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Todos os direitos reservados. Copyright © 2018 para a língua portuguesa daCasa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho deDoutrina. Preparação dos originais: Daniele PereiraCapa: Flamir AmbrósioProjeto gráfico e editoração: Elisangela SantosProdução de ePub: Cumbuca Studio CDD: 240 – Moral cristã e teologia devocionalISBN: 978-85-263-1564-8ISBN digital: 978-85-263-1575-4 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida,edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimoslançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de DeusAv. Brasil, 34.401, Bangu, Rio de Janeiro – RJCEP 21.852-002 1ª edição: 2018

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Sumário

1. O que É Ética Cristã

2. Ética Cristã e Ideologia de Gênero

3. Ética Cristã e Direitos Humanos

4. Ética Cristã e Aborto

5. Ética Cristã, Pena de Morte e Eutanásia

6. Ética cristã e suicídio

7. Ética Cristã e Doação de Órgãos

8. Ética Cristã e Sexualidade

9. Ética Cristã e Planejamento Familiar

10. Ética cristã e vida financeira

11. Ética Cristã, Vícios e Jogos

12. Ética Cristã e Política

13. Ética cristã e redes sociais

Referências

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Capítulo 1

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H

O que É ética cristã

istoricamente, o conceito de ética surgiu na Grécia antiga, período quecoincide com o século IV a.C. Na prática, a ética sempre fez parte do

dia a dia da humanidade. Quando os códigos ainda não estavam escritos epositivados, a própria consciência estabelecia a ética a ser observada (Rm2.14,15). As Sagradas Escrituras contêm os fundamentos da ética para asociedade humana. No Antigo Testamento, Deus revelou instruções éticasespecíficas. Nos Evangelhos, encontramos os ensinamentos éticos de Jesus.Nas epístolas neotestamentárias, o tema está amplamente registrado.

I. O CONCEITO DE ÉTICA CRISTÃO filósofo e educador Cortella (1954-) apresenta uma definição para ética queem muito se assemelha com os textos bíblicos:

Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a trêsgrandes questões da vida: 1. quero? 2. devo? e 3. posso? Nem tudo que euquero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devoeu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é aomesmo tempo o que você pode e o que você deve. (CORTELLA, 2014) De fato, de maneira simples e genérica, a ética cristã está relacionada às

respostas de tais questões. O apóstolo Paulo, de certo modo, ensina a práticada ética, sob esses aspectos: o que quero, devo e posso. Ele afirma que tudo élícito, mas que nem tudo convêm e nem tudo edifica, portanto, o cristão nãopode e nem deve se deixar dominar por aquilo que foge da ética cristã (1 Co

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6.12).

1. Definição GeralA palavra “ética” possui origem no vocábulo grego ethos, que literalmentesignifica “costumes” ou “hábitos”. No latim, é usado o termo correspondentemos (moral) com o sentido de “normas” ou “regras”. Assim, “ética e moralreferem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que,como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seusmembros” (CHAUÍ, 1995, p. 340). Como esses termos, “ética” e “moral”,são muito próximos, eles são muitas vezes confundidos e usados comosinônimos. No entanto, para fins didáticos e acadêmicos, é possível defini-losseparadamente.

2. Ética e MoralA ética enquanto ciência pode ser entendida como a parte da filosofia queinvestiga os fundamentos da moral adotados por uma cultura. Foram osfilósofos gregos que começaram a estudar esses fundamentos para então“identificar” uma pessoa como sendo boa ou má e também um ato comosendo bom ou mau. A partir desses fundamentos, alguém pode serclassificado como “ético” ou “antiético”.

Pode-se afirmar, por exemplo, que a ética de Platão (427-347 a.C.) era“transcendente” e “deontológica”. Essa teoria acredita que a noção do corretoé algo moralmente bom em si mesmo. Nesse caso, a fundamentação do certoe do errado está ligada ao bem-estar da alma, um estado inerente ao serhumano e procedente de um mundo superior. Aqui o homem obedece aodever, independentemente das consequências que a obediência pode resultarpara si ou para os outros (PALLISTER, 2005, p. 20).

Em contrapartida, com Aristóteles (384-322 a.C.) surgiu a ética “imanente”e “teleológica” ou “utilitária”. Essa teoria argumenta que o correto só pode

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ser definido a partir das consequências que um ato ou uma ação possaproduzir. Aqui a fundamentação do certo e o errado procedem do mundo doshomens e depende apenas da utilidade e do bem-estar que as ações doindivíduo podem resultar para si ou para os outros.

A moral, por sua vez, refere-se ao comportamento das pessoas e às reaçõesdos indivíduos que compõem uma sociedade em relação às regrasestabelecidas pela ética. Como observado, essas regras podem ser diferentesde uma cultura para outra e ainda podem ser modificadas de acordo com astransformações vividas pelos grupos sociais. Tudo depende da fonte deautoridade que lhes serve de fundamento para os padrões de conduta.

Quando se analisa as teorias éticas acima discutidas, percebe-se que na“deontológica” é o princípio da ação moral que é bom ou mauindependentemente do seu resultado. Já na teoria “teleológica”, o princípiomoral é substituído pela previsão racional das vantagens e desvantagens quedeterminada ação pode produzir. No primeiro caso, os atos morais, mesmocorretos, podem prejudicar a si e ao outro. No segundo caso, a moral serelativiza, busca não se prejudicar evitando o sofrimento, e assim pode servirpara legitimar a máxima que diz “os fins justificam os meios”.

3. Ética CristãA ética cristã tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão docomportamento humano. O fundamento moral da ética cristã são asEscrituras Sagradas. Portanto, a ética cristã não se modifica e nem serelativiza. Desse modo, a ética cristã não pode ser desassociada da moral edos bons costumes preconizados nas doutrinas bíblicas.

Sob esta concepção, os pais da Igreja adotaram a ética “transcendente” e“deontológica”. Isso significa que a vida ética cristã procede de um Deustranscendente e pessoal que concede ao ser humano a capacidade de viver averdadeira moral. Agostinho de Hipona, na obra Cidade de Deus (escrita

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entre 413-426 d.C.), reconhece que a graça de Deus é indispensável paratransformar o caráter humano e fazê-lo viver de acordo com os padrõesmorais divinamente estabelecidos. Para Agostinho, a educação, a meditação,os códigos e as leis, por si mesmas, não conseguem levar o homem a agir demodo ético.

Na perspectiva de Agostinho, a ética cristã só poderia ser vivida quando ocristão experimentasse a verdadeira regeneração. O mero esforço humanoservia unicamente para disfarçar a natureza caída. A eventual virtudedemonstrada por alguém era algo temporário, falso e aparente. Somente agenuína regeneração faria o homem verdadeiramente virtuoso. Tomás deAquino discordou e propôs algumas modificações nessa visão agostiniana.Aquino considerava que as leis humanas não somente inibiam a prática domal, mas também podiam moldar pessoas de boa índole. O ensino de Aquinonão deixou de “ser transcendente e deontológico”, contudo, permitiuflexibilizar a ética.

Com o advento da Reforma Protestante (1517), os reformadoresrestauraram a ética de Agostinho, defenderam a revelação bíblica como únicainfalível e inerrante regra de fé e conduta (Sola Scriptura) e a estenderam atodos os homens. Assim, a ética protestante reafirma a doutrina bíblica deque todos serão julgados à luz do conhecimento que tiveram de Deus. E, deacordo com o apóstolo Paulo, quando esse conhecimento for parcial, oshomens serão julgados pela lei escrita em seus corações (Rm 2.14-16).

4. Princípios da Ética CristãA principal fundamentação para a ética cristã encontra-se na revelaçãodivina. Desse modo, os princípios adotados pela ética cristã são bíblicos, e,portanto, imutáveis. Em consequência, os princípios bíblicos têm aplicaçãohoje, assim como o tiveram antigamente. Aquilo que a revelação bíblicaconsidera como pecado, permanece sendo pecado. A lei divina não pode ser

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revogada e ajustada aos interesses humanos. Esses princípios são universais epor isso não se admite uma ética cristã diferente de uma cultura para outracultura. Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mutações. Averdade bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada para atender oegoísmo e o hedonismo da raça humana. O texto bíblico permaneceinalterado e imexível. Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois afonte de autoridade é permanente. Quanto a esta realidade, Cristo afirmou: “océu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24.35).

II. FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃComo já afirmamos no tópico anterior, a ética cristã tem como principalfundamento o texto inspirado das Sagradas Escrituras. É verdade que não sepode desprezar a tradição da Igreja, as leis civis e criminais, as variadasliteraturas e nem tampouco os bons costumes adotados pela sociedade;entretanto, para o cristão, toda e qualquer prática e conduta precisa passarpelo crivo e pelo aval da Palavra de Deus (Hb 4.12). Nesse sentido, a BíbliaSagrada foi reafirmada na Reforma Protestante como sendo o principalfundamento da fé cristã. Lutero e outros reformadores combateram “aelevação católica da tradição a um status igual ou até mesmo superior dasEscrituras” (COMFORT, 1998, p. 68).

Tendo a inspiração divina como pressuposto, a Bíblia Sagrada difere deoutros livros pela sua inerrância e infalibilidade. Esses conceitos teológicosapontam que as Escrituras não contêm erro algum, que seus ensinos sãofidedignos e confiáveis, e, por isso, não podem falhar. Por conseguinte,aquele que crê na inspiração das Escrituras também deve crer que a Bíblia éinerrante e infalível.

1. O DecálogoA partir do século V, a Igreja Católica começou a ensinar os fiéis a prática do

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confessionário. Com o propósito de julgar as confissões, os sacerdotescatólicos eram orientados a proferir penitências por meio de “manuaispenitenciais ou confessionais”. As penas eram elaboradas conforme os setepecados capitais: soberba, inveja, cobiça, ira, preguiça, avareza, gula eluxúria. No século XV, o teólogo francês Jean de Gerson (1363-1429)discordou dessa forma de tratar os pecados e voltou-se para os DezMandamentos, que chamou de “a rocha da Ética Cristã” (KEENA, 1999,p.13).

No século seguinte, por ocasião da Reforma Protestante, os DezMandamentos passaram a ser a principal base de instrução moral e ética paraa Igreja protestante. O uso do Decálogo era uma resposta à teologia católica euma rejeição à supremacia, por mais de dez séculos, dos sete pecadoscapitais. A justificativa era de que o Decálogo constava das Escrituras e nãode um compêndio de penitências. Enquanto os sete pecados capitais tratavamprioritariamente das ações ofensivas à vida humana, os Dez Mandamentosexpressavam a vontade divina, primariamente por meio da nossa relação comDeus e depois com os nossos irmãos.

Os Dez Mandamentos ou “dez palavras” estão revelados em Êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.6-21. O Decálogo contém prescrições e proibições comtrês claras expressões positivas: a) A relação do homem com Deus — “Eu souo Senhor teu Deus” (Êx 20.2); b) A relação do homem na adoração —“Lembra-te do sábado” (Êx 20.8); e c) A relação do homem com o próximo— “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12). As outras sete declaraçõesnegativas estão diretamente subordinadas a essas três esferas da vontade deDeus. Em vista disso, os Dez Mandamentos são preceitos éticos que fazemparte da lei moral de Deus e devem ser obedecidos.

Os quatro primeiros Mandamentos tratam da relação do homem e suaadoração para com Deus: o Senhor requer culto exclusivo, condena aidolatria, alerta sobre o mal-uso do seu nome e lembra que tem direito ao

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tempo do homem (Êx 20.1-11). Os seis últimos referem-se à relação paracom o próximo: o Senhor exige honra aos genitores, zela pela integridade davida, repudia o adultério, proíbe o furto, a mentira e a cobiça (Êx 20.12-17).Essas ordenanças se caracterizam como atos morais que o homem podeescolher praticar ou recusar. Por isso, o cumprimento do Decálogo pode serresumido na prática do amor. Esse foi o ensino do legislador e Moisés (Dt4.6-8) e de Paulo, o apóstolo dos gentios (Rm 13.10; 1 Tm 1.5). O próprioCristo enfatizou essa verdade e ratificou que o amor a Deus e ao próximo é aexpressão máxima dos Dez Mandamentos (Mt 22.37-39). Como o Decálogofaz parte da lei moral de Deus e está baseado na natureza divina, os DezMandamentos permanecem válidos para todos os cristãos desempenhando afunção de “rocha da Ética Cristã”.

2. Os Evangelhos e AtosOs Evangelhos são mais do que simples biografias de Jesus, e o livro de Atosmais do que simples história da Igreja. A narrativa desses livros serve a umpropósito teológico: o de apresentar os ensinos de Jesus, diretamente ou pormeio dos apóstolos, como parte da “boa vontade de Deus para com oshomens” (Lc. 2.14). Isto posto, o evangelho refere-se às boas novas de Cristo(Mt 9.35). A mensagem registrada pelos evangelistas contém apelo aoarrependimento, renúncia ao pecado, oferta de perdão, esperança de salvaçãoe santidade de vida (Mt 3.2, Lc 1.77, 9.62). Os seguidores de Cristo sãoconvocados a viver as doutrinas do evangelho e adotaram a ética e a moral doReino de Deus (Mt 16.24; Mc 10.42-45). Por meio do evangelho, o homempode compartilhar a natureza moral de Deus (Mt 5.48). O genuíno evangelhoproduz mudanças no caráter do cristão (Tt 2.11-14), e quem pauta sua vidapelo evangelho recebe o dom do Espírito Santo (At 2.38,39).

3. O Sermão do Monte

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Reconhecidamente, o Sermão do Monte reúne princípios do mais altoidealismo moral e “tem sido entendido como a aplicação maior da ética deamor ao próximo e da Lei Áurea que ele contém” (HENRY, 2007, p. 548).No Sermão são reveladas a ética e a moral do Reino de Deus em questõescomo: a ira, adultério, divórcio, juramento, vingança e o amor.Cristo ensina que quando uma pessoa não consegue controlar a sua ira, elapode perder o controle e matar alguém (Mt 5.21,22). O Comentário BíblicoPentecostal do Novo Testamento salienta que “o assassinato começa com araiva; a pessoa tem de lidar com a raiva a fim de evitar o assassinato” (2003,p. 45). Essa proposição adverte que o pecado da ira precede o pecado deassassinato, que é a violação do sexto mandamento do Decálogo (Êx 20.13).

Após abordar a questão da ira, Cristo passa a ensinar acerca da violação deoutro mandamento do Decálogo — o adultério (Êx 20.14). O Senhorapresenta uma moral muita acima daquela convencionada entre os judeus.Para os rabinos o adultério só era caracterizado por meio do ato sexual. ParaCristo, o adultério está no pensamento, na intenção do coração que enche osolhos de luxúria (Mt 5.27,28). O Senhor também ensina sobre a santidade eindissolubilidade do casamento (Mt 5.31,32). Quanto à prática de juramentospermitidos na lei mosaica (Mt 5.33-37), Cristo aponta para uma novaconduta:

No comentário sobre a antiga lei Jesus faz um ajuste importante. [...] Oemprego do advérbio holos (“de maneira nenhuma”, Mt 5.34) indica queJesus esperava que esta atividade cessasse completamente. Os juramentosque aludem indiretamente a Deus, pela referência a céu, terra e até aprópria pessoa, eram proibidos [...] A pessoa honesta não tem necessidadede fazer juramento; um simples sim ou não é suficiente. (STRONSTAD,2003, p. 46)

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Em relação ao sentimento de vingança, Cristo ensina não revidar as ofensassofridas (Mt 5.38-41). Ao contrário, Ele nos ensina a ser caridosos ebeneficentes (Mt 5.42). No que diz respeito ao amor — o resumo da lei e dosprofetas — em especial o “amor ao próximo”, a moral e a ética cristãrequerem do cristão o dever de amar seus inimigos: falando bem deles,fazendo o bem a eles e orando por eles (Mt 5.44). Quem não o fizer éconsiderado hipócrita e indigno de receber galardão (Mt 5.46-48).

O sermão também aborda questões como a esmola, a oração e os jejuns.Aqui, somos advertidos contra a hipocrisia e o sentimento de vanglória. Aesmola, a oração e o jejum devem ser praticados a partir de um coraçãosincero, e não para sermos aplaudidos ou reconhecidos pelos homens (Mt6.1,5,16). Na sequência, Cristo trata do problema do pré-julgamento — umaadvertência contra a mania precipitada, arrogante e orgulhosa em julgar osoutros (Mt 7.1,2). Cristo ainda trata do livre-arbítrio e apresenta ao homemdois caminhos: o largo e o estreito (Mt 7.13,14). Ato contínuo, o Senhor fazum grande alerta contra os falsos profetas e ensina que o ministério dealguém deve ser provado pelos seus frutos (Mt 7.15-23). Por fim, o Senhoradverte sobre a necessidade de o cristão ouvir e praticar as palavrasproferidas no sermão (Mt 5.24-35). Ressalta-se então que o sermão chama oshomens para uma vida ética de perfeição em Cristo (Mt 5.48) e os concita apriorizar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33).

III. FOMOS CHAMADOS A VIVER ETICAMENTEAs Escrituras alertam sobre o perigo de não vivermos de modo ético. Osisraelitas no deserto foram abençoados e sustentados pelo maná (Êx 16.4) epela água potável (Êx 17.6) que Deus lhes concedia de modo sobrenatural,mas a maior parte deles foi reprovada por não viver a lei moral outorgada porDeus (1 Co 10.5). Somente dois israelitas daquela geração, Josué e Calebe,puderam herdar a Terra Prometida (Nm 14.30). No capítulo 10, versículos 1 a

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10, da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, o apóstolo seleciona cincopecados cometidos pelos israelitas que ficaram registrados, em forma denegação, para nossa advertência: “Porque tudo o que dantes foi escrito, paranosso ensino foi escrito” (Rm 15.4a).

1. Não Cobicemos as Coisas MásPaulo adverte a Igreja a não incorrer no pecado da cobiça uma vez que asexperiências dos israelitas no deserto “foram-nos feitas em figura, para quenão cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Co 10.6). No deserto,os israelitas cobiçavam prazeres proibidos e sentiam saudades do Egito. Amultidão que saiu do Egito era composta por uma “mistura de gente” queaproveitou a ocasião para fugir de Faraó. Essa gente deu início à murmuraçãoque contaminou os israelitas e gerou um descontentamento generalizado (Nm11.4-6).

Ainda hoje, pseudocristãos cobiçam os prazeres do mundo. Muitos dessessão negativamente influenciados pela “mistura” do joio na Igreja (Mt 13.25).Por isso, o apóstolo dos gentios ensina que “as más conversações corrompemos bons costumes” (1 Co 15.33). A convivência com o joio pode corromper eincitar a rebelião. Os que se contaminam passam a rejeitar o maná celeste queé Cristo (Jo 6.35,48,51) e decidem viver sob o jugo do hedonismo (excessivabusca pelo prazer) e sob a escravidão do pecado, isso porque se negam emobservar a lei moral do Decálogo que diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).

2. Não vos Torneis IdólatrasO apóstolo também alertou a Igreja acerca do perigo da idolatria (1 Co 10.7).Enquanto Moisés recebia a Lei permanecendo afastado do povo por 40 dias e40 noites (Êx 24.18; 31.18), os israelitas se corrompiam adorando um bezerrofundido (Êx 32.4). Longe de seu líder, Israel falhou vergonhosamente. Arão,o vice-líder, cedeu às pressões do povo e ordenou que trouxessem

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contribuição para promover a idolatria e foi prontamente atendido (Êx 32.1-4). Chegou ao ridículo de erigir um altar e se tornou sacerdote de um falsoculto (Êx 32.5,6). Infelizmente, em nossos dias essas cenas se repetem.Muitos são hipócritas e fora das vistas da liderança vivem em pecado. Outrossão falsos líderes que ensinam o erro e promovem falsa espiritualidadeestando fadados ao juízo (Mt 23.15; Rm 1.32). Constatamos estarrecido comoos falsos profetas conseguem atrair dinheiro para os seus falsos cultos. Aidolatria tem sido sustentada por “ofertas de amor” e “ofertas de sacrifício”pelo povo alienado e mal instruído. O Dicionário Wycliffe define idolatriacomo:

Uma transliteração da palavra gr. eidololatria, cujo significado entendemosser “a adoração a ídolos; a adoração a imagens como divinas e sagradas”[...] Com base nesse termo foi formada a palavra eidolon, “imagem”, queveio a significar especificamente uma imagem de um deus como um objetode adoração, ou um símbolo material do sobrenatural como tal objeto. Osegundo termo é latreia, significando “culto ou adoração aos deuses”.Idolatria, então, é prestar honras divinas a qualquer produto de fabricaçãohumana, ou atribuir poderes divinos a operações puramente naturais.(PFEIFFER, 2008, p. 944) Observa-se nesse conceito que a idolatria consiste em adorar, venerar ou

prestar culto a algo ou alguém em lugar de Deus. É importante ressaltar que oato de idolatria não consiste apenas na adoração de uma imagem, mastambém “a qualquer produto de fabricação humana”. Assim sendo,atualmente, falsos cristãos e falsos líderes desprovidos de temor adoram odinheiro e os bens materiais, e os utilizam para promover o falso cultoatraindo sobre si à ira divina (Êx 32.35). O mal da idolatria desvirtua a moralcristã e mantém o povo afastado do verdadeiro culto (Jo 4.23).

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3. Não nos ProstituamosO terceiro pecado relacionado por Paulo adverte a Igreja a respeito damaldição provocada pela imoralidade sexual (1 Co 10.8). A história teminício quando Israel deteve-se em Sitim, uma região nas campinas de Moabe(Nm 22.1-30). A presença dos israelitas aterrorizou a Balaque, rei dosmoabitas. Balaque então contratou o profeta pagão Balaão para amaldiçoar aIsrael. Como Balaão foi divinamente impedido de amaldiçoar o povo dapromessa (Nm 23.8), ensinou a Balaque como fazer para moralmentecorromper os israelitas (Nm 31.16). Essa conduta ficou conhecida nasEscrituras de maneira negativa e pejorativamente como “doutrina de Balaão”(2 Pe 2.15; Jd 1.11; Ap 2.14). A motivação em corromper Israel era fazê-lospecar e assim causar a queda da nação. Lamentavelmente, os israelitas forampresa fácil. As mulheres moabitas convidaram o povo para participar de seuculto a Baal-Peor. A prática cultual dos moabitas era tomada por glutonarias,orgias sexuais, fornicação e adultério, o que levou os israelitas a prostituírem-se com as filhas dos moabitas.

Não demorou muito e a ira de Deus se acendeu contra os pecadores.Moisés foi instruído a enforcar a luz do dia e publicamente todos os chefes dopovo que se envolveram com a orgia e o culto a Baal-Peor. Em seguida, osjuízes foram orientados a matar cada um os seus homens que se juntaram aBaal-Peor. Enquanto Israel chorava essas mortes, uma praga assolava todo opovo. Em meio à ira divina, um rebelde príncipe israelita apresentou noarraial uma princesa midianita que ele trouxera consigo o que vendo osacerdote Fineias indignado os atravessou a ambos com uma lança e a pragacessou (Nm 25.1-15). Ciente do grande mal e das graves consequências daimoralidade sexual, Paulo exorta a Igreja a vigiar constantemente. Ao analisaresse assunto o Comentário do Novo Testamento — Aplicação Pessoal, afirmaque a intenção paulina era mostrar que “Deus não teria complacência paracom aqueles que afirmassem pertencer a Ele, mas que ainda participassem de

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cultos pagãos e da imoralidade sexual” (2009, v. 2, p. 148). Aliás, aimoralidade encabeça a lista de Paulo das obras da carne: “adultério,fornicação, impureza e lascívia” (Gl 5.19). Nesse quesito, o apóstolo ordenaao cristão viver eticamente e conservar o corpo irrepreensível (1 Co 6.18; 1Ts 5.23).

4. Não Tentemos ao SenhorNeste ponto, o apóstolo previne a Igreja quanto ao perigo da maldição em seprovocar a Deus (1 Co 10.9). Os israelitas tentaram o Senhor com suasrebeldias, queixas, incredulidade e irreverência. Paulo lembra o protesto dosisraelitas contra Deus por terem sido conduzidos para o deserto: “E o povofalou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito paraque morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossaalma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Esse questionamento foiextremamente ofensivo aos olhos do Senhor. Ele os tirara do Egito com mãoforte e poderosa, e estava provendo-lhes todo o sustento. Mas o povodemonstrava ingratidão e falta de confiança. Eles estavam testando ecolocando à prova a paciência do Todo-Poderoso. “Tentar o Senhor éexperimentar até que ponto se pode abusar da paciência de Deus antes deincorrer em seu julgamento” (Dt 6.16) (STRONSTAD, 2008, p. 995).

Como resultado de “tentarem ao Senhor”, o juízo divino foi instantâneosobre o povo. O Senhor mandou serpentes ardentes e a natureza incurável daspicadas matou muita gente em Israel (Nm 21.6). Ao reconhecerem o pecado,os queixosos suplicaram a Moisés que intercedesse diante de Deus (Nm21.7). O arrependimento cessou a praga e possibilitou a cura para os que iamsendo picados (Nm 21.8,9). O apóstolo trouxe esse fato à memória da Igrejaem Corinto, pois alguns dos irmãos também estavam “tentando ao Senhor”com os seus recorrentes pecados e afrontas à santidade do Altíssimo. Porconseguinte, os que de forma proposital rebelam-se contra a vontade do

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Senhor, ignoram a ética cristã e violam a lei moral de Deus, ficam sujeitos àira divina (Rm 2.8,9).

5. Não MurmureisPor fim, o apóstolo alerta acerca do pecado da murmuração (1 Co 10.10).Infelizmente, esse fato aconteceu várias vezes na peregrinação dos israelitas.É possível que na citação paulina esteja incluída a murmuração ocorrida emCades quando o povo se recusou entrar na Terra Prometida recebendo ocastigo por meio de uma praga (Nm 14.2,36,37). Mas o incidente nacontradição de Coré parece servir melhor ao propósito do apóstolo. Arebelião liderada por Coré era uma murmuração não apenas contra Moisés eArão, mas também contra o próprio Deus (Nm 16.1-35). Coré e duzentos ecinquenta aliados questionaram a escolha divina de confiar à liderança dopovo e o ministério a Moisés e Arão. Diante dessa murmuração, eles foramsubmetidos a um teste de santidade. No dia seguinte, Arão, Coré e os 250revoltosos ofereceram incenso em seus incensários. Coré trouxe o povo todopara assistir ao ritual e colocá-los contra Moisés e Arão. Todavia, enquanto ocerimonial acontecia, a terra se abriu e engoliu as tendas, os bens e asfamílias dos líderes da rebelião. E, enquanto o povo corria com medo de sertragado pela terra, “saiu fogo do Senhor, e consumiu os duzentos e cinquentahomens que ofereciam o incenso”.

Apesar de o juízo divino ter aberto a terra e enviado fogo contra osmurmuradores rebelados, o coração do povo era extremamente obstinado. Nodia seguinte, tornaram a afrontar Moisés e Arão e lançaram sobre eles a culpapela morte de Coré, Datã, Abirão e suas famílias, bem como dos 250príncipes que ofereciam incenso (Nm 16.41,42). Diante dessa teimosia einsensatez, Deus enviou uma praga que consumiu quatorze mil e setecentosisraelitas (Nm 16.49). Lamentavelmente, a murmuração foi frequente epermanece em nossos dias: “murmurar contra Deus, ou contra os líderes que

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Ele designou, resulta no castigo divino [...] Esse era outro problema que aIgreja de Corinto estava enfrentando” (RIBAS, 2009, v. 2, p. 148). Osignificado aqui se refere à falta de ética que provoca maledicência, inveja ecalúnias contra o próximo, e ainda provoca a ira de Deus.

No epílogo dessas advertências, Paulo reitera que as experiências de Israelservem de exemplo para os cristãos não cometerem os mesmos erros, pois“estão escritas para aviso nosso” (1 Co 10.11). O apóstolo ainda admoesta oscristãos que cuidam estar em pé que tomem muito cuidado para não cair (1Co 10.12). Ao encerrar essas admoestações, Paulo apresenta uma palavra deesperança. Ele afirma que as tentações são comuns a todos, mas que nãodevemos desanimar, pois não estamos sozinhos em nossas fraquezas. Deusnão nos deixará ser tentados além de nossa capacidade de resistir. Afidelidade do Senhor provê a cada um o meio de escape (1 Co 10.13).Portanto, devemos entregar nosso caminho ao Senhor e depositar nEle toda anossa confiança (Sl 37.5).

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Capítulo 2

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A

Ética cristã e ideologia de gênero

s Ciências Sociais ensinam que as desigualdades sociais entre os sexossão o resultado de relações históricas de opressão e preconceito. A esseentendimento dá-se o nome de “questão de gênero”. Essa concepção nãoreconhece que as características físicas e biológicas de alguém devam serusadas como parâmetro comportamental. Nessa perspectiva, refutam a ideiade que o “sexo masculino” deva se comportar como menino e de que o “sexofeminino” deva se comportar como menina. Alegam que o comportamentosocial esperado de homens e mulheres é estabelecido pela cultura e não pelasquestões físicas e biológicas.

I. O QUE É A IDEOLOGIA DE GÊNEROA ideologia de gênero pretende desconstruir os papéis dos sexos masculino efeminino. A ideologia de gênero, também conhecida como “ausência desexo”, é um mal presente na sociedade pós-moderna e indica o grau dacorrupção da espécie humana.

A palavra “ideologia” é composta pelos vocábulos gregos eidos, que indica“ideia”, e logos, com o sentido de “raciocínio”. Assim, ideologia significaqualquer conjunto de ideias que se propõe a orientar o comportamento, amaneira de pensar e de agir das pessoas, seja individualmente, seja emsociedade. Em um sentido amplo, a ideologia se apresenta como aquilo queseria ou é ideal para um determinado grupo.

Na busca da hegemonia política, o filósofo e político italiano AntônioGramsci (1891-1937) Gramsci recomenda a reforma intelectual e moral dasociedade por meio de pessoas influentes como políticos, músicos, artistas,

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famosos, jornalistas e por todos os meios disponíveis que possam manipular aopinião pública. Mediante essas ações, é possível modificar o senso comumdo “certo” e do “errado”. Com o uso intenso da mídia, das artes da literatura,das escolas, universidades e por via de palavras de ordem e a massificação deuma “nova cultura”, cria-se o “homem coletivo”, que passivamente assimila a“filosofia nova” e passa a pensar como todo o mundo. A partir dessemomento, quem ousar discordar do “senso comum modificado” sofrerá opatrulhamento ideológico.

Esse patrulhamento tem como objetivo desqualificar quem faz oposição epensa diferente. O propósito é desprestigiar quem se manifesta contrário àideologia. As pessoas que oferecem resistência são estigmatizadas e sãoacusadas com termos pejorativos tais como “fundamentalista”,“homofóbico”, “preconceituoso”, “machista”, “racista” e “reacionário” dentreoutros. Desse modo são construídas muralhas invisíveis que amordaçam ocidadão temeroso da censura. Assim, a liberdade de expressão é controladapelas grades do “politicamente correto”.

2. Ideologia de GêneroA palavra “gênero” tem origem no grego genos e significa “raça”. Naconcepção da Lógica, o termo indica “espécie”. Usualmente, deveria indicaro “masculino” e o “feminino”. Nesse sentido, a expressão é inofensiva,porém, na sociedade pós-moderna, tal significado é relativizado e desvirtuadoem “ideologia de gênero”. Essa ideologia também é conhecida como“ausência de sexo”. Esse conceito ignora a natureza e os fatos biológicos, ealega que o ser humano nasce sexualmente neutro. Afirmam que os gêneros— masculino e feminino — são construções culturais impostas pelasociedade.

Quanto à sexualidade, a ideologia ensina que o gênero e a orientação dodesejo sexual não são determinados pela constituição anatômica do corpo

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humano. Nesse caso, consideram que a atração pelo sexo oposto correspondea determinados estereótipos e papéis sociais previamente estabelecidos pelocontexto histórico, político e cultural da sociedade.

A ideologia de gênero e sua propagaçãoComo acontece com toda a ideologia, a identidade de gênero vem sendo

amplamente divulgada pela grande mídia em busca da construção do“homem coletivo”. Na tentativa de desqualificar seus oponentes, imprime-se,por exemplo, a ideia de que o relacionamento afetivo entre pessoas de mesmosexo é objeto de discriminação e preconceito homofóbico. Desse modo,instituiu-se a denominada “mordaça gay”, em que, por meio do“patrulhamento ideológico”, cidadãos de bem convivem com o cerceamentode sua liberdade de expressão, nada podendo dizer em contrário à ideologiade gênero sob pena de ser considerado preconceituoso.

3. Marxismo e Feminismo como Fonte dessaIdeologiaO marxismo exerceu forte influência no feminismo, especialmente o livro AOrigem da Família, a Propriedade Privada e o Estado (1884), em que afamília patriarcal é tratada como sistema opressor do homem para com amulher. Desse modo, a ideia central do conceito de gênero nasceu com afeminista e marxista Simone de Beauvoir, autora da obra “O Segundo Sexo”(1949), em que é afirmado que “não se nasce mulher, torna-se mulher”.Assim, do contexto social marxista que deu origem à “luta de classes” surgiuna pós-modernidade a ideologia culturalista como sendo “luta de gêneros”,ou seja, uma fantasiosa “luta de classes entre homens e mulheres”.

O conceito marxista de famíliaO conceito marxista acerca da família patriarcal está desenvolvido no livro

A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), elaborado

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pelo sociólogo alemão Karl Marx, porém organizado e assinado por FriedrichEngels, dado à morte de Marx antes da publicação da obra (ENGELS, 2014,p. 1-3). Nesse livro, ele pretende explicar a gênese da realidade familiar pormeio de um viés de liberdade sexual desraigada e casamento dissolúvel.Marx dividiu os tipos familiares de quatro maneiras, quais sejam: famíliaconsanguínea, família punaluana, família sindiásmica e famíliamonogâmica. Sua veraz crítica e seu conceito de patriarcado é com a famíliamonogâmica, pois em seu entendimento ela “baseia-se no triunfo do homem”e “os laços conjugais não podem ser rompidos por qualquer uma das partes”(ENGELS, 2014, p. 67). Na visão marxista, esse modelo de matrimônioescraviza o cônjuge a ter relações sexuais apenas com o seu cônjuge, e, naopinião do sociólogo, isso é uma discrepância, tendo em vista que a liberdadesexual é necessária para a sociedade (ENGELS, 2014, p. 70-72). Dessemodo, a intenção de Marx é desconstruir o sistema patriarcal e promover aliberdade sexual. Por isso, afirma-se que a ideologia de gênero édesdobramento do marxismo que também pretende eliminar o modelofamiliar monogâmico, patriarcal e heterossexual.

O conceito feminista de gêneroA francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), considerada uma das maisimportantes feministas da história, escreveu, como já afirmado, uma polêmicaobra a respeito do feminismo, o livro O Segundo Sexo (1949). Filósofosafirmam que as mais de 800 páginas de seu livro podem ser sintetizadas pelafrase já imortalizada pelos adeptos da ideologia de gênero: “Não se nascemulher, torna-se mulher”. Beauvoir afirma em sua obra que “todo serhumano do sexo feminino não é, portanto, necessariamente mulher; cumpre-lhe participar dessa realidade misteriosa e ameaçada que é a feminilidade.”(BEAUVOIR, 2009, p. 13). Diante de tal construção teórica e filosófica,surgiu o conceito feminista de gênero, isto é, que a pessoa do sexo feminino

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não nasce mulher, sendo a construção social da sociedade machista que atransforma em mulher. A partir daí nasceu a expressão “empoderamento”,para sinalizar a luta pela igualdade de gêneros e a busca da libertação sexual,em que todos podem fazer opção de querer ser homem ou mulher.

II. CONSEQUÊNCIASA ideologia de gênero pretende desconstruir os papéis de homens e mulherese assim descontinuar o casamento e a família tradicional. As EscriturasSagradas ensinam que o pecado provoca graves consequências e o serhumano recebe em si mesmo o resultado de seus erros (Rm 1.27).

1. Troca de Papéis entre Homens e MulheresA ideologia de gênero ensina que os papéis dos homens e das mulheres foramsocialmente construídos e que tais padrões devem ser desconstruídos. Essaposição não aceita o sexo biológico (macho e fêmea) como fatordeterminante para os papéis masculino e feminino. Sob esse aspecto, alguémpode ser biologicamente homem e desejar desenvolver comportamento típicode mulher e vice-versa. Faz-se ainda apologia à prática do homossexualismoe do lesbianismo. Tal posição despreza os papéis biblicamente constituídos(Rm 1.25-32; Ef 5.22-33).

O perigo da inversão de valoresNa época do profeta Isaías, a ordem social, o estado moral, ético e

espiritual do povo de Judá era lamentável e em muito se assemelha aos diasque vivemos. O mal era caracterizado pela inversão dos valores. O profetafora enviado a uma nação que se recusava ouvir a palavra de Deus (Is 1.2-6,10-17; 6.9-13). Nesse cenário de podridão moral e espiritual, Deus levantouum atalaia para profetizar contra a nação. Dentre as reprimendas, o profetavaticinou “seis ais” que confrontavam o comportamento inadequado daquelepovo.

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O primeiro “ai” era contra o materialismo desenfreado e o enriquecimentoilícito (Is 5.8-10). O segundo “ai” duplamente anunciado condenava abebedeira e a embriaguez que conduzia à ociosidade (Is 5.11,12,22). Oterceiro “ai” repreendia os que zombavam da verdade e duvidavam do juízodivino apostando no ceticismo (Is 5.18,19). O quarto “ai” era um alertaacerca da perversão dos valores. Tratava-se de uma dura advertência acercado extremo perigo do relativismo cultural (Is 5.20). O quinto “ai” era umacondenação aos presunçosos que se julgavam sábios e únicos donos daverdade (Is 5.21). E o sexto e último “ai” repreendia a corrupção, o suborno ea perversão do direito (Is 5.23). Essas atitudes reprováveis e imoraiscausaram a derrocada daquela nação (Is 5.24,25).

Em nosso tempo, a situação não é diferente; a sociedade está em estágio deputrefação moral e ética, pois a verdade vem sendo modificada por intensamanipulação do pensamento. Homens inescrupulosos afrontam a verdade deDeus e a sua Palavra promovendo ideologias contrárias à revelação divina. Aideologia de gênero, com a sua inversão de valores, tem invadido, inclusive,diversos setores da igreja que se autodenomina cristã. O farisaísmo — comodissimulação da verdade — tem adentrado em nosso meio. A reprimenda deCristo os classificando como “Condutores cegos! Coais um mosquito eengolis um camelo” (Mt 23.24) vem sendo ignorada por um númeroconsiderável da igreja e de sua liderança. Contudo, as Escrituras sãocategóricas em revelar que não haverá escape para os transgressores. Aos querelativizam a verdade, a Palavra de Deus vaticina: “não será tardia a sentença,e a sua perdição não dormita” (2 Pe 2.1-3). A igreja não pode fechar os olhospara a inversão dos papéis de homens e mulheres divinamente revelados nasEscrituras (Ef 5.22-33).

2. Confusão de Identidade para o Ser HumanoOs adeptos dessa ideologia fazem questão de criar conceitos relativistas.

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Afirmam que a sexualidade (desejo sexual) e o gênero (homem e mulher) nãoestão relacionados com o sexo (órgãos genitais). Desse modo, a identidade degênero e a orientação sexual passam a ser moldadas ao longo da vida. Porexemplo, a criança passa a decidir depois de crescida se quer ser menino oumenina. No entanto, essa indefinição acerca da própria identidade produzefeito dramático no ser humano por causa da confusão de papéis, e provocasérios problemas de ordem espiritual e psicossocial. Tal ideologia induz,inclusive, à insolência de a criatura questionar o seu Criador (Rm 9.20).

