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Causa e princípio explicativo do ser em Aristóteles (Metafísica VII, 17) Causa y principio explicativo del ser en Aristoteles (Metafísica VII, 17) Cause and explanatory principle of being in Aristotle (Metaphysics VII, 17) Barbara BOTTER 1 Resumo: O artigo tem como objetivo realizar uma análise acerca da função da causa formal na constituição das substâncias compostas. Para tanto, analiso o capítulo 17 do Livro VII da Metafísica, especialmente as linhas 1041b 12-25, nas quais Aristóteles utiliza o exemplo da sílaba para se aproximar da definição da forma como causa primeira do ser. O principal resultado desta investigação é mostrar que, no capítulo final do livro Zeta da Metafísica, Aristóteles entende a forma como a causa da transformação do conjunto material numa unidade substancial e como princípio de explicação dos compostos hilemórficos. Palavras-chave: Aristóteles – Metafísica – Forma – Explicação – Hilemorfismo. Abstract: The main topic of this paper is to study the role the form has in constituting composite substances. I will examine the chapter 17 of Metaphysics VII, especially the lines 1041b12-25, who Aristotle uses the example of syllable to show that form is the primary cause of being of sensible substances in that it causes them to be one. The main issue of this investigation is to show that, especially in the last chapter of Metaphysics Zeta, essence is closely identified by Aristotle to the form, which is in charge to transform the material elements into an essential unity and to explain the structure of hylomorphic substances. Keywords: Aristotle – Metaphysics – Form – Explanation – Hylemorfism. Estratto: L’obbiettivo principale di questo articolo è studiare il ruolo rivestito dalla forma come causa costitutiva delle sostanze composte. Esaminerò il capitolo 17 del libro VII della Metafisica, in particolare le linee 1041b12-25, in cui Aristotele usa ’esempio della sillaba per mostrare che la forma è la causa prima dell’essere delle 1 Professora efetiva do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-graduação em Filosofia (PPGFil) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: [email protected].

Causa e princípio explicativo do ser em Aristóteles (Metafísica VII

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  • Causa e princpio explicativo do ser em Aristteles (Metafsica VII, 17) Causa y principio explicativo del ser en Aristoteles (Metafsica VII, 17)

    Cause and explanatory principle of being in Aristotle (Metaphysics VII, 17)

    Barbara BOTTER1

    Resumo: O artigo tem como objetivo realizar uma anlise acerca da funo da causa formal na constituio das substncias compostas. Para tanto, analiso o captulo 17 do Livro VII da Metafsica, especialmente as linhas 1041b 12-25, nas quais Aristteles utiliza o exemplo da slaba para se aproximar da definio da forma como causa primeira do ser. O principal resultado desta investigao mostrar que, no captulo final do livro Zeta da Metafsica, Aristteles entende a forma como a causa da transformao do conjunto material numa unidade substancial e como princpio de explicao dos compostos hilemrficos. Palavras-chave: Aristteles Metafsica Forma Explicao Hilemorfismo. Abstract: The main topic of this paper is to study the role the form has in constituting composite substances. I will examine the chapter 17 of Metaphysics VII, especially the lines 1041b12-25, who Aristotle uses the example of syllable to show that form is the primary cause of being of sensible substances in that it causes them to be one. The main issue of this investigation is to show that, especially in the last chapter of Metaphysics Zeta, essence is closely identified by Aristotle to the form, which is in charge to transform the material elements into an essential unity and to explain the structure of hylomorphic substances. Keywords: Aristotle Metaphysics Form Explanation Hylemorfism. Estratto: Lobbiettivo principale di questo articolo studiare il ruolo rivestito dalla forma come causa costitutiva delle sostanze composte. Esaminer il capitolo 17 del libro VII della Metafisica, in particolare le linee 1041b12-25, in cui Aristotele usa esempio della sillaba per mostrare che la forma la causa prima dellessere delle

    1 Professora efetiva do Departamento de Filosofia e do Programa de Ps-graduao em Filosofia (PPGFil) da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES). E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]

  • COSTA, Ricardo da, SALVADOR GONZLEZ, Jos Mara (coords.). Mirabilia 21 (2015/2)

    Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Pennsula Ibrica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Pennsula Ibrica Medieval e Moderna (sculos XIII-XVII)

    Jun-Dez 2015/ISSN 1676-5818

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    sostanze sensibili in quanto causa del loro formare una unit. Il punto culminante della ricerca il tentativo di mostrare, specialmente nellultimo capitolo del livro in questione, che lessenza identificata con la forma, la quale trasforma gli elementi materiali in una unit essenziale e di spiegare la struttura hilemorfica delle sostanze. Parole chiave: Aristoteles Metafisica Forma Sostanza Hilemorfismo.

    ENVIADO: 04.09.2015 ACEPTADO: 04.10.2015

    ***

    I. Um novo comeo, por assim dizer Meu intuito em retomar o captulo 17 do Livro VII da Metafsica analisar o conceito de substncia como causa primeira da constituio dos entes naturais2 e articular as noes de forma e de matria para explicar a constituio das substncias hilemrficas. Minha anlise limitar-se- s linhas 1041a6-1042a3 da Metafsica de Aristteles, com uma ateno especial segunda parte do captulo. O sentido do termo substncia (ousia) remonta ao atribudo no captulo 3 do livro Zeta, e indica a substncia-de-algo. Por exemplo, a ousia de um animal distinta do sentido de substncia como sujeito ltimo de predicao, ou seja, como ente auto-subsistente. A distino entre os dois termos aparece no Incipit do livro Zeta. O sentido de substncia como ente auto-subsistente tambm surge em expresses como a rvore uma substncia ou este homem uma substncia; ao passo que ousia como substncia-de-algo o sentido especfico que indica uma causa que explica porque um determinado ente possui as propriedades que o determinam enquanto tal. Trata-se de investigar, por exemplo, a ousia da tragdia (Potica 1449b22-24).3 Esse sentido est presente em boa parte do captulo 17 e ser examinado detalhadamente no ltimo captulo. Em Metafsica, Zeta 3, Aristteles fornece trs possibilidades pelas quais se pode definir ousia como causa e princpio de uma substncia: 1) a forma, 2) a matria e 3) ambos. A primeira a mais promissora, mas tambm a mais problemtica. Por isso, o Estagirita posterga seu exame para o ltimo captulo do livro, no sem aps ter enriquecido a

    2 Esse ponto ressaltado especialmente em ANGIONI 2008, p. 327-350 e WEDIN 2000, p 405-448. Estou profundamente grata aos estudos esclarecedores desses dois autores que em suas respectivas brilhantes monografias forneceram uma rica exegese do livro VII da Metafsica e uma rica bibliografia, das quais fiz uso para o meu artigo. 3 Para a distino entre os dois sentidos de ousia, ver ANGIONI 2008, p. 23-25; WEDIN 2000, p. 363; CODE 1997, p. 357-358.

