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Catálogo 2012 II Semestre

Catálogo Xícara da Silva II Semestre 2012

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Cartálogo de Exibições do Cineclube Xícara da Silva em Anápolis (Goiás) e artigos de cineclubistas sobre assuntos de cineclube e análise de filmes

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Page 1: Catálogo Xícara da Silva II Semestre 2012

Catálogo 2012II Semestre

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Apresentação

Suas 135 horas de exibições gratuitas ao público trazem o Cineclube Xícara da Silva a mais uma etapa do fazer cineclubismo como uma prática dentro do pensar e viver cinema. De uma forma simples e aspirante, lançamos uma amostra das reflexões sobre os filmes e do debate traduzido em algumas produções textuais.

Os artigos convidados a serem publicados neste catálogo são de iniciativa dos participantes do cine-clube Xícara da Silva. Entre estes, alguns textos exclusivos e outros já publicados em veículos de circulação em Anápolis (GO) via impressa e via ciberespaço. As próximas edições do catálogo estão abertas para o envio de artigos, ensaios, críticas e outros gêneros do mais acadêmico ao mais infor-mal livre, perante a seleção e contato como os autores. Sendo ou não cineclubista.

O catálogo apresenta os filmes que serão exibidos no II Semestre da parceria Xícara da Silva e SESC Anápolis. Na caminhada de 2 anos e meio de filmes exibidos chega um momento no qual iniciamos uma aproximação ao fazer cinematográfico no Brasil, trazendo filmes que propiciem debates in-trodutórios e necessários do que há antes do filme brasileiro chegar à telona.

Outra aproximação necessária é com os realizadores do cinema goiano que vivem em um ambiente atual de levar o audiovisual às políticas públicas na montagem do Plano e o Fundo Estadual de Cultura com vistas à adesão ao Sistema Nacional de Cultura. O cinema goiano em Anápolis é algo raro que queremos ampliar suas telas de exibição. Como também, porque não, levar os anapolinos a exibir e amadurecerem seus filmes nas telas de Goiás e Brasil afora, tendo em vista os dois festivais já realizados na cidade.

Só resta por fim desejar um bom semestre de sessões de Xícara da Silva. Ligue o projetor, apague as luzes e que comece o filme...

Luiz Eduardo RosaPresidente do Cineclube Xícara da Silva

Jornalista

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O que temos para assistir e ler?

1. Bye Bye Brasil

2. Saneamento Básico

3. Trombas e Formoso

4. Cinema, Aspirina e Urubus

5. Angatu - Exibição de Animações Goianas

6. À Prova de Morte

7. Mudernage

8. Ainda há pastores?

9. “Qual a utilidade de um cineclube?” de Mário Alarcão 10. “Sonhos” de Lucas Daher

11. “A Carruagem Fantasma” de Lucas Daher

12. “As Invasões Bárbaras - Breves Conjecturas” de Mário Alarcão

13. “Freud, Bergman e os Morangos Silvestres” de Rodrigo Queiroz

14. “Os Incompreendidos” de Ronaldo Monteiro

Expediente:

Diagramação e Design Geral: Luiz Eduardo [email protected]

Colaboradores: Lucas DaherMário Henrique AlarcãoRodrigo QueirozRonaldo P. Monteiro

Realização:Cineclube Xícara da [email protected]

Publicação Virtual

www.cinexicara.wordpress.com

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11 de Agosto de 2012

Bye Bye BrasilTítulo original: Bye Bye Brasil

Duração: 105 minutos (1 hora e 45 minutos)Direção: Cacá DieguesElenco: José Wilker, Betty Faria e Fábio JúniorAno: 1979País de origem: BRASIL

Resumo: Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha são três artistas ambulantes que cruzam o país juntamente com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Junior) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), com os quais a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília.

Fonte: www.cineplayers.com.br

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.

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25 de Agosto de 2012

Saneamento BásicoDireção: Jorge FurtadoRoteiro: Jorge FurtadoGênero: ComédiaOrigem: BrasilDuração: 112 minutosTipo: Longa-metragem

Sinopse: Em uma pequena vila de descendentes de colonos ital-ianos na serra gaúcha, a construção de uma fossa para o trata-mento do esgoto é uma emergência antiga e sempre ignorada pelas autoridades. Uma comissão resolve pleitear a obra através dos recursos da subprefeitura. No entanto, são informados de que não há verba para saneamento básico mas que sobra para a produção de um vídeo. O grupo resolve então fazer um vídeo sobre o saneamento básico. Mas o que ninguém esperava é que o grupo amador se envolveria tanto nessa produção que ganha até prêmio na cidade, e que a obra... bem, viraria ator coadju-vante.