Identidade de gêneroBiblicamente, a orientação e o desejo sexual estão direta e intrinsecamente

relacionados às características físicas do sexo (masculino e feminino), e nãocom o construto cultural da sociedade. O conceito de “identidade de gênero”não aceita o sexo biológico (masculino e feminino) como fator determinanteda sexualidade. Ensinam que os indivíduos desenvolvem sua “identidade degênero” durante o processo de socialização com a cultura na qual estãoinseridos. Assim, o propósito dessa ideologia na área da moralidade édesassociar o sexo da sexualidade e com isso provocar a inversão dos valorestambém do casamento e da família.

3. Desvalorização do Casamento e da FamíliaA ideia é de que o desaparecimento dos papéis ligado ao sexo provoque umdestruidor impacto sobre a família. A ideologia considera que a atração pelosexo oposto, o casamento e a família correspondem a determinadosestereótipos e papéis sociais previamente estabelecidos pela sociedade. Tudopassa a ser relativizado e permitido, isto é, ninguém poderá afirmar quealgum modo de relações entre os sexos possa ser mau ou antinatural. Ocasamento heterossexual e a família tradicional são totalmentedesconsiderados. Esses e outros males são resultados da depravação humanae sinais da iminente volta de Cristo (2 Tm 3.1-5).

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A depravação da sexualidadeQuando se adota a identidade de gênero como parâmetro ou medida, os

valores e os conceitos morais tornam-se relativos. Caso fosse verdadeiro queo ser humano tenha capacidade para “autoconstruir” seu próprio gênero“nenhum modo de relação sexual poderá ser considerado puro ou impuro,certo ou errado” (SCALA, 2011, p. 65). Assim, instala-se o relativismo e aresultante inversão/alteração de valores (Is 5.20). A partir disso, não sepoderá restringir a liberdade sexual de ninguém. A começar pelo postuladobásico da “identidade de gênero” de que não existe uma identidade biológicaem relação à sexualidade e que todas as relações sexuais são apenas oconstruto da sociedade, então toda relação sexual consentida será consideradamoralmente boa e, portanto, lícita e aceitável, não sendo passível de crítica oucondenação por parte da sociedade e das autoridades públicas.

Em vista disso, serão desconstruídas as relações familiares, o casamento, areprodução, a educação, a religião, a sexualidade, dentre outros. Práticas quehoje são moralmente condenadas passarão a ser consideradas igualmentelícitas tanto do ponto de vista moral, legal e jurídico. Depravações sexuaiscomo zoofilia (sexo do homem com animais); necrofilia (atividade sexualcom cadáver) e até a pedofilia (sexo de adultos com criança) serão toleradascomo resultado da aceitação da “ideologia de gênero”. Convém aqui registrarque a prática da zoofilia é tipificada como crime (Art. 32, Lei 9.605/1998), anecrofilia (Art. 212, Código Penal Brasileiro), bem como a pedofilia, éconsiderada crime contra vulnerável previsto no Código Penal Brasileiro(Art. 217-A), além de ser tipificada como doença na categoria“Transtornos da preferência sexual” listada na ClassificaçãoInternacional de Doenças (CID-10, Código F65.4).

Apesar de estarmos conscientes desses fatos, sabemos que a cultura semodifica e seus conceitos e valores podem ser relativizados. Entretanto, asEscrituras Sagradas ensinam que as verdades divinamente reveladas

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independem da cultura, e, portanto, não são passíveis de alteração. Para ocristão, a autoridade e a inspiração divina das Escrituras são fatosinquestionáveis. O reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546)compreendia que o sentido de “Sola Scriptura” era literal, ou seja, somente aEscritura – e não a Escritura somada à interpretação dos homens ou a culturados povos – é a fonte de revelação cristã. Sua defesa era pela centralidade dapalavra de Deus. (LUTERO, v. 2, 2010. p. 403). O reformador holandês JacóArmínio (1560-1609) igualmente defendeu a centralidade das Escrituras eensinou que todas as doutrinas necessárias para o cristão já nos foramtransmitidas pela revelação da Palavra de Deus (ARMÍNIO, v. 1, 2015, p.377). Portanto, para o cristão as doutrinas bíblicas se constituem em únicaautoridade infalível de fé e prática.

III. O IDEAL DIVINO QUANTO AOS SEXOSA Palavra de Deus revela que o homem foi criado macho e fêmea (Gn 1.27).Entre outros propósitos divinos estava a união heterossexual entre um homeme uma mulher. Portanto, a revelação divina contida na Bíblia Sagrada estáacima da ideologia de gênero e transcende a cultura pós-moderna relativizadade nossa época.

1. Criação de Dois SexosDeus criou dois sexos anatomicamente distintos: “E criou Deus o homem àsua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.27).Portanto, biologicamente, o sexo está relacionado às formas do corpohumano e aos órgãos genitais. Assim sendo, os seres humanos nascempertencendo ao sexo masculino ou ao sexo feminino. O homem é designadocomo macho e a mulher como fêmea. Por conseguinte, não podemos alterar averdade bíblica para acomodar a ideologia de gênero, pois a culturapermanece sob o julgamento de Deus (1 Pe 4.17)

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Não podemos mudar a verdadePaulo alerta a igreja de Corinto: “nada podemos contra a verdade, senão

pela verdade” (2 Co 13.8). No contexto dessa passagem, tanto o “evangelho”quanto a “retidão moral” é apresentado como conceito da verdade. Essaexpressão paulina indica que rejeitar a verdade, seja ela no campo da ética,seja da moral, implica combater contra aquEle que é a verdade — Cristo eseu evangelho. Portanto, não é possível anular a verdade, ainda que algumaideologia o queira fazer. Aqui está evidenciado um princípio geral: nãoimporta o que o homem faça para torcer a verdade, no final, quer queira quernão, a verdade triunfará sobre a falsidade e o engano. Pode até ser que averdade fique oculta ou subjugada por um determinado espaço de tempo, maspor fim ela ressurgirá triunfante.

Por conseguinte, diante da exortação paulina, não podemos alterar averdade bíblica para acomodar a fé cristã aos valores da cultura secular. Nemtampouco devemos ceder ao conformismo e assistir passivamente àdeturpação da verdade. Não estamos autorizados a acrescentar ou retirar algoda verdade revelada por Deus (Ap 22.18,19). As Escrituras são enfáticas aorevelar que Deus criou apenas dois sexos: macho e fêmea (Gn 1.27).Portanto, enquanto a Igreja estiver na terra, temos que oferecer resistência àtentativa de deturpação da verdade.

2. Casamento Monogâmico e HeterossexualAo instituir o casamento, Deus ordenou: “o homem deixará pai e mãe e seunirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2.24, NVI). Issosignifica que a união monogâmica (um homem e uma mulher) eheterossexual (um macho e uma fêmea) sempre fez parte da criação originalde Deus. A diferenciação dos sexos visa à complementaridade mútua naunião conjugal: “nem o varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão” (1Co 11.11). Assim, mudam-se as culturas e os costumes, mas a palavra do

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nosso Deus permanece inalterável (Mt 24.35).

O modelo da família cristãA Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil crê, professa e

ensina que a família é “instituição criada por Deus, que tem por princípiosreguladores e estruturantes a monogamia [...] e a heterossexualidade”(SOARES, 2017, p. 205). Por essas razões, nossa confissão de fé rejeita ahomossexualidade (1 Co 6.10) e qualquer configuração social que sedenomina família cuja existência é fundamentada em prática, união ouqualquer conduta que atenta contra a monogamia e a heterossexualidade,consoante ao modelo instituído pelo Criador e ensinado pelo Senhor Jesus(Mt 19.4-6). Esse tema será discutido novamente com maior profundidade nocapítulo 9, que abordará o planejamento familiar.

3. Educação dos Filhos com Distinção dos SexosEducar não consiste apenas em suprir os meios de subsistência e proporcionaro bem-estar necessário. Cabe também aos pais educar os filhos naadmoestação do Senhor (Ef 6.4), promover o diálogo e o amor mútuo (Ef6.1,2). A família cristã não pode perder a referência bíblica na educação deseus filhos. Explicar e orientar que homens e mulheres, por exemplo,possuem órgãos sexuais distintos que os diferenciam sexualmente éresponsabilidade dos pais. Deve-se ensinar, ainda, o respeito e a nãodiscriminação, mas também a diferenciação entre os sexos a fim de coibir ainoportuna “luta de gêneros” (Gn 1.27; 1 Co 11.11,12; Ef 5.22-25).

A ideologia de gênero na educação secularNesse aspecto, os pais ou os responsáveis pelos estudantes devem redobrar

a atenção. Ativistas labutam para implantar a “ideologia de gênero” nasescolas por meio de material didático e uma nova pedagogia voltada para adesconstrução sexual e o doutrinamento das crianças e alunos em geral. No

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Brasil, em 2014, durante a tramitação no Congresso Nacional do PNE (PlanoNacional de Educação), que dita as diretrizes e metas da educação para ospróximos dez anos, após diversas pressões de parlamentares cristãos, aideologia de gênero foi retirada do texto. Após uma série de debates, oMinistério da Educação manteve a ideologia de gênero na Base NacionalComum Curricular, porém, agora na disciplina de ensino religioso. A BaseNacional se limita, por enquanto, ao ensino infantil e fundamental(basenacionalcomum.mec.gov.br).

Por fim, o que se pode afirmar é que a ideologia de gênero pretenderelativizar a verdade bíblica e impor ao cidadão aquilo que deve serconsiderado como ideal. Acuada pelo “patrulhamento ideológico”, parcela dasociedade não esboça reação, faz concessões em nome do “politicamentecorreto”, e o mal vem sendo propagado. No entanto, os cristãos possuem odever de reagir e “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).

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Capítulo 3

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O

Ética Cristã e Direitos Humanos

“cilindro de Ciro” é historicamente considerado a primeira Declaraçãodos Direitos Humanos. O cilindro é uma peça arredondada, feita a partir daargila, dividida atualmente em vários fragmentos, no qual está escrita umadeclaração em grafia cuneiforme acadiana que contém uma declaração do reipersa Ciro II após sua conquista do Império Babilônico. Em um trecho docilindro, o imperador mandou registrar: “quanto aos habitantes de Babilônia[...] eu aboli o jugo que era contrário à sua condição. Trouxe melhoria às suasdegradadas condições de habitação, acabando com as suas razões de queixa”(MELO, 2014, p. 55-58). Esse decreto foi emitido no primeiro ano de seugoverno após a conquista de Babilônia, isto por volta do ano 538 a.C. e 537a.C. O documento também autorizava os povos exilados na Babilônia aregressarem às suas terras de origem. Os textos bíblicos informam que Cirorecebeu essa mensagem da parte de Deus, que o ordenava a enviar de volta àPalestina todos os judeus cativos naquela cidade (Ed 1.2-4). O decreto deCiro II pôs fim ao cativeiro babilônico dos judeus.

Apesar de o cilindro de Ciro ser considerado o primeiro documento oficiala tratar de direitos humanos, muito antes disso, outro conquistador daBabilônia, o rei Hamurabi, estabeleceu um dos mais importantes códigosjurídicos da antiguidade. Hamurabi reinou aproximadamente de 1792 a 1750a.C. As leis contidas no Código de Hamurabi estavam precedidas de umlongo prólogo no qual o rei representava a si mesmo como um pastor e umpríncipe piedoso, fazendo com que a estela do código fosse gravada ecolocada em um lugar público para que “o forte não oprimisse ao débil, e quepara que a justiça prevalecesse no reino” (THOMPSON, 1999, p. 1572). No

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entanto, em grande parte da história da humanidade, os direitos foramprerrogativas de uma minoria privilegiada. Em tempos modernos, surgiu oconceito do homem como portador de direitos considerados como inerentesou fundamentais para a dignidade humana. Apesar de tais conceitosflorescerem em tempos atuais, desde a criação do homem, as EscriturasSagradas têm revelado a vontade de Deus acerca daquilo que é direito eerrado nas relações humanas.

I. A ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOSNo período da Idade Moderna (séculos XV até XVIII), a revolução científicae literária que se deu durante o Renascimento (movimento cultural,econômico e político) contribuiu para o surgimento do Humanismo(movimento intelectual focado no homem). Os humanistas valorizavam osdireitos individuais do cidadão e acreditavam no progresso e na capacidadehumana. Suas ideias se espalharam e foram aceitas graças à invenção daimprensa. Os ideais dos humanistas despertaram nos cristãos a necessidadede reformar a igreja, especialmente o clero.

Como resultado desse e de outros fatores, a reforma religiosa foi deflagradaem 1517, na Alemanha. A reforma do monge agostiniano Martinho Luterorompeu a unidade religiosa da Europa Ocidental e quebrou o monopóliomantido até então pela Igreja de Roma. Esse processo de abertura permitiu a“consideração dos indivíduos como cidadãos livres e iguais” (CHEHOUD,2012, p. 32). Esses ideais passaram a ser pensados e construídos, nãonecessariamente executados. Porém, foi a partir da Reforma que os conceitosde liberdade e tolerância tornaram-se visíveis.

O Iluminismo, também chamado de “século das luzes” (movimentocultural da elite intelectual europeia do século XVIII), ensinava que “oshomens tinham direitos iguais e que, para corrigir a desigualdade, a sociedadedeveria ser modificada” (ARRUDA, 1982, p. 137, 138). Para efetivar essas

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mudanças, o Iluminismo difundiu os ideais de liberdade de expressão e deculto, proteção contra a escravatura e a injustiça social.

1. Definição de DireitoA raiz da palavra “direito” tem origem no latim rectus, que significa “aquiloque é reto, correto, justo”. Na perspectiva da ética, aquilo que é direito torna-se modelo daquilo que é bom e correto. Nesse contexto, a ética ou a moralcomum a todas as culturas pode ser expressa em termos de direitos dohomem. Esses direitos se relacionam com a dignidade do ser humano tendo aproteção da vida, da liberdade e da igualdade como pressuposto principal.

2. Declaração Universal dos Direitos HumanosFoi adotada em 10 de dezembro de 1948, após a Segunda Guerra Mundial,pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi uma resposta aosmilhões de vítimas do conflito e do extermínio deliberado de judeus(principalmente), ciganos e outras etnias promovido pelos nazistas (SILVA,2014, p. 110). A declaração contém 30 artigos e reconhece os direitos“fundamentais” e “universais” do ser humano como o ideal a ser atingido portodos os povos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

No entanto, a partir do ponto de vista das Ciências Sociais, a construçãodos direitos humanos não deve ser desassociada dos “direitos de cidadania”,que são divididos em três grupos ou em três gerações:1 os civis, os políticos eos sociais. Os “direitos civis” começaram a aparecer nos séculos XVII eXVIII, e são identificados com a igualdade perante a lei, o direito de ir e vir,a liberdade de expressão e outros. Esses direitos são “fundamentais”, e não“universais”, e se aplicam às leis de uma determinada nação. Os “direitospolíticos” foram reivindicados no século XVIII e também são consideradosfundamentais. Entre eles estão o direito de votar e ser votado, filiar-se apartidos políticos e sindicatos, realizar manifestações, etc. Esses direitos

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atingiram o seu apogeu no século XX, quando o direito de voto foi estendidoàs mulheres. E, por fim, ainda no século XX começam a despontar “osdireitos sociais” que buscam assegurar a igualdade de condiçõesindispensáveis para a sobrevivência e o exercício dos demais direitos. Aênfase desses direitos recai sobre a educação básica, assistência à saúde,programas de moradia, transporte coletivo, sistema previdenciário e outros.

3. Declaração Universal dos Direitos HumanosFoi adotada em 10 de dezembro de 1948, após a Segunda Guerra Mundial,pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela foi uma resposta aosmilhões de vítimas do conflito e do extermínio deliberado de judeus(principalmente), ciganos e outras etnias promovido pelos nazistas (SILVA,2014, p. 110). A declaração contém 30 artigos e reconhece os direitos“fundamentais” e “universais” do ser humano como o ideal a ser atingido portodos os povos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. Com essaideia universalista, Tomazi considera que “os direitos humanos estão acimade qualquer poder existente, seja do Estado, seja dos governantes. Em caso deviolação, os responsáveis devem ser punidos” (2010, p. 136).

No entanto, a partir do ponto de vista das Ciências Sociais, a construçãodos direitos humanos não deve ser desassociada dos “direitos de cidadania”,que são divididos em três grupos ou em três gerações:2 os civis, os políticos eos sociais. Os “direitos civis” começaram a aparecer nos séculos XVII eXVIII, e são identificados com a igualdade perante a lei, o direito de ir e vir,a liberdade de expressão e outros. Esses direitos são “fundamentais”, e não“universais”, e se aplicam às leis de uma determinada nação. Os “direitospolíticos” foram reivindicados no século XVIII e também são consideradosfundamentais. Entre eles estão o direito de votar e ser votado, filiar-se apartidos políticos e sindicatos, realizar manifestações, etc. Esses direitosatingiram o seu apogeu no século XX, quando o direito de voto foi estendido

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às mulheres. E, por fim, ainda no século XX começam a despontar “osdireitos sociais” que buscam assegurar a igualdade de condiçõesindispensáveis para a sobrevivência e o exercício dos demais direitos. Aênfase desses direitos recai sobre a educação básica, assistência à saúde,programas de moradia, transporte coletivo, sistema previdenciário e outros.

Assim, apesar daquilo que é assegurado na “Declaração Universal dosDireitos Humanos”, os direitos civis, políticos e sociais, emborafundamentados no princípio de igualdade, para o sociólogo inglês T. H.Marshal (1893-1981), eles não podem ser considerados universais “pois sãovistos de modo diferente em cada Estado e em cada época” (TOMAZI, 2010,p. 138). Não obstante, os direitos contidos nessa Declaração passaram a ser oideal para todas as pessoas e foram introduzidos nas legislações dos paísesdemocráticos. O Brasil participou ativamente da elaboração da Declaração etem sido signatário de todas as suas resoluções, e, portanto, os direitoshumanos estão contemplados em nossa Constituição Federal.

4. Direitos Humanos no BrasilEm nosso país, a expressão “direitos humanos” foi popularizada durante adécada de 80. Nessa época, militantes políticos de esquerda passaram a usar aexpressão em oposição ao regime militar. Em 5 de outubro de 1988, foipromulgada a Constituição Cidadã. No escopo dos direitos e garantiasfundamentais presentes no texto constitucional estão elencados os princípiosde liberdade, igualdade, tolerância, solidariedade e neutralidade estatal:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado

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o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, aproteção aos locais de culto e a suas liturgias;VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosanas entidades civis e militares de internação coletiva;VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa oude convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se deobrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaçãoalternativa, fixada em lei (CF/1988). Visando ampliar a promoção dos Direitos Humanos no Brasil, o decreto nº

7.037/2009 instituiu o “Programa Nacional de Direitos humanos” (PNDH),que já está em sua terceira versão. O PNDH-3 está estruturado em 6 (seis)eixos orientadores que se subdividem em 521 ações programáticas que tratamdos direitos universais. Ocorre que desde a sua primeira versão o PNDH vemrecebendo críticas de variados setores. A principal oposição diz respeito àsações que pretendem tutelar a sociedade e impor ideologias ao cidadão. Noâmbito da religião, os pontos mais controversos são a legalização do aborto ea ideologia de gênero. Nos meios de comunicação, a insatisfação se refere àfiscalização da mídia por parte do governo como um meio de censura.Quanto ao sistema prisional, as discordâncias se concentram no direito devoto para os presos, na proibição de divulgação pública de informações sobreo perfil de criminosos e no direito as visitas íntimas inclusive ashomoafetivas. Por isso, após a redemocratização do Brasil e a concessão deamplos direitos ao cidadão, constantemente a expressão “direitos humanos”tem sido associada como “direitos de bandidos”. Discute-se, por exemplo,que os “direitos humanos” deveriam valer unicamente para os “humanosdireitos”.

II. A BÍBLIA E OS DIREITOS HUMANOS

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Cremos que a Bíblia Sagrada possui dois propósitos essenciais: revelar opróprio Deus e expressar a sua vontade à humanidade. Dessa forma, tudo oque precisamos saber sobre a vontade de Deus, inclusive em nossorelacionamento com o próximo, está suficientemente revelado em suaPalavra. É mediante a revelação divina que aprendemos os padrões morais eéticos de conduta preconizados pelo Criador para com as suas criaturas. ABíblia contém vários ensinos sobre o que é “bom” e “mal”, sobre o que é“direito” ou “errado”. Neste tópico, veremos os direitos dos homensrevelados e registrados nos livros do Pentateuco, nos Evangelhos e nosescritos de Paulo.

1. Direitos Humanos no PentateucoOs cinco livros de Moisés revelam o código divino e indicam a maneira deviver de seu povo (Dt 6.1-9). Observa-se nesses escritos um arcabouço deconcepções libertárias e igualitárias que antecedem muitos direitos que iriamreaparecer apenas na modernidade. Na revelação, Deus requer que oestrangeiro não seja maltratado (Êx 22.21). Essa orientação significa que apessoa de cultura, raça ou etnia diversa não deve ser tratada comdiscriminação e nem de modo indiferente. Assegura-se ao forasteiro o direitode não ser explorado e nem de ser perseguido. Ao contrário, o estrangeirotem o direito de receber tratamento igualitário e humano. Com esse elevadopadrão moral, as Escrituras condenam a prática da xenofobia (aversão ouantipatia com os estrangeiros).

Os mandamentos bíblicos ainda determinam que a viúva e o órfão sejamprotegidos (Êx 22.22), e que o pobre não seja explorado (Êx 22.25,26).Observa-se nesses textos o gentil cuidado da revelação divina para com aspessoas com necessidades. Aqui a preocupação se volta para um grupo quenormalmente era alvo de tirania e injustiça social — pobres, viúvas e órfãos.A pobreza se relaciona com “a insuficiência de renda” para subsistência

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pessoal e da família. As viúvas e os órfãos, além da dor e tristeza pela perdasofrida, ainda penavam com a falta de assistência social. Para coibir e corrigiressas violações para com os desafortunados, Deus asseverou que derramariada sua ira e imprimiria a mesma dor aos opressores: “a minha ira se acenderá,e vos matarei à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhosórfãos” (Êx 22.24). Sob a tutela desses preceitos do Pentateuco, os cristãosmantêm especial atenção para com os desprovidos (Tg 1.27).

No caso específico dos estrangeiros, pobres, viúvas e órfãos, a lei tinhauma provisão especial (Dt 10.18,19; 24.19,20). Após a posse da TerraPrometida, a sociedade dos israelitas tornou-se agrícola e a lei dagenerosidade requeria benevolência com o produto da terra para com opróximo necessitado. Por ocasião da festa da colheita, em meio à alegria dosfrutos e grãos em abundância, os infortunados não podiam ser esquecidos.Eles também tinham direito a colheita. Para isso, uma parte do campo nãopodia ser colhida, não podendo ser menos do que uma sexta parte de toda aplantação. Esse canto do campo e também as espigas que caiam eramreservadas para os necessitados (Lv 19.9,10).

Ainda em relação ao cuidado com os pobres, a lei mosaica proibia os ricosde tirar vantagens do infortúnio de seus semelhantes: “se emprestaresdinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com elecomo um usurário; não lhe imporeis usura” (Êx 22.25). A ordenança bíblicanão autorizava a cobrança de juros para o empréstimo que visava saciar afome do pobre. A premissa dos juros aqui proibidos não se refere aosempréstimos de cunho comercial. Esses preceitos eram estranhos ao mundoantigo e constitui-se numa espécie de síntese da Torá: o cuidado divino paracom os menos favorecidos e o valor da dignidade humana.

2. Direitos Humanos nos EvangelhosA mensagem de Cristo presente nos evangelhos resume-se na prática do amor

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a Deus e ao próximo (Mt 22.37-40; Mc 12.31). Os evangelistas enfatizam queDeus é a fonte de todo o amor (Jo 3.16). A mensagem do evangelhoconsidera hipocrisia a religiosidade desprovida do amor ao próximo (1 Jo4.20a). Por isso, as Escrituras enfatizam que o amor cristão requer sacrifícioem favor dos seres humanos (Jo 15.13). Ainda, ensinam os evangelhos que oamor cristão é antídoto contra o mal, o ódio e a vingança contra o semelhante(Mt 5.44). O amor não deve ser seletivo, e sim despretensioso (Mt 5.46). Naconhecida parábola do bom samaritano (Lc 10.25-37) narrada por Jesus, oamor e a misericórdia para com o outro prevaleceram contra o ódio e opreconceito racial. Dessa maneira, o amor cristão é imperiosamente altruísta ehumanitário, incapaz de desrespeitar os direitos de seu próximo.

Durante seu ministério, Jesus quebrou vários paradigmas da culturareinante entre os judeus na palestina. Cristo entrou em uma sinagoga e, empleno sábado, curou um homem que tinha a mão atrofiada (Mt 12.9-11) eacrescentou o seguinte ensino: “é perfeitamente correto fazer o bem em diade sábado” (Mt 12.12, ACF). Em consequência, ao curar no sábado, Cristocolocou a dignidade humana acima do legalismo (Mt 12.10-13).

Em outra ocasião, ao conversar com uma mulher junto ao poço de Jacó,Cristo se opôs ao preconceito de gênero, a intolerância religiosa, adiscriminação racial e a hostilidade cultural existente entre judeus esamaritanos (Jo 4.9,10). Cabe ainda destacar a ênfase do evangelho nocombate à segregação social. Durante o jugo romano, os judeus desejavamlibertar-se dos aguilhões de Roma, e, por causa do forte zelo nacional, oscoletores de impostos (publicanos) eram odiados, desprezados e consideradostraidores. Assim, ao jantar em casa de Levi e também na casa de Zaqueu —ambos publicanos — Cristo rechaçou atitudes discriminatórias entre asclasses sociais judaicas (Mc 2.14-17; Lc 19.1-10). E, ainda em conotaçãocom os ideais de igualdade e liberdade sem distinção alguma, ao receber eabençoar os meninos, Cristo defendeu os direitos da criança e dos

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adolescentes (Lc 18.15,16). Portanto, esses exemplos e outros registrados nasEscrituras Sagradas indicam que a fé cristã não está dissociada dapreocupação com as necessidades humanas. Ressalta-se, porém, que todosesses oprimidos foram transformados e mudaram de atitude após o encontroque tiveram com Jesus.

3. Direitos Humanos em PauloEm seus escritos, o apóstolo dos gentios reconhece o direito de igualdadeentre raças, classe social e gênero. Ele escreveu aos Gálatas: “Nisto não hájudeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porquetodos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Ao remover essas distinções, ocristianismo situou os seres humanos em nível de igualdade e promoveu umamudança de paradigmas totalmente estranhos naquele contexto histórico.

Além de defender a igualdade entre os seres humanos, o apóstolo tambémlegitimou o uso dos direitos civis. Ao ser preso em Jerusalém, evocou suacidadania romana para não ser açoitado (At 22.25-29). O apóstolo exigiuobediência à lei romana chamada Lex Sempronia, que não permitia aocidadão romano ser condenado sem o direito de defesa. Em uma situaçãoposterior, ao perceber as manobras dos judeus para condená-lo sumariamente,reivindicou o direito de um julgamento justo e apelou para César (At 25.9-12). Pode-se então constatar nos escritos e feitos de Paulo a defesa dosdireitos humanos e os valores da cidadania.

III. A IGREJA E OS DIREITOS HUMANOSA Igreja de Cristo na terra é atuante e militante. A igreja batalha pela fé queuma vez foi dada aos santos e pelos preceitos bíblicos divinamente revelados(Jd 3). Formada por todos aqueles que seguem a Cristo, a Igreja luta contra asdepravações da carne e as injustiças no mundo, luta contra o Diabo e seusardis, e contra o pecado e suas terríveis consequências (Ef 6.12). Nesse papel,

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a Igreja tem como pressuposto a prática do amor, que é o elementomotivacional de conduta para todo cristão. Desse modo, a Igreja de Cristo éagente de transformação social e espiritual da sociedade.

As Escrituras Sagradas é o livro texto utilizado como única regra infalívelde fé e prática para a Igreja. E nenhum outro livro tem enaltecido tanto adignidade e os direitos do ser humano como o faz a Bíblia Sagrada. AsEscrituras revelam o amor de Deus sem acepção de pessoas (Jo 3.16; Rm2.11). A Palavra de Deus condena as injustiças sociais e a exploração docidadão (Tg 5.4). A Igreja é advertida em perseverar na prática do bem aopróximo (2 Ts 3.13). E aqueles que ficam impassíveis diante da violação dosdireitos humanos são considerados pecadores (Tg 4.17).

1. A Igreja e o Trabalho EscravoO trabalho é essencial para o sustento da vida. Desde a criação, o trabalhoestá presente na raça humana (Gn 2.15). Sustentar a si mesmo e à família pormeio do trabalho é uma dádiva divina e dignifica o homem (Ec 3.13; Ef4.28). O próprio Senhor Jesus desempenhou a função de carpinteiro para oseu sustento e de sua família terrena (Mc 6.3). Quanto à importância daatividade laboral, Cristo declarou: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalhotambém” (Jo 5.17). A exemplo de Cristo, o apóstolo Paulo também não viveudependente dos trabalhos dos outros (At 20.33-35, 1 Ts 2.9) e aos que viviamdesordenadamente exortou: “se alguém não quiser trabalhar, que não comatambém” (2 Ts 3.10).

Tornou-se bastante notável a transformação histórica da posição dotrabalho por meio da postura protestante. E, conforme constatou McGrath,“não foi por acidente que as regiões europeias que adotaram o protestantismologo se viram prosperando economicamente” (2012, p. 333). Por outro lado,se o trabalho for entendido como um fim em si mesmo, segue-se a isso umconjunto de prioridades distorcidas cujo inevitável resultado é negativo para

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os relacionamentos sociais, familiares e pessoais. O trabalho se torna umfardo pesado, quando a carga horária é exaustiva, os salários são baixos, acompetividade é desleal, o crescimento profissional é nulo e as condições detrabalho são degradantes. Quando isso acontece, a dignidade humana éviolada e o trabalho se torna em escravidão.

Certamente, que a Igreja de Cristo não pode ficar insensível diante daexploração do trabalhador ou do trabalho escravo. O povo de Deus não podeser conivente com a exploração da mão-de-obra infantil, da mulher, daspessoas na lavoura, dos estrangeiros e dos operários em geral. O apóstoloTiago condenou a opressão e a injustiça praticada contra os trabalhadores emsua época. O meio-irmão de Jesus repudiou o comportamento dos ricos queangariavam altas somas em dinheiro e aumentavam seus lucros à custa dopagamento de parcos salários aos trabalhadores. E ainda, o líder da Igreja emJerusalém alertou aos empregadores gananciosos que os clamores de tristezados pobres eram ouvidos por Deus (Tg 5.4). Paulo também escreveuposicionando-se contra a vexação a que eram expostos os trabalhadores. Nacarta dirigida a Filemom, o apóstolo apresenta claras orientações acerca dotratamento benevolente que se deveria dispensar a Onésimo — um escravofugitivo (Fm 15-18). Aos Efésios, Paulo estabelece o princípio do respeitomútuo entre empregados e patrões (Ef 6.5-9).

2. A Igreja e os PrisioneirosEm 2014, o Conselho Nacional de Justiça do Brasil divulgou que a nossapopulação carcerária era de 563.526 presos e que estavam encarcerados206.307 pessoas além da capacidade de vagas. Somado ao problema dasuperlotação, os presídios públicos também não oferecem as condiçõesmínimas de dignidade humana, higiene e salubridade. Nosso índice dereincidência no crime é de 70%, o que demonstra a ineficiência do Estado naressocialização dos prisioneiros. Ressocializar significa reintegrar o detento

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ao convívio em sociedade. A violência e a reincidência no crime indicamfalhas nesse processo de ressocialização promovido pelo Estado. Issoacontece pelo fato de a ressocialização de um presidiário depender dediversos fatores fora do alcance do braço estatal.

As vidas encarceradas em presídios e demais unidades de internação sãoextremamente carentes de afeto, perdão, e de transformação no caráter, naalma e no espírito. Por isso, a Igreja, por meio da Bíblia Sagrada,acompanhada de orações e aconselhamento dos capelães e visitadores devecumprir o que preconiza as Escrituras: “Lembrai-vos dos presos, como seestivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmostambém no corpo” (Hb 13.3). Sob essa premissa, a Igreja, por meio dotrabalho de capelania prisional, desempenha a nobre missão de levar orefrigério às almas angustiadas e encarceradas de nossa nação.

Essa atividade de capelania prisional desenvolvida pela Igreja preocupa-secom a assistência espiritual aos encarcerados e também com a ressocializaçãodos presos ou dos egressos da prisão. Portanto, a Igreja é orientada a realizarseu trabalho concentrado na salvação, cura e libertação das almas. O aspectomoral do cristianismo, no que diz respeito ao criminoso, é que Cristo veio aomundo para salvar os pecadores (1 Tm 1.15).

3. A Igreja e o Problema SocialOs principais problemas sociais do Brasil são o desemprego, precariedade demoradia, saúde, segurança, educação, desigualdades sociais, má distribuiçãode renda, dentre outros. Como resultado da ineficiência do Estado, os índicesde violência e criminalidade aumentam a cada dia. É consenso que taisproblemas são agravados pelo desvio das verbas públicas, pela nefasta práticada corrupção. Como agência do Reino de Deus na terra, a Igreja do Senhorpossui uma responsabilidade social e não pode viver alienada aos problemasenfrentados na vida em sociedade. O cristão vive tanto na igreja quanto no

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mundo, e tem responsabilidades para com ambos. É papel da igrejaevangelizar o mundo todo por meio da pregação do evangelho (Mt 28.19),mas também é função da igreja aliviar o sofrimento alheio por meio de suaatuação na sociedade, como instrumento de transformação da realidade socialque a rodeia. Acerca da fé desacompanhada de ações práticas, o líder daIgreja em Jerusalém questiona aos fiéis: “se o irmão ou a irmã estiverem nuse tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide empaz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para ocorpo, que proveito virá daí?” (Tg 2.15,16).

O profeta Habacuque, em sua época, constatou que os problemas sociaiseram causados por fatores similares aos que vivemos hoje: opressão,violência, litígio, impunidade, suborno e juízo distorcido (Hc 1.1-4). Diantedessa lamentável situação, como nos ensina o apóstolo Tiago, a Igreja devese comprometer com as ações sociais com o propósito de aliviar a fome, asede, o frio e a carência do ser humano. Trabalhos sociais podem serdesenvolvidos nas mais diversas áreas, tais como: campanha de agasalhos,distribuição de sopas e cestas básicas, implantação de escolas, creches, asilos,centros de recuperação e tantas outras ações. Contudo, apesar de todo oesforço social promovido pela Igreja (que deve continuar até Cristo voltar),precisamos ter consciência de que o verdadeiro mal a ser combatido é opecado. Como fez Habacuque e como ensina o cronista, a Igreja deve unirforças para restaurar a nação por meio do clamor e da consagração (2 Cr7.14). Por meio de um avivamento espiritual e do combate ao pecado, odespertar da Igreja de Cristo pode corrigir e superar os problemas sociais.

1É importante salientar que o instituto é mormente denominado de gerações ou dimensões. Contudo, oautor entende que a nomenclatura não abarrota os direitos ali garantidos. Pelo escasso espaço, bemcomo pela pretensão da presente obra, o autor não tratará das demais gerações dos direitosfundamentais difundidas por alguns autores constitucionais.

2 É importante salientar que o instituto é mormente denominado de gerações ou dimensões. Contudo, o

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autor entende que a nomenclatura não abarrota os direitos ali garantidos. Pelo escasso espaço, bemcomo pela pretensão da presente obra, o autor não tratará das demais gerações dos direitosfundamentais difundidas por alguns autores constitucionais.

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Capítulo 4

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O

Ética Cristã e Aborto

tema do aborto implica diretamente a dignidade humana e nainviolabilidade do direito à vida. Posições contrárias e favoráveis ao abortosempre estiveram presentes na história da humanidade. As civilizações dossumérios, os babilônios, os assírios, os hititas e os israelitas consideravam oaborto como um crime de maior gravidade. Em contrapartida, a culturaespartana (séculos V e IV a.C.), que era centrada na formação do “hoplita” —o soldado perfeito — os recém-nascidos que apresentassem alguma doença,má formação ou sinais de debilidade eram jogados do precipício a fim deserem descartados (GARCIA, 2011, p. 25). Os filósofos Platão e Aristótelestambém consideravam o aborto e o infanticídio como instrumento deeliminação dos fracos e inválidos, que, segundo eles, eram um estorvo e nadapodiam acrescentar ao bem comum. Em seu livro A República, Platãotambém defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres queengravidassem após os 40 anos (PLATÃO, 2000). Andrade registra que, emcerta ocasião, Aristóteles aconselhou desabridamente: “Quanto a saber quaisos filhos que se devem abandonar, ou educar, deve haver uma lei que proíbaalimentar toda a criança disforme” (2015, p. 60).

I. ABORTO: CONCEITO GERAL E BÍBLICOEm termos gerais, a prática do aborto é a interrupção da gravidez. Talprocedimento continua sendo um polêmico debate. Uma parcela da sociedadecontemporânea o considera como um direito da mulher. As opiniõesdivergem em duas vertentes: os “Pró-Vida”, que são contrários ao aborto, eos militantes “Pró-Escolha”, que são favoráveis. Diante da problematização

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ética e moral que envolve esses grupos, apresentamos o conceito geral ebíblico do aborto.

1. Conceito Geral de AbortoConceitualmente, o aborto é a interrupção do nascimento por meio da mortedo embrião ou do feto. Algumas literaturas identificam o aborto comofeticídio cujo significado é a “morte do feto”. A palavra latina fetus significa“pequenino” e representa o ser que se presume vivo.

Sob essa perspectiva, o ato de “abortar” é caracterizado peladescontinuidade do processo natural de gestação do ser vivo. O termogestação é originário da palavra em latim gestacione, que faz referência aotempo em que o embrião fica no útero, desde a concepção até o nascimento.Portanto, esse termo pode ser aplicado a todos os animais que possuem umútero, que é parte integrante e mais importante do aparelho reprodutorfeminino, nesse caso, dos mamíferos. Contudo, a aplicação do termo“descontinuidade da gestação” quando relacionado com a ética e a moralcristã refere-se à interrupção da gravidez da mulher. A essa interrupção dá-seo nome de aborto, que pode ser involuntário ou provocado com ou sem aexpulsão do feto, resultando na morte do nascituro.

2. O Aborto no Contexto LegalConsiderado um dos mais antigos diplomas jurídicos, o código do reiHamurabi (1810-1750 a.C.) apresentava severas punições contra o aborto. Ocódigo foi criado na Mesopotâmia por ocasião da primeira dinastiababilônica. Trata-se de um conjunto de 218 leis escritas em caracterescuneiformes em uma coluna de basalto negro. O código previa indenizações àmulher no caso de aborto provocado. Os valores sofriam variações adepender se a mulher era livre ou escrava. No caso de a mulher vir a morrercomo consequência do aborto provocado, o culpado era punido com a pena

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de morte.No Código Criminal do Império no Brasil (1830), o aborto e o infanticídio

eram punidos com prisão e trabalho forçado. Se a mãe matasse o filho recém-nascido, a pena era de um a três anos de prisão e trabalho forçado (Art. 198).Mas no caso de aborto com o consentimento da mãe, a pena era ainda maior,de um a cinco anos de trabalhos forçados no sistema prisional da época (Art.199).

