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Cartografia do circuito das artes visuais na cidade de São Paulo: uma análise da presença da arte no espaço urbano Mariana Dell’ Avanzi Universidade de São Paulo [email protected] Estágio final da pesquisa – Iniciação Científica 1. Introdução A arte se desenvolve na cidade conforme as condições que o espaço urbano lhe confere, configurando um circuito que envolve relações que vão da produção até o consumo de obras de arte. Esse circuito de artes plásticas pode ser analisado pela perspectiva geográfica a partir do conceito de circuito espacial produtivo, considerando os encadeamentos dos momentos de produção, distribuição, troca e consumo de arte e a diversidade dos mesmos. Essa análise através do circuito espacial produtivo, a partir do questionamento sobre o papel do espaço nos desdobramentos da arte, procura compreender a articulação dos objetos e ações por ele realizada, e os agentes envolvidos nesse processo. Uma análise através do circuito espacial produtivo tomará a arte em sua condição de mercadoria, que, além do valor material, possui também um valor simbólico. Este último está ligado à associação da arte com os valores culturais e sociais de um determinado lugar. A arte, transformada em mercadoria, constitui-se em estigmas de determinados momentos com um conteúdo simbólico que acompanha os percursos da história, carregando por isso uma carga de informação articulada às circunstâncias de sua produção. Esse valor simbólico, associado à uma ideologia em relação à estética e ao valor da própria arte, é um elemento importante dentro da abordagem de um circuito de arte, um vez que interfere em seus desdobramentos. Diferentes agentes participarão do movimento de valorização de concepções estéticas, motivados por questões diversas, como o nacionalismo, valores religiosos e até mesmo econômicos. Sob esta perspectiva, a pesquisa procurou refletir sobre o circuito de artes plásticas da cidade de São Paulo, levantando dados e reunindo elementos para analisar como se dá a produção e consumo das obras de arte, considerando as especificidades da capital paulista, seu processo histórico e sua importância frente à economia nacional.

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Cartografia do circuito das artes visuais na cidade de São Paulo: uma análise da

presença da arte no espaço urbano

Mariana Dell’ Avanzi Universidade de São Paulo

[email protected] Estágio final da pesquisa – Iniciação Científica

1. Introdução

A arte se desenvolve na cidade conforme as condições que o espaço urbano

lhe confere, configurando um circuito que envolve relações que vão da produção até o

consumo de obras de arte. Esse circuito de artes plásticas pode ser analisado pela

perspectiva geográfica a partir do conceito de circuito espacial produtivo, considerando

os encadeamentos dos momentos de produção, distribuição, troca e consumo de arte e a

diversidade dos mesmos. Essa análise através do circuito espacial produtivo, a partir do

questionamento sobre o papel do espaço nos desdobramentos da arte, procura

compreender a articulação dos objetos e ações por ele realizada, e os agentes envolvidos

nesse processo.

Uma análise através do circuito espacial produtivo tomará a arte em sua

condição de mercadoria, que, além do valor material, possui também um valor

simbólico. Este último está ligado à associação da arte com os valores culturais e sociais

de um determinado lugar. A arte, transformada em mercadoria, constitui-se em estigmas

de determinados momentos com um conteúdo simbólico que acompanha os percursos

da história, carregando por isso uma carga de informação articulada às circunstâncias de

sua produção. Esse valor simbólico, associado à uma ideologia em relação à estética e

ao valor da própria arte, é um elemento importante dentro da abordagem de um circuito

de arte, um vez que interfere em seus desdobramentos. Diferentes agentes participarão

do movimento de valorização de concepções estéticas, motivados por questões diversas,

como o nacionalismo, valores religiosos e até mesmo econômicos.

Sob esta perspectiva, a pesquisa procurou refletir sobre o circuito de artes

plásticas da cidade de São Paulo, levantando dados e reunindo elementos para analisar

como se dá a produção e consumo das obras de arte, considerando as especificidades da

capital paulista, seu processo histórico e sua importância frente à economia nacional.

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2. Objetivos

A pesquisa objetivou refletir sobre o circuito de artes plásticas da cidade de

São Paulo, através do conceito de circuito espacial produtivo, considerando então o

processo que reúne desde a produção até o consumo de obras de arte. Assim, procurou-

se, num esforço inicial, a identificação dos elementos que participam desse circuito e a

produção de cartografias que permitissem visualizá-los. As localizações dos elementos

representados nos mapas constituem uma das ferramentas para a reflexão sobre o

circuito de arte e a cidade, uma vez que permite a visualização do próprio circuito e

como este se distribui no espaço urbano, projetando relações como a concentração e a

rarefação desses elementos.

