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ANO II • MAI/JUN• 2008 • Nº 13 Publicação da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades Crise dos Alimentos Lendas e jogos de interesses mascaram uma realidade que precisa ser encarada COMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA SAÚDE COMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA SAÚDE Eduardo Costa comenta recentes decisões adotadas pelo Governo Federal na área de compras públicas

CCOMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA ...produtiva antes e depois da porteira, com impactos diretos sobre a renda e a compe-titividade dos produtores. É necessário lembrar que o desen-volvimento

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ANO II • MAI/JUN• 2008 • Nº 13

Publicação da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades

Crise dos AlimentosLendas e jogos de interesses mascaram uma realidade que precisa ser encarada

COMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA SAÚDECOMPLEXO ECONÔMICO-INDUSTRIAL DA SAÚDEEduardo Costa comenta recentes decisões adotadas pelo Governo Federal na área de compras públicas

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A ABIFINA, Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades,

exerce permanente vigilância em relação à legislação de patentes. Criou o Centro de Informação para

Inovação, justamente para gerar e compartilhar conhecimento sobre propriedade intelectual nas atividades

de química e farmacêutica. Tudo porque a ABIFINA sabe que o sistema de propriedade industrial é um

importante instrumento de apoio à industrialização do país, através do incentivo à introdução de novos

produtos no mercado nacional, capazes de atender as necessidades da nossa população. A ABIFINA atua

para melhorar a discussão e o encaminhamento deste e de outros pontos fundamentais de uma agenda para

o desenvolvimento que o Brasil necessita. Se você também tem compromissos com o Brasil de amanhã,

visite nosso site www.abifina.org.br

SOBERANIA É CRIAR.

PROPRIEDADE INTELECTUAL

fármacos e medicamentos defensivos agrícolas defensivos animais vacinas catalisadores e aditivos intermediários de síntese corantes e pigmentos orgânicos

FÓRMULA DE DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

Componente Obrigatório

FORMULAMOS SOLUÇÕES PARA O BRASIL DO FUTURO.

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preçoseçosBRASILBRASIL

alimentosmentoalimentos

BRASILestoque

preços

Corpo Dirigente

Conselho AdministrativoPresidente: Luiz Claudio Barone1º Vice-Presidente: Nelson Brasil de OliveiraVice-Presidente de Estudos e Planejamento:Marcos Henrique de Castro OliveiraVice-Presidente: Luiz GuedesVice-Presidente: Dante Alario JuniorVice-Presidente: Marcos LoboVice-Presidente: Alberto MansurDiretor de Comércio Exterior: Josimar Henrique da SilvaDiretora de Estudos da Biodiversidade: Poliana SilvaDiretor de Assuntos Regulatórios de Fármacos:Nicolau Pires LagesDiretor de Assuntos Regulatórios de Agroquímicos:Arnaldo MassariolConselheiro Geral: Ogari de Castro PachecoConselheiro Geral: Eduardo CostaConselheiro Geral: Lelio Augusto MaçairaConselheiro Geral: Telma Salles

Conselheiros BeneméritosMarcos Lobo (Agripec Quimica e Farmacêutica S/A)Dante Alario Junior (Biolab Sanus Farmacêutica Ltda.)Fernando de Castro Marques (União Química FarmacêuticaNacional S/A.)Isaac Plachta (IQT Indústrias Químicas Taubaté S/A.)Luiz Barone (Milenia Agrociências S/A.)João Benjamim Parolin (Oxiteno S/A Indústria eComércio)Virgílio Vicino (Agricur Defensivos Agrícolas Ltda.)

Conselho ConsultivoEduardo Eugenio Gouvêa VieiraAntônio Salustiano MachadoIsaac PlachtaFernando de Castro MarquesAlcebiades de Mendonça AthaydeKurt PolitzerFernando SandroniJosé Alberto de SennaJean PeterManoel Zauberman

Expediente

Coordenação Geral:Claudia Craveiro • editoriafacto@abifi na.org.brReportagens (Capa, Tendências e ABIFINAComenta): Inês AcciolyProjeto e Produção Editorial: Scriptorio Comunicação21 2532 6858 - www.scriptorio.com.brJornalista responsável: Karla Mourão

Os artigos assinados e as entrevistas são de responsabilidade do autor e não expressam necessariamente a posição da ABIFINA. A entidade deseja estimular o debate sobre temas de relevante interesse nacional, e, nesse sentido, dispõe-se a publicar o contraditório a qualquer matéria apresentada em seu informativo.

ABIFINA - Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas EspecialidadesAv. Churchill, 129 / Grupo 1102 • Centro CEP 20020-050 • Rio de Janeiro • RJNovos números da Central Telefônica:Tel.: (21) 3125-1400 / Fax: (21) 3125-1413www.abifi na.org.br

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Publicação da:

ÍNDICE

Em entrevista, Guilherme Dias aponta a falta de uma coordenação internacional

e o programa de etanol dos EUA como dois fatores

importantes da crise de alimentos.

Uma análise da atual crise de alimentos e o papel do Brasil frente a este cenário, no editorial.

EDITORIALTENDÊNCIASENTREVISTADESTAQUEABIFINA EM AÇÃOBIODIVERSIDADEOPINIÃOPAINEL DO ASSOCIADOSAIU NA IMPRENSA

040612182126303437

O exemplo de Farmanguinhos, fazendo do Estado promotor da indústria de

fármacos no país, vira lei através de portaria interministerial assinada

durante evento no BNDES.

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EDITORIAL

Crise dos alimentos: papel da agricultura

Luiz Barone, presidente da ABIFINA

É necessário, neste momento, em que o mundo enfrenta um sério problema de alta persistente nos preços dos produtos agrícolas, compreender o efetivo papel que o Brasil pode desempenhar neste contexto.

Diferentes analistas têm explicado esse crescimento de preços pelo forte au-mento da demanda por produtos agrícolas associado a alguns choques de oferta em determinados países, com conseqüências sobre os estoques.

Outra vertente reconhece que a huma-nidade está comendo mais e melhor há al-guns anos, porém que a entrada de milhões de consumidores no mercado não produziu alta de preços. Jamais a taxa de cresci-mento do consumo de alimentos superou o crescimento da oferta de alimentos. O grande salto nos preços ocorreu quando o Congresso americano aprovou em 2005 a Lei de Bionergia, cujo ambicioso programa prevê, num prazo muito curto, até 2012, produzir 28 bilhões de litros de etanol de milho.

No ano de 2007, o uso de milho para etanol nos Estados Unidos foi de 81 mi-lhões de toneladas, que não vieram do aumento da produção, mas dos estoques. Para se entender o signifi cado daquele nú-mero o Brasil prevê para a safra 2007/8 a produção de 53,4 milhões de toneladas de milho.

Com a disparada dos preços do milho a área dessa cultura, naquele país, au-

mentou com refl exos na redução da área plantada de soja e algodão. Como decor-rência os preços da soja e do milho so-frem grandes variações em suas cotações, em tonelada. A primeira estava custando US$ 223 em 2005, passou para US$ 316, em 2007 e a projeção para 2008 é de US$ 479. A segunda saltou de US$ 82, em 2006 para US$ 212, em 2008.

O trigo, que na Europa é álcool, passou de US$ 117, em 2005 para expectativas, em 2008, da ordem de US$ 389. A canola e o girassol apresentam o mesmo compor-tamento no mercado internacional.

Obviamente que esse quadro é preocu-pante em razão de seus efeitos sobre os países e populações mais pobres, princi-palmente quando associado ao grave au-mento do preço do petróleo. No entanto, não é possível desconhecer seu signifi -cado como oportunidade para a agricul-tura do país, com impactos em toda a cadeia produtiva.

Por outro lado é necessário ressaltar que nesse ambiente é perigoso que o Bra-sil assuma uma postura política na questão da oferta de alimentos, considerando que sua capacidade relativa de participar do mercado mundial é pequena e nossa agri-cultura não determina preços no mercado internacional. Deve ser lembrado que nos países ricos o custo dos alimentos é mui-to marginal em termos de renda, tornando inócuas propostas que impliquem redução dos programas de biodiesel sustentados em grãos e de subsídios que distorcem as regras de mercado. Outros serão os cami-nhos a serem trilhados.

A oportunidade que agora se revela deve ser aproveitada na adoção de medi-das de curto e médio prazos cujos efeitos tenham por objeto aumentar a produti-vidade do setor e a efi ciência da cadeia

A oportunidade que agora se revela deve ser aproveitada na

adoção de medidas de curto e médio prazos cujos efeitos tenham

por objeto aumentar a produtividade do setor e a efi ciência

da cadeia produtiva antes e depois da porteira, com impactos

diretos sobre a renda e a competitividade dos produtores.

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produtiva antes e depois da porteira, com impactos diretos sobre a renda e a compe-titividade dos produtores.

É necessário lembrar que o desen-volvimento da agricultura brasileira nas últimas décadas esteve fortemente rela-cionado aos ganhos de produtividade num contexto de fortes mudanças no ambiente institucional. Entre eles a abertura comer-cial, o Tratado de Assunção, a valorização do real frente ao dólar, particularmente após a adoção do câmbio fl utuante, e as mudanças no sistema nacional de crédito rural tiveram fortes impactos no setor e obrigaram aos produtores que permanece-ram na atividade a investir em tecnologia e escala de produção. Estudos realizados deixam evidentes que durante um lon-go período, 1975 a 2002, por exemplo, o índice de produtos cresceu 160,66% enquanto o índice de insumos aumen-tou 21,22%, demonstrando o relevante trabalho feito pelos agricultores dentro da porteira.

Quanto ao papel da produção inter-na de alimentos, frente à crise que se estabeleceu no cenário internacional, é necessário lembrar que as políticas para produtos non-tradables e tradables devem ser tratadas considerando suas especifi ci-dades relacionadas à balança comercial e à infl ação.

Do mesmo modo, questões próprias às diferenças regionais devem incluir propostas de políticas públicas que le-vem em consideração a necessidade de alocação de recursos frente ao potencial de resultado esperado. Para determinadas áreas de produção o problema dos meios de transporte é crítico e fator que poderá determinar a viabilidade das atividades agrícolas ali desenvolvidas. Investimen-tos que privilegiem soluções de transpor-tes intermodais deveriam ser realizados com absoluta prioridade, pois os gargalos existentes nesse segmento da atividade econômica têm se constituído em ele-vados custos que impõem severas perdas aos agricultores.

Outro item relevante do componente estrutural está relacionado à disponibili-dade de capacidade de armazenagem di-retamente vinculada ao agricultor. Esse elemento da cadeia de negócio agrícola

tem sido um importante fator restritivo à manutenção de estoques em mãos de quem produz com conseqüências diretas sobre sua capacidade de negociação pela impossibilidade de defi nir a melhor época de venda de seu produto.

A questão recorrente do crédito agríco-la é outro dos vetores que impõe restrições à atividade, seja pelo lado de aumento da oferta quanto na própria manutenção do agricultor na atividade. Deixar a cargo do mercado essa tarefa de conceder o crédito deveria ser revisto inclusive mudando a lógica fi scal pela lógica setorial.

Outro ponto que assumiu proporções muito importantes para o aumento da oferta de alimentos diz respeito aos fer-tilizantes. Em determinadas regiões pro-dutoras, particularmente nos cerrados, o peso desse insumo nos custos variáveis pode atingir níveis insuportáveis e com-prometer a rentabilidade do produtor. So-mente em 2008, até o mês de abril, seus preços cresceram 40%, de acordo com o Índice de Preços por Atacado (IPA). Au-mentar a produção de nitrogênio, fósforo e potássio deve fazer parte de uma ação estratégica por parte do governo, saben-do de antemão que seus resultados demo-rarão a aparecer.

Nesse ambiente de forte pressão sobre os alimentos e a concorrência dos alimen-tos com os programas de biodiesel, será fundamental assegurar recursos regula-res e sufi cientes para que os sistemas de pesquisa agropecuária e de extensão rural possam contribuir para que os ganhos de

produção estejam fortemente sustentados na produtividade dos fatores, benefi cian-do indistintamente todos os segmentos de produtores, com o menor impacto pos-sível sobre o bioma. A condição de fi nan-ciamento da pesquisa tem que ser assumi-da com alto grau de prioridade garantindo que as dotações orçamentárias sejam ga-rantidas por longos períodos e sua libe-ração obedeça a um calendário coerente com as necessidades da atividade e sem contingenciamentos.

O papel que o agronegócio desempenha na economia brasileira tem apresentado várias facetas positivas e sistematicamen-te homenageadas. O reconhecimento é um importante passo, mas o fundamental é que ela se traduza no estabelecimento de prioridades que assegurem ao produtor a menor variabilidade de sua renda e a ma-nutenção de sua competitividade em um mercado globalizado composto de forte protecionismo que impõe injustas condi-ções de oferta e demanda.

Somente através de políticas públicas consistentes e de longo prazo poderá de fato o país determinar o papel que irá exercer no novo cenário mundial que se impõe com a crise dos alimentos. Parti-cipar nos fóruns internacionais protes-tando a respeito das práticas deletérias praticadas contra nossos agricultores é obrigação do governo, mas não basta, é necessário que essa indignação redunde em ações efetivas internamente senão es-taremos condenados a assistir a passagem de mais uma oportunidade.

Nesse ambiente de forte pressão sobre os alimentos e a

concorrência dos alimentos com os programas de biodiesel, será

fundamental assegurar recursos regulares e sufi cientes para

que os sistemas de pesquisa agropecuária e de extensão rural

possam contribuir para que os ganhos de produção estejam

fortemente sustentados na produtividade dos fatores.

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TENDÊNCIAS

Há três décadas o Brasil era chamado de “país do futuro”, mas esta promessa não se concretizou. Nos anos 80 fi camos enredados em dívida externa e infl ação galopante. Nos 90 cedemos às pressões comerciais do primeiro mundo e jogamos fora boa parte dos resultados do esforço de industrialização do país. Agora, com a crise das commodities agrícolas, temos novamente uma oportunidade de ouro: a de nos tornarmos líderes mundiais em dois grandes mercados – alimentos e biocombustíveis - nos quais somos mais competitivos do que qualquer país desenvolvido. Mas os desafi os são imensos. Se não tivermos competência para superá-los, continuaremos sendo apenas um país de futuro. E então, quem sabe um dia...

mundo procederam à caça aos culpados e rapidamente encontraram um: o eta-nol, que estaria subtraindo da agricultura áreas destinadas à produção de alimen-tos. O relator da ONU para o Direito à Alimentação Jean Ziegler, não por aca-so um suíço, declarou à imprensa que o avanço do etanol é um “crime contra a humanidade”. Os alvos imediatos dessas acusações seriam, em tese, os dois maio-res exportadores mundiais de alimentos e também os maiores produtores de etanol: os Estados Unidos, que vêm concedendo massivos subsídios à produção de etanol de milho, e o Brasil, que há três décadas produz etanol de cana-de-açúcar e vem exportando o produto em ritmo crescen-te. Os EUA, como se sabe, não se curvam diante de pressões internacionais e fazem o que bem entendem em sua economia. Restou então, na linha de tiro, o Brasil.

Tentando parecer imparcial, o FMI generalizou o problema em torno dos biocombustíveis, declarando dramatica-mente que o avanço desses programas no mundo seria “um problema moral”. Nesse momento, o teatro da exploração emocional do fantasma da fome estava montado: o ministro da Agricultura da França, país com agressiva política de subsídios agrícolas e pouco competitivo em biocombustíveis, declarou que “deve haver um reconhecimento global de que a prioridade deve ser a produção de alimen-tos”, reforçou as acusações ao etanol e chegou a propor a criação de um selo para garantir que o etanol vendido na Europa

não fosse produzido em áreas destinadas à produção de alimentos. A proposta foi rejeitada com base no fato de que apenas 2% da produção de cereais na Europa são direcionados para o etanol.

Se o primeiro mundo, que controla o FMI e a imprensa internacional, esti-vesse à frente da produção mundial de biocombustíveis, não teria havido tal estardalhaço. O fato é que, no afã de en-contrar um bode expiatório para a crise dos alimentos, cada um dos países desen-volvidos manipulou o noticiário segundo seus próprios interesses. Os europeus com setor agrícola forte, como França e Espanha, passaram a usar o problema de a segurança alimentar como pretexto para defender a ampliação dos subsídios concedidos pela União Européia à agri-cultura. Já os países com menor vocação agrícola, como Inglaterra e Suécia, que teriam mais a perder do que a ganhar com medidas desse tipo, passaram a defender a liberalização das importações de com-modities agrícolas pelo continente.

Os Estados Unidos, por sua vez, man-têm a confortável postura de não reagir aos ataques da Europa contra os progra-mas de etanol. Se suas decisões sobre subsídios ignoram até mesmo delibera-ções da OMC e dispositivos de acordos internacionais, não seria a União Euro-péia que teria o poder de mudá-las. Além disso, como o etanol norte-americano é muito menos competitivo do que o brasi-leiro, qualquer ofensiva que incomodasse o concorrente seria interessante para os

Agroindústria: chegou a vez do Brasil

A caça aos culpados

No mês de março, pipocaram na im-prensa mundial notícias sobre o aumento do preço do arroz e, em decorrência disso, a ameaça de distúrbios sociais na Ásia. Embora esse produto não seja considera-do uma commodity agrícola importante – a maioria dos países consumidores de arroz é auto-sufi ciente ou quase na sua produção e, segundo a ONU, apenas 7% da produção mundial é exportada a cada ano – o fato causou grande inquietação e foi rapidamente seguido por uma revela-ção alarmante: a disparada do preço dos alimentos em geral e a ameaça de fome no mundo. Nos últimos dois anos os pre-ços dos alimentos subiram 60% em dólar e os países pobres não terão como su-portar, com recursos próprios, os novos patamares.

O sinal de alarme reatualizou o tema de a segurança alimentar e diversos go-vernos de países produtores reagiram lan-çando mão de medidas regulatórias para garantir seus estoques. A Argentina im-pôs tarifa sobre suas exportações de soja e a Índia, China, Tailândia, Egito, Vietnã e Camboja restringiram suas exportações de arroz. Essas medidas assustaram países dependentes da importação de alimentos, como Japão e Suíça, que chegaram a pro-por à OMC, sem sucesso, a imposição de limites a tais restrições.

Uma vez defi nido o cenário de crise, as organizações políticas e econômi-cas internacionais sediadas no primeiro

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TENDÊNCIAS

EUA. Como era de se esperar, a corda re-bentou do lado mais fraco e o Brasil foi apresentado como o grande vilão da crise dos alimentos.

Reação em cadeia

Em boa hora, o recém-criado Par-lamento do Mercosul se pronunciou e o presidente da representação brasileira, senador Aloizio Mercadante, reagindo à proposta européia de suspensão dos pro-gramas de biocombustíveis, sentenciou: “a moratória que se precisa fazer é a dos subsídios abusivos da União Européia e os Estados Unidos, que impedem a compe-titividade, a produção, a agricultura de subsistência e familiar na África, na Amé-rica Latina, nas regiões mais pobres do planeta”. Em entrevista ao jornal O Globo o diretor da OMC, Pascal Lamy, confi rmou esse diagnóstico afi rmando que a solução para a alta dos preços dos alimentos pas-sa pela abertura do comércio – leia-se, redução dos subsídios agrícolas no pri-meiro mundo.

No caso dos biocombustíveis, o que vale para os Estados Unidos não vale para o Brasil. Se o subsídio ao etanol de milho norte-americano pode efetiva-mente ter constituído uma das causas da crise das commodities, pelo fato de o milho ter avançado sobre outras cultu-ras de grãos comestíveis num país que já não tem para onde expandir suas fron-teiras agrícolas, o mesmo não se pode dizer do Brasil, que ainda dispõe far-tamente de terras agriculturáveis e de potencial para aumentar a produtividade da sua agropecuária. No intuito de man-ter o governo brasileiro acuado e impedir o país de aproveitar a rara oportunidade que se lhe apresenta, o primeiro mundo mobilizou até suas ONGs ambientalistas para alardear na imprensa internacional que o avanço do etanol brasileiro estaria agravando a devastação da Amazônia.

