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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA ALESSANDRA SALLES MACHADO VERIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CECEIO EM CRIANÇAS ENTRE 3 E 10 ANOS Rio de Janeiro 2006

ceceio crianças 3 a 10 anos

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

ALESSANDRA SALLES MACHADO

VERIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CECEIO EM CRIANÇAS ENTRE 3 E 10 ANOS

Rio de Janeiro 2006

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ALESSANDRA SALLES MACHADO

VERIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CECEIO EM CRIANÇAS

ENTRE 3 E 10 ANOS

Orientadora: Dra. Esther Mandelbaum G

Rio de Jane2006

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, como quesito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: fala e linguagem.

onçalves Bianchini

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, ENSINO E PESQUISA Rua Ibituruna, 108 – Maracanã 20271-020 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 2574-8845 Fax.: (21) 2574-8891

FICHA CATALOGRÁFICA

M149v Machado, Alessandra Salles Verificação da ocorrência de ceceio em crianças entre 3 e 10 anos/ Alessandra Salles Machado, 2006. 68p. ; 30 cm. Tese (Mestrado) – Universidade Veiga de Almeida, Mestrado Profissionalizante em Fonoaudiologia, Fala e Linguagem, Rio de Janeiro, 2006. Orientação: Professora Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini

1. Distúrbios da fala nas crianças. 2. Fala – aspectos fisiológicos. I. Bianchini, Esther Mandelbaum Gonçalves (orientador). II. Universidade Veiga de Almeida, Mestrado Profissionalizante em Fonoaudiologia, Fala e Linguagem. III. Título.

CDD – 618 92855

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central/UVA Biblioteca Maria Anunciação Almeida de

Carvalho

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ALESSANDRA SALLES MACHADO

VERIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE CECEIO EM CRIANÇAS ENTRE 3 E 10 ANOS

APROVADA EM 4 DE AGOSTO DE 2

BANCA EXAM

______________________________Professora Maria Teresa de A

Universidade Estadual do

______________________________Professora Mônica Medeiros

Universidade Veiga d

______________________________Professora Esther Mandelbaum Go

Universidade Veiga d

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, como quesito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: fala e linguagem.

006.

INADORA

____________________________ ndrade Goldner - Doutora Rio de Janeiro - UERJ

____________________________ de Britto Pereira - Doutora e Almeida - UVA

____________________________nçalves Bianchini - Doutora e Almeida – UVA

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RESUMO

Introdução: O ceceio é uma alteração de fala vista com freqüência na clínica fonoaudiológica e tem sido alvo de diversos estudos. Tais pesquisas são realizadas, quase em sua totalidade, em crianças e justificam-se no sentido de identificar e estabelecer padrões de etiologia, caracterização, classificação e ocorrência de tal distorção de fala. O presente trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência de ceceio associando-o a idade, sexo, tipo de dentição e de mordida, volume de tonsilas palatinas e de língua e conformação do palato duro. Método: Foram avaliadas 68 crianças entre 3 e 10 anos residentes na Grande Vitória - ES. Foram analisadas quanto à presença de ceceio e caracterização do sistema estomatognático. A avaliação incluiu conversa dirigida, repetição de palavras e avaliação do sistema estomatognático. Resultados: Foi observada presença de ceceio em 22,5% da amostra total. Maior porcentagem de crianças com ceceio foi encontrada no grupo de 3 a 6 anos (34,5%), quando comparado com o grupo de 7 a 10 anos (12,8%). Considerando-se tipos de dentição observou-se incidência de 22,2% no grupo em dentição decídua (D), 36% em dentição mista em troca de incisivos (MTI) e 8% em dentição mista com presença de incisivos (MPI). Conclusão: Os dados obtidos demonstram que a incidência de ceceio reduz com a idade, e o período de troca de dentes incisivos parece estar relacionado à presença de ceceio. A variável sexo e algumas características do sistema estomatognático: tipo de mordida, conformação do palato duro, volume de tonsilas palatinas e de língua, não foram consideradas determinantes na ocorrência de ceceio. Novas pesquisas são necessárias objetivando um aprimoramento no diagnóstico, prognóstico e tratamento fonoaudiológico do ceceio. Unitermos: Distúrbios da fala nas crianças. Fala – aspectos fisiológicos.

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ABSTRACT

Introduction: Lisp is a speech disorder frequently seen in speech and language pathologist clinic and has been subject of many studies. Such researches are carried through, almost in totality, in children and are justified to identify and to establish etiology, characterization, classification and occurrence of such distortion. The goal of this study was to verify the lisp presence associating with age, sex, dentition, bite, amygdales size, tongue size and hard palate form. Method: 68 children with ages from 3 to 10 years old living in Grande Vitória - ES had been evaluated, considering the lisp presence and stomatognathic system characteristics. The evaluation included directed colloquy, words repetition and stomatognathic system evaluation. Results: Presence of lisp in 22,5% of the sample. Higher percentage of lisp presence in the group from 3 to 6 years old (34.5%) when compared to the group from 7 to 10 years old (12.8%). Considering dentition, incidence of 22,2% in the deciduous dentition group (d), 36% in mixing dentition with exchange of incisive teeth (MTI) and 8% in mixing dentition with presence of incisive teeth (MPI). Conclusion: Lisp incidence reduces with age, and the period of incisive teeth exchange seems to be related to lisp presence. Gender and some stomatognathic system characteristics: bite, hard palate form, amygdales size, tongue size, had not been considered determinative in lisp occurrence. New researches are necessary to improve the diagnosis, prognostic and treatment of lisp. Keywords: Speech distortion. Speech – physiological aspects.

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SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO, p. 6 2 REVISÃO DA LITERATURA, p. 9 2.1 DESENVOLVIMENTO DO CONTROLE MOTOR PARA FALA, p. 9 2.2 SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO E PRODUÇÃO DOS FONEMAS, p.12 2.3 PRODUÇÃO DE FONEMAS FRICATIVOS ALVEOLARES, p. 15 2.4 DISTORÇÕES DE FONEMAS FRICATIVOS ALVEOLARES, p. 17 3 OBJETIVO, p. 25 4 METODOLOGIA, p. 26 4.1 PARTICIPANTES, p. 27 4.2 MATERIAL, p. 28 4.3 PROCEDIMENTOS, p. 29 4.4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, p. 33 4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA, p. 35 5 RESULTADOS, p. 36 5.1 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA, p. 36 6 DISCUSSÃO, p. 46 7 CONCLUSÃO, p. 53 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 55 9 APÊNDICES, p. 62 10 ANEXOS, p. 64

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1 INTRODUÇÃO

A fala abrange uma das maiores possibilidades de comunicação. É um

mecanismo riquíssimo em informações objetivas e subjetivas, diretas e veladas. Traduz

as emoções do falante, muitas vezes até mais do que ele mesmo pretendia ao formular

uma frase.

Por outro lado, as alterações da fala, por interferirem no processo de

comunicação, tornam o falante “diferente”, incapaz de produzir de forma adequada algo

aparentemente “tão corriqueiro” quanto falar.

O Fonoaudiólogo lida diretamente, em sua prática clínica, com as frustrações

que permeiam o dia a dia dos indivíduos cuja fala é caracterizada por distorções,

substituições ou omissões.

As distorções dos fonemas fricativos alveolares especificamente, denominadas

ceceio, apresentam alguns aspectos peculiares, como, por exemplo, sua classificação,

etiologia e incidência. Os diferentes tipos de ceceio possuem, notadamente,

características acústicas distintas, porém, observam-se classificações variadas

considerando o ponto articulatório utilizado. Vários autores classificam o ceceio como

sendo anterior, interdental, palatal e lateral, mas há divergências de

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definição e classificação de tal distorção na literatura pesquisada. Quanto à etiologia,

algumas pesquisas relacionam o ceceio a hábitos deletérios, alterações de forma ou

postura das estruturas do sistema estomatognático, má-oclusão e tipologia facial,

porém, um maior número de estudos poderia contribuir no sentido de verificar mais

precisamente tais relações. Em termos de incidência, também não é nítido um

consenso quanto aos índices previstos para cada faixa etária e ainda se há maior

prevalência no sexo feminino ou masculino.

Observa-se que na infância, com relativa freqüência, o ceceio parece ocorrer de

forma transitória e desaparece por completo com o crescimento e desenvolvimento da

criança. Porém, em algumas delas, tais alterações permanecem inalteradas

acompanhando-as até a vida adulta, provavelmente trazendo prejuízos à sua

comunicação.

Faz-se necessário, então, considerar: em algum momento o ceceio pode ser

considerado parte do processo de desenvolvimento de fala?

Nesse sentido verificam-se alguns estudos que relacionam o ceceio à dentição

decídua ou à troca dos incisivos durante a dentição mista. Se este padrão for correto,

não seria prudente iniciar-se a terapia fonoaudiológica antes dos incisivos estarem

completamente erupcionados.

O ceceio, alteração freqüente na clínica fonoaudiológica, desperta dúvidas,

incertezas e questionamentos ao fonoaudiólogo. Portanto, deve ainda ser amplamente

estudado, trazendo dados à Fonoaudiologia em termos de prevenção, diagnóstico,

prognóstico e terapia de tal distúrbio.

