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Caso Clínico: Caso Clínico: Tetralogia de FallotTetralogia de Fallot
Escola Superior de Ciências da Saúde – ESCS
Internato em Pediatria –HRAS
Alberto Guerra DiasClarice de Meneses Costa Moura
Coordenação: Sueli FalcãoEscola Superior de Ciências da Saúde
(ESCS)/SES/DFwww.paulomargotto.com.br
31/03/2008
• Identificação: ARO, 2 anos e 10 meses, masculino, negro, natural e procedente de Bom Jesus da Lapa – BA.
• Queixa Principal: “Roxo desde que nasceu”• HDA: Avó refere que o paciente desde o nascimento
apresenta cianose central, com alguns episódios de piora do quadro, sendo que o paciente por conta própria assume a posição de “cócoras”. Refere que há 5 dias apresentou piora do quadro associado a dispnéia e irritabilidade. Refere que teve há 1 dia febre baixa e não aferida, sendo que a mãe levou o paciente ao hospital local, de onde foi encaminhado a este hospital.
• Revisão de sistemas: Nenhuma queixa.
• Antecedentes pessoais fisiológicos: Nasceu de parto normal, prematuro, pesando 2550g e com estatura de 45 cm; desde então apresentando-se cianótico. Foi amamentado ao seio até o quinto mês de vida quando teve início o uso de leite de vaca. Atualmente faz uso da dieta da casa.
• Antecedentes patológicos: Várias internações por crises de cianose e uma aos 10 meses de idade por pneumonia.
• Antecedentes familiares: Mãe de 16 anos é cardiopata (“igual à criança”); pai de 22 anos tem asma; avó é epiléptica; não possui irmãos.
• Hábitos de vida e condição sócio-econômica: Mora em sítio de 5 cômodos com fossa asséptica e sem rede de esgoto. Refere animais no peridomicílio.
• Exame físico: Paciente em tenda com O2 em REG, taquipneico, hidratado, corado, anictérico, cianótico (2+/4+), afebril; pulsos periféricos palpáveis nas 4 extremidades com forma e amplitude normais.
• Sinais vitais: FC: 116 bpm, FR: 30 irpm, Sat. O2: 36• AR: Murmúrio vesicular rude sem ruídos adventícios;• Tórax: calmo, ictus de VD palpável em borda esternal
esquerda e em região de apêndice xifóide. Ausência de frêmito.
• ACV: Ritmo cardíaco regular em 2 tempos, segunda bulha única em FP, presença de sopro sistólico (3+/6+) com epicentro em FP
• Abdome: Semi-globoso, RHA +, flácido, sem visceromegalias;• Extremidades: Baqueteamento digital, boa perfusão e sem
edema;
• Evolução: O paciente evoluiu durante a internação com crises de hipoxemia diárias, com freqüência de 1 a 2 episódios por dia, mesmo com tratamento paliativo com beta-bloqueador e em tenda com O2, quase sempre saturando abaixo de 50, até sua transferência para outro hospital, onde daria prosseguimento ao seu tratamento definitivo.
• Hipótese diagnóstica: Cardiopatia cianótica congênita.
• Conduta: Gasometria, hemocultura, EAS, urocultura, bioquímica, hemograma e radiografia de tórax.
• Exames:
Data 17/03/2008Leuc 9.9
HM 5.6
HG 16.7
HT 49.5
VCM 88.4
HCM 29.8
CHCM 33.7
Plaquetas 311
Linf % 50.8
Segm 28
Bast 01
Linf 52
Mono 03
Eos 15
Baso 01
• Radiografia de tórax (17/03/2008): Redução da vascularização pulmonar. Coração com ponta elevada e com convexidade na altura de região de tronco pulmonar.
• Gasometria (17/03/2008): Em tenda com O2 a 15 L/min. pH: 7,362 pCO2: 33,8 pO2: 20,6 SO2: 27,3 Base: -5,8 K: 3,2 Na: 132 Ca: 1,71 Cl: 83 HCO3: 18,5
• EAS e bioquímica sem alterações.
• ECG (17/03/2008): QRS + 120º; Ritmo sunusal; SVD com transição brusca de V1 para V2; Repolarização sem alterações; Conclusão: SVD.
DISCUSSÃO
Diagnósticos diferenciais
Cianogênicas com hipofluxo pulmonar:• Atresia da valva pulmonar;• Atresia da valva tricúspide;
Cianogências com hiperfluxo pulmonar• Transposição de grandes vasos;• Tetralogia de Fallot.
Atresia da valva pulmonar
• Oclusão congênita da válvula pulmonar, causando dificuldade da passagem do sangue que vai do ventrículo direito para a artéria pulmonar, podendo cursar com forame oval, CIV ou PCA.