Fonte: www.cineplayers.com.br

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.

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15 de Setembro de 2012

Trombas e Formoso:A Vitória dos Camponeses

Direção: Coletivo Magnífica Mundi

Equipe Técnica: Ana Lúcia Nunes, Arão de Souza Gil, Gabriela Marques, Ícaro Batista, Luiz Eduardo Rosa, Maiara Dourado e Tatiane de Assis

Equipe Auxiliar: Antônio Paulino Ferreira, Ladislau Nunes, Lorena Soares, Kamyla Maia, Maria Cláudia Reis Silva, Osório Manzi, Ossideni – Pisquila (in memo-rian), Prof.Rosana Borges e Taynara Borges.

Sinopse: Trombas e Formoso: Memorias de uma Luta é um documentário em curta-metragem que conta a história da Revolta de Trombas e Formoso. O conflito aconte-ceu entre 1954 e 1957, colocando posseiros de um lado e grileiros e polícia do outro, na luta por uma extensa faixa de terras devolutas na região norte de Goiás. Baseado em depoimentos dos participantes da luta camponesa, o documentário narra a chegada dos camponeses à região e a organização da luta que os levou à conquista da ter-ra. Os camponeses também contam como começaram a construir uma nova sociedade, baseada na cooperação e solidariedade e como esse sonho foi interrompido pela ditadura militar, levando muitos deles à fugir do local e ao desaparecimento de um de seus líderes, o deputado estadual José Porfírio de Souza.Confira: www.trombaseformoso.org

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.

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29 de Setembro de 2012

Cinema, Aspirinas e UrubusCinema, Aspirinas e Urubus, 2005 Direção: Marcelo Gomes Roteiro: Karim Ainouz, Marcelo Gomes, Paulo Caldas Gênero: Aventura Origem: Brasil Duração: 99 minutos

Sinopse: O filme conta a história de Johann (Peter Ketnath), alemão que fugiu do país de origem nos auges da 2ª Guerra e chegou ao Brasil, onde percorre regiões inteiras vendendo aspirinas. O sucesso de sua empreitada está no modo como ele faz a publicidade do produto: projetando propagandas no meio de vilarejos, ao ar livre, e encantando os moradores, que, nunca antes tendo visto imagens em movimento, acreditam tratar-se de um medicamento de outro mundo.

Fonte: www.cineplayers.com.br

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

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13 de Outubro de 2012

Angatu A curadoria da equipe do evento Angatu - Frames, Rascunhos e Pipoca, escolhe três curta metragens de animação goiana para virem com seus diretores ao Cineclube Xícara da Silva. Enquanto isso, confira o blog desta importante mostra goiana: www.angatuframesrascunhoepipoca.blogspot.com.br

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

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27 de Outubro de 2012

À Prova de MorteTítulo Original: Death Proof, 2007 Direção: Quentin Tarantino Roteiro: Quentin Tarantino Gênero: Policial/Suspense/Terror Origem: Estados Unidos Duração: 114 minutos Tipo: Longa-metragem

Sinopse:Ao cair da noite, Jungle Julia, a DJ mais sexy de Austin, pode enfim se divertir com as suas duas melhores amigas. As três ga-rotas saem noite adentro, atraindo a atenção de todos os freqüen-tadores masculinos dos bares e boates do Texas. Mas nem toda a atenção é inocente. Cobrindo de perto seus movimentos, está Stuntman Mike, um rebelde inquieto e temperamental, que se esconde atrás do volante do seu carro indestrutível. Segunda parte de Grindhouse, um filme duplo realizado em parceria com Robert Rodriguez.

