiro:www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulares/circular35.pdf

• Circular Técnica 75: Cultivo da Amora-Preta:http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/56229/1/cir075.pdf

• Circular Técnica 80: Recomendações para o Controle de Pragas em Hortas Urbanas:www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/2009/ct/ct_80.pdf

• Série Produtor Rural: Agricultura Orgânica:www.esalq.usp.br/biblioteca/PUBLICACAO/Serie%20Produtor%20Rural%20Especial%20-%20Agricultura%20Organica/Organica.pdf

O cultivo de hortaliças pode ser a campo, em canteiros, com cultivo mínimo ou através do plantio direto ou em ambiente protegido, para culturas mais exigentes. O sistema Mandala são hortas no formato circular, de forma que permita uma maior integra-ção de seus elementos, visando o máximo proveito das funções entre si, e atender as necessidades uns dos outros. Os caminhos

devidamente projetados facilitam o manejo, a irrigação e a colheita, além de permitir um maior aproveitamento da área comparado com o sistema de canteiros lineares (sistema convencional). Plantam-se verduras, legu-mes, cereais, frutas, ervas aromáticas, medi-cinais e flores. Essa técnica economiza água, trabalha com várias plantas e faz a utilização de fertilizantes orgânicos.

Partindo desse principio, o método de ma-nejo conhecido como Pastoreio Racional Voi-sin (PRV), é o que oferece melhores condições para alcançar eficiência econômica, social e ambiental, em propriedades de produção de leite e carne. O PRV foi proposto pelo cientis-ta francês André Voisin, na década de 1940, e consiste no pastoreio direto com a rotação de pastagens, respeitando o tempo de repou-so da forragem, através da subdivisão da área em piquetes, permitindo o direcionamento do gado para os piquetes onde a forragem estiver em seu máximo potencial forrageiro.

O Pastoreio Racional Voisin é orientado por quatro leis:1. Lei do repouso – período suficiente para armazenar reservas nas raízes e permitir a labareda de crescimento, período de maior crescimento das pastagens.2. Lei da ocupação – refere ao tempo de permanência dos animais no piquete, que deve ser o menor possível, antes que os ani-mais comam a rebrota nova.3. Lei do rendimento máximo – referente à necessidade dos animais para que atinjam o seu melhor em produção e desenvolvimento.

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20 21CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

4. Lei do rendimento regular – permitir que o animal encontre todos os dias um piquete novo, com forragem necessária às suas exi-gências diárias, promovendo assim o rendi-mento regular.

Além do que foi exposto, para a boa con-dução do projeto PRV deve-se atentar para:

• Não utilização de produtos químicos como carrapaticidas, vermífugos, etc., dando preferência para fitoterápicos e

Propriedade da família Hedel, em Marechal C. Rondon, PR, manejada segundo as leis do PRV.

homeopáticos, que estimulam o surgi-mento e a manutenção de organismos como besouro rola-bosta, minhocas den-tre outros.

• Utilização de água de qualidade e em abundância em todos os piquetes.

• Arborização e consórcio nas pastagens com espécies de múltiplos propósitos, como: acréscimo de matéria orgânica e fornecimento de nutrientes, ação quebra-vento, sombreamento adequado do pasto, alimentação dos animais, dentre outros.

• Manejo dos animais em grupo de dife-rentes exigências nutricionais: Desnate (animais de maior exigência nutricional, como vacas em lactação) e repasse (ani-mais com menor exigência nutricional, como vacas secas, prenhas e novilhas intermediárias).

OBS.: Os animais devem ser conduzidos para os piquetes com tranquilidade e cuida-do. Da mesma forma deve-se dar atenção nos momentos de ordenha e arraçoamento.

O que é?

Plantas medicinais são espécies vege-tais, cultivadas ou não, utilizadas com pro-pósitos terapêuticos.

Quais os benefícios?

As plantas medicinais são utilizadas há milênios na cura de problemas de saúde e podem ser usadas das mais variadas for-mas: como chás, unguentos, florais e medi-camentos fitoterápicos. As plantas passam a ser consideradas medicinais quando são usadas de forma tradicional como remédio, aliviando sintomas, prevenindo e curando

Plantas medicinaisReinaldo S. Shimabuku Jr (Itaipu Binacional) | [email protected] P. Cubilla Perez (Itaipu Binacional) | [email protected]

doenças. É, em muitos casos, uma alterna-tiva à medicina alopática, pois essas ervas trazem menos efeitos colaterais que os re-médios convencionais.

Quais os cuidados devem ser observados ao comprar ou utilizar plantas medicinais?

• De acordo com a legislação brasileira (Lei 5991/73), plantas medicinais po-dem ser vendidas apenas em farmácias ou herbanários. Nesses locais, devem estar corretamente embaladas e acom-panhadas da classificação botânica (nome científico) no rótulo. A embala-gem de uma planta medicinal não pode apresentar indicações para uso terapêu-tico.

• Utilize somente plantas medicinais conhecidas e de preferência com reco-mendação de um profissional da saúde, principalmente durante a gestação ou em idosos e crianças menores de seis meses;

• Evite automedicação, mesmo com plan-tas medicinais. Se necessário use em sintomas comuns, pouco intensos e de natureza passageira;

• Chás de plantas medicinais também po-dem apresentar efeitos indesejados se não forem utilizados na forma e na quan-tidade recomendadas;

• O preparo correto de chás, xaropes e cozidos são importantes para extrair as substâncias ativas que estão nas plan-tas;

• Utilize somente plantas identificadas. Plantas que possuem o mesmo nome popular podem tratar doenças diferentes;

• Em caso de piora ou efeitos indesejados, interromper o uso e procurar o serviço de saúde mais próximo.

Onde o produtor pode encontrar mais informações?

Aquele que pretende participar do mer-cado de Plantas Medicinais deve-se apoiar

no tripé Legislação / Organização / Quali-dade. Antes de iniciar o cultivo, o produtor deve informar-se sobre as exigências do setor.

É imprescindível conhecer e cumprir a legislação pertinente. A organização e a sis-tematização da legislação relativa à coleta, produção e comercialização tem sido objeto de constantes levantamentos e debates.

Além dos aspectos legais referentes à legislação trabalhista e legislação tributá-ria, há mais duas áreas que devem ser ob-servadas: a legislação ambiental, que trata da coleta, do comércio e da industrialização de espécies nativas; e a legislação sanitá-ria, que regulamenta a comercialização das plantas no varejo, na forma de alimen-to ou medicamento. Essas leis podem ser obtidas, respectivamente, junto aos órgãos ambientais de cada estado e junto às Secre-tarias de Saúde nos Serviços de Vigilância Sanitária.

Plantas em processo de desidratação.

Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia).

Mais informações:

http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/ Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Medicamentos/Assunto+de+Interesse/Medicamentos+fitote-rapicos

www.ibama.gov.br

www.agricultura.gov.br

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22 23CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

A adoção de práticas agronômicas e de manejo da propriedade que favoreçam ou não sejam agressivas aos agentes de contro-le biológico são de fundamental importân-cia para a redução do impacto dos insetos

Vanda Pietrowski (Unioeste) | [email protected]

Manejo do habitat na conservação dos agentes de controle biológico

pragas e para uma maior eficiência do con-trole biológico, seja ele natural ou aplicado. Podem-se destacar como importantes para a conservação e a manutenção dos organis-mos benéficos os seguintes itens:

Lagarta parasitada.Horta com manejo de habitats para conservação de agentes de controle biológico.

de refúgio para os insetos benéficos que aju-dam a controlar as pragas da propriedade.

