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MARÇO E ABRIL 2013 | N.º 20 | 2ª SÉRIE ENTREVISTA $QDEHOD 3HUHLUD GH 2OLYHLUD FRQVLGHUD TXH QRYDV UHJUDV SHUPLWHP UHFXSHUDomR GR ,9$ VHP UHFXUVR DRV WULEXQDLV $57,*26 )LQDQoDV GHILQHP FULWpULRV SDUD D 8QLGDGH GRV *UDQGHV &RQWULEXLQWHV &RPLVVmR LQWURGX] DOWHUDo}HV QDV 1RUPDV ,QWHUQDFLRQDLV GH 5HODWR )LQDQFHLUR %UX[HODV TXHU PDLV FRRSHUDomR QR FRPEDWH j IUDXGH H j HYDVmR ILVFDLV ,PSRVWR VREUH DV WUDQVDo}HV ILQDQFHLUDV YDL DJUDYDU FXVWRV GRV LQYHVWLGRUHV 3DtV QmR p FRPSHWLWLYR VHP HVWDELOLGDGH ILVFDO 23,1,®2 2V YHQWRV FUX]DGRV H FRQIOLWXDQWHV GD KDUPRQL]DomR FRQWDELOtVWLFD LQWHUQDFLRQDO )DVHV GH UHFXSHUDomR SHUDQWH XPD FULVH HPSUHVDULDO CONTABILIDADE & EMPRESAS

CE n 20 - Vida Económica · Bruxelas desenvolve novo método contabilístico para comparar economias .....48 Fundações têm de submeter contas a auditoria externa .....49 OTOC

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MARÇO E ABRIL 2013 | N.º 20 | 2ª SÉRIE

ENTREVISTA

CONTABILIDADE& EMPRESAS

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Nome

Morada

C. Postal

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Solicito o envio de exemplar(es) do livro Estatuto dos Benefícios Fiscais - Anotado, com o PVP unitário de 20€.

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Autor: Abílio Sousa

Páginas: 176

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R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c4000-263 PORTO

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“Esta obra dá-nos uma visão agregadora dos benefícios que se encontram dispersos em diplomas avulsos e constitui, deste modo, um inestimável contributo para aqueles que pretendam prosseguir uma adequada gestão fiscal, factor determinante para assegurar a competitividade nas empresas e garantir a melhoria do seu desempenho.”

Rui Pedro Almeida

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CONHEÇA OS BENEFÍCIOS FISCAISEdição atualizada em 2013

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CONTÉM COMENTÁRIOS, EXEMPLOS E CASOS PRÁTICOS

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Nome

Morada

C. Postal

E-mail Nº Contribuinte

Solicito o envio de exemplar(es) do:MPC nas Sociedades Comerciais - € 22.00MPC nas Entidades do Setor Não Lucrativo - € 20.00

Para o efeito envio cheque/vale nº , s/ o , no valor de € ,

Solicito o envio à cobrança. (Acrescem 4€ para despesas de envio e cobrança).

ASSINATURA

Manual de Prestação de Contas nas

Sociedades Comerciais

Páginas: 296 P.V.P.: € 22

Manual de Prestação de Contas nas

Entidades do Setor Não Lucrativo

Páginas: 136 P.V.P.: € 20

(recortar ou fotocopiar)

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R. Gonçalo Cristóvão, 14, r/c4000-263 PORTO

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Manuais dePrestação de Contas

Sociieddaddes CoomeerrciaissO processo de relato financeiro

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Setor Não LucrativoO processo de relato financeiro

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Autores:

Duarte Nuno AraujoPatrícia CardosoJosé Novais

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3CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

NOVO RUMO NO COMBATE À FRAUDE E À EVASÃO FISCAIS

A Comissão Europeia está decidida a dar passos efetivos, no sentido de garantir um combate mais eficaz à fraude e à evasão fiscais. A presente edição da “Contabilidade & Empresas” dá especial destaque às intenções de Bruxelas, bem como às medidas que já estão em curso. Mas é certo que lutar contra fortes interesses instalados não é tarefa fácil e vai mexer com a capacidade financeira de alguns países. As medidas propostas pecam por tardias.

São milhões de euros que os estados comunitários perdem todos os dias. A fraude e a evasão fiscais pare-cem andar sempre um passo à frente da legislação e até dos instrumentos colocados à disposição do sistema fiscal. Não restam quaisquer dúvidas que os paraísos fiscais permanecem um verdadeiro bloqueio ao mer-cado livre e, sobretudo, ao necessário desenvolvimento no sentido da distribuição de riqueza e, portanto, da redução drástica das taxas de pobreza. Com a agravante que as grandes fortunas atuam impunemente, quer em termos éticos, quer até legais.

Bruxelas pretende avançar com medidas. Mas sempre que o faz, há um ou mais Estados-Membros que se opõem, preocupados que os seus interesses sejam colocados em causa. Como se sabe, Portugal não é exceção e há muito dinheiro a sair do país de forma pouco transparente, sobretudo quando a crise é cada vez mais dura. Acontece que só uma estratégia concertada poderá interromper a saída de elevadas quantias para paraísos fiscais. Se a Comissão continuar a ficar-se pelas palavras, como sucede ao nível financeiro, então a situação poderá descontrolar-se. Os “offshores” mais não são do que um incentivo à ilegalidade, por muito que se possa afirmar sobre a sua utilidade. A este nível, a Europa nem sequer é um bom exemplo, tendo em conta que há estados que têm paraísos fiscais.

Se se fizer uma análise cuidada às medidas propostas e àquelas que estão em curso, a conclusão a que se chega é que, mais uma vez, parece que se fica pelas intenções. O tempo passa e muito pouco tem sido feito no que toca a um maior controlo das entidades financeiras e os sistemas fiscais nacionais ainda permitem fugas. Quem quer fugir aos impostos ou colocar elevadas quantias no exterior não encontra dificuldades de maior. Uma máquina bem montada, os contactos certos ou conhecimentos importantes são fatores de sucesso garantido. Certo é que não se pode continuar a permitir este estado de coisas, até porque se está a colocar em risco a equidade fiscal que ainda prevalece.

Resta esperar que Bruxelas consiga ganhar o apoio dos Estados-Membros e que estes queiram, de facto, um combate leal à fuga e à evasão fiscais. Não basta legislar, também é necessário os estados terem à sua disposição as ferramentas necessárias à mudança. O investimento é elevado, mas através da cooperação e de muitos instrumentos já existentes é uma tarefa perfeitamente exequível. Desde que exista vontade política e coragem para bater o pé a muitos interesses instalados há demasiado tempo.

Editorial

GUILHERME [email protected]

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4 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ENTREVISTANovas regras permitem recuperação do IVA sem recurso aos tribunais ...............5

OPINIÃOOs ventos cruzados e conflituantes da harmonização contabilística internacional ... 8Principles Based Accounting ............................................................................10System (PBAS) Vs. Rules Based Accounting System (RBAS) ...........................10Fases de recuperação perante uma crise empresarial .........................................12

CONTABILIDADEAutoridade tributária é cada vez mais indiferente aos problemas dos contribuintes ....16Bons indicadores contabilísticos não são garante de empresa criadora de valor ...17Finanças definem critérios para a Unidade dos Grandes Contribuintes ............18Comissão introduz alterações nas Normas Internacionais de Relato Financeiro 19

FISCALIDADEGaspar insiste na urgência e necessidade de garantir o equilíbrio orçamental ...21Bruxelas quer mais cooperação no combate à fraude e à evasão fiscais ..............22Sistema de recuperação de empresas extrajudicial implica concordância da AT ...23IVA é pouco eficiente e permissivo à fraude e à evasão fiscais ...........................24Imposto sobre as transações financeiras vai agravar custos dos investidores ......26Autoridade Tributária esclarece mudanças em sede de IVA ..............................28País não é competitivo sem estabilidade fiscal ..................................................29Governo admite redução das taxas do IRC ......................................................30Conselho Europeu quer reforçar combate à fraude e à evasão fiscais ................31Aumento do défice vai representar um valor acrescido de 1,5 mil milhões de euros .... 32

SETORESInstituído o estatuto de administrador judicial ................................................33Trabalhadores agrícolas têm de estar registados nas Finanças ............................34Comissão adota proposta de imposto sobre as transações financeiras ...............36Diretiva estabelece deveres de cooperação entre as autoridades nacionais e comunitárias ...................................................................................................38CCP exige redução do IVA e criação do crédito fiscal ......................................40

ASSOCIATIVISMOSTI exige publicação do movimento de transferências e interpõe ações judiciais ... 41Ordem dos Revisores Oficiais de Contas propõe projeto de alterações ao Estatuto ....42Inspeção tributária deveria ter uma atitude pedagógica e não sancionatória .....44Transposta diretiva para maior cooperação no domínio da fiscalidade ..............45AT disponibiliza manual de integração de software ..........................................45

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕESBanco de Portugal aumenta limiar de isenção de reporte para 100 mil euros ...46ROC querem maior intervenção junto da gestão empresarial ..........................46Contratação via reembolso da taxa social única sofre alterações .......................47Bruxelas lança consultas públicas sobre combate à fraude e à evasão fiscais ......47Acórdão esclarece dedução do IVA nas SGPS ..................................................48Bruxelas desenvolve novo método contabilístico para comparar economias .....48Fundações têm de submeter contas a auditoria externa ....................................49OTOC aprova Relatório e Contas por unanimidade .......................................49

LIVROSDicionário de finanças e negócios internacionais .............................................50Crescimento sem Keynes no turismo ...............................................................50Despedimento, estagnação ou promoção .........................................................50

Sumário

PROPRIEDADEVida Económica - Editorial S. A.

EDITORGuilherme Osswald

COLABORADORESAbílio MarquesAgostinho Manuel dos Santos CostaAna RibeiroBruno José Machado de AlmeidaCatarina FernandesCristina Costa PintoGonçalo Rodrigues BrásGuilherme OsswaldJosé Alberto Pinheiro PintoJosé Joaquim Marques de AlmeidaManuel LiberalMaria José FernandesMário da Cunha GuimarãesMiguel PimentelPatrícia RamosPaulino SilvaPaulo Moura CastroRui AlmeidaRui Bertuzi da SilvaSílvia MouraTomás Pessanha

O conteúdo dos artigos é da exclusivaresponsabilidade dos autores

PAGINAÇÃOJosé Barbosa

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO R. Gonçalo Cristóvão, 142º Esq. 4000-263 Porto Telef.: 223 399 400Fax: 222 058 098E-mail: [email protected]

DELEGAÇÃO EM LISBOAAv. Fontes Pereira de Melo, nº 61069-106 Lisboa Telef.: 217 937 747Fax: 217 937 748

IMPRESSÃOUniarte Gráfica - Porto

Registo nº 108640 no ICS

MAR/ABR 2013 | Nº 20 - 2ª SÉRIE

Assinatura anual: 64 euros

Março/Abril 2013 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1489, de 19.03.2013

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5CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ENTREVISTA

A recuperação de IVA relativa a créditos incobráveis e de cobrança duvidosa representa montantes extremamente elevados. Num considerável número de casos, o valor é muito significativo e tem um forte impacto na tesouraria das empresas. As novas regras, no âmbito do Orçamento do Estado, são inovadoras, uma vez que permitem a recuperação do IVA nos créditos de cobrança duvidosa sem recurso aos tribunais, explicou à “Contabilidade & Empresas” Anabela Pereira de Oliveira, advogada e sócia da BPO Advogados.

Contabilidade & Empresas – Como caracteriza, no momento atual, a situação dos incobráveis ou de co-brança duvidosa em sede de IVA?

Anabela Pereira de Oliveira – As novas regras do Orça-mento do Estado podem caraterizar-se como inovadoras, uma vez que permitem a recuperação do IVA nos créditos duvido-sos sem recurso aos tribunais. Por força das regras transitórios constantes do OE, passamos a ter dois regimes de recupera-ção do IVA, um para os créditos vencidos até 1 de janeiro de 2013, basicamente o regime que existia antes com pequenas alterações e um outro para os créditos que se vencerem após aquela data, que prevê de forma inovadora a recuperação do imposto nas cobranças duvidosas. Para este efeito são conside-radas cobranças duvidosas as que estejam em mora há mais de 24 meses. Para além de mora, devem estar cumulativamente preenchidos os seguintes requisitos: existência de provas ob-jetivas de imparidade, a realização comprovada de diligências de cobrança para o seu recebimento e que sejam consideradas também cobranças duvidosas em sede de IRC.

C&E – E como se deve proceder para avançar com um processo?

APO – Esta nova possibilidade de recuperação do IVA depende de autorização prévia da Autoridade Tributária. Essa autorização deve ser solicitada no prazo de seis meses – por via eletrónica – a partir da data em que sejam consi-derados duvidosos. A Autoridade Tributária dispõe de um

prazo de oito meses para decidir. Está previsto, em caso de silêncio da AT, o deferimento tácito para créditos inferiores a 150 mil euros e o indeferimento tácito para créditos iguais ou superiores a 150 mil euros. Este sistema de autorização prévia constitui uma nova ferramenta do Estado para con-trolar o recuperar o IVA junto dos verdadeiros devedores, na medida em que a AT notifica também por via eletrónica os adquirentes para que estes procedam à retificação, a favor do Estado, da dedução inicialmente efetuada.

C&E – E quanto aos créditos incobráveis para efei-tos de recuperação de IVA?

APO – Continuam a ser aqueles que dependem de uma atuação judicial, designadamente processo de execução ex-

De acordo com Anabela Pereira de Oliveira, advogada da BPO

Novas regras permitem recuperaçãodo IVA sem recurso aos tribunais

A nova possibilidade de recuperação do IVA depende de autori-zação prévia da Autoridade Tributária, avisa Anabela Pereira de Oliveira.

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6 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ENTREVISTA

tinto por insuficiência ou inexistência de bens penhoráveis, declaração de insolvência do devedor, devedor em PER ou da existência de um processo extrajudicial de recuperação da empresa (atualmente denominado SIREVE). Quanto a estes, foi introduzida uma alteração no que se refere aos documentos que devem constar do dossiê fiscal, nomea-damente a necessidade de certificação por ROC de que se encontram verificados os requisitos legais para a dedução do imposto. Esta alteração acaba por acarretar mais custos para as empresas. De salientar que, nos incobráveis, a re-cuperação do IVA continua a não carecer de autorização prévia da AT.

Caberá ainda uma referência ao regime do “IVA de caixa”, também previsto nesta Lei do Orçamento, embora sob a forma de autorização legislativa. Como ainda não está regulamentado, não se pode falar, por enquanto, de uma verdadeira inovação neste caso.

Incumprimento duplica prejuízo

C&E – Em termos práticos, considera que os regi-mes terão um impacto positivo?

APO – A obrigatoriedade de entrega do IVA liquidado nas faturas não está dependente do respetivo pagamento pelo adquirente dos bens ou serviços faturados. Em caso de incumprimento, os empresários sofrem em dobro o pre-juízo, pois para além de não verem as suas faturas pagas, têm obrigação de entregar o IVA ao Estado. A intenção do legislador, ao definir o novo regime, foi o de minimizar o duplo efeito de um não pagamento. À partida, as novas re-gras relativas aos créditos de cobrança duvidosa poderão vir a ter um impacto positivo na economia portuguesa, preci-samente por permitirem a recuperação por via extrajudicial, o que implicará menos custos e dispêndio de tempo. Logo, teremos uma substancial vantagem relativamente ao regime que vigorava anteriormente. Contudo, a alteração introdu-zida ao regime anterior – e que diz respeito aos créditos incobráveis – acaba por dificultar a recuperação daquele imposto, em virtude de envolver um aumento dos custos associados. Isto porque se passou a exigir a certificação por parte de revisor oficial de contas.

C&E – Mas as novas regras são de aplicação prática ou tudo não passa de meras intenções?

APO – O novo regime do IVA acarreta alguma com-plexidade, tanto na sua formulação, como ao nível da sua aplicabilidade. No entanto, é exequível e vai muito para além de “meras intenções”. Para que o sujeito pas-

sivo possa beneficiar da recuperação do IVA importa o conhecimento rigoroso da lei e extrema atenção a todos os circunstancialismos a que a mesma obriga a atender, nomeadamente no que concerne a prazos, documentos e informações que devem constar do dossiê fiscal. De qual-quer forma, estamos perante um processo que é extra-judicial, o que envolve maior simplicidade e menor for-malismo que o processo judicial. Ainda assim, o recurso a técnicos qualificados parece aconselhável, pelo menos enquanto a aplicação do regime não entrar em rotina e não houve informação sobre a interpretação que a AT irá fazer dos novos preceitos legais.

Distinguir incobrável de crédito de cobrança duvidosa

C&E – Como deve proceder um empresário que se veja perante uma destas situações?

APO – Perante uma situação em que não se consegue recuperar um crédito, em primeiro lugar há que verificar se estamos perante um incobrável ou um crédito de cobrança duvidosa. Após essa qualificação, terá de se apurar se estão reunidos os requisitos legais previstos para cada um destes tipos de créditos. Em caso afirmativo, pode-se proceder à recuperação do IVA respeitando o formalismo previsto. Se for um crédito incobrável, pode ser feito sem necessidade de autorização da AT. Tem apenas de se ter o cuidado de colo-car toda a documentação que atesta o preenchimento dos requisitos legais no dossiê fiscal. Não obstante a desneces-sidade de autorização prévia, o contribuinte poderá sempre ser alvo de uma inspeção tributária. Se for um crédito de cobrança duvidosa, preenchidos os requisitos, é solicitada a autorização prévia da AT e somente após deferimento se pode recuperar o IVA.

De salientar que a recuperação do imposto, quer nos incobráveis, quer nos créditos de cobrança duvidosa, fica, desde logo, inviabilizada, se o devedor constava na lista pú-blica de execuções extintas no momento em que contratou ou se tiver sido declarado falido ou insolvente em processo judicial anterior. Tal exigência legal determina uma respon-sabilização das empresas na concessão de crédito a clientes que envolvem maior risco.

Obrigação

A obrigatoriedade de entrega do IVA liquidado nas faturas não está dependente do respetivo pagamento pelo adquirente dos bens ou serviços faturados.

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7CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ENTREVISTA

Cobranças

As novas regras relativas aos créditos de cobrança duvidosa poderão vir a ter um impacto positivo na economia portuguesa, precisamente por permitirem a recuperação por via extrajudicial

C&E – Pode apresentar um exemplo concreto?APO – A recuperação do IVA através do mecanismo

previsto para os créditos de cobrança duvidosa só poderá ocorrer daqui a cerca de 24 meses, uma vez que este re-gime só se aplica aos créditos vencidos após 1 de janeiro.

Imagine-se a seguinte situação: uma empresa tem, neste momento, um crédito vencido há três meses sobre uma empresa que está em dificuldades e não tem bens penho-ráveis. Neste caso, a empresa poderá optar por um destes caminhos.

Esperar que a mora atinja os 14 meses, o que significa esperar mais 21 meses e desencadear o novo mecanismo de recuperação do IVA. Depois, aguardar cerca de oito me-ses pelo deferimento da Autoridade Tributária. Em termos práticos, irá ficar mais cerca de 30 meses sem recuperar o IVA. Ou desencadear um mecanismo que permite recupe-rar o IVA, tratando este crédito como um incobrável, o que implica instaurar uma ação executiva contra o devedor e, uma vez verificada a inexistência de bens, aguardar a extin-ção da instância e o subsequente registo da mesma no RIE (registo informático das execuções) para recuperar o IVA. Atendendo a que o processo executivo tem atualmente uma tramitação mais rápida, é possível que, entre seis e 12 meses o processo esteja findo. Resulta do exposto que o procedi-mento judicial pode permitir, neste caso, uma recuperação mais rápida do IVA, mas há que apurar os custos associados para se decidir qual o caminho a percorrer.

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8 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

A harmonização internacional das normas contabi-lísticas é atualmente um dos objetivos fundamentais dos organismos normalizadores da contabilidade, face às cla-ras divergências, por todos sentidas, no tratamento da re-alidade económica nos diferentes países. Estas diferenças resultam de escolhas puramente convencionais, não ten-do, por isso, subjacentes critérios técnicos ou objetivos indiscutíveis. Com efeito, nos intangíveis, nos gastos de investigação e desenvolvimento, cessões e transferência de ativos e instrumentos financeiros, os desajustamentos não são meramente técnicos: têm, por base, o peso das conven-ções, das regras e normas contabilísticas, situação que, por sua vez, afeta a noção de imagem verdadeira e apropriada, provocando, por consequência, imagens menos apropria-das, e o afastamento mais ou menos profundo das regras internacionais. Uma solução para este tipo de problemas seria varrer as regras contabilísticas nacionais, integrando nos ordenamentos contabilísticos as normas internacionais de contabilidade (IFRS). Esta abordagem, tem, contudo, alguns obstáculos materializados nas construções do orde-namento jurídico, fiscal, regulamentos locais e regionais, processo histórico e cultural.

