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BRASÍLIA-DF, QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2011 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 13 | Número 2619 Processos de outorga de emissoras de rádio e televisão serão digitalizados para facilitar fiscalização pela sociedade Projeto que institui o fundo de previdência complementar dos servidores públicos entrará na pauta da comissão semana que vem Oposição inclui pedido de convocação do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, na pauta de três comissões POLÍTICA | 5 TRANSPARÊNCIA | 2 TRABALHO | 8 Código Florestal é aprovado com emenda que garante poderes aos estados O texto dispensa propriedades de até quatro módulos fiscais da necessidade de recompor as áreas de reserva legal utilizadas e proíbe novos desmatamentos em todas as propriedades rurais por cinco anos. Governistas tentarão derrubar no Senado parte da proposta que dá exclusivamente aos estados o poder de decidir sobre áreas de preservação. Para bancada ruralista, texto é equilibrado e faz justiça com os produtores rurais Ambientalistas avaliam que proposta é desastrosa e pode comprometer acordos internacionais DIÓGENIS SANTOS Páginas 3 e 4

Código Florestal é aprovado com emenda que garante poderes ... · Trem-bala As comissões de Fiscali-zação Financeira e Controle e de Viação e Transportes discutem o atual estágio

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BRASÍLIA-DF, QUARTA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2011 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 13 | Número 2619

Processos de outorga de emissoras de rádio e televisão

serão digitalizados para facilitar fiscalização pela sociedade

Projeto que institui o fundo de previdência complementar dos servidores públicos entrará na

pauta da comissão semana que vem

Oposição inclui pedido deconvocação do ministro-chefeda Casa Civil, Antonio Palocci,

na pauta de três comissões

POLÍTICA | 5 TRANSPARÊNCIA | 2 TRABALHO | 8

Código Florestal é aprovado com emenda que garante poderes aos estados

O texto dispensa propriedades de até quatro módulos fiscais da necessidade de recompor as áreas de reserva legal utilizadas e proíbe novos desmatamentos em todas as propriedades rurais por cinco anos. Governistas tentarão derrubar no

Senado parte da proposta que dá exclusivamente aos estados o poder de decidir sobre áreas de preservação.

Para bancada ruralista, texto é equilibrado e faz justiça com os produtores rurais

Ambientalistas avaliam que proposta é desastrosa e pode comprometer acordos internacionais

Diógenis santosPáginas 3 e 4

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QUARTA-FEIRA25 de maio de 2011

agenda2

PARTICIPAÇÃO POPULARBrasília, 25 de maio de 2011

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

Jornal da Câmara

Impresso na Câmara dos Deputados (DEAPA / CGRAF) em papel reciclado

Mesa Diretora da Câmara dos Deputados - 54a Legislatura SECOM - Secretaria de Comunicação Social

Diretora: Sueli Navarro (61) 3216-1500 [email protected]

[email protected] | Redação: (61) 3216-1660 | Distribuição: (61) 3216-1826

DiretoraSimone RavazzolliEditora-chefeRosalva Nunes

DiagramadoresGuilherme Rangel BarrosJosé Antonio FilhoRoselene Guedes

IlustradorRenato Palet

EditoresMaria Clarice DiasRalph Machado

1ª Vice-PresidenteRose de Freitas (PMDB-ES)2º Vice-Presidente Eduardo da Fonte (PP-PE)1º SecretárioEduardo Gomes (PSDB-TO)2º Secretário Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP)3º SecretárioInocêncio Oliveira (PR-PE)4º SecretárioJúlio Delgado (PSB-MG)

Presidente: Marco Maia (PT-RS) SuplentesGeraldo Resende (PMDB-MS), Manato (PDT-ES), Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE) e Sérgio Moraes (PTB-RS)Ouvidor Parlamentar Miguel Corrêa (PT-MG)Procurador Parlamentar Nelson Marquezelli (PTB-SP)Diretor-Geral Rogério VenturaSecretário-Geral da MesaSérgio Sampaio de Almeida

Exploração sexualAs comissões de Turismo

e Desporto e de Direitos Hu-manos e Minorias promovem seminário sobre Políticas Públicas de Combate à Exploração Sexual Infantil e ao Turismo Sexual. Audi-tório Nereu Ramos, a partir das 9h

Trem-balaAs comissões de Fiscali-

zação Financeira e Controle e de Viação e Transportes discutem o atual estágio do projeto de implementação do Trem de Alta Velocidade no Brasil. Plenário 2, às 10h

EtanolA Comissão de Minas e

Energia debate o mercado de álcool combustível. Plenário 14, às 10h

Fronteiras nacionaisA comissão de Relações

Exter iores e de Defesa Nacional analisa ações e dificuldades relacionadas à proteção das fronteiras brasi-leiras. Plenário 3, às 10h

Saúde da mulherA 2ª Secretaria da Mesa

promove a entrega do Prêmio Dr. Pinotti - Hospital Amigo da Mulher. Salão Nobre, 11h

Belo MonteA Comissão da Amazô-

nia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional

Cidadão poderá fiscalizar processo delicença para emissoras de rádio e TV

Lara Haje

Os processos de outorga e renovação de outorgas de emissoras de rádio e televisão em tramitação na Câmara se-rão digitalizados e, ainda neste ano, estarão disponíveis para consulta da população. A in-formação foi dada ontem pelo diretor do Departamento de Comissões da Câmara, Luiz Antônio Eira, durante o se-minário “Participação Popu-lar no Parlamento do Século 21”. Promovido pela Comissão de Legislação Participativa, o evento faz parte das comemo-rações do aniversário de dez anos do colegiado.

A deputada Luiza Erundi-na (PSB-SP) destacou que os cidadãos poderão auxiliar na fiscalização das emissoras e informar quem são os verda-deiros proprietários. Ela lem-brou, por exemplo, diversas denúncias da existência de proprietários “laranjas”. O Congresso é responsável por aprovar ou rejeitar proces-sos de outorga de emissoras de rádio e TV enviados pelo Executivo.