Seletividade de produtos

Mesmo na agricultura de base ecológi-ca são utilizados produtos que têm ação de largo espectro, ou seja, eliminam também os inimigos naturais. O uso de produtos seleti-vos é de suma importância para a eficiência dos agentes de controle biológico. Embora haja pouca informação sobre a seletividade de caldas, extratos e outros produtos consi-derados naturais ou ecológicos aos inimigos naturais, experimentos demonstraram que algumas caldas e extratos, tais como, nim, calda sulfocálcica, enxofre elementar e extra-tos de arruda afetam as vespinhas controla-doras de pragas.

Considerações gerais

O ideal, quando se pensa em insetos pragas, é que não haja necessidade de adoção de medidas de controle, mas, sim,

que o ambiente agrícola esteja estabele-cido e manejado de modo que o controle biológico natural seja eficiente, mantendo a população dos insetos herbívoros em equilíbrio. Porém, mesmo nas agriculturas de base ecológica, que adotam práticas que favoreçam os inimigos naturais, isso é difícil de ocorrer. Portanto, é importante que o agricultor compreenda e conheça sua propriedade, faça um histórico dos seus problemas com insetos pragas e planeje em longo prazo medidas que visem à redução dos impactos dessas pragas, não esperan-do o problema se instalar para então tomar medidas de controle. Por fim, o agricultor deve compreender que a eficiência na ado-ção do controle biológico está diretamen-te ligada as suas escolhas. Muitos são os agentes de controle biológico que estão naturalmente disponíveis nas propriedades agrícolas. Saber manejá-los e conservá-los, aproveitando os benefícios que estes tra-zem na redução de insetos herbívoros, é de suma importância quando se busca uma produção sustentável.

Nos sistemas de base ecológica pode ser usada qualquer cultivar de soja, desde que não seja transgênica. Na escolha da cultivar deve-se levar em conta o objetivo da produção e as condições da proprieda-

Claudine Dinali Santos Seixas (Embrapa Soja) | [email protected]é Marcos Gontijo Mandarino (Embrapa Soja) | [email protected]

Cultivares de soja para sistemas de base ecológica

de para esse cultivo, observando o ciclo da cultivar, a cor do hilo e a reação a doenças. Cultivares de ciclo precoce são indicadas para facilitar o manejo da ferrugem asiática e dos percevejos.

Policultivo

A diversificação da produção, além de reduzir as populações dos insetos pragas, possibilita aos agentes de controle bioló-gico maior disponibilidade de espécies de insetos que lhes sirvam como presas ou hospedeiras, aumentando assim sua per-manência na área. É importante que, na di-versificação de cultivos, se intercale plantas de porte maior com plantas de porte baixo, criando assim um microclima favorável aos inimigos naturais.

Épocas de floração

Muitos predadores e parasitoides adul-tos, quando há ausência de presas ou hospe-deiros, alimentam-se de pólen e néctar. Por-tanto, um manejo visando diferentes épocas de floração contribui para a permanência e a

multiplicação dos inimigos naturais. Impor-tante também é a manutenção de flores na propriedade, nas bordaduras dos cultivos ou em locais intercalados a esses. Plantas como girassol, flor-do-sol e mamona são exemplos de espécies importantes, que servem como banco de inimigos naturais.

Áreas de refúgio

A manutenção de áreas de refúgio para que os inimigos naturais das pragas se pro-tejam em momentos com condições adver-sas, principalmente em altas temperaturas, tem demonstrado ser importante para am-pliar a ação desses inimigos naturais sobre os insetos pragas. Essas áreas podem ser mantidas associadas ao item anterior de disponibilidade de floração. Geralmente o plantio consorciado, principalmente com feijão de porco, é um ótimo exemplo de área

A cor do hilo é importante no caso de produção voltada para alimentação humana, nesse caso deve-se preferir cultivares que possuam hilo claro (amarelo ou marrom-cla-ro). Não se tem notícia de materiais crioulos

de soja, mas há cultivares comerciais com re-sistência a algumas doenças e essas devem ser preferidas. A Embrapa Soja desenvolveu cultivares especiais para alimentação huma-na. Elas possuem o hilo claro e o sabor suave.

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24 25CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Uma estratégia que pode auxiliar no ma-nejo dos percevejos em soja é o uso de arma-dilhas com urina bovina. Essas armadilhas são confeccionadas utilizando garrafas plás-ticas tipo pet de dois litros com aberturas no terço mediano da garrafa. Essas aberturas podem ser feitas mais acima para aumentar o intervalo de reabastecimento das armadi-lhas. É utilizada uma solução de urina bovi-na + sal de cozinha, nas proporções de três litros de urina e 500 g de sal, dissolvidos em sete litros de água.

Esse milho especial tem qualidade pro-teica superior, porque os teores de lisina e triptofano, aminoácidos essenciais, são em media 50% superiores ao milho comum, podendo chegar a ser 85% superiores. Ou-tra grande vantagem é que sendo variedade permite a produção e reutilização da semen-te pelo agricultor. A Embrapa disponibiliza duas variedades, a BR 473 que tem o grão amarelo e a BR 451 que tem o grão branco. A cor branca da BR 451 possibilita o emprego direto do seu fubá em misturas com a fari-

Beatriz Spalding Correa-Ferreira | [email protected] Dinali Santos Seixas (Embrapa Soja) | [email protected]

Claudine Dinali Santos Seixas (Embrapa Soja) | [email protected] Fernandes Meirelles (Embrapa Milho e Sorgo) | [email protected]

Armadilha para captura de percevejos em soja

Milho QPM (alta qualidade proteica)

É indicado que as armadilhas sejam vis-toriadas periodicamente para a retirada dos insetos já capturados e a reposição da solu-ção, que deve estar 2 cm abaixo das aber-turas da garrafa, evitando a fuga de novos

nha de trigo, sem alterar a cor, a textura e o sabor, além de aumentar o valor nutricional de bolos, pães, biscoitos, mingaus e massas, diminuindo o glúten na massa. Excelente op-ção para fornecimento a programas sociais.

Ambas as variedades podem ser utiliza-das na alimentação humana, mas também devem ser fornecidos a animais monogás-tricos – peixes, suínos, aves e equídeos (cavalos, asnos, burros). O resultado será o aumento de ganho de peso dos animais em relação ao milho comum.

Isca para percevejo.

Muitas plantas da família das legumino-sas (fruto tipo legume ou vagem) são capazes de se associar a bactérias benéficas “rizó-bios” (Rhizobium), para receber o nitrogênio que precisam. Essas bactérias podem ser introduzidas no cultivo pelo uso de inoculan-te na semente, que é o produto que carrega essas bactérias. Essas bactérias formam nó-dulos nas raízes das plantas, onde captam o nitrogênio do ar e o transformam numa forma assimilável pela planta.

Claudine Dinali Santos Seixas (Embrapa Soja) | [email protected] Antonio Nogueira (Embrapa Soja) | [email protected]

Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) – uso de inoculantes

A inoculação deve ser feita todo ano to-mando alguns cuidados: realizar a inoculação à sombra e protegida do calor excessivo; se-mear logo após a inoculação; se o inoculante for turfoso, umedecer a semente com solução açucarada a 10% para melhorar a aderência (300 mL/50 kg de sementes); aplicar cobalto e molibdênio via foliar. Também há inoculante para milho e trigo, mas nesse caso, a bactéria (Azospirillum) auxilia na promoção do cresci-mento das plantas por outros mecanismos.

A Homeopatia é uma ciência que vem ao encontro da Agroecologia, proporcionando a homeostase do ser vivo. Seu uso tem crescido muito nos últimos anos, por apresentar resul-tados concretos, ser de fácil uso, de baixo cus-to, não gerar resíduos e nem contaminar o ser humano e o ambiente.

