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ITALIANA | 95 94 | ESPORTE texto Marcelo de Valécio Com uma das torcidas mais fanáticas do planeta, a Itália é berço de grandes atletas e ídolos do esporte Força P atrimônio da cultura ocidental, berço do Renascimento, a Itália também tem no esporte uma trajetória de suces- so que faz jus a seus mais de 20 séculos de história. O país é a quinta potência olímpica do planeta – com 521 medalhas , 190 delas de ouro – e pátria de grandes esportistas, como Valentina Vezzali, primeira tricampeã de esgrima em Olimpíadas. Outros atletas de destaque são Lorenzo Bernardi, eleito o melhor jogador de vôlei do século 20, e Fausto Coppi (1919-1960), legen- dário ciclista e um dos maiores campeões da modalidade. Mas foi nos esportes a motor que a Itália ganhou projeção mundial. Se o Brasil é a pátria de chuteiras, a Itália é a nação so- bre rodas. O país testemunhou o nascimento de nomes que en- traram para a história do automobilismo e do motociclismo mun- diais, como Giuseppe Farina (1906-1966) e Alberto Ascari (1918- 1955), dois dos primeiros campões da Fórmula 1, que arrebata- ram o mundo nos anos 1950. Na motovelocidade, Valentino Rossi é um fenômeno. Com oito títulos mundiais, seis deles na principal categoria – a Moto GP –, Rossi não se dá por satisfeito e pretende encarar a Fórmula 1. Com tantos talentos, não é por acaso que a Itália é sede de grandes marcas automobilísticas com tradição no esporte, como Ferrari, Lamborghini, Maserati e Alfa Romeo, e de motocicletas, como Ducati e Aprilia. Os italianos também estão entre os mais fanáticos torcedo- res do mundo. Há até uma palavra na Itália – tifosi – que define esses fãs exaltados. São tifosi famosos os ferraristas, que acom- panham a escuderia italiana por toda parte. Há também os que se acotovelam nos estádios de futebol mundo afora pela SquadraAzzurra, como é chamada a seleção tetracampeã mun- dial de futebol, outra paixão nacional, que teve em Giuseppe Meazza (1910-1979) um dos maiores jogadores do século 20. Nas páginas a seguir, saiba um pouco mais sobre a vida des- ses ídolos italianos que com sua arte e determinação ultrapassa- ram as fronteiras e encantaram o mundo. Acima, o motociclista italiano Valentino Rossi. Na página à esquerda, o piloto em um dos seus muitos momentos de comemoração GÊNIO DA MOTOVELOCIDADE Para o italiano Valentino Rossi, de 29 anos, colecionar títulos e quebrar recordes parece ser uma constante na carreira. Com três corridas de antecedência, Rossi conquistou em setembro de 2008 o sexto título da MotoGP (antiga 500 cc), a principal categoria do moto- ciclismo mundial. Se somar os campeonatos das 125 cc e das 250 cc, são oito títulos no currículo, cinco de- les seguidos. “The Doctor”, como o piloto costuma ser chamado e assina no macacão, é o maior vencedor na categoria máxima do motociclismo (70 vitórias), o úni- co a subir 112 vezes ao pódio (16 vezes em uma mes- ma temporada) e o primeiro a ultrapassar os 3.000 pontos na carreira. Simpático e bem-humorado, Rossi não é do tipo obstinado pela vitória. Pelo contrário, parece que se diverte até quando as coisas não vão bem, como no ano passado, quando teve de enfrentar o domínio do australiano Casey Stoner, da Ducati. Mesmo atrás no campeonato, Rossi não deixava de dar show nas pistas, empinando a moto e fazendo co- memorações inusitadas. Após a confirmação do título de 2008, o piloto apa- receu no pódio com uma camiseta em que estava escri- to “Sinto muito pela demora”. Meses atrás mandou pintar no alto do capacete uma foto sua com cara de es- panto tirada em um ponto de frenagem do circuito da cidade de Mugello. A imagem dava a impressão de que o piloto estava sem capacete e assustado. Sempre sur- preendendo, Rossi anunciou agora que quer testar no- vamente uma Ferrari. Dois anos atrás, ele pilotou um Fórmula 1, mas apesar de ter feito bons tempos, prefe- riu ficar na MotoGP. Será que ele vai mudar de idéia?