Áudio e vídeo - Outra no-vidade, prevista pela Câmara para este ano, será a incorpo-ração de novas informações ao sistema de consulta de tramitação das proposições. Segundo Eira, ainda neste ano poderão ser consultados os discursos referentes às pro-postas, além do áudio e do ví-deo dos debates ocorridos nas comissões temáticas.

Em um segundo momento, também em 2011, os estudos da Consultoria Legislativa e as notícias referentes a cada proposta serão disponibiliza-das na página de cada propo-sição. “Queremos tornar a in-

formação mais acessível para o cidadão”, ressaltou Eira.

Participação direta - O coordenador do portal e-De-mocracia, Cristiano Ferri, ex-plicou que todos os cidadãos já podem, por meio do portal, participar de discussões so-bre propostas em análise na Câmara. Atualmente estão disponíveis debates sobre o combate ao trabalho escravo, a obrigatoriedade do diploma de jornalista e a regulamenta-ção para as lan houses.

Ferri destacou que deputa-dos e consultores legislativos participam dos bate-papos.

Paulo Pimenta quer ampliar as atribuições da comissão

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que sugeriu a reali-zação do seminário, defende que a Comissão de Legislação Participativa possa apresentar emendas ao Orçamento da União. Ele ressaltou que a comissão é a única que não tem essa prerrogativa.

Luiza Erundina (PSB-SP) apoiou a proposta. Primeira parlamentar a presidir a Comissão de Legislação Partici-pativa, a deputada lembrou que, nos últimos dez anos, a comissão já aprovou 30 projetos de iniciativa popular, hoje em condições de serem votados pelo Plenário.

Além disso, a Câmara já aprovou uma lei de iniciativa popular que informatizou o sistema judicial brasileiro. Para a deputada, a democracia representativa é insuficiente para consolidar um sistema realmente democrático no País.

discute aspectos socioe-conômicos, ambientais e jurídicos da usina hidrelétri-ca de Belo Monte. Plenário 14, às 11h

Mulher na políticaA bancada feminina

reúne-se com o relator da Comissão Especial da Reforma Política, Henrique Fontana (PT-RS), para anali-sar a ampliação da presença de mulheres no Legislativo. Plenário 15, às 14h

PortosO Conselho de Altos

Estudos e Avaliação Tec-nológica debate o papel dos portos como fator de desenvolvimento econômico regional e nacional. Sala de Reuniões da Mesa, às 14h

SurdosA Comissão de Defesa

do Consumidor analisa o atendimento em órgãos públicos, serviços de saúde, escolas, correios, cartórios e outros aos portadores de de-ficiência auditiva ou surdos. Plenário 8, às 14h30

EducaçãoA comissão especial que

analisa o Plano Nacional de Educação (PL 8035/10) discute o financiamento do setor. Plenário 10, 14h30

CatástrofesA comissão especial

destinada a apresentar propostas em relação às medidas preventivas e sane-adoras diante de catástrofes climáticas reúne-se com o secretário Nacional de De-fesa Civil, Humberto Viana. Plenário 13, às 14h30

os deputados Paulo Pimenta (ao microfone) e Luiza erundina, durante o seminário

gUstaVo LiMa

Ele mencionou que, no caso da discussão do Estatuto da Juventude, o texto aprovado por uma comissão especial efetivamente incorporou su-gestões de cidadãos dadas por meio do portal.

O consultor legislativo José de Sousa Paz Filho destacou a potencialidade da internet para promover mecanismos de consolidação da democracia. Para ele, o grande desafio do Brasil para a inclusão digital é superar o abismo entre as clas-ses sociais e as desigualdades regionais de acesso às novas tecnologias.

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

PLENÁRIOBrasília, 25 de maio de 2011

Câmara aprova Código Florestal comemenda e impõe derrota ao governoEduardo Piovesan

O Plenário aprovou ontem o novo Código Florestal (PL 1876/99 e outros), que permite o uso das áreas de preserva-ção permanente (APPs) já ocupadas com atividades agrossilvipastoris, ecoturismo e turismo rural. Esse desmatamento deve ter ocorrido até 22 de julho de 2008, data de publicação de decreto (6.514/08) que regulamentou as infrações contra o meio ambiente com base na Lei 9.605/98.

As hipóteses de uso do solo por uti-lidade pública, interesse social ou de baixo impacto serão previstas em lei e, em todos os casos, devem ser observados critérios técnicos de conservação do solo e da água.

O texto aprovado, que revoga o códi-go em vigor (Lei 4.771/65), vai ao Sena-do. A discussão na Câmara, que durou mais de uma década, foi intensificada nos últimos dois anos, com a criação de comissão especial sobre o tema.

A redação final foi dada pela aprova-ção da emenda 164, dos deputados Pau-lo Piau (PMDB-MG), Homero Pereira (PR-MT), Valdir Colatto (PMDB-SC) e Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Aprovada por 273 votos a 182, a emenda também dá aos estados, por meio do Programa de Regularização Ambiental (PRA), o poder de estabele-cer outras atividades que possam justifi-car a regularização de áreas desmatadas. O texto proíbe desmatamentos em todas as propriedades rurais por cinco anos.

Vetos - Antes da votação da emenda, o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), alertou que a pre-sidente Dilma Rousseff vetará a libera-ção de atividades nas APPs se o governo não conseguir mudar o texto no Senado. Nessa última hipótese, a proposta voltará

para análise da Câmara.Segundo Vaccarezza, o governo de-

fende o estabelecimento de punição adi-cional para quem reincidir em agressões ao meio ambiente; a criação de alterna-tiva para a definição de APPs em rios em pequenas propriedades (até quatro módulos fiscais); e a manutenção na lei do termo “recomposição” e não “regula-rização” do bioma amazônico.

