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Pe. Zezinho, SCJ
Catequese ao raiar do dia
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Apresentação
Este pequeno livro retrata momentos de catequese que nasceram de leituras de jornais, de postagens nas redes sociais e de conversas com amigos meus no WhatsApp. Não chegou a 150 páginas, mas são respostas de um cate-quista que ouviu, leu e refletiu junto.
Livros como este têm a função de levar à casa dos fiéis um instrumento que ajude o cristão a pensar como Jesus pensou. O título Catequese ao raiar do dia tem dois motivos. Primeiro, porque muitos católicos usam os pri-meiros momentos de seu dia para pensar em Jesus e orar. Depois, porque costumo começar o dia escrevendo sobre o que pensei e postei no dia anterior, e então faço leituras bíblicas ou percorro os livros de estudo que me suprem de novas reflexões para o dia.
Espero que este livro seja útil aos que gostam de ler meus escritos, e da minha forma de evangelizar.
Pe. Zezinho, SCJJosé Fernandes de OliveiraSão Paulo, julho de 2015.
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Radical, mas sem raízes
Dos 4 aos 13 anos lutava pela sua individualidade com os pais. Dos 13 aos 23 lutava pela sua individualidade com os colegas. Dos 23 aos 35 lutava contra a religião e em favor da esquerda. Dos 35 aos 48 deu uma guinada em direção a uma nova Igreja. Dos 49 aos 70 esqueceu sua conversão e declarou-se ateu. Dos 71 aos 72, a esposa e dois filhos morreram, um deles, vítima de droga.
Dos 73 aos 80 abraçou a filosofia e dava cursos sobre Bloch, Levinas, Adorno, Buber e outros questionadores da religião.
Aos 81 reencontrou um velho amigo de faculdade, padre católico, monsenhor da mesma idade, e tiveram lon-gas conversas sobre Husserl, Bergson, Blondel e sobre fé no novo milênio. Numa das conversas, o velho amigo, que aceitava ser questionado sobre qualquer convicção, deixou cair a frase com a qual viveu seus 85 anos.
Disse o monsenhor:— De radicalismo em radicalismo, você finalmente
aceitou alguma raiz! Agora você está pronto para crer na eternidade. Superou sua mania de respostas prontas.
E completou o moderno monge:— Por graça de Deus controlo…
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Catequese ao raiar do dia
meu temperamento,
meu equilíbrio físico, mental e afetivo,
minha ansiedade,
meu orgulho,
minha ira,
meus medos,
minha ambição,
meu instinto de procriação,
meu desejo de gratificação,
minha respiração,
minha pressão,
meu diabetes,
minha circulação,
meus músculos,
meu apetite,
minha vaidade de dizer que já me converti,
minha vaidade de afirmar que Deus fala comigo mais do
que aos outros,
mas, principalmente, controlo minha veleidade de ser mais
de Deus do que os outros.
Não ser o maior nem o pior. Não viverei o sonho de ser
oito ou oitenta! Se não puder ser o santo que sonho ser,
nunca direi que não sou nada! Nunca direi que sou um
grande zero à esquerda. Sou alguém e sou mais do que nin-
guém, mas estou longe de ser o melhor dos seres humanos.
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Pedra de contradição
Já se disse que Jesus e inúmeros profetas e pregadores antes dele eram pedras de contradição. Jesus teria lembrado que a pedra rejeitada pelos construtores se tornara a pedra angular. (Marcos 12,10).
Milhares de pregadores subiram em montes, caixotes, muros, púlpitos, palcos e até em cima de barcos, carroças e carretas com a convicção de que estavam levando a Palavra. Milhares ouviram as exortações de Jesus, profetizaram milagres estrondosos e acontecimentos que marcariam sua fala ao longo das gerações.
Queriam que Deus fosse amado. Queriam torná-lo conhecido com a convicção de que Jesus era Deus, que havia encarnado e se tornado humano. Mas era o mesmo e único Deus, que é Trino. No afã de explicar sua fé entusias-maram-se demais a ponto de se esquecer o mistério. Uma coisa é crer em um mistério movido pela fé e outra coisa é explicar esse mistério. Pois foi o que muitos fizeram. Deram algumas explicações plausíveis, mas, desejosos de aumentar suas assembleias, começaram a explicar o inexplicável.