Fonte: www.cineplayers.com.br

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

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10 de Novembro de 2012

MudernageMudernage | Marcela Borela, Doc., Goiás, 2009, 52 min

Classificação: 12 anos

Sinopse: Uma reflexão sobre a experiência moderna nas artes plásticas em Goiás a partir de uma diversidade de olhares que se deslocam do presente para o passado. Uma reflexão sobre a modernização das artes na periferia central do Brasil. Um ato, uma ação em direção a realidade artística de um lugar e ao seu passado constitutivo. Um canto de amor e ódio a uma cidade: a jovem metrópole. Goiânia, revestida de futuro, visita seu recente passado sob os olhares vorazes de diversos artistas e da docu-mentarista Marcela Borela.Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

ENTRADA FRANCA *Os filmes, os horários e as datas estão sujeitos a alterações. Confira as modificações da programação no nosso site cinexicara.wordpress.com.

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24 de Novembro de 2012

Ainda há Pastores?Realização: Jorge Pelicano Argumento: João Morais, Jorge Pelicano e Cátia Vicente Produtor: Jorge Pelicano Ano: 2006 Género: Documentário Duração: 72’Elenco: Hermínio Carvalhinho, Fernando Alves (Narrador), Quim Barreiros (Quim Barreiros), João Grazina (João Grazinha)

Sinopse: Há lugares como Casais de Folgosinho que quase não existem. Não há luz eléctrica, água canalizada, nem estradas. Perde-se no silêncio de um vale entre as montanhas da Serra da Estrela. Em tempos foi um autêntico santuário de pastores… Hoje, os mais velhos vão morrendo e os novos fogem da dura sina de ser pastor. Hermínio, 27 anos, contraria o fim. Dizem que é o pastor mais novo, mas também o mais doido. Sozinho, rádio na mão, rasga montanhas ao som das cassetes do popular cantor Quim Barreiros, que um dia sonha conhecer. Os sons das cassetes e do rádio puxam-no para longe de uma vida de solidão. São a união entre dois mundos diferentes. Até quando o jovem Hermínio será pastor? Mas…ainda há pastores?

Fonte: www.filmesportugueses.com/ainda-ha-pastores/

Horário: 17h30

Local: Auditório do SESC Anápolis Av. Santos Dummont c/ Rua Zeca Lousa, s/n, Bairro Jundiaí. VER MAPA

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Qual a utilidade de um Cineclube?

Desde os 15 anos tinha o sonho de ver um Cineclube surgir em Anápo-lis! Lembro que um primo sempre me dizia que na universidade mon-tou um com os colegas de curso e se divertiam muito vendo bons filmes, debatendo e estudando cinema e sua história. Foi uma forma que encontraram de estudar o cinema de forma independente e hoje, na profissão de jornalista, ele sempre coloca como esse período foi im-portante.

Fiquei muito alegre quando fui con-vidado por alguns amigos pra fazer parte do 1° Cineclube de Anápolis: o Cineclube Xícara da Silva. O nome, o símbolo, a ideia, tudo me atraiu! Poder ver os clássicos de novo na telona foi algo que me emocionou muito. Sentia como se tivesse enca-rando a luz de ouro de um tesouro recém desenterrado. Esse encanta-mento é próprio do cinema! Se um

livro nos encanta pela história, uma pintura por sua estética, uma música pela sua melodia, o cinema une tudo isso e nos envolve por completo.

E se não bastasse participar das exibições, participar do cineclube também tem seus prazeres. Sempre encontramos empecilhos no camin-ho, mas toda e qualquer associação (mesmo que filantrópica) terá prob-lemas, assim como nossa vida pes-soal. Mas somente os integrantes do Xícara da Silva conseguiriam explicar junto comigo o quanto é prazeroso organizar uma sessão de cineclube gratuita e observar o ol-har encantado de outras pessoas admirando as grandes obras da hu-manidade.

Na I Mostra de Filmes: Liber-dade, Igualdade e Fraternidade – Comemoração à Revolução Fran-cesa, o nosso atual presidente Luiz Eduardo Rosa Silva, com apoio da Secretaria de Cultura de Anápolis, não poupou o próprio bolso para re-alizar a mostra com direito a pipoca para o público (não-pagante com orgulho). Quando terminamos está-vamos cansados mas, enfim, muito alegres. Sempre que tento expli-

car esse sentimento fico um pouco travado, mas no fundo é como se sentíssemos que estamos devol-vendo o tesouro da humanidade de volta pra ela!