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O presente estudo teve por objetivo verificar a incidência de ceceio em crianças

entre 3 e 10 anos, associando a fatores descritos na literatura como interferentes, tais

como: idade, sexo, tipo de dentição e de mordida, volume de tonsilas palatinas e de

língua e conformação do palato duro, buscando-se possíveis correlações. Justifica-se,

portanto, pela necessidade de ampliar e aprimorar os conhecimentos acerca desse tipo

de distorção na fala e assim colaborar no esclarecimento de algumas das questões

citadas acima.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 DESENVOLVIMENTO DO CONTROLE MOTOR PARA FALA

Algumas pesquisas reiteram a hipótese de que o controle motor para fala se

desenvolve durante toda a infância, envolvendo um contínuo refinamento dos

movimentos dos articuladores. Serão descritas neste capítulo a fim de permitir uma

análise posterior considerando a idade das crianças que compõem a amostra e a

presença ou ausência de ceceio.

Smith e Goffman (1998) realizaram uma pesquisa com crianças de 4 e 7 anos e

jovens adultos utilizando repetição de sílabas. Aos 4 e 7 anos as crianças apresentaram

maior amplitude de movimentos periorais e menor velocidade de fala que os jovens

adultos, indicando mudanças no sistema motor da fala durante o desenvolvimento.

Gibbon (1999) sugere um alto índice de movimentos indiferenciados de língua em

crianças em idade pré escolar e escolar. Tais movimentos ocorrem durante a produção

de fonemas consonantais que envolvem a participação da língua e são caracterizados

pelo contato sem a clara diferenciação entre ápice, dorso e margens laterais da língua.

Aqueles indivíduos que apresentam essa indiferenciação tendem a fazê-lo para vários

pontos articulatórios, o que reforça a idéia de que refletem uma restrição do controle

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motor de fala. A autora especula se movimentos indiferenciados de língua são parte do

desenvolvimento motor em crianças pequenas.

Green et al (2000) avaliaram a fala de crianças de 1, 2, 6 anos e jovens adultos.

Segundo os autores, a transição das vocalizações pré-linguísticas até a comunicação

utilizada pelo adulto depende da integração de vários subsistemas de fala. Esse grande

desenvolvimento comportamental emerge em um contexto de rápidas mudanças,

incluindo o crescimento musculoesqueletal e o desenvolvimento neuromotor. O controle

motor de fala envolve mais que influências biológicas, incluindo fatores intrínsecos

(maturação sensorial, cognitiva e lingüística) e extrínsecos (estímulo auditivo e visual).

Os processos motores de fala exibem uma progressão similar ao corporal, com

gradativa independência de movimentos entre as diversas estruturas do trato vocal. A

demanda de coordenação para fala é maior que aquela necessária para alimentação,

pois envolve mais estruturas e apresenta exigências específicas em termos de tempo e

duração. Os resultados encontrados pelos autores reforçam a idéia de que o período

entre 6 anos de idade e a fase adulta reflete uma otimização da coordenação.

Wohlert e Smith (2002) realizaram uma pesquisa com crianças entre 2 e 6 anos

baseados na hipótese de que durante a infância são utilizadas diversas combinações

das atividades musculares para alcançar objetivos fonéticos. Afirmam que apesar das

crianças com desenvolvimento normal já terem adquirido a maioria dos sons aos 4

anos, chegando a completar essa aquisição com no máximo 7 anos, o controle motor

de fala semelhante ao do adulto pode apresentar um desenvolvimento mais demorado,

ao menos para alguns componentes do sistema. Análises acústicas demonstram que a

duração dos segmentos de fala são muito variáveis, tanto na mesma criança quanto

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entre as crianças pesquisadas e então vão gradativamente diminuindo e se

assemelham ao padrão adulto por volta de 11 a 13 anos.

Walsh e Smith (2002) afirmam que não há consenso se os avanços cognitivos e

físicos presentes na infância e adolescência afetam a produção de fala, nem tampouco

quanto à duração do processo de desenvolvimento de fala. Os resultados encontrados

apontam para um desenvolvimento de fala mais longo, em andamento até a

adolescência. Os autores não sustentam a idéia de que seja resultado do crescimento

facial, pois se esse fosse o fator primário afetando o curso de maturação do controle

oral para fala, deveriam ser evidentes diferenças entre meninos e meninas

considerando as discrepâncias no tamanho das estruturas. Afirmam, portanto, que as

alterações na dinâmica articulatória não estão diretamente relacionadas ao crescimento

periférico e apresentam evidências de que o tempo de desenvolvimento de fala se

prolonga até os 16 anos.

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2.2 SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO E PRODUÇÃO DOS FONEMAS

Diversos autores, descritos a seguir, afirmam que os componentes do sistema

estomatognático interferem diretamente na produção da fala, em maior ou menor grau,

de acordo com sua participação na articulação de determinado grupo fonêmico.

Para a execução das consoantes faz-se necessário o estreitamento ou a oclusão

da corrente aérea por parte dos esfíncteres formados pela língua, lábios e dentes em

seu canal de saída. Se a forma e posição desses articuladores não estiverem

adequadas haverá prejuízo na sua produção (SEGÓVIA, 1988).

O processo de maturação das funções estomatognáticas possibilita a tonicidade

e a mobilidade da musculatura necessárias para a execução dos fonemas

(WERTZNER, 1990). A postura baixa e anteriorizada de língua durante o repouso e a

deglutição representa efeito negativo no controle motor oral para a fala (HALE et al,

1992). Para que a articulação ocorra adequadamente, os deslocamentos dos órgãos

fonoarticulatórios devem ser extremamente precisos, envolvendo velocidade, pressão e

coordenação dos grupos musculares (SPINELLI, MASSARI E TRENCHE, 1993).

Solomon (2000) destaca o papel relevante da língua no sentido de moldar a

cavidade oral para a fala, Cantarelli (2000) afirma que seus movimentos finos e rápidos

são de extrema importância para a articulação e Takemoto (2001) relaciona os

movimentos da língua na articulação da fala à complexa formação da sua musculatura.

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As condições miofuncionais e a oclusão também são de extrema relevância para

a fala (CATTONI et al, 2001). A precisão da articulação relaciona-se ainda à presença e

posição dos dentes e das bases ósseas (BIANCHINI, 2001). Para uma boa articulação

da fala, os órgãos fonoarticulatórios devem estar em posição e funcionamento corretos

(CUNHA et al, 2003).

Considerando a estreita relação entre o sistema estomatognático e a produção

dos fonemas, faz-se necessário discorrer sobre as condições normais e alteradas de

alguns componentes do sistema em questão.

Em relação ao desenvolvimento e erupção da dentição decídua e mista é

possível definir parâmetros de acordo com diversos autores. Van der Linden (1986)

afirma que a dentição decídua está completa após os segundos molares atingirem a

oclusão, por volta de 2 anos e seis meses de idade. Burdi e Moyers (1991) definem a

dentição mista como aquela em que os dentes decíduos e permanentes encontram-se

na boca. Considera-se dentição mista a partir da irrupção do primeiro dente permanente

(WARREN e BICHARA, 2002).

Quanto à relação anterior entre as arcadas, as alterações mais comuns

apresentam a seguinte classificação: sobressaliência excessiva quando o trespasse

horizontal dos incisivos ultrapassar 3mm; topo anterior quando os dentes incisivos se

tocarem sem trespasse; mordida aberta anterior quando não houver contato dos

incisivos e/ou caninos com seus antagonistas; mordida cruzada anterior quando houver

inversão da oclusão dos dentes anteriores no sentido vestíbulo-lingual (VAN DER

LINDEN, 1986) e sobremordida excessiva quando os incisivos superiores cobrirem mais

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do que o terço incisal dos incisivos inferiores (ARAÚJO, 1999).

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2.3 PRODUÇÃO DE FONEMAS FRICATIVOS ALVEOLARES

Hanson e Barret (1995) afirmam que os fonemas /s/ e /z/ são produzidos

elevando-se as laterais da língua contra o palato duro impedindo o escape lateral do ar.

Os fonemas consonantais, incluindo os fricativos, devem ser produzidos sem

distorção, fraqueza ou lentidão (TJADEN e TURNER, 1997).

Flipsen Jr. e Shriberg (1999) realizaram um estudo através de análise acústica

da fala e afirmam que a produção do fonema /s/ estaria estabilizada na faixa etária de 9

anos e seis meses.

Chen e Stevens (2001) descrevem medidas de vários atributos acústicos da

fricativa /s/ produzida no começo da palavra por falantes adultos normais e com

disfunção neuromotora. Afirmam que, em contraste com vogais e outras consoantes, o

/s/ exige que a borda de língua assuma forma e posição específicas e extremamente

precisas. A produção correta desse fonema é caracterizada pelo posicionamento da

ponta da língua nas rugas alveolares e por um formato adequado da borda. É

imprescindível ainda que a mandíbula esteja corretamente posicionada para direcionar

o fluxo aéreo contra os incisivos inferiores.