O objetivo dos diferentes normalizadores é facilitar a tarefa dos preparadores de contas, dos auditores e dos ad-ministradores das empresas, no sentido de facultarem um padrão mais uniforme de apresentação e divulgação da informação financeira para que o acesso das empresas, ao mercado de capitais, não seja dificultada. Esta exposição mais uniforme permite a satisfação do princípio da unici-dade contabilística e financeira reconhecidamente requeri-da ao nível internacional, por permitir uma interpretação, mais homogénea, da prestação de contas.

Em matéria de contabilidade não existe uma verdade única. O sistema de representação contabilística através do seu objeto abstrato-formal, filtra a realidade através de convenções, princípios e pressupostos, de tal maneira que uma transação, um mesmo facto ou acontecimento pode ser refletido de forma diferente nas contas: a doutrina con-tabilística espelha posições de diferentes escolas e profissio-

nais. Assim, o normalizador, uma vez confrontado com o problema de estabelecer um determinado tratamento con-tabilístico, e definir as regras para contabilizar a realidade económica, tem subjacente um quadro de convenções, ju-ízos de valor, julgamentos, cuja apreciação concreta e espe-cífica é deixada às empresas para que o seu tratamento seja o mais adequado. O IASB, no desenvolvimento dos traba-lhos de harmonização contabilística, nos primeiros tempos, confrontado com a existência de posições divergentes dos representantes dos diferentes países participantes na elabo-ração de normas, facultou, aos diferentes preparadores da informação financeira, um conjunto de tratamentos alter-nativos em muitas das suas normas. Este referencial conta-bilístico, dotado de um âmbito largo de opções, tem sido objeto de muitas controvérsias, para dificultar umas das características básicas da informação financeira que é a sua comparabilidade. Apesar de colocada em crise, esta vertente da informação financeira apresentada e divulgada permite, contudo um conjunto de práticas abusivas que fomentam a chama da contabilidade criativa – vagabondage comptable e cherry picking, etc.-. A eliminação ou a redução do núme-ro de opções é a filosofia atualmente dominante. Todavia, como processo harmonizador nada mais é que um processo

Os ventos cruzados e conflituantes da harmonização contabilística internacionalJOSÉ JOAQUIM MARQUES DE ALMEIDA*

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9CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

de negociação e de relação de forças, comportará sempre umas ou diversas convenções consoante o peso político que os diferentes intervenientes têm no processo normalizador. A contabilização, segundo o modelo do custo histórico, não passa de uma convenção, e se o normalizador prescrever outro modelo tem de o suportar em fundamentos econó-micos sólidos. Por sua vez, a avaliação ao justo valor – caso dos instrumentos financeiros – não passa, igualmente, de uma convenção. A utilização, no quadro da harmonização contabilística internacional, de novas convenções – algumas vezes sem o conhecimento das suas consequências – nada é mais do que um problema de ordem política ou da po-litização da emissão de normas contabilísticas. Tendo em conta os ventos cruzados e conflituantes que se fazem sentir em volta da regulação contabilística, advoga-se uma pos-tura top-down, ou seja, um modelo político dotado de um poder imperativo na aplicação das normas, tendo em conta a existência de uma envolvente crescentemente interessa-da na problemática da regulação contabilística e, como consequência, no reporting financeiro. Esta abordagem, contudo, do nosso ponto de vista, não deve procurar uni-camente compromissos entre os grupos em confronto: o papel da regulação contabilística deve, de preferência, ter em conta a maximização do bem-estar social e os obje-tivos de política económicos delineados superiormente. Em suma, as convenções contabilísticas não devem refletir somente o jogo das forças em presença, mas observarem desideratos mais amplos, abstratos e universais. As conse-quências desta posição para a harmonização contabilística – true and fair view vs fairly presentation – são profundas e, como é óbvio, tem implicações sobre a noção da imagem verdadeira e apropriada. E, neste contexto, afirmar que as contas de uma empresa representam uma imagem fiel se as mesmas forem reguladas – isto é, se estiverem com o refe-rencial escolhido – e sinceras – elaboradas de boa fé e sem intenção de enganar – são uma condição necessária e não suficiente para convencer os beneficiários da informação financeira da sua bondade. Os preparadores da informa-ção financeira, perante a existência de várias possibilidades de apresentação e de avaliação, consideradas com regulares e sinceras, devem fazer incidir as suas escolhas sobre o mo-delo que permite uma melhor descrição ou mais razoável representação da situação económica da empresa. O true and fair view é a imagem mais objetiva possível da realida-de da empresa1. Assim, em casos excecionais, quando uma

1 É a tradicional metáfora das quatro fotografias tiradas sucessivamente ao mesmo indivíduo, com a mesma máquina, no mesmo local e circunstâncias, e que produzem quatro realidades diferentes.

regra, imposta por uma norma contabilística, se revelar não adequada para refletir a true and fair view, deve ser derro-gada, situação controvertida quando se aplicam os mesmos referenciais internacionais. Nesta sequência, devemos suge-rir que a regulação contabilística tenha em conta os efeitos macroeconómicos das normas contabilísticas, as quais, na sua aplicação, são suscetíveis de afetar a distribuição dos recursos económicos – escassos e de emprego alternativo – pelos diferentes grupos interessados na empresa.

Como a realidade económica de uma empresa nunca pode ser universalmente descrita, como a sua represen-tação é feita por um conjunto de modelos que simplifi-cam a realidade e como as normas contabilísticas são de carácter convencional, sugere-se a não existência de uma imagem fiel, mas sim de várias vertentes desta imagem, e, portanto, os preparadores de contas e os auditores deve-riam salientar nos balanços e nos relatórios de auditoria que, tendo em conta os referenciais adotados – US GAAP, IASB, PCAOB, etc. – as demonstrações financeiras fa-cultam uma das imagens verdadeiras e apropriadas do património, da situação financeira e dos resultados da en-tidade. Na realidade, como as normas e regras contabilís-ticas têm subjacente uma ampla panóplia de convenções, que possibilitam amplas escolhas, ninguém pode afirmar que a prestação de contas, efetuada por uma administra-ção, apresenta de forma inequívoca a melhor descrição da situação económica da empresa. Acentua-se, pois, a relatividade associada ao conceito de true and fair view vs present fairly. A 4ª Diretiva, da União Europeia, catapulta a noção para um macroprincípio, e para ser reconhecido, na sua ampla abrangência, deve ser interpretada atenden-do ao espírito e não à letra, para refletir, na totalidade, o princípio anglo-saxónico e as suas consequências: a histó-ria, a cultura, a mentalidade, tudo condicionam, situação que os rule enforcers da contabilidade dificilmente com-preenderão.

Professor Coordenador Principal da Escola de Negócios de Coimbra – ISCAC Business School

Revisor Oficial de [email protected]

Regulação

Devemos sugerir que a regulação contabilística tenha em conta os efeitos macroeconómicos das normas contabilísticas, as quais, na sua aplicação, são suscetíveis de afetar a distribuição dos recursos económicos.

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10 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Principles Based AccountingSystem (PBAS) Vs. Rules Based Accounting System (RBAS)

A abordagem da qualidade dos relatórios financeiros pela metodologia PBAS tem subjacente um amplo exercí-cio de julgamento dos preparadores, auditores e regulado-res, o que determina que as normas contabilísticas sejam guiadas principalmente por um elevado nível de princípios, e, acessoriamente, por uma orientação mínima destinada somente a operacionalizar. Esta abordagem é obviamente propícia à existência de litigação entre os interessados nas normas de contabilidade, por assentar inevitavelmente numa estrutura conceptual, que faculta uma determina-da hierarquia das normas contabilísticas, prescindindo de bright-lines e das cláusulas anti-abuso. Assente, sobretudo, no exercício do julgamento – situação que potencia os ris-cos de ações judiciais – a abordagem principles-based requer

uma cuidado extremo na produção, coleção e retenção de toda a documentação inerente ao ciclo de vida de cada transação1, que tenha subjacente um julgamento significa-tivo. Este enfoque é nitidamente contra a tendência atual que se caracteriza pelo elevadíssimo volume e detalhe das normas contabilísticas, sobretudo nos EUA e também na Europa. Este desenvolvimento das normas contabilísticas está assente no pressuposto de que a conformidade com as regras contabilísticas faculta demonstrações financeiras que representam adequadamente o true and fair da entidade.

1 À semelhança do Inter agency Sound Practices Concerning Complex Struc-tured Finance Activities de Maio de 2004, relativamente às operações finan-ceiras complexas, que envolveu a SEC e outras agências governamentais do EUA.

BRUNO JOSÉ MACHADO DE ALMEIDA*

OPINIÃO

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11CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

Argumenta-se (ICAS, 2004)2 que o carácter cada vez mais complexo das normas contabilísticas e o fundamentalismo da conformidade pode gerar uma cortina que pode ofuscar o true and fair view. Neste contexto, o instituto supracitado aponta, sem hesitações, para a abordagem PBAS, com base nas seguintes recomendações:

O PBAS tem subjacente uma disposição geral, de apoio generalizado, criada intencionalmente para facultar um adequado suporte à imagem verdadeira e apropriada, e, si-multaneamente, atua como um guia de acção. Existe um largo consenso de que esta abordagem de elaboração das normas contabilísticas beneficia quer o negócio quer o in-teresse de todos os beneficiários da informação financeira e o público em geral.

A produção, apresentação e divulgação da informação fi-nanceira, atendendo ao contexto cultural de cada país, nun-ca atingirá uma comparabilidade absoluta. Assim, o foco deverá ser colocado no julgamento e nos seus fundamentos, que seria a base em que o reporting financeiro assentaria. O julgamento deverá ser documentado e divulgado.

Os PBAS facultam uma base compreensiva e abrangen-te, o que permite a flexibilidade necessária para a preparação das demonstrações financeiras refletir diferentes e novas si-tuações, o que requer uma mudança profunda na profissão; quer ao nível dos preparadores, quer ao nível dos auditores, exigindo-lhes que assumam maiores responsabilidades nos julgamentos das situações, e, concomitantemente, uma me-nor procura de detalhe.

Por sua vez, o RBAS concentra-se mais nas regras deta-lhadas e específicas relativamente às transações, o que gera dificuldades adicionais, deixando, por isso, uma menor margem de julgamento para os preparadores e auditores. Fomentam, potencialmente, as práticas contabilísticas cria-tivas, e não geram diretamente uma true and fair view ou fair representation: os assuntos mais detalhados deveriam ser deixados ao julgamento dos auditores e dos preparadores, que facultariam aos beneficiários da informação financeira, através da sua divulgação, as bases do exercício do seu julga-mento. Neste espírito, as bright lines e as cláusulas antiabuso não seriam incluídas nas normas contabilísticas.

O PBAS pressupõe enforcement das normas contabilís-ticas e a disposição dos reguladores para aceitar um maior espetro de julgamentos na produção, apresentação e divul-gação da informação financeira, o que implica uma maior convergência entre os reguladores, os preparadores e os audi-tores, o que acarreta responsabilidades acrescidas para as duas últimas classes de profissionais de contabilidade. Com efeito,

2 Institute of Chartered Accountants of Scotland.

esta metodologia tem subjacente uma hierarquia abrangente de princípios e conceitos, consequentemente, a orientação adicional, sob a forma de guias, restringe-se a breves explica-ções insertas nas próprias normas, e as poucas interpretações normativas nos problemas de maior magnitude.

A convergência das normas de contabilidade é muito dificilmente conseguida num contexto de normas e guias muito detalhados, enfoque que encontra grandes obstácu-los nos sistemas jurídicos e culturas dos diferentes países da Europa e do mundo.

A secção 108, da Sarbanes Oxley Act, de 2002, ao ins-truir a Securites and Exchange Commission (SEC) no sentido de conduzir um estudo conducente à adoção do PBAS, fez ressurgir a discussão sobre a problemática da qualidade do reporting financeiro assente no binário PBAS vs RBAS. Nos Estados Unidos da América, o modelo de produção, apre-sentação e divulgação da informação financeira está ancora-do nos chamados USGAAP, que comportam vários níveis de detalhe, e são, sem sombra de dúvida, bastante mais ana-líticos do que as normas contabilísticas emitidas segundo o modelo do PBAS. A diferenciação básica dos modelos tem por base o exercício de julgamento. O PBAS está baseado numa estrutura concetual, englobando uma clara hierar-quia de princípios derrogatórios não incorporando bright--lines ou cláusulas antiabuso: este enfoque requer natural-mente um elevado nível de julgamento aos preparadores, auditores e reguladores. O PBAS cria um ambiente mais simples para o desenvolvimento da contabilidade, mas, em contrapartida, incrementa os riscos de litigação para os pro-fissionais, sendo, por isso, fundamental, neste modelo, que os julgamentos subjacentes à produção e divulgação da in-formação financeira sejam devidamente clarificados e deno-minados, tendo em atenção o tempo em que foram feitos e à luz dos factos e das circunstâncias subjacentes. Esta divul-gação transparente dos fundamentos e dos julgamentos tem como desiderato a minimização dos riscos, sendo válido para qualquer transação ou grupo de transações envolvendo julgamentos significantes.

Professor Coordenador da Escola de Negócios de Coimbra – ISCAC Business School

Revisor Oficial de [email protected]

Flexibilização

Os PBAS facultam uma base compreensiva e abrangente, o que permite a flexibilidade necessária para a preparação das demonstrações financeiras refletir diferentes e novas situações

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12 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

“Na hora da crise a empresa precisa ter mais do que um líder. É preciso contar com um comandante, um homem que tome as rédeas, que passe as informações com a máxima clareza... Quando se está numa situação como essa, o tempo é um ativo valioso, e a clareza ajuda a evitar erros. Não se pode correr o risco de interpretações equivocadas. E as pessoas que estão abaixo têm que perceber que há um plano a longo prazo, e que líder não é simplesmente um bombeiro desesperado que vai apagar um incêndio momentâneo.”

Abílio Diniz, presidente do Grupo Pão de Açúcar

As crises empresariais

Qualquer evento ou circunstância que prejudique ou interrompa o andamento de um processo considerado normal é uma crise. Pode ser uma crise mais ou menos grave. Em qualquer dos casos, ela deverá, ser resolvida, pois caso contrário, com o passar do tempo poderá ter consequências, que por sua vez implicarão mudanças mais ou menos radicais na organização.

Independentemente de a sua organização estar ou não preparada para enfrentar uma crise, há alguns detalhes que não deve perder de vista, caso ela ocorra. Assim, com vista à sua resolução, …:

Considere que tem de enfrentar o pior cenário. Mostre que há liderança na organização. É impor-

tante dar a entender ao público interno que “o barco não está à deriva”. Em muitas crises, os comandantes somem.

Deverá também tomar algumas providências ime-diatas, como por exemplo:

– Adotar um discurso único com o público interno.– Estabelecer objetivos de curto prazo.

O trabalho de gestão durante uma crise

Em tempos de crise económica como a que se atraves-sa, o problema, que já era grande, torna-se uma enorme

Fases de recuperaçãoperante uma crise empresarialAGOSTINHO COSTA

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13CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

Liderança

O primeiro passo começa com a liderança da empresa, que determina a razão e objetivos do plano de gestão da crise. A gestão deve acompanhar de perto o processo.

dificuldade, podendo, se não for tratado adequadamente, levar ao encerramento da atividade empresarial.

As interferências na realidade do mercado, em razão da escassez do crédito e do encolhimento da economia, afetam as estruturas empresariais, colocando em risco todo o mercado, originando a necessidade de recuperação urgente de certas empresas.

As decisões empresariais são tomadas em ambientes de incerteza, não havendo possibilidade de proteção total dos riscos inerentes à atividade. Todavia, muitas crises ocor-rem por culpa de a gestão em insistir em manter velhas práticas.

Sabemos, pois, que nenhuma organização é estática. Todas são dinâmicas e são comparadas aos organismos vivos. Nascem, crescem, atingem a maturidade e depois envelhecem. Mas podem ser revitalizadas. Se não o forem, estarão menos resistentes e, portanto, muito mais suscep-tíveis ao impacto da ocorrência das mais diversas crises, sejam elas de origem externa ou interna.

Todo o trabalho de gestão duma crise começa na ad-ministração da empresa e no comprometimento de seus gestores com a sua resolução. Estes devem estar envolvi-dos no traçado das principais medidas e ações dum plano de gestão da crise.

O primeiro passo começa com a liderança da empresa, que determina a razão e objetivos do plano de gestão da crise. A gestão deve acompanhar de perto o processo, até como forma de mostrar o seu comprometimento com a resolução do problema.

Normalmente, os efeitos da crise são visíveis na área financeira, com a falta de recursos financeiros e numa te-souraria cada vez deficitária. Mas, quando uma empresa passa por dificuldades financeiras, isso é sinal de que algo não está certo.

Diagnóstico

Contudo, a crise é o resultado de problemas que po-dem ter origem em várias áreas. A empresa inteira precisa dum diagnóstico. É fundamental determinar as causas mais profundas da crise atual que uma organização possa estar a viver, para poder combater o problema de forma eficaz.

Este deve ser pois, um momento para a equipa de ges-tão, parar, refletir e rever a sua estratégia, o seu planea-mento e a organização dos seus processos internos.

Sejam os fatores externos à empresa ou internos as ver-dadeiras causas da crise empresarial, só será possível acon-

tecer uma recuperação, se os gestores da empresa forem capazes de identificar as verdadeiras causas, cuja correção, possam combater os problemas e potenciar a sua resolução.

É pois de crucial importância, analisar o que levou a empresa à situação de crise, as verdadeiras causas da atual situação.

Fases da reestruturação

A título de exemplo, apresentamos, a seguir, possíveis fases da reestruturação duma organização, pelas quais uma empresa poderá passar. Dependendo da dimensão da crise em que a empresa se encontre e da qualidade da sua equipa, algumas empresas poderão passar apenas por algumas ou por todas estas fases.

Fase 1 – Construção da equipa de gestão

Esta é, logicamente, a fase em que a organização deve escolher uma pessoa que possa liderar uma reestruturação com sucesso. Para tal é fundamental que quem vai liderar este processo seja alguém com…:

Experiência comprovada.Capacidade para reunir uma equipa de gestão que

possa reestruturar e implementar estratégias de recu-peração eficazes.

Uma vez reajustada a equipa de gestão, as primeiras questões a serem tratadas devem ser as relacionadas com os maiores grupos:

Recursos humanos CredoresClientes

É essencial que se tenha uma boa comunicação com as partes referidas desde o início e durante todas as fases da reestruturação.

Fase 2 – A resolução das urgências

Como primeiros passos duma reestruturação, devemos considerar como extremamente urgente, os seguintes:

Elaborar uma previsão de tesouraria a curto prazo, calendarizando as receitas, e considerando neste plano

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14 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

apenas as que tiveram grande probabilidade de ocor-rerem. Ao nível das despesas, considerar nesta fase apenas as de maior prioridade, cuja não resolução traria graves problemas para a empresa.Restringir as atividades da companhia a segmentos

que proporcionem cash flow positivo.Reduzir as necessidades de financiamento da or-

ganização, através suma melhor gestão das necessi-dades de fundo de maneio. Por exemplo: procurar renegociar prazo de recebimento, alongar prazo com fornecedores, aumentar a eficiência da gestão de sto-cks.Procurar fontes internas de financiamento, para di-

minuir a necessidade de financiamento externo.Assegurar fontes de financiamento externas mais

adequadas.Reduzir custos e tomar medidas básicas, que te-

nham impacto positivo na rentabilidade da organi-zação.

Com vista a ganharmos tempo, para poder estudar a viabilidade do negócio e a elaboração do plano de reestru-turação, é fundamental que a empresa consiga manter-se solvente. Como tal, estas medidas aqui referidas são cru-ciais para a sobrevivência a curto prazo da organização.

Fase 3 – Determinar a viabilidade do negócio

Com vista à análise da viabilidade do negócio, um conjunto de medidas deve ser tomado em consideração, para posteriormente serem analisadas e constatar a viabi-lidade do negócio.

Assim, necessitamos de proceder a uma análise estra-tégica da nossa atividade (para percebermos que mudanças estruturais devem ser tomadas, em termos de definição do percurso futuro a seguir) e a uma análise operacional (o que necessitamos de fazer para que esse percurso seja feito com rentabilidade, a fim de termos os meios libertos necessários, para o funcionamento da atividade e para a regularização do serviço da dívida aos credores da empresa).

Em termos da análise estratégica, poderemos con-cluir pela necessidade duma reestruturação estraté-gica, em que poderemos considerar como medidas necessárias a tomar, a título exemplo, algumas das seguintes:

– Redirecionamento estratégico: escolha de atividades nas quais possamos ser mais competitivos;

– Separação de atividades: transformar atividades em unidade de negócio separadas;

– Alienação: venda de algumas áreas do negócio, ou a totalidade do mesmo.