Cavallino Esporte

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Page 1: Cavallino Esporte

ITALIANA

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ESPORTE texto Marcelo de Valécio

Com uma das torcidas mais fanáticas do planeta, a Itália é berço degrandes atletas e ídolos do esporte

Força

Patrimônio da cultura ocidental, berço do Renascimento,

a Itália também tem no esporte uma trajetória de suces-

so que faz jus a seus mais de 20 séculos de história. O

país é a quinta potência olímpica do planeta – com 521 medalhas

, 190 delas de ouro – e pátria de grandes esportistas, como

Valentina Vezzali, primeira tricampeã de esgrima em Olimpíadas.

Outros atletas de destaque são Lorenzo Bernardi, eleito o melhor

jogador de vôlei do século 20, e Fausto Coppi (1919-1960), legen-

dário ciclista e um dos maiores campeões da modalidade.

Mas foi nos esportes a motor que a Itália ganhou projeção

mundial. Se o Brasil é a pátria de chuteiras, a Itália é a nação so-

bre rodas. O país testemunhou o nascimento de nomes que en-

traram para a história do automobilismo e do motociclismo mun-

diais, como Giuseppe Farina (1906-1966) e Alberto Ascari (1918-

1955), dois dos primeiros campões da Fórmula 1, que arrebata-

ram o mundo nos anos 1950. Na motovelocidade, Valentino

Rossi é um fenômeno. Com oito títulos mundiais, seis deles na

principal categoria – a Moto GP –, Rossi não se dá por satisfeito

e pretende encarar a Fórmula 1. Com tantos talentos, não é por

acaso que a Itália é sede de grandes marcas automobilísticas

com tradição no esporte, como Ferrari, Lamborghini, Maserati e

Alfa Romeo, e de motocicletas, como Ducati e Aprilia.

Os italianos também estão entre os mais fanáticos torcedo-

res do mundo. Há até uma palavra na Itália – tifosi – que define

esses fãs exaltados. São tifosi famosos os ferraristas, que acom-

panham a escuderia italiana por toda parte. Há também os que

se acotovelam nos estádios de futebol mundo afora pela

SquadraAzzurra, como é chamada a seleção tetracampeã mun-

dial de futebol, outra paixão nacional, que teve em Giuseppe

Meazza (1910-1979) um dos maiores jogadores do século 20.

Nas páginas a seguir, saiba um pouco mais sobre a vida des-

ses ídolos italianos que com sua arte e determinação ultrapassa-

ram as fronteiras e encantaram o mundo.

Acima, o motociclistaitaliano ValentinoRossi. Na página à esquerda, o pilotoem um dos seusmuitos momentos de comemoração

GÊNIO DA MOTOVELOCIDADE

Para o italiano Valentino Rossi, de 29 anos, colecionar

títulos e quebrar recordes parece ser uma constante

na carreira. Com três corridas de antecedência, Rossi

conquistou em setembro de 2008 o sexto título da

MotoGP(antiga 500 cc), a principal categoria do moto-

ciclismo mundial. Se somar os campeonatos das 125

cc e das 250 cc, são oito títulos no currículo, cinco de-

les seguidos. “The Doctor”, como o piloto costuma ser

chamado e assina no macacão, é o maior vencedor na

categoria máxima do motociclismo (70 vitórias), o úni-

co a subir 112 vezes ao pódio (16 vezes em uma mes-

ma temporada) e o primeiro a ultrapassar os 3.000

pontos na carreira. Simpático e bem-humorado, Rossi

não é do tipo obstinado pela vitória. Pelo contrário,

parece que se diverte até quando as coisas não vão

bem, como no ano passado, quando teve de enfrentar

o domínio do australiano Casey Stoner, da Ducati.

Mesmo atrás no campeonato, Rossi não deixava de

dar show nas pistas, empinando a moto e fazendo co-

memorações inusitadas.