Um deles, por volta do século XII, explicou que a era do Pai foi até Jesus Cristo. Com ele começou a era do Filho. Agora, há quem diga que esta é a era do Espírito
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Santo. Assim, o fiel que lê pouco de teologia, levado por pregadores empolgados, divide Deus em três atuações.
Caem em constantes contradições. Uma coisa é con-tradizer o mundo, e outra é contradizer Deus. Jesus podia dizer que nem tudo o que o mundo diz é certo, e é bom pensar que nem tudo o que um pregador entusiasmado diz a respeito de Deus está certo. Colorem Deus com cores que eles pintam e, depois, garantem que Deus tem exatamente a cor que projetam.
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Ecléticos demais
No Brasil há liberdade de culto. Qualquer um pode fundar uma igreja ou ser seu ministro. As exigências são pou-cas. Para advogado, juiz, engenheiro, professor, bioquímico e outras especializações exigem-se preparo intelectual e muito estudo.
Muitas igrejas primam pelos estudos, e há pregadores cultos e bem preparados. Mas há outro quadro. O dos que não estudam, não leem e anunciam a fé em Deus do jeito que acham, do jeito que ouviram. O fenômeno é mundial.
Por isso é comum ligar o rádio ou a televisão e ver pre-gadores cheios de fé a ensinar que Deus quis isso e aquilo porque é assim que a Bíblia falou. Alguns deles não têm o mínimo de escolaridade. Se um advogado, um juiz ou um professor universitário falasse daquela forma, seria repro-vado. Mas esses pregadores falam a milhares de ouvintes.
Recentemente, um se apresentou como pastor-padre; talvez tenha juntado os dois títulos para ganhar mais adep-tos. Eclético como se mostrava, certamente não era de uma das igrejas cristãs mais preparadas a pregar o evangelho. Para se apresentar daquela forma, deveria ter a sua igreja ou ter aderido a uma que não exigisse muito estudo. Fez uma mistura de cultos, de orações e de bênçãos que lembrava
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sopa de vinte legumes. Invocou as entidades espirituais que podia, prometeu curar por telefone após agendar uma consulta e listou umas vinte enfermidades que sua oração curaria.
Contudo, deixou claro que, se a pessoa não tivesse fé, era melhor nem telefonar. Disse que não teria tempo para devoto sem fé. Ele só poderia curar quem já viesse disposto a aceitar suas condições. Segundo ele, seu trabalho era sério. Quem tivesse dúvidas que não fosse até ele.
Imagine uma pessoa que marca uma consulta e ouve que não deve fazer perguntas sobre a especialidade e conhe-cimento do médico. Teria de ir aceitando de antemão qualquer resposta. Era exatamente isso o que o pregador propunha.
Fé supõe o mínimo de adesão, mas também o mínimo de preparo e de “desconfiômetro”. Se você não compra qualquer remédio preparado na farmácia da esquina, tam-bém não deve aceitar qualquer discurso preparado pelo pregador da esquina. Exija dele que não misture a Bíblia como se fosse o mais novo coquetel a ser servido.
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Se o mundo fizesse o mesmo
Valeu milhões de pontos o comportamento do Milan, time de futebol italiano. Nos primeiros dias de janeiro de 2013, o time saiu de campo e abortou a partida porque a torcida local ofendeu aos gritos um jogador negro. No Brasil, a lei levaria o grupo flagrado à prisão. Na Itália, tudo indica que o exemplo será seguido no futebol. O dono do Milan decidiu que seu time sairá de campo sempre que houver atitudes de racismo em suas partidas.
Na Índia, o povo começou um grande movimento em defesa da mulher vítima da violência e do estupro. Todo indica que a lei vencerá. Essa impunidade do macho desequilibrado tem seus dias contados.
Malala, a heroica menina que levou um tiro na cabeça por querer o direito de estudar sacudiu o Paquistão e o mundo. Fanáticos seguidores do Taleban, grupo fanático mulçumano responsável pelo ataque a Malala, assinaram sua sentença morte. Demore o tempo que for, mas a modernidade vencerá naquele país. Não acusemos os muçulmanos. Há países islâmicos onde as mulheres estudam em universidades, lecionam e até governam. E não esqueçam que o mundo deve muito à cultura islâmica. Leiamos nossos livros de História.