– Liquidação: fechar completamente o negócio e li-quidar seus ativos

– Falência: Dissolução ou reorganização da empresa de acordo com o CIRE (código de insolvência e recu-peração de empresas)

Em termos da análise operacional, poderemos concluir pela necessidade duma reestruturação Ope-racional, em que poderemos considerar como me-didas necessárias a tomar, a título exemplo, algumas das seguintes:

– Aumento das receitas, via novos produtos, novos mercados, …

– Redução de custos, eliminando atividades desne-cessárias, subcontratando algumas atividades (out-sorcing), que representem desta forma menor custo para a empresa e maior flexibilidade em termos de oscilação da atividade da empresa.

– Downsizing: redução do número de funcionários– Redução de ativos e/ou reutilização dos mesmos

para outros fins, por forma a reduzir as necessidades de financiamento da organização.

Obs.: Todas estas hipóteses, em termos estratégicos e em termos operacionais, devem ser tomadas em conside-ração, por forma a não limitarmos a possibilidade de en-contrar a melhor solução, para a resolução do problema, ficando muitas vezes apenas por uma solução medíocre, que não resolve o problema.

Após a análise dos impactos da combinação das diver-sas medidas em termos estratégicos (o que devemos fazer para sermos mais eficazes) e em termos económicos (o que devemos fazer para sermos mais eficientes), determinar a via-bilidade do negócio (em termos económicos e em termos financeiros).

A empresa, após todas as análises realizadas, em tempo útil, tem, pois, que considerar a melhor solução encontra-da, de forma a empreender um plano que proporcione a melhor situação de meios libertos líquidos possível, para poder fazer face ao serviço da dívida.

Possibilidades

Todas estas hipóteses, em termos estratégicos e em termos operacionais, devem ser tomadas em consideração, por forma a não limitarmos a possibilidade de encontrar a melhor solução

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15CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

OPINIÃO

Daqui irá resultar a reestruturação financeira a realizar, a qual terá obviamente que ser negociada com os credores.

Fase 4 – Reestruturação do negócioe definir o plano de ação a implementar

Se concluímos, na fase anterior, pela viabilidade do negócio, passaremos então à reestruturação do negócio e à implementação do plano de ação.

Durante esta fase, os objetivos a definir e realizar de-verão ser:

Reestruturar o negócio para aumentar a rentabili-dade, conforme as análises da fase anterior;Negociar a reestruturação financeira com os credo-

res (com todos ou com os principais, dependendo pois da dimensão do endividamento; arrumar a es-trutura de capital – níveis adequados de capitais pró-prios; reforçar os capitais alheios de médio e longo prazo; reduzir o endividamento de curto prazo; …)Garantir a existência de sistemas de informação de

gestão adequados;Envolver a equipa empresarial no seu todo, com

vista a estarmos focalizados no que é relevante e motivados, na resolução do problema: “salvar a empresa”;Implementar o Plano de ação que traduza todos es-

tes aspectos.

Fase 5 – Atingir a velocidade cruzeiro – o regresso à normalidade

Com o decorrer da implementação do Plano de ação que contemple as medidas de reestruturação, conforme descrito na fase anterior, regressaremos gradualmente à normalidade.

Nesta fase os objetivos deverão ser:Monitorizar a implementação do plano de reestru-

turação, com o envolvimento de toda a equipa.Reforçar a enfâse na rentabilidade e na capacidade

de autofinanciamento da empresa.Reforçar a enfâse na redução das necessidades de

fundo de maneio da empresa, via uma melhor gestão do ciclo de exploração e na negociação de condições de pagamento com fornecedores.Procurar o crescimento de atividade de forma salu-

tar, sem ter que esmagar margens.Procurar construir uma carteira de clientes de risco

Reduzido.Reforçar as competências da sua equipa.Implementar medidas que reforcem a sua compe-

titividade.Poderemos concluir que é uma caminhada cansativa,

mas os campeões da maratona não a vencem sem discipli-na, esforço e rumo certo.

Se queremos ser verdadeiros campeões nas nossas or-ganizações, este é o caminho.

Em síntese:O sucesso dos processos de reestruturação passa por

uma boa equipa de gestão, que após um bom diagnóstico, proceda:

Ao realinhamento estratégico da empresa;Ao desenvolvimento de produtos e/ou serviços mais

competitivos e que vão ao encontro das necessidades do cliente;À melhoria dos processos de operações;À correta gestão dos recursos humanos e financei-

ros.Em todo este processo a liderança da organização tem

um papel crucial.

PUB

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16 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

CONTABILIDADE

Corre-se cada vez mais o risco de se estar perante uma administra-ção fiscal poderosa, excelentemente informatizada, mas indiferente aos problemas das pessoas e que de for-ma trituradora e cega cilindra tudo à sua passagem. Estas preocupações são manifestadas pelo fiscalista Eduardo Paz Ferreira, em entrevista concedida ao Jornal de Contabilidade. O modo de atuar do fisco e o próprio sistema fiscal levantam sérias interrogações a este profissional, como se deduz das suas declarações.

Encara a eficácia da máquina fis-cal com satisfação, mas também com preocupação. Sem dúvida é uma máquina poderosa que, tecnicamen-te, responde de forma amplamente satisfatória. “Porém, são atribuídos à autoridade tributária privilégios de autoridade excessivos. Veja-se como funcionam as execuções fiscais e como hoje já se encarrega da co-brança de dívidas de natureza dife-rente. O exemplo mais flagrante é a cobrança das propinas em atraso dos estudantes, as quais também vão ser cobradas em execuções fiscais. Cor-re-se o risco grave de termos uma administração fiscal poderosa, mas indiferente aos problemas das pesso-as e que de forma cega cilindra tudo à sua frente.”

O que tem acontecido com o IRS é uma matéria preocupante, na ótica de Eduardo Paz Ferreira. É que se chegou a uma situação em que todos os esca-lões de rendimento – dos mais baixos aos mais elevados – têm motivos para protestar. “Experimente-se, por exem-plo, constatar quanto paga em termos

de contribuições e impostos um rendi-mento de mil euros e vê-se a iniquida-de. E se me perguntarem o que acho da tributação de mais de 50% em IRS, adicionada da contribuição para a Se-gurança Social e logo acima dos 80 mil euros, está-se perante uma situação de autêntico confisco.”

A realidade é que há uma enor-me severidade para com os pequenos contribuintes que se defendem com a evasão fiscal, mas uma elevada indul-gência com a evasão das grandes em-presas. Assume que Portugal é um país de grande subserviência relativamente aos mais poderosos e de grande incle-mência no que respeita aos pobres. “Hoje existem mais de 24% de pobres no nosso país, um número de que Por-tugal se deveria envergonhar.” É altura de o poder político se interrogar se o sistema fiscal em vigor serve o país.

A realidade é que hoje existem grandes empresas, especialistas em planeamento fiscal, cada vez me-nos domiciliadas no nosso país e a que o próprio processo de priva-tizações tem dado uma boa ajuda. Resta depois o esmagador univer-so das pequenas e médias empresas que “vivem reféns do sistema e das perversões tributárias que o próprio Estado tem criado, como é o caso, por exemplo, das tributações autó-nomas”.

Aberto caminhopara o regime forfetário

A fiscalidade, nos tempos contur-bados que se vivem, já não constitui uma ciência, lamenta Eduardo Paz

Ferreira. Nem sequer é uma política, antes está reduzida a uma mera técni-ca de obtenção de receitas a qualquer custo. “Não sendo eu um particular adepto da linearidade da curva de La-ffer, constato que comprova de forma científica o que os factos dizem sobre o brutal agravamento dos impostos, a queda pura e simples da receita fis-cal.”

Uma outra matéria abordada res-peitou ao lucro real. Referiu a este propósito o entrevistado: “Os tempos modernos e as sociedades desenvolvi-das afastaram-nos de tributações não baseadas no lucro real. Isto porque as democracias procuram a justiça e, em teoria, a solução mais justa será a tributação pelo lucro real. Só que para se ser justo também tem de se ser eficaz e os factos têm desmentido a eficácia dessa tributação para os pe-quenos contribuintes. Parece aberto o caminho para um regime forfetá-rio, pelo menos para determinados contribuintes. Isso confere a contri-buintes e ao Estado segurança e pre-visibilidade no seu horizonte. Porém, este sistema coloca o contribuinte nas mãos do Estado e será necessário que este não abuse da sua posição leonina na taxação forfetária perante o con-tribuinte.”

Eduardo Paz Ferreira defende um sistema claramente menos burocrati-zado. As empresas são excessivamente burocratizadas pelo Estado. Quanto mais não fosse pela atual situação de crise, seria muito mais rentável ali-geirar essa burocracia, até para incre-mentar a criação de pequenos negó-cios, de forma a fixar algum emprego.

Eduardo Paz Ferreira lamenta

Autoridade tributária é cada vez mais indiferente aos problemas dos contribuintes

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17CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Bons indicadores contabilísticos não são garante de empresa criadora de valor

GastosO controlo orçamental constitui também uma forma de acompanhamento dos gastos ocultos identificados.

CONTABILIDADE

A questão dos gastos ocultos é fundamental ao nível da gestão. Tais gastos ocorrem devido à disfunção ou a funcionamento inadequados da atividade produtiva das orga-nizações, tendo o capital humano uma responsabilidade considerável. A realidade é que existe uma grande subjetividade na deteção deste tipo de gastos, pelo que a sua análise afi-gura-se bastante complexa, conclui um estudo de Ana Santos, Carina Peixoto, Helena Correia e Maria Raposo, mestrandas em auditoria, publicado na revista de Contabili-dade & Finanças.

Apesar das dificuldades que se colocam, a sua deteção é funda-mental para que a gestão direcio-ne o seu planeamento no sentido de controlando-os os eliminar ou, caso tal não seja possível, atenuar, podendo daí advir uma vantagem concorrencial determinante. “A sua monitorização envolve diferentes níveis da estrutura organizacional, que vão desde a gestão de topo ao diretores operacionais e ao controlo de gestão. Neste aspecto, salienta-se que tão importante como a monito-rização e o controlo será a dissemi-nação, partindo da gestão de topo, de uma cultura organizacional que promova um bom ambiente de tra-balho e um notável ponto de par-tida para a redução deste tipo de gastos.”

Admitem as autoras do trabalho “Gastos ocultos e viabilidade empre-sarial” que cada vez mais organizações têm verdadeiras reengenharias de processos, cujo objetivo principal é a

obtenção de elevadas rendibilidades financeiras, em que os gastos são de-talhadamente analisados, por forma a eliminar os que poderão afigurar-se como desnecessários. “Uma vez que os gastos ocultos têm um impacto muito relevante ao nível da compe-titividade e sobrevivência das em-presas, também os mesmos deverão entrar nesses processos, com vista ao seu adequado tratamento.” Chamam ainda a atenção que a existência de bons indicadores contabilísticos não é garante de uma empresa criadora de valor, pois esta criação tem iminente a qualidade do capital humano, onde o conhecimento deverá ser o ponto essencial a promover.

Indicadores podem não representar a realidade

O facto de uma organização apresentar indicadores financeiros bastante favoráveis não significa que não tenha gastos ocultos. Com efeito, esses custos existem e os in-dicadores podem não representar a realidade, caso os mesmos não estejam aí corretamente refletidos,

proporcionando melhores ou piores diagnósticos, consoante tenham sido apurados por defeito ou excesso, res-petivamente.

O processo de controlo orça-mental é uma forma através da qual as organizações controlam os seus gastos, comparando o orçamento com o real apurado, detetando os respetivos desvios. Assim, o con-trolo orçamental constitui também uma forma de acompanhamento dos gastos ocultos identificados. “O controlo destes gastos é fundamen-tal, atendendo aos seus considerá-veis impactos económicos, designa-damente a capacidade da empresa em gerar riqueza ou a viabilidade de um projeto de investimento, através do cálculo do valor de todos os seus cash-flows.”

Associado à estratégia de criação de valor para a organização surge o BSC, cuja utilização constitui, so-bretudo, uma importante forma de prevenção e controlo destes custos. Como tal, uma eficiente gestão de gastos, onde os ocultos estão incluí-dos, para além de poder levar à ma-ximização do valor criado, torna os gastos concorrenciais no setor e “con-substancia uma estratégia conducente à melhoria da competitividade e ao aumento da quota de mercado”.

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18 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

CONTABILIDADE

O Ministério das Finanças publi-cou a portaria que estabelece os crité-rios de seleção dos contribuintes cuja situação tributária deve ser acom-panhada pela Unidade dos Grandes Contribuintes (UGC). O que acon-tece depois de criada organicamen-te a estrutura destinada a efetuar o acompanhamento tributário dos grandes contribuintes e definidas as respetivas competências.

Os contribuintes que devem ser acompanhados por aquela unidade são aqueles que preencham pelo me-nos um dos critérios que se seguem. Entidades com um volume de negó-cios superior a 100 milhões de euros, nos casos em que exerçam atividades sob a supervisão do Banco de Por-tugal ou do Instituto de Seguros de Portugal ou 200 milhões de euros nos restantes casos. Também se des-tina a sociedades gestoras de partici-pações sociais com um valor total de rendimentos superior a 200 milhões de euros, entidades com um valor global de impostos pagos superior a 20 milhões de euros, sociedades não abrangidas pelos critérios anteriores, mas que sejam consideradas relevan-tes, atendendo à sua relação socie-tária com as sociedades abrangidas. Finalmente, as sociedades integradas em grupos, em que alguma das so-ciedades integrantes – dominante ou dominada – seja abrangida pelas condições definidas por qualquer dos critérios referidos anteriormente.

O volume de negócios destas en-tidades é calculado de acordo com

o estabelecido no Código de IRC, conforme se trate de sociedades não financeiras ou financeiras. Por sua vez, o valor total dos rendimentos corresponde ao total apresentado na demonstração de resultados por na-tureza da entidade a que se refere, em conformidade com os respetivos pla-nos de contas. De notar que a criação das Unidades de Grandes Contri-buintes segue os modelos já aplica-dos na maioria dos países da OCDE. Com estes modelos, pretende-se, essencialmente, a assistência no cum-primento voluntário das respetivas obrigações fiscais e a redução do nú-mero de litígios de natureza fiscal.

Destaque para a importância, em termos económicos, da receita fiscal gerada por via das grandes empresas e a crescente complexidade das suas operações. Assim, a generalidade dos países da OCDE passou a disponi-bilizar serviços que se ocupam ex-clusivamente do acompanhamento tributário dos grandes contribuintes.

Prestação de informação sobre situação dos contribuintes

A UGC é uma unidade nuclear da Autoridade Tributária, podendo ser inspecionados diretamente pelos

serviços centrais os contribuintes de-signados pelo diretor-geral. Cabe à UGC prestar informações sobre a si-tuação dos contribuintes, bem como esclarecer as dúvidas, tendo em con-sideração as orientações administra-tivas que contenham a interpretação das leis tributárias. Importa notar que a unidade vai acompanhar tam-bém os procedimentos relacionados com a liquidação ou o controlo da liquidação dos impostos.

Caberá ainda à UGC acom-panhar de perto os processos de atribuição de benefícios fiscais que dependam do reconhecimento do ministro das Finanças ou do dire-tor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira. Avaliará a aceitação eventual de acordos prévios de pre-ços de transferência e realizar proce-dimentos de inspeção à contabilida-de dos contribuintes, confirmando a veracidade das declarações apre-sentadas.

E à unidade caberá ainda a ins-tauração, a instauração e a aprecia-ção do procedimento tributário de revisão do ato tributário ou da ma-téria tributável e do procedimento de reclamação graciosa. Considera a AT que o principal objetivo deste diploma é a melhoria do procedi-mento fiscal, desde a contabilidade ao relacionamento com a Autorida-de Tributária, envolvendo os acor-dos prévios de preços de transfe-rência ou a atribuição de benefícios fiscais especiais, entre vários outros aspetos.

Controlo e operacionalidade na base do diploma

Finanças definem critérios para a Unidade dos Grandes Contribuintes

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19CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

CONTABILIDADE

Comissão introduz alterações nas Normas Internacionais de Relato Financeiro

A Comissão Europeia procedeu a melhoramentos no âmbito das Nor-mas Internacionais de Relato Finan-ceiro. O regulamento nº 301/2013 da Comissão, de 27 de março, diz respeito à adoção pela primeira vez das normas internacionais de relato financeiro (IFRS 1), à apresentação das demonstrações financeiras (IAS 1), aos ativos fixos tangíveis (IAS 16), à apresentação de instrumentos financeiros (IAS 32) e ao relato finan-ceiro intercalar (IAS 34).

Quanto à emenda da IFRS 1, uma entidade que tenha aplicado as IFRS num período de relato anterior, mas cujas demonstrações financeiras anuais anteriores mais recentes não contenham uma declaração explícita e sem reservas de conformidade com as IFRS, deve aplicar esta ou as IFRS retrospetivamente, em conformidade com a IAS 8, como se a entidade nun-ca tivesse deixado de aplicar as IFRS. Uma entidade que tenha aplicado as IFRS num período anterior deve di-vulgar o motivo pelo qual deixou de aplicar as IFRS, bem como o motivo pelo qual volta a aplicar as mesmas. Quando uma entidade não optar por aplicar a UFRS deve explicar os mo-tivos pelos quais optou por voltar a aplicar as IFRS, como se nunca as ti-vesse deixado de aplicar.

Um adotante pela primeira vez pode optar por aplicar os requisitos da IAS 23, a partir da data de transi-ção ou a partir de uma data anterior. A partir da data em que uma entidade que aplique a isenção começa a apli-car a IAS 23 e não deve reexpressar a componente dos custos de contração de empréstimos que foi objeto de ca-

pitalização, de acordo com os PCGA anteriores e que foi incluída no valor contabilístico dos ativos nessa data. E deve contabilizar os custos de em-préstimos obtidos incorridos em ou após essa data, de acordo com a IAS 23, incluindo os custos de emprésti-mos obtidos incorridos em ou após essa data em ativos elegíveis já em construção. Esta nova orientação terá de ser aplicada a partir deste ano.

A emenda à IAS 1 tem a ver com a apresentação de demonstrações finan-ceiras, sendo que o conjunto comple-to inclui uma demonstração da po-sição financeira do final do período, dos resultados e outro rendimento integral do período, das alterações no capital próprio do período e uma demonstração dos fluxos de caixa do período. Inclui ainda notas, compre-endendo um resumo das políticas contabilísticas significativas e outras informações explicativas e uma de-monstração da posição financeira no início do período precedente quan-do uma entidade aplica uma política contabilística retrospetivamente ou elabora uma reexpressão retrospetiva de itens nas suas demonstrações fi-nanceiras ou quando reclassifica itens nas suas demonstrações financeiras.

Divulgação de informação comparativa

Neste âmbito, uma entidade deve divulgar informação comparativa com respeito ao período anterior para todas as quantias relatadas nas demonstra-ções financeiras do período corrente. Uma entidade deve incluir a infor-mação comparativa para a informa-ção narrativa e descritiva se tal for relevante para a compreensão das de-monstrações financeiras do período corrente. Uma entidade deve apre-sentar, no mínimo, duas demons-trações de posição financeira, duas de resultados e outro rendimento integral, duas demonstrações separa-das de resultados, duas dos fluxos de caixa, duas das alterações do capital próprio, bem como notas conexas.

Uma entidade deve apresentar uma terceira demonstração de posi-ção financeira no início do período precedente, para além das demons-trações financeiras comparativas mí-nimas exigidas, se aplica uma política contabilística retrospetivamente, faz uma reexpressão retrospetiva de itens nas suas demonstrações financeiras ou reclassifica itens nas suas demons-trações financeiras e aplicação retros-petiva, a reexpressão retrospetiva ou a reclassificação tem um impacto signi-ficativo sobre a informação contida na demonstração da posição financei-ra no início do período precedente.

Quando uma entidade altera a apresentação ou a classificação de itens nas suas demonstrações finan-ceiras, essa entidade deve reclassificar as quantias comparativas, a menos que a reclassificação seja impraticá-

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20 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

CONTABILIDADE

EmendaA emenda à IAS 1 tem a vercom a apresentação de demonstrações financeiras

vel. Quando uma entidade reclassi-fica quantias comparativas, deve di-vulgar a natureza da reclassificação, a quantia de cada item ou classe de itens que é reclassificado e o motivo da reclassificação. As primeiras de-monstrações financeiras de uma enti-dade devem incluir pelo menos três demonstrações da posição financeira, duas demonstrações dos resultados e outro rendimento integral, duas de-monstrações dos resultados separadas – se apresentadas – duas demonstra-ções dos fluxos de caixa e duas das alterações no capital próprio e notas conexas, incluindo informação com-parativa para todas as demonstrações apresentadas.