Rios - As faixas de proteção em rios continuam as mesmas de hoje (30 a 500 metros), mas passam a ser medidas a par-tir do leito regular e não do leito maior. A exceção é para os rios de até dez metros de largura, para os quais é permitida a recomposição de metade da faixa (15 metros) se ela já tiver sido desmatada.Nas APPs de topo de morros, montes e serras com altura mínima de 100 metros

e inclinação superior a 25°, o novo có-digo permite a manutenção de culturas de espécies lenhosas (uva, maçã, café) ou de atividades silviculturais, assim como a infraestrutura física associada a elas. Isso vale também para os locais com altitude superior a 1,8 mil metros.

O projeto não considera APPs as vár-zeas fora dos limites em torno dos rios, as veredas e os manguezais em toda sua extensão. Entretanto, são protegidas as restingas enquanto fixadoras de dunas ou para estabilizar a vegetação de man-gue. Se a função ecológica do mangue-zal estiver comprometida, o corte de sua vegetação nativa somente poderá ser au-torizado para obras habitacionais e de urbanização nas áreas urbanas consoli-dadas ocupadas por população de baixa renda.

O novo Código Florestal mante-ve, como regra geral, os índices de preservação exigidos atualmente. Na Amazônia, os percentuais são de 80% nas terras situadas em áreas de floresta; de 35% em áreas de cerrado; e de 20% em campos gerais. Nas demais regiões do País, o percentual é de 20%.

Aqueles que mantinham reserva legal em percentuais menores, exigidos pela lei em vigor à época, ficarão isentos de recompor a área. A principal mudança ocorreu em 2000, quando passou-se a exigir reserva legal de 80% na Amazônia Legal, em vez dos 50% anteriores.

Quanto à reserva legal, o projeto permite aos proprietários que explorarem

em regime familiar terras de até quatro módulos fiscais manter a área de vege-tação nativa existente em 2008.

Quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico do estado, o Executivo federal poderá reduzir, para fins de regularização da área rural consolidada, a reserva exigida na Ama-zônia. O Ministério do Meio Ambiente e o Conselho Nacional do Meio Ambiente não precisam mais ser ouvidos, como prevê a lei em vigor. Para o cumprimento de metas nacionais de proteção à bio-diversidade ou para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, o Executivo poderá aumentar a reserva em até 50% dos índices previstos. (EP)

Índices de preservação continuam os mesmos

O texto do novo Código Florestal prevê que, para fazer jus ao perdão das multas e dos crimes ao meio ambiente cometidos, o produtor rural deverá aderir ao Programa de Re-gularização Ambiental (PRA), a ser instituído pela União e pelos estados.Os interessados terão um ano para aderir, mas esse prazo só começa a contar a partir da criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que deverá ocorrer em até 90 dias da publicação da futura lei. Todos os imóveis rurais deverão se cadastrar.

Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (Ibama) indicam a existência de cerca de 13 mil multas com valor total de R$ 2,4 bilhões até 22 de julho de 2008. A maior parte delas pelo desmatamento ilegal de APPs e de reserva legal em grandes propriedades da Amazônia Legal. Mato Grosso, Pará, Rondônia e Amazonas respondem por 85% do valor das multas aplicadas até julho de 2008 e ainda não pagas.

Compromisso - Quando aderir ao PRA, o proprietário que desmatou além do permitido terá de assinar um termo de adesão e compromisso, no qual deverão estar especificados os procedimentos de recuperação exigi-dos pelo novo código. Dentro de um ano a partir da criação do cadastro e enquanto estiver cumprindo o ter-mo de compromisso, o proprietário não poderá ser autuado e as multas referentes a desmatamentos serão suspensas, desde que aplicadas antes de 22 de julho de 2008. Depois da regularização, a punibilidade dos crimes será extinta. (EP)

o Código Florestal foi aprovado após acordo de líderes fechado no início de noite

Projeto estabelece regra para regularização

o deputado sarney Filho (e) conversa com Vaccarezza, líder do governo

J.Batista

Beto oLiVeiRa

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

PLENÁRIOBrasília, 25 de maio de 2011

Maria Neves e José Carlos Oliveira

Mesmo depois de dois anos em debate, o novo Código Florestal (PL 1876/99 e outros) ainda foi acompanha-do de discussões acaloradas durante a votação no Plenário. Considerado pela bancada ruralista um texto equilibrado, amplamente discutido com a sociedade, o projeto foi taxado pelos ambientalistas de “retrocesso”, que levou em conside-ração apenas os interesses dos grandes produtores rurais.

O coordenador da Frente Ambienta-lista, deputado Sarney Filho (PV-MA), afirmou que o texto “é desastroso, não é florestal, mas a favor da agricultura, e pode comprometer acordos interna-cionais assumidos pelo Brasil”.

A aprovação do novo Código Flo-restal foi comemorada pela presidente da Confederação Nacional da Agri-cultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-GO). Segundo ela, agora a lei ambiental brasileira não terá mais o selo das organizações não governamentais, mas do Brasil, da sociedade, por meio do Congresso. Ela prevê que a maté-ria tramitará rapidamente no Senado, e espera que os senadores não façam alteração para que o texto siga logo para sanção presidencial. Kátia Abreu tam-bém não acredita em veto presidencial. “A presidente Dilma não vai arrancar os produtores como ervas daninhas. Eles estão produzindo há anos sem provocar danos aos rios e ao meio ambiente.”

Emendas - Já o líder do PT, deputa-do Paulo Teixeira (SP) explicou que o partido votou favoravelmente ao substi-tutivo do relator, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), mas “com muitos questionamentos”. Teixeira lembrou que o partido apresen-tou emendas supressivas para retirar da proposta pontos como a possibilidade de continuação das atividades irregulares em áreas de preservação permanente (APPs) de margens de rios e de permitir novos desmatamentos.