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A menina é guerreira. Mereceria ser condecorada em qualquer país do mundo. Brigava pelo direito de estudar desde os 11 anos. Foi barbaramente ferida aos 15 por igno-rantes que usam o Islamismo como escudo por sua inca-pacidade de dialogar. Recuperada, deixa claro que não vai desistir. Séculos atrás, mulheres indignadas mudaram seus povos. Hoje, outras arriscam tudo pelo direito da mulher. Em todos povos e religiões, as mulheres surpreendem com sua resistência moral.
Quem abusa da mulher, seduzindo-a ou a instigando a seduzir, é bom que saiba que milhões delas não vendem o corpo nem a mente. O homem terá que merecê-las, assim como tais mulheres fizeram por merecer o respeito que con-quistaram. Milhões são filhas, namoradas, futuras esposas e mães. Lutam por sua dignidade. Você conhece algumas dessas mulheres. Uma delas provavelmente é sua mãe.
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Bom de discurso e ruim de prosa
Algumas pessoas são boas de discurso e ruins de prosa; outras são capazes de segurar uma conversa durante duas horas, mas diante de um palco ou de um microfone ficam mudas: não acham as palavras.
Aconteceu muitas vezes e sei que acontecerá novamente. Preguei por cinquenta anos para multidões em microfones e palcos, mas frequentemente tenho dificuldade de me fazer ouvido numa mesa ou numa reunião de amigos. Há gente de boa conversa que atrai mais a atenção. Eu podia levar três horas cantando e falando num palco ou num estádio, mas tinha, e ainda tenho, dificuldade de terminar uma frase em uma reunião de família, de amigos ou na comunidade em festa. Não descobri a arte de intervir em uma discussão animada. Saber o momento de falar em família ou em comunidade não é a mesma coisa que saber falar para uma multidão. Lá, olham para mim para ouvir o meu discurso. Entre os amigos, não sei a hora de me fazer ouvir.
Bispos, padres, advogados, pastores e até artistas num debate entre amigos têm o mesmo problema. Preferem ouvir e falar pouco. Em grupo, sua conversa é menos inte-ressante. Há especialistas em comunicação que analisam esse fato: o que leva pessoas a serem boas de discurso e sofríveis de intervenção.
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Expliquemos nossas ênfases
Ênfases mal explicadas acabam em anticatequese. Por isso expliquemos, se preciso todos os domingos, que nossos acentos não podem confundir o povo. O essencial da fé precisa ser muito bem ensinado. Bento XVI, ao citar Romano Guardini, propõe a essencialização da fé. Isto é: não deve faltar na catequese o essencial.
No Brasil há muitos santuários ou templos meno-res dedicados à Santíssima Trindade e ao Espírito Santo; alguns, ao Pai Eterno; e muitíssimos, ao Filho. Há templos dedicados à memória, mas nenhum à adoração de Maria e a santos e anjos. Templos só podem ser dedicados à adora-ção a Deus. Os templos podem evocar os nomes de quem serviu a Deus com dedicação. Mas o altar não pode ser dedicado a eles. Nem faria sentido.
Sempre ouço alguém dizer que alguém está (ou foi) em romaria para adorar o Espírito Santo, o Cristo e o Pai; ou está em romaria para venerar Maria ou alguns dos servos de Deus. Sempre que posso, explico. Trata-se do mesmo Deus; e, no caso dos servos, trata-se de servidores que apontam o único Deus que há.
Muitos se esquecem disso. Falam como se adorassem três deuses. Sua cabeça está numa das três pessoas e não no único Deus que existe. Não vamos lá adorar o Pai Eterno,
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nem o Espírito Santo ou o Cristo separadamente. Como só existe um Deus, podemos ir lá adorar o único Deus, enquanto refletimos naquele templo sobre o mistério do Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Um casal de devotos de Maria e adoradores de Deus me dizia, numa paróquia onde preguei, que sua família tinha ido adorar o Pai Eterno em Goiás e ver o Bom Jesus na Lapa e planejava ir a algum santuário onde se adora o Espírito Santo. Franzi a sobrancelha e fiz um gesto de desaprovação com as mãos. Expliquei que nenhum católico deve falar desse jeito porque confunde a cabeça do fiel romeiro. Ninguém vai a um lugar de romaria para adorar a uma das três pes-soas da Santíssima Trindade. Não é possível! Seria heresia. Podemos adorar a Deus em qualquer lugar. Não é preciso ir a uma romaria para isso. O que podemos é contemplar em algum lugar o mesmo Deus, enquanto aprofundamos nossa reflexão sobre Ele. Aí, sim, podemos acentuar nossa disposição de querer saber mais sobre o Deus Trindade: Pai, Filho, Espírito Santo. Mas podemos fazer o mesmo por aqui. Se quisermos viajar para refletir mais, é nosso direito. Mas lá encontraremos o mesmo que aqui.