O relato financeiro intercalar

Quanto ao relato financeiro in-tercalar, este inclui uma demonstra-ção da posição financeira no final do período, uma demonstração dos resultados e outro rendimento inte-gral do período, uma demonstração das alterações no capital próprio do período, uma dos fluxos de caixa, no-tas (compreendendo um resumo de políticas contabilísticas significativas e outras informações explicativas) e informação comparativa para o perí-odo precedente.

Inclui ainda uma demonstração da posição financeira no início do período precedente quando uma en-tidade aplica uma política contabi-lística retrospetivamente ou elabora uma reexpressão retrospetiva de itens nas suas demonstrações financeiras ou quando reclassifica itens nas suas demonstrações financeiras. Uma en-tidade pode usar títulos para as suas demonstrações que não sejam os usa-dos nesta norma.

Os itens como peças sobressa-lentes, equipamentos de reserva e

equipmentos de manutenção são re-conhecidos de acordo com esta IFRS quando satisfazem a definição de ati-vos fixos tangíveis. Caso contrário, são classificados como inventário. Neste caso, verificou-se uma emen-da à IAS 16, relativa aos ativos fixos tangíveis.

Importa ter em conta a emenda à IFRS 32, designadamente apresenta-ção de instrumentos financeiros. Os juros, dividendos, perdas e ganhos relacionados com um instrumento financeiro ou com um componente que seja um passivo financeiro devem ser reconhecidos como rendimento ou despesa no resultado. As distribui-ções de rendimentos aos detentores de um instrumento de capital próprio devem ser reconhecidas pela entidade diretamente no capital próprio. Os custos de transação de capital próprio devem ser contabilizados como uma dedução ao capital próprio.

O imposto sobre o rendimento respeitante às distribuições de rendi-mentos aos detentores de um instru-mento de capital próprio devem ser contabilizados de acordo com a IAS 12 (impostos sobre o rendimento). Um entidade incorre em vários cus-tos ao adquirir os seus próprios ins-trumentos de capital próprio. Esses custos podem incluir taxas de regis-to e reguladoras, montantes pagos a conselheiros jurídicos, contabilísti-cos e outros profissionais. Os custos de transação de capital próprio são contabilizados em dedução ao capital próprio, na medida em que são custos incrementais diretamente imputáveis à transação de capital próprio, que de

outra forma teriam sido evitados. Os custos de uma transação de capital próprio que se abandonou são reco-nhecidos como uma despesa.

Distribuições de rendimentos

Como exigido pela IAS 32, as distribuições de rendimentos a deten-tores de instrumentos de capital pró-prio são reconhecidas diretamente no capital próprio. Os juros, dividendos e outros rendimentos relacionados com instrumentos financeiros classi-ficados como passivos financeiros são despesas, independentemente desses montantes pagos serem legalmente caraterizados como dividendos, juros ou de outra forma.

Finalmente, a emenda à IAS res-peita ao relato financeiro intercalar. Além de divulgar os acontecimentos e transações significativos, uma enti-dade deve incluir a informação nas notas às demonstrações financeiras intercalares, se não forem divulgadas noutra parte do relatório financeiro intercalar. A informação deve, nor-malmente, ser relatada na base do exercício financeiro até à data. A di-vulgação de informação por segmen-tos só é exigida no relatório financeiro intercalar de uma entidade se a IFRS 8 (segmentos operacionais) exigir que a entidade divulgue informações por segmentos nas suas demonstrações fi-nanceiras.

Implica ainda uma mensuração do total dos ativos e dos passivos de um determinado segmento de rela-to, se esses montantes forem apre-sentados regularmente ao principal responsável pela tomada de decisões operacionais e se se tiver verificado uma alteração substancial do valor divulgado nas últimas demonstrações financeiras anuais para esse segmento de relato.

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21CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

FISCALIDADE

Gaspar insiste na urgência e necessidade de garantir o equilíbrio orçamental

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, insiste que é essencial atin-gir o equilíbrio orçamental. Sem que essa meta seja concretizada, os muitos milhões de euros que Por-tugal consiga obter mais não serão do que uma solução de momento. “O caminho certo é árduo e estrei-to, mas garante a prosperidade dos mais jovens e dos vindouros”, refe-riu o governante durante a moção de censura interposta pelo Partido Socialista.

Vítor Gaspar mostrou-se sa-tisfeito com os resultados obtidos depois da realização de sete exames regulares por parte da "troika" e argumentos com números: “O dé-fice orçamental de 2012, excluindo efeitos pontuais, fixou-se em 5,8% do PIB, abaixo dos 6% anterior-mente anunciados. Face ao ano anterior, o défice reduziu-se em cerca de 1,6%. Em termos estru-turais, já foram concretizados dois terços do ajustamento orçamental previsto no programa. Estamos a falar de um ajustamento estrutu-ral de 6,2% em dois anos. O saldo estrutural passou de um défice de mais de 10 mil milhões de euros para um pequeno excedente. Para além disso, garantimos um grau elevado de execução das medidas do memorando de entendimento, mais de 90%.”

Para o ministro das Finanças, o grande falhanço de 2009 e 2010 foi a opção pela expansão orçamental, que, aliás, tornou o resgate nacio-nal inevitável. “Foi mal concebida e conduziu a maus resultados. A per-sistência no mesmo erro conduziria

agora a um segundo resgate.” Com a política em curso, o país recupe-rou credibilidade e confiança a nível internacional, o que se refletiu no processo de regresso aos mercados de obrigações, com sucesso. E lem-brou aos partidos da oposição: “A credibilidade e a confiança depen-dem da determinação constante em torno do processo de ajustamento. Qualquer desvio significativo po-derá colocar em causa os sacrifícios dos dois últimos anos”, afirmou no debate parlamentar.

Regresso a um passadode mediocridade

A moção de censura deu lugar a fortes críticas de Vítor Gaspar às políticas orçamentais seguidas pelo anterior Governo, atribuindo mui-

tas das culpas do resgate ao Gover-no anterior. Recusou o argumento que insiste na miragem da expan-são, insiste em mais défice e mais dívida e, como se fez nos últimos anos, apregoa crescimento. Referiu a este propósito: “Esta orientação prolonga a negação das exigências da área do euro. Consiste no regres-so a um passado de mediocridade e estagnação que tornou a crise ine-vitável.”

Por outro lado, o governante fez notar que Portugal já estava numa situação de elevada vulnerabilidade aquando da crise financeira global. “Para fazer face a essa crise, o Gover-no ignorou a necessidade de ajusta-mento. Em 2008, decidiu esquecer a consolidação orçamental. As reco-mendações de expansão orçamental decididas pelo Conselho Europeu foram usadas como trampolim para um frenesim despesista.”

Considerou na sua intervenção que o caminho assumido foi o pior possível. “O sistema político falhou na adaptação da sociedade portugue-sa às realidades da vida económica e financeira dentro da área do euro e o ajustamento ocorreu assim de forma abrupta, tardia e com custos muito elevados.” E concluiu: “Após o resgate, Portugal tem executado o programa de ajustamento de forma determinada e os resultados alcança-dos pelos Portugueses são significa-tivos, pelo que é necessário persistir no ajustamento.” Também rejeitou a possibilidade de insistir em receitas do passado, que já se mostraram er-radas, no sentido de conquistar vo-tos junto dos cidadãos.

O ministro das Finanças deixou a certeza que os sacrifícios vão continuar para se fa-zer face ao défice das contas públicas.

ExcedenteO saldo estrutural passou de um défice de mais de 10 mil milhões de euros para um pequeno excedente.

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22 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Estados perdem milhões todos os dias

Bruxelas quer mais cooperaçãono combate à fraude e à evasão fiscais

CONTABILIDADE

A Comissão Europeia considera que os acontecimentos recentes le-vam a concluir que é urgente reforçar e melhorar o combate à fraude e à evasão fiscais. Bruxelas considera que há muito avisa que são necessários instrumentos comuns e mais trans-parência no combate à fraude, desen-corajar a evasão e garantir a troca de comunicação no que toca à fiscalida-de. Todos os anos, cerca de um trilião de euros é perdido pelos governos nacionais, em resultado de atividades criminosas.

Os responsáveis comunitários con-sideram que chegou o momento de dar passos decisivos, depois de no final do ano passado ter sido apresentado aos Estados-Membros um plano con-creto de combate à fraude e à evasão fiscais. De acordo com a Comissão, trata-se de um pacote de medidas coe-rente e têm sido feitos esforços com os parceiros internacionais para se chegar a consensos quando a modelos efetivos de carácter global. Bruxelas considera que sabe o que é preciso para combater a fraude e a evasão fiscais.

Desde logo, é necessária a troca automática de informação, de forma a que as regras sejam aplicadas de modo abrangente. Só assim será possível aos estados arrecadarem as receitas fiscais que lhes são devidas. Por outro lado, os paraísos fiscais continuam a ser um problema grave, pelo que é necessá-rio tomar medidas comuns, incluin-do sanções pesadas para aqueles que permitem ou facilitam a evasão fiscal. Bruxelas quer reduzir substancialmen-te o planeamento fiscal agressivo e li-

mitar as oportunidades que ainda se colocam aos evasores, sobretudo em termos legislativos. As ferramentas existem e estão sobre a mesa, cabendo agora aos governos nacionais tomarem as decisões adequadas, sempre numa perspetiva de maior colaboração.

Bruxelas admite que os governos estão agora mais interessados em to-marem medidas e que é necessário passar das palavras às ações. Parece evidente a todos que as coisas não po-dem ficar como estão, como é o caso dos paraísos fiscais, que continuam a ser um forte entrave à transparência e à distribuição equitativa da carga fiscal. Países há que estão em sérias dificuldades, em parte devido à frau-de e à evasão fiscais. Aliás, estas práti-cas vão contra os próprios princípios defendidos desde sempre pela União Europeia.

Comissão apresenta medidase iniciativas realizadas

A Comissão Europeia apresentou uma série de instrumentos e de ini-ciativas para combater o flagelo. Des-de logo, defende que é preciso adotar emendas à diretiva da taxação sobre os rendimentos e avançar com de-

cisões quanto a países como a Suíça, Andorra, o Mónaco, e Liechtenstein e São Marino. Bruxelas necessita de um mandato para que sejam abertas nego-ciações com estes estados. Também é preciso avançar com um mecanismo de reação rápida em sede do IVA. Este imposto continua a revelar fragilidades que é necessário corrigir. Está sobre a mesa a aplicação opcional do mecanis-mo de “reverse charge” do IVA.

Bruxelas considera essencial adotar medidas que encorajem os países ter-ceiros a assumirem modelos mínimos de boa governação em matéria fiscal. De igual modo, foi lançada uma reco-mendação sobre o planeamento fiscal agressivo. Será criada uma plataforma sobre boa governação fiscal. Natural-mente, é importante a implementação de modelos harmonizados de infor-mação no campo da taxação. Implica mais cooperação fiscal e administrati-va. A legislação fiscal, aos níveis nacio-nais, tem de ser aperfeiçoada e deverá verificar-se a transposição efetiva de diretivas pelos Estados-Membros no que toca às regras fiscais. Estas medi-das devem ser tomadas com a maior rapidez possível.

A realidade é que os acontecimen-tos recentes estão a revelar que esta é uma matéria à qual não tem sido dada a importância necessária. A falta de legislação adequada, a pouca coo-peração entre os Estados-Membros, a pouca transparência de processos são aspetos que terão de ser analisados e corrigidos. Também a criminalização dos responsáveis é tido como essen-cial por parte de Bruxelas.

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23CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Sistema de recuperação de empresas extrajudicial implica concordância da AT

Estão em vigor os diplomas legais que preveem o Sistema de Recupera-ção Empresas por Via Extrajudicial (SIREVE) e o Processo Especial de Revitalização. Importa analisar os tra-ços gerais do sistema jurídico no que à recuperação de empresas respeita e em que a Autoridade Tributária e Aduaneira também desempenha um papel importante, como faz notar o gabinete de advogados RFF.

Quanto ao SIREVE, funciona no IAPMEI e é adequado para empresas que não estejam em condições de levar a cabo o seu processo de recuperação sem auxílio e concessões por parte dos credores. Tem por regra a dura-ção máxima de três meses e consiste na negociação de um acordo entre a empresa e os seus credores privados e/ou públicos. O procedimento in-clui a apresentação, por parte do IA-PMEI, de um parecer técnico sobre a viabilidade económico-financeira da empresa e ficam suspensas as ações de cobrança contra a empresa pelos credores que aceitem aderir a este pro-cedimento. Este fica concluído com a celebração de um acordo com o fisco, o que implica a extinção dos processos de execução. Se o contribuinte tiver deduzido oposição à execução fiscal, os respetivos argumentos não serão apre-ciados pelo tribunal. Convém referir que a autoridade tributária e a Segu-rança Social têm a obrigação de iniciar as negociações, mas podem recusar os termos propostos pelo devedor.

A repercussão pública do processo de recuperação é menor do que aque-la caso se tratasse de um processo de insolvência. Os benefícios fiscais pas-saram também a atender aos planos

de recuperação aprovados ao abrigo do SIREVE, embora a sua atribuição esteja dependente de reconhecimento prévio da Autoridade Tributária. Um outro aspeto essencial é que o sucesso deste procedimento implica a adesão a um acordo celebrado com credores que representem, pelo menos, 50% das dívidas apuradas. As empresas que recorrem ao SIREVE terão de pagar junto do IAPMEI taxas que va-riam entre os 260 e 1 500 euros, de acordo com a dimensão da entidade em causa.

Processo especial de revitalização

O processo especial de revitali-zação também visa a recuperação de sociedades em situação económica di-fícil ou de insolvência iminente. Este processo decorre sob coordenação do tribunal e tem caráter urgente. Pelo menos um dos credores da empresa tem de assinar, conjuntamente com o devedor, o requerimento inicial. As funções de mediação e de supervisão do processo são desempenhadas por um administrador judicial provisório, por nomeação do tribunal.

Em caso de insucesso das negocia-ções, o administrador judicial poderá informar o tribunal que a empresa está em situação de insolvência, de facto, com vista à declaração judicial

dessa mesma insolvência. Durante a pendência do processo não se po-derão praticar atos particularmente relevantes e eventuais processos de insolvência pendentes contra o de-vedor poderão ser suspensos. É ainda estabelecido um privilégio mobiliário geral, concedido aos credores que, no decurso deste processo, financiem a atividade do devedor.

Os planos de insolvência ou de pagamentos são os instrumentos processuais adequais para promover a recuperação de empresas que se en-contram em situação de insolvência – efetiva ou iminente – mas que já têm como pressuposto a declaração judi-cial de insolvência e, em consequên-cia, a nomeação de um administrador de insolvência. Caberá a este assumir a gestão da empresa. Em termos do plano de insolvência, a decisão final caberá sempre à assembleia de cre-dores, os quais, com a declaração de insolvência da empresa, assumem a qualidade de seus “proprietários eco-nómicos”.

A liquidação processa-se quando não se mostra possível a recuperação e concretiza-se com vista à alienação – por parte do administrador da in-solvência – dos ativos existentes para pagamento rateado das dívidas.

Em sede de qualificação da insol-vência, um dos aspetos a ter em con-ta, na aferição dos responsabilidades pessoais dos titulares dos respetivos órgãos de gestão e fiscalização – in-cluindo os técnicos e os revisores ofi-ciais de contas – é saber se a empresa se apresentou à insolvência ou a qual-quer dos outros procedimentos, no prazo legal de 30 dias.

FISCALIDADE

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24 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Parlamento Europeu apresenta resolução de alterações

IVA é pouco eficiente e permissivoà fraude e à evasão fiscais

O Parlamento Europeu apresen-tou uma resolução sobre o futuro do IVA. Isto porque o imposto é tido como pouco eficiente e permissivo quanto à fraude e à evasão fiscais. A inexistência de um regime comum é também um fator desincentivador do investimento externo. A Europa precisa de um regime mais eficaz e transparente, assente na equidade e numa colaboração mais estreita entre os Estados-Membros.

Quanto à sua conceção, os países são exortados a adotarem um sistema de IVA com uma base de incidência ampla e recorda que o princípio da neutralidade constitui um dos aspetos fundamentais do sistema do IVA. Por conseguinte, as empresas não devem, na medida do possível, suportar os en-cargos que estão associados à cobrança do mesmo. Por sua vez, todos os bens e serviços semelhantes devem ser sub-metidos aos mesmos regimes de IVA e os Estados-Membros devem con-servar o direito de conceder isenções com base em critérios sociais e cultu-rais interpretados de forma restritiva. É solicitada uma taxa de IVA harmo-nizada e padronizada ou uma taxa reduzida para todas as viagens trans-fronteiriças dentro da UE, indepen-dentemente do meio de transporte, bem como a regulação harmonizada da sua dedutibilidade. O Parlamento constata que as atuais regras relativas à dedução dos impostos pagos a mon-tante são complexas e causam proble-mas às empresas, devido a questões associadas com o objeto das respetivas atividades (âmbito), o tipo de serviço

prestado (isenções) e a natureza desses serviços (dedução fiscal).

Relativamente às transações trans-fronteiras intracomunitárias, o atual sistema distanciou-se do compromis-so inicial assumido pelos Estados--Membros de aplicar o princípio da origem, devido à falta de apoio po-lítico por parte dos Governos nacio-nais para cooperarem na aplicação desse mesmo princípio. A criação, o mais tardar em 1 de janeiro de 2015, de balcões únicos para efeitos de IVA continua a ser uma prioridade para a União. E tendo em conta a tendên-cia convergente das taxas normais de IVA, os países são instados a restringi-rem ainda mais o intervalo de varia-ção da taxa normal; reconhece que os Estados-Membros devem beneficiar de flexibilidade, a fim de fixar a taxa de IVA que entendem dever aplicar, dado o interesse de que se reveste en-quanto instrumento orientador da política orçamental.

Convida os Estados-Membros a trabalharem em estreita colaboração com o Comité do IVA, a fim de che-gar a acordo quanto a uma interpre-

tação uniforme dos termos jurídicos aplicáveis neste contexto. De igual modo, pede para que a Comissão apresente, até ao final deste ano, um relatório contendo os serviços e bens elegíveis para beneficiarem de uma taxa reduzida de IVA ou de uma isen-ção nos termos da Diretiva IVA.

Necessidade de reduzira burocracia

A redução da burocracia é outra das preocupações manifestadas pelo Parlamento Europeu. É importante reduzir os encargos administrativos impostos pela legislação da UE em matéria de IVA, em conformidade com a agenda digital para a Europa, suprimindo os pagamentos de juros e multas associados a erros de formato. Também aponta para a ponderação da introdução de um reembolso único de IVA e de um número de identificação em sede deste imposto, bem como de um sistema de registo eletrónico dos reembolsos para o conjunto da União.

Considera que a Comissão deve melhorar a interoperabilidade das as-sinaturas eletrónicas, de forma a criar o quadro jurídico necessário ao reco-nhecimento dos sistemas seguros de autenticação eletrónica, e a considerar a revisão e o alargamento da diretiva relativa às assinaturas eletrónicas, a fim de reduzir a carga administrativa das empresas, em especial as PME. E realça a necessidade de um reconheci-mento mútuo de identificação e au-tenticação eletrónica em toda a UE. Pretende que a Comissão apresente

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25CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

FISCALIDADE

uma proposta de criação de uma fa-tura eletrónica europeia normalizada, com base num modelo neutro do ponto de vista linguístico.

Também convida a Comissão e os Estados-Membros a ponderarem a adoção de um limiar de isenção do IVA para as PME comum a toda a União, de modo a reduzir os custos e encargos e garantir um melhor acesso ao mercado interno. A Comissão tam-bém deverá ponderar seriamente uma redução acrescida da burocracia fiscal para as associações sem fins lucrativos e salienta que deveria haver um maior grau de flexibilidade no sistema IVA para os Estados-Membros que dese-jam adotar medidas ambiciosas para minimizar a carga administrativa fis-cal que pesa sobre essas mesmas asso-ciações.

Eficácia na recolha do IVA

A eficácia da recolha do IVA é ou-tro assunto que merece a atenção do Parlamento Europeu, que concorda com a Comissão quanto à necessi-dade de melhorar a mesma, a fim de diminuir os desvios do IVA e limitar possibilidades de fraude, assim como para proteger os comerciantes de boa fé contra eventuais fraudes. Apela igualmente à clarificação de defini-ções e conceitos, como o princípio do país de consumo em lugar do país de estabelecimento. Sublinha a ne-cessidade de melhorar a intervenção judicial transfronteiras contra fraudes ao IVA intracomunitário nos Estados--Membros, bem como de aumentar a responsabilização e a consciencializa-ção para os riscos neste domínio.

