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CARTOGRAFIA DE MEMÓRIAS NA REGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO- PI Bruno Vitor de Farias Vieira Discente do 4° ano do Ensino Médio Integrado em Hospedagem CEEP Gercílio de Castro Macedo Orientadora: Ana Isabel Ferreira do Nascimento Especialização em Turismo e Negócios – Planejamento e Gestão FAP Co-orientadora: Nívia Paula Dias de Assis Colegiado em Arqueologia e Preservação Patrimonial UNIVASF INTRODUÇÃO O turismo é um setor em constante expansão e pode ser considerado produtor, consumidor e transformador de espaços, já que se configura como um complexo fenômeno econômico, político e cultural, compreendido nas mais significativas atividades da sociedade contemporânea com os mais variados segmentos e formas de atuação. Esta atividade vem crescendo consideravelmente, beneficiando não só a comunidade, mas o município como um todo, gerando alternativas de renda, movimentando a economia local, proporcionando a valorização do receptivo, melhorando a infra-estrutura da cidade, acarretando em maiores opções de lazer, ocasionando, conseqüentemente, um melhor padrão de vida e satisfação para a comunidade em relação a sua localidade. (SILVA, 2010). O produto turístico brasileiro caracteriza-se por oferecer tanto ao turista brasileiro quanto ao estrangeiro uma gama diversificada de opções, com destaque aos atrativos naturais, aventura e histórico-cultural. Nos últimos anos, o governo tem concentrado esforços em políticas públicas para desenvolver o turismo brasileiro, procurando baratear o deslocamento interno, desenvolvendo infra-estrutura turística e capacitando mão-de-obra para o setor, além de aumentar consideravelmente a divulgação do país no exterior. O trabalho aqui apresentado tem como escopo o desenvolvimento das atividades turísticas urbanas e rurais na região de São Raimundo Nonato-PI, direcionando ações de estudantes e da sociedade civil organizada para a dinâmica histórica, cultural e ambiental , onde serão apresentados roteiros turísticos alternativos criados pelos alunos do Ensino

CARTOGRAFIA DE MEMÓRIAS NA REGIÃO DE SÃO … · Discente do 4° ano do Ensino Médio Integrado em Hospedagem CEEP Gercílio de Castro Macedo Orientadora: Ana Isabel Ferreira do

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CARTOGRAFIA DE MEMÓRIAS NA REGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI

Bruno Vitor de Farias VieiraDiscente do 4° ano do Ensino Médio Integrado em Hospedagem

CEEP Gercílio de Castro Macedo

Orientadora: Ana Isabel Ferreira do NascimentoEspecialização em Turismo e Negócios – Planejamento e Gestão

FAP

Co-orientadora: Nívia Paula Dias de AssisColegiado em Arqueologia e Preservação Patrimonial

UNIVASF

INTRODUÇÃO

O turismo é um setor em constante expansão e pode ser considerado produtor,

consumidor e transformador de espaços, já que se configura como um complexo fenômeno

econômico, político e cultural, compreendido nas mais significativas atividades da

sociedade contemporânea com os mais variados segmentos e formas de atuação.

Esta atividade vem crescendo consideravelmente, beneficiando não só a comunidade, mas o município como um todo, gerando alternativas de renda, movimentando a economia local, proporcionando a valorização do receptivo, melhorando a infra-estrutura da cidade, acarretando em maiores opções de lazer, ocasionando, conseqüentemente, um melhor padrão de vida e satisfação para a comunidade em relação a sua localidade. (SILVA, 2010).

O produto turístico brasileiro caracteriza-se por oferecer tanto ao turista brasileiro

quanto ao estrangeiro uma gama diversificada de opções, com destaque aos atrativos

naturais, aventura e histórico-cultural. Nos últimos anos, o governo tem concentrado

esforços em políticas públicas para desenvolver o turismo brasileiro, procurando baratear o

deslocamento interno, desenvolvendo infra-estrutura turística e capacitando mão-de-obra

para o setor, além de aumentar consideravelmente a divulgação do país no exterior.

O trabalho aqui apresentado tem como escopo o desenvolvimento das atividades

turísticas urbanas e rurais na região de São Raimundo Nonato-PI, direcionando ações de

estudantes e da sociedade civil organizada para a dinâmica histórica, cultural e ambiental,

onde serão apresentados roteiros turísticos alternativos criados pelos alunos do Ensino

Médio Integrado em Hospedagem do Centro Estadual de Educação Profissional Gercílio

de Castro Macedo (CEEP) em toda a região que compreende o Território Serra da

Capivara, através de uma ótica de preservação patrimonial, além de propor ao poder

público local a oficialização desses roteiros para a efetivação das conduções dos turistas

que visitam ar região.