Em 1796 o médico alemão Samuel Chris-tian Frederick Hahnemann idealizou e criou a Homeopatia. Logo ao iniciar os estudos da Homeopatia médica, Hahnemann disse ao

Marcia Vargas Toledo (Emater) | [email protected] Sidnei Francisco Müller (Capa) | [email protected] • Vanice Marli Fulber (Capa) | [email protected]

Homeopatia e Agroecologia

curar seu próprio cavalo: “se as leis que pro-clamo são as da Natureza, elas serão válidas para todos os seres vivos.“ É baseada em qua-tro princípios, sendo eles a lei da semelhança, doses mínimas e infinitesimais, experimenta-ção no indivíduo sadio e medicamento único.

No Brasil, a medicina homeopática foi introduzida em 1840, e a prática terapêutica regulamentada a partir da Lei n° 10.831, atra-vés da Instrução Normativa n° 46/2011, a qual legalizou seu uso na agricultura orgânica.

percevejos atraídos e capturados. As arma-dilhas devem ser colocadas desde o início do cultivo da soja, preferencialmente nas borda-duras, penduradas em estacas ou no chão, de 50 m em 50 m.

A Homeopatia é acima de tudo uma ciência, portanto, não tem dono. Definida como libertadora, proporciona maior inde-pendência econômica e técnica do agricultor. Os medicamentos homeopáticos são prepa-

rados com doses ultradiluídas de matérias-primas a partir de animais (ou partes deles), vegetais e minerais. Quando são preparados com o agente causador do desequilíbrio, são chamados de nosódios ou bioterápicos.

Page 14: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

26 27CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

O fundamento da Homeopatia é que não há doenças, mas sim, doentes. Para Hahne-mann, a doença é uma conse quência do desequilíbrio do organismo. Assim a es-colha do tratamento é feita a partir dos sinto-mas, considerando as causas e o desenvol-vimento da doença, a forma de adoecer, as circunstâncias, bem como as características do organismo doente. Atuam na energia vi-tal do ser, estimulando o organismo e pro-movendo a autorregulação.

Na agropecuária a Homeopatia vem sen-do aplicada na prevenção e no tratamento de doenças, pragas, melhoria na qualidade de produtos, aumento de princípios ativos, tra-tamento de sementes, água, solo e equilíbrio dos ambientes. Experiências de campo na pecuária comprovam a eficiência da Homeo-patia no controle dos parasitas; tratamento e prevenção de mastites, diarreias, problemas reprodutivos, verrugas, entre outros. Seu uso simples, junto ao sal mineral, água, no alimento, via oral ou outra forma de contato, permite que todos possam utilizá-la.

Na produção vegetal, o uso da Home-opatia tem demonstrado bons resultados na prevenção e no controle de doenças e

pragas como percevejos, pulgões, ácaros, moscas brancas, cigarrinhas, lagartas, for-migas, entre outros. Usada ainda para injú-rias como transplantes, podas, granizos, es-tiagens e geadas. Também potencializa os nutrientes e a vida do solo, resultando em plantas mais sadias, mais produtivas e de melhor qualidade.

A Homeopatia é mais uma ferramenta a ser utilizada na Agroecologia, por ir de en-contro aos seus princípios. Proporciona o autoequilíbrio da energia vital do ser tratado, resultando em animais e cultivos capazes de expressar melhor o seu potencial produtivo e com maior qualidade.

Amostra de medicamento homeopático.

Húmus

O húmus é o componente orgânico, re-sultante da decomposição microbiana de resíduos de animais e plantas. Com aspecto macio e acastanhado, essa substância amor-fa traz grandes benefícios ao solo, entre eles:

• Promove a liberação gradativa de nutrien-tes, tornando a adubação mais eficaz e duradoura.

Etiene Leite Junior (Iapar) | [email protected] • Nelson R. Bueno da Silva (Emater) | [email protected] Juliano Pavlak (Itaipu Binacional) | [email protected]

Compostagem e vermicompostagem

• Melhora as propriedades físicas do solo;• Aumenta a retenção de umidade;• Age como reservatório fixo de nitrogênio,

que é fundamental para manter a fertili-dade do solo.

• Reduz a compactação de solos argilosos e melhora a agregação de solos arenosos.

Compostagem

Composto é o resultado da degradação biológica da matéria orgânica, em presença de oxigênio, sob condições controladas pelo homem. Os produtos do processo de de-composição são: gás carbónico, calor, água e a matéria orgânica “compostada”.

A compostagem é o processo biológico de decomposição e de reciclagem da maté-ria orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal formando um composto. A compostagem propicia um destino útil para os resíduos orgânicos, evitando sua acumulação em aterros e melhorando a es-trutura dos solos. Esse processo permite dar um destino aos resíduos orgânicos agríco-las, industriais e domésticos, como restos de comidas e resíduos do jardim. Esse pro-cesso tem como resultado final um produto – o composto orgânico – que pode ser apli-cado ao solo para melhorar suas caracterís-ticas, sem ocasionar riscos ao ambiente.

Vermicompostagem

Vermicompostagem é o processo de pro-dução de húmus ou vermicomposto utilizan-do minhocas.

O resíduo orgânico que serve como ali-mento para minhocas, ao passar por seu trato digestivo, sofre transformações que favorecem a formação de matéria orgânica estabilizada, ou seja, de adubo orgânico co-nhecido como “húmus de minhoca” ou “ver-micomposto”.

As espécies mais adaptadas à vermicom-postagem são as Vermelhas-da-Califórnia (Eisenia foetida e Eisenia andrei) e a Noturna

Africana (Eudrilus eugeniae), por alimenta-rem-se de resíduos orgânicos semicrus, terem alta capacidade de proliferação e crescimento muito rápido têm sido as mais utilizadas.

As minhocas digerem os resíduos que são excretados sob a forma de húmus ou vermicomposto, que é um rico fertilizante, inodoro, contendo micronutrientes (ferro, zin-co, cloro, boro, molibdênio, cobre) e macronu-trientes (nitrogênio, fósforo, potássio).

Ambos os produtos são condicionadores de solo, ajudam a fauna, servindo de alimen-to a mesma, formando e ativando a vida do solo, o que o torna mais poroso e agregado, facilitando o enraizamento das plantas, a não entrada de doenças e a melhor absorção dos nutrientes pelas plantas. O agricultor pode melhorar o solo de sua propriedade, dei-xando-o sem as camadas compactadas e de impedimento, utilizando os condicionadores de solo e usufruindo da ação benéfica dos microorganismos.

Existem também outros condicionadores como o Bokashi, a turfa e, folhas e galhos de árvores que a própria natureza nos fornece gratuitamente.

Mais informações:

• Circular Técnica 29: Vermicompostagemwww.cnpab.embrapa.br/system/files/cit029.pdf

• Folder: Vermicompostagem: Uma alternativa viável e sustentávelwww.cpact.embrapa.br/publicacoes/down-load/folder/minhocultura.pdf

• Circular Técnica 59: Compostagem de Resí-duos para Produção de Adubo Orgânico na Pe-quena Propriedadewww.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2010/ct_59.pdf

Page 15: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

28 29CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Em geral a primeira pergunta que os técnicos e agricultores convencionais fa-zem em relação aos sistemas de produção agroecológicos é “que produto vocês usam para controlar as pragas e doenças?”. O problema é que a própria pergunta já está equivocada, pois ela parte do princípio que é necessário usar algum tipo de veneno para fazer o controle dos organismos inde-sejados nos sistemas de produção. Uma das primeiras coisas que precisamos quebrar no processo de transição agroecológica é esta lógica convencional de problema = insumo. A pergunta correta na lógica agroecológica

é “como convivo com os organismos inde-sejáveis?” ou no limite “como posso ma-nejar esses organismos para que eles não se tornem problemas?”. Para responder a estas questões é necessário muito mais conhecimento que simples receitas de pro-dutos que matam determinados insetos ou micro-organismos. É preciso conhecer mi-nimamente a cadeia alimentar em que nos-sas explorações estão envolvidas, conhecer minimamente a dinâmica da população dos organismos que nos incomodam e princi-palmente minimamente sobre as interações entre os diversos tipos de organismos.