Tabain (2001) comparou a produção de fricativas sibilantes (s, z) e dentais (f, v)

e relata que as fricativas alveolares (s, z) apresentam pontos articulatórios mais

estáveis, ou seja, que não permitem várias trajetórias articulatórias para atingir o

mesmo objetivo sonoro. Esse dado reforça a afirmação da extrema precisão dos

eventos ocorridos na cavidade oral inerentes à produção do /s/ e elucida também o fato

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de desvios de tal consoante serem tão freqüentes, pois pequenas variações no formato

e localização de língua alteram a produção final.

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2.4 DISTORÇÕES DE FONEMAS FRICATIVOS ALVEOLARES

Guedes (1997) afirma que os distúrbios articulatórios são as alterações mais

comuns de fala. A autora caracteriza tais distúrbios como aqueles em que a produção

dos fonemas está prejudicada e destaca que apresentam um caráter fonético quando o

som é articulado incorretamente por origem física ou mecânica. Gierut (1998, apud

Wertzner et al, 2001, p.91) afirma que o distúrbio fonético reflete uma inabilidade para

articular os sons envolvendo um componente motor. Zorzi (1998) afirma que os

distúrbios da fala são decorrentes de alterações musculoesqueléticas, neurogênicas ou

anomalias oro-faciais. Souza (1999) propõe que toda e qualquer alteração da fala pode

ser entendida como um distúrbio de linguagem, uma vez que a fala corresponde à

realização motora da linguagem, mas acredita que os distúrbios de fala podem ser

decorrentes de alterações do sistema estomatognático. Quando originados à partir de

transtornos esqueléticos, musculares ou funcionais são caracterizados por alterações

de modo e ponto articulatório (GONZÁLES, 2000) e podem ser determinados por

qualquer alteração das estruturas dos órgãos fonoarticulatórios (SANTOS e PEREIRA,

2001). Ducat et al (2001) destacam o distúrbio articulatório como sendo a patologia de

maior incidência dentre as triagens fonoaudiológicas (41%) com nítido predomínio do

sexo masculino (68,1%) e Santos et al (2003) afirmam que a ocorrência do desvio

fonético em crianças com queixa de fala encontra-se em 27,5%. Felício et al (2003)

propõem associação entre o distúrbio de fala e maior duração do aleitamento artificial e

da sucção não nutritiva, postura anormal de lábios e língua e mobilidade anormal de

língua. Silva et al (2004) relatam elevados índices de transtornos de fala (66,7%) em

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adolescentes com alterações oromiofuncionais. Oliveira e Oliveira (2004) relacionam

ainda o desvio fonético à perda auditiva ou déficit mental. Rodrigues et al (2005)

afirmam não haver relação estatisticamente significante entre modo respiratório e

alteração de fala. Por outro lado, Bicalho, Motta e Vicente (2006) encontraram

alterações de fala em 65% dos respiradores orais avaliados.

Ao abordar especificamente as distorções dos fonemas fricativos alveolares

cabe ressaltar a divergência de terminologia encontrada na literatura. Alguns autores

utilizam o termo ceceio, outros sigmatismo. O comitê de Motricidade Oral da Sociedade

Brasileira de Fonoaudiologia (2003) define ceceio como sendo a produção dos fonemas

/s/ e /z/ realizada com ponto articulatório interdental ou com apoio da ponta da língua

nos dentes. Define ainda que sigmatismo é o emprego freqüente ou a repetição viciosa

dos sibilantes. No presente capítulo deste trabalho, será respeitado o termo utilizado

originalmente pelo autor que estiver sendo citado, mas em todos os casos, seja

denominado ceceio ou sigmatismo, será referente à distorção dos fonemas em

questão.

Barret e Hanson (1974, apud Guedes,1997, p.867), relacionam a distorção de /s/

e /z/ à mordida aberta e à deglutição atípica.

Wertzner (1990) afirma que dentre as distorções fonéticas, onde a emissão de

um fonema é feita de forma inadequada, o posicionamento da língua entre os dentes

para a produção dos fonemas /s/, /z/, /t/, /d/, /n/, e /l/ é a alteração mais comum e

geralmente esta associada a alterações do sistema sensório-motor oral.

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Marchesan (1993) relaciona o ceceio anterior à perda precoce dos incisivos

superiores e à presença de mordida aberta anterior, enquanto na mordida aberta

posterior o ceceio lateral é facilitado.

Moura (1994) realizou um estudo com 288 crianças entre 3 e 6 anos

relacionando ceceio anterior, idade e tipo de mordida (normal, aberta anterior, cruzada,

sobremordida, overjet e topo). Tal pesquisa relata grande incidência de ceceio anterior

em crianças de 3 anos (36%), havendo uma queda sensível aos 4 (19,5%), uma quase

manutenção aos 5 (18%) e uma ligeira queda aos 6 anos (15%). Ao relacionar a

ocorrência de ceceio e o tipo de mordida, encontram-se os seguintes dados: na faixa

etária de 3 anos, 42,5% tem mordida normal e 34,5% tem mordida aberta anterior; aos

4 anos 14,5% apresenta mordida normal e 36% mordida aberta anterior; na faixa de 5

anos observa-se 46,5% das crianças com mordida normal e 31% com mordida aberta

anterior; aos 6 anos 36,5% dos casos apresentam mordida normal e 27,5% mordida em

topo. A autora conclui destacando que aos 3 anos muitas crianças apresentam ceceio

anterior e que este pode ou não vir acompanhado de mordida aberta.

Hanson e Barret (1995) salientam que o sigmatismo central é o mais comum de

todos os problemas de pronúncia, caracterizado pela dentalização ou produção entre

os dentes dos fonemas /s/ e /z/. No sigmatismo lateral o ar escapa por um ou ambos os

lados durante a produção desses fonemas. Os autores citam ainda outros tipos de

distorções menos freqüentes: o sigmatismo de oclusão nasal, com emissão dos

fricativos pelas narinas, e o sigmatismo sibilante, quando ocorre bloqueio da corrente

de ar e emissão semelhante a um assobio.

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Junqueira e Guilherme (1996) descrevem a ocorrência de sigmatismo interdental

em crianças de 3 a 8 anos e sua relação com idade e oclusão dental. Neste estudo

avaliaram individualmente 500 crianças. A oclusão foi avaliada no sentido vertical e

anterior utilizando oroscopia e o sigmatismo interdental foi verificado através de

nomeação de gravuras, repetição de frases simples e conversa informal. Os autores

relatam que não houve diferença estatisticamente significante entre sexo masculino e

feminino quanto à presença de sigmatismo interdental. Afirmam que tal distorção não

deve ser unicamente justificada pela presença de má oclusão e diminui

significativamente com a idade. Em escola particular a diminuição prevalece a partir dos

6 anos e na escola pública essa redução é menos acentuada. Relacionam o fato a

baixa estimulação e a menor ou mais tardia exigência por parte dos pais destas

crianças.

Tanigute (1998) declara que a incidência de ceceio é maior em crianças até 3

anos devido à manutenção de hábitos de sucção e uso de alimentação mais pastosa. A

autora salienta que entre 4 e 7 anos, apresentando hábitos alimentares melhores e

arcada mais desenvolvida, ocorre a diminuição do ceceio. Relaciona o ceceio tanto à

mordida normal quanto às suas possíveis alterações, tais como em topo, cruzada,

sobremordida e sobressaliência. Finaliza afirmando que a articulação correta dos

fonemas está diretamente relacionada à maturação do sistema estomatognático e às

funções neurovegetativas associadas (respiração, sucção, mastigação e deglutição).

Marchesan (1998a) realizou uma pesquisa entre 1995 e 1998 em 697 crianças

entre 4 anos e 7 meses e 7 anos avaliadas individualmente por 87 fonoaudiólogos.

Deste grupo total, 32% apresentou ceceio. Entre as 264 crianças sem alterações de

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oclusão e que já tinham adquirido totalmente o sistema fonêmico, 22,3% apresentou

ceceio. Entre as 63 crianças sem alterações de oclusão e que não estavam com o

sistema fonêmico totalmente automatizado, 42,9% apresentaram ceceio. Das 276

crianças com alteração de oclusão e que já tinham adquirido e automatizado o sistema

fonêmico, 34,8% apresentaram ceceio. Das 94 crianças com alteração de oclusão e

que não estavam com o sistema fonêmico totalmente automatizado, 47,9%

apresentaram ceceio. A autora afirma que os termos ceceio e sigmatismo referem-se à

interposição anterior de língua durante a emissão dos fonemas /s/ e /z/ com distorção

sonora. Cita ainda as causas mais importantes de tais alterações como sendo o tono

rebaixado e a anteriorização da língua em sua postura de repouso, mas salienta que a

oclusão, os hábitos orais e a alimentação podem facilitar a ocorrência do ceceio

anterior.

Marchesan (1998b) relaciona um alto índice de ceceio anterior ou lateral com a

respiração oral, além de fala imprecisa com articulação trancada e excesso de saliva.