Ao se contemplar o circuito espacial produtivo das artes plásticas, objetiva-

se discutir a própria configuração urbana e como esta permite ou não a realização da

atividade artística, auxiliando, por exemplo, a reflexão sobre o acesso do cidadão à

cultura, considerando que o valor do cidadão depende de sua localização no território, e

muda em função das diferenças de acessibilidade (SANTOS, 1987).

3. Metodologias

A pesquisa envolveu diferentes etapas que permitiram uma visualização e

reflexão iniciais sobre do circuito de artes plásticas da cidade de São Paulo, envolvendo

o levantamento de dados, a realização de cartografias e as análises a partir do conceito

de circuito espacial produtivo, num esforço teórico e metodológico para pôr em

evidência e esclarecer, ainda que de forma incipiente, o processo de produção e

consumo de obras de arte na cidade.

A partir da concepção de fixos e fluxos (SANTOS, 2014), dupla conceitual

que auxilia o entendimento do espaço econômico e que se remete respectivamente aos

instrumentos de trabalho (materialidade) e ao movimento (circulação, explicando assim

os fenômenos da distribuição e consumo), procuramos realizar um levantamento dos

fixos, vinculados ao circuito de arte. Nessa categoria de fixos, foram consideradas as

galerias, ateliês, museus, feiras de rua, espaços de grafite, espaços institucionais, casas

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de leilão e feiras de arte de maior porte. Importante ressaltar que o recorte para as obras

de arte consideradas abarcou as chamadas artes plásticas. Além do levantamento dos

fixos, procuramos compreender como funcionam e que tipo de relações estabelecem

com outros tipos de fixos, articulando-se através dos fluxos. Essa dinâmica configura o

circuito de arte, e esclarece a atuação de seus agentes.

Assim, ao longo da pesquisa procurou-se recolher a localização dos fixos de

arte na cidade de São Paulo, através de trabalhos de campo, entrevistas com artistas e

pessoas ligadas ao meio artístico, e também através de dados fornecidos pelas

Secretarias de Cultura, instituições e associações voltadas à arte e cultura. Também

foram utilizados sites cuja proposta vincula-se à venda, exposição e divulgação da arte,

entre instituições públicas e privadas. Esse levantamento possibilitou uma aproximação

com a atividade artística, permitindo o entendimento do papel de desses diferentes fixos

no circuito de arte e a articulação entre eles.

Após o levantamento, foram realizadas cartografias através do software

ArcGis representando a localização dos fixos na cidade de São Paulo. A divisão

regional escolhida para a análise da distribuição dos fixos é a que considera como

regiões administrativas as chamadas Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro. O padrão

seguido baseou-se na divisão apresentada em mapa consultado da Secretaria Municipal

de Desenvolvimento Urbano, disponível no site da prefeitura de São Paulo.

A reflexão teórica sobre o circuito de artes plásticas baseou-se na noção de

circuito espacial produtivo, que

enfatiza, a um só tempo, a centralidade da circulação (circuito) no

encadeamento das diversas etapas de produção; a condição do espaço

(espacial) como variável ativa na reprodução social; e o enfoque centrado no

ramo, ou seja, na atividade produtiva dominante (produtivo). (CASTILLO &

FREDERICO, 2010)

Assim, “os circuitos espaciais seriam as diversas etapas pelas quais passaria

um produto, desde o começo do processo de produção até chegar ao consumo final”

(SANTOS, 2014:55). Atrelado à geografia por sua condição espacial, o conceito de

circuito espacial de produção ressalta a categoria espaço, já que “discutir os circuitos

espaciais da produção é discutir a espacialidade da produção-distribuição-troca-

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consumo como movimento circular constante” (MORAES, 1985:4). Considerou-se

então o processo que envolve a produção de artes plásticas e todo o encadeamento até

seu consumo, e a pesquisa consistiu num esforço inicial por identificar os elementos que

funcionam como agentes desse processo.