No Brasil o Cinema é ainda pouco acessível para as pessoas e não digo somente os mais pobres, mesmo o brasileiro de classe média ainda não pode frequentar o cinema pelo me-nos uma vez por semana. E mesmo os 10% dos brasileiros que podem realizar tal façanha, assistem a uma pequena gama de filmes america-nos, ou seja, até mesmo os que pos-suem acesso frequente ainda assim acessam a um mesmo tipo de cin-ema.

Muitas pessoas me perguntam: “O que você, estudante de Direito ganha participando de um Cine-clube?”. Sendo muito sincero: quase nada! Provavelmente nunca vou trabalhar com cinema, ou com cultura. Mas Cultura nunca poderia ser trabalho pra mim! Cultura é um grito ao mundo de vida, saúde e re-sistência! Somente povos sadios fa-zem cultura, enquanto ato de amor à própria vida!

Sem contar que através dos debates movimentamos ideias e pensamentos.

E junto à todo ato de pensar caminha o ato de resistir! Pensando, resistimos di-ante do mundo e nos afirmamos como indivíduos. Ou seja, Cineclube e o Cin-ema tem pouca utilidade na futura vida profissional de um acadêmico de Di-reito. Mas ainda assim, ele (cineclube) representa tudo o que acredito: no amor incondicional ao nosso passado, aos nossos semelhantes e à nossa vida.

Mário AlarcãoTesoureiro do Cineclube Xícara da Silva

Estudante de Direito Universidade Federal de Goiás (UFG)

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Mário AlarcãoTesoureiro do Cineclube Xícara da Silva

Estudante de Direito Universidade Federal de Goiás (UFG)

Sonhos

Assisti pela primeira vez a um filme de Akira Kurosawa, um dos mais influentes e importantes diretores da história: Sonhos. O filme é divi-dido em oito partes independentes retratando temas variados, como guerra, arte, tecnologia entre outros. Devo admitir que não compreendi totalmente o significado de uma delas, talvez por se tratar de algo ligado a cultura japonesa – com a qual não estou familiarizado. Kurosawa era pintor antes de se envolver com o cinema. Percebe-se grande influencia da pintura na fotografia do filme, especialmente no tratamento das cores, realmente magnífico. O aspecto técnico é fan-tástico. A atenção cuidadosa dada a todos os detalhes é evidente, bem como ao cenário, posicionamento das câmeras, figurino etc. Sendo minha primeira vez que vendo um filme japonês, não sabia o que esperar. No início fiquei decepcionado, pois o primeiro sonho usa um aspecto especifico

da cultura para retratar a obediên-cia. Pensei que toda a história seria assim, mas não. Há um question-amento sobre aspectos da vida con-temporânea o qual pode se estender a nossa sociedade atual. Em um segmento ele retrata um desastre nuclear e as consequên-cias terríveis, levando-nos a pensar se os benefícios da energia superam o risco de um potencial debate. O ultimo sonho tem um fun-do ecológico do qual discordo com-pletamente. É retratada uma vila camponesa em que um idoso expli-ca a um viajante que eles não usam eletricidade, mas lampiões, porque a noite é escura e deve permanecer assim (se ela deve permanecer as-sim, por que iluminá-la de todo?). Ao ser questionado sobre não usar tratores para lavrar arroz, ele se mostra contra o uso de tecnologia de ponta e explica que as ferra-mentas tradicionais são suficientes para alimentá-los (porém essas fer-ramentas “tradicionais” foram um dia tecnologia de ponta, e caíram em desuso por terem levado vários povos a passar fome ao longo do tempo). Há outros “plot holes” na defesa do estilo de vida tradicional que me incomodaram muito.

Exceto a temática do sonho final, o filme me agradou bastante e no geral é muito bom. Há alguns detalhes realmente interessantes: o viajante aparece no ambiente sem que se mostre sua chegada, como acontece em um sonho real. O ator que interpreta Vincent van Gogh é Martin Scorsese (diretor ítalo-americano famoso por Taxi Driver, Os Bons Companheiros, A Inven-ção de Hugo Cabret etc).

Lucas DaherMembro do Cineclube Xícara da

Silva

Estudante do 2º grau E. M.

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Lucas DaherMembro do Cineclube Xícara da

Silva

Estudante do 2º grau E. M.