Segundo Felício (1999), o funcionamento dos sistemas envolvidos na produção

da fala é determinado pela morfologia das estruturas do sistema estomatognático e

pelos impulsos nervosos aferentes e eferentes. Os hábitos deletérios que provocam

desgaste dentário e diminuição vertical da oclusão, como o bruxismo, prejudicam a

produção dos fonemas /s/, /f/, /v/, /p/ e /b/.

Mitre (2003) afirma que o posicionamento mais anterior de língua pode estar

relacionado à presença de tonsilas palatinas volumosas, responsáveis por ocasionar

alterações de alimentação, respiratórias, ortodônticas e articulatórias.

Page 24: ceceio crianças 3 a 10 anos

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Pereira et al (2003) pesquisaram a distorção do /s/ em 50 crianças entre 3 e 10

anos de escola particular. Foi realizada a avaliação miofuncional orofacial parcial

considerando tipo de mordida, tipo de respiração e presença ou relato de hábitos

viciosos. O estudo caracterizou e classificou os quadros de ceceio. Os autores

descreveram ceceio dental anterior como aquele em que há elevação da ponta da

língua tocando os dentes incisivos inferiores, sem interposição. Em alguns casos a

língua toca os incisivos superiores, sendo comum hipofunção da musculatura labial na

emissão do /s/ ou um movimento de protrusão dos lábios compensando a posição

inadequada da língua e a função articulatória de lábios e língua é mais fraca. O ceceio

interdental anterior está presente quando se observa interposição anterior nos incisivos

centrais, fazendo com que a fricção ocorra entre os dentes e a língua e não entre o

palato e a língua. O ceceio lateral caracteriza-se pela interposição na parte posterior

das arcadas dentárias, levando a saída do ar e à produção de uma fricativa lateral ([ℜ]).

Complementando a classificação, o estudo considera o ceceio palatal, onde ocorre uma

aproximação da parte dorsal da língua em relação ao palato durante emissão do som,

modificando a direção do fluxo aéreo. O som assemelha ao [Σ], mas o contraste entre

estes dois sons está presente. Na amostra pesquisada, os tipos de ceceio dental

anterior e interdental anterior correspondem a 88,4% dos casos observados. A

pesquisa relata ainda a diminuição da ocorrência de ceceio com o aumento da idade,

ocorrendo com maior freqüência em crianças entre 3 e 6 anos do que em crianças entre

7 e 10 anos. Os autores destacam a impossibilidade de relacionar diretamente o ceceio

à alteração da arcada dentária e dentre as variáveis estudadas, a respiração e o tipo de

mordida parecem ser as que mais se associam ao ceceio.

Page 25: ceceio crianças 3 a 10 anos

23

Tomé et al (2004) realizaram uma pesquisa com 132 crianças entre 3 e 6 anos

com dentição decídua e sem queixa de fala. Os participantes foram ainda avaliados

quanto às condições do sistema estomatognático e à produção de fonemas /s/ e /z/

através de nomeação de figuras, repetição de palavras e frases e fala espontânea. Os

resultados encontrados pelos autores indicam que do total de 132 crianças avaliadas,

51,51% apresentaram ceceio. Das 68 crianças com ceceio, 58,82% eram do sexo

masculino e 41,17% eram do sexo feminino, indicando uma ocorrência mais elevada

em meninos. Em relação à idade pesquisada, os autores encontraram incidência de

ceceio estatisticamente diferente entre as faixas etárias, com maior incidência aos 4 e 5

anos e baixos índices aos 3 (5,88%) e 6 anos (4,41%). Dentre os participantes que

apresentaram ceceio não houve diferença estatisticamente significante em relação à

alteração oclusal, sendo que 50% do grupo com ceceio apresentava paralelamente

alteração oclusal e nos outros 50% não havia tal associação. Os autores concluem seu

estudo afirmando que o ceceio não parece estar relacionado a alterações da oclusão

dentária no plano vertical anterior e que a alteração oclusal mais freqüente nos casos

de ceceio foi a mordida aberta anterior.

Frias et al (2004) pesquisaram a relação existente entre ceceio anterior,

crescimento craniofacial e hábitos de sucção não nutritiva em crianças de 3 a 7 anos.

Avaliaram 178 indivíduos de ambos os sexos sem alterações de mordida. A fala foi

avaliada através de repetição de palavras, de automatismos e de frases. Os resultados

obtidos revelam diminuição do ceceio com o aumento da idade e relação direta da

medida do terço médio da face com a presença de ceceio. Não observaram diferenças

significativas entre meninos e meninas.

Page 26: ceceio crianças 3 a 10 anos

24

Peña et al (2004) realizaram uma pesquisa em 50 crianças entre 5 e 14 anos

com alterações de oclusão relacionando-as a transtornos de fala. Consideraram como

anomalias de oclusão protrusão dentária, diastemas, mordida aberta anterior, mordida

cruzada anterior e mordida cruzada posterior (uni ou bilateral). O sigmatismo esteve

presente em 38% da amostra. Nos casos de protrusão dentária a presença de

sigmatismo foi de 16,7%, em crianças com distemas o índice de sigmatismo foi de

62,5% e nos casos de mordida aberta anterior a incidência foi de 50%.

Fonseca et al (2005) realizaram um estudo com 200 crianças na faixa etária de 3

a 7 anos verificando a ocorrência de ceceio frontal e a incidência em relação à etapa de

crescimento craniofacial. As crianças foram avaliadas através da repetição de palavras

e frases. Do total de crianças avaliadas, 35,5% apresentaram ceceio frontal. Os autores

afirmam não haver relação estatisticamente significante entre a presença ou ausência

de ceceio frontal e idade cronológica ou gênero.

Bicalho, Motta e Vicente (2006) avaliaram 22 crianças de ambos os sexos com

diagnóstico de respiração oral entre 4 e 11 anos. O estudo relaciona alterações de

respiração, fala e mastigação e as alterações de deglutição estão presentes em 90% da

amostra. No grupo com deglutição alterada, 30% apresenta ceceio anterior e 10%

ceceio lateral.

Page 27: ceceio crianças 3 a 10 anos

25

3 OBJETIVO

O presente estudo teve por objetivo verificar a incidência de ceceio em crianças

entre 3 e 10 anos, associando a fatores descritos na literatura como interferentes, tais

como: idade, sexo, tipo de dentição e de mordida, volume de tonsilas palatinas e de

língua e conformação do palato duro, buscando-se possíveis correlações.

Page 28: ceceio crianças 3 a 10 anos

26

4 METODOLOGIA

Os dados dessa pesquisa foram coletados após aprovação dos procedimentos

pela comissão de Ética em Pesquisa da UVA, sob o nº , e assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido pelos responsáveis.

Page 29: ceceio crianças 3 a 10 anos

27

4.1 PARTICIPANTES

Fizeram parte desta pesquisa 68 crianças com idade entre 3 e 10 anos,

residentes na Grande Vitória-ES, captadas de forma aleatória na Casa de Ação Social

Cristo Rei onde residem e estudam cerca de 200 crianças entre 3 e 15 anos, cujos

responsáveis concordaram voluntariamente em participar.

Foram excluídas da pesquisa as crianças que:

• apresentaram quaisquer déficits neurológicos, cognitivos ou auditivos,

• estivessem utilizando aparelho ortodôntico,

• tivessem realizado ou que estivessem em tratamento fonoaudiológico e/ou

ortopédico/ortodôntico,

• apresentassem fissura palatina ou outras malformações craniofaciais;

uma vez que estas características podem interferir na fala ou na avaliação do

sistema estomatognático.

Page 30: ceceio crianças 3 a 10 anos

28

4.2 MATERIAL

• Termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO 1, p. 63)

• Roteiro para conversa dirigida (APÊNDICE 1, p. 61)

O roteiro para conversa dirigida foi especialmente desenvolvido para essa

pesquisa e incluiu perguntas simples e de fácil compreensão.

• Corpus foneticamente balanceado (ANEXO 2, p. 67)

O corpus adotado, foneticamente balanceado, foi previamente testado e

utilizado, contendo o fonema /s/ em posição inicial de sílaba, no início e no meio da

palavra (PEREIRA et al, 2003).

• Protocolo de avaliação do sistema estomatognático (APÊNDICE 2, p. 62)

Para avaliação parcial do sistema estomatognático foi utilizado protocolo

especificamente desenvolvido para essa pesquisa baseado em estudos de diversos

autores: Cattoni et al (2005), Costa, Silva e Cunha (2005), Moraes e Felício (2004),

Fonseca, Dornelles e Ramos (2003), Felício e Moraes (2003), Maciel, Magina e Leite

(2002) e Moreira (2001), e teve por objetivo levantar as características que pudessem

relacionar-se à caracterização da fala.

• Gravador Digital Olympus VN-120

• Cds

Page 31: ceceio crianças 3 a 10 anos

29

4.3 PROCEDIMENTOS

Os participantes e seus responsáveis foram esclarecidos quanto aos

procedimentos dessa pesquisa e assinaram Termo de consentimento livre e

esclarecido.