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    discusso com os resultados alcanados em Z 4-6 e Z 10-11 e Z 13. Nos captulos 4-6, Aristteles conclui que a forma, como essncia de uma substncia composta, no depende de outra essncia; nos captulos 10-11, a essncia privada de matria e, por fim, em Zeta 13, declara que uma essncia no composta de outras essncias em ato. Em Metafsica, Zeta 17, o filsofo faz um balano dos resultados anteriormente alcanados e enriquece a discusso com uma importante novidade: ao tratar da substncia (ousia) a partir de um ponto de vista diferente (1041a6-7), afirma que ela um princpio e uma certa causa (arch ka aitia tis) (1041a10):

    ,

    :

    . , . (1041a6-9) O qu e de que qualidade preciso dizer que a essncia, enunciamo-la novamente, tomando como que um outro princpio; pois talvez, a partir disso haver evidncia tambm a respeito daquela essncia separada das essncias sensveis.4

    O primeiro problema a ser discutido o da retomada (tomando como que um outro princpio) que Aristteles fornece em seu captulo, pois a definio da ousia como substncia-de-algo no surge aqui pela primeira vez. Poder-se-ia tratar do fato de que a ousia analisada agora como causa e princpio, mas isso j estava pressuposto (ANGIONI, 2008: 329). Aristteles atenua o sentido de novidade que o captulo anuncia. Com efeito, ele usa o

    termo : como () que um outro princpio.5 provvel que o captulo seja um desdobramento, mais do que um renovado incio da pesquisa. Contudo, evidente que algo novo deve ser acrescentado.6 A causa analisada em Z 17, principalmente, como um princpio explicativo. A substncia, enquanto causa, um terceiro item que explica a relao entre dois outros itens, cujas relaes so expressas numa predicao.

    4 As tradues do texto da Metafsica usadas para o presente artigo so de ANGIONI 2002 com a exceo das passagens em que especificado que a traduo do autor. 5 Esse particular destacado por FREDE e PATZIG 1988, vol. II, p. 308. 6 A novidade que Aristteles anuncia em Z 17 consiste em analisar a noo de causa nos termos de estrutura tridica da relao de causalidade, que Aristteles expe com mais detalhe no livro II dos Analticos Segundos (ANGIONI, 2008: 329).

    http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ti%2F&la=greek&can=ti%2F0&prior=dh=lonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C0&prior=ti/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=xrh%5C&la=greek&can=xrh%5C0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgein&la=greek&can=le%2Fgein0&prior=xrh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C1&prior=le/geinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28poi%3Do%2Fn&la=greek&can=o%28poi%3Do%2Fn0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ti&la=greek&can=ti0&prior=o(poi=o/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%5Cn&la=greek&can=th%5Cn0&prior=tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29si%2Fan&la=greek&can=ou%29si%2Fan0&prior=th/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=pa%2Flin&la=greek&can=pa%2Flin0&prior=ou)si/anhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Fllhn&la=greek&can=a%29%2Fllhn0&prior=pa/linhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%3Don&la=greek&can=oi%28%3Don0&prior=a)/llhnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29rxh%5Cn&la=greek&can=a%29rxh%5Cn0&prior=oi(=onhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=poihsa%2Fmenoi&la=greek&can=poihsa%2Fmenoi0&prior=a)rxh/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgwmen&la=greek&can=le%2Fgwmen0&prior=poihsa/menoihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=i%29%2Fsws&la=greek&can=i%29%2Fsws1&prior=le/gwmenhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ga%5Cr&la=greek&can=ga%5Cr0&prior=i)/swshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29k&la=greek&can=e%29k0&prior=ga/rhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%2Ftwn&la=greek&can=tou%2Ftwn0&prior=e)khttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29%2Fstai&la=greek&can=e%29%2Fstai0&prior=tou/twnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dh%3Dlon&la=greek&can=dh%3Dlon1&prior=e)/staihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C2&prior=dh=lonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=peri%5C&la=greek&can=peri%5C0&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29kei%2Fnhs&la=greek&can=e%29kei%2Fnhs0&prior=peri/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=th%3Ds&la=greek&can=th%3Ds0&prior=e)kei/nhshttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29si%2Fas&la=greek&can=ou%29si%2Fas0&prior=th=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28%2Ftis&la=greek&can=h%28%2Ftis0&prior=ou)si/ashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29sti%5C&la=greek&can=e%29sti%5C0&prior=h(/tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kexwrisme%2Fnh&la=greek&can=kexwrisme%2Fnh0&prior=e)sti/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tw%3Dn&la=greek&can=tw%3Dn1&prior=kexwrisme/nhhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ai%29sqhtw%3Dn&la=greek&can=ai%29sqhtw%3Dn0&prior=tw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29siw%3Dn&la=greek&can=ou%29siw%3Dn1&prior=ai)sqhtw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29pei%5C&la=greek&can=e%29pei%5C0&prior=ou)siw=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29%3Dn&la=greek&can=ou%29%3Dn1&prior=e)pei/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=h%28&la=greek&can=h%280&prior=ou)=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ou%29si%2Fa&la=greek&can=ou%29si%2Fa2&prior=h(http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29rxh%5C&la=greek&can=a%29rxh%5C0&prior=ou)si/ahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C3&prior=a)rxh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ai%29ti%2Fa&la=greek&can=ai%29ti%2Fa0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tis&la=greek&can=tis0&prior=ai)ti/ahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29sti%2Fn&la=greek&can=e%29sti%2Fn0&prior=tishttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29nteu%3Dqen&la=greek&can=e%29nteu%3Dqen0&prior=e)sti/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=metite%2Fon&la=greek&can=metite%2Fon0&prior=e)nteu=qen

  • COSTA, Ricardo da, SALVADOR GONZLEZ, Jos Mara (coords.). Mirabilia 21 (2015/2)

    Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Pennsula Ibrica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Pennsula Ibrica Medieval e Moderna (sculos XIII-XVII)

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    Por sua vez, Shields considera que o anncio desse novo comeo no deve ser levado ao p da letra, pois se trata de um tropo comum nos escritos de Aristteles e marca a passagem da anlise dos endoxa para a apresentao da doutrina do Estagirita (SHIELDS, 2009: 168 e 262). Por fim, Burnyeat acredita que o novo comeo retoma a pesquisa acerca das substncias no sensveis (Burnyeat, unpublished, apud WEDIN 2000: 408). A hiptese de Shields no justificada, pois um novo argumento , de fato, apresentado. Mais que isso: a argumentao anterior no se restringe ao exame dos fenmenos ou apresentao dos endoxa. A proposta de Burnyeat tambm pouco provvel, como argumenta Wedin, que a considera implausvel.7 II. A busca pelo porqu (dia ti) Em seguida, e aparentemente sem qualquer justificativa, o filsofo passa das noes de causa e princpio questo do porqu (dia ti). De fato, as noes de causa e de princpio se justificam quando respondem satisfatoriamente questo dia ti.