Após a confirmação do título de 2008, o piloto apa-

receu no pódio com uma camiseta em que estava escri-

to “Sinto muito pela demora”. Meses atrás mandou

pintar no alto do capacete uma foto sua com cara de es-

panto tirada em um ponto de frenagem do circuito da

cidade de Mugello. A imagem dava a impressão de que

o piloto estava sem capacete e assustado. Sempre sur-

preendendo, Rossi anunciou agora que quer testar no-

vamente uma Ferrari. Dois anos atrás, ele pilotou um

Fórmula 1, mas apesar de ter feito bons tempos, prefe-

riu ficar na MotoGP. Será que ele vai mudar de idéia?

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ESPORTE

TALENTO DAS PISTAS

Contemporâneo de Giuseppe Farina, Alberto Ascari dominou as tem-

poradas de 1952 e 1953 da Fórmula 1, sagrando-se campeão nas

duas e obtendo nove vitórias consecutivas – feito que nem o hepta-

campeão mundial Michael Schumacher conseguiu igualar. Ascari é o

maior ídolo do automobilismo na Itália, o único a ter rivalizado com o

pentacampeão mundial Juan Manuel Fangio. O piloto é responsável

por despertar a paixão dos torcedores pela Ferrari, equipe que defen-

deu pilotando o modelo 500. Durante a carreira na F1, Ascari dispu-

tou 32 GPs, obteve 13 vitórias e 14 pole positions.

Natural de Milão, Ascari vivia no mundo do automobilismo desde

pequeno. Seu pai, Antonio, era um reconhecido piloto profissional da

época. Ascari sempre acompanhava as provas disputadas pelo pai e

estava presente quando ele morreu em um acidente durante o GP da

França, em 1925. A tragédia não lhe tirou o ímpeto de competir anos

mais tarde. Primeiro de motocicleta, entre 1936 e 1939, depois de au-

tomóvel, após 1945. Ascari estreou na Fórmula 1 em 1951, vencendo

os GPs da Alemanha e da Itália e ficando com o vice-campeonato. En-

tre 1954 e 1955 correu pela Lancia. Em 1955, ao testar a Ferrari 750 em

Monza, Ascari saiu da pista e capotou várias vezes. O piloto morreu no

mesmo dia que seu pai, 26 de maio, e com a mesma idade, 37 anos.

O CAMPEONÍSSIMO

Il Campionissimo, como é chamado Fausto Coppi pelos italianos, es-

tá entre os maiores e mais populares ciclistas da história do esporte.

Ele foi o primeiro corredor profissional que conseguiu ganhar na

mesma temporada, em 1949 e depois em 1952, o Giro d'Itália e o Tour

de France, as duas mais importantes provas do ciclismo mundial. Na

era de ouro do esporte, Coppi era a estrela maior. No total, venceu 118

corridas, entre as quais duas vezes o Tour de France e cinco vezes o

Giro d'Itália. Em 1942, aos 23 anos, o italiano estabeleceu recorde

mundial da hora (45,8 km, percorridos em uma hora) que durou 14

anos, quebrado por Jacques Anquetil em 1956.

O italiano de Castellania venceu cinco vezes o Tour da Lombardia,

três o Milão Sanremo e uma vez a Paris-Roubaix, e foi o campeão

mundial de estrada em 1953. No final de 1959, quando estava na Áfri-

ca, Coppi pegou malária e não resistiu à doença. Morreu aos 40 anos

de idade, deixando um legado ainda hoje reverenciado. No Giro

d'Itália há um bônus especial chamado de Cima Coppi, que é dado

ao primeiro ciclista que atinge a maior montanha da competição.

MESTRE DO AUTOMOBILISMO

Nino, como era conhecido Emilio Giuseppe Farina, foi um dos pioneiros da moder-

na Fórmula 1, nascida em 1950. Logo na primeira corrida, em Silverstone, na

Inglaterra, o piloto deixou sua marca: fez a pole position, a melhor volta e venceu

a prova. Com a poderosa equipe Alfa Romeo, que dividia com o mito argentino Juan

Manuel Fangio (1911-1955) e o compatriota Luigi Fagioli (1898-1952), Farina ganha-

ria mais duas corridas, entre elas a prova inaugural de Monza, onde o título foi de-

cidido. Com três vitórias dentre as sete provas disputadas, Farina somou 30 pon-

tos no campeonato contra 27 de Fangio e faturou a primeira temporada. Em 1951

não repetiu o feito do ano anterior e acabou superado pelo argentino. Mudou-se

para a Ferrari no ano seguinte, mas teve de encarar o veloz compatriota Alberto

Ascari, que o venceu e arrematou os títulos de 1952 e 1953. Em 1955, aos 49 anos,

Farina decidiu encerrar a carreira na Fórmula 1, deixando sua marca na história do

automobilismo. De gênio forte e provocador, Farina tinha um estilo peculiar de

guiar, com os braços esticados. Era reconhecido por sua inteligência e espírito agu-

çado nas manobras. Por ironia, Farina morreu em decorrência de um acidente de

carro a caminho de Remis, onde acompanharia o GP da França de 1966.