Os números e os fatos comprovam, entretanto, que toda a argumentação contra o etanol não passa de mais uma fi cção da mídia. Segundo o professor do Instituto de Física da USP José Golden-berg, somando-se as áreas plantadas com cana-de-açúcar no Brasil e com milho nos Estados Unidos para a produção de bio-combustíveis, principalmente etanol, te-

mos um total de 10 milhões de hectares, o que representa menos de 1% das áreas agriculturáveis de todo o mundo utiliza-das para outras fi nalidades. Estas totali-zam 1,4 bilhão de hectares. “Basta fazer as contas para se chegar à conclusão de que não é possível uma perturbação de 1% ser capaz de causar o problema da cri-se de alimentos.”

O problema do custo é especulativo, sublinha Goldenberg. “No que se refere ao etanol em particular, o custo de pro-dução nos Estados Unidos é o dobro do custo no Brasil. E na Europa, que produz etanol a partir da beterraba ou do trigo, o custo é três vezes o do Brasil. Então, eu acredito que parte da campanha con-tra o etanol é das indústrias da Europa e dos Estados Unidos que não desejam ver o Brasil produzindo, porque eviden-temente se penetrarmos no mercado eu-ropeu ou norte-americano vamos quebrar essas empresas. No mundo globalizado é assim mesmo.”

A Europa adotou a regra de misturar 10% de biocombustíveis à gasolina até o ano 2010. Há um mandato nesse sentido aprovado pelo Parlamento europeu, que ainda precisa ser ratifi cado por cada país.

Nos Estados Unidos, uma lei aprovada pelo Congresso prevê a adição de 20% de etanol à gasolina até 2022. “Isto signifi -ca que em 2022 o mundo terá que estar produzindo aproximadamente cinco vezes mais etanol do que hoje”, frisa Golden-berg. “Penso que os Estados Unidos terão sérias difi culdades para cumprir essa meta com produção local e, portanto, terão que importar.” Afi nal, só no ano passado a cultura do milho para etanol nos EUA expandiu-se em 5 milhões de hectares de terras e, com a crise, haverá pressão para se refrear essa tendência em benefício da

produção de alimentos. A provável neces-sidade de importações substanciais de etanol pelos EUA abre uma oportunidade excelente para o Brasil.

“Se as barreiras alfandegárias forem removidas o Brasil será o grande supri-dor de etanol dos EUA, quintuplicando a produção atual sem sacrifício de áreas de produção de alimentos”, garante Golden-berg. Outro fator que, em sua opinião, contribui para elevar comparativamente a competitividade do etanol brasileiro é a alta do preço do petróleo, que vai au-mentar ainda mais o custo da produção do etanol norte-americano, “porque lá se usa muito combustível fóssil na ca-deia de produção. O programa brasileiro será menos afetado, porque aqui o ba-gaço da cana é a fonte de energia usada nas destilarias”.

Na opinião do consultor Alexandre Mendonça de Barros, sócio da MB Asso-ciados, o Brasil precisa atuar com fi rmeza para neutralizar a armadilha política em que o primeiro mundo o quer aprisionar. “O biocombustível é realmente um vilão no cenário norte-americano, mas a pro-dução no Brasil não signifi ca nada em termos de restrição à produção de ali-

mentos. É muito importante que nós brasileiros nos posicionemos nesse sen-tido, porque estão querendo pôr tudo dentro do mesmo saco. Do ponto de vis-ta ambiental, é corretíssimo o biocom-bustível substituir a gasolina. O Brasil, com um pouco mais de área cultivada, conseguiria converter quase que exclu-sivamente para o álcool o consumo in-terno de combustíveis automotivos no país, o que seria algo fantástico.”

O diretor do Instituto de Estudos do Agrobusiness, Luiz Antonio Pinazza, tam-bém entende que a crise dos alimentos

“Parte da campanha contra o etanol é das indústrias da Europa e dos

Estados Unidos que não desejam ver o Brasil produzindo, porque se

penetrarmos no mercado europeu ou norte-americano vamos quebrar

essas empresas. No mundo globalizado é assim mesmo”

José Goldenberg

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TENDÊNCIAS

tem como um dos fatores o programa de etanol dos EUA. “Na Europa o biocombus-tível ainda ocupa um espaço muito pe-queno, mas nos Estados Unidos ele já é signifi cativo. Lá, em função do programa de subsídio ao etanol, nada menos que um terço da safra de milho, que é de 330 milhões de toneladas anuais, estará sendo canalizada este ano para a produ-ção de combustível. Então, de fato hou-ve uma redução signifi cativa da área de plantio destinada a alimentos por conta do programa de etanol dos Estados Uni-dos. Isto porque o espaço de plantio do milho aumentou e avançou sobre áreas onde se plantava soja, algodão e arroz. Já na Europa, boa parte do biocombustível tem sido obtida da colza, que é uma ole-aginosa da família da canola porém muito mais ácida, razão pela qual não serve nem para ração de animais”.

Balança desequilibrada

O fato é que a crise dos preços dos alimentos não parece ser um evento pas-sageiro e, após o período inicial de histe-ria contra o etanol, analistas econômicos e políticos puderam refl etir com maior isenção sobre suas verdadeiras causas. E constataram a existência de uma multi-plicidade de fatores concorrendo para o desequilíbrio entre oferta e demanda de alimentos no mundo. Segundo Alexandre Mendonça de Barros, entre os elementos de demanda envolvidos nesse fenômeno “o primeiro é o crescimento populacional, que é um movimento lento e progressivo. O segundo, que ganhou muita relevância nos últimos anos, é o crescimento da ren-da especialmente na Ásia - um pedaço do mundo subdesenvolvido que tem padrão de nutrição muito baixo e que passou a crescer a taxas absurdas (10% ao ano ou mais), como é o caso da China e da Índia, onde se concentra o grosso da população mundial”.

Segundo o consultor, já se sabia que o crescimento dos países emergentes asi-áticos iria mudar o padrão de demanda do mundo inteiro, mas a implementação do programa de subsídio ao etanol dos EUA acelerou o processo. “Não se trata de um problema brasileiro, muito menos da cana-de-açúcar, mas claramente provém

do programa norte-americano de etanol, dada a importância da produção de mi-lho dos Estados Unidos, que representa cerca de 40% da produção mundial. De repente os norte-americanos começaram a esmagar um volume considerável de mi-lho para produção de etanol, e não há a menor dúvida de que isto afetou os pre-ços dos grãos. Eles diminuíram a área de soja e de algodão, e os preços subiram. Esta foi uma mudança súbita. O etanol de milho já existia há muitos anos, mas essa aceleração foi muito forte”.

O aumento da demanda e a queda dos estoques produziram uma conjuntura de escassez relativa, explica Mendonça de Barros. “O tema de segurança alimentar, que a ONU vinha desencorajando em pas-sado recente, com base na globalização dos mercados agrícolas, volta à moda. Já a ocorrência de pequenas quebra de safra no mundo – na Austrália, Canadá e Europa - que a grande imprensa incluiu entre os fatores determinantes da crise, é um fato normal. O mundo inteiro produz trigo e em algum lugar sempre há quebra. O que vale ser destacado é que estamos hoje com os preços mais altos da história sem ter nenhuma grande quebra de safra nos últimos cinco anos nem nos Estados Uni-dos nem na China, que são as duas maio-res economias agrícolas do mundo”.

Esse componente adicional de deman-da – a expectativa da escassez provocan-do uma corrida de reposição de estoques - surgiu muito recentemente e, segundo Pinazza, “forma uma equação complica-da, que gera pressões psicológicas para o futuro. É este cenário que responde pela especulação de curto prazo”. Essa avalia-ção é respaldada no fato de não ter sido uma demanda real que fez soar o primeiro sinal de alarme. “Foi o problema do arroz

que chamou a atenção do mundo, embora não tenha havido nenhuma grande que-bra de safra de arroz e as exportações líquidas de arroz não ultrapassem 6% da produção”, esclarece Mendonça de Barros. “Mas como a Tailândia bloqueou a saída de uma parte das suas exportações, co-meça a faltar o produto nos países que importam e se paga qualquer preço para fechar a oferta doméstica”. Ele lembra que os Estados Unidos, a China e a Europa sempre tiveram estoques muito grandes, que em caso de uma catástrofe climáti-ca poderiam sustentar o mundo, mas isto agora acabou, gerando, efetivamente, um risco enorme. “Como os estoques es-tão muito reduzidos, o mundo começou a enxergar que a segurança alimentar de vários países está sob risco.”

“Financeirização” das commodities

O desequilíbrio entre oferta e de-manda de commodities agrícolas forne-ce explicações, certamente, para a crise atual do preço dos alimentos, mas ape-nas num nível superfi cial. Há também componentes macroeconômicos em jogo, lembra Mendonça de Barros, como a crise fi nanceira dos Estados Unidos. “O dólar perdeu valor, e como as commodities são cotadas em dólar ocorre uma alta natural. Outra conseqüência desse mesmo fator conjuntural é que, em toda crise fi nan-ceira, as pessoas passam a desconfi ar da estabilidade do mercado fi nanceiro, da credibilidade dos bancos, dos papéis etc., e os investimentos migram, por exemplo, para as commodities. Este é um efeito de curto prazo com o qual iremos conviver enquanto perdurar a insegurança no mer-cado fi nanceiro”.

“Como o real está se valorizando e como a logística no Brasil é ruim,

os custos de produção subiram muito e as margens para os produtores

brasileiros não são tão convidativas como deveriam, considerando-se

que os preços mundiais atingiram seu recorde histórico”

Alexandre Mendonça de Barros

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TENDÊNCIAS

Luiz Antonio Pinazza concorda que “o degelo do dólar gera mais incerteza”, já que esta moeda era considerada um ativo real e agora não é mais. Ele acrescenta que o fato de os juros estarem em queda em quase todo o mundo também estimulou os grandes fundos de investimento a se voltarem para ativos reais, e lembra que a alta do preço das commodities minerais, especialmente o petróleo, está direta-mente ligada a esse fenômeno (o preço do barril subiu de US$ 35 para US$ 125 nos últimos cinco anos), assim como a dispa-rada do preço das commodities agrícolas. “Temos hoje uma luz amarela acesa e bem brilhante, e estamos perto de acender a luz vermelha. Se ocorrer algum problema climático nos Estados Unidos no período entre junho e agosto, pode haver turbu-lência no chamado ‘mercado de clima’ das bolsas de valores.

O fato é que, na economia global, a balança entre oferta e demanda deixou de ser o fator decisivo do rumo do mercado de commodities. As cotações dos futuros agrícolas (derivativos) passaram a ser in-fl uenciadas diretamente pela atuação dos fundos de investimento, num fenômeno que tem sido chamado de “fi nanceiriza-ção” do mercado de commodities, como também pelas agressivas políticas de subsídios à agricultura praticadas pelos Estados Unidos e União Européia. Ao in-jetarem anualmente US$ 400 bilhões em suas economias agrícolas, tornando-as artifi cialmente competitivas, esses paí-ses desestimulam os países subdesenvol-vidos e emergentes a produzir mais para o mercado global. O diretor da OMC Pascal Lamy reconhece este fato ao afi rmar que “a produção insufi ciente nos países em desenvolvimento é, em parte, resultado de subsídios e tarifas que distorcem o co-mércio e que precisam ser reduzidas”.

Esses fatores, entretanto, podem ain-da ser considerados como de ordem con-juntural. Se buscarmos as causas mais profundas da crise dos alimentos veremos que existe uma matriz estrutural se con-solidando há cerca de três décadas. Com o início da globalização nos anos 80, e a im-posição aos países menos desenvolvidos, pelo FMI e Banco Mundial, de modelos econômicos neoliberais, desmontaram-se as instituições nacionais e internacionais que exerciam algum poder regulatório

sobre os mercados de commodities – por exemplo, no Brasil, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e o Instituto Brasilei-ro do Café (IBC). Com isso os fl uxos do comércio foram entregues às “forças de mercado” e, conseqüentemente, fi caram sujeitos à ação de oligopólios.

Num estudo intitulado “Commodity dependence and development” o South Centre, organização intergovernamental dos países em desenvolvimento, aponta a concentração do mercado de commodities agrícolas nas mãos de poucos intermediá-rios – processadores, tradings e distribui-doras - como um dos principais fatores de desestímulo ao aumento da produção entre os países pobres. “A extinção das funções reguladoras das organizações in-ternacionais e dos órgãos nacionais que monitoravam esses mercados, e que no passado atuavam como vetores de estabi-lização, apesar de sua eventual fragilida-de e limitações, exacerbou a volatilidade nos mercados de commodities”, afi rma o estudo.

A realidade do mercado de commodi-ties agrícolas hoje, segundo o South Cen-tre, é a do oligopsônio, que se diferencia do oligopólio apenas por ser o poder de compra, e não o de venda, que se concen-tra nas mãos de poucas empresas – neste caso processadoras e distribuidoras em detrimento tanto dos produtores quanto dos consumidores. O progressivo aumento dessa concentração, por meio de fusões e aquisições, habilitou intermediários a fi car com a “parte do leão” e reduziu a parcela de ganhos do produtor na cadeia de valor das commodities agrícolas.

Segundo o documento, outro fator de desestímulo à produção foi “o sistemáti-co descumprimento de compromissos as-sumidos pelos países de primeiro mundo com relação à redução dos seus subsídios agrícolas”, que funcionam como barreiras à entrada de commodities provenientes de países menos desenvolvidos. “A falta de vontade política resultou em ceticis-mo e inação”, lamenta South Centre. Para superar a crise do preço dos alimentos, o documento defende a tese de que o mun-do precisa de mais regulação e políticas industriais que ampliem e fortaleçam um conjunto maior de atores. “O pensamento corrente, hoje, sobre política industrial, é que os governos desempenham um papel

crucial no equacionamento das disfunções das forças de mercado”, resume o estudo.

Um desafi o para o Brasil

Em que pesem as barreiras conjuntu-rais e estruturais contra os países menos desenvolvidos, o Brasil tem excepcionais condições – mais do que qualquer outro país, talvez – de se tornar um líder na exportação tanto de alimentos quanto de biocombustíveis. Segundo maior produtor de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o País tem 64 milhões de hectares plantados e ainda dispõe de algo entre 70 e 90 milhões de hectares de terras agriculturáveis hoje subaprovei-tadas, que equivalem a mais do que os territórios da França e da Alemanha so-mados. São, em geral, áreas de pastagens degradadas ou ainda em uso na pecuária, porém de forma demasiado extensiva, e que se forem tecnifi cadas poderão liberar terras para plantio. Esta conta não inclui a Amazônia e nem as áreas de preserva-ção do Cerrado e da Mata Atlântica.

Na agricultura o Brasil tem avança-do a passos largos. Entre 1996 e 2006, a produção agrícola nacional cresceu mais de 4% ao ano, enquanto a média mundial não passou de 1%. A condição do Brasil é única, com terra, água doce (13% das fontes existentes no planeta estão aqui) e insolação abundantes. Nos Estados Uni-dos a terra ainda disponível é considera-da de risco ambiental, o que implicaria altos custos de produção. A Austrália tem boa disponibilidade de terra, mas não de água. A África, onde as condições natu-rais seriam mais próximas às do Brasil, há problemas políticos de difícil solução em curto prazo que inviabilizam a produção massiva de alimentos.

Porém, boas condições naturais não bastam. Para que a terra se torne produ-tiva é preciso pôr em funcionamento toda uma cadeia de suprimentos que inclui implementos agrícolas, armazenagem, transporte, sementes, fertilizantes e de-fensivos agrícolas, entre outros itens. E nessa esfera a situação se complica, pois o Brasil luta com notórios e ainda mal equacionados gargalos de infra-estrutura – especialmente nas áreas de energia e transporte – e depende de fertilizantes importados que não estão sobrando no

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TENDÊNCIAS

“O Brasil, como já se

antecipava há décadas, vai ser

o grande celeiro do mundo.

Acho que está chegando este

momento. Os Estados Unidos

não têm área para crescer, a

Argentina tem pouca área e a

África não vai dar resposta em

curto prazo.”

Luiz Antonio Pinazza

mundo. Atualmente o País importa 65% do fertilizante que consome e recente-mente os preços em dólar de alguns des-ses produtos chegaram a dobrar no mer-cado nacional.

Alexandre Mendonça de Barros explica que há problemas relacionados ao abas-tecimento dos três grandes nutrientes que compõem os fertilizantes - nitrogê-nio, fósforo e potássio. “O nitrogênio é obtido a partir da matriz do petróleo e um insumo fundamental para sua produ-ção é o gás natural, utilizado para liberar hidrogênio e reagir com o nitrogênio do ar para produzir amônia. Os fatores limi-tantes, aí, são a quantidade de gás natu-ral e as fábricas para produzir o insumo. De qualquer forma, nos últimos anos este foi o único nutriente em que houve in-vestimentos. Recentemente a China, que é uma exportadora de nitrogênio impor-tante, impôs uma tarifa de mais de 100% sobre suas vendas externas de adubos nitrogenados e fosfatados para reter o produto no mercado interno. O resultado é uma escassez da oferta de nitrogênio no mercado internacional e uma elevação signifi cativa do preço. Já o fósforo e o potássio são obtidos basicamente por mi-neração: 60% das reservas de fósforo es-tão no Marrocos e o potássio se concentra no Canadá, Rússia, Alemanha e Israel, em minas que estão operando a plena capaci-dade. Vai levar um tempo até que a oferta se corrija – a estimativa de especialistas é de não menos que três anos”.

Diversos fatores concorrem, portanto, para encarecer os preços dos fertilizan-tes. Além da alta do petróleo, commodity indispensável para a produção do nitro-gênio, e do fato de os demais nutrientes também dependerem de reservas minerais esgotáveis, há ainda as pressões de de-manda. Mendonça de Barros lembra que, como o consumo de fertilizantes também cresce fortemente, “especialmente na Chi-na e na Índia, que hoje consomem 30 a 40% do adubo do mundo e têm políticas de subsídio para evitar desabastecimento, o preço deve continuar subindo no merca-do internacional”.

Alguns fatores macroeconômicos in-ternos também conspiram contra a nova revolução agrícola que o Brasil poderia fa-zer. O câmbio desfavorável à exportação, que anula o incentivo dos altos preços

internacionais para o produtor brasileiro, é considerado o principal deles. “Como o real está se valorizando e como a logística no Brasil é ruim - a escassez de portos e estradas coloca uma difi culdade adicional - os custos de produção subiram muito e as margens para os produtores brasileiros não são tão convidativas como deveriam, considerando-se que os preços mundiais atingiram seu recorde histórico” – argu-menta Mendonça de Barros. “O que tem

acontecido é que a produção no Brasil não tem crescido e, a meu ver, não crescerá no próximo ano, pelo menos na proporção que o mundo nos demanda. O Brasil não irá resolver o problema de oferta do mundo”.

O consultor aponta como um problema adicional as difi culdades de gestão do go-verno brasileiro. “Em minha opinião, falta um projeto unifi cado, uma ação intermi-nisterial com orientação comum. Sente-se, pelo contrário, muita divisão. Em uma democracia isto é interessante, mas uma opinião pode neutralizar a outra e então nada acontece. Parece que, infelizmente, o caminho não tem sido de conciliação, mas de confl ito de opiniões. Isto não ajuda.”

Luiz Antonio Pinazza está mais otimis-ta. Ele acredita que “o Brasil, como já se antecipava há décadas, vai ser o grande celeiro do mundo. Acho que está chegan-do este momento. Os Estados Unidos não têm área para crescer, a Argentina tem pouca área, e a África não vai dar respos-

ta em curto prazo, por conta da instabi-lidade política e de uma insegurança ins-titucional muito grande. Neste cenário, o Brasil ocupa um lugar especial. Temos um agronegócio muito profi ssional e os gran-des players internacionais do setor estão aqui, em todos os elos da cadeia”.

Por outro lado, ele compartilha as preocupações de Mendonça de Barros com relação aos gargalos, assinalando que o PAC ainda não deu uma resposta à altura dos desafi os relacionados à infra-estrutu-ra. “Os investimentos estão evoluindo em ritmo muito lento e, num cenário de cinco ou seis anos à frente, corremos o risco de apagão na área de energia”. Quanto aos fertilizantes, Pinazza considera ser possí-vel diminuir a dependência externa. Para isso, afi rma, “é preciso avaliar as jazidas de fósforo e potássio que existem no País e os impactos ambientais decorrentes da sua exploração”.