Nilo Deliberali (Emater) | [email protected]

Como controlar pragas e doenças em sistemas agroecológicos?

Na natureza toda a energia útil que move a vida vem do sol. A vida como conhecemos hoje só é possível porque as plantas (e al-gas), através da fotossíntese, conseguem capturar a energia do sol e armazená-la em compostos de carbono. Por isso os vegetais são chamados de produtores primários e for-ma o primeiro elo da cadeia alimentar. Toda a vida no planeta depende da energia fixada pelas plantas. Organismos que não conse-guem fazer a fotossíntese obtêm sua energia consumindo matéria vegetal, por isso são chamados de herbívoros ou fitófagos e cons-tituem o segundo elo da cadeia alimentar. Já outras espécies se especializaram em comer os que comem plantas e são chamados de carnívoros (ou insetívoros ou entomófagos quando comem insetos), e constituem o ter-ceiro elo na cadeia alimentar. E a partir daí há vários outros elos na cadeia alimentar em sequência. E é a partir do primeiro elo da cadeia alimentar que nossa exploração se encontra, que vamos enxergar os outros elos da cadeia como inimigos ou aliados: Se nossa exploração é vegetal e portanto no primeiro elo da cadeia alimentar, os herbí-

voros (segundo elo) vão ser nossos inimi-gos (pragas) e os carnívoros ou insetívoros (terceiro elo) serão nossos aliados (inimigos naturais das pragas), enquanto o quarto elo volta ser inimigo, pois elimina os inimigos naturais das pragas. Mas quando a explora-ção for em nível de animais (segundo elo), o terceiro elo passa a ser o inimigo (pragas), enquanto o quarto elo passa a ser aliado e assim por diante. Estes conhecimentos nos ajudam a criar estratégias de manejo das populações indesejáveis e favorecer as que nós consideramos desejáveis.

Para que os organismos a partir do se-gundo elo da cadeia alimentar (animais) possam se multiplicar, são necessários ali-mentação, abrigo e condições favoráveis à procriação. Assim, temos duas estratégias para interferir na multiplicação dos organis-mos que temos em nosso agroecossistema: promover as condições de alimentação, abrigo e condições de procriação dos orga-nismos desejáveis e inibir essas condições para os indesejáveis. Estas estratégias estão baseadas na diversificação das explorações,

Alberto Feiden (Embrapa Pantanal) | [email protected]élio Vinicius Borsato (Embrapa Pantanal) | [email protected]

criando barreiras entre as diferentes cultu-ras para dificultar o deslocamento das espé-cies indesejáveis, destruição de suas fontes de alimento alternativas, seus refúgios e procurando interferir nos seus processos de reprodução. Por outro lado criamos condi-ções favoráveis aos organismos benéficos, introduzindo espécies que possam servir de alimento alternativo, criando refúgios e estimulando sua reprodução.

Na natureza, para cada espécie vegetal ou animal, existe um grupo de organismos associados que mantém relações positivas ou negativas com esta espécie. Como exem-plo de relação positiva tem-se a que ocorre entre leguminosas e rizóbios, onde a planta alimenta as bactérias, e estas fixam o nitro-gênio do ar e o disponibilizam às plantas. Porém, as interações mais conhecidas são as negativas, como a predação e o parasitis-mo, mais conhecidos como ataque de pra-gas ou causadores de doenças.

Consórcio de Milho com Adubos Verdes. Canteiros diversificados e barreira repelente.

Em sistemas agroecológicos se procura fortalecer as interações positivas e diminuir as interações negativas através do aumento da biodiversidade funcional e do equilíbrio ambiental, fazendo com que os mecanismos naturais de controle das diferentes popula-ções sejam atuantes.

É possível aumentar a diversidade funcional através do uso de consórcios e rotações de culturas, adubações verdes, culturas de cobertura, blocos com plantas bioativas (medicinais, condimentares, aro-

máticas entre outras), barreiras arbóreas, cercas vivas nos limites das áreas ou faixas divisórias entre os talhões. De maneira ge-ral, para cada espécie que se coloca no sis-tema, pelo menos duas espécies associadas são atraídas, aumentando a disponibilidade de alimentos para os predadores não espe-cíficos e aumentando a pressão de controle sobre as diferentes populações.

Uma outra forma de proteção das cul-turas é o aumento da resistência das plan-tas contra pragas e doenças, o que pode ser conseguido por uma boa nutrição, com adubação equilibrada, tanto mineral como orgânica. As adubações de solo po-dem ser complementadas com uma grande quantidade de adubos foliares que também funcionam como bio-protetores, tais como urina de vaca fermentada e biofertilizantes líquidos de diferentes tipos (Supermagro, Vairo, Agrobio, Biogel, etc.).

Em casos que as práticas culturais não

forem suficientes para reduzir as popula-ções desequilibradas a níveis que não cau-sem dano econômico, podem ser usados produtos que têm como objetivo fazer um controle pontual da população de organis-mos, para reduzir as perdas de produção, principalmente no período em que se está mudando do sistema convencional para o agroecológico. No entanto, o objetivo princi-pal a ser atingido é conseguir um ambiente onde exista equilíbrio entre as populações para que os controles artificiais se tornem

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cada vez menos necessários. Pois, quando o sistema de produção agrícola está em equilíbrio, torna-se viável o convivo com os organismos indesejáveis, os mantendo em níveis populacionais não problemáticos, de forma similar ao que ocorre nos sistemas naturais complexos.

Para os controles pontuais (emergen-ciais) podem ser utilizados produtos de fabricação caseira que atuam como repe-lentes ou como inseticidas e fungicidas de baixo impacto ambiental, como as caldas à base de pimenta vermelha, pimenta do reino, cebola, cebolinha verde, alho, fumo;

É fundamental a determinação da umi-dade do solo, visto que é baseado nela que determinaremos se precisa ou não utilizar o sistema de irrigação e para isso existem vários métodos diretos e indiretos com boa precisão técnica e que exigem alguns equi-pamentos.

Para efeito desse trabalho iremos abor-dar um método mais prático e fácil de ava-liarmos a umidade existente no solo, trata-

sal e vinagre, leite cru, cinzas de madeira ou extratos de plantas bioativas (medicinais, condimentares, aromáticas entre outras). Também podem ser utilizados produtos homeopáticos, fitoterápicos, agentes bioló-gicos ou mesmo produtos comerciais regis-trados para produção orgânica.

se de cavarmos um buraco no solo sobre os canteiros e pegarmos uma porção do solo na profundidade em que precisamos mo-nitorar a umidade e espremermos na mão, se escorrer um filete de água entre os dedos com facilidade, o solo encontra-se enchar-cado, se não escorrer água, o solo está seco. Porém, se com uma pressão neste solo es-correr um filete de água indica que o solo se encontra com umidade ideal.

Mais informações:

Adaptado do fôlder “Métodos alternativos para biocontrole”, disponível em: https://www.embrapa.br/pantanal/busca-de-publicacoes/-/publicacao/787274/metodos-alternativos-para-biocontrole-na-agricultura.