A fim de estabelecer investiga-ções transfronteiras efetivas no âm-bito da ação judicial contra este tipo de fraudes, salienta a importância de dispor, na legislação comunitária, de

uma definição abrangente e unifor-me das práticas fraudulentas de eva-são ao pagamento do pagamento do IVA ou das práticas de “carrossel, as-sim como de sanções administrativas harmonizadas. Destaca a importância de uma cooperação mais intensiva e rápida entre os Estados-Membros, de uma maior monitorização dos inter-câmbios de informação e de contactos mais diretos entre as administrações fiscais locais, por intermédio de um portal de informação comum online. Solicita à Comissão que proponha uma simplificação e consolidação da legislação comunitária antifraude e que trate das insuficiências em maté-ria de cooperação entre a Comissão e os Estados-Membros no âmbito deste processo.

Chama a atenção que as possibi-lidades de fraude relacionadas com o IVA podem ser reduzidas significati-vamente pela utilização acrescida das novas tecnologias e de soluções ino-vadoras. Insta a Comissão a reforçar o sistema de intercâmbio de informa-ções sobre o IVA (VIES), encurtando o tempo entre a recolha de dados e a sua captação e dando acesso mais am-plo a esses dados.

O PE é de opinião que o debate em torno dos métodos de cobrança do IVA é secundário, perante a neces-sidade de resolver as deficiências sub-jacentes e os problemas inerentes às atuais normas e procedimentos e que, nesta fase, deve ser dada prioridade máxima à resolução do problema da falta de harmonização e à necessidade de uniformizar os procedimentos e re-duzir as barreiras linguísticas, ao mes-mo tempo que se atenua a vulnerabi-lidade do sistema à fraude. E sublinha ainda a necessidade de criar um órgão europeu de interpretação distinto, junto do qual os Estados-Membros possam obter respostas vinculativas

em relação a uma metodologia fiscal comum e a uma aplicação equitativa das regras em matéria de IVA.

Regras claras através de maior harmonização

A comunidade empresarial exige regras claras em matéria de IVA. Como tal, há várias áreas em que os Estados--Membros podem aumentar o nível de harmonização, através do recurso mais frequente aos regulamentos, em detri-mento das diretivas, uma vez que es-tes proporcionam uma harmonização e uma segurança jurídica imediatas. Em alternativa, permitindo que a Co-missão elabore um conjunto de nor-mas comuns sob a forma de decisões de execução com o consentimento da maioria dos países, modificando o pa-pel do Comité de IVA. Através da con-dução de um processo de simplificação e coordenação a nível da União dos processos nacionais de transposição, atribuindo um papel mais reforçado à União. Importa ainda a participação generalizada das partes interessadas e das empresas na elaboração e na apli-cação da legislação em matéria de IVA, a nível nacional e da União Europeia.

Considera que as empresas têm necessidade de regras europeias claras e inequívocas em matéria deste impos-to, pelo que devem ser realizadas ava-liações de impacto abrangentes – com a participação de empresas europeias – em apoio das propostas legislativas. Terão de ser completadas as diretivas do Conselho com regulamentos nos domínios em que tal permita uma maior clarificação da situação. De igual modo, devem ser fornecidas in-formações atempadamente e orienta-ções de qualidade e acessíveis sobre as regras nacionais, inclusivamente a ní-vel europeu, sobretudo nos domínios em que o sistema não é uniforme.

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26 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

FISCALIDADE

Existe o falso preconceito de que o setor financeiro é menos ta-xado do que os restantes setores. Por outro lado, a grande maioria dos bancos não esteve envolvida nas aventuras especulativas, não sendo correto proceder a generalizações. É o caso dos bancos nacionais, muito pouco expostos a ativos tóxicos. Fa-ria de Oliveira, presidente da Asso-ciação Portuguesa de Bancos (APB), lamenta que a tributação sobre as transações financeiras tome como base o sentimento de que a banca foi a responsável pelo despoletar da crise económica e que deve ser pu-nida por esse facto.

Considera Faria de Oliveira que uma iniciativa fiscal desta nature-za deve ser avaliada na globalidade dos seus impactos positivos e ne-gativos, sendo certo que serão mais os inconvenientes desta medida. Os aspetos que podem ser entendidos como positivos são uma receita fis-cal relevante, através de um contri-buto substancial do setor financeiro para as receitas públicas, entre 30 e 35 mil milhões de euros. A tributa-ção adicional para o setor financeiro evitará que os custos relativos a este sejam suportados pela generalidade dos contribuintes. “O reforço do mercado único, reduzindo o número de abordagens nacionais divergentes em matéria da tributação das transa-ções financeiras e o desincentivo de comportamentos especulativos, bem como orientar o setor financeiro para o apoio à economia real.”

Mas Faria de Oliveira acha que

são mais as desvantagens. Desde logo, o referido imposto aplicar-se-á apenas no âmbito de uma coopera-ção reforçada a 11 Estados-Mem-bros, criando condições competitivas desvantajosas aos respetivos sistemas financeiros dentro da União Euro-peia e a nível global. “Não se com-preende que se procure aperfeiçoar e introduzir mecanismos que con-tribuam para a integração financeira europeia e, ao mesmo tempo, se in-troduza um novo imposto a vigorar apenas em alguns Estados-Membros,

de que resultarão desvantagens com-petitivas e elevados riscos de transfe-rência de atividades e proveitos para os que não o aplicam.”

Implicará ainda a deslocalização de certas atividades para outras pra-ças financeiras não sujeitas ao im-posto sobre transações financeiras. Acredita também que o preço das ações será afetado, que a totalidade do imposto poderá ser transferido para os investidores pelos intermedi-ários e que não aborda a questão do risco sistémico das grandes entidades

Faria de Oliveira, presidente da APB, contra nova tributação

Imposto sobre as transações financeiras vai agravar custos dos investidores

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Investimento

Imposto vai incrementar a dificuldade na captaçãodos investimentos externo e interno, na medidaem que vai representar um acréscimo da tributação atualmente em vigor.

FISCALIDADE

financeiras. “O imposto criará um custo adicional para as empresas, em especial para as PME e para os consumido-res que investem em instrumentos de capital. Os custos de transação aumentarão, reduzindo as oportunidades de financiamento. As bolsas dos países da cooperação refor-çada ficam em desvantagem.”

Mercado de capitais fundamentalpara financiamento das empresas

O caso português apresenta certas especificidades que não estão a ser tidas em conta quando se pretende imple-mentar este imposto. Faria de Oliveira lembra que é reco-nhecido que a questão fulcral é a da passagem da recessão para o crescimento económico, o que requer investimento e, a curto prazo, a otimização do aparelho produtivo exis-tente. “Ora, este está muito dependente do financiamento da economia. O mercado de capitais desempenha um pa-pel relevante no financiamento das empresas.”

O presidente da APB defende que deve haver coerên-cia e consistência nas medidas da política que estimulem o investimento e que não é possível viver em contradi-ção. Questiona-se se é mais prioritário obter uma receita fiscal adicional (e se será destinada ao Estado-Membro) com custos para o crescimento económico ou adotar uma política fiscal que contribua para a atratividade do inves-timento. Importa ainda notar que o maior problema do setor bancário, neste momento, é a pressão que existe so-bre a sua rentabilidade.

Faria de Oliveira revela-se preocupado com a intenção de se utilizar a banca indiscriminadamente, no sentido de se ultrapassar a crise. Ainda que admita que se regista-ram excessos na avaliação do risco e, principalmente, no domínio financeiro especulativo, como a proliferação de ativos tóxicos resultantes do crédito “subprime” e da secu-ritização e colateralização e outras operações, com vista a melhorar as notações de risco, bem como o lançamento de produtos financeiros excessivamente complexos e de elevado risco.

Investidores vão suportar novo imposto

Questionado sobre esta matéria, o fiscalista Rogério Fernandes Ferreira deixou claro que, tratando-se de um imposto que pretende tributar as operações financeiras, acabará por ser suportado não pelas entidades bancárias ou financeiras, mas pelos investidores. “Na prática, o im-posto acabará por não ser suportado pelo respetivo sujeito

passivo, como parece resultar dos termos da autorização legislativa que consta da Lei do Orçamento do Estado e que prevê que o diploma a aprovar pelo Governo inclua a definição da entidade sobre a qual recairá o encargo do imposto.”

O fiscalista faz notar que o diploma vai alterar o Códi-go do Imposto do Selo, no qual se era prever a tributação sobre as transações financeiras. “Esta opção parece ser a mais acertada, na medida em que o Imposto do Selo recai sobre variadas operações financeiras. Também se evita a proliferação de legislação avulsa para tributação de uma mesma realidade (as operações financeiras, neste caso), sistematizando, unificando e simplificando as regras de incidência sobre tais operações.”

Quanto a Portugal, no toca ao impacto deste impos-to, Rogério Fernandes Ferreira está na linha do que pensa Faria de Oliveira, isto é, vai incrementar a dificuldade na captação dos investimentos externo e interno, na medida em que vai representar um acréscimo da tributação atual-mente em vigor, já de si representativa de carga tributária bastante elevada e superior à de outros países com os quais nos comparamos. “Até porque a nível europeu o consen-so alcançado, para já, vai no sentido de isentar apenas as transações com os bancos centrais e o Banco Central Eu-ropeu, o Mecanismo Europeu de Estabilidade e com a União Europeia.”

Defende que se deveria ter ponderado se a receita fiscal que se estima vir a obter com este novo imposto compen-sará o risco – ainda maior – de deslocalização de opera-ções de investimento financeiro e a consequente perda de (maior) receita fiscal ao nível de impostos sobre o rendi-mento. Refere ainda o facto de não ter havido consenso para avançar com a introdução deste imposto em todo o espaço comunitário, o que “representa um risco real de fuga de capitais para outros Estados-Membros ou países terceiros, com regimes fiscais mais favoráveis”.

Enfim, em jeito conclusão, o fiscalista adianta o exem-plo do caso francês em matéria de tributação sobre as transações financeiras. Este país, em agosto passado, in-troduziu unilateralmente este imposto. Ora, segundo vei-culou a comunicação social, as receitas obtidas pelo Esta-do francês ficaram bastante abaixo do esperado.

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FISCALIDADE

O Orçamento do Estado introdu-ziu várias alterações em sede do IVA. Têm surgido dúvidas quanto ao pró-prio código e à Lista I anexa. A Auto-ridade Tributária e Aduaneira emitiu um ofício-circulado, tendo em conta a clarificação das alterações mais sig-nificativas.

O CIVA passa a contemplar as pessoas coletivas como suscetíveis de beneficiarem da isenção nas condições nele previstas. Assim, a transmissão do direito de autor e a autorização para a utilização da obra inteletual, quando efetuadas pelos autores, seus herdeiros e legatários ou terceiros por conta de-les, estão abrangidos por isenção, quer o respetivo autor seja pessoa individual ou coletiva. Por sua vez, as transmissões de bens efetuadas no âmbito da produ-ção agrícola e a prestação de serviços agrícolas deixam de estar isentas de imposto a partir de abril. Uma outra alteração alarga o âmbito de aplicação da isenção às transmissões de bens a tí-tulo gratuito efetuadas ao Estado para posterior distribuição a pessoas caren-ciadas. Passam a estar abrangidas pela isenção as transmissões de livros a título gratuito efetuadas aos departamentos governamentais na área da educação.

Nos casos em que seja obrigatória a aplicação do mecanismo da inversão do sujeito passivo, apenas confere direi-to à dedução o imposto liquidado pelo adquirente dos bens ou serviços. Ainda que o transmitente liquide indevida-mente IVA nessas operações, o imposto não confere o direito a dedução. Passa a ser permitida a dedução da totalidade do IVA suportado na aquisição de ga-sóleo, GPL, gás natural ou biocombus-tível utilizados por máquinas que, por

circularem na via pública, têm matrí-cula especial, mas não são considerados veículos matriculados.

A data de produção de efeitos da alteração ou da cessação de atividade – no que respeita à prática de operações intracomunitárias – passa a coincidir com a data de apresentação das respeti-vas declarações, inviabilizando a retro-atividade nos dados disponibilizados para consulta, quer dos intervenientes em operações intracomunitárias, quer por parte das administrações fiscais dos Estados-Membros. Confere-se à AT a possibilidade de alterar oficiosamente os elementos relativos à atividade do contribuinte. Esta norma estabelece medidas antiabuso e de combate à frau-de, de forma a permitir ao fisco atuar, restringindo a presença de operadores inativos ou presumivelmente inativos, nos registos disponibilizados aos agen-tes económicos e às administrações fis-cais, quando estejam em causa opera-ções de natureza intracomunitária.

Alterações à legislação complementar

Foi aditada uma alínea que se des-tina a facilitar a anulação retroativa de liquidações oficiosas de IVA realizadas durante um período de inatividade do sujeito passivo. Com esta alteração, a AT procede à anulação das liquidações oficiosas já emitidas e respeitantes aos períodos posteriores aos efeitos da

cessação. Com o estabelecimento da obrigação de envio por transmissão eletrónica de dados da declaração peri-ódica do imposto, é eliminada a obri-gação declarativa relativa à realização de uma só operação tributável.

A parte dois do diploma respeita a alterações à legislação complementar. Foi alterado o limite estabelecido do regime especial aplicável ao ouro para investimento. Os sujeitos passivos que efetuem operações abrangidas pelo referido regime devem possuir um registo com a identificação de cada cliente com quem realizam operações de montante igual ou superior a três mil euros. As IPSS e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa têm, este ano, direito à restituição de um montante equivalente a 50% do IVA suportado nas aquisições de bens ou serviços re-lacionados com construção, manuten-ção e conservação de imóveis e aquisi-ção de bens ou serviços relativos a bens de ativo fixo tangível, com exceção dos veículos e respetivas reparações.

Foi alterado o Regime de Renún-cia à Isenção nas operações relativas a bens imóveis. É fixado em três anos consecutivos o período a partir do qual os sujeitos passivos que utilizem bens imóveis – relativamente aos quais houve direito à dedução total ou par-cial do imposto que onerou a respetiva aquisição – são obrigados a regularizar, de uma só vez, as deduções efetuadas (nos termos do CIVA), considerando que os bens estão afetos a uma ativida-de não tributada, quando, ainda que não seja afeto a fins alheios à ativida-de exercida pelo contribuinte, o bem imóvel não seja efetivamente utilizado em fins da empresa.

Autoridade Tributária esclarece mudanças em sede de IVA

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FISCALIDADE

A situação da carga fiscal é cumu-lativa. O Estado fica viciado porque a medida tem de ser mantida nos anos subsequentes. Por outro lado, um país só é de facto competitivo se existir a necessária estabilidade fiscal, o que não acontece em Portugal. Quem o afirma é Carlos Lobo, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que chama a atenção para a necessidade de um sistema fiscal cordial, independen-temente de se saber quem tem razão.

O aumento da carga fiscal pren-de-se com o objetivo de redução do défice. Se for reduzida, assiste-se a uma perda brutal de receita, refere Carlos Lobo em entrevista concedida à revista TOC. Mas há outro proble-ma. “Como estamos em situação de redução do PIB, a meta está sempre a correr à nossa frente. O melhor ba-rómetro é aferir se um euro de aus-teridade é mais do que um euro no efeito do PIB e, se assim acontecer, como está a suceder, a operação tor-na-se impossível.” Para o antigo go-vernante, o problema do país nunca foi de receita, mas de despesa pública. O aumento ao nível da estrutura da própria receita significou uma exaus-tão total do nível da procura interna.”

A atual política configura uma re-dução da procura interna, com vista a limitar importações. Face à estrutura do sistema fiscal atual, a classe média fica sem capacidade aquisitiva. Carlos Lobo avança com um exemplo: “Se a classe média só tinha 10% de poder de aquisitivo para despesa e se a carga fiscal sobe na mesma proporção, a re-ceita do IVA não cai 10%, mas 100%. Na prática, os 10% de poder aquisiti-

vo são anulados por completo. Logo, o efeito ao nível dos impostos sobre a despesa é mais do que proporcional. O que nos distingue do modelo de ajus-tamento dos anos oitenta é que nessa altura havia um ambiente de desvalo-rização da moeda e o Estado – por via da inflação – conseguia a sustentação das contas públicas, agora esse modelo de retirada de poder aquisitivo aos ci-dadãos está a ser feito pela via fiscal.”

Acontece que o Estado é que arre-cada essa receita. O que não pode fazer é cortar de forma cega na despesa para não gerar situações de injustiça e desa-dequação. E refere a este propósito: “É preciso avaliar a condições de eficiên-cia das diversas funções do Estado, da base para o topo. É um processo que dá muito trabalho, mas importa rele-var que se está perante uma oportuni-dade histórica na atual conjuntura.” Ou seja, trata-se de repensar o Estado de baixo para cima. Esse era o rumo que deveria ter seguido. Privilegiou-se, erradamente, uma lógica de cúpula.

Fraude e evasão fiscaisnão vão aumentar

Carlos Lobo não acredita que exista – ou se venha a verificar – um aumento significativo da fraude e da evasão fiscais, porque os sistemas de fiscalização tributária estão bastan-te sólidos e desenvolvidos. Acredita antes que se registará uma redução muito mais do que proporcional da atividade económica. “Os impostos têm um nível ótimo de carga fiscal, quando se ultrapassa esse patamar os agentes desaceleram, com consequên-

cias ao nível da perda de bem estar privado e de receita pública. O Esta-do fica sem receita, o mercado sem esse ganho e a situação das contas pú-blicas degrada-se diariamente.”

Na sua opinião, a máquina fiscal está sobredimensionada, envelhecida e com recursos escassos, que faz milagres com aquilo que possui. O grande pro-blema, todavia, é a falta de adaptação à realidade atual. “Se virmos as autori-dades tributárias dos Estados Unidos ou da Holanda, verifica-se que todos os problemas entre o fisco e os con-tribuintes são resolvidos de uma for-ma dialogada. Em Portugal insiste-se numa ótica permanentemente confli-tual, extremamente legalista e forma-lista, o que é desadequado para uma realidade fiscal essencialmente mate-rial, O resultado é clivagem, contro-vérsia e litigância. A lógica do conflito mina toda a relação de credibilidade e estabilidade que é essencial para se ter um sistema fiscal cordial, independen-temente de se saber quem tem razão.”

Quanto ao OE, admite que só saí-mos da crise com investimento estran-geiro, mas dificilmente o atrairemos se a nossa jurisdição não for competiti-va. “O principal problema do pacote fiscal contido no Orçamento é que Portugal é tido como um Estado com fronteiras. Quando essas delimitações, na prática, não existem. Não nos po-demos fechar nesta redoma fiscal, mas assumirmos as nossas circunstâncias, transformando Portugal num país competitivo, não apenas nas taxas e nas estruturas de tributação, mas aos níveis da credibilidade, da segurança e da estabilidade da norma.”

Carlos Lobo, ex-secretário de Estado, avisa

País não é competitivosem estabilidade fiscal

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FISCALIDADE

Governo admite redução das taxas do IRCO Governo parece estar decidido

a avançar com uma reforma profun-da do IRC, para a qual nomeou uma comissão. Paulo Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, deu a entender essa intenção e não coloca de parte a descida das taxas daquele imposto, de forma a que sejam com-petitivas a nível europeu.

“Da reforma do Estado depende a necessidade de menos impostos sobre as empresas e as famílias”, adiantou o governante durante uma conferência promovida pela consultora Ernst & Young, sob o tema “Reforma do IRC: Uma oportunidade única para Portu-gal”. Considera Paulo Núncio que “só com menos Estado e melhor Estado, no âmbito da redução da despesa pú-blica a par do combate à fraude e à evasão fiscais, será possível reduzir a carga fiscal”. E coloca a possibilidade, assim que possível, de reduzir progres-sivamente as taxas nominais de IRC para que “Portugal se possa aformar como um país fiscalmente competiti-vo, no panorama europeu”.

Na sua intervenção quis deixar claro que este é o ano de uma refor-ma profunda do IRC, mas existem quatro condições essenciais para que a mesma tenha sucesso. Desde logo, a redefinição das bases tributárias, com o alargamento da incidência e a redu-ção das isenções e dos benefícios fis-cais. O segundo aspeto tem a ver com a descida, logo que possível, das taxas de IRC. Não menos importante será a simplificação das obrigações declara-tivas, descendo os custos de contexto. Por último, é fundamental reduzir os níveis de conflitualidade entre os con-tribuintes e o fisco.

A questão das isenções, dos bene-fícios ou dos incentivos fiscais é tida

como essencial, considerando Paulo Núncio que são aspetos que hoje não fazem qualquer sentido e apenas con-tribuem para o agravamento da despe-sa fiscal. Ou seja, o secretário de Esta-do defende a sua revisão urgente, até porque a sua criação obedeceu muitas vezes a opções políticas, cujos funda-mentos já não são justificáveis. De igual modo, “o alargamento da base de incidência pressupõe a necessidade de continuar com firmeza o combate à fraude fiscal, à economia paralela e às situações de subfaturação, para que cada vez mais empresas sejam incluí-das no sistema e paguem os impostos devidos pelos proveitos efetivamente realizados”. A mensagem também se estendeu aos profissionais, na medida em que Paulo Núncio acha que tem de existir uma maior simplificação do IRC, designadamente através de uma melhor articulação com as regras da contabilidade.