Outro ponto destacado pelo diretor do Instituto de Estudos do Agrobusiness é o apoio ao cooperativismo no País. “O sistema de integração do agronegócio é quase todo baseado na pequena proprie-dade familiar: a agroindústria fornece o insumo, tecnologia e assistência e os pequenos produtores cuidam da lavoura. Cerca de 90% da produção agrícola no Brasil vem de cooperativas, e por isso é importante o seu fortalecimento e a cria-ção de instrumentos para elas agregarem valor ao produto, industria lizando-se mais”.

Finalmente, todos concordam que a questão ambiental não pode ser negli-genciada. Mendonça de Barros lembra que “o Brasil já é líder mundial em oito mercados, com 60 milhões de hectares plantados, enquanto os Estados Unidos plantam 180 milhões de hectares. Temos um grande potencial para crescer”. Será preciso repetir muitas vezes ao mundo que, com as áreas ainda disponíveis no Brasil, não será preciso derrubar fl ores-tas para aumentar nossa produção. Luiz Antonio Pinazza admite que um avan-ço muito rápido da agricultura poderia constituir, sim, um risco para o meio ambiente, mas insiste em que é preciso enfrentar esse desafi o: “ameaças am-bientais sempre existirão, mas a tecno-logia, se empregada corretamente, ajuda a preservar o meio ambiente”.

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ENTREVISTA

A globalização da fomeGuilherme Leite da Silva Dias, professor titular da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, graduado em Ciências Econômicas e doutorado em Economia, foi Diretor da Área de Crédito, Financeira e Internacional do BNDES entre 1992 e 1993 e Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e do Abastecimento entre 1995 e 1997. Autor de inúmeros artigos sobre o agronegócio no Brasil e no mundo, acumula larga experiência em estudos econômicos com ênfase em economia agrária e dos recursos naturais. Nesta entrevista, Guilherme aponta a ausência de uma coordenação estratégica internacional quanto aos estoques de alimentos e os números impressionantes do programa de produção de etanol dos EUA como os dois fatores mais importantes de uma crise anunciada, que no presente se agrava graças ao quadro de instabilidade fi nanceira com a oscilação do preço do dólar. Quanto ao papel do Brasil como futuro provedor de alimentos para o mundo, Guilherme entende que, a despeito da vantagem competitiva que o território nacional proporciona, há muitas variáveis de competência e competitividade a serem superadas para que de fato o País concorra a este título.

Guilherme Dias

A crise de alimentos é resultado ape-nas de uma relação entre oferta e de-manda ou existe muita especulação nes-te cenário?

A crise se apresenta porque o merca-do está reagindo ao crescimento da de-manda por alimentos e a estabilização da oferta mundial. Porém, se somou a isso o problema de volatividade dos preços, ou seja, você tem uma subida de preço es-tranha, é um patamar que assustou todo mundo, um fenômeno que aconteceu de julho do ano passado para cá. Essa vola-tividade dos preços tem ligação mais di-reta com a crise fi nanceira internacional do que com o problema particular dos ali-mentos, porque o fato de não sabermos o preço real dos alimentos está relacionado com a instabilidade fi nanceira, o dinheiro que vai para cá e para lá e a oscilação do preço do dólar. Afi nal de contas, o dó-lar é referência para alimentos desde a II Guerra Mundial. Trata-se de um mercado em que os contratos sempre estiveram atrelados ao dólar, porque os EUA sem-pre foram os provedores de alimentos de última instância. Os grandes estoques

americanos sempre estiveram disponíveis para o resto do mundo - inclusive para os russos durante a Guerra Fria – como a solução para um problema de escassez alimentar ocasional.

Este cenário está se modifi cando e é isso que provoca esta volatividade, quer dizer, um processo especulativo em cima de alimentos. Na minha opinião, está cla-ro que existe uma coisa diferente no ar de meados do ano passado para agora. É claro que a crise se sustenta porque exis-te uma certa escassez de alimentos. Ago-ra, por que o preço da tonelada de certos produtos vai parar em 1.200 dólares ou 600 dólares a tonelada de milho, quan-do todo mundo acha que o normal seriam 200 dólares? Por que o mercado explode a referência de preços? Está claro que há um componente “over shutting”, o que a gente chama de movimento especulador que começa a puxar o preço para cima e todo mundo reage em pânico. Então, você vê a história da Ucrânia, de alguns países da Europa Central, que quando vivem uma seca proíbem a exportação de alimentos, e outros imitam, a Argentina imita, outros também, e até nós ameaçamos fazer uma

besteira dessa ordem, o que só agravaria o cenário. E logo o Brasil, que claramente tem um papel importante nesta questão, não pode de forma alguma ser um ator do pânico. Portanto, existe um componente que depende de cabeça fria, de países conversando uns com os outros, de uma análise mais profunda do problema e da adoção de soluções pontuais até o quadro se estabilizar. Nada de pânico.

A ONU pode ser a articuladora deste diálogo internacional e operar estas so-luções pontuais de ajuda a países com problemas reais?

Não vejo a ONU como um organismo com credibilidade para ser o articulador desta crise e muito menos como um agen-te operador de um fundo internacional. Eles não têm o necessário reconheci-mento internacional de ter competência para isso. Trata-se de um órgão político, que mesmo nesta dimensão já perdeu muita força. Quando a ONU pleiteia um papel deste porte, esquece do escândalo da campanha “petróleo por comida”. Na Guerra do Golfo, houve o embargo ameri-

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ENTREVISTA

cano em pressão por um esforço de desar-mamento. Um longo período de embargo a um país tão vulnerável quanto o Iraque signifi caria matar a população de fome, portanto, não haveria um ambiente po-lítico para o embargo, se não houvesse a possibilidade de exceção. Esta exce-ção foi aberta para alimentos e medica-mentos através da ONU em um esquema onde houve a venda especial do petróleo do Iraque para o mercado internacional e o proveito desta compra foi entregue em alimentos e outros gêneros de primei-ra necessidade. Tudo foi negociado pela ONU e acabou resultando em escândalo, porque as vendas de petróleo tinham co-missões estranhas e os alimentos também estranhamente eram os mais caros do mun-do. Tudo isso está documentado em um re-latório do FED em comissão organizada para investigar o assunto. A ONU não é execu-tiva, é uma organização normativa e deve limitar-se à sua vocação. Neste caso, eu me pergunto, por que não a OMC, então? Pelo menos é um grupo acostumado a conversar com o mercado.

Qual seria o órgão legítimo para fazer isso? Porque certamente será ne-cessário articular uma ajuda aos países mais pobres, ao menos como uma solu-ção emergencial, não?

Sobre este ponto fi z um comentá-rio recente em uma entrevista, que teve muita repercussão: vocês já notaram que depois da Rodada do Uruguai não exis-te mais esta liderança? Se você olhar a estrutura normativa que está por trás deste histórico, que antes era o centro das políticas domésticas com os países que pretenderiam ser os líderes mundiais, você tinha a idéia de ter uma reserva de alimentos que serve para mim e para os outros países com os quais tenho bom re-lacionamento. Os estoques norte ameri-canos serviram para isto, os estoques da Europa serviram para isto e basicamente estes eram os únicos que tinham esto-ques para suprir sua população e o resto do mundo. Obviamente, os estoques que fi cavam dentro da China também eram signifi cativos, porque depois da fome vivida durante a Revolução Cultural, os chineses, como instrumento de autono-mia e de soberania, formaram um imenso

estoque de alimentos. Quando eles nego-ciaram a entrada do país na OMC em 1988, esse estoque entrou em discussão. Porque cada país não pode simplesmente fazer uma política em que compra todo o es-toque e põe no armazém. Estamos vendo uma pontinha deste tipo de risco agora, de como esse comportamento pode criar realmente um ciclo de pane com a para-da de movimentação de alimentos de um país para o outro.

Mas os estoques da China fazem mui-ta falta hoje ao mundo, vide a escassez de arroz.

Exatamente, com a entrada da Chi-na em 1998 na OMC, eles assinaram um compromisso de a partir de 2002 come-çarem a cumprir as regras direitinho, que recomendavam a baixa dos estoques. O problema é que o estoque da China era a metade do estoque do mundo. Aí, você olha os europeus, depois da mudança po-lítica agrícola do PAC do ano de 2000, eles também vieram reduzindo os esto-ques violentamente, os estoques de car-ne, de lácteos... Aquela elevação grande de preços de laticínios que houve no ano passado aconteceu porque acabaram completamente os estoques da União Eu-ropéia. Na verdade, aumentou a demanda e faltou uma estratégia coordenada de formação de estoques emergenciais. Todo mundo se comprometeu a limitar sua po-lítica doméstica de estoques para que to-dos os produtos fossem para o mercado internacional. Agora, estamos vivendo o resultado desta política levada ao extre-mo. Porque a China reduziu seus estoques fortemente depois de 2002 e o país tinha um estoque monstruoso em trigo e arroz, um razoável de milho e um estoque muito grande de algodão.

E o programa de etanol americano também é vilão nesta história?

Exatamente. A importância dos esto-ques americanos sempre esteve concen-trada nas culturas de trigo e milho, a ima-gem de celeiro do mundo foi construída sobre estes alicerces. Como os preços an-daram funcionando de uma maneira que desestimulou a produção de trigo, princi-palmente em 2005 e 2006, os estoques se reduziram. O programa de etanol a partir

do milho - não tenho outra palavra - é boçal, pelo tamanho do risco, o tamanho do subsídio, a velocidade com que eles se comprometeram a implementar o pro-grama depois de 2020. São essas coisas que o lobby propõe com números absur-dos porque sabe que depois todo mundo vai negociar e reduzir pela metade, mas neste caso o Congresso americano apro-vou sem questionar. Uma decisão que só se explica sob um clima de pânico, como se o etanol fosse solução para tudo. O re-sultado é o que estamos vivendo agora, porque os estoques americanos se redu-ziram em 2 anos a uma velocidade que ninguém podia prever. A verdade é que o trigo estava caindo dentro do processo normal, porque a China estava reduzindo os estoques e havia muita oferta no mer-cado, o que desistimulou a produção. Nós no Brasil, vivemos a crise de preços em 2006. Ninguém estava fazendo estoque, ninguém praticava uma política de preços líquidos para os governos comprarem o excesso de oferta, então, toda produção ia para o mercado internacional. Na ver-dade, a crise se impõe porque hoje não existe mais a soma do programa de esto-ques dos EUA, da Europa e da China, que faziam estoques para o mundo. Há certos produtos que você não pode achar que a volatividade de preços vai resolver todos os problemas do mercado. Isso é básico em economia: você deve lembrar aos alu-nos que a agricultura ainda depende da natureza, que quando você dá um salto de preço aqui a oferta demora um ano para responder, ou dois anos para responder... Um conteúdo que gente aborda na primei-ra lição de curso de economia agrícola, mas que parece não estar valendo na car-tilha mundial.

As mudanças climáticas acrescentam mais um dado de instabilidade ao cenário.

Exatamente, o clima é mais um fator de instabilidade. Então, como é que você vai resolver o problema simplesmente aumentando os preços? Se o preço sobe muito, alguém vai fi car sem comer e não é possível esperar o ano que vem para que a comida apareça nos pratos novamente. Esta é obviamente uma imagem caricatu-ral do momento que vivemos, mas que tem

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ENTREVISTA

seu fundo de verdade quando falamos de produtos com uma oferta anual discreta e um processo complexo de reagir a preços com defasagem. A verdade é que precisa-mos de um mecanismo regulador que não apenas o mercado. Se você olhar a histó-ria de comércio internacional de produ-tos agrícolas e alimentícios nos últimos 50 anos, estávamos vivendo um período em que todo mundo acreditava que a fome estava desaparecendo, que “as fo-mes” eram pontuais e de origem política na maioria das vezes, culpa do exercício de governos estranhos e autoritários. Aí, você desperta com uma crise que não tem relação direta com nada disso. A verda-de é que o alimento não é um produto para ser deixado ao sabor dos ventos, do equilíbrio do mercado, da volatilidade dos preços, essas coisas que funcionam em outras commodities. Creio que deste cenário vai emergir uma liderança, que faz sentido que seja no âmbito da Orga-nização Mundial do Comércio, principal-

mente, porque todos os grandes comer-ciantes de produtos agrícolas do mundo estão estruturados naquele sistema de representação. Não é possível usurpar este papel que a OMC tem consolidado. A FAO e a ONU não conseguirão se trans-formar de uma hora para outra em estru-tura para mobilizar um esforço de guerra em termos de transporte de alimentos ao redor do mundo...não tem cabimento. A OMC talvez não tenha se apresentado em um primeiro momento porque há um confl ito intrínseco ao tema. Afi nal, foi ela mesma quem conduziu o processo de forma a evitar estoques de alimentos...houve uma certa falta de orientação so-

bre como fazer isso sem comprometer o futuro. Por isso, talvez, eles estejam tão reservados. Será que eu posso falar sobre aquilo em que errei?

Você acredita, então, que é funda-mental que se articule uma orientação global sobre os estoques de alimentos, equilibrando oferta e demanda através de mecanismos reguladores?

Sim. Será necessário, sem dúvida, uma revisão de postura em relação ao tema. Poderíamos, por exemplo, estabe-lecer uma regra de que quando o preço baixasse muito, desestimulando a ofer-ta, os países pudessem usar mecanis-mos de salvaguarda, onde os governos anunciam preços acima do mercado e compram o excedente. Hoje isso não é permitido por conta de compromissos de política doméstica em relação ao merca-do internacional. Acho que uma revisão de estratégia se faz necessária. Regras já são traçadas pela OMC, simplesmente terá que se fazer uma revisão das regras e prioridades traçadas até aqui.

Organizações internacionais respon-sabilizaram a produção de etanol pela alta dos preços das commodities agrí-colas. O Brasil produz a partir da cana, portanto não existe o efeito de substitui-ção da terra, e os Estados Unidos alegam que o impacto do etanol no cultivo do milho não é relevante. O etanol é mesmo a origem do problema?

A expectativa para esse ano é que 24% da oferta do milho nos EUA seja des-tinada à produção de etanol. Nesse caso, o etanol de milho é claramente o bode expiatório desse negócio, é óbvio que é parte relevante do problema de alimen-tos. O caso do Brasil é diferente, porque a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar não cria nenhum problema para o cenário de alimentos no mundo, não há substituição de lavoura. Muito pelo con-trário, recentemente houve uma imensa queda no preço de açúcar no mercado in-ternacional. Portanto, esta é uma conver-sa de quem quer arrumar argumentos para derrubar nosso programa de etanol que é muito competitivo, pois é uma produção mais barata. Essa conversa não se sus-tenta nos fatos, porque estamos fazendo

até um favor ao reduzir a oferta de açúcar este ano, porque o mercado internacional está dando sinal de que não quer tanto açúcar. O programa de etanol brasileiro está funcionando até como mecanismo de equilíbrio do mercado de açúcar. Basta verifi car que o preço do açúcar desabou, enquanto o preço do milho explodiu no mercado internacional. O que fi ca no ar em relação ao nosso programa de etanol é o destino dos recursos de fi nanciamento que são fi nitos. O fato é que para o Brasil a questão da terra disponível não é tão importante, pois temos como aumentar a área ocupada por lavouras. O argumen-to aqui é um pouco diferente: se todo o dinheiro vai para expandir a lavoura de cana de açúcar para fazer etanol, falta dinheiro para expandir outras culturas. Isso pode acabar prejudicando o cenário do agronegócio.

Aumentar a oferta de alimentos não depende apenas de uma articulação inter-nacional, mas também do tempo possível para o desenvolvimento de infra-estru-tura e outras demandas deste mercado, como fertilizantes, por exemplo?

Certamente, há limites graves para expandir a produção de alimentos no mundo hoje. Para responder a esta crise, o mundo teria que alcançar cerca de 3% ao ano a mais na expansão de alimentos durante uns 3 anos para recompor o es-toque. Isso é factível no atual quadro de crescimento da demanda mundial de ali-mentos? A resposta provavelmente é não sei. Principalmente, porque o quadro de fertilizantes não é promissor. Nos últimos anos, foram fechadas diversas minas de fosfato e potássio que estavam fi cando inefi cientes ou muito caras. Estas minas acabaram, uma vez abandonadas não há retorno rápido. São necessários em mé-dia dois anos para abrir uma nova mina. Isso, sem falar nos nos problemas políti-cos que estão ligados a esse negócio de exploração de grandes minas de fosfato ou de potássio, pois as principais minas estão localizadas em países complicados para a atuação de capital internacional como Rússia, Ásia Central, Oriente Médio. O maior produtor de fosfato do mundo é o Marrocos. É um país um pouco mais es-tável, mas quem abriu a primeira planta química para exportar os produtos in-

“O caso do Brasil é diferente,

porque a produção de etanol a

partir da cana-de-açúcar não

cria nenhum problema para

o cenário de alimentos no

mundo, não há substituição

de lavoura.”

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ENTREVISTA

termediários de fertilizantes a partir do Marrocos levou cinco anos para negociar o projeto. Não há fertilizante sem fosfa-to para um país como o nosso. Os nossos solos, principalmente os de cerrado, são extremamente defi cientes de fosfato. A fração do solo brasileiro de perfi l para pro-dução de cereais ou de oleaginosas implica uma demanda muito pesada de fertilizan-tes fosfatados.

Então, fi ca comprometida a visão de futuro que aponta o Brasil como a saída para a produção de alimentos do mun-do? Nossa principal vantagem competi-tiva que é território para expansão de lavouras fi ca condicionada a variáveis externas importantes como essa depen-dência de fertilizantes?

Sim, porque o controle das minas está extraordinariamente concentrado em pou-quíssimas empresas e países, eu acho que são somente quatro as minas importantes de fosfato e potássio do mundo, que são fundamentais para aumentar a oferta de alimentos. Isso é perigoso. É um proble-ma global, não é localizado no Brasil, mas atrapalha muito qualquer plano para o fu-turo. Curiosamente não existe um instru-mento para atuar nesta regulação global, não existe o equivalente a um CAD inter-nacional para regular preços e práticas. Só existem órgãos domésticos de regulação de concorrência, não há um fórum mun-dial sobre este assunto, não existe uma Corte de Haia para os crimes contra a hu-manidade. No momento em que mergulha-mos na globalização de fato, percebemos que ela é incompleta.

O Brasil vem sendo apresentado como capaz de fazer parte da solução do pro-blema da oferta de determinados produ-tos agrícolas. O que, além de fatores de dependência externa, como os fertilizan-tes, nós impede de cumprir este destino?

Nós somos o principal exportador de carne bovina, somos o segundo e estamos nos transformando no primeiro em soja e somos liderança nas principais culturas de alimentos. Além disso, somos a fron-teira em termos de tecnologia agrícola. O que de fato nos atrapalha é a questão de infra-estrutura em transportes. A situa-ção dos portos e a natureza do produto

agrícola nesse contexto são preocupan-tes. Porque estamos tratando de um pro-duto perecível, de grande volume e com baixo valor agregado. Portanto, é tudo que o diretor de um porto não quer. O

produto agrícola para ele é um problema e tem baixo retorno se comparado a todo o resto. Porque se pensarmos em um pro-jeto para aumentar o fl uxo de alimentos que passam pelo Porto de Paranaguá, por exemplo, isso exige investimentos pesa-dos para um espaço que vai fi car reserva-do só para aquele tipo de produto, que é exatamente o que tem uma promessa de rentabilidade pequena. Portanto, os alimentos são produtos que claramente precisam de uma solução mais planejada, mais coordenada, precisam de um trata-mento especial como fator estratégico de crescimento e sustentabilidade para o País. Eu li o PAC com toda a atenção e boa vontade como especialista em agri-cultura, porém tive uma grande decepção. As dúvidas que foram colocadas no lança-mento do PAC em 2006, sobre os grandes investimentos que tínhamos que fazer, eu já ouvia quando estava dentro do Go-verno em 1996. Mais de dez anos se pas-saram e a questão política e estratégica estava no mesmo ponto. Se você olhar a execução do PAC, vai ver que este pedaço está parado. Exatamente este pedaço que talvez seja mais crucial para o futuro do País. Por que está parado? Por que nós não sabemos como proteger a Amazônia da invasão - ou não queremos. O fato é que fi ca tudo imobilizado, mas isso não

impede que a pecuária vá entrando. Ela vai tomando conta, porque os bois an-dam. Não temos nenhuma defi nição do ponto de vista estratégico de prioridades para executar o papel que está implícito na pergunta que você fez. Não tenho dú-vidas de que deixamos os países importa-dores preocupados. Somos sua esperança, mas não temos planos para corresponder às expectativas internacionais e ao tama-nho desta oportunidade de crescimento. Você pode notar que o Governo apresenta quatro grandes eixos para a melhoria da infra-estrutura, mas é óbvio que o Brasil não tem dinheiro para fazer os quatro ao mesmo tempo, mas o PAC não aponta cla-ramente a prioridade.