Todas as crianças foram avaliadas individualmente por três avaliadores em

conjunto, com objetivo de garantir a precisão dos dados obtidos. As avaliações

ocorreram em ambiente com nível reduzido de ruído, com a criança sentada de frente

para as examinadoras. Foi realizada conversa dirigida utilizando roteiro de perguntas

simples e repetição de palavras para verificar a presença ou ausência de ceceio. Em

seguida foi aplicado protocolo para verificação parcial do aspecto morfológico do

sistema estomatognático.

A avaliação de fala de cada criança foi registrada em gravador Digital Olympus

VN-120 e posteriormente copiada para CDs. Os integrantes dos grupos foram

abordados inicialmente através da conversa dirigida com respostas espontâneas. Em

seguida foram orientados a repetir cada palavra dita pela examinadora, seguindo a

ordem “Repita cada palavra que eu disser”.

Na avaliação de fala, foram levantados apenas os dados quanto a presença ou

ausência de ceceio, não tendo sido consideradas quaisquer outras alterações ou

desvios de fala. Foi caracterizado como ceceio o posicionamento anterior de língua com

ou sem interposição dental, interposição lateral de língua e/ou distorção sonora,

baseado em Pereira et al (2003), desde que as três avaliadoras concordassem com a

caracterização da presença de ceceio. Para configurar a presença de ceceio era

Page 32: ceceio crianças 3 a 10 anos

30

necessária a ocorrência de, pelo menos, uma das características descritas

anteriormente, de forma assistemática ou sistemática. Durante a avaliação de fala foi

realizada a verificação da presença ou ausência de ceceio considerando pistas

auditivas e visuais. Ao ser observado o ceceio e havendo consenso entre as

examinadoras, no momento da avaliação, foi registrado no protocolo da criança a

presença do ceceio.

Por fim foi aplicado o protocolo de avaliação parcial do sistema estomatognático,

através da observação dos componentes do sistema seguindo os seguintes critérios:

• O palato duro foi avaliado por meio da observação da forma, sendo

considerado normal quando apresentasse largura e altura compatíveis para

acomodar a língua em sua posição habitual; ogival quando fosse muito

profundo ou atrésico se estivesse excessivamente estreito.

• Para avaliação da dentição foi considerada:

o Decídua (D), havendo 20 dentes decíduos totalmente erupcionados,

o Mista em troca de incisivos (MTI), quando houvesse ausência de, pelo

menos, um dos incisivos decíduos e seu sucessor não estivesse

completamente erupcionado,

o Mista com presença de incisivos (MPI) permanentes completamente

erupcionados quando não houvesse ausência de incisivo ou espaço

referente ao seu processo de erupção incompleto.

• Na avaliação da relação anterior entre as arcadas, foi considerada:

Page 33: ceceio crianças 3 a 10 anos

31

o sobressaliência excessiva para o trespasse horizontal excessivo dos

incisivos, assim considerado por avaliação visual, sem utilização de

instrumento de medição,

o sobremordida excessiva quando os incisivos superiores cobrissem

mais de um terço dos incisivos inferiores,

o topo anterior quando os dentes incisivos permanentes se tocassem

sem trespasse,

o mordida aberta anterior quando não houvesse contato dos incisivos

e/ou caninos com seus antagonistas,

o mordida cruzada anterior quando houvesse inversão da oclusão dos

dentes anteriores no sentido vestíbulo-lingual,

o sem alterações significativas quando os itens anteriores não foram

observados nem quaisquer outras alterações na relação anterior entre

as arcadas.

• As tonsilas palatinas foram avaliadas através da observação, se estavam

presentes ou não e quanto ao seu aspecto, de forma subjetiva: normal ou

aumentado. Foi considerado volume aumentado quando observado

diminuição do espaço correspondente ao istmo da garganta, bilateralmente.

• Em relação à língua, foi observada a presença de sulcos longitudinais

decorrentes de uma dobra em sua superfície, situação característica de uma

desproporção entre o tamanho da língua e da cavidade oral. Foi registrada

ainda a presença de marcas dos dentes nas laterais da mesma. Não

Page 34: ceceio crianças 3 a 10 anos

32

aparecendo quaisquer dessas características, a língua foi considerada sem

alterações significativas.

Page 35: ceceio crianças 3 a 10 anos

33

4.4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A presença ou ausência de ceceio foi descrita quanto a cada uma das seguintes

variáveis:

• Idade

o Considerando-se cada faixa etária isoladamente

o Considerando-se divisão da amostra em dois grupos, sendo o

primeiro grupo abrangendo crianças com idades entre 3 e 6 anos e

11 meses e o segundo grupo incluindo crianças entre 7 anos e 10

anos e 11 meses.

• Sexo

• Conformação do palato duro

• Tonsilas paltinas

• Volume de língua

• Dentição observando a divisão em 3 grupos, sendo:

o Crianças que apresentaram dentição decídua,

o Crianças que apresentaram dentição mista em troca de dentes

incisivos,

o Crianças que apresentaram dentes incisivos permanentes

completamente erupcionados.

• Tipo de mordida. Os tipos de mordida encontrados na amostra foram

sobressaliência excessiva (SSE), sobremordida excessiva (SME), topo

Page 36: ceceio crianças 3 a 10 anos

34

anterior (TA), mordida aberta anterior (AA) e casos sem alterações

significativas (SAS).

Page 37: ceceio crianças 3 a 10 anos

35

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Foi realizada análise descritiva das características levantadas, além da utilização

de testes estatísticos específicos que possibilitaram o cruzamento de dados e

correlações pertinentes.

Após a análise, os dados foram submetidos à análise estatística. Foram

utilizados os testes Mann-Whitney, T de Student e Kruskal-Wallis. O teste não

paramétrico Mann-Whitney, utilizado para comparar duas amostras independentes, foi

aplicado para avaliar a relação entre presença ou ausência de ceceio e sexo, idade

(divididos em 2 grupos), conformação do palato duro, volume de língua e de tonsilas

palatinas e tipo de mordida. O teste T de Student, utilizado para comparação de duas

médias, controlado pelo teste Levene para Igualdade de Variâncias, foi aplicado para

analisar possíveis diferenças entre a média de idade das crianças com e sem ceceio. O

teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, utilizado para comparar amostras

independentes, foi aplicado para analisar a presença ou ausência de ceceio em cada

idade e a relação entre os tipos de dentição a presença ou ausência de ceceio.

Foi adotado o nível de significância de 5% (α = 0,050 — significância adotada),

para a aplicação dos testes estatísticos deste estudo, ou seja, quando a significância

calculada (p) for menor do que 5% (0,050), é possível observar diferença

estatisticamente significante; quando a significância calculada (p) for igual ou maior do

que 5% (0,050), pode-se observar uma relação estatisticamente não-significante, ou

seja, uma semelhança. Foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social

Sciences), em versão 13.0, para obtenção dos resultados.

Page 38: ceceio crianças 3 a 10 anos

36

5 RESULTADOS 5.1 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

A amostra foi inicialmente composta por 77 crianças entre 3 e 10 anos, sendo 31

do sexo feminino e 42 do sexo masculino. Foram excluídos dessa amostra inicial 4

sujeitos por apresentarem importantes trocas, omissões e distorções na fala

incompatíveis com sua faixa etária, impossibilitando a análise perceptivo-auditiva e

visual da caracterização do ceceio. Foram excluídos ainda 5 sujeitos por dúvidas

relacionadas à coleta de dados. Assim sendo, foram sujeitos dessa pesquisa 68

crianças entre 3 e 10 anos, sendo 28 do sexo feminino e 40 do sexo masculino. A

tabela 1 descreve a presença ou ausência de ceceio na amostra.

Tabela 1- Distribuição da presença e ausência de ceceio.

Presença de ceceio Ausência de ceceio Total de crianças

15 (22,05%) 53 (77,95%) 68

É possível observar que a maior parte das crianças não apresentou ceceio. A

incidência de ceceio na amostra pesquisada foi de 22,05%.

Page 39: ceceio crianças 3 a 10 anos

37

Considerando a idade das crianças em relação à presença ou ausência de

ceceio, foi aplicado o Teste T de Student, controlado pelo Teste de Levene para

Igualdade de Variâncias, com o intuito de verificar uma possível diferença das médias

da variável idade entre as duas categorias da variável ceceio. Os resultados obtidos

estão descritos na tabela 2.

Tabela 2 - Relação entre a média das idades com a presença ou ausência de ceceio.

Variável Ceceio n Média Desvio-padrão Significância (p) Presente 15 6,20 2,14 idade Ausente 53 7,17 2,33

0,153

Não foi observada diferença estatisticamente significante entre a média de idade

dos grupos com ceceio e sem ceceio.

Com o intuito de verificar a relação da presença ou ausência de ceceio com a

variável paramétrica idade, a amostra foi estudada considerando cada faixa etária

isoladamente. Em seguida a amostra foi dividida em 2 grupos, sendo o primeiro grupo

abrangendo crianças com idades entre 3 anos e 6 anos e 11 meses e o segundo

incluindo crianças entre 7 anos e 10 anos e 11 meses.

Ao considerar cada idade separadamente, foi aplicado o Teste de Kruskal-Wallis,

com o intuito de verificar possíveis diferenças concomitantes entre as oito categorias da

variável idade. Os resultados obtidos estão descritos na tabela 3.