Também no célebre juramento de Hipócrates, do século V a.C., queinfluenciou toda a história da medicina ocidental, estava incluso um votoespecífico em que o médico se comprometia a não realizar nem a eutanásianem o aborto (PALLISTER, 2005, p. 141). O juramento era recitado pelosmédicos no dia da formatura nos seguintes termos: “Não darei a nenhumamulher um pessário1 para provocar um aborto” (KAISER JR, 2016, p. 138).Em 1949, a Declaração de Genebra ratificou esse compromisso, mas nãocomo juramento. Na década de 1960, a Associação Médica Mundialreformulou a declaração e deixou margem para a prática do aborto emalgumas circunstâncias.

Na legislação brasileira atual, o aborto é permitido nos casos de risco demorte à mulher e estupro (Art. 128, CP). Também é permitido a prática doaborto nos casos de anencefalia, conforme decisão do Supremo TribunalFederal — ADPF n. 54. Nos demais casos o aborto ainda é crime (Art. 124,CP). Contudo, em novembro de 2016, a 1ª Turma do Supremo TribunalFederal (STF) considerou que aborto até os três meses não é crime, abrindoum precedente para a descriminalização. Eles julgaram uma ação movidapelo Ministério Público envolvendo pessoas de Duque de Caxias (RJ) com aprática do crime de aborto consentido pela mãe. Durante a leitura de seu voto,o ministro Luís Roberto Barroso esboçou com clareza que está alinhado econcorde com a ideologia de que “a mulher tem direito sobre o própriocorpo” e, portanto, tem o direito de interromper a gravidez indesejada:

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A criminalização antes do terceiro mês de gestação viola a autonomia damulher, o direito à integridade física e psíquica, os direitos sexuais ereprodutivos da mulher, a igualdade de gênero, além de provocardiscriminação social e um impacto desproporcional desta criminalizaçãosobre as mulheres pobres.2

Embora essa decisão teve efeito inter partes, ou seja, exclusivamente para

o caso de Duque de Caxias, no dia 7 de março de 2017, o Partido Socialismoe Liberdade (Psol) protocolou uma Arguição de Descumprimento de PreceitoFundamental (ADPF) n. 442, questionando os artigos 124 e 126 do CódigoPenal Brasileiro, que pune com até três anos de detenção a mulher quepraticar aborto e até com quatro anos de prisão ao profissional que realizar oprocedimento. Nessa ADPF, o pedido é de que o aborto deixe de ser crimeaté a 12a semana de gestação. O PSOL argumenta que o embrião não temstatus de pessoa constitucional, baseado em decisões do próprio STF, que jáarbitrou sobre a morte de embriões para as pesquisas com células tronco-embrionárias e já autorizou o aborto de anencéfalos.

3. Conceito Bíblico de AbortoNa lei mosaica, provocar a interrupção da gravidez de uma mulher era tratadocomo ato criminoso. A legislação prescrevia o pagamento de multa a quemprovocasse a descontinuidade da gestação em alguma mulher. O valor dessamulta deveria ser estipulado pelo pai da criança com a aquiescência dosmagistrados (Êx 21.22-25). No sexto mandamento, o homem foi proibido dematar (Êx 20.13), o que significa literalmente “não assassinar”. Os intérpretesdo Decálogo concordam que o aborto está incluso nesse mandamento. Assim,quem mata um embrião ou feto peca contra Deus e contra o próximo. Ospreceitos divinos consideram injustificada e digna de punição a morte de

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inocentes (Êx 23.7). Todavia, os defensores da posição Pró-Escolha apelamque o texto de Êxodo 21.22-25 acima referenciado não considera o abortocomo sendo a morte de uma pessoa. O preceito bíblico diz textualmente:

Se alguns homens pelejarem, e um ferir uma mulher grávida, e for causa deque aborte, porém não havendo outro dano, certamente será multado,conforme o que lhe impuser o marido da mulher, e julgarem os juízes. Masse houver morte, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente,mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida,golpe por golpe. (Êx 21.22-25) O argumento considera que a legislação estipula a Lex Talionis “lei de

talião ou lei da retribuição” (vida por vida) no caso de morte como resultadode luta corporal entre homens envolvendo mulher grávida. Os militantes Pró-Escolha disputam que a frase “não havendo outro dano” — apenas o aborto— significa dizer que a única penalidade deve ser uma multa. Isso implicaafirmar que o aborto não é considerado morte; por isso, requer-se somente amulta, e não a “vida por vida”. Arrazoam também que a expressão “se houvermorte” refere-se à morte da mulher que sofreu o aborto, e não a morte dofeto. E, nesse caso, na morte da mulher, a lei de talião é requerida. A respeitodesse questionamento, a falácia está na tradução do verbo “abortar” da versãode João Ferreira de Almeida. O verbo hebraico shakal, que normalmente temo sentido de “abortar”, não aparece aqui, ao contrário, o verbo utilizado peloautor bíblico é yasa, que se refere ao nascimento de uma criança viva. Dessemodo, a tradução da Nova Versão Internacional (NVI) está mais explicativa,onde se pode ler: “Se homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e elader à luz prematuramente, não havendo, porém, nenhum dano sério, o ofensorpagará a indenização”. Assim, no caso de uma mulher grávida ferida em umabriga antecipar o parto, e a criança viver, os causadores do parto prematuro

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pagam somente a indenização pelos danos causados, mas se a criança nãosobreviver e ainda até a mãe morrer, paga-se “vida por vida”. Portanto, o usodesse texto para justificar a prática do aborto não se sustenta por ser umargumento inválido.

4. O Aborto na História da Igreja“O ensino dos dez apóstolos” chamado de Didaquê (século I d.C.) condena oaborto e o infanticídio. Esse documento cristão foi escrito entre 60 e 90 d.C.,provavelmente na região da Palestina ou na Síria. Dividido em quatro partes,contendo dezesseis capítulos, é a mais antiga fonte de legislação eclesiásticaextrabíblica disponível aos cristãos do período pós-apostólico. Retrata atradição das primeiras comunidades cristãs e a sua mensagem permaneceválida para os dias de hoje. Entre outros preceitos, o documento estabelece:“Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, nãoroube, não pratique a magia nem a feitiçaria. Não mate a criança no seio desua mãe e nem depois que ela tenha nascido” (Didaquê II,2).

O apologista da igreja Tertuliano (viveu por volta de 150 a 220 d.C.),nascido em Cartago de família pagã abastada, ensinou que a morte de umembrião tem a mesma gravidade do assassinato de uma pessoa já nascida eque impedir o nascimento é um homicídio antecipado. Entre os anos de 197 e220 d.C., Tertuliano, considerado o pai da teologia latina, dedicou-se acarreira de escrever e produzir obras em defesa do cristianismo. Sua escritaera vívida, satírica e fácil de ler. Seu método assemelha-se ao de umadvogado expondo seus argumentos em um tribunal. Ao se dirigir aosromanos acerca da interrupção da gravidez, explicou assim:

Em nosso caso, já que proibimos o homicídio em qualquer forma, nãopodemos destruir nem sequer ao menino na matriz […] Impedir que nasçaum menino é somente uma forma de matar. Não há diferença em se matar a

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vida do que já nasceu, ou se matar a vida do que não nasceu ainda.(BERCOT, 2012, p. 31, 32) O polemista Agostinho de Hipona e os teólogos Jerônimo de Estridão e

Tomás de Aquino consideravam pecado grave interromper a gestação e odesenvolvimento da vida humana. Embora a compreensão de Agostinho,quanto ao início da vida, divergisse de Tertuliano, o bispo africano “chegou achamar de prostitutas as mulheres que, para escapar às consequências de suavida imoral […] matavam o filho que traziam no ventre” (ANDRADE, 2015,p. 58). Jerônimo, autor da vulgata latina, considerou as mulheres queescondiam a infidelidade conjugal com o aborto como culpadas de triplocrime: adultério, suicídio e assassinato dos filhos. Aquino, autor da SumaTeológica, afirmava que a vida e o ser humano são inseparáveis, e, portanto,ambos são também invioláveis. Percebe-se, desse modo, que a valorização dadignidade humana, o direito à vida e o cuidado à pessoa vulnerável sãoprincípios e doutrinas imutáveis da igreja cristã.

II. O EMBRIÃO E O FETO SÃO UM SERHUMANOFecundação, embrião e feto são os nomes das três etapas da gestação. Operíodo gestacional é composto de 40 semanas que são fundamentais para aformação do bebê. Após o ato sexual, o espermatozoide sobrevive, em média,72 horas (ou seja, cerca de 3 dias) dentro do corpo da mulher à espera que umóvulo seja liberado pelo ovário. O óvulo, depois de liberado, está disponívelpara ser fecundado apenas entre 12 e no máximo 24 horas. A fecundaçãoocorre na união entre o óvulo e o espermatozoide — que dá origem ao zigotoe que se instala no útero após uma série de divisões celulares. O termoembrião é usado para definir um organismo que está nos primeiros estágiosde desenvolvimento. Ele é formado 24 horas após a fecundação. O período de

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desenvolvimento do feto decorre desde a 8ª semana até ao nascimento, e é umtempo de crescimento e desenvolvimento. Neste tópico, analisaremos emqual dessas três fases se dá o início da vida.

1. Quando Começa a VidaNo IV século a.C., o filósofo Aristóteles ensinava que a vida iniciava com oprimeiro movimento do feto no útero materno. Segundo sua teoria, no casodo feto masculino, essa manifestação aconteceria no 40º dia de gestação, e nofeto feminino, apenas no 90º dia. Aristóteles inferiorizava as mulheres, e porisso acreditava que o feto feminino se desenvolvia mais lentamente.Obviamente que essas suposições do filósofo eram descabidas e arbitrárias, eforam cientificamente descartadas.

Quanto aos cientistas, muitos concordam que a vida tem início nafecundação, quando o espermatozoide (gâmeta masculino) e o óvulo (gâmetafeminino) se fundem gerando a nova célula chamada “zigoto”. Essa novacélula possui uma identidade genética própria, diferente da que pertence aosque lhe transmitiram a vida, e a capacidade de regular o seu própriodesenvolvimento.

Outros pesquisadores defendem que a vida inicia com a fixação do óvulofecundado no útero, onde recebe o nome de embrião — o que ocorre entre o7º e o 10º dia de gestação. Outras correntes estabelecem que a vida humanase origina na gastrulação — estágio que ocorre no início da 3ª semana degravidez. Nesse ponto, o embrião, que é menor que uma cabeça de alfinete, éum indivíduo único e a partir desse momento ele seria um ser humano.Outros apontam o começo da vida por volta do 14º dia, quando ocorre aformação do sistema nervoso. E isso pelo fato de que países como o Brasil eos Estados Unidos definem a morte como a ausência de ondas cerebrais.3 Avida começaria, portanto, com o aparecimento dos primeiros sinais deatividade cerebral. Tem ainda aqueles que indicam o começo da vida quando

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o feto tem condições de viver fora do útero, por volta da 25ª semana degestação. E também os que defendem que a vida só tem início por ocasião donascimento do bebê.

2. O que Diz a Bíblia?Para a polêmica que envolve o aborto, definir quando o embrião ou o feto setorna humano, se na fecundação (concepção), no nascimento ou em um pontointermediário, é uma questão de suprema importância. Como as respostashumanas têm sido controversas, o cristão deve buscar a verdade na revelaçãodivina. A Palavra de Deus é incisiva ao ensinar que a vida tem início nafecundação. Acerca disso, registrou o profeta Jeremias: “Antes que teformasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; asnações te dei por profeta” (Jr 1.5). Esse texto indica que, antes de qualquerdesenvolvimento do embrião, ou seja, na concepção e ainda antes donascimento do feto, Deus já considerava o profeta como um ser humano.

Nessa mesma sequência interpretativa, o rei Davi descreve sua existênciacomo ser vivo desde o início da concepção: “Os teus olhos viram o meucorpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as quaisiam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia” (Sl139.16). Por conseguinte, de acordo com as Escrituras, a vida começa quandoocorre a união do gameta masculino ao feminino. Essa nova célula é um serhumano e possui identidade própria e, portanto, o seu direito de nascer nãopode ser interrompido por vontade, desejos ou caprichos do homem.

A presença das virtudes divinas pode ser observada em cada uma dasetapas de formação do ser vivo. Os versos do Salmo 139 focalizam asvirtudes da onisciência, onipresença e onipotência divina. O salmo reconheceque é Deus quem cria o íntimo de nosso ser. As pessoas são conhecidas ecuidadas pelo Senhor desde a concepção (Sl 139.13a). Deus é quem forma oser dentro do ventre da mãe. O ser vivo é formado de modo “assombroso” e

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“maravilhoso” (Sl 139.13b-14). O salmista afirma que Deus vê o embriãoainda informe, e o ama em todos os processos formativos, desde afecundação, nascimento e por toda a sua vida (Sl 139.15-16). Para Deus, oembrião não é “só um punhado de tecidos”; ao contrário, Deus já sentia afetoe amor por nós quando estávamos sendo tecidos dentro do ventre de nossamãe (KAISER JR, 2005, p. 146).

3. Qual a Posição da Igreja?Na igreja protestante, por meio da reforma efetivada por Lutero e apoiada nasEscrituras, os cristãos que mantêm os princípios teológicos e a ortodoxiadefendem a dignidade humana desde a sua concepção, ou seja, que o começoda vida acontece na fecundação. Ratificam o ensino de que a vida humana ésagrada em todas as etapas do desenvolvimento do ser vivo e que não podeser violada pelo homem (1 Sm 2.6). Divulgam que toda ideologia queseculariza os princípios bíblicos deve ser combatida (2 Tm 3.8). Nesseaspecto, a posição oficial das Assembleias de Deus no Brasil foi assimexarada: “A CGADB é contrária a essa medida [aborto], por resultar numalicença ao direito de matar seres humanos indefesos, na sacralidade do úteromaterno, em qualquer fase da gestação, por ser um atentado contra o direitonatural à vida” (Carta de Brasília, 41ª AGO, 2013).

III. TIPOS DE ABORTOS E SUAS IMPLICAÇÕESÉTICASComo já mencionado acima, a legislação brasileira autoriza a interrupção dagravidez em duas situações: aborto em caso de estupro e aborto terapêutico.Assim como nos casos de anencefalia do feto, estabelecida pela SupremaCorte brasileira. Já foi dito também que tramita no STF uma Arguição deDescumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para que o aborto deixede ser crime até a 12a semana de gestação.

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Neste tópico, apresentamos as principais implicações éticas para esses tiposde aborto, os que já estão legalizados e aqueles que poderão serdescriminalizados. Quando a Igreja se posiciona eticamente contrária a essasdecisões legais, não significa dizer que somos retrógrados ou que somosinsensíveis às dificuldades e à complexidade de uma gravidez indesejada:

Qualquer escolha nesta área da vida compreende muito mais do que apenascálculos humanos definíveis [...] Mas indica, sim, que Deus ainda é Senhorda história e que ele pode transtornar os cálculos humanos, e muitas vezeso faz. Portanto, maior peso deve ser colocado sobre o respeito pelosprincípios teológicos básicos apresentados na revelação bíblica. (HENRY,2007, p. 22) A despeito das decisões humanas, a verdade bíblica quanto ao aborto não

pode ser relativizada. O princípio de defesa da vida humana não pode conterexceções. Em uma sociedade secularizada, o cristão precisa tomar cuidadocom o relativismo, não fazer concessões e estar alerta quanto às ações demanipulação de sua consciência e o desrespeito à vida humana (1 Tm 4.1,2).

1. Aborto de AnencéfaloEm abril de 2012, o STF permitiu a interrupção da gravidez de fetoanencéfalo (sem cérebro ou com má formação cerebral), bastando para isso odiagnóstico médico que ateste anencefalia. A principal implicação ética dessadecisão está no descarte de um ser humano por apresentar uma má formação.Trata-se de uma ideologia racista chamada “eugenia”, que defende asobrevivência apenas dos seres saudáveis e fortes. A eugenia alcançou níveisextremos com o nazismo e o holocausto. Hitler e seus seguidores almejavamatingir a pureza racial e, para isso, eliminaram os inválidos, velhos, doentes eos considerados fracos.

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2. Aborto em Caso de EstuproSegundo o Código Penal, em vigor desde 1940, somente as situaçõesprevistas nas alíneas do Art. 128 autorizam a eliminação da vida intrauterina,ou seja, a prática do aborto. O artigo preconiza textualmente:

Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico (Vide ADPF 54)Aborto necessárioI - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;Aborto no caso de gravidez resultante de estuproII - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido deconsentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Diante do previsto do artigo acima referenciado, analisaremos neste tópico,

o inciso II, que trata da gravidez resultante de estupro. Precisamente, no quetange às questões éticas e seus desdobramentos. Conforme preconiza aNorma Técnica do Ministério da Saúde sobre Prevenção e Tratamento dosAgravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes,não se exige qualquer documento que comprove o abuso sexual, basta aversão da vítima e o consentimento da mulher para que o aborto sejarealizado. Ou seja, a mulher vítima de violência sexual não tem o dever legalde notificar o fato à polícia. A palavra da mulher que buscar o aborto sob aalegação de ter sofrido estupro deve ser entendida como presunção deveracidade. Como não é necessária a comprovação do crime de estupro e nemautorização judicial para o aborto, a lei é permissiva e complacente com ainterrupção da gravidez mesmo que o estupro não tenha ocorrido. Os quefazem objeção a essas questões éticas argumentam que vítima já sofreu osuficiente e que não deve ser submetida a outros constrangimentos.

A Bíblia Sagrada, porém nos adverte: “Enganoso é o coração, mais do quetodas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). E acrescenta:

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“Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, osadultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades,o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura” (Mc7.21,22).

Outra questão a se discutir refere-se ao Código de Ética Médica (CEM). OCódigo assegura ao médico:

Exercer sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestarserviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem nãodeseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso deurgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúdedo paciente. (Código de Ética, Inciso VII, Cap. I) De acordo com essa redação, o direito de recusa por causa da consciência é

algo utópico, pois o Código, de modo conflitante, veda ao médico“descumprir legislação específica nos casos de transplante de órgãos outecidos, esterilização, fecundação artificial e abortamento” (Art. 15, Cap. III).Assim, ao mesmo tempo que se garante ao médico a objeção de consciência,o profissional está obrigado a realizar o abortamento, juridicamentepermitido, na ausência de outro médico que o faça (Código de Ética Médica,2010).

De outro lado, discute-se também a inviolabilidade do direito à vida donascituro. A Constituição Federal promulgada em 1988 assegura que “todossão iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-seaos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dodireito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (Art.5º, Caput). O Código Civil, em vigor desde 2002, ao tratar da “personalidadee da capacidade”, protege a vida desde a concepção ao legislar que “apersonalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe

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a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (Art. 2º do CC). Essedispositivo é interpretado por diversos civilistas do seguinte modo: “Emboraa vida se inicie com a fecundação, e a vida viável com a gravidez, que se dácom a nidação, entendemos que na verdade o início legal da consideraçãojurídica da personalidade é o momento da penetração do espermatozoide noóvulo” (DINIZ, 2012, p. 102). Pode-se, então, com esse dispositivo legal,considerar o início da vida na concepção e assim caracterizar o aborto comoatentado à vida.

Outra questão ética a ser levantada relaciona-se ao fato de que um crimenão pode justificar outro crime. O crime de estupro não pode ser justiçadocom a morte do feto que não tem culpa alguma da violência praticada. A leide talião foi abolida e reinterpretada por Cristo: “Ouvistes o que foi dito:Olho por olho, dente por dente? Eu, porém, vos digo: não resistais aohomem mau; antes, àquele que te fere na face direita oferece-lhe também àesquerda” (Mt 5.38,39). Apesar de reconhecer o trauma, a dor, os problemaspsicológicos e sociais que podem resultar da gravidez indesejada, a éticacristã não pode ser relativizada. Outras soluções podem ser encontradas a fimde ajudar a mãe sem que seja necessária a morte de um ser vivo.

3. Aborto TerapêuticoComo está redigida a legislação brasileira, explicitada no Código Penal, nãose considera crime ou não aplica pena no aborto praticado para salvar a vidada gestante (Inciso I, Art. 128). Esse dispositivo, motivo de exclusão dapunição, está previsto no código vigente com o nome de “aborto necessário”,situação em que está enquadrada a interrupção voluntária da gravidez. Noentanto, o preceito legal não explica em que situações o aborto é necessário,apenas enuncia “se não há outro meio de salvar a vida da gestante”. Diantedessa brecha legal, juristas e penalistas consideram a vida da mãe superior àvida da criança.

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Desse modo, o problema ético se sobressai e coloca em conflito o “direito àvida da mãe” e o “direito à vida de seu filho”. Assim, por meio dodiagnóstico médico, que se pressupõe ser apto para julgar a qualidade da vidahumana, pode-se decidir entre “ter os filhos que se quer e não ter os que nãose quer”. Quanto a essa imprecisão legal, renomados médicos seposicionaram contra o “aborto necessário”.

Sob outra ótica, como efeito colateral no tratamento da saúde, uma gestantepode correr o risco de abortar, porém, nesse caso, não existe intenção deprovocar o aborto, e sim de tratar a doença. No entanto, a situação é diferentequando o médico age intencionalmente para matar a criança a fim depreservar a mãe. Essa ação é justificada, como vimos, com a alegação de quea vida de um adulto tem maior valor que a vida de um ser em gestação. Daísurgem questões éticas quanto à valoração da vida humana. Uma pessoamerece viver e outra não? Outra questão é acerca do poder sobre a vida.Podemos decidir quem deve viver ou morrer? Não afirmam as Escrituras quea vida e a morte são, unicamente, da alçada divina? (1 Sm 2.6; Fp 1.21-24)

1 Pequeno dispositivo flexível que é inserido no órgão genital feminino.2 Habeas Corpus 124306 — Supremo Tribunal Federal. Disponível em<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/HC124306LRB.pdf>. Acessado em 07 deoutubro de 2017.

3 Determina a legislação brasileira que para a constatação da morte de uma pessoa é necessário arealização de exames clínico-neurológicos, a fim de testar possíveis reflexos cerebrais. No caso depacientes acima de 2 anos, é imprescritível que, ao mínimo, dois médicos atestem o óbito, com ointervalo de seis horas.

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Capítulo 5

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A

Ética Cristã, Pena de Morte eEutanásia

vida humana é o ponto de partida para todos os demais direitos da pessoa.Se a vida humana não estiver assegurada, torna-se impossível à realizaçãodos outros valores. No entanto, em contradição a esse pressuposto, temasrelacionados à punição com pena de morte e o direito à eutanásia sãofrequentemente discutidos e aceitos na sociedade pós-moderna. Nestecapítulo, estudaremos a presença da pena capital em ambos os testamentosbíblicos, a prática da eutanásia e suas implicações éticas e ainda a vidahumana como sendo originária e pertencente a Deus.

A prática da pena de morte, também chamada pena capital, é uminstrumento jurídico pelo qual um ser humano é morto como punição porcrime cometido. No Brasil, após a Proclamação da República, em 15 denovembro 1889, esse dispositivo foi proibido em caso de crimes civis eretirado do nosso Código Penal. Porém, o nosso atual ordenamento jurídicoainda dispõe da pena capital, que pode ser aplicada em casos de crimescometidos em tempos de guerra (Art. 5º, XLVII, a, CF 1988). Na maior partedos países, a pena capital também já foi abolida ou não é mais praticada.Quanto à eutanásia e seus desdobramentos, estudaremos na sequência destecapítulo.

I. A PENA DE MORTE NAS ESCRITURASÉ incontestável a presença da pena de morte nas Escrituras Sagradas. OAntigo Testamento prescreve a pena capital e o Novo Testamento reconhece

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sua existência, mas não normatiza o assunto. A pena de morte tem sido umdos mais controvertidos temas éticos da atualidade. A maior dificuldade estáem conciliar o ordenamento jurídico da pena capital com o sextomandamento prescrito no Antigo Testamento — “Não matarás” (Êx 20.13)—, que pressupõe a preservação da vida e a proibição do assassinatopremeditado.

A outra problematização do instrumento legal da pena de morte é a suaincompatibilidade com o espírito do cristianismo, que pressupõe o perdão, oamor, a compaixão e a misericórdia; no entanto, a pena capital está presentenos escritos neotestamentários. O teólogo pentecostal Esequias Soarespondera que a presença desse instrumento de punição na Bíblia Sagradapossui sentidos diferentes em cada um dos testamentos: “a diferença doAntigo Testamento é que ali a lei prescreve como parte de um sistema legal, eaqui não é mandamento, conselho ou incentivo. O Novo Testamento apenasreconhece que a pena capital existe” (SOARES, 2015, p. 97).

1. No Antigo TestamentoUma questão ética acerca da “pena retributiva” tem sido amplamentediscutida a partir da advertência divina dada no Éden. Depois de criar ohomem, o Senhor colocou Adão no jardim para lavrá-lo e guardá-lo (Gn2.15). Para a subsistência, Deus o autorizou comer livremente de toda aárvore do jardim (Gn. 2.16). No entanto, o homem foi advertido acerca de umperigo real: “Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás;porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17).Argumenta-se que nessas palavras divinas está presente a pena retributiva, oque significa que “a pessoa é moralmente responsável pelos seus atos e odelinquente merece castigo adequado” (HOLMES, 2013, p. 111). No casoespecífico do Éden, Deus alertou que a desobediência seria punida com apena capital. Quanto a isso, os eruditos cristãos são concordes em afirmar que

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a punição aqui se refere tanto com a morte física quanto com a morteespiritual, ambas como efeito e resultado do pecado. Não obstante, o próprioDeus providenciou um meio de aniquilar a pena capital, ao enviar seu Filhopara morrer no lugar do homem a fim de salvar a humanidade (Rm 6.23, 1 Co15.26,54, Hb 2.14).

O homicídio praticado por CaimO primeiro registro de homicídio registrado nas Escrituras relata o

esfacelamento da primeira família da terra. Um problema de relacionamentomotivado pelo ciúme e pela inveja resultou no primeiro crime de fratricídio,ou seja, a morte de um irmão por outro irmão. Deus responsabilizou Caimpela bárbara e covarde decisão de assassinar seu irmão Abel (Gn 4.6-10). Nodiálogo entre Deus e o homicida, arrependido pelo crime cometido, Caimsuplicou perdão ao dizer: “É maior a minha maldade que a que possa serperdoada” (Gn 4.13). Por conseguinte, apavorado com as consequências deseu ato, o assassino conscientizou-se da desgraça que trouxera sobre a suavida: “Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; eserei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele que me achar mematará” (Gn 4.14).

As palavras de Caim refletem a ideia da lei retributiva: “quem meencontrar, me matará”. Em vista dessa convicção o assassino arrependido ésurpreendido pela resposta divina: “qualquer que matar a Caim sete vezesserá castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferissequalquer que o achasse” (Gn 4.15). No primeiro homicídio cometido pelohomem, Deus reclama para si todo o direito de vingança, por ser o dono davida (Gn 4.10) e ao mesmo tempo proíbe que se tome vingança de Caim (Gn4.15). Deus demonstra compaixão e misericórdia diante do pavor e desesperoestampado nas palavras do homicida. Deus não permitiria que ele fossemorto, mas manteria o castigo da expulsão e da vida errante. Caim nãorecebeu a pena capital, mas uma sentença equivalente a pena perpétua. Os

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juízos divinos não são apenas retributivos, mas também são pedagógicos,pois têm o propósito de regenerar o ofensor (Hb 12.6,11).

Lameque e o aumento da criminalidadeNa continuidade do capítulo 4 do livro de Gênesis, o autor sagrado

descreve a linhagem de Caim (Gn 4.17-22). O texto relata que Lameque,descendente de Caim, era de temperamento violento e comportava-se demodo vingativo e desequilibrado. Lameque requereu uma vida por uma feridaque lhe fizeram e outra por uma pisadura que sofrera. Ele tirou a vida de umhomem e de um menino por motivo torpe e totalmente fútil. Em termosjurídicos, de nosso ordenamento jurídico atual, seu crime é tipificado comohomicídio duplamente qualificado (Art. 121, §2º, CP). A narrativa bíblicatambém evidencia a insensibilidade de Lameque, sua falta dearrependimento, arrogância e jactância. Ele se gaba de seus atos criminosospara as suas mulheres (Gn 4.23,24). Diante desse terrível discurso, percebe-seque após a queda e o consequente primeiro homicídio, o ódio e a vingançatomaram proporções assustadoras (Caim é vingado sete vezes, Lamequesetenta vezes sete).

Após a narrativa desses fatos seguida pela genealogia de Sete (Gn 5.1-32),as Escrituras registram no capítulo 6 do Gênesis a decadência e a depravaçãoda espécie humana: “viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicarasobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era sómá continuamente” (Gn 6.5). O registro bíblico relata a multiplicação daviolência, a prática da injustiça, o domínio da vingança, a deterioração dasociedade e o consequente aumento da criminalidade. Ao ver a condutahumana corrompida (Gn 6.12), Deus se arrepende de ter criado o homem edecide enviar o dilúvio como castigo à humanidade (Gn 6.13,17). Ao salvarNoé e sua família (Gn 6.8-10;16) Deus estabelece uma nova dispensação paracom a geração pós-diluviana:

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Dentro deste contexto, a necessidade de equilíbrio é declarada por Deuspor meio do “olho por olho e dente por dente”, a saber, umaproporcionalidade entre o mal causado e a resposta a este mal. Assim, a Leide Talião é dada para regular as relações sociais desequilibradas emdiversos âmbitos, tais como crimes e acidentes contra a pessoa, acomunidade ou mesmo a propriedade. Caso não houvesse lei reguladora,estes processos acabariam em ciclos criminosos de vingança e opressão dossocialmente mais fracos, com respostas desproporcionais e injustas.(MEISTER, 2007, p. 61) Na tentativa de coibir o desenfreado crescimento da criminalidade e do

desproporcional comportamento vingativo, a lei retributiva se apresenta paraestabelecer limites e fixar normas a serem adotadas como um princípioregulador para a sociedade. Desse modo, a pena proporcional ao crime seráestabelecida a fim de corrigir a postura de vingança violenta inaugurada porLameque e inserida na cultura daquela época. Como poderemos perceber nospontos subsequentes, a lei retributiva será exposta e claramente introduzidapor Deus, registrada no Pentateuco, por meio dos pactos estabelecidos com opatriarca Noé e o legislador Moisés.

O pacto noético e a lei mosaica1. No pacto com Noé (após o dilúvio), a pena de morte aparece como

punição retribuitiva (Gn 9.6). Na Lei de Moisés (após a saída do Egito), omesmo conceito é mantido (Êx 21.23-25). Esse modelo de puniçãotambém é conhecido como “lei de talião”. A expressão vem do latim LexTalionis (lex = “lei” e talis = “tal, de tal tipo”), e consiste na justareciprocidade do crime e da pena. O Código de Hamurabi (1750-1730a.C.), que trata sobre delitos e penas, traz um conceito similar ao pacto

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noético e à lei mosaica.

2. Convém salientar que a lei retributiva não se referia unicamente à penacapital. A essência da lei está na “retribuição” proporcional ao danocausado. Na lei mosaica, as punições com a pena capital eram executadaspor meio do apedrejamento, da espada e por meio da fogueira. Eramcondenados à morte por apedrejamento os culpados dos seguintes delitos:infanticídio (Lv 20.2-5), adivinhação (Lv 20.27), blasfêmia (Lv24.15,16), profanação do sábado (Êx 31.14; 35.2), falsa profecia (Dt13.1-10), a falsa adoração (Dt 17.2-7), filho incorrigível (Dt 21.18-21) e oadultério (Dt 22.22-24). Eram punidos à espada os apóstatas (Êx 32.27),os assassinos (Nm 35.19-21) e os idólatras (Dt 13.13-15).

3. Era queimado na fogueira quem praticasse o coito com a esposa e asogra (Lv 20.14) e também a filha de sacerdote que praticasse aprostituição (Lv 21.9). Outras punições fora da pena capital também eramexecutadas: a mutilação (Êx 21.24,25; Dt 25.12), açoites (Dt 22.18; 25.1-3), multas (Êx 22.1-4; Dt 22.18,19), prisão (Jr 37.15,16), escravidão (Êx21.2; 2 Rs 4.1), além de outros métodos punitivos. Apesar de prevista, apena capital não era aplicada de modo generalizado. No crime deassassinato, a pena era aplicada apenas no caso de homicídio premeditado(Êx 21.12). Se o homicídio cometido fosse considerado um acidente ouem defesa pessoal, o homicida involuntário poderia escapar da penaescondendo-se em uma das cidades de refúgio (Êx 21.12,13; Nm 35.22-25). Era uma espécie de condenação perpétua; o culpado deveriapermanecer na cidade de refúgio até a morte do sumo sacerdote (Nm35.25).

4. Quanto à discutida contradição entre o sexto mandamento e a penacapital, a explicação pode ser encontrada no significado do verbohebraico. A prescrição do Decálogo usa o verbo rãtsah na expressão“Não Matarás” (Êx 20.13), o que significa literalmente “não

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assassinarás”, isto é, a proibição do homicídio doloso ou qualificado.Então, ao cidadão era proibido tirar a vida de outro, e, quando alguém ofazia, a lei exigia que o Estado fizesse justiça. Para o devido processolegal, ao menos duas testemunhas eram requeridas (Dt 17.6). Assim, amorte do homicida com autorização legal era vista como justiça contra aimpunidade, e não como uma mera vingança.

A pena capital e o perdão divino1. Não obstante a severidade dessas punições, havia exceções na aplicação

da lei, e até nos casos em que o crime tinha sido premeditado. QuandoDavi adulterou e engravidou Bate-Seba, por exemplo, o reideliberadamente planejou a morte de Urias com a finalidade de ocultar oseu pecado (2 Sm 11.3,4,15). Nesse episódio, Davi cometeu dois crimesdignos de morte: o adultério, cuja pena capital deveria ser executada comapedrejamento, e o assassinato, cuja punição requeria a pena de mortepela espada.

2. No entanto, Deus não permitiu que a pena fosse aplicada ao monarca:“Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi:Também o Senhor traspassou [perdoou] o teu pecado; não morrerás” (2Sm 12.13). Nesse caso, Deus tratou pessoalmente do pecado do Rei comuma dolorosa sentença: a espada nunca se afastaria de sua família (2 Sm12.10), as mulheres da família de Davi seriam violadas (2 Sm 12.11), asdesgraças da família real seriam do conhecimento de todos (2 Sm 12.12)e, por fim, o menino nascido do caso de adultério iria morrer (2 Sm12.14). A essência da lei retributiva estava presente na sentença, mas apena capital não foi aplicada ao transgressor. O perdão e os propósitosdivinos prevaleceram sobre a lei.

2. No Novo Testamento

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No célebre ensino de Cristo conhecido como “Sermão da Monte”, registradono Evangelho de Mateus, aparentemente a aplicação da pena capital foiencerrada ou recebeu nova interpretação nas repetidas declarações de Jesus:“Ouvistes o que foi dito [...] eu, porém, vos digo [...]”. Jesus usou essaexpressão seis vezes no sermão (Mt 5.21,22,27,28,32,38,39,43,44). Nos doisprimeiros casos listados por Jesus, a lei exigia que fosse aplicada a penacapital ao transgressor.

O Sermão do Monte e o AssassinatoNo primeiro enunciado (Mt 5.21,22,25), Cristo referiu-se ao 6º

mandamento preconizado no Decálogo: “Não matarás!” (Êx 20.13), cujainfração era punida severamente com a pena de morte por meio da espada. Éinegável que Jesus amplia a interpretação vigente ao colocar o crime deassassinato no mesmo patamar do rancor e do ódio praticado contra opróximo. Uma parcela dos intérpretes dos Evangelhos afirma que Cristoconsidera a prática da ira e da vingança como pecado tão grave quanto oassassinato: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo;mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv 19.18).Nota-se ainda que Jesus menciona dois tribunais de julgamento — “réu dejuízo” e “réu do Sinédrio” —, e formaliza dois tipos de punição — “fogo doinferno” e “aprisionamento” (Mt 5.22,25). Alguns eruditos enxergam aqui aabolição da pena capital; outros intérpretes, porém, advertem que Cristoapenas acrescentou a pena de prisão em caso de calúnia e difamação. Apesarda controvérsia, está presente no ensino de Jesus a essência do cristianismo:amor, perdão e conciliação em lugar de ódio, rancor e desejo de vingança.

O Sermão do Monte e o AdultérioNo segundo enunciado (Mt 5.27-30), Cristo referiu-se ao 7º mandamento

preconizado no Decálogo: “Não adulterarás” (Êx 20.14). Essa infraçãotambém era severamente punida com a pena de morte, sendo o apedrejamento

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o método utilizado.Neste caso da instrução acerca da imoralidade, Cristo corrige o falso ensino

de que o adultério é caracterizado somente por meio da conjunção carnal.Jesus ensina que inclusive o olhar lascivo é uma forma de adultério. Para ospadrões morais do Messias, o pecado não está apenas no “ato”, mas tambémna “intenção”. A interpretação dada por Jesus demonstra que ambas ascondutas — adultério e cobiça — são desaprovadas por Deus: “Não cobiçarása casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seuservo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa algumado teu próximo” (Êx 20.17). Na sequência do sermão, Cristo advertiu que eramelhor arrancar um olho e perder uma das mãos, e assim entrar no céu(caolho e aleijado) do que ter todos os membros do corpo lançados no inferno(Mt 5.29,30). Essa passagem é carregada de simbolismos:

Jesus não está ensinando uma doutrina masoquista de automutilação comobjetivos espirituais, e tampouco está sugerindo que o caminho pararesolver o problema dos maus desejos é infligir cirurgia física radical. Afigura de linguagem de Cristo enfatiza a importância crucial de tomarmosquaisquer medidas que forem necessárias a fim de controlarmos nossaspaixões naturais, que tendem a explodir se não houver governo.(MOUNCE, 1996, p. 57) Percebe-se na leitura do ensino de Cristo que o pecado da imoralidade é

ampliado e assim a interpretação da lei toma uma nova e maior dimensão. Ecomo prevenção contra esse pecado o sermão nos indica o caminho da“mortificação” da carne. Paulo utiliza esse ensino de Cristo quando escrevesuas epístolas orientando os cristãos a mortificarem os desejos da carne (Rm8.13; Gl 2.20; Cl 3.5). Também fica evidente no texto a inexistência da penacapital para o adultério. A única referência de condenação é a repetição, por

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duas vezes, da sentença que o corpo do adúltero (a) será “lançado no inferno”(Mt 5.29,30). Não obstante, na opinião de alguns intérpretes, não é possívelafirmar, baseado neste texto, que Cristo tenha revogado a pena de morte.Contudo, o claro ensino de Jesus é o de “mortificar” os desejos, e assimevitar o inferno.

A pena capital nos escritos paulinosEm Romanos 13.3-6, o apóstolo Paulo constata a legalidade da pena de

morte e a legitimidade do Estado em usar a espada como punição aotransgressor. O texto paulino evidencia a autoridade do Estado pelasseguintes razões listadas nos versículos: “serva de Deus para teu bem”,“agente vingador para castigar o que faz o mal” e “estão a serviço de Deus”.Todas essas expressões indicam que o Estado tem o dever divino de punir osmalfeitores, mas “o apóstolo nada diz quanto ao tipo de sanção e depenalidades que o Estado possa empregar” (STOTT, 2000, p. 417). Acontrovérsia em relação ao possível apoio do apóstolo à pena capital estápresente na frase: “Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde aespada” (Rm 13.4b).

O debate gira em torno do sentido que se deve dar a palavra referente à“espada” (machaira). O apóstolo já usara essa expressão antes com o sentidode morte: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou aangústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?”(Rm 8.35). No entanto, no texto em apreço, as palavras seguintes parecemindicar que a expressão “espada” deve ser entendida como símbolo geral dejuízo “para castigar o que faz o mal” (Rm 13.4c). Ora nem todo mal eracastigado com a pena de morte, embora ela não esteja excluída do textopaulino. Portanto, o apóstolo não normatiza a aplicação da pena, não ordena enem proíbe, apenas reconhece a existência da lei como dispositivo punitivona sociedade e na cultura de sua época.