Alguns analistas indicam que a crise provocada pelo aumento dos preços dos alimentos decorre também da disparada dos preços do petróleo e dos subsídios agrícolas dos países ricos. Qual é sua opinião sobre o assunto?

Mais sério do que o desequilíbrio da fome, já há alguns anos estamos cientes, é o desequilíbrio de energia. Então, é sin-tomático que a gente esteja discutindo a fome há dois meses, mas neste período o petróleo passou de 90 para para 124 dóla-res. É curioso que, nesse meio-tempo em que a fome adquiriu espaço nos jornais, o preço do petróleo tenha explodido ainda mais. Isso é muito revelador de fato des-se desequilíbrio entre o crescimento da demanda do mercado mundial e a capaci-dade de atender esta demanda.

É o resultado da disputa política da-queles que estão por trás dessa questão da energia, fora a ligação entre esse proble-ma de oferta de energia e o aquecimento global. Tudo se relaciona. Se o modelo é de globalização, tudo indica que o apa-rato de gestão de confl itos está ridículo em relação ao tamanho do desafi o. Nesse cenário turbulento, creio que a OMC tem maior vocação para se apresentar como articuladora na questão dos alimentos. Na questão do aquecimento global já não sei. Os subsídios agrícolas são claramen-te um problema, porque resultam em uma redistribuição de oportunidades. A impli-cação por trás disso é que de fato o preço dos alimentos tem que subir. Se você re-tira aqueles subsídios todos, a oferta glo-bal deve se ajustar a um preço mais alto.

“Certamente, há limites

graves para expandir a

produção de alimentos no

mundo hoje. Para responder

a esta crise, o mundo teria

que alcançar cerca de 3% ao

ano a mais na expansão de

alimentos durante uns 3 anos

para recompor o estoque.”

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ENTREVISTA

Encarar a questão de que os alimentos passariam por um ciclo de preços mais altos vem junto com a idéia de reduzir os subsídios. Eu acho que o processo de redução de subsídios é lento, mas está acontecendo. Com uma única ex-ceção no mundo, que são os Estados Unidos, pois depois de 98 eles volta-ram a aumentar os subsídios. Só tem um país importante no mundo que não está reduzindo os subsídios, porque a Europa está. Podemos reclamar que a redução anda muito devagar, mas ine-quivocamente ela está acontecendo.

A conclusão da Rodada de Doha, com a conseqüente liberação do comércio agrícola e redução de subsídios pratica-dos pelos países desenvolvidos, poderá impactar favoravelmente na oferta e na renda dos produtores dos países em de-senvolvimento?

Sim. Reduzidos os subsídios, sobem os preços e sobram benefícios para os pa-íses em desenvolvimento. A competição fi ca mais leal. Para nós, para a Argentina e para a Austrália sem seca seria ótimo isso. E todo mundo fi ca esperando saber em que momento a África passará a ser uma grande fornecedora de alimentos. Afi nal, todos os cientistas e técnicos que andaram por lá não compreendem como o cenário não se modifi ca para os países africanos. A questão política precisa ser superada para contarmos também com este continente de oportunidades.

O debate que se encontra na agenda de várias organizações públicas e não-governamentais a respeito da produção oriunda da propriedade empresarial vis a vis da propriedade familiar tem algu-ma relevância?

Acho essa discussão inadequada. É ingênuo acreditar que o sistema de pe-quena propriedade familiar vai sobreviver só com alimentos. Isso não é verdade. A pequena propriedade vai se dedicar a qualquer cultura que signifi que mais qua-lidade de vida para o produtor. A verdade é que não existe organização de produto-res familiares se não existir a super estru-tura de uma organização cooperativa ou de uma coordenação agroindustrial sobre

o sistema. O Incra tem sido um fracasso no sentido de montar a tal da estrutu-ra de organização. A Conab, empresa de alimentação do Ministério da Agricultura, tem tentado assumir a montagem de tais estruturas de organização, mas está en-gantinhando ainda. Acho que seria bom deixar a iniciativa privada entrar para organizar este negócio da compra dos ex-cendentes que a agricultura familiar gera. Há discussões no ar, mas nenhuma delas tomou forma efetiva. Na minha opinião, o Governo tinha que fomentar esta estrutu-ra. O México, por exemplo, organizou um sistema de coordenação da agricultura de pequenos agricultores familiares. A idéia é traçar metas e prioridades, pois esta su-per estrutura dialoga com os produtores e defende seus interesses, mas defi ne o que vai ser produzido e como, busca fi -nanciamentos, funciona como um diretor comercial. Há uma ausência de gestão no campo, de uma coordenação estratégica dos pequenos produtores. Eu acredito no sistema de cooperativa, só que se trata de um desafi o da literatura internacional, não é um problema só brasileiro. Repro-duzir uma estrutura de cooperativa não é uma tarefa simples. É muito complicado em um país com tradição individualista como o nosso, tipo o sertão nordestino, por exemplo, fazer com que aquele grupo de produtores passe a trabalhar dentro de um sistema coordenado. No sul é diferen-te, porque os agricultores reproduziram modelos trazidos da Europa.

Quer dizer que superar a questão cultural é um desafi o?

Sim. A questão é cultural e política, mas é possível trabalhar para modifi car a tradição individualista. É uma ques-tão de tempo e de liderança. Lideranças empresariais ou mesmo originárias dos movimentos sociais. Se o MST fosse um pouco mais preparado, já estaria preocu-pado, atuando efetivamente neste senti-do. Esta questão já fazia parte das ins-truções dos anos 80 nos movimentos que deram origem ao MST, mas creio que eles perderam o bonde e optaram pela idéia de que o Estado vai fazer tudo. A refor-ma agrária no Brasil é absolutamente necessária, um país com a concentração de renda que nós temos tem que atuar

neste sentido. Mas também neste assun-to estamos patinando há muito tempo, sem uma condução estratégica para o tema. Por outro lado, se a opção é pela agricultura empresarial, concentrada na produção em larga escala e tudo o mais, como dá a impressão de que é o caminho que estamos seguindo, aí então existe uma outra questão muito séria. Se este sistema precisa de uma renegociação de dívida a cada sete anos, onde está a sus-tentabilidade dele? Se os produtores es-tão sempre com o pires na mão, pedindo milhões de presente, onde vamos chegar com isso? É desta forma que estamos conduzindo nossa agricultura de 95 para cá. O governo dando dinheiro, sem dizer claramente que está dando, sem mostrar os dados para a sociedade do quanto existe de transferência nesse processo de crédito rural. É uma caixa preta. Uma

pergunta não quer calar: Como está sendo a renegociação, quanto é de fato que vai custar aos cofres públicos? Os números não são revelados com transparência, en-tão, não temos noção de quanto signifi ca esta socialização do prejuízo, de quanto foi escondido dentro do orçamento. Defi -nitivamente não há transparência. É uma análise que deve ser feita por técnicos com a oposição presente. Este seria o procedimento político decente para ava-liarmos correções de rumos. Alguém tem que discutir isso, são dois imensos socor-ros em 10 anos. Na minha conta isso sig-nifi ca que de cinco em cinco anos temos que refi nanciar a agricultura. Um imenso subsídio que está disfarçado, mas que faz parte do sistema de expansão da agricul-tura brasileira. Mais cedo ou mais tarde, teremos que responder a estas questões com mais seriedade.

“... não temos planos para

corresponder às expectativas

internacionais e ao tamanho

desta oportunidade de

crescimento.”

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scrip

torio

.com

.br

A ABIFINA, Associação Brasileira das Industrias de Química Fina, Biotecnologia e suas

Especialidades, apóia a reivindicação de condições mais favoráveis de investimento na

exploração da rica biodiversidade brasileira por empresas brasileiras. Porque é só através de

uma política de incentivo e financiamento que a nossa indústria vai poder competir em pé de

igualdade com as empresas transnacionais no patenteamento e desenvolvimento de

produtos a partir da nossa biodiversidade. A ABIFINA atua para melhorar a discussão e o

encaminhamento deste e de outros pontos fundamentais de uma agenda para o desenvolvi-

mento que o Brasil necessita. Se você também tem compromissos com o Brasil de amanhã,

visite nosso site www.abifina.org.br

BIODIVERSIDADE PATRIMÔNIO NACIONAL

fármacos e medicamentos defensivos agrícolas defensivos animais vacinas catalisadores e aditivos intermediários de síntese corantes e pigmentos orgânicos

SOBERANIA É DAR FRUTOS

FÓRMULA DE DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

Componente Obrigatório

FORMULAMOS SOLUÇÕES PARA O BRASIL DO FUTURO.

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DESTAQUE

Em fevereiro de 2006, ao assumir a Di-retoria de Farmanguinhos o médico Eduar-do Costa anunciava seu compromisso de avançar ainda mais no caminho da mu-dança na história da saúde no Brasil, para o qual já tanto havia contribuído em 34 anos dedicados à Fiocruz. “Vamos assumir Farmanguinhos sem ilusões, mas com de-terminação, para questionar, para inovar, para reinventar a história da assistência farmacêutica e da fabricação pública de medicamentos do país. Os medicamentos apresentam papel relevante na redução das taxas de mortalidade e de morbida-de, mas são tão mais efetivos quanto mais competente é o controle do Estado do ponto de vista regulatório e mais dinâmica é a interferência do Estado para assegu-rar um acesso equânime aos medicamen-tos essenciais”, afi rmou na ocasião. Dois anos depois, no recente Seminário sobre o Complexo Econômico Industrial da Saúde, realizado de 19 a 21 de maio pelo BNDES, o Brasil começou a colher os frutos do traba-lho desse homem público, de caráter e re-

tidão, que incansavelmente lutou pela pro-dução local de fármacos e medicamentos.No evento, que reuniu representantes do Governo e da iniciativa privada, duas im-portantes Portarias foram assinadas. A primeira foi a Portaria Interministerial que institui a Contratação de Serviços de Pro-dução, como medida para ampliar o acesso da indústria nacional ao mercado de com-pras públicas. O acordo foi assinado à oca-sião pelos ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, sen-do posteriormente assinado também pelos ministros do Planejamento e de Ciência e Tecnologia. A segunda Portaria, assinada exclusivamente pelo Ministério da Saúde, lista cerca de 100 produtos prioritários para o governo, explicitando as áreas em que se espera maior investimento por parte do setor privado e que poderão ter maiores facilidades de fi nanciamento do BNDES.

Disse Eduardo em seu discurso de posse em Farmanguinhos, no ano de 2006: “Não há acesso de qualidade, nem equidade,

quando o preço e a prescrição dependem das forças do mercado e a elas não se so-brepõe um Estado que limite e discipline essas forças para atingir os objetivos sa-nitários. Não há acesso de qualidade, nem equidade, nem soberania, quando o mer-cado é dominado por um grupo de grandes transnacionais e se desonera e remunera fartamente a aplicação fi nanceira”. E termi-nou afi rmando que seu maior desafi o seria reverter o quadro de dependência tecnoló-gica do país no que se refere a fármacos e medicamentos e assim diminuir os gastos governamentais, aumentar a capacidade de inovação e as exportações. “Importamos cerca de 3 bilhões de dólares anualmente em fármacos e medicamentos e exporta-mos menos de 500 milhões. Nesse quadro Farmaguinhos precisa advogar e trabalhar com o governo por uma política industrial que valorize a criação e fi xação de empre-sas produtivas no Brasil”. As ações mais que as palavras deste e de outros honrados cidadãos brasileiros que fi zeram história na causa da Saúde Pública foram determinan-tes para que se pudessem traçar os objeti-vos da atual Política Industrial Tecnológica de Comércio Exterior - PITCE, do PAC Mais Saúde e do PAC de Inovação. Neste cenário, destaca-se a competência e sensibilidade do ministro Temporão que garantiram a ve-locidade dos avanços.

Além de ser o marco de lançamento das duas Portarias, o seminário organizado pelo BNDES teve como objetivo reunir um fórum privilegiado para discutir um con-junto concreto de ações para o desenvolvi-mento da base produtiva nacional de bens e serviços em saúde, mediante uma forte articulação entre o Estado, o setor produ-tivo e a sociedade brasileira. Com isso, o evento contribuiu para um padrão nacional de desenvolvimento que viabilize, a um só tempo, o dinamismo econômico, a geração e difusão de inovações em saúde no Brasil

A produção pública de medicamentos promovendo a indústria de fármacos no Brasil

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DESTAQUE

e o acesso da população aos bens e servi-ços essenciais em saúde.

Na presente entrevista sobre o conte-údo da sua apresentação no seminário do BNDES, Eduardo Costa faz um retrospecto da história recente da saúde no Brasil e conta um pouco da sua experiência à frente de projeto pioneiro de compra de serviços na cadeia produtiva de medicamentos. A proposta, capitaneada por Farmanguinhos, foi de estabelecer parcerias público-priva-do com fornecedores nacionais, mudando o conceito das aquisições exclusivamente pelo menor preço de fase: em vez de maté-ria-prima o instituto passou a comprar ser-viços de produção de princípios ativos. Ao adotar essa outra forma de contratação de serviços, o laboratório ganhou condições de acompanhar o processo produtivo de perto para garantir a qualidade dos insu-mos e, conseqüentemente, de estabilizar a cadeia de suprimentos que termina em suas máquinas. Ainda que a atitude de abando-nar o sistema de pregões internacionais tenha resultado em alguns custos iniciais mais elevados, uma enorme economia para os cofres públicos já se confi rmou, sem contar com importantes benefícios indire-tos como o desenvolvimento tecnológico sustentável e a geração de empregos quali-fi cados no País.

Como se encontrava o setor de fárma-cos nos anos 80 e o que aconteceu nos anos 90?

A partir de 1984, com a Portaria In-ter-Ministerial N004/84, foi efetivamente implantada uma política industrial para fortalecer a área de química fi na no País. Os projetos eram apresentados ao Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI), rece-biam o suporte de fi nanciamento do BN-DES, havia uma garantia de mercado atra-vés da Central de Medicamentos (CEME) e o apoio à inovação tecnológica era realizado através da Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (CODETEC). Em função desses estímulos de política industrial, entre 1985 e 1990 foram investidos cerca de 1 bilhão de reais na área de química fi na, em es-pecial no segmento de fármacos. Portanto, quando houve a eleição de Fernando Collor em 1989, estavam em andamento centenas de projetos de desenvolvimento industrial. Porém, como a orientação do Presidente eleito era diametralmente oposta, todos os

projetos que tinham sido aprovados com a garantia de compra governamental foram descontinuados, porque todos os compro-missos anteriores foram ignorados. A CEME, responsável pela compra de medicamentos pelo Estado, e o CODETEC, que trabalhava em Campinas, vinculado à Unicamp, vol-tada para o fomento do desenvolvimento tecnológico, foram fechadas. O empresário que investiu cinco anos de trabalho em pro-jetos que se transformariam em realidade produtiva, tiveram seus esforços em vão. Neste período, mais de 1100 unidades pro-dutivas de fármacos foram fechadas no País e 500 projetos de P&D foram descontinua-dos. A globalização dos anos 90 ampliaria o modelo de consumo onde os paradigmas são conquistas individuais, favorecendo o “mercado”. A economia brasileira foi “aber-ta”. Coincidentemente, conquistas sociais com a nova Constituição brasileira incor-poraram o direito à saúde e o dever do es-tado para assegurá-lo. Uma década depois a pressão de demanda sobre os laborató-rios ofi ciais começa a tomar inicialmente o contorno de dar acesso a amplos setores da população, como esperado, através de pro-gramas para enfermidades de alta preva-lência, voltando-se para a atenção básica. Logo, porém, precisam os laboratórios pú-blicos se readaptar: o Ministério da Saúde descentraliza as compras exatamente des-ses programas ligados à atenção básica. E, sobrevém a necessidade de abater os altos custos de medicamentos de incorporação recente aos consensos terapêuticos. Esses últimos decorrem, em particular, da lei das patentes, que surpreendentemente no Bra-sil incorpora o pipeline, isto é, é retro-ati-va. O legado neoliberal torna os desafi os aos laboratórios ofi ciais incomensuráveis. Na década de 90, houve a entrada em vi-gor do acordo TRIPS e da lei brasileira de Propriedade Industrial, que adotou gratui-tamente o dispositivo do pipeline, ressus-citando mais de 1000 patentes da área quí-mica, entre elas anti-retrovirais (Efavirenz, Nelfi navir, Abacavir e Amprenavir); a aber-tura do mercado brasileiro, resultando em exagerado aumento de importações (750% de aumento nas importações de produtos dos capítulos 29 e 30 da NCM - farmacêu-ticos e farmoquímicos); a paralisação de mais de 400 linhas de produção de farmo-químicos; a redução do número de produ-tores locais de antibióticos de 7 para 1; e a extinção das políticas industriais setoriais.

A Cartilha neoliberal decidiu por desonerar importações e gravar a produção local. Um conjunto de medidas inviabiliza a produção local de farmoquímicos e aposta em trazer empresas de genéricos sem exigir a inter-nalização de farmoquímicos. A ideologia vigente faz da lei 8.666/93 um instrumen-to de importação: a isonomia preconizada não é aplicada. Resumindo, toda promessa de avanço da política industrial implantada na década de 80 foi aviltada por uma irres-ponsável orientação única e exclusivamen-te para o mercado, contrária aos interesses nacionais.

Como se caracteriza atualmente a pro-dução pública de medicamentos?

A produção pública de medicamentos engloba 206 apresentações, incluídos os 11 soros específi cos. Depois de crescer a qua-se 10 bilhões de unidades produzidas em 2005, cairia para quase 8 bilhões em 2006 e a menos de 5 bilhões em 2007, ou seja, uma redução de 50%. Farmanguinhos, atu-almente, fabrica 66 medicamentos, entre eles, antibióticos, antiinfl amatórios, an-tinfecciosos, antiulcerantes, analgésicos e produtos dermatológicos; medicamentos para doenças endêmicas como malária e tu-berculose; drogas anti-retrovirais; medica-mentos para doenças do sistema cardiovas-cular e do sistema nervoso central e para os programas de hipertensão e diabetes.

A produção pública de medicamentos gera economia?

Só para dar um exemplo em números exatos, o desenvolvimento de tecnologia para a produção de anti-retrovirais por Far-manguinhos teve como objetivo garantir a disponibilidade, como forma de ampliar o acesso aos pacientes portadores de HIV/AIDS atendidos pelo Programa DST/AIDS do Ministério da Saúde. A produção dessa li-nha de medicamentos foi iniciada em 1997. O efeito regulador de preços foi surpreen-dente. A economia gerada pela produção nacional de anti-retrovirais no período de 1997 a 2000 foi de US$ 222 milhões. Desta economia, US$ 148 milhões foram obtidos somente no ano 2000. A contribuição de Farmanguinhos neste montante foi de US$ 115 milhões. Assim é para todo o restante da produção com variantes é claro, mas a economia é evidente.

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2020

DESTAQUE

Pode ilustrar como Farmanguinhos pode estimular a produção nacional de fármacos?