ESTRELA OLÍMPICA

A esgrimista Valentina Vezzali iniciou carreira aos seis

anos de idade e aos 15 ganhou seu primeiro título mundial

na categoria juvenil, fato que se repetiu três vezes conse-

cutivas. Aos 22 anos, a jovem estreou nas Olimpíadas de

Atlanta, em 1996, obtendo medalha de prata na prova do

florete (uma das três armas utilizadas no esporte) indivi-

dual. Em 2000, em Sidney, ganhou sua primeira medalha

de ouro olímpica, também no florete individual. A segunda

veio em Atenas, em 2004, e a terceira neste ano, em

Pequim, sagrando-se a primeira tricampeã olímpica indivi-

dual da modalidade na história.

Valentina, que tem ainda duas medalhas de ouro e

uma de bronze por equipe, leva adiante a tradição vitorio-

sa da Itália na esgrima nos Jogos Olímpicos. No total, são

112 medalhas, sendo 45 de ouro, 37 de prata e 30 de bron-

ze, que garante ao país a liderança no quadro geral da mo-

dalidade. Aos 34 anos, ela é, indiscutivelmente, um dos

maiores nomes da esgrima de todos os tempos. No currí-

culo tem dez títulos mundiais, sendo cinco individuais e

cinco por equipes, além de 61 vitórias em Copas do

Mundo, recorde absoluto do esporte.

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ESPORTE

O PRIMEIRO CRAQUE FAMOSO

Até hoje Giuseppe Meazza é considerado um dos jogadores de

futebol mais populares e completos da Itália. Foi o primeiro fu-

tebolista italiano a ficar famoso mundialmente, ainda na déca-

da de 1930. Por causa da habilidade com a bola e da capacida-

de de fazer gols, tornou-se o cérebro da seleção nacional e um

dos principais artífices da primeira Copa do Mundo vencida

pela Itália, em 1934. O início da carreira aconteceu aos 17

anos, no Ambrosiana, que depois virou Internazionale de

Milão. Meazza foi campeão em 1930 e 1938, além de ser o ar-

tilheiro do torneio em três ocasiões. Chegou à Azzurra com 20

anos e logo na partida de estréia, contra a Suíça, marcou dois

gols, tornando-se em pouco tempo o primeiro ídolo dos tifosi

do futebol italiano. O ápice da glória para Meazza ocorreu na

Copa da França, em 1938, na qual ajudou a Itália a conquistar

o segundo título mundial. Nos 53 jogos que disputou pela se-

leção, obteve 35 vitórias. Balançou as redes adversárias 33 ve-

zes, um recorde ainda não batido no país. Morreu em 1979, dois

dias antes de completar 69 anos. Graças à sua popularidade,

o estádio de Milão foi rebatizado em sua homenagem.

O MELHOR DO SÉCULO

Em 2001, Lorenzo Bernardi foi eleito o melhor jogador de vô-

lei do século 20, título que dividiu com o norte-americano

Karch Kiraly. Bernardi foi medalha de prata nas Olimpíadas

de Atlanta, em 1996, bicampeão mundial (1990 e 1994), tem

três títulos da Liga Mundial, uma Copa do Mundo e dois

campeonatos europeus com a seleção italiana, além de vá-

rios títulos em clubes italianos. É considerado um dos joga-

dores mais completos nos fundamentos do esporte, segun-

do a Federação Internacional de Vôlei (FIVB), que lhe conce-

deu o prêmio em 2001. Bernardi possui boa constituição fí-

sica, golpes fortes e certeiros no ataque, visão de jogo pri-

vilegiada e muita determinação – características decisivas

na escolha do melhor jogador de vôlei do século.