Além da análise através do circuito espacial produtivo, procurou-se

desenvolver uma reflexão acerca do valor simbólico da obra de arte, elemento crucial de

sua realidade enquanto mercadoria. A formação de um circuito de arte envolve variáveis

complexas que dizem respeito à características não só culturais de um determinado

lugar, mas também de sua configuração política, econômica e social, fazendo da obra de

arte uma mercadoria mais complexa. As artes plásticas carregam então esses traços

históricos que narram, além do desenvolvimento de um artista, o próprio contexto de

sua produção e as concepções estéticas também cambiantes. A venda de obras de arte se

guiará por mecanismos de valorização/desvalorização de conceitos estéticos. Segundo

MOLES, 1975, o preço de custo é uma expressão de fatores individuais, originários do

funcionamento do mecanismo criador, assim o ‘preço de venda’ praticamente não existe

para a obra de arte, sendo substituído por um indicador da demanda, um valor social.

Essa característica é traço da mercadoria obra de arte, que participará do conjunto das

atividades econômicas envolvendo pequenos e grandes valores, conforme o valor

simbólico trazido.

4. Resultados preliminares

O levantamento dos fixos previstos na pesquisa que se encontram sob o

recorte estabelecido corresponde a 98 ateliês, 133 galerias, 22 museus, 18 casas de

leilão, 4 feiras, 25 locais de grafite, e 12 espaços institucionais. Esses fixos participam

de diferentes formas dos momentos de produção, circulação, venda e consumo de obras

de arte. Além da localização, o processo de levantamento permitiu visualizar a dinâmica

desses diferentes fixos, entre museus, galerias, feiras, ateliês e leilões e seu papel no

circuito de arte da cidade.

A distribuição dos 98 ateliês (mapa 1) levantados na cidade se dá da

seguinte forma: 55% na região Oeste, 23% na região Sul, 17% na região Centro, 4% na

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região Leste e 1% na região Norte. Percebe-se assim uma grande concentração na região

Oeste que supera mais da metade do total levantado, e a pequena quantidade nas

extremidades Leste e Norte. Essa categoria representa um importante elemento do

circuito de arte, por referir-se diretamente à sua produção, centralizada na figura do

artista. Para compreender o papel desse agente, procurou-se o contato de uma

associação formada por artistas profissionais, a APAP – Associação Profissional de

Artistas Plásticos. Essa associação, fundada em 1981, é formada por um número de

aproximadamente setenta artistas plásticos, localizados em sua maioria na cidade de São

Paulo. A associação procura auxiliar o artista em seu trabalho, como uma

intermediadora entre a comunidade artística e os órgãos oficiais de cultura. Um exemplo

de suas ações é a promoção de palestras de temas pertinentes como a elaboração de

notas fiscais, registros de trabalho, participação em programas públicos de incentivo à

cultura etc.

Mapa 1: Distribuição espacial dos ateliês de arte – São Paulo, 2013

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O mapa referente às galerias (mapa 2) mostra o levantamento que contém

133 galerias localizadas na cidade de São Paulo, e a distribuição desses fixos nas

regiões da cidade se dá da seguinte forma: 80% na região Oeste, 10% na região Sul, 9%

na região Centro, e 1% na região Leste. Nota-se assim uma grande concentração na

região Oeste, situação induzida pela natureza do fixo em questão e pelas características

da área, de grande valorização imobiliária, importante centro de comércio e do mercado

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de arte. Através da pesquisa pode-se perceber que o papel das galerias de arte no

circuito é muito importante, por promover, ao mesmo tempo, exposições e venda,

também através de leilões. Esses fixos exercem grande influência na divulgação dos

artistas, como um verdadeiro papel de mecenato, possibilitando sua valorização no

circuito, inserindo-os no mercado de arte e facilitando seu reconhecimento nacional e

internacional.

Mapa 2: Distribuição espacial das galerias de arte – São Paulo, 2013

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Segundo Moles, 1974, a galeria de arte compra, armazena, apresenta, vende

e publica as obras do artistas para um público composto pela crítica de arte, pelos meios

de comunicação ligados à arte, colecionadores e salões (exposições coletivas

organizadas por iniciativa particular), e o contado do grande público com essas obras se

dará depois de muito tempo, sendo por isso voltado para um grupo específico, o

“micromeio”, porém determinante no circuito.

As concentrações pelas regiões administrativas referentes às casas de leilão

(mapa 3) se dão da seguinte forma: 67% na região Oeste, 28% na região central e 5% na

região Leste. Esse levantamento se mostrou insuficiente para ilustrar a localização da

atividade leiloeira, visto que após o advento da internet, a dinâmica de realização dos

leilões de arte passou a ser em grande parte realizada de forma online. Essa dinâmica

requisita dos organizadores uma estrutura, que inclui o uso softwares para

acompanhamento de lances e arremates, cadastramento e verificação de clientes etc. Por

isso, foi importante acompanhar os portais “Leilões Br” e o “Iarremate”, entendendo-os

como empresas terceirizadas especializadas na atividade leiloeira online e que realizam

leilões para galerias e escritórios de arte. O leilão refere-se a um agente do circuito que

realiza a venda de obras de arte, assim como o estabelecimento de valores monetários

através da oferta e procura.