Há pelo menos sete linhas de estímulo já testadas pelos resultados alcançados de atividades que levaram à ampliação da produção local de princípios ativos. A primeira delas seria o desenvolvimen-to próprio ou compartilhado de fárma-cos com tecnologias de síntese (inclui engenharia reversa para estabelecer as rotas) ou desenvolvimento de análogos (moléculas modifi cadas). Como “cases” de sucesso neste sentido temos também a transferência ou licenciamento dessas tecnologias para parceiros privados: li-docaína, carbamazepina, haloperidol, dietilcarbamazina, fenitoína, ribavirina, didanosina entérica e sinvastatina (em progresso), além de análogos da lidoca-ína (atividade anti-histamínica). Outra modalidade são os contratos internacio-nais de incorporação de tecnologia, com obrigatoriedade da transferência da tec-nologia de produção do princípio ativo para produção própria (insulina humana, em progresso) ou para transferência e licenciamento dessas tecnologias para parceiros privados (em fase fi nal de ne-gociação: respiratórios). Podemos in-cluir nesta lista também a intervenção contratual para internalizar a produção de importantes produtores mundiais de fármacos com o objetivo de garantir a produção de Farmanguinhos e de outros laboratórios ofi ciais por meio do licen-ciamento de farmoquímicas nacionais (em fase fi nal: metformina; prednisona; metildopa; amoxicilina); ou para garantir suprimento regular e adequado de pro-gramas do Ministério da Saúde por Far-manguinhos e outros laboratórios ofi ciais – com perspectiva de apoio do Profarma; ou ainda focada em estabelecer farmo-químicas no Brasil através da formação de novas empresas com capital nacional ou estrangeiro ou ambos (em negociação: hormônios; em estudos: oncológicos). A transferência de tecnologia de produção de medicamentos de Farmanguinhos para laboratórios de outros países com princí-pios ativos nacionais e obrigatoriedade de uso dos mesmos por período contratu-al inicial (cinco a dez anos) é uma outra proposta de estímulo interessante. Isso sempre com obrigatoriedade de aquisição

dos princípios ativos nacionais por perío-do de 5 a 10 anos (em fase fi nal: Nigéria, Angola e Moçambique já acordados); ou, no caso de droga combinada de dois pro-dutos transferida para Índia, um dos pro-dutos terá base de produção nacional por um período de 5 anos (contrato negocia-do em apreciação jurídica). Outra linha de atuação neste sentido é a Pesquisa e Desenvolvimento na área de bioprodutos e de fi tomedicamentos. Pode-se dar de-senvolvimento próprio com patentes de bioprodutos licenciados para produtores locais (velas de andiroba; BTI - larvici-da para aedes sp.) ou com fi tomedica-mentos em desenvolvimento: fi salinas (imunomoduladores); der. Echinodorus sp (antihipertensivo); der. Aroeira (anti-infl amatórios), entre outros. São mui-tas as oportunidades de Farmanguinhos como estímulo à indústria de fármacos que produz em território nacional. É im-portante ressaltar os estudos e projetos estratégicos para a produção nacional de fármacos:participação direta no es-tudo enviado à Petroquisa/Petrobrás, envolvendo a viabilidade técnico-fi nan-ceira da implantação do complexo para a produção de intermediários de síntese e levantamento de todas as empresas far-moquímicas nacionais, com dados geren-ciais, tecnológicos, etc. Mas entre todas as linhas de estímulo citadas destaco, no entanto, a escolha de parceiros para compra de serviços dentro da cadeia de produção de medicamentos. Em 2006, Farmanguinhos identifi cou um grave pro-blema no suprimento de princípios ativos a tempo e com qualidade como seu prin-cipal desafi o gerencial. Esse problema precisou ser solucionado com uma forte parceria estratégica com as farmoquími-cas nacionais. Por essa razão, o instituto se fi liou à ABIFINA e desenvolveu profí-cuo trabalho sob a competente lideran-ça desta entidade. A inovação no siste-ma de compras de princípios ativos em Farmanguinhos demonstrou ser um “ovo de Colombo”, pois afi nal é sabido que o princípio ativo não é um “commodity”. O contrato de serviço de produção com fornecimento permite a customização, a rastreabilidade, a certifi cação da ANVISA e internacional dos produtos como gené-ricos e ainda privilegia a produção local, gerando emprego e desenvolvimento real para o País.

Em sua opinião quais os destaques da Portaria Interministerial no. 128, de 29 de junho de 2008?

Na determinação das diretrizes para a contratação de fármacos e medicamentos pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS), esta Porta-ria tem o mérito de estabelecer que, a fi m de garantir o pleno atendimento de todas as exigências sanitárias nacionais nas aqui-sições de medicamentos acabados por en-tidades da Administração Pública Direta ou Indireta, serão preferenciais as licitações de âmbito nacional. Outro destaque é que nas aquisições de medicamentos acabados, deverá estar prevista no instrumento con-vocatório a exigência de apresentação do certifi cado de registro do produto e do cer-tifi cado de boas práticas de fabricação do produtor, emitidos pela ANVISA, bem como declaração do produtor, sujeita à compro-vação, referente à origem do produto aca-bado e do insumo farmacêutico ativo que o compõe. Além disso, as aquisições de me-dicamento acabado patenteado no Brasil e não produzido em território brasileiro, após o terceiro ano de validade da patente, ape-nas poderão ocorrer quando a autoridade sanitária federal o considere imprescindível e seja demonstrado impedimento justifi cá-vel à produção no País. Em relação à compra de fármacos, há grande avanço em defi nir que, em razão da singularidade, natureza e relevância da produção de medicamentos, os laboratórios ofi ciais de produção de me-dicamentos, em suas licitações, deverão, sempre que possível, contratar o serviço de customização e produção, devendo prever a exigência de que a empresa a ser contratada possua unidade fabril em território nacio-nal, sob pena de desclassifi cação. Destaco também a questão da isonomia tributária nas licitações internacionais para aquisição de fármacos e medicamentos, considerando no preço do produto proveniente do estran-geiro, para efeito de julgamento das pro-postas todos os tributos que incidem em toda a cadeia produtiva e que oneram o preço fi nal dos produtos fabricados no País, descontando-se os tributos pagos com in-ternalização e comercialização do bem, quando for o caso. Estamos avançando a passos largos, garantindo uma competitivi-dade leal e priorizando a Saúde Pública em detrimento das regras do mercado. Há de fato muito o que comemorar.

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ABIFINA EM AÇÃO

GT de Saúde HumanaA ABIFINA esteve presente na 2ª Reunião Plenária do GT de

Saúde Humana do Fórum de Competitividade de Biotecnologia, representada por Marcio Falci, diretor de Biolab-Sanus. O evento ocorrido em 18 de abril debateu o trabalho dos quatro subgrupos. Em Marcos Regulatórios viu-se a necessidade de harmonização entre as legislações nacionais e internacionais, no que concerne ao registro e às boas práticas de fabricação de biofármacos. Com relação à infra-estrutura foi sugerido um levantamento das ne-cessidades de infra-estrutura de serviços do setor produtivo, com vistas ao suprimento das lacunas estruturais.

No subgrupo Recursos Humanos, foi sugerida uma política de forte estímulo às ICTs e às empresas para adotar em seus quadros pós-doutorandos, uma vez que esse trabalho exige dedicação plena aos projetos.

Em Investimentos buscou-se uma proposta para se constituir um grupo de trabalho formado por representantes do subgrupo e da Finep visando à melhoria e à qualidade, volume de investi-mentos e regularidade dos investimentos nas linhas de fi nancia-mentos disponíveis, bem como a adoção de novos mecanismos e critérios para fi nanciamento não-reembolsável de pesquisas no âmbito das empresas, com e sem intermediação de ICTs.

ABIFINA e Aenda rebatem especulaçõesA ABIFINA, representada por seu vice-presidente Luiz Guedes, participou

da reunião organizada pela Aprosoja e pela CDSV/MT (Comissão de Defesa Ve-getal de Mato Grosso) com as entidades representativas do setor agroquímico brasileiro e empresas produtoras de defensivos agrícolas à base de triazóis, em especial de Tebuconazol.

A postura dessas entidades com relação à efi cácia desse tipo de defensivo acarretou novo encontro das empresas que elaboraram comunicado aos produto-res de soja do estado do Mato Grosso para orientá-los a respeito da utilização do produto Tebuconazol no controle da doença ferrugem da soja.

O setor industrial reagiu através da ABIFINA e da Aenda divulgando co-municado onde esclareciam que o produto pode e deve ser utilizado conforme recomendação, e considerando as restrições mencionadas pela CDSV/MT impru-dentes e questionáveis.

Biotecnologia em debateO Comitê Gestor

do Fundo Setorial de Biotecnologia reu-niu-se em abril para analisar propostas de ações verticais, isto é, propostas a serem fi nanciadas apenas com recursos do próprio Fundo.

O vice-presiden-te de Estudos e Pla-

nejamento da ABIFINA, Marcos Oliveira, esteve presente no evento representando o setor privado.

Na ocasião o MCT apresentou sete propostas, sendo ape-nas duas com enfoque em produtos e processos. Enquanto isso a ABIFINA apresentou sete projetos e comprometeu-se enviar mais três, todos objetivando produtos e processos de base biotecnológica. Mesmo em caráter preliminar os projetos apresentados mostraram o forte interesse das indústrias no desenvolvimento de produtos de base biotecnológica.

2º Fórum de Boas Práticas de Fabricação

A gerente técnica da ABIFINA, Diva Arrepia, participou nos dias 8 e 9 de maio de reunião com Anvisa e empresas do setor farmoquímico, na sede do Sindusfarma, em São Paulo.

O encontro deu prosseguimento às atividades relaciona-das ao 2º Fórum de Boas Práticas de Fabricação, a se realizar no período de 8 a 12 de setembro em São Paulo.

Esse evento contará com a participação de palestrantes internacionais de renome, um do FDA e outro do Emea.

Auditoria ambientalA ABIFINA, em parceria com a Escola de Química da UFRJ,

promoveu em sua sede o Curso de Extensão em Auditoria Am-biental.

O curso capacitou os alunos a desenvolver auditorias ambientais seguindo a legislação, cumprindo as normas (in-clusive a ISO 14001), as resoluções e as determinações dos agentes públicos como Conama, órgãos ambientais, estadu-ais, municipais e o Ministério Público.

Esse é apenas o primeiro dos cursos que a entidade pre-tende realizar com essa nova parceira.

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ABIFINA EM AÇÃO

ABIFINA ajudando o ComperjBiotransformação

Câmara Setorial de Medicamentos

O diretor de assuntos regulatórios de fármacos, Nicolau La-ges, representou a ABIFINA durante a 5a Reunião Ordinária da Câmara Setorial de Medicamentos, realizada no início de maio.

Na ocasião foi apresentado pelo representante da Anvisa, Pedro Bernardo, um relatório sobre tributos que confi rma a preocupação da ABIFINA. Houve preocupação dos presentes com o possível aumento da carga tributária na formulação da reforma tributária, principalmente, com a inclusão do PIS + Cofi ns no IVA-F.

Também entrou em debate a questão dos insumos onde a ABIFINA teve a chance de manifestar sua preocupação com a revisão da RDC-249, principalmente quanto à reformulação dos conceitos de Fórmula Padrão e Validação, aplicadas atualmen-te, de forma equivocada, na fabricação dos farmoquímicos.

Em abril, o auditório da ABIFINA recebeu a professora Elba Bon, do Laboratório de Tecnologia Enzimática do Instituto de Química da UFRJ, juntamente com Maria Antonieta Ferrara, de Farmanguinhos/Fiocruz, que fi zeram uma palestra sobre a área de biotransformação. Segundo elas, essa técnica tem elevado potencial para substituir modifi cações moleculares usualmente feitas através de reações químicas, inclusive resoluções quirais.

Interesses empresariais brasileirosA analista de Comércio Exterior da ABIFINA, Noemy Padilha, participou da reunião do Conselho Empresarial de Relações

Internacionais da Firjan que se realizou no Rio de Janeiro.O evento contou com a presença do embaixador Luiz Felipe Lampreia, e com a gerente executiva da Unidade de Negocia-

ções Internacionais da CNI, Soraya Rosar, que falou sobre “Os Interesses Empresariais Brasileiros na América do Sul”. Segundo Soraya “as empresas industriais brasileiras não enfrentam difi culdades maiores nos países da região, mas

sentem que seus ativos e operações estão ameaçados por medidas regulatórias e intervenções de governo. Não sentem necessidade do apoio de proteção ao investimento. Se este existir, ótimo, mas não é determinante na decisão de investir, inclusive no México. O mais importante são os acordos de tributação. Todos insistem que esse é o ponto chave que deve ser trabalhado na CNI”.

ComsaúdeNo fi nal de abril as divisões setoriais do Comsaúde se reu-

niram no edifício sede da Fiesp que contou com o diretor da Biolab Sanus, Marcio Falci, representando a ABIFINA.

Foram estabelecidos a composição dos membros das di-visões setoriais do Comsaúde e o calendário de reuniões de cada divisão setorial.

Discutiram-se modos de atuação com relação à inclusão do poder de compra do Estado como estímulo a indústria ino-vadora. A atuação do BNDES através do Profarma também esteve em pauta, assim como a atuação da Anvisa fi cando decidido a manutenção de representante exercendo trabalho constante junto ao corpo técnico e diretivo da agência no sentido de melhor entender-se os problemas da mesma.

A idéia seria buscar maneiras de trabalho conjunto de apoio à agência regulatória para um melhor entrosamento do órgão com o setor industrial.

O assessor especial da presidência da Petrobras, Vivaldo Barbosa, se reuniu mais uma vez com os dirigentes e asso-ciados da ABIFINA. O encontro foi realizado na sede da en-tidade e destinou-se a buscar formas para melhor expressar termos de referência para um estudo de viabilidade técnica e econômica que deverá ser internacionalmente licitado pela empresa estatal. O objetivo seria implantar projeto de uni-dades multipropósitos destinadas a atender necessidades da química fi na nacional, em especial na área agroquímica e de fármacos. A equipe da Petrobras solicitou a participação da entidade e de seus associandos no desenvolvimento dessas atividades, inclusive propiciando visitas de seus membros às empresas associadas da ABIFINA.

Registro de AgrotóxicosO curso “Treinamento de Instrução e Preparação de Docu-

mentação para Registro de Produtos Agrotóxicos, Componen-tes e Afi ns” organizado pela Íntegra Brasil e o Mapa, contou com a presença da gerente técnica Diva Arrepia, representando a entidade. O curso foi ministrado pelo coordenador-geral de agrotóxicos e afi ns do ministério, Luis Rangel.

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ABIFINA EM AÇÃO

Insumos AgropecuáriosO diretor de assuntos regulatórios de agroquímicos da ABI-

FINA, Arnaldo Massariol, representou a entidade na reunião da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA), ocorrida em Brasília.

O encontro debateu o mercado de defensivos mostrando o aumento de 15% em reais de janeiro a abril de 2008. O cresci-mento ocorreu para todas as classes de produtos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) e nas principais culturas, com destaque para soja, milho, feijão, cana-de-açúcar, e hortifruti em geral.

Outro aspecto em questão foi a elevada preocupação de to-dos os integrantes da CTIA quanto à prorrogação do Convênio ICMS 100/97. Esse convênio reduz a carga tributária dos insumos essenciais para a produção de alimentos.

Havia sido acordado em reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) que o convênio seria prorrogado até 31/12/2008. Entretanto, apesar da concordância do secretário da Fazenda do Estado do Mato Grosso, esse estado publicou de-creto rejeitando a prorrogação. Pelo Convênio ICMS 100/97 tem-se aplicado alíquota zero para os produtos indicados no mesmo. Em face da insegurança da situação decidiu-se por manifestação da CTIA junto às autoridades competentes para manter a vigên-cia do convênio até que uma reforma fi scal efetiva contemple o setor agropecuário de forma diferenciada.

GecisO Comitê Farmoquímico da ABIFINA originou idéia que

culminou no decreto publicado no DOU do dia 13/5/08 crian-do, no âmbito do Ministério da Saúde, o Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (Gecis).

Esse órgão promoverá ações concretas visando à defi ni-ção e implantação do marco regulatório brasileiro referente à estratégia de desenvolvimento do governo federal para a área da saúde. Tudo de acordo com as diretrizes das políticas nacionais de fortalecimento do complexo produtivo e de ino-vação em saúde.

ABIFINA lança nova marca e campanha institucional

Política de Desenvolvimento ProdutivoA ABIFINA esteve presente durante o lançamento da Fase II da política indus-

trial brasileira, representada pelo diretor de assuntos regulatórios de fármacos, Nicolau Lages.

Batizada de Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), essa fase benefi cia mais de 20 setores da atividade econômica. Seu foco não está na densidade tecno-lógica, mas na massifi cação do investimento, da produção e das exportações como revelam as suas macrometas: elevar os investimentos de 17,6 para 21% do PIB, elevar as exportações de US$ 160 para 208 bilhões, aumentar em 10% o número de pequenas empresas exportadoras e elevar o gasto privado em pesquisa de 0,51% do PIB para 0,65% do PIB.

A principal alavanca fi nanceira da nova política são os empréstimos do BNDES, algo em torno de R$ 210 bilhões para os próximos quatro anos. As desonerações fi scais, estimadas em R$ 21,4 bilhões para o mesmo período estão sendo vistas como uma compensação aos setores exportadores pela evidente defasagem cambial que está prejudican-do a competitividade dos produtos brasileiros.

Como marco da passagem da maturidade da associação que completa 22 anos em junho, a ABIFINA reformulou sua identi-dade visual e lançou campanha de comunicação sobre os temas abordados pela entidade na promoção do desenvolvimento in-dustrial brasileiro na área de química fi na, da biotecnologia e suas especialidades.

Coordenada pela Gerência de Comunicação Institucional e desenvolvida pela agência corporativa Scriptorio - que nos úl-timos dois anos responde pelas reformulações na comunicação da associação - a criação da nova marca visa à atualização da imagem institucional, fazendo uso de elementos visuais do seg-mento e de tipografi a mais forte e marcante.

De acordo com Claudia Craveiro, Gerente de Comunicação da entidade, a assinatura proposta para a campanha Formulamos soluções para o Brasil do futuro resumiu muito bem a contri-buição da associação para o debate e articulação de temas que são caros não somente a seus associados, mas a toda sociedade brasileira.

A campanha inicialmente será veiculada em veículos seg-mentados e já pode ser conferida nas páginas desta edição. O lançamento ofi cial da nova marca e da campanha acontece no III SIPID - Seminário Internacional Patentes, Inovação e De-senvolvimento, realizado anualmente pela ABIFINA, que chega a sua terceira edição consolidado no calendário de eventos que contribuem para o avanço das discussões que são relevantes para o desenvolvimento industrial brasileiro.

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ABIFINA EM AÇÃO

Curso de patenteNo período de 26 a 29 de maio a ABIFINA realizou mais

uma etapa do curso “Informação Básica em Propriedade Inte-lectual”. Dessa vez a cidade escolhida foi Campinas.

O curso reuniu 20 participantes, sendo representantes da indústria, alunos da Unicamp e pesquisadores da Inova. O curso recebeu apoio fi nanceiro do MCT e contou com o apoio institucional da Unicamp.

Ministro da Saúde agradece

Senhor Vice-Presidente,

Ao registrar o recebimento do último exemplar da revista FACTO ABIFINA, que agradeço, cumprimento o corpo administrativo dessa renomada empresa pelo in-teresse na adoção de medidas que visam ao aprimora-mento da área da saúde pública brasileira.

Atenciosamente,

José Gomes Temporão

FCE Pharma 2008 e Prêmio Febrafarma

Seminário sobre agrotóxicosA ABIFINA patrocinou a 6ª edição do Encontro de Fiscali-

zação e o Seminário Nacional sobre Agrotóxicos, realizado em Belém, nos dias 10 a 13 de junho.

O encontro é realizado anualmente pelo Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em parceria com ór-gãos estaduais de Defesa Fitossanitária.

Este ano o objetivo do evento foi discutir aspectos legislativos pertinentes ao desenvolvimento e utilização de agrotóxicos no Bra-sil. A gerente técnica Diva Arrepia esteve presente ao evento.

A FCE Pharma 2008, feira para o Setor Farmacêutico da América Latina ocorreu entre os dias 27 e 29 de maio, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. O evento mostrou as novidades em tecnologia para matérias-primas, embalagens, máquinas, equipamentos e pres-tação de serviços para um público de mais de 20 mil visitantes.

A ABIFINA esteve no evento representada pela gerente de ad-ministração e comunicação institucional Claudia Craveiro e pelo conselheiro Lelio Maçaira que fi zeram vários contatos com objeti-vo de futuramente inserir a participação institucional da ABIFINA, juntamente com seus associados, em feiras de relevância para os segmentos cobertos pela entidade.