    , .

    , .

    ,

    ,

    , . (1041 a9-14) Ora, uma vez que a essncia certo princpio e causa, a partir daqui que se deve examin-la. Procura-se o por qu sempre do seguinte modo: por que uma coisa se atribui a outra? Pois investigar por que homem culto culto, ou investigar do modo mencionado por que o homem culto ou outra coisa.

    Vrias vezes o Estagirita destaca a identidade da busca pela causa (aition) com a questo do porqu (dia ti)8, pois considera que a razo pela qual algo indica uma das causas.9 Na

    7 First, Z 17 contains nothing that could be taken to give the cash value of the supposed renewed search for nonsensible beings. Second, Aristotle identifies the new start (...), when he charges us to begin with the fact that substance is a principle and a cause de some kind (WEDIN, 2000: 406-407). 8 Arist., Phys. II 7, 198a15; 31-33; b4-9; A Po II 2, 90a5-7. Na Fsica, Aristteles assimila o dia ti com a causa primeira (ten proten aitian) (Phys. II 3, 194b19-20; 198a14-16). Nos Segundos Analticos, depois de ter identificado a busca pela causa (aition) com a questo (dia ti), Aristteles acrescenta que quando se procura o dia ti, se procura o termo mdio (A Po II 2, 90a1 e 90a6-7). 9 Ver ANGIONI, 2008: 333.

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    Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Pennsula Ibrica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Pennsula Ibrica Medieval e Moderna (sculos XIII-XVII)

    Jun-Dez 2015/ISSN 1676-5818

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    passagem citada, Aristteles impe uma condio busca pela causa uma condio, que Wedin denomina Distinctness Condition. Com efeito, na busca pela causa necessrio distinguir, ao menos, dois termos e explicar por que um pertence ao outro. O filsofo explica que a questo por que um homem culto um homem culto pode ser desenvolvida em duas direes distintas, das quais uma parece levar a uma aporia sem sada. A primeira opo de se interpretar a questo no sentido por que um homem culto. Essa opo razovel, alis, respeita a condio de distino. A segunda opo descrita logo em seguida, na linha 1041a14:

    , Assim, investigar por que uma coisa ela mesma consiste em nada investigar.

    Qual a razo que torna essa opo suspeita? Em primeiro lugar, ela no respeita a condio de uma distino, o que certo, mas insuficiente. preciso ainda explicar por que o fato de no respeitar a condio de uma distino leva aporia. Prossigo com a passagem:

    ,

    (

    ' , ,

    ,

    , -

    , '

    ) (1041a14-20) Assim, investigar por que uma coisa ela mesma consiste em nada investigar (pois preciso que se apresentem como j evidentes o que o ser por exemplo: que a lua sofreu eclipse mas que a prpria coisa ela mesma, o mesmo argumento e uma nica causa para todos os casos: por que o homem homem ou o culto culto; a no ser que algum afirme que cada coisa indivisvel consigo mesma, e que isto seria o ser uno; mas isso sucinto e comum a todos os casos).

    Aristteles explica que quando se coloca uma questo desse tipo, simultaneamente algo pressuposto (pois preciso que se apresentem como j evidentes o que o ser por exemplo: que a lua sofreu eclipse). Logo, sob o pressuposto de que h uma relao j apreendida (ou ao menos suposta) entre dois itens, preciso, em seguida, desarticular essa relao e perguntar qual o item que a justifica. Em outros termos: se o fato apreendido X, no faz sentido indagar por que X X, pois o objetivo da questo dia ti o de alcanar uma explicao do fato apreendido. Para isso, preciso desarticular X

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    Medieval and early modern Iberian Peninsula Cultural History (XIII-XVII centuries) Cultura en la Pennsula Ibrica Medieval y Moderna (siglos XIII-XVII) Cultura na Pennsula Ibrica Medieval e Moderna (sculos XIII-XVII)

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    em seus itens constituintes. Por exemplo, Y e Z. Caso contrrio, a anlise no pode avanar em direo alguma. Forneo dois exemplos. Dado X como pressuposto, sendo X homem-culto, duas so as alternativas possveis: 1) perguntar por que o homem (Y) culto (Z), e 2) perguntar por que X X, ou seja, por que um homem culto um homem culto, logo, por que uma coisa si mesma. O segundo exemplo : se X rosa-vermelha, posso perguntar: 1) por que a rosa (Y) vermelha (Z), ou 2) por que X X, ou seja, por que a rosa-vermelha rosa-vermelha, logo, por que uma coisa si mesma. Aristteles lamenta que a alternativa 2 no pretende oferecer qualquer explicao (consiste em nada investigar), pois uma questo acerca do por qu tem como objetivo explicar a causa de algo, e a causa prpria de cada ente investigado, como distintos fatos apreendidos em diferentes investigaes. E j que preciso que se apresentem como j evidentes o que o ser, o fato apreendido especifica o que deve ser explicado e o diferencia de outras investigaes. Porm, na alternativa 2 o item o mesmo para todos os casos investigados (por que uma coisa ela mesma). Assim, no h delimitao do domnio da investigao ( o mesmo argumento e uma nica causa para todos os casos). Mais uma vez, a alternativa 2 consiste em nada investigar.10 O mesmo discurso valido no caso das substncias hilemrficas:

    '

    .

    ,

    ( ' ,

    , ),

    ; ;

    ' . ,

    , ; (1041a20-27) Por outro lado, plausvel que algum investigue por que o homem um animal deste tipo. Isto, ento, evidente, a saber: ele no investiga por que homem aquele que homem, mas algo de algo por que algo atribudo a algo (e preciso que seja evidente o

    10 Minha leitura fiel a interpretao de WEDIN, 2000: 410-412.

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    que atribudo: pois, se no for assim, no se investiga nada). Por exemplo, por que troveja? Por que ocorre um estrondo nas nuvens? aquilo que se investiga algo que se afirma de outro modo. E por que estas coisas tijolos e pedras so uma casa?

