28
Carvalho, C . A. ; Vi e ira , M. F . V. ; Goular t , S. GE STÃO . Org ! Vol . 10, N o . espec ial , p.469 ! 496, dez. 2012 469 A TRAJETÓRIA CONSERVADORA DA TEORIA INSTITUCIONAL Cristina Amélia Carvalho 1 , Marcelo Milano Falcão Vieira 2 , Sueli Maria Goulart Silva 3 Este artigo foi originalmente publicado na Revista de Administração Pública-RAP, em 2005, no v.39, nº4. Agradecemos ao editor-chefe da RAP a autorização para sua republicação. RESUMO A década de 1970 é identificada como a da retomada da teoria institucional nas ciências sociais. Desde então, pesquisas em diferentes áreas, como na ciência política, na economia e na sociologia, reavivaram o interesse pelas instituições como elementos determinantes para o entendimento da realidade social. No Brasil, a teoria institucional vem sendo crescentemente adotada como base para estudos empíricos. Embora o visível crescimento do número de trabalhos empíricos sob a abordagem sugira a emergência de um campo de pesquisa relativamente forte, considera-se importante que discussões teóricas sejam também realizadas por pesquisadores brasileiros de modo a que se possa ocupar espaço no campo da produção do conhecimento e não meramente de sua reprodução. Este artigo pretende contribuir com a discussão teórica, recuperando as origens da teoria institucional, situando as principais temáticas e formas de abordagens em suas versões originais, surgidas em fins do século XIX, contrapondo-as às versões do final da década de 1970. O argumento central é que, nesse percurso, houve uma inflexão da teoria para uma orientação conservadora e que isso, por si só, deveria representar uma preocupação da int e lligentsia no Brasil. Palavras-chave: Teoria institucional. Crítica 1 Na ocasião da publicação original deste artigo, a autora era professora do Propad/UFPE, coordenadora do Grupo de Pesquisa Observatório da Realidade Organizacional e pesquisadora do CNPq. Doutora em Ciências Econômicas y Empresariales. Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante do grupo de Pesquisa Observatório da Realidade Organizacional. [email protected] 2 Na ocasião da publicação original deste artigo, Marcelo Vieira era professor da FGV-EBAPE, coordenador do Observatório da Realidade Organizacional e pesquisador do CNPq. 3 Na ocasião da publicação original deste artigo, a autora era bibliotecária da UFAL, doutoranda do Propad/UFPE, bolsista da FAPEAL e pesquisadora do Observatório da Realidade Organizacional. Doutora em Administração. Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integrante dos grupos de pesquisa Organização e Práxis Libertadora e Observatório da Realidade [email protected]

Carvalho Vieira Silva 2012 a-trajetoria-conservadora-da-T 9005

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Carvalho Vieira Silva 2012 a-trajetoria-conservadora-da-T 9005

Citation preview

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 469 !

    A T R AJE T RI A C O NSE R V A D O R A D A

    T E O RI A INST I T U C I O N A L

    Cristina Amlia Carvalho1, Marcelo Milano Falco Vieira2, Sueli Maria Goulart Silva3

    Este artigo foi originalmente publicado na Revista de Administrao Pblica-RAP, em 2005, no v.39, n4. Agradecemos ao editor-chefe da RAP a autorizao para sua republicao.

    R ESU M O

    A dcada de 1970 identificada como a da retomada da teoria institucional nas cincias sociais. Desde ento, pesquisas em diferentes reas, como na cincia poltica, na economia e na sociologia, reavivaram o interesse pelas instituies como elementos determinantes para o entendimento da realidade social. No Brasil, a teoria institucional vem sendo crescentemente adotada como base para estudos empricos. Embora o visvel crescimento do nmero de trabalhos empricos sob a abordagem sugira a emergncia de um campo de pesquisa relativamente forte, considera-se importante que discusses tericas sejam tambm realizadas por pesquisadores brasileiros de modo a que se possa ocupar espao no campo da produo do conhecimento e no meramente de sua reproduo. Este artigo pretende contribuir com a discusso terica, recuperando as origens da teoria institucional, situando as principais temticas e formas de abordagens em suas verses originais, surgidas em fins do sculo XIX, contrapondo-as s verses do final da dcada de 1970. O argumento central que, nesse percurso, houve uma inflexo da teoria para uma orientao conservadora e que isso, por si s, deveria representar uma preocupao da intelligentsia no Brasil.

    Palavras-chave: Teoria institucional. Crtica

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    1 Na ocasio da publicao original deste artigo, a autora era professora do Propad/UFPE, coordenadora do Grupo de Pesquisa Observatrio da Realidade Organizacional e pesquisadora do CNPq. Doutora em Cincias Econmicas y Empresariales. Professora do Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante do grupo de Pesquisa Observatrio da Realidade Organizacional. [email protected] 2 Na ocasio da publicao original deste artigo, Marcelo Vieira era professor da FGV-EBAPE, coordenador do Observatrio da Realidade Organizacional e pesquisador do CNPq. 3 Na ocasio da publicao original deste artigo, a autora era bibliotecria da UFAL, doutoranda do Propad/UFPE, bolsista da FAPEAL e pesquisadora do Observatrio da Realidade Organizacional. Doutora em Administrao. Docente e pesquisadora do Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integrante dos grupos de pesquisa Organizao e Prxis Libertadora e Observatrio da Realidade [email protected]

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 470

    T H E C O NSE R V A T I V E T R AJE C T O R Y O F INST I T U T I O N A L T H E O R Y

    A BST R A C T

    The 1970s are identified as the decade when institutional theory was resumed in social sciences. Since then, researches in different fields such as political science, economics and sociology have revived the interest in institutions as vital elements for understanding the social reality. In Brazil, institutional theory has been more and more used as the basis for empirical studies. Although the increasing number of empirical studies using this approach suggests the emergence of a relatively strong research field, it is important that Brazilian researchers discuss it on a more theoretical level in order to produce knowledge and not merely reproduce it. This article intends to contribute to the theoretical discussion, recovering the origins of institutional theory, contextualizing the first topics and approaches in their original versions of the end of the 19th century and contrasting them with !"#$%& #'& !"%& %()& #'& !"%& *+,-$.& /"%& 01!234%5$& 3#1%& 01678%(!& 2$& !"0!& !"%& !"%#19& "0$& 0$$78%)& 0& 3#($%1:0!2:%&

    orientation, which should be an object of concern for the Brazilian intelligentsia.

    Keywords: Institutional theory. Critique.

    The content of GESTO .Org is licensed under a Creative Commons Attribution 3.0 license.

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 471 !

    1. O C O N T E X T O : O RI G E M , L U G A R E POSI C I O N A M E N T O D OS A U T O R ES E M

    R E L A O A O T E X T O

    Este artigo um ensaio terico de posicionamento e como tal no deve ser confundido

    com um texto prescritivo em relao a qualquer abordagem ou opo terica. Apesar dessa

    distino necessria, importante salientar que a prescrio ou a contribuio mais direta e

    imediata do pesquisador para a sociedade tambm relevante. Acreditamos que o papel do

    cientista social est fortemente vinculado s contribuies de suas idias para a construo do

    conhecimento e a transformao da sociedade, principalmente quando esta se caracteriza por

    severas desigualdades que se tornam mais agudas e se reproduzem. Assim alinhamo-nos com

    Said (2005:26) quando afirma que o papel do intelectual

    encerra uma certa agudeza, pois no pode ser desempenhado sem a conscincia de se ser algum cuja funo levantar publicamente questes embaraosas, confrontar ortodoxias e dogmas (mais do que produzi-los); isto , algum que no pode ser facilmente cooptado por governos ou corporaes, e cuja "#$%&'()*+,"-( representar todas as pessoas e todos os problemas que so sistematicamente esquecidos ou varridos para debaixo do tapete.