OBJETIVOS

GERAL:

Promover o desenvolvimento das atividades turísticas urbanas e rurais na região de

São Raimundo Nonato-PI.

ESPECÍFICOS

- Direcionar ações de estudantes e da sociedade civil organizada para a dinâmica

histórica, cultural e ambiental através de uma ótica de preservação patrimonial;

- Apresentar os roteiros turísticos alternativos elaborados pelos alunos do Curso

Ensino Médio Integrado em Hospedagem do Centro Estadual de Educação Profissional

Gercílio de castro Macedo;

- Propor ao poder público local a oficialização dos roteiros para a sua efetivação.

ROTEIROS TURÍSTICOS: VISITANDO OS LUGARES DE MEMÓRIA DE UMA

CIDADE

“O memorável é aquilo que se pode sonhara respeito do lugar” (Michel de Certau)

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória

espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar

celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são

naturais. É por isso a defesa, pelas minorias, de uma memória refugiada sobre focos

privilegiados e enciumadamente guardados nada mais faz do que levar a incandescência a

verdade de todos os lugares de memória. (PIERRE, 1981).

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Visitar uma cidade é sempre uma atividade fascinante. Todo e qualquer lugar, seja

uma grande cidade ou um pequeno vilarejo, é sempre um espaço cercado de histórias de

fatos que determinam motivos para a fixação de grupos de pessoas no local.

Por conseqüência, situações econômicas, políticas, culturais, sempre diferenciais,

criam assentamentos humanos com características e estilos próprios. Esses diferenciais

urbanos e arquitetônicos estão intrinsecamente relacionados a esses fatores, nas ruas, nas

fachadas, nas formas arquitetônicas e urbanas que são testemunhas da história e do legado

da localidade.

Sítios arquitetônicos, homogêneos ou heterogêneos, são fatores estéticos de orgulho

de seus moradores e, muitas vezes, motivo de estudo para a inserção, ou manutenção, da

atividade turística.

Fazer uma leitura da paisagem da própria cidade é sempre uma tarefa de amor, de

orgulho, de valorização com o espaço vivenciado. Os traçados urbanos são sempre frutos

de uma decisão entre a prática e a técnica, além de fatores históricos. Nenhuma rua,

nenhum lugar é construído pelo acaso, mas é fruto de uma relação de pessoas e de suas

ações no espaço. (CÉSAR Et al., 2007).

Para a elaboração de um roteiro turístico, devem-se levar em conta os aspectos

socioambientais do local a ser explorado, ou seja, além dos aspectos naturais, deve-se ter

consciência das mudanças que os homens realizaram sobre a paisagem e dos aspectos

culturais ali encontrados.

Mais do que um simples apanhado, os diversos elementos devem se inter-relacionar

com a vida cotidiana dos habitantes, com a história local, enfim, com as mais diversas

circunstâncias que poderiam resultar em produtos adequados do turismo.

O responsável pela elaboração do roteiro deve analisar as diversas paisagens locais

e perceber o que pode ser interessante para o turista e, portanto, passível de se transformar

em atrativo. Também é importante pesquisar a infraestrutura existente no local e as

condições de acesso a cada destinação. (GUERRERO Et al., 2007).

METODOLOGIA DA PESQUISA

Os roteiros turísticos alternativos surgiram a partir de aulas extracurriculares da

disciplina de Introdução ao Turismo do curso Ensino Médio Integrado em Hospedagem do

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Centro Estadual de Educação Profissional Gercílio de Castro Macedo em São Raimundo

Nonato-PI

Para a criação destes, utilizou-se como método principal a observação direta,

posteriormente um levantamento bibliográfico, seguido de um levantamento histórico no

qual fazem parte, principalmente, relatos de história oral, assim como a análise do espaço

geográfico da zona urbana e rural da região. As aulas de campo também foram utilizadas

como metodologia desta pesquisa. Através delas conseguiu-se montar os roteiros ao

mesmo tempo em que os executavam.

A aula de campo é parte do processo global de ensino e, assim, tem como objetivo a aprendizagem dos conceitos apresentados, analisados e refletidos e não um objetivo em si mesmo. É fundamental que seja compreendida como parte do processo e não como um passeio ou excursão. É uma aula realizada fora dos muros da escola, com objetivos didáticos definidos que requerem atitudes combatíveis com essa condição (aula) da equipe de monitoria e do alunado. (Programa de Educação Patrimonial João Pessoa, Minha Cidade, 2009).