    Se nessa passagem Aristteles se vale dos discernimentos dos Analticos Posteriores (II, 2 e II, 8) o que muito provvel, pois utiliza os mesmos exemplos o que aqui investigado a causa (ou termo mdio) pela qual os elementos constitutivos de uma substncia composta formam uma unidade substancial.11 O ponto que merece ser destacado que, aps ter formulado os exemplos, Aristteles reitera que todo fato a ser explicado pressupe uma relao entre dois itens, e o objeto da investigao a causa dessa relao. No caso do trovo ou do eclipse (tambm presentes nos Analticos), a causa da relao entre os itens constitutivos uma causa eficiente extrnseca natureza dos fenmenos. Em Metafsica, Zeta 17, pelo contrrio, a causa procurada uma causa intrnseca, embora tambm a causa eficiente seja mencionada. Essa observao impede que a justaposio entre os dois textos seja imediata. Alm da diferena de nfase entre as causas investigadas (em um caso, as causas eficientes, em outro, as causas formais), nos Segundos Analticos Aristteles no manifesta um interesse explcito pelo hilemorfismo, e o tratamento da matria no encontra um terreno frtil. Pelo contrrio, em Metafsica, Zeta, ele delimita sua investigao s substncias dos compostos de forma e de matria.12 III. Uma questo, diferentes respostas Nas linhas 1041a28-32, o filsofo indica os casos em que as causas diferentes satisfazem a questo dia ti.

    ' , ,

    ' , ' ,

    ' .

    , . (1041a28-32) evidente que a busca pela causa, a qual a essncia (to ti en einai) de um ponto de vista mais geral e, em alguns casos, a causa final, como acontece, sem dvida, no caso da casa ou da cama; em outros casos, o que primeiro move. Pois tambm isto causa. No entanto, a causa desse tipo procurada apenas quando se trata da gerao e da corrupo,

    11 Para a relao entre a Metafsica VII, 17, e os Analticos Posteriores II, ver ANGIONI, 2008: 333-338. 12 WEDIN, 2000: 414-416.

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    ao passo que a outra procurada mesmo quando se trata do ser (thateron de kai epi tou einai) (a traduo de Angioni, com modificaes nossas).

    Com relao expresso to ti en einai (o que um ente ) estou de acordo com o texto dos manuscritos e discordo da leitura de Alexandre de Afrodisia e a interpretao de Jaeger13, que optam por colocar a frase entre parnteses. Parece foroso me ater ao texto dos manuscritos, pois a identificao entre causa e essncia confirma a hiptese de que to ti en einai (a essncia ou a forma) de uma substncia composta no pode ser ousia, a no ser que seja causa. A primeira acepo no oferece maiores problemas: a causa o que era o ser (a essncia)14 de um ponto de vista geral (hos eipein logikos). Prefiro traduzir logikos como de um ponto de vista geral, embora a traduo literal adotada por Wedin e Angioni seja, respectivamente, to speak logically e de um ponto de vista lgico. Estou de acordo com os estudiosos que defendem que, nessa passagem, Aristteles faz aluso aos captulos 4-6 do livro Zeta, em que desenvolve importantes consideraes lgicas. Porm, me parece que, nesse contexto, a diferena entre a primeira e as outras causas mencionadas seja que to ti n einai, causa quando no se relaciona diretamente com os princpios de uma cincia especifica. Em seguida, o Estagirita detalha que a causa to ekinese proton (o que primeiro move) nos compostos extrnsecos15, como o caso do eclipse ou do trovo.16 Nestes casos, a causa

    13 JAEGER (1957) coloca a frase entre parnteses, seguindo o texto de Pseudo Alexandre. O interesse de Alexandre o de destacar a importncia do principio motor (to kinesan, ad 1041b4), em um sentido teleolgico (ho polymnetos theos, ad 1041a10). 14 Aristteles formula aqui a equivalncia entre a forma e aquilo que o ser (to ti n einai) ou, mais precisamente, o enunciado daquilo que o ser . Como explica Angioni, embora o fraseado desta expresso seja estranho, a noo de aquilo que o ser pode ser entendida como equivalente noo aristotlica de definiens: trata-se do conjunto de propriedades necessrias e suficientes para caracterizar o que algo em sua essncia (quanto idiossincrasia da expresso, basta dizer que se trata de substantivao da pergunta o que o ser [para tal coisa], sendo o uso do imperfeito n apenas o resqucio de um hbito dialtico, pelo qual se remete ao que antes foi dito (ANGIONI, 2009: 102; cf. JOHNSON, 2005: 48). Em vrios contextos, aquilo que o ser estritamente associado definio (logos ou horismos, cf. Metaph. 1030a 6-7, DA 412b 15-6), e, em vrias passagens da Metaph. 1032b 1-2, 1035b 14-6, do DA 412a 19-20, b 10-11 e outras obras, Aristteles parece pressupor como dado trivial, j assimilado pelos seus ouvintes, a equivalncia entre forma e aquilo que o ser . 15 Entendo a distino entre compostos extrnsecos e entes simples na maneira seguinte: no caso dos compostos, a composio entre seus elementos no pode ser determinada pela natureza de cada um deles (ANGIONI, 2009: 338); ao passo que no caso dos entes simples, a causa final coincide com a

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    que justifica a existncia dos fenmenos tambm causa eficiente. Se o definiendum um ente gerado, no basta enunciar a causa formal, mas acrescentar a causa eficiente. No caso do trovo, por exemplo, no basta afirmar que se trata de um barulho nas nuvens, preciso acrescentar ainda que o barulho produzido pela extino do fogo. Finalmente, a causa tinos eneka (ou em vista de que, ou causa final), quando no necessrio levar em conta o vir a ser dos entes, a gerao, a corrupo e o movimento17. importante observar que, nesse contexto, kai (linha 1041a32) relevante. Traduzi: a causa desse tipo procurada apenas quando se trata da gerao e da corrupo, ao passo que a outra procurada mesmo quando se trata do ser (thateron de kai epi tou einai). A outra causa no pode se relacionar apenas com a causa final em sentido estrito. A meu ver, trata-se da combinao da causa final e da causa formal, pois tal combinao est na origem das frequentes explicaes teleolgicas da Metafsica. De acordo com Angioni, para as substncias constitudas de matria e de forma, a causa mais relevante a causa final, pois ela explica no apenas o vir a ser do ente, mas tambm o ser para o ente, isto , a ousia enquanto causa que justifica a razo pela qual tais e tais materiais possuem as caractersticas que os tornam aptos a realizar suas funes. Acrescenta o autor: A forma, a ttulo de causa final organiza uma srie concatenada de propriedades necessrias e suficientes para a efetividade das funes que os caracterizam [que caracterizam os materiais] (ANGIONI, 2009: 228).18

