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REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP
SABER ACADMICO - n 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950
206
As limitaes da Linguagem Cartogrfica no Ensino Mdio:
anlise do livro didtico e do Vestibular
PALOMO, Vanessa de Souza1
A leitura dos Mapas. Este sem dvida, um tema bastante discutido dentro da
cincia geogrfica. Quais os limites existentes para o pleno entendimento das informaes
contidas em uma representao cartogrfica? Muito se fala sobre como elaborar um mapa
que seja de fcil leitura a qualquer pessoa e ao mesmo tempo contemple a complexidade da
realidade em que vivemos. Muito tem sido discutido e vrios trabalhos vm sendo
realizados na perspectiva de entendimento de como se d o aprendizado de noes
cartogrficas (tempo e espao) em crianas, de acordo com sua habilidade cognitiva,
baseados nos estudos de Jean Piaget2. Enfatiza-se aqui, neste artigo, a preocupao com a
leitura dos mapas feita pelos estudantes do Ensino Mdio, ressaltando que estes j no se
encontram em plena maturidade cognitiva e possuem todos os atributos para o
entendimento de uma representao cartogrfica. Nesse sentido, como o aluno do Ensino
Mdio tem acesso a Linguagem Cartogrfica? Sabe-se que muitos problemas so
enfrentados nas escolas pblicas brasileiras, e destaca-se aqui a ausncia da distribuio de
livros didticos de Geografia para o Ensino Mdio. Muitas escolas no possuem mapas,
enfim, vrios so os limites encontrados dentro do Ensino no Brasil. O que nos propomos
aqui analisar livros didticos produzidos para o Ensino Mdio e, assim, discutir se estes
so capazes de instrumentalizar os estudantes para uma correta leitura dos mapas para que,
posteriormente, estes consigam analisar e refletir sobre fenmenos geogrficos. Adrede a
isso, as questes que envolvem a linguagem cartogrfica nos vestibulares da Unicamp
tambm foram analisadas, no intuito de responder se os livros didticos produzidos para o
Ensino Mdio so ferramentas eficazes para a leitura e compreenso da Cartografia e se,
sobretudo, contm os atributos necessrios ao que requisitado nas provas dos vestibulares.
A construo da proposta de Anlise
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O surgimento da preocupao com a Linguagem Cartogrfica no Ensino Mdio se
deu durante a disciplina intitulada Cartografia e o Ensino de Geografia, ministrada no
segundo semestre de 2007 para os graduandos do 4 ano de Geografia da FCT/Unesp de
Presidente Prudente. Como proposta de atividade para a disciplina, foi feita uma anlise
quantitativa (Tabela 1) e qualitativa dos vestibulares da Unicamp, tendo como foco as
questes que envolviam representaes cartogrficas.
Para as anlises, foram considerados 12 vestibulares, realizados no perodo entre
1996 a 2007. Para cada ano foram consideradas somente as questes que envolviam
representaes cartogrficas, cabe ressaltar, que na maioria dos casos, eram questes
especficas de Geografia.
Foram consideradas as questes realizadas na 1 e 2 fases dos vestibulares. Como
se nota pela tabela, foram realizadas, nos vestibulares, um total de 32 questes envolvendo
representaes cartogrficas.
Posteriormente, as questes foram analisadas segundo alguns critrios: coerncia,
grau de dificuldade, verificao de contedos. Tambm um outro critrio proposto foi o de
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responder se os livros didticos dariam suporte para a resoluo da questo. Da o
surgimento da idia de analisar os livros didticos de Geografia para o Ensino Mdio.
Com relao coerncia das questes (relao entre a representao cartogrfica e a
questo), em geral todas apresentam boa coerncia, as questes apresentam-se de forma
clara, mas algumas particularidades so notadas. O grau de dificuldade alto, muitas
questes exigem conhecimento adquirido, anlise, leitura de mapas e capacidade de
argumentao. A verificao dos contedos perpassa pela presena de legenda, orientao,
escala e projeo.
Uma outra atividade proposta foi a de elaborar um artigo contendo o resultado desta
atividade, procurando responder se os livros didticos contribuem de forma efetiva para a
resoluo das questes elaboradas nos vestibulares da Unicamp.
Nesse sentido, este texto resultado desta proposta de trabalho sugerida em sala de
aula. Para tanto, as reflexes foram aprofundadas no intuito de colaborar para a reflexo das
limitaes do acesso a Linguagem cartogrfica no Ensino Mdio.
