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A Causalidade da Duplicata Mercantil Como os outros títulos de crédito, a duplicata também está sujeita ao regime jurídico cambial, e assim sujeito aos principais princípios, como o da literalidade, autonomia das obrigações e o da cartularidade. A duplicata mercantil é um titulo de crédito causal, e sua causalidade diz respeito ao fato desta nunca existir de maneira independente, uma vez que só pode ser emitida nas causas em que a lei expressamente admite, onde não existindo uma destas causas, sua emissão é proibida. Admitir a falta da causalidade implica em dizer que a duplicata emitida não está de acordo com a lei. Hoje, a duplicata tem grande importância no mundo dos títulos de credito, pela facilidade que tem em transformar- se em dinheiro, e poder de negociação muito grande, sua admição é feita pela especificidade da relação, não se considerando causa, o grau de vinculação à relação jurídica que deu causa a sua emissão. Sua finalidade primordial é assegurar a eficaz satisfação do direito de crédito detido pelo emitente contra o devedor. Havendo perda ou extravio da duplicata, poderá ser emitida uma triplicata, que na verdade representa a segunda via da duplicata. Antes da promulgação do Decreto-Lei nº. 265, só poderia ser emitida em casos de compra e venda. Atualmente recepciona créditos originados por contrato de prestação de

Causalidade e Exigibilidade da duplicata mercantil

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A Causalidade da Duplicata Mercantil

Como os outros títulos de crédito, a duplicata também está sujeita ao

regime jurídico cambial, e assim sujeito aos principais princípios, como o da

literalidade, autonomia das obrigações e o da cartularidade.

A duplicata mercantil é um titulo de crédito causal, e sua causalidade

diz respeito ao fato desta nunca existir de maneira independente, uma vez que

só pode ser emitida nas causas em que a lei expressamente admite, onde não

existindo uma destas causas, sua emissão é proibida. Admitir a falta da

causalidade implica em dizer que a duplicata emitida não está de acordo com a

lei.

Hoje, a duplicata tem grande importância no mundo dos títulos de

credito, pela facilidade que tem em transformar-se em dinheiro, e poder de

negociação muito grande, sua admição é feita pela especificidade da relação,

não se considerando causa, o grau de vinculação à relação jurídica que deu

causa a sua emissão.

Sua finalidade primordial é assegurar a eficaz satisfação do direito de

crédito detido pelo emitente contra o devedor. Havendo perda ou extravio da

duplicata, poderá ser emitida uma triplicata, que na verdade representa a

segunda via da duplicata.

Antes da promulgação do Decreto-Lei nº. 265, só poderia ser emitida

em casos de compra e venda. Atualmente recepciona créditos originados por

contrato de prestação de serviço, que segundo o art. 22 da Lei de duplicatas,

engloba profissionais liberais e prestadores de serviços de natureza eventual,

tendo ambos o mesmo regime jurídico, qual seja, aceite, devolução, circulação,

protesto e execução previstas para a duplicata mercantil, tendo como

diferença:

a) a causa da emissão – ao invés de ser motivada por um contrato de

compra e venda mercantil, o faz por contrato de prestação de serviço;

b) protesto por indicações depende de documento comprobatório da

realização do serviço, ou vínculo contratual.

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Toda duplicata é condicionada a uma relação comercial ou prestação

de serviço. Até 1968, a emissão da duplicata era obrigatória nas operações a

prazo, hoje vigora a facultatividade.

Assim, o crédito se originando de outra relação que não uma de

compra e venda e a prestação de serviços, a duplicata não poderá ser o título

de crédito escolhido, Dessa maneira, a emissão só é possível para representar

causa específica prevista em lei.

Quem recebe a duplicata por endosso tem que exigir o comprovante de

entrega da mercadoria ou da prestação de serviços. Se ele não o faz, perde a

presunção de boa-fé.

Por exigir o pressuposto de fato específico da compra e venda

mercantil ou prestação de serviços, a duplicata mercantil não pode ser sacada

em qualquer hipótese segundo a vontade das partes interessadas, pois a

emissão de duplicata sem causa é crime, chamada de duplicata fria, simulada

ou sem causa, onde aquele que fugir a exigência incorrerá no crime previsto no

art. 172 do Código Penal. Tal delito configura-se pela emissão de duplicata

não-representativa de crédito resultante de compra e venda prestação de

serviços, ou quando ocorrer adulteração na quantidade ou qualidade da

mercadoria vendida.

Exigibilidade da duplicata mercantil

Na letra de câmbio, a emissão do título não obriga o sacado, que

poderá deixar de lançar seu aceite e, conseqüentemente, não se vincular ao

pagamento do título.

Ensina-nos o brilhante professor Ricardo Negrão que na duplicata,

todavia, a obrigação pode estar comprovada pela assinatura do devedor ou de

seu preposto, lançada no canhoto de entrega de mercadorias ou de

recebimento do serviço. Neste caso, mesmo sem aceitar o título, o sacado

obriga-se pelo valor expresso na duplicata. É o chamado aceite presumido.

O aceite na duplicata é sempre obrigatório. A recusa em aceitar a

duplicata deixando de assiná-la ou de devolvê-la, não gera efeitos liberatórios,

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como ocorre na letra de câmbio em razão da natureza causal do título.

Demonstrada a realização do negócio, pela assinatura no canhoto da

fatura, a recusa do sacado não altera a exigibilidade do título. A recusa formal

do sacado impede sua vinculação ao título apenas se legitimada nas hipóteses

previstas na lei. Neste caso, o protesto não pode se efetivar, respondendo por

danos tanto o emitente como também o endossatário que resistir à pretensão

do sacado.

Os três casos que legitimam a recusa estão previstos no art. 8º da Lei

5439/68:

Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:

I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não

entregues por sua conta e risco;

II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das

mercadorias, devidamente comprovados;

III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

Ainda sobre o aceite, escreve o Professor Frederico Moura de Paula

Lima:

“é a declaração pela qual o comprador (sacado) assume a obrigação de pagar

a quantia indicada no título, na data do vencimento”.

O aceite poderá ser expresso ou tácito, enquanto no expresso o

devedor apõe sua assinatura no título, o tácito é quando o devedor recebe a

duplicata para o aceite e deixa passar o prazo de 10 dias, contados da

apresentação, sem qualquer comunicação, por escrito, ao credor. A lei entende,

então, que o devedor aceitou a duplicata em silêncio.

É a assinatura do devedor que caracteriza o título de crédito. A

duplicata, ao receber o aceite, libera-se definitivamente de sua origem e não se

discute mais o que está expresso no título. Graças aos princípios da autonomia

e da literalidade, o título de crédito passa a ser negociável, podendo transitar

livremente. É o aceite, portanto, que transforma a duplicata num contrato

perfeito e acabado, valendo por si mesmo.