Redefinir estrutura das taxas existentes

Paulo Núncio não rejeita a possi-bilidade de se retomar a trajetória de reduzir gradualmente as taxas nomi-nais de IRC. E não só: “É urgente re-definir a estrutura de taxas atualmente existentes, de forma a promover a sim-plificação do imposto, evitando que

sobre o mesmo rendimento incidam três taxas diferentes. Importa simplifi-car e eliminar obrigações declarativas que impendem sobre os contribuintes e reduzir significativamente os custos de contexto.”

Para atrair investimento, o gover-nante acha essencial que se verifique a necessária segurança judicial. Destaca a criação da arbitragem tributária, com mecanismos de resolução célere, como cabe a qualquer Estado democrático. Considera importante a criação de uma equipa especial de juízes que per-mita a resolução daqueles processos fis-cais de maior valor, mas também bas-tante mais complexos. Garante ainda que o Governo está decidido a alargar a rede de tratados internacionais a mais países e renegociar os existentes.

José Gonzaga Rosa, partner da Ernst & Young, apontou o sistema fiscal norte-americano como atrativo para o capital estrangeiro. O sistema britânico também é interessante e poderia ser seguido por outros países europeus. Para tal ser uma realidade, haveria que reduzir taxas, baixar as isenções fiscais e aumentar a base de incidência ao nível da tributação. Ou seja, a sua visão não é muito diferente daquela apresentada pelo secretário de Estado, espera é que se passe à prática, de modo a tornar o IRC bastante mais competitivo.

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FISCALIDADE

O Conselho Europeu insiste que é necessário avançar com as reformas no sentido de garantir o equilíbrio or-çamental. No entanto, chama a aten-ção que é necessário reforçar os esfor-ços de combate à fraude e à evasão fiscais, ao mesmo tempo que devem ser seguidas políticas favoráveis ao crescimento. Será dada prioridade aos trabalhos sobre os dossiês fiscais pen-dentes, como são os casos das propos-tas relativas à tributação da energia, à matéria coletável comum consolidada do imposto sobre as sociedades e a re-visão da diretiva da poupança.

No centro das preocupações do Conselho Europeu, no que respeita à fiscalidade, está o combate à fraude e à evasão fiscais, sendo fundamental que todos paguem a sua quota-parte de impostos. “Por conseguinte, são necessários esforços renovados para melhorar a eficiência da cobrança de impostos e combater a evasão fiscal, nomeadamente através de acordos so-bre tributação da poupança com pa-íses terceiros e progressos rápidos na resolução do problema da fraude em sede do IVA. É necessária uma coope-ração estreita com a OCDE e o G20 para o desenvolvimento de normas acordadas internacionalmente para a prevenção da erosão da base tributá-vel e das transferências de lucros.”

Fica a garantia que a União Euro-peia vai coordenar, de forma efetiva, as suas posições. O Conselho Euro-peu apela a que sejam levados por diante os trabalhos sobre os dossiês fiscais pendentes, como as propostas relativas à tributação da energia, à matéria coletável comum consolida-

da do imposto sobre as sociedades e à revisão da diretiva Tributação da Pou-pança. Regista ainda que os trabalhos sobre a cooperação reforçada, relativa a um imposto sobre as transações fi-nanceiras, estão a avançar.

O Conselho defende que se es-tão a registar progressos substanciais no sentido de assegurar orçamentos estruturalmente equilibrados, “de-vendo os mesmos ser prosseguidos”. Sublinha, em especial, a necessida-de de uma consolidação orçamental diferenciada e favorável ao cresci-mento, recordando as possibilidades oferecidas pelas regras orçamentais em vigor do Pacto de Estabilidade e Crescimento e do Tratado sobre Esta-bilidade, Coordenação e Governação. “Deverá dispor-se de um conjunto adequado de medidas, tanto do lado da despesa, como da receita, incluin-do medidas de curto prazo, destina-das a impulsionar o crescimento e a apoiar a criação de emprego.”

ColaboraçãoÉ necessária uma cooperação estreita com a OCDE e o G20 para o desenvolvimento de normas acordadas internacionalmente

Conselho Europeu quer reforçar combate à fraude e à evasão fiscais

SUBSISTEM INCERTEZAS E RECEIOS NOS MERCADOS FINANCEIROS

Nas suas conclusões, o Conselho Europeu admite que foram feitos esforços, nos últimos anos, para dar resposta aos desafios decorrentes da crise financeira e da crise da dívida orçamental, de forma a preparar o caminho para o regresso a um crescimento sustentável e gerador de emprego e de iniciar uma transição para uma governação económica reforçada.Mas subsistem incertezas nos mercados financeiros. A estagnação da atividade económica prevista para este ano e os níveis elevados de desemprego sublinham a necessidade de acelerar os esforços tendentes a apoiar o crescimento, prosseguindo, simultaneamente, uma consolidação orçamental favorável ao crescimento. Haverá que colocar a tónica na implementação das decisões já tomadas, em particular no que toca ao Pacto para o Crescimento e o Emprego. Em junho, o Conselho Europeu voltará a avaliar as políticas que estão a ser definidas a nível nacional para implementar essas prioridades e vai dar especial atenção à execução do PCE. Acordou ainda em debater nos próximos meses temas específicos com um elevado potencial para gerar crescimento e emprego. Vai também continuar a avaliar os trabalhos que decorrem sobre o aprofundamento da União Económica e Monetária.

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FISCALIDADE

De acordo com os dados da Unidade Técnica de Apoio Orçamental

Aumento do défice vai representar um valor acrescido de 1,5 mil milhões de euros

As coisas não estão a correr bem no que toca à execução orçamental para este ano. Desde logo, o novo dé-fice orçamental acordado com a troi-ka – e que passa de 4,5% para 5,5% do PIB nacional - vai representar um valor acrescido na ordem dos 1,5 mil milhões de euros, como adianta a Uni-dade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) no seu mais recente comuni-cado. As perspetivas não são otimistas, numa altura em que se mantém o agra-vamento da taxa de desemprego.

O aumento de apenas um ponto percentual vai representar qualquer coisa como 1,5 mil milhões de eu-ros, tendo em conta o aumento do défice acima do estimado pelo Or-çamento do Estado. O que significa que vai passar de 7184 para 8700 mi-lhões de euros, informaram os técni-cos daquela unidade independente à Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública da Assembleia da República. A análise realizada pela UTAO assenta na execução orçamen-tal em contabilidade pública (numa ótica de caixa) durante os dois primei-ros meses do ano.

Deste relatório deduz-se que num espaço de tempo de apenas dois meses já existem desvios na execução orça-mental, no âmbito das rubricas relati-vas às receitas fiscais, às contribuições e prestações sociais. A unidade chama a atenção que os novos números não garantem que se esteja perante um desvio relativamente às metas acorda-das muito recentemente. Seja como for, quanto aos itens relacionados com a Caixa Geral de Aposentações e a Segurança Social, o seu agravamento

tem a ver claramente com o pagamen-to de pensões e com os subsídios de desemprego, bem como os incentivos de apoio ao emprego, que se encon-tram a aumentar a taxas mais eleva-das do que estava previsto para este ano. Acontece que as estimativas são de continuidade de um aumento no desemprego e de cada vez mais pedi-dos de reforma antecipada. Colocam--se dúvidas quanto à possibilidade de algumas das metas serem alcançadas, dependendo ainda de outros factores, alguns dos quais de carácter externo.

Não se conhecem metaspara os próximos trimestres

A análise do documento revela que no que se refere às novas metas estabelecidas com a troika, em ter-mos do défice a nível quantitativo, no que respeita ao primeiro trimes-tre, são pouco exigentes. As mesmas correspondem a um valor de cerca de 1,9 mil milhões de euros. A UTAO acredita que as metas definidas deve-rão ser alcançadas, no entanto, exis-te um problema grave, é que não se conhecem as metas definidas para os próximos trimestres. De facto, o mi-nistro das Finanças, Vítor Gaspar, não apresentou aos contribuintes quais as metas a cumprir, no âmbito da sétima avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF). Só com o conhecimento dessas metas é que será possível apresentar números mais concretos.

Mas, à partida, há aspetos preo-cupantes, como se pode inferir dos resultados revelados pela UTAO, rela-

tivamente aos dois meses de execução orçamental. Apesar dos esforços que têm sido feitos, a realidade é que se nota um aumento da despesa corrente primária, em termos homólogos. O que sucede em resultado das transfe-rências para a Caixa Geral de Aposen-tações e da Segurança Social, como referido, sobretudo devido à acelera-ção no crescimento do pagamento de pensões e de subsídio de desemprego. Nos dois casos a aumentarem a um ritmo superior ao que estava previsto em sede do Orçamento do Estado.

As receitas fiscais são outro proble-ma que se coloca ao nível da execução orçamental. Vários especialistas afir-mam que será muito difícil garantir a receita fiscal prevista. A tendência será mesmo para uma estagnação ou até uma descida da receita fiscal nos próxi-mos tempos, tendo em conta o contex-to extremamente complicado em que operam as empresas e a forma como estão em quebra os rendimentos do trabalho. Mais uma vez, o desemprego não pode ser esquecido no que toca à receita fiscal. Mesmo as grandes fortu-nas são cada vez menos, o que poderá indicar uma saída de capitais do país, entre vários outros fatores.

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SETORES

Revogada a figura do administrador de insolvência

Instituído o estatutode administrador judicial

Foi publicada a lei que institui o estatuto do administrador judicial e revoga o estatuto do administrador de insolvência. Destaque para a criação do instituto “administrador judicial”, que passa a abranger as designações de “administrador judicial provisório”, ad-ministrador da insolvência” ou “fiduciá-rio”, de acordo com as funções exercidas no processo judicial, explica o gabinete de advogados PLMJ. Há também novas condições de acesso à atividade.

Passa a ser obrigatória a frequên-cia de um estágio profissional promo-vido pela entidade reguladora, que comportará uma componente teórica com a duração de dois meses e uma componente prática com a duração de quatro meses, findas as quais se reali-zará um exame de admissão. O can-didato admitido é inscrito nas listas oficiais. Destaque ainda para o facto de competir à entidade a definição do “numerus clausus”, em função das necessidades efetivas de recursos hu-manos para o exercício da atividade e organizar o estágio, designadamen-te através da nomeação de patrono a cada um dos candidatos inscritos.

Os administradores judiciais pas-sam a ter novos direitos. Desde logo, equiparação aos agentes de execução para efeitos de acesso aos tribunais, conservatórias e serviços de Finanças. Terá de possuir documento de identi-ficação profissional e há lugar a distri-buição equitativa das nomeações nos processos. Isto sem prejuízo do juiz poder levar em conta as indicações que sejam feitas pelo próprio devedor ou pela comissão de credores, se existir

– e cabendo a preferência na primeira designação ao administrador judicial provisório em exercício de funções à data da declaração da insolvência – a nomeação processa-se, em regra, por meio de sistema informático que asse-gure a aleatoriedade da escolha e dis-tribuição em idêntico número de ad-ministradores judiciais nos processos.

No que respeita aos deveres, estes profissionais só devem aceitar as no-meações efetuadas pelo juiz, caso dis-ponham dos meios necessários para o acompanhamento dos processos e de-vem contratar seguro de responsabili-dade civil obrigatório. Por outro lado, devem frequentar as ações de forma-ção contínua definidas pela entidade reguladora. Ao subcontratar qualquer entidade, o administrador judicial terá de celebrar com o subcontratante um contrato escrito, no qual se definem o objeto contratual e os direitos que as-sistem a ambas as partes.

Estatuto aplicável aos trabalhadores que exercem funções públicas

Ao processo disciplinar dos admi-nistradores judiciais passa a aplicar-se subsidiariamente o estatuto discipli-nar dos trabalhadores que exercem

funções públicas. A entidade regula-dora, na sequência de processo disci-plinar, pode, por deliberação funda-mentada, suspender preventivamente o profissional contra o qual tenha sido instaurado processo disciplinar ou contra-ordenacional, até à decisão dos referidos processos, a fim de prevenir a ocorrência de atos ilícitos. Pode ainda admoestar por escrito o administra-dor judicial ou instaurar processo de contraordenação, cujas coimas são, de uma maneira geral, elevadas.

Destaque ainda para a obrigação que passa a recair sobre o juiz, cre-dores, devedor e Ministério Público, de comunicar à entidade reguladora a violação reiterada por parte dos ad-ministradores judiciais de quaisquer deveres a que os mesmos estejam su-jeitos, no âmbito do processo especial de revitalização ou do processo de in-solvência, para eventual instauração de processo disciplinar ou de contra-ordenação. Por último, importa referir o facto de passar a estar expressamente prevista a possibilidade de recusa pelo administrador de insolvência de ela-borar um plano de insolvência se re-cursar que a remuneração que lhe seja fixada não é adequada.

Os profissionais em funções de-vem requerer junto da entidade regu-ladora a sua inscrição nas listas oficiais de administradores judiciais, desde que demonstrem o seu exercício efeti-vo de funções, que não se encontrem em qualquer situação de incompatibi-lidade para o exercício da atividade e sejam pessoas idóneas para o exercício da atividade de administrador judicial.

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SETORES

O setor agrícola passou a contar com novas regras. Todos os agricul-tores têm de constar dos registos da Autoridade Tributária e quem obti-ver ganhos superiores a 10 mil euros fica sujeito a IVA. As associações agrícolas contestam as novas regras e exigem alterações. O novo regime foi prorrogado até ao final de maio.

Caso se verifiquem alterações aos elementos contidos na declara-ção de início de atividade, deverá ser apresentada uma declaração de alterações a indicar essas mesmas al-terações. Se um agricultor se enqua-drar no regime simplificado de tri-butação dos rendimentos com um

volume de negócios inferior a 10 mil euros, poderá continuar isento de IVA, todavia, nesta situação, terá também de entregar uma declaração de alterações. Se os prazos não fo-rem cumpridos haverá lugar a coi-mas. No caso do atraso ser superior a um mês, a coima poderá ascender a mais de 70 euros e se não forem cumpridos os requisitos em sede de IVA, as coimas variam entre os 150 e os 3750 euros.

Os contribuintes têm de apre-sentar o volume de negócios do ano passado, entendendo-se neste âmbi-to o valor de todas as transmissões de bens e prestações de serviços, à

exceção das operações financeiras e de seguros, quando constituam ope-rações acessórias, o mesmo se apli-cando às locações ou transmissões de imóveis. No volume de negócios não se incluem os subsídios ou as subvenções, no âmbito da atividade da exploração agrícola. Muitos agri-cultores passam a estar enquadrados no regime geral do IVA, passando a liquidar este imposto em todas as operações efetuadas. Esta transição de regime vai possibilitar a dedução do imposto suportado, relativamen-te a bens do ativo imobilizado.

Os sujeitos passivos que garan-tam as necessárias condições para

Novas regras no setor agrícola

Trabalhadores agrícolas têm de estar registados nas Finanças

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35CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

SETORES

beneficiarem do regime especial de isenção ou que pretendam optar pelo regime de tributação, deverão optar por tal regime na declaração de início de atividade. Convém que os profissionais estejam o mais aten-tos possível à nova legislação, já que a mesma implica alterações conside-ráveis ao nível fiscal e noutras áreas, como é o caso da Segurança Social. O que o Governo pretende está a ser contestado pelos agricultores, desig-nadamente por parte das confedera-ções agrícolas.

Subsistem muitas dúvidas

A Confederação dos Agricul-tores de Portugal (CAP) quer que o Executivo preste esclarecimentos sobre algumas matérias, já que sub-sistem várias dúvidas. Refere a con-federação: “Deverá ser dada especial atenção aos valores das ajudas pagas pelo IFAP aos agricultores e que de-vem ser comunicadas à Autoridade Tributária e Aduaneira, em relação ao ano passado, e às suas conse-quências para os agricultores com uma idade avançadas que desenvol-vem uma agricultura orientada para o consumo familiar.”

Além disso, refere a CAP que se deverá ter em conta os factores de produção na agricultura, que não estão excluídos da obrigação de emissão de guias de transporte e res-petiva comunicação, “o que não faz sentido e não é, de forma alguma, viável, atendendo à natureza, ao ca-riz e aos locais de desenvolvimento da atividade agrícola”. Chama ainda a atenção para a necessidade de rea-lizar ações de sensibilização e trans-missão de conhecimento junto das entidades fiscalizadoras do regime de bens em circulação.

A Confederação Nacional de

Agricultura (CNA) é de opinião que o Governo está a complicar ainda mais o contexto fiscal e que se cor-re o risco de riscar do mapa muitos pequenos agricultores que não têm condições de cumprir as novas exi-gências. A Confederação das Coo-perativas Agrícolas defende que se está a criar “um clima de instabili-dade”, pelo pediu a suspensão destas medidas. Há ainda quem considere que se está assim a penalizar o mer-cado de proximidade e a inviabili-zar o consumo e que mais não é do que a continuidade de uma política de garantir receita fiscal a qualquer custo.

Prorrogado prazo para novas obrigações fiscais

O Governo acabou por dar ra-zão a alguns dos pedidos das asso-ciações de agricultores e decidiu alargar o prazo para os agricultores se registarem nas Finanças ou co-municarem as respetivas alterações de atividade. A primeira data res-peitava a 1 de abril, o que se reve-lou inviável para muitos agriculto-res, até porque subsistiam muitas dúvidas quanto ao novo regime. Perante as questões, o Governo jul-

gou conveniente permitir um alar-gamento daquele prazo. De notar que as declarações submetidas até 31 de maio produzem efeitos à data da entrada em vigor do novo regi-me, portanto 1 de abril passado, refere a Autoridade Tributária em comunicado.

Quanto ao facto do novo regime estar a ser contestado por parte das associações de agricultores e confe-derações, o Ministério das Finanças argumenta que o fim do regime de isenção do IVA para os agricultores resultou de uma decisão do Tribu-nal de Justiça da União europeia, considerando que se tratava de um princípio contrário ao disposto na Diretiva IVA. A obrigatoriedade de declaração de início ou reinício de atividade para todos os agricultores também tem sido objeto de con-testação. No caso dos rendimentos serem superiores a dez mil euros anuais, os agricultores passam a es-tar sujeitos a uma taxa mínima de IVA de 6%, isto para serviços tão comuns como podas ou armazena-gem de produtos. Toda e qualquer atividade comercial relacionada com a agricultura tem de ser decla-rada início de atividade e fica sujeita àquele imposto.

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36 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

A Comissão Europeia adotou a proposta que estabelece os elementos específicos do imposto sobre as tran-sações financeiras (ITF) e cuja apli-cação decorrerá no âmbito de uma cooperação reforçada. É preconizada a tributação de todas as transações que tenham uma relação com a Zona ITF e a aplicação das taxas de 0,1% às ações e obrigações e 0,01% aos de-rivados. Uma vez aplicado pelos 11 Estados-Membros, o imposto deverá gerar receitas entre 30 e 35 mil mi-lhões de euros por ano.

A proposta agora adotada apre-senta algumas alterações em relação à proposta inicial, a fim de ter em conta o facto do imposto vir a ser aplicado a uma escala geográfica mais reduzida do que inicialmente previsto. Estas alterações pretendem, sobretudo, ga-rantir a clareza jurídica e reforçar as disposições contra a evasão e a fraude fiscais. Adianta a Comissão sobre a matéria: “Com a atual proposta estão reunidas todas as condições para que um imposto comum sobre as transa-ções financeiras se torne uma realida-de na União Europeia. Está-se peran-te um imposto justo e tecnicamente sólido, que reforçará o mercado único e refreará os comportamentos especu-lativos irresponsáveis.” É ainda fei-to um apelo aos Estados-Membros para que ajam com determinação e se comprometam a impulsionar e a concretizar o primeiro ITF regional a nível mundial.

O imposto em causa tem três objetivos centrais, tendo em conta o atual contexto. Desde logo, visa re-forçar o mercado único, reduzindo

para o efeito o número de abordagens nacionais divergentes em matéria de tributação das transações financeiras. Em segundo lugar, pretende garantir que o setor financeiro dê um contri-buto justo e substancial para as recei-tas públicas. Finalmente, pretende apoiar as medidas normativas desti-nadas a incentivar o setor financeiro a realizar atividades mais responsáveis e orientadas para a economia real.

Explica a Comissão que o ITF terá taxas reduzidas, uma base alargada e redes de segurança contra a deslocali-zação do setor financeiro. Aplicar-se-á o princípio da residência, isto é, o im-posto será devido se uma das partes na transação estiver estabelecida num Estado-Membro participante, inde-pendentemente do local de realização da transação. Esta situação verifica-se tanto se a instituição financeira que participar na transação estiver estabe-lecida na zona ITF, como se estiver a agir em nome de uma parte estabele-cida nessa zona.