    Este artigo representa, ainda, uma trajetria de pesquisa que aqui passamos a delinear.

    Em 1999 escrevemos, em parceria com o professor Fernando Dias Lopes, outro ensaio

    terico, premiado com meno honrosa na rea de organizaes da Associao Nacional de

    Programas de Ps-Graduao em Administrao (Anpad), onde discutamos as principais

    contribuies da perspectiva institucional para a anlise das organizaes em geral e no Brasil

    em particular (Carvalho, Vieira e Lopes, 1999). Era o incio da trajetria do Grupo de

    Pesquisa Observatrio da Realidade Organizacional e de uma agenda consistente de pesquisa.

    Comeava ali nossa preocupao com as possibilidades explicativas da teoria institucional,

    bem como seu potencial de aplicao na realidade brasileira, preocupao que at hoje orienta

    nosso trabalho. Isso porque a teoria institucional comeava, no Brasil, a ganhar fora e a

    nortear vrios trabalhos na rea dos estudos organizacionais, como veremos adiante.

    Naquele artigo afirmvamos que a teoria cognitiva emerge como contraponto

    3#(3%;&A7$30()#&1%)7B21&0&2(3%1!%B0&3#(3%2!704&%&)0()#&C&D3#('7$=#&

    30E!2305& )%& %$!F874#$& 04678& $%(!2)#& %& $26(2'230)#G& HI#)6$#(>& *++JK*-+L.& M$$28>& ;1%!%()%&

    reafirmar que os seres humanos no podem processar todos os dados sensoriais num clculo

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 472

    racional e que fazem uso e formam conceitos que, baseados em sua experincia anterior, os

    ajudam a tomar decises e a agir.

    A teoria cognitiva abre espao, dessa forma, para os elementos subjetivos do

    conhecimento humano e, por essa razo, constitui um antecedente ontolgico da teoria

    institucional. Prope a impossibilidade da deliberao racional totalmente consciente sobre

    todos os aspectos do comportamento, em funo da grande quantidade de informao e da

    imensa capacidade computacional que isso exigiria. Os seres humanos adquirem, no

    obstante, mecanismos para subtrair certas aes em curso da avaliao racional contnua: os

    hbitos. Sua funo principal: ajudar a manipular e rotinizar a complexidade da vida

    cotidiana. A questo que comevamos a colocar como central, ento, consiste em discutir at

    que ponto as inovaes trazidas pela abordagem institucional, fundamentalmente as

    contribuies dos chamados neo-institucionalistas, podem ser teis, tanto para a anlise

    quanto para a ao nas organizaes modernas, fundamentalmente no Brasil.

    Em 2003, j com cinco anos de pesquisa terico-emprica acumulada, e

    conseqentemente com um razovel banco de dados sobre o assunto, escrevemos maisum

    ensaio terico (Vieira e Carvalho, 2003), com caractersticas diferentes do primeiro, de 1999,

    pois j se delineava, ali, um certo questionamento da teoria. Esse artigo foi agraciado com o

    prmio Anpad de melhor trabalho na rea de teoria das organizaes em 2003. Afirmvamos

    naquele momento que saltava-nos vista a imperiosa constatao de que, para podermos

    compreender os processos de institucionalizao dos formatos organizacionais, limitante

    trabalharmos no nvel das organizaes e tentarmos identificar processos de isomorfismo

    reduzindo o papel da construo histrica do contexto organizacional a um wallpaper, sem

    relacion-lo s transformaes que eventualmente possamos perceber.

    No nos parecia adequado o uso de cenrios excessivamente reduzidos para

    compreender processos longos e de amplo espectro como os de institucionalizao e,

    portanto, o que nesse artigo nos importava era, com efeito, resgatar como conceito seminal da

    teoria institucional a noo de campo. Avanvamos, assim, teoricamente, buscando na

    prpria teoria suas possibilidades e limitaes e no optando pelo caminho mais fcil e mais

    comum de fazermos a crtica da teoria a partir de uma perspectiva externa a ela prpria.

    Como ilustrao das afirmaes que fazamos ao longo do artigo, utilizvamos os

    exemplos das organizaes e campos culturais, os quais nos dedicamos a pesquisar mais

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 473 !

    profundamente. Afirmvamos que compreender o processo de transformao de um campo de

    enorme importncia simblica uma necessidade pelo duplo papel que desempenha, na

    formao da identidade nacional e na valorizao da dimenso local e preservao de suas

    especificidades. O esforo de investigao que apresentvamos de forma condensada

    reforava esta afirmao, na medida em que as questes identitrias N histricas, polticas,

    sociais e culturais N, a dimenso e especificidades locais, mostraram marcar fortemente a

    dinmica do campo da cultura em cada uma das regies brasileiras estudadas. Entretanto,

    desvendar este processo de transformao, suas origens, suas razes e os jogos de poder que

    ele encobre, sob a perspectiva institucional passou a ser para ns, sem dvida, uma tarefa

    rdua que nos defronta com vrias limitaes explicativas-interpretativas, decorrentes,

    fundamentalmente, da limitada opo neo-institucional pela abordagem cognitiva, bem como

    pela posio de menor relevncia atribuda abordagem do poder, como ficar mais claro ao

    longo deste artigo.

    A trajetria brevemente relatada aqui explica o nosso posicionamento neste artigo e at

    mesmo a prpria deciso de o escrever. Representa uma rejeio atrao pelo conformismo,

    no-reflexivo e no-criativo, em relao a abordagens geradas em outras realidades, em

    centros de poder dominantes no jogo internacional, inclusive no acadmico. , antes de tudo,

    como ficar claro, uma reflexo fundamentada em conceitos das cincias sociais amplamente

    estudados e apreendidos na rea, sobre os quais nos posicionamos aps seis anos de

    investigao. Ora, no fazlo, no se posicionar, parece-nos, pois, no mnimo, inaceitvel.

    Desse modo, pretendemos erguer o legado deixado por pensadores brasileiros que nos

    alertaram para a necessidade da apropriao criativa de teorias e prticas na medida das

    necessidades da sociedade em que vivemos.

    2. O PR O B L E M A D E B A T ID O : A PR E O C UPA O C O M A T R AJE T RI A

    C O NSE R V A D O R A

    A dcada de 1970 identificada por diversos autores, entre os quais DiMaggio e Powell

    (2001), March e Olsen (1993) e Scott (1995), como a da retomada da teoria institucional nas

    cincias sociais. Desde ento, pesquisas em diferentes reas, como na cincia poltica, na

    economia e na sociologia, reavivaram o interesse pelas instituies como elementos

    determinantes para o entendimento da realidade social.

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 474

    No campo dos estudos organizacionais tem prevalecido o enfoque sociolgico que, ao

    valorizar propriedades simblico-normativas das estruturas, abriu novas possibilidades para a

    pesquisa emprica, especialmente por expandir a compreenso sobre dimenses do ambiente

    e, conseqentemente, sobre as relaes interorganizacionais que ali ocorrem.

    No Brasil, a teoria institucional vem sendo crescentemente adotada como base para

    estudos empricos desde o final dos anos 1980, por pesquisadores e grupos de pesquisa

    espalhados pelas diversas regies do pas. Apesar da diversidade de contextos, os estudos

    parecem confluir para a explorao do fenmeno do isomorfismo (Machado-da-Silva e

    Fonseca, 1993; Caldas e Vasconcelos, 2002; Carvalho e Goulart, 2003); para estratgias de

    legitimao utilizadas pelas organizaes de vrios setores (Machado-da-Silva e Fernandes,

    1998; 1999; Pacheco, 2001); e, com menor nfase, para processos de institucionalizao de

    campos organizacionais (Carvalho e Lopes, 2001; Leo Jnior, 2003).

    Sob orientao do chamado neo-institucionalismo alguns desses trabalhos,

    especialmente nas duas primeiras temticas, tm forte influncia da teoria cognitiva, enquanto

    outros tentam resgatar o poder como categoria importante de anlise na estruturao dos

    campos.