Em paralelo à feira, a novidade desse ano foi a introdução de seminários temáticos. O vice-presidente da ABIFINA, Nelson Brasil, na companhia do também vice-presidente Alberto Ramy Mansur, do Diretor do Departamento Farmacêutico do BNDES, Pedro Palmeira, e do Chefe do Departamento de Acesso a Medicamentos do Minis-tério da Saúde, Dirceu Barbano, constituíram uma mesa-redonda destinada a debater o tema “A produção de IFAs no Cone Sul – im-portância e possibilidades”

Como ocorre anualmente, na 1 ª noite do evento realizou-se a entrega do Prêmio Qualidade Febrafarma 2008, no HSBC Brasil, com a presença de cerca de duas mil pessoas, entre fornecedo-res, representantes de laboratórios e imprensa. No evento, foram anunciados 26 vencedores.

Dentre os associados da ABIFINA, foram premiadas as seguintes empresas nas categorias abaixo: (1) Matéria-prima, Corn Products Brasil Ingredientes Industriais Ltda, (2) Fabricantes de Fármacos Nacionais - Nortec Química S.A. (3) Indústria Farmacêutica - Classe Especial - Aché Laboratórios Farmacêuticos S/A e EMS S/A - Grupo EMS Sigma Pharma.

Nelson Brasil, Pedro Palmeira, Dirceu Barbano, Alberto Ramy Mansur na mesa-redonda no Congresso

Telma Salles recebendo o Prêmio Febrafarma

Marcus Serralheiro, da Nortec, recebendo o Prêmio Febrafarma

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torio

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.br

A ABIFINA, Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas

Especialidades, sabe que no Brasil, o único país do mundo com possibilidade de expansão de

área de agricultura, é imprescindível uma indústria de defensivos agrícolas cada vez mais

forte. Por isso, a necessidade de uma política agrícola bem definida quanto ao financiamento

da produção e da comercialização da safra, e também quanto à propriedade intelectual e aos

instrumentos de proteção aos investimentos industriais locais. A ABIFINA atua para melhorar

a discussão e o encaminhamento deste e de outros pontos fundamentais de uma agenda para

o desenvolvimento que o Brasil necessita. Se você também tem compromissos com o Brasil de

amanhã, visite nosso site www.abifina.org.br

fármacos e medicamentos defensivos agrícolas defensivos animais vacinas catalisadores e aditivos intermediários de síntese corantes e pigmentos orgânicos

SOBERANIA É PRODUZIR.

FÓRMULA DE DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

INDÚSTRIA NACIONAL DEDEFENSIVOS AGRÍCOLAS

Componente Obrigatório

FORMULAMOS SOLUÇÕES PARA O BRASIL DO FUTURO.

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BIODIVERSIDADE

O fato é que, a despeito de termos a maior biodiversidade do mundo, não parece que temos muito que comemorar. O acesso a este patrimônio ambiental ainda não foi regulamentado de forma a gerar riqueza o desenvolvimento para o País. Talvez por uma limitada visão exclusivamente preservacionista, ainda não tenhamos incorporado um planeja-mento para ocupação sustentável dos nossos biomas e a inclusão destes sis-temas ao processo produtivo brasileiro. Essa falta de coragem de enfrentar o que talvez seja o maior desafi o de gestão dos Governos Federal, Estaduais e Municipais acaba abrindo espaço para críticas da-queles que adorariam ser tutores do que gostam de chamar de “patrimônio da hu-manidade”. E abre espaço também para a ilegalidade e o desrespeito ao meio ambiente e à rica sociobiodiversidade representada por mais de 200 povos in-dígenas e uma diversidade de comuni-dades regionais (quilombolas, caiçaras, seringueiros, entre outros) que reúnem um inestimável acervo de conhecimen-tos tradicionais. A verdade é que nossa

biodiversidade tem ocupado as páginas dos jornais por motivos que nos enver-gonham como o desmatamento ilegal e confl itos entre índios e latifundiários, gerando uma preocupação internacional sobre se seremos ou não competentes o bastante para preservar e gerir tamanha riqueza.

A maior biodiversidade do

planeta

Apesar da Amazônia ser a grande vi-trine ambiental do Brasil, é importante lembrar que temos uma área de 8,5 mi-lhões km², ocupando quase a metade da América do Sul. Essa área possui várias zonas climáticas que incluem o trópico úmido no norte, o semi-árido no nordeste e áreas temperadas no sul. As diferenças climáticas contribuem para as diferenças ecológicas formando zonas biogeográfi -cas distintas chamadas biomas. A maior fl oresta tropical úmida (Floresta Amazô-nica), com mais de 30 mil espécies ve-getais, e a maior planície inundável (o Pantanal) do mundo se encontram nesses

biomas, além do Cerrado (savanas e bos-ques), da Caatinga (fl orestas semi-áridas) e da Mata Atlântica (fl oresta tropical plu-vial). O Brasil possui também uma costa marinha de 3,5 milhões km² com uma va-riedade de ecossistemas que incluem re-cifes de corais, dunas, manguezais, lago-as, estuários e pântanos. É esta variedade de biomas que refl ete a riqueza da fl ora e fauna brasileiras, tornando-as as mais diversas do mundo, com mais de 20% do número total de espécies do planeta. Por este motivo, o Brasil é o principal país dentre os chamados países megadiversos. Muitas das espécies brasileiras são exclu-sivas (endêmicas) e diversas espécies de plantas de importância econômica mun-dial são originárias do Brasil, destacan-do-se dentre elas o abacaxi, o amendoim, a castanha do Brasil (também conhecida como castanha do Pará), a mandioca, o caju e a carnaúba.

A Constituição Brasileira assegura que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-dade de vida, impondo-se ao poder públi-co e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público preservar e restaurar os processos ecoló-gicos essenciais e prover o manejo ecoló-gico das espécies e ecossistemas, além de preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fi scalizar as entidades dedicadas à pesquisa e ma-nipulação de material genético.

O desafi o tem o tamanho da oportunidade

Em 5 de junho comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Este ano no Brasil, a data foi co-memorada com o lançamento pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, de várias medidas na área ambiental. Entre elas a criação de três unidades de conservação (UCs) na região Amazônica - as Reservas Extrativistas do Rio Xingu (PA) e de Ituxi (AM) e o Parque Nacional de Mapinguari (AM) - e o encaminhamento, ao Congresso Nacional, da proposta de Projeto de Lei que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima.

“A saída é explorar efetivamente a biodiversidade de maneira

responsável. É incorporar a fl oresta e os recursos naturais a partir

daquilo que eles podem dar sem serem feridos de morte. Tornar a

biodiversidade produtiva não é apenas uma questão de competitividade

no cenário internacional, mas é também uma questão de soberania”.

Raul Jungmann

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BIODIVERSIDADE

A fl oresta produtiva

O País tem enfrentado enormes desa-fi os na área de preservação ambiental que, no entanto, não são menores do que o de elaborar um projeto para incorporar a fl oresta à atividade produtiva. De acordo com o deputado federal Raul Jungmann - que foi Presidente do Ibama e Ministro do Desenvolvimento Agrário no Governo Fernando Henrique Cardoso e atualmente integra diversas comissões técnicas da Câmara, entre elas Relações Exteriores e Defesa Nacional - os episódios recorrentes a respeito do desmatamento da fl oresta têm como pano de fundo a ausência de um projeto sustentado de incorporação do território à produção. “O modo de produ-ção que está implantado atualmente na Amazônia não é sustentável e precisa ser radicalmente modifi cado. A gravidade da questão tende a se acentuar em função de três aspectos: o primeiro é o crescimento do País, pois é inexorável que os confl itos se ampliem já que a tendência é que o capitalismo brasileiro busque incorporar cada vez mais este território à produção; o segundo é que o Brasil caminha para se tornar uma nação bioceânica, ou seja, com o transporte, com a abertura de vias que ligam o leste, o oeste, o norte e o sul, com saídas através do Peru, da Venezuela e da Guiana, terminará o isolamento deste território; e o terceiro é o dilema cultural, porque a civilização que deu certo no País - melhor representada pelo Sudeste e Sul - é essencialmente urbana e industrial”, explica. “A saída é explorar efetivamente a biodiversidade de maneira responsável. É incorporar a fl oresta e os recursos na-turais a partir daquilo que eles podem dar sem serem feridos de morte. Tornar a bio-diversidade produtiva não é apenas uma questão de competitividade no cenário internacional, mas é também uma questão de soberania”. Na opinião do deputado, o Brasil precisa apresentar com urgência um projeto de desenvolvimento sustentá-vel para a Amazônia ou corre o risco de ver sua soberania questionada. “Lembro a frase de Giorgio Napolitano, um socialista italiano: nós nos globalizamos ou seremos globalizados”. Jungmann quer dizer que a questão da Amazônia está colocada para o mundo como uma questão global. “Ou o Brasil se antecipa com soluções ou a tendência é que haja um questionamento

sobre a tutela jurídica da região. Cidadãos do primeiro mundo vêm a Amazônia em re-lação direta com o futuro dos seus fi lhos e netos. Temos que demonstrar que somos capazes de gerir este patrimônio”, afi rma.

Para o deputado, a gestão sustentável da Amazônia passa por uma modelagem de fi nanciamento e subsídios, pela indicação de oportunidades defi nindo o que é possí-vel fazer sem afetar a fl oresta, pela con-clusão de um zoneamento agroecológico e a sua obediência a esse respeito, em resu-mo, uma maior presença do Estado, inclu-sive em medidas de fi scalização, mas não somente isso. “Precisamos de mais obje-tivos e propósitos defi nidos efetivamente pelo governo brasileiro”, conclui.

O desafi o de determinar regras ao acesso

O governo federal reeditou no dia 25 de maio a Medida Provisória que estabe-lece regras para o acesso ao patrimônio genético brasileiro. Além de estabelecer o conceito de patrimônio genético e regular a bioprospecção como atividade explora-tória de uso potencialmente comercial, a MP 2.126-12 criou o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. A sua efetiva ins-talação, no entanto, depende de um de-creto que regulamente a medida provisória até o fi m do ano. Até lá, continua a polê-mica entre pesquisadores, que precisam de materiais genéticos para seus trabalhos, e entre as iniciativas contra a biopirataria e de defesa da propriedade intelectual de comunidades com direitos difusos.

Pela segunda vez, o governo federal decidiu adiar o prazo referente ao fi m da consulta pública ao anteprojeto de lei so-bre Acesso a Recursos Genéticos, Conheci-mentos Tradicionais e Repartição de Bene-fícios. Inicialmente marcado para o dia 28 de fevereiro, o fi m do prazo foi transferido para o dia 13 de abril e mais uma vez para

o dia 13 de julho. As sugestões servirão de base à proposta que irá substituir a atual Medida Provisória 2.186-16 de 2001, e que tem por objetivo aprimorar a legislação no que se refere à pesquisa e bioprospecção, estabelecendo mecanismos para a repar-tição de benefícios com as comunidades indígenas e tradicionais.

Entre as inovações propostas pelo an-teprojeto está o estabelecimento de um tratamento abrangente e unifi cado à ques-tão do acesso e à repartição de benefícios, estimulando seu uso ético e sustentável. Para isso, vai assegurar a defi nição de re-gras claras e garantir segurança jurídica para o uso dos recursos genéticos e seus derivados e dos conhecimentos tradicio-nais associados, fazendo com que diminu-am os custos de transação e elimine várias etapas da burocracia.

O Ministério da Ciência e Tecnologia revela que 80% dos investimentos em pes-quisa e desenvolvimento na área de fárma-cos está concentrado nos sete países mais ricos do mundo. Parte da matéria-prima utilizada pela indústria de fármacos é for-mada por recursos genéticos colhidos no Brasil, especialmente na Amazônia. A con-servação dos recursos genéticos do plane-ta, bem como sua exploração sustentável é tão importante que em vários países do mundo estão sendo criados programas de bioprospecção, integrando universidades, institutos de pesquisas e a indústria far-macêutica para descobrir e desenvolver novos fármacos.

Biopirataria e outros fantasmas

Os maiores conglomerados farmacêu-ticos procuram novos compostos molda-dos pela natureza por milhões de anos de evolução deste vasto “laboratório” de espécies. Dante Alario, Presidente da Biolab, gostou de ouvir as palavras do novo Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, no que diz respeito a maior rigor

Na verdade, a biodiversidade é potencialmente uma grande fornecedora

de modelos de novas moléculas para síntese. Não é a busca por

fi toterápicos que move o mundo científi co, mas sim a busca destes

modelos para síntese.

Dante Alario

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BIODIVERSIDADE

com menos burocracia no acesso à biodi-versidade brasileira. Na opinião do em-presário, este acesso precisa ser ágil para corresponder ao ritmo da indústria, que vive de oportunidades que podem expirar junto com os longos prazos para se conse-guir uma licença no Brasil. “Não há dúvida que a indústria trabalha com uma visão de longo prazo, mas quando investimos em um produto é porque há uma demanda e o tempo de desenvolvimento de um produto farmacêutico leva no mínimo cinco anos. Portanto, não podemos ter a burocracia alongando ainda mais este período”.

Dante lembra também que no Brasil, diferente de outros países, não é possível patentear uma planta, pois aqui só pa-tenteamos invenções e não descobertas. Quanto ao risco de biopirataria, no entan-to, ele orienta que a idéia, disseminada entre a maioria das pessoas, de que isso acontece com o objetivo de plantio em es-cala em outros países é um pouco folclóri-ca. “Com a descoberta de uma propriedade terapêutica em uma planta, o interessado busca identifi car a molécula que provoca este efeito para que ela seja sintetizada. Na verdade, a biodiversidade é potencial-mente uma grande fornecedora de modelos de novas moléculas para síntese. Não é a busca por fi toterápicos que move o mundo científi co, mas sim a busca destes modelos para síntese. Afi nal, fi cou muito difícil fa-zer alguma coisa nova a partir de modelos químicos porque muito já foi feito, então, os cientistas se voltam para a biodiversida-de. Uma vez sintetizada, a molécula pode ser patenteada sem nenhuma referência ao modelo de origem. Esta é a questão”.

Embora este seja o caminho de pon-ta no uso produtivo da biodiversidade, o Brasil tem poucos trabalhos neste senti-do, mais restritos à academia, e mesmo em fi toterápicos não desponta em novos desenvolvimentos. “Na verdade, o Brasil segue a escola norte americana de medi-cina e ciências que não privilegia a ques-tão fi toterápica. Nos Estados Unidos e também na maioria dos países da Europa, fi toterápico não é medicamento, então o cientista não tem interesse em desenvol-ver pesquisas deste tipo”, explica. “Temos excelentes profi ssionais que se dedicam ao tema no Brasil, mas só que comparativa-mente as necessidades e as oportunidades da nossa biodiversidade são poucas linhas de pesquisa e desenvolvimento. O mundo

todo está pesquisando novas moléculas a partir de modelos encontrados na nature-za. Mas isso ainda é muito recente, porque a crise de novas moléculas começou agora. Não há ainda importantes conquistas nes-se sentido, nem um país que seja a van-guarda deste processo, mas todos estão pesquisando”.

A Biolab comercializa um único fi tote-rápico, o Serenus, que tem registro desde 1936, antes das inúmeras exigências que existem hoje para a aprovação de um novo produto. O laboratório vem trabalhando com a biodiversidade, mas não voltada à produção de fi toterápicos. A mais pro-missora linha de pesquisa atualmente em curso no laboratório poderá signifi car a primeira molécula sintetizada no Brasil e garantir uma patente internacional. A mo-lécula está presente em dois produtos que já estão na fase de ensaios pré-clínicos e provavelmente até o fi nal deste ano já en-trarão na fase clínica.

De pulmão da humanidade a laboratório natural

Para Poliana Botelho, Vice-Presidente do Laboratório Simões dedicado à pro-dução de fi toterápicos, a solução para a biodiversidade brasileira e especialmente para um projeto sustentável da Amazô-nia deve ser apontada por agentes den-tro da própria região. “Minha impressão é que fi camos discutindo o destino da Amazônia, por exemplo, com um reper-tório de idéias dos grandes centros urba-nos. Creio que a solução sobre a melhor forma de conciliar desenvolvimento para a região e preservação da fl oresta em pé tem mais chances de acontecer quando a população da região for ouvida e en-volvida efetivamente nesta busca”, afi r-

ma. Na opinião de Poliana, que também é Conselheira da Abifi na, os altos custos da burocracia, além dos longos prazos de aprovação, impedem o mercado de fi to-terápicos de se desenvolver no País. A consagração dos fi toterápicos como me-dicamentos pela Anvisa em 1996 abriu uma série de oportunidades para a indús-tria, mas por outro lado fez com que os produtos respondessem a uma legislação muito rigorosa. De acordo com Poliana, há a idéia de incorporar medicamentos fi toterápicos aos programas públicos de saúde através do SUS, o que seria um grande incentivo, mas é necessário que mais seja feito para apoiar esta indús-tria. “É positivo o governo federal de-monstrar interesse no desenvolvimento desse segmento, mas se faz necessário e urgente um elenco de ações concretas, pois a atual regulamentação da Anvisa constitui uma ameaça à sobrevivência da indústria nacional de fi toterápicos, constituída principalmente por pequenas e médias empresas”. O problema maior, segundo Poliana, está no critério para a realização de testes. Embora reconheça a importância do controle de qualidade dos medicamentos, Poliana pondera que os fi toterápicos mais antigos já foram sufi cientemente testados pelo consumi-dor, o que deveria ser levado em con-sideração pela Anvisa. “Se nosso seg-mento for obrigado a realizar os testes extremamente onerosos que são exigidos para medicamentos alopáticos recentes, muitos produtos consagrados pelo uso tradicional acabarão saindo do mercado porque os fabricantes não têm condições de arcar com esse custo”. Em sua opinião, uma nova política para fi toterápicos e aces-so à biodiversidade deve buscar uma solu-ção para esse problema, seja fl exibilizando

“Minha impressão é que fi camos discutindo o destino da Amazônia,

por exemplo, com um repertório de idéias dos grandes centros urbanos.

Creio que a solução sobre a melhor forma de conciliar desenvolvimento

para a região e preservação da fl oresta em pé tem mais chances

de acontecer quando a população da região for ouvida e envolvida

efetivamente nesta busca”,

Poliana Botelho

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BIODIVERSIDADE

as exigências, seja subsidiando os testes, porque “o fi toterápico é geralmente mais barato, produz menos efeitos colaterais e é tão efi ciente quanto o medicamento alopá-tico”. Na prática, as ervas medicinais mais conhecidas e seus produtos constituem uma forma de conhecimento tradicional profun-damente enraizado no domínio público.

Os avanços ocorridos nas últimas dé-cadas na biotecnologia e na engenharia genética abriram um novo horizonte de possibilidades para a exploração em escala industrial das substâncias, princípios ativos e, principalmente, informações genéticas contidas nos organismos vivos. Essas ati-vidades já movimentam bilhões de dólares anualmente ao redor do mundo e podem ser de grande importância para o desen-volvimento econômico e social dos países detentores de megabiodiversidade, como o Brasil. Mas isto vai depender do que fi zer-mos para preservar nossa biodiversidade, para gerir e ampliar o conhecimento e o acesso a ela, e para explorar de forma sus-tentável os seus produtos.

Josimar Henrique da Silva, Presidente do Conselho Diretor da Federação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Febrafarma) e Presidente da Hebron, um dos maiores la-boratórios farmacêuticos do País dedicado a fi toterápicos, aponta para a necessidade de investir em pesquisa, educação e forma-ção de especialistas para que o País não perca a batalha da biodiversidade. “Até recentemente, toda questão estava nas fronteiras físicas e territoriais. E ainda é o caso. Mas a Amazônia, agora, faz parte de um continente de oportunidades científi cas e naturais que tememos perder porque não há no país um esforço concentrado em tor-nar nossos pesquisadores especialistas na biodiversidade brasileira. Com o avanço do conhecimento e expectativas por biotecno-logia e fi toterapia, houve um deslocamento gradual no conceito da região amazônica

de pulmão da humanidade para laboratório natural - um número inimaginável de opor-tunidades está à espera de descoberta para a saúde e para o surgimento de uma indús-tria saudável”.

