14
Castro Alves A superação do egocentrismo

Castro Alves - policiamilitar.mg.gov.br · •Castro Alves (1847-1871) é considerado o maior nome da poesia social romântica, também conhecida como poesia condoreira. Escreveu

Embed Size (px)

Citation preview

Castro Alves

A superação do egocentrismo

DEBRET, Jean-Baptiste. Loja de rapé, 1823.

• Na literatura romântica, o indígena herói e livre prestou-se à idealização ficcional. Já o negro, ligado ao trabalho e à submissão, ficou longe do registro dos escritores, apenas obtendo atenção nas últimas décadas do século XIX.

• Castro Alves (1847-1871) é considerado o maior nome da poesia social romântica, também conhecida como poesia condoreira. Escreveu em uma época de transformações sociais, quando o Império já mostrava sinais de decadência e já havia campanhas que atraía a juventude para a causa republicana e abolicionista.

Ao romper d’alva

Oh! Deus! não ouves dentre a imensa orquestra Que a natureza virgem manda em festa Soberba, senhoril, Um grito que soluça aflito, vivo, O retinir dos ferros do cativo, Um som discorde e vil?

• O texto dá à natureza um tratamento diferente do concedido pelos primeiros românticos, pois a crítica à escravidão é feita justamente pelo confronto entre os sons próprios da natureza festiva e os sons associados à condição servil do negro (gritos e ruídos de ferros).

• Em vez de mostrar o escritor voltado para si mesmo, mostrou-o atento ao mundo e combatendo suas injustiças.

Poesia social: comover para persuadir

• Navio negreiro (1868)

• A linguagem utilizada por Castro Alves tem um tom grandioso e emocional, assim, pretendia sensibilizar o leitor para a questão do trabalho escravo, preferindo persuadir com base na emoção.

• Áudio “Navio Negreiro”, Caetano Veloso.

Vozes d’África

Deus! Ó Deus! Onde estás que não responder?

Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes

Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito,

Que embalde desde então corre o infinito...

Onde estás, Senhor Deus?...

• Em certos poemas, Castro Alves ainda se alinha com a segunda geração do Romantismo. Há neles traços da morbidez byroniana, da sensualidade reprimida e da melancolia, características dessa geração. Não é esse, porém, o tom da maioria de seus poemas, que subvertem as convenções da conduta amorosa romântica.

Boa-noite

Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora.

A lua nas janelas bate em cheio.

Boa-noite, Maria! É tarde... É tarde...

Não me apertes assim contra teu seio

Boa-noite!... E tu dizes – Boa-noite.

Mas não digas assim por entre beijos...

Mas não me digas descobrindo o peito

- Mar de amor onde vagam meus desejos.

• Em “Boa-noite”, apresenta-se uma mulher sensual e ativa: Maria recusa a partida do eu lírico e procura reverter sua decisão, seduzindo-o com seu corpo e seus beijos, o que revela uma mulher consciente de seus desejos.

• Por outro lado, embora a intenção do eu lírico de se afastar tenha semelhança com os modelos do ultrarromantismo, ele não é motivado pelo medo.

• Logo no início, o eu lírico compara o navio negreiro a um “sonho dantesco”. Com essa expressão faz referência às terríveis cenas descritas pelo escritor italiano Dante Alighieri, em “O inferno”. O aspecto infernal da cena é sugerido por referências a uma “dança” e a uma “orquestra”, em que os marinheiros aparecem representados pela orquestra, que comanda a dança dos escravizados.

• O poema ressalta o prazer daqueles que torturam em oposição ao sofrimento dos homens negros.

• No poema, percebemos um destaque para as mães e seus magros bebês, as moças desiludidas, os velhos enfraquecidos e os homens que perdem a razão pelo sofrimento e pela ira. A variedade dos tipos destaca o caráter humano do grupo e impede a associação dos escravizados com meras mercadorias, assim, o leitor tende a sentir comoção.

Rugendas. Navio negreiro, 1830.