    A confluncia observada, embora traga contribuies importantes no entendimento dos

    conceitos centrais da teoria, comea a sinalizar uma certa acomodao, refletida na

    simplificao na operacionalizao de suas principais categorias, resultando numa relativa

    superficialidade das explicaes de fenmenos organizacionais e sociais complexos. Embora

    o visvel crescimento do nmero de trabalhos empricos sob a abordagem sugira a emergncia

    de um campo de pesquisa relativamente forte, considera-se importante que discusses tericas

    sejam tambm realizadas por pesquisadores brasileiros de modo a que se possa ocupar espao

    no campo da produo do conhecimento e no meramente de sua reproduo.

    Muito recentemente, alguns trabalhos tm procurado esse caminho, seja apresentando as

    contribuies da perspectiva institucional em suas trs vertentes (Carvalho e Vieira, 2003);

    explorando vertentes dentro da prpria abordagem neoinstitucional da corrente sociolgica

    (Andrade e Mesquita, 2003); buscando a conversao com outras abordagens (Vieira e

    Misoczky, 2003); refletindo sobre a interao paradigmtica (Misoczky, 2003); ou ainda

    alertando para as limitaes da teoria no que se refere abordagem de campos, uma de suas

    categorias centrais (Vieira e Carvalho, 2003).

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 475 !

    Este artigo contribui com a discusso terica, recuperando as origens da teoria

    institucional, nas vertentes poltica, econmica e sociolgica, situando as principais temticas

    e formas de abordagens em suas verses originais, surgidas em fins do sculo XIX,

    contrapondo-as s verses do final da dcada de 1970. Ao mapear esse percurso,

    argumentamos que ocorreu uma inflexo conservadora da teoria institucional e que isso, por

    si s, deveria representar uma preocupao da intelligentsia no Brasil.

    3. T R AJE T RI AS D A T E O RI A INST I T U C I O N A L : E V O L U O , RUPT UR A O U

    A C O M O D A O

    Est se tornando consensual, nas discusses sobre as novas tendncias tericas e de

    investigao sociolgicas, apontar a perspectiva institucional como um dos construtos

    tericos mais promissores juntamente com a perspectiva ecolgica e de redes, para explicar o

    funcionamento e evoluo da sociedade organizacional.

    Apesar da atualidade deste consenso, a teoria institucional emerge, nas cincias sociais,

    ao final do sculo XIX. Esta relativa antigidade, entretanto, longe de estabelecer uma

    evoluo linear e cumulativa revela momentos de inflexo, mostra a dinmica do campo e

    $76%1%& 0& #3#11O(320& )%& )2$;7!0$& ;%4#& @8#(#;E42#& )0& 3#8;%!O(320& 32%(!F'230>& 3#8;1%%()2)0&

    %(?70(!#& 30;032)0)%& )%& '0401& %& )%& 0621& 4%62!2808%(!%& H...LG& HP#71)2%7>& *+QRK*SSL.& T()230&

    dinmica, como alguns defendem, mas direcionada a objetivos analticos revisados.

    Uma breve reviso histrica da teoria mostra um percurso de rupturas, retomadas, tanto

    no quadro da teoria social quanto no quadro especfico das instituies. Todavia, submetida a

    questionamentos sistemticos, a teoria institucional continua sendo capaz de oferecer

    compreenses alternativas e teis para fenmenos sociais em diferentes pocas e contextos.

    A abordagem institucional, sob os adjetivos de velho ou de novo institucionalismo, tem

    sido explorada em diferentes vertentes N a poltica, a econmica e a sociolgica N, que tm,

    cada uma, oferecido subsdios para o entendimento de fenmenos sociais em seus respectivos

    mbitos do conhecimento.

    Sob a primeira, foram destacadas, originalmente em fins do sculo XIX, estruturas

    legais e formas particulares de governana, enquanto estudos da dcada de 1970 enfatizam

    questes como a autonomia das instituies polticas em face de presses sociais e polticas

    institucionais promotoras de cooperao internacional.

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 476

    A vertente econmica, em sua origem, contraps-se aos fundamentos da economia

    clssica, introduzindo a estrutura social como determinante de processos econmicos;

    suplantada pela orientao econmica ortodoxa, seu ressurgimento, tambm na dcada de

    1970, revela direcionamento para anlises microprocessuais e predominantemente endgenas.

    A orientao sociolgica traz, para o centro da anlise, as relaes organizao-

    ambiente, primeiramente focadas nas interaes informais, em relaes de poder e no

    processo constitutivo das instituies, com nfase na heterogeneidade do universo

    organizacional. Em sua retomada, em fins dos anos 1970, relaes de poder so postas em

    segundo plano e evidenciam-se requisitos de conformidade a padres institucionalmente

    legitimados, enfatizando a homogeneidade entre conjuntos de organizaes. A ampliao do

    nvel de anlise, do organizacional, para o interorganizacional e societal representa tambm

    uma modificao em relao ao perodo inicial.

    3.1 A vertente poltica da abordagem institucional

    No domnio da cincia poltica, a abordagem institucional foi dominante entre

    pesquisadores da Europa e da Amrica desde a ltima metade do sculo XIX at as primeiras

    dcadas do sculo XX. Manteve, em seus primrdios, uma relao estreita com o direito

    constitucional e a filosofia moral concedendo, por isso, ateno especial aos aspectos legais e

    ordenao administrativa das estruturas de governo (Scott, 1995).

    J. W. Burgess, Woodrow Wilson e W. W. Willoughby esto entre aqueles que deram

    ateno estrutura legal e aos arranjos administrativos caracterizadores de estruturas

    particulares de governana. Para entend-las, realizavam anlises histricas detalhadas acerca

    das origens, controvrsias e compromissos que geravam regimes especficos; desenvolviam

    tambm estudos comparativos voltados para compreender a diversidade na abordagem de

    problemas centrais por diferentes mecanismos de governana (Scott, 1995).

    Contudo, a nfase empiricista das cincias sociais nos anos 1930 favoreceu a

    emergncia de uma abordagem essencialmente comportamentalista na cincia poltica. Assim,

    as dcadas de 1940 e 1950 foram testemunhas da exploso do enfoque orientado para a

    anlise do comportamento do indivduo. Segundo Thelen e Steinmo (1992, segundo Scott,

    *++UK,L>&@;010&3#8;1%%()%1&0$&;olticas e explicar resultados polticos, os analistas deveriam

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 477 !

    enfocar, no os atributos formais das instituies governamentais seno que as distribuies

    2('#1802$&)%&;#)%1>&0$&0!2!7)%$&%&3#8;#1!08%(!#&;#4F!23#G.

    Produz-se desta forma um deslocamento do foco terico das estruturas e das normas

    para o comportamento dos indivduos, em questes como o voto, a formao de partidos

    polticos e da opinio pblica, negligenciando as estruturas institucionais do comportamento

    poltico (Scott, 1995). Esta orientao foi responsvel pela perda de importncia da

    perspectiva institucional.

    Durante a dcada de 1970 ocorre uma retomada do interesse pelas instituies que

    conformam a vida poltica, como o Poder Legislativo, as polticas estatais, o governo local ou

    as elites polticas, conforme indicam March e Olsen (1993:1-2). Para estes lderes do

    ;%($08%(!#& 2($!2!732#(042$!0& @%$!%& (#:#& 2($!2!732#(042$8#& $7A42("0& 0& 1%40!2:0& 07!#(#820&)0$&

    instituies polticas, as possibilidades de que a histria no seja eficaz e a importncia da

    0& V013"& %& W4$%(& H*++RKSL& 0'21808& ?7%& @0&

    maioria dos principais agentes nos modernos sistemas polticos e econmicos so

    organizacionais formais, e as instituies legais e burocrticas desempenham um papel

    )#82(0(!%&(0&:2)0&3#(!%8;#1X(%0G.