Uma metodologia de anlise utilizada aqui, baseada em um trabalho realizado por
Alves (2004), essa autora analisa os mapas nos livros didticos da 5 srie do Ensino
Fundamental. Escolhendo trabalhar com seis livros didticos selecionados pelo MEC para o
guia do livro didtico do ano de 1998, ela trabalhou analisando a presena de determinados
itens nos mapas. So eles: ttulo, escala, orientao, data dos dados, fonte dos dados e
legenda. Alm disso, analisou qual foi o objetivo do uso do mapa pelo autor: localizao,
observao, descrio e anlise.
Baseando-se nesta metodologia, mas com algumas adaptaes, realizada a anlise
comparativa entre os livros didticos analisados e os vestibulares da Unicamp, na procura
de descobrir se existe correspondncia de competncias exigidas e a partir disso, como j
salientado, responder se o contedo dos livros didticos do Ensino Mdio eficaz para a
leitura e compreenso da Cartografia e se, sobretudo, contm os atributos necessrios ao
que requisitado nas provas dos vestibulares.
Os procedimentos e resultados
Os livros didticos escolhidos para a anlise so os seguintes:
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Livro 1. MAGNOLI, Demtrio; ARAJO, Regina. Geografia Geral e Brasil: paisagem e
territrio. Volume nico. 1999 (2 edio).
Livro 2. GARCIA, Helio Carlos; GARAVELLO, Tito Marcio. Geografia Geral. Volume
nico. 2000 (1 edio).
Os itens escolhidos para verificao so os seguintes: Ttulo, Orientao, Legenda,
Projeo, Escala. A anlise, a princpio se apresentar em forma de dados quantitativos,
expostos em tabelas. Concomitantemente sero feitas algumas consideraes pertinentes.
Os itens acima citados foram analisados tanto nos livros didticos quanto nas
questes dos vestibulares, para que a anlise comparativa se d a partir dos mesmos
critrios. Foi analisado cada mapa, individualmente. No livro 1, foram encontrados 109
mapas e no livro 2, foram encontrados 239 mapas. Nas questes dos vestibulares foram
encontrados 35 mapas. Uma caracterstica relevante a ressaltar nos dois livros analisados, e
que geralmente caracterstica dos livros para o Ensino Mdio que ambos apresentam
todo o contedo de Geografia visto durante os trs anos de durao dos estudos.
Caracterstica essa muito importante e deve ser considerada, pois os livros devem e
precisam abarcar muita informao e esta precisa ser passada da melhor maneira possvel.
O primeiro item diz respeito presena do ttulo nos mapas. Entendendo este como
indispensvel a qualquer representao cartogrfica, pois situa o estudante na compreenso
do fenmeno representado. Eis os resultados:
Considerando o ttulo como um item de fundamental importncia, nota-se pelos
dados da tabela acima que a presena do ttulo nos mapas bem significativa, apontando
um ndice satisfatrio. Portanto, neste quesito os livros didticos contemplam a expectativa,
pois o leitor, ao se deparar com o mapa, logo se d conta do que se trata a representao. O
intuito do mapa, sobretudo para sua utilizao do ensino, que ele seja o mais claro
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possvel, assim, o ttulo contribui e aparece como fator principal. No que se refere
presena desse mesmo item nas questes dos vestibulares, nota-se algumas peculiaridades.
O ndice de presena dos ttulos menor. Cerca de 54% dos mapas no apresenta o
item em questo. Da se ressalta que o problema encontra-se nas questes dos Vestibulares
e no nos livros didticos. Houve a preocupao em observar questo por questo
atentamente, no intuito de saber se a presena do ttulo influenciaria e at facilitaria a
resposta para o vestibulando, mas notou-se que, em hiptese alguma, o ttulo, se existisse,
teria esse carter. Apenas, da sua presena, o mapa estaria, certamente, mais adequado.
Com relao orientao, apresentam-se os seguintes resultados:
A construo da noo de orientao no algo muito simples, normalmente parte-
se do pressuposto de que a noo dos pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste) bem
estabelecida nas pessoas, porm, infelizmente, isso no verdade. Existe muita confuso
com respeito a isso, principalmente quando se trata de orientaes mais especficas como a
dos pontos colaterais (nordeste, sudeste, noroeste e sudoeste) e a dos pontos subcolaterais
(Norte-nordeste, Leste-nordeste, Leste-sudeste, Sul-sudeste, Sul-sudoeste, Oeste-sudoeste,
Oeste-noroeste, Norte-noroeste). preocupante quando se olha o resultado da pesquisa.