    forma e a funo, ou seja, com a natureza do ente, entendida como princpio intrnseco de movimento (ANGIONI, 2009: 339). 16 A distino entre dois tipos de entes usada por CHARLES (2000: 286) e ANGIONI (2009: 337-338). Angioni, porm, avana tambm na hiptese de que Aristteles se refere somente a contextos heursticos diversos (p. 337). 17 Minha leitura est de acordo com a interpretao de ROSS (1924, vol. II: 223). Contudo, importante ressaltar que o resultado de uma interpretao do texto aristotlico (h dvidas acerca da

    atribuio das locues e ). De acordo com Ross, what first moves est referido this sort of cause, e a referncia causa eficiente, ao passo que the other cause a causa final. Frede e Patzig (1988, vol. II: 313-314) fornecem uma leitura diferente. De acordo com eles, this sort of cause une a causa final motora, ao passo que a outra causa seria a essncia (to ti en einai). Para uma discusso dos problemas trazidos por ambas as leituras ver WEDIN, 2000: 416-418. O que certo que Here it is the form, and not the end, that emerges as top dog. So even were one to adopt the telic interpretation of the section, in the end of Z 17 gives explanatory prominence to the essence as a formal cause (WEDIN, 2000: 418). 18 A ambivalncia entre causa final e formal ilustra justamente o papel da forma como causa intrnseca, isto , como causa capaz de determinar sua prpria composio com um conjunto de materiais adequadamente determinados segundo as propriedades requisitadas. A funo de ser um

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    IV. A busca pela essncia e pela causa A seguir, o filsofo reconhece a dificuldade de se encontrar uma resposta para a busca pela essncia, e ressalta a relevncia da busca pela causa:

    ,

    .

    : ,

    . (1041a32-b5) E aquilo que se investiga passa despercebido sobretudo no caso dos que no se dizem um do outro. Por exemplo: investiga-se o qu homem pelo fato dele ser expresso de maneira simples, mas no se delimitar que estas coisas aqui so isto. No obstante, preciso investig-lo aps desarticul-lo. Caso contrrio, sucederia algo comum ao investigar algo e nada investigar.

    De acordo com Bostock, nessa passagem Aristteles identifica a causa (dia ti) com a essncia (ti esti): Aristotles first tought now is that it [what is man?] is the question why is a man a man? (BOSTOCK, 1994: 243-244). A justificao fornecida pelo estudioso que a resposta s duas questes a mesma. Como destaca Wedin, dificilmente a resposta s duas questes coincide: The first is satisfied by giving the definition of the species, and so Will include both form and matter (...); whereas the second is answered by giving, in the appropriate way, the form only (WEDIN, 2000: 419). mais provvel que Aristteles tenha substitudo uma questo pela outra ao invs de identificar as duas. A nica reserva que o filsofo nutre com relao questo ti esti que, se no for desarticulada, remontar aos casos j discutidos nas linhas iniciais do captulo 1041a13-14. Mais: se as duas questes pudessem ser reduzidas a uma s, o captulo perderia sua caracterstica distintiva, isto , que a presente argumentao, embora ligada s reflexes anteriores, constitui um novo comeo. A razo dessa novidade se torna manifesta nas linhas que seguem:

    abrigo, como forma da casa, a causa pela qual se explica por que os tijolos e madeira tm tais e tais propriedades que os tornam uma casa (ANGIONI, 2009: 341-342).

    http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=lanqa%2Fnei&la=greek&can=lanqa%2Fnei0&prior=ei)=naihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C5&prior=lanqa/neihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ma%2Flista&la=greek&can=ma%2Flista0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C11&prior=ma/listahttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtou%2Fmenon&la=greek&can=zhtou%2Fmenon1&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29n&la=greek&can=e%29n1&prior=zhtou/menonhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=toi%3Ds&la=greek&can=toi%3Ds1&prior=e)nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C2&prior=toi=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kat%27&la=greek&can=kat%271&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29llh%2Flwn&la=greek&can=a%29llh%2Flwn0&prior=kat%27http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=legome%2Fnois&la=greek&can=legome%2Fnois0&prior=a)llh/lwnhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=oi%28%3Don&la=greek&can=oi%28%3Don0&prior=%5dhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Fnqrwpos&la=greek&can=a%29%2Fnqrwpos0&prior=oi(=onhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ti%2F&la=greek&can=ti%2F0&prior=a)/nqrwposhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=e%29sti&la=greek&can=e%29sti0&prior=ti/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtei%3Dtai&la=greek&can=zhtei%3Dtai0&prior=e)stihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dia%5C&la=greek&can=dia%5C0&prior=zhtei=taihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%5C&la=greek&can=to%5C0&prior=dia/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%28plw%3Ds&la=greek&can=a%28plw%3Ds0&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=le%2Fgesqai&la=greek&can=le%2Fgesqai0&prior=a(plw=shttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lla%5C&la=greek&can=a%29lla%5C0&prior=le/gesqaihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%5C&la=greek&can=mh%5C0&prior=a)lla/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=diori%2Fzein&la=greek&can=diori%2Fzein0&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=o%28%2Fti&la=greek&can=o%28%2Fti0&prior=diori/zeinhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ta%2Fde&la=greek&can=ta%2Fde0&prior=o(/tihttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=to%2Fde&la=greek&can=to%2Fde0&prior=ta/dehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29lla%5C&la=greek&can=a%29lla%5C1&prior=to/dehttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=dei%3D&la=greek&can=dei%3D0&prior=a)lla/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=diarqrw%2Fsantas&la=greek&can=diarqrw%2Fsantas0&prior=dei=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtei%3Dn&la=greek&can=zhtei%3Dn0&prior=diarqrw/santashttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ei%29&la=greek&can=ei%290&prior=zhtei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=de%5C&la=greek&can=de%5C0&prior=ei)http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mh%2F&la=greek&can=mh%2F0&prior=de/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=koino%5Cn&la=greek&can=koino%5Cn0&prior=mh/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3D&la=greek&can=tou%3D0&prior=koino/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=mhqe%5Cn&la=greek&can=mhqe%5Cn0&prior=tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtei%3Dn&la=greek&can=zhtei%3Dn1&prior=mhqe/nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C0&prior=zhtei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=tou%3D&la=greek&can=tou%3D1&prior=kai/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=zhtei%3Dn&la=greek&can=zhtei%3Dn2&prior=tou=http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=ti&la=greek&can=ti0&prior=zhtei=nhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=gi%2Fgnetai&la=greek&can=gi%2Fgnetai0&prior=ti

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    : ;

    . ,

    .

    ( : . (1041b5-8) evidente que se investiga por que a matria algo determinado. Por exemplo, por que estas coisas constituem uma casa? Porque lhes ocorre aquilo que era ser casa. E por que isto um homem, ou por que homem o corpo que comporta isto? O que se investiga a causa da matria (e esta a forma), pela qual ela algo determinado: e esta causa a essncia.