Atresia da valva tricúspide
• Cardiopatia complexa que se caracteriza pela ausência de comunicação do átrio direito com o ventrículo direito sendo que obrigatoriamente a passagem do sangue se fará através de uma CIA para o AE, prossegue pelo VE e através de CIV passa por um VD hipoplásico ou atrésico para a AP, ou apresentará um PCA
Transposição de grandes vasos• É uma anomalia caracterizada por um erro
embriológico na septação e na rotação helicoidal tronco-conal de modo que a Aorta posiciona-se anteriormente e à direita da AP.
• Fisiologicamente há uma inversão dos fluxos de modo que do VE sai a circulação pulmonar e do VD a circulação sistêmica.
• A depender do grau de rotação desta mal formação serão determinadas as diversas formas anatômicas da Transposição das Grandes Artérias
Transposição de grandes vasos
Tetralogia de Fallot
É a anomalia congênita cianótica mais comum na infância
• Esta anomalia consiste em:
– Estenose pulmonar, comumente do tipo infundíbulo-anulo-valvar (obstrução ao trato de saída do ventrículo direito – VD)
– Comunicação interventricular (CIV)
– Dextroposição da aorta
– Hipertrofia ventricular direita
1. Estenose da Válvula pulmonar
2. Hipertrofia do Ventrículo Direito
3. Dextroposição da Aorta
4. Comunicação interventricular
Figura 1. Anomalias na Tetralogia de Fallot
A artéria pulmonar principal é freqüentemente pequena e encontra-se associada a graus variados de estenose de seus ramos.
A obstrução completa do trato de saída do VD é classificada como uma forma grave de tetralogia de Fallot.
Tetralogia de Fallot
Fisiopatologia
Ocorre retorno venoso normal para o átrio direito (AD) e VD.
Quando o VD se contrai, o sangue pobremente oxigenado é desviado, em grande parte, para as cavidades esquerdas e aorta, gerando cianose.
O fluxo pulmonar extremamente restrito devido à obstrução do VD pode ser complementado por colaterais provenientes da circulação brônquica (maior atresia pulmonar) e, no neonato, pelo canal arterial patente (aorta - canal arterial - artéria pulmonar).
Tetralogia de Fallot
Válvula tricúspide
Válvula pulmonar
Obstrução do fluxo do ventrículo direito
Aorta desviada para a direita
Válvula mitral
Comunicação interventricular
Sangue para os pulmões Sangue para os
pulmões
AE
VE
AO = aortaAP = artéria pulmonarAD = átrio direitoAE = átrio esquerdoVD = ventrículo direitoVE = ventrículo esquerdo
Sangue rico em oxigênio
Sangue pobre em oxigênio
Sangue misturado
Figura 2. Circulação sanguínea na Tetralogia de Fallot
A gravidade das alterações fisiopatológicas é decorrente do grau de estenose infundibular valvar. Se a estenose for discreta, haverá um predomínio do shunt esquerda – direita (através da CIV) e a cianose poderá não ocorrer.
A cianose pode não ser uma manifestação precoce da Tetralogia de Fallot (TF), pois a persistência do canal arterial, por exemplo, permite um fluxo pulmonar adequado.
Posteriormente, com o seu fechamento associado ao aumento da atividade física e hipertrofia progressiva do infundíbulo, ocorrerá cianose.
Tetralogia de Fallot
Aspectos clínicos
• Cianose: aparece a medida que a hipertrofia do infundíbulo ventricular direito ocorre e a criança cresce (término do 1º ano de vida)
– Mucosas da boca e lábios– Extremidades digitais– Ponta do nariz
• Crianças mais velhas:Crianças mais velhas:– cansaço e cianose após
atividade física, que costuma regredir com o repouso e posição de cócoras.
• Crianças não operadas:Crianças não operadas: – baqueteamento digital
Crianças com obstruções não significativas do trato de saída de VD podem ao nascimento, apresentar insuficiência
cardíaca devido a CIV e não apresentar cianose.
Tetralogia de Fallot
Crises hipercianóticas
• Causa cianose aumento da pressão pulmonar liberação de catecolaminas vasoespasmo infundibular aumento da cianose...
• A incidência das crises cianóticas é maior em torno dos dezoito meses de idade, se caracterizam por hiperpnéia, agitação e cianose, podendo evoluir com síncope, convulsões, hemiparesia e, raramente, coma e morte;
• Ocorrem geralmente pela manhã, são imprevisíveis e espontâneos;
• Os fatores que pioram a crise estão relacionados ao aumento da resistência ao fluxo de saída de VD (choro, movimentos intestinais, digitálicos...), ou a diminuição da resistência vascular sistêmica (calor, hipotensão, drogas ou exercícios);
• Durante a crise, o sopro sistólico da estenose infundibular diminui de intensidade e duração, podendo mesmo desaparecer.