    A democracia poltica, por exemplo, um valor considerado universal por muitos e to

    central na anlise poltica, depende no somente das condies econmicas e sociais mas,

    tambm, da configurao das instituies polticas. Desse modo, instituies polticas como a

    Unio Europia (UE), a Organizao das Naes Unidas (ONU) ou uma Comisso

    Parlamentar de Inqurito (CPI) no so meros apndices de estruturas sociais maiores, mas

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 478

    desenvolveram vida prpria. Para os institucionalistas, estes motivos lhes outorgam o direito

    de serem considerados atores polticos com fora no cenrio poltico-social. Depreende-se

    que, para os autores supracitados, uma organizao burocrtica, uma comisso parlamentar ou

    um tribunal de apelao so mais do que cenrios para disputa de foras sociais; formam

    tambmconjuntos de procedimentos padronizados e estruturas que definem e defendem

    interesses.

    Nos seus trabalhos mais recentes, concorda Chanlat (1989), a vertente poltica da

    perspectiva institucional concentra seu interesse em questes como a autonomia relativa das

    instituies polticas ante a sociedade, a complexidade dos sistemas polticos e a centralidade

    do papel exercido pela representao e o simbolismo no universo poltico. Estas temticas tm

    formado a base de sua contribuio.

    Os smbolos, os rituais, as cerimnias, os relatos e dramatizaes na vida poltica tm

    sido capazes de oferecer anlise institucional uma coerncia interpretativa da vida poltica

    na sociedade contempornea (Meyer e Rowan, 1977; March e Olsen, 1993). Ao mesmo

    tempo cumprem, sob lgica imanente, uma funo configuradora para um mundo de formas

    instveis e volteis, e permanentemente afetado pela turbulncia social e poltica.

    Esses temas so desenvolvidos pelas duas principais tendncias do novo

    institucionalismo poltico (Powell e DiMaggio, 1991): a teoria positiva cujo foco de anlise

    so os processos de tomada de decises polticas e a relao entre estrutura e produtos ou

    resultados polticos nas instituies polticas domsticas; e a teoria dos regimes que se

    interessa pelas relaes internacionais, em particular pelas formas de cooperao internacional

    e as instituies que as promovem.

    No obstante, tanto em uma quanto em outra tendncia, a perspectiva institucionalista

    destaca a importncia da dimenso cultural, por meio da valorizao do campo simblico na

    cena poltica, e do desenvolvimento da idia de uma certa autonomia nas instituies

    polticas.

    3.2 A vertente econmica da abordagem institucional

    Na vertente econmica, a origem da teoria institucional marcada pela publicao do

    01!26#&@Y#1&?7%&0&%3#(#820&(=#&Z&780&32O(320&%:#47!2:0[G>&)%&/"#1$!%2(&\%A4en, em 1898. A

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 479 !

    tnica desse artigo foi a crtica aos pressupostos metodolgicos da economia clssica,

    fundamentalmente na concepo do homem como indivduo racionalista e da conseqente

    mxima racionalidade de suas escolhas (Seckler, 1977).

    Veblen recusava o conceito de homo economicus, considerado tradicionalmente como

    determinante para o desenvolvimento do sistema econmico. Em oposio ao paradigma

    dominante, sustentava que os costumes e as convenes determinam o comportamento

    econmico e que a ao individual influenciada pelas circunstncias e as relaes de

    (0!71%B0&2($!2!732#(04.&M$$28&@0$&(%3%$$2)0)%$&%$&)%$%]#$>&'28&%A]%!2:#>&0$&'#180$&%$&

    meios, a amplitude e o desgnio da conduta do indivduo so funes de uma varivel

    institucional d%&301^!%1&A0$!0(!%&3#8;4%_#&%&3#8;4%!08%(!%&2($!^:%4G&HI#)6$#(>&*++JK*+L.

    O aspecto complexo e instvel assinalado por Veblen constituiu a razo do objetivo

    terico que perseguia: a anlise do processo de mudana, de transformao e de inovao no

    sistema econmico. Neste argumento encontrava-se seu principal confronto com o

    pensamento clssico que se preocupava com as condies de equilbrio e sobrevivncia do

    $2$!%80.&M&?7%$!=#&;010&\%A4%(&(=#&1%$2)20&%8&@3#8#&0$&3#2$0$&$%&%$!0A242B08&(78&D%?724FA12#&

    est!23#5>&$%(=#&3#8#&31%$3%8&%&$%&8#)2'2308&2(!%182(0:%48%(!%G&HI#)6$#(>&*++JKSSL.

    Sob influncia da escola histrica alem, cujo movimento, denominado historismus teve

    seu auge em 1900, o institucionalismo inseriu, no pensamento econmico norte-americano, o

    mtodo indutivo em contraposio ao carter eminentemente abstrato e dedutivo da poca

    (Seckler, 1977). Assim, os primeiros institucionalistas defendiam que o processo econmico

    incerto e ocorre na estrutura social, moldado por foras culturais e histricas (Scott, 1995).

    John R. Commons e Wesley C. Mitchell formaram, com Thorstein Veblen, a base

    intelectual sobre a qual o institucionalismo econmico floresceu nas primeiras dcadas do

    sculo XX. Apesar das diferenas entre eles, os trs compartilhavam a precedncia dos dados

    empricos, o foco em problemas prticos especficos e a crtica economia como um conjunto

    de leis universais. Deram, igualmente, nfase mudana permanente da economia, em

    oposio idia dominante do equilbrio econmico (Scott, 1995). O institucionalismo surgia,

    assim, como o estudo dos processos dinmicos e da evoluo cultural, negando-se a ser uma

    teoria econmica da eficincia esttica e do equilbrio de mercado.

    Embora tenha dominado o pensamento econmico norte-americano, especialmente

    durante o perodo entre as duas grandes guerras mundiais, a teoria institucional perdeu espao

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 480

    para a escola econmica neoclssica, segundo Hodgson (1994) em parte por ter-se afastado da

    busca de consolidao terica e conceitual.

    Apesar da audcia de sua proposta terica diante do paradigma dominante, o impacto da

    velha teoria institucional foi mnimo e a causa principal, de fato, foi a crescente tendncia

    empiricista que degenerou sua produo terica para uma acumulao de dados cada vez mais

    distante do fio condutor de uma teoria. A excessiva ateno ao empirismo terminou por

    caracterizar os estudos institucionalistas como ingnuos e teoricamente frgeis e seus

    ;%$?72$0)#1%$&3#8#&@3#4%32#(0)#1%$&)%&)0)#$&;#1&%_3%4O(320G&HI#)6$#(>&*++JKS*L.

    Como sublinham Basl e co-07!#1%$&H*++RKJ`JL>&@4F)%1&)#$&2($!2!732#(042$!0$&08%1230(#$&

    [Veblen], no consegue apresentar uma teoria concorrente economia neoclssica. Por isso,

    apesar da pertinncia de numerosas crticas institucionalistas orientadas ortodoxia, o

    8#:28%(!#&'23#7&'1^624&%&2$#40)#G.

    A orientao particularista, localista e histrica, mrito no seu perodo de formao,

    levou os seguidores de Veblen, na opinio de Scott (1995), a negligenciar a natureza e a

    funo de instituies polticas e econmicas em nveis mais amplos. Assim, apesar da

    contundncia das crticas produzidas no perodo inicial, do esforo para se apresentar como

    contraponto e alternativa ao pensamento liberal, a anlise institucional da economia acabou

    por ser engolida pela anlise econmica ortodoxa, isolando o processo econmico das demais

    instituies sociais e polticas, ou seja, da prpria estrutura social.