De fato, a pena capital contém questões complexas para que sejam

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aplicadas no contexto cristão, “pois o precedente bíblico condenava à mortenão só o homicida, mas também o adúltero e o que amaldiçoasse pai ou mãe”(HOLMES, 2013, p. 114). Aqueles que advogam o princípio bíblico para apena capital estão dispostos em aplicá-la para todos os casos previstos na leimosaica? A solução não estaria na mensagem transformadora do calvário?

O caso da mulher adúlteraO evangelista João registrou o caso de uma mulher apanhada em adultério

(Jo 8.4). João informa que era de manhã cedo e Jesus estava ensinando noTemplo (Jo 8.2). Cristo estava rodeado pelas pessoas que o escutavam, e demodo súbito os escribas e fariseus interromperam o discurso de Cristo comuma questão de ordem legal. Eles acusavam uma mulher de adultério eexigiam o parecer de Jesus sobre a aplicação da pena de morte (Jo 8.5). Essasautoridades eram “adeptos fundamentalistas da lei e sua interpretação,aplicação e preservação, eles sentiam-se ameaçados por uma nova escola depensamento. Assim, tentavam anular Jesus com esta situação”(ARRINGTON, 2003, p. 540).

João registra que se tratava de uma armadilha para apanhar Jesus emalguma contradição: “Isso diziam eles, tentando-o, para que tivessem de queo acusar” (Jo 8.6). O que pretendiam os opositores? Acusar Jesus de violar alei? Torná-lo impopular com o apedrejamento de uma mulher? Parece quequalquer alternativa é possível para essas questões. Para os escribas efariseus, não importava qual fosse à decisão, pensavam que só tinham aganhar levando o problema para Jesus se posicionar.

Entretanto, os acusadores comportaram-se de modo parcial e trouxeramsomente a mulher para ser julgada, enquanto a lei exigia a presença dastestemunhas e também do adúltero (Nm 35.30; Lv 20.10). Cristo se recusou aparticipar desse juízo temerário e ilegítimo. Absolveu a mulher da punição,lhe perdoou e a exortou a deixar o pecado (Jo 8.11).

Contudo, uma parte da erudição neotestamentária diverge da citação acima

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referenciada. Consideram que o perdão de Jesus foi somente religioso eespiritual e que não houve perdão civil ou jurídico, já que a acusação contraela tinha desmoronado (KAISER Jr, 2016, p. 176). Entretanto, não hádúvidas das lições que devem ser extraídas do incidente: Cristo não foiconivente com o pecado da mulher, mas desaprovou a violência e usou demisericórdia. Assim, apesar da pena de morte estar presente em ambos osTestamentos, os registros bíblicos assinalam que houve espaço para perdão eabsolvição: para o rei Davi no Antigo Testamento e para a “mulher adúltera”no Novo Testamento.

II. EUTANÁSIA: CONCEITOS E IMPLICAÇÕESA eutanásia é o procedimento em que de modo ativo ou passivo uma pessoapode antecipar ou acelerar o processo de morte. Por vezes é chamada de“morte assistida” ou “suicídio assistido”. No Brasil, a eutanásia é ilegal edesaprovada pelo código de medicina.

1. O Conceito de EutanásiaEtimologicamente, a palavra “eutanásia” tem origem em dois termos gregos:eu, com o significado de “boa” ou “fácil”, e thánatos, que significa “morte”.A junção desses dois termos resulta na expressão “boa morte”, tambémconhecida como “morte misericordiosa”. No sentido técnico, “eutanásia”significa antecipar, acelerar a morte ou tirar a vida de pacientes em estágioterminal, que estejam padecendo de dores intensas em consequência dealguma doença incurável. É o ato de matar o doente para não prolongar ograve quadro de seu sofrimento e de seus familiares. As formas usadaspodem ser classificadas em eutanásia passiva ou ativa. A primeira consisteem desligar as máquinas e aparelhos que mantém o paciente vivo e a segundarequer a aplicação de qualquer droga que possa acelerar o processo de morte.

A ortotanásia

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Enquanto a prática da eutanásia tem sido tema de amplo e controversodebate, a “ortotanásia” é um procedimento comumente aceito e praticado.Embora lexicamente a ortotanásia até possa ser considerada sinônimo deeutanásia, entre ambas há consideráveis diferenças no campo da ética(ANDRADE, 2015, p. 81). A ortotanásia advém das expressões gregasorthos, que significa “correta”, e thánatos, que significa “morte”. A junçãodesses dois termos resulta na expressão “morte correta”, também conhecidacomo “morte digna”. A ortotanásia trata os sintomas de uma doença paramelhorar a qualidade da vida em estágio terminal. Nesse caso, o tratamento épaliativo, com o propósito de minorar a dor e deixar morrer da maneira maisconfortável possível. Não se pretende a morte do paciente; simplesmente seaceita o fato de não poder impedi-la, isto é, permite-se que a vida do pacientecesse naturalmente. Costuma-se diferenciar a “eutanásia” da “ortotanásia”nos seguintes termos: “A ortotanásia seria deixar morrer, enquanto aeutanásia seria fazer morrer”.

2. As Implicações da EutanásiaAs consequências da prática da eutanásia são extremamente danosas econtrárias à dignidade da vida humana. As dúvidas e as interrogaçõesformuladas são complexas: É legalmente autorizado fazer cessar a vida? Écorreto que as pessoas, especialmente quem está em fase terminal da vida eem profundo sofrimento, decida pelo término da sua vida? É permitido ao serhumano requerer medidas que lhe tirem a vida? É direito de a pessoadeterminar o dia de sua morte? É moralmente certo que outras pessoasdecidam pela vida do moribundo? Qual a ética adotada quando se decide peloprolongamento ou pela eliminação da vida? Portanto, diante dessas e outrasquestões, a prática da eutanásia tem implicações de ordem legal, moral eética.

Implicações legais

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Nos aspectos legais, a Constituição Brasileira assegura a “inviolabilidadedo direito à vida” (Art. 5º, CAPUT) e a “eutanásia” é tipificada como crimeno Código Penal Brasileiro (CP):

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxíliopara que o faça: Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio seconsuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resultalesão corporal de natureza grave. Parágrafo único – A pena é duplicada: I-se o crime é praticado por motivo egoístico; II- se a vítima é menor ou temdiminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. No entanto, tramita no Senado Federal o Projeto de Lei no 236/12 (Novo

Código Penal), em que o juiz poderá deixar de aplicar punição para quemcometer a eutanásia, seja ela passiva, seja ativa:

Matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputávele maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável emrazão de doença grave: Pena – prisão, de dois a quatro anos. §1º O juizdeixará de aplicar a pena avaliando as circunstâncias do caso, bem como arelação de parentesco ou estreitos laços de afeição do agente com a vítima.§2º não há crime quando o agente deixa de fazer uso de meios artificiaispara manter a vida do paciente em caso de doença grave irreversível, edesde que essa circunstância esteja previamente atestada por dois médicose haja consentimento do paciente, ou, na sua impossibilidade, deascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão. (NCP, 2012,Art. 122) Se aprovado, o novo código possibilitará ao magistrado avaliação subjetiva

e pessoal acerca da prática da eutanásia ativa (§1º) e quanto à eutanásia

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passiva, o doente terminal ficará à mercê da vontade de terceiros (§2º).Nesses termos, a legalização da eutanásia provoca complicações de ordemmoral e ética.

Implicações moraisNas questões de ordem moral, deparamo-nos com a violação do sexto

mandamento do Decálogo — “Não Matarás” (Êx 20.13) —, e em decorrênciadisso o crime de assassinato. E, ainda quando a “eutanásia” é consentida pelopaciente, surge o problema do pecado de suicídio. Associado a isso,questiona-se a participação do médico na condução do suicídio assistido.Nesse caso, o paciente provoca a própria morte com ajuda do médico queprovidencia os meios de fazer cessar a vida (PALLISTER, 2013, p. 144). Osmédicos não deveriam salvar vidas, em lugar de eliminar vidas? Pergunta-seainda: A quem mais interessa a eutanásia? Ao paciente ou ao seu plano desaúde e à previdência social?

Enquadram-se nessa discussão as questões de consciência e o sentimentode culpa. O homem como cidadão pode até compreender os argumentos pró-eutanásia, porém é muito difícil aplacar a consciência, pois ela é a primeirajuíza de nossos atos. A culpa é considerada como um arrependimento poruma atitude tomada. Isso acontece quando alguém é obrigado pelascircunstâncias a decidir pela morte de um ente querido. Uma parcela depessoas fica com a consciência pesada e sofrendo remorso. O sentimento deculpa torna a pessoa refém de sua ação contrária ao instinto natural de velarpela inviolabilidade da vida.

Implicações éticasAs indagações éticas podem ser assim resumidas: É lícito exterminar

pessoas doentes? Descartar enfermos, inválidos e idosos não se constituiconceito racista da eugenia? Será ético interromper o tratamento de alguémque está sedado para não sentir dores ou induzido ao coma? As pessoas que

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desejam morrer estão com a mente sã e em condições psicológicas para essatomada de decisão?

Existem também, as questões éticas de erro médico. Os casos dediagnóstico errado. A pessoa descobre ser portador de uma doença que a faráconviver com dores horríveis, perdas cognitivas, intenso sofrimento, e, porfim, a morte. Desesperado e sem expectativas, o paciente pede então quetirem a sua a vida ou que o deixem morrer antes que a dor se torneinsuportável. No entanto, o exame post-mortem conclui que o diagnósticoestava errado. Como lidar com uma tragédia dessas? Acham-se igualmenteinseridos nesse contexto os casos de diagnóstico certo, mas de prognósticoerrado. Por exemplo, a equipe médica chega à conclusão de que determinadadoença levará o paciente a uma morte dolorosa. Não obstante, tempos depois,a cura é descoberta. Matar ou deixar morrer, nesses casos, promovemimplicações éticas insolúveis.

III. A VIDA HUMANA PERTENCE A DEUSDeus é a causa originadora como também a causa sustentadora de toda vidaque existe. Deus é o Dono de todas as coisas, inclusive do amanhã (Mt 6.34,Tg 4.13,14). Ele é o único ser capaz de controlar integralmente tudo queexiste, o curso da vida, cumprindo cabalmente o seu propósito e frustrandotoda oposição (CRUVINEL, 2015, p. 3). Sob essa premissa, a pena de mortee a eutanásia violam a providência e a soberania divina. A vida foi dada porDeus e pertence a Ele.

1. A Fonte Originária da VidaA Bíblia ensina que Deus trouxe o universo à existência (Gn 1.1) e que Elepróprio sustenta todas as coisas em existência (Hb 1.3). Deus não criousomente a matéria, mas criou também toda a espécie de seres vivos e ainda ahumanidade (Gn 1.21-27; Cl 1.16). Os homens, como obra-prima, são uma

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criação especial e distinta. Deus os criou à sua imagem e semelhança (Gn1.27), característica não dada a nenhuma outra criatura.

A vida humana passou a existir por causa da vontade de Deus e tambémcontinua a existir por sua vontade, pois “todas as coisas subsistem por Ele”(Cl 1.17). Deus está no controle soberano de toda a vida (Dt 32.39; Lc 12.7),e toda vida tem origem nEle: “pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, arespiração e todas as coisas” (At 17.25). Portanto, o Deus vivo é a fonteoriginária da vida e unicamente Ele tem autoridade para conceder ou tirar (1Sm 2.6).

2. O Caráter Sagrado da VidaA vida humana, sua sacralidade e dignidade têm sua origem e fonte em Deus.A vida existe e subsiste por vontade e com propósitos divinos. Atentar contraa vida é atentar contra a providência e a soberania de Deus, o autor da vida. Opoder absoluto sobre a vida e a morte pertence única e exclusivamente aDeus. A atual ideologia que propaga o direito do homem em exterminar aprópria vida ou a do outro viola os desígnios divinos (Jo 10.10). Portanto, avida humana é sagrada e deve ser protegida, cuidada, preservada, respeitada evalorizada.

A sacralidade da vidaNa história das religiões, sagrado é tudo aquilo que é objeto de uma

garantia sobrenatural. O reconhecimento de que a vida humana é sagradarespalda-se em três dimensões fundamentais: a razão da sua origem, a razãoda sua natureza e a razão do seu destino. Assim, como essas razões sãosobrenaturais, a vida é sagrada, não por motivos biológicos, mas por Deus sero protagonista de sua origem, de sua existência e de seu término. Emconsequência, a vida humana é inviolável em quaisquer circunstâncias, fasesou etapas de sua existência. Por isso o sexto mandamento, “não matarás”,possui valor absoluto. Não se devem permitir concessões. Quando o

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mandamento é relativizado, a sacralidade da vida humana fica ameaçada.A discussão da sacralidade da vida não pode ser apenas jurídica, mas,

sobretudo, um debate de questões éticas. Para os preceitos da ética cristã, avida humana é sagrada porque tem origem divina, visto que toda vida emanade Deus. Por conseguinte, deve ser inviolável a proibição deintencionalmente alguém tirar a vida de outro ser humano (Êx 20.13). Sejapor meio da pena capital, seja por práticas abortivas ou com o uso dequalquer droga com a intenção de matar ou apressar a morte de alguém. Asacralidade da vida humana deve ser protegida e preservada antes e depois donascimento, desde o momento da concepção até o seu último instante (Sl116.15; 139.13-16). A vida deve ser respeitada e valorizada como dádivadivina: “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito àvida” (2 Pe 1.3a).

A dignidade da vidaAo publicar sua obra A Metafísica da Moral (1797), o filósofo alemão

Immanuel Kant, inaugurou o conceito de “imperativo categórico”. Em suaconcepção, Kant ensinou que nas relações éticas o dever moral é“imperativo” e, por atingir a todos, sem exceção, também é “categórico”. Emoutras palavras, o filósofo queria dizer que “a moral deve ser igual paratodos, o tempo todo, e em todos os lugares”. Ele se posicionava contra o“relativismo moral” e contra a doutrina do utilitarismo, ou seja, a de que “osfins justificam os meios”. Para Kant, a ética deve ser fundamentada emprincípios universais, e não em regras circunstanciais. Desse modo, quandoaplicamos o conceito do “imperativo categórico” em relação à vida, ainviolabilidade recebe valor absoluto, ou seja, um respeito incondicional àdignidade humana é o reconhecimento do sagrado da vida, e não a suabanalização:

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No Brasil, hoje vivemos uma situação paradoxal. Há proteção legal da vidade plantas e animais. O mesmo não ocorre com a vida humana. As plantase os animais usufruem da proteção de ONGs, do público e da autoridadeem geral, quando em propriedade particular. Em lugares públicos, a atitudemuda, pois aí ninguém se sente responsável. Quando o vizinho derrubauma árvore em seu pátio, porque ameaça cair sobre sua residência, outroslogo se encarregam de avisar as autoridades sob o pretexto de defender omeio ambiente. Onde fica a eminente dignidade humana? O homem foireduzido a simples objeto? Deve o homem fazer tudo que sabe, sem preveras consequências? O homem é meio ou fim em si mesmo? (ZILLES, 2007,p. 344) O autor da citação acima questiona a existência de espaço para a

sacralidade e a dignidade da vida humana na sociedade hodierna. Reclamaque, por parte de alguns setores, a vida das plantas e dos animais recebemaior atenção que a própria vida do ser humano. Isso nos remete aoproblema da vulgarização da vida. Em nome do pseudodireito de morrer etambém do suposto direito legal de matar, como nos casos do suicídio,aborto, pena de morte e eutanásia, a sacralidade e a dignidade humana sãodesrespeitadas e tornaram-se corriqueiras.

Entretanto, essa não deve ser a postura cristã. Se a vida é sagrada porocasião da concepção, deve permanecer sagrada durante todo o seu percurso,e não poderá deixar de ser sagrada em seu derradeiro dia. No caso de algumaenfermidade, o paciente tem o direito de receber tratamento adequado tantona busca da cura como no alívio de suas dores. Procedimentos dolorosos eineficazes podem ser evitados a fim de resguardar a dignidade humana,porém, exterminar a vida é uma afronta ao Príncipe da Vida (At 3.15).

Buscar a morte como alívio para o sofrimento é decisão condenada nasEscrituras. Jó, por exemplo, embora sofrendo dores terríveis, reconheceu o

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caráter sagrado da vida e com dignidade não aceitou a sugestão de sua esposaem amaldiçoar a Deus e morrer (Jó 2.9). Por fim, o patriarca enalteceu aprovidência e a soberania divina sobre a existência humana: “Bem sei eu quetudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido” (Jó 42.2).Quanto à pena capital, vale a pena ratificar a seguinte assertiva do apologistaassembleiano: “é como a bomba atômica: existe, mas não é para ser usada.Ela não vai resolver, como nunca resolveu, o problema da violência e dacriminalidade” (SOARES, 2014, p. 97).

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Capítulo 6

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A

Ética cristã e suicídio

expressão suicídio vem do latim sui (“a si mesmo”) e caedere (“matar”,“cortar”), que significa “matar a si mesmo”, também conhecido como “morteautoinfligida”. A palavra “suicídio” foi criada em 1651 pelo médico efilósofo inglês Walter Charleton. Ele alegava que “vindicar-se de umacalamidade extrema e, de outro modo, inevitável por meio do suicídio não éum crime” (KAISER Jr, 2016, p. 181). O sociólogo francês Émile Durkheim(1858-1917) acatou a seguinte definição:

Chama-se suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamentede um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que elasabia que reproduziria este resultado. A tentativa é o ato assim definido,mas interrompido antes que ele resulte a morte. (DURKHEIM, 2000, p. 14) Buscando descobrir quais condutas sociais causavam o suicídio (nexo

casual), Durkheim classificou os suicídios em egoísta, altruísta, fatalista eanômico. O egoísta é aquele em que o bem-estar do indivíduo ultrapassa obem-estar da coletividade. As relações com a sociedade se deterioram, osuicida se isola em uma atitude de autocomiseração a ponto de considerar nãoter mais sentido em viver. O altruísta é aquele que se dá por meio do exageroda interação social. O cidadão sente-se no dever de oferecer a sua vida emfavor de uma causa própria.

O fatalista não acredita que as coisas possam melhorar. Ele decreta ofracasso como única possibilidade e decide tirar a própria vida por sentir-seinferior em relação às outras pessoas. O anômico acontece em situação de

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anomia social, ou seja, a ausência de regras e expectativas, decorrente dealguma crise social, tais como na área política e na economia, que desregulamas normas sociais. A prática do suicídio tem sido um mal silencioso e o índicede pessoas que se matam vem crescendo assustadoramente. Porém, as causasdo suicídio não são apenas de origem sociais; elas possuem fortes elementosde natureza espiritual.

I. O SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDOAs Escrituras registram seis casos de suicídio, cinco no Antigo e um no NovoTestamento. Entre os judeus ortodoxos, existia um entendimento extremadodo texto de Levítico: “E não profanareis o meu santo nome, para que eu sejasantificado no meio dos filhos de Israel. Eu sou o Senhor que vos santifico”(Lv 22.32). A doutrina da “Santificação do Nome” (Kiddush Ha-shem) exigiaque o judeu fizesse todo o possível, até mesmo tirar a própria vida, paraglorificar o nome de Deus (KAISER Jr, 2015, p. 183).

1. No Antigo TestamentoOs casos de suicídio relatados no Antigo Testamento revelam a incapacidadehumana em enfrentar a vergonha e a rejeição. O ser humano tem necessidadede sentir-se aceito, respeitado e amado. Porém, sabe-se que é impossívelviver sem nunca ser rejeitado e, portanto, saber lidar com a rejeição é umaaprendizagem fundamental para o equilíbrio do ser humano (MIRANDA,2005, p. 10). Aqueles que não encontram esse equilíbrio desenvolvem umforte sentimento de baixa autoestima que os leva a prática do suicídio.

A controversa saga de SansãoO livro de juízes estende-se por um período de intervalo entre a morte de

Josué e o começo da monarquia em Israel. Ele narra um tempo conturbado dahistória dos israelitas compreendido entre 1200 até 1070 a.C. A narrativa deJuízes conta a saga de Sansão, o sétimo juiz, cuja tarefa era derrotar os

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filisteus. Sansão recebeu atributos para ser um libertador de seu povo (Jz13.5), mas preferiu alimentar sua carne e envolveu-se em relacionamentosamorosos condenados pela lei mosaica (Jz 14.3). Ele casou-se com uma dasfilhas dos filisteus a quem amava, mas ainda durante a festa de casamento elatraiu a confiança dele (Jz 14.17). Descontrolado, abandonou a festa e foi paraa casa de seu pai. Quando retornou para reconciliar-se com a esposa,descobriu que a tinham dado para outro homem (Jz 14.19,20). Irritado,vingou-se dos filisteus por causa dessa ofensa (Jz 16.5).

Os filisteus lhe deram o troco, e queimaram a casa e mataram a família e amulher que Sansão amava (Jz 15.6). Ele severamente tornou a vingar-se dosfilisteus (Jz 15.8). Então, seus adversários cercaram Judá e pediram suacabeça, seus compatriotas o amarraram e o entregaram aos filisteus (Jz 15.9-13). Sansão libertou-se das amarras e com a queixada fresca de um jumentomatou mil filisteus (Jz 16.14-16). Depois disso, ele foi até Gaza e deitou-seem casa de uma prostituta. Os gazitas cercaram a cidade para matá-lo pelamanhã. Porém, à meia-noite, Sansão se levantou e carregou o portão dacidade, com seus umbrais e tranca (Jz 16.1-3). Não é difícil compreender queas más escolhas de Sansão o conduziram por um tortuoso e desgovernadocaminho. Seus pais não o entenderam, sua esposa o traiu, seus compatriotas oentregaram, uma nação inteira de filisteus o odiava e sua vida corria risco demorte. Não obstante, Sansão não procurou alívio de seu sofrimento nosuicídio, ao contrário, ele lutava bravamente para se manter vivo.

Após sofrer todos esses revezes, Sansão apaixonou-se por uma mulherchamada Dalila (Jz 16.4). Tudo indica que estava em busca de companhia,não era apenas desejo sexual; ele estava solitário e castigado pela rejeição,precisava sentir-se amado, e então passou a morar em casa de Dalila (Jz16.5). Destarte, Sansão experimentaria a maior de todas as suas decepções.Instigada pelos filisteus, Dalila insistia em descobrir o segredo da sua força(Jz 16.15,16). Após confidenciar a verdade à mulher que amava, os filisteus

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arrancaram-lhe os olhos, aprisionaram-no com duas cadeias de bronze eobrigaram-no a girar um moinho no cárcere (Jz 16.21). Quando seus cabelostornaram a crescer, decidido em cumprir sua missão, na festa a Dagom (umdos deuses do panteão cananeu), ao se recostar nas colunas de sustentação,derrubou o templo sobre si e seus inimigos (Jz 16.30).

É verdade que as Escrituras não apresentam Sansão como modelo depiedade e santidade. Mas os problemas de Sansão não eram exclusivamente aluxúria, e sim desobediência espiritual e desajuste emocional. Ele nãocumpriu o seu voto de nazireu, não controlou suas paixões e se deixoumanipular. Contudo, a humilhação que experimentara em poder dos filisteus(a mutilação de seus olhos e o trabalho escravo na prisão) parece que o fezcônscio de sua missão divina. Na derradeira oração de sua vida, Sansãodemonstra sua fé e acredita que Deus possa usá-lo uma última vez (Jz 16.28).Deus reunira em um só lugar todos os líderes filisteus inimigos de Sansão ede Israel (Jz 16.30). Assim, sua tarefa de iniciar o livramento de seu povo foicumprida com a sua morte. Essa ação de Sansão não foi vista como suicídio,e sim como um sacrifício. Seu último ato o transformou em um herói da fé(Hb 11.32-34).

Os suicídios como fuga pessoalO primeiro rei israelita, o benjamita Saul, cometeu vários desatinos e

distanciou-se completamente de Deus. Reinou durante quarenta anos (At13.21), mas já a partir do segundo ano trilhou o caminho da desobediência (1Sm 13.1). Seu primeiro grande erro foi o de usurpar para si o ofício desacerdote sobre Israel. Estava há sete dias no campo de batalha aguardandopor Samuel para a oferta do sacrifício; como o sacerdote demorou, Saulprecipitadamente decidiu oferecer o sacrifício (1 Sm 13.8,9). Ao chegar aoarraial, o sacerdote o repreendeu severamente: “Agiste nesciamente […]agora, não subsistirá o teu reino” (1 Sm 13.13,14).

Dominado pela inveja e ciúmes que sentia por Davi, Saul vivia

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atormentado por um espírito mau (1 Sm 16.14). Por causa de seus erros epecados, Deus não falava mais com ele (1 Sm 28.6). Insensato einconsequente, rejeitou ao Senhor e buscou respostas no ocultismo (1 Sm28.7). Acuado na peleja contra os filisteus, não podendo suportar a derrota eo fracasso de sua empreitada, lançou-se sobre a própria espada e seu auxiliarfez o mesmo (1 Sm 31.4,5).

O suicídio do conselheiro Aitofel é outro caso registrado como fuga para osproblemas. Ele era um gilonita, conselheiro de Davi. Sua reputação era tãoalta que as suas palavras tinham a autoridade de um oráculo divino (2 Sm16.23.). Conjectura-se que Aitofel estava zangado com Davi por causa doadultério do rei com sua neta Bate-Seba e o consequente assassinato de Urias(2 Sm 11.3; 23.34). Por essa razão, Aitofel teria ficado ao lado de Absalãoquando este usurpou o reino de Davi (2 Sm 15.31). Para mostrar ao povo queo rompimento entre o filho e o pai era definitivo, Aitofel aconselhou Absalãoa possuir as concubinas de Davi aos olhos do povo (2 Sm 16.21,22). Aitofeltambém aconselhara escolher doze mil homens, e perseguir a Davi naquelamesma noite. Porém, o rebelde Absalão desejou ouvir uma segunda opinião.Chamaram a Husai, o arquita, que aconselhou esperar, tendo como objetivoalertar a Davi acerca do perigo. Absalão acatou o conselho de Husai, equando Aitofel viu que seu conselho fora rejeitado, desesperou-se, e, semconseguir lidar com a situação, voltou frustrado e deprimido para sua casa,colocou as suas coisas em ordem e enforcou-se (2 Sm 17.1-23).

O outro registro é o caso do rei Zinri. Ele foi o quinto monarca do Reino doNorte. Antes de se tornar rei, tinha sido capitão da metade dos carros sob oreinado de Elá. Quando da ausência do exército em Gibetom, por causa dosfilisteus, Zinri aproveitou da ocasião e da embriaguez do monarca etraiçoeiramente matou a Elá, também dizimou os membros da família real ese autoproclamou rei. Contudo, seu reinado foi breve — apenas sete dias —,pois o exército não o reconheceu e fez do capitão Onri o novo rei. Onri

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marchou com o exército revoltado e sitiou a cidade de Tirza, local onde Zinrireinava. Encurralado, derrotado e apavorado, Zinri incendiou a casa do reiestando ele dentro e assim tirou a própria vida por ato de incêndio criminoso(1 Rs 16.9-19). Ao não suportar a rejeição sofrida, Zinri covardementecometeu suicídio e por motivo fútil.

2. No Novo TestamentoO mais emblemático caso é o suicídio de Judas Iscariotes. Ele fizera parte docolegiado apostólico (Lc 6.16). Sua função de tesoureiro requeria integridade(Jo 13.29). No entanto, ele furtava as ofertas que eram lançadas na bolsa (Jo12.6). Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para entregar Jesus(Mc 14.11). Culpado por entregar sangue inocente, foi enforcar-se (Mt27.4,5) e como resultado “caiu de cabeça, seu corpo partiu-se ao meio, e assuas vísceras se derramaram” (At 1.18, NVI). Cristo já o tinha alertado: “aidaquele homem por quem o Filho do Homem é traído” (Mc 14.21), porém,Judas não resistiu ao Diabo e nem teve humildade para buscar o perdão.Preferiu o suicídio em lugar de corrigir o erro cometido. Em nossos dias, abanalização da vida e da fé tem contribuído para comportamentos similares econsequente queda espiritual.

Judas foi salvo?Essa pergunta é muito comum no meio evangélico. A dúvida de alguns se

baseia no conceito equivocado de predestinação. A doutrina da predestinaçãofatalista ensina que Deus predestinou uns para os céus e outros para oinferno. Os adeptos dessa ideia questionam: “Se Judas estava predestinadopara trair Jesus, o que ele poderia fazer para evitar sua condenação?” Deoutro lado, usando esse mesmo pressuposto, alguns consideram uma injustiçaJudas não ter sido salvo, uma vez que, segundo essa teoria, ele nada poderiafazer contra os desígnios divinos. Sem entrar nos debates da erudiçãoteológica acerca da doutrina da salvação, especialmente entre Calvino e

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Armínio, reconhecemos pelas Escrituras que Deus é soberano (Is 41.21-24).Em sua soberania, Ele concede a cada pessoa o livre-arbítrio para serexercido dentro de seu soberano projeto para o passado, presente e futuro. Eas Escrituras também asseveram que a presciência divina das futuras decisõesde alguém não é o resultado de sua predeterminação dessas escolhas.Portanto, cada qual será responsabilizado e julgado por suas decisões, querelas sejam boas, quer sejam más escolhas (Sl 51.3,4, Rm 2.6-8, Ap 20.12).

Nesse caso, a presciência divina sabia que Jesus morreria em uma cruz (Jo12.32). Sabia que seria traído por Judas Iscariotes (Jo 13.18-27) e tambémtinha ciência de que Pedro negaria o Cristo (Mc 14.19-31). No entanto, aresponsabilidade de cada um desses atos recaiu sobre quem os decidiuexecutar. Quanto à morte de Cristo, Deus não levou as autoridades e nem osalgozes a crucificar Jesus, embora o Senhor tivesse conhecimento prévio dosfatos, a culpa ainda era dos executores (At 4.27,28). Isso significa dizer que“Deus não precisa predestinar para saber de antemão” (HORTON, 1997, p.364).

Quanto ao Iscariotes, sua má índole e sua conduta reprovável nãoaconteceram de uma hora para outra. Não obstante, Lucas e João escreveremque Satanás entrou em Judas (Lc 22.3; Jo 13.27), isso significa dizer queembora agisse de modo próprio, inconscientemente o traidor cooperou com oDiabo (ARRINGTON, 2003, p. 139). O discípulo amado informa que Judasera um corrupto contumaz e furtava as ofertas que Jesus recebia (Jo 12.6). Asua motivação para entregar o Senhor envolveu uma transação monetária —trinta moedas de prata — o preço de um escravo (Êx 21.32). Apesar disso,considera-se que esse não fora o único motivo da traição. Talvez ele achasseque Cristo fosse um embuste e, desacreditado da messianidade de seu líder,resolveu lucrar com a situação (MOUNCE, 1996, p. 250). Entretanto, aocontrário de Pedro — que também traiu a Jesus —, mas que após negar aoseu Senhor encontrou perdão por meio do arrependimento (Lc 22.62; Jo

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21.17), Judas, cheio de remorso, resolveu tirar a própria vida (Mt 27.5). Porconseguinte, tanto o “ato da traição” quanto o “ato do suicídio” foramescolhas que selaram o seu destino. Assim sendo, Pedro foi salvo e oIscariotes morreu perdido.

3. O Suicídio no MundoSegundo a Organização Mundial da Saúde, as mortes por suicídioaumentaram 60% nas últimas cinco décadas. Quase um milhão de pessoastira a própria vida todos os anos e cerca de outros vinte milhões tentam oupensam em suicidar-se. Para cada suicídio, cerca de seis a dez outras pessoassão diretamente afetadas. Na maioria dos países desenvolvidos, o suicídio é aprimeira causa de morte não natural. Desde 2015, as autoridades iniciaram omovimento “Setembro Amarelo”, estimulado pela Associação Internacionalpela Prevenção do Suicídio (IASP), que consiste em iluminar ou sinalizarlocais públicos com faixas ou símbolos amarelos a fim de alertar econscientizar do grande mal do suicídio.

II. OS TIPOS DE SUICÍDIOSAparentemente, os seres humanos são os únicos animais que cometem osuicídio. A morte exerce sobre o homem, ao mesmo tempo, medo e fascínio.Em 37 das peças de Shakespeare, por 54 vezes algum de seus personagenscomete suicídio (DRANE, 2013, p. 61). A prática do suicídio acontece demodo variado. Neste tópico adotaremos os tipos classificados comoconvencional, pessoal e sacrificial.

1. Suicídio ConvencionalDá-se o nome de “convencional” ao suicídio provocado pela tradição culturalde uma sociedade ou povo, bem como a coerção do grupo social na qual oindivíduo está inserido. Trata-se de uma conduta consolidada pelo uso e pela

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prática. Na cultura dos esquimós — grupo étnico que vive no gelo e na neve,submetidos a temperaturas de até -45º C —, a doença e a incapacidade física,bem como a velhice avançada, podem levar ao abandono e mesmo à morte.Para os Kutchin, na região do Alasca, a morte dos inválidos era uma questãode sobrevivência para seus descendentes. Era costume as pessoas de idadeavançada, ao se sentirem um peso para a sociedade, pedirem para seremmortas ou deixadas para trás para morrer. Um ano após a morte dos velhos eincapacitados, uma cerimônia era celebrada em memória daqueles que sesacrificaram pelo grupo. Esse tipo de comportamento se assemelha à eugenia,em que somente os fortes podem e devem sobreviver.

No Japão, a prática do “hara-kiri” (suicídio ritual) expressava orgulho dosuicida em escapar de alguma situação intolerável e era visto como um ato denobreza e uma forma de heroísmo. Era costume, por exemplo, que o devedorinsolvente praticasse o suicídio na véspera do Ano-Novo, como uma maneirade limpar o seu nome e o de sua família. Tal costume justificou oaparecimento dos “pilotos suicidas” durante a Segunda Guerra Mundial(LARAIA, 2015, p. 15). Em época recente, em maio de 2007, o ministro daAgricultura do Japão, ao ser investigado por corrupção, sentiu-seextremamente envergonhado e cometeu o suicídio por enforcamento. Em2014, a taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por dia.Especialistas costumam citar essa antiga tradição de “suicídio em nome dahonra” para explicar que razões culturais tornam os japoneses mais propensosà morte autoinfligida.

2. Suicídio PessoalPraticado por iniciativa individual sem a influência de tradição cultural. Asmotivações para esse tipo de suicídio são variadas e muitas vezes não épossível apontar causas aparentes. Nesse caso, o suicídio é considerado umafuga radical e permanente dos problemas da vida, tais como, dificuldades

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financeiras, desilusões amorosas, sentimentos de culpa, depressão, neuroses,desequilíbrios mentais e espirituais, e outros. O único e último desejo dosuicida é supostamente aliviar o sofrimento por meio da morte. Tais pessoascomportam-se de maneira egocêntrica e costumam pensar apenas em simesmas. Não se importam com o sofrimento que vão causar aos outrostirando a própria vida. Imaginam que seus sofrimentos são insuperáveis.Nessas circunstâncias de individualização exacerbada, a tristeza e amelancolia afloram os sentimentos suicidas que, desprovidos de fé eesperança, em um ato de desespero levam o homem atentar contra a própriavida.

3. Suicídio SacrificialTambém conhecido como “morte em prol dos outros”. Trata-se da tentativaaltruísta de alguém salvar a vida alheia em detrimento de sua própria vida.Para o sociólogo Émile Durkheim, o suicídio altruísta é praticado porindivíduos que se veem sem importância e oprimidos pela sociedade ou porindivíduos que veem o mundo social sem importância e sacrificam a sipróprios por um grande ideal. Nesse ponto, divergimos do célebre sociólogo,pois reconhecemos que pessoas podem sacrificar suas vidas não pordesacreditarem de si mesmas ou por desprezarem a sociedade, mas por puraabnegação e como meio de salvar a vida de outro ser humano que está emiminente perigo.

Nesse caso enquadra-se o bombeiro, que entra no fogo ciente de que correrisco de vida, e que por vezes acaba morrendo como resultado de sua ação.Também aquele habilitado ou voluntário que se afoga ao entrar na água paratentar salvar a vida do outro. Ainda o profissional civil e militar ou voluntárioque perde a vida combatendo o crime. Igualmente fazem parte dessa lista osvoluntários e os profissionais que atuam no socorro às vítimas de acidentes eemergências, que muitas vezes sucumbem no exercício de suas atividades.

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Nessas circunstâncias, a morte de quem arrisca a vida em favor do próximo éconsiderado um ato de amor. Não se trata de suicídio deliberado,convencional, pessoal ou egoísta, mas sim de uma ação caracterizada pelodesprendimento da própria vida em favor do outro. Foi Cristo Jesus quem nosensinou: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vidapelos seus amigos” (Jo 15.13). O próprio Senhor entregou a sua vida por nós.Não foi suicídio, foi um sacrifício de amor (Jo 10.15).

III. O POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA OSUICÍDIOA posição teológica e ética do cristão é totalmente desfavorável à prática dosuicídio. Atentar contra a vida, a sua ou a de outro, é atentar contra asoberania de Deus, o autor da vida. Cremos e ensinamos que o poder absolutosobre a vida e a morte pertence a Deus. Por violar os propósitos divinos,repudiamos qualquer ideologia que propague o direito do homem emexterminar a própria vida.

1. O posicionamento teológicoO cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no sexto mandamentodo Decálogo: “Não matarás” (Êx 20.13). O mandamento que proíbe o homemde assassinar o outro também o proíbe de assassinar a si mesmo. A vidahumana é uma dádiva divina e, portanto, pertence a Deus (Sl 100.3). OCriador é quem determina o início e o término da vida, e não a criatura (Ec3.2). É Deus quem estabelece quando e como a vida deve cessar, seja pordoença, velhice, seja por acidente. Por conseguinte, o fim da vida está sob ocontrole e a sabedoria divina.

A salvação e o suicidaUma pergunta comum indaga o destino final daquele que pratica o suicídio.

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Para responder a essa questão, é preciso ficar claro que o suicídio é pecadocontra Deus, a vida, a dignidade, a pessoa e a sociedade. As Escriturasadvertem que a violação do mandamento “não matarás” resulta emcondenação ao infrator (1 Co 3.16,17; 1 Jo 3.15b; Ap 21.8).

Mercê da revelação inequívoca das Escrituras, cometer homicídio contraoutro ou contra si mesmo é pecado contra Deus, e atentar contra o corpo queé templo do Espírito Santo implica a condenação de quem comete tais atos.Aqueles que tentam inocentar o cristão que tira a própria vida argumentamque Sansão, ao cometer suicídio, não perdeu a salvação, pois seu nomeintegra a galeria dos Heróis da Fé (Hb 11.32). Tal argumento, como já vimos,é um logro e pode ser desconstruído pelo fato de Sansão ter realizado um atoheroico de fé, para vingar-se dos inimigos de Israel, mesmo admitindo o riscode morrer com eles. Portanto, usar o exemplo de Sansão para justificar osuicida é apenas uma falsa conjectura.

Outro argumento falacioso apresentado por alguns no intuito de amenizar opecado do suicídio consiste em afirmar que a salvação é concedida ao suicidacristão sem a necessidade de arrependimento de tal pecado. Aliás, essaposição é um desvirtuamento do ensino das Escrituras Sagradas.Contradizendo essa audaciosa falácia, as Escrituras revelam que oarrependimento precede a salvação (Lc 24.46,47; 2 Co 7.10a; 1 Jo 1.9,10).