1. Água no soloA velocidade de infiltração de água no

solo é um fator muito importante quando trabalhamos com irrigação, porque ela de-terminará o tempo que o sistema de irriga-ção ficará ligado com o objetivo de fornecer a quantidade de água suficiente para o de-senvolvimento das plantas. A velocidade de infiltração está relacionada diretamente com a textura e estrutura do solo, sendo que

em solos mais argilosos essa velocidade tende a ser menor que em solos arenosos. Ao ligar o sistema de irrigação a velocidade de infiltração da água no solo tende a dimi-nuir com o aumento do tempo de irrigação chegando a um valor quase que constante. Essa velocidade varia de acordo com a por-centagem de umidade no solo, a porosidade e a existência de camada menos permeável no perfil do solo.

Nilo Deliberali (Emater) | [email protected]

Irrigação com sistemasadaptados de baixo custoJoão de Ribeiro Reis Junior (Emater) | [email protected] da Silveira Krieck (Emater) | [email protected]

Ao se pensar em um projeto de irrigação devemos ter em mente que existem diferen-tes tipos de irrigação, que não existe siste-ma ideal e que todos apresentam vantagens e desvantagens, que precisamos pensar em aumentar a produção, economizar trabalho e água, reduzir os efeitos da deterioração da estrutura do solo, a perda de nutrientes, etc.

O sucesso da irrigação está na escolha e dimensionamento correto do sistema, e da operação e manutenção do sistema. Para isso, precisamos analisar os fatores de solo, clima, planta e água. Avaliar as inter-rela-ções entre a irrigação e outros fatores cul-turais como variedade, densidade de plan-tio, fertilizantes, plantas daninhas, colheita, etc. A quantidade de água exigida por uma cultura varia de acordo com o tipo de cul-tura, seu estádio de desenvolvimento, tipo de solo em que se encontra e as condições climáticas da região.

2. Qualidade da água para irrigação

A qualidade da água utilizada para ir-rigação de modo geral é determinada em relação a cinco parâmetros: Concentração de sais, teor de sódio, concentração de ele-mentos tóxicos, concentração de bicarbona-tos e aspectos sanitários. Todas as águas utilizadas para irrigação possui uma maior ou menor concentração de sais, a utilização de água com alta concentração de sais pode levar a salinização do solo e comprometer o desenvolvimento da cultura existente na área caso ela não possua tolerância à sali-nização.

Um aspecto muito importante na qua-lidade da água, diz respeito à contami-nação por agentes biológicos, por isso, é fundamental efetuar análises para termos a garantia de que estamos utilizando água de boa qualidade, principalmente, porque dentre as atividades agrícolas, utilizamos na olericultura e diversas espécies são con-sumidas in natura.

Métodos de Irrigação

Existem diversos métodos de irrigação que podem ser utilizados pelos agricultores, como irrigação por sulco, aspersão conven-cional, canhão, pivô central, microasperção e gotejamento. Cada sistema apresenta vantagens e desvantagens, bem como, va-ria muito o seu valor. Visando oferecer aos agricultores sistemas de irrigação simples e de baixo custo, apresentaremos a seguir os modelos de microaspersão por espaguete e de garrafa pet.

1. Sistema de microaspersão por espaguete

Esse modelo de microaspersão pode ser utilizado em praticamente todos os tipos de cultivos e culturas. É um sistema que fun-ciona em baixa pressão, sendo que para áreas maiores há necessidade de utilizar uma motobomba visando melhorar a distri-buição de água na área.

Sistema de microaspersão por espaguete

a) Materiais necessários:• Mangueira preta de ½” ou ¾”;• Mangueira espaguete (mangueira de enrolar cadeira);• Furador ou vazador de sapateiro no 03;• Alicate;• Vela e fósforo;• Estilete ou gilete.

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32 33CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

b) Como montar o sistema• Cortar a mangueira espaguete em peda-

ços de 5 a 7 cm;• Esquentar uma ponta na vela acesa e sol-

dar com o alicate;• A 1 cm abaixo da solda, efetuar um corte

na mangueira utilizando estilete ou gilete. Esse corte deve ser realizado até a meta-de do diâmetro da mangueira;

• Na outra extremidade efetuar um peque-no corte em bisel na mangueira, para que introduzi-la na mangueira preta, não im-pedir a passagem da água;

• Depois que os microaspersores estiverem prontos, esticar a mangueira preta no sol para eliminar as deformações e poder re-alizar com auxílio do vazador ou furador de sapateiro no 03, os furos a cada 1,5 m e colocar um microaspersor. Atentar que todos os cortes devem ficar na mesma direção, para que a água a ser aspergido faça uma sobreposição sobre cada um;

Cada linha com os microaspersores devem ser instaladas a cada 3 m, uma da outra, a uma altura que varie de 1,5 a 3,0 m. É importante que na área exista quebra vento para reduzir o efeito de deriva, melho-rando a eficiência do sistema. Na instalação do sistema é necessário colocar um filtro no ponto de captação de água, mas em caso de entupimento do emissor (microaspersor), retira-o e troca por outro.

2. Sistema de microaspersão com garrafa pet

O sistema de microaspersão com gar-rafa pet necessita de pressão superior ao sistema de microaspersão por espaguete para o seu perfeito funcionamento. Esse sistema nos permite está eliminando do ambiente num processo de reciclagem e aproveitamento das garrafas pet. Nesse sis-tema qualquer tipo de garrafa pet pode ser utilizado. As garrafas pequenas apresen-tam uma área de molhação menor do que

as garrafas maiores. As garrafas pet’s com plástico mole resistem menos no ambiente, necessitando a troca com maior frequência.

Sistema de microaspersão com garrafa pet

a) Materiais necessários:• Garrafas pet;• Agulha ou alfinete de cabeça;• Conector de mangueira para microaspersão;• Mangueira preta de ¾”;• Furadeira com broca no 09;• Estaca para suporte da garrafa pet e arame ou barbante.

b) Como montar o sistema• Com o uso de uma agulha ou alfinete de

cabeça efetuar entre 6 a 8 furos no entor-no de cada gomo do fundo da garrafa pet;

• Com a furadeira com a broca no 09, re-alizar um furo no centro da tampa da garrafa pet e na mangueira preta. O furo na mangueira preta deve ser realizado a cada 4 m;

• Esquentar a tampa furada para poder introduzir o conector de mangueira em uma das pontas. A outra ponta introduzir na mangueira preta;

• Rosquear a garrafa pet na tampa fixada no conector e na mangueira, em seguida amarrá-la com arame ou barbante numa estaca colocada a seu lado para evitar que ela caia e quebre o conector.

Cada linha de microaspersão com gar-rafa pet deve ser instalada a cada 4 m. A

existência de quebra vento melhora a efici-ência do sistema. Na instalação do sistema é necessário colocar um filtro no ponto de captação de água, mas em caso de entupi-mento do emissor (garrafa pet), retire-a lave ou troque por outra.

Conclusão

Esses sistemas podem ser instalados em áreas maiores, para isso é preciso colo-car um conjunto motobomba de maior po-tência respeitando os limites de funciona-mento dos sistemas.

Esses dois modelos de sistemas de mi-croaspersão, demonstram que é possível qualquer agricultor instalar e poder irrigar suas áreas com baixo custo de investi-mento, aproveitando alguns materiais que seriam encaminhados para reciclagem ou ficariam jogados poluindo o ambiente. Ou-tra vantagem é que apesar dos sistemas apresentarem vazões variáveis, por se tra-tarem de tecnologias adaptadas, permite ao agricultor com o passar do tempo, gerenciar os sistemas e realizarem um bom manejo e utilização da água de irrigação evitando des-perdício e problemas como o escorrimento superficial e erosão na área.

O apelo por novas tecnologias nas pro-priedades continua, buscando, de maneira sistêmica, o melhor aproveitamento e rendi-mento da biomassa utilizada, na produção de energia mais limpa e mais eficiente. Em propriedades leiteiras há o uso de biomassas como volumoso no trato do gado, essa bio-massa, pode ser à pasto ou no cocho. Quando no cocho, em forma de silagem, comumente de milho, se a biomassa de cocho for oriun-da de outra gramínea, com teores satisfatório de açúcares, o mesmo material pode fornecer etanol.