Nos livros didticos a presena quase nula, este item notado apenas 2 vezes e somente
no Livro 1. J no Vestibular, os nmeros apontam maior presena do item analisado,
porm, ainda sim, este se apresenta insuficiente, considerando que a orientao tem que
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estar presente em qualquer representao cartogrfica. Alves (2004) aponta algumas
reflexes pertinentes:
No caso da ausncia de orientao em um mapa, geralmente se considera que o norte est na parte superior da folha em que se apresenta impresso. No entanto, sabe-se que nem sempre isso ocorre. Alm disso, pelo fato dessa informao ser de uso corrente apenas entre especialistas, no se deve ocult-la, pois srios equvocos no entendimento dos alunos podem ser provocados. (ALVES, 2004, p. 71).
A legenda tambm foi um item aqui considerado. Esta de extrema importncia,
pois auxilia no pleno entendimento do que est sendo representado. Os nmeros so
satisfatrios, j que nem todos os mapas necessitam de legenda. Por exemplo, nos livros
didticos escolhidos, muitos mapas apareciam apenas no intuito de apresentar a localizao
de determinado local, assim, a legenda depende da intencionalidade da representao.
Nota-se particularidades nas legendas nas questes dos vestibulares, pois algumas
aparecem insuficientes para pleno entendimento do mapa.
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Percebe-se claramente, pelos nmeros das duas tabelas a seguir, que a projeo no
um contedo valorizado. Sua presena quase nula. A princpio da pesquisa, a projeo
no estava sendo considerada, mas, julgou-se necessria sua insero, pois numa das
questes dos Vestibulares, a projeo de Mercator3 foi mencionada, e a questo foi alm,
nela deveria ser explicada, a partir de um mapa, quais eram as reas que apresentavam
distores em razo desta projeo. Assim, afirma-se que a projeo um contedo que
precisa ser mais discutido e valorizado nos livros didticos e nas aulas de Geografia no
Ensino Mdio, at em razo do seu nvel de dificuldade, pois entend-la requer noes bem
fundamentadas de clculos matemticos.
As tabelas so apresentadas a seguir:
Por fim, foi analisado o quesito escala, dividindo-se esta em escala grfica e escala
numrica. Os nmeros revelam que as escalas muitas vezes so deixadas de lado, o que
preocupante, pois uma informao extremamente necessria para que o estudante
compreenda a proporo em que o fenmeno representado se d na realidade. Ressalta-se
aqui o Livro 1 analisado, pois na maioria dos mapas, a escala grfica apresentada.
Infelizmente, no Livro 2, ocorre o contrrio, no h registro da presena qualquer escala.
Nas questes dos Vestibulares, a presena de escala pequena, importante ressaltar o fato
da escala numrica aparecer apenas uma vez na anlise. Esta questo do Vestibular exigia
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clculos matemticos a partir de curvas de nvel, da a necessidade da presena da escala
numrica, por se tratar de uma carta topogrfica na escala de 1: 50.000.
Na sua pesquisa, Alves (2004) notou que a presena da escala grfica nos livros
didticos era maior. Como se pode notar, o mesmo ocorre nesta pesquisa. Sobre isto, ela
conclui:
[...] Tal fato pode estar ocorrendo, pois ao se reproduzir representao, reduzindo-a ou ampliando-a, a escala grfica transforma-se automaticamente nesse processo, o que no ocorre com a numrica, demandando do reprodutor do mapa a elaborao de clculos para refazer o estabelecimento da relao entre real e representao. (ALVES, 2004, p. 69)
Como fechamento da pesquisa, nos propomos, tambm baseado na proposta
metodolgica de Alves (2004), apresentar uma tabela referente aos usos dos mapas, ou seja,
qual o objetivo se sua utilizao, para tanto, quatro foram as propostas para a
sistematizao: localizao, observao, descrio e anlise. Pode parecer uma anlise um
tanto subjetiva quando da proposio destes quatro itens, porm alguns critrios foram
estabelecidos. A localizao aparece no intuito de apenas apresentar onde o fenmeno se
estabelece. A observao aparece quando da utilizao do mapa apenas para ilustrao do
fenmeno citado. A descrio aparece quando da pormenorizao do fenmeno, ou seja,
quando o mapa apresenta uma quantidade de informaes que sejam necessrias para o
entendimento da representao. A anlise pressupe um aprofundamento intelectual do
leitor quando do ato da leitura do mapa, quando a representao exige no apenas
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conhecimentos cartogrficos, mas sim, outros elementos antes conhecidos e a necessidade
de posterior relao. Eis os resultados:
Concluses
Os livros didticos analisados apresentam algumas caractersticas particulares. O
Livro 1 apresenta tima coerncia entre o que est no texto e o que est representado nos
mapas. Dentro do corpo do texto est sempre destacado quando o Mapa tem que ser visto
atravs do nmero da figura escrito entre parnteses. Este um recurso bem interessante.