Tetralogia de Fallot
Exame Físico
• Cianose generalizada• Baqueteamento digital• Hipodesenvolvimento pôndero-estatural
Ausculta Cardíaca
• Sopro protossistólico próximo à borda esternal esquerda: a intensidade e duração do sopro é inversamente proporcional ao grau da estenose infundibular
• Estalido protossistólico audível junto à borda esternal esquerda, de origem aórtica.
• A segunda bulha é praticamente única, aumentando de intensidade na área de tricúspide
Tetralogia de Fallot
É comum adotarem a posição de cócoras:
aumenta a resistência sistêmica e o retorno venoso, reduzindo o shunt pela CIV e "forçando" a um
aumento do fluxo pulmonar.
Diagnóstico
Radiologia
– Área cardíaca normal ou pouco aumentada;– Botão aórtico saliente;– Arco médio escavado;– Ponta cardíaca acima do diafragma;– Vasos pulmonares pouco desenvolvidos, hilos
pouco expressivos;– Estes achados radiológicos caracterizam o aspecto
radiológico de tamanco holandês.
Tetralogia de Fallot
Figura 4. Radiografia de tórax de recém-nascido em que se observa a silhueta cardíaca compatível com Tetralogia de Fallot (arco médio escavado e ponta elevada) com vascularização aumentada pela presença de canal arterial.
DiagnósticoEletrocardiograma• Eixo desviado para direita;• Transição brusca de V1 para V2;• Onda T ascendente em V1 com onda R pura, sem onda S;• Hipertrofia ventricular direita.
DiagnósticoEcocardiograma• Importante para ressaltar aspectos anatômicos do
defeito valvar• Tamanho do CIV• Dextroposição da aorta• Diâmetro do tronco e ramos pulmonaresCateterismo• Complementa o diagnóstico, define aspectos da
hemodinâmica e, principalmente, visualiza as coronárias para determinar anormalidades das mesmas e auxiliar no tratamento cirúrgico
Complicações• Trombose cerebral: pode ocorrer em crianças
policitêmicas e desidratadas. Ocorre mais comumente nos seios durais e, ocasionalmente, nas artérias cerebrais. Acomete crianças menores de dois anos.
• Abscesso cerebral: menos comum do que a trombose, acomete crianças maiores de dois anos. O início é insidioso com febre baixa e alteração do comportamento. Entretanto, o quadro inicial pode ser abrupto com convulsões associadas, náuseas e vômitos. O diagnóstico requer tomografia computadorizada e ressonância magnética. A antibioticoterapia e a drenagem cirúrgica são necessárias.
Complicações• Endocardite bacteriana: pode ocorrer no infundíbulo
ventricular direito, valvas tricúspide, pulmonar ou aórtica. Em pacientes que já foram operados, a endocardite pode acometer uma válvula pulmonar com estenose residual ou uma CIV residual.
• Insuficiência cardíaca: pode estar presente ao nascimento graças à CIV. Com a hipertrofia do infundíbulo e obstrução ao trato de saída de VD, ela regride para dar lugar à cianose.
Tratamento
Crises Hipercianóticas
• Manter a criança em posição genopeitoral visando aumentar a resistência periférica (diminuir shunt direita-esquerda) e aumentar o retorno venoso;
• Uso de Morfina (0,2 mg/kg SC);
• Bicarbonato de sódio é empregado, quando indicado, na correção da acidose metabólica.
Tratamento
• Os beta bloqueadores podem ser empregados pela via parenteral na dose de 0.1 mg/kg em infusão lenta;
• Em casos que não melhoram com a terapia descrita, podemos empregar aminas, para aumentarmos a resistência periférica (diminuindo shunt direita-esquerda).
Após as crises mantém-se beta bloqueador oral.
TratamentoTratamento Cirúrgico
• Recém nascidos com obstrução importante do trato de saída de VD devem ser mantidos até a cirurgia com infusão contínua de prostaglandina E1 (0.05-0.20 mg/kg/min)
• Em crianças abaixo de seis meses de idade ou naquelas acima se apresentando em más condições clínicas ou com a anatomia da lesão desfavorável, devemos indicar a correção paliativa com o shunt de Blalock-Taussig modificado. Este consiste de um conduto que liga a artéria subclávia a um ramo homolateral da artéria pulmonar. As complicações desta cirurgia incluem quilotórax, síndrome de Horner e paralisia diafragmática.
• Em crianças entre os seis meses e 1 ano de idade, que possuam anatomia favorável, está indicado a correção total. Esta consiste de alívio da obstrução do trato de saída de VD, removendo as faixas de músculo aí localizadas e fechamento da CIV com um patch. Em casos de valva pulmonar estenótica, o cirurgião realiza uma valvotomia.
Dda Clarisse e Ddo Alberto
Obrigado!