Page 40: ceceio crianças 3 a 10 anos

38

Tabela 3 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e idade.

ceceio_n Idade Ausente Presente

Total

5 2 7 3 71,4% 28,6% 100,0%

4 1 5 4 80,0% 20,0% 100,0%

7 2 9 5 77,8% 22,2% 100,0%

3 5 8 6 37,5% 62,5% 100,0%

6 1 7 7 85,7% 14,3% 100,0%

8 2 10 8 80,0% 20,0% 100,0%

10 0 10 9 100,0% 0,0% 100,0%

10 2 12 10 83,3% 16,7% 100,0%

53 15 68 Total 77,9% 22,1% 100,0%

p = 0,141

Verifica-se que a diferença entre as idades é estatisticamente não significante

frente à distribuição de ceceio, ou seja, nada indica que haja diferenças na distribuição

de ceceio entre as idades.

Ao analisar a relação entre idade e presença ou ausência de ceceio com a

amostra dividida em 2 grupos, foi aplicado o Teste de Mann-Whitney. Os resultados

obtidos estão descritos na tabela 4.

Page 41: ceceio crianças 3 a 10 anos

39

Tabela 4 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e faixa etária.

ceceio_n Idade Ausente Presente

Total

19 10 29 3, 4, 5 e 6 65,5% 34,5% 100,0%

34 5 39 7, 8, 9 e 10 87,2% 12,8% 100,0%

53 15 68 Total 77,9% 22,1% 100,0%

p = 0,034

Maior porcentagem de crianças com ceceio foi encontrada no grupo de 3 a 6

anos (34,5%), quando comparado com o grupo de 7 a 10 anos (12,8%). Os resultados

demonstram ser estatisticamente significante a diferença entre as faixas etárias

apresentadas, quanto à presença ou ausência de ceceio. Esse resultado permite

sugerir que crianças mais novas, até 6 anos e 11 meses, apresentam incidência de

ceceio superior às crianças mais velhas, entre 7 anos e 10 anos e 11 meses.

A amostra foi analisada, ainda, considerando a relação entre presença ou

ausência de ceceio e a variável não paramétrica sexo. Foi utilizado o Teste de Mann-

Whitney e os resultados obtidos estão descritos na tabela 5.

Page 42: ceceio crianças 3 a 10 anos

40

Tabela 5 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e sexo.

Sexo Ceceio Feminino Masculino

Total

22 31 53 Ausente 41,5% 58,5% 100,0%

6 9 15 Presente 40,0% 60,0% 100,0%

28 40 68 Total 41,2% 58,8% 100,0%

p = 0,917

Observou-se que não há diferença estatisticamente significante entre as

categorias da variável sexo e a presença ou ausência de ceceio, ou seja, o sexo não

parece ser determinante de presença ou ausência de ceceio.

Para analisar a relação entre presença ou ausência de ceceio e conformação do

palato duro foi utilizado o Teste de Mann-Whitney e os resultados obtidos estão

descritos na tabela 6.

Tabela 6 - Relação entre conformação do palato duro e presença ou ausência de ceceio.

Palato Ceceio N O A

Total

42 11 0 53 Ausente 79,2% 20,8% 0% 100,0%

12 3 0 15 Presente 80,0% 20,0% 0% 100,0%

54 14 0 68 Total 79,4% 20,6% 0% 100,0%

p = 0,949

Legenda: N – normal; O – ogival; A – atrésico.

Page 43: ceceio crianças 3 a 10 anos

41

Os resultados demonstram não haver diferença estatisticamente significante

entre as categorias propostas para conformação do palato duro e a presença ou

ausência de ceceio. Portanto, na amostra pesquisada, a conformação do palato duro

não é determinante para presença ou ausência de ceceio.

Para analisar a relação entre o volume de tonsilas palatinas e a presença ou

ausência de ceceio foi utilizado o Teste de Mann-Whitney e os resultados obtidos estão

descritos na tabela 7.

Tabela 7 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e volume de tonsilas palatinas.

Tonsilas Ceceio H N A

Total

7 46 0 53 Ausente 13,2% 86,8% 0% 100,0%

1 14 0 15 Presente 6,7% 93,3% 0% 100,0%

8 60 0 68 Total 11,8% 88,2% 0% 100,0%

p = 0,491

Legenda: H – hipertrófica; N – normal; A – ausente.

Os resultados descritos demonstram que não há diferença estatisticamente

significante entre as variáveis propostas para categoria volume de tonsilas palatinas e a

presença ou ausência de ceceio

Page 44: ceceio crianças 3 a 10 anos

42

Para analisar a relação entre o volume de língua e a presença ou ausência de

ceceio foi utilizado o Teste de Mann-Whitney e os resultados obtidos estão descritos na

tabela 8.

Tabela 8 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e volume de língua.

Língua Ceceio SAS RM SL

Total

53 0 0 53 Ausente 100,0% 0% 0% 100,0%

15 0 0 15 Presente 100,0% 0% 0% 100,0%

68 0 0 68 Total 100,0% 0% 0% 100,0%

p > 0,999

Legenda: SAS – sem alterações significativas; RM – rebordos marcados; SL – sulco longitudinal.

Na amostra pesquisada todas as crianças apresentavam língua sem alterações

significativas. Os resultados demonstram que o volume de língua não é determinante

na presença ou ausência de ceceio.

Para analisar possíveis diferenças concomitantes entre as três categorias da

variável Dentição foi aplicado o Teste de Kruskal-Wallis. Os resultados encontram-se

descritos na tabela 9.

Page 45: ceceio crianças 3 a 10 anos

43

Tabela 9 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e tipo de dentição.

ceceio_n dentiçãoAusente Presente

Total

14 4 18 D 77,8% 22,2% 100,0%

16 9 25 MTI 64,0% 36,0% 100,0%

23 2 25 MPI 92,0% 8,0% 100,0%

53 15 68 Total 77,9% 22,1% 100,0%

p = 0,060

Legenda: D - decídua; MTI – mista em troca de incisivos; MPI – mista com presença de incisivos.

Observou-se que a diferença entre os tipos de dentição foi estatisticamente não-

significante frente à distribuição de ceceio. Entretanto, como a significância calculada

(p) está entre 5% (0,050) e 10% (0,100), há semelhança estatística, porém, com

tendência à diferença. É possível afirmar que os valores observados (22,2%, 36% e

8%) correspondem a números que indicam uma tendência à diferença. Os resultados

demonstram, portanto, que a dentição mista em troca de incisivos é mais representativa

entre as três categorias estudadas, apesar de apresentar semelhança estatística,

quando comparada às outras duas categorias. Pode-se sugerir, então, a possível

relação direta existente entre a dentição mista em troca de incisivos e a presença de

ceceio.

Ao analisar a relação existente entre os tipos de mordida propostos e a presença

ou ausência de ceceio foi utilizado o teste de Mann-Whitney aplicado em duas

avaliações. Na primeira observou-se, dentro do grupo de crianças com ceceio, quais os

Page 46: ceceio crianças 3 a 10 anos

44

tipos de mordida encontrados. No grupo sem ceceio foi feita a mesma análise. Cabe

ressaltar que não foram encontrados casos de mordida cruzada anterior, não sendo

computados para análise. Os resultados obtidos encontram-se descritos na tabela 10.

Tabela 10 - Relação entre presença ou ausência de ceceio e tipos de mordida.

mordida ceceio AA SAS SME SSE TA

Total

4 41 4 2 2 53 Ausente 7,5% 77,4% 7,5% 3,8% 3,8% 100,0%

5 8 0 1 1 15 Presente 33,3% 53,3% 0% 6,7% 6,7% 100,0%

9 49 4 3 3 68 Total 13,2% 72,1% 5,9% 4,4% 4,4% 100,0%

p = 0,094

Legenda: AA – aberta anterior; SAS – sem alterações significativas; SME – sobremordida excessiva; SSE sobressaliência excessiva; TA – topo anterior.

Observou-se diferença estatisticamente não significante. Entretanto, cabe

destacar que no grupo com ceceio há um predomínio de crianças sem alterações

significativas de tipo de mordida, indicando que mesmo com a mordida normal é

possível encontrar crianças com ceceio.

Na segunda análise realizada entre as variáveis acima propostas, observou-se,

dentro de cada classificação do tipo de mordida, quantos indivíduos apresentavam

ceceio ou não. O resultados obtidos encontram-se descritos na tabela 11.

Page 47: ceceio crianças 3 a 10 anos

45

Tabela 11 - Relação entre tipo de mordida ou presença ou ausência de ceceio.

ceceio mordida Ausente Presente

Total

4 5 9 AA 44,4% 55,6% 100,0%

41 8 49 SAS 83,7% 16,3% 100,0%

2 1 3 TA 66,7% 33,3% 100,0%

4 0 4 SME 100,0% 0,0% 100,0%

2 1 3 SSE 66,7% 33,3% 100,0%

53 15 68 Total 77,9% 22,1% 100,0%

p = 0,082

Legenda: AA – aberta anterior; SAS – sem alterações significativas; SME – sobremordida excessiva; SSE sobressaliência excessiva; TA – topo anterior.