    O novo comeo determinado pela interpretao da essncia em seu papel causal e explicativo. Nesse sentido, a substituio da questo o que homem pela questo por que esses materiais so determinados de modo a integrar um homem fundamental para a economia do texto. As linhas 1041b7-9 especificam o tipo de causa investigada nos compostos hilemrficos. Por conseqncia, se procura a causa da matria (to aition tes hules) e esta a forma (eidos) graas qual a matria algo determinado (ti). E esta a substncia (touto d'he ousia). As linhas citadas confirmam que a forma (eidos) ousia de uma substncia composta apenas na condio de ser sua causa. Aition, nesta passagem, possui um sentido forte.19 Trata-se da causa que explica algo aparentemente no suscetvel de explicao: por que algo aquilo que , a identidade do o que . A questo no tautolgica caso seja formulada da seguinte forma: por que o ser humano um animal de tal e tal tipo? (ver 1041a10-27). A expresso de tal e tal tipo indica o que o ser humano essencialmente . O termo mdio que justifica por que o ser humano um animal de tal e tal tipo a forma (eidos). Como funo ou conjunto de funes, a forma explica por que o homem, definido por suas funes, tem uma matria caracterizada por tais e tais atributos (ANGIONI, 2008: 343).20

    19 Se trata do porqu ltimo (Phys II 7, 198a16-18), da causa primeira (II 3, 194b20), ou prxima (Metaph. VIII 2, 1044b1 ; II 4, 195b22). 20 As noes de ergon e energeia nesse contexto da Metafsica so indagadas por ANGIONI (2008).

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    V. A unidade de um amontoado de partes e a unidade da slaba Adentro, finalmente, no mago do captulo. Por isso, interessa-me refletir mais detidamente acerca das diferentes funes da forma e da matria no composto hilemrfico.

    ,

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    : . (1041b11-27). O que composto de alguma coisa (syntheton), de modo que o todo constitua uma unidade (hen einai to pn), no semelhante a um montinho (soros), mas a uma slaba. E a slaba no s os elementos (ta stoicheia) das quais formada, nem ba idntico a b mais a, nem a carne simplesmente fogo mais terra. De fato, uma vez que os compostos, isto , a carne e a slaba, tenham se dissolvido, no existem mais, enquanto as letras, o fogo e a terra continuam existindo. Portanto, a slaba algo irredutvel apenas s letras, ou seja, s vogais e s consoantes, mas algo diferente delas (eteron ti), assim como a carne no s fogo e terra, ou quente e frio, mas tambm algo diferente deles. Ora, se tambm esse algo fosse um elemento ou um conjunto de elementos, ocorreria o seguinte: se fosse um elemento, valeria para ele o que dissemos antes (a carne seria constituda desse elemento com fogo e terra e de algo diverso, de modo que iramos ao infinito); se fosse, pelo contrrio, um composto de elementos, seria, evidentemente, composto no s de um nico elemento, mas de mais elementos (do contrrio, estaramos ainda no primeiro caso), de modo que deveramos repetir tambm a respeito do que dissemos a respeito da carne e da slaba. Por isso se pode afirmar que esse algo no um elemento, mas a causa pela qual determinada coisa carne, esta outra silaba (kai aition ge tou einai todi men sarka todi de sullaben), e assim para todo o resto.

    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    O raciocnio comporta duas partes: na primeira, a unidade de uma substncia composta no dada apenas por seus elementos materiais, mas determinada por algo diferente (eteron ti); na segunda, esta outra coisa no pode ser um elemento nem um conjunto de elementos, pois deve cumprir uma tarefa formalmente diferente daquela dos elementos na substncia, isto , a de causa e de princpio, o que justifica que esta outra coisa no possa ser um elemento. No incio da argumentao, Aristteles apresenta uma oposio entre dois tipos de unidade: a de um amontoado de elementos materiais e a prpria da slaba. Mesmo que o contraste seja mencionado em um enunciado inconcluso, no h dvidas entre os intrpretes acerca da leitura da passagem: trata-se do estabelecimento de uma oposio entre uma unidade acidental e uma constitutiva. Embora as interpretaes divirjam, quando se trata de estabelecer a relevncia e o sentido do contraste para o estudo das sustncias hilemrficas elas so concordantes. D. Ross, M. L. Gill, T. Scaltsas e K. Fine21 leem a passagem como se estivesse presente a contraposio entre uma genuna unidade e um conjunto ou soma de elementos. Fine interpreta da seguinte forma: a heap of sand or a mere aggregate will be a formless sum an aggregate will be the sum of its various components (FINE, 1995: 291-292). Aristteles rejeita a hiptese de que a slaba seja constituda pela soma de suas letras, pois se a slaba for removida, as letras permanecem. Logo, a diferena entre o amontoado de elementos e a slaba pode assim ser lida: se o amontoado (soros) pensado como uma soma de elementos (x+y+z), para ele existir necessrio e suficiente que todos os seus elementos estejam presentes. Com efeito, a unidade da soma depende da presena dos elementos que a constituem. No entanto, isso no vale para uma silaba. O que garante a sua existncia no apenas a presena de todas as letras. No caso da slaba, os componentes so condio necessria, mas no suficiente, para sua existncia pois, com a remoo da slaba, as letras permanecem (1041b15). Logo, a slaba formada pelas letras e um fator suplementar (x). Esta dicotomia funciona caso o amontoado seja concebido como uma soma de elementos. Contudo, isso no pode ser correto. Como explica Wedin, ... a mereological

    21 ROSS (1924, vol. II: 221) The syllable is not identical with its letters; SCALTSAS (1994: 113): an aggregate is identical to the totality of its parts. Cf. FINE (1995: 291-292); GILL (1989: 243); BOSTOCK (1994: 302).