    O ressurgimento da anlise institucional na economia, por volta da dcada de 1970, no

    veio isento de influncias do vitorioso N porque hegemnico N pensamento neoclssico,

    como se observa nos trabalhos de Williamson (1994, 1995) e de North (1990, 1993, 1996),

    dois dos principais representantes do que veio a ser chamado novo institucionalismo

    econmico.

    Agora o foco da interpretao institucional se deslocou para a observao das conexes

    entre os custos de transao e a teoria das organizaes, analisando as relaes econmicas

    que ocorrem no universo organizacional. Seus questionamentos teoria neoclssica limitam-

    se ao aspecto do equilbrio perfeito do mercado. Consideram que h falhas nos mecanismos

    de mercado, mas que as organizaes so capazes de usar instrumentos para se resguardar das

    incertezas, como instrumentos contratuais e mecanismos de governana.

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 481 !

    Nesta perspectiva, o modelo de anlise compreende trs partes principais: o ambiente

    institucional, a governana representada pelas organizaes e o indivduo como ator racional.

    O conjunto de regras do ambiente institucional estabelece as bases para a produo, o

    intercmbio e a distribuio, moldando formas contratuais. A governana se apia na

    definio de arranjos institucionais entre unidades econmicas e se refere forma como essas

    unidades cooperam ou competem. As dimenses crticas do indivduo so comportamentais e

    se referem racionalidade limitada e ao oportunismo. Para a teoria dos custos de transao a

    principal preocupao a governana das relaes contratuais e, sua unidade de anlise, a

    transao (Williamson, 1995).

    Alegando que essa unidade de anlise, no novo institucionalismo, recupera a viso

    presente nos trabalhos de Commons, um dos pioneiros da teoria institucional, Williamson

    (1994) defende os atributos microanalticos dos custos de transao. Ao faz-lo, revela a

    influncia de Coase (1993), cujo foco na natureza da firma enfatiza relaes de mercado e

    evidencia a preponderncia de elementos sincrnicos na anlise, ao contrrio do carter

    diacrnico dos estudos sob a gide do velho institucionalismo.

    Os enunciados de Williamson, e de modo geral a economia neo-institucional, sugerem

    que sua ateno est quase totalmente dedicada s instituies econmicas no nvel das

    empresas. Nas dimenses microanalticas da economia buscam compreender a relao entre

    os diferentes nveis de eficcia e a economia de custos de transao das distintas formas de

    governo (Scott, 1995; Williamson e Winter, 1993).

    O enfoque adotado por este novo institucionalismo no tem, como afirma Reis (1995:6),

    @(0)0& 0& :%1& 3#8& #& :%4"#& 2($!2!732#(042$8#& 08%1230(#& 8242!0(!%8%(!% estribado numa

    2)%(!2)0)%&)%&1%$2$!O(320&0#&;%($08%(!#&(%#34^$$23#G.&a%'4%!2()#&(%$!0&8%$80&)21%&b28#(&

    (1991) suspeita que a nova economia institucional est conseguindo compatibilizar-se com o

    paradigma neoclssico e utiliza, para isso, conceitos introduzidos na anlise de forma casual e

    sem nenhum suporte emprico, ainda que ditos instrumentos sejam necessrios para a sua

    construo terica.

    Por sua vez, North (1996:1) percebe, no novo institucionalismo econmico, elementos

    para apresentar o que considera modificaes na teoria econmica neoclssica, sob a

    2($;210

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 482

    dinamismo dos tempos atuais. Para superar os pressupostos irreais da teoria neoclssica, quais

    sejam a concepo de mundo esttico e livre de frices, prope reelaborar a noo de

    racionalidade e incorporar a dimenso temporal nas anlises do desenvolvimento econmico

    das sociedades atuais. Sua reelaborao da noo de racionalidade implica assumir que idias,

    dogmas e ideologias influenciam o processo decisrio racional. Assim, as decises so

    tomadas ante a incertezas que caracterizam as escolhas polticas e econmicas. Por isso, a

    anlise deve incorporar o sistema de crenas dos atores envolvidos, mediado pela

    aprendizagem humana e, conseqentemente, pelo tempo histrico.

    O autor entende aprendizagem humana como um processo cumulativo, baseado tanto

    nas experincias passadas, incorporadas na coletividade, como nas experincias correntes dos

    indivduos. Sob essa perspectiva, a racionalidade assume carter coletivo e cultural sem, no

    entanto, abandonar a noo do comportamento oportunista, tambm presente em Williamson

    (1995) e a centralidade dos custos de transao.

    No obstante, da mesma forma que nos trabalhos de Williamson (1995), nos estudos de

    North as instituies suprem as falhas de mercado, baixam os custos de transao e tornam

    eficientes o sistema econmico e poltico. O apego de North (1993, 1996) eficincia do

    mercado e natureza cultural do processo econmico pode ser demonstrado por dois

    elementos centrais em sua obra: o direito de propriedade e a dependncia do percurso4.

    Em termos gerais, o direito de propriedade, de clara inspirao liberal, define as regras

    do jogo. Essas regras, ao assegurar direitos, tornam possvel o estabelecimento de uma matriz

    2($!2!732#(04& %'232%(!%>& @30;0B& )e estimular um agente ou organizao a investir numa

    0!2:2)0)%& 2()2:2)704& ?7%& !1060& 1%!#1(#$& $#3202$& $7;%12#1%$& 0$%7$& 37$!#$& $#3202$G& He040>&

    2003:97). Nesta centralidade est exposta a permanncia do individualismo que constitui a

    ontologia da tradio neoclssica, uma vez que so os agentes individuais (econmicos ou

    polticos) que respondem pela consolidao e/ou transformao das instituies (Cruz, 2003).

    Como indicam alguns crticos da obra de North, como Gala (2003) e Cruz (2003), suas

    anlises migraram da preocupao histrica e essencialmente emprica para preocupaes

    tericas. Entretanto, ao faz-lo, no s incorporaram elementos do pensamento econmico

    neoclssico tais como a ontologia individualista e a endogenia das respectivas estruturas

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!4 Path dependence, no original.

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 483 !

    institucionais, em sistemas nacionais vistos como entidades discretas, como abdicaram de

    tentar erigir um paradigma alternativo ao pensamento econmico dominante.

    A proposio de uma ao racional modificada e a forma de abordar o equilbrio do

    mercado, presentes nos trabalhos de Williamson (1995) e North (1990, 1993, 1996), terminam

    por vincular o novo institucionalismo econmico ao pensamento que pretendia criticar. Ou,

    3#8#&0'2180&I#)6$#(&H*++JK*J+L>&@#&"#8%8&%3#(d823#&"0A2!0&06#10&0$&2($!2!72&

    mas 02()0&3043740&%&80_282B0&8%4"#1&?7%&;#)%G.&

    A predominncia de categorias microanalticas de anlise, como a transao, e o

    isolamento de categorias, como matriz institucional, vinculam o escopo terico do novo

    institucionalismo econmico ao pensamento neoclssico e incorporam o carter parcimonioso

    atribudo por Hirschman (1998) economia ortodoxa.

    3.3 A vertente sociolgica da abordagem institucional

    Como as outras duas vertentes, tambm o institucionalismo sociolgico recebe os

    qualificativos velho e novo. Embora ambos estejam assentados na tradio sociolgica de

    Durkheim e Weber (Carvalho e Vieira, 2003), o velho institucionalismo atribua pouca

    ateno s organizaes (Scott, 1995). A nfase dos estudos recaa sobre as macroestruturas

    institucionais e constitucionais, sistemas polticos, linguagem e sistema legal, deixando as

    organizaes margem das formas institucionais.

    Segundo Scott (1995) so os tericos dos anos 1950 e 1960 que comeam a reconhecer

    a importncia de coletividades particulares N as organizaes N como unidades significantes

    no universo social. Distintas tanto das amplas instituies sociais quanto do comportamento

    individual, as organizaes so percebidas como elos potenciais de conexo entre os

    indivduos e o mundo social. Assim sendo, os estudos organizacionais passam a exigir novos

    aportes que no aqueles voltados exclusivamente para os aspectos internos s unidades de

    produo.