Após a conclusão destas etapas buscou-se organizar e sumariar os resultados

obtidos com a metodologia adotada.

RESULTADOS OBTIDOS

O estudo resultou na criação de quatro roteiros turísticos alternativos, nos quais

partem das mais variadas vertentes e estilos, são eles: Histórico, Ecológico, Cultural e

Rural. Para caracterizá-los buscou-se adotar nomes típicos do vocabulário local, como uma

forma de preservação do patrimônio cultural imaterial. Obtiveram-se os seguintes

resultados:

Fig. 01. Localização geográfica dos roteiros elaborados na zona urbana

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ROTEIRO HISTÓRICO

ROTEIRO CULTURAL

ROTEIRO ECOLÓGICO

ROTEIRO HISTÓRICO (JENIPAPO)

A palavra Jenipapo, adotado a esse roteiro, deve-se ao nome da localidade ao qual a

cidade de São Raimundo Nonato originou-se.

: “Em 1836, a sede do distrito foi transferida para a localidade Jenipapo que, na época era um próspero núcleo populacional com ruas alinhadas, feira semanal e igreja matriz em edificação, que veio ser concluída em 1876...” (IPHAN, 2007).

Segundo Assis (2008) o “aproveitamento” de lugares de memória pode estimular

entendimentos fundamentais para a compreensão das relações entre o passado, o presente e

as mudanças ocorridas nos modos de vida das pessoas que neles viveram. Tais lugares

devem ser discutidos sob vários enfoques envolvendo áreas como história, turismo, gestão

e preservação patrimonial, educação entre outras.

A rota constitui-se basicamente em:

• Observação do centro histórico;

• Narração da história local;

• Visita aos locais onde aconteceram fatos importantes (lugares de memória);

• Visita aos pontos turísticos já consolidados (Museu do Homem Americano, Alto do

Cruzeiro, Monumento Tatu...).

Fig. 02. Antigo colégio D. Inocêncio Fig. 03. Sede da Fazenda Jenipapo

ROTEIRO ECOLÓGICO (ALGAROBA)

O turismo não é necessariamente prejudicial ou benéfico ao meio ambiente, mas

uma outra situação depende da existência, ou não, do que podemos considerar como um

compromisso ético tanto aos profissionais do turismo quanto dos turistas e, ao mesmo

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tempo, ao exercício de cidadania por parte da comunidade receptora. A esse respeito, vale

destacar que o turismo pode e deve ser considerado como uma ferramenta de conservação

dos recursos naturais.

Este roteiro tem como destinos:

• Observação da fauna e flora local;

• Passeio pelas “águas” da cidade (Lagoa do Mato, Açude, Lagoa Edwirgens...);

• Análise da atual situação do Rio Piauí.

Fig. 04. Lagoa do Mato

ROTEIRO CULTURAL (JUREMA)

De modo geral, pode-se dizer que a cultura permeia todos os segmentos de turismo,

uma vez que o turista é atraído pelo diferente, pelo novo, pelo característico, desde que lhe

sejam garantidos conforto e segurança. Já se disse mesmo que o turismo é um transe

cultural.

A existência de espaços para manifestação cultural numa cidade é importante, pois

eles possibilitam a democratização do conhecimento, o incentivo e proteção da produção

cultural e o intercâmbio entre as pessoas de um grupo social, entre diferentes épocas.

(MURTA Et. al., 2007).

O roteiro cultural é constituído por:

• Visita às casas de cultura;

• Apresentações culturais folclóricas;

• Degustação de comidas típicas;

• Narração de lendas, causos, etc;

• Participação em eventos típicos locais (de acordo com o calendário).

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Fig.05. Grupo dos Caretas Fig. 06. Festividades do Padroeiro

ROTEIRO RURAL (UMBUZEIROS)

O turismo rural é uma atividade que une a exploração econômica agropecuária com

outras funções, como a valorização do ambiente rural e da cultura local (caipira, cabocla,

etc), sendo esses seus atrativos principais.

“Na cidade tem avião, muita máquina, muitos assaltantes, muitos cemitérios. Morre gente todo dia. A cidade tem muito barulho. De gente, de música, de carro, de avião. É tudo diferente da aldeia que é de muito silêncio. O que não muda mesmo é a chuva, o sol, as estrelas. Na cidade, agente custa dormir. É muita luz, muito claro, dormir num quarto trancado. O espírito fica preso, não sonha nada que presta para ficar alegre”. (Geografia Indígena, Comissão Pró-Índio do Acre).