De acordo com o líder, o PT decidiu apoiar a votação porque “esse processo [de negociação] foi ao limite”. Ele disse ainda que o partido “tencionou ao má-ximo para ter algo mais equilibrado, um código que recuperasse o passivo am-biental, o plantio de florestas e prote-gesse os rios”. Por isso, garantiu que vai continuar a busca por aperfeiçoamento do texto no Senado.

O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) ressaltou que existe um compromisso de Dilma Rousseff, formalizado durante o segundo turno das últimas eleições presidenciais, de que “vai vetar esse

Carolina Pompeu

As negociações para aprovação do novo Código Florestal começaram na manhã de ontem e prosseguiram até 18h30, quando foi anunciado um acordo. Por volta das 17h, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) havia anunciado que cerca de 350 deputados eram favoráveis à votação do texto ainda ontem.

O conflito estava em torno da emen-da 164, que dá aos estados o poder de estabelecer as atividades que possam justificar a regularização de áreas de

preservação permanente (APPs) já desmatadas. A liderança do governo manteve-se contrária à proposta e defendeu a regulamentação por meio de decreto presidencial.

Após a divulgação do acordo, o vice-líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP), adiantou que seu partido e o PV votariam pela rejeição do texto de Aldo. Ele reiterou que, com a aprovação do novo código, o Psol deverá propor um referendo popular à nova lei. O partido também pretende impetrar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no

Supremo Tribunal Federal contra a lei. A alegação será de que houve retrocesso na legislação ambiental.

O dia foi marcado por protestos con-tra e a favor do novo Código Florestal. Representantes de entidades ligadas à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), favoráveis ao texto de Aldo Rebelo, disputaram espaço com integrantes da Via Campesina e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), para quem a proposta beneficia somente grandes produtores que não têm responsabilidade ambiental.

Negociações duraram todo o dia

Para ruralistas, foi feita justiça com produtores; ambientalistas dizem que texto é “desastroso”

atentado aos ecossistemas brasileiros”.Reflorestamento - Na opinião de

Sirkis, teria sido possível chegar a um texto que ao mesmo tempo protegesse as florestas e os ecossistemas e contem-plasse as preocupações da agricultura. No entanto, conforme sustenta o depu-tado, o relatório não avançou por não prever, por exemplo, estímulos econô-micos ao reflorestamento.

De acordo com Sirkis, nos próximos 20 anos, haverá US$ 80 bilhões (cerca de R$ 130 milhões) no mercado internacio-nal de créditos de carbono para reflores-tamento, com o objetivo de absorver as emissões dos países que não conseguem reduzir suas cotas. “Esses serviços am-bientais são algo que interessa ao peque-no produtor, mas essa informação lhes foi sonegada”, acrescentou.

O deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) disse, no entanto, que o País não poderá cobrar por áreas preservadas previstas em lei, devido a acordo inter-nacional que assinou. “O Brasil tem a maior a reserva florestal do mundo e não pode cobrar absolutamente nada por isso”, protestou.

Dois anos - De acordo com o depu-tado Giovani Cherini (PDT-RS), o rela-tor Aldo Rebelo percorreu todo o Brasil

para ouvir os interessados e elaborar um texto equilibrado. “Democracia é ouvir, é falar, não é querer ganhar no tapetão.” O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) ressaltou que a discussão foi feita por dois anos em comissão especial.

Já Sarney Filho disse que todas as discussões “foram conduzidas pelo segmento que desejava o retrocesso na legislação ambiental”. Na opinião do coordenador da Frente Ambientalista, depois de dois anos de trabalho, Aldo apresentou o primeiro relatório, que

“era uma aberração”. Depois de mais discussão, sustentou, a proposta tornou-se “menos ruim”, mas ainda precisaria ser aperfeiçoada.

O líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), ressaltou ter votado de forma convicta pela apro-vação do texto de Aldo Rebelo, “porque tem absoluta certeza de que a Câmara fez justiça”. Na opinião do parlamentar, se há necessidade de preservação am-biental, também é preciso “olhar para o produtor rural”.

aldo Rebelo e inocêncio oliveira Protesto de militantes da CUt

MaRQUes LeonaRDo PRaDo

Henrique eduardo alves (e), líder do PMDB, discute a proposta com o deputado Ronaldo Caiado

LeonaRDo PRaDo

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

POLÍTICABrasília, 24 de maio de 2011

Carol Siqueira

As bancadas católica e evangélica decidiram radicalizar contra a decisão do governo de manter a distribuição em escolas, a partir do próximo semestre, de vídeos e cartilhas do Ministério da Educação sobre homossexualidade na adolescência.

Sob o comando da Frente Parla-mentar Evangélica, as bancadas deci-diram endossar e até mesmo articular a convocação do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, nas comissões da Câmara, caso o governo não retire o material de circulação. O ministro é alvo de denúncias sobre a evolução do seu patrimônio nos últimos quatro anos. A avaliação dos parlamentares é que o governo terá de ceder à banca-da para não correr o risco de expor o ministro.

“Hoje em dia, o governo tem medo

de convocar o Palocci. Temos de sair daqui e dizer que, caso o mi-nistro da Educação não retire esse ma-terial de circulação, todos os deputados católicos e evangélicos vão assinar um docu-mento para trazer o Palocci à Câmara”, afirmou o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que sugeriu essa estratégia.

Compromisso desfeito - As bancadas decidiram en-durecer contra o governo depois que o ministro da Educação, Fernando Haddad, voltou atrás no compromis-so feito com os parlamentares última quarta-feira (18), quando informou que permitiria a participação de parlamen-

tares no debate sobre o kit organizado pela pasta, e que deve ser distribuído às escolas de ensino médio.

Dias depois, ele de-clarou que iria manter o material como foi feito. “Os valores e princípios que defen-demos são inegociá-veis e, na medida em que o governo mentiu e não honrou os seus compromissos, não nos resta outra opção”, dis-

se o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), justificando a decisão de convocar Palocci.