    A partir daqueles anos no apenas as organizaes se tornam mais complexas

    (surgimento das grandes corporaes, fuses, internacionalizao, organizaes deservios

    etc.) mas tambm a sociedade passa por profundas transformaes polticas, sociais, culturais.

    tambm esse o perodo de fortalecimento da teoria das organizaes, fruto do que Motta

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 484

    (20-*K:L&30103!%12B0&3#8#&@780&87!0

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 485 !

    3#8#&@#&;1#3%$$#&;%4#&?704&;1#3%$$#$&$#3202$>A1260

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 486

    o caso do setor educacional; para outros, h um equilbrio relativo entre requisitos tcnicos e

    institucionais, como no caso das organizaes bancrias; em outros, como o setor

    manufatureiro, a preponderncia de requisitos tcnicos amplamente determinante de suas

    estruturas e processos (Scott e Meyer, 1992).

    A teoria institucional aponta para um relativo determinismo ambiental, especialmente

    quando so enfatizados os elementos reguladores e normativos das instituies. Assim

    explicada a homogeneidade de formas organizativas em um dado campo, ainda que as

    organizaes componentes estejam situadas em localidades distantes entre si, ou apresentem

    diferenas no que se refere idade, tamanho e complexidade (Machado-da-Silva, 1991).

    maior sensibilidade aos elementos regulativos corresponde uma base legal, ou seja, as

    organizaes se legitimam mediante a conformao a leis estabelecidas em seu mbito de

    atuao. Esses elementos provem predominantemente do Estado. A nfase normativa indica

    uma base essencialmente moral e a legitimidade organizacional definida em termos de sua

    adeso a normas definidas como padres de comportamento. As fontes dessas normas so,

    preferencialmente, as profisses e seus mecanismos de controle.

    No entanto, quando a nfase recai sobre os elementos cognitivos, valoriza-se, na teoria

    2($!2!732#(04>& 0& @1%;1%$%(!0

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 487 !

    dependncia, poder e polticas e, conseqentemente, a capacidade das organizaes em lidar

    com estes elementos.

    Considerando a ampliao dos tipos de transaes entre as organizaes e o

    reconhecimento de que as aes organizacionais so definidas com base na interpretao e

    significados atribudos pelos indivduos realidade em que se acham inseridos, Machado-da-

    Silva e Fonseca (1996) propem a classificao do contexto de referncia nos nveis local,

    regional, nacional e internacional. O escalonamento em nveis no estanque, afirmam, mas

    indica a predominncia da origem de elementos (pessoas, grupos, organizaes, condies

    sociais, polticas, culturais e tcnicas) com os quais a organizao troca materiais, energia e

    informao e que constitui seu espao de legitimao. Essa classificao oferece suporte para

    0&;#$$2A242)0)%&@)0$(2B0

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 488

    interfere no delineamento das estratgias de ao, selecionando itens relevantes para situaes

    particulares. Este argumento explicaria por que fenmenos que ocorrem em nvel

    macrossocietal e, teoricamente, afetam igualmente todas as organizaes, tm diferentes

    interpretaes e, conseqentemente, induzem diferentes posicionamentos organizacionais.

    Percebe-se que a vertente sociolgica da teoria institucional nos estudos organizacionais

    recuperou formalmente elementos metodolgicos do velho institucionalismo econmico,

    especialmente ao enfatizar o foco emprico particularista e diacrnico. Para Scott (1995:2)

    %$$%& @;01%(!%$3#& 2(!%4%3!704G& 3#(!2(70& ;1%$%(!%>& 02()0& ?7%& #& (#:#& 2($!2!732#(042$8#&

    sociolgico guarde diferenas com seu antecessor da mesma vertente, conforme apontam

    diversos autores, entre os quais DiMaggio e Powell (2001), Selznick (1996) e Vieira e

    Misoczky (2003).

    Aproximaes e distanciamentos marcam o ressurgimento do institucionalismo

    sociolgico nos estudos organizacionais no final da dcada de 1970, principalmente com a

    publicao dos trabalhos de Meyer e Rowan (DiMaggio e Powell, 2001; Scott, 1995). A

    relevncia das relaes entre organizaes e ambiente bem como em suas dimenses; a

    revelao de aspectos da realidade organizacional inconsistentes com as explicaes formais;

    e a crtica aos modelos baseados na ao racional so os principais pontos de aproximaes e

    distanciamentos. Nesse movimento, pode-se perceber ora uma expanso analtica do novo

    institucionalismo, produzida sobre insights da verso anterior, ora distanciamento das

    concepes originais da teoria.

    Conforme mostram DiMaggio e Powell (2001), o ambiente, no velho institucionalismo,

    estava circunscrito a uma base local, onde as interaes organizacionais ou individuais

    ocorriam frente a frente e o recurso cooptao constitua estratgia significativa de controle

    de variveis ambientais. Como demonstra Selznick (1972), a instilao dos valores era tarefa

    por excelncia da liderana institucional que os absorvia e selecionava na interao direta

    estabelecida territorialmente. No novo institucionalismo, o ambiente abandona a noo de

    territorialidade e volta-se para setores, reas, indstria, campo. Os valores so compartilhados

    nessas dimenses e penetram as organizaes, independentemente de avaliaes morais ou

    racionais.

    A inconsistncia entre a realidade organizacional e as explicaes formais era

    procurada, no velho institucionalismo, nas interaes informais, em padres de influncia, nas

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 489 !

    coalizes predominantemente internas, refletidas na conformao das estruturas s funes. O

    novo institucionalismo, sem desprezar as interaes informais, destaca a irracionalidade na

    prpria estrutura formal.

    Em ambas as verses, a institucionalizao limita a racionalidade organizativa; o que

    difere uma da outra so as fontes dessa limitao. No velho institucionalismo, os limites eram

    determinados por grupos de presso internos organizao cujas alianas e intercmbios

    asseguravam formas estruturais correspondentes a seus interesses. Para os tericos do novo

    institucionalismo as formas estruturais refletem a busca de estabilidade e de legitimidade em

    face do ambiente.

    Assim, o carter especfico e a competncia distinta, categorias centrais na anlise de

    Selznick (1972), enfatizam diversidade e mudana organizacionais; j a legitimidade e o

    isomorfismo, bases das formulaes de Meyer e Rowan (1977), destacam a homogeneidade e

    a persistncia de formas organizacionais. A tambm se revela a natureza poltica do velho

    institucionalismo por meio da centralidade do poder no processo de institucionalizao e a

    neutralidade do mesmo processo na nova verso (Vieira e Misoczky, 2003).

    A conformao substitui a mudana e a reproduo assume o lugar da transformao. A

    homogeneidade sobrepe-se heterogeneidade, o global ao local, a adaptao diversidade.

    Nas afirmaes de Selznick (1996) e de DiMaggio e Powell (2001) sobre o velho e o novo

    institucionalismo sociolgico percebem-se os esforos em mostrar que os distanciamentos no

    implicam ruptura, mas merecem ateno. No obstante, palpvel a inflexo conservadora do

    (#:#&2($!2!732#(042$8#>&$%7&0A)2301&C&!10)2

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 490

    4. C O N C L US ES

    Como foi expresso na introduo, este artigo surgiu da necessidade sentida por seus

    autores de realizarem uma reflexo acerca da perspectiva institucional que, tanto eles quanto

    muitos autores no Brasil parecem estar usando sem prvia ponderao das razes ontolgicas

    que lhes deram origem e sem avaliar as transformaes ocorridas na passagem da velha para a

    nova verso. Entretanto as interpretaes e argumentaes exploradas no artigo no esgotam

    este propsito; pelo contrrio, expem a necessidade de no abandonar este esforo que se

    inicia porque, por meio dele, poder-se-o alcanar dois importantes objetivos: fortalecer a

    teoria por meio da articulao conceitual e da compreenso das bases ontolgicas que lhe do

    forma e, com mais propriedade, refletir sobre sua pertinncia para analisar especificidades da

    realidade organizacional e social brasileiras.