Lincoln Villi Gerke (ADEOP) | [email protected]

Sorgo Sacarino, alternativa na produçãode energia e alimentação animal

Para este objetivo, apresentamos o sorgo sacarino, com açúcares em seu sumo e com qualidade de volumoso como fornecedor de alimento proteico para o gado leiteiro (WOR-LEY; VAUGHAN; CUNDIFF, 1992). O etanol pode ser produzido desses açúcares, assim como, o alimento ao gado, da biomassa.

O sorgo sacarino pode utilizar dois caminhos, como alimentação ao gado, ou fornecedor de açúcares para produção de etanol. E pode, sem comprometer suas ca-racterísticas como alimento ao gado, se mi-nimamente processado, usar os dois cami-nhos, silagem e etanol.

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O uso do sorgo na forma de silagem é favorecido por esta cultura apresentar níveis adequados de carboidratos solúveis, capa-cidade tampão relativamente baixa, conte-údo de matéria seca alta e estrutura física que favorece a compactação durante o en-chimento do silo.

O objetivo é mostrar que o setor bovino leiteiro/corte pode melhorar e/ou otimizar o uso de sua biomassa como alimento e como energia, em uma mesma área, sem prejuízos com a qualidade alimentar.

Há no mercado vários materiais de sor-go, e estas cultivares diferem entre si pelo desempenho em produção de grãos, bio-massa alimentar, biomassa energética, açú-cares e painas. O sorgo sacarino apresenta ciclo de produção de 120 a 130 dias, facil-mente mecanizado, teor relativamente alto de açucares no colmo e muito versátil em termos de fatores climáticos, isso tudo justi-fica a cultura. Pelo seu ciclo e versatilidade, pode o sorgo ocupar o espaço de entressafra de outras culturas e proporcionar um ganho em produção de matéria-prima para silagem e etanol (BANDEIRA, 2012).

A silagem de sorgo apresenta várias vantagens quando comparada com a sila-gem de milho, incluindo menores custos de produção, maior tolerância à estiagem, assim como melhor capacidade de se recu-perar após longos períodos de estiagem e maior produção de matéria seca sob estas condições, tem sido apontado como uma boa alternativa de plantio próximo a centros

urbanos, onde as culturas de milho estão sujeitas à retirada das espigas para consu-mo humano, acarretando grandes prejuízos aos produtores, visto que a espiga represen-ta de 40-50% da matéria seca do milho na época de ensilagem e tem reflexos significa-tivos na qualidade das silagens. A produtivi-dade mínima aceitável para o sorgo é de 40 toneladas de massa verde por hectare.

Sua grande produção de matéria seca, imprescindível para alimentação dos ani-mais, era sempre comprometida com o alto teor de tanino, vilão das características des-ta cultivar, que, após melhoramentos, já não é mais um problemas em seu manuseio com o gado. O preparo do solo, assim como no milho, pode ser implantado com sistema convencional ou plantio direto, usando a mesma plantadeira. A adubação deve ser observada com a análise de solo, a época de plantio é indicada para o início das chu-vas de verão, até meados de março, se hou-ver condições hídricas que o possibilitem. A densidade de plantio difere em regiões, épocas e materiais, mas não difere muito 80.000 plantas por hectare. A profundida-de de plantio é um fator a ser observado, suas sementes são pequenas, portanto de-vem ser pouco profunda. Os tratos culturais preocupantes são o controle de invasoras e insetos, este último em menor intensidade quando comparado ao milho. A colheita é de acordo com a maturidade esperada, que pode ser de grãos, biomassa ou açúcares.

Mais informações:

WORLEY, J. W.; CUNDIFF, J. S.; VAUGHAN, D. H. Potential economic return from fiber resi-dues produced as by-products of juice expression from sweet sorghum. Bioresource Techno-logy, v. 41, n. 2, p. 153–159, jan. 1992.

BANDEIRA, A. H. ET ALI. Desempenho de genótipos de sorgo sacarino cultivados em dife-rentes épocas de semeadura na região Central do Rio Grande do Sul: Santa Maria, RS, 2012.

No Brasil, a maioria dos bovinos leiteiros são criados em sistemas semi-extensivos e têm como principal fonte alimentar as pasta-gens sendo que poucos recebem algum tipo de suplementação, durante todo o ano ou em períodos específicos.

Em geral, nas épocas de frio, com ou sem geadas no Sul do país ou nos períodos de estiagem prolongada no Brasil central e no Nordeste, as pastagens não são suficien-tes para atender as demandas proteicas e

Alberto Feiden (Embrapa Pantanal) | [email protected] Olivieri Lisita (Embrapa Pantanal) | [email protected]

Suplementação alimentar proteica debovinos de leite em períodos de escassez (seca ou frio)

energéticas dos rebanhos, principalmente das vacas em lactação. Por isso, para os agricultores com menos recursos ocorre uma forte sazonalidade na produção de leite nestes períodos, perda de peso e de fertili-dade dos animais e em alguns casos pode chegar à morte de animais. Portanto, há ne-cessidade de suplementar a dieta dos ani-mais neste período, para evitar a redução do potencial de produtividade destes animais.

A cana-de-açúcar apresenta-se como uma alternativa de baixo custo e fácil ma-nejo para suprir as demandas energéticas do gado nas épocas de escassez, pois, além de possuir alto teor de açúcar e elevada pro-dutividade, tem seu ponto de maturação na estação mais seca e fria do ano.

Entretanto, a cana possui baixo teor de proteína (no máximo 4%), o que não é sufi-ciente para atender as exigências proteicas dos rebanhos. Na produção convencional de leite uma alternativa de baixo custo uti-lizada por muitos produtores é a adição de ureia pecuária à cana-de-açúcar visando au-mentar o teor de nitrogênio não proteico na dieta, com objetivo de produção de proteína no rúmen. Porém, em sistemas orgânicos de produção não é permitido o uso da ureia, sendo necessário utilizar fontes alternativas de alimentação proteica.

Desde 2005 a Embrapa Pantanal vem realizando estudos visando obter alternati-vas locais seguras e ecológicas para a su-

plementação animal em períodos de seca, usando espécies locais de fácil cultivo para produção de feno no período chuvoso e sua conservação para utilização no período da seca. Embora o feno apresente maiores per-das de nutrientes em relação à silagem, para agricultor pouco capitalizados ele apresenta maior versatilidade, pois exige menos in-fraestrutura, bastando um triturador e uma lona para fazer a secagem, além de permitir que seja feito também em pequenas quanti-dades, podendo ser aproveitados materiais que de outra forma seriam perdidos (como por exemplo a parte aérea da mandioca co-lhida semanalmente).

Várias das alternativas estudadas apre-sentaram altos teores de proteína bruta, en-tre elas se destacando a moringa (Moringa oleifera), leucena (Leucaena leucocephala), feijão guandu (Cajanus cajan), amora (Mo-rus sp), a parte aérea da mandioca (Manihot esculenta), entre outras, conforme dados mostrados na Tabela 1.

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36 37CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Leucena (Leucaena leucocephala)

Cultivo de hortaliças consorciadas

Culturas diversificadas

Moringa (Moringa oleifera)

Assim é possível de elevar o teor de proteína na dieta dos rebanhos leiteiros em produção orgânica, utilizando o feno de forrageiras proteicas, produzidas durante a estação quente e chuvosa e conservadas como feno, em substituição à ureia. Para

Forrageira PB (%)* FDN (%)** FDA (%)*** Lignina (%)

Moringa (folhas) 24,16 26,59 12,99 3,32

Leucena (talos e folhas) 19,24 58,23 28,93 9,26

Guandu (talos e folhas) 21,31 71,40 57,33 11,95

Mandioca (parte aérea integral) 13,51 53,86 38,72 13,37

Amora (talos e folhas) 17,25 34,01 25,92 8,75

tanto basta misturar entre 10 a 30% (con-forme Tabela 1) de feno das espécies com alto teor de proteína à cana ou outra fonte energética com baixo teor de proteína, para garantir uma nutrição equilibrada.