A decisão de colocar o caso Palocci em evidência não teve total apoio na bancada. Um dos contrários à convo-

cação é o líder do PR, Lincoln Portela (MG), para quem o ministro não deve ser usado como moeda de troca.

Comissão geral - Os parlamentares aprovaram ainda a realização de uma Comissão Geral para discutir a cartilha e a divulgação dos vídeos; a articula-ção de uma Comssão Parlamentar de Inquérito sobre o Ministério da Edu-cação; o pedido de exoneração de Fer-nando Haddad e a obstrução a todas as votações, exceto o Código Florestal.

Os parlamentares ressaltam que são contra a violência, mas consideram o conteúdo dos vídeos inadequados. “Não podemos deixar que uma minoria [a favor do kit] se sobreponha à maio-ria da população, para quem essa parte de orientação sexual e comportamen-to deve ser deixada para os pais, que sabem o melhor para os seus filhos”, defendeu o deputado Marcio Marinho (PRB-BA).

Parlamentares ameaçam convocar ministro segoverno mantiver kit sobre homossexualidade

FRENTE EVANGÉLICA

Pela manhã, os partidos oposicionistas discutiram a criação de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar a evolução patrimonial do ministro. Os parlamentares se reuniram para analisar estratégias de cooptação de deputados e senadores favoráveis à investigação e à convocação de Palocci. “Vamos fazer um esforço para sensibilizar deputados e senadores da base aliada que têm posi-ção independente. A situação gerou insatisfação também na base do governo”, afirmou Antonio Carlos Magalhães Neto.

Apesar da expectativa de reunir os insatisfeitos, a oposição reconhece que será mais difícil obter apoio na Câmara do que no Senado. Na ava-liação do líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), a perspectiva de chegar ao número regimental do Senado é mais favorável, já que senadores do PMDB manifestaram apoio à causa.

Além da mobilização pela CPMI e do esforço pela convocação de Pa-locci, a oposição ingressou no Ministério Público Federal com outras duas representações. Um pedido é para que seja investigada a informação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de que, há seis meses, uma operação suspeita foi detectada na empresa de consultoria de Palocci. Também será pedida a investigação do faturamento de R$ 20 milhões da empresa em 2010, quando Palocci era deputado federal e um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.

Busca de apoio de governistas para criar CPMI

Rachel Librelon e Janary Júnior

A oposição vai tentar votar hoje, em pelo menos três comissões, requerimen-tos para convocação do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O DEM, o PPS e o PSDB querem que o ministro dê explicações sobre a evolução do seu patrimônio pessoal, que teria crescido 20 vezes entre 2006 e 2010, segundo matéria vei-culada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Os re-querimentos estão nas pautas das comi s sões de Agricul-tura, Pecuá-ria, Abaste-cimento e Desenvolvi-mento Rural, que se reúne às 10 horas; de Fiscalização Financeira e Controle (às 9h30); e Mis-ta de Orçamento (15 horas). A oposição tentou votar ontem os requerimentos nessas duas últimas, mas os colegiados não se reuniram por falta de quórum.

Na semana passada, o Plenário rejei-tou a convocação do ministro, e ontem

Oposição pretende votar convocação de Antonio Palocci em três comissões

João Campos

gUstaVo LiMa

gilmar Machado

Beto oLiVeiRa

Magalhães neto

Beto oLiVeiRa

o presidente Marco Maia indeferiu um pedido do Psol para colocar novamente o assunto em pauta. “Essa matéria já foi amplamente rejeitada, e por isso não há uma obrigatoriedade da Mesa de pau-tá-la imediatamente”, disse Maia. Há um esforço para votar requerimentos de convocação de Palocci também no Senado.

Acordo - Na Comissão de Orçamen-

to, o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), chegou a sugerir um acordo para o representante do governo, deputado Gilmar Machado (PT-MG): o DEM retiraria a obstrução que vem fazendo desde a semana pas-sada à votação do relatório preliminar ao projeto da Lei de Diretrizes Orça-mentárias (LDO) caso o requerimento sobre Palocci fosse votado. A sugestão,

porém, foi rejeitada por Machado.O líder do DEM criticou as “ma-

nobras do governo” para evitar que a convocação de Palocci seja votada em alguma comissão da Casa. “O governo tem ampla maioria no Congresso e, no entanto, não se cansa de fazer manobras para evitar que o requerimento seja vo-tado”, afirmou. Gilmar Machado reba-teu dizendo que o foco do governo no

dia era a votação da reforma do Código Florestal (PL 1876/99 e outros), no Ple-nário da Câmara. Ele afirmou que, uma vez venci-da essa etapa, aceitará discutir a votação do re-querimento.

Além da convocação, há um requerimen-

to do deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) para a realização de audi-ência pública com os sócios do ministro Palocci na sua empresa (o ministro ale-ga que o avanço do patrimônio ocorreu com rendimento de consultoria). O re-querimento está na pauta da Comissão de Fiscalização.

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

SEGURANÇABrasília, 25 de maio de 2011

Tiago Miranda

Parlamentares defenderam ontem a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 534/02, do Senado, que amplia as competências das guar-das municipais. O tema foi discutido em seminário sobre guardas municipais e segurança pública promovido pela Co-missão de Legislação Participativa. A proposta, que já foi aprovada em co-missão especial e está pronta para ser votada pelo Plenário, autoriza as guar-das municipais a atuar na proteção da população. Atualmente, a instituição pode trabalhar somente no resguardo de bens, serviços e instalações muni-cipais.

Para o relator do texto, deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), há dois problemas que impedem a vota-ção da PEC. O primeiro é a falta de mobilização dos próprios profissionais das guardas para pressionar os depu-tados a colocarem a proposta na pauta do Plenário.