    A perspectiva neo-institucional prope, ao tratar da relao da organizao com seu

    ambiente, uma adequao aos requisitos ambientais pois estes so depositrios de padres de

    legitimidade e essa , para as organizaes, uma oportunidade para assegurar reconhecimento

    social, incrementar sua rede de relacionamentos com a sociedade e, tambm, reduzir riscos

    em perodos turbulentos e de incertezas (Meyer e Rowan, 1977). A conformidade, segundo os

    autores (amplamente citados na produo acadmica nacional) aumenta as possibilidades de

    sobrevivncia das organizaes N atendendo a alguns requisitos da teoria N inclusive em

    maior grau do que a eficcia ou o desempenho nos procedimentos tcnicos.

    A questo que emerge destas afirmaes a subliminar apologia subalternidade

    #160(2B032#(04& ?7%& $%&80(2'%$!0& %8& %_;1%$$f%$& 3#8#& @0)%?70& @;0)1f%$G>& @0$$%67101G>&

    @1%)7B21& 12$3#$G& %& @3#('#182)0)%G.&M& ;1#;#$!0& Z>& ;#1!0(!#>& #& 0]7$!%& 0#& ?7%& %$!^ dado pelas

    '#1

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 491 !

    O velho institucionalismo de Veblen e Selznick, depositrio do intuito de alternativa ao

    paradigma dominante, tratava das bases institucionais locais, construdas por atores

    individuais e organizacionais na interao imediata com seu ambiente, sobre o qual detinham

    algum controle.

    Fazendo uso de estratgias xadrezistas, a nova verso da teoria institucional antecipa a

    defesa ao buscar refgio no territrio pantanoso da dimenso cognitiva. Defende-se assim da

    manifesta conformidade ao contexto institucional, argumentando que dele no deriva nem

    imobilismo social nem homogeneidade plena pois as condies ambientais e os movimentos

    de adequao organizacionais so mediados pelas interpretaes dos indivduos e das prprias

    organizaes. Surge desta feita, no mbito do neo-institucionalismo, a noo de esquemas

    interpretativos que d margem a maior ou menor adequao a um ou outro nvel do ambiente

    organizacional.

    A argumentao visa enfrentar questionamentos e potenciais crticas sua preferncia

    pela abordagem da conformidade, mas o faz enveredando pela dimenso cognitiva, indo

    buscar no nvel de anlise individual a diversidade de que carece. Assim, a diversidade, o

    poder de mudar e de enveredar por caminhos no ditados, est garantida pelos esquemas

    interpretativos dos indivduos e pela ao deles derivados.

    Sob o domnio do foco na homogeneidade estrutural e processual, a perspectiva

    institucional tem dificuldades em desenvolver ferramentas conceituais que expliquem as

    razes para o surgimento de um novo cenrio (o surgimento de um novo campo de arranjo de

    poder diferente de um arranjo anterior), sob novas configuraes de poder, e as razes para as

    alteraes de fora ou as mudanas nos interesses e valores dos grupos. A forma de o fazer

    priorizar a dimenso simblica e a imperiosa necessidade das organizaes em obter

    legitimidade.

    Essas consideraes, aliadas quelas delineadas ao longo do texto, so a evidncia da

    inquietude dos autores que, h anos, se debruam sobre a interpretao institucional da

    realidade organizacional e, luz de seus conceitos, investigam as especificidades das

    organizaes brasileiras. Este , alis, o segundo motivo do esforo aqui realizado pois,

    cabvel pensar que, a uma realidade emergente em termos econmicos mas tambm polticos

    como o Brasil no cenrio internacional, no interessante pautar as anlises na adequao

    ao que supradeterminado e na subordinao aos ditames do ambiente. Ser esta nova verso

    da teoria, gerada no centro geopoltico do mundo atual, talhada medida para a periferia?

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 492

    Esta uma inquietao que nenhuma pretensa neutralidade cientfica poder impedir que

    estes e outros pesquisadores brasileiros sintam e reflitam a respeito. Neste ponto voltamos a

    $%(!218#(#$&%8&$2(!#(20&3#8&b02)& HS--UKS,L&?70()#&)%'%()%&@?7%&?7%& 2(!%4%3!704&8%(#$&

    deveria fazer atuar para que seu pblico se sinta bem: o importante causar embarao, ser

    )#&3#(!10&%&0!Z&8%$8#&)%$0610)^:%4G.

    tambm importante salientar aqui que nossa perspectiva e viso de mundo no

    abdicam da anlise do mundo como ele . Entretanto, faz-lo simplesmente no suficiente.

    l%$31%:%1&0&1%042)0)%&@3#8#&%40&ZG&Z&)%$31%:O-la de forma parcial. Estadiscusso remonta a

    Hegel, Marx e aos tericos da chamada teoria crtica, nomeadamente a primeira e a segunda

    gerao da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas). Tambm no se

    trata de pura prescrio. Referimo-nos a uma questo de ordem epistemolgica e ontolgica

    que entende que s pos$F:%4&%(!%()%1&87()#&@3#8#&%4%&ZG&0&;01!21&)%&780&:2$=#&$#A1%&

    3#8#&%4%&@;#)%120&$%1G&H)%&8%4"#1mL.&M&31F!230&0;#(!0&;010&0&;1^!230.

    Essas questes revelam a importncia e a necessidade de reflexes deste tipo que so

    necessrias e certamente tero, entre os pesquisadores brasileiros, suporte intelectual capaz de

    sustentar o esforo de fortalecimento da teoria articulado a uma apropriao criativa de seu

    contedo. Assim, ao tempo em que nos coloca em sintonia com o campo cientfico, este sim,

    sem fronteiras, contribui para a preservao de nossa identidade cultural, mediante a

    capacidade interpretativa de nossa prpria realidade.

    R E F E R N C I AS

    ANDRADE, Jackeline Amantino de; MESQUITA, Zil. A certificao de produtos orgnicos e seu processo de institucionalizao no Brasil. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 27., Atibaia, 2003. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2003. BASL, M. et al. Histoire des penss economiques: les contemporains. Paris: Sirey, 1993. BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construo social da realidade : tratado de sociologia do conhecimento. Petrpolis: Vozes, 1978. BOURDIEU, Pierre. O campo cientfico. In: NNN. Pier re Bourdieu : sociologia. So Paulo: tica, 1983.

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

    Iaisa Helena Magalhaes

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 493 !