Carruagem Fantasma

Conhecemos o cinema sueco pelo grande diretor Ingmar Bergman, um dos melhores de todos os tem-pos. Mas outro diretor da terra dos vikings está esquecido: Victor Sjöström, que em 1921 filmou um dos mais influentes e revolucionári-os filmes de terror: A Carruagem Fantasma.

Adaptado de um romance de Selma Lagerlöf (ganhadora do Nobel de literatura), o filme se passa na vé-spera do ano novo e conta a história de David Holm (interpretado por Victor Sjöström), um alcoólatra que está em um cemitério com dois amigos. Holm conta-lhes a lenda de que a última pessoa a morrer a cada ano, se for um grande pecador, deve coletar a alma dos mortos na carru-agem fantasma no ano seguinte.

Há uma briga e David é assassinado logo antes das 12 badaladas. Ele se encontra com Georges, o cocheiro

do ano que se finda. Após a morte de David, o filme se passa em uma sucessão de flashbacks retratando a degradação da vida de David e seus problemas com o alcoolismo.

Devo dizer que o final me desagra-dou bastante: há o arrependimento de David, sua redenção e volta à vida. O excesso de otimismo destoa do desenvolvimento da história e é demasiado ingênuo.Além de se destacar pelo tema, a progressiva destruição da dignidade humana em uma sociedade apática, a qual leva indivíduos à loucura e à brutalidade, desenvolvido em aspectos filosóficos e teológicos; a montagem e a estrutura são real-mente excepcionais.

Há três planos temporais: o pre-sente, o passado e o passado em relação ao passado, representados por flashbacks dentro de flashbacks e planos monocromáticos, sendo cada tempo representado por uma cor. Os efeitos especiais foram rev-olucionários, principalmente com várias exposições duplas, levando a personagens fantasmagóricos ca-pazes de ser moverem em três di-mensões.

O filme exerceu grande influência sobre Bergman, principalmente no filme O Sétimo Selo, que faz refer-ência à caracterização da morte e ao modo como ela é citada (“mes-tra rigorosa”). A famosa cena de O Iluminado em que Jack Nicholson quebra a porta com um machado é também inspirada em uma cena similar do filme sueco.

Recomendo A Carruagem Fantasma não só pela qualidade como filme, mas também pelo valor histórico inestimável.

Jornal Estado de Goiás, 18 a 24 de Julho de 2011/ Anápolis Goiás

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As Invasões Bárbaras – breves conjecturasComo é viver no Canadá? Ainda: como é viver a política no Canadá? Não que eu esteja dizendo que o filme de Denys Arcand seja “nacionalista” (aqui no sentido de dizer que os temas aborda-dos seriam restritos ao Canadá), mas ao que parece o fato do personagem prin-cipal, Rémy, viver no Canadá, com suas particularidades, estabelece um rumo à história.

O filme o tempo todo torna fina a linha que separa as experiências de Rémy (um professor universitário canadense), das possíveis experiências de vida que qualquer ser humano (seja qual for sua nacionalidade) em sua faixa etária pode-ria ter (um brasileiro, por exemplo).Mas voltando ao começo, citei a política do Canadá pelo destaque que lhe é dada pelo longa: o Canadá, ao contrário do seu vizinho “Imperial” (Estados Uni-dos da América (ver O declínio do Im-pério Americano outro filme de Denys

Arcand)), possui partidos de esquerda política. Cito assim, caro leitor, porque essa particularidade influencia a vida de Rémy: logo no começo do filme, seu fil-ho Sébastien luta contra seu próprio pai tentando convencê-lo a deixar o hospital público (precário para o tratamento de câncer) alegando ser possível colocá-lo em uma clínica particular. Rémy se nega a tal, não por rejeitar o dinheiro de seu filho, mas, por ser socialista, lutou toda a vida por um sistema de saúde público. Portanto se morresse que fosse pelas ideias as quais defendeu (lembremos de Florestam Fernandes, antropólogo e sociólogo brasileiro que lutou pelo SUS e decidiu morrer nas “mãos” do sistema que defendeu).

Perceba como uma particularidade cul-tural e política podem nortear toda uma vida. A escolha de Rémy pelo hospital público pode resultar em sua morte, de maneira que simples escolhas serão os limiares entre: a fatalidade da morte e o prolongamento da vida. Talvez uma leve metáfora do “inferno existencial” de Sartre, ou seja, a “condenação” à nossa liberdade de sempre escolher, e escolhendo, não escolhemos sozinhos, pois nossas escolhas delinearão nossa existência e a dos “outros” que nos ro-deiam.