Deus não requer de nós um estado de perfeição plena. Se assim fosse, asalvação não seria por graça, e sim por obras. Por outro lado, aquele que énascido do Espírito é nova criatura e não vive mais na prática do pecado, massim no processo de santificação sem a qual ninguém verá a Deus (Hb12.14).Por conseguinte, é preciso entender que a prática do suicídio não é umpecado involuntário ou inconsciente inerente de nossa fraqueza carnal. Tirar aprópria vida é um pecado deliberado, consciente, pensado, premeditado,planejado e executado em detalhes. Ao fazer uso do livre-arbítrio, o suicidaintencionalmente decide atentar contra a própria vida na ilusão de acabar com

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o sofrimento e assim afronta a soberania divina. Estão inclusos aqui tambémaqueles que, segundo Paulo, serão julgados por sua consciência (Rm2.15,16).

A Bíblia afirma que o Espírito Santo é quem convence o homem dopecado, e da justiça e do juízo (Jo 16.8). Quem comete o suicídio não estáconvencido desse pecado; Ele resiste à ação do Espírito Santo e decide darcabo da própria vida. Entendemos o desespero da vida de quem chega a esseponto e reconhecemos que tal pessoa precisa de ajuda e de compaixão, e nãode incentivo para suicidar-se. Quem vive tal dilema, precisa de apoio e delibertação. E nós sabemos pelas Escrituras que o homem não pode libertar-sepor si próprio e que tanto a salvação como o livre-arbítrio nos forampropiciados por Deus. Portanto, quem comete o pecado do suicídio necessitaque seu livre-arbítrio seja conduzido pelo Espírito de Deus aoarrependimento e assim ser alcançado pela graça salvadora. Lamentamos,porém, que alguns religiosos no afã de defenderem um dogma de suadenominação religiosa insistem em apresentar argumentos falaciosos,garantindo a salvação de quem comete suicídio, e assim, de maneira insensatae inconsequente, consciente ou inconsciente, fazem apologia à prática dosuicídio.

Em contrapartida, cremos que no caso do suicida ser convencido peloEspírito de Deus acerca de seu pecado, e nos últimos instantes de sua vida, talqual o malfeitor da cruz, por meio da fé arrepender-se de seu ato será salvopor meio da graça, o favor imerecido concedido por Deus a pecadoresarrependidos. E, esclareço, o arrependimento não é obra humana; é obra doEspírito, que convence o homem do pecado e o capacita ao arrependimento.Por conseguinte, somente Deus é quem conhece a situação espiritual noúltimo momento da partida de cada um de nós. Por isso, o cristão não devebuscar e nem amenizar a prática do suicídio.

2. O Posicionamento Ético

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O aumento do suicídio é resultado da ideologia que enaltece a criatura emlugar do Criador e propõe a morte como única saída para o sofrimentohumano. O existencialismo, o secularismo e o relativismo tão comuns nacultura pós-moderna insistirão que é direito do homem exercer autonomiasobre o próprio corpo, a liberdade de fazer o que quiser, inclusive suicidar-se.Essa filosofia é antiga. Os estoicos, por exemplo, glorificavam o suicídiocomo a suprema independência do homem. Os atuais adeptos de taisideologias defendem que qualquer opinião contrária ao suicido é ameaça eviolação contra a liberdade humana. Quando o homem evoca autonomiasobre o próprio corpo e a própria vida, desprezando e afrontando a soberaniadivina, graves e funestas consequências ocorrem. A vida só tem sentidoquando está sob o controle irrestrito de seu Criador (Is 41.13). O início davida e também o quando e o modo do término da vida são prerrogativasexclusivamente divinas.

Justificativas éticasA posição da ética cristã é contrária à prática e à apologia ao suicídio pelos

seguintes e principais motivos: a) o suicídio implica banalizar a vida e afrontar a soberania divina,

constituindo-se em último ato da falta de fé e de esperança na vida dealguém;

b) o suicida viola o mandamento de amar a si mesmo e ao próximo,constituindo-se em descaso com a dádiva da vida e desamor para com ooutro;

c) o suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento semse importar com os outros, constituindo-se em individualismo extremado;

d) suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança emDeus, constituindo-se em conduta que relativiza as verdades bíblicas;

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e) o suicido é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão davida outorgada por Deus, constituindo-se em um ato de desagravo aofavor divino.

A ética da prevençãoA ética da prevenção tem por objetivo ser uma referência para a prática de

conduta pessoal e profissional de todos os colaboradores que visam impedir osuicídio e auxiliar pessoas com tendências suicidas. Em 2006, a OrganizaçãoMundial da Saúde, alarmada com os índices de suicídio no mundo, lançouum Manual de “Prevenção do Suicídio”. O Manual afirma que “oscomportamentos suicidas são mais comuns em certas circunstâncias devido afatores culturais, genéticos, psicossociais e ambientais” (Prevenção doSuicídio, 2006, p. 3, 4), e ainda apresenta dicas que podem reduzir o risco desuicídio, tais como, o apoio da família e de amigos, crenças religiosas,culturais e étnicas; envolvimento na comunidade; vida social satisfatória e ocuidado com a saúde mental, dentre outros.

Como cristãos, não podemos ignorar que também somos seres humanos, e,portanto, não estamos imunes aos sofrimentos psíquicos e angústias da alma.Precisamos cuidar uns dos outros por meio do apoio mútuo, do diálogofranco, e não por meio de acusações ou atitudes discriminatórias. Aopercebermos os sintomas aqui já listados, não podemos tomar atitudestriunfalistas ou de negação dos fatos. Os sentimentos suicidas são atos dedesespero e profundo sofrimento. Por isso, é indispensável agir. Dar atenção,estar disponível, conversar, aconselhar e interceder. Estimular a fé e aesperança, cobrir de afeto e de carinho, sentir empatia e ser compreensivo.Em caso de nenhuma dessas prevenções surtir efeito, deve-se buscar ajudaqualificada. Não é nenhum demérito o cristão receber tratamento profissionaladequado.

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Capítulo 7

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O

Ética Cristã e Doação de Órgãos

Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Sãomais de 20 mil cirurgias por ano e cerca de 90% desses transplantes sãofinanciados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Embora os índices sejampromissores, o número de carências também cresceu. Segundo o Ministérioda Saúde, o Brasil tem 64 mil pacientes na fila de espera por um transplantede órgãos, e as maiores listas de espera aguardam doações de rim, fígado epâncreas.

Por meio de vários esforços envolvendo o Ministério da Saúde, cirurgiões,psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, religiosos, famílias e a imprensa,o Brasil é o quarto país do mundo em número de doadores de órgãos.Contudo, o Brasil precisa avançar mais, especialmente diminuindo a taxa derecusa das famílias em relação à doação de órgãos. Muitas famílias aindarejeitam a doação por dilemas éticos e falta de informação. Nossa taxa deaceitação familiar, em 2016, chegou a 57%, mas ainda é pouco diante daurgente e imprescindível necessidade de zerar a fila de espera.

I. O TRANSPLANTE DE ÓRGÃOA doação de órgãos engloba basicamente a técnica de transplante e aspesquisas com células-tronco adultas e embrionárias. O termo transplante éempregado no sentido de retirada ou remoção de órgãos, tecidos ou partes docorpo de um ser, vivo ou morto, para aproveitamento com finalidadeterapêutica, ou seja, o tratamento de doenças com a finalidade de conseguircurar, tratar ou minimizar os sintomas. O gesto altruísta de doar órgãos retrataa essência do cristianismo.

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1. Definição de TransplanteO transplante é um procedimento cirúrgico que remove um órgão enfermo docorpo humano para ser substituído por outro saudável. Em muitos casos, otransplante tem sido a única alternativa da medicina para a cura de pacientescom determinadas doenças terminais.

Tipos de transplantesDe acordo com o Ministério da Saúde, podem ser transplantados órgãos

como o coração, o fígado, o pâncreas, os rins, os pulmões, medula óssea,tecidos e outros. O tipo mais comum de transplante é a transfusão de sangue,que acontece por meio da doação entre pessoas vivas (intervivos). Os demaistransplantes intervivos são permitidos em caso de órgãos duplos (rins epulmões), órgãos regeneráveis (fígado) ou tecidos (pele, medula óssea).

A transfusão de sangue é um dos cinco procedimentos médicos maisrealizados em todo o mundo. As Testemunhas de Jeová, por uma equivocadainterpretação das Escrituras, rejeitam e condenam esse tipo de tratamento. Noentanto, os genuinamente cristãos consideram a “doação” e a “transfusão” desangue como verdadeiro ato de amor e solidariedade em total acordo com osprincípios bíblicos do cristianismo. A despeito do progresso da ciênciamédica e das técnicas cirúrgicas, os outros tipos de transplantes entre pessoasvivas são bem complexos e contêm sérios riscos. Embora seja a esperança decura para uma série de doenças, o procedimento é recomendado apenas emcasos de morte iminente, como sendo a última alternativa para o paciente.

As células-troncoO corpo humano possui dois tipos de células-tronco: as embrionárias e as

adultas. O transplante de células-tronco em órgãos lesados seria capaz de darorigem a células saudáveis, regenerar tecidos e curar as lesões. Pesquisadoresacreditam que a cura de certas doenças, tais como, câncer, lesões na medula

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espinhal, diabetes, Parkinson, Alzheimer e esquizofrenia podem se beneficiardesse tipo de pesquisa. As células-tronco adultas são encontradasprincipalmente na medula óssea, placenta e cordão umbilical. Células-troncoadultas também foram identificadas em vários órgãos e tecidos, incluindo ocoração, cérebro, sangue, vasos sanguíneos, músculo esquelético, pele,dentes, intestino, fígado, ovários e testículos.

As células-tronco embrionárias são encontradas no blastocisto (4 a 7 diasapós a fecundação do embrião) e têm a capacidade de se transformar emqualquer uma das 216 diferentes células do corpo humano. É essa capacidadeque permite que um embrião se transforme em um corpo totalmente formado.O problema ético que engloba as células-tronco embrionárias é a necessidadede matar/descartar o embrião para poder fazer a replicação desejada. Essaquestão ética provocou discussão acerca da constitucionalidade do artigo 5ºda Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05) que preconiza o seguinte: “épermitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-troncoembrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização ‘invitro’ e não utilizados no respectivo procedimento”.

Apesar da oposição de segmentos cristãos, em maio de 2008, o SupremoTribunal Federal (STF) permitiu o uso das células-tronco embrionárias parafins de pesquisa e terapia sob a alegação que “a Constituição Federal, quandose refere à dignidade da pessoa humana, aos direitos da pessoa humana, aolivre exercício dos direitos [...] individuais e aos direitos e garantiasindividuais, estaria falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa” (ADI3510/DF). Desse modo, para o STF, o embrião não é uma pessoa. Como aBíblia ensina que a vida tem início na fecundação (Jr 1.5), a ética cristãdesaprova esse procedimento por exigir a interrupção da vida do embrião.

2. O Conceito de Doação na BíbliaO ensino registrado nas Escrituras assevera que “mais bem-aventurada coisa

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é dar do que receber” (At 20.35). Denota um ato voluntário de prover o bem-estar do próximo. Trata-se de uma ação desprovida de qualquer interesse deordem pessoal. A excelência da doação repousa na disposição de renunciar eaté de se sacrificar e sofrer com base no amor pelos outros (Rm 5.8). Doar aonecessitado é uma forma de colocar a fé em prática (Tg 2.14-17). E ainda, areciprocidade está presente no gesto de doar. Foi o Senhor Jesus queassegurou: “Dai, e ser-vos-á dado” (Lc 6.38a).

Argumentos contrários à doação de órgãosA comercialização de órgãos e tecidos é um argumento baseado na

possibilidade de se obter lucro na compra e venda de órgãos e tecidoshumanos. Um mercado, clandestino ou até legalizado, poderia explorar osmais pobres, acelerar a morte de doentes terminais e exterminar os que foremconsiderados inválidos. O temor é justificado pelo número assustador depessoas que aguardam um órgão e do número não menos lúgubre de pessoasque morrem na fila de espera de um transplante. No Brasil, para inibir acomercialização e o tráfico de órgãos, a legislação permite apenas doaçõesgratuitas e estabelece até oito anos de prisão para quem comercializar órgãose tecidos humanos. Se o crime for praticado em pessoa viva que resulte emmorte do paciente, a pena poderá chegar até vinte anos de reclusão (Lei no

9.434/97, Art. 14).A priorização de classes privilegiadas é outra preocupação motivada pela

possibilidade de ser dispensado tratamento diferenciado entre as classessociais. Pessoas de classe alta ou de influência na sociedade poderiam terprioridade na fila de espera de transplantes em detrimento das classes maispobres. Para coibir à concessão de privilégios às pessoas que necessitam detransplantes, o sistema de saúde pública mantém cadastro dos pacientes emlista única de espera. Esse critério foi instituído pela Lei de Transplantes, cujaresponsabilidade recai sobre as “Centrais de Notificação, Captação eDistribuição de Órgãos” (CNCDOs), que são encarregadas de coordenar as

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atividades de transplantes no âmbito estadual.A Lista Única pretende distribuir gratuita e equitativamente os órgãos

disponíveis e, para tanto, faz uso de dois critérios: o cronológico e o dehistocompatibilidade (estado de semelhança ou identidade genética entre doisindivíduos). As listas únicas devem ser por órgãos e podem ser nacionais,estaduais ou regionais, mas a distribuição dos órgãos e tecidos tem caráterestadual. Conforme a legislação, o processo de transplante após a doação doórgão ou tecido não se dará necessariamente pela ordem cronológica deinscrição, o critério de histocompatibilidade deverá ser considerado também.Isso significa dizer que um paciente não compatível com o órgão doado teráque ceder a sua vez na lista de espera para o próximo que seja compatível.Para a efetivação do transplante também é usado o critério da urgência entreos histocompatíveis, ou seja, entre os pacientes compatíveis o caso maisgrave tem prioridade.

Diante dessas informações, percebe-se que o legislador se preocupou comessas possibilidades da natureza humana burlar os procedimentos e até auferirlucros diante do sofrimento dos enfermos e de suas famílias. No entanto, taisconjecturas e probabilidades não são razões para o cristão furtar-se de suaresponsabilidade de exercer o ministério de socorro e misericórdia. Doar éum gesto de amor, solidariedade e empatia.

3. A Doação de si Mesmo: A Santidade da VidaAlguns cristãos se posicionam contrários à doação de órgãos sob o pretextode que o gesto é um ultraje à santidade do corpo. Esse argumento consideraque o corpo é sagrado e, por isso, não pode ser mutilado. Obviamente que umcorpo humano, mesmo sem vida, deve ser tratado com dignidade e respeito.Desse modo, para impedir a violação do corpo humano, a legislação em vigornão permite transplante intervivos que represente grave comprometimento ouque cause mutilação ou deformação inaceitável no paciente (Lei no 9434/97,

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§ 3º, Art. 9). No caso de retirada de órgãos post-mortem, é indispensável,além da autorização da família, o diagnóstico de morte encefálica, por doismédicos, sendo que pelo menos um deve ser neurologista e nenhum delespode fazer parte da equipe médica que faz transplantes (Lei no 9434/97, Art.3). E, no caso de transplante post-mortem, a lei prescreve detenção de atédois anos para quem aviltar o cadáver de um doador ou ainda “deixar derecompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para sepultamento oudeixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados” (Leino 9.434/97, Art. 19).

Com todos esses cuidados para tratar o corpo humano com respeito a fimde evitar a violação do corpo inerte ou impedir a mutilação ou deformação deum corpo vivo, o argumento da integridade do corpo para não doar órgãos éinsustentável. Os cristãos não podem buscar pretextos ou firmar-se emargumentos falaciosos para eximir-se de seu papel de ser o sal da terra e a luzdo mundo (Mt 5.13,14). O Senhor Jesus ensinou aos seus discípulos que:“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhotambém vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7.12).

II. EXEMPLOS DE DOAÇÃO NA BÍBLIAA Palavra de Deus contém registros de ações altruístas carregadas de amor,zelo e dedicação para com o outro. Homens e mulheres que se doaram emprol do reino de Deus e até sacrificaram suas vidas por amor as almas. Nesteponto abordaremos as ações da Igreja na Galácia, a abnegação do apóstolodos gentios e a suprema doação de nosso Senhor e Salvador. Exemplosdignos de ser observado pelos cristãos.

1. O Exemplo dos GálatasA igreja na Galácia foi fundada por Paulo quando este empreendeu suaprimeira viagem missionária (c. 47-48 d.C.). Na ocasião, o apóstolo sofria de

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uma enfermidade não especificada na Bíblia (2 Co 12.7). Ele escreve queorou a Deus três vezes para ser curado, mas o Senhor lhe respondeu: “Aminha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co12.9a). Ao evangelizar na região da Galácia, Paulo deixou indícios de tersentido os efeitos da doença em sua carne e salienta que os gálatas não odesprezaram nem o rejeitaram (Gl 4.13,14). Conjectura-se por meio dessapassagem que a enfermidade de Paulo era nos olhos, ou que a doença lheafetava a visão (Gl 6.11). Indiscutível é que para expressar o amor dosirmãos, ainda que de modo metafórico, o apóstolo fala do sentimento altruístados gálatas, que, se possível fora, arrancariam os próprios olhos e os doariamno intuito de amenizar o sofrimento de Paulo (Gl 4.15).

A cura e a soberania divinaNossa Declaração de Fé, professa que “a cura divina é um ato da soberania,

graça e misericórdia divina [...] e a Bíblia ensina que Deus, na sua soberania,pode permitir a doença” (SOARES, 2017, p. 179). As Escrituras aindarevelam que Deus equipou a Igreja com os dons de curar visando ao bem-estar espiritual e físico do seu povo (1 Co 12.9). O Novo Testamento ensina aoração em favor dos enfermos como uma prática e dever cristão (Tg 5.14,15).Em face dos avanços médicos e científicos, a igreja posiciona-sefavoravelmente à medicina, e isso não significa falta de fé (Mt 9.12).Portanto, a oração pelos enfermos não entra em divergência com o tratamentomédico Nesse sentido, não há conflito entre a soberania de Deus e a liberdadehumana em fazer a doação de órgãos, pois a última palavra sempre será doSenhor que tem poder sobre a vida e a morte (Jo 10.17,18).

2. O Desprendimento de PauloO apóstolo dos gentios é um excepcional exemplo de doação em prol doReino de Deus. Transbordando de amor, ele escreveu aos Coríntios: “Eu, demuito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” (2 Co

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12.15). Ao retornar da terceira viagem missionária em direção a Jerusalém, oapóstolo discursou aos anciãos de Éfeso: “Mas de nada faço questão, nemtenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minhacarreira” (At 20.24a, ACF). Dias depois, ao chegar a Cesareia, Paulo recebeurevelação acerca do perigo que corria. Tendo sido persuadido pelos irmãos arecuar, o apóstolo constrangido declarou em sua abnegação estar disposto nãoapenas a sofrer, “mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do SenhorJesus” (At 21.8-13).

O desprendimento paulino é ação digna de ser imitada pelos seguidores deCristo. O próprio apóstolo recomenda: “Sede meus imitadores, como tambémeu, de Cristo” (1 Co 11.1). Na Igreja Primitiva, os que viviam de acordo como evangelho ficavam parecidos com Cristo e, por isso, eram identificadoscomo “cristãos” (At 11.26). Parecer com Cristo implica imitar a Cristo (1 Jo2.6), por exemplo, amar como Ele amou, perdoar como Ele perdoou e doar-secomo Ele se doou. Entre tantos outros ensinos, é necessário permanecersendo como Cristo e crescer ainda mais nesse conhecimento. Esse é um doslegados do apóstolo que tinha como alvo ser como Cristo. Paulo chegou aescrever: “[...] para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fp 1.21), e,ainda: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo viveem mim” (Gl 2.20a). Sejamos, portanto, como o foi Paulo, imitadores deCristo.

3. A Doação Suprema de CristoSeguramente a morte vicária de Cristo é o maior e incontestável gesto deamor e de doação imensurável e inigualável. Quando entregou sua vida pornós pecadores, Ele afirmou que o fez voluntariamente: “Ninguém ma tira demim, mas eu de mim mesmo a dou” (Jo 10.18). As Escrituras afirmam queessa doação estava fundamentada exclusivamente no amor, uma vez que“Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo

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nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Foi por intermédio do sacrifício de Cristo ede sua vitória sobre a morte que fomos resgatados de nossa vã maneira deviver (1 Pe 1.18-21).

O exemplo supremo de Cristo que confirmou ter “poder para dar e poderpara tomar de volta sua vida” (Jo 10.18) é esperança de milagre e deressurreição para todo aquele que crê (1 Co 6.14; 15.20,21). Entretanto,argumentam alguns que a retirada de órgãos pode impedir o milagre e a curadivina na vida da pessoa com diagnóstico de morte encefálica. Porém, talargumento não procede, pois, as Escrituras ensinam que “para Deus nada éimpossível” (Lc 1.37), por conseguinte, mesmo depois de morto e sem órgãoalgum no corpo, Deus ainda pode operar um milagre, trazer órgãos àexistência e devolver a vida ao doador. Outra opinião inconsistente afirmaque a doação de órgãos é incompatível com a doutrina da ressurreição dosmortos (1 Ts 4.16). Refutando essa ideia, Paulo ensina que o “corpo natural,ressuscitará corpo espiritual” (1 Co 15.44), ou seja, não precisarão de órgãoshumanos. Nossa vida está nas mãos do Senhor! Somente Ele tem poder sobrea vida e a morte! (1 Sm 2.6).

III. DOAR ÓRGÃOS É UM ATO DE AMORO genuíno e excelso sentimento de amor constrange o cristão para ser doadorde órgãos e tecidos. O Senhor Jesus ensinou e propagou o amor que deveexistir entre os seres humanos. O amor cristão deve ser expresso por meio deatitudes e obras (1 Jo 3.17,18). Esse amor não se restringe apenas às pessoascom as quais nos relacionamos ou que queremos bem (Mt 5.46). Somosexortados a amar os desconhecidos (Mt 5.47) e inclusive aqueles que nosmaltratam (Mt 5.44).

1. O Princípio da Empatia e da SolidariedadeA empatia pode ser definida como a capacidade de sentir o que outra pessoa

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está vivendo, ou seja, colocar-se no lugar do outro. Ser solidário implicaapoiar e ajudar alguém num momento difícil. Cristo ensinou no Sermão daMontanha: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam,fazei-lho também vós” (Mt 7.12).

O altruísmo do auxílio mútuoQuando o ser humano entende o altruísmo do auxílio mútuo, os

argumentos contrários à doação de órgãos perdem o sentido e a razão de ser.A expressão altruísmo tem origem no latim alter e significa “outro”. Denotainteresse pelo bem-estar do próximo. Trata-se de uma ação desinteressadadesprovida de qualquer razão pessoal. Biblicamente, o altruísmo é grandeprova da espiritualidade de alguém: “Nisto está o amor: não em que nóstenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho parapropiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou,também nós devemos amar uns aos outros” (1 Jo 4.10,11). No Sermão daMontanha, Cristo ensinou a regra áurea: “[...] tudo o que vós quereis que oshomens vos façam, fazei-lho também vós” (Mt 7.12). Essa regra requer quefaçamos aos outros aquilo que gostaríamos que fizessem a nós. Não ésimplesmente deixar de fazer o mal, e sim tomar a iniciativa de fazer algumacoisa boa em prol do outro. E, quanto a isso, o apóstolo líder em Jerusalémnos adverte: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”(Tg 4.17). A regra áurea é o fundamento de uma bondade ativa e de umamisericórdia ativa — o tipo de amor que Deus nos mostra todos os dias(RIBAS, 2009, p. 52).

Compreensão e generosidadeCompreender aqui está no sentido de empatia, ou seja, sentir a dor e o

sofrimento do outro. Generosidade está no sentido da virtude que nos leva àpreocupação com as pessoas de modo prático (solidariedade). O escritor aosHebreus convoca seus leitores a se identificarem com os que sofrem e

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padecem necessidades (Hb 13.2,3). Os cristãos são exortados a compreendera dificuldade do próximo e agir com generosidade. A mensagem osconclamava a tomar iniciativa — sair da passividade e do campo do discursoe partir para a ação prática. O princípio emanado é o da regra áurea ensinadapor Cristo (Mt 7.12). As admoestações para ser generoso com os viajantes,estender a mão aos prisioneiros e auxiliar os maltratados são, na verdade,exortação para se cumprir o mandamento de Cristo: Amar o próximo como asi mesmo (Mt 22.37-40). Isso posto, doar órgãos é o exercício do amorcristão para com o outro.

2. O Princípio do Verdadeiro AmorAmar a Deus e ao próximo como a si mesmo é o resumo da revelação (Mt22.37-40). Cristo ensinou que não existe maior amor do que doar a sua vidaao próximo (Jo 15.13). O Salvador não doou apenas um ou outro órgão parasalvar nossas vidas. Ele entregou a sua vida por inteiro para que fossemosabsolvidos da morte. João nos recorda o ato e nos exorta a fazer o mesmo:“Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemosdar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3.16). Portanto, doar órgãos para salvar outrasvidas é um sublime ato de amor.

A excelência do amorO capítulo 13 da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios é considerado o

“grandioso capítulo do amor”. Nos versículos 2 e 3, Paulo enfatiza que oexercício dos dons espirituais e os atos de autossacrifício nada valem sem oamor. Nos versículos seguintes (1 Co 13.4-8), encontramos as característicasdo amor em quinze sublimes declarações. Destacamos aqui as expressões “ésofredor”, “é benigno” e “não busca os seus interesses”. A excelência doverdadeiro amor repousa na disposição de se sacrificar e sofrer com base noamor pelos outros. A benignidade aparece quando se respondegenerosamente às necessidades dos outros. O amor preocupa-se com o

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próximo e, de bom grado, desiste dos seus próprios interesses em benefíciodos outros (RIBAS, 2009, p.164, 165).

A essência do amor cristãoA doação de órgãos e tecidos em vida ou post-mortem é um elevado gesto

de amor. Essa ação em nada contraria os preceitos éticos ou bíblicos, excetono caso de células-tronco que requerem a morte do embrião. Contudo,ninguém deve ser forçado à prática de tão nobre e elevado gesto. A ação deveser voluntária e altruísta sem esperar recompensa alguma. O ser humano e oseu corpo não podem ser coisificados ou comercializados e nem a suavontade pode ser desrespeitada. Doador e receptor são seres humanos queexpressam a imagem e a semelhança de Deus.

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Capítulo 8

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A

Ética Cristã e Sexualidade

sexualidade tem sido fortemente desvirtuada na sociedade pós-moderna.De outro lado, alguns cristãos insistem em tratar o assunto como tabu.Embora o tema possa trazer desconforto para alguns, a sexualidade humananão pode ser subestimada. De acordo com Sigmund Freud (1856-1939),reconhecido como o pai da psicanálise, “o homem tem necessidades sexuaise, para explicá-las, a biologia lança mão do chamado instinto sexual damesma maneira que, para explicar a fome, utiliza-se do instinto da nutrição.A esta necessidade sexual dá-se o nome de libido” (FREUD, 1970, vol. XVIp. 336, 482). Freud atribuiu à libido uma natureza exclusivamente sexual econsiderou a fase oral como a primeira na organização da libido da criança.As teorias de Freud contrastaram com o extremo moralismo da interpretaçãocatólica e produziram o extremo da licenciosidade, antinomianismo —desprezo à Lei de Deus — e a irresponsabilidade sexual (HENRY, 2007, p.551). Atualmente, a sexualidade da criança vem sendo estimulada eincentivada de modo precoce, e isso em detrimento do desenvolvimentonatural e saudável, gerando transtornos comportamentais.

Ressalta-se que, em virtude do avanço da tecnologia da informação econsequente globalização, nossas crianças têm acesso indiscriminado a todotipo de conhecimento. E, por estarem em fase de desenvolvimento, tornaram-se alvo de quem as quer perverter. Por meio da inversão dos valores,ideologia de gênero e a erotização da infância, pretendem desconstruir afamília tradicional e promover a luxúria, promiscuidade e a imoralidade.Portanto, pela sua abrangência e importância, faz-se necessário refletir sobrea sexualidade, seus conceitos, propósitos e limites éticos estabelecidos nas

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Escrituras Sagradas.

I. SEXUALIDADE: CONCEITOS EPERSPECTIVAS BÍBLICASA sexualidade é uma das dimensões do ser humano criado à imagem esemelhança de Deus. A questão sexual estava presente no ato da criaçãoquando Deus nos fez “macho e fêmea” (Gn 1.27). Doravante, após a queda,tornou-se um intrigante tema de pesquisa das ciências naturais (biologia,anatomia, etc.) e das ciências humanas (literatura, psicologia, etc.). O campode abrangência perpassa pela identificação sexual, orientação/preferênciasexual, erotismo, satisfação e prazer, imoralidade, prostituição e pornografia,dentre outros. Por meio da revolução sexual das últimas décadas, querelativizou e desvirtuou a liberdade sexual, surgiram novas questões nas áreasda ética, da moral e da religiosidade. Por conseguinte, os conceitos naperspectiva bíblica precisam ser restaurados.

1. Conceito de Sexo e SexualidadeA biologia define “sexo” como um conjunto de características orgânicas quediferenciam o macho da fêmea. O sexo de um organismo é definido pelosgametas que produzem. Gametas são células sexuais que permitem areprodução dos seres vivos. O sexo masculino produz gametas conhecidoscomo espermatozoides e o sexo feminino produz gametas chamados deóvulos. A expressão “sexo” ainda pode ser usada como referência aos órgãossexuais ou à prática de atividades sexuais. Já o termo “sexualidade”representa o conjunto de comportamentos, ações e práticas dos sereshumanos que estão relacionados com a busca da satisfação do apetite sexual,seja pela necessidade do prazer, seja da procriação da espécie.

A deturpação da sexualidade

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Dentro dos conceitos modernos da sexualidade, o filósofo francês MichelFoucault (1926-1984) discorreu na obra História da Sexualidade que apostura cristã é repressiva e envolve “proibições, recusas, censuras enegações discursivas” que são impostas à sociedade (FOUCAULT, 1988, p.16). Confabula o filósofo que, ao mesmo tempo em que o radicalismo cristãolevava as pessoas a detestar o corpo, também tornou o sexo cobiçado e maisdesejável; por conseguinte, a austeridade cristã deve ser combatida em buscade “liberação” sexual (FOUCAULT, 1988, p. 149).

Foucault afirma que essa liberação surgiu quando Freud dissociou asexualidade do sexo que era baseado na anatomia e suas funções dereprodução restringida aos aspectos biológicos (FOUCAULT, 1988, p. 141).Assim, Foucault considera a sexualidade como uma produção discursiva, e,portanto, um construto sócio-histórico de uma sociedade. Por isso, o apelo e odiscurso ofensivo na construção da ideologia de gênero, identidade sexual,iniciação sexual precoce, homoafetividade e a nova moda de se falar emsexualidade no plural, como existindo “sexualidades”. A partir daí, o conceitofoi deturpado e, em busca de “liberação”, ensina-se que a sexualidadedepende da cultura inserida em determinado grupo social. Desse modo, toda equalquer escolha ou opção sexual passa a ser válida, tais como,homossexualismo, zoofilia, pedofilia, necrofilia e incesto.

2. O Sexo Foi Criado por DeusO homem e a mulher possuem imagem e semelhança divina. Porém, no atoda criação, Deus os fez sexualmente diferentes: “macho e fêmea os criou”(Gn 1.27). Portanto, o sexo faz parte da constituição anatômica e fisiológicados seres humanos. Homens e mulheres, por exemplo, possuem órgãossexuais distintos que os diferenciam sexualmente. Sendo criação divina, osexo não pode ser tratado como algo imoral ou indecente. As Escriturasensinam que, ao término da criação, “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis

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que era muito bom” (Gn 1.31). Desse modo, o sexo não deve ser visto comosendo algo pecaminoso, sujo ou proibido. Tudo o que Deus fez é bom. Opecado não está no sexo, mas na perversão de seu propósito.

A reprodução sexuada e dioicaAo criar o ser humano, Deus os dotou de órgãos específicos e

especialmente destinados à reprodução da espécie, chamados órgãos sexuaisou genitais. A esse processo de perpetuação da espécie humana dá-se o nomede “reprodução sexuada”. A reprodução sexuada dos seres humanos éclassificada, quanto ao sexo, de “dioica”, ou seja, requer a participação dedois seres da mesma espécie, sendo obrigatório que um deles seja “macho” eoutro seja “fêmea”. E isso pelo fato inequívoco de que homem e mulherforam criados com órgãos sexuais apropriados à reprodução. Trata-se de umprocesso em que há a troca de gametas (masculinos e femininos) para ageração de um ou mais indivíduos da mesma espécie. Percebe-se, então, queDeus não criou meio termo; definitivamente, o ser humano é formado demacho e fêmea. Deus não formou o homem com possibilidades sexuais dedesempenhar o papel da mulher no ato sexual, e nem vice-versa. O nossoJesus Cristo, ao discorrer sobre esse tema, associou a anatomia dos sexoscom o propósito divino da sexualidade e da reprodução. O Mestre fundiu otexto da criação e da procriação (Gn 1.27,28) ao texto do relacionamentoconjugal (Gn 2.24) indicando que os textos bíblicos se complementam, isto é,a reprodução humana é sexuada e dioica:

Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea. Por isso,deixará o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á a sua mulher. E serão osdois uma só carne e, assim, já não serão dois, mas uma só carne. (Mc 10.6-8)

3. A Sexualidade É Criação Divina

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Ao criar o homem e a mulher, Deus também criou a sexualidade: “E Deus osabençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra [...]”(Gn 1.28). O relacionamento sexual foi uma dádiva divina concedida aoprimeiro casal e também às gerações futuras (Gn 2.24). Sempre fez parte dacriação original de Deus o homem unir-se sexualmente em uma só carne comsua mulher. O livro poético de Cantares exalta a sexualidade e o amor entre omarido e sua esposa (Ct 4.10-12). Portanto, não é correto “demonizar” odesejo e a satisfação sexual. Assim como o sexo, a sexualidade também não émá e nem pecaminosa. O pecado está na depravação sexual que contraria osprincípios estabelecidos nas Escrituras Sagradas.

A sexualidade no livro de CantaresNo judaísmo, a interpretação alegórica de Cantares faz alusão ao amor

entre Deus e Israel, e na tradição cristã aparece como uma metáfora do amorexistente entre Cristo e sua Igreja. Porém, quanto ao seu gênero literário,Cantares de Salomão é reconhecido pelos intérpretes como sendo um poemade amor. A linguagem é franca, mas também é pura. O livro louva orelacionamento conjugal regido pelo mútuo amor entre marido e mulher.Cantares exalta a sexualidade e não despreza o prazer sexual no âmbito domatrimônio. O livro narra a celebração do amor na noite de núpcias (Ct 4.1-16) e na vida matrimonial do casal eternamente enamorado (Ct 5.2-6). Nota-se que o livro desmistifica a sexualidade e condena a licenciosidade, enaltecea paixão e desqualifica a promiscuidade, exalta o amor e despreza a lascívia.Assim, Cantares apresenta a sexualidade humana sem depravação e semmalícia. A mensagem denota o ideal divino para a sexualidade: bela, santa epura.

II. O PROPÓSITO DO SEXO SEGUNDO ASESCRITURAS

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O sexo como criação divina possui finalidades específicas. Holmes afirmaque a “história da ética cristã é bastante clara nesse particular. A psicologiado sexo indica o seu potencial de união, e sua biologia indica um potencialreprodutivo” (HOLMES, 2013, p. 130). Portanto, o relacionamento sexualconforme idealizado pelo Criador prevê uma realização completa entremacho e fêmea na busca do prazer conjugal e na procriação da espécie.

1. Multiplicação da Espécie HumanaA finalidade primordial do ato sexual refere-se à procriação. Deus abençoouo primeiro casal e lhes disse: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra”(Gn 1.28). Tal como o Criador ordenara a procriação dos animais (Gn 1.22),também ordenou a reprodução do gênero humano. Nesse ato, Deus concedeuao homem poderes para se multiplicar assegurando-lhe a dádiva dafertilidade. Depois da queda no Éden (Gn 3.11,23) e a consequente corrupção(Gn 6.12,13), Deus enviou o dilúvio como juízo para eliminar o gênerohumano (Gn 6.17), exceto Noé e sua família (Gn 7.1). Passado o dilúvio, Noérecebeu a mesma ordem recebida por Adão: “E abençoou Deus a Noé e aseus filhos e disse-lhes: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn9.1). A terra despovoada deveria ser repovoada para dar continuidade aosdesígnios divinos (Gn 3.15; Rm 16.20).

A bênção da fertilidadeComo já visto, a ordem divina para a procriação da espécie humana é

precedida pela bênção da fertilidade (Gn 1.28). A partir dessa dádiva eordenança divina, as narrativas bíblicas registram a busca pela maternidade epaternidade como anseio geral tanto de mulheres quanto de homens. Afertilidade passa a ser indispensável para o cumprimento do preceito divino.Desse modo, os registros das Escrituras quanto à sexualidade estãointrinsecamente relacionados com a reprodução e procriação da vida humana.Após a queda do homem no Jardim do Éden, Deus avisa que, por causa da

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desobediência, a bênção da fertilidade trará também sofrimento: “E à mulherdisse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terásfilhos” (Gn 3.16). Apesar desse novo ingrediente, mulheres e homens, pormeio da união heterossexual e do casamento monogâmico, anseiam cumprir amultiplicação da espécie e prover descendência para a família.

2. Satisfação e Prazer ConjugalPor muito tempo, o catolicismo ensinou que a procriação era o únicopropósito da relação sexual. O Concílio de Trento (1545-1563) disciplinou aprática sexual com fins exclusivos de reprodução e proibiu o sexo aosdomingos, nos dias santos e no jejum quaresmal. Não obstante, a Bíbliatambém se refere ao sexo como algo prazeroso e satisfatório entre um maridoe sua esposa: “Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tuamocidade [...]” (Pv 5.18,19), e ainda “Goza a vida com a mulher que amas,todos os dias de vida [...]” (Ec 9.9). Assim, na união conjugal, o homem e suamulher devem buscar satisfação sexual (1 Co 7.5).

O prazer e o deleite sexual não devem servir para a satisfação promíscua eegoísta de um dos cônjuges. A satisfação conjugal deve ser precedida dosentimento mútuo de amor entre macho e fêmea (1 Co 7.3-5). Apesar dasafirmações equivocadas da atualidade que associam amor, sexualidade ecasamento como sendo uma invenção da era burguesa do século XVI, aBíblia Sagrada ensina desde os primórdios o mútuo cuidado, carinho e orespeito entre um homem e uma mulher casados (Ef 5.21-28). Desse modo, acompleta satisfação sexual envolve emoções, sentimentos, carícias e prazerpara ambos os cônjuges. De acordo com as Escrituras, o romance e o dom dasexualidade devem ser usados para o prazer mútuo dentro do contexto docasamento monogâmico e heterossexual.

3. O Correto Uso do Corpo

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No ato sexual ocorre a fusão de corpos (Mt 19.6). O sexo estabelece umvínculo tão forte entre os corpos que os torna uma só pessoa. Como os nossoscorpos são membros de Cristo (1 Co 6.15) e templo do Espírito Santo (1 Co3.16), as Escrituras proíbem o uso do corpo para práticas sexuais ilícitas (1Co 6.16). São condenadas, dentre outras, as relações incestuosas (Lv 18.6-18), o coito com animal (Lv 18.23), o adultério (Êx 20.14) e ahomossexualidade (Rm 1.26,27). O corpo não pode servir à promiscuidade (1Co 6.13). Assim, o nosso corpo deve servir para glorificar, e não paraafrontar a Deus (1 Co 6.20).