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    sum exists if its elements exist. (...). There is no more to be said. In particular, it does not matter where the elements are located or in what, if any, relations they stand to other things. However, this means, pace Fine and company, that heaps cannot be mere mereological sums (WEDIN, 2000: 442-443). Com efeito, possvel formar um amontoado de gros de areia e em seguida desfaz-lo. Embora no seja mais possvel falar de um amontoado, ainda podemos somar os gros de areia. Logo, a presena em maior ou menor grau dos elementos no condio que permite diferenciar a unidade acidental da substancial. O agregado no uma slaba, mas assim como a slaba, necessita da presena de um fator suplementar x. Nesta altura, o filsofo se questiona acerca da natureza do fator x, e conclui que x no pode ser um elemento, pois os elementos esto presentes no ente como matria (1041b31-32), ao passo que o fator x no material. Talvez seja possvel pensar o fator no material como disposio dos elementos. Se for assim, a diferena entre os dois tipos de unidade consiste no fato de que, no amontoado, os elementos materiais podem se encontrar em uma posio qualquer no interior do conjunto e a relao entre eles ser, assim, puramente acidental. Na slaba, ao contrrio, necessrio respeitar a ordem e a sucesso das letras tanto na silaba quanto na palavra. Contudo, essa mnima diferena no destaca a importncia do que Wedin chama differential unity da slaba e dos compostos orgnicos que a slaba representa. Wedin observa: But, it is hard to see this as anything but question-begging, for why should all c-unities [unidades substanciais] have the arrangement appropriate for syllables? (WEDIN, 2000: 443). Recordo brevemente agora os resultados obtidos. A slaba no uma soma de elementos, mas a presena dos elementos necessria para a formao da slaba. As letras, na slaba, respeitam uma ordem e disposio, mas no caso da slaba o fator suplementar no consiste apenas na disposio externa dos elementos. Alis, a disposio algo que pode ser acrescentado aos elementos. Aristteles anuncia, na parte inicial do captulo, que o fator que ali est sendo investigado deve explicar por que a matria se encontra numa condio tal que constitui uma unidade substancial (ousia). Na slaba, o fator x deve indicar no apenas a ordem dos elementos, mas, sobretudo, por

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    que a slaba so em Scrates diferente de s e o em Aristteles e diferente de s e o em Demstenes. VI. O papel da matria na unidade substancial A unidade da silaba no a unio extrnseca de um amontoado de elementos, mas a unidade dos compostos hilemrficos problemtica por causa da contribuio da matria para aquilo que eles so (GILL 2003, p. 188). A anlise hilemrfica mostra que a matria ameaa a unidade de qualquer substncia gerada, pois o ente parece constitudo de duas partes originrias e distintas, a matria e um fator no material, ambos constitutivos de sua natureza. A matria possui uma natureza distinta da do fator no material, visto que sobrevive destruio do composto. E se as letras e as slabas tm condies diferentes de persistncia no ser, a relao entre a matria e o fator suplementar parece puramente acidental. A sugesto de Wedin a de refletir acerca da relao entre o captulo 17 e os outros captulos do livro Zeta, For if, as we claim, earlier results anticipate forms causal role in Z.17, then earlier contraints should inform discussion (WEDIN, 2000: 444). De acordo com o autor (e com outros exegetas como, por exemplo, Marie Louise Gill22), necessrio lembrar aqui a distino que Aristteles apresenta em Metafsica Zeta 10 entre dois tipos de matria, isto , a matria funcional e a matria constituinte, esta ltima situada num nvel inferior, que Wedin denomina matria residual23: It will be helpful to remind ourselves of the distinction in Z.10 and 11 between those of a things parts that are remnant parts and those that are functional parts. The first, but not the second, are the parts into which the thing resolves upon passing away. So they correspond to the sort of letters Aristotle has in mind in Z.17 (WEDIN, 2000: 444). A matria funcional a matria do ente informada pela forma do ente e, no contexto de Zeta 17, isso significa que a natureza da matria est inteiramente determinada pela forma do ente realizado.24 A distino entre os dois tipos de matria , talvez, uma conseqncia do fato de que Aristteles parece ser ambguo, nos captulos 10 e 11, a respeito da incluso da matria

    22 Ver GILL 2003: 189. 23 Ver WEDIN, 2000: cap. VIII, especialmente a pgina 434. 24 Explica M. L. Gill: A matria funcional inclui partes no-uniformes, como mos e ps, que so organizados no corpo orgnico em seu todo, e so determinados pela forma do composto em seu todo (GILL, 2003: 189). Ver Metafsica Z 10 e 11.

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    na definio das substncias compostas de matria e de forma (ANGIONI, 2008: 247, n. 18). Outros exegetas diferenciam substrato e matria persistente (COHEN, 1984: 190-193), ou em corpo orgnico e corpo no orgnico (SHIELDS, 1993: 10-12). Penso que a melhor soluo seja a fornecida por Whiting, que sugere que o filsofo distingue o corpo orgnico e uma grande quantidade de elementos que constituem o corpo orgnico (WHITING, 1992: 76). importante ressaltar que a configurao dos elementos ao formarem o corpo orgnico contingente a eles. Portanto, os mesmos conservam suas caractersticas essenciais. No caso da slaba, a distino entre as duas configuraes se d desta forma: quando a slaba no existe, as letras continuam a existir e as que permanecem aps o fim da silaba so a matria que Wedin denomina remnant parts (WEDIN 2000, p. 444). Porm, isoladas da slaba ba, b e a no existem como existiam quando eram partes constituintes da slaba, pois as partes orgnicas ou funcionais no podem existir em ato na substncia. Eis a razo pela qual a simples disposio no pode ser um fator suplementar. The arrangement is not enough, if it leaves untransformed the elements arranged (WEDIN, 2000: 446).

    Aristteles destaca que os elementos adquirem na slaba a funo , ou seja, fnico e fono na slaba. O valor fontico de cada um diferente, prprio, e s tem valor na slaba. E aps sua dissoluo, nenhuma das letras exerce a funo que exercia nela. Como parte constituinte da slaba ba, o fnico e o fono correspondem matria orgnica nos animais, e esta matria desaparece com a morte do animal.25 Os elementos materiais so parte da substncia. Contudo, existe uma diferena marcante na forma deles existirem quando informados pela forma e ao permanecerem aps a dissoluo da substncia da qual so parte. Um cadver no um corpo sem alma, mas um corpo apenas de nome (Mteor. 12, 389b31). O princpio de homonmia confirma que a relao no organismo entre a matria orgnica e a forma no puramente acidental.26 If this is correct, it flows not just that a syllabe is the elements plus

    25 No caso de um vivente natural, os elementos originrios no homeomeros so transformados em partes homeomeras e, por fim, em matria orgnica. Elemental matter is worked up into non elemental uniform matter and how this is worked up into nonuniform matter and into the sort of matter that living organism are composed of (WEDIN, 2000: 447). Ver GILL (1989) e FINE (1995). 26 Ver Aristteles, Metaph., VII 10, 1035b24-25; GA I 19, 726b22-24; II 1, 734b24-27; Meteor. IV 12, 389b32-390a2; 390a10-13.

    http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=fwnh%3Den&la=greek&can=fwnh%3Den0&prior=to/http://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=kai%5C&la=greek&can=kai%5C8&prior=fwnh=enhttp://www.perseus.tufts.edu/hopper/morph?l=a%29%2Ffwnon&la=greek&can=a%29%2Ffwnon0&prior=kai/