O conhecimento como estratégia

O empresário, que também é Vice-presi-dente do Conselho da Associação dos Labo-ratórios Farmacêuticos Nacionais (ALANAC), conta que a regulamentação atual inviabi-liza o mapeamento das nossas espécies e a pesquisa e desenvolvimento de novos pro-dutos. “Para entrar em uma reserva e estu-dar uma planta, do jeito que a legislação exige, é melhor desistir. Para ter uma idéia, o Hebron entrou com um recurso junto ao Ministério do Meio Ambiente para fazer uma incursão científi ca - veja bem, não es-távamos pedindo para extrair nada - então, eles nos pediram um estudo antropológico da região. Isso é necessário em qualquer área, não precisa ser necessariamente de reserva. Apesar de parecer absurdo, contra-tamos o estudo e o antropólogo foi à sede da Funai apresentá-lo, porque se tratava de uma área indígena. Então, pela Funai o pesquisador foi orientado a procurar uma ONG Internacional instalada na região e pe-dir autorização para fazer a incursão. Veja a situação constrangedora que nos foi im-posta: consultar uma ONG estrangeira, in-clusive com reuniões conduzidas em inglês, para estudar uma planta da nossa própria biodiversidade. É uma situação que desafi a o bom senso”.De acordo com o empresário, hoje existem mais de 1.000 ONGs estran-geiras vivendo na Amazônia Legal e há lo-cais onde se precisa pedir autorização ou pelo menos comunicar a uma dessas ONGs para entrar. Já o cientista estrangeiro pode facilmente entrar no mesmo território como turista, sem estudo ou autorização espe-cial, e levar a planta para seu país de ori-

gem sem passar por um rigoroso processo de fi scalização.

“A indústria farmacêutica instalada no Brasil está empenhada em oferecer à socie-dade medicamentos efi cientes, que elevem a qualidade de vida e a saúde da população, e ainda ajudem o país a fortalecer sua so-berania. Não pode assim deixar de lado a responsabilidade de lutar pela preservação da fl oresta amazônica e pelo aproveitamen-to científi co pela comunidade brasileira”, afi rma o líder empresarial. E acrescenta: “vamos precisar de leis, mas principalmente de pesquisa, educação e formação de espe-cialistas em biodiversidade brasileira”.

O ponto de vista de Josimar é comparti-lhado por pesquisadores que recentemente publicaram um documento sobre o tema no site da Academia Brasileira de Ciências. A proposta pretende salvar a Amazônia da de-vastação através da implantação de um pólo científi co e tecnológico na região. Em dez anos, três institutos de pesquisa de ponta e duas universidades começariam a gerar conhecimento e riqueza a partir da biodi-versidade local. De acordo com a geógrafa Bertha Becker, uma das maiores pensadoras vivas da questão amazônica, Carlos Nobre, climatologista do Inpe, o matemático Ja-cob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, o químico Hernan Chaimovich da USP, o biólogo Adalberto Val, Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô-nia e o geólogo Roberto D’Allagnol da Uni-versidade Federal do Pará, a idéia viabiliza o desenvolvimento da região com a fl ores-ta de pé. Parece um caminho possível já que o sistema econômico em que vivemos hoje está baseado na revolução científi -co-tecnológica. As declarações de Bertha Becker explicam claramente porque não é possível fi car somente com uma política de áreas protegidas: primeiro, porque a fl o-resta não está protegida de fato, segundo porque áreas protegidas não geram riqueza, desenvolvimento e empregos. Além disso, áreas protegidas não podem competir com a pecuária e a agricultura. Somente territó-rios que geram desenvolvimento real têm força para isso. Agora é importante lembrar que não é preciso destruir para desenvol-ver. O documento que formaliza a proposta dos cientistas está nas mãos do Ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger. Basta torcer para que o Governo mantenha uma profunda refl exão sobre tema que é tão caro a todo planeta.

Com o avanço do conhecimento e expectativas por biotecnologia e

fi toterapia, houve um deslocamento gradual no conceito da região

amazônica de pulmão da humanidade para laboratório natural - um

número inimaginável de oportunidades está à espera de descoberta

para a saúde e para o surgimento de uma indústria saudável”.

Josimar Henrique da Silva

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OPINIÃO

Morreram milhares de africanos antes que a morte dos primeiros americanos e europeus vitimados pela Aids despertas-se o Ocidente para a gravidade do pro-blema e que a comunidade científi ca e, a seguir a industrial, se lançasse em busca de uma solução para conter a dissemina-ção e a mortalidade causada pelo vírus.

Há anos que milhares de pobres nas nações periféricas, sobretudo da Áfri-ca, morrem de desnutrição e fome, mas somente quando o crescimento da desi-gualdade nos EUA agravou o problema da desnutrição local e fatores conjunturais elevaram o custo da alimentação para os países centrais é que a questão da disponibilidade de alimentos alcançou as manchetes da grande imprensa e co-meçou-se a discutir o problema com uma menor dose de hipocrisia.

O fantasma da fome deixou de as-sombrar apenas o Burundi, Rwanda ou Bangaladesh. Reapareceu nas classes menos favorecidas dos países ociden-

A fome e o canavialMarcos Oliveira

Vice-Presidente de Estudos e Planejamento da ABIFINA

tais, e a possibilidade do surgimento de instabilidades sociais acendeu um sinal amarelo na sala dos governantes. Agi-tações já começaram a pipocar, como sempre na periferia. Em abril deste ano, Jacques Diouf, diretor geral da FAO afi r-mou que motins da fome não tardariam a surgir. Manifestações de rua já estão acontecendo nas grandes cidades de Camarões, Abdijã, Egito e Senegal. Na Mauritânia a segurança alimentar não ultrapassa 30% segundo advertência do Programa Alimentar Mundial (PAM) e são previsíveis as agitações e os protestos. No México, o presidente Calderón lançou um novo programa, o Vivir Mejor que vai dar ajuda em dinheiro para compensar a alta dos alimentos. Em muitos países do sudeste da Ásia, que têm no arroz seu alimento básico, a situação de abasteci-mento está longe de ser tranqüila.

Nos EUA, o órgão do Congresso que cuida do orçamento previu que, em 2009, os americanos que recebem aju-da alimentar do governo através do selo alimentar (food stamp) chegarão a 28 milhões e o orçamento para o programa alimentar, cerca de US$ 300 bilhões em cinco anos, vai necessitar de pelo menos mais US$ 10 bilhões anuais para dar con-ta do aumento do número de assistidos e dos níveis crescentes de preços dos alimentos. A cesta básica do programa teve um aumento de 6,5% nos últimos 12 meses.

Os culpados pela crise imediatamente começaram a surgir na grande imprensa: são os chineses e indianos cujas popu-lações não param de crescer e que estão comendo mais e melhor, são os brasi-leiros que deixam de plantar alimentos para transformar o país em um imenso canavial, são os americanos que estão

desviando milho da cadeia alimentar para produzir álcool combustível, são os europeus que só pensam no biodiesel e estão usando óleos alimentares para isso, foi a seca na Austrália que reduziu a colheita de trigo, foram as inundações no sudeste da Ásia que diminuíram a oferta de arroz, foi o aumento do petró-leo que encareceu o transporte, e por aí vai, que a lista é grande e diversifi cada.

Não se pode negar que fatores con-junturais estejam desempenhando um papel importante na crise de oferta e na conseqüente escalada dos preços dos alimentos observada ultimamente, mas seria má análise socioeconômica procu-rar apenas neles as causas do problema.

Há que se olhar para a evolução estrutu-ral do sistema de produção de alimentos que conforma o pano de fundo sobre o qual atuam os fatores conjunturais.

“Alimentos estão sendo transformados de alguma coisa que se cultiva para comer em alguma coisa que se compra, vende e manipula.”

René Dumont

Há inúmeros países,

especialmente

na África, cujas

economias dependem

inteiramente da

exportação de um

ou dois produtos

agrícolas

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OPINIÃO

Desequilíbrios na oferta-demanda de alimentos causados por fatores conjun-turais não são uma novidade na história da humanidade, mas para além de medi-das de curto prazo, o que importa saber é que estrutura de produção agrícola é mais conveniente para reduzir os efeitos de eventuais condições adversas. His-toricamente, cada núcleo populacional procurou estabelecer suas fontes pró-prias de produção de alimentos fi cando o recurso ao comércio internacional rele-gado a uma função complementar. Nem mesmo o processo de urbanização que se acelerou acentuadamente nos tempos modernos foi capaz de alterar substan-cialmente esse quadro. É claro que a ex-pansão colonialista européia introduziu um componente novo, a produção de ali-mentos nas colônias, mas esse foi um fe-nômeno que teve maior signifi cado nos primeiros tempos da era colonial e mui-to especialmente para a Inglaterra em função de suas limitações insulares que contrastavam com a vastidão dos espa-ços na América do Norte, Nova Zelândia e Austrália. De forma geral, a segurança alimentar da Europa era razoavelmente balanceada entre a produção local e as importações, que tradicionalmente pro-vinham de regiões próximas, da franja mediterrânea da África ou dos países de Leste europeu. O que se obtinha de mais importante das colônias eram especia-rias ou matérias-primas, agrícolas ou minerais: algodão, linho, juta, açúcar, cacau, madeira, ferro, diamantes, ouro, cobre, estanho, guano etc., matérias-primas que foram se tornando cada vez mais importantes na medida em que a Europa, e depois os EUA, entravam ace-leradamente na era industrial.

A utilização dos vastos espaços colo-niais para a produção de matérias-primas necessárias ao esforço industrial ociden-tal introduziu um fator de desequilíbrio na segurança alimentar das colônias na medida em que as melhores terras eram destinadas a monoculturas de exporta-ção, algodão, café, cacau, açúcar e que vastos ambientes naturais eram degra-dados pela exploração mineral. A agri-cultura para a produção de alimentos perdeu espaço, colocando em xeque a segurança alimentar de inúmeros países periféricos que passaram a depender de

importações para complementar suas necessidades.

Se esta transformação estrutural co-meçou a ter efeitos no colonialismo tar-dio, a passagem para a fase neocolonia-lista, característica da primeira metade do século XX, não mudou o panorama e se agravou substancialmente na pas-sagem para a era do pós-colonialismo em que vivemos, quando a governança global deixou de ser predicado exclusivo dos governos das nações em função do crescente poder das grandes empresas

de atuação internacional.Durante o período da 2ª Guerra Mun-

dial, os EUA se tornaram o grande ex-portador mundial de alimentos e essa situação se prolongou pelo período do pós-guerra, na fase de reconstrução. Com o aumento da produtividade agríco-la decorrente dos avanços tecnológicos da “revolução verde”, os EUA passaram a dispor de um excedente notável de ali-mentos que era necessário exportar. Ou se exportava ou se teria que diminuir a produção com o conseqüente desempre-go interno.

Foi diante dessa promessa de abun-dância de alimentos gerada nos EUA que as instituições de Breton Woods, o FMI e o Banco Mundial, passaram a aviar uma receita de produção para os países peri-féricos: produzam matérias-primas úteis para a indústria que com a renda gerada

por suas exportações comprarão os ali-mentos de que precisam a preços convi-dativos, pois eles serão produzidos com o de melhor existe em tecnologia agrí-cola. Ao longo das últimas décadas essa receita foi seguida por um sem-número de países, com prejuízo notável para as culturas tradicionais de alimentação. Há inúmeros países, especialmente na África, cujas economias dependem in-teiramente da exportação de um ou dois produtos agrícolas os quais ocuparam, senão todas, pelo menos as melhores terras antes dedicadas à produção local de alimentos. Segundo um relatório re-cente da ONU, 38 países em desenvolvi-mento dependem de um único produto de exportação para a geração de 50% do total de suas receitas externas.

A receita, aviada em função de uma superoferta existente nos anos 50 e 60, ganhou um reforço considerável com a ideologia neoliberal, que se tornou he-gemônica a partir do início dos anos 80. Diante da vitória da tese de que o merca-do cuidaria de obter a melhor maneira de equilibrar oferta e demanda, toda uma série de macroestruturas de controle de produção e preços, o Acordo Internacio-nal do Café, o do Trigo, o do Cacau, foi desmantelada. O mercado foi liberado da infl uência dos Estados para se tornar re-fém dos interesses das grandes empresas responsáveis pelos fl uxos de comércio internacional.

No último relatório anual do Banco Mundial o erro dessa receita foi reco-nhecido, mas vai ser preciso algum tem-po e muito sofrimento dos mais pobres para corrigir a situação. Com a falência do modelo neoliberal já se reconhece que a ação do Estado é imprescindível para sanar imperfeições de mercado e na questão da agricultura, de seus insumos e da comercialização de seus produtos, as imperfeições não são pequenas.

Elas começam com os pesados sub-sídios e as barreiras protecionistas im-postas pelos países centrais dirigidas es-pecialmente para os produtos tropicais, algodão, açúcar, suco de laranja etc. e se espraiam pela pesada concentração existente na produção e distribuição de insumos para fi nalizar na comercializa-ção da produção. Há uma grande con-trovérsia acadêmica a respeito da oli-

O problema mundial

do abastecimento

de alimentos tem

raízes profundas

numa estrutura

excessivamente

concentrada de

distribuição e controle

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OPINIÃO

gopolização mundial das commodities agrícolas, mas nenhuma dúvida quanto à enorme concentração alcançada pelo setor. Nas “commodities” alimentares, cerca de 60% do comércio internacional é realizado por um punhado de empre-sas multinacionais. Por exemplo, apenas quatro grandes empresas controlam 60% do comércio internacional de café, três empresas são responsáveis pelo comércio internacional de chá, duas companhias dominam 50% do comércio internacional de bananas. Em 2002, apenas duas com-panhias controlavam 75% do comércio internacional de grãos.

No caso dos insumos o panorama não é diferente: seis companhias controlam cerca de 80% do comércio mundial de pesticidas e no setor de sementes o con-trole é exercido por não mais do que três empresas. Em fertilizantes a concentra-ção é menor, mas ainda assim bastante expressiva, especialmente em potássio.

Dizer que a expansão dos canaviais brasileiros ou a expansão do uso da soja para biodiesel seriam os responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos do mundo beira o ridículo e já surgiram explicações suficientes para mostrar que o Brasil tem áreas agriculturáveis de dimensão suficiente para aumentar a produção de biocombustíveis sem afetar sua produção de alimentos.

O problema mundial do abasteci-mento de alimentos tem raízes pro-

fundas numa estrutura excessivamente concentrada de distribuição e contro-le, seja de insumos seja de produtos e aparentemente o fator conjuntural mais importante para deflagrar a atual cri-se de preços foi financeiro, o elevado nível de especulação com commodities agrícolas. Há poucos dias noticiou-se que cerca de 40% dos contratos futuros lançados na Bolsa de Chicago estavam sendo adquiridos por fundos de pensão, num claro movimento de financeirização da produção agrícola. Alimentos estão passando de bens essenciais para ativos financeiros com os quais se especula, como previu René Dumont há mais de 30 anos. Uma operação de contrato fu-turo de soja ou trigo pode render ao es-peculador, em apenas um dia, mais que a renda do produtor que levou meses arando, semeando e colhendo.

Seja como for, a crise teve um efei-to positivo, o de despertar consciências para as deficiências globais do sistema de produção agrícola. O Brasil pode não ser parte significativa do problema, mas se quiser ter papel influente na solu-ção vai ter que pensar mais em medi-das estruturantes do que paliativos para enfrentar problemas eventuais. Temos condições básicas – água, terra, sol – ex-celentes para aumentar em muito nossa produção agrícola, seja de “cash-crops”, seja de alimentos, mas para alcançar um equilíbrio adequado entre ganhos

Por exemplo, apenas quatro grandes empresas

controlam 60% do comércio internacional

de café, três empresas são responsáveis

pelo comércio internacional de chá, duas

companhias dominam 50% do comércio

internacional de bananas. Em 2002, apenas

duas companhias controlavam 75% do

comércio internacional de grãos.

financeiros e necessidades sociais o go-verno vai ter que intervir para reduzir a influência das imperfeições de merca-do que hoje existem e isto passa por mudar a agenda das discussões sobre o problema agrícola. Até agora essa agen-da incorpora, basicamente, a remoção de gargalos e óbices do interesse dos controladores dos fluxos de exportação e dos fornecedores de insumos, como melhoria de portos e corredores de ex-portação, aprovação da comercialização de sementes transgênicas e plantas ge-neticamente modificadas para resistir a produtos específicos e assim por diante. O Brasil tem uma área de assentamentos quase igual à área de cultivo agrícola extensivo mas que hoje é extremamente improdutiva. Falta uma política adequa-da de suporte para permitir a atuação eficiente do pequeno produtor, que sa-bidamente tem uma importância crucial na produção de alimentos.

Permitir que fatores básicos de pro-dução, como a terra, por exemplo, pas-sem para a mão de estrangeiros, como vem acontecendo, é perder controle sobre o direcionamento da produção e alimentar a grilagem e a especulação, que vem se acelerando no Centro-Oeste e na Amazônia. Limitar a produção de biocombustiveis usando como matérias-primas soja e açúcar de cana é um erro. Há que se ganhar produtividade através do uso de material celulósico para a produção de álcool e as pesquisas neste sentido, no Brasil, andam meio atrasa-das em relação ao resto do mundo.

O Estado tem total condição de au-mentar a produção e oferta de fertili-zantes e de apoiar a produção nacional de sementes e defensivos agrícolas, re-duzindo as pressões de preço decorren-tes da oligopolização desses mercados.

Se for preciso um argumento mone-tarista para realçar a necessidade de au-mentar a oferta de alimentos basta dizer que 1/3 da atual inflação brasileira é decorrente do aumento do preço da ces-ta básica, do feijão com arroz nosso de cada dia.

Toda crise tem seu componente de oportunidade e esta não é diferente, resta saber se teremos a sabedoria para aproveitá-la.

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PAINEL DO ASSOCIADO

Bio-Manguinhos entra em fase de estudos clínicos dos imunizantes brasileiros contra meningococos B e C

As vacinas contra os meningococos B e C desenvolvidas por Bio-Manguinhos es-tão em fase de estudos clínicos.

Em meados deste ano, a vacina contra o meningococo B entra na Fase 2 de estu-dos clínicos, a ser realizada com crianças em centros de saúde do município do Rio de Janeiro e prevista para terminar em 2009. O objetivo é garantir a efi cácia e segurança da vacina.

Bio-Manguinhos também realizou es-tudos clínicos para a vacina contra o me-ningococo C com trabalhadores adultos da Fiocruz. A expectativa é que a Fase I termine em 2008 e a segunda fase come-ce em 2009.

Existe ainda a perspectiva de unir as vacinas contra os sorogrupos B e C em um único produto e, possivelmente, combi-ná-las com a vacina contra Haemophilus infl uenzae tipo B (Hib).

Segundo o consultor científi co do Instituto, Reinaldo de Menezes, “exis-tem vacinas produzidas em outros países, mas os tipos e subtipos circulantes lá são diferentes dos que circulam no Brasil. A vacina de Bio-Manguinhos será feita sob medida para nossa população”.

Bio-Manguinhos desenvolve ações de responsabilidade ambiental

A otimização na oferta e o uso racio-nal nas demandas das águas no Complexo Tecnológico de Vacinas de Bio-Mangui-nhos (CTV) é o objetivo do Programa de Uso Racional de Água do Instituto (Pura-Bio). O programa está concluindo os estudos conceituais para elaboração da especifi cação técnica que norteará a con-tratação do projeto executivo e incluirá, entre outras atividades, a setorização e medição do sistema de distribuição de

água e as análises de caracterização das águas para validar a possibilidade de re-úso das águas apontadas pelos estudos anteriores.

A água é elemento essencial para as atividades do Instituto e seu controle sis-temático vai se traduzir em redução sig-nifi cativa de custos - economia de tempo, espaço e energia - e irá agregar valor aos produtos e aos profi ssionais de Bio.

Segundo Josmar Almeida, gerente do DEPEM, o Pura-Bio defi nirá que tipos de condicionamentos de água deverão ser feitos e onde ela poderá ser usada de forma segura. “A intenção é utilizar esse tipo de água para a reposição das torres de resfriamento, nos sanitários dos ba-nheiros, até mesmo para regar jardins. Deixaríamos de usar água potável para essas fi nalidades”, explica Josmar.