Porém, a concepção de “inferno” é rela-tiva na vida de Rémy. Durante todo o filme ele relata aos amigos e às pessoas que o visitam, casos amorosos de out-ras pessoas e, em grande parte, as suas próprias aventuras sexuais (sem contar da presença de sua ex-mulher e sua ex-amante que compartilham da sexuali-dade ativa de Rémy, aqui vale deixar o mérito do diretor ao conseguir extrair a sensualidade das histórias sem a neces-sidade de cenas explícitas ou “calien-tes”) demonstrando a sua intensa busca por uma vida “vivida” (que Henry Da-vid Thoreau me perdoe) e ao mesmo tempo carregada de sentido, pois canal-izada por ideias filosóficas e políticas em sua vivência.

E aqui temos uma genial “sacada” do diretor Denys Arcand: quando Rémy relata sua vida abundante em sexo e ativismo político, não está se colocando como uma pessoa vulgar, mas, ao con-trário, denuncia a “vulgaridade” das atuais gerações ao se entregarem aos prazeres do consumo e possuírem uma vida desprovida de sentido. Há duas grandes metáforas na relação entre as gerações presentes no filme: a discussão entre Rémy e seu filho como uma metáfora do antagonismo entre a antiga geração e a nova; o definhamen-to e a velhice de Rémy como metáfora

da então derrotada ideologia socialista. É como se o filme nos chamasse (a atual geração) a olhar no espelho.

O filme em si possui certas características que o tornariam carregado de amoralidade, mas no geral, o filme Invasões Bárbaras chama a atenção pela sua maneira poética e simples de retratar a “teia” de relações da vida.

Tribuna de Anápolis, 28 de Novembro a 4 de

Dezembro de 2010, p.2 / Anápolis - Goiás

Mário AlarcãoTesoureiro do Cineclube Xícara da Silva

Estudante de Direito Universidade Federal de Goiás (UFG)

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Freud, Bergman e os Morangos Silvestres

Em Morangos Silvestres, Berg-man trata da questão do deses-pero, da angustia humana, com maestria ele faz da angustia hu-mana uma obra de arte, como já fora dito por vários críticos de cinema, além de prestar uma genial homenagem a Freud e a psicanálise, que é evocada várias vezes ao longo do filme sob a forma de metáforas e processos oníricos. O filme também aborda a sua própria angustia.

No livro escrito posteriormente pelo próprio cineasta, intitulado de imagens, ele explica as suas conflituosas relações com as pessoas a sua volta (principal-mente seu pai e sua mãe) e con-sigo mesmo, como demonstra o seguinte trecho extraído do livro, em que se descreve como: um filho não desejado, parido duran-

te uma crise física e psíquica de minha mãe.

O protagonista Isak Borg (cuja pronuncia no idioma sueco lembra a palavra“fortaleza de gelo”) pode ser visto ao mesmo tempo como o pai de Bergman e o próprio Bergman. Bergman era um homem que sentia, em-bora em pleno sucesso profis-sional, que havia fracassado em sua existência, principalmente no que tange a sua vida pessoal. No inicio do filme vemos Isak escrevendo a seguinte nota em seu diário: Nossa relação com as pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Isso que me afastou, por vontade própria, de toda minha vida social...

Após esta cena, Isak tem um pes-adelo que sintetiza sua “fobia” a morte, o que o lança em uma amarga retrospectiva de sua vida, uma serie de questionamentos sobre sua existência, enquanto viaja pra Lund, com a finalidade de receber um título honorífico. O fato que leva ao desencadeam-ento da torrente de indagações, talvez seja a confrontação com a certeza de sua finitude, afinal,

como dizem os filósofos, “nós só filosofamos porque morremos. A morte é a musa inspiradora da fi-losofia”.