Não há diferença estatisticamente significante na análise realizada. Porém,

destaca-se o índice de ceceio dentre as crianças que apresentavam mordida aberta

(55,6%) comparando com a presença de ceceio nos outros tipos de mordida, sendo

respectivamente 16,3% para SAS, 33,3% em TA, e 33,3% em SSE. Esse fato indicaria

uma tendência à relação direta entre mordida aberta anterior e presença de ceceio.

Page 48: ceceio crianças 3 a 10 anos

46

6 DISCUSSÃO

No presente estudo, observou-se presença de ceceio em 22,05% da amostra,

índice menor do que os propostos pela literatura pesquisada. Marchesan (1998a)

sugere incidência de 32%, Tomé at al (2004) propõem 51,51%, enquanto Fonseca et al

(2005) relatam 35,5%. Porém, cabe salientar que os autores citados analisaram

amostras compostas por crianças até 7 anos. Como no presente trabalho as idades se

estendem até 10 anos, é possível sugerir a relação entre a redução da ocorrência e o

aumento da idade da amostra. No estudo de Bicalho, Motta e Vicente (2006) as

crianças avaliadas tinham entre 4 e 11 anos, e os autores encontraram índices mais

altos do que no presente trabalho (30% para ceceio anterior e 10% para ceceio lateral).

Entretanto, na amostra de Bicalho, Motta e Vicente (2006) as crianças apresentavam

alterações de respiração e deglutição, o que poderia justificar a alta incidência de

ceceio. Peña et al (2004) pesquisaram crianças entre 5 e 14 anos e obtiveram índices

de 38% de presença de ceceio, números bem mais altos que aqueles descritos no

presente estudo.

Ao relacionar a presença ou ausência de ceceio com a idade das crianças da

amostra, é possível observar maior ocorrência de ceceio nas idades de 3 (28,6%) e 6

anos (62,5%). Analisando a idade de 3 anos, os dados obtidos diferem daqueles

Page 49: ceceio crianças 3 a 10 anos

47

propostos por Tomé et al (2004) que apresenta índices muito baixos aos 3 anos

(5,88%), mas reiteram os resultados encontrados por Moura (1994), que propõe um

índice elevado aos 3 anos de idade (36%), e concordam parcialmente com Tanigute

(1998), que também acredita em uma alta ocorrência nessa idade, mas propõe ser essa

a faixa etária de maior prevalência da infância. Considerando o aumento da presença

de ceceio aos 6 anos (62,5%), observado no presente estudo, não se constata

semelhança com os dados de Moura (1994) que propõe uma redução da incidência

nessa idade (15%), de Tanigute (1998) que acredita em uma redução entre 4 e 7 anos,

e de Tomé et al (2004) que propõem uma incidência baixa aos 6 anos (4,41%),

justamente de forma inversa aos dados aqui obtidos. Entretanto, ao avaliar crianças de

6 anos, Tomé et al (2004) incluíram em seu estudo apenas crianças em dentição

decídua, o que poderia justificar índices tão distintos. Cabe destacar que no presente

trabalho todas as crianças dessa faixa etária encontravam-se em dentição mista com

troca de incisivos.

Ao considerar a amostra dividida em 2 grupos por faixa etária, há diferença

estatisticamente significante. No grupo entre 3 anos e 6 anos e 11 meses a ocorrência

de ceceio é de 34,5%, enquanto que no grupo entre 7 anos e 10 anos e 11 meses

observa-se 12,8%. Os dados diferem daqueles propostos por Fonseca et al (2005) que

não observaram diminuição da presença de ceceio com o aumento da idade, mas

coincidem com as afirmações de Junqueira e Guilherme (1996) e Frias et al (2004),

autores que acreditam na hipótese do ceceio diminuir significativamente com a idade. E

ainda coincidem plenamente com aqueles propostos por Pereira et al (2003) que

relatam maior freqüência de ceceio entre o grupo de 3 a 6 anos do que no grupo entre 7

Page 50: ceceio crianças 3 a 10 anos

48

e 10 anos por eles pesquisados. A redução da incidência no grupo entre 7 e 10 anos

também pode ser relacionada a afirmação de Flipsen Jr. e Shriberg (1999) de que a

produção do /s/ se estabiliza aos 9 anos e 6 meses. É relevante salientar que a

incidência de ceceio na faixa etária entre 3 anos e 6 anos e 11 meses (34,5%)

encontrada no presente trabalho, apesar de ser maior ao ser comparada com o grupo

entre 7 anos e 10 anos e 11 meses, é pequena em comparação a dados propostos por

Tomé et al (2004), que descrevem uma incidência de 51,51% na mesma faixa etária.

Cabe sugerir uma possível relação entre o processo de desenvolvimento motor

de fala e a menor incidência de ceceio encontrada no grupo entre 7 e 10 anos (12,8%)

quando comparada ao grupo de 3 a 6 anos (34,5%). Ao considerar essa possibilidade,

a redução seria explicada pelo gradual desenvolvimento do controle motor. Green et al

(2000) acreditam que o período entre 6 anos e a fase adulta reflete uma otimização da

coordenação. Wohlert e Smith (2002) afirmam que o controle motor de fala se

assemelha ao padrão adulto por volta de 11 a 13 anos e Walsh e Smith (2002)

defendem que o desenvolvimento da fala se prolonga até os 16 anos. Com base

nesses estudos, seria interessante estender a idade das pesquisas sobre incidência de

ceceio até pelo menos os 16 anos de idade a fim de verificar se os índices mantém a

tendência de redução e de confirmar ou não a relação entre idade, desenvolvimento

motor de fala e ceceio.

O presente trabalho analisou ainda a relação entre presença e ausência de

ceceio e a variável sexo, não havendo diferença estatisticamente significante. Os dados

indicam que o sexo não é determinante na presença ou ausência de ceceio,

Page 51: ceceio crianças 3 a 10 anos

49

concordando com resultados propostos por Junqueira e Guilherme (1996), Frias et al

(2004) e Fonseca et al (2005). Diferem, entretanto, daqueles encontrados por Tomé et

al (2004) que indicam uma ocorrência mais elevada no sexo masculino.

O volume de tonsilas palatinas e a presença ou ausência de ceceio, ao serem

confrontados, não revelam diferença estatisticamente significante, sugerindo que o

aumento no volume de tonsilas palatinas não é determinante para a presença ou

ausência de ceceio. Os resultados discordam das afirmações de Mitre (2003) que

relaciona posicionamento mais anterior de língua, alterações articulatórias e presença

de tonsilas palatinas volumosas.

Ao analisar a relação existente entre os tipos de mordida propostos e a presença

ou ausência de ceceio, não foi encontrada diferença estatisticamente significante.

Cabe destacar que no grupo com ceceio há um predomínio de crianças sem alterações

significativas de tipo de mordida, indicando que mesmo com a mordida normal é

possível encontrar crianças com ceceio. Os dados reiteram a afirmação de Junqueira e

Guilherme (1996), pois, segundo os autores, a presença de ceceio não deve ser

unicamente justificada pela presença de má oclusão. Concordam ainda com Tanigute

(1998) que relaciona o ceceio tanto à mordida normal quanto às suas possíveis

alterações e com Pereira et al (2003) que relatam a impossibilidade de relacionar

diretamente o ceceio à alteração da arcada dentária. Os resultados obtidos no presente

trabalho também reforçam aqueles encontrados por Tomé et al (2004) que concluíram

seu estudo afirmando que o ceceio parece não estar relacionado a alterações da

Page 52: ceceio crianças 3 a 10 anos

50

oclusão dentária. Parece necessário destacar que, no presente trabalho, observa-se

elevada ocorrência de ceceio dentre as crianças que apresentavam mordida aberta

anterior (55,6%) comparando com a presença de ceceio nos outros tipos de mordida.

Esse fato indicaria uma tendência à relação direta entre mordida aberta anterior e

presença de ceceio. Os dados reforçam a afirmação de Marchesan (1993, 1998a) que

considera que nas mordidas abertas anteriores o ceceio é facilitado, e de Guedes

(1997), citando Barret e Hanson (1974), que relaciona a distorção de /s/ e /z/ à mordida

aberta. Confirmam também as afirmações de Tomé et al (2004) que relatam em seu

estudo ser a mordida aberta a alteração oclusal mais comum nos casos de ceceio.

Entretanto, esse é um dado de difícil confirmação, pois para a população estudada

nesse trabalho, ao observar-se a presença de ceceio em relação ao tipo de mordida,

encontra-se alto índice de ceceio também em crianças sem alterações significativas de

mordida (53,3%).

Ao relacionar a conformação do palato duro com a presença ou ausência de

ceceio, os resultados indicam que a conformação do palato duro não é determinante

para presença ou ausência de ceceio. Da mesma forma, os dados da presente

pesquisa também sugerem que a presença de ceceio não depende diretamente da

alteração no volume de língua, visto que todas as crianças com ceceio apresentavam

língua sem alterações significativas.