Em 2007, o Instituto consumiu cerca de 400 mil litros de água por dia, ape-nas no CTV. No fi nal de 2009, estima-se que o consumo aumente para cerca de 815 mil litros de água por dia. Esse aumento de demanda é devido ao ace-lerado crescimento do Instituto, em es-pecial à entrada em operação do Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos (CIPBR).

Farmanguinhos e DNDi lançam medicamento contra a malária

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) e a Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), lançaram em abril o ASMQ, uma nova combinação em dose fi xa do artesunato (AS) e mefl o-quina (MQ) para o controle da malária.

O ASMQ simplifi ca o tratamento de adultos e crianças com uma dose diária de um a dois comprimidos por três dias, ga-rantindo que os dois medicamentos sejam tomados juntos e na proporção correta.

O medicamento, já registrado e dispo-nível no Brasil, é o primeiro ACT em dose fi xa que pode ser armazenado por até três anos em clima tropical.

As autoridades brasileiras do Progra-ma de Controle da Malária observaram, em resultados preliminares que, após um ano de tratamento de 17 mil pacientes

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PAINEL DO ASSOCIADO

com ASMQ em uso programático, a nova formulação foi essencial para a redução dos casos de malária e do número de hos-pitalizações relacionadas à doença.

De acordo com o diretor de Farman-guinhos, Eduardo Costa, “este projeto demonstra que é possível desenvolver tecnologias inovadoras de P&D de medi-camentos direcionadas para o social. Con-seguimos compatibilizar estruturas diver-sas de diferentes países dentro de uma grande parceria público-privada intercon-tinental. E vamos transferir a tecnologia desse produto para um laboratório priva-do na Índia (Cipla)”, afi rma Costa.

Farmanguinhos recebe Unitaid

Farmanguinhos recebeu, em abril, a vi-sita de membros do Conselho Executivo da Central Internacional de Compra de Medica-mentos (Unitaid).

O grupo, composto por 13 pessoas, veio coordenado pelo médico brasileiro dr. Jorge Bermudez, e foi recebido pelo dr. Eduardo Costa, diretor de Farmanguinhos. O grupo assistiu à apresentação das atividades re-alizadas pela Unidade e conheceu a planta de produção da fábrica.

O objetivo da visita foi obter maiores informações sobre os medicamentos de combate à Aids, tuberculose e malária pro-duzidos em Farmanguinhos.

A Unitaid é uma organização internacio-nal que fi nancia o tratamento e o diagnósti-co da Aids, tuberculose e malária, especial-mente no desenvolvimento e na redução de preços para medicamentos infantis.

Aché lança novos canais de comunicação

A Aché está investindo na relação com os médicos. O laboratório, através da li-nha SNC, irá lançar duas publicações, uma voltada para o mercado de saúde mental e a outra com artigos multidisciplinares. O investimento total irá girar em torno de R$ 600 mil.

O objetivo é virar referência na criação de um fórum de debates com credibilida-de, incentivando a troca de experiências entre diversas especialidades médicas.

Segundo Manoel Nascimento, diretor da Unidade de Prescrição I, “tanto a re-vista Saúde Mental quanto o Jornal de Resenhas são vanguarda, pois não indi-cam medicamentos, mas discutem práti-cas da área de saúde”.

Aché vence prêmio Ser Humano

O programa Aché Formare venceu o 14º Prêmio Ser Humano – Oswaldo Checchia, da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), na modalidade Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social, categoria Empresa.

O Aché Formare é realizado pela com-panhia em parceria com a Fundação Iochpe e transforma o espaço empresarial em oportunidades de ensino e aprendizagem.

Jovens que moram no município de Guarulhos, em situação de vulnerabilida-de social e cursam o Ensino Médio na rede pública são selecionados e, durante um ano, participam de um curso de Edu-cação Profi ssional ministrado pelos cola-boradores do Aché. O curso, reconhecido pelo Ministério da Educação, confere aos participantes o certifi cado de Assistente de Produção Farmoquímica e Cosmética.

Neste ano, o Aché recebeu sua 4ª tur-ma Aché Formare, com um diferencial: in-cluiu jovens com defi ciência, em situação de dupla exclusão social.

Cheminova abre duas novas fi liais no Brasil

A Cheminova abriu duas novas fi liais no Brasil, uma localizada em Goiânia, que atende a região Norte do país, e outra em Londrina, responsável pela re-gião Sul. Cada fi lial terá sua diretoria comercial com equipe própria de ven-das, desenvolvimento, marketing e cré-dito e cobrança.

Cristália adota novo modelo de inovação tecnológica

Cristália é uma das empresas brasi-leiras a aplicar o conceito de inovação

aberta em seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento.

O investimento em pesquisa, desen-volvimento e inovação (PD&I) fez o la-boratório Cristália fi rmar parcerias com universidades como USP, Unicamp, UFRJ e Universidade Federal do Amazonas, além de Instituto Butantan, Far-Manguinhos e Santa Casa de São Paulo, por exemplo.

O laboratório tem mais de 25 projetos de pesquisa nesse modelo em andamento e avalia outros 14. Entre os temas estuda-dos, pode-se destacar o desenvolvimento de dois anti-retrovirais, um anticoagulan-te e uma substância que poderá proteger o coração contra infartos.

O primeiro resultado de sucesso desse novo modelo foi o lançamento do medica-mento contra disfunção erétil, o Helleva (carbonato de lodenafi la), desenvolvido pelo laboratório brasileiro desde a cria-ção da molécula, em parceria com diver-sas instituições.

“Temos oito patentes já concedidas no Brasil e no exterior e cerca de 60 pedi-dos de patentes apresentados aos órgãos competentes, alguns ainda em fase de si-gilo”, conta o médico Ogari Pacheco, pre-sidente do Cristália. “Ao receber o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, em 2007, pudemos comemorar o reconhecimento desse esforço”, diz.

Medley entra no mercado de fi tomedicamento

A Medley faz seu primeiro investimen-to no mercado de fi tomedicamento lan-çando o xarope expectorante Respiratus.

Ele foi desenvolvido a partir de prin-cípios ativos, de extratos padronizados de plantas medicinais, com estudos clí-nicos de efi cácia e segurança.

A empresa espera vender cerca de 240 mil unidades no primeiro ano, entrando na disputa por um mercado que fatura mais de US$ 165 milhões por ano, com a classe terapêutica de expectorantes.

Os fi toterápicos movimentam US$ 550 milhões anualmente e, segundo órgãos do setor, a previsão é a de que o faturamen-to ultrapasse a marca de US$ 1 bilhão até 2010. Atualmente, os fi toterápicos repre-sentam cerca de 5% no faturamento do mercado farmacêutico brasileiro.

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PAINEL DO ASSOCIADO

do extrato padronizado de A. moluccana, além de preparar o caminho para o início dos estudos em humanos. As próximas fases incluem também os estudos para a produ-ção dos comprimidos em escala industrial.

O projeto é fruto inicial do trinômio Eu-rofarma, Univali e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), mas agora conta com o CNPq que aprovou complemento fi nanceiro para que as próximas fases.

Segundo o diretor de Inovação da Euro-farma, Wolney Alonso, há outros projetos a caminho. “Este é apenas o primeiro de ou-tros que também envolvem a biodiversidade brasileira. Além disso, estamos sempre em busca de novas parcerias junto a universida-des e instituições para o desenvolvimento de pesquisas inovadoras no país”, afi rma.

Empresas associadas recebem Prêmio de Qualidade Febrafarma 2008

A premiação foi realizada no dia 27 de maio no HSBC Brasil e contou com a presença de cerca de duas mil pessoas, entre fornecedores, representantes de la-boratórios e imprensa. No evento, foram anunciados 26 vencedores.

Quatro associados da ABIFINA foram contemplados com o Prêmio. Na cate-goria Matéria-prima, destacou-se a Corn Products Brasil Ingredientes Industriais Ltda. Na categoria Fabricantes de Fár-macos Nacionais, a Nortec Química S.A. foi contemplada pela sétima vez conse-cutiva. Os laboratórios EMS S/A - Grupo EMS Sigma Pharma e Aché Laboratórios Farmacêuticos S/A receberam o prêmio na categoria Indústria Farmacêutica - Classe Especial. A EMS recebe este prêmio pelo terceiro ano consecutivo.

A ABIFINA congratula seus associa-dos por este reconhecimento público, estimando que a premiação seja um in-centivo ao contínuo investimento em qualidade e tecnologia.

EMS está entre as 100 melhores empresas em cidadania corporativa

A EMS, líder no mercado farmacêuti-co nacional, está entre “As 100 Melhores

Empresas em Cidadania Corporativa” do país, de acordo com pesquisa realizada pela Gestão & RH.

Nessa segunda edição da pesquisa, foram analisadas cerca de mil corpora-ções dos setores industrial, comercial e de prestação de serviços que atuam na economia brasileira.

Contribuíram para a presença da EMS na premiação a política de incentivo à participação dos colaboradores em ações de responsabilidade social e a série de ini-ciativas voltadas à melhoria do ambiente de trabalho. A pesquisa também conside-rou o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), certifi cado pela ISO 14001:2004, com-provando que o laboratório farmacêutico atua em conformidade com a legislação ambiental e adota procedimentos para proteger o meio ambiente e minimizar impactos ambientais.

“Para a EMS, é motivo de grande orgu-lho e satisfação fi gurar entre as melho-res em cidadania corporativa. Esse prê-mio é um reconhecimento da excelência das iniciativas da empresa voltadas ao desenvolvimento pessoal e profi ssional dos colaboradores e à formação de um ambiente de trabalho dinâmico e ativo”, diz Telma Salles, diretora de Relações Externas da indústria farmacêutica.

EMS lança revista sobre saúde

Com o objetivo de estreitar o relacio-namento com seus diversos públicos, a EMS lança a revista EMS Saúde, que alia informação e entretenimento.

A primeira edição da revista já está sendo distribuída para todo o país e traz em sua linha editorial novidades, tendências e curiosidades sobre medi-cina e saúde.

O novo veículo de comunicação tem periodicidade bimestral e tiragem de 70 mil exemplares.

“Muito mais do que uma revista com novidades e tendências do mercado farmacêutico, a EMS Saúde representa um novo e importante vínculo da empresa com seus clientes”, diz Telma Salles, diretora de Relações Exter-nas do laboratório.

“É um mercado muito promissor e es-tamos confi antes no sucesso do produ-to”, destaca Ronaldo Lacerda, gerente de produtos da Medley.

Medley esclarece sobre genéricos

Buscando esclarecer a população a Medley, realizará uma campanha no nor-deste sobre a acessibilidade, efi cácia, be-nefícios e segurança dos medicamentos genéricos. Mais de 500 mil folhetos expli-cativos serão distribuidos apresentando que os genéricos, aqueles cujas embala-gens apresentam a letra G, têm a mesma qualidade e testes de bioequivalência que os de referência.

Essa decisão foi tomada baseada em recentes pesquisas apontando que a gran-de maioria dos medicamentos genéricos é consumida pelas classes A e B, justamente porque a outra parcela da população não conhece esta categoria de remédios. “Com a campanha pretendemos ampliar ainda mais o acesso à saúde, como também cons-cientizar as pessoas sobre a importância da orientação médica, a correta assistên-cia farmacêutica e a qualidade de vida pro-piciada pelos genéricos”, destaca Marco Aurélio, gerente de genéricos da Medley.

Eurofarma deposita a patente de seu primeiro produto de inovação radical

A Eurofarma, em parceria com a Uni-vali, anunciou o depósito da patente de seu primeiro produto de inovação radical junto ao Instituto Nacional da Proprieda-de Industrial (INPI).

O medicamento é um fi toterápico oral com atividades analgésica e antiinfl ama-tória, à base de extrato seco de folhas de Aleurites moluccana.

Segundo a empresa, o lançamento do novo fi tomedicamento está previsto para 2012. Parte dos estudos pré-clíni-cos já foi concluída em modelos animais, demonstrando boa tolerabilidade e uma importante atividade contra a dor, febre e outros sinais infl amatórios.

Nos próximos dois anos o objetivo será concluir os estudos pré-clínicos, com desta-que para a avaliação do perfi l de segurança

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SAIU NA IMPRENSA

ABIFINA comenta a notícia

OMS reconhece direito à quebra de patente

Folha de São Paulo, 27/05/08

A revalorização da vida

A aprovação pela OMS da proposta encabeçada pelo Brasil de se eleger a área da saúde como uma exceção ao sistema internacional de patentes, abrindo espaço para licenças com-pulsórias em casos de necessidade pública, foi comemorada como uma vitória política brasileira e dos países emergentes. É difícil entender, entretanto, que a simples aplicação de uma regra internacional que convém especialmente aos países em desenvolvimento mereça tal comemoração. A Organização

Lei agrícola americana fecha ainda mais mercado de etanol

DCI, 23/05/08

Protecionismo em alta

Os EUA, que sistematicamente acusam o Brasil de prote-cionismo nos fóruns internacionais de comércio, estão pres-tes a aprovar uma nova lei agrícola para proteger ainda mais o seu pouco competitivo etanol de milho. Uma das medidas previstas é a extensão ofi cial, até 2010, da tarifa de impor-tação de US$ 0,54/galão sobre o etanol brasileiro. Se a lei passar no Congresso norte-americano como está, perdem não somente os exportadores brasileiros de etanol, mas também uma parcela considerável da própria população norte-ameri-cana, que pagará mais caro pelos alimentos, cuja produção vem sendo relegada a segundo plano em decorrência do pre-datório programa de etanol daquele país.

A Amazônia é nossa!

Istoé, 25/05/08

É mesmo nossa?

Esta ampla reportagem de capa traz informações graves, mas que não são novas, e deixa de enfocar um aspecto de extrema relevância: apesar da retórica ofi cial, o governo bra-sileiro tem feito muito pouco em defesa da soberania nacional na Amazônia. Não há um planejamento estratégico de Estado nessa direção, mas apenas políticas setoriais desencontradas que acabam tendo pouco ou nenhum alcance. No que tange à exploração econômica da biodiversidade amazônica e ao apro-veitamento do conhecimento tradicional de comunidades in-dígenas em benefício do País, mesmo quando conduzido por instituições públicas de pesquisa, os órgãos públicos freqüen-temente se perdem em intermináveis divergências que, soma-das à burocracia, terminam por inviabilizar projetos responsá-veis do ponto de vista social e ambiental. E o pior é que isto vale apenas para brasileiros, pois certas ONGs estrangeiras que atuam na Amazônia têm passe livre na região e nem de longe precisam enfrentar a mesma burocracia e outras barreiras ins-titucionais para levar adiante seus empreendimentos.

Grupo do BRIC

O Globo Digital, 27/05/08

Alvo erradoO ex-embaixador brasileiro Rubens Barbosa, hoje dirigente

de comércio externo da FIESP, expressou nesse artigo sobre a evolução do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) opinião daquela entidade, em repetitivo desalinho com a política de comércio exterior do governo Lula. A crítica ao manifesto empenho brasileiro em fortalecer e institucionalizar o BRIC, que o embaixador considerou uma atitude precipitada e ufanista, seria exatamente a mesma se estivéssemos tra-

Mundial de Saúde nada mais fez do que, ao interpretar um dis-positivo de TRIPS, valorizar a saúde e a vida como patrimônios maiores da humanidade. Por muito menos os Estados Unidos diariamente expropriam patentes, lançando mão apenas da sua lei anti-truste, e disso o mundo não faz alarde.

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SAIU NA IMPRENSA

Com Unasul, Brasil quer estabilidade entre vizinhos

O Estado de São Paulo, 23/05/08

Equilibrando a balança

A iniciativa do governo brasileiro de propor a criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é louvável, pois a defasagem econômica entre o Brasil e as demais nações do Continente vem aumentando e não podemos repetir o erro histórico do isolacionismo praticado pelos EUA. O Bra-sil tem o dever de colaborar para o desenvolvimento das nações sul-americanas economicamente mais frágeis, até por uma questão de coerência, pois sempre fomos grandes contestadores das posições norte-americanas. É ajudando esses países que nós ajudaremos também a construir um futuro com menos desigualdades e mais harmonia deste lado da América. Vale enfatizar, como declarou o ministro Celso Amorim, que “generosidade não é ser bonzinho”; ou seja, que o Brasil não pretende cultivar uma relação pa-ternalista com seus vizinhos, mas sim “ter uma visão do interesse nacional de longo prazo e uma ação que passe mais pela cooperação do que pela confrontação”.

Grupo liderado pela Espanha pede nova política agrícolaDCI, 20/05/08

Política industrial e desenvolvimento

Valor Econômico, 23/05/08

Ladainha neoliberal

Agora que o Brasil retoma a rota do desenvolvimento eco-nômico e, a despeito de imensas difi culdades estruturais, co-meça a apresentar bons resultados, era de se esperar que a ala neoliberal organizasse a torcida contrária. É bem este o espírito do artigo de Armando Castelar comentando a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) recentemente anunciada pelo presidente Lula. Afi rmar que o debate sobre medidas espe-cífi cas de política industrial “pode e deve fugir do ideológico” equivale ao absurdo de despolitizar a política, empreendimen-to no qual os economistas e acadêmicos neoliberais tiveram sucesso na década de 90 quando postulavam que não ter polí-tica industrial era “a melhor política industrial para o Brasil”. E taxar de incoerente a postura do governo brasileiro de sub-sidiar sua indústria quando condena os subsídios concedidos pelo primeiro mundo aos seus mercados agrícolas soa, no mí-nimo, como desconhecimento das regras mais elementares do jogo econômico. Como se trata de um professor de Economia, descartamos esta hipótese e concluímos que se trata apenas de um lapso, decorrente, por certo, da ideologia neoliberal que perpassa o artigo.

tando de Doha (OMC). O que vemos hoje, em realidade, não é um enfoque mal feito sobre BRIC, mas sim uma ausência de entendimento no âmbito do comércio multilateral, por absolu-ta falta de vontade dos países do primeiro mundo para abrir o seu blindado mercado agrícola. Ocorre que BRIC somente terá espaço para evoluir na medida em que avance Doha. As críti-cas de quem realmente deseja a retomada do desenvolvimento econômico brasileiro deveriam ser dirigidas aos países que não querem negociar seus mercados internos, e nunca aos países menos desenvolvidos que buscam espaços para crescer.

UE divididaEspanha e França de um lado, Inglaterra e Suécia de ou-

tro. A Política Agrícola Comum (PAC) da União Européia

tem sido foco de acirradas divergências, tendo como pano de fundo a crise mundial do preço dos alimentos. Países com forte setor agrícola, a Espanha e a França querem mais incentivos à produção de alimentos e o redireciona-mento dos subsídios concedidos a biocombustíveis para matérias-primas não comestíveis. Já a Inglaterra e a Sué-cia defendem a liberalização das importações de produtos agrícolas. No calor do debate, a ONG Amigos da Terra aproveitou para insistir na falsa correlação entre pro-dução de biocombustíveis e desmatamento na Amazônia - estimulada, obviamente, por interesses econômicos eu-ropeus que não querem ver o Brasil liderando a produção mundial nesse importante segmento.

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CADEIA PRODUTIVA DEFÁRMACOS E MEDICAMENTOS

SOBERANIA É TER SAÚDE.

A ABIFINA, Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas

Especialidades, luta pela valorização dos fármacos e medicamentos fabricados no Brasil e

pelo desenvolvimento da tecnologia nacional desta área. As compras governamentais

representam um dos instrumentos mais importantes de apoio à política industrial, tecnológica

e de comércio exterior. Dar preferência a produtos nacionais é fortalecer a indústria nacional.

A ABIFINA atua para melhorar a discussão e o encaminhamento deste e de outros pontos

fundamentais de uma agenda para o desenvolvimento que o Brasil necessita. Se você

também tem compromissos com o Brasil de amanhã, visite nosso site www.abifina.org.br

fármacos e medicamentos defensivos agrícolas defensivos animais vacinas catalisadores e aditivos intermediários de síntese corantes e pigmentos orgânicos

FÓRMULA DE DESENVOLVIMENTO PARA O BRASIL

Componente Obrigatório

FORMULAMOS SOLUÇÕES PARA O BRASIL DO FUTURO.

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