O outro item que impede a vota-ção, na opinião do relator, é o lobby de setores da Polícia Militar (PM) contra a ampliação das atividades da guarda municipal. “Todo coronel da PM da ativa é contra as guardas municipais, mas quando vai para reserva quer ser comandante dessas guardas”, afirmou Faria de Sá. Ele destacou que a PEC 534/02 está mais adiantada em relação a outras medidas sobre segurança (como as PECs 300/08, que trata do piso sala-rial de policiais e bombeiros, e 308/04,

Morreu ontem o ex-deputado e ex-senador Abdias Nascimento, precursor do movimento negro no Brasil. Aos 97 anos, ele estava internado havia dois meses no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, devido a complicações decor-rentes de diabetes.

Na Câmara, Abdias Nas-cimento foi autor do primeiro projeto de lei propondo polí-ticas públicas de igualdade racial, que chamou de ação compensatória (PL 1332/83). A proposta recebeu parecer favorável nas comissões, mas, por resolução da Câma-ra, todas as proposições de

deputados que tramitavam até 4 de ou-tubro de 1988, véspera da promulgação da atual Constituição, foram arquivadas. Entre elas, o PL 1332/83.

Em julho do ano pas-sado, após a sanção do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10), Abdias escreveu carta aberta ao presidente Lula com reparos à nova norma. “Não me cabe apoiar ou aplaudir a legislação do País. Cabe-me, sim, apoiar e aplaudir as forças políticas que se dedicam a combater o racismo.

Isto farei sempre”, afirmou.Professor benemérito da State Uni-

versity of New York, recebeu título de doutor honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em função da militância no combate à discriminação racial. Recebeu diversas premiações, como o Prêmio Unesco em 2001, na categoria Direitos Humanos e Cultura de Paz.

Teatro e jornal - Professor e artista plástico, Abdias Nascimento nasceu em Franca (SP). Nos anos 40, fundou o Teatro Experimental do Negro e o jornal Quilombo, no Rio de Janeiro. Durante o regime militar, exilou-se nos Estados Unidos. No retorno ao Brasil,

exerceu mandato de deputado federal (entre 1983 e 1987) e de senador (de 1997 a 1999), além de ter criado e ocupado nos anos 90 a Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras, no governo fluminense.

Neste ano, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Ja-neiro criou o Prêmio Abdias Nascimento, que está com inscrições abertas até 19 de agosto. Poderão concorrer trabalhos jorna-lísticos com os temas saúde da população negra, intolerância religiosa, juventude ne-gra, ações afirmativas, empreendedorismo, desigualdades, direitos humanos, relações raciais, políticas públicas, comunidades tradicionais e discriminação racial.

A Câmara instalará comissão especial sobre segurança pública, cujos trabalhos devem incluir a análise do papel das guardas municipais no sistema brasileiro de segurança pública. O início dos trabalhos do colegiado, criado em abril, ainda depende da indicação dos integrantes pelos partidos.

Para o presidente da organização não governamental SOS Segurança Dá Vida, Maurício Domingues da Silva, que propôs a realização do seminário, de nada adianta fazer debates sobre as guardas municipais em diferentes cidades se não for feito um trabalho específico em Brasília. “Precisamos pôr na cabeça do parlamentar que o dever da polícia é muito mais do que as polícias estaduais estão fazendo.” (TM)

MEMóRIA

Morre o ex-deputado Abdias Nascimento, precursor do movimento negro

Deputados apoiam ampliação das competências das guardas municipais

que cria as polícias penitenciárias fede-ral e estaduais).

Frente Parlamentar - O deputado Vicentinho (PT-SP) também pediu aos guardas municipais que se mobilizem para cobrar dos parlamentares a apro-vação da PEC e para relançar a frente parlamentar pró-guarda municipal, da qual ele era presidente. “A aprovação da regulamentação da categoria vai de-pender muito mais de nós. Precisamos de mais unidade. A causa é mais ampla que os partidos”, declarou. Atualmente, há 139 assinaturas das 171 necessárias para a reinstalação da frente.

Políticas de segurança - Segundo o presidente da Câmara, Marco Maia, a inserção da categoria no debate sobre segurança pública é fundamental para a reformulação das políticas públicas para a área. Maia afirmou que uma das al-ternativas para resolver os problemas na área de segurança é dotar estados e municípios de condições adequadas para atuar na prevenção e no combate à violência e ao crime. “E a atuação dos municípios depende diretamente do tra-balho das guardas municipais”, disse.

Porte de arma - Na opinião do de-putado Delegado Waldir (PSDB-GO), toda guarda municipal deve ser armada. Atualmente, o Estatuto do Desarma-mento (Lei 10.826/03) prevê o porte de armas apenas para guardas muni-cipais de cidades com mais de 50 mil habitantes. “Somos defensores de uma guarda forte, ao lado do cidadão, para ser policia comunitária e ostensiva em defesa da vida.”

Instalação de comissão especial depende da indicação dos partidos

o deputado arnaldo Faria de sá, relator da PeC que amplia as competências das guardas municipais, pediu maior mobilização dos profissionais

RiCaRDo stUCkeRt/PR

Beto oLiVeiRa

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Deputados querem maior controle na venda de bebidas

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

CULTURABrasília, 25 de maio de 2011

Supervisão estatal na arrecadação dedireitos autorais opõe governo e Ecad

Idhelene Macedo

Governo e Ecad (Escritório Cen-tral de Arrecadação e Distribuição) divergem sobre a supervisão estatal da arrecadação de direitos autorais decor-rentes da execução pública de músicas nacionais e estrangeiras.

Atualmente, a arrecadação e a dis-tribuição é exercida pelo Ecad, entidade privada de gestão coletiva que reúne as-sociações de profissionais como autores, produtores e intérpretes. No entanto, um projeto em estudo no Ministério da Cultura prevê a criação de um órgão para supervisionar a atividade.

Durante audiência da Comissão de Ciência e Tecnologia realizada ontem, o coordenador de Regulação em Direi-tos Autorias do Ministério da Cultura (MinC), Cristiano Lopes, defendeu a ne-cessidade do controle que, segundo ele, é uma demanda dos próprios autores.