Considerando a variável dentição, apesar de não haver diferença

estatisticamente significante há uma tendência à diferença. Os resultados demonstram

Page 53: ceceio crianças 3 a 10 anos

51

que a dentição mista em troca de incisivos (MTI) é a mais representativa entre as três

categorias estudadas quanto à presença de ceceio, apesar de apresentar semelhança

estatística, quando comparada às outras duas categorias. É possível inferir que exista

alguma relação entre a dentição mista em troca de incisivos e a presença de ceceio.

Não foram encontrados na literatura pesquisada, estudos que relacionem diretamente o

ceceio à troca de dentes incisivos. Porém, Chen e Stevens (2001) destacam que para a

produção adequada do /s/ é imprescindível que o ar seja direcionado contra os dentes

incisivos inferiores, condição que poderia estar prejudicada no período de troca de

incisivos. Marchesan (1993) relaciona o ceceio anterior à perda precoce dos incisivos

superiores, o que poderia sinalizar a importância da presença destes dentes para a

produção adequada do /s/. Ao comparar dados descritos por Tomé et al (2004) e

aqueles obtidos na presente pesquisa, também é possível sugerir a relação entre

presença de ceceio e o período de troca de incisivos. Os autores em questão

pesquisaram crianças de 6 anos exclusivamente em dentição decídua e obtiveram

incidência de ceceio de 4,41%. O presente trabalho propõe índices bem mais altos,

com presença de ceceio em 62,5% das crianças aos 6 anos, salientando que todas

encontravam-se em período de dentição mista com troca de incisivos.

Ao analisar os resultados do presente trabalho é possível constatar a presença

de algumas discordâncias em relação à literatura pesquisada. É relevante destacar que

as pesquisas que envolvem ceceio não seguem um padrão específico semelhante de

seleção da amostra ou das variáveis pesquisadas, favorecendo o aparecimento de

dúvidas e divergências.

Page 54: ceceio crianças 3 a 10 anos

52

Parece pertinente a sugestão de novos estudos semelhantes que incluam faixas

etárias acima de 10 anos, pois há um predomínio de pesquisas com amostras até a

faixa de 6 a 8 anos, buscando-se maior compreensão da evolução e da incidência do

ceceio com o decorrer da idade.

Page 55: ceceio crianças 3 a 10 anos

53

7 CONCLUSÃO

A partir do estudo realizado, considerando-se a metodologia empregada, pode-

se concluir que:

• A incidência de ceceio reduz com a idade quando considerados os grupos de

faixas etárias de 3 a 6 anos e de 7 a 10 anos.

• A presença de ceceio não parece estar relacionada ao sexo.

• Dentre as crianças com ceceio, observou-se maior incidência na transição entre

a dentição decídua e permanente, compreendendo o período de troca de dentes

incisivos, apesar do resultado estatisticamente não significante.

• A interferência de algumas características do sistema estomatognático, tais

como tipo de mordida, conformação do palato duro, volume de tonsilas palatinas

e de língua não foram consideradas determinantes na ocorrência do ceceio,

podendo ou não estar presentes em crianças que apresentam tal distorção de

fala.

• Devido à limitação do estudo, os dados aqui apontados não devem ser

generalizados aleatoriamente. Novas pesquisas são necessárias no sentido de

Page 56: ceceio crianças 3 a 10 anos

54

padronizar dados referentes à classificação, incidência e etiologia do ceceio

objetivando um aprimoramento no diagnóstico, prognóstico e tratamento

fonoaudiológico do ceceio.

Page 57: ceceio crianças 3 a 10 anos

55

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Page 64: ceceio crianças 3 a 10 anos

62

9 APÊNDICES APÊNDICE 1

ROTEIRO PARA CONVERSA DIRIGIDA Qual seu nome?

Quantos anos você tem?

Qual o nome da sua mãe?

Qual o nome do seu pai?

O que você mais gosta de assistir na televisão?

Quais suas brincadeiras preferidas?

Conte-me o que você faz na escola.

Page 65: ceceio crianças 3 a 10 anos

63

APÊNDICE 2

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PARCIAL DO SISTEMA

ESTOMATOGNATICO

Nome:

Sexo: F( ) M( ) Idade: Data da avaliação:

Palato

( ) normal ( ) ogival ( ) atrésico

Dentição

( ) decídua ( ) mista em troca de incisivos ( ) mista com presença de incisivos

erupcionados

Mordida

( ) sem alterações significativas

( ) sobressaliência excessiva ( ) sobremordida excessiva

( ) aberta anterior ( ) cruzada anterior ( ) topo anterior

Tonsilas palatinas

( ) normais ( ) ausentes ( ) hipertróficas

Língua

( ) sem alterações significativas ( ) rebordo marcado ( ) sulcos longitudinais

Page 66: ceceio crianças 3 a 10 anos

64

10 ANEXOS

ANEXO 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Caro(a) Senhor(a)

Eu, Alessandra Salles Machado, fonoaudióloga, portadora do CIC 026256837-

32, RG 04019081-1, estabelecida na Av. Antonio Gil Veloso, nº 3230, apto 401 , CEP

29101-735, Vila Velha, telefone (27) 32190797, em conjunto com as acadêmicas de

Fonoaudiologia Genaína Elza Caetano Silva, portadora do CIC 044581516-73, RG

516145, estabelecida na Av. Nossa Senhora da Penha, nº 615 apto. 102, Vitória e

Sandra Costa Calente, portadora do CIC 079829707-70, RG 62768, estabelecida na R.

Ernestina Vieira Simões, 209, Olaria, Guarapari, vou desenvolver uma pesquisa cujo

título é “Ocorrência de distorções dos fonemas fricativos alveolares em crianças” .

Este estudo tem como objetivo colaborar para ampliação do conhecimento sobre

mais uma de muitas alterações de fala existentes através da análise da ocorrência de

distorções dos fonemas /s/ e /z/ na criança.

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Necessito que o Sr.(a). permita a execução de uma avaliação que inclui os

seguintes procedimentos: conversa informal com perguntas simples, como “O que você

mais gosta de assistir na televisão?”, por exemplo; em seguida cada participante será

solicitado a repetir uma lista de 78 palavras que será registrada em gravador utilizando

fita cassete. Os participantes da pesquisa passarão ainda por uma avaliação oral

incluindo, entre outros, dentição, tipo de mordida e aspecto do palato. Toda a avaliação

será realizada na própria escola. A sua participação nesta pesquisa é voluntária e a

avaliação clínica não determinará qualquer risco, nem trará desconfortos.

A sua participação não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará um

melhor conhecimento a respeito do desenvolvimento e produção dos sons da fala, que

em futuros tratamentos fonoaudiológicos poderão beneficiar outras pessoas. Não existe

outra forma de obter dados com relação ao procedimento em questão e que possa ser

mais vantajoso.

Informo que o Sr(a). tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo,

sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma consideração ou

dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da Universidade Veiga de Almeida, situado na Rua Ibituruna 108 – Tijuca (Rio de

Janeiro – RJ), telefone 2264-5424 e comunique-se com o Prof. Dr. Manoel José Gomes

Tubino.

Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer

momento e deixar de participar do estudo.

Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outras

pessoas, não sendo divulgado a identificação de nenhum dos participantes.

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66

O Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das

pesquisas e caso seja solicitado, darei todas as informações que solicitar.

Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação

financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela

será absorvida pelo orçamento da pesquisa. Eu me comprometo a utilizar os dados

coletados somente para pesquisa e os resultados serão veiculados através de artigos

científicos em revistas especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem

nunca tornar possível a sua identificação.

Anexo está o consentimento livre e esclarecido para ser assinado caso não

tenha ficado qualquer dúvida.

Page 69: ceceio crianças 3 a 10 anos

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Acredito ter sido suficiente informado a respeito das informações que li ou que

foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Ocorrência de distorções dos fonemas

fricativos alveolares em crianças”.

Eu discuti com a fonoaudióloga Alessandra Salles Machado e/ou com as

acadêmicas Sandra Costa Calente e Genaína Elza Caetano Silva sobre a minha

participação nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,

os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas e que tenho

garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo.

Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu

consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidade ou

prejuízo.

___________________________________ Data_______/______/______

Assinatura do informante

Nome:

Endereço:

RG.

Fone: ( )

__________________________________ Data:______/______/______

Assinatura do(a) pesquisador(a)

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ANEXO 2

CORPUS

Tônica

Pré-Tônica Pós-Tônica

Sapo Sapato Pássaro Cesta Cenoura Bolsa Capacete Bicicleta Urso Travesseiro Sofá Palhaço Céu Sorvete Cócegas Sete Sanduíche Passa Pincel Sentado Caça Carrocel Salina Pêssego Circo Semente Ácido Sino Cinema Sócio Melancia Fossa Laço Sol Felicidade Missa Sola Passarinho Peça Paçoca Sinal Cárcere Girassol Soluço Plácido Professora Sistema Aço Vassoura Saída Fácil Suco Passaporte Míssil Sujo Paciente Péssimo Santo Servente Tosse Maçã Sobressalente Classe Coração Ciência Raça Cinto Caçador Braço Som Cimento Pinça Sombra Social Avesso Sunga Sujeito Ócio