Tabela 1: Valor nutricional (em % de matéria seca) do feno deforrageiras proteicas (média de análises na Embrapa Pantanal)

* PB: Proteína Bruta; **FDN: Fibra em Detergente Neutro; ***FDA: Fibra em Detergente Ácido

Mais informações:

ROSENES, J. L.; LISITA, F. O.; FEIDEN, A.; TRINDADE, L. L.; CAMPOLIN, A. I. Conservação e uso de forragens adaptadas no Assentamento Tamarineiro II Sul, Corumbá, MS. Disponível em: https://www.embrapa.br/pantanal/busca-de-publicacoes/-/publicacao/812921/conservacao-e-uso-de-forragens-adaptadas-no-assentamento-tamarineiro-ii-sul-corumba-ms

LISITA, F. O.; TOMICH, T. R.; CAMPOLIN, A. I.; FEIDEN, A.; CONCEIÇÃO, C. A. da; NASCI-MENTO, V. R. do; TRINDADE, L. L., Recursos forrageiros regionais conservados como feno para a alimentação de bovinos na região de Corumbá, MS. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAP-2010/57325/1/CT87.pdf

TOMICH, T. R.; LISITA, F. O.; MESSIAS, E. A. C., Forrageiras conservadas como feno: opção para alimentação dos rebanhos durante a seca. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAP/56622/1/FOL53.pdf

TOMICH, T. R.; NASCIMENTO, J. C. do; TOMICH, R. G. P.; LISITA, F. O.; DOMINGOS BRANCO, O.; FEIDEN, A.; MORAIS, M. G. Feno da parte aérea da mandioca para a produção de rumi-nantes em sistemas orgânicos. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CPAP-2010/57326/1/CT88.pdf

Depois de mais de 10 anos de vitrine agroecológica no Show Rural Coopavel a per-gunta acima se torna cada vez mais comum. Depois de ver os resultados da vitrine muitos dos agricultores pensam em iniciar um pro-cesso de transformação de sua propriedade mas não sabem muito bem como começar. A resposta não é simples, pois na produção orgânica em bases agroecológicas não se tem pacotes prontos para adoção, em cada

Alberto Feiden (Embrapa Pantanal) | [email protected]élio Vinicius Borsato (Embrapa Pantanal) | [email protected]

Como transformar uma propriedadeconvencional em agroecológica?

propriedade, cabe ao agricultor perceber o melhor caminho para a mudança. Este cami-nho pode variar muito, pois cada caso é um caso. O agricultor deverá considerar o quanto usa de insumos modernos (venenos, adubos químicos, maquinários), quais os recursos que dispõe, a acessibilidade e demandas do mercado local, além da disponibilidade e acesso à conhecimentos e assistência técnica de qualidade.

Transição agroecológica é a mudança do sistema convencional para um sistema que respeita as bases da ecologia e os ciclos da natureza. Muitas pessoas preferem a pa-lavra “conversão” em lugar de “transição”, porque o termo reforça a questão da neces-sidade de mudança na cabeça do sujeito do processo, uma verdadeira conversão, no sentido das ideias e do jeito de fazer agricul-tura: É preciso deixar de pensar apenas na próxima cultura para pensar no futuro, no longo prazo; pensar na propriedade como um sistema agrícola (agroecossistema) em vez de uma única cultura; pensar na produ-tividade ótima do sistema de produção em vez de produtividade máxima de uma única cultura; deixar de pensar em altas produti-vidades a qualquer custo, para pensar em produtividades ótimas com uma boa renta-bilidade; pensar em renda no longo prazo em vez do lucro máximo agora; observar, compreender e imitar os processos naturais de cada agroecossistema em vez de genera-lizar práticas de manejo para todos os am-bientes.

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Um sistema de produção agroecológi-ca, certificado ou não, precisa adotar uma série de princípios ecológicos, tais como: 1) Manter a vida do solo, por meio de cobertu-ra permanente (viva ou morta), minimizan-do perdas por erosão, mudanças bruscas de temperatura e falta de alimento aos organis-mos que ali vivem; 2) construir a fertilidade do solo pensando no longo prazo, usando processos biológicos e fertilizantes de mé-dia e baixa solubilidade, adubando o solo e não a cultura; 3) promover a biodiversida-de funcional, onde as espécies utilizadas desempenham funções ecológicas como a ciclagem de nutrientes e o equilíbrio dos or-ganismos, o que vai permitir a substituição do uso dos insumos químicos sintéticos; 4) respeitar os ciclos naturais, adaptando as atividades agrícolas aos ciclos da natureza e com isso diminuindo as intervenções para corrigir desequilíbrios ecológicos.

Estratégias de Mudança

Existem basicamente 3 estratégias para fazer a mudança do sistema convencional para o agroecológico: 1) Conversão radical e imediata da propriedade como um todo, do sistema convencional para o sistema orgâni-co. De uma hora para outra se deixa de usar os insumos convencionais para usar só os insumos permitidos pela legislação de or-gânicos. Em geral, neste caso, se a proprie-dade é muito dependente de insumos “mo-dernos” no início há uma grande queda na produtividade das culturas, fortes ataques de pragas e doenças, pois o sistema está to-talmente desequilibrado e o agricultor ainda não tem experiência com o sistema e por isso está muito sujeito a erros. Com o tempo a produtividade volta a subir, à medida que o sistema vai se equilibrando. Em uma pro-priedade de subsistência, com baixo uso de insumos, esta queda de produtividade não costuma ser muito grande; 2) Conversão ra-dical de apenas parte da propriedade e man-tendo o restante no sistema convencional.

Quando a primeira parte já está convertida e consolidada, passa-se para uma segun-da parte e assim por diante até ter toda a propriedade convertida. Assim a perda de produtividade ocorre apenas na parte em conversão e só se passa a converter a parte seguinte quando o sistema já está recupera-do na primeira parte. Estas duas formas de conversão só se justificam quando há uma perspectiva concreta e segura de se colocar o produto como certificado orgânico e uma garantida de sobrepreço, o que na maioria das vezes não ocorre; 3) Conversão lenta e gradual da propriedade, adotando práticas agroecológicas passo a passo, sem se preo-cupar com a certificação orgânica. É muito mais demorada para o agricultor conseguir a certificação, mas permite que o agricultor passe a dominar as tecnologias e avançar no processo de maneira segura, principal-mente ao adotar processos agroecológicos mais complexos.

Apesar de exigir uma certa demora para que o agricultor se possa certificar como orgânico, consideramos esta estratégia mais segura, pois mesmo que o agricultor não consiga o sobrepreço de seus produtos como orgânicos, além de não ter redução na produção em geral ocorre a redução de custos de produção. Aliás, fazer a conver-são com o objetivo de vender os produtos por um preço maior é uma das principais causas de fracassos dos agricultores que iniciam o processo e acabam desistindo. A melhor maneira de ter sucesso, é estar pre-parado para vender o produto como conven-cional e obter a vantagem na redução dos custos de produção, além do ambiente de trabalho menos insalubre.