“Os autores querem uma supervisão para que haja um mínimo de resposta do que está sendo feito dentro da gestão coletiva. A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, já declarou várias vezes que haverá supervisão estatal para que se te-nha essas respostas, principalmente no que se refere à distribuição dos direitos

autorais”, disse Lopes.O coordenador do MinC afirmou

que o anteprojeto que altera a Lei dos Direitos Autorais isenta as microempre-sas da cobrança por parte do Ecad. No texto atual, a isenção é concedida caso a transmissão da música “não seja um meio para a atração de clientela”, como no caso de consultórios médicos.

Lopes acrescentou ainda que a cria-ção de uma entidade, ligada ao MinC, para supervisionar a arrecadação de di-reitos autorais deverá ser tratada em lei própria, já que a medida atinge o Orça-mento. O anteprojeto, cuja consulta pú-blica acaba no próximo dia 30, deve ser encaminhado pelo Ministério da Cultura à Casa Civil no dia 15 de julho.

Já a superintendente do Ecad, Glória Braga, afirmou que o Estado não deveria interferir sobre a administração de bens particulares. “Precisamos saber claramen-te qual é a proposta. Não podemos dizer que discordamos ou concordamos. Que-remos saber como será”, disse.

No entendimento de Glória Braga, em princípio a supervisão jamais poderia ser feita pelo poder público. “São bens de natureza privada, o direito autoral é um bem privado do compositor”, disse.

Apoio - A supervisão estatal das ati-

vidades do Ecad foi bem recebida pela maioria dos integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia. Para o deputado Marcelo Aguiar (PSC-SP), um dos au-tores do requerimento para a realização da audiência, deve, sim, haver um órgão fiscalizador da cobrança, da arrecadação e da distribuição dos direitos autorais.

“Para onde vai o dinheiro retido no Ecad? O que é feito com este recurso? Este é um momento importante para que possamos dar uma orientação para o que tem de ser mudado no Ecad”, afirmou,

referindo-se ao debate na Câmara.Durante a audiência, Marcelo Aguiar

questionou a superintendente do Ecad so-bre denúncias publicadas pela imprensa, segundo as quais R$ 127 mil teriam sido pagos irregularmente a pessoas que nunca compuseram músicas.

Glória Braga respondeu que a quan-tia representa apenas uma pequena par-te dos mais de R$ 300 milhões distri-buídos no ano passado pela entidade. Segundo ela, o dinheiro já foi devolvido aos verdadeiros titulares das obras.

glória Braga, supervisora do ecad: o estado não deveria interferir em bens privados

SAÚDE

Vania Alves

Controlar rigidamente a proibição de venda de bebida alcoólica para crianças e adolescentes é uma das medidas defendidas por parlamentares e especialistas para o controle do uso do álcool pela população. A proposta foi apresentada pelo deputado Vander-lei Macris (PSDB-SP), em audiência pública da comissão especial criada para discutir políticas de combate ao uso abusivo do álcool.

O professor de psiquiatria da Unifesp Ronaldo Laranjeira ressaltou dados da Organização Mundial de Saúde, que mostram o álcool como o principal problema de saúde pública no Brasil, responsável por 9% das mortes e incapacitações, o dobro da média mundial. Segundo ele, o álcool supera o tabaco e a desnutrição.

Custo social - Ele explicou que metade da população brasileira bebe e que um quarto tem problemas sociais ou de saúde associados ao uso da bebida. No mundo, lembrou, América Latina e Rússia têm o maior custo social relativo ao álcool. Após

o fim da União Soviética, os russos per-deram 17 anos de vida útil associada ao aumento do consumo de vodca.

O médico ressaltou que esse qua-dro é típico de países onde não há um controle social do consumo de bebida. Ele informou que os Estados Unidos têm uma fiscalização rígida sobre a venda de bebidas a menores de 21 anos e a direção alcoolizada; e que é dificulta-

da a licença para abertura de pontos de venda. No Brasil, há um milhão de pontos de venda.

O psiquiatra também apontou como instrumento eficiente de combate ao uso indiscriminado da bebida alcoólica o au-mento da tributação sobre o produto e o controle da propaganda. “Nós deixamos que a política do álcool seja determinada somente pelos interesses econômicos da

indústria do álcool. Tanto o Ministério da Saúde quanto a secretaria Nacio-nal Antidrogas nunca desenvolveram uma política nacional em relação ao álcool.” Ronaldo Laranjeira destacou o histórico de tolerância e descaso com o principal problema de saúde pública que a gente tem no Brasil.

Escolas - Representante da Associação Brasileira de Pediatria, Valdi Craveiro Bezerra afirmou que as escolas não enfrentam o problema. Ele disse que a escola presta mais atenção no uso de drogas ilícitas, que é mais raro do que o consumo de álcool, muito mais frequente.

Vanderlei Macris, relator da comis-são, afirmou que as primeiras audiên-cias públicas se destinam a recolher informações que possam alicerçar uma proposta de política pública. “Estamos começando a construir um banco de dados capaz de orientar, ao final dos trabalhos, uma postura, não só do Poder Público ao nível nacio-nal, mas também dos estados e dos municípios, de uma política capaz de orientar essa questão do excesso de consumo de álcool.”

Para o médico Ronaldo Laranjeira, o álcool é o principal problema de saúde pública

Beto oLiVeiRa

saULo CRUZ

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

ECONOMIABrasília, 25 de maio de 2011

Uma comitiva de parlamentares neoze-landeses reuniu-se on-tem com o presidente da Câmara, Marco Maia, para discutir mecanismos para in-tensificar o intercâmbio comercial entre os dois países. O presidente do parlamento neozelandês, Lock-wood Smith, lembrou que já há investimentos bilaterais impor-tantes por parte de companhias de laticínios da Nova Zelândia e da Petrobras.