Templo do Espírito SantoEscrevendo à Igreja em Corinto, Paulo menciona vários tipos de pessoas

que pecam contra o corpo e são sexualmente imorais, tais como, “osdevassos”, “os adúlteros”, “os efeminados” e “os sodomitas”, os quais,afirma o apóstolo, não herdarão o reino de Deus (1 Co 6.10). Em seguida, otexto paulino questiona a igreja acerca do uso indevido do corpo: “Não sabeisvós que os vossos corpos são membros de Cristo?” (1 Co 6.15). Porconseguinte, Paulo ensina que o corpo não pertence ao crente, e sim a Deus;por isso, o corpo não pode ser objeto da imoralidade sexual (1 Co 6.18). Oensino assevera que a imoralidade sexual é pecado que afronta ao própriocorpo, que é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). Por essa razão, o crentenão deve contaminar o corpo, pois é santuário de Deus. Por fim, exorta-nos otexto bíblico: “[...] glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito,os quais pertencem a Deus” (1 Co 6.20). Conclui a Escritura que o nossocorpo foi comprado por bom preço, e, por essa razão, pertence ao Senhor quenele habita e requer do crente salvo que mantenha o templo do Espírito Santoem pureza sexual.

III. O CASAMENTO COMO LIMITE ÉTICO PARAO SEXO

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No casamento, os impulsos sexuais podem ser satisfeitos sem que se incorraem atos pecaminosos. No entanto, o casamento não é autorização para aprática de atos pervertidos, devassidão ou escravidão sexual de um cônjugesobre o outro. Ainda que o casamento seja um inibidor de práticasmoralmente ilícitas, percebe-se na cultura pós-moderna o enfraquecimento desua eficácia no combate à imoralidade. A antiga lei moral exigia a abstinênciaextraconjugal por temor de uma gravidez indesejada, doenças sexualmentetransmissíveis ou medo de ser descoberto e ter a reputação manchada.Atualmente, esses antigos fatores de inibição das relações extraconjugaissofreram mutações: “a pílula reduziu grandemente o primeiro temor, asdrogas modernas o segundo e as mudanças sociais o terceiro” (HOLMES,2013, p. 128). Contudo, para o cristão, o propósito divino para o casamentonão pode ser alterado e seus princípios devem ser observados por todos e emtodos os lugares.

1. Prevenção contra a FornicaçãoA fornicação está relacionada ao contato sexual entre pessoas solteiras. Paraprevenir esse pecado, o apóstolo Paulo orienta os cristãos a se casarem (1 Co7.2, ACF). Os ensinos de Paulo ratificam o propósito divino do casamento:“uma mulher para cada homem” (Gn 2.24). Esse princípio também foidefendido por Jesus: “deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher”(Mt 19.5). Desse modo, a legitimidade cristã para a satisfação dos apetitessexuais entre um homem e uma mulher restringe-se ao casamentomonogâmico (1 Co 7.9). Toda prática sexual realizada fora desses moldesconstitui-se em sexo ilícito.

O sexo pré-matrimonialNos textos vetero-testamentários, a fornicação ou o sexo pré-matrimonial

eram punidos severamente. Se um marido descobrisse após o casamento quesua esposa não era virgem, o caso seria levado aos anciãos da cidade, que

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conduziriam a mulher até a porta da casa de seu pai e os homens aapedrejariam até a morte (Dt 22.20,21).

Na lei mosaica, também estavam previstas outras punições para os casos desexo pré-matrimonial (Êx 22.16,17; Dt 22.23,24). Se a moça fosse violentadae não pudesse fazer nada para evitar o ato sexual ilícito, ela seria inocentada eo seu agressor seria apedrejado (Dt 22.25-27). O Novo Testamento mantém afornicação e o sexo pré-matrimonial como pecado (1 Ts 4.3). No entanto, apena de morte física não é aplicada; a punição é na esfera espiritual queimplica morte eterna (Tg 1.15).

O problema da incontinência sexualAo tratar das questões de imoralidade sexual e o comportamento cristão no

casamento, o apóstolo Paulo fazia frente a dois movimentos presentes naigreja de Corinto. O primeiro era formado pelos libertinos ou antinomianos eo segundo era partidário do asceticismo. Os libertinos ensinavam que nãoexiste problema algum com o uso do corpo, isto é, o que alguém faz com ocorpo é moralmente indiferente. Os adeptos do ascetismo de modo geralconsideravam que o corpo é inerentemente mau e que cada um deve afligir ecastigar seu próprio corpo negando-lhe qualquer prazer físico.

Logo depois de escrever condenando a fornicação, Paulo também ensina àigreja que, após casados, o marido e a mulher não podem negar o prazersexual ao seu cônjuge, pois ambos têm o dever mútuo de satisfazerem-se emanterem a fidelidade matrimonial (1 Co 7.3). Por essa razão, as Escriturasexplicam que o corpo do homem está sob o domínio da sua esposa e o que ocorpo da mulher está sob o domínio do marido (1 Co 7.4). Isso significa queo corpo do marido só pode buscar prazer e satisfação sexual no corpo de suaesposa, e vice-versa. Desse modo, ratifica-se a união monogâmica eheterossexual e reafirma-se a condenação das demais práticas comoimoralidade sexual.

Em seguida, o texto bíblico alerta que a privação ou abstinência sexual

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dentro do casamento pode ser usada pelo Adversário como meio de tentaçãopara as práticas sexuais ilícitas (1 Co 7.5). Por isso, o texto orienta os casais anão privarem um ao outro do ato sexual, exceto de comum acordo etemporariamente para algum propósito espiritual. O casal não deve seringênuo a ponto de imaginar que não serão tentados ou traídos por seusimpulsos sexuais. Deus instituiu o casamento tanto para a procriação quantopara evitar o pecado da imoralidade por meio do prazer mútuo entre marido emulher.

2. O Casamento e o Leito sem MáculaAs Escrituras ensinam que o casamento é digno de honra (Hb 13.4) e que aunião conjugal deve ser respeitada por todos (Mt 19.6). O leito conjugal nãopode ser maculado por ninguém. Quem o desonrar não escapará do juízodivino (Hb 13.4b). Aqui a desonra refere-se ao uso do corpo para práticassexuais ilícitas com ênfase nos casos de relações extraconjugais (1 Co 6.10).Inclui também as relações conjugais resultante de divórcios e de segundocasamentos antibíblicos (Mt 19.9). Embora, muitas vezes, os imoraisescapem da reprovação humana, não poderão fugir da ira divina (Na 1.3). Apráxis da sociedade e a condescendência de muitas igrejas não invalida aPalavra de Deus.

O modelo bíblico de casamentoPallister define o casamento como “ato público em que a pessoa deixa a

primeira família em que cresceu para se unir, pelo resto de sua vida, com umapessoa do sexo oposto com a finalidade de constituir uma nova família”(PALLISTER, 2005, p. 168). Esta conceituação constitui um ato deobediência ao ensino bíblico: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe ese unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2.24, NVI). Nosregistros bíblicos, é possível identificar que, ao menos em alguns casamentos,a união conjugal era precedida pelo sentimento de amor. Jacó amava tanto a

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Raquel que nem viu o tempo passar enquanto trabalhou durante sete anospara pagar o dote dela (Gn 29.18,20). Mical amava tanto a Davi que o ajudoua fugir, livrando-o da morte certa, e não temeu a ira de seu pai Saul (1 Sm18.20,28; 19.11-17). Dessa maneira, o modelo bíblico não se restringe àprocriação, mas também inclui o romantismo e o ato sexual como fonte desatisfação e prazer.

O catolicismo classificou o casamento como sacramento — rito sagradoinstituído para dar, confirmar ou aumentar a graça. Os teólogos da ReformaProtestante entenderam que o casamento não é um sacramento, e sim umaaliança, isto é, o casamento não é apenas um ato formal, mas “uma aliança,assumida diante de Deus, de natureza permanente e fonte de conforto ealegria ao longo de toda a vida” (PALLISTER, 2005, p. 174). Emconsequência, o amor é um princípio moral do casamento. Porém, o amor nãoé o único; a justiça é igualmente princípio relevante para a união matrimonial.A justiça requer igualdade para todos e se manifesta contra o abuso sexual dequalquer parte. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus, ao tratar dospropósitos do matrimônio, descreve o seguinte:

O casamento tem por propósitos: a instituição da família matrimonial;compensação mútua do casal; a procriação; o auxílio mútuo e continência esatisfação sexual. Entendemos que o homem é unido sexualmente à suaesposa, como resultado do amor conjugal, não só para procriar, mastambém para uma vivência afetuosa, agradável e prazerosa. (SOARES,2017, p. 204) Diante destas assertivas, deve-se reconhecer que o casamento monogâmico

entre um homem e uma mulher é o modelo bíblico para escapar da impurezasexual. Também é possível perceber que Deus, ao criar o ser humano à suaimagem e semelhança, os fez macho e fêmea (Gn 1.27) demonstrando a sua

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conformação heterossexual. E, ainda, que a diferenciação dos sexos visa àcomplementaridade mútua na união conjugal.

Leito sem máculaA expressão “leito sem mácula” é um eufemismo usado para suavizar os

aspectos que envolvem a intimidade, o erotismo, os desejos e as relaçõessexuais entre o marido e a esposa no contexto da união matrimonial. O leitoconjugal não pode ser manchado pela imoralidade sexual. Aqui estãoincluídos como transgressão os pecados sexuais cometidos dentro ou fora docasamento. O sexo e a sexualidade são atos da criação divina, e não podemser tratados como algo pecaminoso e nem como mero elemento de procriaçãoou fonte de prazer. Cabe ao cristão cumprir o propósito estabelecido por Deuspara a sexualidade (Gn 2.24). Aqueles que contaminam o casamento aoultrapassar os limites divinamente instituídos para o ato sexual devem estarcertos de que enfrentarão um severo juízo (Hb 13.4).

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Capítulo 9

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O

Ética Cristã e PlanejamentoFamiliar

casamento cristão pressupõe a formação de uma nova família e, comoresultante, o nascimento de filhos. Está inserida na criação dos filhos, aresponsabilidade familiar de prover o sustento e todo o cuidado indispensávelpara o desenvolvimento do ser humano. Por conseguinte, entre outros deverese obrigações do casal, inclui-se o planejamento familiar. A Declaração de Fédas Assembleias de Deus professa que “a família é uma instituição criada porDeus, imprescindível à existência, formação e realização integral do serhumano, sendo composta de pai, mãe e filho(s) — quando houver”. Reiteraainda a Declaração que “o pai e a mãe integram, de forma originária,determinante e estruturante, a família, e a eles a Bíblia impõe o dever desustentar, formar, disciplinar os filhos e instruí-los moral e espiritualmente”(SOARES, 2017, p. 205). No caso de infertilidade em, pelo menos, um doscônjuges, nas Assembleias de Deus pode-se recorrer às técnicas reprodutivas,desde que a fertilização ocorra no interior do corpo da mulher e os gametasutilizados pertençam ao próprio casal (SOARES, 2017, p. 206). Quanto aouso de métodos contraceptivos no planejamento familiar, as Assembleias deDeus preferem o método natural, mas não se opõem ao uso dos métodosartificiais, desde que não sejam abortivos (BARROS, 1997, p. 93).

Assim sendo, o posicionamento ético cristão quanto à procriação e oplanejamento familiar baseiam-se no equilíbrio entre esses dois institutos. Deum lado, não se deve procriar de modo imprudente e irrefletido, e, de outro,não se deve deliberadamente, por questões moralmente injustificáveis, evitar

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ou impedir toda e qualquer concepção e a consequente procriação da espéciehumana.

I. CONCEITO GERAL DE PLANEJAMENTOFAMILIARNeste capítulo, analisaremos o conceito de “controle de natalidade” e“planejamento familiar”. Embora, algumas vezes, essas expressões sejamusadas como sinônimos, entre esses dois institutos existem diferençascruciais que não podem ser confundidas ou abarcadas pelo relativismocultural.

1. Controle de NatalidadeSão procedimentos de políticas demográficas com o objetivo de diminuir eaté impedir o nascimento de crianças. Tais medidas são adotadas pelosgovernos para refrear o aumento da população de um país. Nesse caso,regular o número dos filhos é visto como solução para erradicar os níveis depobreza, bem como alternativa para a preservação e o melhor uso dosrecursos naturais. Por ordem do Estado, o número de filhos é limitado àrevelia da vontade dos pais. Para esse fim, são utilizados métodoscontraceptivos e até esterilização permanente. Em países totalitários ocorremdenúncias do uso do aborto e até do infanticídio como soluções para ocontrole de natalidade. Em sentido mais amplo, o controle de nascimento deseres humanos pode ser considerado como:

Qualquer ato ou aparelho que mantenha separada duas pessoas de sexooposto que tenham o potencial de procriar, qualquer ato ou aparelho quemantenha a pessoa, o macho ou fêmea, incapaz de realizar a totalidade dafunção sexual, qualquer ato ou aparelho que mantenha separados osespermatozoides e os óvulos durante ou após a relação sexual, e qualquer

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ato ou aparelho que destrua o produto da concepção (o zigoto formadopelos gametas masculino e feminino), não obstante a idade do produto deconcepção. (HENRY, 2007, p.140) Nesse contexto, o controle de natalidade visa manter o índice populacional

dentro dos parâmetros estabelecidos pela autoridade estatal. Algunspesquisadores diferenciam o controle de natalidade do controle populacional.Alegam que o primeiro contempla apenas os métodos contraceptivos queimpedem a procriação e que o segundo atua, inclusive, na eliminação depessoas que já nasceram. Seja como for, trata-se de controle da reproduçãohumana que, se não observados os princípios éticos e morais, atentam contraa soberania divina e a inviolabilidade da vida.

O Relatório de KissingerO “Relatório de Kissinger”, datado de 30 de setembro de 1974, foi redigido

pelo então secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger. Paraentender os atuais programas de natalidade, é indispensável o conhecimentodo referido relatório norte-americano. O documento recebeu o título“Implicações do Crescimento da População Mundial para a Segurança e osInteresses Externos dos Estados Unidos”, classificado como “confidencial”sob o código NSSM 200. O texto foi desclassificado pela Casa Branca edeixou de ser sigiloso em 1989. O relatório estabelece políticas e estratégiaspara a redução do crescimento populacional dos países em desenvolvimento.As ações recomendadas para o “controle de natalidade” envolvem a ampladivulgação e comercialização indiscriminada de anticonceptivos orais, uso dodispositivo intrauterino (DIU), esterilização de homens e mulheres e o uso depreservativos. E, dentre outras políticas de controle, o documento destaca aprática do aborto:

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Embora os órgãos que estão participando deste estudo não tenhamrecomendações específicas para propor em relação ao aborto, acredita-seque as questões seguintes são importantes e devem ser consideradas nocontexto de uma estratégia global de população: – nunca um país reduziu ocrescimento da sua população sem recorrer ao aborto. (NSSM 200, 1974,p. 182) Ressalta também o relatório a importância do papel da mulher no controle

dos nascimentos. Ideias como o empoderamento feminino, direito sobre opróprio corpo, disputa com os homens na esfera política e no mercado detrabalho são apontados como essenciais para o sucesso do programa:

A condição e a utilização das mulheres nas sociedades dos paísessubdesenvolvidos são particularmente importantes na redução do tamanhoda família […] As pesquisas mostram que a redução da fertilidade estárelacionada com o trabalho da mulher fora do lar. (NSSM 200, 1979, p.1301) Estudiosos do controle populacional avaliam que foi a partir desse relatório

que assustadoramente se implantaram, nos países em desenvolvimento,diversos e variados processos políticos para a redução dos nascimentos.Incluem-se como consequência do “Relatório de Kissinger” as propostas paraa institucionalização da educação sexual nas escolas de Educação Infantil,Ensino Fundamental e Ensino Médio. Desse modo, o controle de natalidadenos países subdesenvolvidos estaria a serviço dos interesses econômicos dasgrandes potências, e não apenas com a manutenção ambiental do planeta.Apesar das controvérsias acerca do assunto, ressalta-se sua contribuição,positiva e negativa, para a redução populacional.

Taxa de natalidade no Brasil

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Em 26 de outubro de 2016, dados divulgados pelo IBGE avaliaram que oenvelhecimento da nação, não excluíndo a melhoria da qualidade de vida,estaria relacionado com a queda de nossa taxa de fecundidade. Na década de1980, a taxa de nascimento era estimada em 4,12 filhos por mulher. No ano2000, a taxa caiu para 2,39 filhos. E, de acordo com as estimativas do IBGE,esse número deverá cair para 1,51 em 2030 e chegará ao índice de 1,50 noano de 2060.

Coincidência ou não, nossa taxa de fecundidade diminuiu drasticamenteapós o documento norte-americano conhecido como “Relatório deKissinger”. Desde 1974, o Brasil adota medidas para fins de controle dastaxas de natalidade. Analistas apontam que “estabeleceu-se, através da mídiaprincipalmente, que uma família ideal teria o número máximo de dois filhospor casal. Além disso, acontece até hoje a distribuição de pílulasanticoncepcionais e camisinhas, bem como a venda desses produtos a preçosacessíveis e sem controle médico” (PENA, 2017, p. 1).

2. Planejamento FamiliarDiferente do “controle de natalidade”, que consiste em evitar o nascimentodos filhos por meio do controle estatal, a proposta do “planejamento familiar”é de instituir a paternidade-maternidade responsável. Trata-se de uma decisãovoluntária e sensata por parte dos pais quanto ao número de filhos quepossam criar e educar com dignidade. No planejamento familiar, fatoresdiversos são analisados, tais como, a saúde dos pais, as condições e a rendada família, o tempo entre uma e outra gestação e o espaçamento denascimento entre um e outro filho. No contexto cristão, quanto ao número defilhos, o casal deve buscar orientação divina por meio da oração e submeter-se à direção do Espírito Santo.

O planejamento familiar é algo restrito à realidade de cada lar constituído.Algumas famílias terão condições econômicas, psicológicas e estruturais para

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criar um único filho e outras podem criar um número maior de filhos. E isso,quando respeitadas as condições e ou as limitações particulares, não enaltecee nem deprecia as famílias. Alguns lares lutam contra a infertilidade e sesubmetem a tratamentos diversos para viabilizar a gravidez. Em certos casos,o tratamento é eficaz e a gravidez acontece, e em outros não. Existem aindaas situações em que a fecundidade é tamanha que se faz necessário o uso demétodos contraceptivos. Portanto, ratifica-se que cada família deve, sob otemor de Deus, adequar-se às suas particularidades para planejar onascimento de seus filhos.

Métodos contraceptivosDenomina-se de “métodos contraceptivos” os procedimentos que são

empregados para evitar a concepção ou a gravidez. Em outras palavras, taismétodos, impedem que os espermatozoides fertilizem o óvulo. Dentre osmétodos atualmente disponíveis existem os irreversíveis ou permanentes(esterilização cirúrgica) e os reversíveis ou temporários (utilizados durante oato sexual). Diante dos variados métodos existentes, a Igreja posiciona-secontrária ao uso do DIU (Dispositivo Intrauterino) e a denominada pílula do“dia seguinte” por possuírem características abortivas. Quanto ao uso doDIU, cientistas da área médica e estudiosos da ética cristã, avaliam que:

Não existe consenso completo sobre o modo de funcionamento do DIU.Sabe-se que a peristalse tubária aumenta e passa rapidamente o óvulo dastrompas para o útero. O DIU mantém as partes do útero separadas e podeinterferir na implantação normal do óvulo. Não foi demonstrado queóvulos fertilizados tivessem sido abortados do útero, contudo a ovulaçãoocorre, os espermatozóides não são impedidos de entrar na trompa dofalópio e as trompas não são bloqueadas aos óvulos — e a implantação nãoocorre. (HENRY, 2007, p. 138)

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Diante dessa controvérsia, entende-se que o DIU não impede a fertilização

e sim a implantação do óvulo já fertilizado. Nesse caso, trata-se de técnicacondenada pelas Escrituras por atentar contra a inviolabilidade da vida.Quanto à pílula do “dia seguinte”, a oposição da Igreja para o seu usorelaciona-se com as mesmas questões éticas do DIU, pois a citada pílula éusada após o coito, e “não tem como objetivo o isolamento doespermatozoide e do óvulo, mas procura alterar, por meio do uso dehormônios, a parede do útero para tornarem impossível a implantação doóvulo” (HENRY, 2007, p. 139), tornando-se em condenável técnica abortiva.

Por fim, assume-se neste tópico que a contraconcepção em análise é aquelaque se pratica no âmbito do casamento bíblico, sem mancha, sem mácula,monogâmico e heterossexual (Hb 13.4). O pressuposto adotado para o uso demétodos contraceptivos no planejamento familiar refere-se ao entendimentode que o sexo não é exclusivamente procriação. Entende-se também que aprocriação deve ser responsável e fundada no amor para com o cônjuge e osfilhos que virão a nascer. Condena-se o uso dos métodos contraceptivosquando usado fora do casamento, para encobrir as consequências de atividadesexual ilícita, quando usado como ideologia meramente humana, quando nãose quer assumir a responsabilidade da maternidade e paternidade divinamenteinstituída, e quando as técnicas possuem características abortivas.

II. O QUE AS ESCRITURAS DIZEM SOBRE OPLANEJAMENTO FAMILIARO planejamento familiar não é um tema exclusivo de nossa época. Ele estápresente nas páginas do Antigo e do Novo Testamento. E todos os exemplosbíblicos ratificam a inviolabilidade da vida e a intervenção divina em favordas famílias de acordo com sua soberana vontade.

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1. A Família e a Procriação da EspécieApós criar o primeiro casal, Deus os abençoou e lhes disse: “Frutificai, emultiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1.28). Nesse primeiro mandamento,Deus requereu à reprodução do gênero humano. Após o dilúvio, osobrevivente Noé e seus filhos também receberam mandamento acerca daprocriação: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 9.1). Note-seque essa é uma ordem universal direcionada às gerações pré e pós-diluviana.Repara-se que Deus não especificou qual seria o fator multiplicador e nemquantos filhos deveriam ser gerados por família. Observa-se ainda que ospropósitos são idênticos: homens e mulheres devem se reproduzir para“encher a terra”.

O modelo bíblico para a procriaçãoA procriação nas páginas da Bíblia Sagrada envolve um homem e uma

mulher que, unidos pelos laços do matrimônio e por meio do ato sexual,reproduzem a espécie humana. As Escrituras ensinam que suscitar adescendência é uma responsabilidade da família, intimamente ligada àperpetuação da raça humana. A reprodução humana é um processodivinamente criado que depende da união dos gametas masculino e feminino.Cada um — o macho e a fêmea — possui a sua própria célula reprodutora: ado homem é o espermatozoide e a da mulher é o óvulo. Essas célulasreprodutoras possuem cada uma 23 cromossomos, o que corresponde àmetade encontrada em outras células do organismo. Por isso, para gerar umnovo ser vivo, é indispensável à união dos gametas do macho e da fêmea.Essa união resulta em 46 cromossomos, gerando a primeira célula do servivo, chamada de zigoto ou célula-ovo. A partir daí, a combinação domaterial genético do homem e da mulher dará origem a uma terceiracombinação, que resultará na perpetuação da descendência e da raça humana.Portanto, a procriação bíblica requer naturalmente a relação sexual entre um

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homem e uma mulher.Quanto ao modelo de procriação artificial, nossa Declaração de Fé

assevera o seguinte: As técnicas em que a fertilização ocorre fora do corpo da mulher, com arespectiva manufatura do embrião, são condenáveis por desrespeitarem oprocesso de fecundação natural que deve ocorrer no interior do ventrematerno […] Condenamos as técnicas reprodutivas que requerem odescarte de embriões e doação. Rejeitamos a maternidade de substituição,mediante a qual se doa temporariamente o útero, por ferir a purezamonogâmica. Não admitimos a reprodução post-mortem em virtude dacessação do vínculo matrimonial. (SOARES, 2017, p. 206) Sob essa questão, a igreja posiciona-se favorável ao uso das demais

técnicas artificiais de reprodução desde que não atentem contra a pureza darelação sexual monogâmica. O texto normativo reconhece a reproduçãoartificial desde que a fertilização (processo no qual tem início a vida humana)ocorra no interior do corpo da mulher e os gametas utilizados pertençam aopróprio casal (SOARES, 2017, p. 206).

2. O Planejamento Familiar no Antigo TestamentoNa Antiga Aliança, a fertilidade era vista como uma dádiva: “Eis que osfilhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3).Nesse contexto, ter muitos filhos era sinal de benevolência do Altíssimo esinônimo de felicidade (Sl 127.5). A esterilidade era motivo de discriminação(1 Sm 1.6,7), provocava desavenças (Gn 30.1,2) e era vista como vergonha(Gn 30.23). Em contraste a essa cultura, as esposas dos patriarcas foramestéreis e sofreram muito até que Deus lhes abriu a madre. Sara concebeu navelhice e gerou apenas um filho: Isaque (Gn 21.2). Isaque, ao casar-se,

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durante 20 anos orou pelo ventre de Rebeca, e ela gerou dois filhos: Jacó eEsaú (Gn 25.21). Raquel, a esposa amada de Jacó, após anos de esperatambém concebeu apenas dois filhos: José e Benjamim (Gn 35.24). Percebe-se, então, no caso dos patriarcas, a intervenção divina e as diferenças domultiplicador de família para família.

A lei do leviratoPara o povo hebreu, suscitar descendência era algo primordial para a

família e para o cumprimento da promessa abraâmica (Gn. 12.3; 13.16).Gerar filhos era uma bênção divina que representava prestígio social econtinuidade dos laços sanguíneos (Sl 128.1-6; Pv 31.28). Por isso, desde oprincípio foi instaurado entre os hebreus a lei do levirato. O vocábulo vem dolatim levir, que significa “cunhado”, e consiste no ato de suscitardescendência ao homem que tenha morrido sem deixar filhos. Nesse caso, ocunhado deveria se casar com a viúva e gerar com ela uma descendência paraseu irmão. Desse modo, o filho que nascesse seria considerado filho dofalecido, fazendo com que a memória deste jamais fosse esquecida.

O primeiro caso bíblico relata que Er era casado com Tamar e morreu semdeixar descendentes. Então, Judá, seu pai, ordenou ao seu segundo filho, Onã,que tomasse a viúva para suscitar com ela descendência ao seu irmão (Gn38.7,8). Porém, diz o texto que Onã “toda vez que possuía a mulher do seuirmão, derramava o sêmen no chão para evitar que seu irmão tivessedescendência” (Gn 38.9b, NVI). Realizava ele o que hoje é chamado de“coito interrompido”, considerado no texto como um mal pelo qual o Senhoro matou (Gn 38.10). Contudo, o castigo de Onã não se deu pelo fato de eleusar um método contraceptivo — aliás, um dos menos eficazes —, mas pelasua postura egoísta por saber que “a descendência não seria sua” (Gn 38.9a,NVI). Cerca de 500 anos depois, essa cultura foi incorporada na Lei mosaicacom um adendo de não obrigatoriedade. O cunhado poderia recusar ocasamento com a viúva do irmão (Dt 25.7a). A mulher então deveria levar o

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caso ao conhecimento dos anciãos (Dt 25.7b). Se o homem persistisse em nãotomar a cunhada por esposa, a viúva deveria pegar uma das sandálias dos pésdo cunhado e cuspir no seu rosto em sinal de protesto (Gn 25.9). A partirdessa ação, a casa do descumpridor de seu dever passaria a ser conhecidacomo “a casa do descalçado” (Gn 25.10).

3. O Planejamento Familiar no Novo TestamentoNa Nova Aliança, a fertilidade também é exaltada. Ao visitar Maria eanunciar a sua gravidez, o anjo lhe disse: “Salve agraciada; o Senhor écontigo; bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1.28). Na mesma ocasião, aocontar para Maria acerca da gravidez de Isabel, o anjo enfatizou: “Isabel, tuaprima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquelaque era chamada estéril” (Lc 1.36). Isabel gerou um único filho, João, obatista (Lc 1.59-60), e Maria, após o nascimento de Jesus, gerou ao menosquatro filhos e duas filhas (Mt 13.55,56). Repara-se, em ambos os casos, aintervenção divina e a diferença no fator multiplicador de uma casa para outracasa.

Os deveres da família cristãEm sua Epístola aos Efésios, Paulo trata dos deveres dos maridos, das

esposas e dos filhos (Ef 5.21-33; 6.1-4). Como fundamento para essesdeveres, o apóstolo estabelece a regra da sujeição mútua (Ef 5.21). Nem omarido é sem a mulher e nem a mulher é sem o marido (1 Co 11.11). Notexto bíblico, as mulheres recebem a incumbência de serem submissas aosesposos (Ef 5.22), os maridos são exortados a amar suas mulheres do mesmomodo como Cristo amou a Igreja (Ef 5.25), e os filhos são orientados aobedecer e honrar pai e mãe (Ef 6.1,2). Uma família cristã que observa essesprincípios vive em harmonia, e as deliberações são tomadas de comumacordo entre o marido e a mulher, cabendo a decisão final à cabeça do lar (Ef5.23). Não obstante, as decisões no âmbito do lar têm como pressuposto o

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amor, e não a arbitrariedade ou autoritarismo. Com essa percepção, oplanejamento familiar não é ignorado ou negligenciado, ao contrário, onúmero de filhos e as condições para criá-los são avaliados por meio dodiálogo, da oração e do temor ao Senhor.

III. ÉTICA CRISTÃ NA LIMITAÇÃO DO NÚMERODE FILHOSA limitação do número dos filhos requer aprovação divina por meio daoração e motivações que sejam coerentes com a ética cristã. Por meio daprole dos patriarcas e das famílias registradas no Novo Testamento, percebe-se que o fator multiplicador era variado de geração a geração.

1. A Questão do Fator MultiplicadorQuem se opõe ao planejamento familiar considera a limitação do número dosfilhos uma desobediência ao mandamento de procriação (Gn 1.28). Por issoensinam que a mulher deve gerar filhos indefinidamente. Contrariando essaideia, a mulher não é fértil todos os dias. O Criador agraciou a mulher comapenas três dias férteis a cada mês, indicando que ela não tem o dever degerar filhos a vida toda. Deus não estipulou qual deveria ser o número defilhos. Portanto, o mandamento de multiplicação é cumprido quando o casalgera um filho, pois eram duas pessoas e agora passaram a ser três. Deve-seainda entender que a ordem de procriação é “geral” e não “específica”, ouseja, Deus ordenou a reprodução da raça, e não obrigatoriamente que cadapessoa se reproduza. Em consequência, algumas pessoas vão reproduzirmuito, outras vão reproduzir pouco e outras não vão reproduzir.

Não gerar filhos é pecado?Gerar filhos é uma ordenança do Criador para toda a humanidade (Gn

1.22). Trata-se de um projeto divino para a perpetuação da espécie humana

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criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). No entanto, deixar degerar filhos não caracteriza desobediência a uma norma que é “geral”, e não“específica”. Não gerar filhos não é pecado desde que os motivos alegadosnão atentem contra a soberania divina. Do contrário, os solteiros e os viúvos(1 Co 7.8), os eunucos (Mt 19.12) e os casados estéreis (Lc 23.29) estariamem pecado. E, se fosse pecado não procriar, até a privação sexual voluntária,autorizada nas Escrituras, estaria em contradição (1 Co 7.5). Desse modo,gerar ou não filhos, bem como o fator multiplicador, depende da vontade e doprojeto do Senhor para cada família.

2. A Questão Ética no Planejamento FamiliarPlanejar não é pecado. Cristo elogiou o planejamento do construtor e do reiguerreiro (Lc 14.28-32). O pecado está na presunção em não pedir aaprovação divina no projeto (Tg 4.13-15). O cristão deve aconselhar-se comDeus para tomada de qualquer decisão (Tg 1.5; 1 Jo 5.14). Nossasmotivações devem ser apresentadas ao Senhor em oração e devem serdesprovidas de vaidade e de egoísmo (Tg 4.2,3). Assim, é vaidade a mulhernão querer procriar para não alterar a beleza e a estrutura do corpo.Infelizmente, em nossos dias, o culto ao corpo seduz algumas mulheres a seposicionarem contra a maternidade. Igualmente se classifica como egoísmonão gerar filhos para fugir da responsabilidade paterno-materna. O esquivar-se das obrigações da paternidade é uma postura presente no hedonismo.Também incorrem em erro aqueles que, pela falta de planejamento, procriamem demasia e não conseguem prover o suficiente e indispensável para osfilhos. Desse modo, a paternidade irresponsável torna-se culpada pelasmazelas a que sua prole estará exposta durante toda a vida.

É pecado limitar o nascimento dos filhos?O homem não peca pela simples limitação ou espacejamento do

nascimento de seus filhos. Comete pecado quando suas motivações são

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presunçosas e utilitaristas. Portanto, postergar o nascimento dos filhos até quese possa cuidar melhor da família, limitar o número dos filhos para que sepossa criá-los com dignidade e espaçar o tempo de nascimento entre um eoutro filho para melhor acolher mais uma criança não podem serconsiderados como pecado, pois as Escrituras ensinam ao homem cuidar bemde sua família (1 Tm 5.8). As famílias que se preocupam em planejar sãomais bem-sucedidas na criação e no sustento de seus filhos. O resultado temsido satisfatório sob vários aspectos, tais como: possibilidade de propiciar umadequado plano de saúde, educação apropriada, alimentação equilibrada esaudável, compatível vestuário e calçados, e tempo de qualidade para estarcom os filhos. Para tanto, ao planejar o nascimento dos filhos, sempre se faznecessário consultar a vontade soberana do Senhor (Mt 6.10). O cristão queconsulta ao Senhor e aceita a vontade divina na limitação do número de seusfilhos é abençoado em toda a sua família (Sl 128.1-6).

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Capítulo 10

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O

Ética cristã e vida financeira

Senhor é fonte de toda riqueza, tanto a prata quanto o ouro lhe pertencem(Ag 2.8). As posses e os bens são concedidos ao homem por meio do nossoDeus. Cada um prestará contas daquilo que recebeu para administrar (Rm14.12), inclusive no quesito financeiro (Mt 25.19). Nas Escrituras, o trabalhoenobrece o homem, sendo este o único meio digno de sobrevivência (Gn3.19). Apesar dessa assertiva bíblica, durante a Idade Média, os queescolhiam trabalhar para conseguir sustento eram considerados cristãos desegunda classe e a espiritualidade monástica do período medieval, em geral,considerava o trabalho degradante (MCGRATH, 2012, p. 331).

Essa ideia deturpada do trabalho perdurou até a Reforma Protestante, em1517. Somente após o movimento protestante é que houve uma mudança deparadigma na conceituação do trabalho. Quem trabalhava era somente a plebeou o proletariado, enquanto a nobreza e também o clero sobejavam embenefícios e regalias e eram sustentados pelos altos impostos infligidos aostrabalhadores. Com a Reforma, o protestantismo desenvolveu “a concepçãode que o trabalho é uma vocação divina, a qual foi dada a cada ser humanocomo instrumento de determinação de amor ao próximo, no sentido de que,cumprindo a vocação, a pessoa humana serve a seu semelhante”(OLIVEIRA, 2009, p. 174).

A teologia protestante inverteu o antigo ponto de vista católico e medieval.De uma percepção do trabalho como algo humilhante para um meiodignificante e glorioso de louvar a Deus em sua criação e por intermédio dela(MCGRATH, 2012, p. 332). O trabalho passou a ser entendido como ummeio digno e desejado de sustentar a família, erradicar a pobreza e a miséria,

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bem como uma oportunidade de exercer o amor aliviando a dor e a fome dopróximo, e ainda uma maneira de propiciar a manutenção do Reino de Deusna terra.

I. UMA TEOLOGIA PARA A VIDA FINANCEIRAO equilíbrio financeiro que foge dos extremos da riqueza e da pobrezapossibilita uma vida desprovida de preocupações desnecessárias. Os que sededicam de modo desordenado em busca do enriquecimento são traspassadosde muitas aflições (1 Tm 6.9,10) e, no outro extremo, os que negligenciamsuas finanças estarão fadados a uma vida de miséria (Pv 28.19).

1. Vida Financeira EquilibradaNo livro de Provérbios estão registradas as palavras de Agur (Pv 30.1). Elefez dois pedidos ao Senhor, os quais almejava usufruir antes de sua morte (Pv30.7). Seu primeiro pedido era por uma vida íntegra, livre da vaidade e dafalsidade (Pv 30.8a). Na segunda petição, Agur desejou uma vida financeiraequilibrada. Ele rogou: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza” (Pv30.8b). O motivo desse segundo pedido é explicado em seguida: “para que,porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que,empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus” (Pv 30.9). Agurdesejava dinheiro suficiente para uma vida digna que não o levasse a pecar.Ele não queria muito dinheiro para evitar a soberba, mas também não queriaque faltasse para não ser desonesto. Nesse propósito, ele aspirava apenas àporção necessária para cada dia (Pv 30.8c). E foi exatamente assim que Cristonos ensinou a pedir: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11).

A prosperidade na BíbliaDesde o início, Deus tem prometido prosperidade ao seu povo. Tudo

começou com Abrão, que habitava em Ur dos caldeus, quando o Senhor lhefalou: “Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra

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que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, eengrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção” (Gn 12.1,2). As Escriturasasseveram que Abraão creu na promessa que Deus lhe fizera, e isso lhe foiimputado como justiça (Rm 4.3). Portanto, a prosperidade é algo bíblico, estánas Escrituras como uma dádiva divina, algo prometido pela palavra dopróprio Deus.

Em contrapartida, nas Escrituras “ser próspero” não significa “somente terposses”, pois a prosperidade unicamente material pode ser danosa.Consciente dessa verdade, o sábio rei Salomão registrou: “Não esgote suasforças tentando ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assimque você as contempla; elas criam asas e voam como águias pelo céu” (Pv23.4,5, NVI). Quando Cristo foi interpelado por alguém que requeriaintervenção em um caso de herança, o Senhor lhe advertiu severamente:“Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de umhomem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lc 12.15, NVI). João, aoescrever para Gaio, desejou-lhe prosperidade material e espiritual (3 Jo 1,2).Assim, nossa riqueza deve ser tal qual é próspera a nossa alma.

Saúde financeiraA saúde financeira não depende de quanto ganhamos, mas de como

gastamos o que ganhamos. A Palavra de Deus censura a imprudência dequem vive acima de sua capacidade econômica: “O homem sensato tem osuficiente para viver na riqueza e na fartura, mas o insensato não, porquegasta tudo o que ganha” (Pv 21.20, NTLH). Aquele que desobedece a esseprincípio acumula dívidas e vive atribulado. Não raras vezes contraiempréstimos para saldar outros empréstimos. Torna-se refém dos altíssimosjuros dos cartões de crédito e do cheque especial. Em casos extremos, passa aser explorado por agiotas que fazem financiamentos com juros abusivos.Compromete sua reputação e seu nome figura como mau pagador nos órgãosde proteção ao crédito. Pela sua insensatez e má administração, quando chega

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à velhice não tem onde reclinar a cabeça e nem mesmo condições mínimas deviver dignamente.

Portanto, para uma vida financeira equilibrada, é preciso bem administrar oorçamento familiar. A prudência ensina calcular todas as despesas e fazerprovisões financeiras para evitar o empréstimo e a vergonha (Lc 14.28).Outra salutar medida é não se envolver na aquisição de supérfluos e resistir àtentação de comprar o que não precisa. Aplicar a remuneração naquilo que éindispensável e não gastar o dinheiro naquilo que não é pão (Is 55.2) —aquele que observa esses princípios fica longe das dívidas e escapa da ruínafinanceira. Será louvado pela sua família, manterá o bom nome e a boareputação, e, na velhice, poderá desfrutar de uma merecedora e dignaaposentadoria.