Passos para fazer a mudança:

Para se ter um melhor entendimento de como fazer a transição lenta e gradual, aqui nós a subdividimos em alguns passos na direção do aumento da complexidade do sistema de produção. Estes passos foram

definidos apenas de forma didática não pre-cisam ser seguidos na ordem em que são apresentados aqui, tudo vai depender da propriedade e do agricultor, e em muitos ca-sos pode-se avançar vários passos simulta-neamente, principalmente quando as condi-ções locais (recursos naturais, econômicos e conhecimentos) já permitem ao agricultor começar por etapas mais adiantadas.

1. Racionalização do uso de insumos convencionais:

O primeiro passo para quem está acos-tumado a usar sementes transgênicas, altas doses de adubos e venenos é de reduzir e adequar utilização dos mesmos, atendendo as normas corretas de sua utilização. Embo-ra isso ainda não seja transição agroecoló-gica, é um passo importante a ser dado. Isto significa adequar os cultivos e explorações à capacidade de uso do solo, fazer adubação apenas com base na análise do solo, usar práticas de manejo integrado de insetos e doenças, fazer o manejo adequado do solo, fazer plantio direto com boa cobertura de palha, usar os princípios de integração la-voura-pecuária-florestas. Nada mais é que incorporar boas práticas da agronomia e da zootecnia com qualidade e segurança.

2. Substituição de insumos:

Neste passo se começa a fazer a subs-tituição dos insumos como sementes trans-gênicas, venenos e adubos químicos por insumos naturais e de baixo impacto am-biental. São preferíveis os recursos locais, que são encontrados na propriedade ou na região, ou que podem ser feitos pelo agri-cultor e pelos vizinhos. Na substituição dos adubos químicos pode-se usar: fosfatos de rocha; cinzas de madeiras; estercos e com-postos orgânicos; adubos verdes e biofer-tilizantes líquidos. Para manejo de insetos e doenças, podem ser utilizados, além dos biofertilizantes líquidos, caldas alternativas

para controle de insetos e doenças, insumos biológicos para controle de insetos e doen-ças, fitoterapia e homeopatia. Ao invés de sementes transgênicas ou hibridas, passam a ser usadas sementes variedade ou criou-las, que podem ser reproduzidas pelos pró-prios agricultores.

Depois de substituídos todos os insu-mos e passado o prazo de carência, neste passo já é possível conseguir a certificação orgânica. Porém, a simples substituição de insumos não garante a sustentabilidade, as causas dos desequilíbrios continuam existindo, e a lógica do sistema de produ-ção continua a mesma do convencional. A médio prazo, se ficar apenas neste passo, os desequilíbrios continuam e os custos pas-sam a aumentar, inviabilizando o sistema. Por isso é fundamental avançar no processo de transição ecológica.

3. Diversificação e Integração de Atividades:

Aqui se procura criar combinações de culturas e criações para produzir diversida-de funcional, isto é culturas e criações que “combinem” entre si, produzindo serviços que substituem o uso de insumos. É a com-binação de espécies, animais e vegetais, que tem funções ecológicas diferentes, pro-duzindo serviços como ciclagem de nutrien-tes, controle de pragas e doenças, atração de polinizadores, proteção do solo, melhoria do microclima, etc. São exemplos de práticas que criam integração: rotação e sucessão de culturas; consórcios e culturas intercalares; adubos verdes e culturas de cobertura, cul-turas complementares; culturas com raízes profundas que trazem de volta os nutrientes lixiviados; culturas com diferentes alturas que permitem uma melhor utilização da luz solar; integração da produção animal com a produção vegetal; policultivos aquáticos e integração de lavouras-criações-aquicultu-ra, entre outros.

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40 41CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA

Diversificação e Integração de Atividades

4. Redesenho da Paisagem:

Redesenhar a paisagem na proprieda-de, criando uma paisagem diversificada e subdividida em várias unidades complexas, reorganizando as atividades agrícolas e as instalações no espaço para utilizar melhor os recursos da paisagem e reduzir os impac-tos ambientais é o próximo passo. É funda-mental levar em conta a aptidão agrícola do solo, a legislação ambiental (reserva legal, áreas de preservação permanente, como matas ciliares, morros, encostas, banhados, etc), a direção dos ventos, a exposição ao sol e o regime hídrico de cada talhão da propriedade. Com isso se consegue apro-veitar ao máximo a capacidade produtiva de cada atividade, reduzir os riscos, aumentar o equilíbrio ecológico e promover as demais funções da propriedade. Alguns exemplos: divisão das glebas com árvores (quebra-ventos, cortinas arbóreas, cercas vivas); cultivos em faixas ou aleias; arborização de pastagens e uso de cercas ou moirões vivos; arborização das curvas de nível em lavou-ras e pastagens; recuperação e preservação das matas ciliares; proteção dos mananciais e das nascentes; recuperação das áreas de preservação permanente; recuperação e manejo da mata da reserva legal; criação de refúgios biológicos para inimigos naturais e polinizadores; áreas de reflorestamento para fins econômicos; corredores biológicos para interligar fragmentos de matas e/ou re-

servas e recolocação das explorações e das instalações em locais mais adequados.

5. Sistemas Complexos de Produção:

Implantar sistemas complexos de pro-dução, imitando o funcionamento do ecos-sistema original da região e aumentando a integração entre explorações é o próxi-mo passo. Existem diversas experiências de construção desses tipos de sistemas, como agrossilvicultura e agrosilvipastoreio; agroflorestas regenerativas análogas; per-macultura; e sistemas desenvolvidos por populações tradicionais. Estes sistemas têm complexidade alta, muitas espécies e, são muito parecidos com os ecossistemas natu-rais da região. Porém, a implantação destes sistemas exige um conhecimento bastante aprofundado da ecologia e das condições de solo e clima da região, como também da capacidade de combinação das diferentes espécies.

6. Reordenamento Regional:

Um último passo seria a reorganização de toda região para sistemas agroecológi-cos, fazendo a transição não apenas na pro-priedade de forma isolada, mas em toda a área de uma microbacia, de uma região ou um território, envolvendo desde os sistemas de produção agrícola, até a distribuição dos assentamentos urbanos, da infraestrutura e das indústrias. Hoje isto pode parecer um sonho, mas já há exemplos de planejamento a nível regional como o programa de manejo de solos em microbacias.

Conclusões

O processo de transição não é fácil nem simples e pode avançar e recuar de acordo com as condições de clima e mercado que vão mudando ao longo do ano. É muito difí-cil que um agricultor sozinho consiga fazer

a mudança, o ideal é que participe de um grupo de agricultores com os quais possa trocar experiências, tirar dúvidas e somar esforços. A assistência técnica especializa-da de qualidade também é muito importan-te. Mas o principal é que o agricultor esteja motivado a fazer mudanças, e mudanças a longo prazo, com um planejamento para vá-rios anos. Este planejamento não pode ser rígido, deve ser dinâmico, estando aberto a ajustes se as condições mudarem. Mas deve ser como um farol que mostra qual é a direção a seguir, mesmo que ás vezes seja preciso fazer voltas par alcançar o objetivo. Neste processo de transição, a direção de-

verá sempre prevalecer em relação a veloci-dade da mudança. Repensar alguns valores, alterar alguns costumes/hábitos, tomada de decisão no momento apropriado e assumir alguns riscos, entre outros, serão os princi-pais desafios para quem busca a transfor-mação de uma propriedade convencional em agroecológica. A medida em que vai se compreendendo os processos inerentes aos agroecossistemas, tais desafios tornar-se-ão motivação para que o agricultor-ex-perimentador continue interagindo com a natureza de forma dinâmica e sustentável, possibilitando qualidade de vida, inclusive para as gerações futuras.

Mais informações:

Este texto é uma síntese da cartilha: Como eu começo a mudar para sistemas agroecológicos? Disponível em:http://www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/CAR04.pdf

Page 22: Cartilha Vitrine Tecnologica de Agroecologia 2015

R E A L I Z A Ç Ã O