A visita dos parlamentares ao Brasil integra a estratégia da Nova Zelândia de negociar um acordo de livre comércio com o Mercosul. O objetivo, a longo prazo, é am-

pliar o comércio com economias emergentes. Em 2009, a Nova Ze-lândia fechou um acordo de livre co-mércio com a Chi-

na e negocia tratados semelhante com a Rússia e a Índia.

Smith ainda informou que há interesse em normatizar inter-câmbios na área educacional, já que grande troca de estudantes entre os dois países. Outra área de interesse da Nova Zelândia é a implantação de voos diretos entre São Paulo e Auckland. Em 2010, o Brasil exportou US$ 46 milhões para a Nova Zelândia, principal-mente produtos primários.

Parecer do TCU sobre contas de 2010terá avaliação sobre os restos a pagar

O Tribunal de Contas da União apresentará na próxima semana uma avaliação sobre os restos a pagar da União, informou o ministro Aroldo Ce-draz, em reunião ontem com parlamen-tares da Comissão Mista de Orçamento. Cedraz, relator do parecer prévio do TCU sobre as contas do governo fede-ral no exercício de 2010, assegurou que haverá no documento um capítulo sobre restos a pagar. O parecer será entregue ao Congresso no dia 2 de junho.

Decreto presidencial (7.468/11) de-terminou o cancelamento de restos a pagar referentes a 2007, 2008 e 2009 caso as obras não tenham sido iniciadas até 30 de abril. Apenas as obras empe-nhadas em 2009 por meio de convênio da União com estados e municípios terão um prazo maior – poderão ser iniciadas até 30 de junho.

Parte dessas despesas pendentes se referem a obras previstas em emendas parlamentares que não foram concluídas ou executadas por conta de dificulda-des no processo de repasse dos recursos. Prefeitos que participaram da 14ª Mar-cha a Brasília em Defesa dos Municípios no último mês de maio reivindicaram a simplificação do processo.

O TCU disse, no relatório relativo às contas do governo de 2009, que o “volume de restos a pagar inscritos vem se elevando substancialmente nos últimos exercícios, sobretudo a partir de 2007. O crescimento entre 2005 e 2009 foi da ordem de 195%, o que, em outras palavras, equivale dizer

que o montante de restos a pagar quase triplicou nos últimos cinco anos. Em rela-ção a 2008, o acréscimo foi de 25%. Para mero efeito comparativo, as despesas or-çamentárias constantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social cresceram, entre 2005 e 2009, apenas 28%”.

Preocupação - Parlamentares da Comissão Mista de Orçamento estão preocupados com o problema. O rela-tor da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Márcio Reinaldo Mo-reira (PP-MG), afirmou, por exemplo, que mais de R$ 1 bilhão foi empenhado nas obras de transposição do rio São Francisco, mas apenas R$ 100 milhões foram pagos. Por sua vez, Aroldo Cedraz defendeu que o Orçamento da União seja “determinativo”, respeitando o que foi aprovado pelo Congresso.

O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA) disse que os restos a pagar são hoje um orçamento paralelo. “Não podemos conviver com execução financeira do passado e do presente. Acho que o TCU

Laycer Tomaz

aroldo Cedraz, do tCU, e o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB)

O ministro Aroldo Cedraz disse que o Tribunal de Contas da União não vai deixar de acompanhar as obras da Copa e da Olimpíada mes-mo com mudanças nas regras para licitações. “O TCU não vai deixar de cumprir o seu papel. Temos dito isso em vários momentos. Por nenhuma razão que seja, fora daquilo estabe-lecido em lei.”

Em análise no Congresso, a MP 521/10 cria normas especiais para a licitação de obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, chamado de Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O texto está na pauta do Plenário e é uma das prioridades para o governo.

O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) criticou a proposta. “Permitir que uma obra de grande vulto seja feita sem projeto básico é entregar o controle do galinheiro para raposa. Quem vai fazer o projeto é o ganhador da licitação – evidentemen-te, vai dispor custos e orçamento de acordo com seu interesse, não com o interesse público.”

Regra de licitações não deve afetar fiscalização

deve fazer um relatório sobre os restos a pagar como um todo, para que possa-mos encontrar uma forma de diminuir esses impactos no Orçamento.”

Já o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) reiterou a necessidade de a LDO prever um redutor de 75% dos restos a pagar. O que sobrar seria libera-do a partir de critérios objetivos.

A Comissão Mista de Orçamento discutiria ontem à tarde os restos a pa-gar e a operacionalização do Decreto 7.468/11 em audiência pública com o presidente da Caixa Econômica Fede-ral, Jorge Hereda. O debate foi adiado devido à ausência de Hereda, que infor-mou ter outro compromisso. A Caixa é responsável pelos repasses da União.

Janary Júnior

O presidente da Co-missão de Trabalho, de Administração e Ser-viço Público, deputado Silvio Costa (PTB-PE), disse que deverá colocar em votação na próxima semana o Projeto de Lei 1992/07, que institui o fundo de previdência complementar dos servi-dores públicos federais.

A proposta foi uma das medidas do Programa de Acelera-ção do Crescimento (PAC) apresentadas durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, o governo defendeu que a aprovação do projeto reduziria os gastos da União com pensões e aposentadorias,

abrindo espaço para o aumento dos investi-mentos públicos.

Silvio Costa, que também relata o pro-jeto, disse que aguarda apenas informações de entidades de servidores públicos para fechar seu parecer. A proposta é criticada por diversos sindicatos.

Na reunião marcada para hoje, às 10 horas, a comissão deverá votar o

Projeto de Lei 4330/04, que regulamen-ta a terceirização nos serviços público e privado. A proposta, do deputado Sandro Mabel (PR-GO), é uma das mais polêmi-cas entre as propostas trabalhistas que tramitam na Câmara.

Trabalho deve votar previdênciade servidor na próxima semana

Nova Zelândia busca ampliarintercâmbios com o Brasil

saULo CRUZ

silvio Costa