    CALDAS, Miguel Pinto; VASCONCELOS, Flvio Carvalho de. Ceremonial behavior in organizational intervention: the case of ISO 9000 diffusion in Brazil. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 26., Salvador, 2002. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2002. CARVALHO, Cristina Amlia; GOULART, Sueli. Formalismo no processo de institucionalizao das bibliotecas universitrias. Revista de Administrao Pblica, Rio de Janeiro, v. 37, n. 4, p. 921-938, jul./ago. 2003. NNN; LOPES, Fernando Dias. Convergncia estrutural e processual entre teatros e museus no Rio Grande do Sul. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 25., Campinas, 2001. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2001. NNN; VIEIRA, Marcelo Milano Falco. Contribuies da perspectiva institucional para a anlise das organizaes: possibilidades tericas, empricas e de aplicao. In: NNN; NNN (Orgs.). O rganizaes, cultura e desenvolvimento local : a agenda de pesquisa do Observatrio da Realidade Organizacional. Recife: Edufepe, 2003. NNN; NNN; LOPES, Fernando Dias. Contribuies da perspectiva institucional para anlise das organizaes. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 23., Foz do Iguau, 1999. Anais... Porto Alegre: Anpad, 1999. jIMnoM/>& c.& p.& o50(049$%& $#32#4#62?7%& )%$& #160(2B0!2#($K& 7(& 1%601)& $71& 40& ;1#)73!2#(&

    anglo-saxonne contemporaine (1970-1988). Sociologie du T ravail, n. 3, 1989. COASE, R. H. The nature of the firm. In: WILLIAMSON, Oliver E.; WINTER, S. G. The nature of the firm: origins, evolution and development. New York: Oxford University, 1993. CRUZ, Sebastio C. Velasco e. Teoria e histria: notas crticas sobre o tema da mudana institucional em Douglass North. Revista de Economia Poltica, v. 23, n. 2, p. 106-122, abr./jun. 2003. DIMAGGIO, Paul J. The iron cage revisited : institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. In: POWELL, Walter W.; DIMAGGIO, Paul J. (Eds.). The new institutionalism in organizations analysis. Chicago: The University of Chicago, 1991. NNN; POWELL, Walter W. Introduccin. In: POWELL, Walter W.; DIMAGGIO, Paul J. (Eds.). E l nuevo institucionalismo en el anlisis organizacional . Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 2001. GALA, Paulo. A teoria institucional de Douglass North. Revista de Economia Poltica, v. 23, n. 2, p. 89-105, abr./jun. 2003. HIRSCHMAN, Albert O. Against parsimony: three ways of complicating some categories of economic discourse. In: PRYCHITKO, D. Why economists disagree: an introduction to the alternative schools of thought. Albany: State University of New York, 1998. HODGSON, Geoffrey M. Economia e instituies: manifesto por uma economia institucionalista moderna. Oeiras: Celta, 1994.

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 494

    LEO JNIOR, Fernando Pontual de Souza. Museus na regio metropolitana do Recife: das heranas do passado construo do futuro. In: CARVALHO, Cristina Amlia Pereira de; VIEIRA, Marcelo Milano Falco (Orgs.). O rganizaes, cultura e desenvolvimento local : a agenda de pesquisa do Observatrio da Realidade Organizacional. Recife: Edufepe, 2003. MACHADO-DA-SILVA, Clvis. Modelos burocrtico e poltico e estrutura organizacional de universidades. In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Curso de Ps-Graduao em Administrao. Temas de administrao universitria. Florianpolis: CPGA, 1991. NNN; FERNANDES, Bruno H. Rocha. Mudana ambiental e reorientao estratgica: estudo de caso em instituio bancria. Revista de Administrao de Empresas, v. 38, n. 4, p. 46-56, out./dez. 1998. NNN; NNN. O impacto da internacionalizao nos esquemas interpretativos dos dirigentes do Banco Bamerindus. Revista de Administrao de Empresas, So Paulo, v. 39, n. 1, p. 14-24, jan./ mar. 1999. NNN; FONSECA, Valria Silva da. Homogeneizao e diversidade organizacional: uma viso integrativa. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 17., Salvador, 1993. Anais... Salvador: Anpad, 1993. NNN; NNN. Competitividade organizacional: uma tentativa de reconstruo analtica. O rganizaes & Sociedade, Salvador, v. 4, n. 7, p. 97-114, dez. 1996. MARCH, James G.; OLSEN, Johan P. El nuevo institucionalismo: factores organizativos de la vida poltica. Zona Abierta, Madrid, n. 63/64, p. 1-43, 1993. MEYER, J. W. The effects of education as an institution. American Journal of Sociology, v. 83, n. 2, p. 53-77, 1977. NNN; ROWAN, B. Institutionalized organizations: formal structure as myths and ceremony. American Journal of Sociology, v. 83, n. 2, p. 340-363, 1977. MISOCZKY, Maria Ceci. Poder e institucionalismo: uma reflexo crtica sobre as possibilidades de interao paradigmtica. In: VIEIRA, Marcelo Milano Falco; CARVALHO, Cristina Amlia (Orgs.). O rganizaes, instituies e poder no Brasil . Rio de Janeiro: FGV, 2003. MOTTA, Fernando C. Prestes. Teoria das organizaes: evoluo e crtica. 2. ed. rev. e ampl. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance . Cambridge: Cambridge University, 1990.

  • Carvalho, C . A.; Vieira, M. F . V. ; Goulart, S.

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p.469 ! 496, dez. 2012 495 !

    NNN. The new institutional economics and development. St. Louis: Washington University, 1993. Disponvel em: . Acesso em 13 mar. 2004. NNN. Institutions, organizations and market competition . St. Louis: Washington University, 1996. Disponvel em: . Acesso em 13 mar. 2004. PACHECO, Flvia Lopes. O ambiente institucional como agente de mudana organizacional: o caso do Teatro Apolo-Hermilo. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 25., Campinas, 2001. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2001. PERROW, Charles. The institutional school. In: NNN. Complex organizations: a critical essay. 3. ed. New York: McGraw-Hill, 1986. POWELL, Walter W.; DIMAGGIO, Paul J. (Eds.) The new institutionalism in organizational analysis. Chicago: University of Chicago, 1991. REIS, J. O Estado e a economia numa poca de globalizao. In: ENCUENTRO INTERNACIONAL DE CULTURA ECONMICA: LA ECONOMIA REGIONAL EN EL NUEVO ORDEN INTERNACIONAL, Crdoba, 1995. Diputacin Provincial de Crdoba, 16 nov. 1995. SAID, Edward W. Representaes do intelectual. As conferncias Reith de 1993. Traduo Milton Hatoum. So Paulo: Cia. das Letras, 2005. SCOTT, W. Richard. The adolescence of institutional theory. Administrative Science Quarterly, v. 32, n. 4, p. 493-511, 1987. NNN. Institutions and organizations. Thousand Oaks: Sage, 1995. NNN; MEYER, John W. The organization of societal sectors. In: NNN; NNN (Eds.). O rganizational environments: ritual and rationality. Newbury Park: Sage, 1992. SECKLER, David. Thorstein Veblen y el institucionalismo: un estudio de la filosofa social de la economa. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1977. SELZNICK, Philip. A liderana na administrao: uma interpretao sociolgica. Rio de Janeiro: FGV, 1972. NNN.&T($!2!7!2#(042$8&@#4)G&0()&@(%iG.&Administrative Science Quarterly, v. 41, n. 2, p. 270-277, 1996. SIMON, H. Organizations and markets. Journal of Economics Perspectives, v. 5, n. 2, p. 25-44, Spring 1991. VIEIRA, Marcelo Milano Falco; CARVALHO, Cristina Amlia. Campos organizacionais: de wallpaper construo histrica do contexto de organizaes culturais em Porto Alegre e

  • A trajetria conservadora da teoria institucional . !

    !

    GESTO .Org ! Vol. 10, No.especial, p. 469 ! 496, dez. 2012 496

    Recife. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 27., Atibaia, 2003. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2003. NNN; MISOCZKY, Maria Ceci. Instituies e poder: explorando a possibilidade de transferncias conceituais. In: CARVALHO, Cristina Amlia Pereira de; VIEIRA, Marcelo Milano Falco (Orgs.). O rganizaes, cultura e desenvolvimento local : a agenda de pesquisa do Observatrio da Realidade Organizacional. Recife: Edufepe, 2003. WILLIAMSON, Oliver E. The economics and sociology of organization: promoting a dialogue. In: FARKAS, George; ENGLAND, Paula (Eds.). Industries, firms, and jobs: sociological and economic approaches. New York: Aldine de Gruyter, 1994. NNN. Transaction cost economics and organization theory. In: WILLIAMSON, Oliver E. (Ed.). O rganization theory: from Chester Barnard to the present and beyond. New York: Oxford University, 1995. NNN; WINTER, S. G. (Eds.). The nature of the firm: origins, evolution and development. New York: Oxford, 1993.