No Livro 2, esta caracterstica j no aparece, dificultando um pouco a insero do Mapa
dentro do contexto, porm, este livro apresenta uma caracterstica prpria e que bastante
positiva, alguns Mapas apresentam-se acompanhados de Imagens, por exemplo: Os tipos de
vegetao. Apresenta-se o Mapa com a Localizao/distribuio da Vegetao e a imagem
respectiva. Os dois livros apresentam uma quantidade grande de exerccios que utilizam a
Linguagem Cartogrfica, porm, para esta anlise, foram somente considerados os Mapas
contidos no corpo do texto.
Na tentativa de responder a questo central desta pesquisa, a saber, se o contedo
dos livros didticos contm os atributos necessrios ao que requisitado nas provas dos
vestibulares, outros questionamentos apareceram durante o trabalho. Podem-se inferir
algumas concluses: Os livros didticos analisados tm suas limitaes quanto ao contedo
necessrio pedido pelo Vestibular da Unicamp; As deficincias dos atributos necessrios ao
estudo da Cartografia no esto apenas nos Livros Didticos, mas tambm nos
Vestibulares. Da a complexidade da discusso. Portanto, este trabalho no se limita a dar
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respostas, mas sim, contribui para a discusso, j que o Ensino da Cartografia no Ensino
Mdio precisa ser mais estudado. A tentativa de reflexo, muitos problemas precisam ser
superados no Ensino da Linguagem Cartogrfica, pois no algo muito simples de ser
feito. Nota-se que no caso dos itens projeo, escalas e legendas existe uma
correspondncia entre os vestibulares e os livros didticos, eles seguem as mesmas
tendncias.
A pesquisa tem suas limitaes, pois apenas apresenta dados de dois livros, mas
ainda sim, contribui para a discusso, na tentativa de superao de algumas limitaes
existentes no Ensino das Linguagens Cartogrficas.
Referncias Bibliogrficas
ALVES, Mrcia Eliana. Os Mapas nos Livros Didticos de Geografia da 5 srie do Ensino Fundamental. In: ASARI, Alice Yatiyo; ANTONELLO, Ideni Terezinha; TSUKAMOTO, Ruth Youko. Mltiplas Geografias: ensino-pesquisa-reflexo. Londrina: Edies Humanidades, 2004. GARCIA, Helio Carlos; GARAVELLO, Tito Marcio. Geografia geral. So Paulo: Scipione. Volume nico, ensino mdio, 2000. JOLY, F. A Cartografia . 3.ed.Campinas: Papirus, 2001. KATUTA, ngela Massumi. Ensino de Geografia x Mapas: em busca de uma reconciliao. Presidente Prudente, 1997. Dissertao (Mestrado em Geografia) Faculdade de Cincias e Tecnologia, 1997. MAGNOLI, Demtrio; ARAUJO, Regina. Geografia Geral e Brasil: Paisagem e Territrio. 2.ed. So Paulo: Editora Moderna,1999. 1 Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Presidente Prudente). 2 Jean Piaget dedicou seus estudos psicologia, atuando por muito tempo nesta rea como professor na Universidade de Genebra (Sua). Alm da Psicologia, Piaget dedicou-se Epistemologia e Educao. Ficou conhecido por desenvolver estudos que organizaram o desenvolvimento cognitivo dos humanos em estgios. Na Geografia, sua teoria ganha notoriedade principalmente na rea da Cartografia, na busca do entendimento de como se d o processo de construo na criana das noes de tempo e espao, atributos estes fundamentais para a leitura de mapas. 3 A projeo de Mercator feita a partir de um cilindro, da ser uma projeo cilndrica. Os meridianos e paralelos so representados por segmentos de reta perpendiculares entre si, sendo os meridianos eqidistantes, assim, conforme a latitude vai aumentando, a superfcie vai sendo deformada, sempre na direo leste-oeste.