Mapa 3: Casas de leilão na cidade de São Paulo

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O levantamento de museus (mapa 4) cujo acervo envolve o recorte proposto

contempla 22 fixos, e sua distribuição entre as regiões paulistanas corresponde a 52% na

região Centro, 24% na região Oeste e 24% na região Sul. Os museus tem uma função

importante no circuito por promover um tipo de consumo de arte, através de exposições,

e por instituir o valor simbólico das obras de arte, uma vez que “(...) requer o olhar

propriamente estético capaz de aplicar-se a qualquer coisa designada como digna de ser

apreendida esteticamente” (BOURDIEU, 2003:275).

Mapa 4: Distribuição espacial dos museus – São Paulo, 2013

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Entre as feiras de rua realizadas em São Paulo, constatou-se, através de

visitas e entrevistas, que apenas quatro abordam o objeto de estudo proposto. Assim, as

feiras de arte especificadas e mapeadas foram aquelas realizadas na Praça dos Omaguás,

na Praça Benedito Calixto, no Parque Trianon, e na Praça da República. As duas

primeiras localizam-se no bairro de Pinheiros, a feira do Trianon no bairro Jardim

Paulista, e a feira da República no bairro República. Assim, três feiras localizam-se na

região Oeste e uma na região central.

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Os espaços institucionais resumem-se em 12 fixos, distribuídos em 42% na

região Oeste, 50% no Centro e 8 % na região Sul. Diferente dos museus, os espaços

institucionais não possuem acervo permanente e aporte técnico, mas representam uma

categoria de fixo importante no circuito de artes plásticas, por desenvolver atividades

ligadas a ele, principalmente exposições. Dessa categoria fazem parte centros culturais,

vários deles ligados à bancos ou empresas, como o Centro Cultural Banco do Brasil e

Caixa Cultural.

O levantamento de locais com expressões de grafite foi feito através de

materiais disponibilizados pela São Paulo Turismo S/A, uma empresa de capital aberto

que têm a Prefeitura de São Paulo como sócia majoritária. Para compreender a

participação do grafite no circuito de artes plásticas, a pesquisa propunha-se perceber

qual o espaço e reconhecimento do grafite como arte. Constatou-se que, apesar de

existir a divulgação de alguns locais, grande parte desse tipo de manifestação artística

não é divulgada, o que restringe o reconhecimento desses espaços, que participam então

do circuito de forma seletiva. Esse fato remete-se à sua própria natureza, por representar

uma forma de manifestação crítica em locais públicos e por isso muitas vezes

considerados como um tipo de vandalismo. Também existe a dificuldade em diferenciar

as expressões de grafite e de pichação, já que só a primeira é considerada como

manifestação artística, o que consequentemente dificulta o levantamento através de

trabalhos de campo. Ao total, o levantamento contempla 25 locais, que representam

assim os espaços reconhecidos de grafite, e a distribuição na cidade é de 61% na região

central, 22% na região Oeste e 17% na região Norte. Entre os locais, encontram-se ruas,

avenidas e viadutos, e também museus, galerias e centros culturais que abordam a

temática e compõe o circuito do grafite de São Paulo.

Todos esses fixos envolvem diferentes tipos de fluxos e, juntos, compõe o

que consideramos como circuito espacial de produção artística. Embora a pesquisa não

tenha abarcado todos os elementos que compõe esse circuito, a consideração a partir

desse conceito possibilita uma visão mais ampla e analítica sobre a realização da

atividade artística, possibilitando compreender a ação de seus agentes e os entraves que

fazem o mais seletivo, restrito a um público mais abastado por referir-se a um valor que

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não corresponde à primeira necessidade. A partir daí, pode-se também refletir sobre a

cultura e suas diferentes manifestações, assim como o estabelecimento de níveis

culturais associados à capacidade de consumo. Essa associação, sustentada por fatores

ideológicos, cria hierarquizações entre o que se tem por cultura, evocando a partir daí a

cultura inferior referente às camadas mais pobres, com menor capacidade de compra de

produtos culturais (GUATTARI, 2008).

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