Lugares ajudam. É por isso que cristãos das mais diversas igrejas vão a Jerusalém. Mas que fique bem claro que nunca iremos achar o Espírito Santo num lugar, o Pai em outro e o Filho em outro. Soa estranho que alguém ainda tenha que lembrar ou ensinar isso. Mas, pelo que ouço na mídia e leio em algumas entrevistas, a linguagem de muitos traz ênfase confusa.
Li num cartaz o aviso de que no domingo seguinte o grupo de oração adoraria, naquele lugar, o Espírito Santo!
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Quem escreveu não sabia ou não se deu conta de que os cristãos são monoteístas. O fato de crer na Santíssima Trindade não significa que sejam três deuses: um mais idoso, outro jovem e outro que ninguém imagina o rosto. Muitos foram traídos pelos símbolos. Faltou quem lhes explicasse o que significa “mistério”.
O pão que sua criança desenha no papel não é pão de trigo: é representação de uma realidade. Muitos con-fundem o real com aquilo que se parece. Parecer não é ser! Deus é infinitamente mais real.
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Aquele piercing no nariz
É claro que não acontece a todo mundo, talvez acon-teça a uma entre dez mil pessoas, mas, se acontecer, ninguém poderá dizer que não foi avisado. O risco existe. Quando chegou aos 16 anos, Nájira – e ela me permite que eu conte – bateu os pés, insistiu, teimou, tanto teimou que dobrou pai e mãe: pôs um piercing no nariz, porque brinco na orelha e no umbigo ela já tinha.
Nájira não entendia porque tinha tanta necessidade de modificar o seu corpo ou de introduzir novidades nele. O fato é que não estava satisfeita com sua beleza física, a qual, diga-se de passagem, chamava atenção. Mas a menina insistia em chamar ainda mais. Teimou e começou a pas-sear com dois enormes brincos nas orelhas; na barriguinha de fora, dois piercings e mais um na narina direita. Bem que a mãe avisou que o nariz não era um órgão muito limpo, sujeito em caso de gripe aos maiores acidentes.
Nájira não quis saber. Tinha agora cinco piercings espalhados pelo corpo, além de três tatuagens. Ricardo, seu namorado, pediu a ela para não se tatuar mais nem colocar nenhum outro piercing. Ele pensava igual aos pais dela; porém, como Nájira não tinha obedecido aos pró-prios pais, Ricardo achava que, como namorado, consegui-ria ainda menos. Então, pediu em nome dos filhos que
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teriam, caso ficassem noivos e se casassem. Por Ricardo, a quem amava, Nájira cedeu.
Os brincos seriam de fácil remoção; se alguém os puxasse, não rasgariam suas orelhas. Com o piercing, porém, foi diferente. Um dia o bebê de sua amiga puxou-o, e foi sangue para tudo quanto é lado. A ferida deitou pus, apesar do socorro imediato, e o nariz inchou desmesuradamente, ficando deformado. E lá se foi Nájira reformar o narizinho, antes tão bonito. Mas ele não ficou igual. A operação plás-tica não deu o mesmo resultado que em outros casos, e a menina acabou por conformar-se.
Hoje ela conta aos amigos que, para colocar o pier-cing, pagou apenas 250 reais, mas consertar o estrago no nariz que ele provocou lhe custou 60 mil reais, dinheiro que o pai e a mãe não tinham. Quem custeou foram três amigas, o namorado, o pai do namorado e o médico, que gentilmente baixou o preço. Hoje, sempre que pode, Nájira conta na paróquia a sua desventura, terminando sempre com a frase: “eu achei que não entraria nas estatísticas, que não seria aquela entre dez mil, mas fui, então, se quiserem colocar algum pingente no corpo, que seja um que não lhes rasgue a carne”.
Nájira sabe que convencer uma adolescente a não colocar adereços no corpo é tentar o impossível. Mas o uni-verso feminino é feito de lindos e maravilhosos adendos que, às vezes, deixam marcas.
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A ilusão do corpo perfeito
Ainda não conseguiram transplantar cabeças nem corpos sarados. Muitos corpos são monumentais; as cabeças, nem tanto! Cultivam-nos do pescoço para baixo. Frequentam academias com assiduidade religiosa, mas pas-sam longe dos templos e das livrarias...