Princípio da emissão

Como garantia suplementar con-tra a evasão fiscal, a proposta introduz o “princípio da emissão”. Ao abrigo deste princípio, os instrumentos fi-

nanceiros emitidos nos 11 países in-tervenientes serão tributados aquan-do da sua transação, mesmo que quem os transacione não esteja esta-belecido na zona do imposto sobre as transações financeiras. Mas a propos-ta inclui ainda disposições explícitas contra o abuso.

O ITF não se aplicará às ativida-des financeiras quotidianas dos cida-dãos e das empresas – por exemplo, empréstimos, pagamentos, seguros ou depósitos, a fim de proteger a eco-nomia real. Também não se aplicará às atividades tradicionais dos bancos de investimento no contexto da an-gariação de capital, nem às transações financeiras realizadas no âmbito de operações de reestruturação. Exclui ainda as atividades inerentes ao refi-nanciamento, à política monetária e à gestão da dívida pública. Assim, estão isentas de imposto as transações com os bancos centrais e o BCE, com o Fundo Europeu de Estabilidade Fi-nanceira e o Mecanismo Europeu de Estabilidade, tal como as transações com a União Europeia.

A proposta de diretiva ainda será debatida pelos Estados-Membros, com vista à sua aplicação ao abrigo da cooperação reforçada. Todos os países da União podem participar nos deba-tes sobre a proposta, mas só aqueles que participam na cooperação refor-çada terão direito de voto e a propos-ta deverá ser aprovada por unanimi-dade para que possa ser aplicada. O Parlamento Europeu também será consultado sobre esta matéria. Portu-gal encontra-se entre os 11 Estados--Membros que aprovam o imposto.

SETORES

Comissão adota proposta de imposto sobre as transações financeiras

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38 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

SETORES

O Decreto-Lei nº 18/2013, de 6 de Fevereiro, transpôs parcialmen-te para a ordem jurídica interna a Diretiva nº 2010/78/UE, de 24 de novembro, que altera um leque alar-gado de diretivas do setor financeiro, no que diz respeito às competências da Autoridade Bancária Europeia (EBA), da Autoridade Europeia dos Seguros e Pensões Complementares de Reforma (EIOPA) e da Autorida-de Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA), também designada por Diretiva Omnibus I.

Esta diretiva estabelece os deveres

de cooperação entre as autoridades nacionais e as novas autoridades eu-ropeias. A cooperação traduz-se num conjunto de novos deveres de infor-mação a cargo do Banco de Portugal, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e do Instituto de Seguros de Portugal, tendo em conta a neces-sidade de permitir às corresponden-tes autoridades de supervisão euro-peias o exercício de competências no âmbito da coordenação da supervisão no mercado interno. De notar que as ESA (as três autoridades europeias de supervisão) terão um papel impor-

tante na divulgação de informação relativa às entidades reguladas, em articulação com os meios de divul-gação de informação das autoridades de supervisão nacionais, como são os casos do registo de entidades regula-das, a divulgação dos prospetos ou as disposições nacionais de natureza prudencial aplicáveis aos regimes de planos de pensões profissionais.

A transposição das alterações in-troduzidas pela Diretiva nº 2010/73/UE, de 24 de dezembro, tem como objetivo contribuir para a redução dos encargos associados à obrigação

No âmbito do setor financeiro

Diretiva estabelece deveresde cooperação entre as autoridades nacionais e comunitárias

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39CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

de divulgação de prospeto em caso de oferta pública de distribuição de valo-res mobiliários ou da sua admissão à negociação em mercado regulamen-tado. Uma das principais alterações introduzidas ao Código dos Valores Mobiliários respeita às normas sobre a categorização dos investidores, pas-sando a ser consagrado um conceito único de investidor qualificado, tan-to para efeitos do regime das ofertas públicas, quer para efeitos das regras relativas aos deveres de conduta nas atividades de intermediação financei-ra, eliminando assim algumas dispari-dades na classificação dos investidores que resultavam do regime anterior.

Uma outra importante altera-ção respeita ao aumento para 150 do número mínimo de pessoas que sejam investidores não qualificados, para efeitos de qualificar uma oferta de valores mobiliários como oferta pública. Além disso, o valor total da oferta de distribuição para efeitos de aplicação do regime das ofertas pú-blicas é aumentado, sendo ainda cla-rificado que a base de cálculo desses limites tem por referência as ofertas realizadas na União Europeia. É ain-da aumentado o valor nominal uni-tário a partir do qual uma oferta de distribuição de valores mobiliários

não está sujeita ao regime das ofertas públicas, designadamente ao dever de divulgação de prospeto.

Requisitos de informaçãoe equivalência

A exceção à obrigação de divul-gação de prospeto no caso de ofertas dirigidas a trabalhadores ou mem-bros dos órgãos de administração é alargada, designadamente aos casos em que o emitente não tenha sede na União Europeia, desde que estejam verificados os requisitos de informa-ção e equivalência aplicáveis. Tendo presente que a distribuição de valores mobiliários a destinatários finais pode traduzir-se numa cadeia de ofertas pú-blicas sucessivas, prevê-se que, no caso de ofertas públicas subsequentes por intermediários financeiros, estes não estão obrigados a elaborar um novo prospeto, podendo utilizar para efei-tos dessas ofertas subsequentes o pros-peto válido previamente divulgado.

É ainda reconhecida a neces-sidade de compatibilizar o regime das ofertas públicas do Código dos Valores Mobiliários com a realida-de das ofertas em cascata, nomea-damente daquelas em que o preço é variável em função da evolução do mercado ou em que a aceitação se traduz numa imediata liquida-ção da posição, tendo-se afastado a aplicação de determinadas normas incompatíveis com as caraterísticas destas ofertas e atribuído compe-tências específicas à CMVM para concretizar por regulamento requi-sitos específicos destas ofertas face ao regime geral.

Foram igualmente simplifica-dos os requisitos relacionados com a disponibilização do prospeto e eli-minada a obrigação de divulgação do documento de consolidação da informação anual. As regras relativas ao conteúdo do sumário do prospeto são alteradas, no sentido de assegurar que o documento presta as informa-ções fundamentais aos investidores de forma clara, concisa e harmoniza-da na UE, permitindo a comparação de sumários de produtos semelhantes e que os investidores disponham das informações essenciais para tomar uma decisão.

Valor

É ainda aumentado o valor nominal unitário a partir do qual uma oferta de distribuição de valores mobiliários não está sujeita ao regime das ofertas públicas

SETORES

PUB

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40 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) considera que o Governo e a troika deveriam as-sumir o erro e que a recuperação não pode ser realizada por via da receita fiscal, mas antes pelo investimento na economia real. A carga fiscal é enten-dida como excessiva e defende que é importante enveredar pela redução do IVA e pela criação do crédito fiscal.

A confederação entende que, no atual contexto, é fundamental garan-tir a necessária liquidez às empresas. O que passa por introduzir alterações ao nível fiscal. Só assim será possível relançar a economia, na perspetiva daquela entidade. Um primeiro aspe-to tido como essencial é a redução da taxa de IVA de 23% para 19%, tendo em conta a melhoria da cobrança des-te imposto e a possibilidade de incen-tivar o consumo interno. Por outras palavras, a CCP quer que os respon-sáveis políticos e a própria troika as-sumam que o crescimento não pode acontecer pelo lado da receita, mas pelo incentivo ao desenvolvimento empresarial. O programa de resgate ao país está excessivamente centrado nas receitas fiscais, o que só é possível se as empresas estiverem ativas.

A CCP defende ainda duas outras medidas fiscais para impulsionar o crescimento. Por um lado, a reposi-ção da taxa reduzida de IRC (12,5%) para as empresas de menores dimen-sões e a criação de um crédito fiscal que permita a dedução integral dos lucros reinvestidos. O que se traduz, em termos muito concretos, num ali-viar da atual carga fiscal, a qual está a asfixiar a atividade económica.

Mas só uma política fiscal mais

competitiva não é suficiente, é ne-cessário também tomar medidas do lado do investimento. A entidade associativa defende o aumento do crédito disponível e a descida do respetivo custo junto das pequenas e médias empresas, o que poderá ser feito através do desenvolvimento de um banco de investimento ou por via da Caixa Geral de Depósitos, en-quanto banco público no que respei-ta ao financiamento prioritário deste tipo de empresas.

Quanto ao QREN, a CCP quer que os novos programas de apoio às empresas exportadoras sejam defi-nidos de modo a incluírem todas as empresas que estão inseridas nas res-petivas cadeias de valor de bens e ser-viços transacionáveis. A confederação apela sobretudo a que sejam liberta-dos mais recursos para a economia real, ajustando a consolidação finan-ceira ao ciclo económico e reduzindo os custos com o serviço da dívida. A política fiscal e a estratégia económi-ca têm de garantir o imprescindível equilíbrio, o que não está a suceder neste momento.

CCP exige redução do IVAe criação do crédito fiscal

SETORES

PORTUGAL COM MAIOR CARGA TRIBUTÁRIA

DA OCDE SOBREOS SALÁRIOS

Um estudo da OCDE revela que Portugal teve a maior queda nos salários, no ano passado. No entanto, continua acima da média dos países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico. O estudo indica que a carga fiscal sobre os salários (inclui o IRS e as contribuições para a Segurança Social) registou uma descida de 1,3%, face a 2011, naquela que foi a maior descida dos 34 países analisados. A redução ficou a dever-se à não aplicação da sobretaxa sobre os salários, agora em vigor. A carga fiscal sobre os salários subiu em 19 dos países observados e baixou em 14, mantendo-se estável apenas no caso do Chile. Em Portugal, a taxa global fixou-se em 36,7% do salário total recebido. Espanha assistiu ao maior agravamento dos impostos sobre o rendimento do trabalho.

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41CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) continua a insistir junto da direção-geral da Autoridade Tributária, no sentido de se proceder à publicação do movimento de trans-ferências. O sindicato já interpôs, en-tretanto, quatro ações judiciais relati-vamente aos dois últimos orçamentos do Estado, com o objetivo de acaute-lar os direitos dos seus associados. As relações entre a tutela e os trabalha-dores dos impostos continuam a cara-terizar-se pela falta de entendimento em matérias tidas como fundamen-tais por parte dos profissionais.

Relativamente ao movimento de transferências, lamenta o sindicato que ainda não exista qualquer data prevista para a sua publicação. “Sen-do este um assunto de premente re-solução – pelo sentimento de injusti-ça que origina e pelas consequências económicas e familiares que acarreta, vamos manter a insistência junto do diretor-geral para que a legítima expetativa dos trabalhadores e a le-galidade sejam alcançadas e cumpri-das.” Faz ainda notar que quando ocorrer a anunciada fusão/extinção de serviços da Autoridade Tributária, tornar-se-á obrigatória a abertura de um movimento extraordinário de transferências.

Uma outra matéria que suscita preocupação ao sindicato prende-se com o concurso para IT. Neste âmbi-to, é aguardada a publicação da lista de candidatos admitidos e excluídos a exame. O STI apela para a urgência deste processo, tendo em conta que a maior parte dos candidatos está a re-alizar um elevado investimento, quer em termos de tempo despendido,

quer em termos financeiros, no que respeita à sua formação.

O STI insiste também na neces-sidade de avançar com o processo de negociação de carreiras. É aguardada a entrega, por parte da tutela, da pro-posta negocial, já com o articulado definido. “Logo que seja entregue o documento, procederemos à sua di-vulgação e será iniciado o processo de auscultação e de recolha dos con-tributos dos trabalhadores, o qual será indispensável para elaborar e apresentar a contraproposta.”

A estrutura sindical está a pre-parar uma ação judicial referente à sujeição das pensões de aposentação à contribuição extraordinária de so-lidariedade. Refere o sindicato a este propósito: “Esta contribuição extra-ordinária, inscrita no Orçamento do Estado, não é mais do que um aten-tado aos direitos dos aposentados, criando uma clara discriminação em relação aos trabalhadores no ativo. O

STI interpõe uma ação judicial, com vista à reposição da legalidade.”

Interposição de quatroações judiciais

Os trabalhadores dos impostos já avançaram com quatro ações judi-ciais, no âmbito dos dois anteriores orçamentos do Estado, consideran-do que é a própria legalidade que está a ser colocada em causa por par-te do poder político. A primeira ação judicial de impugnação decorreu da redução dos vencimentos no mês de janeiro do ano passado, com a entra-da em vigor da Lei do Orçamento do Estado. Um outro processo respeita a uma ação judicial na sequência da aprovação do OE para 2011, em que se pretende a desaplicação de um ar-tigo, o que resulta numa alteração da situação remuneratória dos associa-dos do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos.

Mas foram ainda entregues mais duas ações. Trata-se de uma ação ad-ministrativa comum de condenação em indemnização, por responsabili-dade civil extracontratual, decorrente dos prejuízos patrimoniais que foram causados pela atuação ilegal do Esta-do, que determinou a suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal. Foi interposta também uma ação judicial na sequência da imposi-ção da suspensão do pagamento dos subsídios de férias e de Natal ou equi-valentes aos aposentados que auferem uma pensão mensal superior a 1 100 euros e/ou superior a 600 euros, e não excede o valor de 1 100 euros, de acordo com o OE do ano passado.

STI exige publicação do movimento de transferências e interpõe ações judiciais

CarreirasO STI insiste tambémna necessidade de avançarcom o processo de negociaçãode carreiras.

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42 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

ConvocatóriaA assembleia geral ordináriareúne por convocaçãodo presidente.

A Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) apresentou o respetivo projeto de alterações ao Es-tatuto, no âmbito da Lei das Associa-ções Públicas Profissionais. As altera-ções agora introduzidas procuram ir de encontro às necessidades do mer-cado e representam uma atualização no que toca à atividade profissional dos revisores oficiais de contas.

Dos estatutos consta a participa-ção na elaboração de legislação que diga respeito ao acesso e exercício da profissão, conceder, em exclusi-vo, o título profissional de ROC, conceder títulos de especialidade profissional, bem como reconhecer

as qualificações profissionais obtidas fora do território nacional de regu-lamentos europeus ou de convenção internacional. De notar que o cargo de titular de órgão da Ordem é in-compatível com o exercício de quais-quer funções dirigentes na função pública e com qualquer outra função com a qual se verifique um conflito de interesses. Além disso, o exercício de funções na entidade reguladora é gratuito.

A assembleia geral é a assembleia representativa de todos os ROC que sejam pessoas singulares, cabendo a cada um, um voto e aprova o códi-go de ética, o regulamento eleitoral,

o regulamento disciplinar e demais regulamentos. A assembleia geral ordinária reúne por convocação do presidente. Os membros da mesma, o bastonário e os membros do conse-lho diretivo, disciplinar e fiscal serão eleitos pela assembleia geral eleitoral – através de escrutínio secreto – sen-do o seu mandato de três anos. Os mandatos dos titulares dos órgãos da Ordem são renováveis apenas

De acordo com a Lei das Associações Públicas Profissionais

Ordem dos Revisores Oficiais de Contas propõe projeto de alterações ao Estatuto

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43CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

por uma vez. Por sua vez, o conselho superior é o órgão de supervisão ao qual compete dar parecer sobre todos os regulamentos e o código de ética, que deverão ser aprovados pela assem-bleia geral, supervisionar a legalidade da atividade exercida pelos órgãos da Ordem e verificar a conformidade le-gal ou estatutária dos referendos in-ternos.

Em caso de impedimento per-manente ou vacatura do cargo, o presidente da mesa da assembleia geral assumirá interinamente as fun-ções de bastonário até ao termo do mandato, se faltar menos de um ano para a sua conclusão ou até que se realize nova eleição. O novo Estatu-to estabelece ainda que a determina-ção do tempo de trabalho necessário à execução de um serviço de revisão/auditoria será objeto de regulamen-tação do conselho diretivo. No exer-cício de quaisquer outras funções contempladas neste ou noutros di-plomas legais, os honorários serão fixados entre as partes.

Responsabilidade civildos revisores oficiais de contas

Outros aspetos importantes para a profissão estão incluídos na pro-posta de alterações. Todos os pedi-dos, comunicações e notificações ou declarações relacionadas com a profissão entre a Ordem e o ROC ou a sociedade de revisores oficiais de contas, com exceção dos relativos a procedimentos disciplinares, são efe-tuados por transmissão eletrónica de dados, através do balcão único ele-trónico da Ordem. A apresentação de documentos em forma simples dispensa a remessa dos documentos originais, autênticos, autenticados ou certificados. Presume-se que existem fortes indícios de incumprimento

das normas de auditoria sempre que o tempo dispendido na realização do serviço ou os honorários praticados pelos ROC sejam significativamen-te inferiores aos que resultariam dos critérios definidos.

No exercício da sua atividade profissional, a responsabilidade ci-vil dos ROC deve ser garantida por seguro pessoal de responsabilidade civil profissional, com o limite míni-mo de 500 mil euros por cada ato ilícito, feito a favor de terceiros le-sados. No que respeita às sociedades de revisores, o valor de cobertura do respetivo seguro de responsabilida-de civil não pode ser inferior a um milhão de euros por cada ato ilícito, não sendo exigível um valor de co-bertura superior a dez milhões por cada ato ilícito. Não poderão ser ou manter-se inscritos na lista de ROC os que não tiverem a sua responsabi-lidade coberta por seguro.

Os revisores oficiais de contas ou as sociedades de ROC que exerçam funções de revisão legal das contas

numa entidade de interesse público estão impedidos de envolver profis-sionais da sociedade de revisores que tenham sido nos últimos três anos administradores ou quadros diretivos com influência significativa sobre a preparação das demonstrações finan-ceiras dessa entidade de interesse pú-blico.

Quanto à natureza e ao regime das sociedades de revisores, estas podem revistir a natureza de sociedades civis dotadas de personalidade jurídica ou a natureza de sociedades comerciais. No exercício das atividades, as enti-dades ou outras formas de associação serão obrigatoriamente representadas por representante, revisor oficial de contas, de sociedades de ROC suas agrupadas ou associadas. Exclui-se o exercício de revisão legal de contas e emissão da competente certificação legal, a qual será sempre exercida pela sociedade participante na forma de associação.

O exame de admissão à profissão e à Ordem é organizado com vista a assegurar o nível necessário de conhe-cimentos técnicos nas matérias rele-vantes para a revisão legal e auditoria às contas, de acordo com a regula-mentação comunitária. Assim como assegurar a capacidade para aplicar na prática esses conhecimentos.

DocumentaçãoA apresentação de documentosem forma simples dispensaa remessa dos documentosoriginais.

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44 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

Foram muitos os inspetores tributários que se desloca-ram a Barcelos para assistirem a uma conferência sobre os desafios que se colocam à sua profissão, numa organização do IPCA. Uma das principais conclusões é que fiscalistas, inspetores tributários e técnicos oficiais de contas têm de trabalhar em conjunto e não estarem em permanente confli-to. As intervenções foram as mais diversas e extremamente abrangentes. Houve críticas à inspeção tributária, mas tam-bém quem não deixasse de louvar o seu trabalho, sobretudo tendo em conta a falta de recursos. Parece evidente que há ainda muito a fazer para tornar o sistema fiscal mais eficaz e com maior equidade.

Pedro Marinho Falcão falou sobre a temática das mani-festações de fortuna, uma matéria que tanta tinta tem feito correr e que há muitos anos está por resolver. O advogado referiu que 14 mil milhões de euros em fuga a impostos é a conta-corrente neste momento, quando o pacote de cortes previsto pelo Governo é de quatro mil milhões de euros. O que significa que os contribuintes “têm uma elevada capa-cidade de fuga aos impostos, com naturais reflexos naturais na economia paralela”. O que significa que há responsabi-lidades e desafios acrescidos para os inspetores tributários. Defende que o problema deve ser atacado no destino, em vez de ser feito na fonte. O que se traduz na tributação de contribuintes com acréscimos patrimoniais injustificados.

Mas o advogado não deixou de chamar ainda a aten-ção para uma realidade cada vez mais frequente e que ganha mesmo contornos preocupantes. Os contribuintes estão a começar a levantar dúvidas relativamente à administração fiscal e, de uma maneira geral, ganham as causas nos tribu-nais. Referiu os problemas que se verificam na aplicação de artigos da Lei Geral Tributária. O que fica evidente quando o Supremo Tribunal Administrativo, por exemplo, se pro-nuncia, frequentemente de forma oposta.

Rui Morais lançou algumas farpas aos presentes, isto é, aos muitos inspetores tributários. Adiantou: “As inspeções deveriam ter uma atitude pedagógica e não a procura de sanções. Há muitos litígios que só dão prejuízo ao Estado, porque o valor dos processos acaba por ser superior ao das correções.” Por outro lado, o fiscalista e docente universitá-rio, lamentou que o legislador pense mais nos serviços do que nos contribuintes. Colocou várias questões pertinentes, designadamente quais os direitos do contribuinte, para além

de colaborar, se o contribuinte tem ou não o direito ao con-traditório durante a inspeção ou se pode pedir diligências complementares. Estas matérias ficaram sem resposta.