Sua rota é assim constituída:

• Passeio às comunidades rurais (Assentamento Novo Zabelê, Serra Branca, Serra dos

Gringos, Povoado São Vitor, etc);

• Conhecer o dia-dia do homem do campo;

• Degustação de comidas típicas rurais;

• Conhecimento da cultura.

Fig. 07. Casa de Taipa Fig. 08. Coroa de Frade

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CONCLUSÃO

Podemos entender roteiro turístico como um itinerário caracterizado por um ou

mais elementos que lhe conferem identidade, definido e estruturado para fins de

planejamento, gestão, promoção e comercialização turística das localidades que formam o

roteiro. Pode-se dizer que a roteirização turística é o processo que visa propor, aos diversos

atores envolvidos com o turismo, orientações para a constituição dos roteiros turísticos.

Essas orientações vão auxiliar na integração e organização de atrativos, equipamentos,

serviços turísticos e infra-estrutura de apoio do turismo, resultando na consolidação dos

produtos de uma determinada região.

Devemos entender que a consolidação desta roteirização turística será um passo

fundamental, pelo papel que pode exercer na busca pelo desenvolvimento socioeconômico

da região de São Raimundo Nonato. Sua correta implementação pode contribuir para o

aumento do fluxo de turistas, assim como para aumentar seu tempo de permanência e os

gastos que realizam.

Dessa forma, desenha-se a possibilidade de que, em médio prazo, tenhamos uma

melhor distribuição da renda, a partir da criação e da ampliação de postos de trabalho, em

decorrência do crescimento organizado e planejado do fluxo turístico local, o que

representa um maior volume de recursos financeiros chegando à região.

Os roteiros aqui apresentados são sugestões e caso forem consolidados podem ser

aperfeiçoados, se assim for conveniente, estes podem ser também utilizados como

subsídios para a difusão da educação patrimonial, pois podem ser “consumidos” pelos

moradores, estudantes, etc. da região para que possam conhecer as memórias e os lugares

já conhecidos através de um novo olhar. Os lugares de memória, então, estariam

preservados para as gerações vindouras, remontando o passado no presente e orgulhando,

sobretudo, a população sanraimundense.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Regina Araújo de; GUERRERO, Ana Lúcia; FIORI, Sérgio Ricardo. Geografia e cartografia para o Turismo. São Paulo: IPSIS, 2007.

ASSIS, Nívia Paula Dias de. O patrimônio edificado de São Raimundo Nonato-PI, in: ArquiMemória 3 – Anais do III Encontro Nacional de Arquitetos sobre preservação do patrimônio edificado, Salvador, BA., 08 a 11 de junho de 2008./organizado por Paulo

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Ormindo de Azevedo e Nivaldo Vieira de Andrade Junior. – Salvador, BA; Departamento da Bahia do Instituto de Arquitetos do Brasil (AIB-BA), 2008.

BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de regionalização do turismo – roteiros do Brasil: Módulo operacional 07, roteirização turística. Brasília, 2007.

CÉSAR, P. A. B. et al. Ecoturismo. São Paulo: IPSIS, 2007.

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Programa de Educação Patrimonial João Pessoa, Minha cidade. João Pessoas, IPHAN, [2009?].

__________________. São Raimundo Nonato: Memória e patrimônio – Serra da Capivara, IPHAN, Teresina, 2007.

MYANAKI, J. Cultura e Turismo. São Paulo: IPSIS, 2007.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Revista do programa de estudos pós-gaduados em História e do departamento de História. São Paulo, n° 10, 07-21, 1981.

SILVA, Mary Claudia da. Enfoque participativo em metodologias de planejamento turístico, in: Turismo Sertanejo: Natureza e Cultura no Turismo de Base Local./ Giovanni de Farias Seabra, Ivo Thadeu Lira Mendonça (organizadores). – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.

VIEIRA, Bruno Vitor de Farias; SANTOS, Rayane Cardoso dos; NASCIMENTO, Ana Isabel Ferreira do. A revitalização da Lagoa do Mato como ferramenta fortalecedora para o desenvolvimento do turismo na cidade de São Raimundo Nonato-PI, in: Turismo Sertanejo: Natureza e Cultura no Turismo de Base Local./ Giovanni de Farias Seabra, Ivo Thadeu Lira Mendonça (organizadores). – João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.

_______________________. Et. al. A água e o turismo: a conservação ambiental do Rio Piauí na localidade lagoa dos torrões para o desenvolvimento sustentável, in: Anais do Congresso de Natureza, Turismo e Sustentabilidade (CONATUS), Fundação Neotrópica, 2010.

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