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    something extra, but also that the elements themselves are somehow transformed when fit together by the form (WEDIN, 2000: 445). A distino entre a matria orgnica e a matria residual perde sua eficcia no caso do amontoado de elementos. Um gro de areia no muda sua natureza por pertencer ao agregado, mas ser independe dele, ao passo que, no processo de corrupo da matria orgnica, em algum nvel da anlise hilemrfica, talvez no dos quatro elementos, exista um substrato material distinto da forma e do ente substancial, ao qual a causa formal predicada e sobrevive eliminao da forma (GILL, 2003: 190). Em outras palavras, a matria constituinte anterior ao composto e lhe sobrevive, e a causa formal tributria desta matria pela sua realizao. Apesar disso, os elementos no existem no composto hilemrfico. VII. Ser ou no ser, o problema Em Metafsica VII 13, encontra-se um importante indcio que conduz nossa anlise ao desfecho e justifica os resultados do item anterior. Nas linhas 1039a3-10, Aristteles escreve: ... impossvel que uma essncia seja constituda a partir de essncias nela inerentes em efetividade. Mas se fossem duas em potncia, seriam uma s [sc. em efetividade]. [...] se a essncia algo uno, no pode ser a partir de essncias nela inerentes.27 Em Metafsica H 6, a ideia reiterada. O filosofo destaca que a unidade da matria e da forma nos compostos hilemrficos no acidental, pois a matria prxima e a forma so uma coisa s, uma em potncia, outra em ato: Mas, se como foi dito, um elemento matria e o outro forma (to men hule to de morfe), e o primeiro em potncia e o outro em ato (to men dunamei to de energeiai), parece que a coisa indagada no mais um problema (Metaph. VIII 6, 1045a23-25).28 A ideia parece ser a seguinte: na substncia composta, os elementos materiais esto presentes em potncia e contribuem, com suas propriedades, para modificar o

    27 Metaph. 1039a3-10:

    . :

    , ,

    [...] , 28 Metaph.1045a23-25:

    , , ,

    , .

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    composto hilemrfico, tambm e sobretudo determinado por outros atributos que fazem dele aquilo que . Um exemplo talvez possa ajudar a esclarecer. Os seres humanos so constitudos de terra, razo pela qual manifestam um comportamento terrestre. Por exemplo, caem no cho quando tropeam, e no voam. Este comportamento justificado pela presena da terra, cujo atributo essencial o de se deslocar para baixo. Mas no parte da essncia humana tropear e cair. Esta a razo pela qual a matria constituinte no influencia a substncia em seus atributos per se (kath'auto). Nesse caso, a matria acidentalmente modifica o comportamento da substncia, mas no sua essncia, pois os elementos no se encontram distintos e em ato na substncia. Se assim fosse, a substncia seria um amontoado de partes e no conseguiria sua caracterstica unidade diferencial. Em Metafsica Heta 6, Aristteles tambm menciona a causa da unidade substancial dos elementos, e retoma a argumentao de Zeta 17: Cada vez que um ente constitudo por uma multiplicidade de partes e a totalidade [das partes] se assemelha no a um amontoado, mas totalidade, algo alm das partes: h uma causa (1045a8-10).29 A causa a essncia (to ti en einai) (1045a33-35), a qual a causa da unidade e do ser um (tou henos ti aition kai tou ti en einai) (1045b17-22). Finalmente, o ponto determinante que distingue a slaba do soros o seguinte: no conjunto de elementos, as partes constituintes esto presentes de maneira distinta e em ato e, por essa razo, a unidade do composto acidental, devido ao fato de que as partes esto co-presentes no agregado, ao passo que, no caso da slaba, as partes constituintes esto presentes em potncia, o que permite que a identidade do ente e sua unidade essencial no sejam comprometidas.30

    29 Metaph. 1045a8-10

    ' , . 30 Aristteles discute o processo que leva transformao da matria nos compostos hilemrficos em Metafsica Theta 6 e 9, no captulo 3 do III Livro do De Caelo, e no capitulo 9 do Livro I da Fsica. Porm, relevante discusso sobretudo a teoria de De Generatione et Corruptione I, 10. Nesse captulo, Aristteles examina a teoria da mistura dos elementos (mixis) e fornece uma distino entre o amontoado (syntheton) e uma mistura (mixis). Seu argumento o seguinte: em uma mixis, assim como em uma composio qumica, os elementos existem distintos e em ato antes de entrarem no amlgama, ao passo que, aps entrarem, esto misturados e existem apenas em potncia (GC I 10, 327b22-31).

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    VIII. O coquetel de Herclito e o po de Aristteles Talvez seja agora possvel representar a distino entre a slaba e o soros. A distino entre um amontoado e uma unidade essencial representada entre o coquetel de trigo de Herclito e um po. No fragmento 125 DK, Herclito lembra a receita de uma bebida para a poca fria. Os ingredientes so o trigo, o queijo e o vinho. Para que a bebida agrade aos hspedes, o filsofo recomenda agitar vigorosamente o copo antes de servir, pois, caso contrrio, os ingredientes permanecem separados. A bebida de Herclito um caso de conjunto acidental de ingredientes (syntheton, o mesmo termo que aparece em Metafsica VII, 17). Passo ao po. Os ingredientes de um po so a farinha, o sal, a gua e o fermento. Eles existem separados e em ato antes de entrarem no amlgama, mas depois que so misturados e o amlgama assado, o produto uma coisa macia, perfumada, e saborosa, e no possvel sabore-los individualmente.31 Os ingredientes no esto presentes em ato, mas em potncia, e por duas razes: 1) elementos desse tipo podem ser extrados caso o po seja destrudo32; 2) os elementos originrios contribuem para a formao do composto porque a qualidade prpria de cada um deles justifica as diversas caractersticas do produto (por exemplo, sua maciez, cor, peso, e todos os ingredientes, em medidas diferentes, contribuem para o seu sabor). Gill destaca que o estofo original se transforma, aos poucos, no composto conectado matria a partir da qual foi gerado por certas propriedades que caracterizam o objeto (GILL, 2003: 196, n. 42). A forma o que proporciona aos ingredientes serem uma unidade substancial, no um elemento a mais acrescentado a outros, mas fator que faz do conjunto uma unidade integrada e constitutiva. A forma, pois, complementar e no est co-presente aos elementos. A causa formal a causa desses elementos serem (tadi) um po (ti). Os elementos que constituem um corpo orgnico no esto presentes em ato, mas em potncia. As propriedades da matria explicam vrios aspectos do composto, mas essas caractersticas no so propriedades kathauto da substncia. A anlise em Zeta conclui com a afirmao (1041b28) que a forma aition prton tou einai causa primeira do ser.