Uma das cenas mais marcantes do filme é quando, durante esta viajem, o velho Isak, ao ver a casa em que cresceu, e ver al-guns morangos silvestres, tem uma triste recordação. Lembra-se do grande amor de sua vida, Sara, que estava colhendo ali, 50 anos antes, morangos silvestres, e nesta ocasião ele a vê paquer-ando com Sigfrid, irmão de Isak, Sara namora Isak, um rapaz de-scrito como gentil, educado e se-rio, porém Sara o troca por seu irmão Sigfrid, um grande pulha. Tal fato, esta frustração do passa-do, é uma espécie de trauma de-terminante na vida de Isak, pois este passa a agir de forma egoís-ta e repelir todos a sua volta. A cena tenta justificar o tipo de ser humano em que isak se tornou, um homem definido no filme por uma personagem, como sendo: um velho egoísta, sem conside-ração, mas que esconde bem isto atrás de sua civilidade e charme.

Morangos Silvestres trata da morte e da angustia, e de certa forma, também da possível inutilidade da vida. Freud dizia que os homens jamais seriam plenamente felizes devido a fatores como a decrepi-tude de seu corpo e o convívio social. Em Morangos Silvestres podemos ver o que realmente Freud queria dizer.

Tribuna de Anápolis, 18 a 24 de Julho de 2011/ Anápolis Goiás

Rodrigo QueirozParticipante do Cineclube Xícara da

Silva

Bacharel em Direito

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Ronaldo MonteiroDiretor de Acervo do Cineclube Xícara

da Silva

Historiador e Especialista em Cinema e Educação

OS

INCOMPREENDIDOS

No último sábado, 08 de abril de 2011, foi exibido no Cineclube Xí-cara da silva em Anápolis, o Filme: Os Incompreendidos (1958), do cineasta francês François Truffau. Ao abordar a adolescência como tema principal, o filme reafirma a concepção de que o cinema repre-senta uma importante fonte de con-hecimento.

No filme, o diretor revela a tra-jetória de um adolescente que é vítima da opressão de várias insti-tuições sociais como: a escola, a família, e o reformatório, ou seja, os adolescentes não são compreen-didos pela sociedade francesa na primeira metade do século XX. Esta temática demonstra o caráter atual do filme.

Diante da opressão institucional-izada, o adolescente vive em busca

da liberdade, e foge da escola e da família, buscando refúgio nas ruas de Paris - cenário do filme. As ruas impõem dificuldades para sobre-viver, mas oferecem lazer nas pra-ças, entretenimento no cinema, e liberdade.

Para François Truffaut, as questões relacionadas ao ser humano, eram as mais importantes para o cinema. Como representante do movimen-to Nouvelle vague, ele confirma as abordagens do movimento que retratava principalmente a condição humana, condição esta de estar no mundo e ter que enfrentar os prob-lemas que a vida nos impõe.

Para as pessoas que apreciam os as-pectos técnicos do cinema, o filme oferece contribuições importantes, porque Truffaut procurou inovar a linguagem do cinema, ao empregar no filme tomadas longas, a partir da incorporação do plano sequência e do uso de travellings. Na busca da simplicidade, adotou fotografias quase sem iluminação artificial, com o intuito de garantir maior re-alismo ao filme.

Podemos dizer que a câmera de

Truffaut, era uma câmera inteli-gente, pois cada imagem produzida era portadora de múltiplos signifi-cados. Eram imagens metafóricas, como fica nítido na primeira cena do filme, quando a imagem de um plano sequência apresenta para o expectador a cidade de Paris, que é identificada na imagem que demon-stra o símbolo maior da cidade, a Torre Eiffel. Outra inovação do cineasta foi produzir um filme a partir do ponto de vista de um ado-lescente, revelando suas angústias, e sua compreensão do mundo dos adultos.

O filme pode ser considerado uma cinebiografia, uma vez que retrata acontecimentos ou situações que ocorreram na vida do diretor, como a prisão na adolescência, a fuga do reformatório em busca da liberdade, sua relação com a literatura, e sua paixão pelos filmes, que é demon-strada na cena em que o garoto vai ao cinema.

Tribuna de Anápolis, 24 a 29 de Abril de 2011, p.2 / Anápolis Goiás

Page 18: Catálogo Xícara da Silva II Semestre 2012

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Agradecimentos especiais:

SESC Anápolis

Secretaria Municipal de Cultura de Anápolis

Assoiação Barsileira de Documentaristas - Seção

Goiás

Cineastas Goianos

Jornal Tribuna de Anápolis

Jornal Estado de Goiás

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