O profissional foi ainda mais longe nas suas afirmações. Considera que “a administração fiscal exerce funções de po-lícia e de inspeção tributária, centrando depois atenções nos abusos da recolha de informações. Mais uma vez, coloca-se a questão de onde fica a privacidade dos contribuintes e se não haverá um excesso em garantir informação por parte da autoridade tributária.

Prós e contras dos métodos indiretos

Em matéria de fiscalidade, os métodos indiretos assumem especial importância, como fez notar o juiz desembargador Fonseca de Carvalho. O recurso a este método assume sempre caráter subsidiário e excecional. “Se não houvesse este méto-do, muitos deixariam de pagar o imposto, o que criaria mais desigualdades. O princípio que imana da aplicação dos méto-dos indiretos é também o respeito pela verdade material”: Por outro lado, admite que serve de combate à fraude e à evasão fiscais e é também um instrumento para que o contribuinte mantenha a sua contabilidade organizada.

Todavia, há o reverso da medalha, ou seja, colocam-se problemas também no que toca ao sistema dos métodos in-diretos: “É da natureza da avaliação indireta um certo grau de incerteza e não basta à autoridade tributária provar os pressupostos para recorrer a este método. O fisco tem de demonstrar que não tem outra possibilidade.”

António Moura Portugal explicitou o problema da com-provação como requisito de dedutibilidade do gasto. Analisou aspetos como a relevância do requisito da comprovação, de acordo com o momento da relação jurídico-tributária, abrin-do dois caminhos, a comprovação como requisito natural e li-gado com os deveres do contribuinte de IRC e a comprovação no contexto inspetivo e da tensão que daí resulta entre o fisco e o contribuinte. Para solucionar estes problemas, considera que a jurisprudência assume um papel de destaque.

ASSOCIATIVISMO

Inspeção tributária deveria ter uma atitude pedagógica e não sancionatória

Metodologia

Em matéria de fiscalidade, os métodos indiretos assumem especial importância.

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45CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

O Conselho de Ministros apro-vou um diploma que transpõe para o ordenamento jurídico nacional a diretiva comunitária relativa à coo-peração administrativa no domínio da fiscalidade.

Através do diploma são intro-duzidas alterações que reforçam a eficácia dos instrumentos de luta contra a fraude e a evasão fiscais, num contexto de globalização e de crescente mobilidade das bases tri-butáveis. Neste âmbito, a coopera-ção entre os Estados-Membros passa a ser regida por regras mais claras e disporá de instrumentos mais efica-zes contra os fenómenos da fraude e da evasão fiscais no contexto interna-cional, evitando perdas significativas

de receitas fiscais. De notar que as entidades comunitárias têm produ-zido bastante legislação nos últimos tempos, sobretudo para fazer face a esquemas de abuso fiscal cada vez mais complexos. Por outro lado, tem desenvolvido esforços para conscien-

cializar os governos da importância de uma maior harmonização fiscal. Têm sido dados passos importantes especialmente ao nível do IVA, em que é possível chegar a uma coope-ração efetiva entre os Estados-Mem-bros.

A Autoridade Tributária dis-ponibiliza no seu site o manual de integração de software relativo à comunicação dos documentos de transporte. O documento descreve os procedimentos e requisitos neces-sários à comunicação de dados dos documentos de transporte à Autori-dade Tributária e a Aduaneira.

Este documento destina-se a apoiar as empresas ou indivíduos que desenvolvam e/ou comercializem software para os sujeitos passivos. Os produtores de software são responsá-veis por desenvolver programas que cumpram com os requisitos legais

da comunicação dos documentos de transporte e, como tal, devem guiar-se pelas especificações produzidas pela AT para este efeito de comunicação.

O contribuinte é responsável pelo envio e pelo conteúdo da mensagem, uma vez que utiliza as suas creden-ciais no portal das Finanças (utili-zador e senha). Estas credenciais só podem ser conhecidas pelo sujeito passivo, devendo o software produzi-do estar preparado para solicitar estas credenciais, sempre que necessário, à comunicação dos dados. Cada sof-tware é identificado perante a AT através de um certificado SSL emiti-do pelo produtor de software e assi-nado digitalmente pelo fisco através de processo de adesão disponível no site e-fatura.

ASSOCIATIVISMO

Transposta diretiva para maior cooperação no domínio da fiscalidade

AT disponibiliza manualde integração de software

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46 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

A APOTEC mostrou-se satisfeita com a instrução do Banco de Portu-gal que aumenta o limiar de isenção de reporte para 100 mil euros e isen-ta de reporte as entidades singulares. A instrução nº 3/2013 é relativa às estatísticas das obrigações e posições com o exterior.

Considera a associação que o au-mento do limiar de isenção possibili-ta que um elevado número de agen-tes económicos fique dispensado deste novo reporte, sendo possível compensar a natural perda de infor-mação nalgumas rubricas com re-curso a metodologias de estimativas. As operações e posições no exterior das pessoas singulares são necessárias para a compilação das estatísticas da

balança de pagamentos e da posição de investimento internacional, po-dendo ser estimadas com base em fontes alternativas, entretanto dispo-níveis.

Em causa está o aumento do limiar de isenção de reporte para 100 mil euros, considerando o to-

tal anual de operações económicas e financeiras com o exterior. Implica a isenção de reporte para entidades singulares, incluindo neste conceito os empresários em nome individual. Também inclui a isenção de reporte de operações relacionadas com des-locações, estadas e transportes que constituam despesas auxiliares à ati-vidade da empresa e a determinação do início de reporte por parte das empresas que, estando isentas, regis-tem num determinado mês opera-ções acima dos 100 mil euros. Estas alterações decorreram da reflexão e das análises desenvolvidas pelo Ban-co de Portugal, com a colaboração das associações empresariais e ordens profissionais.

Os revisores oficiais de contas querem ter um papel mais interven-tivo nos âmbitos da sustentabilidade e do empreendedorismo. As ações definidas para este ano têm como um dos principais objetivos poten-ciar a estabilidade das empresas, com o ROC a “atuar enquanto conselhei-ro das organizações”.

“A responsabilidade do revisor encontra-se acrescida neste período de agravamento da situação econó-mica e financeira, uma vez que traba-lha junto das organizações. O esfor-ço da Ordem centra-se em garantir que a profissão desempenha uma pa-pel relevante no reforço da sua cre-dibilidade e utilidade, bem como na

melhoria da transparência dos pro-cessos implementados, ajudando a criar um clima de maior estabilidade e confiança entre os agentes econó-micos”, de acordo com José Azevedo Rodrigues, bastonário da OROC.

O plano de atividades contempla o reforço da eficácia e da supervisão da atividade de auditoria e a forma-

ção contínua de profissionais. “Es-pecial atenção vai ter a discussão de caráter técnico sobre a profissão, no-meadamente as propostas comunitá-rias de alteração às diretivas relativas à contabilidade e ao relato financeiro e auditoria às contas, tal como a pro-posta de regulamento da auditoria das entidades de interesse público.”

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Banco de Portugal aumenta limiar de isençãode reporte para 100 mil euros

ROC querem maior intervençãojunto da gestão empresarial

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47CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Contratação via reembolso da taxa social única sofre alterações

O Governo considera impor-tante alterar a medida de apoio à contratação via reembolso da taxa social única (TSU), tendo em con-ta a necessidade de maximizar o seu potencial ao nível do combate ao desemprego entre os jovens. Pelo que o Ministério da Economia e do Emprego deu a conhecer a portaria nº 64-A/2013, de 13 de fevereiro.

Assim, considera o legislador que importa alargar o âmbito da-quela medida em concreto, no-meadamente em termos da elegi-bilidade de jovens inscritos como desempregados registados há pelo menos seis meses ou daqueles que se encontrem em situação de inati-

vidade, após conclusão dos estudos há pelo menos um ano, bem como

através do alargamento do apoio aos contratos de trabalho a tempo parcial e do ajustamento do critério de criação líquida de emprego. Da experiência acumulada nos últimos meses de execução da medida resul-ta ainda a necessidade de introdu-ção de alterações ao nível de proce-dimento administrativo que visam agilizar e tornar mais eficiente o mesmo procedimento. De notar que o tempo de inscrição não é pre-judicado pela frequência de estágio profissional ou outra medida ativa de emprego, com exceção das me-didas de apoio direto à contratação ou que visem a criação do próprio emprego.

Bruxelas lança consultas públicas sobre combate à fraude e à evasão fiscais

A Comissão Europeia lançou duas consultas públicas relativas a medidas que pretendem melhorar a perceção da tributação e garantir um maior respeito pelas obrigações fiscais no conjunto da União Europeia. Bruxelas quer avançar o mais rapidamente pos-sível com o código europeu do con-tribuinte e o número de identificação fiscal europeu.

O objetivo central é mais amplo, ou seja, a Comissão pretende uma maior intervenção nos assuntos fiscais, tendo em conta o combate à fraude e à evasão fiscais. Esta é uma matéria que preocupa sobremaneira os responsá-veis comunitários e as consultas estão abertas até meados de maio. A elabo-ração de um código europeu do con-

tribuinte visa a clarificação dos direitos e das obrigações dos contribuintes, bem como das autoridades tributárias. Quanto ao número de identificação fis-cal europeu (designado TIN), a ideia é facilitar a identificação dos contribuin-tes na União. Ambas as medidas estão incluídas nas várias medidas propostas pela Comissão, em dezembro, tendo

em conta o plano de ação de combate à fraude e à evasão fiscais. Vários países já possuem códigos de conduta para os contribuintes, mas estes variam de Es-tado para Estado, sendo necessária uma harmonização também a este nível, na ótica das autoridades comunitárias. É fundamental evitar a todo o custo as práticas de fraude e evasão fiscais.

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48 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

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Acórdão esclarece dedução do IVA nas SGPSTendo surgido dúvidas quanto ao

método de dedução do IVA em sede das sociedades gestoras de participa-ções sociais (SGPS), um acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul dá conta de quatro importantes aspe-tos que devem ser tidos em conta no que toca a esta matéria, sempre sus-cetível de criar algum atrito entre as partes envolvidas. Trata-se do proces-so 1949/07, de 15 de janeiro.

As SGPS são consideradas socieda-des cujo objeto é a detenção estável de participações sociais de outras socieda-des – que lhe são juridicamente inde-pendentes – tendo por único objeto contratual a gestão dessas participa-ções, como forma indireta de exercício de atividades económicas, podendo, todavia, prestar serviços técnicos de

administração e de gestão a todas ou a algumas das sociedades em que de-tenham participações de, pelo menos, 10% do capital, com direito a voto, ou, excecionalmente, às sociedades nas quais detenham uma participação de, pelo menos, também 10%, com direi-to a voto, ou com as quais tenham cele-

brado contratos de subordinação. Essa prestação tem de ser reduzida a escrito.

Uma SGPS que adquire serviços de consultoria a entidades não resi-dentes, pelas quais incorre em IVA, e que de seguida os redebita na totali-dade, com liquidação de IVA, às suas participadas, não pode deduzir o IVA incorrido nessas aquisições por aplica-ção do método de dedução da afeta-ção real, a menos que demonstre que tais serviços foram utilizados pelas segundas nas suas próprias atividades. Na situação referida, não tendo sido feita essa demonstração – designada-mente por não existir contrato escrito entre a SGPS as participadas relativo a tais prestações de serviços – a dedução do IVA só poderá ser feita por aplica-ção do método “pro rata”.

A Comissão Europeia ficou agra-dada com a aprovação do Parlamento Europeu da nova regulação do Sis-tema Europeu Contabilístico (ESA, nas siglas em inglês). Vai permitir um novo modelo metodológico para os dados contabilísticos nacionais e adaptados pelas economias. O novo método será aplicado aos níveis da po-lítica económica e de outras situações administrativas na União Europeia.

O ESA 2010 será o “livro” pelo qual os Estados-Membros se deverão orientar para compilarem os dados governamentais. Será um instru-mento fundamental para medir o desempenho económico dos países e da própria UE como um todo. Uma metodologia consistente, aplicada

uniformemente é essencial se se pre-tender harmonizar e ter estatísticas comparáveis. Bruxelas considera que foi dado um passo muito importante na solidificação do sistema estatístico europeu.

O método ESA define os concei-tos, as definições, as classificações e as regras contabilísticas que devem ser seguidas para garantir a objetividade e a transparência das contas públicas. Um outro aspeto interessante deste método é que é compatível com ou-tros sistemas internacionais, o que permite uma muito maior compara-bilidade. Importa ainda referir quais são as principais alterações decorren-tes deste novo método contabilístico.

Assim, é reconhecido que a despe-

sa em investigação e desenvolvimen-to tem a natureza de investimento. A despesa nesta área é contabilizada como formação de capital fixo e dei-xa de o ser como despesa corrente. O que vai aumentar o PIB da União Europeia em cerca de 1,6%. A identi-ficação e o tratamento da despesa em investigação e desenvolvimento como um investimento é muito importante no contexto da Estratégia 2020 para a Europa. Uma outra alteração me-todológica prende-se com uma aná-lise mais detalhada dos modelos de pensões. Uma tabela suplementar vai tornar mais transparente os números de todos os modelos de pensões, de forma a permitir uma maior compa-rabilidade entre os países.

Bruxelas desenvolve novo método contabilístico para comparar economias

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49CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

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O Governo fixou novas regras para as fundações, no passado mês de julho. Através da Portaria nº 75/2013, de 18 de fevereiro, são definidos aspetos como a obriga-toriedade de submissão de contas a auditoria externa, a determinação da suficiência da dotação patrimonial inicial e o montante pecuniário.

É fixado em dois milhões de eu-ros o valor a partir do qual se torna obrigatória a submissão das contas a auditoria externa. E na determinação do rendimento anual a que se refere a Lei-Quadro das Fundações é con-siderado o rendimento global previs-to no Código do IRC. Por sua vez, o valor mínimo da dotação patrimonial inicial é fixado em 250 mil euros. To-davia, tratando-se de uma fundação

constituída por prazo determinado, o valor da dotação patrimonial ini-cial exigível é estabelecido caso a caso, tendo em consideração a sua adequa-ção ao objeto e fim da fundação.

O acervo patrimonial que cons-titui a dotação inicial de uma fun-dação deve incluir, na respetiva com-posição, uma parcela em numerário, tendencialmente de, pelo menos,

30% da dotação inicial e, em qual-quer caso, não inferior a cem mil eu-ros. A transparência passa ainda pelo envio aos serviços do Estado dos relatórios e contas e da sua disponi-bilização permanente na sua página da internet. O que não obsta à sub-missão obrigatória das contas a uma auditoria externa, tal como referido anteriormente.

Os membros presentes na Assem-bleia Geral da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, que decorreu em Coimbra, deram luz verde ao Rela-tório e Contas do conselho diretivo, relativos ao ano passado, e ao Rela-tório e Parecer do Conselho Fiscal do mesmo. Pela primeira vez, todos membros votaram favoravelmente os dois documentos. Um facto inédito na história da instituição.

Para o bastonário da OTOC, a votação representou a total confian-ça atribuída aos órgãos dirigentes da Ordem. Por outro lado, foi dado destaque a alguns acontecimentos

que marcaram o ano passado na vida da instituição, como foram os casos do sucesso alcançado com as ses-sões de trabalho sob a designação “A soma das partes” ou o IV Congres-so dos Técnicos Oficiais de contas,

acontecimento que se traduziu na maior manifestação profissional que se realizou no nosso país. O bastoná-rio também chamou a atenção para o facto da entidade a que preside ter sido aceite na IFAC, o que implica uma maior visibilidade a nível inter-nacional. De uma maneira geral, o definido na estratégia para o ano pas-sado foi cumprido, o que é visto com muito otimismo por parte de Do-mingues de Azevedo. No entanto, não deixou de avisar que a profissão está perante novos desafios e que os profissionais poderão contar sempre com o apoio da entidade reguladora.

Fundações têm de submeter contasa auditoria externa

OTOC aprova Relatório e Contaspor unanimidade

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50 CONTABILIDADE & Empresas | MAR/ABR 2013 | nº 20 - 2ª série

A obra é uma compilação de temas relacio-nados com as temáticas das finanças e dos ne-gócios internacionais, a qual permite retratar os desafios da globalização, as formas de interna-cionalização, os instrumentos financeiros e os critérios de decisão sobre os mercados a entrar.

O dicionário é uma obra didática, generalis-ta e atual, que constitui uma referência para to-dos aqueles que pretendam abordar o tema das

finanças internacionais e as matérias relaciona-das. Um dicionário/glossário que serve de apoio aos alunos que frequentam disciplinas de licen-ciatura e mestrado que versem estas temáticas. Da autoria de Eduardo Sá Silva, o livro tem 144 páginas e está disponível por 8,91 euros. Trata--se de uma publicação do grupo editorial Vida Económica e contém uma linguagem objetiva e acessível.

O turismo português pode contribuir com um aumento máximo de 14% do PIB, expor-tando mais ou substituindo exportações. Colo-ca-se a questão de como será possível alcançar tal objetivo. O autor dá uma resposta dupla, apren-dendo com os bons exemplos de fora e adaptan-do as especificidades internas. Os bons exemplos externos apresentados são a Croácia e as cidades de Dublin e Barcelona.

Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portu-guesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que assina o prefácio do livro “Crescimento sem Keynes no turismo” concorda com a necessidade de se seguir as boas práticas externas. E adianta: “Discutir o crescimento do turismo português, a partir de exemplos de sucesso em

destinos comparáveis com os nacionais foi exa-tamente a preocupação inicial da APAVT, ao inserir o painel “Portugal – Os desafios do cres-cimento” no programa do XXXVIII congresso da associação, que decorreu em Coimbra em novembro do ano passado.”

Apelar ao professor Jorge Vasconcellos e Sá para liderar aquela tarefa foi uma escolha na-tural, na ótica do dirigente associativo. O livro

tem 144 páginas, é da responsabilidade editorial do grupo Vida Económica e o preço de venda ao público é de 11,70 euros. A aquisição de livros junto desta editora permite acumular pontos, os quais se traduzem num dado valor. Neste caso, a sua compra tem uma promoção de 10% de desconto e representa pontos no valor de 1,10 euros.

Há alguns executivos que obtêm promoções. Outros, pelo contrário, são despedidos ou coloca-dos na “prateleira. Desvendar estes mistérios foi o que se propôs Luis Castañeda. Após uma intensa investigação bibliográfica e de campo chegou à conclusão que a própria pessoa cria as necessárias condições para o triunfo. Ou para o fracasso.

O autor de “Despedimento, estagnação ou promoção” considera que quem se propõe obter promoções no seu emprego as alcança. Claro está, desde que os seus métodos sejam honestos. Aqueles que atuam com fal-ta de ética ou sem bons critérios acabam por fracassar. Nesta obra, o autor apresenta muitos erros – e omissões – que os executivos fracassados cometeram. Em cinco capítulos, mos-

tra ao leitor os erros mais comuns nas áreas das ati-tudes e dos comportamentos pessoais, das relações com o seu pessoal, das relações com o seu chefe, os seus colegas e do desempenho no trabalho. Um livro que pode representar para o leitor a diferença entre uma promoção e o despedimento ou a estag-nação no posto de trabalho que ocupa.

É uma publicação do grupo editorial Vida Económica, tem 120 páginas e está disponível

por oito euros. Luis Castañeda é presidente executivo de um grupo de empresas editoras. É autor de 59 livros sobre desenvolvimento pessoal e de gestão. É ainda consultor em recuperação de empresas, tendo sido gerente de proje-to e diretor de marketing numa empresa química.

Dicionário de finanças e negócios internacionais

Crescimento sem Keynes no turismo

Despedimento, estagnação ou promoção

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Solicito o envio de exemplar(es) do livro Estatuto dos Benefícios Fiscais - Anotado, com o PVP unitário de 20€.

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Solicito o envio à cobrança. (Acrescem 4€ para despesas de envio e cobrança).

ASSINATURA

Autor: Abílio Sousa

Páginas: 176

P.V.P.: € 20

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“Esta obra dá-nos uma visão agregadora dos benefícios que se encontram dispersos em diplomas avulsos e constitui, deste modo, um inestimável contributo para aqueles que pretendam prosseguir uma adequada gestão fiscal, factor determinante para assegurar a competitividade nas empresas e garantir a melhoria do seu desempenho.”

Rui Pedro Almeida

Administrador e CEO do grupo Moneris

CONHEÇA OS BENEFÍCIOS FISCAISEdição atualizada em 2013

Uma obra que reúne, pela primeira vez num único documento, todos os benefícios fiscais, incluíndo aqueles que constam de diplomas avulsos, procedendo à sua análise e apresentando comentários que permitem o seu estudo de uma forma mais profunda.

CONTÉM COMENTÁRIOS, EXEMPLOS E CASOS PRÁTICOS

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