Médicos, psicólogos e terapeutas até incentivam homens e mulheres a terem corpos sarados. Sem exagero, o corpo do homem e da mulher pode ser trabalhado para que produza satisfação e saúde. Nosso corpo, por mais que nos dê problemas, é nosso e não de outro, assim como a pessoa não é transferível. Somos quem somos, junto com o corpo que vai se transformando. Ele pode melhorar ou piorar, mas não será de outro. Somos também esse corpo.
Mas há uma diferença entre corpo sarado – sadio e aceito – e corpo perfeito. Não se pode ser insatisfeito com o corpo. O que provoca insatisfação não é o corpo. É aí que começam os conflitos e os exageros.
Um pai, frustrado com a decisão da filha que deixou os estudos para malhar o corpo e competir em passarelas, convenceu-se de que sua beleza de Vênus lhe daria mais dinheiro que os livros ou outra profissão. Depois dos trinta e cinco, talvez os estudos lhe valessem! Agora, valia sua beleza estonteante.
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Catequese ao raiar do dia
Nem uma coisa nem outra! Apaixonou-se na Europa por um rapaz monumental e, dois anos depois, estava de volta em casa, com um aborto involuntário, uma interven-ção mal feita, uma paixão desfeita e a carreira frustrada. Seu agente não quis mais saber da moça porque ela não se cuidava. E, em menos de dois anos, sua beleza não mais empolgava. Entrou a paixão sem limites no caminho.
Do pai e dos tios veio a reflexão: “Amamos a ela do mesmo jeito, mas agora teremos de refazer essa beleza arruinada pelo excesso de corpo e pouco uso da cabeça”. Pensam que ela ficou irada? Não! Concordou que errara nas prioridades. A terapia e a volta à religião serena dos pais estão lhe devolvendo a alegria. Em poucos meses, ami-gos e familiares já percebem aquele rosto digno de capa de revista. Mas, agora, ela mesma diz que vai levar o cérebro junto!
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Jornalistas e padres cantores
Vez por outra pessoas como eu, que se dedicam à comunicação nas fileiras da Igreja Católica, são brindadas com comentários, a meu ver, desairosos, sobre nossa vida a serviço de quem crê.
No dia 10 de janeiro de 2015 um jornalista deu sua opinião, em um artigo, sobre a possível canonização de uma menina do Rio de Janeiro que, apesar da pouca idade, morrera em atitude consciente de caridade. Reportar e opi-nar são direitos do jornalista. Muitos deles morreram por essa franqueza. Da mesma forma que milhares de prega-dores da fé morreram por suas convicções. Só que nem os jornalistas estiveram certos em tudo o que disseram nem os pregadores. Mas muitos morreram por seu direito de opi-nar ou crer, fossem suas opiniões de direita, de esquerda ou neutras, se é que isso existe!
São profissões controvertidas. Lidam com palavras, notícias e emoções. Merecem respeito, exceto quando alguns homens da notícia e homens da fé faltam ao res-peito nos seus pronunciamentos.
Na citada reportagem, o articulista generalizou a respeito de padres-cantores. É o mesmo desrespeito demonstrado por religiosos ou políticos que colocam todos os jornalistas no mesmo balaio de gatos. Assim como há
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jornalistas que sabem lidar com as notícias, também há pregadores que sabem o que fazer com sua pregação. Nem todos os pregadores fogem da opinião politica ou de assun-tos sociais. Assim agiram papas nas últimas décadas, bispos e sacerdotes, independentemente do que cantavam. Tenho colegas que cantaram com coragem as dores do povo e os desafios dos políticos. Nem sempre foram leves e suaves na sua denúncia.
Dizer que todos os padres-cantores jogam na linha dos que evitam polêmicas, dizer que ser católico é algo tranquilo, sem dramas nem tragédias, e ainda por cima dizer que é a mensagem que a classe média pode aderir com facilidade é provocar a todos.
Provocar pode ser a missão de um jornalista e também pode não ser. Cunhar a expressão “catolicismo de padres--cantores” é ofensa. Não vivemos cinquenta anos para escu-tar isso sem reagir. Sei de jornalistas que arriscaram vida e trabalho por seus artigos. Nem todos foram light... Nem mesmo os padres-cantores. Cada qual escolhe como pregar, mas não é justo dizer que todos evitam questões sociais!