2. O Perigo do Amor ao DinheiroO apóstolo Paulo corrobora que a vida moderada é o melhor caminho parafugir dos laços e tentações das riquezas (1 Tm 6.9,10). A cobiça pelo dinheirocorrompe os homens e os faz desviar da fé. Percebe-se no texto bíblico que omal não está no dinheiro, e sim no “amor ao dinheiro”. O mal está em perdera comunhão com Deus e passar a depositar a confiança nas riquezas. A Bíbliarevela que essa atitude foi empecilho de libertação na vida de muitos, comonos exemplos do jovem rico (Lc 18.23), de Judas Iscariotes (Lc 22.3-6), deAnanias e Safira (At 5.1-5), que valorizaram o dinheiro em detrimento dasalvação. Portanto, mesmo que o Senhor nos permita enriquecer, o salmistanos adverte para não pecarmos: “[...] se as vossas riquezas aumentam, nãoponhais nelas o coração” (Sl 62.10).

Cuidado com a cobiçaO mais perigoso inimigo do homem é ele próprio. A sua própria carne e a

natureza pecaminosa que nele habita constituem um inimigo vicioso eenganoso. Existem três espécies de pecado que se encontram na raiz da queda

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de qualquer cristão: é o amor pelas mulheres (imoralidade sexual); o amorpelo dinheiro (o pecado da cobiça); e o amor por posições (orgulho eapostasia). Comparados com isso os seus inimigos externos são fáceis decombater. A cobiça vem de uma insegurança com relação à provisão de Deuse o amor pelo dinheiro. Em Mateus 6.24, Jesus ensinou sobre dois senhores,dentre os quais devemos escolher um — Deus ou Mamom. Acerca dessadeclaração, Mamom é identificado com o nome do deus pagão da riqueza eda prosperidade com gravíssimas implicações:

No Targum (paráfrase aramaica do Antigo Testamento), essa palavra erausada para o lucro desonesto obtido mediante exploração egoística de outrapessoa. O “mamom” da injustiça de Lucas 16.9 corresponde com exatidãoa uma frase aramaica que significa “possessões adquiridas comdesonestidade. (MOUNCE, 1996, p. 70) Infelizmente, muitos cristãos têm caído nessa armadilha, apropriando-se

daquilo que não é seu. As Sagradas Escrituras esclarecem que a cobiça, ou aavareza, está no amor ao dinheiro. Paulo ensina que a cobiça é pecado deidolatria. Nos textos de Colossenses 3.5 e de Efésios 5.5, avareza e cobiça sãosinônimos. Esses termos estão ligados com a ganância de querer ter e sermais que os outros. Um cristão dominado pela avareza ou pelo desejo deacumular riquezas é insensato e delira em vãos pensamentos, Jesus deixoubem claro que “a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”(Lc 12.15). Lamentavelmente, não são poucos os que acabam se perdendopor causa da cobiça ao dinheiro, bens materiais e posições economicamentecompensatórias.

O problema da soberbaAo escrever aos romanos, o apóstolo dos gentios os advertiu acerca da

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soberba: “[...] não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes;não sejais sábios em vós mesmos” (Rm 12.16). Os romanos, por viverem nacidade imperial, estavam bem próximos do esplendor da corte e buscavamocupar certas posições. A exortação paulina os instiga a se acomodarem àscoisas simples, deixando de ser convencidos, em vez de lutar na consecuçãode coisas que eram altas demais para eles (PFEIFFER, 1983, v. 5, p. 56).Matthew Henry considera que “não devemos ambicionar honra e promoção,nem olhar com respeito o fausto e a dignidade do mundo com qualquer valorou desejos excessivos” (2008, vol. 2, p. 391). Nesse sentido, o problema nãoestá nos altos cargos ou funções, mas no desejo de alguns de seremsuperiores aos outros.

Não obstante, a orientação bíblica por vezes é negligenciada por aquelesque almejam, por meio do acúmulo das riquezas, alcançar o topo da pirâmidesocial para vangloriar-se sobre os demais. A respeito desse procedimento,Tiago reprovou o comportamento de alguns crentes que estavam praticando ofavoritismo e o elitismo na igreja (Tg 2.1-9). A reprovação de Tiago aindatem relevância para hoje: “A Igreja não deveria mostrar parcialidade, nenhuminteresse com respeito à beleza externa, à riqueza material e ao poder ou àinfluência da pessoa” (DAVIDS, 1997, p. 79). Muitos conflitos e contendassão gerados na igreja por ações de superioridade praticadas por parcela damembresia. Deus não se recusa em nos abençoar, mas não o fará se a nossamotivação for errada. Não seremos atendidos se o nosso desejo deprosperidade estiver motivado pelo egoísmo e pela soberba (Tg 4.1-3).

II. MEIOS HONESTOS PARA GANHARDINHEIROGanhar dinheiro não é pecado, e sim uma necessidade indispensável.Trabalhar de modo honesto para o sustento seu e de sua família é uma atitudealtruísta. Aqueles que deliberadamente não trabalham e os que sobrevivem de

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maneira desonesta são reprovados e condenados pelas Escrituras Sagradas.

1. Trabalho e EmpregoDesde a queda no Éden, o homem precisa empregar esforços para obter osbens de que necessita para sobreviver (Gn 3.19a). Assim, o trabalho passou aser um meio legítimo para prover o sustento. O Senhor Jesus ensinou que“digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7, ARA). Quando escreveu aosirmãos em Tessalônica, Paulo enfatizou que o trabalho é um meio digno deganhar dinheiro (1 Ts 2.9). Porém, no afã de obter o seu salário, o cristão nãopode envolver-se com meios ilícitos ou criminosos (Pv 11.1; 20.10) e nemtampouco explorar ou extorquir o seu semelhante (Am 2.6). Aresponsabilidade individual de trabalhar para o próprio sustento é tãorelevante que a Bíblia condena o preguiçoso (Pv 21.25; 22.13) e aindaassevera: “[...] se alguém não quiser trabalhar, não coma também”(2 Ts 3.10).

Conceito de trabalhoA ordem divina para o trabalho tinha sido anunciada antes da queda do

homem (Gn 1.28). E por causa dela o processo do trabalho foi dificultado; emrazão do pecado, a terra passou a produzir cardos e espinhos (Gn 3.18).Pallister analisa que “ao dar o mandato para trabalhar (Gn 1.28), é natural queDeus tenha querido abranger todo tipo de atividade humana legítima” (2005,p. 79). E, conforme essa compreensão, adota-se o seguinte conceito detrabalho:

Atividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente esatisfazer às necessidades humanas. Por isso, o conceito de trabalhoimplica: 1) dependência do homem em relação à natureza, no que se refereà sua vida e aos seus interesses: isso constitui a necessidade, num de seussentidos; 2) reação ativa a essa dependência, constituída por operaçõesmais ou menos complexas, com vistas à elaboração ou à utilização dos

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elementos naturais; 3) grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimentoou fadiga, que constitui o custo humano do trabalho. (ABBAGNANO,2000, p. 964) Os princípios bíblicos e teológicos que regem a concepção do trabalho

vinculam a atividade laboral com a ideia de progresso social, solidariedade eenobrecimento da pessoa humana. Porém, na prática contemporânea, osociólogo polonês Sygmund Baumann (1925-2017), em seu livroModernidade Líquida, afirma que “raramente se espera que o trabalho‘enobreça’ os que o fazem, fazendo deles ‘seres humanos melhores’, eraramente alguém é admirado e elogiado por isso” (BAUMANN, 2001, p.161). Apesar do ceticismo hodierno, essas ideias não conseguem anular aimportância e a contribuição do trabalho na realização do ser humano.Primeiro de maio é a data, no Brasil e em vários países do mundo, reservadapara comemorar o Dia do Trabalho. A História da data remonta o ano de1886, quando milhares de trabalhadores protestaram por melhores condiçõesde trabalho na cidade de Chicago (Estados Unidos).

Meio de vida, e não de morteO trabalho deve ser executado como um meio de vida, e não de morte. O

corpo humano possui limitações que devem ser respeitadas. O excesso detrabalho com carga horária abusiva e funções múltiplas é extremamenteprejudicial à saúde. Dias de folga, intervalos para descanso, fériasremuneradas e alimentação apropriada ajudam a manter o equilíbrio entre otrabalho e as necessidades vitais do trabalhador. Quando essas orientaçõessão desprezadas, a saúde e a família são os primeiros a ser afetados. Em ummercado de trabalho competitivo, uma considerável parcela de trabalhadorespermite que o emprego sugue todas as suas energias e anule a sua vida social,religiosa e familiar. Nesse quesito, as Escrituras orientam a busca do

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equilíbrio. De um lado somos exortados a trabalhar e fugir da preguiça (Pv6.6-11), e, de outro, recebemos a instrução de não cometer exageros: “Melhoré uma mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho eaflição de espírito” (Ec 4.6). Portanto, o trabalho deve ser algo prazeroso,saudável e dignificante. Não existe mérito algum em se matar de trabalhar.

2. Escolarização e Mobilidade SocialA sociedade é formada por classes sociais. A possibilidade de um cidadãotrocar de classe é denominada de “mobilidade social”. Um dos meiosdisponíveis é a escolarização, ou seja, a educação acadêmica. A escolarizaçãoproporciona a capacitação profissional e o acesso a níveis superiores deensino. Aqueles que alcançam maior escolarização possuem maiorprobabilidade de encontrar empregos com bons salários, possibilitando aascensão social. No entanto, o cristão precisa tomar cuidado na busca de seuaprimoramento intelectual para não ser enredado por meio de filosofias e vãssutilezas (Cl 2.8). Precisa também ter em mente que não deve buscarconhecimento para vanglória ou para se considerar melhor que os outros (Fp2.3). Ao contrário, deve usar a escolarização e a ascensão social para podermelhor servir ao Reino de Deus (Fp 2.4,21; 1 Co 10.32,33).

Formação AcadêmicaNão faz muito tempo que ter um curso superior ou uma especialização era

o grande diferencial para se conseguir um bom emprego em nosso país. Otempo passou, o mercado tornou-se altamente competitivo e as exigênciasaumentaram. Por isso, o que antes era uma vantagem tornou-se um padrão.Quem não possui qualificação acadêmica, dificilmente conseguirá umemprego com salário rentável. A partir dessa realidade, novas competênciaspassaram a ser requeridas pelo empregador. Atualmente, a mera formaçãoacadêmica não é requisito suficiente para preencher uma vaga de emprego.Empregadores selecionam entre os candidatos de nível superior aqueles que

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apresentam algum diferencial, como por exemplo, domínio fluente dedeterminado idioma, amplo conhecimento de informática, inteligênciaemocional, valores morais e éticos especialmente para cargos de chefia, eoutros.

Mercê desses fatos, a qualificação é algo a ser aprimorado para quem estáou deseja entrar no mercado de trabalho. Aqueles que recusarem oaperfeiçoamento vão correr o risco de perder o emprego, ser preterido naspromoções ou se resignar em receber baixos salários.

Todavia, embora a educação formal seja um dos meios mais eficazes para amobilidade social, o acesso à educação ainda é deficiente, apesar dos esforçose da sensível melhora ocorrida nas últimas décadas.

III. COMO ADMINISTRAR O DINHEIROA mordomia das finanças é responsabilidade de todos os membros da família.A má gestão provoca endividamento e constrangimentos desnecessários. Umlar bem administrado financeiramente resulta em segurança e bem-estar.

1. Fidelidade na Casa do SenhorA boa administração financeira tem início com a fidelidade do cristão naentrega dos dízimos e ofertas. O dízimo era praticado antes da lei (Gn 14.18-20), requerido no período da lei (Ml 3.7-10) e permaneceu em vigor na NovaAliança (Mt 23.7,10,23; Lc 11.42). É mandamento da Lei e da Graça — daantiga e da nova dispensação. Entregar os dízimos significa devolver aoSenhor a décima parte de todos os rendimentos. A oferta é extra ao dízimo.Tanto um quanto o outro devem ser entregues com alegria (2 Co 9.7). Ocristão deve entregar com amor, altruísmo e voluntariedade. Deve sentirvontade e gratidão em participar dos dízimos e das ofertas, que é fonte degraça e sinal de comunhão com Deus: “O povo se alegrou com tudo o que sefez voluntariamente; porque de coração íntegro deram eles liberalmente ao

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Senhor; também o rei Davi se alegrou com grande júbilo” (1 Cr 29.9, ARA).

A bênção de contribuirO cumprimento de metas e a administração das atividades eclesiásticas

exigem recursos financeiros. Na maioria das vezes, a soma total do valormonetário recebido pela igreja determinará a expansão de seu crescimentonas várias áreas de atuação. É verdade que as finanças não são o único fator aser considerado no crescimento e expansão de uma igreja. No entanto, asituação financeira da igreja possibilita ou impede a execução das metas aserem atingidas. Infelizmente, existe na igreja uma parcela lamentável deirmãos que não contribuem na casa de Deus. Alguns alegam que o dízimo eas ofertas fazem parte da Antiga Aliança e que, por conseguinte, estãodesobrigados de dizimar e ofertar na Nova Aliança. Outros, cientes daresponsabilidade de contribuir, não o fazem por estarem dominados pelamesquinharia, egoísmo e amor ao dinheiro. E outra parte não contribui porfalta do ensino pastoral. O ensino precisa ser esclarecedor e convincente semser apelativo.

O dízimo e as ofertas fazem parte da prática diária e da disciplina cristã. Osofertantes e dizimistas devem fazê-lo com amor e altruísmo, extirpando oegoísmo humano. A voluntariedade e gratuidade devem ser buscadas comodesejo constante. Não se deve entregar o dízimo ou oferta como umpagamento Deus. A Bíblia ensina que é devolução. O crente, ao entregar suacontribuição, está fazendo devolução de algo que nunca foi seu, mas quesempre pertenceu a Deus. A entrega não pode ser egoísta ou com interesses emotivações erradas. Jesus redarguiu enfaticamente os escribas e fariseus, quefaziam contribuições, porém o seu coração estava longe de Deus. A atitudedeles descaracterizava a real finalidade da contribuição. Entregar dízimos eofertas é confirmação de fé e obediência à Palavra de Deus (Mt 23.23).

2. Estabelecendo Prioridades

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A Bíblia ensina que o dinheiro serve de proteção (Ec 7.12). Contudo, odinheiro somente será uma benção se a família souber administrar seusrendimentos. Estipular prioridades e metas a serem atingidas é o caminhomais fácil para melhor aplicar os recursos e evitar o desperdício (Pv 21.5). Asmetas devem ser estabelecidas, obviamente, de acordo com as condiçõesfinanceiras da família. O planejamento evita aplicação do dinheiro ematividades supérfluas ou desnecessárias (Is 55.2). As prioridades devem serordenadas pela urgência ou imprescindibilidade de cada situação. Umaadministração transparente e sincera demonstra temor de Deus na aplicaçãodas finanças da família (1 Tm 5.8).

Agenda financeiraNem sempre é simples planejar e ordenar as prioridades da agenda

financeira da família. Diversos conflitos de interesses costumam dificultar,porém esses conflitos precisam ser vencidos, sob pena de as metas não seremalcançadas. Cada situação precisa ser planejada e analisada por meio deperguntas, tais como, é viável e necessário trocar o carro agora? É possívelviajar de férias para determinado lugar e lá passar determinado número dedias? Esses cuidados evitam o endividamento, porém, é preciso tomarcuidado com a economia em excesso. Esbanjar é tão prejudicial quanto deixarde investir em si mesmo e na família.

3. Evitando as DívidasA falha no estabelecimento de prioridades provoca o endividamento. Quandoa família não planeja, acaba contraindo dívidas acima de suas posses. O larpassa a sofrer privações e se torna refém do credor (Pv 22.7). Ocomprometimento da renda familiar acarreta uma série de outros prejuízos,tais como impaciência, nervosismo e desavenças no lar. Para evitar essasdesagradáveis situações é aconselhável comprar tudo à vista (Rm 13.8), nãoficar por fiador de estranhos (Pv 11.15; 27.13), fugir da mão dos agiotas (Êx

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22.25; Lv 25.36), e ser fiel nos dízimos e nas ofertas (Ml 3.10,11).O nível de desemprego aliado à falta de disciplina financeira da população

contribuiu com os altos índices de endividamento e inadimplência dasfamílias brasileiras. Diante desse cenário caótico e a fim de não fazer partedesses índices, o crente salvo deve manter sua disciplina financeira por meioda fidelidade nos dízimos e nas ofertas, no esmero no planejamento doorçamento familiar e na fuga de todo e qualquer endividamento. E, depois defazer todo o possível ao seu alcance, confiar que Deus suprirá as suasnecessidades (Fp 4.7).

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Capítulo 11

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A

Ética Cristã, Vícios e Jogos

Bíblia Sagrada enaltece a vida moderada, o trabalho honesto e a boaadministração da família (1 Co 10.23; Ec 3.10; 1 Tm 5.8). Desse modo, asEscrituras eliminam qualquer possibilidade de o cristão envolver-se naprática dos vícios ou jogos de azar. No entanto, as estatísticas indicam dadosalarmantes dos prejuízos que são provocados por esse mal em nossasociedade.

Estima-se que, depois do relato bíblico envolvendo o vinho fermentado porNoé (Gn 9.20-27), a primeira bebida alcoólica teria sido preparada na China,por volta do ano 8.000 a.C. A análise de substâncias orgânicas em peças decerâmica na vila neolítica de Jiahu, no norte da China, no ano de 2006,revelou que elas continham um drinque feito de arroz, mel e frutas silvestres,tudo fermentado (GARCIA, 2007, p. 2). Na cultura da civilização sumeriana(3.000 a.C.), eram produzidos 19 tipos de bebidas alcoólicas — sendo que 16delas eram à base de trigo e cevada — provavelmente o embrião da cerveja.A bebida era consumida pelos aristocratas sumérios por meio de canudinhosde ouro (GARATTONI, ago. 2008).

Quanto ao uso de drogas alucinógenas, o consumo da cannabis (conhecidacomo maconha) remonta ao ano 2.700 a.C. A maconha teve sua origem noAfeganistão e na índia, sendo consumida para uso medicinal e em rituaisreligiosos. Na Europa, era usada para fabricar papel e tecido, tornando-se umdos principais produtos agrícolas, passando a ser usada posteriormente comoentorpecente (CARLINI, 2005).

A arqueologia registra que a origem dos “jogos de azar” remontam à antigaSuméria, por volta do século III a.C. Os sumérios implantaram um jogo que

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consistia em um grupo de dados fabricado em ossos de animais com símboloscunhados nas faces, com valores determinados e específicos. Nesse jogo, ovencedor era aquele que alcançasse uma maior pontuação, arremessando osdados. Essa cultura de jogatina também foi encontrada no Egito — comtabuleiros (séc. II a.C.) —, e na Roma antiga — com o jogo de dados e outros(séc. I a.C.). Historiadores afirmam que esses jogos somente terminavamapós um dos participantes perder todos os seus bens, muitos, inclusive,perdiam a liberdade, tornando-se escravos (FERNANDES, 2012).

I. VÍCIOS: A DEGRADAÇÃO DA VIDA HUMANATudo aquilo que escraviza o homem e o faz perder seus valores é qualificadocomo vícios que resultam na degradação da essência humana. Uma definiçãogenérica para vício é “um hábito, ou prática, imoral ou mau; conduta imoral;comportamento depravado e degradante” (HENRY, 2007, p. 596). Portanto,vício é o contrário da virtude, assim como o errado diverge do certo e astrevas fazem oposição à luz. Durante a Idade Média, os teólogosrelacionaram os “vícios” aos denominados sete “pecados capitais”. Os vícioseram identificados em um ou mais dos seguintes pecados mortais: orgulho,avareza, lascívia, inveja, glutonaria, ira e preguiça. Quanto a esses e aosdemais pecados, somos exortados a rejeitar as obras das trevas e nos vestirdas armas da luz (Rm 13.12). O apóstolo dos gentios enfatiza ocomportamento ético do cristão como aquele que age na luz: “não emglutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem emdissoluções, nem em contendas e inveja” (Rm 13.13). As vidas viciadas noálcool, cigarros e demais drogas evidenciam ausência de paz de espírito,andam nas trevas e necessitam de urgente libertação (Gl 5.16; 1 Jo 2.8).

1. O Pecado do AlcoolismoO consumo do álcool é tanto um vício como um pecado (Lc 21.34; Ef 5.18; 1

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Co 6.10). A embriaguez altera o raciocínio e o bom senso (Pv 31.4,5). Oálcool retira a inibição e a pessoa perde “a motivação para fazer o que écerto” (Os 4.11). O alcoolismo leva à pobreza e a graves problemas de saúde(Pv 23.21,31,32). Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontamo alcoolismo como a terceira causa de morte no mundo. A igreja deveposicionar-se e trabalhar na prevenção ao vício. O problema é de ordemespiritual, médica e psicológica. Muitas pessoas fazem uso da bebidaalcoólica como um meio de fuga para seus problemas. Por conseguinte,precisamos sair da clausura dos templos e anunciar que Cristo produz vida(Jo 10.10) e concede paz para a alma (Jo 14.27).

A maldição na família de NoéA embriaguez do patriarca Noé resultou em graves consequências para si e

para sua família. Após o período do dilúvio, Noé tornou-se lavrador da terra eplantou uma vinha (Gn 9.20). Na primeira colheita da uva, ao fermentar umvinho, o patriarca embriagado ficou desnudo dentro de sua tenda. Desinibidopelo efeito do álcool, tornou-se incapaz de perceber a insensatez de suaatitude (Gn 9.21). O mesmo efeito de destempero acontece com aqueles queagem sob o efeito do álcool. Por isso, as Escrituras advertem: “O vinho éescarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; e todo aquele que neles errarnunca será sábio” (Pv 20.1). Por essa razão, também Paulo recomendou aabstinência de bebidas alcoólicas (1 Tm 3.3). A nudez de Noé foi flagradapelo seu filho Cam, que em lugar de resguardar seu pai decidiu depreciar suahonra contando aos irmãos (Gn 9.22).

Os outros filhos de Noé, Sem e Jafé, de maneira respeitosa, com o rostovirado em direção contrária, cobriram a nudez do pai (Gn 9.23). Passado oentorpecimento, ao despertar de sua bebedeira e se conscientizar dos fatos, opatriarca lançou sobre o filho de Cam um severo juízo: “Maldito seja Canaã;servo dos servos seja aos seus irmãos” (Gn 9.25). Por conseguinte, por causada postura difamatória de Cam, toda a descendência de Canaã ficou sob

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maldição. Apreende-se com tal episódio que o uso do álcool resulta emsituações danosas e constrangedoras para a família. Assim, para o cristão,prevalece a admoestação bíblica: “E não vos embriagueis com vinho, em quehá contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

2. A Escravidão das DrogasAs drogas são substâncias químicas que provocam alterações no organismo.As drogas causam dependência e o consumo excessivo provoca morte poroverdose. As drogas afetam também o funcionamento do coração, fígado,pulmões e até mesmo o cérebro. As drogas ilícitas mais comuns são amaconha, a cocaína, o crack e o ecstasy. As chamadas drogas lícitas, como oálcool e o cigarro, são igualmente prejudiciais à saúde. As pessoas usamdrogas principalmente para alterar o estado de espírito em busca de paz.Entretanto, as drogas agridem o corpo que é templo do Espírito Santo (1 Co6.19,20) e invalidam o sacrifício de Cristo na cruz (1 Co 1.18). O cristão nãodeve usar e nem participar de movimentos que visam legalizar as drogas.

Descriminalização do uso e venda de drogasA legislação brasileira verbera contra o uso e contra a venda de

entorpecentes (Lei nº 11.343/2006). Embora a referida norma abrandasse aspenalidades para os usuários, em comparação com as legislações anteriores, anorma em vigor ainda considera crime “adquirir, guardar, tiver em depósito,transportar ou trouxer consigo [entorpecentes]” (Art. 28). Todavia, tramitamno Congresso Nacional Projetos de Leis (PL) que visam à descriminalizaçãodas drogas, isto é, que o uso de drogas e sua venda não seja mais consideradocrime.

O PL n° 7270/2014 autoriza a produção e o comércio da maconha em todoo território nacional. Outro projeto de lei é o de n° 7187/2014, que dispõesobre o controle, a plantação, o cultivo e a comercialização da maconha. Porfim, há ainda um Recurso Extraordinário (RE) n° 635659 que tramita no

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Supremo Tribunal Federal que tem o intuito de descriminar o uso damaconha. Contudo, é importante frisar que mesmo com essas tentativas dedescriminalização, o uso e a venda de drogas até então é crime.

Assim como relatado neste capítulo, o uso de entorpecentes é imoral,antiético, bem como prejudicial à saúde do usuário e das pessoas do seuconvívio social. Porém, alguns grupos nocivos à sociedade anseiam adescriminalização das drogas. O condão de defesa apresentado por essesapoiadores é que a criminalização das drogas cria cartéis do narcotráfico, eque, “liberando” as drogas, essas quadrilhas seriam desmobilizadas. Outraarguição é que o uso de drogas não pode ser considerado crime, e, sim,problema de saúde pública. Com esses pretextos, como explicar que mesmoregulamentado os medicamentos de “tarja preta” ou de antibióticos sãovendidos clandestinamente? Se o uso de entorpecentes é considerado crime emesmo assim milhares de pessoas utilizam, será que “liberando” o uso dedrogas diminuirá os usuários, e, assim, desafogará o sistema de saúde?

O exercício do domínio próprioAquele que vive na carne é escravizado pelo pecado (Jo 8.34). A maior

característica de quem vive no Espírito é a manifestação do fruto do EspíritoSanto. Segundo o teólogo David Lim, “o fruto tem a ver com o crescimento eo caráter; o modo da vida é o teste fundamental da autenticidade” (HORTON,1996, p. 488). O fruto do Espírito consiste em nove graças listadas emGálatas 5.22,23, as quais são amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,bondade, fidelidade, mansidão e temperança. O fruto no singular refere-se àunidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que se sujeitam a Ele(GOMES, 2016, p. 14). A virtude que parece ser o somatório de todas asoutras é tradução da palavra grega egkrateia, que significa “temperança” ou“domínio próprio”. É autocontrole, autodisciplina e moderação. É a qualidadeque Cristo nos dá para andarmos no mundo conservando a nossa santidade.Trata-se de um ato de repelir ou reprimir os desejos da carne por meio do

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controle do Espírito Santo: Ironicamente os nossos desejos pecaminosos, que prometemautorrealização e poder, inevitavelmente nos levam à escravidão. Quandonos rendemos ao Espírito Santo, inicialmente sentimos como se tivéssemosperdido o controle, mas Ele nos leva a exercer o autocontrole que seriaimpossível somente com as nossas próprias forças. (RIBAS, 2009, p. 298) Desse modo, o cristão controlado pelo Espírito Santo não pode ceder às

paixões carnais e nem tão pouco ser escravizado pelo uso de quaisquerdrogas ou entorpecentes. O vício — quer ele seja lícito, quer seja ilícito —não tem lugar na vida de uma pessoa que procura ser controlada pelo Espíritode Deus. Embora nem a idade nem a experiência sirvam de garantia para oexercício do autocontrole, o fruto do Espírito o produz na vida do crente. Otexto paulino exorta o cristão a não ser dominado por nada: “[...] todas ascoisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1 Co6.12b).

II. JOGOS DE AZAR: A ARMADILHA PARA AFAMÍLIATudo aquilo que abarca investimento sem retorno garantido,descomprometido com a ética e a moral resulta em sérios prejuízos nafamília. A expressão “jogos de azar”, para os efeitos penais, é definida comosendo o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ouprincipalmente da sorte. Consideram-se jogos de azar: a) o jogo dependentede sorte; b) apostas em qualquer outra competição. O décimo mandamento doDecálogo condena a cobiça, que é a raiz de todos os jogos de azar (Êx 20.17).

1. A Ilusão do Ganho Fácil

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A sedução dos jogos de azar ocorre pela esperança de se obter lucroinstantâneo. As pessoas são atraídas pela ilusão de ganhar dinheiro rápido efácil sem o esforço do trabalho. Jogam na expectativa de tirar a sorte grande eassim resolver problemas financeiros. Ciente dessa realidade, o Estadobrasileiro é extremamente ambicioso na exploração da jogatina. Somente deloterias legalizadas são nove modalidades: mega-sena, loto mania, duplasena, loto fácil, quina, instantânea, loteria federal, loteca e lotogol. E aindaexistem as casas de bingo, os jogos eletrônicos e também os jogos ilegaiscomo os caça-níqueis e o jogo do bicho, entre outros. O governo e oscontraventores lucram e lucram muito. Mas os jogadores tornam-secompulsivos, endividam-se, arruínam a família e a própria vida. Depositar aesperança na sorte é pecado e implica não confiar na providência divina (Jr17.5-7).

O erro de confiar nas riquezasNo capítulo 6 do Evangelho de Mateus, no Sermão do Monte, Cristo

tratou, entre outros assuntos, acerca da oração e da ansiedade. Discorreusobre a tendência humana de acumular tesouros na terra (Mt 6.19,20). Cristoalertou que as riquezas não são permanentes e podem rapidamentedesaparecer. As possessões terrenas podem ser destruídas por três maneiras: atraça, a ferrugem e os ladrões. Portanto, aqueles que depositam sua fé eesperança nos bens materiais estão sujeitos a sofrer decepções e doresprofundas, pois “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm6.10). Para livrar o cristão do sofrimento de tais males, o Senhor nos orienta aajuntar tesouros nos céus, com a seguinte observação: “Porque onde estiver ovosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.21).

O Senhor não condenou o acúmulo de dinheiro quando usado para fins desobrevivência e conforto necessários ao homem e sua família. A reprimendade Jesus se refere à confiança irrestrita nas riquezas que arrebata ospensamentos, os esforços e as energias na busca dos bens terrenos. Sob esse

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aspecto, o cristão deve depositar sua esperança na providência divina, e nãona busca desenfreada e irresponsável de dinheiro fácil por meio dos jogos deazar. Atitude diferente dessa implica não confiar na provisão divina, que nosalerta a não andar inquietos quanto ao que comeremos, beberemos ou comque nos vestiremos porque “decerto, vosso Pai celestial bem sabe quenecessitais de todas estas coisas” (Mt 6.31,32).

2. Os Males dos Jogos na FamíliaOs jogos de azar causam destruições irreparáveis no ambiente familiar. Ojogo vicia e escraviza a ponto de migrar todos os recursos de uma famíliapara o pagamento de dívidas contraídas pelo jogador. Nos jogos de azar, obenefício de um depende completamente do prejuízo do outro e normalmentesão as pessoas de baixa renda que sustentam a jogatina. Esses jogosfomentam a preguiça, a corrupção, a marginalidade, a agiotagem, a violênciae a criminalidade. Os jogadores compulsivos descem ao nível mais baixopara continuar alimentando o vício da jogatina. Em muitos casos taisjogadores perdem seus empregos, o respeito de seus amigos e até o amor desuas famílias. As Escrituras nos advertem a zelar pela família (1 Tm 3.4,5) enão cair em armadilhas, pois “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7).

Jogos de Azar: uma contravenção penalO ordenamento jurídico brasileiro classifica os delitos em duas naturezas:

crimes ou contravenções penais. A primeira é tida como um delito de maiorpotencial (delitos contra a vida, a liberdade, etc.); já as contravenções penaissão aquelas tidas como de menor potencial (delitos contra a paz pública, aincolumidade pública e outros). Os jogos de azar são classificados comocontravenções penais (Art. 50, Decreto-Lei n° 3.688/1941), ou seja, quemjoga, presencialmente ou online, ou ainda administra tal serviço está sujeitoàs penalidades legais.

Existem dois projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional que

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visam à legalização desses jogos: o projeto de lei n° 442/1991 (Câmara dosDeputados), que reúne 14 propostas sobre legalização de cassinos, bingos,caça-níqueis, jogo do bicho e jogos online; e o projeto de lei n° 186/2016(Senado Federal), que deseja legalizar o funcionamento de cassinos, bingos,jogo do bicho e jogos em vídeo. O perigo dessa prática desmedida é diverso,como apresentado nos tópicos anteriores, assim como seria impossível oEstado fiscalizar esses estabelecimentos e, sem dúvida alguma, seria o local“adequado” para o crime organizado lavar seu dinheiro.

Doença comportamentalTodo e qualquer tipo de vício escraviza o ser humano, e com o viciado em

jogos não é diferente. Um incontável número de jogadores perdeu tudo o quetinha em apostas variadas; eles não perderam apenas dinheiro, perderam adignidade, a confiança, o respeito e até a moral. O viciado imagina que poderecuperar o dinheiro perdido e nesse afã aposta valores cada vez mais altosaté ficar completamente falido. O viciado é capaz de inventar todo tipo dehistórias para conseguir dinheiro e continuar alimentando o seu vício —inclusive cometer crimes. Embora o vício em jogos seja considerado umadoença patológica, a compulsão para jogar não é ocasionada por algumadependência química; trata-se de uma doença comportamental. A família nãopode ficar omissa diante de um quadro de vício patológico. Admitir oproblema e procurar a orientação de profissionais especializados éindispensável para o tratamento do vício. Ignorar ou dirimir os fatos só traráconstrangimentos, vergonha e muito sofrimento.

3. As Consequências para a SaúdeOs jogos de azar, assim como o álcool, o cigarro e as demais drogas, causamdependência química e psíquica. Em 1992, a OMS concluiu que jogar faz malà saúde e incluiu o jogo compulsivo no Código Internacional de Doenças(CID). Quando em crise de abstinência, o jogador sofre com tremores,

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náuseas, depressão e graves problemas cardíacos. Cerca de 80% dos viciadosem jogos de azar relatam algum tipo de ideação suicida como uma forma defugir da vergonha moral e de suas dívidas. Tal como os outros viciados, osjogadores compulsivos tendem ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas.Maltratar o próprio corpo é insensatez e afronta contra a vida outorgada porDeus (1 Sm 2.6; Ef 5.29,30).

As sequelas da ludopatiaA doença denominada de ludopatia refere-se o jogo compulsivo ou

patológico, que leva uma pessoa a não poder resistir ao impulso de jogar maise mais, provocando graves problemas econômicos, psicológicos e familiares.O autoflagelo, seja psíquico, seja físico, é comumente encontrado em pessoasdiagnosticadas com essa patologia. De acordo com a Organização Mundial deSaúde, a pessoa com um quadro de ludopatia apresenta pelo menos cinco dossintomas a seguir: necessidade de aumentar o risco e as apostas; ficar o tempotodo preocupada com o jogo; apresentar irritação e nervosismo se deixar dejogar; usar o jogo para escapar de problemas; mentir para familiares e amigospara esconder seu real envolvimento com o jogo; tentar se controlar e pararde jogar, e não conseguir; e fazer do jogo uma prioridade que ameaçarelacionamentos, oportunidades de trabalho e carreira. E por fim, essapatologia quase sempre está associada a outros vícios igualmente nocivos,tais como alcoolismo, tabagismo e consumo de drogas ilícitas.

III. VIVAMOS UMA VIDA SÓBRIA, HONESTA EFIEL A DEUSA vitória do cristão contra os vícios e os jogos de azar engloba a sobriedade,honestidade e fidelidade ao Autor da vida. A ética cristã requer dos súditosdo Rei um comportamento digno e uma vida de moderação. Não é condizentecom os salvos em Cristo a extravagância, o destempero, o desequilíbrio ou

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qualquer outra atitude que possa manchar o evangelho ou denegrir o bomnome de Cristo.

1. A Bênção da SobriedadeA expressão grega nephálios refere-se à sobriedade em relação ao consumode bebidas alcoólicas. O dicionário indica aquele que ao contrário deembriagado, está desperto, consciente e com capacidade de discernir. Otermo também é utilizado para identificar vida equilibrada. Trata-se davirtude daquele que controla as paixões da carne (Gl 5.24). Desse modo, asobriedade abrange o comportamento moderado, a mente sã, o bom juízo e aprudência (Rm 12.3; 1 Tm 1.5; 2 Tm 1.7). A orientação bíblica é deabstinência de toda a imundícia, inclusive a dos vícios e dos jogos de azar (Tt2.12).

Abstinência é a melhor soluçãoNo que diz respeito à abstinência total de álcool, vez ou outra se levanta

uma discussão acerca do uso do vinho no Novo Testamento. O vinho servidonas bodas em Caná da Galileia (Jo 2.9), o vinho usado por Cristo nainstituição da Ceia do Senhor (Lc 22.20) e o vinho recomendado por Paulo aTimóteo (1 Tm 5.23). O debate refere-se às seguintes questões: Trata-seapenas do suco natural da vide ou de suco fermentado? Não vou entrar nomérito da discussão etimológica dos termos gregos e nem nas probabilidadesde interpretação por considerar essa demanda estúrdia e secundária (Tt 3.9).Somente, transcrevo abaixo a posição do Comentário Bíblico Pentecostal:

A completa abstinência é recomendável. Uma pessoa que abstémcompletamente do álcool não se embriaga nem se tornará alcoólatra.Também não faria com que um ex-alcoólatra recaísse no pecado. É melhorprevenir do que remediar! (ARRINGTON, 2003, p. 1478)

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Aquele que se abstém não comete excessos. Esse procedimento mantém o

cristão afastado das críticas, das ruins suspeitas e da escravidão do vício. Nãoé possível conceber um cristão embriagado, expondo-se ao escárnio ezombaria dominado pelo efeito do álcool; ou seja, a abstinência total eabsoluta é o ideal para o exercício da fé genuinamente cristã.

2. Honestidade e FidelidadeUma pessoa honesta não explora o seu próximo, mas conduz seus negócioscom transparência (Sl 112.1-5). Não retira seu sustento da jogatina à custa dequem perde dinheiro nos jogos de azar (1 Ts 4.6). O verdadeiro cristão nãobusca amparo na sorte, mas provê a si e sua família por meio do trabalhohonesto (Gn 3.19). A fidelidade do cristão é com a palavra de Deus. Mesmoque alguns vícios e jogos de azar sejam lícitos pelas leis do Estado, o salvoem Jesus não se permite contaminar. Os ensinos e os princípios bíblicosdevem pautar a vida daqueles que são fiéis ao Senhor (Sl 119.105).

O viver moderado do cristãoA vida sóbria é sinônimo de moderação. A honestidade denota sinceridade.

A fidelidade é o compromisso do crente salvo com Deus e sua Palavra. Osvícios e os jogos de azar, legais ou ilegais, são práticas reprováveis eprejudiciais à sociedade. Os vícios escravizam e destroem as vidas e asfamílias. De igual modo o fazem os jogos de azar. Portanto, o cristão deveabster-se da prática de todo e qualquer vício e dedicar-se ao trabalho honestopara o sustento de sua casa. Cabe ao salvo resistir ao pecado e não se deixardominar por coisa alguma (1 Co 6.12). O viver moderado denota equilíbrio evida santificada. Vida santa significa cuidar e honrar, e não macular o própriocorpo conforme nos asseveram as Escrituras: “que cada um de vós saibapossuir o seu vaso em santificação e honra” (1 Ts 4.4).

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Capítulo 12

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A

Ética Cristã e Política

s Escrituras registram a liderança política de grandes personagensbíblicos, entre eles, José como governador do Egito (At 7.10) e Ester

como a rainha da Pérsia e da Média (Et 5.2). Contudo, apesar dessesexemplos, por muitas décadas a política foi satanizada no meio evangélico.Como resultado, a Igreja permitiu com sua omissão, que o Poder Públicofosse exercido por ateus, ímpios e imorais. Pela inexistência de consciênciapolítica, os evangélicos se resignavam em votar no candidato “menos pior”.Esse comportamento desastroso contribuiu com a eleição, por exemplo, degovernos formados por “feministas radicais”, “defensores da imoralidade”,“articuladores pró-aborto”, “manipuladores de dados” e “opositores daliberdade religiosa”. Porém, diante do cerceamento de algumas liberdades, aIgreja passou a despertar para a realidade política.

As mudanças e as transformações sociais passam pelo processo político.Por que então não eleger candidatos que reproduzam a moral e a ética cristã?Por que não apoiar políticos que rejeitam as leis contrárias aos princípioscristãos? Para que isso seja possível, faz-se necessário que a Igreja amadureçae desfrute de “consciência política”. A Igreja deve ser educada e alertadasobre as questões debatidas em todas as esferas dos poderes constituídos.Essa conscientização tem florescido em muitas igrejas, e os evangélicos,antes marginalizados pelos políticos, começaram a experimentar o poder dovoto nas urnas.

Mercê dessa realidade, um movimento cada vez maior acredita que épossível moralizar o poder público, substituindo os políticos corruptos porpolíticos cristãos e conservadores. Em contrapartida, para vencer suas

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batalhas, a Igreja não depende exclusivamente da força política, embora nãodeva subestimá-la ou negligenciá-la. É a presença da Igreja de Cristo nasociedade que detém a espada do juízo divino sobre os cidadãos da terra. Asadvertências bíblicas sobre o papel do povo de Deus na restauração da naçãoincluem clamor e consagração (2 Cr 7.14).

I. CONCEITO GERAL DE POLÍTICAA conotação do termo política é muito abrangente. Envolve as formas degoverno e o Estado. A palavra é carregada de significados e também estárelacionada ao cidadão. Indica não apenas os procedimentos de governar eorganizar o Estado, mas também os direitos e deveres do cidadão emparticipar, concordar ou discordar do governo. Basicamente, são “gestos,decisões e movimentos dirigidos para o exercício do poder” (BOMENY,2014, p. 55).

1. Origem e Conceito de PolíticaA política nasceu na Grécia Antiga como a “ciência ou arte de governar”. Osurgimento da pólis (cidade-estado) constituída por um aglomerado decidadãos livres, que abrangia toda a vida pública e social, despertou anecessidade de como deveria ser governada a pólis. O filósofo grego Platão éconsiderado o pai da política. A obra intitulada República (380 a.C.), escritapor ele, foi a primeira a tratar de forma de governo, dos papéis e da condutado Estado.

2. As Formas de GovernoO filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) dividiu a organização do Estado em trêsformas: monarquia — poder centrado em uma pessoa; aristocracia — podercentrado em um grupo; e democracia — poder centrado na maioria. ParaAristóteles, um bom governo deve visar ao bem comum e ao interesse da

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coletividade, e isso não depende do número de pessoas que exercem o poderou se elas possuem ou não capacidade adequada. Não obstante, o filósofoadvertiu que toda forma de governo pode ser corrompida: a monarquia podedegenerar em tirania (interesse próprio); a aristocracia pode degenerar emoligarquia (interesse de um grupo); e a democracia pode degenerar emdemagogia (interesse de uma ideologia). Nicolau Maquiavel (1469-1527),italiano famoso da época do Renascimento, classificou as formas de governoem República e Monarquia. A República classifica-se em “presidencial”, emque o presidente ocupa a função de Chefe de Estado e Chefe de Governo, e a“parlamentar”, em que as funções são divididas, ficando o presidente com afunção de Chefe de Estado e o Conselho de Ministros com a chefia degoverno. O modelo brasileiro é República Presidencial.

O governo brasileiroA colonização do Brasil ocorreu por meio das capitanias hereditárias, que

consistia em doze porções de terra às margens do nosso litoral. Esse sistemade governança não prosperou, pois as medidas dos donatários eramindependentes entre si e visavam apenas ao lucro próprio. Nesse período, oBrasil era colônia de Portugal. Com a vinda de D. João VI ao Brasil (1808),instalou-se no país o governo monárquico. Anos mais tarde, D. João VIretornou a Portugal e deixou seu filho, D. Pedro, como príncipe regente. Em7 de setembro de 1822, D. Pedro proclamou a independência, adotando onome de “Imperio do Brazil”, dando continuidade à monarquia. Décadasdepois, em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca e seus apoiadoresassumiram o poder, e a partir de então o Brasil tornou-se uma república. Onovo governo adotou o sistema presidencialista. Embora esse seja o nossosistema preponderante, houve um período de parlamentarismo (1961-1963).Ainda, em 1993 foi realizado um plebiscito para que a população escolhesseentre “presidencialismo” ou “parlamentarismo”. Com 55,4% dos votosválidos, os cidadãos brasileiros escolheram o presidencialismo. Nesse

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plebiscito também foi ratificada nossa posição a respeito da forma degoverno, a República (SILVA, 2005, p. 102).

3. O Estado e a PolíticaO Estado tem como função garantir, por meio de políticas públicas, ascondições necessárias para a vida digna de uma determinada sociedade.Nesse contexto, a obrigação do Estado depende da forma de governo e dasleis que regulamentam os deveres e os direitos dos cidadãos e de seusgovernantes. Desse modo, o exercício do poder político legítimo é umaatividade própria do Estado.

O Estado brasileiroNo dia 5 de outubro de 1988 foi promulgada em nosso país a Constituição

da República em vigor, a denominada “constituição cidadã”. Nessedocumento político-jurídico estão asseguradas garantias aos cidadãosbrasileiros. No artigo terceiro, o texto constitucional apresenta seus objetivos,que são:

(I) “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, (II) “garantir odesenvolvimento nacional”. Nossa teoria está perfeita, porém, na prática, oBrasil não observa a própria constituição. Por exemplo, o governo gastoumais de 25 bilhões de reais na organização da Copa do Mundo (BRANDÃO,dez. 2014), entretanto, o investimento com saneamento básico nesse mesmoperíodo nem sequer chegou à metade desse capital (BARBOSA, jul. 2016);

(III) “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdadessociais e regionais”. Ao contrário desse preceito, conforme dados do BancoMundial, o número de pessoas vivendo na pobreza no Brasil deverá aumentarentre 2,5 milhões e 3,6 milhões até o fim de 2017 (WELLE, Fev. 2017). Emcontrapartida, calcula-se que o Brasil perverta cerca de R$ 200 bilhões comcorrupção anualmente (LEOPOLDO, Fev. 2017). Sem dúvida alguma, essedinheiro ampararia as famílias carentes e pobres de nossa pátria;

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(IV) “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Apesar da clareza dotexto constitucional, as últimas legislaturas no âmbito federal, por razõesideológicas, incitaram em nosso país uma intolerância aos que pensam demodo diferente. O objetivo do Estado é promover “o bem de todos”; nãoobstante, os cristãos que se posicionam contrários à prática do aborto, àlegalização da maconha e jogos de azar ou ao casamento homoafetivo sãodiscriminados, por parcela de representantes do poder público, como sendo“homofóbicos”, “fascistas”, “intolerantes” e outros termos depreciativos.Essa conduta caracteriza o desvirtuamento da intenção constitucional.

4. O Estado e a BíbliaO Novo Testamento retrata o Estado como instrumento ordenado por Deus(Rm 13.1). Os que resistem ao Estado resistem a Deus (Rm 13.2). O Estado éservo do Altíssimo para aplicar a justiça (Rm 13.4). O Estado não é problemapara os que fazem o bem, apenas para os que fazem o mal (Rm 13.4). É licitopagar tributos e impostos ao Estado (Rm 13.6,7). O Estado deve louvaraquele que faz o bem (1 Pe 2.14), e o cristão deve orar pelas autoridades queconstituem o Estado (1 Tm 2.2).

Os deveres do cristãoÉ fato que o cristão também é um cidadão e, portanto, sujeito aos deveres e

direitos inerentes à sua cidadania. Todavia, o Estado e a Igreja possuempapéis diferentes, e o cristão possui responsabilidade para com ambos,segundo as palavras de Cristo: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus,o que é de Deus” (Lc 20.25). O apóstolo Paulo enfatiza a submissão e acooperação dos crentes às autoridades constituídas. As Escrituras declaramque toda autoridade humana é derivada da autoridade de Deus e que ninguémdeve rebelar-se contra quem Deus constituiu (Rm 13.1,2). Porém, comrespeito a essa afirmação paulina, para dirimir dúvidas, convém esclarecer

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que os deveres do cristão para com o Estado não implicam uma submissãoabsoluta, acrítica ou incondicional. Temos o dever de respeitar e cumprir asleis, pagar impostos e tributos, honrar, amar e interceder pelas autoridades.De outro lado, requer-se que o Estado não seja totalitário, antibíblico,anarquista, imoral ou antiético. Quando as vontades do Estado emanadas porsuas leis e a vontade divina revelada nas Escrituras entram em conflito, “maisimporta obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). O cristão deveexercer sua cidadania com temor e tremor, ciente de seus direitos e deveres.Apesar disso, a verdade cristã não pode ser relativizada para acomodar-se aosditames de um Estado ateu ou anticristão.

II. A SEPARAÇÃO DO ESTADO E A IGREJA:UMA HERANÇA PROTESTANTEO conceito de Estado laico é compreendido como a separação entre o Estadoe a Igreja. Significa que um não pode interferir nas atividades do outro e vice-versa. Foi a partir da Reforma Protestante, deflagrada por Lutero em 1517,que se quebrou o monopólio exercido pelo catolicismo na Europa Ocidental ese estabeleceram as bases para a “tolerância religiosa” e a separação da Igrejado Estado.

1. A União entre a Igreja e o EstadoNo ano 313, Constantino e Licínio, imperadores no Ocidente e do Orienterespectivamente, promulgam o Édito de Milão. O decreto outorgou liberdadee tolerância religiosa aos cristãos no Império Romano. O imperadorTeodósio, decretou, em 380 d.C. o Édito de Tessalônica, estabelecendo ocristianismo como religião oficial do império. O Édito prometia vingançadivina e castigo do Estado aos que não aderissem à lei. A partir de então, aunião entre a Igreja e o Estado passou a ser indiscutível.

O desvirtuamento do papel da Igreja

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Em 324, Constantino torna-se o único imperador romano e deu início ao“Império Cristão” (COMBY, 2001, p. 71). O imperador adota o título depontifex maximus — chefe da religião tradicional. A igreja cristã une--se aoEstado. O imperador presta favores ao clero e a igreja recorre ao imperadorpara resolver suas querelas. O concílio de Niceia (325 d.C.), por exemplo, foiconvocado e presidido pelo imperador para tratar da controvérsia ariana. Nofinal do IV século, o Império Romano foi dividido em duas partes. Durante oV século, o império no Ocidente desapareceu. O império no Orientesobreviveu por dez séculos. Ao se desmoronar o Império Romano, que era aunidade política, persistiu o Império religioso através de toda a Idade Média.No período medieval, o poder político estatal estava subordinado ao poder daigreja. O papa delegava ao imperador o ofício de ser o “braço material daigreja”. No período de transição da Idade Média e Tempos Modernos, areligião católica permaneceu com grande influência na vida econômica,social e política do mundo civilizado. O Estado apoiava-se na igreja em buscade legitimação, e assim, a igreja superava o poder do Estado (ARRUDA,1982, p. 32).

2. A Separação entre a Igreja e o EstadoAo fim da Idade Média, os ideais humanistas valorizavam os direitosindividuais do cidadão e isso despertou nos cristãos a necessidade dereformar a igreja, especialmente o clero. Os abusos de Roma e a venda dasindulgências deflagraram a Reforma Protestante. O monge Martinho Luterorompeu com o catolicismo e gradualmente os conceitos de liberdade,tolerância religiosa e separação entre igreja e Estado foram alçados ao statusde direito fundamental (CHEHOUD, 2012, p. 33).

O papel da independência dos Estados UnidosA influência da filosofia iluminista, somada a fatores culturais e a política

de repressão adotada pela Inglaterra incitaram a Independência dos Estados

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Unidos. As “Leis Intoleráveis” provocaram a convocação do Primeiro eSegundo Congresso Continental de Filadélfia. George Washington foinomeado comandante do Exército e Thomas Jefferson, em 4 de julho de1776, redigiu a Declaração da Independência. Em 1787, a primeiraConstituição dos Estados Unidos foi promulgada. Adotou-se o regimerepublicano presidencialista com a divisão e independência dos três poderes,conforme a teoria iluminista de Montesquieu e Rousseau. Na primeira dasdez emendas da Constituição americana, há duas cláusulas sobre religião. Aprimeira garante o livre exercício da religião, e a segunda, o princípio daseparação entre o Estado e as confissões religiosas. Pela primeira vez, aliberdade de religião e o conceito de laicidade aparecem numa Constituição.A Independência dos Estados Unidos deu início a um movimentorevolucionário global.

3. O Modelo de Estado Laico BrasileiroA Constituição do Brasil outorga ao cidadão plena liberdade de crença egarante o livre exercício dos cultos e liturgias, além da proteção aos locais deadoração (Art. 5º). No artigo dezenove, está definida a separação entre oEstado e a igreja, mas ressalva na forma da lei, a colaboração de interessepúblico. Assim, a laicidade brasileira não é a de separação absoluta entre oEstado e a igreja, e sim a de uma separação relativa. Desse modo, o Estadobrasileiro, embora laico, não é ateu.

O debate atual de laicidadeMuitos questionamentos têm surgido a partir da prática nacional das

tradições herdadas pelo grupo majoritário do catolicismo cristão, tais como: ainvocação do nome de Deus no preâmbulo da Constituição Federal, aexpressão “Deus seja louvado” nas cédulas do Real, o calendário público eanual organizado com feriados e celebrações essencialmente católico-cristãs(Sexta-Feira da Paixão, Páscoa, Corpus Christi, Festas Juninas, Padroeira do

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Brasil, Natal e outras), o usos dos símbolos religiosos, tais como o crucifixo,que ocupam diversos espaços da esfera pública e as imagens de “santos” queemolduram o acesso principal de milhares de municípios brasileiros. Porcausa dessas questões, diversos projetos de cunho ideológico tramitam noCongresso Nacional e provocam acaloradas discussões entre adeptos devalores laicos e preceitos religiosos. Dentre os debates estão à criminalizaçãoda homofobia, tributação das igrejas, descriminalização do aborto, ensinoreligioso, ideologia de gênero, entre outros. O debate tem gerado tensasrelações entre valores religiosos, conceitos laicos, política e direitos humanos.

Fundamentalismo laicistaMercê desses questionamentos, observa-se o surgimento do

“fundamentalismo laicista”, que luta pela eliminação de toda crença e detodos os valores religiosos, e especialmente combate a influência docristianismo na constituição do espaço público. Programas de ação sãoelaborados para fazer triunfar a propagação de ideologias puramente laicas econtrárias à cultura judaico-cristã. Este debate tem sido travado no âmbitodos poderes constituídos com relevante embate na esfera legislativa ejudiciária.

Diante desse debate, não se pode ignorar a importância, a força e avitalidade da religião em nossa nação. A crescente secularização da sociedadenão pode negar a persistência e o avanço das concepções e necessidadesreligiosas. O Estado laico não pode impor sua linguagem e nem impedir aprática ou a manifestação dos valores do cidadão religioso. É fundamental oequilíbrio e a mediação entre fé e as questões laicas, teológicas e éticas. Nãose pode simplesmente restringir a presença da religiosidade nos espaçospúblicos. Em contrapartida, na opinião de muitos educadores, juristas elegisladores, por sua natureza laica, afirmam que o Estado deve ignorar osassuntos de fé como forma de proteger a liberdade de consciência, de crençae de culto.

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III. COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM APOLÍTICAA Igreja de Cristo precisa tomar cuidado com a “politicagem” e definir comcuidado e temor a Deus a sua atuação e mobilização política. Não poucoscrentes são contrários ao envolvimento ou a posição da Igreja em relação àpolítica. Acreditam que a Igreja não pode comprometer-se com o podertemporal sob o risco dos escândalos. No entanto, o argumento dos escândalosnão se sustenta, pois infelizmente eles são inevitáveis (Mt 18.7). O que aIgreja precisa é de equilíbrio e sabedoria para tratar essas questões e não ficaralienada acerca daquilo que acontece na vida em sociedade na qual estáinserida e faz parte.

1. O Perigo da PoliticagemOs dicionários em geral conceituam politicagem como “política reles emesquinha de interesses pessoais”. O perigo dos atos politiqueirosenvolvendo os cristãos é colocar em descrédito o evangelho e a igreja. Assim,os políticos contrários às convicções cristãs não podem receber o apoio e nemo voto da igreja. No cristianismo primitivo, a Igreja em Corinto foi advertidaa observar este princípio: “Não vos prendais a um jugo desigual com osinfiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhãotem a luz com as trevas?” (2 Co 6.14).

Um mal a ser combatidoInfelizmente, nesse quesito, alguns segmentos cristãos ludibriam e

manipulam o rebanho do Senhor Jesus. Interessados em levar vantagempessoal não hesitam em apoiar candidatos políticos corruptos e contrários à fécristã. Vislumbram benefício econômico e “status” social. Sem nenhumpudor, estão interessados em manter ou adquirir privilégios para si ou para os

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seus e indispostos a sofrer retaliações por causa do evangelho. Não satisfeitosem apoiar candidatos de conduta repreensível, soma-se a esse erro o uso damídia e do púlpito da igreja para angariar votos aos que praticam ainiquidade. Como cidadãos, temos o direito de votar e pedir voto para quemquisermos. Contudo, não podemos nos esquecer de que, como embaixadoresde Cristo, representamos os interesse do Reino de Deus na terra. Portanto,não podemos permitir e nem promover apoio àqueles que afrontam o Reinode Deus.

2. Como Delimitar a Atuação da IgrejaOs princípios éticos devem ser estritamente observados. O púlpito da igrejanão pode ser transformado em “palanque eleitoreiro”. A igreja precisa deconscientização política, contudo, não deve para tal propósito ocupar oespaço da Palavra ou da adoração em suas reuniões. A conscientização deveser fundamentada em princípios cristãos. As propostas e as ideologias dospartidos políticos devem ser conhecidas e analisadas sob a ótica cristã. Apostura, propostas e ideais do candidato precisam ser avaliados à luz dasEscrituras Sagradas (Is 5.20).

A missão da IgrejaNão se pode confundir a cruz de Cristo com ideologias partidárias. A

renovação política não pode ser substituída pela transformação espiritual. Adegeneração da sociedade não será resolvida ou corrigida por uma série deleis que inibam a má conduta. Somente a propagação do evangelho de JesusCristo pode deter o declínio e a ruína moral de nossa sociedade. A igreja devefazer oposição a qualquer lei que desrespeite a mensagem do evangelho.Precisa se mobilizar para erradicar os políticos corruptos nas esferasmunicipal, estadual, distrital e federal. Porém, a batalha nas urnas seráconstante. Se usarmos apenas a ferramenta política, com certeza venceremosumas batalhas e perderemos outras. Mas, se cumprirmos nosso papel de sal

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da terra e luz do mundo, o poder do evangelho pode desarraigar para semprea iniquidade dos corações. Levantemos a bandeira da conscientização políticae da mobilização evangélica, contudo, sem esquecermos que a nossa luta nãoé contra a carne e o sangue (Ef 6.12).

3. Ajustando o Foco da IgrejaO povo de Deus não pode limitar-se a fazer oposição e oferecer resistência àiniquidade no poder temporal. Não pode depositar sua confiança e esperançanas decisões políticas. As lideranças devem buscar e incentivar o avivamentoespiritual. O avivamento liderado por John Wesley (1703-1791) trouxemudanças sociais na Inglaterra. O mal a ser combatido é o pecado. Quando amensagem de arrependimento for pregada ao mundo, então vidas serãotransformadas. O Espírito Santo terá liberdade para convencer os ouvintes daverdade, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Nossa nação sofrerá transformaçõessociais e espirituais.

A ação do Espírito SantoEssa ação do Espírito Santo acontece quando a igreja se recusa a ser um

mero clube de encontros e transforma-se em lugar de adoração. Com aliberdade concedida ao Espírito, pecados são confessados e abandonados. Avelha natureza é substituída e ocorre radical transformação, e o caráter passaser revestido “do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeirajustiça e santidade” (Ef 4.24). Desse modo, quando a Igreja se deixar guiartotal e plenamente pelo Espírito, então poderemos ser o sal da terra e a luz domundo (Mt 5.13,14).

Quando certos líderes cristãos deixarem de se preocupar com ocrescimento numérico desprovido de qualidade. Quando a disputa poraudiência ou por poder for deixada de lado. Quando os embates paraconquistar igreja maior ou mais rica forem abandonados. Quando o foco forajustado ao cumprimento do Ide de Cristo (Mt 28.19). Quando o foco for

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ajustado para a unidade do corpo de Cristo (Jo 17.21). Quando os crentescomeçarem a viver para a glória de Deus (1 Co 10.31). Quando a ortodoxiacristã for defendida e proclamada (Jd 3). Quando tudo isso e muito maisacontecer por obra do Espírito, então será possível experimentar umavivamento espiritual. Nossa nação sofrerá transformações sociais eespirituais. E, acima de tudo, o nome do Senhor será glorificado “tendo ovosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo em que falam mal devós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no Dia da visitação, pelas boasobras que em vós observem” (1 Pe 2.12).

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Capítulo 13

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D

Ética cristã e redes sociais

evido ao avanço tecnológico, várias mudanças foram inseridas nasociedade. A rede mundial de computadores, conhecida como Internet,

conecta o mundo todo. Com o surgimento das redes sociais, tudo o queacontece é comentado e divulgado de modo instantâneo. Informações sãotransmitidas com rapidez surpreendente. Em contrapartida, vivemos umestágio em que as pessoas se relacionam mais virtualmente do quepresencialmente.

O desenvolvimento das tecnologias digitais favoreceu o estabelecimento denovas formas de interação social e, a partir destas, novos paradigmas derelacionamentos. Nesse novo paradigma, as relações sociais tornaram-sevirtuais, o contato e o diálogo foram se distanciando de seu conceito originale as relações sociais tornaram-se efêmeras. As publicações nas redes sociaisapresentam distorções da felicidade, criam ilusões e padrões utópicos de vidaperfeita. A falsa ideia de privacidade e anonimato permite extravasarsentimentos e paixões culminando em relações sociais descartáveis edesastrosas. Estatísticas indicam que mais de um terço da população mundialestá conectada à web e interage por meio de redes sociais. Dados indicam queas redes sociais transformaram-se em um importante meio para a divulgaçãode informações e a propagação de ideologias e todo o tipo de ativismo.

Diante desses fatos, a igreja precisa instruir seus membros no uso dasnovas tecnologias e buscar métodos da evangelização por meio das redessociais. O cristão precisa estar consciente de suas responsabilidades e deveresno mundo virtual. A igreja não pode viver alienada diante dessa realidadecada vez mais presente na vida dos fiéis. Neste capítulo, veremos a gênese da

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comunicação virtual, o conceito, o perigo e o mau uso das redes sociais, bemcomo o desafio da igreja hodierna em evangelizar por meio dessas novastecnologias. Para tanto, dizem as Escrituras, “rejeitamos as coisas que, porvergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra deDeus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presençade Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4.2).

I. O CONCEITO DE REDE SOCIALAs redes sociais podem ser consideradas de modo genérico como sites derelacionamentos. Como fator positivo, possibilitam às pessoas serelacionarem virtualmente; todavia, também oferecem riscos aos seususuários.

O termo é utilizado para indicar uma aplicação da rede mundial decomputadores (web) cuja finalidade é relacionar as pessoas. Os que aderem aum site de relacionamentos podem conectar-se entre si, criar um perfil,adicionar amigos e conhecidos, enviar mensagens, fazer depoimentos, trocarinformações, fotos e vídeos, além de estabelecer vínculos. A rede socialmoderna surgiu no início do século XXI e viabilizou aos usuários encontraramigos do passado, reencontrar pessoas e ampliar o círculo social.

As redes sociais não são satisfatoriamente seguras. Os dados e informaçõespessoais podem ser invadidos por terceiros. Entre os principais riscosassociados às redes sociais está a invasão de privacidade, danos à imagem e àreputação, vazamento de informações e contato com pessoas mal-intencionadas. Além disso, existem muitos perfis falsos (fakes), comunidadespolêmicas, discriminatórias, conteúdos com imoralidade e preconceitos emgeral. Como tudo na Internet e nas tecnologias da informação, as redessociais apresentam danos para seus usuários.

II. O PERIGO DA RELAÇÃO DESCARTÁVEL E

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AS NOVAS TECNOLOGIASA velocidade da informação e a efemeridade nos relacionamentos virtuaistêm provocado sérios danos nas relações sociais. Quando as novastecnologias são utilizadas como fuga de problemas ou como substitutas dasrelações humanas, o chamado avanço tecnológico se torna um verdadeiroretrocesso.

1. A Distorção da FelicidadeNas redes sociais em geral, as pessoas publicam uma vida perfeita e ummundo repleto de felicidade. As redes estimulam a prática do narcisismo, ouseja, o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutreuma paixão excessiva por si mesmo. Essas pessoas tendem a buscar umafelicidade fútil, em meio a fotos montadas e a sorrisos falsos. Os usuárioseditam a própria vida apresentando a si mesmos como vencedores e vendema ilusão de que vivem em plena paz e harmonia. As Escrituras condenam osque se ufanam e vivem em hipocrisia (Is 5.20,21).

A verdadeira felicidadeA Organização Mundial de Saúde (OMS) define felicidade como

“completo bem-estar físico, mental e social”. O “Relatório Mundial sobre aFelicidade” publicado pela Universidade de Columbia, em 2012, apontoumultiplicidade no conceito:

A felicidade inclui avaliações sobre a vida de maneira geral e aspectospositivos e negativos de emoções que afetam o dia a dia de cada um.Alguns fatores são externos como emprego, renda e saúde. Outros sãopessoais, como gênero, educação, saúde mental e idade. Outros são inter-relacionados: com maior renda é possível ter melhor educação e sendomais feliz, a saúde também melhora. (KAHN, Jan. 2013)

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O problema desses conceitos é que eles estão condicionados a algo, a

alguém ou a alguma coisa. Quando esses quesitos não são preenchidos, afelicidade acaba ou não acontece, e se instala a frustração e, emconsequência, a tristeza e o sofrimento. A Bíblia Sagrada apresenta afelicidade como sendo a alegria que não depende de nenhuma circunstância(Lc 12.15). Ela é fruto do Espírito, caracterizado por um deleite e regozijopermanente na vida do cristão (Gl 5.22, Fp 4.4). A tentação de buscar afelicidade nos bens efêmeros é insensatez e resulta em desgosto (1 Tm 6.8,9).A verdadeira alegria só pode ser encontrada no temor e na obediência aoCriador: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seuscaminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem”(Sl 128.1,2).

2. O Isolamento e a SolidãoNa década de 1990, pesquisadores chamaram atenção para o mal socialchamado de “paradoxo da Internet”. Trata-se da contradição de alguém tervários relacionamentos virtuais e, ao mesmo tempo, ausência real de contatohumano. Estudos recentes demonstram que o aumento no uso da Internetcoincide com o aumento da solidão, problema acentuado pelas redes sociais.O ser humano está sendo integrado à tecnologia e tratado como se fossetambém uma máquina. Essa falta de equilíbrio tem desencadeado crisesemocionais, ansiedade e isolamento (Jr 6.14).

Dependência virtualReconhecemos a importância, a contribuição e os benefícios

proporcionados pela Internet e as redes sociais. No entanto, não podemosfechar os olhos diante de seus efeitos colaterais, como, por exemplo, adependência virtual. Estudos psicológicos detectaram oito sinais de uso

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patológico da rede: (i) incapacidade de controlar o uso da internet; (ii)necessidade de se conectar mais vezes; (iii) acessar a rede para fugir dosproblemas ou para melhorar o estado de ânimo; (iv) pensar na internetquando se está off-line; (v) sentir agitação ou irritação ao tentar restringir ouso; (vi) descuidar do trabalho, dos estudos ou até mesmo dosrelacionamentos pessoais por causa da rede; (vii) sofrer pela abstinência;(viii) mentir sobre a quantidade de horas que passa conectado e/oupermanecer muito mais tempo do que o previsto (SAYEG, 2000, p. 153). Ousuário enquadrado em alguns dos itens acima pode estar usando a Internetcomo fuga para problemas psicológicos. O não tratamento desses sintomasresulta em dependência e isolamento cada vez maior.

3. Relações Sociais EfêmerasSegundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), a sociedadevive um momento de frouxidão nas relações sociais. Bauman chama essefenômeno social de “modernidade líquida”. Os tempos são “líquidos” porquetudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Nasredes sociais, com apenas um clique é possível bloquear, deletar e excluirpessoas. E com outro clique pode aceitar, comentar e curtir outras pessoas.Essa situação representa um declínio das sólidas relações humanas, uma vezque, por meio das tecnologias, a amizade, o amor e o respeito entre aspessoas são facilmente descartáveis (Ec 1.2).

O efeito paradoxalA maior parte das pessoas busca nas redes sociais aproximação com outras

pessoas. Mas, em total paradoxo, os relacionamentos virtuais tendem a termaior importância que os relacionamentos reais. É comum, por exemplo,pessoas caminharem “conectadas” absortas e cabisbaixas pelas ruas,alienadas do mundo real. Quase ninguém mais conversa sem o uso daInternet. Nos restaurantes, famílias inteiras ou grupo de amigos, acessam a

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Internet e não dialogam entre si, exceto por monólogos ou sobre o que estãovendo nas redes sociais. Esse fenômeno também é observado nas escolas, noâmbito do trabalho e até de maneira insana e irresponsável no trânsito urbano.Tal comportamento é um retrocesso, pois torna as relações humanassuperficiais, transitórias e irrelevantes. Faz-se necessário e imprescindívelcorrigir essas distorções, especialmente em nossa vida privada, junto de nossafamília e de nossos amigos. A sensatez é primordial, uma vez que todoexcesso é extremamente danoso ao ser humano.

4. A Falsa Sensação de PrivacidadeDiversos usuários das redes sociais iludem-se com a sensação de privacidadee ficam expostos a toda espécie de constrangimentos. Comentários pessoais,sentimentos de foro íntimo, fotos e vídeos comprometedores saem da área doprivado e se tornam públicos. Essa sensação de privacidade também favorecea prática do pecado viral (algo que se espalha rápido como um vírus). Podeser desde a reprodução e retransmissão de pornografia até a divulgação denotícias falsas e difamatórias (2 Tm 2.22; Pv 16.28).

A indecorosa prática do “nudes”A possibilidade de manter a identidade real oculta é um dos fatores que

impulsionam o uso equivocado da Internet. Algumas pessoas sentem-se àvontade para extravasar seus impulsos sexuais ilícitos sem medo derepercussão. A fantasia do anonimato e a falta de inibição estimulam a práticada imoralidade. Uma conduta deplorável tem sido a postagem de “nudes”(imagens da pessoa nua).

Segundo pesquisas divulgadas por sites especializados, mais de 50% dasmulheres com acesso a redes sociais já enviaram, ao menos, uma foto denudes e mais de 42% dos homens já realizaram tal prática (TRIBUNA DOCEARÁ, out. 2016). A postagem da imagem de “nudes” acontece no âmbitoprivado, mas, em vários casos, quem recebe as imagens salva as fotos e as

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compartilha nas redes sociais, tornando-as de domínio público. Tal atitudepode ser responsabilizada criminalmente; no entanto, nenhuma condenaçãopoderá reparar o dano moral causado. Os que tiveram suas fotos divulgadaspassaram e passam por diversos infortúnios, tais como o bullying,automartírio, abalos psicológicos e alguns chegam inclusive ao extremo decometer o suicídio. O ideal mesmo é não compartilhar nenhuma imagemíntima nem sua e nem de terceiros, primeiro por ser uma prática imoral (Gl5.19) e segundo por ser uma conduta antiética.

III. A REDE SOCIAL A SERVIÇO DO REINO DEDEUSA igreja de Cristo precisa ser consciente quanto ao potencial das redes sociaise deve usá-la na propagação do Reino de Deus. Mas para evangelizar nasmídias não basta postar mensagens de cunho cristão; é indispensável o bomtestemunho do usuário na rede de computadores.

1. O Bom Testemunho nas Redes SociaisCristo ensinou que o cristão é a luz do mundo (Mt 5.14) e que essa luz deveresplandecer por meio das boas obras a fim de glorificar o nosso Pai que estános céus (Mt 5.16). Desse modo, para o bom testemunho nas redes sociais, ocristão não deve postar comentários negativos ou fazer pré-julgamento daspessoas. Deve tomar todo cuidado e precaução com fotos e vídeos quepublicar, sejam pessoais, sejam de terceiros. Avaliar o conteúdo, a coerência,o vocabulário e a ética cristã das mensagens antes de postar, comentar oucurtir. Paulo nos ensina a fazer de tudo para ganhar as pessoas para Cristo (1Co 9.22).

Importância da boa reputaçãoO requisito de boa reputação é fator preponderante na evangelização, tanto

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a pessoal (corpo a corpo) quanto a virtual (Internet). O bom caráter e aidoneidade daquele que evangeliza deve ser testemunhado pelos não crentes.Espera-se dos cristãos que desfrutem de um viver reto e íntegro, por meio daoração e santificação no Espírito Santo. Se isso não for observado, aevangelização será inócua, quem evangeliza será difamado e envergonhado, aigreja colocada em descrédito e o evangelho de Jesus vilipendiado:

Um viver incoerente, contraditório com os valores morais e éticos doevangelho, certamente inviabilizaria toda e qualquer possibilidade de serreconhecido como um líder cristão, como um instrumento de bênção nasmãos de Deus. Um viver incompatível com o evangelho apenas revela oprofundo abismo existente entre o homem e Deus. (EMAD, 2005, p. 241) Somos servos de Deus e estamos sendo observados. Se quisermos

testemunhar de Cristo e seu evangelho, precisamos vigiar nossa conduta.Portanto, é inadmissível que aqueles que usam as redes sociais para provocarconstrangimentos, estimular o preconceito e a discriminação, enviar oureceber “nudes”, curtir e compartilhar imagens, vídeos e mensagens comconteúdo lascivo ou duvidoso possam ter autoridade moral ou espiritual paraevangelizar alguém. Quanto à necessidade de evangelizar corretamente,Paulo nos alertou: “se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de mávontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1 Co 9.17)

2. O Uso Correto da Evangelização DigitalA Internet é uma grande aliada na divulgação do evangelho, porém algunscuidados são necessários para não tornar a mensagem inócua. As postagensnão podem ser grandes e os vídeos não podem ser demorados. A mensagemprecisa ser clara, concisa e objetiva. Antes de compartilhar as imagens, deve-se verificar a veracidade bíblica daquela mensagem e o seu teor teológico.

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Em lugar de postagens com frases de efeito ou de autoajuda, devem-sepriorizar os versículos bíblicos. Ao reproduzir áudios e vídeos, deve-severificar se não existe algo que possa causar escândalos ou intolerânciareligiosa. Também não se deve atacar a ninguém, apenas anunciar e confessara Cristo (1 Co 1.23,24).

Evangelizar é comunicarNo decorrer da história da humanidade, Deus tem se revelado e se

comunicado com o ser humano. O escritor aos Hebreus assevera que Deusfalou antigamente aos pais, pelos profetas, e a nós falou-nos nestes últimosdias pelo seu Filho (Hb 1.1). Desse modo, o ápice da comunicação divinaacontece na Encarnação do Verbo Divino: “o Verbo se fez carne e habitouentre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Jesus Cristo é o encontro maispleno alcançado entre Deus e o homem. Ao revelar sua mensagem aosescolhidos, Deus desejou que ela fosse compartilhada com todos: “Ide,portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, edo Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vostenho ordenado” (Mt 28.19, ARA). Portanto, evangelizar não é simplesmenteanunciar uma doutrina, mas é comunicar-se com o outro, isto é, “entrar emdiálogo, relacionar-se, viver em comunhão com Deus para poder testemunharcom autenticidade Àquele em quem se crê e entrar em comunhão com outraspessoas” (SILVA, 2015, p. 12). Sob essa perspectiva, as redes sociaistornam-se um campo fértil para a comunicação do evangelho.

Resultados promissoresEm 2011, a Global Media Outreach (Alcance Global pela Mídia) divulgou

que mais da metade das pessoas que se decidem por Cristo na Internetposteriormente compartilham sua fé com outros internautas. Dessesconvertidos on-line, 34% afirmam ler a Bíblia Sagrada diariamente. O estudodenominado de “Índice do Crescimento Cristão” ouviu mais de 100 mil

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pessoas ao redor do mundo. Segundo Walt Wilson, presidente da instituição,desde a sua fundação, em 2004, mais de 15 milhões de pessoas já sedecidiram por Cristo. A eficácia da evangelização pode ser resumida em trêsprocessos bem simples: (i) levá-los ao Salvador — páginas web que ajudem aencontrar Jesus; (ii) alimentá-los na fé — websites de discipulado e guiaspara recém-conversos; e, (iii) conectá-los à Igreja — conduzir o convertido afrequentar uma igreja local. Para isso, explica Wilson, não basta ter umapágina na internet, transmitir cultos e comunicar-se pelas web rádios. Oresultado se obtém por meio do discipulado e a comunicação com o novoconvertido; essas ações são tão imprescindíveis quanto o evangelismo(ARAGÃO, Dez. 2011).

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Referências

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Paz com DeusGraham, Billy9788526312890224 páginas

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O Sermão do MonteCarvalho, César Moisés9788526314436160 páginas

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Estudar o Sermão do Monte é um desafio pois afamiliaridade com o material e a aparente facilidade dosseus enunciados esconde o fato de que se trata de um textode difícil interpretação e, ainda pior, aplicabilidade. Nestaobra, os capítulos foram organizados obedecendo aestrutura da revista Lições Bíblicas Jovens, porémdesenvolvidos em forma de comentário bíblico valorizando,sobretudo, o aspecto teológico do mais popular e célebredos sermões proferidos pelo Mestre. Um Produto CPAD.

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O Caráter do Cristãode Lima, Elinaldo Renovato9788526314429160 páginas

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O pastor Elinaldo Renovato prepara um estudo completo depersonagens bíblicos que nos ajudarão a entender overdadeiro caráter Cristão. Começando com Abel, passandopor Isaque, Jacó, Rute e Maria, e terminando com nossomaior referencial, Jesus, este livro é um alerta à igreja comrelação aos maus exemplos deste mundo e um chamamentoa termos a Bíblia como maior parâmetro de caráter.

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Falando BemSwindoll, Charles R.9788526315679264 páginas

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Saber comunicar-se bem é uma importante qualidade navida de qualquer pessoa, mas para os que pregam a palavrade Deus, esta habilidade é um dos principais "instrumentosde trabalho". Em "Falando Bem" o autor Best-Seller e mestreem comunicação, Charles R. Swindoll, conta os muitossegredos práticos sobre como discursar e pregar de maneiraeficaz. Repleto de técnicas, histórias pessoais e modelosque explicam claramente as fórmulas de uma fala bem-sucedida, esta obra ensina os principais fundamentos decomunicação, tais como preparar um discurso, organizarpensamentos, filtrar o supérfluo, capturar a atenção doouvinte e saber como e quando parar. Esta obra é oresultado de uma vida inteira de conhecimentos adaptadosàs necessidades de comunicação para os queremaperfeiçoar ou aprender a se comunicar com qualidade. Umproduto CPAD.

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A Igreja de Jesus CristoCoelho, Alexandre9788526314320160 páginas

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"Temos um chamado radical para os nossos dias: ser daigreja e colabora com ela. Diante de tantas críticas que sãofeitas contra a igreja, precisamos nos posicionar e agir deforma coerente com a nossa fé. Devemos ter uma posturade fazer algo por nossa igreja." O que é a Igreja? No que ouem quem ela se fundamenta? Quais são seus objetivos? Oque são ordenanças? Neste livro, o pastor Alexandre Coelhodiscorre sobre diversos temas de grande relevância tantoacerca das doutrinas da igreja quanto sobre a vida e daprática eclesiástica de uma igreja viva e cheia do EspíritoSanto. Um Produto CPAD.

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